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Aula 03
Sumário
8 - Resumo........................................................................................................................................................................................55
9 - Gabarito.......................................................................................................................................................................................57
A Declaração Universal dos Direitos do Homem, proclamada pela Assembleia Geral das Nações
Unidas, em 10 de dezembro de 1948, cravou, em seu artigo V, de que ninguém será submetido a tortura,
nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.
O Brasil figura como signatário de dois tratados internacionais sobre o tema, em que se
compromete a reprimir os delitos de tortura. São eles: a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos
ou Penas Cruéis, Desumanos e Degradantes de 1984 e a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a
Tortura de 1985.
De acordo com o art. 2º da Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos e Degradantes de 1984, cada Estado-Parte adotará as medidas eficazes de caráter legislativo,
administrativo, judicial ou de outra natureza de forma a impedir a prática de atos de tortura em qualquer
território sob sua jurisdição. Em seguida, o art. 4º do citado diploma determina que cada Estado-Parte
providenciará que todos os atos de tortura sejam considerados crimes segundo a sua legislação penal.
Por sua vez, a Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso III, previu como direito fundamental do
cidadão de não ser submetido à tortura. Além do mais, o art. 5º, XLIII, da Constituição Federal, estabeleceu
que a prática de tortura seria crime inafiançável e insuscetível de graça e anistia. Vejamos.
Art. 5º, III, da CF: ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante.
Art. 5º, XLIII, da CF: a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a
prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes
hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.
Inicialmente, no plano infraconstitucional, o assunto foi tratado no art. 233 do Estatuto da Criança e
do Adolescente, ou seja, o primeiro diploma legal a cuidar do assunto foi a Lei nº 8069/90, tendo como
vítima apenas criança e adolescente. Assim, se o ofendido fosse um adulto, a capitulação do fato era
regulada pelo Código Penal (ex: lesão corporal, homicídio, etc.).
Em seguida, a Lei nº 8072/90 (Lei dos Crimes Hediondos) estabelece para a tortura as mesmas
consequências das previstas para o crime hediondo. Tortura é um crime equiparado aos hediondos. Em
resumo, tortura não é crime hediondo, pois não consta do rol taxativo do art. 1º da Lei 8072/90, porém é
um delito equiparado aos hediondos. OBS: A omissão na tortura (art. 1º, §2º, da Lei 9455/97) é o único
delito da Lei de Tortura que não é considerado equiparado aos crimes hediondos.
Foi a Lei 9455/97 que veio estabelecer o que seria o delito de tortura, as suas espécies e penas,
revogando expressamente o art. 233 do ECA1.
Por fim, cabe ainda ressaltar a Lei 12847/13, que institui o Sistema Nacional de Prevenção e
Combate à Tortura. Embora não seja uma lei penal, a lei 12847/13 complementa a Lei 9455/97, anunciando
medidas de prevenção e combate à tortura.
• A Lei nº 9455/97 não exige a condição de autoridade do sujeito ativo. Vale dizer, a
legislação brasileira amplia o sujeito ativo do delito em relação ao preconizado na
Convenção.
No Brasil, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, ao passo que, segundo a Convenção, somente o
funcionário público ou outra pessoa no exercício de função pública;
• No Brasil, o delito de tortura é crime prescritível. As hipóteses de crimes imprescritíveis estão no rol
taxativo da Constituição Federal (art. 5º, XLII2 e XLIV3), não tendo sido a tortura nele contemplado.
1
Art. 4º da Lei 9455/97: Revoga-se o art. 233 da Lei 8069, de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente.
2
Art. 5º, XLII, da CF: a prática de racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da
lei;
3
Art. 5º, XLIV, da CF: constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático;
Questão: Qual é a Justiça competente para processar e julgar os delitos descritos na Lei nº 9455/97?
Em regra, esses fatos serão processados pela Justiça Comum (Federal e Estadual). Se a prática da
tortura violar algum bem, interesse ou serviço da União Federal, suas autarquias ou empresas públicas, a
competência será da Justiça Federal, nos exatos termos do art. 109, IV, da Constituição Federal4. Exemplo:
A tortura é praticada no interior de uma Delegacia da Polícia Federal. Por outro lado, caso tal prática de
tortura não transgrida qualquer interesse da União, o feito será da Justiça Estadual, cuja competência é
residual. Excepcionalmente, em razão da recente alteração promovida no Código Penal Militar pela lei
13491/17, o delito de tortura também pode ser processado e julgado na Justiça Militar, que após o advento
da referida lei passou a ter competência para julgar não só os delitos do Código Penal Militar como
também os descritos
4
Art. 109 da CF: Aos juízes federais compete processar e julgar:
IV – os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas
públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral.
na legislação penal comum. Assim, a Justiça Militar (Federal e Estadual) será competente para processar e
julgar se o fato tiver correspondência com alguma alínea do art. 9º, II, do Código Penal Militar 5.
Questão: Qual será o órgão jurisdicional competente, se a prática da tortura tiver ocorrido em
determinado lugar em lugar distinto do resultado qualificador (ex: lesão corporal grave ou morte da
vítima)? Exemplo: A tortura é praticada na cidade de Belo Horizonte, porém a vítima falece na cidade de
São Paulo durante uma cirurgia realizada em razão da prática da tortura.
Nesse caso, a competência é fixada pelo juízo criminal em que se constatou o resultado qualificador
(São Paulo). Logo, adota-se a teoria do Resultado.
5
Art. 9º do Código Penal Militar: Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado;
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou
reformado, ou assemelhado, ou civil;
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do
lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, reformado, ou civil;
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem
administrativa militar.
2 – CRIMES
I – Constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico
ou mental:
Primeiramente, vale destacar que o inciso I apresenta três figuras caracterizadoras do delito de
tortura (tortura-prova, tortura para a prática de crime e tortura discriminatória). Na verdade, são três
figuras delituosas que apresentam o mesmo nomem juris. Essas figuras delituosas são idênticas quanto aos
meios de execução, sujeitos ativo e passivo, objetividade jurídica, consumação, tentativa e ação penal. O
que as diferenciam é justamente a motivação do torturador.
Objetividade jurídica: A incolumidade física e mental das pessoas, assim como a dignidade da
pessoa humana.
Sujeito ativo: Cuida-se de um crime comum (ou geral), ou seja, é um delito que pode ser cometido
por qualquer pessoa. Como vimos, nesse aspecto a legislação brasileira é mais ampla quando comparada
com a Convenção Internacional, vez que essa última consigna que a prática delitiva de tortura deve ser
cometida pelos agentes estatais. Registre-se ainda que se cometido por policial (militar ou civil) ou outro
agente público, haverá a incidência da causa de aumento de 1/6 até 1/3, conforme determina o art. 1º,
§4º, I, da Lei 9455/976.
6
Art. 1º, §4º, da Lei 9455/97: Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
Sujeito passivo: É a pessoa que sofre violência ou grave ameaça e, eventualmente, terceiros
diretamente prejudicados com a prática da tortura. Exemplo: Investigador de polícia tortura a mãe para
obter a confissão do filho. No entanto, se a vítima for gestante, idoso (maior de 60 anos), portador de
deficiência física ou mental, criança, ou adolescente, a pena é aumentada de 1/6 a 1/3 , segundo estatui o
art. 1º, §4º, II, da Lei 9455/977.
Elemento objetivo do tipo: O núcleo do tipo penal é o verbo constranger, que significa forçar,
obrigar, fazer algo que não queira.
A Lei elenca como formas de execução a violência própria e a grave ameaça. Observe que o tipo
penal não faz menção à violência imprópria (redução da vítima à impossibilidade de resistência. Exemplo:
hipnose).
Violência corresponde a qualquer ataque físico a pessoa. Exemplo: soco, pontapé, mordidas, etc. Já
grave ameaça constitui uma intimidação, promessa de mal futuro e sério. Exemplo: Ameaça de morte.
Sofrimento físico ou mental é o sofrimento desnecessário e cruel do ser humano, que pode se dar
em seu corpo (sofrimento físico) ou em sua mente (sofrimento mental), por meio da inflição de tormentos.
Conflito aparente de norma entre o delito de tortura e o de constrangimento ilegal: Essa situação
é resolvida pelo princípio da especialidade (lex specialis derrogat legi generali), ou seja, lei especial afasta a
aplicação da lei geral. Lei especial é a que, além de conter todos os elementos da norma geral, também
possui alguns elementos especializantes. No caso, a lei especial é o crime de tortura (art. 1º, I, da Lei
9455/97). Segundo o professor Gabriel Habib, a especialidade reside no dolo do agente, uma vez eu a sua
pretensão é obter da vítima ou de terceira pessoa informação, declaração ou confissão; obrigar a vítima a
praticar um crime ou discriminá-la em razão de raça ou religião8.
Questão: É possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos no crime
de tortura (art. 1º, I, da Lei 9455/97)?
7
Art. 1º, §4º, da Lei 9455/97: Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos;
8
HABIB, Gabriel. Leis Penais Especiais. 10ª ed. Salvador: JusPodvm, 2018, p. 1074.
A resposta é negativa, porquanto um dos requisitos para tal substituição é o crime não ter sido
cometido com violência ou grave ameaça à pessoa (art. 44, I, do Código Penal. Esse é também o
entendimento do Superior Tribunal de Justiça:
1. A obrigatoriedade do regime inicial fechado prevista na Lei do Crime de Tortura foi superada pela
Suprema Corte, de modo que a mera natureza do crime não configura fundamentação idônea a justificar a
fixação do regime mais gravoso para os condenados pela prática de crimes hediondos e equiparados. Para
estabelecer o regime prisional, deve o magistrado avaliar o caso concreto, seguindo os parâmetros
estabelecidos pelo artigo 33 e parágrafos do Código Penal.
2. Tratando-se de pacientes primários, com circunstâncias judiciais favoráveis, que levaram à fixação da
pena-base no mínimo legal, e diante do quantum da pena final, inferior a 4 anos, de rigor a fixação do
regime prisional aberto.
3. A substituição da pena por medidas restritivas de direitos não é cabível, nos termos do art. 44, I, do
Código Penal, pois o delito foi cometido mediante violência.
