Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2019
CDD 342
CDU 342(81)
Equipe Técnica
Coordenação de Editoração Revisão de Diagramação
Fernanda Rodrigues Saldanha de Azevedo Ana Íris Morais Pessoa
Humberto Fernandes de Moura
Arte da Capa
Gestão de Artigos Arte digital elaborada a partir de foto do
Ana Íris Morais Pessoa parlatório do Palácio do Planalto, visto
de trás da rampa do Palácio, com vista
Capa
também do mastro e da bandeira do Brasil,
Nathália Sarmento Rodrigues
além da escultura Os Guerreiros, na Praça
Diagramação dos Três Poderes.
Filipe do Nascimento Pires
Fotógrafo
Nathália Sarmento Rodrigues
Filipe do Nascimento Pires
Revisão de Texto
Estagiários
Ana Íris Morais Pessoa
Ana Beatriz Fumian Gomes
Karina Gomes Mansur Costa
Bruno Rodrigues Noronha
Revisão de Idiomas Fernanda Furtado Barbosa
Ana Íris Morais Pessoa Nathália Sarmento Rodrigues
Felipe Augusto Romão Neila Luíza de Araujo Melo Sousa
Isabela Ferreira Gesser
Conselho Editorial
Claudia Lima Marques João Maurício Leitão Adeodato
Universidade Católica de São Paulo, Brasil, São Paulo, Brasil. Professor do Programa de
Universidade de Münster, Alemanha. Docente Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Professor titular
Autor de Ensaio
José Levi Mello do Amaral Júnior
BRASIL – São Paulo/SP
Doutor em Direito do Estado pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Direito
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor Associado de
Direito Constitucional pela Universidade de São Paulo (USP). Livre-docente em Direito
Constitucional pela Universidade de São Paulo (USP).
E-mail: jose.levi@usp.br
Sumário
Caros leitores,
CONTENTS: 1 Introduction 2 The Brazilian Supreme Court case law: the limitation of parties’
discretionarity and the judge’s role 3 Cooperation agreement: statutory provisions and practice 4 The
conflict with the Brazilian Supreme Court case law: time for a change on the current understanding?
5 Conclusion 6 References.
1 Introdução
Se o acusado, reputado indefeso pelo juiz, vem, não obstante essa anômala
situação, a novamente constituir o mesmo profissional que se revelou
incapaz de dar conteúdo e substância à cláusula constitucional que garante
a plenitude de defesa, torna-se lícito ao magistrado processante dar-lhe
defensor dativo para, desse modo permitir que se realize, no processo penal
condenatório, em toda a sua plenitude, uma verdadeira contraposição de
órgãos homogêneos (BRASIL, 1994).
Federal aos institutos da Lei no 9.099/1995 demonstra como a vontade das partes não
pode se sobrepor à necessidade de observância do devido processo legal, bem como
à necessidade de prévia condenação da parte pelo magistrado. Tal discussão decorreu
essencialmente da problemática quanto ao descumprimento de transações penais, em
que se passou a questionar se o processo deveria ser retomado ao momento no qual
ocorrera o acordo ou se, ao contrário, a pena imposta por meio do acordo deveria ser
comutada, na forma do Código Penal, em pena privativa de liberdade.
Ao apreciar o caso, o Tribunal destacou que a decisão de homologação do
acordo não implicava o reconhecimento de culpa do agente, o que somente poderia
ser atestado com a correta apuração dos fatos segundo o devido processo legal,
com a posterior decisão final do magistrado competente (BRASIL, 2000; 2009c).
Para a Corte, a imposição da pena privativa de liberdade somente seria cabível com
o trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Na mesma esteira, o STF,
em outro caso, definiu a impossibilidade de se determinar a perda de bens que
constituem produto de crime nos casos de transações penais (BRASIL, 2015a). A
Corte entendeu que tal restrição ao direito de propriedade somente poderia ocorrer
com a configuração da culpa da parte e, portanto, com a sua condenação.
O princípio da culpabilidade revela-se como um dos principais pontos da
arquitetura dogmática da colaboração premiada a ser debatido. O princípio da
culpabilidade é um dos pilares do Estado Democrático de Direito e é hoje reconhecido
como uma garantia constitucional do indivíduo em face da violência estatal, como
limitador axiológico do jus puniendi (KAUFMANN, 1961, p. 15). A disposição de que
não há punição sem culpa – nulla poena sine culpa – representa uma conquista
histórica do direito penal democrático e uma das categorias mais importantes de
todo direito penal (STRATENWERTH, 1977, p. 7 e 40 e ss). Por essa razão, não deve
o princípio da culpabilidade deixar perder-se por novas construções dogmáticas
ligadas ao instituto da colaboração premiada.
Nessa linha de raciocínio, o doutrinador alemão Achenbach nos ensina que
a “culpabilidade, como elemento da lei penal, deve ser o regulador essencial da
persecução penal, bem como um anteparo para o exercício da violência estatal na
proteção dos direitos fundamentais” (ACHENBACH, 1974, p. 9)2.
A imprescindibilidade do julgamento pelo magistrado também é afirmada nas
discussões sobre a chamada “prescrição em perspectiva”, na qual esta é reconhecida
2 Do original, em alemão: Schuld als Bestandteil des Strafgesetzes ist der wesentliche Regulator für die
Strafverhängung und damit für eine Grundrechte berührende Ausübung staatlicher Gewalt.
tendo como base uma possível pena em concreto a ser aplicada ao réu. Nesses casos,
mesmo levando à extinção da punibilidade, o Supremo tem se manifestado de forma
clara quanto à impossibilidade de se buscar antever o julgamento futuro, ao impedir
“a cognição do fato pelo Poder Judiciário, mediante juízo prévio de culpa – pressuposta
à pretensão punitiva –, sem observância do devido processo legal” (BRASIL, 2009b).
Além da configuração da culpa, o Supremo Tribunal Federal tem destacado a
relevância do magistrado à definição em concreto da resposta penal do Estado, por meio
da individualização da pena. Tal princípio exige que as penalidades a serem aplicadas
aos infratores levem em considerações as nuances específicas de cada caso, sem colocar
– como afirmado pelo STF – “situações desiguais na mesma vala” (BRASIL, 2013) e
guiando-se “no rumo da personalização da resposta punitiva do Estado” (BRASIL, 2010b).
Entende-se que tal princípio se expressa em 3 momentos principais: um
legislativo, no qual se definem, em abstrato, as penalidades mínimas e máximas
para cada tipo penal, bem como se estabelecem comandos gerais para regrar as
fases seguintes da individualização; um judicial, cuja essência é realizar a dosimetria
da pena específica de cada caso individual, definindo-se, de forma concreta e
singular, a penalidade a ser aplicada e a sua forma de cumprimento; o último é o
administrativo, em que se permite diferenciar cada indivíduo preso a partir de sua
resposta e comportamento dentro do sistema penal3.
Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal salienta que todos esses três
momentos são essenciais à concretização de tal princípio, não podendo o
legislador, ao estabelecer regramentos abstratos sobre o tema, impor restrições
desproporcionais às etapas seguintes:
3 Foi o que restou decidido nos Habeas Corpus no 82.959 (BRASIL, 2006) e 97.256 (BRASIL, 2010).
(i) permissão para que familiares se utilizem de bens que sejam produto
de crime (veículos blindados adquiridos com produto da infração); (ii)
afastamento de efeitos extrapenais da condenação, em especial não
aplicação de perdimento a determinados bens, que seriam produto de
crime; (iii) aplicação de multas; (iv) o cumprimento da pena em regimes
diferenciados, como o regime fechado domiciliar, o aberto diferenciado
(em geral consistente no recolhimento domiciliar noturno), o regime
semiaberto diferenciado (em geral o recolhimento domiciliar noturno
durante a semana e em período integral aos fins de semana); (v)
recolhimento domiciliar noturno durante a semana; (vi) estabelecimento
de penas fixas (por exemplo, três anos em regime semiaberto) ou em
margens fixas (no mínimo três e no máximo cinco anos); (vii) condenação
a, no máximo, uma pena determinada (condenação à pena máxima
unificada de até 12 anos, por exemplo); (viii) suspensão de processos
e investigações; (ix) progressão per saltum, de regime diretamente do
fechado para o aberto; (x) suspensão da pena; e (xi) substituição da
prisão cautelar por outras medidas alternativas.
O estabelecimento das cláusulas acima destacadas não ocorreu sem críticas por
parte da doutrina, a qual se debruçou sobre diversos artigos sobre a sua validade
em face da legislação e da Constituição Federal. Entretanto, para além da discussão
sobre a sua correição, mostra-se evidente que parcela dessas práticas encontra-se na
contramão dos entendimentos formados ao longo dos anos pelo Supremo Tribunal
Federal sobre o nosso sistema processual penal e, especialmente, sobre as garantias
fundamentais previstas no texto constitucional.
A simples comparação entre os julgados citados no presente artigo com algumas
cláusulas também aqui destacadas demonstra esse conflito. De início, é forçoso
reconhecer que o estabelecimento, nos acordos, de cláusulas e benefícios não previstos
em lei contraria de forma clara o entendimento consagrado sobre o funcionamento do
nosso sistema processual penal, o qual limita de sobremaneira a discricionariedade
das partes e, quando não, apenas a tolera nos estritos limites da legislação.
Compreendido o nosso sistema de justiça penal como uma criação para a legítima
aplicação da pena, parece evidentemente desconectada de tal premissa qualquer
interpretação que busque consagrar a plena liberdade das partes na negociação
dos acordos. Afinal, o estabelecimento de um processo de partes foi definido com
o objetivo de se alcançar a devida aplicação da lei penal, não para fundamentar
uma exegese privatista, que tem como consequência direta a vulneração das mais
básicas garantias processuais-penais.
Isso pode ser percebido em casos nos quais, para além da ausência de autorização
legal, os acordos firmados apresentam cláusulas que significam a renúncia a direitos
fundamentais. O cumprimento antecipado da pena mostra-se como claro exemplo de
tal situação. Por meio de tal cláusula, a parte abre mão do prévio processo judicial e
de seu julgamento definitivo pelo magistrado, os quais são considerados requisitos
necessários à submissão de um indivíduo à pena privativa de liberdade, conforme
visto na consolidada jurisprudência sobre os institutos da Lei no 9.099/1995. Ao
assim proceder, a cláusula acaba se imiscuindo na própria atividade judicial, pois o
cumprimento da pena não prescinde da sentença do juiz competente.
Outra previsão que se mostra em contradição com o sistema processual penal
brasileiro é a definição detalhada e específica das penas a serem aplicadas ao
colaborador. Isso porque, além da evidente ausência de autorização legal, a cláusula
acaba por retirar do magistrado a sua prerrogativa constitucional de individualizar
a pena do acusado, por meio da definição do período ao qual a parte estará sob
custódia e do regime inicial a ser observado, bem como – posteriormente, de
acordo com a menor ou maior resposta do preso – da concessão de eventuais
progressões de regime.
Vale destacar que, segundo o Supremo Tribunal Federal, nem mesmo a lei
poderia retirar do magistrado a possibilidade de avaliar as circunstâncias individuais
de cada acusado e, com base nelas, dimensionar a devida resposta na forma de
pena, o que incluiu também a própria progressão de regime. Ora, se nem mesmo
ao legislador ordinário é dado limitar tal espaço reservado ao juiz – sob a pecha
de inconstitucionalidade –, evidentemente não será o Ministério Público a quem
caberá, por meio de um acordo, vincular de forma total o magistrado.
Ainda mais grave, a possibilidade de definição de novos regimes de cumprimento
chama atenção não apenas pela ausência de previsão legal, mas também pela
própria vulneração do regramento constitucional sobre a individualização da pena.
Como visto, tal preceito figura-se como um direito do acusado e manifesta-se em
três fases principais: a legislativa, a judicial e a administrativa. A criação de um
novo regime de forma casuísta e por meio de um acordo claramente afronta essa
sistemática, a qual, além de conferir ao magistrado a definição da forma de execução
da pena, exige que a individualização seja feita na forma da lei.
Nesse sentido, o que se percebe é que o Ministério Público Federal, com a
aceitação do próprio Poder Judiciário, tem adotado uma prática que contradiz
frontalmente a jurisprudência consolidada sobre múltiplas questões do direito
penal e processual penal brasileiro. Com base em uma interpretação bastante
singular do sistema acusatório, criou-se um sistema no qual, por um lado, as partes
tornam-se detentoras de uma discricionariedade estranha ao próprio interesse
público existente no processo penal e, por outro, o juiz – teoricamente vinculado
à correta aplicação da lei penal – passa a ser mero expectador das tratativas
das partes, as quais definem o crime, a pena, o início do seu cumprimento e
até mesmo o regime prisional. Conforme destaca Badaró, de um suposto modelo
acusatório, o que se vê é a formação de “um retorno a um modelo de concentração
de funções: o Ministério Público investigou, estabeleceu a verdade dos fatos,
decidiu, estabelecendo a pena que foi aceita pelo colaborador resignado, e puniu”
(BADARÓ, 2018).
Caberá ao Supremo Tribunal Federal, em algum momento, aferir a validade dessas
cláusulas. Entretanto, o que resta claro a partir da presente análise é que, antes de
uma discussão sobre uma prática específica ou sobre uma operação em particular,
encontra-se em debate a própria conformação do sistema penal do país. Isso porque, a
depender de como essas práticas serão afirmadas ou não pelo STF e de quais limites
serão impostos, são inegáveis os impactos ao direito processual penal brasileiro.
5 Conclusão
Como visto acima, a introdução dos acordos de colaboração premiada no Brasil
levantou uma série de discussões sobre os seus limites diante da legislação e da
Constituição Federal. Isso se deu especialmente em razão da pequena abertura
até então existente a práticas negociais no âmbito do direito penal brasileiro,
o qual, até pouco tempo, apenas permitia transações em processos envolvendo
casos de menor complexidade e gravidade. A questão, além de relevante pelo
crescente uso do instituto no país, mostra-se de grande importância para o avanço
jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal sobre pontos estruturantes do nosso
direito processual penal.
Nesse sentido, a primeira parte destacou como o entendimento firmado pelo STF
se baseia em um sistema de justiça que preza pela limitação da discricionariedade
das partes, ao estabelecer um processo voltado a legitimar o poder punitivo do
Estado. Dessa forma, o estudo demonstrou as evidentes restrições às iniciativas
da acusação e da defesa na ação penal. O Ministério Público volta sua postura à
correta aplicação da lei penal e não detém, assim, total ingerência sobre os rumos
do processo, tanto no que tange ao arquivamento do processo quanto à realização
de acordos como os previstos na Lei no 9.099/1995. O réu, por seu turno, tem a
obrigação de se defender e não pode simplesmente se resignar e aceitar a sua
condenação, como no processo civil.
A segunda, por outro lado, evidenciou as diversas práticas adotadas pelo
Ministério Público Federal – e referendadas pelo Judiciário – no âmbito dos acordos de
colaboração premiada, os quais contam com cláusulas sem previsão legal e, inclusive,
vulneram preceitos constitucionais de suma relevância à Constituição de 1988.
A terceira parte demonstrou como essa prática se confronta de forma direta
com uma série de entendimentos do Supremo Tribunal Federal e acaba por
estabelecer uma sistemática que tem conferido às partes grande discricionariedade
na formalização dos acordos, com a possibilidade de estabelecerem a pena a ser
aplicada ao réu, a forma e, inclusive, o momento de seu cumprimento.
6 Referências
ACHENBACH, Hans. Historische und dogmatische Grundlagen der
strafrechtssystematischen Schuldlehre. Berlim: Lüderitz & Bauer, 1974.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Segunda Turma). Habeas Corpus no 84.156. Inquérito
policial - arquivamento ordenado por magistrado competente, a pedido do ministério
público,por ausência de tipicidade penal do fato sob apuração-reabertura da investigação
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Tribunal Pleno). Habeas Corpus no 82.959. Pena
- regime de cumprimento - progressão - razão de ser. (...) Pena - crimes hediondos
- regime de cumprimento - progressão - óbice - artigo 2º, § 1º, da lei nº 8.072/90
- inconstitucionalidade - evolução jurisprudencial. Relator(a): Min. Marco Aurélio.
23 fev. 2006. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.
jsp?docTP=AC&docID=79206. Acesso em: 9 set. 2019.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Primeira Turma). Habeas Corpus no 70.600. “Habeas
corpus” - crimes de tráfico de entorpecentes e de associação criminosa em matéria de
entorpecentes (...) Falta de comparecimento do defensor constituído em audiência
de instrução - designação de defensor “ad hoc” - possibilidade – (...) Superveniente
intervenção de advogado constituído - interposição de peça insatisfatória - réu
considerado indefeso - constituição do mesmo defensor pelo réu para atos
posteriores - indisponibilidade do direito de defesa - nomeação, pelo juiz, de defensor
dativo - garantia do direito de defesa - pedido indeferido. Relator(a): Min. Celso de
Mello. 14 abr. 1994. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.
jsp?docTP=AC&docID=601169. Acesso em: 9 set. 2019.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Tribunal Pleno). Habeas Corpus no 97.256. Habeas
corpus. Tráfico de drogas. Art. 44 da lei 11.343/2006: impossibilidade de conversão
da pena privativa de liberdade em pena restritiva de direitos. Declaração incidental
de inconstitucionalidade. Ofensa à garantia constitucional da individualização da
pena (inciso xlvi do art. 5º da cf/88). Ordem parcialmente concedida. Relator(a):
Min. Ayres Britto. 01 set. 2009. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/
paginador.jsp?docTP=AC&docID=617879. Acesso em: 9 set. 2019.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Segunda Turma). Habeas Corpus no 97.969. Habeas
corpus. Penal e processual penal. Policial civil. Crime de extorsão. Desclassificação
para o delito de concussão. Legitimidade do ministério público. Controle externo
da atividade policial. Denúncia: crimes comuns, praticados com grave ameaça.
Inaplicabilidade do art. 514 do cpp. Ilicitude da prova. Condenação embasada em
outros elementos probatórios. Decisão condenatória fundamentada. Ordem denegada.
