Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CRIMES HEDIONDOS
(LEI 8.072/90)
Conceito
A expressão “crimes hediondos” foi introduzida pelo art. 5º, XLIII, da CF que, entretanto, relegou à lei
ordinária a definição dessa figura criminosa.
A Constituição prevê o chamado mandado de criminalização, que é uma ordem dirigida ao legislador
para que defina as condutas criminosas referentes à hediondez.
A Lei 8.072/90, ao regular o assunto, absteve-se também de traçar-lhe uma definição e resolveu adotar
o chamado critério legal ou legislativo, especificando, dentre os crimes já existentes no ordenamento jurídico,
aqueles que devem ser rotulados de hediondos.
Portanto, não há na lei uma definição técnica do que seja crime hediondo e, sim, um rol de natureza
taxativo.
O delito que não figura no aludido rol jamais poderá ser considerado hediondo, ainda que de extrema
gravidade, pois, como é sabido, é proibida a analogia “in malam partem”.
Não se seguiu assim o critério judicial, que atribui ao juiz dizer no caso concreto se o delito é ou não
hediondo, nem o critério misto, segundo o qual a lei menciona um rol meramente exemplificativo dos crimes
hediondos, autorizando o juiz a considerar também hediondos outros delitos similares. É evidente que esses
dois critérios afrontam o princípio da reserva legal.
Os crimes assemelhados são os previstos no art. 5º, XLIII, da CF, ou seja, tortura, tráfico de drogas e
terrorismo. Para facilitar a memorização, note-se que os três começam com a letra “t”.
Assim como os hediondos eles são inafiançáveis e insuscetíveis de graça, indulto e anistia, além de
sofrerem outras restrições de caráter penal e processual previstas na Lei 8.072/90.
Os crimes equiparados se sujeitam, portanto, às mesmas consequências que a Constituição e a Lei
8.072/90 preveem para os crimes hediondos.
Todavia, enquanto o rol dos crimes assemelhados figura no art. 5º, XLIII, da CF, sendo, pois, cláusula
pétrea e, por isso, não pode ser alterado nem por emenda à Constituição, o rol dos crimes hediondos é fixado
por lei ordinária, suscetível assim de alteração legislativa, tanto é que, desde o advento da Lei 8.072/90, o
referido rol passou por inúmeras modificações trazidas sucessivamente pelas leis 8.930/94, 9.695/98,
11.464/2007, 12.015/2009, 12.978/2014,13.497/2.017 e 13.964//2.019.
A maioria dos crimes hediondos se localiza no Código Penal, mas cinco deles concentram-se na
Legislação Penal Especial.
O art. 1º da Lei 8.072/90 prevê o rol taxativo dos crimes hediondos.
Os delitos previstos neste rol são hediondos na forma tentada ou consumada.
Passo então à análise deste rol, iniciando pelos crimes hediondos previstos no Código Penal.
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Os delitos de lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art.129, §2º, do CP) e lesão corporal seguida
de morte (art.129, §3º, do CP) só são hediondos quando cometidos:
a) contra autoridade ou agente descritos nos artigos 142 e 144 da Constituição Federal, no exercício da
função ou em decorrência dela, ou seja, policiais e membros das Forças Armadas (Marinha, Exército e
Aeronáutica). Os policiais abrangidos pelo art. 144, “caput”, da CF são os integrantes da polícia federal, polícia
rodoviária federal, polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias militares e corpos de bombeiros militares
e polícias penais federal, estaduais e distrital. Os guardas municipais, embora não sejam policiais, também são
abrangidos, por força do art. 144, §8º, da CF.
b) roubo circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º, inciso V);
c) roubo circunstanciado pelo emprego de arma de fogo de uso permitido (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou
pelo emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B);
d) roubo qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, § 3º). Antes da lei
13.964/2019, apenas o roubo qualificado pela morte, ou seja, o latrocínio, era tido como crime hediondo. Por
se tratar de uma norma que prejudica o réu, não poderá retroagir a fatos ocorridos antes de sua vigência;
e) extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão corporal ou morte (art.
