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chorões
dos gatos
Celso Suarana
Ilustrações
Leandro Robles
1
capítulo
4
3
capítulo
10
— Pois é, Brejeiro. Está com cara de quem viu assombração.
Dois gatos me olhavam curiosos. Fiquei envergonhado e me encolhi. Eu
nunca tinha conversado com outros gatos da cidade.
— Ele está quieto, Atrevido. Será que ele não fala?
— Fala sim! Vive berrando para ganhar comida da Tia Alcina. Mas, para a
gente, ela não dá nem um camarão. Só porque não somos como esse gato aí,
filhinhos de papai.
Filhinho de papai? Eles não conhecem o Ernesto de Tal. Respondi:
— Não sou filhinho de ninguém. Peço comida para a vizinha porque aquele
muquirana não me dá nada e ainda me põe para trabalhar.
— Ah, entendi, Brejeiro. Ele é um gato-pega-rato!
— Não pego nada, não gosto de caçar.
— Então foge daí — empolgou-se Atrevido. — Vai atrás de outro humano.
— Ou de nenhum — completou Brejeiro. — O bom é ser independente. Pula
aqui e vem conhecer a vizinhança com a gente.
Olhei para o vão entre os telhados, que me pareceu imenso. Eu só saltava
em casa, do sofá para a mesa, do fogão para a prateleira. Nunca tinha
pulado uma altura daquelas. Atrevido e Brejeiro riram do meu medo. Mas
depois viram que fiquei sem jeito, encolhido em uma bolinha de pelos, e
tentaram me incentivar:
— É pertinho, se prepara...
— Vai dois passos para trás e corre.
— Se cair, você não vai morrer. Os gatos têm sete vidas.
— É só um pulinho de nada! Vem logo, corre...
Senti que aquela era a minha chance de me aventurar.
Com o coração batendo forte, respirei bem fundo.
Pulei desajeitado, saltando para um novo mundo.
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Como era alto, conseguia me alcançar em cima do muro. Não senti
o mesmo medo de quando ele invadiu a cozinha. De perto, nem era
apavorante. Até pensei que deveria fugir, mas deixei que colocasse a fita
no meu pescoço.
O que aquele homem queria? Não sabia se faria de mim um herói ou um vilão.
Mas, como não tinha para onde fugir, aceitei a missão.
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Andei pela gaiola, falando com os outros gatos, chamando todos para miar
e berrar com força. Eles não entendiam aonde eu queria chegar.
Mas eu insisti! Se fosse para a gente se tornar música, que o canto saísse
de nossas gargantas.
Começaram com miados tímidos, que foram aumentando até virar um
berreiro. O homem olhou para a gente, bravo, nos mandou calar a boca. Berrei
mais forte ainda, até não escutar mais os gritos do malvado. O passarinho
voava, atrapalhado. Todos os gatos se esgoelaram, era o último grito pela
nossa salvação.
E foi nessa hora que chegou a cavalaria! Ou melhor: a gataria!
Por um tempo, pensei que nem casa eu tinha. Depois me dei conta que
segui tanto o Zé que adotei a casa dele. O flautista passou a ser meu humano
de estimação. E precisava mesmo de quem o ajudasse, espiando os caminhos
da noite e evitando confusão.
Com Zé da Flauta, conheci muita gente ilustre. Fui às festas de Tia Ciata
e do pessoal que comandava o Carnaval. Estava junto quando ele tocou com
o Donga e no circo do Palhaço Benjamin. Assisti às aulas que teve com a
maestra Chiquinha e até quando conheceu o famoso Pixinguinha.
Segui Zé da Flauta até seu grande sonho: largar o trabalho no escritório
e se dedicar somente à música. Agora vivo tranquilo, ele é um homem já
encaminhado. Sou um gato velho: as aventuras noite afora são os tesouros de
minha memória.
Mas, às vezes, em minha homenagem, Zé convida
o povo, e a casa se enche de alegria, com a música
dos chorões e meus velhos amigos da gataria.
Conheça os autores
Celso Suarana nasceu em 1980, na cidade de Sacramento,
Ruano Berenguel/Arquivo da editora
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gato Irineu era um bichano bem caseiro, que
vivia no Rio de Janeiro. Era um gato medroso, que não
saía do forno da casa de Ernesto de Tal. Até que, um
dia, um vulto invade o local e diz:
— Pessoal, vou ver se tem gato no forno!
Encantado por um som misterioso e com medo de
ser devorado, Irineu se junta à gataria da vizinhança,
enfrentando mil perigos em suas andanças.
A aventura de Irineu aconteceu há muito, muito tempo.
Acompanhando os passos dessa turma de gatos muito
arteira, você vai conhecer uma parte importante da
história da música brasileira.