Relator(a): Min. Ayres Britto. 01 fev. 2011. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/
paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=623228. Acesso em: 9 set. 2019.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Tribunal Pleno). Habeas Corpus no 93.815. Habeas
corpus. Roubo. Condenação. 2. Pedido de afastamento da reincidência, ao argumento
de inconstitucionalidade. Bis in idem. 3. Reconhecida a constitucionalidade da
reincidência como agravante da pena (RE 453.000/RS). 4. O aumento pela reincidência
está de acordo com o princípio da individualização da pena. Maior reprovabilidade
ao agente que reitera na prática delitiva. 5. Ordem denegada. Relator(a): Min. Gilmar
Mendes. 04 abr. 2013. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.
jsp?docTP=TP&docID=3741890. Acesso em: 9 set. 2019.
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Petição no 7.265. Decisão. Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, 14 nov. 2017. Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/
noticiaNoticiaStf/anexo/PET7265.pdf. Acesso em: 9 set. 2019.
LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 11. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2014.
SRECK, Lenio Luiz. Novo Código de Processo Penal: O problema dos sincretismos de
sistemas (inquisitorial e acusatório). Revista de Informação Legislativa, Brasília, v. 46,
n. 183, p. 117-139, jul./set. 2009.
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal: v. 1, 32. ed. revista e atualizada.
São Paulo: Editora Saraiva, 2010.
ABSTRACT: This case study, its development, and the production of drugs for
neglected diseases were analyzed based on methodological approaches of analytic
induction and the rules of inference. The question proposed of this study is, whether
legal acts, such as the Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights (TRIPs)
Agreement and the Brazilian Industrial Property Rights Act fulfill their purpose of
promoting innovation as well as social aims, taking into consideration the failure
to develop and deliver health products for neglected diseases. The hypothesis to
be tested is that the patent legal system, as designed by the TRIPs Agreement, is
inefficient in achieving its own “morality of aspiration”, which can be expressed as
the tension between scientific innovation and social welfare. As a result, once the
data were analyzed, it was possible to infer, descriptively, that the patent system is
ineffective to achieve its aspiration regarding the social welfare.
1 ‘’This paper has the financial support of FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais) and
CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).’’
1 Introduction
T his research focuses on verifying whether the existing legal acts concerning
intellectual property rights are coherently articulated with their fundamental
values, such as the quest for scientific development and social welfare.
So as to evaluate either the effectiveness or ineffectiveness of the patent legal
system, the case of research, development, and production of drugs for neglected
diseases was selected based on the controversy between the economics of Research
and Development (R&D) concerning health products for neglected diseases and the
normative commands of the patent legal system. In order to make the case study more
compelling, instead of narrowing the search to medicines (or drugs) for neglected
and non-neglected diseases, it was intentionally decided to choose the wider term
of “search” common to the health-care industry, known as health products. This
means any tool or specific medicine, which may contribute to improving the health
of a patient. Pragmatically, the patent legal system isconceived as an instrument of
public policy, the essential characteristic of the institution of a patent. Taking this
into account, the patent legal system ought to achieve the fundamental goal of
guaranteeing the promotion of scientific development and social welfare.
The proposed question of this study is whether legal acts, such as the TRIPs
Agreement and the Brazilian Industrial Property Rights Act fulfill their purpose of
promoting innovation as well as social aims, taking into consideration the failure
to develop and deliver health products for neglected diseases. The hypothesis to
be tested is that the patent legal system, as designed by the TRIPs Agreement, is
inefficient in achieving its own “morality of aspiration”, which can be expressed as
the tension between scientific innovation and social welfare. The inefficiency is
measured through the cross-referencing of both the number of patent applications
and the global burden of each disease as far as the Disability-Adjusted Life Years
(DALY) can be applied to neglected diseases.
The methodological approach consists of the reconstruction of a system of
analytical concepts based on the necessary balance between the universalism
of norms, and the complexity of actual cases, taking into account the tension
between the morality of aspiration and the morality of duty, developed by Zenon
Bankowski. Stemming from this theoretical point of departure, the number of patent
applications, the amount of people affected by diseases and their global burden
are known facts of this research. These data are collected from different databases,
2 Methodology
According to Bankowski, “if you understood the aspirations behind the rule you
would see that the letter of the rule did not have to be followed no matter what
the cost” (2001, p. 71). This author affirms that legalism is the corrupted version of
legality, mistaking the rule as “being all there is to it” and, thus, neglecting that the
rule is “just a point on an aspirational scale”. Identity in law (FERES, 2013, p. 1158), as
a theoretical concept, signifies the necessary intertwining between legality and love,
inasmuch as love can be conceived as the aspirational ideal of a rule, but must never
replace it, as emphasized by Bankowski (2001, p. 73). Moreover, the idea of both
social solidarity and concern for the individual ethical choices serves to explain this
constant tension between legality and love in the realm of law as identity. Law as
identity is a Brazilian conception of Bankowski’s proposal of living lawfully. The law,
as identity, necessarily considers the cultural tensions involving how the perspectives
of Brazilian regulations should be reconfigured and restructured so as to absorb
the complexity of a national context of social and economic inequality, deliberately
avoiding Eurocentric neutrality or legal realism2. Searching for the aspirational ideal
of a legal system is crucial to measure the efficiency and the effectiveness of its rules
per se (the morality of duty). Considering this theoretical proposal, it is important to
affirm that the patent legal system is inefficient in fulfilling the aspiration of the law
concerning the tension between social welfare and scientific development. In this
specific case, it is relevant to point out that social welfare plays a crucial role in the
realm of law as identity, distinctly separating the Brazilian national context from the
Eurocentric and North-American international agendas.
One of the main points of departure of this research is the legal rule, expressed
in article 7 of the TRIPs Agreement:
The TRIPs Agreement explicitly refers to social and economic welfare as goals of
technological development. The aspiration of the Agreement is, in fact at the same
time, the quest for welfare, both economic and social. The morality of aspiration
in the Agreement is rooted between the tension of economic development and
social welfare. From the Bankowskian point of view, the patent legal system will be
effective only if it is orchestrated, managed and applied so as to fulfill the morality
of aspiration. The legal aspect of the agreement demands the achievement of social
welfare goals while putting the rules per se, derived from the patent system, into
action. From the perspective of law as identity, social welfare ought to be a priority,
taking into account the needs of the Brazilian population, for example, the possibility
that healthcare products for neglected diseases might be insufficiently developed
or produced.
Ghosh (2008, p. 120) advocates the idea that a patent should not be viewed
and applied as a property right; nevertheless, he conceives a patent as a regulatory
system, reinforcing the perspective that a patent is a combination of public resource
and “owner’s right”. Thus, it is correct to conceive a patent as a fusion of both an
instrument of public policy and the owner’s exclusive right, as fairly agreed among
Brazilian Economic Law scholars (BARBOSA, 2003, p. 626; FERES, 2012, p. 384-388;
VAZ, 1992, p. 414). Theoretically, Souza (1999, p. 25) emphasizes that the object of
study, regarding Economic Law, is the “juridification” of public or economic policy.
According to Bessen and Meurer (2008, p. 216), the patent can be conceived, as an
economic policy instrument. Nonetheless, so as to provide positive incentive, its
legislation, as it is known these days, should be reformed (BESSEN; MEURER, 2008,
p. 217). Bearing this idea of a patent as an economic policy instrument in mind, this
research intends to analyze the patent legal system taking as a point of departure
the number of patent applications as a means of measuring the efficiency and
inefficiency to fulfill the aspiration of the patent legal system, focusing on the case
study of production and development of health products for neglected diseases.
Moreover, Chang (2001, p. 290-304) demonstrates that, historically, at the
beginning of industrial development in the now-advanced countries, intellectual
property rights were not fully respected, which is contradictory to the sort of pressure
developed countries put on the now-developing countries to comply with strict
international regulations regarding intellectual property rights. Hereof, Boldrin and
Levine (2013, p. 19) claim that the agenda of international agencies with regards
to intellectual property rights is rather biased, for the international organs are more
likely to defend the economic interests of developed countries to the detriment of the
social needs of developing countries. Constantly, so as to maintain the conventional
patent advocacy, as well as the enforcement of the rules per se disregarding social
welfare, which is also a relevant principle in the legislation, developed countries
have withdrawn the aspiration of article 7 of the TRIPs Agreement. Therefore, it
is relevant to collect and analyze evidence concerning the patenting of health
products for neglected vis-à-vis3 non-neglected diseases so as to detect the sort of
prioritization the patent legal system is encouraging.
Belleflamme emphasizes that the dynamics of the market rest on prioritizing
R&D based on potential demand level while ignoring great social needs (2008, p.
221). According to Boldrin and Levine, a relevant question should be asked: “did
patentability of basic biomedical innovations create an incentive to engage in more
socially valuable research projects and investigations?” (2008, p. 228). This proposed
empirical research on the effectiveness of the patent legal system intends to collect
empirical evidence that patentability has not been creating an incentive to engage
in more socially valuable research projects for neglected diseases in Brazil. Boldrin
and Levine propose that, only if the worldwide gains from price discrimination are
unexpectedly low, will pharmaceutical corporations be attracted to the development
and production of drugs for neglected diseases in Africa and Latin America (2008,
p. 224-226). Dietsch develops the needs principle in his work, elucidating that
the distribution of health goods should be executed taking into consideration the
medical needs rather than the consumers’ willingness and ability to pay (2008, p.
236-238). He demonstrates that diseases with a higher global disease burden in
developing countries receive disappointingly lower investments in R&D.
The objective of this research is to empirically substantiate these
aforementioned theoretical statements. In fact, the universe of data collection is
the patent applications submitted to, as well as patents granted by, the National
Institute of Industrial Property Rights in Brazil. The sample is extracted from this
3 Data analysis
The official website of the National Institute of Industrial Property Rights (INPI,
2017) was accessed in order to, firstly, map out the patent system. Secondly, as the
website had been scrutinized, the patent data basis was revealed and extracted. In
order to do this, it was necessary to click on the following links: “services”, “trademark”,
“patent”, “industrial”, “design”, “software” and “continue”. Subsequently, one is redirected
by the website to a point where one can select “basic research for patents” and the
search for the selected neglected and non-neglected diseases is possible to execute.
The type of web research utilized is the one called “basic research”, which is carried
out by selecting “keywords”. These should appear in the “abstract” and “title” registered
on the website, so as to visualize the largest possible number of patent applications
concerning any one specific disease. This search procedure was carried out separately
for each of the neglected and non-neglected diseases.
Once the patent application had been located on the database of INPI, using
the specific keyword – normally, the scientific or the common name of the disease
–, the abstract, the claim and the description of the patent application were read so
as to verify whether the application was closely related to the prevention, diagnosis
or treatment of the disease. Whenever the available data at the INPI platform were
not conclusive, clear or accessible, the PatentScope at World Intellectual Property
Organization (WIPO, 2017) was accessed, utilizing the international application
number (the “PCT number”). For example, the application no BR 11 2016 005157,
related to cancer (ALMAC DIAGNOSTICS LIMITED, 2014) was selected using this
specific procedure. Following it, these applications, whose documents did not reveal
the relationship between the final product and the infirmity, yet only used the disease
as an example, as well as evidenced other abnormalities, such as, lack of publicity,
absence of an active link or an international number, were discarded as invalid and
unreliable measures for this research, taking into account that the time lapse of this
investigation on the INPI database was from the publishing of the Brazilian Industrial
Property Rights Act (Act no 9279,1996) to the 31st of May, 2016.
After explaining the basic methodological procedure executed on the website, it
is necessary to justify the choice of which neglected and non-neglected diseases were
selected as samples extracted from this data collection.
First of all, there are differences concerning the types of neglected diseases, ranging
from a list elaborated by the World Health Organization (WHO) to the list organized by the
Brazilian Institute of Industrial Property Rights. Nevertheless, taking into consideration
that the spatial analysis of this research is focused on Brazilian territory, the samples
of neglected diseases are extracted from the list of neglected diseases published in
the INPI Resolution 80/2013. Once verified the list in this Resolution, Chagas disease,
dengue or hemorrhagic dengue, schistosomiasis, Hansen’s disease, leishmaniasis,
malaria, tuberculosis, Buruli ulcer, neurocysticercosis, echinococcosis, yaws, fascioliasis,
paragonimiasis, filariasis, rabies, helminthiasis (ascariasis; trichuriasis; hookworm
disease), and venomous animal contacts, all of these diseases were researched on the
database. The most recurrent patent files, in numbers, were the ones concerning malaria,
leishmaniasis, and dengue. On this account, these neglected diseases were selected to
substantiate a more comparable sample vis-à-vis the non-neglected diseases, as well as
to avoid bias while comparing less frequent patent files of certain neglected diseases
with large numbers of files of non-neglected maladies.
The non-neglected diseases were selected from a scientific study on the
comparison between neglected and non-neglected infirmities carried out by
Pedrique et al. (2013, p. 371-379). The authors present a table containing what they
considered to be the most recurrent groups of non-neglected diseases as benchmarks
for their study. It is important to emphasize that it was taken for granted, without
further discussion, the specific choice of non-neglected diseases pinpointed by the
aforementioned authors. Once the non-neglected diseases analyzed, as groups, by
Pedrique et al. (2013, p. 317-319) were extracted from table 2 of their article, that is,
neuropsychiatric disorders, cancer, cardiovascular diseases, genitourinary system and
hormones, digestive diseases, sense organ disorders, HIV/Aids, respiratory diseases,
diabetes mellitus, musculoskeletal diseases, it was verified on the INPI database if
these diseases appeared in the patent files. The same procedure used for neglected
diseases was replicated for the group of non-neglected infirmities. Consequently, the
three most recurrent groups of non-neglected diseases in the INPI database were
selected to form the following table 1 of this paper, that is, cancer, diabetes and HIV/
Aids.
So as to be more precise in the description of the aforementioned data
collection, it is relevant to note that those diseases, for example, “leishmaniasis”
(cutaneous, visceral and mucocutaneous), “diabetes mellitus”, compounded by double
denomination had to have diverse insertions using different combinations of the
scientific and common names while executing the qualified search on the database.
1 Applications related to a disease, submitted from May 15, 1996 to May 31, 2016.
2 Collection of decisions in the files between Mar. 14, 2017 and Mar. 20,2017.
3 Collection of decisions in the files between Mar. 28, 2017 and Apr. 03, 2017.
4 Collection of decisions in the files between Mar. 21, 2017 and Mar. 27, 2017.
The known facts consist of the number of patent applications for the sampled
neglected and non-neglected diseases. The interpretation of these facts reveals
that the number of applications for neglected diseases is significantly low when
compared to the number of applications for non-neglected diseases (last column of
the 1st table).
The number of applications for HIV/Aids is five times higher than the number of
applications for malaria, which is explained, among other reasons, by the fact that
the HIV affected population resides in both developed and developing countries, as
Ridley et al. (2006, p. 316) highlight. The huge gap between the number of applications
between the selected neglected and non-neglected maladies is replicated in the
number of patents granted or issued by the INPI.
It may be argued that cancer is not a proper unit of analysis for comparison,
considering its varieties, (such as lung cancer, liver cancer, pancreatic cancer etc.)
with various behaviors and different treatment, as established by Cooper (2000).
However, O’Connor (2010) and Cooper (2000) postulate that cancer consists of an
abnormal proliferation of cells, unifying all types of cancer in this basic definition.
Furthermore, Cooper (2000) sums up all different types of cancerous diseases into
three basic structures: carcinomas, sarcomas, and leukemias.
According to this author, 90% of cancerous diseases which affect humans are
carcinomas. Considering these medical statements, as well as the kind of patent
application concerning the treatment, diagnosis and prevention of cancer collected
on the INPI website, cancer is frequently described as a wide spectrum of neoplasms
or carcinomas, which makes the malady a viable unit of analysis vis-à-vis the other
units of analysis regarding the neglected diseases.
The patent applications concerning cancer hardly show distinction according to
the type of cancer or the organ affected by the neoplasm, a fact that was detected
during the data collection. Urruticoechea et al. (2010, p. 9) state in their studies, in
which they focus and presume that, despite a wide range of cancerous diseases, the
same sort of neoplasm is recurrent in most of them.
This assumption serves to foster the development of drugs for a wide spectrum
(URRUTICOECHEA et al., 2010, p. 8-9). Analyzing these medical and biological
researches related to cancer, it is possible to formulate a more grounded statement.
Cancer, as a unit of observation and analysis, may be considered a single malady in
spite of the diversity of its manifestations.
The high number of patent application discontinuities, as presented in the 1st
table, may be a fact worthy of further analysis, possibly suggesting an institutional
failure in the administrative application process. According to Jannuzzi and
Vasconcellos (2013), the average duration of the administrative procedure for
issuing a patent at INPI is 11.5 years. In fact, this might be considered one of the
causes for application discontinuities.
The second data set was extracted from the Institute for Health Metrics and
Evaluation, an independent research center for storing data concerning the global
burden of a disease. Once the sampled diseases, the percentage measure, and the
global DALY had been selected on the Global Burden Diseases (GBD) results tools
on the IHME site, the site provided, automatically, the data requested. The following
table can be easily replicated by accessing the site of IHME. This link automatically
shows the content of the 2nd table.
Table 2 – 2015 Global DALYs (%)
Diseases DALY
Neglected diseases2 4.70
Malaria 2.27
Leishmaniasis 0.06
Dengue 0.08
HIV/AIDS 2.71
Diabetes 2.60
Cancer3 8.52
1
Source: Extracted by the authors from GBD/IHME, 2017 http://ghdx.healthdata.org/gbd-results-
tool?params=querytool-permalink/9aadb9a4091cd4bb3579d096e5487568.
2
Malaria; leishmaniasis; dengue; Chagas disease; schistosomiasis; Hansen’s disease; tuberculosis;
cysticercosis; cystic echinococcosis; foodborne trematodiasis (fascioliasis and paragonimus); lymphatic
filariasis; helminthiasis (ascariasis; trichuriasis; hookworm disease); rabies; venomous animal contact.
Buruli ulcer and yaws are not available in GBD Results Tool.
3
All types of neoplasms available in GBD Results Tool.
This table reveals that the global burden of a neglected disease, such as malaria,
is significant when compared to the percentage of DALY of non-neglected diseases.
However, this global indicator, DALY, is highly controversial, as demonstrated by King
and Bertino (2008, p. 2).
