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1. INTRODUÇÃO:
2
Capítulo I da obra Sentença Cível Descomplicada – técnicas de construção e esquemas de estruturação, 3ª
edição revista e atualizada. Brasília: Editora Cpuris, 2018, cedido pelo prof. Jaylton Lopes Jr. para este material
de apoio.
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Nos termos do § 1º do art. 203 do CPC, “Ressalvadas as disposições expressas dos
procedimentos especiais, sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com
fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem
como extingue a execução”.
O aludido dispositivo, ao vincular a sentença ao fim da atividade cognitiva do
procedimento comum e à extinção da execução, leva à falsa percepção de que somente no
procedimento comum e na execução haverá sentença, o que não é verdade.
Sentença haverá, também, nos procedimentos especiais. Entretanto, a ressalva feita
pelo § 1º do art. 203 do CPC tem um propósito: deixar claro que em alguns procedimentos
especiais será possível a prolação de mais de uma sentença. Isso é o que ocorre, por exemplo,
na ação de demarcação de terras particulares (arts. 569 a 587 do CPC), conforme será
estudado nesta obra.
Para que a sentença possa criar a norma jurídica individualizada ao caso concreto, é
preciso que o juiz, por meio de uma atividade interpretativa, extraia do texto legal a norma
jurídica mais adequada e em consonância com a Constituição. Isso porque a lei, por ser
genérica e abstrata, permite, quase sempre, mais de uma interpretação e, por conseguinte, a
criação de mais de uma norma jurídica. Daí a importância de um discurso coerente e
consentâneo com a ordem jurídica vigente e, sobretudo, com os direitos fundamentais
consagrados na Constituição da República.
Em um Estado Constitucional, a atividade interpretativa e o resultado da
interpretação têm lugar na sentença e devem ser racionais. A racionalidade da sentença,
porque permite o seu controle intersubjetivo, é uma das mais fundas garantias de uma Justiça
Civil preocupada em fazer valer para além do simples discurso valores genuinamente
democráticos e na necessidade de fidelidade ao Direito 3.
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- os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito; III - o dispositivo,
em que o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe submeterem”.
A ausência de um desses elementos pode eivar o ato de nulidade (sentença sem
relatório ou fundamentação) ou mesmo implicar vício de existência (sentença sem
dispositivo).
O relatório, primeiro elemento da sentença, possui duas funções: a primeira é de
mostrar às partes e à sociedade em geral que o juiz conhece o processo; a segunda, permitir
que o caso julgado seja comparado a outros que ainda receberão julgamento. Desse modo,
orientará os demais para aquela solução, trazendo, consequentemente, uma maior unidade do
Poder Judiciário4.
A fundamentação, segundo elemento da sentença, possui, também, duas funções:
permitir às partes conhecer as razões que formam o convencimento do juiz (função
endoprocessual) e permitir o controle e fiscalização da decisão pelo próprio povo, haja vista
que o juiz exerce parcela do poder estatal.
É, portanto, na fundamentação que o juiz analisa as questões de fato e de direito,
debruçando-se sobre as provas produzidas e interpretando o ordenamento jurídico, a fim de
se construir a norma jurídica a ser aplicada ao caso. Note, assim, que é na fundamentação da
sentença que a norma jurídica é criada. É possível, inclusive, que diversas normas jurídicas
sejam criadas, conforme as peculiaridades da causa.
Já o dispositivo, terceiro elemento da sentença, é, em linhas gerais, a conclusão da
decisão, que se dá pelo acolhimento ou rejeição do pedido do autor. Será melhor estudado no
Capítulo V desta obra.
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Nesse sentido: MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo código de
processo civil comentado, 414-415.
5
Para a teoria ternária, difundida por Liebman, há três espécies de sentença: i – meramente declaratória; ii –
constitutiva; iii – condenatória. Já para a teoria quinaria, desenvolvida por Pontes de Miranda, há cinco
espécies de sentença: i – meramente declaratória; ii – constitutiva; iii – condenatória; iv – mandamental; v –
executiva lato sensu.
4
Pontes de Miranda, a classificação da sentença deve basear-se não a partir das diversas
formas de satisfação da prestação determinada na sentença, mas sim a partir do seu conteúdo.