4. Writ não conhecido. Ordem concedida de ofício para, confirmando a liminar, garantir que os pacientes
iniciem o cumprimento da reprimenda no regime aberto. (HC 333.905/MG, Rel. Ministra MARIA THEREZA
DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 17/09/2015, DJe 07/10/2015).
Elemento subjetivo do tipo: É o dolo. Repare que o tipo penal ainda exige um fim especial
(motivação do agente – dolo específico). O crime de tortura em tema assume 3 formas distintas de acordo
com a motivação do agente:
obter a confissão da
dívida. Esse crime consuma-se com a provocação do sofrimento físico ou mental da vítima, dispensando a
obtenção da informação desejada pelo agente. A tentativa é possível, porquanto estamos diante de um
delito plurissubsistente, isto é, a conduta pode ser fracionada em diversos atos.
B) Tortura Crime (Tortura para a prática de crime - art. 1º, I, “b”, da Lei 9455/97) : o agente resolve
torturar a vítima para obrigá-la a cometer uma conduta criminosa (por ação ou omissão) . Exemplo: Tício
tortura Paulo para que este furte a empresa que trabalha. Na espécie, existirá coação moral irresistível (art.
22 do Código Penal), causa excludente de culpabilidade baseada na inexigibilidade de conduta diversa,
respondendo pelos delitos apenas o autor da coação, em concurso material de crimes. Esse crime
consuma- se com a provocação do sofrimento físico ou mental da vítima, dispensando a ocorrência da
conduta criminosa por parte da vítima. A tentativa é possível, porquanto estamos diante de um delito
plurissubsistente, isto é, a conduta pode ser fracionada em diversos atos.
Questão: Constitui o delito de tortura (art. 1º, I, “b”, da Lei 9455/97) se o agente pratica tortura
alguém para obrigá-lo a cometer uma contravenção penal (ex: jogo do bicho)?
A resposta é negativa, vez que o tipo penal da tortura não menciona a contravenção penal.
Pensamento diverso configuraria a indevida a analogia in mallan partem, situação não aplicável às normas
penais incriminadoras.
Sem qualquer um desses motivos específicos descritos no tipo penal (discriminação racial ou
religiosa), o emprego de violência física ou a grave ameaça podem configurar outro delito, mas não o de
tortura (exemplos: lesão corporal, ameaça, constrangimento ilegal, abuso de autoridade, etc.). É
exatamente que ocorrerá se a discriminação tiver caráter sexual ou político.
com essas finalidades serão enquadradas em outros delitos (lesão corporal, constrangimento ilegal, etc.),
mas não serão consideradas como tortura.
Por fim, cabe ainda acrescentar que o delito de tortura absorve delitos menores em razão do
emprego e violência ou grave ameaça (ex: lesão corporais leves, maus-tratos, constrangimento ilegal), com
base no princípio da consunção.
II – Submeter alguém, sob guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave
ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de
caráter preventivo.
Objetividade jurídica: A incolumidade física e mental das pessoas, assim como a dignidade da
pessoa humana.
Sujeito ativo: Cuida-se de um crime próprio, ou seja, é um delito que exige uma condição especial
do agente. No caso, o agente somente pode ser quem tem guarda, poder ou autoridade em relação à
vítima. Exemplos: pais contra filho; enfermeiro contra paciente, etc.). Lembre-se ainda que se cometido por
policial (militar ou civil) ou outro agente público, haverá a incidência da causa de aumento de 1/6 até 1/3,
conforme determina o art. 1º, §4º, I, da Lei 9455/979.
Sujeito passivo: O tipo penal também exige uma qualidade da vítima, ou seja, também é um crime
próprio em relação ao ofendido, que necessariamente deve ser alguém sujeito à guarda, autoridade, ou
vigilância do torturador. Estamos diante de um crime bipróprio (delito que exige uma qualidade especial
tanto do sujeito ativo como do sujeito passivo). Se a vítima for gestante, idoso (maior de 60 anos), portador
9
Art. 1º, §4º, da Lei 9455/97: Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
de deficiência física ou mental, criança, ou adolescente, a pena é aumentada de 1/6 a 1/3, segundo estatui
o art. 1º, §4º, II, da Lei 9455/9710.
De acordo com o professor Gabriel Habib, guarda significa vigilância permanente. Poder decorre do
exercício de cargo ou função pública. Autoridade está ligada às relações privadas, como ocorre com o
tutelado, curatelado, filhos etc.11
Elemento objetivo do tipo: O núcleo do tipo penal é o verbo submeter, que significa subjugar,
submeter, dominar a vítima.
A Lei elenca como formas de execução a violência e a grave ameaça. Violência corresponde a
qualquer ataque físico a pessoa. Exemplo: soco, pontapé, mordidas, etc. Já grave ameaça constitui uma
intimidação, promessa de mal futuro e sério. Exemplo: Ameaça de morte.
O tipo penal ainda exige ainda que a conduta do agente provoque como resultado um intenso
sofrimento físico ou mental.
Elemento normativo do tipo: está consubstanciado nos termos “intenso sofrimento físico ou
mental”. Caberá ao magistrado diante do caso concreto realizar um juízo de valor para aferir se houve, ou
não, intenso sofrimento físico ou mental causado por violência ou grave ameaça.
Sofrimento físico ou mental é o sofrimento desnecessário e cruel do ser humano, que pode se dar
em seu corpo (sofrimento físico) ou em sua mente (sofrimento mental), por meio da inflição de tormentos.
Elemento subjetivo do tipo: É o dolo. O tipo penal exige ainda uma finalidade específica (dolo
específico), qual seja, o agente deve praticar a tortura como forma de aplicar castigo (exemplos: babá que
agride uma criança em razão dela ter feito xixi na cama; Cuidadora que agride uma idosa em virtude dela
ter defecado na própria roupa) ou medida de caráter preventivo (exemplo: professor tortura aluno para
que chegue pontualmente às aulas).
10
Art. 1º, §4º, da Lei 9455/97: Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos;
11
HABIB, Gabriel. Leis Penais Especiais. 10ª ed. Salvador: JusPodvm, 2018, p. 1078.
Se existir abuso dos meios de correção, sem ocasionar intenso sofrimento físico ou mental,
caracteriza-se o crime de maus-tratos (art. 136 do Código Penal12).
Tentativa: é possível. Estamos diante de um crime plurissubsistente, isto é, a conduta pode ser
fracionada em vários atos.
Art. 1º, §1º, da Lei 9455/97: Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a
medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto
em lei ou não resultante de medida legal.
12
Art. 136 do CP: Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação,
ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo
ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:
§3º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço), se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) anos.
Objetividade jurídica: a incolumidade física e mental das pessoas, mais precisamente a dignidade
do preso ou de pessoa sujeita a medida de segurança, nos termos do artigo 5º, inciso XLIX 13 e do art. 38 do
Código Penal14.
Sujeito ativo: Cuida-se de crime próprio, pois o agente deve ser pessoa encarregada de zelar pelo
preso ou pelo doente mental que cumpre medida de segurança. Exemplo: O carcereiro em relação ao
preso. Observe que nesse delito há necessariamente uma relação de custódia entre o sujeito ativo entre o
sujeito ativo e o sujeito passivo.
Sujeito passivo: É o preso (por motivação criminal, civil ou administrativa) ou a pessoa sujeita a
medida de segurança. Dessa forma, a expressão “preso” abrange os condenados definitivamente e os
provisoriamente detidos, presos por inadimplemento de pensão alimentícia e os menores infratores
internados. Já o termo “pessoa sujeita a medida de segurança” diz respeito aos que estão em tratamento
ambulatorial ou internado em manicômio judiciário.
Elemento subjetivo do tipo: De modo diverso dos crimes analisados anteriormente, o dolo é
genérico, ou seja, não existe nenhuma finalidade específica. Vejamos um julgado do Superior Tribunal de
Justiça sobre o assunto:
13
Art. 5º, XLIX, da CF: é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
14
Art. 38 do CP: O preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda de liberdade, impondo-se a todas as autoridades o
respeito à sua integridade física e moral.
9.455/1997. Essa modalidade de tortura, ao contrário das demais, não exige especial fim de agir por parte
do agente para configurar-se, bastando o dolo de praticar a conduta descrita no tipo objetivo. Já o Estado
democrático de direito repudia o tratamento cruel dispensado por seus agentes a qualquer pessoa,
inclusive presos. Conforme o art. 5º, XLIX, da CF/1988, os presos mantêm o direito à intangibilidade de sua
integridade física e moral. Desse modo, é inaceitável impor castigos corporais aos detentos em qualquer
circunstância, sob pena de censurável violação dos direitos fundamentais da pessoa humana. Anote-se, por
último, que a revaloração de prova ou de dados explicitamente admitidos e delineados no decisório
recorrido, quando suficientes para a decisão da questão, tal como se deu na hipótese, não implica reexame
da matéria probatória vedada na via especial (Súm. n. 7-STJ). No especial, não se pode examinar mera
quaestio facti ou error facti in iudicando, contudo não há óbice ao exame do error iuris in iudicando (tal
qual o equívoco na valoração de provas) e o error in procedendo. Com esse entendimento, a Turma, ao
prosseguir o julgamento, por maioria, deu provimento ao especial. Precedente citado: REsp 184.156-SP, DJ
9/11/1998. REsp 856.706-AC, Rel. originária Min. Laurita Vaz, Rel. para acórdão Min. Felix Fischer, julgado
em 6/5/2010.
Elemento normativo do tipo: concentra-se nos termos “não previsto em lei ou não resultante de
medida legal. Observe que nesse delito o meio empregado não é violência e nem grave ameaça, mas sim a
prática de ato previsto em lei ou não resultante de medida legal. Exemplos: Colocar o preso numa cela
completamente escura; Carcereiro coloca o menor infrator sem roupa no pátio em dia frio; Colocar o preso
em regime disciplinar diferenciado sem fundamento na Lei de Execução Penal.
Tentativa: É possível. Cuida-se de crime plurissubsistente, ou seja, a execução delitiva pode ser
fracionada em diversos atos.
Questão: Por qual delito responde o agente que causa vexame ou constrangimento ao preso, sem
acarretar sofrimento físico ou mental?