These authors argue that the DALY system presents three major problems,
such as disregarding the local context (the patient perspective), the common
complications derived from neglected diseases and, the reality of shared disabilities
in the presence of comorbidity or concurrent infection. The DALY system does not
take into account the low-level, chronic morbidity typical of neglected diseases.
According to the critique of the mathematical model constructed to calculate
DALY, developed by King and Bertino (2008, p. 2), the global burden of malaria is
a relevant number to be considered as evidence of how neglected these diseases
are. Their critique can also be corroborated by the fact that the GBD result tools do
not incorporate in the calculation program, maladies, such as Buruli ulcer and yaws.
Furthermore, this economic opinion serves to interpret the low percentage of DALYs
concerning dengue and leishmaniasis.
Quijano’s (2000, p. 342-344) idea of colonialism and European domination
reinforces the duality imposed on the peripheral and colonized countries by the
European matrix of knowledge and cognitive rationality. The GBD, as it is elaborated,
confirms the difference between inferior and superior, irrational and rational,
primeval and civilized, traditional and modern, constructed in this European matrix
of power and knowledge, according to Quijano (2000, p. 345-346).
The 2nd table, in spite of having been elaborated taking into consideration the
GBD/IHME, can be utilized by adding the basic critique put forward by King and
Bertino (2008, p. 2). In this context, the GBD for neglected diseases would drastically
change if the variables, formulated by the authors, were added to the equation. The
GBD for neglected diseases, such as malaria, leishmaniasis and dengue fever, among
others, should be calculated in such different terms, according to King and Bertino
(2008, p. 2-3) that it is not inappropriate to attribute a more expressive burden to
those maladies. In this research, the burden of neglected diseases will be considered
higher for the purposes herein intended.
Subsequently, the 3rd table, concerning the number of people affected by the
studied maladies, was elaborated, taking into account various sources, ranging from
bibliographical data to diverse official websites. In fact, the following table works
as an observable implication for it shows how expressive the number of affected
people by neglected diseases is.
Table 3 – The number of people affected by the studied diseases
Cutaneous
Malaria and visceral Dengue HIV/AIDS Diabetes Cancer
leishmaniasis
223.700
250.988 830.00
72.700 deaths for
1.450 reported and 42.108 219.040 people (all
reported various
deaths (2000- of reported cases ages) living
deaths types of
2014)1 cases in Brazil (2017)8 with HIV
(2016)6 cancer
(2005-2016)3,4 (2016)5,9
(2014)7
Approximate
39% and 93% 14.000
230.000
of cases in 88 deaths AIDS-related
estimated
the Americas (2017)8 deaths
cases (2013)2
found in (2016)9
Brazil10
Approximate
Approximate
36% of
40% cases in
cases in the
the Americas
Americas
found in
found in
Brazil10
Brazil10
considering the Latin American countries where the disease is endemic (WHO, 2016;
HOTEZ; FUJIWARA, 2014, p. 601-606).
Leishmaniasis and dengue diseases are also frequent in Brazilian territory
as far as the number of cases of these diseases is concerned. Approximately 300
thousand cases of leishmaniasis were reported in Brazil between 2005 and 2016
(WHO, 2017a; 2017b). Furthermore, almost every case of visceral leishmaniasis,
one of the most serious varieties of this disease, occurred in Brazil (HOTEZ;
FUJIWARA, 2014, p. 601-606).
According to the Pan-American Health Organization (PAHO), 88 deaths caused
by the Dengue virus happened in Brazil until October 2017 (PAHO, 2017) e more
than 200 thousand occurrences of the disease were reported in Brazilian territory
in the same year. The number of people affected by Dengue fever reached a record
in the year 2015, that is, almost 1,7 million cases occurred in Brazil (BRASIL, 2017).
It is possible to estimate that 830 thousand people in Brazil live with the
HIV virus and 14 thousand deaths associated with the disease were reported in
2016 (WHO, 2017c; UNAIDS, 2016). In 2016, 72,700 people died due to diabetes
(WHO, 2016). In 2014, 223,700 deaths caused by all sorts of cancer occurred in
Brazil (WHO, 2014).
an economic policy to accomplish the goal of social welfare in the case of health
products for neglected diseases.
The higher numbers of patent applications related to non-neglected diseases
reveal that the design of the patent legal system serves as a magnet for what
is considered to be more marketable and, thus, more profitable, as empirically
substantiated by Boldrin and Levine (2008, p. 212-238). More relevantly, these authors
conceive the pharmaceutical industry as “a monopolized industry, where patents are
the core and the foundation of the business method adopted” (2008, p. 234).
It signifies that the patent legal system plays a central role in the pharmaceutical
business, for economically the firms are completely tied to the benefits of patents.
This makes the patent application entries a reliable indicator for detecting
the behavior of the health-care product market. Arguably, Boldrin and Levine
emphasize the influence of patents in the manner in which the industry controls
doctors’ prescription behavior as well as how it finances political campaigns. The
health-care industry is dependent on the regulation and legislation that might
favor its interests in the long term.
This explains most of the findings concerning the results of patent application in
Brazilian territory. It is and, has always been, evident that the healthcare industry is not
worried about social welfare or public agenda (or has even bothered to find solutions
for Brazilian health problems), for its main target has been to centralize the market
and raise its profits, as proven economically by Boldrin and Levine (2008; 2013).
However, the patent legal system, currently inefficient, as proven by the
consistency of data related to neglected diseases in comparison with non-neglected
maladies, is not promoting its most relevant goal, that is, the fostering of scientific
development as a means of enhancing social welfare. Scientific development,
in this context, is being jeopardized insofar as, according to Boldrin and Levine
(2008, p. 234), research findings are either suppressed or concealed to protect the
pharmaceutical industries’ profits.
In this context, if market interests repress scientific development, it is easily
deducible what is happening to social welfare, the other relevant variable in this
equation. Social welfare must be defined as the capacity to improve the population’s
quality of life regarding basic health needs, among others, as an essential indicator
of human development. The health-care industry, in fact, neglects not only the
development but also the production of products for neglected diseases (CHIRAC;
TORRRELE, 2006, p. 1560-1561). Thus, the data concerning the total number of
patent applications for neglected diseases can lead to the inference that the patent
legal system fails to promote social welfare in the case of neglected diseases, most
of them endemic infirmities throughout Brazilian territory.
Moreover, taking into account that the legal institute of a patent can be conceived
as an instrument of economic policy (BESSEN; MEURER, 2008, p. 216-218), results
tend to be even more substantial than initially predicted, for the failure of the patent
policy is critically expressed by the low numbers of patent applications concerning
a major problem in Brazilian territory. Malaria, dengue fever, and leishmaniasis are
endemic diseases in Brazil. This fact alone should be sufficient to make them a
priority for public policy goals, aiming for the efficient eradication of these maladies.
The patent legal system does not function efficiently, as data reveal, not even as
an economic policy whose main goal is to attract more patent applications related
to the prevention, diagnosis, and treatment for neglected diseases. As a matter of
fact, it is rather irrelevant if the patent has been granted or refused in this case,
yet it matters if the problem of neglected diseases is drawing attention either of
the private market or of governmental organs. In this specific case, it is deducible
that the level of the patent application for neglected diseases is sufficiently low
to demonstrate the lack of both private and public interest. The absence of private
investment can also be confirmed by the study of Pedrique et al. (2013, p. 371-379).
Lastly, the number of application entries is a valid and reliable measure, for it
serves to detect the malfunctioning of the patent legal system as far as its morality
of aspiration is concerned. The disparity between the number of applications related
to neglected and non-neglected diseases reinforces the inefficiency of the patent
legal system, considering the necessary intertwining between scientific development
and social welfare as a founding value of the intellectual property rights system.
Chirac and Torreele’s (2006, p. 1560-1561) study concerning the absence of the
development and the production of new chemical entities targeting neglected
diseases corroborates the aforementioned inference for they concluded that, from
1975 to 2004, only 1% of the total amount of new chemical entities launched in the
pharmaceutical market was dedicated to the improvement of neglected diseases.
Worldwide, there has been a total lack of interest in the development and production
of drugs or health products, in general, for neglected diseases.
First, and foremost, the INPI data, from 1996 to 2016, evidence that in Brazilian
territory the problem of neglected diseases remains mostly unsolved, not only in
the realm of R&D, but also, in the field of the health-care business, insofar as the
failure or the success of the patent legal system, as an instrument of public policy,
can be measured by the number of applications received by the Agency, that is, the
INPI. In this case study, the number of applications leads to the inference previously
elucidated, that is, the patent legal system is failing in accomplishing its aspiration
of social welfare intertwined with scientific development, blatantly disregarding
social welfare for the majority of the Brazilian population affected by different
neglected diseases. Furthermore, if the number of people affected by neglected and
non-neglected diseases is taken into account, these data reinforce the validity of
the hypothesis. They are, in fact, observable implications, which corroborate the fact
that, in Brazil, there are a large number of people affected by malaria and dengue
fever as well as cancer (Table 3). In this case, the gap between scientific development
and social welfare demonstrates the inefficiency of the patent legal system for the
majority of the Brazilian population affected by neglected diseases.
5 Conclusion
This research aimed to verify if the patent legal system is, in fact, accomplishing
its aspirational goal. Utilizing the appropriate methodological tools, it was possible
to reach the inference that the patent legal system, as an instrument of public policy,
is not functioning as an efficient means to this aforementioned aspirational end. As
empirical-qualitative research, it was possible to reach the analytical generalization,
taking into consideration the data collected from the INPI database. The number
of patent applications was taken as a valid and reliable measure, according to the
rules of inference, to deduce if the patent legal system is an efficient means to the
aspirational end, inscribed in the TRIPs Agreement.
It is relevant to bear in mind that the higher numbers of patent applications,
concerning the health products for non-neglected diseases, and, compared to the low
numbers of applications related to neglected diseases, is particularly significant as a
measure to validate the inefficiency of the patent legal system. Brazilian population,
in several regions of its territory, suffers from diverse endemic and neglected
diseases. However, the Brazilian patent legal system is not responding efficiently
enough to improve the social welfare of the majority of Brazilian citizens. The data
collected from the Brazilian Agency reveal that the Brazilian patent legal system
reproduces the current global situation as far as it is related in the international
literature on this matter.
6 References
ALMAC DIAGNOSTICS LIMITED. Karen Keating; Laura Hill; Steve Deharo; Eamonn
O’Brien; Tim Davison; Paul Harkin; Richard Kennedy; Jude O’Donnell. Molecular
diagnostic test for lung cancer. C12Q 1/68 (2006.01). GB no. GB2014052728. Sep.
09th, 2014; Mar. 12th, 2015. Available at: https://patents.justia.com/patent/10214777.
Accessed on: Apr. 29th, 2017.
BANKOWSKI, Zenon. Living lawfully: love in law and law in love. Dordrecht: Kluwer
Academic Publishers, 2001.
BELLEFLAMME, Paul. How efficient is the patent system? A general appraisal and
an application to the pharmaceutical sector. In: GOSSERIES, Axel; MARCIANO, Alain;
STROWEL, Alain (eds.). Intellectual Property and Theory of Justice. London: Palgrave
Macmillan, 2008, chapter 10, p. 210-229, 2008.
BESSEN, James; MEURER, Michael J. Patent failure: how judges, bureaucrats, and
lawyers put innovators at risk. Princeton: Princeton University Press, p. 331, 2008.
BOLDRIN, Michele; LEVINE, David K. The case against patents. Journal of Economic
Perspectives, 2013, v. 27, n. 1, p. 3-22. Available at: DOI: 10.1257/jep.27.1.3.
Accessed on: Apr. 30th, 2017.
COOPER, Geoffrey M. The Development, and Causes of Cancer. The Cell: A Molecular
Approach. Sunderland (MA): Sinauer Associates, issue 2, 2000. Available at: https://
www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK9963/. Accessed on: May 15th, 2017.
DIETSCH, Peter. Patents on Drugs – the wrong prescription? In: GOSSERIES, Axel;
MARCIANO, Alain; STROWEL, Alain (eds.). Intellectual Property and Theory of Justice.
London: Palgrave Macmillan, 2008, chapter 11, p. 230-245.
EPSTEIN, Lee; KING, Gary. Rules of inference. The University Of Chicago Law Review.
Chicago: Chicago Unbound, v. 69, n. 1, p. 1-133, winter. 2002. Available at: http://
gking.harvard.edu/files/rules.pdf. Accessed on: Mar. 6th, 2017.
FERES, Marcos Vinício Chein. Law as Integrity and Law as Identity: Legal Reasoning,
State Intervention, and Public Policies. German Law Journal, v. 14, p. 1147-1162, 2013.
FERES, Marco Vinício Chein. Law as identity: the case of drugs for neglected diseases.
US-China Law Review, v. 9, p. 377-391, 2012.
KING, Charles H.; BERTINO, Anne-Marie. Asymmetries of Poverty: Why Global Burden
of Disease Valuations Underestimate the Burden of Neglected Tropical Diseases.
PLoS Neglected Tropical Diseases, 2008, p. 1-10, v. 2, n. 3. DOI: 10.1371/journal.
pntd.0000209. Accessed on: May 15th, 2017.
O’CONNOR, Clare M.; ADAMS, Jill U. Unit 5: How Do Cells Know When to Divide?
Essentials of Cell Biology. Cambridge, Massachusetts: NPG Education, 2010.
Available at: https://www.nature.com/scitable/ebooks/essentials-of-cell-
biology-14749010/122997842. Accessed on: May 15th, 2017.
PEDRIQUE, Belen et al. The drug and vaccine landscape for neglected diseases
(2000-2011): a systematic assessment. The Lancet Global Health, v. 1, issue 6,
p. 371-379, Dec. 2013. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/s2214-109x(13)70078-0.
Available at: http://www.thelancet.com/journals/langlo/article/PIIS2214-
109X(13)70078-0/abstract. Accessed on: Apr. 27th, 2016.
RIDLEY, David B.; GRABOWSKI, Henry G.; MOE, Jeffrey, L. Developing Drugs for
Developing Countries. Health Affairs, v. 25, 2006, n. 2, p. 313-324. DOI: 10.1377/
hlthaff.25.2.313. Accessed on: Apr. 30th, 2017.
SOUZA, Washington Peluso Albino de. Primeiras linhas de direito econômico. Issue
4. São Paulo: LTr, 1999.
VAZ, Isabel. Direito Econômico das Propriedades. Rio de Janeiro. Forense, 1992.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Number of people (all ages) living with
HIV (2016). Available at: http://apps.who.int/gho/data/?theme=main&vid=22100.
Accessed on: Mar. 20th, 2016.
1 Introducción
En este último sentido, el estudio de Lucio Pegoraro (2015, p. 13), titulado Giustizia
costituzionale comparata: dai modelli ai sistemi, recupera la idea generalizada sobre los
modelos clásicos de Justicia Constitucional y al respecto señala que, si bien se han
convertido en paradigmas para muchos Estados en el siglo 20, en la actualidad esta
concepción es más “un mito que no resiste a un análisis corrosivo de la observación
empírica”. Justifica tal crítica en la extraordinaria variedad de ordenamientos jurídicos,
causa de la emancipación en términos doctrinales de los modelos clásicos y, de esa
manera, de la reconstrucción de una nueva tipología de Justicia Constitucional, más
acorde con lo que ocurre en la práctica en las diversas democracias mundiales.
En otro estudio, denominado “Para acabar con los ‘modelos’ de jurisdicción
constitucional. Un ensayo de crítica”, Guillaume Tusseau (2014, p. 21), profundizando
en este debate, trae la idea de una modelística desarrollada por una doctrina sobre
la circulación/recepción de los modelos clásicos de Justicia Constitucional por
los países. Concluye también que, desde un punto de vista científico, el análisis
comparativo del derecho positivo de diferentes Estados pone seriamente en
duda aquella visión paradigmática de los modelos clásicos, por la evidencia de su
inadecuación para describir la experiencia de jurisdicción constitucional.
La alusión a tales obras, que dígase, está en línea con otros estudios, tiene el
propósito de insertar este artículo dentro de la llamada “doctrina sobre los modelos
de Justicia Constitucional”. Por lo que ofrece, ésta nos permite aquí enfatizar la
necesidad de repensar las bases epistemológicas del proceso constitucional a
partir de la organización, estructura y funcionalidad de la Justicia Constitucional,
eso con el apoyo indispensable, y cada vez mayor, del derecho comparado; a
propósito, aún incipiente en Brasil, pero “necesario a toda ciencia y a toda cultura
jurídica” (DAVID; JAUFFRET-SPINOSI, 2010, p. 2).
competencia y los bienes a proteger, los medios de acceso, la definición del parámetro
y del objeto de control, las tipologías decisorias, el valor vinculante de las decisiones
constitucionales) que dimensionan la variación orgánico-institucional de la Justicia
Constitucional en el mundo no dejan duda de que un constitucionalismo de formas
tanto más adversas cuanto más alternativas viables a la realidad de cada ordenamiento
jurídico condiciona la efectiva concretización de las Constituciones.
La investigación bajo ese enfoque permite proyectar la tesis de que los sistemas
de Justicia Constitucional no son submodelos de los modelos clásicos, sino antes
soluciones que, aunque a veces de inspiraciones que remiten a esos últimos, nos
ofrecen modelos autónomos y de gran originalidad.
Parece una afirmación evidente, dados los supuestos ya conocidos, pero no es
de deducción inmediata y serena cuando se piensa en los caminos (método) de
su justificación. El objetivo aquí es justamente explicitarlos y, para ello, hay que
recuperar el método comparado en el punto en que es aplicado en la reformulación
del modo como se reconoce la Justicia Constitucional entre los países.
La referencia a submodelos se conecta al modo como es clasificada la Justicia
Constitucional según el parámetro del modelo dicotómico, o sea, según los criterios
contrapuestos abstraídos de los modelos clásicos. Su transformación en modelos
es el efecto metodológico que aquí se estudia en el que los singulares sistemas de
Justicia Constitucional se emancipan indistintamente de los modelos clásicos para
ser reconocidos como auténticos modelos complejos, al modo de un fuerte fenómeno
de mestizaje y de ampliación del entendimiento de la experiencia jurisdiccional
constitucional más allá de la visión estricta de la técnica del control de constitucionalidad.