158, § 3º). O delito de extorsão só é crime hediondo na situação do art. 158, §3º, do CP. Esta hipótese foi
introduzida pela lei 13.964/2019, que em contrapartida revogou o antigo inciso III do art. 1º da lei 8.072/90,
que considerava como sendo crime hediondo a extorsão qualificada pela morte, prevista no art. 158, §2º, do
CP. A norma em análise comporta três interpretações. Primeira, a extorsão só será crime hediondo quando,
além da restrição da liberdade, houver ainda lesão corporal ou morte. Segunda, a extorsão será crime
hediondo em todas as situações do §3º do art. 158 do CP, ou seja, quando houver apenas a restrição da
liberdade ou quando, além da restrição da liberdade, ainda houver lesão corporal ou morte. Esta exegese,
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
torna inócua a menção à ocorrência da lesão corporal ou morte, pois bastaria, para o delito ser hediondo, a
restrição da liberdade de locomoção. Terceira, a extorsão será crime hediondo em três situações distintas.
Primeira, quando houver restrição da liberdade, ainda que não haja lesão nem morte. Segunda, quando
houver lesão corporal, ainda que não haja restrição da liberdade. Terceira, quando houver morte, ainda que
não haja restrição da liberdade. Esta exegese não reflete o propósito da lei, pois esta se refere expressamente
ao §3º do art. 158, que cuida da extorsão com restrição da liberdade de locomoção. Não se pode, dessa forma,
considerar também como crime hediondo as extorsões dos parágrafos anteriores ou do “caput” do art. 158.
Por consequência, a extorsão qualificada pela morte, prevista no §2º do art. 158 do CP, não é mais crime
hediondo. Trata-se de uma “novatio legis in mellius” em relação ao §2º do art. 158 do CP, impondo-se a sua
retroatividade e, “in pejus”, portanto, irretroativa quanto ao §3º do art. 158 do CP.
f) extorsão mediante sequestro. Este crime sempre é hediondo, seja em sua forma simples (art. 159,
caput), seja na qualificada (§§ 1º, 2º e 3º). Quanto ao crime de sequestro, previsto no art. 148 do CP, não é
hediondo.
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Estatuto do Desarmamento, também são crimes hediondos, desde que envolva arma de fogo de uso proibido.
Quantos aos crimes que envolvem munições e acessórios de uso proibido, a meu ver, não são hediondos, mas
o assunto ensejará polêmica, por força do princípio da gravitação jurídica, segundo o qual o acessório segue a
sorte do principal.
III - o crime de comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro
de 2003. Este delito é hediondo quer se trate de arma de fogo de uso permito, de uso restrito ou de uso
proibido. A hediondez também abrange o comércio ilegal de acessórios e munições, pois o art. 17 também se
refere a esses elementos.
IV - o crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição, previsto no art. 18 da Lei
nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003. Este delito é hediondo, quer a arma de fogo, acessório ou munição
seja de uso permitido, restrito ou proibido.
V - o crime de organização criminosa, quando direcionado à prática de crime hediondo ou equiparado.
A lei não prevê como hediondo crime de associação criminosa para prática de crime hediondo ou equiparado,
sendo vedada a analogia “in malam partem”. O delito de milícia, previsto no art. 288-A do CP também não é
hediondo.
Crimes militares
Quanto aos crimes militares impróprios, que são aqueles tipificados simultaneamente na Legislação
Penal comum e no Código Penal Militar, como estupro, latrocínio, homicídio qualificado e outros, paira
polêmica.
Uma primeira corrente, que é dominante, sustenta que não são crimes hediondos, pois o rol da Lei
8.072/90 faz menção expressa aos crimes do Código Penal, sendo vedada a analogia “in malam partem”.
