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LEI DE TORTURA – Lei 9455/97.

MATERIAL COM QUESTÕES DE CONCURSO e ALGUMAS REFERÊNCIAS À SÚMULAS E


JULGADOS DOS TRIBUNAIS SUPERIORES

Material confeccionado por Eduardo B. S. Teixeira.

Última atualização legislativa: Nenhuma.

Última atualização jurisprudencial: Info 633 STJ (art. 1º, II); Julgado STJ (art. 1º, §5º)

Última atualização questões de concurso: 01/12/2020.

Observações quanto à compreensão do material:


1) Cores utilizadas:
➢ EM VERDE: destaque aos títulos, capítulos, bem como outras informações relevantes, etc.
➢ EM ROXO: artigos que já foram cobrados em provas de concurso.
➢ EM AZUL: Parte importante do dispositivo (ex.: questão cobrou exatamente a informação,
especialmente quando a afirmação da questão dizia respeito à situação contrária ao que dispõe
na Lei 9455/97).
➢ EM AMARELO ou EM LARANJA: destaques importantes (ex.: critério pessoal)

2) Siglas utilizadas:
➢ MP (concursos do Ministério Público); M ou TJPR (concursos da Magistratura); BL (base
legal), etc.

LEI Nº 9.455, DE 7 DE ABRIL DE 1997.

Define os crimes de tortura e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono


a seguinte Lei:

Art. 1º CONSTITUI CRIME DE TORTURA:

I - CONSTRANGER alguém com emprego de violência ou grave ameaça, CAUSANDO-LHE


sofrimento físico ou mental:

a) com o fim de obter INFORMAÇÃO, DECLARAÇÃO ou CONFISSÃO da vítima ou de


terceira pessoa; [Obs.: Tortura Probatória, Persecutória, Institucional ou Inquisitorial.] (MPSP-
2008/2010) (MPF-2011) (TJMG-2012) (TJSP-2018)

##Atenção: Sujeito ativo: Todas as figuras previstas no inciso I do art. 1º são crimes comuns, ou
seja, podem ser praticados por qualquer pessoa.

##Atenção: ##MPSP-2008: ##TJSP-2018: ##VUNESP: Ao contrário do que ocorre nos outros


países, no Brasil, mesmo o particular, ou seja, quem não é funcionário público, também pode
praticar crime de tortura. As Convenções internacionais preveem, inclusive, a tortura como crime
próprio. Isso, contudo, não interfere no Brasil, Vejamos: “O art. 1.º da Lei 9.455/97, ao tipificar o crime
de tortura como crime comum, não ofendeu o que já determinava o art. 1º da Convenção da ONU
Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, de 1984, em
face da própria ressalva contida no texto ratificado pelo Brasil. STJ. 5ª T. REsp 1.299.787/PR, Min.
Laurita Vaz, DJe 3/2/2014.”

##Atenção: Consumação: O crime se consuma com o sofrimento (físico ou mental) causado pelo
emprego da violência ou da grave ameaça. Não importa, para fins de consumação, que o agente
tenha conseguido seu objetivo. Assim, mesmo que a vítima não dê a informação, declaração ou
confissão exigida, o crime já estará consumado. A tentativa é possível, considerando que se trata
de crime plurissubistente.

##Atenção: Elemento subjetivo: É o dolo com o especial fim de agir (com o fim de obter
informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa).
b) para PROVOCAR ação ou omissão de natureza criminosa; [Obs.: Tortura Crime] (DPESP-
2006) (MPSP-2008) (MPF-2011) (PCMS-2017) (TJSP-2018)

##Atenção: Natureza criminosa: Não se enquadra neste dispositivo o agente que tortura a vítima
para que ela pratique contravenção penal.

c) em razão de discriminação RACIAL ou RELIGIOSA; [Obs.: Tortura Discriminatória,


Preconceituosa ou Tortura Racismo] (DPESP-2006) (MPSP-2008) (MPPR-2008) (TJSC-2010) (MPF-
2011) (TJMG-2018) (TJSP-2018) (PCSE-2018)