Responderá pelo delito de abuso de autoridade, nos exatos termos do art. 4º, “b”, da Lei 4898/65 15.
Se for adolescente ou criança, o crime será do art. 232 do Estatuto da Criança e do Adolescente 16.
Art. 1º, §2º, da Lei 9455/97: Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever
de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.
Pela redação do art. 1º, §2º, da Lei 9455/97 nota-se a existência de duas omissões: a) omissão
imprópria – quando o agente se omite em face da tortura, embora tivesse o dever de evitá-la (art. 13, §2,
do Código Penal17); b) omissão própria – quando o agente se omite em face da tortura ao não realizar a
apuração. Essas 2 condutas omissivas são punidas com pena de detenção de 1 a 4 anos.
Analisaremos agora a primeira omissão, ou seja, quando o agente tinha o dever de evitar a tortura
(OMISSÃO IMPRÓPRIA). O agente podia e devia agir para evitar a ocorrência do resultado, nos exatos
termos do art. 13, §2º, do CP. Exemplo: Comandante da Polícia Militar, mesmo ciente que seus soldados
preparam uma tortura em face de um preso para que esse confessa um delito, não toma nenhuma atitude
para evitar a prática criminosa. Na espécie, o Comandante responderá pelo art. 1º, § 2º da Lei 9455/95
(pena de detenção de 1 a 4 anos), ao passo que os soldados responderão pelo art. 1º, §1º, “a”, da Lei de
Tortura (pena de reclusão de 2 a 8 anos). Repare que se o art. 1º, §2º, da Lei 9455/97 não existisse no
ordenamento jurídico
15
Art. 4º, “b”, da Lei 4898/65: Constitui abuso de autoridade:
b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei;
16
Art. 232 da Lei 8069/90: Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a
constrangimento.
Pena – detenção de seis meses a dois anos. vigilânciaa sofrimento físico ou mental
17
Art. 13, §2º, do CP: A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de
agir incumbe a quem:
o agente sofreria a mesma pena dos torturadores (art. 1º, §2º, da Lei 9455/97), com base no art. 13, §2º,
do Código Penal, porquanto responde pelo resultado aquele que deve e pode agir para evita-lo e não o faz.
Além disso, o art. 1º, §2º, da Lei 9455/97 também destoa do art. 5º, XLIII, da Constituição Federal 18, o qual
determina que o agente omitente deve responder, igualmente, pelo crime de tortura, ou seja, o omitente
deveria ter a mesma consequência dada aos executores.
Diante desse conflito entre a Constituição Federal/Código Penal e a lei nº 9455/97 surgiram 3
correntes:
1ª Corrente: Estamos diante de uma exceção pluralística à teoria monista, ou seja, uma exceção
expressamente prevista em lei. É a corrente dominante.
2ª Corrente: A parte do art. 1ª, §2º, da Lei 9455, que versa sobre a omissão imprópria, é inconstitucional,
pois não está em sintonia com o mandado constitucional estampado no art. 5º, XLIII, da CF que equipara
o torturador com o omitente impróprio.
3ª Corrente: A pena do art. 1º, §2º, da Lei 9455/97 diz respeito apenas ao crime de omissão culposa.
Crítica a esse posicionamento: Os crimes culposos devem ser expressamente descritos em lei (art. 18, §
único, do Código Penal).
A 2ª parte do art. 1º, §2º, da Lei 9455/97 refere-se ao agente que tinha o dever de apurar a tortura
e não o faz (OMISSÃO PRÓPRIA). Repare que nesse momento a tortura já ocorreu. Exemplo: Delegado de
Polícia que não instaura o competente procedimento investigativo para apurar tortura praticada por seus
investigadores de polícia.
Objetividade jurídica: A Administração da Justiça, que é prejudicada com a atitude de quem devia
evitar e apurar o delito do crime de tortura.
Sujeito ativo: quem tinha o dever de evitar e apurar a comportamento delituoso de tortura e não o
faz. Exemplos: Autoridade policial que nada faz ao tomar conhecimento de tortura praticada por seus
agentes; Mãe que não tomou qualquer providência para evitar a tortura praticada pelo seu marido em face
de seu filho. É crime próprio.
OBS: Não haverá a incidência da majorante descrita no art. 1º, §4º, I, da Lei 9455/97 (crime
cometido por agente público) sob de caracterizar o indevido bis in idem, isto é, um fato penal sendo
valorado por duas vezes.
18
Art. 5º, XLIII, da CF: a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática de tortura, o tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;
Elemento objetivo do tipo: Como já vimos, é a omissão. Quando o agente tinha o dever de evitar a
tortura e não o faz – a omissão é imprópria. Dever de evitar consiste no dever de impedir a ocorrência da
prática de qualquer modalidade de tortura descrita na lei. De outro lado, quando o agente não apura a
prática da tortura – a omissão é própria. Dever de apurar é o dever de averiguar, investigar a ocorrência da
prática de qualquer modalidade de tortura descrita na lei.
Elemento subjetivo: É o dolo genérico, isto é, o tipo penal não exige nenhuma finalidade específica.
No conflito aparente entre o delito do art. 1º, §2º, da Lei 9455/97 e o crime de prevaricação , aplica-se o
princípio da especialidade para resolver a celeuma, sendo o crime da Lei de Tortura a norma especial
quando cotejada com o crime de prevaricação (art. 319 do CP19). Além do mais, não é demais lembrar que
o delito de prevaricação exige uma finalidade específica, qual seja, satisfazer interesse ou sentimento
pessoal.
Estamos diante de um crime descrito na Lei de Tortura, porém não é um delito de tortura.
Em razão da pena mínima não ultrapassar 1 ano, admite-se a suspensão condicional do
processo (art. 89 da Lei 9099/95).
FORMAS QUALIFICADAS
Art. 1º, §3º, da Lei 9455/97: Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de
reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.
19
Art. 319 do CP: Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para
satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
O art. 1º, §3º, da Lei 9455/97 cuida da tortura qualificada pelo resultado, ou seja, o
resultado qualificador decorre da violência empregada para a prática da tortura. Em outros termos, o
parágrafo 3º traz duas qualificadoras aplicáveis ao delito de tortura, que são:
Lesão corporal grave (art. 129, §1º, do CP20) ou gravíssima (art. 129, §2º, do Código
Penal21);
Morte
Questão: E se o agente age com dolo no resultado qualificador (lesão corporal ou morte?
Nesse caso haverá um concurso de crimes entre a tortura e os outros delitos (lesão corporal ou
homicídio).
OBS: Não confunda homicídio qualificado pela tortura e a tortura qualificada pela morte. No
homicídio qualificado pela tortura, o resultado morte advém de maneira dolosa (o agente quer a morte ou
20
Art. 129, §1º, do CP: Se resulta:
II - perigo de vida;
IV - aceleração de parto;
21
Art. 129, §2º, do CP: Se resulta:
II – enfermidade incurável;
IV – deformidade permanente;
V - aborto
assumir o risco de produzi-la), ou seja, o agente age com animus necandi. De outro lado, na tortura
qualificada pela morte, o resultado qualificador (morte) ocorre à título de culpa – é um crime preterdoloso.
OBS 2: Caso o agente provoque lesão corporal leve na vítima não há que se falar na incidência do art.
1º, §3º, da Lei 9455/97, pois a lesão corporal leve já figura como elementar do tipo penal.
Predomina na doutrina que a qualificadora somente é aplicável na tortura ativa (art. 1º, I, II e III e §
1º, todos da Lei 9455/97). Não tem aplicação na omissão perante a tortura (art. 1º, §2º, da Lei 9455/97).
Art. 1º, §4º, da Lei 9455/97: Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
Inicialmente, vale destacar que as majorantes (causas de aumento da pena) são aplicáveis a todas
as modalidades de tortura.
Inciso I – Se o crime é cometido por agente público. O termo agente público deve ser
compreendido nos exatos termos do art. 327, caput, do Código Penal, in verbis: Considera-se funcionária
público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo,
emprego ou função. Para evitar o indevido bis in idem, essa causa de aumento não tem aplicação ao
delito previsto no art. 1º,
§1º, caso o agente seja um funcionário público, nem ao art. 1º, §2º, segunda parte, vez que a condição de
agente público já consta como elementares dessas figuras típicas.
coabitação ou hospitalidade, além dos casos de violência doméstica praticada contra a mulher. Portanto, a
aplicação conjunta dos dois dispositivos não configura bis in idem22. Esse é o atual entendimento do Superior
Tribunal de Justiça:
2. Não há se falar em bis in idem quando as circunstâncias judiciais valoradas pelo magistrado vão além da
descrição genérica e abstrata do delito contida no próprio tipo, ressaltando a gravidade em concreto do
crime. Dever de fundamentação atendido.
3. Haja vista a existência de fundamentos díspares, não há falar em bis in idem na aplicação conjunta da
causa de aumento de pena prevista no art. 1º, §4º, II, da Lei de Tortura, e da agravante genérica estatuída
no art. 61, II, "f", do Código Penal. Com efeito, a majorante tem por finalidade punir de forma mais severa
aquele que se favorece da menor capacidade de resistência da vítima, ao passo que a agravante tem por
desiderato a punição mais rigorosa do agente que afronta o dever de apoio mútuo existente entre parentes
e pessoas ligadas por liames domésticos, de coabitação ou hospitalidade, além dos casos de violência
doméstica praticada contra a mulher.
4. Writ não conhecido.(HC 362.634/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA,
julgado em 16/08/2016, DJe 29/08/2016).
22
HABIB, Gabriel. Leis Penais Especiais. 10ª ed. Salvador: JusPodvm, 2018, p. 1087.
Inciso III – Se o crime é cometido mediante sequestro. Haverá a aplicação dessa majorante apenas quando
o sequestro (a privação da liberdade) for meio para a prática de tortura. De forma contrária, ocorrerá
concurso de crimes entre a tortura e sequestro ou cárcere privado (art. 148 do Código Penal).
Art. 1°, §5º, da Lei 9455/97: A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a
interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.