E o conteúdo da sentença somente pode ser meramente declaratório, constitutivo ou
condenatório. As chamadas sentenças mandamentais e executivas lato sensu são, em verdade,
sentenças condenatórias, pois se referem a direitos a uma prestação 6.
A sentença executiva lato sensu é aquela autoexecutável, a qual prescinde de
processo executivo, podendo ser efetivada nos mesmos autos, por meio de coerção direta. É
o que ocorre, por exemplo, na ação de busca e apreensão. Aqui, há verdadeira sub-rogação,
na medida em que o próprio Estado-juiz busca efetivar a decisão independentemente da
colaboração do executado. Por outro lado, a sentença mandamental, ao afirmar o direito a
uma prestação, busca sua efetivação por meio de coerção indireta, ou seja, coerção
psicológica para que o próprio executado cumpra a obrigação. É o que ocorre, por exemplo,
nas ações de obrigação de fazer e não fazer.
A sentença, embora una7, pode resolver uma demanda que tenha por objeto mais
de uma pretensão – resultado da formulação dos pedidos do autor, da ampliação objetiva em
razão da apresentação de reconvenção, ou mesmo do acolhimento ou rejeição de uma
questão processual.
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Segundo BEDAQUE, citado por Daniel Amorim Assumpção Neves, o conteúdo da sentença condenatória,
além da indispensável declaração de existência do direito material, é a imputação ao réu do cumprimento de
uma prestação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia certa, com o objetivo de resolver a crise
jurídica de inadimplemento (NEVES. Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. Volume
único. 6ª ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2014, 576).
7
Importante registrar que o fato de o CPC, em seu art. 356, permitir o julgamento antecipado parcial do
mérito, não significa rompimento com o princípio da unidade estrutural da sentença. Isso porque a sentença
deve ser concebida como a decisão que implica em uma das hipóteses previstas nos artigos 485 e 487 do CPC e
põe fim ao processo ou a uma fase processual. Como a decisão que julga antecipadamente parte do mérito não
põe fim ao processo ou a uma fase processual, deve ser vista como decisão interlocutória, atacável por agravo
de instrumento (art. 356, § 5º, do CPC). Para o STJ, em decisão proferida ainda na vigência do CPC/73, “A
sentença parcial de mérito é incompatível com o direito processual civil brasileiro atualmente em vigor, sendo
vedado ao juiz proferir, no curso do processo, tantas sentenças de mérito/terminativas quantos forem os
capítulos (pedidos cumulados) apresentados pelo autor da demanda” (REsp 1.281.978-RS, Rel. Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva, julgado em 5/5/2015, DJe 20/5/2015).
5
Em tais casos, tem-se uma decisão formalmente unitária, porém materialmente
plural, ou seja, a sentença produzirá mais de uma decisão, todas autônomas entre si. A essa
unidade denomina-se capítulo da sentença.
Portanto, pode-se definir capítulos da sentença como as diversas decisões
proferidas pelo juiz na sentença, sejam elas de natureza material ou de natureza processual.
Isso, porém, não significa dizer que devem constar no dispositivo todas as decisões
proferidas na sentença.
Com efeito, o que importa é saber se foram proferidas duas ou mais decisões
autônomas na sentença. Assim, ao se apreciar uma questão preliminar e rejeitá-la, não há
qualquer obrigatoriedade de se fazer constar esse capítulo no dispositivo (Ex.: Diante do
exposto, rejeito a preliminar de ilegitimidade passiva e julgo procedentes os pedidos...). Mas
também não há qualquer problema em utilizá-los no texto.
Segundo DINAMARCO, se uma ou algumas preliminares forem suscitadas e
nenhuma acolhida, passa o juiz ao capítulo de mérito, em que apreciará diretamente a
pretensão do autor à tutela jurisdicional. Haverá nesse caso a convivência entre dois
capítulos sentenciais heterogêneos a saber: a) o primeiro, em que o juiz acolhe a pretensão
do autor ao julgamento do mérito; e b) o segundo, em que ele acolhe ou rejeita a pretensão
ao bem da vida (procedência ou improcedência)8.