II - SUBMETER alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou
grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar CASTIGO PESSOAL
ou MEDIDA DE CARÁTER PREVENTIVO. [Obs.: Tortura Castigo ou Punitiva.] (PF-2004) (DPESP-
2006) (TJMS-2008) (MPPR-2008) (MPF-2011) (TJMG-2012) (TJRJ-2016) (TJSC-2017) (TJSP-2018)

Pena - reclusão, de dois a oito anos. (TJAC-2012)

##Atenção: ##STJ: ##DOD: ##TJSP-2018: ##VUNESP: Somente pode ser agente ativo do crime
de tortura-castigo , também denominada de tortura-vingativa ou intimidatória (art. 1º, II, da Lei
9.455/97), aquele que detiver outra pessoa sob sua guarda, poder ou autoridade (crime próprio).
STJ. 6ª Turma. REsp 1738264-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 23/8/18 (Info 633).

##Atenção: Intenso sofrimento: Veja que o legislador estabeleceu uma diferenciação:


• inciso I: exige apenas sofrimento (físico ou mental);
• inciso II: exige intenso sofrimento (físico ou mental).

##Atenção: ##TJSP-2018: ##VUNESP: O crime de tortura pode ser crime próprio ou crime comum.
Assim, exemplificativamente, no caso do inciso I, é crime comum. Por outro lado, no inciso II, é
crime próprio, porque é necessário ser detentor de guarda ou poder.

§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a
sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante
de medida legal. [Obs.: Tortura Equiparada.] (DPESP-2006)

§ 2º Aquele que SE OMITE em face dessas condutas, quando TINHA o DEVER DE EVITÁ-
LAS ou APURÁ-LAS, INCORRE na pena de detenção de um a quatro anos. [Obs.1: Tortura Omissão
ou Imprópria.] [Obs.2: Não é hedionda.] (DPESP-2006) (MPPR-2008) (MPRR-2008) (TJSC-2010)
(MPMG-2010) (TJPE-2011) (TJMG-2012) (TJAC-2012) (MPRS-2012/2017)

(DPEPE-2018-CESPE): De acordo com a legislação penal especial, assinale a opção correta: Comete
o crime de tortura aquele que, tendo o dever de evitar a conduta, se mantém omisso ao tomar ciência
ou presenciar pessoa presa ser submetida a sofrimento físico ou mental, por meio da prática de ato
não previsto legalmente. BL: art. 1º, §2º, Lei 9455.

##Atenção: Trata-se da chamada "tortura-omissão", em que o agente se omite em seu dever de


evitar o resultado, consistente na tortura perpetrada por outrem. O sujeito ativo desta modalidade
de tortura será, então, a pessoa que possui o dever de evitar ou apurar o resultado.

##Atenção: ##MPRS-2017: A tortura imprópria (ou tortura-omissão) não é equiparada ao crime


hediondo, o que caracteriza exceção às demais espécies de tortura. Além disso, nos termos expressos
do § 7º do art. 1º da Lei 9.455/97, “o condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º,
iniciará o cumprimento da pena em regime fechado”. Com efeito, o condenado por crime de tortura na
modalidade omissão não iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.

(TJRJ-2016-VUNESP): Maximilianus constantemente agredia seu filho Ramsés, de quinze anos,


causando-lhe intenso sofrimento físico e mental com o objetivo de castigá-lo e de prevenir que ele
praticasse “novas artes". Na última oportunidade em que Maximilianus aplicava tais castigos,
vizinhos acionaram a polícia ao ouvirem os gritos de Ramsés. Ao chegar ao local os policiais
militares constataram as agressões e conduziram ao Distrito Policial Maximilianus, Ramsés e Troia,
mãe de Ramsés que presenciava todas as agressões mas, apesar de não concordar, deixava que
Maximilianus “cuidasse" da educação do filho sem se “intrometer". Diante da circunstância
descrita, é correto afirmar que Maximilianus incorreu, nos termos da Lei 9.455/97, na prática do
crime de tortura na qualidade de autor, sendo que Troia será responsabilizada pela prática do crime
de omissão em face da tortura praticada por Maximilianus, também previsto na Lei 9.455/97, tendo
em vista que tinha o dever de evitá-la. BL: art. 1º, II e art. 1º, §2º, Lei 9455.

