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CURSO DE DIREITO

DISCIPLINA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL II -


CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO

PROFª. MESTRA GLÁUCIA BORGES

APOSTILA I
SENTENÇA
CONCEITO

O CPC atual valeu-se da conjugação dos dois critérios para definir a sentença
(art. 203, CPC).
Ela é o pronunciamento judicial que se identifica:
1. Por seu conteúdo, que deve estar em consonância com o disposto nos
arts. 485 e 487 do CPC;
2. Por sua aptidão ou de pôr fim ao processo, nos casos de extinção sem
resolução de mérito ou em que não há necessidade de execução ou ainda
nos processos de execução por título extrajudicial; ou à fase cognitiva, nos
casos de sentença condenatória, que exige subsequente execução.

Há outros pronunciamentos judiciais no sistema atual, nos quais o juiz pode


resolver o mérito, que não têm natureza de sentença.
Ao proferir o julgamento antecipado parcial de mérito, ele examinará, em
cognição exauriente e com força definitiva, um ou alguns dos pedidos, ou parte deles,
que seja incontroverso ou que não dependa de outras provas. Mas se, ao fazê-lo, o juiz
não puser fim ao processo, nem à fase de conhecimento, porque há necessidade de que
prossiga em razão dos demais pedidos, o pronunciamento terá natureza de decisão
interlocutória de mérito (o que enseja agravo de instrumento), não de sentença.
Só haverá sentença se o pronunciamento estiver fundado nos arts. 485 e 487
do CPC e puser fim ao processo ou à fase de conhecimento.
Vide art. 203, CPC.
Extinguir a fase cognitiva
Matérias previstas no CPC
SENTENÇA do processo comum ou a
485 ou 487
execução

ESPÉCIES DE SENTENÇA

Ou classificação das sentenças.


O art. 203, § 1º, do CPC, ao indicar os conteúdos possíveis de uma sentença,
permite distinguir duas espécies ou duas classificações:
 TERMINATIVAS: as que extinguem sem resolução de mérito (art. 485);
 DEFINITIVAS: aquelas em que o juiz resolve o mérito, pondo fim ao
processo ou à fase cognitiva (art. 487).

- E o que é mérito? É a questão central numa pendência, ou num conjunto de


fatos e provas, que orienta a formação de uma decisão judicial ou administrativa. “Mérito
é a pretensão apresentada ao juiz com pedido de sua satisfação” (DINAMARCO, Cândido
Rangel, Capítulos de sentença, p. 51).

Há casos em que o processo Nesse caso sentença será


Ele se limitará a pôr fim ao
há de ser extinto sem que o chamada de terminativa (art.
processo, sem examiná-lo
MÉRITO

juiz o aprecie 485).

Há casos em que ele resolve A sentença será definitiva


Haverá exame do mesmo
o mérito (art. 487).

SENTENÇA TERMINATIVA

A negativa da prestação jurisdicional, com a consequente extinção do


processo sem julgamento de mérito, pode se dar nas seguintes fases do procedimento:
 Logo após a propositura da ação, por meio do indeferimento da petição
inicial;
 No saneamento: sentença que colhe, no julgamento conforme o estado do
processo (art. 354), alguma preliminar dentre as previstas no art. 485.
 Em qualquer fase do processo, quando ocorrer abandono da causa ou
outros fatos impeditivos do prosseguimento da relação processual, como o
compromisso arbitral, a desistência da ação, etc.
 Na sentença proferida ao final do procedimento.

Por assim dizer, as terminativas podem ser proferidas a qualquer tempo,


bastando que o juiz verifique que não há condições de prosseguir, pois o pedido não
poderá ser apreciado. Pode ser que ele o perceba desde logo e indefira a petição inicial;
ou em qualquer outra fase, quando o vício que impede o prosseguimento se evidencie.
São as situações do art. 485, do CPC:

I - Indeferimento da inicial

No inciso I o artigo menciona como fundamento da extinção o indeferimento


da petição inicial, regulado no art. 330.
Obs.: o deferimento da inicial é simples despacho, que, por isso, não tem efeito
preclusivo, de sorte que, mesmo depois da contestação, o juiz poderá voltar ao exame
da matéria e, uma vez reconhecida a inépcia da petição com que o autor abriu a relação
processual, poderá decretar a extinção do processo.
A extinção nesse caso pode se dar:
 Por provocação da parte;
 Por provocação do Ministério Público;
 De ofício pelo juiz.