Nesse sentido, quando a sentença possuir capítulos unicamente de mérito ou
unicamente processuais, fala-se em decisão homogênea (ou capítulos homogêneos). Por
outro lado, quando a mesma sentença possuir capítulos de mérito e processuais, fala-se em
decisão heterogênea (ou capítulos heterogêneos).
Lembra DIDIER JR que sempre que o magistrado analisa o mérito de uma
pretensão está, implicitamente, afirmando que admitiu como viável o procedimento em que
se deduziu a pretensão. Assim, toda decisão de mérito conteria, a rigor e necessariamente,
um capítulo processual, ainda que implícito, o que faria dela uma decisão heterogênea. Para
efeito de aplicação dessa teoria, porém, somente se considerará existente um capítulo
processual, se houver deliberação expressa do juiz sobre questão de admissibilidade. Isso
também se aplica aos casos em que o juiz analisa questão processual e a rejeita9.
8
DINAMARCO, Cândido Rangel. Capítulos de sentença. 3ª ed. São Paulo: Malheiros, 2008, p. 80.
9
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil – teoria da prova, direito probatório, decisão precedente,
coisa julgada e tutela provisória, p. 354.
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2.5. TÉCNICA DE CONSTRUÇÃO DE SENTENÇA E O PRINCÍPIO DA
CONGRUÊNCIA:
A sentença, como ato oficial que é, deve observar parâmetros técnicos, de ordem
estrutural, gramatical e jurídica.
É certo que não há uma forma fechada e exclusiva de se redigir a sentença. Sua
estrutura varia conforme o estilo de cada magistrado. Entretanto, para fins metodológicos, é
importante estabelecer um padrão de estrutura e linguagem, a fim de facilitar a construção do
texto e, sobretudo, o momento e o modo de enfrentamento das questões jurídicas.
A sentença, por ser ato emanado de autoridade judicial – que exerce parcela do
poder estatal –, deve ser congruente. O princípio da congruência (ou adstrição), entretanto,
não se limita ao entendimento de que o magistrado deve decidir a lide dentro dos limites
traçados pelas partes, não podendo proferir sentença de forma extra, ultra ou infra petita.
Esse princípio em verdade, deve ser visto sob dois aspectos: o primeiro é o aspecto
interno (congruência interna), que significa que a sentença não pode ser contraditória em si
mesma, ou seja, a conclusão (dispositivo) há de ser congruente em relação à fundamentação.
O segundo é o aspecto externo (congruência externa), que significa que a sentença deve se
adstringir aos pedidos formulados pelas partes.
Nos termos do art. 492 do CPC, “É vedado ao juiz proferir decisão de natureza
diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso
do que lhe foi demandado”. O aludido dispositivo deve ser lido à luz o art. 141 do CPC,
segundo o qual “O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe
vedado conhecer de questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte”.
Ocorre que o princípio da congruência, em seu aspecto externo, também deve ser
visto sob duas outras dimensões: a primeira refere-se aos arts. 141 e 492 do CPC, já
mencionados (proibição de sentença extra, ultra ou infra petita). Trata-se da congruência
externa objetiva; a segunda refere-se à necessidade de a sentença guardar uma correlação
com os sujeitos que litigam no processo, isto é, atingir, via de regra, somente aqueles que
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fizeram parte da relação jurídico-processual10. Trata-se da chamada congruência externa
subjetiva.
A certeza que deve emanar da sentença decorre do princípio da congruência e
significa dizer que a sentença deve afirmar a existência ou inexistência de um direito
deduzido pela parte, revelando a norma jurídica aplicável ao caso. Logo, ao juiz não é
permitido prolatar uma sentença condicional, ou seja, uma sentença cujo resultado
(procedência ou improcedência) dependa de um evento futuro e incerto. Isso não significa
dizer, entretanto, que a sentença não poderá decidir uma relação jurídica (de direito material)
condicional. A permissão é encontrada no parágrafo único do art. 492 do CPC, que prevê
que “A decisão deve ser certa, ainda que resolva relação jurídica condicional”.