Os efeitos da condenação por qualquer dos delitos descritos na Lei 9455/97, inclusive na
modalidade omissiva – art. 1º, §2º, são automáticos, isto é, não necessita de qualquer motivação do Juiz
no momento da confecção da sentença condenatória. Ao contrário do que ocorre no art. 92, I, do Código
Penal em que o efeito da condenação depende de expressa motivação constante no ato sentencial 23, na Lei
de Tortura tal efeito extrapenal secundário específico é automático, ou seja, independe de expressa
motivação declarada na sentença. Esse é o entendimento atual do Superior Tribunal de Justiça:
1. O STJ, assim como o STF, não conhece de habeas corpus utilizado em substituição ao recurso próprio ou
à revisão criminal, a menos que, à vista da flagrante ilegalidade do ato apontado como coator, em prejuízo
da liberdade do paciente, seja cogente a concessão, de ofício, da ordem.
2. A Excelsa Corte, aliás, nos termos de sua Súmula n. 694, entende que nem sequer "cabe habeas corpus
contra imposição da pena de exclusão de militar ou perda de patente ou função pública" [...] (HC n.
131.828/RJ, Rel. Ministra Laurita Vaz, 5ª T., DJe 2/12/2013).
23
Art. Art. 92, parágrafo único, do CP: Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente
declarados na sentença.
3. Consoante a sedimentada jurisprudência do STJ, "a perda do cargo, função ou emprego público é efeito
automático da condenação pela prática do crime de tortura, não sendo necessária fundamentação
concreta para a sua aplicação" (AgRg no Ag n. 1.388.953/SP, Rel. Ministra Maria Thereza Rocha de Assis
Moura, 6ª T., DJe 28/06/2013).
4. Agravo regimental não provido. (AgRg no HC 298.751/PB, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA
TURMA, julgado em 27/06/2017, DJe 01/08/2017)
A interdição para o exercício de cargo, emprego ou função pública não será perpétua, mas sim pelo
dobro da pena aplicada. Assim decorrido o prazo, o condenado poderá assumir novo cargo, emprego ou
função, porém jamais será reintegrado na situação jurídica anterior.
(CESPE/Defensor Público do Rio Grande do Norte/2015) A condenação de policial civil pelo crime de tortura
acarreta, como efeito automático, independentemente de fundamentação específica, a perda do cargo e a
interdição para seu exercício pelo dobro da pena aplicada.
Comentário: O item está correto. Como vimos, a condenação pelos crimes descritos na Lei 9455/97 geram
dois efeitos extrapenais: perda cargo público e a interdição para o seu exercício pelo dobro do prazo da
pena aplicada. Tais efeitos são automáticos, ou seja, não necessitam constar expressamente da sentença
penal condenatória.
Art. 1°, §6º, da Lei 9455/97: O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.
Fiança. Antes da edição da lei 11464/07, o art. 2º, inciso II, da Lei nº 8072/90 vedava expressamente
a concessão de liberdade provisória e fiança aos crimes hediondos e aos equiparados a esses (tortura,
terrorismo e tráfico ilícito de entorpecente). O art. 1º, §6º, da Lei 9455/97 repete essa vedação ao delito de
tortura. Aliás, existia até a súmula 697 do STF25 que ratificava essa proibição.
Com o advento da Lei 11464/07, o art. 2º, inciso II, da Lei 8072/90 foi alterado, passando a ser
defeso tão somente a concessão de fiança. Com isso, o magistrado diante do caso concreto pode conceder
liberdade provisória sem fiança. Por sua vez, a súmula 697 do STF 26 perdeu seu sentido com o ingresso da
Lei 11464/07 no ordenamento jurídico.
24
Art. 5º, XLIII, da CF: a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.
25
Súmula 697 do STF: A proibição de liberdade provisória nos processos por crimes hediondos não veda o relaxamento da prisão
processual por excesso de prazo.
26
Súmula 697 do STF: A proibição de liberdade provisória nos processos por crimes hediondos não veda o relaxamento da prisão
processual por excesso de prazo.
OBS: O art. 44 da Lei 11343/06 proíbe expressamente a concessão de liberdade provisória ao crime
de tráfico de drogas. Embora a lei de drogas seja uma lei especial, a jurisprudência é pacífica em admitir a
aplicação da Lei 11464/07 também ao crime de tráfico de drogas.
Para ficar bem claro, nos dias atuais, os acusados por crimes hediondos, terrorismo, tortura e tráfico
ilícito de drogas podem ser agraciados com a liberdade provisória sem fiança, bem como ter a sua prisão
relaxada por excesso de prazo para a formação de culpa ou outro motivo legal (vício no auto de prisão em
flagrante delito, etc.).
A resposta é negativa. Afinal de contas, indulto é a graça coletiva. Portanto, incabível a sua concessão,
segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal.
A resposta é positiva. Todavia, de acordo com o art. 83, V, do Código Penal, esse condenado apenas
poderá obter o livramento condicional após o cumprir mais de dois terços da pena privativa de liberdade.
Em caso de reincidência específica, esse condenado não fará jus ao livramento condicional. Com o advento
da Lei nº 13694/19, também conhecida como pacote anticrime, com vigência desde 23 de janeiro de 2020,
restou estabelecido no art. 112, incisos VI, “a”, e VIII da LEP que o condenado por crime hediondo ou
equiparado, com resultado morte, ainda que primário, não fará jus ao livramento condicional. Por ser
uma novatio legis in pejus, não há que se falar em eficácia retroativa, sob pena de violar o disposto no art.
5º, XL, da Constituição Federal.
Progressão de regime: O agente condenado por crime de tortura poderá obter a progressão de
regime depois de cumprir dois quintos (2/5) da pena, se primária, ou três quintos (3/5), se reincidente (art. 2º,
§2º, da Lei 8072/90, com redação dada pela Lei 11464/2007). Com o advento da Lei nº 13.694/19, também
conhecida como pacote anticrime, com vigência desde 23 de janeiro de 2020, restou estabelecido no art. 112,
incisos VI, “a”, e VIII da LEP que o condenado por crime hediondo ou equiparado poderá progredir se: a)
cumprir 40%
(quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado,
se for primário; b) cumprir 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for: 1) condenado pela
prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário, vedado o livramento
condicional; 2) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa
estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado; ou; c) cumprir 60% (sessenta por cento) da
pena, se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo ou equiparado; c) cumprir 70%
(setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou equiparado com
resultado morte, vedado o livramento condicional. A lei nº 13.694/19, por ser uma novatio legis in pejus,
não goza de eficácia retroativa, sob pena de violar o disposto no art. 5º, XL, da Constituição Federal.
Art. 1°, §7º, da Lei 9455/97: O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo hipótese do §2º, iniciará o
cumprimento da pena em regime fechado.
Súmula 718 do STF: A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui
motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada.
Súmula 719 do STF: A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada
permite exigir motivação idônea.
Em resumo, não é obrigatório que o apenado por crime de tortura inicie o cumprimento de sua
reprimenda em regime fechado. Vejamos um julgado do Superior Tribunal de Justiça sobre o assunto:
1. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal e ambas as Turmas desta Corte, após evolução
jurisprudencial, passaram a não mais admitir a impetração de habeas corpus em substituição ao recurso
ordinário, nas hipóteses em que esse último é cabível, em razão da competência do Pretório Excelso e
deste Superior Tribunal tratar-se de matéria de direito estrito, prevista taxativamente na Constituição da
República.
2. Esse entendimento tem sido adotado pela Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, com a ressalva
da posição pessoal desta Relatora, também nos casos de utilização do habeas corpus em substituição ao
recurso especial, sem prejuízo de, eventualmente, se for o caso, deferir-se a ordem de ofício, em caso de
flagrante ilegalidade.
3. É flagrante o constrangimento ilegal em relação à fixação do regime inicial fechado com base no art. 1.º,
§ 7.º, da Lei de Tortura.
4. Com a declaração pelo Pretório Excelso da inconstitucionalidade do regime integral fechado e do § 1.º do
art. 2.º da Lei de Crimes Hediondos, com redação dada pela lei n.º 11.464/2007 - também aplicável ao
crime de tortura -, o cumprimento da pena passou a ser regido pelas disposições gerais do Código Penal.
Porém, consideradas desfavoráveis as circunstâncias judiciais do caso concreto, cabível aplicar inicialmente
o regime prisional semiaberto, atendendo ao disposto no art. 33, c.c. o art. 59, ambos do Código Penal.
5. Writ não conhecido. Ordem de habeas corpus concedida, de ofício, apenas para fixar o regime inicial
semiaberto. (HC 286.925/RR, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 13/05/2014, DJe
21/05/2014)
Art. 2º da Lei 9455/97: O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido
em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição
brasileira.
A) Se o ofendido da tortura for brasileiro, aplica-se a Lei 9455/97, pouco importando se o agente
ingressou em território nacional. Cuida-se de nova hipótese de extraterritorialidade
incondicionada, ou seja, aplica-se a lei 9455/97 para crime cometido fora do território nacional
se a vítima for brasileira, independentemente de qualquer condição. No caso não se aplica a
regra do art. 7º, §3º, do Código Penal.
B) A lei nº 9455/97 será aplicada se o autor da tortura estiver em local sob jurisdição brasileira,
independente da nacionalidade do autor da tortura e da vítima.
a) 45 anos.
b) 50 anos.
c) 55 anos.
d) 60 anos.
_____________________________________________________________
4. (FGV/OAB — 2010.3) A tortura, conduta expressamente proibida pela Constituição Federal e lei
específica,
a) se reconhecida, não implicará aumento de pena, caso seja cometida por agente público.
b) pode ser praticada por meio de uma conduta comissiva (positiva, por via de uma ação) ou omissiva
(negativa, por via de uma abstenção).
c) exige, na configuração, que o autor provoque lesões corporais na vítima ao lhe proporcionar sofrimento
físico com emprego de violência.
_____________________________________________________________
5. (FEPESE- Promotor de Justiça- SC/2014). Analise o enunciado da questão abaixo e assinale se ele é
falso ou verdadeiro:
Conforme doutrina majoritária, a tortura qualificada pelo resultado morte, prevista no artigo 1º, §3º, da
Lei nº 9.455/97, é classificada como de resultado preterdoloso. Entretanto, se o agressor, em sua ação,
deseja ou assume o risco de produzir o resultado morte, não responde pelo tipo acima, mas por
homicídio qualificado.
I. Constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou
mental, em razão de discriminação racial ou religiosa, configura crime de tortura, delito esse equiparado
a hediondo.
II. Submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça,
a sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo,
configura crime de tortura, delito esse que admite a progressão de regime de cumprimento de pena.
III. Nos crimes de tortura incide causa de aumento de pena quando o crime é cometido por agente público.
IV. Aquele que se omite em face das condutas tipificadas como tortura, quando tinha o dever de evitá-las
ou apurá-las, incide nas mesmas penas a ele cominadas.
V. Nos crimes de tortura incide exceção ao princípio-regra da territorialidade, pois a Lei Federal n.
9.455/97 expressamente determinou a aplicação de suas disposições mesmo quando o crime não tenha
sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob
jurisdição brasileira.
a) Há crime de tortura quando o constrangimento, exercido mediante violência que causa intenso
sofrimento físico, se opera em razão de discriminação pela orientação sexual (art. 1º, inc. I, alínea c).
b) Movido por instinto de vingança e sadismo, Josef K., funcionário de um banco, constrangeu, com o
emprego de violência, o juiz que outrora havia decretado sua injusta prisão e causou-lhe intenso
sofrimento físico. A conduta de Josef K. não constitui crime de tortura.
d) Compete à Justiça Federal o processo e o julgamento do crime de tortura praticado por policial militar
em serviço.
A) O indivíduo que se omite ante a prática de tortura quando deveria evitá-la responde igualmente pela
conduta realizada.
B) A legislação especial brasileira concernente à tortura aplica-se somente aos crimes ocorridos em
território nacional.
C) No crime de tortura, a prática contra adolescente é causa de aumento de pena de um sexto até um terço.
D) A condenação de funcionário público por esse crime gera a perda do cargo, desde que a sentença assim
determine e que a pena aplicada seja superior a quatro anos.
E) A submissão de pessoa presa a sofrimento físico ou mental por funcionário público que pratique atos
não previstos em lei exige o dolo específico.
_ _
11. (MPE-RS/Promotor de Justiça/2017-Adaptada) Do art. 1º, da Lei n. 9.455/97, que incrimina a tortura,
extraem-se, as espécies delitivas doutrinariamente designadas tortura-prova, tortura-crime, tortura-
discriminação, tortura-castigo, tortura-própria e tortura omissão, equiparadas aos crimes hediondos,
previstas na modalidade dolosa e com apenamento carcerário para cumprimento inicial em regime
fechado.
_______________________________________________________
13. (VUNESP/Delegado de Polícia do Ceará/2015). Pode-se afirmar sobre o crime de tortura, regulado
pela Lei nº 9455/97 que
c) o condenado por crime de tortura poderá perder o cargo, função ou emprego público, desde que este
efeito seja expressamente declarado na sentença.
d) As lesões leves suportadas pela vítima serão absorvidas pelo crime de tortura.
_____________________________________________________________
14. (CESPE/Defensor Público Federal/2015) Caracteriza uma das espécies de tortura a conduta
consistente em, com emprego de grave ameaça, constranger outrem em razão de discriminação racial,
causando-lhe sofrimento mental.
15. (CESPE/Delegado de Polícia do Espírito Santo/2010) Rui, que é policial militar, mediante violência e
grave ameaça, infligiu intenso sofrimento físico e mental a um civil, utilizando para isso as instalações do
quartel de sua corporação. A intenção do policial era obter a confissão da vítima em relação a um
suposto caso extraconjugal havido com sua esposa. Nessa situação hipotética, a conduta de Rui,
independentemente de sua condição de militar e de o fato ter ocorrido em área militar, caracteriza o
crime de tortura na forma tipificada em lei específica.
16. (VUNESP/ Juiz de Direito do Rio de Janeiro/2016). Maximilianus constantemente agredia seu filho
Ramsés, de quinze anos, causando-lhe intenso sofrimento físico e mental com o objetivo de castigá-
lo e de prevenir que ele praticasse “novas artes". Na última oportunidade em que Maximilianus
aplicava tais castigos, vizinhos acionaram a polícia ao ouvirem os gritos de Ramsés. Ao chegar ao local
os policiais militares constataram as agressões e conduziram ao Distrito Policial Maximilianus,
Ramsés e Troia, mãe de Ramsés que presenciava todas as agressões mas, apesar de não concordar,
deixava que Maximilianus “cuidasse" da educação do filho sem se “intrometer". Diante da
circunstância descrita, é correto afirmar que
A) Maximilianus e Troia incorreram, nos termos da Lei n° 9.455/97, na prática do crime de tortura na
qualidade de co-autores.
B) Maximilianus incorreu, nos termos da Lei n° 9.455/97, na prática do crime de tortura na qualidade de
autor, e que Troia, porém, não poderá ser responsabilizada, pois não concorreu para a prática do crime.
C) Maximilianus incorreu, nos termos da Lei n° 9.455/97, na prática do crime de tortura na qualidade de
autor, assim como Troia também teria incorrido no mesmo crime mas com base na omissão penalmente
relevante prevista no Código Penal.
D) Maximilianus incorreu, nos termos da Lei n° 9.455/97, na prática do crime de tortura na qualidade de
autor, sendo que Troia será responsabilizada pela prática do crime de omissão em face da tortura praticada
por Maximilianus, também previsto na Lei n° 9.455/97, tendo em vista que tinha o dever de evitá-la.
E) Maximilianus incorreu, nos termos da Lei n° 9.455/97, na prática do crime de tortura na qualidade de
autor, e que Troia também será responsabilizada pela prática do mesmo crime, porém na condição de
partícipe.
18. (CESPE/Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça/2008) O condenado pela prática de tortura,
por expressa previsão legal, não poderá ser beneficiado por livramento condicional, se for reincidente
específico em crimes dessa natureza.
19. (CESPE/Escrivão de Polícia do Espírito Santo/2010) Excetuando-se o caso em que o agente se omite
diante das condutas configuradoras dos crimes de tortura, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-
las, iniciará o agente condenado pela prática do crime de tortura o cumprimento da pena em regime
fechado.
21. (FCC/Defensor Público do Rio Grande do Sul/2014). Sobre a Lei nº 9.455/97 (Crimes de Tortura), é
correto afirmar que
A) se a vítima da tortura for criança, a Lei nº 9.455/97 deve ser afastada para incidência do tipo penal
específico de tortura previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 233 do ECA).
C) é inviável a suspensão condicional do processo para qualquer das modalidades típicas previstas na lei.
D) o regramento impõe, para todos os tipos penais que prevê, que o condenado inicie o cumprimento da
pena em regime fechado.
E) há vedação expressa, no corpo da lei, de aplicação do sursis para os condenados por tortura.
22.(FCC/Promotor de Justiça de Pernambuco/2014) Quanto aos crimes de tortura, correto afirmar que
A) punível aquele que se omite em face da tortura, ainda que sem o dever legal de evitá-la ou apurá-la.
D) sujeito à jurisdição penal brasileira o estrangeiro que venha a torturar brasileiro fora do território nacional.
E) a condenação acarretará a interdição de cargo, função ou emprego público pelo triplo do prazo da pena
aplicada.
23. (ACAFE/ Delegado de Polícia do Acre/2014) Constitui crime de tortura constranger alguém com
emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental, com o fim de obter
informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa.
25. (Instituto Cidades/Defensor Público do Amazonas/2011) Acerca do crime de tortura previsto pela Lei
9.455/97, marque a alternativa errada:
A) constitui crime de tortura a conduta de constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça,
causando-lhe sofrimento físico ou mental com o fim de obter informação, declaração ou confissão da
vítima ou terceira pessoa, bem como para provocar ação ou omissão de natureza criminosa, dentre outras
hipóteses;
B) constitui também crime de tortura, a submissão de alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com o
emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar
castigo pessoal ou medida de caráter preventivo, dentre outras hipóteses;
C) a pessoa que se omite em face das condutas definidas como crime de tortura, quando tenha o dever de
evitá-las ou apurá-las, responde por crime também e está sujeito às mesmas penas previstas para o crime
de tortura;
D) a condenação por crime de tortura praticado por funcionário público acarreta a perda do cargo, função
ou emprego público, bem como a interdição para o seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada;
27. (CEPERJ/Delegado de Polícia do Rio de Janeiro/ 2009) A pena do crime de tortura é aumentada se o
crime é cometido mediante sequestro.
Constitui crime de tortura a conduta penalmente imputável que, mediante o emprego de violência, impõe
intenso sofrimento físico a outrem, por sadismo.
30. (VUNESP/ Promotor de Justiça do Espírito Santo/2013) Com relação ao crime de tortura, é correto
afirmar que aquele que se omite perante a tortura quando tinha o dever de evitá-la responderá apenas
pelo crime de prevaricação do Código Penal.
Comentário: O item está correto. Trata-se da tortura discriminatória, também conhecida como tortura
preconceituosa ou tortura racismo (art. 1º, I, “a”, da Lei 9455/97). A discriminação (racial ou religiosa) é a
razão determinante para a prática da tortura. Se a discriminação tiver natureza sexual ou política não há
que se falar em tortura, mas a situação pode caracterizar outra prática delitiva (ex: lesão corporal)
a) 45 anos.
b) 50 anos.
c) 55 anos.
d) 60 anos.
Comentário: A alternativa correta é a letra D. A lei de Tortura, em seu art. 1º, 4º, inciso II, prevê uma
causa de aumento de 1/6 até 1/3 se o crime é cometido contra maior de 60 anos de idade.
As alternativas A, B e C estão erradas, pois divergem do art. 1º, §4º, II, da Lei 9455/97.
Comentário: A alternativa correta é a letra A. Estamos diante da tortura ao preso ou de pessoa sujeita
a medida de segurança (art. 1º, §1º, da Lei 9455/97). Observe que nesse delito há necessariamente uma
relação de custódia entre o sujeito ativo entre o sujeito ativo e o sujeito passivo. Trata-se de crime próprio,
pois o agente deve ser pessoa encarregada de zelar pelo preso ou pelo doente mental que cumpre medida
de segurança. ==8 394 8==
A alternativa B está errada. O constrangimento ilegal é meio para se praticar a tortura, ficando, assim,
absorvido por esse último delito.