II e III – Abandono de causa ou paralisação do processo

A inércia das partes diante dos deveres e ônus processuais, acarretando a


paralisação do processo, faz presumir desistência da pretensão à tutela jurisdicional.
Equivale ao desaparecimento do interesse, que é condição para o regular
exercício do direito de ação
Presume-se, legalmente, essa desistência quando ambas as partes se
desinteressam e, por negligência, deixam o processo paralisado por mais de um ano, ou
quando o autor não promove os atos ou diligências que lhe competir, abandonando a
causa por mais de trinta dias.
A extinção nesse caso pode se dar:
 Por provocação da parte;
 Por provocação do Ministério Público;
 De ofício pelo juiz, salvo no caso de abandono pelo autor, pois mesmo que
após sua intimação permaneça inerte, o réu que já ofereceu contestação
pode ter interesse no prosseguimento do processo e na resolução do
mérito da causa. Quando o abandono for só do autor (art. 485, III), e o réu
não for revel, o juiz só pode decretar a extinção a requerimento do
demandado (art. 485, §6º).

Em qualquer hipótese, porém, a decretação não será de imediato: após os


prazos dos incisos II e III, do art. 485. O juiz terá, ainda, que mandar intimar a parte,
pessoalmente, por mandado, para suprir a falta, em cinco dias (art. 485, § 1º). Só depois
dessa diligência é que, persistindo a inércia, será possível a sentença de extinção do
processo, bem como a ordem de arquivamento dos autos (art. 485, § 1º).
Com relação às despesas processuais:
 Caso tenha se dado de ambas as partes: as custas serão rateadas
proporcionalmente e não há honorários de sucumbência.
 Se apenas o autor: despesas e honorários advocatícios (art. 485, § 2º).

IV- Ausência de pressupostos processuais

O processo é uma relação jurídica e, como tal, exige certos requisitos ou


pressupostos para se formar e desenvolver validamente.
Pressupostos subjetivos: se referem aos sujeitos do processo (juiz e as
partes).
 Juiz: competência e da ausência de impedimento ou suspeição.
 Dos litigantes: capacidade de ser parte, de estar em juízo e postulatória.

Pressupostos objetivos: dizem respeito à:


 Regularidade dos atos processuais, segundo a lei que os disciplina,
principalmente no tocante à forma do rito, quando for da substância do ato.
Subordinação do procedimento às normas legais.
 À ausência de fatos impeditivos do processo, como uma nulidade.
Entre esses pressupostos, existem aqueles cuja inobservância gera nulidade
absoluta, nulidade relativa ou mera irregularidade.
Diante de quaisquer desses vícios, deve o juiz ter assegurado ao autor a
possibilidade de supri-los ou remediá-los, nos termos dos arts. 321, 351 e 352.
Somente nos casos de nulidades absolutas não remediadas ou de nulidades
relativas, arguidas oportunamente ou com comprovado prejuízo e não corrigidas, é que
o juiz extinguirá o processo. Nos casos de nulidades relativas não arguidas
oportunamente ou sem comprovação de prejuízo, estarão convalidadas, não
determinando a extinção do processo. E no caso de meras irregularidades, o juiz adotará
de ofício as providências para corrigi-las, igualmente sem extinção do processo.
A ausência de requisito de procedibilidade pode decorrer, também, de fato
superveniente à regular instauração do processo. Exemplo: perda de capacidade da
parte ou com a não substituição de advogado falecido no curso do processo.
Em tais circunstâncias, não sendo superado o defeito surgido incidentemente,
haverá de ser extinto o processo, na fase em que estiver, sem julgamento do mérito (art.
313, § 3º).