Por fim, impende destacar que algumas questões devem ser decididas pelo
magistrado ainda que não requeridas pelas partes. Trata-se dos chamados pedidos implícitos,
como é o caso, por exemplo, dos juros de mora, correção monetária e honorários
advocatícios (art. 322, § 1º, do CPC)11, das prestações vencidas no curso do processo (art.
323 do CPC)12, entre outros.
Para que seja possível o atendimento do comando do art. 93, IX, da Constituição
Federal e, consequentemente, a compreensão e eventual controle por parte da sociedade, a
sentença deve ser clara. O juiz moderno deve se fazer compreender.
Daí o papel da linguagem – como capacidade de expressar ideias – na técnica de
construção de sentença. É preciso ter em mente que, sendo a sentença voltada às partes, deve
ser capaz de ser compreendida por todos, independentemente do grau de instrução de cada
um.
10
O próprio CPC, entretanto, traz exceções ao princípio da congruência externa subjetiva, como é o caso do art.
328, que prevê que “Na obrigação indivisível com pluralidade de credores, aquele que não participou do
processo receberá sua parte, deduzidas as despesas na proporção de seu crédito”.
11 o
Art. 322. O pedido deve ser certo. § 1 Compreendem-se no principal os juros legais, a correção monetária e
as verbas de sucumbência, inclusive os honorários advocatícios. (...).
12
Art. 323. Na ação que tiver por objeto cumprimento de obrigação em prestações sucessivas, essas serão
consideradas incluídas no pedido, independentemente de declaração expressa do autor, e serão incluídas na
condenação, enquanto durar a obrigação, se o devedor, no curso do processo, deixar de pagá-las ou de
consigná-las.
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Para a boa compreensão do texto constante na sentença, algumas técnicas podem
ser úteis. São elas:
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O texto jurídico, certamente, conterá palavras que não fazem parte do vocabulário de um número
considerável de pessoas. Entretanto, deve-se buscar, sempre que possível, substituir aquelas expressões mais
rebuscadas por outras mais simples (Ex.: “no que pese o compungimento do réu, deve ser objurgado” = “no
que pese o arrependimento do réu, deve ser condenado”).
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Sentido real da palavra. Contrapõe-se ao sentido conotativo, ou seja, o sentido figurado.
15
A estrutura da oração é: Sujeito – verbo – complemento. Ex.: “O autor provou os fatos constitutivos do seu
direito” (sentido adequado); “Os fatos constitutivos do seu direito foram provados pelo autor” (não é o sentido
mais adequado, embora também esteja correto)”.
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indefiro, acolho, julgo procedente, julgo improcedente, rejeito etc.), o texto poderá ser
redigido em primeira pessoa.
Vejamos um exemplo de texto construído em terceira pessoa com utilização do
comando decisório em primeira pessoa:
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A citação dos parágrafos pode ser feita pelo símbolo §. Entretanto, tratando-se de
parágrafo único, o candidato deverá escrevê-lo por extenso, não sendo adequado escrever §
único.
Conforme já estudado, a sentença, embora una, pode resolver uma demanda que
tenha por objeto mais de uma pretensão, resultado da formulação dos pedidos do autor, da
ampliação objetiva em razão da apresentação de reconvenção, ou decorrente do acolhimento
ou rejeição de uma questão processual.
Tem-se, em tal caso, uma sentença com mais de um capítulo, razão pela qual pode o
juiz optar por organizar a sua sentença em tópicos, sendo um para cada capítulo.
Exemplo:
1. Resolução do contrato.
2. Dano material:
3. Dano moral:
4. Dispositivo:
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Diante do exposto, julgo (...).
Embora não seja inadequada a divisão da sentença em tópicos, o ideal é que ela seja
evitada em provas de concurso. Isso porque é preciso que a prova realizada pelo candidato
seja vista pelo examinador como uma verdadeira sentença, e não como um conjunto de
respostas organizadas em tópicos.
Porém, pode ocorrer de a demanda apresentada conter vários pedidos cumulados,
mostrando-se necessária a divisão da sentença em tópicos, sob pena de prejudicar a própria
compreensão da fundamentação. Quando isso ocorrer, a estruturação pode ser feita da
seguinte forma:
Primeira parte: análise de todas as questões prévias ao mérito
propriamente dito (pedidos e questões pendentes, preliminares e
prejudiciais) sem organizá-las em tópicos;
Segunda parte: somente as questões referentes ao mérito propriamente
dito serão organizadas em tópicos.
