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FACULDADE DE DIREITO
LUBANGO/12/01/202
O autor:
Albert MN Fina
Introdução Geral
Como escreveu-nos a professora Maria do Carmo Medina, dizendo que, ‘o
Direito da Família é mais desenvolvido nas comunidades africanas ‘, com espírito de
honestidade concordamos, pelo que optaremos por abordar o tema cujo título é: A
Família tradicional Bantu á luz do Direito de Família Consuetudinário e Escrito.
Vamos nos discorrer pelos seguintes pontos organizados em capítulo: I capítulo; breve
noção histórica da família e dos sistemas familiares, II capítulo; As comunidades bantu,
III capítulo; a constituição da pessoa humana e os princípios da família tradicional
bantu, face aos do Direito da família angolano e por último, debruçaremos acerca dos
impedimentos matrimoniais.
I CAPÍTULO
1
Cfr.Constituição da República de Angola, de 2010, artigo 35º nº 01.
2
Coarctar- significa restringir, reduzir, etc.
3
Ob.cite, pg.100
4
Cfr. Altuna, Raul Ruiz de Asúa, Cultura Tradicional Bantu, Paulinas editora, 2ª ed.2014,Luanda,pp.106-
107.
Tal dedução foi-lhe sugerida por este mito recolhido no Kassai: Woot, herói
lendário do kassai, apareceu estendido no chão, em casa, despido e completamente
embriagado. Os seus filhos fizeram troça dele e puseram-no a ridículo. Pelo contrário,
as suas filhas, aproximaram-se de costas com o maior pudor e cobriram-no com um
manto. Woot indignou-se com o procedimento dos filhos, deserdou-os e impôs-lhes os
ritos de iniciação; quanto às filhas, premiou-as com a matrilinearidade e com a
obrigação do casamento uxorilocal.
O estatuto social e os bens herdam-se por linha materna, a qual se prolonga até à
mulher fundadora, a mãe-cepa-originária, conhecida ou mítica. O marido deixa o seu clã
de origem ou moradia dos seus ascendentes passando a viver na aldeia ou no clã da
esposa, ora o sistema si cá, não se evidencia conforme os ditos aqui, olhando-se mais
para o primeiro sistema, isto é o patrilinear, a herança aqui passa ao ramo uterino, os
filhos não herdam directamente do pai, e sim da mãe, a herança do tio materno passa
para o sobrinho do 3º grau colateral, o pai biológica tem unicamente algumas
autoridades e influência no grupo, passando todas outras funções a cargo da mulher ou
da família materna.
1.6.Avunculato
O termo avunculato, dimana do verbo avuncular5, que do latim dá-se na
expressão ‘avunculu’, que significa: tio ou tia.Ora, pois bem nos sistemas matrilineares
distingue-se com clareza entre «pai» e «genitor». Sendo o último o marido, o pai é o
irmão uterino da mãe, o tio materno mais velho, chefe de linhagem, cuja autoridade
permanece incontestada pelos filhos de suas irmãs uterinas.
O tabu horrendo do incesto obriga a que, a irmã fique separada do irmão e seja
dada, como esposa, a um homem de outra linhagem distinta.
5
Cfr.Dicionário Integral de Língua portuguensa Universal, 1996,Textos editores.
6
O avuncularismo, na sociedade bantu angolana, ainda se verifica sobretudo na região Sul de Angola,
nas tribos de Ovanyaneka-humbe e outros. O direito consuetudinário desses povos reconhecem forças,
II CAPÍTULO
As comunidades bantu
O bantu não pode viver sem família nem clã, os dois grupos primários,
fundamentais e vitais que dão sentido e consistência à sua vida. Não se pode conceber
nem explicar o indivíduo bantu isolado de uma comunidade. Também não se
compreende a sua cultura sem estas células iniciais e vivificantes, essencialmente
comunitárias.
Angola é uma sociedade plural, composta por vários grupos culturais. Antes da
chegada dos europeus, e a maior parte dos povos de Angola são falantes de língua bantu
integrando um grupo que ocupa cerca de um terço do continente africano. Em Angola
estes grupos compreendem cerca de 8 a 9 etnias ou sub grupos.
de validades, por exemplo na questão da herança, além dos herdeiros legítimos (filhos), os sobrinhos
também têm direito à herança do avuncular. O mesmo acontece com o sorolato e levirato.
7
Apontamentos de História de Angola I Parte, Seminário propedêutico Imaculado Coração de Maria em
Omupanda, Cunene, 2015.