En estos términos, la discusión que ahora planteamos, sin evidentemente
agotar todas sus implicaciones, retoma, de inicio, las razones del debilitamiento del
modelismo dicotómico cuando se trata de la comparación de la Justicia Constitucional,
y, finalmente, esa condición es confirmada en el contexto latinoamericano. Extremos
de un estudio que tiene aún en su desarrollo su punto alto, por el mensaje que
se propone a partir de él, o sea, el enaltecimiento del derecho comparado, por su
método y paradigmas aquí brevemente estudiados, y sus fructíferos resultados para
la transposición de los submodelos a los modelos concretos de Justicia Constitucional.
2 Paradigmas dicotómicos
Los modelos clásicos, aunque sean ingenierías constitucionales destinadas al
mismo fin (tutela jurisdiccional de los textos fundamentales para hacer realidad
el proyecto social, los valores y los principios por ellos enunciados), se distinguen
esencialmente por formas antagónicas, bien señaladas por Piero Calamandrei (1968,
p. 350) como “binomios contrapuestos”. La distinción más importante, a la que nos
acostumbramos, está en el modo de practicar la técnica comúnmente asociada
a la génesis de la garantía de la supremacía de la Constitución – el control de
constitucionalidad. O toma la forma concentrada en un Tribunal ad hoc fuera de la
jurisdicción ordinaria (dualismo), o toma la forma difusa desde los jueces ordinarios
hasta las Cortes de Casación (monista). Bajo esa antinomia (difuso-concentrado),
las experiencias de la posguerra son descritas por “sistemas de características
contrapuestas” (NAVAS, 2011, p. 29), formando modelos de yuxtaposición.
Es, sin duda, un modo de explicitar la difusión de la Justicia Constitucional,
pero transmite la idea de imitaciones aculturales por formas prestadas en perjuicio
de la realidad de cada ordenamiento jurídico. Es en ese sentido que se alude a
una lectura por submodelos o prototipos, constituidos, en mayor o menor medida,
por la suma o repetición de elementos esenciales de los modelos clásicos. Fue,
así, centrada excesivamente en un criterio único de diferenciación (en el control
de constitucionalidad) que la visión dicotómica de organización de la Justicia
Constitucional prevaleció durante gran parte del siglo pasado.
Confirman esta perspectiva algunos vetustos criterios de clasificación, como
señala Fernández Segado (2004, p. 131), refiriéndose, por ejemplo, a Antonio
Baldessarre, con su división entre giurisdizione dei diritti fondamentali y giustizia
politica, a Alessandro Pizzorusso, con la contraposición entre los sistemas concretos y
los sistemas abstractos, a Rubio Llorente, con la separación entre el modelo centrado
en la ley y el modelo centrado en la defensa de derechos, y a Ferreres-Comella, con
los modelos centralizados y los modelos descentralizados. En común, todos adoptan
criterios binominales inspirados en los modelos clásicos a partir del control de
constitucionalidad. Estos criterios, con mayor o menor detalle, son ampliamente
utilizados en Brasil, como bien se puede observar en las ponderaciones de Paulo
Bonavides (2003, p. 77-101): “Control difuso y control concentrado, juez ordinario
y tribunal constitucional, sistema concreto y control abstracto, Marshall y Kelsen,
he aquí los polos de jurisdicción constitucional contemporánea, en que el modelo
concentrado se propaga más que el difuso, o en que ambos, combinados, tienden a
prevalecer bajo de forma mixta, aquella adoptada en nuestro país”.
No hay nada malo en reconocer en los modelos clásicos la fuente histórica de
los sistemas de protección de la supremacía constitucional. De hecho, no sin razón,
del método comparativo, se tiene el craso error de intentar explicar lo que ocurre en
cada país por la fisiología de las matrices clásicas.
Por lo tanto, el problema de superar la concepción formal por el enfoque
sustancial de identificación de los sistemas de Justicia Constitucional es que no se
puede ignorar, para la comprensión de ese movimiento, el modo en que el derecho
comparado influyó, por su método propio, en esa relectura. Este ofrece pautas
explicativas con “mayor alcance analítico” (SEGADO, 2004, p. 134), emancipadas de
las clásicas lecciones norteamericana y europea, más alineadas con una suerte de
realidad de amplia heterogeneidad de soluciones para organización, procedimientos
y funciones de la Justicia Constitucional.
concretos orientados por un movimiento aún más amplio y antiguo que las llamadas
“constituciones transformadoras” (BERCOVICI, 2013, p. 285-305).
En este contexto de disciplina jurídica dada la aproximación de ordenamientos
a la preservación de su originalidad y autenticidad, ha cobrado relevancia en la
aplicación del estudio comparado sobre los principales temas constitucionales,
entre ellos, sin duda, la Justicia Constitucional. Si el interés inicial, sobre todo entre
los estudios europeos, se centró en conocer su interpretación y las estructuras
organizacionales, hoy, principalmente en América Latina, esta confrontación (micro-)
comparativa adquirió, a su vez, una nueva dimensión alzada por Eduardo Ferrer
Mac-Gregor (2006, p. 173-198) al derecho procesal constitucional. Aquí, el método
comparado es realizado para ayudar a la epistemología de esta nueva rama del
Derecho que se ha dedicado al estudio sistemático de las garantías instrumentales
de la jurisdicción y magistratura constitucional, y ha adquirido, a pasos agigantados,
bases para su autonomía científica.
Se sabe que aún la ciencia de la comparación enfrenta una serie de problemas
de orden funcional, sustancial y metodológico para su emancipación como disciplina
(VERGOTTINI, 2004, p. 2). No obstante, los avances teóricos ya permiten distinguir las
comparaciones de los estudios del Derecho extranjero, lo que no siempre se muestra
debidamente esclarecido. Muchos estudios que pasan por análisis comparativos, en
realidad, proponen la compilación de datos de institutos u ordenamientos jurídicos
de diferentes países. Como bien dice Vergottini (2004, p. 26), “el estudio separado de
varios ordenamientos extranjeros puede llevar a un simple análisis descriptivo de
institutos ‘país por país’, no a una comparación”.
El derecho comparado promueve más que el conocimiento paralelo e
incomunicable del Derecho público o privado de un estado extranjero. Pretende
lograr finalidades más sofisticadas y útiles al comparar ordenamientos e institutos,
por una metodología definida, que, si es bien aplicada, atiende intereses como
un lenguaje jurídico internacional común. El derecho comparado desarrolla una
interpretación valorativa entre el derecho nacional en general del investigador y
el derecho extranjero, por “operación intelectual de contraste entre ordenamientos,
institutos y normativas de diferentes ordenamientos que, si es llevado a cabo de
manera sistemática y según los cánones del método jurídico, asume las características
de disciplina científica” (VERGOTTINI, 2004, p. 2).
En estos términos, de estudios analíticos con el propósito de operaciones
de contrastes para un modo sistematizado de explicación de las convergencias y
2004, p. 3). Sin duda, es intuitivo pensar que sería sólo viable la comparación de
institutos y ordenamientos jurídicos dotados de formas y prácticas políticas más
homogéneas; sin embargo, hoy no hay razones científicas para tal limitación. Es
posible analizar el Derecho en sus diferentes intensidades y extensiones a un modo
de macrocomparación o microcomparación. Aquella que pone en confrontación
la globalidad de los órdenes jurídicos, con el fin de retirar elementos comunes y
de distinción, para crear clasificaciones y desarrollar modelos. Ya esta compara
institutos concretos y los evalúa esencialmente en función de su papel en cada
sistema jurídico en el que operan (PEGORARO; RINELLA, 2005, p. 69).
En estos términos, al considerar la comparación jurídica de los sistemas de Justicia
Constitucional, es inmediato indicar la mayor tendencia a la microcomparación,
por traducir un interés específico y concreto instituido. No significa, sin embargo,
divorciar el objeto de la comparación de su inserción global. Por lo contrario,
existe el entroncamiento de ejes más amplios, en que la Justicia Constitucional es
considerada en su estructura y funcionalidad, y anota, como no podría dejar de ser,
la coyuntura constitucional del país analizado.
Hoy ya se sabe que la comparación, para que sea posible, no presupone una
estandarización (homogeneidad) de formas jurídicas sobre determinado instituto u
ordenamiento; la comparación y antes la identificación de la Justicia Constitucional
entre los países se debe menos, aunque es indispensable, a una equivalencia de
formas jurídicas, y más, como bien advierte Vergottini, a la existencia de elementos
identificadores comunes de los institutos a comparar. Tenemos, para ese propósito
comparativo, el esfuerzo de conjugación de la “identidad de los intereses presentes
en los distintos ordenamientos y en la fijación de las modalidades (diversamente
estructuradas, denominadas y reguladas) encaminada a satisfacerlos” (VERGOTTINI,
2004, p. 36). Es una afirmación que hace de la comparación una operación no
sólo de contrastes formales entre derecho nacional y extranjero, sino también de
contrastes funcionales y sustanciales.
Esto es lo que hace que la comparación se distancie de una mera compilación
de normas para establecer equivalencias y diferencias de formas jurídicas, aunque,
como se ha dicho, sea un paso inevitable. Como también con ella no se ambiciona
el más osado estándar homólogo de organización de la Justicia Constitucional. Lo
que está en juego son soluciones jurídicas sustancialmente homogéneas para el
interés jurídico común de evaluar y cotejar el modo como funciona el Estado y se
organiza la protección jurídica de la Constitución. Podemos decir que el método
de los condicionantes culturales y políticos del país. Se escucha, con certeza, una
libertad de los criterios comúnmente empleados para clasificarla (como en función
del órgano, del momento de la interposición, de los autorizados a la activación; en
razón del tipo de fiscalización etc.).
Lo que se pretende afirmar con esas colocaciones es que, sobre una base
metodológica bien definida del derecho comparado, se tiene la certeza de un
conjunto plural de variables que permiten un mayor alcance analítico, de tal modo
que pueden ofrecer pautas explicativas de los heterogéneos sistemas de Justicia
Constitucional que la realidad impone (SEGADO, 2004, p. 131).
los estudios comparativos regionalizados, como los más remotos de James Grant
(1947, p. 121-130) y los más recientes de André Ramos Tavares (2014, p. 245-262),
sólo para citar propuestas de estudios más generalizadoras que intentan criterios
múltiples para la comparación. Es lo que proponen también, en un elevado nivel de
generalización y aproximación entre las estructuras y funcionalidad de la Justicia
Constitucional latinoamericana, algunos de los estudios de Hector Fix-Zamudio.
A propósito, esa perspectiva investigativa también instigó a Peter Häberle (2009,
p. 206) “a desarrollar la idea […] de un ‘derecho constitucional común americano’
- analógicamente a la categoría de un ‘derecho constitucional común europeo’, dada
la particularidad de la vida constitucional de Brasil, aliada a los trazos de similitudes
con otros países latinoamericanos”. Como se observa, no faltan también estudios
comparativos de categorías específicas, dedicados al análisis de los elementos
jurisdiccionales constitucionales entre los diversos ordenamientos. Es el caso, por
ejemplo, de estudios de Humberto Nogueira Alcalá, sobre las sentencias de los
Tribunales Constitucionales y sus efectos en América del Sur (2003, p. 113-158) y
Eduardo Ferrer Mac-Gregor, sobre el amparo iberoamericano (2006, p. 173-198).
2 Bajo la influencia de obras clásicas, como La democracia en América de Alexis Tocqueville, y El Federalista
de Alexander Hamilton, James Madson y John Jay, ha importado la doctrina de judicial review, de forma
puntual, plasmada con matices propios en el control difuso de constitucionalidad adoptado en México en
1847, en Argentina en 1872 y en Brasil en 1889.
3 La primera en aproximarse más a ese modelo fue la Corte de Constitucionalidad introducida por la
Constitución de 1965 de Guatemala. Hecho curioso es que, aún en siglo 19, Venezuela ya había creado
una acción popular de inconstitucionalidad, con carácter erga omnes, primero en la Constitución de 1858 y
luego en la de 1863, que ya adelantó rasgos de lo que sería el control concentrado.
a juzgar y declarar nulas, si es el caso, las leyes del Parlamento de las Provincias
(TAVARES, 2014, p. 245-262).
De hecho, es preciso definitivamente reconocer que no es tradición
latinoamericana, al menos en lo que concierne al modo de organizar la justicia
constitucional, comportarse como mera receptora pasiva de institutos importados
de Europa o de América del Norte. Es evidente en esa región que no se puede ignorar
en el ámbito de esta investigación que muchas de las alegadas importaciones son,
en verdad, “completas reelaboraciones locales” (HESPANHA, 2012, p. 7), a veces
apartadas de forma completa de los modelos históricos paradigmáticos, como han
revelado investigaciones de derecho comparado producidas, hasta con cierta ironía,
por ejemplo, por europeos, como Fernández Segado (2009) y Lucio Pegoraro (2015).
Originalidad que ha acreditado a la América Latina como “auténtico laboratorio
constitucional” (SEGADO, 2004, p. 115), dada a fórmulas condicionadas a las culturas
locales, empezando por la osadía de compatibilizar elementos de los modelos
tradicionales europeo y americano de justicia constitucional.
De ahí decir, con Francisco Segado (2007, p. 119-190), que son características
entre los países de esa región normas nada homogéneas que hacen modelos de los
más diversos, como: (a) sistema de Tribunal Constitucional: al modo de la Constitución
peruana de 1993 de Tribunal Constitucional extra Poder Judicial, que ejercita la
jurisdicción constitucional concentrada y difusa5; (b) sistema de órgano judicial
especializado: en la función jurisdiccional constitucional, pero inserto en el Poder
Judicial (Salas Constitucionales). Ese formato proviene de una “solución política
transaccional” entre el grupo de aspiración máxima de un Tribunal Constitucional
extra Poder Judicial y el grupo de visión conservadora de no desvinculación
institucional del Judicial (SAGÜÉS, 2004, p. 1-13)6 ; (c) sistema de órgano judicial no
especializado: o sea, Poder Judicial en el desempeño de la justicia constitucional,
organizado de forma jerárquica, con un órgano máximo dotado de atribuciones de
6 En ese formato, está la prestigiosa Sala Constitucional de Costa Rica, creada con la reforma constitucional
de 1989 (sala cuarta) en el ámbito de su Corte Suprema. Otros países que siguen ese formato: Paraguay,
El Salvador, Venezuela, Nicaragua.
8 Conclusión
El estudio aquí realizado llegó, de forma bien sintética, al resultado de que la
profusión de la jurisdicción constitucional ha acarreado el sediento interés académico
por el modo como se desarrolla en diferentes contextos culturales. Naturalmente, para
realizar tal intento fue imperioso reunir un adecuado método de trabajo.
Ya es lugar común entre los comparatistas, como se ha demostrado en este
estudio, la exigencia de modelos de referencia que, si bien no deben reducir la
descripción de los modelos a la repetición de la realidad, ya que si así fuera nada
quedaría por ser clasificado, deben, sin embargo, explicar cómo efectivamente tiene
lugar el funcionamiento de la Justicia Constitucional en las modernas democracias,
o sea, de una manera más pragmática y menos ideal.
A medida que la Justicia Constitucional se perfecciona y, cada vez más, se
convierte en función esencial del Estado Constitucional, el derecho comparado gana
importancia por el diálogo que proporciona entre los países.
9 Referencias
ALBUQUERQUE, Xavier de. O STF e o controle da constitucionalidade. Folha de S.
Paulo. São Paulo, 1987, 23 maio 1987. Opinião, caderno 1, p. A3.
HÄBERLE, Peter. Conversas acadêmicas com Peter Häberle. São Paulo: Saraiva, 2009.
MERRYMAN, John Henry. Fines, objeto y método del derecho comparado. Boletín
Mexicano de Derecho Comparado. México, n. 25-26, p. 65-92, 1976.
PASTOR, Roberto Viciano; DALMAU, Rubén Martínez. Aspectos generales del nuevo
constitucionalismo latinoamericano. Política, justicia y Constitución. Ecuador, n. 2, p.
9-44, 2012.
The role of the Private Insurance National System in the economic order.
CONTENTS: 1 Introduction 2 Why do we need to regulate the Private Insurance Market in Brazil?
3 The structure of the Private Insurance National System and its role 4 The Private Insurance National
System and the economic order 5 Conclusion 6 References.
ABSTRACT: This paper analyzes the role of the Private Insurance National System
(SNSP) in the economic order from a regulatory perspective, questioning why it is
necessary to regulate the Brazilian insurance market. Thereafter, the assumptions of
the need for adjustments were identified, to ensure: i) the economic and financial
health of insurance companies; ii) the consumer protection; iii) the free competition;
and iv) cooperation acts with insurers. This work, based on the deductive method,
analyzes, as well, the composition of the SNSP, and the role of Administration
entities whose duty is setting the guidelines and implementing them, in order to
regulate and supervise the insurance activity in Brazil. Finally, we analyzed some
of the effects of regulation on economic were analyzed, observing their operating
principles and the principles and practices in Brazilian Federal Constitution.
RESUMEN: En este trabajo se analiza el papel del Sistema Nacional del Seguro
Privado en el orden económico desde el punto de vista de la regulación y por qué él
es necesario para regular el mercado de seguros del país. Fueron identificados desde
ahí los locales en los que es necesaria una regulación, a saber, garantizar: i) la salud
económica y financiera de la institución de seguros; ii) la protección del consumidor;
iii) la libre competencia; y iv) la cooperación de las aseguradoras. El estudio, basado
en el método deductivo, también analiza la composición del Sistema Nacional de
Seguros Privados y el papel de las entidades de la Administración que tienen la
función de establecer las directrices y ponerlas en práctica con el fin de regular y
supervisar la actividad de seguros en Brasil. Por último, se analizaron algunos de los
efectos de la regulación sobre los derechos económicos y se observaron sus principios
de funcionamiento y los principios propósitos de la Constitución Federal brasileña.
1 Introdução
E ste artigo tem por objetivo estudar a regulação estatal na atividade privada
de seguros que, por meio do Sistema Nacional de Seguros Privados (SNSP),
interfere na ordem econômica, neste ponto, tomada como “esfera dos acontecimentos
reais” (WEBER, 1969, p. 251).
Os seguros sociais disciplinados por normas de direito público e administrados
pelo Instituto Nacional do Seguro Social não serão abordados, uma vez que não
integram as operações de seguros privados, conforme o Decreto-lei no 73/1966, mais
especificamente o parágrafo único do seu artigo 3o.
