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BIBLIOTECA DE

LAUDOS 2.0
Introdução
1 – O Laudo e o Parecer Técnico;

2 – O Juiz e o Laudo Pericial;

3 – O Falso Laudo: Responsabilidade Civil x


Criminal.

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1 - Laudo
E o Parecer Técnico

O que é um Laudo Pericial?

O laudo pericial é uma peça técnico-formal,


por meio do qual é apresentado o resultado de
uma perícia. Nele deve ser relatado tudo o que fora
objeto dos exames levados a efeito pelos peritos.
Ou seja, é um documento técnico-formal que
exprime o resultado do trabalho do perito.
(Espíndula, 2013. p. 136.)

Qual a diferença do Laudo e do Parecer


Técnico?

O parecer técnico diferencia-se do laudo


pericial em razão de ser um documento
consequente de uma análise sobre determinado
fato específico, contendo a respectiva emissão de
uma opinião técnica sobre aquele caso estudado.
O parecer técnico deve ter um objetivo
específico, excluindo a análise de outros elementos
que não venham a corroborar o objetivo da análise
(Espíndula, 2013. pp. 140-141)

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A Legislação sobre o Laudo Pericial (I)

» Lei nº 13.105 de 16 de Março de 2015 Art. 473.


O laudo pericial deverá conter:

I - a exposição do objeto da perícia;

II - a análise técnica ou científica realizada pelo


perito;

III - a indicação do método utilizado,


esclarecendo-o e demonstrando ser
predominantemente aceito pelos especialistas
da área do conhecimento da qual se originou;

IV - resposta conclusiva a todos os quesitos


apresentados pelo juiz, pelas partes e pelo
órgão do Ministério Público.

A Legislação sobre o Laudo Pericial (II)

§ 1º No laudo, o perito deve apresentar sua


fundamentação em linguagem simples e com
coerência lógica, indicando como alcançou suas
conclusões.

§ 2º É vedado ao perito ultrapassar os limites de


sua designação, bem como emitir opiniões
pessoais que excedam o exame técnico ou
científico do objeto da perícia.
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§ 3º Para o desempenho de sua função, o perito
e os assistentes técnicos podem valer-se de todos
os meios necessários, ouvindo testemunhas,
obtendo informações, solicitando documentos
que estejam em poder da parte, de terceiros ou em
repartições públicas, bem como instruir o laudo
com planilhas, mapas, plantas, desenhos,
fotografias ou outros elementos necessários ao
esclarecimento do objeto da perícia.

2 - O Juiz
E o Laudo Pericial

Sendo o juiz o destinatário da prova, a ele compete


ponderar sobre a necessidade ou não da sua
realização, determinando aquelas provas que
achar convenientes e indeferindo as inúteis ou
protelatórias (art. 139, III; art. 370, parágrafo único),
bem como sobre a pertinência dos quesitos
apresentados pelas partes.

Assim, poderão ser indeferidos os quesitos que


não tenham o condão de auxiliar a formar o
convencimento do juiz ou que não apresentem
qualquer relevância para a composição do conflito.
Também cabe ao juiz formular os quesitos que
entender necessários ao esclarecimento da causa.
A atuação do julgador deve ser subsidiária, de
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modo a não comprometer a sua imparcialidade e
a não indicar prévio julgamento.

Nos termos do art. 479, “o juiz apreciará a prova


pericial de acordo com o disposto no art. 371,
indicando na sentença os motivos que o levaram a
considerar ou a deixar de considerar as conclusões
do laudo, levando em conta o método utilizado
pelo perito”.

A redação desse dispositivo é um pouco


diferente daquela constante no seu
correspondente na legislação anterior. Segundo o
art. 436 do CPC/1973, “o juiz não está adstrito ao
laudo pericial, podendo formar a sua convicção
com outros elementos ou fatos provados nos
autos”. Em outras palavras, a lei autoriza o julgador
a desconsiderar o laudo pericial, desde que
apresente os fundamentos para tanto. É no
mínimo estranho admitir a desconsideração do
laudo pericial se o deferimento do exame ocorre
justamente porque o julgador não tem
conhecimento técnico ou científico para apreciar
questões relativas à resolução da controvérsia
judicial. A legislação, no entanto, é clara ao
mencionar que o juiz pode não acolher as
conclusões registradas no laudo, desde que
fundamente a sua decisão, inclusive indicando os
outros meios de prova que o levaram a decidir de
outro modo.

