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CRIMES HEDIONDOS

LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE


PROF. RAFAEL FIGUEIREDO PINTO
@prof.rafaelpinto

CRIMES HEDIONDOS - LEI N. 8.072/90

1. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL

- Previsão: “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou


anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo
os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem” (art.
5º, XLIII, CF/88) - mandado de criminalização

- Imposição de restrições no âmbito do processamento e da condenação

- Necessidade de criação de lei federal


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2. A LEI DE CRIMES HEDIONDOS

- Em 25 de julho de 1990, foi aprovada a Lei n. 8.072

- Diversas leis posteriores efetuaram alterações importantes (Leis 8.930/94;


9.695/98; 11.464/07; 12.015/09; 12.978/14; 13.142/15; 13.964/19)

3. CRIMES EQUIPARADOS A HEDIONDOS

- Não são hediondos, mas possuem tratamento equiparado


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Quando a Lei 8.072/90 entrou em vigor, o crime de homicídio, mesmo que


qualificado, não era etiquetado como hediondo. Ocorre que, em virtude das
chacinas da Candelária e de Vigário Geral, e do assassinato da artista da Rede
Globo Daniella Perez, em 1992 (a iniciativa popular, encabeçada pela novelista
Glória Perez, reuniu 1,3 milhão de assinaturas), houve enorme clamor social
provocado pela mídia para que o crime de homicídio fosse incluído no rol dos
crimes hediondos. Nesse cenário surgiu a Lei n. 8.930/94.
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4. ROL DOS CRIMES HEDIONDOS

- Adoção do sistema legal, em detrimento dos sistemas judicial e misto

- (Des)necessidade de declaração formal da hediondez

- Natureza não hedionda dos crimes militares

5. CRIMES HEDIONDOS EM ESPÉCIE

- Natureza hedionda independe de o crime ser consumado ou tentado


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A diferença de tratamento legal entre os crimes comuns e os crimes militares,


mesmo em se tratando de crimes militares impróprios, não revela
inconstitucionalidade, pois o Código Penal Militar não institui privilégios. Ao
contrário, em muitos pontos, o tratamento dispensado ao autor de um delito é
mais gravoso do que aquele do Código Penal comum. Portanto, aos olhos da
Suprema Corte, não se afigura possível a aplicação do CPM apenas na parte que
interessa ao acusado, sob pena de se criar uma norma híbrida, em parte
composta pelo CPM e, em outra parte, pelo CP comum (STF, HC 86459/RJ, 2007)
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Em críticas ao sistema legal, adotado pelo Brasil, o professor e advogado Alberto


Zacharias Toron sugere a criação de uma “cláusula salvatória”, permitindo que, a
depender das circunstâncias do caso concreto, o juiz afaste a natureza hedionda
de um crime constante do rol fixado pelo legislador, sem jamais ampliar para
incluir crimes que não foram enumerados previamente pelo legislador como
crimes hediondos. Essa tese ainda não encontra amparo na jurisprudência.
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5.1. Homicídio em situações específicas

- Previsão criada pela Lei n. 8.930/94

- “Homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de


extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado
(art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII)” (art. 1º, I)

- Discussão doutrinária acerca do significado de “grupo de extermínio”

- O homicídio qualificado-privilegiado tem caráter hediondo?


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Para Cézar Roberto Bitencourt, atividade típica de grupo de extermínio “é a


chacina que elimina a vítima pelo simples fato de pertencer a determinado
grupo ou determinada classe social ou racial, como, por exemplo, mendigos,
prostitutas, homossexuais, presidiários etc. A impessoalidade da ação (...) é uma
das características fundamentais, sendo irrelevante a pluralidade de vítimas”.
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Razões do veto do art. 121, §2º, VIII, do CP: “A propositura legislativa, ao prever
como qualificadora do crime de homicídio o emprego de arma de fogo de uso
restrito ou proibido, sem ressalvas, viola o princípio da proporcionalidade entre
o tipo penal descrito e a pena cominada, além de gerar insegurança jurídica,
notadamente aos agen. de segurança pública, tendo em vista que esses poderão
ser severamente processados ou condenados criminalmente por utilizarem suas
armas, que são de uso restrito, no exercício de suas funções para defesa pessoal
ou de terceiros ou, ainda, em situações para a garantia da ordem pública (...)”.
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“Por incompatibilidade axiológica e por falta de previsão legal, o homicídio


qualificado-privilegiado não integra o rol dos denominados crimes hediondos”
(HC 153.728/SP, Rel. Min. Felix Fischer, 5ª Turma, julgado em 13/04/2010, DJe
31/05/2010). Esse é o entendimento majoritário. A extensão do art. 1º para
contemplar figura não prevista viola o princípio da reserva legal.
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5.2. Lesão corporal em situações específicas

