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Glow, a palhaça radiante

Em uma casa, na borda de uma colina, havia uma família.


Stella, uma menina inquieta, curiosa, com uma vontade imensa de conhecer tudo o que
o mundo tem para oferecer.
Porém muito compromissada com suas tarefas.
Com seus 10 anos, já possui a obrigação da maior parte dos afazeres da casa. Limpa,
seca, guarda, organiza, cozinha.
Constrói, destrói, repara e descansa.
Pois sabe que no outro dia terá que fazer tudo outra vez.
Seu pai, um anão sério e ranzinza, havia, há 2 anos, imposto essa função para ela.
Disse que já estava preparada e
que alguém tinha que fazer as coisas dentro da casa.
Ele não tinha mais tempo de cuidar da casa, ao menos da filha. Mas isso não era
problema, já que ela já tinha idade para se virar sozinha.
Sua mãe, uma medusa belíssima cuja raça tinha passado para a filha, não era
presente. Vivia fora de casa a maior parte do tempo, e voltava
apenas para dormir. Ninguém sabia muito bem o que ela fazia fora, apenas que
voltada bêbada e cansada.
E assim, passavam-se os dias. A Menina, com seu cabelo encaracolado de serpentes,
repetia todos os dias sua rotina de obrigações dentro da casa.
Envolvida em um ócio e um tédio imenso. Impossibilitada de ter contato com outros
seres ou lugares.

Dia após dia, a criança se incomodava mais pela sua situação. Tudo aquilo era muito
chato... muito repetitivo... muito... sem graça, sem cor,
sem brilho.

Em uma noite, já com seus 13 anos, Stella estava cortando legumes para o jantar,
quando um rato apareceu em cima da mesa indo em direção de
uma batata. Para que o animal não furtasse sua comida, Stella faz um gesto
rapidamente com a faca para afasta-lo, porém, por um descontrole de sua
mão, acabára, sem querer, enfincando profundamente a faca no abdómem do roedor, o
qual entrou em desespero e começou a tentar correr para longe.
A menina, se assustou com aquilo que tinha acabado de acontecer. Isso nunca tinha
ocorrido antes. Ao ver a faca suja de sangue e o animal berrando
de dor. Ela sentiu uma adrenalina, um fervor, seu coração acelerou, suas mãos
tremiam, seu cabelo inquieto e sua cabeça paralizada naquela imagem.
Após voltar para si, a menina foi ver o que tinha acontecido com o rato. Ele ja
estava morto, do outro lado da mesa, todo ensanguentado.
Ela olhou para o rato, olhou para a faca. Percebeu que o que tinha acontecido com o
rato era consequência do que ELA tinha feito. E essa sensação
de consequência, de provocar algo em outro ser, de que suas ações poderiam fazer
outros sentirem coisas fez com que ela só pensasse em uma coisa
-Que... que legal!"(voz do personagem)

E voltou para a rotina de sempre, fazendo seus afazeres domésticos porém, nas horas
vagas buscava alcançar aquele sentimento novamente, matando,
ratos, insetos e até aves. O poder de influência em outro animal soava
prazerosamente para ela. Buscava cada vez mais esse sentimento de êxtase.
Acontecendo de sumir até com animais de rua. Stella estava começando a entender o
que ela mais queria. Usava ferramentas de casa como instrumentos
de tortura e até fazia armadilhas para atrair mais bixos.

Após alguns minutos depois de se deitar para dormir, Stella começa a ouvir gritos
vindos do andar de baixo, da sala. Não havia novidade nisso,
pois seus pais já estavam brigando quase todos os dias já fazia meses. Depois de
longos minutos, a discussão cessou. E logo acompanhando a
resolução da briga, um choro leve e contínuo começa. Isso fez com que Stella se
interessasse com o que estava acontecendo. Após sair de seu quarto
e olhar pelas escadas, lá estava a cena. Seu pai com um faca na mão, chorando, e na
outra mão segurando a esposa que estava já imóvel e
ensanguentada. Estava claro o que havia acontecido, seu pai matou sua mãe.
Visto aquela situação, Stella arregalou os olhos e depois se acalmou, não sabia o
por quê, mas para ela pouco importava
achou que seria o melhor momento de sair daquela casa.
Não parecia mais um lugar seguro para ela, se aconteceu com sua mãe, por que não
aconteceria com ela?
Voltou para seu quarto, arrumou suas coisas e saiu pela janela, para que não fosse
percebida.

Rumou ao horizonte, não conhecia nem as ruas mais próximas. E, a cada passo,
relembrava o que tinha acontecido momentos antes. Seu pai acabara de
assassinar sua mãe. E, por mais trágico que isso possa parecer, Stella estava
animada por aquilo. Não só porque teve um motivo concreto pra sua
saída, mas porque havia muito tempo que não acontecia alguma coisa naquela casa.