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O novo CPC não muda essa ideia, ou seja, o juiz
continua sem ficar adstrito ao laudo pericial.
Entretanto, ao fazer referência ao art. 371, o novo
dispositivo sutilmente afasta – ou pelo menos
diminui – a ampla discricionariedade do
magistrado. Isso porque, enquanto o CPC/1973
dispunha que “o juiz apreciará livremente a prova,
atendendo aos fatos e circunstâncias constantes
dos autos, ainda que não alegados pelas partes;
mas deverá indicar, na sentença, os motivos que
lhe formaram o convencimento” (art. 131), o novo
CPC propositalmente suprime o termo
“livremente”, estabelecendo apenas que “o juiz
apreciará a prova constante dos autos,
independentemente do sujeito que a tiver
promovido, e indicará na decisão as razões da
formação de seu convencimento” (art. 371).
Acredito que o principal objetivo do legislador
com essa alteração foi estabelecer balizas, a fim de
evitar o protagonismo judicial. Isso não quer dizer
que a partir do novo CPC o juiz não tenha mais
liberdade de valorar a prova.

Ele pode e deve valorá-la, mas desde que o


faça fundamentadamente, em observância ao
princípio constitucional insculpido no art. 93, IX.

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» CASO CONCRETO:

O caso é referente ao Processo nº 5023276-


35.2019.4.04.9999, que foi julgado pelo Tribunal
Regional Federal da 4ª Região, que possui a
seguinte ementa:

PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO POR


INCAPACIDADE. BENEFÍCIO POR INCAPACIDADE.
VINCULAÇÃO AO LAUDO. INOCORRÊNCIA.
PROVA INDICIÁRIA.

1. O juízo não está adstrito às conclusões do


laudo médico pericial, nos termos do artigo 479 do
NCPC (O juiz apreciará a prova pericial de acordo
com o disposto no art. 371, indicando na sentença
os motivos que o levaram a considerar ou a deixar
de considerar as conclusões do laudo, levando em
conta o método utilizado pelo perito), podendo
discordar, fundamentadamente, das conclusões
do perito em razão dos demais elementos
probatórios coligido aos autos.

2. Ainda que o laudo pericial realizado tenha


concluído pela inaptidão laboral total e temporária
da parte autora, a confirmação da existência das
moléstias incapacitantes referidas na exordial,
agravadas pelas moléstias mais recentes, tudo
corroborado por documentação clínica, associada
às suas condições pessoais – habilitação
profissional (sapateiro) e idade atual (60 anos de
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idade) – demonstra a efetiva incapacidade
definitiva para o exercício da atividade profissional,
o que enseja, indubitavelmente, a concessão de
AUXÍLIO POR INCAPACIDADE TEMPORÁRIA
desde a DER (08/05/2018) e a sua conversão em
APOSENTADORIA POR INCAPACIDADE
PERMANENTE a contar da data do presente
julgamento, descontadas as parcelas já recebidas
por força de antecipação de tutela. (TRF-4 – AC:
5023276-35.2019.4.04.9999, Relator: PAULO
AFONSO BRUM VAZ, Data do Julgamento:
17/03/2021, TURMA REGIONAL SUPLEMENTAR DE
SC).

O caso concreto trata de um segurado que na


decisão de primeiro grau, teve o auxílio por
incapacidade temporária concedido por 120 (cento
e vinte) dias desde a data da perícia. Assim, o
segurado recorreu da sentença, sob o argumento
de que apenas poderia haver a cessação do
benefício quando comprovado em perícia que
recuperou a capacidade laboral. Ademais,
mencionou que por conta das doenças graves na
coluna, diabetes e das condições pessoais, faria jus
à aposentadoria por incapacidade permanente.

A perícia judicial corroborou as informações


quanto às doenças, contudo concluiu pela
incapacidade temporária do segurado, estimando
um prazo de 120 (cento e vinte) dias para a
recuperação e retorno ao trabalho.
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Obs.: O Desembargador ao analisar o caso
concreto, exames, atestados, bem como o laudo
pericial judicial, iniciou sua fundamentação
invocando o artigo 479 e 371 do Código de
Processo Civil, afirmando que possuí o direito de
discordar da conclusão do laudo pericial, de forma
fundamentada, em razão dos demais elementos
probatórios.

Na sequência fundamentou sua discordância


com a posição do STJ quanto à possibilidade de
analisar as patologias junto as condições
socioeconômicas para a tomada de uma decisão.
No caso dos autos, a patologia restou confirmada
pelo laudo pericial, além de serem degenerativas,
ou seja, tendem a se agravar com o passar do
tempo.

Ademais, ponderou o julgador que o


recorrente possui 60 (sessenta) anos de idade, sua
atividade habitual é de sapateiro, o que o levou a
conclusão de que a incapacidade é definitiva para
o exercício da atividade profissional, ensejando o
auxílio por incapacidade temporária desde a Data
de Entrada do Requerimento em 2018 e sua
conversão em aposentadoria por incapacidade
permanente a contar da data do acórdão.
Portanto, foi possível diante da análise deste
julgado, que o Desembargador pontuou os
motivos que ensejaram a conclusão diversa da
presente no laudo pericial, especificando o seu
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entendimento frente as demais provas e também
das condições pessoais do requerente.