A análise parte do questionamento acerca da necessidade ou não de regular a
atividade de seguros privados no Brasil. Feito isso, verificar-se-á como o SNSP está
posto, abordando-se a sua composição, suas características e suas finalidades.
Em seguida, o Sistema será abordado na perspectiva de execução, regulação
e fiscalização da atividade de seguros privados, confrontando-o com a ordem
econômica disposta constitucionalmente, de modo a harmonizar os institutos e
extrair os seus efeitos.
A resposta para a questão acerca do papel do SNSP na ordem econômica está
na compreensão dos entes que compõem a chamada “Instituição Seguro”. Esta é
estruturada por um conjunto complexo de normas que materializa um produto
denominado de “seguro”, o qual é um propulsor de riquezas que, consequentemente,
possui grande relevância para a economia nacional e, por sua vez, para qualquer
sociedade que busca a promoção do desenvolvimento econômico sustentável.
Portanto, a partir do método dedutivo, estudar-se-á, no presente trabalho,
o papel do SNSP enquanto sistema, entendido como pressupostos de unidade e
ordenação do sistema jurídico na preservação de ordem ou de geração de uma
desordem econômica.
que se trata de risco excluído e não poderia cobri-lo, porque a SUSEP não permitiria
alterar coberturas padronizadas.
Nesse sentido, o princípio da livre concorrência está, de certa forma, afetado,
uma vez que não é interessante investir em determinados produtos, ou mesmo, no
melhoramento de produtos existentes, porque há uma barreira que não incentiva os
players1 do mercado, pois estes exploram uma atividade que possui produtos não
diferenciados, ou seja, exploram uma atividade de seguros padronizados, no qual o
menos eficiente está equiparado ao mais eficiente em termos de produto.
Nesse caso, há, inclusive, a ocorrência de um processo de seleção adversa,
uma vez que a padronização de cláusulas de seguros enseja o mesmo tratamento
para os riscos diferentes, ou seja, a falta de diferenciação qualitativa incentiva a
apresentação e a absorção dos piores riscos em razão de que a contratação do
seguro representaria uma expectativa de vantagem ao segurado. Por outro lado,
não incentiva a absorção dos melhores riscos, pois, na perspectiva do beneficiário,
o produto seria desnecessário em razão de não haver distinção de qualidade
referente ao objeto de cobertura e seus respectivos efeitos, como exemplo, o custo
de transação (MAKAAY; ROSSEAU, p. 136, 2015).
As falhas ou vícios de concepção ou implementação da norma podem gerar,
além de efeitos indesejados, custos que superam os benefícios ao consumidor,
desvio de finalidade e captura por grupos de interesse.
Poder-se-ia atribuir como uma falha ou vício da regulação a determinação da
assunção padronizada de riscos pelo segurador, cuja concepção e implementação
seriam responsáveis por efeitos não desejados, ou seja, a limitação de coberturas
securitárias e, por consequência, custos elevados que poderiam, inclusive, superar os
benefícios aos consumidores. A referida inaptidão da norma caracterizar-se-ia como
uma espécie de desvio de finalidade, uma vez que restringiria a essência do negócio
do segurador que é assumir, administrar e prestar garantia para riscos diversos
provenientes de interesse legítimo e gerar riquezas.
Enquanto uma regulação de qualidade atende a finalidades variadas, visando a
ampliar e reforçar os negócios, a regulação rígida estrutural – exploração do negócio
de seguros pela assunção dos riscos padronizados – torna-se contraproducente, pois
limita o cumprimento do objetivo de essência, ou seja, assegurar mais mediante a
liberdade e eficiência empresarial (SUNDFELD, 2014, p. 117).
1 Expressão referente a “jogadores”, do inglês, usada neste sentido como “agentes” do fenômeno (no caso,
o mercado) – (tradução nossa).
2 Expressão referente a “padrão”, do inglês, utilizada neste sentido como regras uniformes (tradução nossa).
3 Expressão referente a “sob medida”, do inglês, utilizada neste sentido como personalizado (tradução nossa).
porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração
no país, estes denominados de princípios-fins, conforme a Constituição Federal, art.
170, incisos VI a IX.
Nesse contexto, revela-se oportuno destacar o art. 174 da Constituição Federal,
no qual o Estado, na função de agente normativo e regulador da atividade econômica,
deve incentivar o planejamento de modo a ser determinante para o setor público
e indicativo para o setor privado. Destaca-se, na redação deste artigo, a função
do Estado de incentivar a atuação da iniciativa privada na exploração econômica,
já que “o Estado não pode impor aos particulares nem mesmo o atendimento de
diretrizes ou intenções pretendidas, mas apenas incentivar, atrair os particulares,
mediante planejamento indicativo que se apresente como sedutor para condicionar
a atuação da iniciativa privada” (MELLO, 2015, p. 820). Como tal, o SNSP deve estar
em consonância e conferir o adequado cumprimento da referida prerrogativa.
Nesse ponto, volta-se ao papel de regular da SUSEP, principalmente quando no
exercício de sua função estabelecida pelo art. 36, letra “c”, do Decreto-lei no 73/1966,
de adotar o sistema de padronização de coberturas. Os riscos não padronizados
devem ser aprovados pela Superintendência, cujo o efeito é o mesmo, ou seja,
tornar-se-ão padronizados. Afirmou-se que, com esse proceder, a SUSEP ao invés de
incentivar o aperfeiçoamento do mercado e da concorrência, age na contramão, pois
não impulsiona o desenvolvimento da atividade e, consequentemente, em análise
extensiva, não observa o princípio da proteção ao consumidor.
Não se está, contudo, negando eficácia ao sistema padronizado de coberturas,
mas sim ao vício na intervenção do Estado de forma rígida, que, a exemplo da
extinção do seguro singular, não incentiva o desenvolvimento de novas coberturas
mediante busca de eficiência em prol do consumidor, pois todos os seguradores
comercializam produtos iguais, mas são empresas economicamente diferenciadas.
A regulação deve atender às premissas do segmento, ou seja, garantir a higidez
da instituição e proteger o consumidor, mas também incentivar o desenvolvimento
de produtos para a própria satisfação do consumidor.
Para Vital Moreira, regulação é “o estabelecimento e a implementação de regras
para a actividade econômica destinadas a garantir o seu funcionamento equilibrado,
de acordo com determinados objetivos públicos” (MOREIRA, 1997, p. 34).
Portanto, tem-se por regulação um conjunto de normas que estabeleçam
condições de funcionamento da atividade econômica como um sistema de unidade e
de ordenação, conforme conceito de Claus-Wilhelm Canaris (2002), apto a assegurar
5 Conclusão
Analisou-se, neste estudo, a regulação no SNSP, partindo-se da premissa
questionatória do porquê de ser necessário regular a atividade de seguros privados,
para, então, abordar a composição do referido sistema.
Identificaram-se as premissas que impõem a necessidade de regulação do
SNSP, qual seja, para assegurar: i) a higidez econômico-financeira do segurador;
ii) a proteção do consumidor; iii) a livre concorrência; e iv) a cooperação entre os
seguradores no mercado.
Após isso, verificou-se a composição estrutural do SNSP, o qual é composto pelo
Conselho Nacional de Seguros Privados, pela Superintendência de Seguros Privados,
pelos Resseguradores e pelos Corretores de seguros habilitados. Considerando que o
estudo visa responder a questão sobre qual seria o papel do SNSP na ordem econômica,
a reflexão ficou delimitada aos entes públicos, na forma do CNSP e da SUSEP.
Observou-se a função do CNSP e as prerrogativas da SUSEP, as quais detém as
funções executiva, normativa e fiscalizatória, cada qual com suas peculiaridades e
seus efeitos sobre o sistema.
Ainda, analisou-se a regulação e a ordem econômica no SNSP para concluir que seu
papel é assegurar, por meio de um conjunto de normas, o funcionamento ordenado da
atividade econômica de seguros para atingir as prerrogativas estabelecidas na Política
Nacional de Seguros que visam à promoção e expansão do mercado de seguros para
permitir a integração no processo econômico e social do país; evitar a evasão de
divisas; promover o aperfeiçoamento das sociedades seguradoras; e harmonizar a
política de seguros com a política de investimentos do Estado.
Portanto, o papel do SNSP é estabelecer e implementar as regras de
funcionamento do Sistema de forma equilibrada e apta a garantir o cumprimento
dos objetivos da Política Nacional de Seguros.
Por outro lado, concluiu-se que o desequilíbrio regulatório afeta o
desenvolvimento do mercado, pois limita o amplo exercício da atividade de seguros.
A intervenção estatal não deve substituir a empresa especialista na assunção de
risco para determinar, delimitar, restringir ou vedar operações securitárias. Ao
contrário, a regulação deve ser de qualidade para atender às finalidades variadas e
6 Referências
ALVIM, Pedro. Política Nacional de Seguros. São Paulo: Editora Manual Técnicos de
Seguros Ltda., 1980.
FRANCO, Vera Helena de Mello. Contratos de direito civil e empresarial. 3. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.
HEIMER, Carol A. Insurance More, Ensuring Less: The Costs and Benefits of Private
Regulation Through Insurance. In: BAKER, Tom; SIMON, Jonathan. Embracing Risk the
Changing Culture of Insurance and Responsibility. Chicago: University of Chicago
Press, 2002. cap. 6. p. 116-145.
MACKAAY, Ejan; ROSSEAU, Stéphane. Análise Econômica do Direito. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 2015.
MELLO, Celso Antônio Bandeira De. Curso de Direito Administrativo. 32. ed. São
Paulo: Malheiros, 2015.
MIRAGEM, Bruno; CARLINI, Angélica. Direito dos Seguros. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2014.
SUNDFELD, Carlos Ari. Direito Público e Regulação. In: GERRA, Sérgio (org.). Regulação
no Brasil: uma visão multidisciplinar. Rio de Janeiro: FGV, 2014.
TELLES JUNIOR, Godofredo da Silva. O Direito quântico. 5. ed. São Paulo: Max
Limonad, 1980.
WEBER, Max. Economia y Sociedad. Trad. José Medina Echeverria e outros. México:
Fondo de Cultura Económica, 1969.
RESUMO: A tradição da civil law é caracterizada não apenas por um aspecto, mas por
vários fatores observados ao longo de sua formação. O presente trabalho tem por
objetivo demonstrar que esses fatores repercutem na maneira como os juristas são
educados e como os tribunais resolvem os procedimentos executivos. Conclui-se que a
tradição da civil law é parcialmente responsável por uma educação jurídica incompleta
e por decisões pelos tribunais sem a devida fundamentação. Como metodologia de
estudo, foram utilizadas pesquisas bibliográficas e análises de decisões.
RÉSUMÉ : La tradition civil law se caractérise non seulement par un aspect, mais par
plusieurs facteurs observés tout au long de sa formation. Ce travail vise à démontrer
que ces facteurs affectent dans la formation des juristes et à la manière dont les
tribunaux juge la procédure d’exécution. Il y a deux conclusions principales. La
tradition du civil law est en partie responsable d’une éducation juridique incomplète
et pour l’existence de décisions sans motivation adéquate. Comment méthodologie
de étude ce travail a utilisé recherches bibliographiques et l’analyse des décisions.
CONTENTS: 1 Introduction 2 The civil law tradition 3 Repercussions of the civil law tradition
in enforcement procedure 4 Conclusion 5 References.
ABSTRACT: The civil law tradition is characterized not only by one aspect but for
several factors observed throughout its formation. This paper aims to demonstrate
that these factors have repercussions on how jurists are educated and how the courts
decide enforcement procedures. It concludes that the civil law tradition is partly
responsible for an incomplete legal education and courts decisions without proper
reasoning. As a methodological approach, it was used bibliographical researches
and analysis of decisions.
1 Introdução
Em 25 de agosto de 2016, em processo de execução, a seguinte decisão foi proferida:
Contra a decisão acima, a seguinte decisão liminar em habeas corpus foi proferida,
em 9 de setembro de 2016:
[...] Em que pese a nova sistemática trazida pelo art. 139, IV, do CPC/2015,
deve-se considerar que a base estrutural do ordenamento jurídico é a
Constituição Federal, que em seu art. 5º, XV, consagra o direito de ir e vir.
1 Como bem lembra J.M. Kelly (2010, p. 233). A referência à Europa continental é uma simplificação
didática. Alguns países escandinavos, a Rússia e os Balcãs, por exemplo, possuem peculiaridades próprias
e ficaram de fora desse processo.
partir do art. 139, IV, do CPC/2015” (MINAMI; NOGUEIRA; MOREIRA, 2018). Sobre se
a utilização desses meios era feita mediante argumentos robustos, concluiu-se:
prestação devida. O Direito alemão, por exemplo, criou um regime misto, condenando
o executado ao pagamento de soma em dinheiro pelo inadimplemento e, para casos
em que isso fosse inviável, a ameaça de prisão. A doutrina francesa desenvolveu as
astreintes (multa pelo descumprimento de ordem). Nos países de tradição common
law, atos de teimosia contra decisões judiciais são tidos como verdadeiros atos
atentatórios à dignidade da justiça (batizados de atos de contempt of court2). O Brasil
acabou assimilando muitas dessas soluções.
A tradição da civil law, herdeira de revoluções responsáveis pela diminuição dos
poderes do juiz, atrasou o desenvolvimento de mecanismos contra os teimosos em
realizar as prestações devidas. A tipicidade dos meios executivos vingou por muito
tempo. Permitir ao juiz determinação de condutas fora dos parâmetros previamente
estabelecidos por lei seria conferir ao Estado poderes perigosos. Por isso, a maioria
das execuções, até hoje, possuem detalhamento procedimental nos códigos,
notadamente em execuções fundadas em título executivo extrajudicial.
Para efetivar suas decisões, aos poucos, o juiz foi recebendo poderes que
permitissem a entrega ao jurisdicionado da tutela específica. Como lembra Talamini
(2001, p. 38), a ausência de previsão expressa de instrumentos processuais para
garantir a entrega da tutela específica não significava que ela era desconsiderada,
mas a falta desses instrumentos e o apego dos agentes de direito à lei dificultavam
a efetivação da tutela específica. Por isso, foi um processo gradual marcado sempre
por previsões em lei. Podem ser citados como exemplo: a criação do compromisso
irretratável de compra e venda (BRASIL, 1937), obrigando o promitente-vendedor
a transferir a propriedade alienada após o pagamento integral do acordado, sob
pena de adjudicação judicial compulsória; os artigos 84 do Código de Defesa do
Consumidor (BRASIL, 1990) e 461 do CPC de 1973 (BRASIL, 1973), ambos com
parágrafos de redação semelhante, autorizando ao magistrado, para a concessão
da tutela específica ou do resultado prático equivalente, trilhar vários caminhos.
Enquanto isso, a execução fundada em título executivo extrajudicial permanecia
com procedimento totalmente delineado.
O CPC de 2015 inovou no tema quando, em sua parte geral, trouxe o inciso
IV do art. 139: “O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,
incumbindo-lhe: [...] IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas,
mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de
ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária”
(BRASIL, 2015).
O enunciado acima parece conferir amplos poderes ao juiz, independentemente
do tipo de prestação e mesmo para as execuções fundadas em título executivo
extrajudicial. Desde a execução de um cheque até a efetivação de uma complexa
decisão em processo coletivo, parece estar permitido ao juiz amplos poderes para
que sua ordem seja realizada. É uma quebra do paradigma liberal que formou em
parte a tradição da civil law.
Mas se são conferidos poderes ao juiz, é preciso saber em quais hipóteses
isso deve ocorrer e quais seus limites. A lei, que previu tais poderes, não deixou
consignados – pelo menos não ostensivamente – tais limites. A doutrina ainda
está desenvolvendo o tema, como pode ser observado na obra “Da vedação ao non
factibile: uma introdução às medidas executivas atípicas” (MINAMI, 2019). Entretanto,
muitos dos aspectos que formaram a civil law impedem um desenvolvimento mais
rápido nesse tema.
Um fato curioso ocorre. O inciso IV do art. 139 do CPC de 2015 lida com as bases
da tradição da civil law e, ao mesmo tempo em que quebra alguns paradigmas dessa
tradição, encontra nela obstáculos para sua concretização. O juiz recebeu poderes
justamente pelo instrumento tido como aquele que o controlaria: a lei. Mas a ciência
jurídica não sabe, ainda, como lidar com isso. No que se refere à execução, a forma
como a doutrina trabalha na construção das soluções dos problemas parece precisar
de mudanças.
3 Isso não significa ausência de contraditório. Nas tutelas provisórias, o que ocorre é que ele, em regra,
surge em momento posterior. Ademais, a execução das tutelas provisórias ocorre sob o regime de execução
provisória, nos termos do art. 520 e seguintes do CPC de 2015 (BRASIL, 2015), com algumas garantias
para o requerido, como a aplicação do regime de responsabilidade civil objetiva para o requerente desse
tipo de provimento.
4 Conclusão
Há quem afirme que a adoção mais pungente de um sistema de precedentes
teria dado ao nosso ordenamento um cariz de common law. Porém, é preciso analisar
– a partir da compreensão de civil law e common law como tradições, e não como
sistemas jurídicos – o tema com mais cuidado. Embora muito do que se utiliza, no
Brasil, esteja presente na common law, isso não significa a transformação dos pilares
da compreensão do direito pelos juristas brasileiros.
Como exposto, a tradição é um “conjunto de atitudes historicamente
condicionadas e profundamente enraizadas” (MERRYMAN; PÉREZ-PERDOMO, 2009,
p. 21) a respeito não apenas de como o direito é, mas de como ele chegou à sua
configuração atual. O presente pode ser reconfigurado, mas o passado não pode ser
desfeito. O Brasil adotou mais ostensivamente os precedentes e os juízes ganharam
mais voz e vez. É preciso sindicar se os códigos perderam mesmo a importância
de outrora, se as influências dos Direitos Romano, Comercial e Canônico estão
superadas – no que precisa ser superado – e, principalmente, se o direito é ensinado
e transmitido de forma diferente do que se fazia.