- Previsão criada pela Lei n. 13.142/2015

- “Lesão corporal dolosa de natureza gravíssima e lesão corporal seguida de


morte, quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts.
142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da
Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição” (art. 1º, I-A)
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“A expressão parentesco consanguíneo foi utilizada para excluir da majorante o


parentesco por afinidade. Abrange, evidentemente, o crime cometido contra
filho adotivo porque a Constituição Federal veda este tipo de distinção (art. 227,
§ 6º). Cuida-se de interpretação extensiva” (José Baltazar).
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5.3. Roubo em situações específicas

- Circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º, V, CP)

- Circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, I) ou pelo


emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B)

- Qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, § 3º)

- Disparos para matar a vítima, que permanece viva, é crime hediondo?


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“Quando o agente efetua disparos querendo matar a vítima, mas ela não morre,
vindo, porém, a sofrer sequelas consideradas graves, responderá ele por
tentativa de latrocínio (em razão de seu dolo de matar durante o roubo), e não
por roubo qualificado pelas lesões graves. Em tal hipótese, o delito será
considerado hediondo” (José Baltazar).
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5.4. Extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência


de lesão corporal ou morte (art. 158, § 3º)

- O legislador não previu o §2º do art. 158 na LCH: como proceder?

5.5. Extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput,


e §§ lº, 2º e 3º)

- Curiosidade: grande número de ocorrências quando da tramitação da lei

- É hediondo nas formas simples ou qualificada


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Art. 158, CP - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de
obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou
deixar de fazer alguma coisa: (Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa).

§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-
se a pena de um terço até metade.

§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do art. anterior.

§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é


necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12
(doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas
previstas no art. 159, §§ 2º e 3º, respectivamente.
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Antes do advento da Lei 13.964/19, a extorsão qualificada pela morte (art. 158,
§2º, CP) era crime hediondo (art. 1º, III, LCH). Após a Lei Anticrime, a hipótese
do inciso III ganhou nova redação e passou a prever somente os crimes descritos
no art. 158, §3º, do CP, de modo a suscitar três entendimentos: a extorsão
qualificada pela morte deixou de ser crime hediondo, por falta de previsão legal;
ou tal conduta continua a ser hedionda porque faz remissão ao §3º do art. 157,
que é essencialmente hediondo; ou a ação remanesce hedionda porque está
contemplada formalmente no §3º do art. 157, somada a outras hipóteses.
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No início dos anos 90, o noticiário do Rio de Janeiro trazia com frequência casos
de sequestros de longa duração. Ex: "Roberto Medina é libertado após 15 dias
de cativeiro” (1990); “Sequestradores torturaram estudante“ (1992); "Pai do
atacante Romário é sequestrado na Vila da Penha", contou o jornal carioca no
dia 6 de maio de 1994, semanas antes da Copa do Mundo dos EUA.
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5.6. Estupro

- “estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º)” (V) e “estupro de vulnerável (art.


217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º)” (VI);

- Evolução jurisprudencial e advento da Lei n. 12.015/09

5.7. Epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º)

- Surto de uma doença + grande número de pessoas em determinado local

- Não será hediondo quando não resulta em morte e se não há dolo


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Mesmo antes do advento da Lei 12.015/09, nos tribunais superiores já existia o


entendimento de que “os delitos de estupro e de atentado violento ao pudor,
nas suas formas simples e qualificada, estão incluídos no rol de crimes
hediondos desde a edição da Lei n. 8.072/1990” (STJ, AgRg-REsp 1187176/RS,
2012), “ainda que mediante violência presumida” (STJ, REsp 1225387/RS, 2013).
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5.8. Alteração de produto alimentício destinado a consumo

- “Corrupção, adulteração, falsificação ou alteração de substância ou


produto alimentício destinado a consumo, tornando-o nocivo à saúde ou
reduzindo-lhe o valor nutritivo” (VII-A)

- “Valor nutritivo”: alto grau de subjetividade ou discrição

- Foi vetado pela Presidência da República por contrariar interesse público


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5.9. Alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais

- “Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a


fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1º, § 1º-A e § 1º-B, com a
redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998)” (VII-B)

- Advento da Lei n. 9.677/98 e a fixação de de penas muito altas: polêmica!