V – Perempção, litispendência ou de coisa julgada

- Perempção: a extinção do processo por abandono da causa não impede que


o autor volte a propor, em nova relação processual, a mesma ação (CPC, art. 486). Se
der causa, porém, por três vezes, à extinção do processo pelo fundamento previsto no
art. 485, III (abandono de causa), ocorrerá o fenômeno denominado perempção, que
consiste na perda do direito de renovar a propositura da mesma ação (art. 486, § 3º).
Obs.: embora a perempção cause a perda do direito de ação, não impede que
a parte invoque o seu eventual direito material em defesa, quando sobre ele vier a se
abrir processo por iniciativa da outra parte (art. 486, § 3º).
- Litispendência: uma mesma lide objeto de mais de um processo
simultaneamente.
- Coisa julgada: após o trânsito em julgado, volte a mesma lide a ser discutida
em outro processo.
Demonstrada a ocorrência de litispendência ou de coisa julgada (isto é,
verificada a identidade de partes, de objeto e de causa petendi) entre dois ou mais
processos, os posteriores deverão ser extintos, sem apreciação do mérito.
A decretação dessa extinção faz-se de ofício ou a requerimento da parte (CPC,
art. 485, § 3º).

VI- Ausência de legitimidade ou de interesse processual

Impõe-se no processo uma atividade dos interessados perante o órgão


judicial.
Legitimidade: é a titularidade ativa e passiva da ação. Não basta existir um
sujeito ativo e um sujeito passivo. É preciso que os sujeitos sejam, de acordo com a lei,
partes legítimas, pois se tal não ocorrer o processo se extinguirá sem resolução do mérito
(art. 485, VI).
Interesse de agir: há interesse processual, há necessidade do processo como
remédio apto à aplicação do direito objetivo no caso concreto, pois a tutela jurisdicional
não deve ser outorgada sem uma necessidade. Procura-se uma solução judicial, sob
pena de, se não o fizermos, vermo-nos na contingência de não podermos ter satisfeita
uma pretensão.
São as antes chamadas de “condições da ação”.
As condições da ação devem existir no momento em que se julga o mérito da
causa e não apenas no ato da instauração do processo. Quer isso dizer que, se existirem
na formação da relação processual, mas desaparecerem ao tempo da sentença, o
julgamento deve ser de extinção do processo por carência de ação, isto é, sem
apreciação do mérito.
VII - Arbitragem

A cláusula compromissória e o compromisso arbitral são espécies do que a


Lei 9.307/1966 denomina “convenção de arbitragem”, à qual o art. 485, VII, do CPC atribui
o efeito de extinguir o processo sem resolução de mérito.
Basta existir entre as partes a cláusula compromissória (a promessa de
submeter-se ao juízo arbitral) para ficar a causa afastada do âmbito do Judiciário.
A convenção anterior ao processo impede a sua abertura.
A convenção superveniente ao processo faz com que haja sua imediata
extinção.

Convenção anterior Impede sua


ao processo abertura

Convenção
superveniente ao Imediata extinção
processo

VIII- homologar a desistência da ação

Pela desistência, o autor abre mão do processo e não do direito material que
eventualmente possa ter perante o réu.
Por isso a desistência da ação provoca a extinção do processo sem
julgamento do mérito e não impede que, futuramente, o autor venha outra vez a propor a
mesma ação (se inexiste coisa julgada).
É a desistência da ação ato unilateral do autor, quando praticado antes de
vencido o prazo de resposta do réu ou até que esta seja apresentada, ou se for revel.
Depois, trata-se de ato bilateral: depende do consentimento do réu.
O limite temporal do direito de desistir da ação é a sentença, de sorte que não
é concebível desistência da causa em grau de apelação ou outro recurso posterior, como
o recurso extraordinário (art. 485, § 5º). É possível desistir do recurso, mas não mais da
ação.
A desistência, quer como ato unilateral, quer como bilateral, só produz efeito
depois de homologada por sentença.
IX - Morte da parte e intransmissibilidade da ação

É consequência de sua natureza (direito personalíssimo) ou de expressa


vedação legal à transmissão do direito subjetivo.
Morto o titular do direito intransmissível, o próprio direito se extingue com a
pessoa do seu titular. Não há sucessão, nem de fato nem de direito.
Exemplo: honra, imagem, nome, saúde, divórcio, estado de filiação e
alimentos.