3. O ESBOÇO DA SENTENÇA:
SENTENÇA
1. Relatório (quando for exigido).
12
2. Julgamento simultâneo de ações.
5. Preliminares.
6. Mérito.
7. Dispositivo.
7.1. Procedência/Improcedência
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O terceiro passo é a leitura atenta do enunciado. Nesse processo, será possível ao
candidato verificar quais dos pontos acima não estão presentes (Ex.: não se exige relatório,
não é caso de julgamento antecipado dos pedidos etc.), bem como identificar e organizar, no
seu esboço, todas as questões que serão analisadas e decididas. Assim, é importante que
entre um tópico e outro haja espaço suficiente para as anotações.
A primeira leitura do enunciado será para identificar a presença dos itens 1 a 5 do
esboço acima apresentado. Imaginemos um enunciado no qual o candidato, após a primeira
leitura, identifica os seguintes pontos: i – o enunciado não pede a elaboração do relatório; ii
– existe um pedido de produção de prova formulado pelo réu e pendente de apreciação; iii –
o réu alegou, preliminarmente, a incompetência absoluta e a ilegitimidade passiva; iv – é
caso de julgamento antecipado do pedido.
O esboço poderá ser assim construído:
SENTENÇA
Relatório (quando for exigido).
Indeferir o pedido de prova. Arts 370 e 371 do CPC. Juiz como destinatário da
prova. Preclusão do réu.
Preliminares.
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- Ilegitimidade passiva. Conceito. Contextualizar com o caso. Teoria da asserção.
Preliminar que também se confunde com o mérito. Rejeitar a preliminar.
6. Mérito.
Organizada a primeira parte da sentença, passa-se para uma segunda leitura, que
servirá tanto para verificar se todas as questões que antecedem o mérito já foram organizadas
no esboço, quanto para organizar, principalmente, as questões de mérito (item 6 do esboço).
Imaginemos, agora, um caso no qual o autor pretende a reparação civil por ato
ilícito praticado pelo réu e este, por sua vez, alega, como teses defensivas: prescrição, culpa
exclusiva da vítima e existência de caso fortuito.
Mérito.
Prejudicial de mérito:
Prescrição. Não se aplica o prazo de 3 anos do CC (art. 206, § 3º, V), mas sim o
CDC (art. 27). Entendimento do STJ. Rejeitar.
Decadência.
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CF/88: art. 5º, V e X
Lei: art. 14, CDC; arts. 186 e 927, 403 do CC.
Jurisprudência: STJ
Doutrina (apenas se souber)
g) Teses defensivas
4. LINGUAGEM DA SENTENÇA:
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Evitar: “acho que, penso, na minha opinião, salvo melhor juízo”;
Indicar todos os dispositivos constitucionais e legais possíveis. Não se
deve transcrevê-los.
5. RELATÓRIO:
2º. Parágrafo: fundamentos de fato e de direito trazidos pelo autor, bem como seu
pedido final:
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Houve recolhimento de custas e a petição inicial veio acompanhada
dos documentos de fls.
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Em audiência de instrução, foram ouvidas as pessoas X, Y e Z e as
partes apresentaram memoriais às fls.
8º Parágrafo: finalização.
Observação:
6. FUNDAMENTAÇÃO:
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processual; objetivo de evitar decisões conflitantes, mantendo a higidez e a credibilidade do
Poder Judiciário; instrumentalidade das formas - CPC, art. 277.
No caso de reconvenção ou de denunciação da lide, não há necessidade de
fundamentar o julgamento simultâneo, pois só pode haver uma sentença nessas hipóteses.
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Passo ao exame das preliminares.
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A expressão “condições da ação”, desenvolvida por Liebman na teoria eclética do
direito de ação e prevista no CPC-73, não foi mantida no CPC-2015. A despeito da discussão
doutrinária acerca do tema, o ideal é evitar utilizar essa terminologia (“condições da ação”).
Sugere-se, assim, tratá-las como pressupostos de validade ou requisitos de
admissibilidade da demanda.