- Não é hediondo se resulta de culpa


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O STJ, no julgamento no HC 239.363/PR, reconheceu a inconstitucionalidade do


preceito secundário (pena em abstrato) do art. 273 do Código Penal, por ofensa
aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade porque o legislador teria
sido açodado na modificação legislativa ao estabelecer penas tão altas. No STF,
em igual sentido, o julgamento do RE 979962, em 24/03/2021.
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5.10. Exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável

- “Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de


criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º)”
(VIII)

- Inovação trazida pela Lei n. 12.978/2014

- A responsabilidade penal alcança o proprietário, gerente ou responsável


pelo local em que se verifiquem referidas práticas
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5.11. Furto em situações específicas

- “furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que


cause perigo comum (art. 155, § 4º-A, CP) ” (IX)

- Visa combater o perigo causado ao meio social com os inúmeros estouros


de caixa eletrônico em terminais bancários no Brasil

- Novatio legis in pejus


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5.12. Outros delitos hediondos

- Estão especificados no parágrafo único do art. 1º

a) Genocídio

- Punição para quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte,


grupo nacional, étnico, racial ou religioso (art. 1º da Lei n. 2.889/56)

- Polêmica: os arts. 2º e 3º são verdadeiramente hediondos?


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Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou consumados:

I - o crime de genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889/56;

II - o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, previsto no art. 16 da
Lei nº 10.826/03;

III - o crime de comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17 da Lei nº 10.826/03;

IV - o crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição, previsto no art.


18 da Lei nº 10.826/03;

V - o crime de organização criminosa, quando direcionado à prática de crime hediondo ou


equiparado.
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“O texto da Lei n. 8.072/90 contém um equívoco, pois confere caráter hediondo


aos crimes de genocídio previstos nos arts. 1º, 2º e 3º, da Lei n. 2.889/56,
quando, em verdade, apenas a figura do art. 1º consiste efetivamente em
genocídio. Nos demais dispositivos, encontram-se os delitos de associação e
incitação. Qual, então, seria a solução? Parece-nos correto considerar apenas
hediondo o crime do art. 1º” (José Baltazar).
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b) Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido

- “Art. 16. Possuir, (...) portar, (...) manter sob sua guarda ou ocultar arma de
fogo, acessório ou munição de uso restrito, sem autorização e em desacordo
com determinação legal ou regulamentar” (Lei n. 10.826/03)

- Figuras equiparadas (art. 16, §1º): hediondos?

- Art. 16, §2º: Porte/posse de munição/artefato de uso proibido: hediondos?

c) Novas figuras (III, IV e V)


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“A Lei n. 13.964/2019 trouxe importante modificação quanto a essa modalidade


de crime hediondo. Antes da entrada em vigor desta Lei não apenas o porte e a
posse de arma de fogo de uso proibido eram considerados hediondos, como
também as mesmas condutas que fossem relacionadas a arma de fogo de uso
restrito. A nova Lei é benéfica e, portanto, afasta o caráter hediondo em relação
àqueles que cometeram crime de porte ou posse ilegal de arma de fogo de uso
restrito durante a vigência da lei anterior.” (José Baltazar Jr.)
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“Na posse ou porte de munição de uso proibido, não nos parece correto rotular
tal conduta como hedionda, sob pena de indevida analogia in malam partem e
consequente violação ao princípio da legalidade”, diz Renato Brasileiro. Todavia,
José Baltazar afirma que “A redação do art. 16, § 2º, do Estatuto (dada pela Lei
n. 13.964/2019), não menciona acessórios e munição de uso proibido, contudo,
trata-se, evidentemente, de equívoco do legislador passível de ser sanado por
interpretação extensiva, pois a diferenciação não faria qualquer sentido”.
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CURIOSIDADE: a partir do Decreto n. 9.785 (Decreto de Armas), de 07.05.2019,