X- Extinção em outros casos previstos na lei processual

A leitura do inciso X do art. 485 comprova que este foi redigido de forma
exemplificativa.
Além das situações dos incisos anteriores, o processo pode ser encerrado sem
resolução do mérito em outras situações.
Exemplo: quando o magistrado constatar que o autor, brasileiro ou estrangeiro,
que reside fora do Brasil ou deixou de residir no país ao longo do processo não prestou
caução suficiente ao pagamento das custas e dos honorários advocatícios de advogado
da parte contrária (art. 83).

SENTENÇA DEFINITIVA

São as hipóteses do art. 487, CPC.


Em regra, só haveria sentença de mérito nos casos de acolhimento ou rejeição
do pedido do autor (art. 487, I, CPC). Porém, o legislador também considerou como
sentença definitiva aquela em que o réu reconhece a procedência do pedido na
contestação, a que homologa transação; aquela em que o juiz reconhece a prescrição ou
decadência, e a dada quando o autor renuncia ao direito em que se funda a ação ou o
réu na reconvenção. Estas últimas, apesar de não haver propriamente exame do pedido,
são consideradas como de mérito, para que pudessem tornar-se definitivas, revestidas
da autoridade da coisa julgada material.
Na sentença que resolve o mérito, partimos da premissa de que todas as
questões processuais foram resolvidas, de que o conflito de interesses foi eliminado.
A distinção é de grande relevância entre as de mérito para as sem mérito, pois
só as do art. 487 se revestem da autoridade da coisa julgada material e podem ser objeto
de ação rescisória. Contudo, não há diferença entre as duas espécies de sentença no
que concerne ao tipo de recurso adequado: contra ambas caberá a apelação.
Quanto ao momento em que as sentenças de mérito podem ser proferidas,
inicialmente é preciso distinguir aquelas em que o juiz acolhe ou rejeita o pedido (art. 487,
I, do CPC) das demais (art. 487, II e III).
Nas descritas nos incisos II e III:
 O reconhecimento de prescrição e decadência pode ser feito desde a data
da propositura da demanda.
 O reconhecimento jurídico do pedido ou por renúncia ao direito em que se
funda a ação, quando o réu ou o autor assim dispuser, pode ocorrer em
qualquer momento.
 A transação também pode ocorrer a qualquer tempo e será homologada
assim que comunicada ao juízo.

Já as sentenças de acolhimento ou rejeição do pedido podem ser proferidas


em quatro oportunidades distintas:
 De início, antes que o réu seja citado, nas hipóteses do art. 332, do CPC;
 Nos casos de revelia, em que haja presunção de veracidade dos fatos
alegados na inicial, desde o momento em que ela tenh se configurado
(julgamento antecipado do mérito – art. 355, II, CPC).
 Após a contestação ou a réplica do autor, quando não houver necessidade
de outras provas (julgamento antecipado do mérito – art. 355, I, do CPC);
 Após a conclusão da fase de instrução, depois de as partes apresentarem
suas alegações finais.

Em regra, o art. 487 relaciona situações em que a sentença:


 Encerra a fase de conhecimento (jurisdição de conhecimento);
 A etapa em que o magistrado certifica ou atribui o direito a uma das partes.
 E, com isso, o credor (a quem o direito foi atribuído) pode requerer a
instauração da fase de cumprimento da sentença (jurisdição executiva).

Para que o mérito seja resolvido é necessário: o preenchimento dos


pressupostos de constituição (juiz natural, citação do réu, petição inicial e capacidade
postulatória) + o preenchimento de desenvolvimento válido e regular do processo (citação
válida, competência do juízo etc.) + e que o magistrado constate a inexistência de causas
impeditivas e de questões prejudiciais.

I - Resolução quando o juiz acolher o pedido formulado pelo autor na


ação ou na reconvenção

O nosso sistema jurídico está assentado na premissa de que o autor tem o


direito de obter sentença de mérito desde que preencha os pressupostos de constituição
e de desenvolvimento válido e regular do processo.
O inciso I do art. 487 retrata o escopo de todo e qualquer processo, qual seja,
o de apresentar ao autor resposta à pretensão conduzida pelo exercício do direito de
ação e a consequente instauração da relação processual.
Como consequência do acolhimento ou da rejeição dos pedidos formulados
pelo autor, o vencido deve pagar as despesas do processo e os honorários advocatícios,
no percentual fixado pelo magistrado (art. 85).
O que se acolhe ou o que se rejeita com a sentença é o pedido formulado pelo
autor ou pelo reconvinte.