Andou por muito tempo, até que estivesse longe o bastante para não ter contato com
seu pai. E agora, Stella estava perdida no meio das ruas e
vielas de sua cidade. Pronta para explorar e descobrir tudo o que sempre quis.
Completamente crua de ensinamentos cívicos, morais e éticos.

Por dias, andou por todos os lugares que podia. Desde os mais claros e movimentados
lugares, onde percebeu que teria que esconder seus lindos
cachos, pois nem todos a aceitavam como uma medusa. Até os lugares mais sombrios e
nefastos, onde os seres mais marginalizados e segregados da
sociedade viviam. Monstros, criminosos, assassinos. Por conta de sua inocência e
confiança, não tinha ideia do quão perigoso esse lugar era para
uma simples adolecente. Então entrou, conversou, apontou, mostrou e depois de
alguns momentos, encantou. Soube que seu cabelo, que antes afastava
as pessoas, agora atrai olhares curiosos e fascinados. Sua pureza infantil e sua
beleza herdada da mãe hipnotiza e cativa todas as criaturas
em volta. Aqueles olhos voltados para ela, todos escutando o que tinha pra falar.
Era tudo o que a menina Stella queria. Sabia agora, o que
realmente a interessava.
Por alí ficou. Se envolveu com a vida suburbana, e entrou pra vida dos crimes. Ela
era realmente boa. Extremamente ágil e eficaz, todos seus
trabalhos eram executados com perfeição.

Após anos com essa vida. Stella estava sentada na calçada de uma rua pouco
movimentada. Contando o dinheiro feito no dia. Então vê ao longe uma faixa.
Um circo que começaria um espetáculo a poucas quadras dali. Ela não tinha ideia do
que era um circo, mas aquelas cores vibrantes e fortes na faixa a
atraiam. Contou o dinheiro que precisaria para a entrada e foi em direção ao circo.
Sentou em uma cadeira e esperou o evento começar.

Em poucos minutos estava hipnotizada. Todos aqueles números virtuosísticos e


explendorosos. Aquelas cores, aquelas luzes, aqueles sons.
Tudo parecia tão inacreditável e bonito. Todas aquelas pessoas aplaudindo e
reagindo a cada ação de cada artista. Stella se viu naquele lugar.
Se viu tendo a atenção e a aclamação que tanto buscava. Todos aqueles anos
obscurecida naquela casa. Todos os dias de trabalho sem nenhuma
consideração ou reconhecimento. Estava na hora de ela aparecer, estava na hora de
ela ser visível, não só para poucos seres também obscurecidos,
mas para todos que pudessem ver, todos que iriam pagar para a ver. Ela estava
decidida.
Ao final do espetáculo, ela deu um jeito de entrar nas coxias e conseguir ter
contato com os artistas. Conversou com boa parte deles que
logo se encantaram com a garota. Ter um intruso nos camarins e trailers gerou um
tumulto para os seguranças do local que logo se organizaram para
conseguir levar a menina embora. Antes que pudesse ser feito, a menina encontrou o
que seria o chefe do local. O Herdeiro mais velho da casa, já
idoso e com problemas pulmonares. Ele se propôs a conversar com Stella, percebeu o
quanto tinha cativado todos que trabalhavam alí. Em poucas
palavras percebeu a situação precária da menina e sua vontade imensa de entrar para
o circo. Depois de muitas tentativas, o senhor se comoveu com
com Stella, aceitou a proposta dela entrar pra família. Mas o que ela faria? Qual
seria seu número? Então ele pergunta:
- O que você sabe fazer?
- Eu sei BRILHAR!!!
Então ele entra no depósito para tentar encontrar algo que ela faria. E no meio de
equipamentos e vestimentas ele encontra uma roupa velha de
palhaço.
- Acho que vai servir- Ele comenta.
- Esta perfeito! Só precisa de uns reparos.- Ela fala bem animada.
E a partir disso, Stella estava ingressada no circo. Agora não apresentada como
Stella e sim, como GLOW, A PALHAÇA IRRADIANTE.

Indo de cidade em cidade, fazendo espetáculos. Glow não abandonou a vida de crimes.
Sempre que saia do espetáculo entrava denovo nos locais obscuros
fazia contatos e participava de trabalhos. Tinha um vínculo com esses seres, de
alguma forma se identificava. Achava que tinha que retribuir o quanto
ela foi acolhida no passado.

Atualmente vive essa vida dupla face, entretendo e sendo aplaudida no circo, e
envolvida nas periferias e comunidades. E, por onde passa, continua
brilhando e encantando todos que a vêem.

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