Sem família nuclear, faltaria a base para as estruturas sociais e políticas que se
inauguram a partir da consanguinidade, no centro e como suportes, o pai e a mãe,
realizados nos seus filhos; a família elementar certamente se desenvolve nas
comunidades, uma família elementar isolada levaria ao individualismo conceito
ignorado na nossa sociedade bantu, visto que, nós nos desenvolvemos em grupo. Em
síntese , a família elementar é uma raiz na árvore frondosa da família alargada, nem esta
8
Além desta classificação dos povos bantu, em Angola existem três grupos não bantu. Que são: os
povos de língua khoisan, que originaram nos grupos bosquimanos, os cuissi e os cuepe, habitam os
confins áridos do Sul de Angola, no deserto do Namibe.
9
Douglas Wheeler e René Pélisser, Tradutor: Pedro Gaspar Serras Pereira, História de Angola,2009,
pgs.32-36.
cresce sem aquela, nem aquela se realiza sem esta, portanto a família nuclear seria
derivada, da união entre o esposo e esposa e a linhagem destes.
Cada tribo e localidade em Angola tem os seus sobas, e reis que constituem os
respectivos chefes familiares, com a autoridade e poder máximo para dirimir os litígios
entre os povos angolanos, sobretudo das nossas Aldeias ou nas zonas rurais do país,
pois há acontecimentos relevantes que acontecem no seio da comunidade bantu, que o
direito positivo escrito não traz soluções, todavia somente o direito costumeiro tende a
resolver de maneira mais justa, segundo a realidade da sociedade bantu em Angola.
10
Cfr. Altuna, Raul Ruiz de Asúa, Cultura Tradicional Bantu, Paulinas editora, 2ª ed.2014,Luanda,pp.116-
117.
11
Hoje o chefe das famílias bantu, em Angola, é representado pelas autoridades tradicionais, os
chamados de Sobas, estes resolvem questões ligadas ao direito positivo não escrito, isto é; o Direito
consuetudinário, como se pode ler na Constituição da República de Angola, seus artigos 223º e
seguintes. Lá nas Aldeias há locais próprios que, alguns chamam de Ondjango e outros Otchótos.
Pelo matrimónio, cada um dos contraentes fica introduzido na família do seu cônjuge, o
matrimónio, como aliança de duas famílias, realiza esta união vital dos cônjuges que
passam a ser membros de ambas as famílias, entre os bantu o matrimónio inaugura a
afinidade entre os consanguíneos dos esposos. Quando um indivíduo estranho se
enraíza num território pertencente a outra família e se acomoda ao seu modo de
vida, depois de aceitar os usos, costumes e a autoridade legal, não só passa a ser
membro dessa família no sentido jurídico, político, religioso e social, mas dá até a
impressão de passar por uma transformação ôntica. O seu ser fica conectado e
impregnado da corrente vital que circula pela sua nova família, ficando assim
plenamente integrado, ao solidarizar-se no que há de mais íntimo e sagrado, na união
vital, o mesmo costuma acontecer com os indivíduos que têm nomes idênticos ou
chamados os ‘’ xaras’’ segundo os bantu.
membro que nascerá desta geração terá um nome segundo os sinais que o caracteriza ou
das circunstâncias de vida que foi criado e gerado. Com a presença do clã as famílias
bantu tornam-se mais unidas, a solidariedade e cooperação entre os povos é mais
notável com a presença do clã ou com ausência do mesmo. O clã está presente na vida
familiar para incentivar na vida económico-financeira, sócio-cultural e na organização
multiforme dos membros familiares12.
12
Por exemplo, nas aldeias, o clã ou membro da família ajuda uma família que não tiver meios para
lavrar a terra, e condições básicas para viver, há sempre uma pessoa disputa a se prontificar para ajudar
outrem, princípio da solidariedade e cooperação, é muito mais vivo nas zonas rurais em Angola, apesar
de actualmente se verificar nas cidades por força dos incentivos dos órgãos estaduais.
III CAPÍTULO
Daí ser pertinente, tecer notas sobre os princípios bantu numa primeira instância, que os
mesmos apresentam uma semelhança com os do Direito da Família geral, que se estuda
nas nossas universidades faculdades de Direito.
14
Artigo, 07º da Constituição da República de Angola e o artigo 348º do Código Civil vigente no nosso
ordenamento jurídico.
Mas antes do casamento, algumas famílias só entregam sua filha depois de ela
passar nas chamadas festas de puberdade ou iniciação feminina, isto é; ou olufuko ou
efiko, ou efundula. Quando porventura achem-na já adulta para ser dona de casa.