II - Resolução quando o juiz decide, de ofício ou a requerimento, sobre


a ocorrência da decadência ou da prescrição

Os prazos decadenciais e prescricionais estão previstos nos arts. 205 e


seguintes do CC.
São as “falsas sentenças de mérito”, mas justificam-se no seguinte sentido: o
enquadramento do pronunciamento como sendo de mérito decorre da constatação de
que a sentença impõe obstáculo intransponível ao autor, retirando-lhe a condição de
ajuizar nova ação fundada nos mesmos elementos do processo extinto (partes, causa de
pedir e pedido). Tantas vezes que propuser ações idênticas, serão igualmente extintas,
em respeito à coisa julgada.
Obs.: o reconhecimento da decadência ou da prescrição pode acarretar o
julgamento pela improcedência liminar do pedido, independentemente da citação do réu
(§ 1.º do art. 332), ou, posteriormente, a extinção do processo com o julgamento do
mérito.
 DECADÊNCIA: Extingue diretamente o direito, e com ele a ação que o
protege; começa a correr, como prazo extintivo, desde o momento em que
o direito nasce; supõe um direito que, embora nascido, não se tornou
efetivo pela falta de exercício.
 PRESCRIÇÃO: Extingue a ação, e com ela o direito que esta protege;
começa a partir de sua violação, porque é nesse momento que nasce a
ação contra a qual se volta a prescrição; supõe um direito nascido e
efetivo, mas que pereceu pela falta de proteção pela ação, contra a
violação sofrida.

III – a) Resolução quando o magistrado homologar o reconhecimento da


procedência do pedido formulado na ação ou na reconvenção

Em alguns casos, o réu comparece aos autos do processo para concordar com
a pretensão do autor, reconhecendo ter violado o direito que motivou o exercício do direito
de ação.
Não se confunde o reconhecimento da procedência do pedido com a revelia,
que significa ausência de resposta.
Aqui, houve resposta, confirmando o que foi exposto na petição inicial,
autorizando a prolação de sentença de encerramento do processo com o julgamento do
mérito, pois o conflito não mais existe, não se justificando a análise das demais questões
processuais.
Essa manifestação não libera o réu da obrigação de efetuar o pagamento das
custas processuais e dos honorários advocatícios (art. 90), já que o reconhecimento do
pedido é uma admissão da existência do conflito de interesses e de que o seu surgimento
decorreu de culpa sua.

III – b) Resolução quando o magistrado homologar a transação

Quando a ação versa sobre direitos disponíveis, a lei admite que as partes se
componham e transacionem, pondo fim ao processo mediante concessões recíprocas.
Não se fala em vencedor e em vencido quando a vontade das partes é
homologada por sentença.
Custas e honorários (§2º e 3º, art. 90): havendo transação e nada tendo as
partes disposto quanto às despesas, estas serão divididas igualmente. Se a transação
ocorrer antes da sentença, as partes ficam dispensadas do pagamento das custas
processuais remanescentes, se houver.
É possível as partes solicitarem a homologação do acordo que extrapole os
limites objetivos do processo, para incluir na sentença a obrigação de uma das partes de
adimplir obrigação não prevista na petição inicial (art. 515, § 2º).
Na sentença que homologa a transação, o juiz se limita a ratificar a vontade
das partes, dificultando a interposição de recursos por qualquer delas e a propositura da
ação rescisória.
A sentença homologatória transitada em julgado pode ser atacada pela ação
anulatória, não pela rescisória (4.º, art. 966, CPC), desde que se comprove a ocorrência
de vício do ato jurídico, como a coação física ou moral, o dolo ou a simulação.

III – c) Resolução quando o magistrado homologar a renúncia à


pretensão formulada na ação ou na reconvenção

Faz coisa julgada material.