atualmente revogado, os condenados por porte ilegal de arma de fogo de uso
restrito, cujas armas passaram a ser de uso permitido (não hediondo), que
estavam cumprindo pena, passaram a não mais cumprir 2/5 da pena, se
primário, ou 3/5, se reincidente, para progredir de regime, mas só 1/6 da pena.
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5.13. Observações importantes

a) Tráfico de entorpecentes privilegiado e a associação para o tráfico

- Não possuem natureza equiparada à dos crimes hediondos

b) Envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou


medicinal

- Constava no rol original, mas foi retirado pela Lei n. 8.930/94


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“O tráfico de entorpecentes privilegiado não se harmoniza com a hediondez do


tráfico definido no caput e § 1º do art. 33 da Lei 11.343/06. O tratamento penal
dirigido ao delito cometido sob o manto do privilégio apresenta contornos mais
benignos, menos gravosos, notadamente porque são relevados o envolvimento
ocasional do agente com o delito, a não reincidência, a ausência de maus
antecedentes e a inexistência de vínculo com organização criminosa.” (STF, HC
118.533, 2016). Com a entrada em vigor da Lei 13.964/19, o tráfico privilegiado
passou a ser formalmente não hediondo (art. 112, §5º, da LEP).
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“A jurisprudência pacífica do Superior Tribunal de Justiça reconhece que o crime


de associação para o tráfico de entorpecentes (art. 35 da Lei n. 11.343/2006)
não figura no rol taxativo de delitos hediondos ou a eles equiparados, tendo em
vista que não se encontra expressamente previsto no rol taxativo do art. 2º da
Lei n. 8.072/1990” (STJ, HC 394.327/SP, 2017).
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6. ANISTIA, GRAÇA, INDULTO E FIANÇA

-“Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes


e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: I - anistia, graça e indulto;
II – fiança” (art. 2º)

- (In)constitucionalidade da previsão de vedação de indulto

- Peculiaridades do tráfico privilegiado

- Possibilidade de liberdade provisória após o advento da Lei n. 11.464/07


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“O inciso I do art. 2º da Lei 8.072/90 retira seu fundamento de validade


diretamente do art. 5º, XLII, da Constituição Federal. O art. 5º, XLIII, da
Constituição, que proíbe a graça, gênero do qual o indulto é espécie, nos crimes
hediondos definidos em lei, não conflita com o art. 84, XII, da Lei Maior” (STF,
HC 90.364, 2007).
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O STF asseverou que a proibição de liberdade provisória pelo legislador calcada


na gravidade em abstrato é inconstitucional, cabendo ao juiz, levando em conta
as peculiaridades do caso concreto, deliberar pela concessão, ou não, da
liberdade provisória. “Constrição cautelar mantida só com base na proibição
legal. Necessidade de análise dos requisitos do art. 312 do CPP. Ordem
concedida” (STF, HC 104339, 2012).
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7. REGIME INICIAL FECHADO

- 1990: “A pena por crime previsto neste artigo será cumprida integralmente
em regime fechado” (art. 2º, § 1º)

- 2006: inconstitucionalidade do dispositivo por violação a princípios da CF

- 2007: alteração da LCH pela Lei 11.464/07 para prever o cumprimento de


pena em regime inicialmente fechado

- 2012: nova declaração de inconstitucionalidade do art. 2º, §1º


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Por 6 votos a 5, o Plenário do STF reconheceu a inconstitucionalidade do §1º do


artigo 2º da Lei 8.072/90 que proibia a progressão de regime de cumprimento
de pena nos crimes hediondos (STF, HC 82.959, 2006). Em síntese, os votos
vencedores destacaram que a proibição afronta o princípio da individualização
da pena, uma vez que o legislador não pode impor regra fixa que impeça o
julgador de individualizar caso a caso a pena do condenado. Por outro lado, os
votos contrários sustentaram que a proibição era uma opção político-criminal
exercida legitimamente pelo Congresso Nacional, constitucional, portanto.
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Ao julgar o HC 111840, em 2012, o STF também declarou como inconstitucional