A alternativa C está errada. O excesso de exação ocorre quando o funcionário exige tributo ou contribuição
social que sabe ou deveria saber indevido, ou quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou
gravoso, que a lei não autoriza (art. 316, §1º, do Código Penal).
A alternativa D está errada. O crime de maus tratos significa expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob
sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-
a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer
abusando de meios de correção ou disciplina.
A alternativa E está errada, pois não estão presentes os pressupostos de qualquer causa excludente de
ilicitude.
_____________________________________________________________
4. (FGV/OAB — 2010.3) A tortura, conduta expressamente proibida pela Constituição Federal e lei
específica,
a) se reconhecida, não implicará aumento de pena, caso seja cometida por agente público.
b) pode ser praticada por meio de uma conduta comissiva (positiva, por via de uma ação) ou omissiva
(negativa, por via de uma abstenção).
c) exige, na configuração, que o autor provoque lesões corporais na vítima ao lhe proporcionar sofrimento
físico com emprego de violência.
Comentário: A alternativa correta é a letra B. A conduta comissiva está prevista no art. 1º, incisos I e II, e
§1º, todos da Lei 9455/97. Já a conduta omissiva está descrita no art. 1º, §2º, da referida lei.
A alternativa A está errada. Se a tortura é praticada por uma agente público haverá a incidência de uma
causa de aumento de pena de 1/6 até 1/3 (art. 1º, §4º, I, da Lei 9455/97).
A alternativa C está errada, porquanto não é fundamental a provocação de lesões corporais para a
caracterização da tortura, eis que os incisos II do art. 1º da Lei 9455/97 estabelecem expressamente a
causação de sofrimento mental.
A alternativa D está errada. Apesar de a tortura ser insuscetível de anistia, graça e fiança (art. 1º, §6º,
da Lei 9455/97), ela não é imprescritível ante a ausência de previsão nesse sentido na Constituição
Federal.
_____________________________________________________________
5. (FEPESE- Promotor de Justiça- SC/2014). Analise o enunciado da questão abaixo e assinale se ele é
falso ou verdadeiro:
Conforme doutrina majoritária, a tortura qualificada pelo resultado morte, prevista no artigo 1º, §3º, da Lei
nº 9.455/97, é classificada como de resultado preterdoloso. Entretanto, se o agressor, em sua ação, deseja
ou assume o risco de produzir o resultado morte, não responde pelo tipo acima, mas por homicídio
qualificado.
Comentário: O item está correto. Como vimos, a tortura qualificada pelo resultado morte é um delito
preterdoloso (ou preterintencional), ou seja, o resultado involuntário é causado por culpa do agente.
Lembre-se que crime preterdoloso ocorre quando a conduta dolosa produz um resultado culposo mais
grave do que o querido pelo agente (dolo no antecedente e culpa no consequente). Não confunda
homicídio qualificado pela tortura e a tortura qualificada pela morte. No homicídio qualificado pela tortura,
o resultado morte advém de maneira dolosa (o agente quer a morte ou assumir o risco de produzi-la), ou
seja, o agente age com animus necandi. De outro lado, na tortura qualificada pela morte, o resultado
qualificador (morte) ocorre à título de culpa – é um crime preterdoloso.
I. Constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou
mental, em razão de discriminação racial ou religiosa, configura crime de tortura, delito esse equiparado
a hediondo.
II. Submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça,
a sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo,
configura crime de tortura, delito esse que admite a progressão de regime de cumprimento de pena.
III. Nos crimes de tortura incide causa de aumento de pena quando o crime é cometido por agente público.
IV. Aquele que se omite em face das condutas tipificadas como tortura, quando tinha o dever de evitá-las
ou apurá-las, incide nas mesmas penas a ele cominadas.
V. Nos crimes de tortura incide exceção ao princípio-regra da territorialidade, pois a Lei Federal n.
9.455/97 expressamente determinou a aplicação de suas disposições mesmo quando o crime não tenha
sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob
jurisdição brasileira.
O item I está correto. Cuida-se da tortura discriminatória descrita no art. 1º, I, “c”, da Lei 9455/97.
O item II está errado, pois a tortura castigo (tortura punitiva) exige que a violência ou a grave ameaça
empregada cause à vítima intenso sofrimento físico ou mental. Se existir abuso dos meios de correção, sem
ocasionar intenso sofrimento físico ou mental, caracteriza-se o crime de maus-tratos (art. 136 do Código
Penal).
O item III está correto. É causa de aumento descrita no art. 1º, §4º, I, da Lei 9455/97 se o delito de tortura
é cometido por agente público.
O item IV está errado. Aquele que se omite em face da apuração da tortura não responderá pelas mesmas
penas do agente torturador, mas sim pelo delito específico delineado no art. 1º, §2º, da Lei 9455/97, com
pena mais branda. Trata-se de uma exceção pluralística à teoria monista.
O item V está correto, pois está em perfeita sintonia com o previsto no art. 2º da Lei 9455/97.
a) Há crime de tortura quando o constrangimento, exercido mediante violência que causa intenso
sofrimento físico, se opera em razão de discriminação pela orientação sexual (art. 1º, inc. I, alínea c).
b) Movido por instinto de vingança e sadismo, Josef K., funcionário de um banco, constrangeu, com o
emprego de violência, o juiz que outrora havia decretado sua injusta prisão e causou-lhe intenso
sofrimento físico. A conduta de Josef K. não constitui crime de tortura.
d) Compete à Justiça Federal o processo e o julgamento do crime de tortura praticado por policial militar
em serviço.
Comentário: A alternativa correta é a letra B. A Lei nº 9455/97 não inseriu, no delito de tortura, as
hipóteses de a motivação do agente ser maldade, vingança ou sadismo. Ante a ausência de previsão legal,
condutas praticadas com essas finalidades serão enquadradas em outros delitos (lesão corporal,
constrangimento ilegal, etc.), mas não serão consideradas como tortura.
A alternativa A está errada, pois a tortura discriminatória (art. 1º, I, “c”, da Lei 9455/97) tem dolo
específico, ou melhor, tal prática apresenta como motivação do agente a discriminação racial ou religiosa.
Assim, não configura o delito de tortura se a motivação tiver natureza sexual ou política, mas sim haverá a
configuração de outro crime (lesão corporal, homicídio, etc.).
A alternativa C está errada, pois o art. 1º, §5º, da Lei 9455/97 não prevê como efeito extrapenal automática
a cassação da aposentadoria.
A alternativa D está errada, pois não houve ofensa a qualquer bem, serviço, interesse da União ou de suas
entidades autárquicas ou empresas públicas, nos moldes do art. 109, IV, da Constituição Federal.
As alternativas B, C, D e E estão erradas, pois destoam do previsto no art. 1º, §5º, da Lei 9455/97).
A) O indivíduo que se omite ante a prática de tortura quando deveria evitá-la responde igualmente pela
conduta realizada.
B) A legislação especial brasileira concernente à tortura aplica-se somente aos crimes ocorridos em
território nacional.
C) No crime de tortura, a prática contra adolescente é causa de aumento de pena de um sexto até um terço.
D) A condenação de funcionário público por esse crime gera a perda do cargo, desde que a sentença assim
determine e que a pena aplicada seja superior a quatro anos.
E) A submissão de pessoa presa a sofrimento físico ou mental por funcionário público que pratique atos
não previstos em lei exige o dolo específico.
Comentário: A alternativa correta é a letra C. De acordo com o art. 1º, §4º, II, da Lei 9455/97, é causa
de aumento de pena se a prática da tortura for em face de adolescente, criança, portador de deficiência
ou maior de 60 anos de idade.
Alternativa A está errada, pois nessa situação há uma exceção pluralística à teoria monista. O omitente
responderá pelo art. 1º, §2º, da Lei 9455/97, enquanto o agente torturador responderá pela tortura
propriamente dita (art. 1º, I, II ou §1º, todos da Lei 9455/97).
Alternativa B está errada, pois a Lei 9455/97 prevê hipótese de extraterritorialidade (aplicação da lei penal
brasileira aos crimes cometidos fora do território nacional) se a vítima for brasileira, segundo determina o
art. 1º, §7º, da Lei 9455/97. Cuida-se de hipótese de extraterritorialidade incondicionada.
Alternativa D está errada: Na Lei de Tortura, a perda do cargo é efeito extrapenal automático, isto é,
dispensa a fundamentação na sentença penal condenatória. Além do mais, de modo diverso do art. 92, I,
do Código Penal, a Lei 9455/97 não exigiu quantum da pena para aplicação do referido efeito extrapenal.
A alternativa E está errada: A tortura descrita no art. 1º, §1º, da Lei 9455/97 é caracterizado pelo dolo
genérico, isto é, o tipo penal não exige nenhuma finalidade específica.
Comentário: O item está errado. O tipo penal da tortura crime (art. 1º, I, “b”, da Lei 9455/97) não
menciona a contravenção penal. Pensamento diverso configuraria a indevida a analogia in mallan partem,
situação não aplicável às normas penais incriminadoras. Em resumo, constranger alguém com emprego de
violência ou
grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental, de forma a obrigá-lo a praticar contravenção penal
não configura o delito de tortura-crime (art.1º, I, b, da Lei 9455/97).
_ _
11. (MPE-RS/Promotor de Justiça/2017-Adaptada) Do art. 1º, da Lei n. 9.455/97, que incrimina a tortura,
extraem-se, as espécies delitivas doutrinariamente designadas tortura-prova, tortura-crime, tortura-
discriminação, tortura-castigo, tortura-própria e tortura omissão, equiparadas aos crimes hediondos,
previstas na modalidade dolosa e com apenamento carcerário para cumprimento inicial em regime
fechado.
Comentário: O item está errado, pois a tortura omissão (art. 1º, §2º, da Lei 9455/97: aquele que se omite
em face da tortura, quando tinha o dever de evita-la ou apurá-la) não é equiparado aos delitos hediondos.