O autor não pode propor outra ação fundada nos mesmos elementos da ação
em que a renúncia foi manifestada, e homologada por sentença, em respeito à coisa
julgada material que imutabilizou os efeitos desse pronunciamento judicial.
Despesas processuais (caput e §1º, art. 90): as despesas e os honorários
serão pagos pela parte que renunciou. Sendo parcial a renúncia, a responsabilidade
pelas despesas e pelos honorários será proporcional à parcela à qual se renunciou.
 Renúncia: acarreta a extinção do processo com a resolução do mérito, por
sentença que produz coisa julgada material. Atinge direito material.
 Desistência: põe fim ao processo sem a resolução do mérito, também por
sentença (através da qual o juiz homologa a desistência), que produz coisa
julgada formal (efeito limitado ao processo). Constitui ato processual.

REQUISITOS ESSENCIAIS DA SENTENÇA

A sentença de extinção sem resolução de mérito ou a que resolve o mérito


deve observar determinados requisitos essenciais, enumerados no art. 489 do CPC:
relatório, motivação e dispositivo.

RELATÓRIO

Antes de passar à exposição dos fundamentos e à decisão propriamente dita,


o juiz fará um relatório, que deverá conter:
 Os nomes das partes;
 A identificação do caso, com o resumo do pedido e da contestação;
 O registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo.

Trata-se de exigência que visa assegurar que ele tenha tomado conhecimento
do que há de relevante para o julgamento, garantia do devido processo legal, que deverá
ser observada sob pena de nulidade.
MOTIVAÇÃO

É a fundamentação.
A sentença deverá ser fundamentada, de acordo com a ordem Constitucional
- art. 93, IX.
O juiz deve expor as razões pelas quais acolhe ou rejeita o pedido formulado
na petição inicial, apreciando os seus fundamentos de fato e de direito (causas de pedir)
e os da defesa.
A falta de fundamentação, no entanto, tornará nula a sentença.
O § 1º do art. 489, do CPC traz seis incisos com hipóteses em que não se
considera fundamentada não apenas a sentença, mas qualquer decisão judicial.
I- Será preciso que o juiz, ao aplicar a lei ou ato normativo ao caso concreto,
esclareça a pertinência da sua aplicação. Ao proferir a sentença, o juiz desenvolve um
raciocínio silogístico, pois parte de uma premissa maior (o que dispõe o ordenamento
jurídico) para uma premissa menor (o caso concreto) para poder extrair a conclusão. É
preciso que a sentença indique com clareza em que medida aquela norma invocada pode
funcionar como premissa maior, aplicável ao caso concreto sub judice.
II- É preciso que fique claro àquele que lê a sentença ou a decisão a razão
pela qual determinado conceito jurídico foi invocado e de que forma se aplica ao caso
concreto.
III- Não pode ser considerada como fundamentada uma decisão que se vale
de um molde ou modelo genérico, que possa servir não apenas para aquela situação
concreta, mas de forma geral. É preciso que o juiz fundamente sua decisão de maneira
específica para o caso em que ela foi proferida. Fórmulas genéricas do tipo “foram
preenchidos os requisitos”, sem a indicação concreta das razões pelas quais o juiz assim
o considera, não são admissíveis.
IV- Nem sempre será necessário que o juiz se pronuncie sobre todas as
causas de pedir e fundamentos de defesa. Se uma das causas de pedir ficar desde logo
demonstrada e for, por si só, suficiente para o acolhimento do pedido, o juiz proferirá
sentença de procedência, sem precisar examinar as demais.
V- Quando invoca precedente ou enunciado de súmula, deve ter relação com
o caso e podem ser aplicados naquele caso concreto que ele está julgando.
VI- Essa hipótese pressupõe que uma das partes invoque súmula,
jurisprudência ou precedente e que o juiz não os aplique. Ele deve justificar a razão de
não os aplicar, demonstrando que não se ajustam ao caso concreto que está decidindo.

DISPOSITIVO

É a parte final da sentença, em que o juiz decide se acolhe, rejeita o pedido


ou se extingue o processo, sem examiná-lo.
É a conclusão.
Todos os pedidos formulados na petição inicial devem ser examinados pelo
juiz.
Se houver mais de uma ação, embora único o processo, a sentença, também
única, deverá examinar todas as pretensões formuladas (reconvenção e denunciação da
lide, por exemplo).
Em contrapartida, o juiz não pode examinar pretensões não formuladas. É
preciso que haja coerência entre o dispositivo e a fundamentação.