##Atenção: A conduta de Maximilianus enquadra-se ao tipo penal estabelecido no art. 1º, II, da Lei
9.455/97, isto é, responderá pelo delito de tortura na qualidade de autor, uma vez que pratica os
atos executórios previstos na elementar do tipo imbuído ainda com o especial fim de agir exigido
pelo tipo penal. Por outro lado, Troia, ao não se intrometer a fim de evitar o intenso sofrimento
físico e mental imposto por Maximilianus a Ramsés com a finalidade de castigá-lo, na condição do
mãe do menor, cujo dever é de garantir a higidez física e psíquica do filho, incorre nas penas do
crime de omissão quanto à tortura, previsto de forma específica no art. 1º, § 2º, da Lei 9.455/97.

##Atenção: ##TJAC-2012: ##CESPE: As penas de quem se omite diante da prática de tortura são
menores que as penas atribuídas ao torturador, nos termos do §2º do art. 1º da Lei 9455/97.

§ 3º SE RESULTA LESÃO CORPORAL de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão


de quatro a dez anos; SE RESULTA MORTE, a reclusão é de oito a dezesseis anos. [Obs.: Tortura
Qualificada.] (MPSP-2006/2010) (TJSC-2010) (TJMG-2014) (TJDFT-2014)

(MPSC-2014): Conforme doutrina majoritária, a tortura qualificada pelo resultado morte, prevista
no art. 1º, §3º, da Lei 9455/97, é classificada como de resultado preterdoloso. Entretanto, se o
agressor, em sua ação, deseja ou assume o risco de produzir o resultado morte, não responde pelo
tipo acima, mas por homicídio qualificado.

##Atenção: ##MPSP-2010: DICA:


• TORTURA com resultado MORTE: A intenção era a de torturar, a morte foi consequência, foi
"sem querer"... isso caracteriza crime Preterdoloso (ou seja, Dolo na tortura e Culpa na morte).
• TORTURA como meio para MATAR: A intenção era desde o início a de matar, só que o agente
se utilizou da tortura para atingir o objetivo morte. Quando a questão diz que o agente assume
o risco de produzir o resultado morte, refere-se ao dolo eventual (uma das modalidades do
dolo), o que indica a intenção de cometer o homicídio qualificado pela tortura.

(TJDFT-2007): Relativamente ao crime de homicídio, assinale a alternativa correta: A distinção


fundamental entre o delito tipificado no art. 121, § 2°, inciso III, do CP (homicídio qualificado pela
tortura) e o crime de tortura qualificada pela morte (art. 1°, §3°, da Lei 9.455/97), é que neste último
o resultado morte se dá por culpa. BL: art. 121, §2º, III do CP e art. 1º, §3º da Lei 9455/97.

§ 4º AUMENTA-SE a pena de um sexto até um terço:

I - se o crime É COMETIDO por agente público; (MPSP-2008) (MPPR-2008) (TJMG-2012)

II – se o crime É COMETIDO contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou


maior de 60 (sessenta) anos; (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003) (TJMG-2012)

III - se o crime É COMETIDO mediante sequestro. (MPSP-2006) (TJMG-2012)

§ 5º A condenação ACARRETARÁ a PERDA do cargo, função ou emprego público e a


INTERDIÇÃO para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada. (MPSP-2008) (MPRR-2008)
(TJSC-2013) (TJPB-2011/2015) (TJMSP-2016) (TJBA-2019)

(TJSC-2019-CESPE): Conforme o Código Penal e a legislação aplicável, constitui efeito automático


da condenação criminal, que independe de expressa motivação em sentença, no caso de servidor
público condenado pela prática de crime de tortura, a perda do cargo ou da função pública e a
interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada. BL: art. 1º, §5º, Lei 9455.

##Atenção: ##STJ: ##DOD: ##TJBA-2019: ##CESPE: A perda do cargo, função ou emprego


público é efeito automático da condenação pela prática do crime de tortura, não sendo necessária
fundamentação concreta para a sua aplicação. Precedentes. (STJ. 6ª T. AgRg no Ag 1388953/SP,
Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 20/06/2013)
§ 6º O crime de tortura É inafiançável e INSUSCETÍVEL de graça ou anistia. (TJMG-2006)
(MPSP-2008) (TJAP-2009) (MPSC-2010) (TJES-2011) (TJDFT-2011) (MPMG-2011) (TJSC-2013)