Aliás, esse delito admite suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei 9099/95)
_______________________________________________________
Comentário: O item está correto. Crisóstomo e Elesbão praticaram a tortura crime (art. 1º, I, “b”, da
Lei 9455/95), que é equiparado aos delitos hediondos. Vitorino, por sua vez, cometeu o delito de tortura
omissão (art. 1º, §2º, da Lei 9455/97), que não é um delito hediondo.
13. (VUNESP/Delegado de Polícia do Ceará/2015). Pode-se afirmar sobre o crime de tortura, regulado
pela Lei nº 9455/97 que
c) o condenado por crime de tortura poderá perder o cargo, função ou emprego público, desde que este
efeito seja expressamente declarado na sentença.
d) As lesões leves suportadas pela vítima serão absorvidas pelo crime de tortura.
Comentário: A alternativa correta é a letra D. Com base no princípio da consunção, o delito de tortura
absorve os delitos menores em razão do emprego de violência ou grave ameaça, com fundamento no
princípio da consunção. É o que ocorre com o delito de lesão corporal leve.
A alternativa A está errada. Em regra, a tortura será processada pela Justiça Comum (Federal e Estadual).
Se a prática da tortura violar algum bem, interesse ou serviço da União Federal, suas autarquias ou
empresas públicas, a competência será da Justiça Federal, nos exatos termos do art. 109, IV, da
Constituição Federal27. Exemplo: A tortura é praticada no interior de uma Delegacia da Polícia Federal. Por
outro lado, caso tal prática de tortura não transgrida qualquer interesse da União, o feito será da Justiça
Estadual, cuja competência é residual. Excepcionalmente, em razão da recente alteração promovida no
Código Penal Militar pela lei 13491/17, o delito de tortura também pode ser processado e julgado na
Justiça Militar. Após o advento da referida lei, a Justiça Castrense passou a ter competência para julgar não
só os delitos do Código Penal Militar como também os descritos na legislação penal comum. Assim, a
Justiça Militar (Federal e Estadual) será competente para processar e julgar se o fato tiver correspondência
com alguma alínea do art. 9º, II, do Código Penal Militar
A alternativa B está errada, pois apenas o delito do art. 1º, §2º, da Lei 9455/97 (tortura omissão) não pode
ser considerado equiparado aos delitos hediondos.
A alternativa C está errada. A perda do cargo pela prática dos delitos descritos na Lei 9455/97 é efeito
automático da condenação, ou seja, dispensa expressa fundamentação na sentença penal condenatória.
_____________________________________________________________
27
Art. 109 da CF: Aos juízes federais compete processar e julgar:
IV – os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas
públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral.
14. (CESPE/Defensor Público Federal/2015) Caracteriza uma das espécies de tortura a conduta
consistente em, com emprego de grave ameaça, constranger outrem em razão de discriminação racial,
causando-lhe sofrimento mental.
Comentário: O item está correto. Estamos diante da denominada tortura discriminatória, tortura
preconceituosa ou tortura racismo prevista no art. 1º, I, “c”, da Lei 9455/97. No tipo penal do art. 1º, I, “c”,
da Lei 9455/97 há o dolo específico, isto é, o agente deve visar a prática de tortura em razão de
discriminação racial ou religiosa.
15. (CESPE/Delegado de Polícia do Espírito Santo/2010) Rui, que é policial militar, mediante violência e
grave ameaça, infligiu intenso sofrimento físico e mental a um civil, utilizando para isso as instalações do
quartel de sua corporação. A intenção do policial era obter a confissão da vítima em relação a um
suposto caso extraconjugal havido com sua esposa. Nessa situação hipotética, a conduta de Rui,
independentemente de sua condição de militar e de o fato ter ocorrido em área militar, caracteriza o
crime de tortura na forma tipificada em lei específica.
Comentários: O item está correto. A conduta praticada por Rui enquadra-se no art. 1º, I, “a”, da Lei
9455/97. Estamos diante da denominada tortura confissão/tortura persecutória/tortura institucional. Vale
ainda destacar que, com a recente alteração no art. 9º, II, do Código Penal Militar, o fato em apreço será
processado e julgado na Justiça Militar Estadual (art. 9º, II, “b”, do Código Penal Militar).
16. (VUNESP/ Juiz de Direito do Rio de Janeiro/2016). Maximilianus constantemente agredia seu filho
Ramsés, de quinze anos, causando-lhe intenso sofrimento físico e mental com o objetivo de castigá-
lo e de prevenir que ele praticasse “novas artes". Na última oportunidade em que Maximilianus
aplicava tais castigos, vizinhos acionaram a polícia ao ouvirem os gritos de Ramsés. Ao chegar ao local
os policiais militares constataram as agressões e conduziram ao Distrito Policial Maximilianus,
Ramsés e Troia, mãe de Ramsés que presenciava todas as agressões mas, apesar de não concordar,
deixava que Maximilianus “cuidasse" da educação do filho sem se “intrometer". Diante da
circunstância descrita, é correto afirmar que
A) Maximilianus e Troia incorreram, nos termos da Lei n° 9.455/97, na prática do crime de tortura na
qualidade de co-autores.
B) Maximilianus incorreu, nos termos da Lei n° 9.455/97, na prática do crime de tortura na qualidade de
autor, e que Troia, porém, não poderá ser responsabilizada, pois não concorreu para a prática do crime.
C) Maximilianus incorreu, nos termos da Lei n° 9.455/97, na prática do crime de tortura na qualidade de
autor, assim como Troia também teria incorrido no mesmo crime mas com base na omissão penalmente
relevante prevista no Código Penal.
D) Maximilianus incorreu, nos termos da Lei n° 9.455/97, na prática do crime de tortura na qualidade de
autor, sendo que Troia será responsabilizada pela prática do crime de omissão em face da tortura praticada
por Maximilianus, também previsto na Lei n° 9.455/97, tendo em vista que tinha o dever de evitá-la.
E) Maximilianus incorreu, nos termos da Lei n° 9.455/97, na prática do crime de tortura na qualidade de
autor, e que Troia também será responsabilizada pela prática do mesmo crime, porém na condição de
partícipe.
A alternativa A está errada, pois não haverá concurso de pessoas. Maximilianus responderá pela
tortura castigo (art. 1º, II, da Lei 9455/97), ao passo que Troia pelo crime do art. 1º, §2º, da Lei
9455/97.
A alternativa B está errada. A conduta de Troia é tipificada no art. 1º, §2º, da Lei 9455/97. De tal
forma, não há que se falar de conduta atípica.
As alternativas C e E estão erradas. Na espécie, Troia responde pela prática delitiva delineada no art. 1º,
§2º, da Lei 9455/97. Como já falamos, estamos diante de uma exceção pluralística à teoria monista.
A alternativa E está errada. Troia responde pela prática delitiva delineada no art. 1º, §2º, da Lei
9455/97 e não pela tortura castigo (art. 1º, II, da Lei 9455/97).
Comentários: O item está errado. A Lei nº 9455/97 não faz qualquer exigência para aplicação dos efeitos
extrapenais automáticos da perda do cargo, função ou emprego público e da interdição para seu exercício
pelo dobro da pena aplicada (art. 1º, §5º, da Lei 9455/97).
18. (CESPE/Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça/2008) O condenado pela prática de tortura,
por expressa previsão legal, não poderá ser beneficiado por livramento condicional, se for reincidente
específico em crimes dessa natureza.
Comentários: O item está correto. Segundo o art. 83, V, do Código Penal, o condenado pelo delito de
tortura apenas fará jus ao livramento condicional se cumprir mais de dois terços da pena privativa de
liberdade. Todavia, em caso de reincidência específica, esse condenado não terá o livramento condicional.
19. (CESPE/Escrivão de Polícia do Espírito Santo/2010) Excetuando-se o caso em que o agente se omite
diante das condutas configuradoras dos crimes de tortura, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-
las, iniciará o agente condenado pela prática do crime de tortura o cumprimento da pena em regime
fechado.
Comentário: O item está errado. Não é obrigatório que o condenado por crime de tortura inicie o
cumprimento da pena em regime carcerário fechado. O Plenário do STF, ao julgar o HC 111.840-ES, afastou
a obrigatoriedade do regime inicial fechado para os condenados por crimes hediondos e equiparados,
devendo-se observar, para a fixação do regime inicial de cumprimento de pena, o disposto no art. 33 c/c o
art. 59, ambos do Código Penal.
Comentário: O item está errado. Não há que se falar em concurso formal de crimes, mas sim em único
crime de tortura qualificado pelo resultado, nos exatos termos do art. 1º, §3º, da Lei 9455/97.
21. (FCC/Defensor Público do Rio Grande do Sul/2014). Sobre a Lei nº 9.455/97 (Crimes de Tortura), é
correto afirmar que
A) se a vítima da tortura for criança, a Lei nº 9.455/97 deve ser afastada para incidência do tipo penal
específico de tortura previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 233 do ECA).
C) é inviável a suspensão condicional do processo para qualquer das modalidades típicas previstas na lei.
D) o regramento impõe, para todos os tipos penais que prevê, que o condenado inicie o cumprimento da
pena em regime fechado.
E) há vedação expressa, no corpo da lei, de aplicação do sursis para os condenados por tortura.
Comentários: A alternativa correta é a letra B, conforme se infere do art. 1º, §2º, da Lei 9455/97 (Tortura
omissão).
A alternativa A está errada. O art. 233 do ECA foi expressamente revogado pelo art. 4º da Lei 9455/97.
A alternativa C está errada. É cabível o sursis processual para o delito descrito no art. 1º, §2º, da Lei
9455/97 (Pena – detenção de um a quatro anos).
A alternativa D está errada. Como vimos, não é obrigatório que o condenado por crime de tortura inicie o
cumprimento da pena em regime carcerário fechado. O Plenário do STF, ao julgar o HC 111.840-ES, afastou
a obrigatoriedade do regime inicial fechado para os condenados por crimes hediondos e equiparados,
devendo-se observar, para a fixação do regime inicial de cumprimento de pena, o disposto no art. 33 c/c o
art. 59, ambos do Código Penal.