DEFEITOS NA SENTENÇA

A sentença é um dos atos do processo, e, como tal, deve preencher os


requisitos de validade e de eficácia. Todo ato processual pode ter defeitos gerais que os
tornem ser nulos ou ineficazes, conforme a gravidade do vício. E as nulidades podem ser
absolutas ou relativas.
No entanto, há alguns defeitos que são típicos, específicos das sentenças.
A sentença, nesse caso, pode ser extra petita, ultra petita ou citra petita.
EXTRA PETITA

É aquela em que o juiz julga ação diferente da que foi proposta, sem respeitar
as partes, a causa de pedir ou pedido, tais como apresentados na petição inicial.
Pode ser declarada nula.
Há casos, excepcionais, em que a lei autoriza o juiz a conceder algo que não
corresponde exatamente àquilo que foi pedido, sem que sua sentença possa ser
considerada extra petita.
Exemplo: ações possessórias, consideradas fungíveis pelo art. 554 do CPC,
permite-se que o juiz defira um remédio possessório diferente daquele que foi postulado.
O art. 497 do CPC também o autoriza a, se não for possível o cumprimento específico
das obrigações de fazer ou não fazer, conceder providência que assegure o resultado
prático equivalente ao do adimplemento.
No entanto, nessas hipóteses são excepcionais: a regra determina que ele se
atenha à pretensão formulada.
Art. 492, CPC.

ULTRA PETITA

É aquela em que o juiz julga a pretensão posta em juízo, mas em quantidade


superior à pedida.
Se houver recurso, não haverá necessidade de o tribunal declará-la nula,
bastando-lhe que reduza a condenação aos limites do que foi postulado.
Se houver trânsito em julgado, caberá ação rescisória, cujo objeto será apenas
desconstituir a sentença, naquilo que ela contenha de excessivo.

CITRA OU INFRA PETITA

Aquela em que o juiz deixa de apreciar uma das pretensões postas em juízo.
Não aprecia um dos pedidos, quando houver cumulação.
Cumpre ao juiz, ao proferir a sua sentença, examinar todas as pretensões
formuladas pelo autor, na inicial, e pelo réu, em reconvenção.
Se não o fizer, as providências que o prejudicado deve tomar são:
 Opor embargos de declaração, nos quais se pedirá ao juiz que supra a
omissão e se pronuncie a respeito da pretensão, sanando o vício.
 Apelar (onde o Tribunal poderá anulá-la, para que se profira outra
sentença; ou julgar o pedido não apreciado – art. 1.013, III).
 Se transitar em julgado, algumas correntes entendem que pode ser
ajuizada nova ação sobre o pedido não apreciado.

POSSIBILIDADE DE CORREÇÃO

O art. 494 do CPC, contém duas regras fundamentais:


 Depois que o juiz publica a sentença, ela não mais pode ser alterada.
 Mesmo depois de publicada, a sentença poderá ser alterada quando:
a) Houver necessidade de lhe corrigir, de ofício ou a requerimento da
parte, inexatidões materiais, ou lhe retificar erros de cálculo. Ex.:
equívocos no nome das partes, erro de indicação de artigo de lei.
Essa forma de correção não suspende nem interrompe o prazo para
interposição de outros recursos.
b) Forem opostos embargos de declaração. É o recurso adequado
quando a sentença padecer de erro material, omissão, contradição ou
obscuridade. Este não serve reapreciar a prova ou reavaliar as
questões de mérito.