Nesse contexto, ao final de sua obra sobre a civil law, Merryman e Pérez Perdomo
(2009, p. 210) concluem que, ao contrário do que se pode pensar, “[...] seria impreciso
pressupor que a tradição da civil law está perdendo sua vitalidade. Ao contrário, ela
pode estar mais viva do que nunca”. Isso porque, para os autores, talvez não se esteja
acompanhando o fim dessa tradição, mas o começo de mais uma de suas etapas de
constante desenvolvimento.
É algo a se pensar.
A execução civil é o ramo do processo mais próximo do jurisdicionado. É
por ela que suas demandas são, no mais das vezes, atendidas. O titular do poder,
normalmente, mal entende o que é uma sentença, não sabe o que é tutela provisória
de urgência antecedente, nem decisão monocrática ou interlocutória. Alvará e
pagamento são palavras mais familiares a ele. A execução é crucial porque realiza a
promessa consignada na decisão.
No Brasil, desenvolveram-se mecanismos sofisticados para decidir. A teoria dos
precedentes nunca foi tão discutida. Nem os chamados negócios jurídicos processuais.
Os regimentos dos tribunais trazem detalhadamente os ritos dos recursos e ações
originárias. Mas é preciso refletir se, ao final, a tutela concedida está efetivamente
chegando ao jurisdicionado, mesmo com preceitos como o inc. IV do art. 139 do CPC
de 2015 (BRASIL, 2015) à disposição do Judiciário.
O caso apresentado no início deste artigo é muito emblemático para ilustrar o
que se expôs aqui. Trata-se de uma execução ajuizada em 2013 e, até o dia 15 de
fevereiro de 2019, em consulta no site do Tribunal de Justiça de São Paulo, ela ainda
não havia se encerrado.
No habeas corpus contra a decisão que abre este escrito, a juíza Andrea Ferraz
Musa, em 16 de setembro de 2016, manifestou-se através do Ofício no 220/16-MOR.
Eis parte dessa manifestação:
executado não tem nenhum dinheiro em suas contas bancárias, não tem
carros em seu nome (além dos carros antigos e com restrição judicial em
razão de outros processos), não indica qualquer patrimônio capaz de quitar
sua dívida. Como é possível que o devedor viva em tão alto padrão, tenha
emprego fixo, tenha empresas, ostente um alto padrão de vida e não tenha
nenhum centavo em suas contas? Por que razão o devedor só teria em
seu nome veículos antigos, que teriam restrição? Será que nenhum veículo
teria sido adquirido após 1996? Ou teriam sido adquiridos no nome de
terceiros, empresas ou pessoas físicas? Por onde o executado movimenta
seu dinheiro? Como paga e mantém seu alto custo de vida? [...] Há uma
evidente incongruência que sugere que o devedor não está insolvente,
mas apenas manobrando seu patrimônio de forma a evitar o pagamento
das dívidas que é responsável. [...] Portanto, o quadro delineado indica
que o executado é devedor contumaz e não quer pagar suas dívidas não
por ausência de possibilidade, já que seu padrão de vida elevado indica
possibilidade. Na verdade, o devedor não quer pagar. Assim, resta evidente
que os bens do devedor foram deliberadamente ocultados para evitar a
execução. Foram esgotadas todas as tentativas de penhora de bens. Foram
realizadas todas as pesquisas, expedidos ofícios, realizada tentativa de
penhora on line. As medidas patrimoniais restaram esgotadas e frustradas
e o devedor sequer faz proposta para pagamento da dívida (BRASIL, 2016b).
5 Referências
ASSIS, Araken de. Processo civil Brasileiro, v. 4 (livro eletrônico): Manual de Execução.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.
BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (Comarca de São Paulo). Execução
de Título Extrajudicial no 4001386-13.2013.8.26.0011. Juíza Andrea Ferraz Musa.
São Paulo, 30 ago. 2016a. Diário de Justiça Eletrônico. Disponível em: https://esaj.
tjsp.jus.br/cpopg/open.do. Acesso em: 15 fev. 2019.
BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (Comarca de São Paulo). Habeas
Corpus no 2183713-85.2016.8.26.0000. Relator Marcos Ramos. São Paulo, 9 set.
DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução civil. 5. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo:
Malheiros Editores, 1997.
KELLY, J. M. Uma breve história da teoria do direito ocidental. Trad. Marylene Pinto
Michael. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010.
LAWSON, F. H. A Common Lawyer Looks at the Civil Law. Ann Arbor: University of
Michigan, 1953.
MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos. 4. ed. rev. e atual.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013.
MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela inibitória: Individual e Coletiva. 5. ed. rev. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012.
TALAMINI, Eduardo. Tutela relativa aos deveres de fazer e de não fazer: CPC, art. 461;
CDC, art. 84. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001.
VIEIRA, Adréia Costa. Civil law e common law: os dois grandes sistemas legais
comparados. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Ed., 2007.
Koselleck’s proposal of history concepts and the reconstruction of the history of law
CONTENTS: 1 The starting point: Koselleck’s historical and its conditions of possibility 2 The
meaning of a history of concepts for legal concepts 3 Conclusion 4 References.
ABSTRACT: This article aims to rebuild the basic assumptions of Koselleck’s theory
of history, firstly, in comparison to other theories of history of positivist matrix,
demonstrate their suitability for a post-linguistic turn paradigm; secondly, to
shows that its theory is a viable alternative to oppose the scientific positivism that
took account of Brazilian history of law. Therefore, it first worked its proposal for
Historical, as a metatheory of history, and then, to deal with the operationalization
of its proposal by way of a history of concepts.
PALABRAS CLAVES: Teorías de la Historia Historia de los Conceptos Historia del Derecho.
Costa (2010, p. 31-32) entende que em Betti (1995, p. 231) parece surgir uma
proposta de solução: a partir do positivismo, a história era reduzida ao primado dos
fatos sociais (como figuras autônomas e fundantes) e o direito era compreendido
como mera forma. Todavia, Costa (2010, p. 32) identifica nisso um problema:
Logo, a história do direito se ocupava do que chamava por “direito” e lhe atribuía
o papel de referente real da própria operação, e, com isso, ela cai em tautologia. Mas,
aos olhos da hermenêutica contemporânea, tudo isso parece ficar sem sentindo.
Sabe-se que o historiador do direito não é capaz de se colocar frente ao direito,
entendendo este como se fosse uma coisa que faz sentido em si, que pode ser
analisada e, em um segundo momento, inserida em um contexto maior. Ao invés
disso, o historiador do direito se depara com textos, do mesmo modo que todo
historiador: “o problema comum, ao historiador do direito como a qualquer outro
historiador, é compreender que coisa diz o texto e como o texto diz aquilo que
diz” (COSTA, 2010, p. 35). Por isso mesmo, a juridicidade não está no texto como se
fosse sua estrutura, mas, antes, ela deve ser percebida pelo historiador, que nesse
momento decide se o texto refere-se à sua esfera de competência ou à esfera de
competência de outro historiador. Por isso,
[o] intérprete atribui um significado ao texto e nos conta o texto, constrói uma
narrativa através do texto e sobre o texto; esta narrativa tem uma coerência
e inteligibilidade na medida em que fala de alguma coisa, na medida em
que tem um tema e coordena os próprios enunciados em torno a ele; se o
tema em questão é definível como jurídico em qualquer significado que esta
expressão possa assumir no nosso hodierno léxico teórico, a narrativa pode
dizer-se uma narrativa histórico-jurídica (COSTA, 2010, p. 35).
O Corpus Juris Civilis pode ser tomado como exemplo de texto jurídico.
Entretanto, não se pode chegar a tal conclusão apenas partindo do texto em si;
ao invés disso, pode-se dizer que é a tradição que irá tornar para o intérprete essa
ideia clara. Mesmo tendo sido escrito há vários séculos – o que deveria representar
um obstáculo para sua compreensão – a tradição o faz próximo e familiar ao
Essa forma de abordagem amplia aquilo que se pode chamar de textos jurídicos
e ela mostra que a história não pode ser concebida como estrutura linear dotada
de ideias eternas; na condição do historiador, deve-se aceitar que a história só faz
sentido se aceitarmos o desafio da alteridade do passado (COSTA, 2010, p. 52-53) e
da sua tensão com o presente.
O ponto de partida da historiografia koselleckiana é pensar sobre o que seja o
tempo histórico. Lembra Pereira (2004, p. 40) que a ciência histórica não apresenta
um objeto próprio e específico de investigação. Antes disso, o que marca a abordagem
é a metodologia empregada pelo pesquisador. Não se trata de realizar um estudo
do tempo-calendário, marcado por cálculo físico-astronômico, mas perceber a sua
dimensão humana, as suas experiências e percepções sobre os homens. De posse
disso, é possível identificar, com Koselleck, a existência de extratos de tempo que se
sobrepõem, acontecendo em simultaneidade, o que denota que tempo histórico não
é percebido de modo singular e individual, mas plural, vinculado a unidades políticas
e sociais da ação humana (PALTI, 2001, p. 13-14; PEREIRA, 2004, p. 40). Isso porque
o historiador tem dois modos de acesso ao conhecimento passado: (a) por meio da
investigação de situações que podem e foram articuladas de maneira linguística,
o que lhe permite análise das fontes históricas; ou (b) por meio da reconstrução
do que não for articulado pela linguagem, mas que, por vestígios históricos, pode
ser levantado e sustentado na forma de hipóteses e métodos (KOSELLECK, 1993, p.
333-334; ARAÚJO PINTO, 2002, p. 142). Para realizar essa última opção, o historiador
deve fazer uso de categorias científicas que sejam capazes de transcender o tempo
histórico (trans-históricas).
Assim, Koselleck identifica em Heidegger (2006) o ponto de partida de uma teoria
sobre o tempo histórico consciente de suas complexidades, isto é, preocupada com
2 Traduzido como “Ser-aí” (tradução nossa), trata-se de termo cunhado na filosofia existencialista de Heidegguer.
3 Na generatividade está contida aquela finitude pertencente aos pressupostos temporais para expelir
sempre novas histórias possíveis. A sucessão inevitável de gerações, em sua determinada sobreposição factual
e temporal, leva sempre a novas exclusões, a determinações diacrônicas do interno e do externo, de antes
ou depois das unidades de experiência específicas de cada geração. Sem estas exclusões nenhuma história
é concebível. As mudanças e choques geracionais são constitutivos por antonomásia do horizonte temporal
finito, por cujo respectivo deslocamento e sobreposição generativa acontecem as histórias. As experiências são
específicas de cada geração e, portanto, não são transmissíveis de imediato (tradução nossa).
Mas, para compreender essas categorias, o autor parte de dois passos: 1) esboçar
a dimensão meta-histórica e demonstrar como a experiência e a expectativa são
condições da história possível; e 2) mostrar historicamente como coordenação entre
experiência e expectativa se move e se modifica no transcurso de história.
Segundo Koselleck (1993, p. 339-340), a experiência que vem do passado não é
mensurável cronologicamente, trazendo em si vários extratos de tempo anteriores
e, por isso, não traz em si ideia de adição de momentos ou de acontecimentos. Já
o horizonte marca a finitude do espaço de experiência, assume como uma linha
detrás da qual o futuro se abre, trazendo consigo novo espaço de experiência que
não pode ser contemplado.
Pode-se dizer que o que se espera do futuro estará limitado pelo que se sabe
do passado. Quem crê que seja possível deduzir sua expectativa totalmente a
partir das suas experiências passadas está equivocado; por outro lado, aquele que
não toma como base de suas expectativas suas próprias experiências também
cai em erro. Uma categoria não pode ser convertida na outra sem que se faça
a presença de um hiato. Isso se explica no fato de que o futuro histórico não
deriva por completo do passado histórico. As experiências são sobrepostas umas
às outras com o transcurso do tempo modificando-as mutuamente. Nesse ponto,
as experiências só podem ser reunidas por meio de uma expectativa retroativa
que as amarra e as organiza. De outro lado, a estrutura temporal da expectativa é
dependente de experiência. Uma expectativa, que a partir de uma experiência se
concretiza, não traz nada de surpresa; mas, quando os acontecimentos não saem
como se esperava, tem-se o surgimento de nova experiência (KOSELLECK, 1993,
p. 341). Em síntese: a tensão que se estabelece entre experiência e expectativa é
o que provoca, de modo cada vez diferente, novas soluções e, com isso, empurra, a
partir de si mesma, o tempo histórico.
Com esse raciocínio, Koselleck (2002, p. 160; 1993, p. 342) atinge o centro de
sua tese: na Modernidade, se assiste a um progressivo aumento da diferença entre
experiência e expectativa, de modo que as expectativas vão se distanciando, cada
vez mais, das experiências. Koselleck (1993, 343-344) parte de um exemplo para
tornar a ideia mais clara: a Europa pré-moderna abrigava mais de 80% da sua
população nos espaços campesinos, nos quais o sucesso ou fracasso econômico
dependia de fatores naturais – o sol, a chuva, o clima etc. As inovações na técnica
eram lentas, de modo que não quebravam a normalidade da vida agrária. Os
conhecimentos aprendidos eram transmitidos de geração a geração. As guerras
apareciam como acontecimentos marcados pelos desígnios divinos. Assim,
as expectativas que se nutriam provinham essencialmente das experiências
dos antepassados. Mas no cenário político, mudanças começaram a acontecer,
revoluções no espaço de uma geração a partir do Renascimento e da Reforma
marcaram um quadro no qual cada vez mais se rompiam os laços que uniam o
espaço de experiências do horizonte de expectativas.
A ideia de progresso veio ocupar o lugar do profectus medieval, controlado pelas
referências bíblicas capazes de gerar horizonte de expectativas transcendental ou
extramundano. Assim, a perfeição que somente poderia ser alcançada no além
passou a servir para melhorar a existência terrena, temporalizando a perfeição e
abrindo-se para a ideia de que a história é processo de aperfeiçoamento contínuo
e crescente, que, mesmo com tropeços, deveria ser planificado e executado pelos
homens. Com isso, o horizonte de expectativa passou a trazer em si um coeficiente
Ambos têm como mérito a promoção de revisão das abordagens do estudo histórico
que caíram no equívoco de projetar expectativas do presente em estudos dos autores
do passado, distorcendo interpretações de pensadores de outrora – Skinner (2000)
denomina de “mitologias da história do pensamento” (BENTIVOGLIO, 2010, p. 116).
Por isso que, para Koselleck (1997, p. 69), os conceitos não podem ser tomados
de modo autônomo, mas ancorados a uma determinada realidade histórico-social.
Assim, para “se apoderarem da realidade, os homens necessitam dos conceitos e,
por meio das experiências vividas e transformações sofridas, empreendem ações
que se projetam no tempo e no espaço determinantes para sua autocompreensão”
(BENTIVOGLIO, 2010, p. 118). Bentivoglio (2010, p. 119) aponta para alguns
pressupostos que comporiam a agenda koselleckiana:
1) Até que ponto é comum o uso do conceito? 2) Seu sentido foi objeto
de disputa? 3) Qual o espectro social de seu uso? 4) Em que contextos
históricos aparece? 5) Com que outros termos aparece relacionado, seja
como complemento ou como oposição? 6) Por quem é utilizado, com que
propósitos e a quem se dirige? 7) Por quanto tempo esteve em uso? 8) Qual
é o valor do conceito na estrutura da linguagem política e social da época?
9) Com que outros termos se sobrepõe? 10) Converge com o tempo com
outros termos? (BENTIVOGLIO, 2010, p. 119).
de fins morais e políticos que parece revelar algo que somente poderia ser esperado
no reino de Deus na Terra. Aqui, o que se tem é um conceito de expectativa pura,
desatrelado de qualquer experiência prévia (KOSELLECK, 1993, p. 353-354).
O autor alemão informa, ainda, que há um indicador de temporalidade contido na
tensão entre experiência e expectativa que irá proporcionar uma norma que abarca
o nascimento da modernidade no conceito de Constituição. Para Koselleck (1993,
p. 354), as extensões temporais da criação linguística do conceito de Constituição
evidenciam uma separação consciente entre espaço de experiência e horizonte de
expectativa, convertendo-se na tarefa da ação política conciliadora dessa diferença.
Para explicar essa ideia, Koselleck (1993) utiliza os três modelos aristotélicos de
governo (monarquia, aristocracia e democracia) que ainda eram suficientes para
aglomerar experiências políticas, mas que, a partir de 1800, são transformados sob o
ponto de vista da filosofia da História. Uma dualidade entre despotismo e república
toma lugar como indicadora temporal: distanciando o despotismo do passado, o
caminho histórico passa a conduzir para uma república do futuro. O conceito de res
publica, que antes era suficiente para abarcar os três modelos de governo, assume
um sentido restritivo de exclusividade, mas direcionado para o futuro.
No movimento de Revolução Francesa, a utilização histórica do conceito, que
estava saturado de experiências, passa a se converter em um conceito de expectativa.
O conceito de republicanismo irá ocupar, no espaço da ação política, a mesma função
de movimento que o progresso irá desempenhar na história total (KOSELLECK, 1993,
p. 355). Como consequência, a partir do republicanismo, assiste-se ao surgimento do
democratismo, do liberalismo, do socialismo etc. Todas essas expressões tiveram um
conteúdo de experiência mínimo ou nulo. Eles apontavam para um movimento em
direção a um futuro novo, abrindo um horizonte que, antes, estava limitado a um
conjunto de conceitos finitos e presos ao presente (ou ao passado presente).
Koselleck (1993, p. 355-356) destaca, ainda, que os conceitos de movimento
possuem um traço comum: a produção de uma compensação. Isto é, quanto menor
for o conteúdo de experiência, maior será a expectativa que dele deriva, e vice-versa.
A aplicação histórica dessas categorias meta-históricas irá proporcionar
uma chave para o reconhecimento do tempo histórico, especialmente diante da
Modernidade. A ideia moderna de progresso é também elemento chave dessa
compreensão antropológica (KOSELLECK, 2002, p. 160). Desse modo, a História
somente pode reconhecer o que muda continuamente, e o novo se encerra nas
estruturas duradouras.
3 Conclusão
Ao contrário do que um imaginário de senso comum que possa ter tomado
conta das pesquisas jurídicas que fazem incursões historiográficas, trabalhar com a
história do direito não pode ser confundido com o ato de desenvolver uma narrativa
a partir do relato ordenado de acontecimentos históricos. Antes de tudo, é necessária
a escolha de uma metodologia que permita, com rigor científico, esse regresso aos
fatos e a suas interpretações.