§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, SALVO a hipótese do § 2º [obs.: tortura
imprópria ou omissão], iniciará o cumprimento da pena em regime fechado. (MPPR-2008) (MPRS-
2017)

##Atenção: ##STJ: ##Info 540: ##TJPE-2011: Não é obrigatório que o condenado por crime de
tortura inicie o cumprimento da pena no regime prisional fechado. Cumpre ressaltar que o
Plenário do STF, ao julgar o HC 111.840-ES (DJe 17.12.13), afastou a obrigatoriedade do regime
inicial fechado para os condenados por crimes hediondos e equiparados, devendo-se observar,
para a fixação do regime inicial de cumprimento de pena, o disposto no art. 33 c/c o art. 59, ambos
do CP. Assim, por ser equiparado a crime hediondo, nos termos do art. 2º, caput e § 1º, da Lei
8.072/90, é evidente que essa interpretação também deve ser aplicada ao crime de tortura, sendo
o caso de se desconsiderar a regra disposta no art. 1º, § 7º, da Lei 9.455/97, que possui a mesma
disposição da norma declarada inconstitucional. Cabe esclarecer que, ao adotar essa posição, não
se está a violar a Súmula Vinculante n.º 10, do STF, que assim dispõe: "Viola a cláusula de reserva de
plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte".
De fato, o entendimento adotado vai ao encontro daquele proferido pelo Plenário do STF, tornando-
se desnecessário submeter tal questão ao Órgão Especial desta Corte, nos termos do art. 949, § único,
do NCPC: "Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário, ou ao órgão especial, a arguição
de inconstitucionalidade, quando já houver pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal
Federal sobre a questão". Portanto, seguindo a orientação adotada pela Suprema Corte, deve-se
utilizar, para a fixação do regime inicial de cumprimento de pena, o disposto no art. 33 c/c o art.
59, ambos do CP e as Súmulas 440 do STJ e 719 do STF. Confiram-se, a propósito, os mencionados
verbetes sumulares: "Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional
mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito."
(S. 440 do STJ) e "A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige
motivação idônea." (S. 719 do STF). STJ. 5ª T. HC 286.925/RR, Rel. Min Laurita Vaz, j. 13/5/14 (Info
540).

##Atenção: ##TJPE-2011: ##FCC: A execução da pena para o crime de tortura na modalidade


omissão, previsto no §2º do art. 1º, da Lei nº 9.455/77, poderá ser iniciada em outro regime diverso
do fechado. Isso, de acordo com o §7º do mesmo dispositivo legal.

Art. 2º O disposto nesta Lei APLICA-SE ainda quando o crime não tenha sido cometido em
território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição
brasileira. (MPSP-2008) (MPPR-2008) (Invest. Polícia/PCPA-2012)

##Atenção: ##STJ: ##DOD: Crime de tortura praticado contra brasileiro no exterior: trata-se de
hipótese de extraterritorialidade incondicionada (art. 2º da Lei 9.455/97). No Brasil, a competência
para julgar será da Justiça Estadual. O fato de o crime de tortura, praticado contra brasileiros, ter
ocorrido no exterior não torna, por si só, a Justiça Federal competente para processar e julgar os
agentes estrangeiros. Isso porque a situação não se enquadra, a princípio, em nenhuma das
hipóteses do art. 109 da CF/88. STJ. 3ª S. CC 107397-DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro, j. 24/9/2014 (Info
549).

(Anal. Ministerial/MPCE-2020-CESPE): A respeito da Lei de Crimes de Tortura (Lei 9.455/97),


julgue o próximo item: A Lei de Crimes de Tortura, ao prever sua incidência mesmo sobre crimes
que tenham sido cometidos fora do território nacional, estabelece hipótese de extraterritorialidade
incondicionada. BL: art. 2º. Lei 9455.

(MPSC-2010): O disposto na Lei 9.455/97, que define os crimes de tortura e dá outras providências,
aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima
brasileira, constituindo tal regra uma exceção ao princípio da territorialidade. BL: art. 2º. Lei 9455.

Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.


Art. 4º Revoga-se o art. 233 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do
Adolescente.

Brasília, 7 de abril de 1997; 176º da Independência e 109º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO


Nelson A. Jobim

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 8.4.1997.

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