A alternativa E está errada. A Lei 9455/97 não vedou a concessão do benefício da suspensão condicional da
pena para os delitos de tortura.
22.(FCC/Promotor de Justiça de Pernambuco/2014) Quanto aos crimes de tortura, correto afirmar que
A) punível aquele que se omite em face da tortura, ainda que sem o dever legal de evitá-la ou apurá-la.
D) sujeito à jurisdição penal brasileira o estrangeiro que venha a torturar brasileiro fora do território nacional.
E) a condenação acarretará a interdição de cargo, função ou emprego público pelo triplo do prazo da pena
aplicada.
A alternativa A está errada. É punível a tortura omissão, porém somente haverá a conduta criminosa se o
agente tinha o dever de evitar a tortura ou de apurá-la (art. 1º, §2º, da Lei 9455/97).
A alternativa B está errada. A lei 9455/97 tem crimes comuns ou gerais, isto é, aqueles que podem ser
cometidos por qualquer pessoa. Exemplos: Tortura confissão (art. 1º, I, “a”, da Lei 9455/97), Tortura crime
(art. 1º, I, “b”, da Lei 9455/97), Tortura discriminatória (art. 1º, I, “c”, da Lei 9455/97) e tortura omissão
(art. 1º, §2º, da Lei 9455/97).
A alternativa C está errada. Como vimos, não é obrigatório que o condenado por crime de tortura inicie o
cumprimento da pena em regime carcerário fechado. O Plenário do STF, ao julgar o HC 111.840-ES, afastou
a obrigatoriedade do regime inicial fechado para os condenados por crimes hediondos e equiparados,
devendo-se observar, para a fixação do regime inicial de cumprimento de pena, o disposto no art. 33 c/c o
art. 59, ambos do Código Penal.
A alternativa E está errada. A condenação acarretará a perda de cargo, função ou emprego público, assim
como a interdição para o seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada (art. 1º, §5º, da Lei 9455/97).
23. (ACAFE/ Delegado de Polícia do Acre/2014) Constitui crime de tortura constranger alguém com
emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental, com o fim de obter
informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa.
Comentário: O item está correto. Cuida-se da denominada tortura confissão, tortura probatória, tortura
persecutória, tortura institucional ou tortura inquisitorial, que está prevista no art. 1º, I, “a”, da Lei 9455/97.
Comentários: O item está errado. O racismo e as ações de grupos armados, civis ou militares, contra a
ordem constitucional e o Estado Democrático são crimes imprescritíveis (art. 5º, incisos XLII e XLIV, da CF).
Todavia, a tortura não foi prevista como conduta delituosa imprescritível pela Constituição Federal.
25. (Instituto Cidades/Defensor Público do Amazonas/2011) Acerca do crime de tortura previsto pela Lei
9.455/97, marque a alternativa errada:
A) constitui crime de tortura a conduta de constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça,
causando-lhe sofrimento físico ou mental com o fim de obter informação, declaração ou confissão da
vítima ou terceira pessoa, bem como para provocar ação ou omissão de natureza criminosa, dentre outras
hipóteses;
B) constitui também crime de tortura, a submissão de alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com o
emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar
castigo pessoal ou medida de caráter preventivo, dentre outras hipóteses;
C) a pessoa que se omite em face das condutas definidas como crime de tortura, quando tenha o dever de
evitá-las ou apurá-las, responde por crime também e está sujeito às mesmas penas previstas para o crime
de tortura;
D) a condenação por crime de tortura praticado por funcionário público acarreta a perda do cargo, função
ou emprego público, bem como a interdição para o seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada;
Comentários: A alternativa correta é a letra C. Estamos diante de uma exceção pluralística à teoria
monista. O omitente responderá pelo art. 1º, §2º, da Lei 9455/97, enquanto o agente torturador
responderá pela tortura propriamente dita (art. 1º, I, II e §1º, todos da Lei 9455/97).
A alternativa A está correta, segundo o art. 1º, I, “a” e “b”, da Lei 9455/97.
A alternativa B está correta, nos moldes do art. 1º, II, da Lei 9455/97.
A alternativa E está correta, nos exatos termos do art. 1º, §6º, da Lei 9455/97.
Comentário: O item está errado. O crime de tortura, na Convenção de Tortura (art. 1º) e em várias
legislações estrangeiras é delito próprio. Contudo, no Brasil, é delito de tortura do art. 1º, I, “a”, da Lei
9455/97 é comum (ou geral), podendo ser praticado por qualquer pessoa. Se o crime é cometido por
agente público, aplica-se a majorante de 1/6 até 1/3 (art. 1º, §4º, I, da Lei 9455/97)
27. (CEPERJ/Delegado de Polícia do Rio de Janeiro/ 2009) A pena do crime de tortura é aumentada se o
crime é cometido mediante sequestro.
Comentário: O item está correto. O art. 1º, § 4º, inciso III, da Lei nº 9.455/97 prevê aumento de um sexto a
um terço da pena se o crime de tortura é cometido mediante sequestro.
Comentário: O item está errado. Atualmente, os crimes hediondos e equiparados (tortura, terrorismo e
tráfico ilícito de entorpecentes) terão o regime inicial de cumprimento de pena de acordo com os critérios
estabelecidos no art. 33, §§ 2º e 3º, do Código Penal. Além do mais, é possível a progressão de regime após
o cumprimento de 2/5 da pena, se primário, ou de 3/5, se reincidente.
Constitui crime de tortura a conduta penalmente imputável que, mediante o emprego de violência, impõe
intenso sofrimento físico a outrem, por sadismo.
Comentário: O item está errado. A Lei nº 9455/97 não inseriu, no delito de tortura, as hipóteses de a
motivação do agente ser maldade, vingança ou sadismo. Ante a ausência de previsão legal, condutas
praticadas com essas finalidades serão enquadradas em outros delitos (lesão corporal, constrangimento
ilegal, etc.), mas não serão consideradas como tortura.
30. (VUNESP/ Promotor de Justiça do Espírito Santo/2013) Com relação ao crime de tortura, é correto
afirmar que aquele que se omite perante a tortura quando tinha o dever de evitá-la responderá apenas
pelo crime de prevaricação do Código Penal.
Comentário: O item está errado. Aquele que se omite perante a tortura quando tinha o dever de evitá-la
responderá pelo crime previsto no art. 1º, §2º, da Lei 9455/97 e não pelo delito de prevaricação. Vale dizer,
o conflito aparente de normas é solucionado pelo princípio da especialidade, sendo o delito da Lei de
Tortura norma especial quando comparada com a prevaricação (art. 319 do Código Penal).
8– RESUMO
Previsão constitucional: Dois artigos cuidam da Tortura na Constituição Federal: a) art. 5º, III, da CF: ninguém será
submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante. b) Art. 5º, XLIII, da CF: a lei considerará crimes inafiançáveis e
insuscetíveis de graça ou anistia a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos
como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;
Lei 9455/97: Essa lei destoa dos Tratados internacionais em 2 aspectos: 1) A Lei nº 9455/97 não exige a condição de autoridade
do sujeito ativo. Vale dizer, a legislação brasileira amplia o sujeito ativo do delito em relação ao preconizado na Convenção. No
Brasil, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, ao passo que, segundo a Convenção, somente o funcionário público ou outra
pessoa no exercício de função pública; 2) O delito de tortura no Brasil é crime prescritível. As hipóteses de crimes imprescritíveis
estão no rol taxativo da Constituição Federal (art. 5º, XLII28 e XLIV29), não tendo sido a tortura nele contemplado.
Tortura prova: Constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental com o
fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa (art. 1º, I, “a”, da Lei 9455/97);
Tortura crime: Constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental para
provocar ação ou omissão de natureza criminosa (art. 1º, I, “b”, da Lei 9455/97);
Tortura Discriminatória: Constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou
mental em razão de discriminação racial ou religiosa (art. 1º, I, “c”, da Lei 9455/97).
Tortura castigo: Submeter alguém, sob guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso
sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo (art. 1º, II, da Lei 9455/97).
TORTURA
Tortura do preso ou de pessoa sujeita a medida de segurança: Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a
medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de
medida legal (art. 1º, §1, da Lei 9455/97).
Tortura omissão: Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena
de detenção de um a quatro anos. É o único delito da Lei 9455/97 que não é equiparado aos crimes hediondos. É aplicável a
suspensão condicional do processo.
Formas qualificadas: Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de 4 anos a 10 anos; se
resulta morte, a reclusão é de 8 a 16 anos.
Causas de aumento de pena: Aumenta-se a pena de 1/6 até 1/3: a) se o crime é cometido por agente público; b) se o crime é
cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 anos; c) se o crime é cometido mediante
sequestro.
28
Art. 5º, XLII, da CF: a prática de racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da
lei;
29
Art. 5º, XLIV, da CF: constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático;
Efeitos da condenação: A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício
pelo dobro do prazo da pena aplicada. Esses efeitos da condenação são automáticos, ou seja, não necessitam constar da sentença
penal condenatória.
Regime de cumprimento da pena: Ao julgar o HC de nº 111840 em 27/06/2012, o Supremo Tribunal Federal declarou como
inconstitucional a obrigatoriedade do regime inicial fechado do art. 2º, §1º, da Lei dos Crimes Hediondos para penas não
superiores a 8 anos, por malferir o princípio da individualização da pena. Logo, o regime inicial fechado para os crimes hediondos,
tráfico de drogas, terrorismo ou tortura somente ocorrerá se o condenado for reincidente ou se as circunstâncias do caso concreto
recomendarem o regime mais gravoso, mediante fundamentada decisão judicial. Em outras palavras, o regime inicial para esses
crimes acima pode ser o semiaberto e o aberto.
Exceção ao princípio da territorialidade previsto no art. 5º do Código Penal: A lei 9455/97 aplica-se ainda quando o crime
não tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição
brasileira.
Revogação do art. 233 do ECA: O art. 4º da Lei 9455/97 revogou expressamente o art. 233 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
9 - GABARITO
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Certo D A B Certo C B A C Errado
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Errado Certo D Certo Certo D Errado Certo Errado Errado
21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
B D Certo Errado C Errado Certo Errado Errado Errado