É por isso que o presente texto se preocupou em explicar o desenvolvimento de
uma proposta para tal metodologia histórica a partir da opção pelo uso da história
dos conceitos de Koselleck. Assim, buscou-se explicitar a sua dinâmica estruturante.
Fato é que o próprio autor traz – com o olhar do historiador, e não do
jurista – uma proposta que merece ser analisada, discutida e desenvolvida pelos
pesquisadores jurídicos.
A principal contribuição da proposta teórica de Koselleck, ao desenvolver
a lógica da história dos conceitos, parece residir no fato de que ele buscou
demonstrar como conceitos políticos podem ser desenvolvidos, mantendo-se
continuidades e descontinuidades.
4 Referências
ARAÚJO PINTO, Cristiano Paixão. Modernidade, Tempo e Direito. Belo Horizonte:
Del Rey, 2002.
AUSTIN, John L. Como hacer cosas con palabras: palabras y acciones. Trad. de Genaro
R. Carrió e Eduardo A. Rabossi n. 22. Barcelona: Paidós, 1971. Paidós Studio.
HOBSBAWN, Eric. Introdução: A invenção das Tradições. In: HOBSBAWN, Eric; RANGER,
Terence (org.). A invenção das tradições. Trad. Celina Cardim Cavalcante. 4. ed. São
Paulo: Paz e Terra, p. 9-23, 2006.
JASMIN, Marcelo. História dos Conceitos e Teoria Política e Social. Revista Brasileira
de Ciências Sociais, São Paulo, v. 20, n. 57, p. 27-38, fev., 2005.
KOSELLECK, Reinhart. Linguistic Change and the History of Events. The Jornal of
Modern History, Chicago, v. 61, n. 4, p. 649-666, Dec., 1989.
KOSELLECK, Reinhart. Los estratos del tiempo: estudios sobre la historia. Trad. Daniel
Innerarity. Barcelona: Paidós, 2001.
PALTI, Elías José. Introducción. In: KOSELLECK, Reinhart. Los estratos del tiempo: estudios
sobre la historia. Tradução de Daniel Innerarity. Barcelona: Paidós, p. 9-32, 2001.
POCOCK, J. G. A. Politics, Language and Time: essays on Political Thought and History.
Chicago: University of Chicago Press, 1989.
SAVIGNY, Friedrich Karl von. Metodologia Jurídica. Trad. Hebe Marenco. Campinas:
Edicamp, 2001.
SCHMITT, Carl. El Concepto de lo “Político”. In: ORESTES AGUILAR, Héctor (org.). Carl
Schmitt, Teólogo de la Política. México: Fondo de Cultura Económica, p. 167-223,
2001 [Colec. Política y Derecho].
STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica Jurídica e(m) Crise: uma exploração hermenêutica
da construção do Direito. 10. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011b.
CONTENTS: 1 Introduction 2 Remarks on the rationale of law and law’s legitimacy 3 “Rio de
Janeiro state versus amputee man”: an exemplar case of the Brazilian practice of law 4 How law
is understood, taught and learned in Brazil: positivist logical-instrumental rationale and authentic
interpretation as characteristics of our scientific understanding of law 5 The logic of conflict as
the dominant mental model of legal education in Brazil 6 How the change in legal education
can contribute to the enhancement of the Brazilian practice of law 7 Conclusion 8 References.
PALABRAS CLAVE: Ciencia del Derecho Problem Based Learning Enseñanza Jurídica
Constructivismo Construccionismo.
1 Introdução
2 Este é um dos argumentos que serviram de base à Reforma Trabalhista, ocorrida em 2017.
reforma do ensino jurídico. Neste estudo, o enfoque será lançado sobre a segunda
questão referida, embora algumas reflexões sobre os pressupostos conformadores da
concepção científica do Direito dominante no Brasil sejam necessárias.
A pesquisa tem caráter qualitativo, transdisciplinar e propõe como abordagem o
método dedutivo, procurando trazer os aportes do construtivismo de Piaget, da teoria
da análise estratégica do Direito de Gabrich e das metodologias construtivistas e
construcionistas de ensino, bem como do método PBL – Problem Based Learning,
para o tratamento dos problemas apontados.
intersubjetivo e racional. A prática judicial deve ser permeada por uma racionalidade
capaz de tornar o seu produto final, que é a decisão, algo apreciável, verificável e
controlável, a partir do paradigma do Estado de Democrático de Direito. É disso
que se fala quando se afirma, por exemplo, que o Direito é uma Ciência, que as
sentenças devem ser fundamentadas ou que existem boas razões para que as
pessoas respeitem as decisões judiciais.
Segundo o dicionário Houaiss:
Antes de se passar à análise das causas que concorrem para a baixa performance
racional-argumentativa dos tribunais brasileiros e dos problemas que dela decorrem,
é relevante mencionar uma produção cinematográfica que expõe de forma exemplar
o funcionamento da prática judicial brasileira.
Como Oscar Wilde certa vez observou, “a vida imita a arte e a arte imita a vida”
e, dessa forma, unindo de forma magistral a arte, a vida e o Direito, a cineasta Maria
Augusta Ramos filmou diversos julgamentos no Fórum Central do Rio de Janeiro,
durante o ano de 2003, com o objetivo de mostrar para as pessoas comuns o
funcionamento da justiça criminal no Brasil. A proposta foi fixar uma câmera sobre
cada um dos presentes na audiência (juiz, defensor, réu etc) e, a seguir, exibir as
filmagens sem interferências, narração, cortes ou edições de conteúdo. O resultado
foi o premiado documentário intitulado “Justiça”, que retrata fielmente alguns
aspectos importantes da prática judicial corrente no Brasil, ainda nos dias de hoje.
Em um dos casos paradigmáticos registrados, um homem com as pernas
amputadas, que se encontra preso preventivamente, é conduzido em uma cadeira de
rodas à presença do juiz. O caso será chamado de “O Estado do Rio de Janeiro contra
o homem amputado”. O homem é acusado de assaltar uma casa e fugir com diversos
bens roubados, além de acobertar a participação de comparsas no crime. Em seu
depoimento, o acusado relata as circunstâncias de sua prisão. Prossegue dizendo que
foi detido durante um tumulto ocorrido em uma concentração de Carnaval, quando
alguns homens que fugiam da polícia passaram por ele e, em meio à fuga, jogaram
alguns objetos ao chão próximo do local onde se encontrava. Ao ser informado pelo
juiz dos termos da acusação que lhe é imputada, o acusado alega que não conhece os
homens que fugiam da polícia e pondera que sua condição física não lhe permitiria
pular um muro, arrombar uma casa e fugir em disparada, haja vista que tem as
pernas amputadas e se desloca em uma cadeira de rodas. Além de negar o crime, o
acusado pede ao juiz que, caso venha a ser mantido preso, seja transferido para um
local mais apropriado à sua condição de deficiente, pois o presídio superlotado em
que se encontra inviabiliza até mesmo a sua higiene pessoal básica. Nesse sentido,
o réu relata que ele tem que se arrastar ao vaso sanitário e ao chuveiro toda vez que
precisa evacuar ou tomar banho.
O juiz indaga ao acusado se ele possui uma recomendação médica para ser
transferido. Considerando que o acusado, desde que foi preso, não tem um médico à
sua disposição (e nem um advogado que possa formular o pedido de transferência),
o pedido é negado sob a alegação de que “isso é assunto médico, não é assunto de
juiz”. Adicionalmente, o juiz afirma que, quando o delito foi praticado, o acusado não
estava em uma cadeira de rodas. Quando o acusado corrige a informação e reitera
que é deficiente há muitos anos e que havia sido preso já em uma cadeira de rodas, o
magistrado fica surpreso. Ele repete a pergunta algumas vezes, lê novamente a peça
acusatória, parecendo não acreditar. De fato, não parece plausível que um homem
amputado seja capaz de transpor um muro, praticar um arrombamento, tomar uma
residência de assalto e fugir da polícia em uma cadeira de rodas.
Ocorre que o juiz, que desde o princípio não havia sequer considerado a
possibilidade de o acusado já ser amputado à data do delito, não está disposto a
avaliar a questão à luz da nova descoberta. O magistrado prefere manter o acusado
preso, apesar das evidências bastante consistentes de que simplesmente não é
possível que ele tenha praticado a conduta que lhe é atribuída. Os termos da decisão
foram os seguintes: “pois bem, a defensora pública vai analisar essa tua situação e
pedir os direitos que ela acha que você merece”.
Infelizmente, esse não é um caso isolado, estranho ou incomum na história
judicial brasileira recente. Ao contrário, ele ilustra bem a prática decisória judicial
corriqueira adotada no Brasil. Alguns aspectos do citado julgamento, dentre outros,
chamam atenção: o excesso de autoridade do juiz; a inferioridade do acusado diante
do juiz; a utilização, pelo juiz, de uma linguagem “técnica”, que o acusado não consegue
compreender; a ausência de disposição do juiz para receber e considerar as razões do
acusado; a má vontade do juiz para com o acusado, desde o princípio; o fato de que as
razões do acusado são transcritas para o processo de forma sucinta e por intermédio
do juiz, de acordo com o que o juiz (e não o acusado) considera relevante; a difícil
exigência de obtenção de relatório médico que o acusado não pode providenciar,
porque está preso; a ausência de advogado para defender o acusado, embora este já
se encontre preso, tenha prestado depoimento e formulado requerimentos que a rigor
só poderiam ser formulados por advogado, os quais foram sumariamente indeferidos;
o acusado não tem direitos por sua condição de ser humano e cidadão, ou mesmo
direitos a ele atribuídos pelo ordenamento jurídico. Segundo o entendimento judicial
retratado, o acusado apenas passará a ter direitos se, quando e na medida em que a
defensora pública a ser nomeada achar que ele “merece”.
A atividade de julgar é certamente muito difícil. Em determinadas situações, a
dificuldade de se chegar a uma decisão correta decorre de divergências a respeito
da melhor interpretação dos fatos, dos valores subjacentes, bem como das normas
vigentes. Afinal, em direito não há precisão matemática e, como certa vez observou
Hart (2005, p. 139), as situações de fato não esperam por nós já separadas umas das
outras e etiquetadas como casos de aplicação das normas existentes.
O caso acima reproduzido, contudo, não parece oferecer maiores problemas
hermenêuticos. O juiz não se vê em um dilema acerca de qual norma aplicar ou de
Não existe ciência capaz de apontar um sentido unívoco para uma expressão
linguística que é plurívoca por natureza. Então, de acordo com a lógica do positivismo
jurídico, decisões judiciais não podem ser avaliadas de acordo com o sentido que elas
atribuem às normas, fatos, premissas e conclusões que são interpretadas, isto é, com
o seu conteúdo, mas apenas de acordo com a sua validade formal. De acordo com
essa concepção do Direito, quando um juiz ou qualquer outra autoridade legalmente
investida de poder interpreta uma norma, ele a dota de obrigatoriedade. O ato de
interpretação da mesma norma por qualquer outra pessoa (um jurista, por exemplo)
tem significado diferente. É apenas uma manifestação de conhecimento que não cria
vinculação ou obrigatoriedade.
A conclusão a que chega Kelsen é a de que quem afirma que é possível uma
justificação racional para um ato de vontade que fixa um sentido, quando há
outros possíveis, está, na verdade, tentando atribuir a uma escolha (política, moral
ou ideológica), um selo de autenticidade e cientificidade que essa escolha não
possui (KELSEN, 2008, p. 396).
Portanto, segundo a concepção científica do Direito cunhada pelo positivismo,
interpretações de dispositivos legais (normativos), gênero do qual as decisões
judiciais são espécie, distinguem-se em autênticas e não autênticas, conforme
sejam proferidas por uma autoridade investida de poder para criar determinações
obrigatórias ou não. Independentemente de seu conteúdo, de suas consequências
ou de sua aceitação por parte de quem se sujeita a elas.
(...)
7 Conclusão
A prática judicial brasileira encontra-se ainda distante das exigências mínimas
de racionalidade, legitimidade e fundamentação próprias dos Estados Democráticos
de Direito. De fato, nesse paradigma, o Direito, enquanto instância reguladora da
convivência humana, não pode se contentar em dispor de mecanismos de produção
e imposição de normas válidas e obrigatórias, mas tem que ser capaz de justificá-las,
oferecendo razões convincentes para a sua aceitação por parte dos cidadãos.
Não são poucos os problemas decorrentes de uma prática jurídica que não toma
como preocupação central a justificação das decisões perante os cidadãos, apoiando-se
antes no poder e na autoridade. Processos decisórios monológicos tendem a conduzir
a arbitrariedades. Não há fundamentação sem que sejam explicitadas as razões e os
compromissos assumidos discursivamente através do uso de razões. O uso de um
conceito envolve o compromisso com as circunstâncias e consequências que podem
ser inferidas desse conceito (BRANDOM, 2013). Esses “compromissos inferenciais”
devem ser explicitados, pois de outro modo não podem ser submetidos ao crivo de
uma apreciação crítica e de uma contestação fundamentada. A intersubjetividade é
um pressuposto para uma razão científica atual e decisões validadas exclusivamente
porque foram proferidas por indivíduos autorizados, sem que se possam avaliar
criticamente os seus conteúdos, ferem as exigências constitucionais de fundamentação
e inviabilizam o controle de sua correção.
Por outro lado, a aplicação das normas sem que as autoridades julgadoras
atentem para as consequências das suas decisões gera graves problemas sociais,
como ocorre no caso do “Estado do Rio de Janeiro contra o homem amputado” e
em tantos outros. O resultado é uma prática judicial excludente e a absoluta
incapacidade do Direito de lidar de maneira apropriada com os problemas que lhe
compete resolver, enquanto ciência social aplicada reguladora das ações e da vida
das pessoas em um Estado Democrático de Direito.
A reflexão realizada nesta pesquisa aborda algumas práticas jurídicas adotadas
no Brasil e mostra que elas não são como são por acaso. Práticas são sustentadas
por pressupostos teóricos que, por sua vez, são construídos e reproduzidos no
ambiente acadêmico. Nesse contexto, pensar sobre o que queremos do Direito e
como construímos o que queremos é um pressuposto para o aperfeiçoamento das
práticas jurídicas.
Como este estudo procurou demonstrar, a resposta a questões de racionalidade
jurídica começa com a evolução e com o aprimoramento do ensino jurídico, que
é a maior fonte das mazelas encontradas na atuação profissional de advogados,
promotores e juízes. O caminho para favorecer, cada vez mais, a racionalidade das
decisões judiciais e do trabalho dos profissionais do Direito é o aprimoramento
do sistema de ensino jurídico, que precisa considerar o modelo mental da Análise
Estratégica do Direito, valorizar, reconhecer e utilizar as metodologias construtivistas
e construcionistas, bem como favorecer o uso do método de ensino baseado na
solução de problemas reais das pessoas. Assim, o ensino jurídico brasileiro precisa
8 Referências
BECKER, Fernando. O que é construtivismo? In: BORJA, Amélia de et al. Construtivismo
em revista. Série Ideias, 20. São Paulo: FDE, 1993. p. 87-93.
BRANDOM, Robert B. Tales of the mighty dead: historic essays in the metaphysics of
intentionality. Cambridge: Harvard University Press, 2002.
CALAMANDREI, Piero. Eles, os juízes, vistos por um advogado. São Paulo: Martins
Fontes, 2000.
FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Prefácio do Tradutor. In: VIEHWEG, Theodor. Tópica
e jurisprudência. Trad. Tércio Sampaio Ferraz Júnior. Coleção Pensamento Jurídico
Contemporâneo. Brasília: Ministério da Justiça, UnB.
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Trad. João Baptista Machado. 8. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2009.
MARÇAL. Antônio Cota. Prefácio. In: DECAT, Thiago Lopes. Racionalidade, valor e
teorias do Direito. Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2015.
RODRIGUEZ, José Rodrigo. Como decidem as cortes?: para uma crítica do direito
(brasileiro). Rio de Janeiro: Editora FGV, 2013.
ROSA, Sanny A. da. Construtivismo e mudança. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1994.
SUMÁRIO: 1 Introdução 2 Supremo Tribunal Federal (STF): como é 3 Supremo Tribunal Federal
(STF): como poderia ser 4 Conclusão 5 Referências.
RESUMO: O ensaio examina como é o Supremo Tribunal Federal e como ele poderia
ser relativamente às respectivas composição, organização e competências. Comenta
aspectos históricos do Tribunal, avalia o volume de processos por ele decididos,
cogita mecanismos para enfrentamento desse volume etc. Sugere que: (i) a ampliação
da maioria para aprovação dos indicados à Corte; combinada com (ii) a adoção de
mandatos para os respectivos membros; bem assim (iii) a possibilidade ampla de
o Tribunal escolher julgar apenas alguns processos, e não outros tantos, seriam
modificações a considerar para aperfeiçoar a Corte. Recorre, em especial, a dados e
a exemplos das literaturas brasileira, americana e italiana. Afirma, em conclusão, a
importância de o Tribunal adotar postura de profunda humildade frente à Constituição
e à democracia, com rigoroso respeito à lógica da organização dos poderes.
CONTENTS: 1 Introduction 2 The Brazilian Supreme Federal Court (STF): how it is 3 Supreme
Federal Court (STF): how could it be 4 Conclusion 5 References.
ABSTRACT: This paper examines how the Brazilian Supreme Court currently is
and how it could be regarding its composition, organization, and competencies. It
discusses the Court’s historical aspects, evaluates the number of cases decided by
it, and considers mechanisms to deal with such a caseload, among other things. In
order to improve the Court, the paper suggests: (i) an increase in the quorum for
approval of the nominees to the Court; combined with (ii) the adoption of term
limits for the Brazilian Supreme Court Justices; as well as (iii) the broad possibility
for the Court to select the cases to be judged, and not among so many, would be
possible changes to hone the Court. In its analysis, the paper relies on data and
examples from Brazilian, American, and Italian literature. In conclusion, it affirms the
importance of the Court adopting a position of true humility before the Constitution
and democracy, in accordance with the Separation of Powers Doctrine.
1 Introdução
2.2 Competências
As competências do STF são amplas e refletem a posição institucional da Corte,
ou seja, expressam o que o STF é: órgão de cúpula do Poder Judiciário brasileiro.