Hoje as famílias angolanas das zonas urbanas estão a perder as suas raízes como
bantu, imitando mais os rituais dos europeus, que esses a promessa do casamento basta
entregar uma aliança de compromisso e ambos serem apresentados nas duas famílias.
A pessoa que, irá se casar na cultura tradicional bantu e não só deve ter a plena
capacidade de discernimento sobre as realidades do mundo, e ser idóneo para casar, pois
o casamento é muito importante na constituição da família, se não haver essa idoneidade
podem desestabilizar a sociedade inteira. Por isso que, todos os interessados para o
matrimónio passam para os devidos rituais, e apresentados no seio da sua comunidade.
15
O artigo 20º do Código da Família angolano, se define o casamento como sendo a união voluntária
entre um homem e uma mulher, formalizado nos termos da lei, e com o objectivo de estabelecer uma
plena comunhão de vida.
16
In apontamentos das aulas do professor e advogado Moisés Mbambi, da Universidade Mandume Ya
Ndemufayo Faculdade de Direito, Lubango, 2019.
»Que sua alma descanse em paz e a terra lhe seja leve»
Conclusão
Como se pode deduzir o Direito da Família Consuetudinário no ordenamento
jurídico angolano, encontra a sua consagração legal nas disposições legais da
Constituição artigos 7º, 223º e 348º do Código Civil, com maior realce no Código da
Família angolano, onde a maioria das fontes do Direito da Família é estudada com
pormenores, o direito não escrito dos povos bantu, busca complementaridade de
explicações dos seus fenómenos sociais com bases aos princípios gerais direito escrito,
para entender o homem bantu, mas vemos que apesar destas subsidiariedade, o povo
bantu, é bastante cauteloso quando o assunto se refere da família, ela dificilmente se
deixa influenciar com os novos tempos. Portanto, consegue-se concluir que em Angola
há duas famílias, as famílias das zonas urbanas que foram bastante influenciadas pelo
ocidente e as famílias tradicionais das zonas rurais, algo deve ficar patente entre nós,
quando fala-se de família tradicional bantu refere-se no geral das sociedades africanas
no seu todo, e tecnicamente num sentido mais restrito, das famílias que habitam nas
zonas rurais dos países africanos, no caso do nosso país das chamadas Aldeias, é nas
aldeias onde o Direito da Família é muito mais rico e desenvolvido, na sua maioria dos
actos lá praticados são à margem do costume e das culturas que identificam cada povo
bantu, o nosso ordenamento jurídico escrito é muito omisso no que tange aos
fundamentos do direito não escrito angolano, cabe a cada jurista africano defender e
tecer notas sobre esse rico direito africano e os seus variados institutos jurídicos para a
construção saudável e realização da justiça de todo povo africano e particularmente
angolano.
Referências bibliográficas:
-Altuna, Raul Ruiz de Asúa, Cultura Tradicional Bantu, Paulinas editora Luanda, 2ª
edição, 2014.
- Medina, Maria do Carmo, Direito de Família, escolar editora, 2ª dição, 2013, Angola.
- Douglas, Wheeler e René, Pélisser, Tradutor: Pedro Gaspar Serras Pereira, História de
Angola, 2009.
Índice
Notas do autor do artigo científico ................................................................................... 1
Introdução Geral ............................................................................................................... 2
I CAPÍTULO .................................................................................................................... 3
Breve noção histórica da família e dos sistemas familiares ............................................. 3
1.2.A organização política bantu ...................................................................................... 3
1.3 Sistemas parentesco e grupos de filiação ................................................................... 4
1.4. Sistema patrilinear ou agnatício ................................................................................ 6
1.5. Sistema matrilinear ou uterino ................................................................................... 6
1.6.Avunculato ................................................................................................................. 7
II CAPÍTULO ................................................................................................................... 7
As comunidades bantu ...................................................................................................... 8
2.Família elementar, nuclear ou conjugal ......................................................................... 9
2.1. A família alargada ou extensa ................................................................................. 10
2.2.O chefe familiar-pater familias ................................................................................. 10
2.3.Uniões não consanguíneos e pactos de sangue-fraternidade de sangue ................... 11
2.4. O clã e exogamia ..................................................................................................... 11
III CAPÍTULO ............................................................................................................... 13
A constituição da pessoa humana e os princípios da família tradicional bantu, face aos
princípios gerais do Direito da Família. ......................................................................... 13
3.1 O casamento tradicional bantu e os ritos matrimoniais ............................................ 14
Conclusão ....................................................................................................................... 17
Referências bibliográficas: ............................................................................................. 18