Acerca da legitimidade e do interesse de agir, é importante ter em mente duas
posições doutrinárias:
Posição clássica: a legitimidade e o interesse de agir devem estar presentes do início
ao fim do processo. Se faltou uma condição da ação ao final do processo, aplica-se o 485
CPC.
Posição moderna: Teoria da Asserção / Apresentação – a profundidade da cognição
altera o reconhecimento de eventual ausência de legitimidade ou interesse de agir.
Usa-se o verbo REJEITAR ou ACOLHER na primeira pessoa. Vejamos o exemplo:
Se o réu alegar alguma questão, como preliminar, que não se encontra no rol do art.
337 do CPC, não se pode considerá-la, tecnicamente, como preliminar. Nesse caso, o
afastamento da “preliminar” deverá ser feito da seguinte forma:
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Aduz o réu, como preliminar, (...). Contudo, de questão preliminar
não se trata, por ser tema estranho ao rol do art. 337 do CPC. Em
verdade, a questão confunde-se totalmente com o mérito da demanda,
a ser apreciado em momento oportuno. Assim sendo, NÃO
CONHEÇO da questão como preliminar, pois será examinada como
questão de mérito.
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No caso de o réu, por exemplo, requerer a suspensão do processo e a intervenção de terceiro e tais pedidos
ainda não tiverem sido analisados, o seu exame poderá se dar, também, logo no início da sentença, antes
mesmo da promoção do julgamento antecipado da lide (quando for o caso) e da análise das preliminares. Isso
porque tratam-se de pedidos ainda pendentes de análise e, caso, em tese, sejam deferidos, não haverá
sentença, mas sim a conversão do julgamento em diligência para o regular processamento da demanda
secundária ou suspensão do processo, obstando, assim, a prolação da sentença.
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7.2. MÉRITO PROPRIAMENTE DITO:
Muita atenção deve ser dada aos artigos 341 (ônus da impugnação específica dos
fatos), 373 (distribuição do ônus da prova) e 374 (fatos que independem de prova) do CPC.
Análise dos institutos jurídicos relacionados: Sempre que possível, deve ser atribuído o
conceito ao instituto jurídico objeto da análise. Nesse momento, ao reconhecer a
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aplicabilidade ou inaplicabilidade de determinado instituto jurídico ao caso em análise, deve
o candidato fundamentar sua decisão na CF, leis, jurisprudência e doutrina (quando possível).
e) Tutela Provisória:
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pedido de tutela provisória ainda não tiver sido apreciado, o juiz deverá examiná-lo na
sentença. E tal exame será realizado na fundamentação, após a análise do mérito, cabendo ao
julgador expor os argumentos que indicam ou não a presença dos requisitos do art. 300 do
CPC (tutela de urgência) ou do art. 311 do CPC (tutela de evidência).
8. DISPOSITIVO:
Exemplos de dispositivo:
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Ante o exposto, julgo PARCIALMENTE PROCEDENTE (ou acolho,
em parte) o pedido formulado por Fulano de Tal, resolvendo o
mérito nos termos do art. 487, I, do CPC, para: (a)
condenar/declarar/decretar/determinar....
+ fixação dos honorários
+providências especiais se for o caso (ex.: oficie-se )
+ art. 523, § 1º, do CPC
+ arquivamento dos autos
+ PRI
JUROS DE MORA
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RESPONSABILIDADE TERMO FUNDAMENTO PERCENTUAL
INICIAL
Antes do CC = 0,5%, a.m
CONTRATUAL Citação Art. 405, do CC
Após o CC = SELIC ou 1%,
a.m (não há muito
consenso)
Art. 398, CC
EXTRACONTRATUAL Prejuízo Idem
Súmula 54, STJ
CORREÇÃO MONETÁRIA
Embora a utilização dos índices mencionados nas tabelas acima seja mais segura, na
prática, o STJ vem adotando a taxa SELIC como índice de atualização das condenações. O
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grande problema de se aplicar a taxa SELIC aos juros de mora está no fato de que na referida
taxa já está embutida a correção monetária. Logo, não se poderia, em tese, cumular qualquer
outro índice, sob pena de bis in idem.