É diferente do que se dá com Tribunais Constitucionais do modelo europeu. A
propósito, vejam-se dois exemplos.
Primeiro exemplo. Na Constituição italiana, de 1947, há um Título IV sobre
a “Magistratura Italiana”, de que consta uma Seção I sobre o “Ordenamento
Jurisdicional” e uma Seção II relativa a “Normas sobre jurisdição”. Do título IV não
consta a Corte Constitucional italiana. Ela só aparece no Título VI da Constituição
italiana, sobre “Garantias constitucionais”, que possui duas Seções, uma sobre a
Corte Constitucional, outra sobre revisão da Constituição. Depreende-se, dessa
mecânica de coisas, a especial posição da Corte Constitucional italiana no arranjo
institucional italiano: não está no Título IV, logo, não compõe o Poder Judiciário,
mas está no Título VI, o mesmo em que estão normas relativas à modificação
constitucional, o que parece sugestivo e emblemático, ou seja, a Corte revela-se
como um Poder do Estado, à parte do Judiciário, com o monopólio do juízo de
inconstitucionalidade, como é próprio a um típico Tribunal Constitucional, uma
jurisdição à parte, especializada, sem prejuízo de algumas outras competências
específicas, inclusive em matéria penal de certas autoridades. Enfim, é a
Corte Constitucional que decide sobre conflitos de atribuições entre órgãos
constitucionais italianos (DE VERGOTTINI, 2001, p. 641). O que isso significa fica
ainda mais claro com a citação que vem com o segundo exemplo.
Segundo exemplo. Na Lei Fundamental de Bonn, de 1949 (art. 92 e ss.), o
Tribunal Constitucional Federal alemão aparece dentro do Poder Judiciário alemão.
No entanto, Karl Doehring enfatiza o papel arbitral da Corte, inclusive comparando-a
com o Poder Moderador de que fala Benjamin Constant, com uma diferença: não age
de ofício (DOEHRING, 1995, p. 207-208).
Ademais, repita-se, Tribunais Constitucionais têm o monopólio do juízo de
inconstitucionalidade. Não é o caso do STF. É ele parte do Judiciário pátrio, seguindo
modelo análogo ao da Suprema Corte americana, ou seja, um órgão de cúpula, a ele
convergindo todos os demais ramos do Judiciário, inclusive estaduais. Tudo chega, ou
pode chegar, ao STF pela via recursal, mormente pelo recurso extraordinário, como
é natural ao modelo, mas não apenas: há toda uma imensa competência originária
em habeas corpus, mandado de segurança, mandado de injunção, ações cíveis (em
conflitos federativos) e ações penais por prerrogativa de função etc.
Celso de Barros Correia Neto anota: “Os números do Supremo Tribunal Federal
impressionam. Em 2016, o tribunal julgou 95.319 processos e recebeu 57.379 novos
feitos de diversas classes processuais. Em 2017, foram 56.256 recebidos e 105.296
decisões proferidas” (CORREIA NETO, 2018, p. 1).
Durante muito tempo, por causa da “crise do Supremo Tribunal Federal” (em
face do volume de feitos que era uma fração do volume atual), a Corte praticou
uma jurisprudência dita “defensiva”, criando obstáculos à subida de processos. Mais
recentemente, sobretudo dos anos 2000 em diante, a Corte mostrou-se aberta a mais
e mais competências. Em verdade, hoje, o problema maior não são as competências
que a Corte tem, mas aquelas que a Corte chama para si, inclusive avançando nas
esferas de competências de outros Poderes. Surgem, aqui, competências derivadas
de nítido ativismo judicial.
A propósito, para Elival da Silva Ramos, “por ativismo judicial deve-se entender
o exercício da função jurisdicional para além dos limites impostos pelo próprio
ordenamento que incumbe, institucionalmente, ao Poder Judiciário fazer atuar,
resolvendo litígios de feições subjetivas (conflitos de interesse) e controvérsias
jurídicas de natureza objetiva (conflitos normativos)” (RAMOS, 2010, p. 129).
Aqui, valem alguns exemplos que de algum modo ilustram o que seria atuar
dentro e fora dos limites próprios.
Primeiro exemplo. Princípio da fidelidade partidária: constava do art. 152,
parágrafo único, da Constituição de 1967, com a redação da Emenda no 1, de 1969
(passou a § 5o com a Emenda no 11, de 1978). Foi revogado pela Emenda no 25, de
1985, uma vez que servia, sobretudo, de proteção ao partido governista. Discutido
o assunto, a fidelidade foi descartada pela Assembleia Nacional Constituinte como
“entulho autoritário”. Então, no Mandado de Segurança no 20.297/DF, Relator o
Ministro Moreira Alves, julgado em 11 de outubro de 1989, o STF reconheceu que
não mais havia fidelidade partidária no Direito brasileiro. No entanto, 18 anos mais
tarde, sem que a Constituição houvesse mudado no ponto, o Tribunal – na prática
invertendo uma decisão do Poder Constituinte Originário – decidiu pela existência
da fidelidade partidária (Mandado de Segurança no 26.602/DF, Relator o Ministro
Eros Grau, Mandado de Segurança no 26.603/DF, Relator o Ministro Celso de Mello,
e Mandado de Segurança no 26.604/DF, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, julgados
em 04 de outubro de 2007).
Segundo exemplo. Ao iniciar o julgamento do Mandado de Injunção no 943/DF,
Relator o Ministro Gilmar Mendes, em 22 de junho de 2011 (em conjunto com outros
três), a Corte decidiu que regulamentaria o aviso prévio nas relações trabalhistas.
Para tanto, tomou como parâmetro os projetos de lei em tramitação no Congresso
Nacional e a legislação vigente de outros países. Na dúvida sobre qual modelo adotar,
o julgamento foi suspenso para que o Relator alinhavasse uma proposta. Impactado
por esse modo de proceder, o Congresso Nacional veio a legislar em momento quase
que imediatamente subsequente, antes da retomada do julgamento (Lei no 12.506,
de 11 de outubro de 2011). O julgamento veio a ser concluído em 06 de fevereiro de
2013, com a aplicação da Lei que veio no entretempo. Curiosamente, um dos casos
potencialmente mais agressivos de ativismo judicial tornou-se exemplo de “diálogo”
entre os Poderes.
Terceiro exemplo. No caso da greve dos servidores públicos (Mandados de
Injunção no 670/ES, Relator o Ministro Maurício Corrêa, no 708/DF, Relator o Ministro
Gilmar Mendes, e no 712/PA, Relator o Ministro Eros Grau, julgados em 25 de outubro
de 2007), a Corte, na prática, deferiu os Mandados não para conceder o direito de
greve, mas, sim, para discipliná-lo (tanto que impetrantes tentaram desistir das
impetrações), isso por meio da aplicação ao serviço público da Lei de greve nas
relações trabalhistas em geral (Lei no 7.783, de 28 de junho de 1989).
Quarto exemplo. Por fim, vale mencionar um exemplo que é tido como ativista,
mas, salvo melhor juízo, em verdade, é uma vigorosa defesa do Legislador. Na Arguição
de Descumprimento de Preceito Fundamental no 347, Relator o Ministro Marco
Aurélio, cuja liminar foi deferida pela Corte em 09 de setembro de 2015, tendo como
advogado da causa o Professor Titular Daniel Sarmento, ficou assente: “Presente
quadro de violação massiva e persistente de direitos fundamentais, decorrente
de falhas estruturais e falência de políticas públicas e cuja modificação depende
de medidas abrangentes de natureza normativa, administrativa e orçamentária,
deve o sistema penitenciário nacional ser caracterizado como ‘estado de coisas
inconstitucional’.” Daí decorreram duas determinações: (i) liberação imediata das
verbas do Fundo Penitenciário Nacional, devendo o Poder Executivo abster-se de
contingenciar essas verbas; (ii) obrigação de a magistratura realizar audiências
de custódia em 24h contadas da prisão. Em verdade, tem-se, aqui, determinação
judicial para o exato cumprimento da Constituição (art. 5o, inciso LXII), de tratados
internacionais (Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, art. 9, no 3;
Convenção Americana sobre Direitos Humanos, art. 7, no 5) e da Lei Orçamentária
Anual (sistematicamente contingenciada no que se refere ao Fundo Penitenciário
Nacional, ou seja, uma rubrica orçamentária efetivamente destinada pelo Congresso
1 A Resolução citada foi revogada pela Resolução no 642, de 14 de junho de 2019. A mecânica descrita
foi mantida, mas foi alterado o prazo de sete dias para cinco dias úteis (§ 1o do art. 2o da nova Resolução)
e foi ampliado o rol de processos admitidos a julgamento em ambiente eletrônico, que passou a ser o
seguinte: (i) agravos internos, agravos regimentais e embargos de declaração; (ii) medidas cautelares
em ações de controle concentrado; (iii) referendum de medidas cautelares e de tutelas provisórias; (iv)
recursos extraordinários e agravos, inclusive com repercussão geral reconhecida, cuja matéria discutida
tenha jurisprudência dominante no âmbito do STF; (v) demais classes processuais cuja matéria discutida
tenha jurisprudência dominante no âmbito do STF (§ 1o do art. 1o da nova Resolução).
minoria parlamentar seria uma necessidade premente, daí saindo consenso muito
maior em torno do nome a ser considerado.
3.2 Competências
A modificação de competências não parece opção muito crível. Note-se: mesmo
com a criação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), quando da Constituição de
1988, o STF só fez aumentar o número de processos em tramitação. Ademais, a
escolha acerca de quais competências haveriam de ser migradas para outras Cortes
(notadamente, o STJ) sempre envolverá polêmica.
Assim, convém uma cogitação que seja estratégica e cirúrgica: talvez seja o caso
de dotar o STF de juízo amplo e discricionário de oportunidade e conveniência acerca
de quais processos julgará (claro, isso sem prejuízo de alguns poucos processos de
julgamento obrigatório, como ações diretas e ações penais), aliás, como se dá na
Suprema Corte americana e nos Tribunais Constitucionais europeus.
Com efeito, o STF já tem, para o recurso extraordinário, a repercussão geral,
ainda que invertida: apenas quatro votos garantem que o recurso suba. Em matéria
de habeas corpus, há a Súmula 691, que impede que siga ao STF habeas corpus contra
o STJ se não houver decisão colegiada do STJ: na prática, o STF afasta a Súmula
691 sempre que assim deseja. Mesmo em uma ação direta, qual seja, a Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), há um mecanismo de escolha:
conforme a matéria em causa, o STF é mais ou menos flexível acerca da análise do
caráter subsidiário que se exige da ADPF relativamente às demais ações diretas.
4 Conclusão
Robert Dahl, em artigo bastante debatido, questiona se um órgão como a
Suprema Corte americana realmente seria um órgão contramajoritário (DAHL, 1957,
p. 279-295). Para ele, “afirmar que a Corte ampara preferências minoritárias contra as
majoritárias seria negar que a soberania popular e a igualdade política, ao menos no
sentido tradicional, existam nos Estados Unidos” (DAHL, 1957, p. 283). Argumenta que
a Suprema Corte, em regra, é alinhada ao que denomina “maioria legisladora nacional”,
ou seja, aquela que se expressa pela eleição do Presidente dos EUA e pela maioria
das duas Casas do Congresso americano. Afirma que Presidentes não são conhecidos
por indicarem à Suprema Corte pessoas com visões diversas das suas próprias acerca
do mundo, o mesmo valendo para a maioria do Senado. Ademais, em uma Corte
tradicionalmente dividida, uma única indicação pode mudar o equilíbrio de votos em
favor das visões do Presidente e do Senado americanos. E, de fato, historicamente, há
uma chance em cinco de o Presidente indicar um membro já em seu primeiro ano de
mandato; uma em duas até o segundo ano; três em quatro até o terceiro ano (DAHL,
1957, p. 285). Com isso, em geral, a Corte normalmente reflete a maioria legisladora
nacional. Quando não o faz, ou está flertando com o desastre ou está prenunciando
a formação de uma nova maioria legisladora nacional. No primeiro caso, Dahl cita
o Dred Scott Case2, decisão cuja insensibilidade contribuiu para a deflagração da
Guerra de Secessão. No segundo caso, vale a hipótese: como explicar o surpreendente
voto do Chief Justice3 John Roberts Jr., sabidamente republicano, no sentido da
4 Lei de Proteção e Cuidado Acessível ao Paciente (tradução nossa), apelidado nos Estados Unidos de
Obamacare em homenagem ao ex-presidente Barack Obama.
5 Referências
ALEMANHA. Lei Fundamental da República Federal da Alemanha, de 23 de maio
de 1949. Trad. Assis Mendonça. Berlim, 1949. Disponível em: https://www.btg-
bestellservice.de/pdf/80208000.pdf. Acesso em: 13 ago. 2019.
DAHL, Robert. How democratic is the American Constitution? 2. ed. New Haven &
London: Yale University Press, 2003.
DWORKIN, Ronald. Is democracy possible here? Principles for a new political debate.
New Jersey: Princeton University Press, 2006.
MELLO FILHO. José Celso de. Notas sobre o Supremo Tribunal: (Império e República).
3. ed. Brasília: Supremo Tribunal Federal, Secretaria de Documentação, 2012.
Número de Palavras: mínimo de 7.000 (sete mil) e máximo de 9.000 (nove mil)
no artigo completo.
Tipo de arquivo: são admitidos arquivos com extensões .DOC, .DOCX, .RTF e
.ODT, observadas as normas de publicação e os parâmetros de editoração adiante
estabelecidos.
1 Título
Deve conter, no máximo, 15 (quinze) palavras, incluído o subtítulo (quando
houver), realçado em negrito. Título e subtítulo do artigo devem ter apenas a
primeira letra de cada frase em maiúscula, salvo nos casos em que o uso desta seja
obrigatório. Exemplo:
A suposta permissão do Código Civil para emissão eletrônica dos títulos de crédito
2 Sumário
Deve ser posicionado logo abaixo do título e reproduzir somente número e
nome das seções principais que compõem o artigo.
3 Resumo
Deve ser um texto conciso (até 150 palavras), redigido em parágrafo único, que
ressalte o objetivo e o assunto principal do artigo. A enumeração de tópicos não
deve ser usada nesse item. Deve-se, ainda, evitar o uso de símbolos e contrações que
não tenham uso corrente e de fórmulas, equações e diagramas.
4 Palavras-chave
Indicar até 5 (cinco) termos que classifiquem o trabalho com precisão adequada
para sua indexação, separados por travessão.
5 Referências
A indicação das referências deve obedecer ao disposto na NBR 6023:2018 –
Informação e Documentação - Referências - Elaboração da ABNT. Esse item deve
conter todos os dados necessários à identificação das obras, dispostas em ordem
alfabética. A distinção de trabalhos diferentes de mesma autoria será feita levando-
se em consideração a ordem cronológica, conforme o ano de publicação. Os trabalhos
de igual autoria e publicados no mesmo ano serão diferenciados acrescentando-se
uma letra ao final do ano (Ex. 2016a, 2016b).
Revista Jurídica da Presidência
428
Citações com até 3 (três) linhas devem permanecer no corpo do texto, sem recuo
ou realce, destacadas por aspas. As citações com mais de 3 (três) linhas devem ser
separadas do texto com recuo de parágrafo de 4 (quatro) cm, 11 pontos, espaçamento
entre linhas simples e texto justificado, sem o uso de aspas.
Os artigos enviados em Língua Estrangeira devem ter os itens traduzidos para
o Português e o Inglês ou, caso esta seja a língua predominante do artigo, para o
Francês ou para o Espanhol.
Referências
Todos os documentos mencionados no texto devem constar nas referências,
de acordo com o disposto na NBR 6023:2018 da ABNT. Para auxiliar os autores na
composição das referências, estão reproduzidos exemplos abaixo:
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
Eletrônicos. Exemplos:
CAMÕES, Luis de. Os Lusíadas. Biblioteca Nacional Digital de Portugal. 2. ed. 1572.
Disponível em: http://purl.pt/1/3/#/0. Acesso em: 16 mar. 2016.
2 Coletâneas.
Exemplos:
TOVIL, Joel. A lei dos crimes hediondos reformulada: Aspectos processuais penais. In:
LIMA, Marcellus Polastri; SANTIAGO, Nestor Eduardo Araruna (Coord.). A renovação
processual penal após a constituição de 1988: estudos em homenagem ao professor
José Barcelos de Souza. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.
3 Periódicos:
Impressos. Exemplo:
Eletrônicos. Exemplo:
4 Atos normativos.
Exemplos:
5 Projetos de lei.
Exemplos:
6 Jurisprudência:
Impressa. Exemplos:
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula no 14. In: ______. Súmulas. São Paulo:
Associação dos Advogados do Brasil, 1994, p. 16.
Eletrônica. Exemplos:
7 Notícias eletrônicas.
Exemplos:
Avaliação
Os artigos recebidos pela Revista Jurídica da Presidência são submetidos ao
crivo da Coordenação de Editoração, que avalia a adequação à linha editorial da
Revista e às exigências de submissão. Os artigos que não cumprirem essas regras
serão devolvidos aos seus autores, que poderão reenviá-los desde que efetuadas as
modificações necessárias.
Aprovados nessa primeira etapa, os artigos são encaminhados para análise dos
pareceristas do Corpo de Consultores ad hoc, formado por professores doutores das
respectivas áreas temáticas. A decisão final quanto à publicação é da Coordenação
de Editoração e do Conselho Editorial da Revista Jurídica da Presidência.
Direitos Autorais
Ao submeterem artigos à Revista Jurídica da Presidência, os autores declaram
ser titulares dos direitos autorais, respondendo exclusivamente por quaisquer
reclamações relacionadas a tais direitos, bem como autorizam a Revista, sem ônus,
a publicar os referidos textos em qualquer meio, sem limitações quanto ao prazo,
ao território ou qualquer outra, incluindo as plataformas de indexação de periódicos
científicos nas quais a Revista venha a ser indexada. A Revista fica também autorizada
a adequar os textos a seus formatos de publicação e a modificá-los para garantir o
respeito à norma culta da língua portuguesa.
Considerações finais
Qualquer dúvida a respeito das normas de submissão poderá ser dirimida por
meio de mensagem encaminhada ao endereço eletrônico: revista@presidencia.gov.br.