a obrigatoriedade do regime inicial fechado do art. 2º, §1º, da LCH para penas
não superiores a 8 anos, por malferir o princípio da individualização da pena.
Logo, o regime inicial fechado para os crimes hediondos, tráfico de drogas,
terrorismo ou tortura somente ocorrerá se o condenado for reincidente ou se as
circunstâncias do caso concreto recomendarem o regime mais gravoso,
mediante fundamentada decisão judicial. O magistrado deverá observar, então,
os entendimentos consagrados nas súmulas 718 e 719 do STF.
@prof.rafaelpinto

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8. REGRAS PARA A PROGRESSÃO DE REGIME

- 1990: não existia previsão de prazo para progressão de regime

- 2007: a Lei 11.464/07 estabeleceu como requisito objetivo o cumprimento


de 2/5 da pena, se primário, e de 3/5, se reincidente (art. 2º, § 2º)

- 2019: a Lei 13.964/19 alterou o requisito objetivo (art. 112, LEP)

- Requisito subjetivo: atestado de boa conduta carcerária elaborado pelo


diretor do presídio (fim do exame criminológico?) - art. 112, §1º, LEP
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Art. 112 da Lei 7.210/84 (LEP) - A pena privativa de liberdade será executada em forma
progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz,
quando o preso tiver cumprido ao menos: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

I - 16% da pena, se o apenado for primário e o crime for sem violência ou grave ameaça;

II - 20% da pena, se o apenado for reincidente em crime sem violência ou grave ameaça;

III - 25% da pena, se o apenado for primário e o crime for com violência ou grave ameaça;

IV - 30% da pena, se o apenado for reincidente em crime com violência ou grave ameaça;

V - 40% da pena, se o apenado for condenado por crime hediondo ou equiparado, se for
primário;
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VI - 50% da pena, se o apenado for:

a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for
primário, vedado o livramento condicional;

b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa


estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado; ou

c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada;

VII - 60% da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou equiparado;

VIII - 70% da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou equiparado com
resultado morte, vedado o livramento condicional.
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§ 1º Em todos os casos, o apenado só terá direito à progressão de regime se ostentar boa


conduta carcerária, comprovada pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que
vedam a progressão.

§ 2º A decisão do juiz que determinar a progressão de regime será sempre motivada e


precedida de manifestação do Ministério Público e do defensor, procedimento que também
será adotado na concessão de livramento condicional, indulto e comutação de penas,
respeitados os prazos previstos nas normas vigentes. (...)

§ 6º O cometimento de falta grave durante a execução da pena privativa de liberdade


interrompe o prazo para a obtenção da progressão no regime de cumprimento da pena, caso
em que o reinício da contagem do requisito objetivo terá como base a pena remanescente.
@prof.rafaelpinto

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Sobre o exame criminológico, dispõe a Súmula 439 do STJ: “Admite-se o exame


criminológico pelas peculiaridades do caso, desde que em decisão motivada”.
Em semelhante sentido, embora também tratando sobre requisitos objetivos da
progressão de regime, estabelece a Súmula Vinculante 26 do STF: “(...) podendo
determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame
criminológico”.
@prof.rafaelpinto

CRIMES HEDIONDOS - LEI N. 8.072/90

Por ser a Lei nº 13.964/19 uma lex gravior, é de se destacar que a promoção
carcerária para os crimes hediondos e equiparados cometidos antes da vigência
do citado diploma legal segue a regra do revogado art. 2º, §2º, da Lei nº
8.072/90 ante a impossibilidade de retroagir norma penal mais gravosa (art. 4º,
XL, da CF). Em resumo, as novas regras para a progressão de regime de crimes
hediondos e equiparados aplicam-se apenas aos crimes cometidos após a data
de 23 de janeiro de 2020, ocasião em que entra em vigor a Lei nº 13.964/19.
@prof.rafaelpinto