Acerca do entendimento do STJ, confira-se:
Destarte, deve o candidato ter prudência quando da fixação dos juros e correção
monetária, preocupando-se mais com o acerto do seu termo inicial de incidência do que,
propriamente, com o índice a ser utilizado. Isso porque não são todos os tribunais que
preveem, em seus sistemas de atualização monetária, a taxa SELIC para os juros e correção
monetária. Muitos acabam prevendo índices diversos, como os especificados nas tabelas
acima (juros de mora de 1% a.m e correção monetária pelo INPC).
Sobre a aplicação da taxa SELIC, vale a leitura do voto do Ministro João Otávio de
Noronha, no REsp 776.698 – SP.
O grande problema da aplicação da taxa SELIC refere-se aos casos em que os juros
de mora e a correção monetária têm seus marcos iniciais em períodos diversos (ex.: dano
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moral decorrente de relação contratual: juros de mora da citação e correção monetária do
arbitramento).
Objetivando corrigir eventuais problemas decorrentes da aplicação indiscriminada
da taxa SELIC, sugere-se o seguinte quadro:
Juros de mora e correção monetária com termo inicial na mesma data: aplica-
se a taxa SELIC;
Juros de mora com termo inicial em data anterior à correção monetária: o
cálculo será realizado a base de 1% ao mês até a data do início de incidência
da correção monetária, a partir da qual os juros e a correção monetária serão
calculados pela taxa SELIC;
Correção monetária com termo inicial em data anterior aos juros de mora:
será calculada pelo INPC até a data do início de incidência dos juros de mora,
a partir da qual a correção monetária e os juros serão calculados pela taxa
SELIC.
Perceba, assim, que a taxa Selic somente pode ser aplicada no período e que
incidirão os juros moratórios e a correção monetária. Daí a dificuldade quanto à sua
aplicação.
A Lei nº 6.899/81, que disciplina a aplicação da correção monetária nos débitos
oriundos de decisão judicial e dá outras providências, estabelece que:
30
Art 3º - O disposto nesta Lei aplica-se a todas as causas pendentes
de julgamento.
Art 4º - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação.
Art 5º - Revogam-se as disposições em contrário.
A questão referente aos juros e à correção deve constar apenas do dispositivo, salvo
se for objeto de controvérsia ou pedido específico das partes.
10. SUCUMBÊNCIA:
Nos termos do art. 85, caput, do CPC, “A sentença condenará o vencido a pagar
honorários ao advogado do vencedor”.
Nesse sentido, o próprio código estabelece parâmetros ao juiz para a fixação dos
honorários advocatícios. A questão pode ser sistematizada da seguinte forma:
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honorários por apreciação equitativa (art. 85, § 8º, do NCPC). É muito
comum nas ações declaratórias e (des)constitutivas;
Na ação de indenização por ato ilícito contra pessoa: o percentual de
honorários incidirá sobre a soma das prestações vencidas acrescida de 12
(doze) prestações vincendas (art. 85, § 9º, do NCPC);
Nas causas envolvendo a Fazenda Pública: a fixação deverá observar os
parâmetros do § 3º do art. 85 do NCPC;
Se a sucumbência for reciproca, aplica-se o art. 86 do CPC (“Se cada litigante
for, em parte, vencedor e vencido, serão proporcionalmente distribuídas entre
eles as despesas”).
Se a sucumbência de uma parte for mínima, aplica-se o parágrafo único do art.
86 do CPC (“Se um litigante sucumbir em parte mínima do pedido, o outro
responderá, por inteiro, pelas despesas e pelos honorários”).
ATENÇÃO: Nos termos do art. 85, § 14, do CPC, é vedada a compensação dos honorários
em caso de sucumbência parcial. Logo, a súmula 306 do STJ está superada.
32
§ 2o Se a distribuição de que trata o § 1o não for feita, os vencidos
responderão solidariamente pelas despesas e pelos honorários.
33
Após, não havendo outros requerimentos, dê-se baixa e arquivem-se
os autos.
Registre-se. Publique-se. Intimem-se.
Local, data.
Juiz de Direito Substituto.
Bons estudos!
34