Você está na página 1de 5

Artigo Comentado – STF

PROFESSOR: EDUARDO PESSOA CRUCHO

ALUNO: JOÃO LUIZ TAVARES BUARQUE DE GUSMÃO


MATRÍCULA: 2020-0391-9 – IV PERÍODO

Como se interpelam os recursos judiciais em nosso país?

À frente de iniciar no principal certame deste artigo, é preciso habituar o leitor com as
principais diretrizes e desenvolvimento dos recursos no Brasil.
Usualmente, uma ação judicial gera uma sentença escrita por um juiz, dessa decisão é
possível a interposição (apresentação) de um recurso a um Tribunal de hierarquia
superior:

I. Um processo cível ou criminal de âmbito estadual terá o seu recurso analisado


por um Tribunal de Justiça Estadual

II. Um processo civil ou criminal de âmbito federal terá o seu recurso analisado
por Tribunal Regional Federal

III. Um processo trabalhista terá o seu recurso analisado por um Tribunal Regional
do Trabalho

A decisão apresentada pelos desembargadores do Tribunal é chamada de acórdão e,


diferentemente de uma sentença que é escrita por um único juiz, o acórdão é
apreciado por outros desembargadores. Ou seja, as decisões são apresentadas após o
voto de uma maioria.
Do acórdão julgado pelos desembargadores é possível ainda apresentar recursos
distintos a outros Tribunais como o Superior Tribunal de Justiça, Tribunal Superior do
Trabalho e ao Supremo Tribunal Federal.

Como funcional os recursos nos Tribunais Superiores?


A depender do Tribunal destinatário do recurso, haverá recursos distintos a serem
apresentados e com funcionalidades próprias. Dado o objetivo deste artigo, trataremos
apenas do recurso extraordinário, que é direcionado ao STF.
De mais a mais, para cada recurso há o que chamamos de requisitos de
admissibilidade, que são itens obrigatórios a serem observados na elaboração do
recurso para que seja aceito pelo Tribunal destinatário.
Significa dizer que ainda que o recurso tenha uma questão justa a ser debatida, o não
cumprimento desses requisitos de admissibilidade, importará em não conhecimento do
recurso pelo Tribunal destinatário (não haverá análise do que foi solicitado).
Um desses requisitos no recurso extraordinário é a demonstração da repercussão
geral.

Por fim, que é a Repercussão Geral?


Para que uma ação chegue ao STF, primeiramente a decisão recorrida deve violar
normas de cunho constitucional (artigos inseridos na Constituição Federal), sendo um
dos requisitos obrigatórios a existência de Repercussão Geral, tema que será melhor
elucidado nos próximos parágrafos.
Em 1988 com a promulgação da Constituição Federal o acesso dos cidadãos brasileiros
ao poder judiciário foi ampliado e com isso o número de ações judiciais apresentou um
crescimento exponencial segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Diante desse cenário, se observou que algumas questões apresentadas aos magistrados
afetavam não apenas o caso apresentado em um processo isolado, mas tinham o
condão de afetar situações semelhantes de toda a sociedade em processos diversos da
mesma natureza.
A Repercussão Geral para o Recurso Extraordinário foi inserida na Constituição através
da Emenda Constitucional nº 45/2004, sendo esta uma das maneiras encontradas para
melhoria da gestão processual das ações no Brasil. Assim, a repercussão geral é
prevista no art. 102, § 3º da Constituição Federal e no art. 1.035 do Código de Processo
Civil, respectivamente:
Art. 102. “Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da
Constituição, cabendo-lhe:
§ 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a Repercussão Geral
das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o
Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela
manifestação de dois terços de seus membros.
Art. 1.035. O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do
recurso extraordinário quando a questão constitucional nele versada não tiver
Repercussão Geral, nos termos deste artigo.
§ 1º Para efeito de Repercussão Geral, será considerada a existência ou não de
questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que
ultrapassem os interesses subjetivos do processo.
§ 2º O recorrente deverá demonstrar a existência de Repercussão Geral para
apreciação exclusiva pelo Supremo Tribunal Federal.”
A Repercussão Geral é classificada como um instrumento processual que possibilita o
acesso à mais alta Corte do país, o STF. É um requisito que deve ser enfrentado pelos
interessados que desejam apresentar seus recursos ao conhecimento do STF.
Seguramente, este filtro tem como objetivo primeiro reduzir o número de processos
que chegam na Suprema Corte, viabilizando o acesso somente dos casos que
transcendam os interesses subjetivos das partes (a análise do recurso irá gerar
repercussões em vários outros processos semelhantes). Ou seja, otimiza o trabalho de
toda a máquina judiciária, garantindo celeridade nas decisões finais de casos
semelhantes.
Esse procedimento se justifica, pois garante a realização do direito fundamental à uma
tutela jurisdicional (função do Estado de dirimir, pacificar e resolver conflitos
judicializados) efetiva num prazo razoável (art. 5º, inc. LXXVIII da CFRB), em outras
palavras, assegura uma decisão final mais ágil ao processo judicial.
Além disso, organiza a atividade judiciária, deixando para as instâncias inferiores julgar
os casos que interessam apenas aqueles que fazem parte da discussão, como por
exemplo, furto de galinha, briga de vizinhos entre outros e para que o STF examine
apenas aquilo que repercute em toda a sociedade e que, portanto, precisa de um olhar
mais apurado.
A Repercussão Geral também é responsável pela uniformização da interpretação
judicial, haja vista ser competência do STF a interpretação de dúvidas constitucionais
(CF. art. 102), e, evita que a corte suprema pare para decidir várias vezes o mesmo
assunto.
A metodização no elóquio da interpretação judicial serve como verdadeiro norte a ser
seguido pelos demais órgãos do Poder Judiciário, conferindo uma maior segurança
jurídica e evitando conflitos de interpretação sobre as normas constitucionais.