CRIMES HEDIONDOS - LEI N. 8.072/90

A Lei 13.769/18 previu uma progressão especial para mulher gestante ou que
for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência, segundo
determina o art. 112, §3º, da LEP. Cuida-se de promoção carcerária que exige
requisitos mais brandos e destinada exclusivamente à mulher nos casos citados,
ainda que se trata de crimes hediondos. Esse tema será abordado com maior
profundidade na aula sobre a Lei 7.210/84, a Lei de Execução Penal.
@prof.rafaelpinto

CRIMES HEDIONDOS - LEI N. 8.072/90

9. DIREITO DE APELAR EM LIBERDADE

- “Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se


o réu poderá apelar em liberdade” (art. 2º, § 3º)

10. PRISÃO TEMPORÁRIA

- “(...) terá o prazo de trinta dias, prorrogável por igual período em caso de
extrema e comprovada necessidade” (art. 2º, § 4º)

- As hipóteses são somente as descritas no art. 1º da Lei n. 7.960/89?


@prof.rafaelpinto

CRIMES HEDIONDOS - LEI N. 8.072/90

A lista dos crimes anunciados no art. 1º, inciso III da Lei 7.960/89 não contempla
todos os crimes hediondos e equiparados (estupro de vulnerável, favorecimento
de prostituição de menor ou vulnerável, tortura, terrorismo, posse ou porte
ilegal de arma de uso restrito etc.). Nesses casos, admite-se prisão temp. com o
prazo de 30 dias, prorrogável por igual período, em caso de extrema e
comprovada necessidade. Em razão disso, é forçoso concluir que a LCH não só
aumentou o prazo da prisão temp., mas também ampliou o rol dos crimes
descritos no art. 1º, inciso III, da lei 7960/89 para alcançar outras figuras típicas.
@prof.rafaelpinto

CRIMES HEDIONDOS - LEI N. 8.072/90

11. ESTABELECIMENTOS PENAIS

- De segurança máxima (criados pela União) para condenados de alta


periculosidade, cuja permanência em presídios estaduais ponha em risco a
ordem ou incolumidade pública (art. 3º)

12. LIVRAMENTO CONDICIONAL

- 2/3 da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, tortura, tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, se o
apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza (art. 5º)
@prof.rafaelpinto

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A Penitenciária Federal em Catanduvas, localizada a 476 quilômetros de


Curitiba, na região oeste do Paraná e inaugurada em 2006 , foi a primeira prisão
federal de segurança máxima criada pela União. Como as demais penitenciárias
do gênero, tem 208 celas individuais e 12 de isolamento, sendo de 12.700
metros quadrados sua área construída. Este estabelecimento prisional destina-
se exclusivamente a presos de alta periculosidade.
@prof.rafaelpinto

CRIMES HEDIONDOS - LEI N. 8.072/90

- Significado de reincidência específica: 2 correntes (restritiva e ampliativa)

- Exame criminológico mediante decisão fundamentada (Súmula 439, STJ)

13. ALTERAÇÃO DAS PENAS DOS CRIMES HEDIONDOS

- Aumento das penas em abstrato dos crimes hediondos (art. 6º)

- Exclusão da pena de multa da extorsão mediante sequestro

- Epidemia e envenenamento de água na figura simples (não hediondos)


@prof.rafaelpinto

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Quanto ao livramento condicional, predomina na doutrina o entendimento de


que reincidente específico é aquele que, depois de cometer determinado crime
hediondo ou equiparado, pratica outro crime dessa ordem, independentemente
de proteger, ou não, o mesmo bem jurídico (teoria ampliativa). Ainda sobre LC,
cabe lembrar que também não fará jus ao instituto o condenado por crime
hediondo ou equiparado, com resultado morte, ainda que primário, conforme
dispõe o art. 112, VI, “a”, e VIII, da LEP, com redação dada pela Lei nº 13.964/19.
@prof.rafaelpinto

CRIMES HEDIONDOS - LEI N. 8.072/90

CURIOSIDADE: “Imperioso afastar a reincidência específica em relação ao tráfico


privilegiado e o tráfico previsto no caput do art. 33 da Lei de Drogas, nos termos
do novo entendimento jurisprudencial, para fins da concessão do livramento
condicional” (STJ, HC 436.103/DF, 2018).
@prof.rafaelpinto

CRIMES HEDIONDOS - LEI N. 8.072/90

14. DELAÇÃO EFICAZ

- “Ao art. 159 do Código Penal fica acrescido o seguinte parágrafo: § 4º Se o


crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à
autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida
de um a dois terços.” (art. 7º)

- E se o crime for praticado por uma única pessoa?