EFEITOS DA SENTENÇA

Denominam-se “efeitos” as consequências jurídicas que da sentença podem


advir e que dependerão do tipo de tutela postulada, pois a sentença deve ficar adstrita a
tal pretensão. São: Declaratória; Constitutiva; Condenatória.
DECLARATÓRIA

É aquela em que a pretensão do autor se limita a que o juiz declare a existência


ou inexistência de uma relação jurídica, ou a autenticidade ou falsidade de um documento
(CPC, art. 19).
A ação será declaratória quando a pretensão do autor limitar-se ao pedido de
declaração.
A tutela declaratória tem por finalidade afastar uma crise de incerteza.
Exemplos: Há dúvida entre os litigantes quanto à existência ou inexistência de
uma relação, ou sobre a autenticidade ou falsidade de um documento: ao proferir
sentença, o juiz apenas decidirá se a relação existe ou não e se o documento é
verdadeiro ou falso, afastando a dúvida que gerava insegurança.
O juiz não imporá obrigações, não criará uma relação jurídica que até então
não existia, nem desconstituirá uma relação que havia. A tutela declaratória não produz
nenhuma modificação, nem de uma situação fática, nem de uma relação jurídica. O que
ela faz é solucionar uma incerteza, uma dúvida.
A sua eficácia é ex tunc.
Exemplo: ações de investigação de paternidade. Não é a sentença que vai
criar a relação de paternidade, pois ela já existe. Ela apenas vai decidir, havendo dúvida,
se o réu é ou não o pai/mãe do autor, declarando-o.
Todas as sentenças de improcedência são declaratórias negativas, declaram
que o autor não tinha razão em sua pretensão.

CONSTITUTIVA

É aquela que tem por objeto a constituição, modificação ou desconstituição de


relações jurídicas.
Não se limitam a declarar se uma relação jurídica existe, como no item anterior,
mas visam alterar as relações jurídicas indesejadas.
Haverá interesse para postulá-la se o autor quiser constituir, modificar ou
desconstituir uma relação jurídica, sem o consentimento do réu.
As sentenças podem ser constitutivas positivas ou negativas, também
chamadas desconstitutivas, conforme visem criar relações até então inexistentes ou
desfazer as que até então existiam.
As sentenças constitutivas têm eficácia ex nunc.
Elas não precisam ser executadas, já que produzem efeitos por si mesmas.
Exemplo: em ação de divórcio, o casamento considerar-se-á desfeito somente
após a sentença, com trânsito em julgado. Rescisão de contrato. Anulatória de negócio
jurídico. Nomeação de tutor ou curador. Dissolução de sociedade empresária.

CONDENATÓRIA

A sentença condenatória impõe ao réu uma obrigação, consubstanciada em


título executivo judicial.
A partir dela abre-se ao autor a possibilidade de valer-se de uma sanção
executiva para obter o seu cumprimento.
Ela é aquela que impõe uma obrigação que precisa ser cumprida.
As demais sentenças, quando declaram ou constituem relações jurídicas, não
impõem obrigações, nem exigem medidas de cumprimento, já que se efetivam por si
mesmas.
Têm eficácia ex tunc, pois retroagem à data da propositura da ação.

DA REMESSA NECESSÁRIA

Art. 496, CPC.


Quando a sentença está obrigatoriamente sujeita ao duplo grau de jurisdição
para que seja confirmada, quando: os sujeitos forem a União, os Estados, o Distrito
Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público; ou
que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal.
Nesses casos, não interposta a apelação no prazo legal, o juiz ordenará a
remessa dos autos ao tribunal, e, se não o fizer, o presidente do respectivo tribunal avocá-
los-á (avocar significa o ato de atrair para si alguma competência).
Não se aplica o disposto neste artigo quando a condenação ou o proveito
econômico obtido na causa for de valor certo e líquido inferior a:
- 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias e
fundações de direito público;
- 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o Distrito Federal, as
respectivas autarquias e fundações de direito público e os Municípios que constituam
capitais dos Estados;
- 100 (cem) salários-mínimos para todos os demais Municípios e respectivas
autarquias e fundações de direito público.

Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver


fundada em:
- Súmula de tribunal superior;
- Acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal
de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
- Entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou
de assunção de competência;
- Entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito
administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer ou súmula
administrativa.

BIBLIOGRAFIA COMPILADA E ORGANIZADA

MONTENEGRO Filho, Misael. Direito Processual Civil – 13 ed. – São Paulo: Atlas,
2018.
TUCCI, José Rogério Cruz e; et al. (Coords.). Código de Processo Civil Anotado.
Paraná: OAB, 2018.
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado® – 8.
ed. – São Paulo: Saraiva, 2017.

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