O Juiz não é obrigado a seguir o laudo


pericial judicial.

Isto ocorre porque o julgador possui a


prerrogativa do livre convencimento, ou seja, pode
valorar as provas diante de um caso concreto
como achar correto. Porém, independente de
seguir ou não a conclusão exposta no laudo
pericial judicial, observamos que se faz necessária
uma fundamentação de tal decisão, em razão do
princípio da motivação da decisão, que busca uma
transparência da decisão judicial.

Desta forma, apesar de um laudo pericial ser


favorável ao segurado e seu objetivo, qual seja, a
concessão de um benefício previdenciário, pode
ocorrer de o julgador concluir de forma diversa
diante de todas as provas presentes no processo.
Da mesma forma, caso o laudo seja desfavorável, o
Juiz pode deliberar que sim, mesmo que seja
desfavorável, entende que no caso concreto tem
direito o segurado ao benefício. Assim, concluímos
que não é o laudo pericial que vai definir se a causa
é procedente ou improcedente, e sim, a valoração
do julgador. 1
1
» THEODORO JR. 20. ed. Novo Código de Processo Civil Anotado
» DONIZETTI, ELPÍDIO Curso Didático de Direito Processual Civil /
Elpídio Donizetti. – 22. ed. – São Paulo: Atlas, 2019
» Lei 13.105/2015 11

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3 – O Falso Laudo
Responsabilidade Civil X
Responsabilidade Criminal

Deve o perito judicial se cercar de todos os


cuidados para não incorrer em práticas que
denotam envolvimento em corrupção.
Desenvolver a ética na sua vida profissional será
uma forma de se proteger contra a corrupção e
corruptores.

Se procurarmos no dicionário a palavra ética,


vamos encontrar que “é um conjunto de regras e
preceitos de ordem valorativa e moral de um
indivíduo, de um grupo social ou de uma
sociedade”.

Bom...o que isso quer dizer....eu resumiria ética


como um valor ou qualidade própria do ser
humano quando este expressa a verdade em toda
a sua essência.

Assumir uma conduta ética é um atributo


principal em toda espécie de trabalho. E aqui, para
este presente trabalho quando falamos sobre a
atuação de experts peritos, A ÉTICA TEM SEMPRE
QUE PAUTAR O TRABALHO PERICIAL, para que
possam os peritos tornarem-se merecedores de
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respeito, contribuindo assim para o prestígio da
classe e da perícia judicial que, por vezes, é tão mal
vista e alvo de operações policiais que acabam por
refletir no regular andamento dos processos e no
desprestígio da classe e também para que não
acabem se envolvendo em situações que vão ao
contrário do direito e que poderão vir a ensejar
uma investigação e posterior sanção penal, civil,
administrativa.

Na Perícia Judicial, tanto o perito indicado pelo


juiz, como o assistente técnico indicado pelas
partes, devem agir com ética profissional,
realizando um TRABALHO ISENTO E IMPARCIAL,
respeitadas a lei e a técnica (matéria fática que
envolve o trabalho pericial), com a FINALIDADE de
esclarecer os fatos ao juiz que geralmente não
possui o conhecimento técnico para julgar o
pedido.

• A importância do trabalho isento e imparcial


do perito, deve-se ao fato dele estar sujeito às
mesmas CAUSAS DE impedimento e suspeição
dos juízes, conforme preceitua o artigo 148, II e 467
do CPC.

Como já bem visto, os peritos, enquanto


auxiliares do Judiciário, possuem
RESPONSABILIDADES por seus atos, erros,
equívocos ou transgressões, intencionais ou não,
podendo ser responsabilizado pela sua conduta.
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A produção de laudos periciais no sistema
judicial em sua dimensão distorcida, vem
causando imensos prejuízos às partes de um
modo geral, já que, muitas das vezes, produzidos
através de fraudes ou ainda eivados de erros
grosseiros.

Para fins de enquadramento nas


responsabilidades civil e criminal do perito, o
enfoque há de ser concentrado, situando-se os
deveres dos peritos no plano da lealdade,
honestidade e boa técnica, ligados ao princípio da
moral e da ética, porque, havendo a violação a
esses deveres, com traço comum característico da
má fé, acarretará o suporte fático e normativo para
desencadeamento de investigações e processo
sancionador pela prática de atos que importam
enriquecimento ilícito e que causam prejuízo às
partes e ao erário.

As atividades periciais, nesse contexto, estão


regradas por uma série de DEVERES que se
AGREDIDOS E DESRESPEITADOS PELO PERITO
tanto culposa quanto dolosamente, acarretará
abertura às responsabilidades e sanções
correspondentes.

O LAUDO PERICIAL PRESSUPÕE a


honestidade, imparcialidade e certos níveis
básicos de preparo funcional do perito. Agindo
com dolo ou culpa, o mesmo poderá ser
responsabilizado.
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