- Perdão judicial da Lei n. 9.807/99 x delação eficaz da Lei n. 8.072/90


@prof.rafaelpinto

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“Extorsão mediante sequestro. Causa especial de diminuição da pena. Delação.


A regra do parágrafo 4º do art. 159 do Código Penal, acrescentada pela Lei n.
8.072/90, pressupõe a delação à autoridade e o efeito de haver-se facilitado a
libertação do sequestrado” (STF, HC 69.328-8, julgado em 5/6/92).
@prof.rafaelpinto

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15. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA QUALIFICADA

- “Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código
Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.” (art. 8º, caput)

- Aumento de pena do art. 288, § único, do CP (associação armada ou com a


participação de criança ou adolescente) pode ser aplicado a hediondos?

- Curiosidade: associação do CP é diferente da associação da Lei de Drogas


@prof.rafaelpinto

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16. TRAIÇÃO BENÉFICA

- “O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou


quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um
a dois terços.” (art. 8º, § único)

- Causa de diminuição de pena e o concurso material de crimes

- “Bando ou quadrilha”: denominação afastada pela Lei n. 12.850/2013

- Aplicabilidade ao crime de associação criminosa


@prof.rafaelpinto

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17. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA

- “As penas fixadas no art. 6º para os crimes capitulados nos arts. 157, § 3º,
158, § 2º, 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º, 213, caput, e sua combinação
com o art. 223, caput e parágrafo único, 214 e sua combinação com o art.
223, caput e parágrafo único, todos do Código Penal, são acrescidas de
metade, respeitado o limite superior de trinta anos de reclusão, estando a
vítima em qualquer das hipóteses referidas no art. 224 também do Código
Penal.” (art. 8º, § único)
@prof.rafaelpinto

CRIMES HEDIONDOS - LEI N. 8.072/90

Esse dispositivo legal que prevê causas de aumento de pena para delitos
patrimoniais e sexuais tornou-se inaplicável com a edição da lei 12015/09,
porquanto houve revogação expressa do art. 224 do Código Penal, ou seja, o art.
9º da Lei de Crimes Hediondos restou carente do complemento normativo em
vigor. Logo, a Lei 12.015/09 é favorável ao réu (novatio legis in mellius). Essa é a
posição do STF (HC 100181, 2019).
@prof.rafaelpinto

CRIMES HEDIONDOS - LEI N. 8.072/90

18. PRAZO EM DOBRO PARA O TRÁFICO DE ENTORPECENTES

- “O art. 35 da Lei n. 6.368, de 21 de outubro de 1976, passar a vigorar


acrescido de parágrafo único, com a seguinte redação: Art. 35. (...) Parágrafo
único. Os prazos procedimentais deste capítulo serão contados em dobro
quando se tratar dos crimes previstos nos arts. 12, 13 e 14” (art. 10)

- Perdeu sentido após o surgimento da Lei n. 11.343/2006 (Lei de Drogas)


@prof.rafaelpinto

CRIMES HEDIONDOS - LEI N. 8.072/90

19. PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO

- Imposição do art. 394-A do Código de Processo Penal, introduzido pela Lei


n. 13.285/2016

- Prioridade em todas as instâncias

20. CONSIDERAÇÕES FINAIS

- Crítica: O Direito Penal do inimigo e a Lei de Crimes Hediondos


@prof.rafaelpinto

CRIMES HEDIONDOS - LEI N. 8.072/90

O Dir. Penal do inimigo dirige-se àqueles que não oferecem garantias cognitivas
suficientes de um comportamento pessoal adequado ao dir., tendo por escopo a
neutralização do inimigo como fonte de perigo, em um estado de guerra. O
inimigo perde a sua qualidade de pessoa e o Estado não pode tratá-lo como tal.
Nessa área, tentando fazer controle prévio da violência, a LCH é mais um ex. de
lei inócua, de fins simbólicos e retóricos que, como advertido por Beccaria, não
tem sido mais do que um instrumento das paixões de alguns poucos (G. Habib).

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