Quais os requisitos para o reconhecimento da Repercussão Geral?


O recurso extraordinário apresentado ao STF passará pela análise dos requisitos de
admissibilidade, para que se possa apurar, dentre outros, a existência ou não da
Repercussão Geral, ou seja, se esse item não estiver previamente demonstrado no
recurso, o STF não irá sequer avaliar os argumentos do caso.
Dessarte, para que seja reconhecida a Repercussão Geral é propício que o recurso:
I. Apresente um debate constitucional relevante do ponto de vista econômico,
político, social e jurídico, pois seu caráter é público e que o julgamento da
matéria é relevante não apenas às partes do processo, mas que os efeitos
da decisão afetam mais pessoas do que aquelas envolvidas na demanda
(CPC. art. 1,035, § 1º).
Alguns exemplos de relevância constitucional que autorizam a interposição do recurso
extraordinário, são ações que discutam sobre:

I. Direitos e Garantias Fundamentais


II. Organização dos Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário)
III. Sistema Tributário Nacional
IV. Ordem Econômica e Financeira
V. Ordem Social

Quanto ao mais, desde a chegada do Código de Processo Civil de 2015, a análise de


admissibilidade (análise dos requisitos) do recurso extraordinário é realizada, em
regra, em duas etapas, isto é, trata-se de competência concorrente, primeiramente
pelo Tribunal inferior, e sendo o recurso admitido (aceito), passa-se à análise do
próprio Supremo Tribunal Federal que efetivamente decidirá a existência da
Repercussão Geral.
Assim, passamos para o segundo tópico de análise do recurso.
II. A existência da Repercussão Geral somente pode ser constatada pelo Supremo
Tribunal Federal, tratando-se aqui de uma competência absoluta, que estando
presente, segue-se a análise do mérito do recurso (CPC. art. 1.035, § 2º).
Ademais, também haverá reconhecimento da Repercussão Geral sempre que:
III. O recurso obtiver a intenção de combater acórdão (decisão do órgão
colegiado de um tribunal) que seja contrário a súmulas (entendimento pacífico de um
tema) ou jurisprudência (decisões recorrentes no mesmo sentido) do STF ou se esse
acórdão tiver reconhecido uma Lei Federal ou Tratado internacional que seja
inconstitucional (a Lei ou o tratado são contrários a Constituição Federal). (CPC. Art.
1.035, § 3º).
Deve ser ressaltado que uma vez constatada a existência da Repercussão Geral, é
possível ainda a manifestação de terceiros (pessoas, órgãos, associações, partidos
políticos etc.) que não fazem parte do processo, mas que poderão colaborar no
processo, pluralizando o debate, apresentando elementos de informação que
contribuam para a discussão da matéria constitucional a ser apreciada pelos Ministros
da Corte Superior. (CPC. Art. 1.035, §4º).
Se a repercussão geral exige que o debate no recurso seja relevante para toda a
sociedade, nada mais justo que o maior número de interessados contribua na decisão a
ser tomada.
CONCLUSÃO:
Por todo o exposto, fica claro que a Repercussão Geral é um requisito de grande
importância dentre outros requisitos de admissibilidade do Recurso Extraordinário,
pois serve como verdadeiro filtro constitucional para obtenção de uma decisão dos
Ministros do STF.
Seu objetivo é trazer celeridade (rapidez) às decisões de casos semelhantes a partir da
análise de um único caso, focando, portanto, em aspectos relevantes do ponto de vista
jurídico, político, social ou econômico.
Por fim, cabe lembrar que o caso julgado pelo STF a partir da decisão denotada,
adequar-se-á de “mentor” aos demais Juízes e Desembargadores no julgamento de
casos semelhantes.
REFERÊNCIAS:
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF). Texto
Constitucional promulgado em 05 de outubro de 1988. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em:
16/08/2021.
BRASIL, Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004 (EC 45/2004). Altera
dispositivos dos arts. 5º,36,52,92, 93, 95, 98, 99, 102, 103, 104, 105, 107, 109,
111,112,114,115,125,126,127,128,129,134 e 168 da Constituição Federal, e acrescenta
os arts.103-A, 103B,111-A e 130-A, e dá outras providências. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc45.htm>.
Acesso em: 16/08/2021.
BRASIL, Lei 13.105, de 16 de março de 2015 (CPC). Código de Processo Civil. Disponível
em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>.
Acesso em: 18/08/2021.
CARDOSO, Bárbara Andreotti. A importância do julgamento do recurso extraordinário
sob o reconhecimento da repercussão geral. 01 de setembro de 2020. Disponível em:
<https://camposebarros.adv.br/importancia-do-julgamento-do-recurso-extraordinario-
sob-o-reconhecimento-da-repercussao-geral/>. Acesso em: 12.08.2021
CNJ Serviço: Saiba a diferença entre repercussão geral e recurso repetitivo. Conselho
Nacional de Justiça, 08 de abril de 2016. Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/cnj-
servico-saiba-a-diferenca-entre-repercussao-geral-e-recursos-repetitivos/>. Acesso em:
22.08.2021.
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado, 15ª edição. São Paulo. Saraiva,
2011.
TORRES, Claudia V. e SILVA, Maria dos R. F. Aplicação e impactos da Repercussão Geral
na admissibilidade do recurso extraordinário no STF. Disponível em
<http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=7448bfbe44167441#:~:text=A
%20repercuss%C3%A3o%20geral%20%C3%A9%20um%20requisito%20intr
%C3%ADnseco%20de%20admissibilidade%20recursal,os%20elementos%3A%20relev
%C3%A2ncia%20e%20transcend%C3%AAncia>. Acesso em: 12.08.2021

Você também pode gostar