Outra, considera que são hediondos, aplicando a interpretação extensiva, isto é, a Lei 8.072/90 quis
abranger também esses delitos. Esta última orientação não é aceita, pois o rol dos crimes hediondos é taxativo.
CONSEQUÊNCIAS DA HEDIONDEZ
Os crimes hediondos e os três que lhe são assemelhados (tortura, tráfico de drogas e terrorismo) sofrem
as seguintes restrições impostas pela Lei 8.072/90:
a) Proibição de anistia, graça e indulto. Anistia é a renúncia do Estado ao direito de punir certos fatos
criminosos.
Graça é o perdão individual concedido a determinado criminoso, isentando ou abrandando a sua pena.
Indulto é a indulgência de caráter coletivo, que extingue ou abranda a pena aplicada, ou ainda comuta
a pena, isto é, prevê a sua substituição por outra mais branda.
O art. 5º, XLII, da CF não proíbe o indulto, e, sim, a anistia e a graça.
Uma corrente, por isso, sustenta que é inconstitucional a proibição do indulto.
Outra interpreta o termo graça, previsto no art. 5º, XLII, da CF, em sentido amplo, para abranger
também o indulto.
A vedação da graça, anistia, indulto e de outros benefícios não se aplica aos crimes praticados antes da
lei que os declarou hediondos, pois a lei penal que prejudica o réu não pode retroagir.
Outra corrente, porém, sustenta que, no decreto de indulto, tendo em vista a discricionariedade do
Presidente da República, é lícita a exclusão de delitos que, antes do aludido decreto, ainda não eram
hediondos.
Ora, nada obsta que o decreto de indulto exclua expressamente determinado delito, mas a exclusão
automática, em face do caráter hediondo, se revela inconstitucional, por provocar a retroatividade da lei penal
mais severa.
b) Proibição de fiança.
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
É, pois, proibida, por força da Construção Federal, a liberdade provisória com fiança.
Note-se, porém, que a lei não proíbe a liberdade provisória sem fiança que, em razão disso, pode ser
concedida aos delitos hediondos e assemelhados, conforme jurisprudência do STF.
Há quem visualize nisso uma certa ilógica, pois à medida que se veda a fiança implicitamente se veda
também a liberdade provisória sem fiança, ou seja, não há lógica em se libertar sem fiança e se proibir a
liberdade com fiança.
O STF, porém, admite a liberdade provisória sem fiança.
Aliás, nenhuma lei pode proibir a liberdade provisória, sob pena de ser reputada inconstitucional, ainda
que se trate de delitos hediondos e equiparados.
Nos crimes hediondos e assemelhados, a prisão temporária, prevista na Lei 7.960/1.989, que não se
confunde com a prisão preventiva, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de
extrema e comprovada necessidade.
Nos demais delitos, o prazo de prisão temporária é de 5 (cinco) dias, prorrogável por mais 5 (cinco).
Exige-se, para obtenção desse benefício, o cumprimento de mais de dois terços da pena, nos casos de
condenação por crime hediondo e assemelhados e se veda esse benefício ao reincidente específico em crimes
dessa natureza (art. 83, V, do CP), outrossim, quando houver morte.
A reincidência específica em crimes da mesma natureza, para a corrente dominante, compreende todos
os crimes mencionados na Lei 8.072/90 (hediondos, terrorismo, tortura e tráfico de drogas), ao passo que
outra exige que os crimes sejam idênticos ou semelhantes (exemplo: estupro e estupro de vulnerável).
Os crimes hediondos e equiparados, com resultado morte, ainda que o condenado seja primário,
também não admitem o livramento condicional (art. 112, VI, “a” e VIII, da LEP).
O art. 112 da LEP, com redação dada pela Lei 13.964/2.019, veda o livramento condicional nos crimes
hediondos e equiparados, com resultado morte, silenciando nas demais situações.
Em função disso, a Defensoria Pública sustenta que o reincidente em crimes hediondos ou equiparados,
sem resultado morte, poderia obter o livramento condicional, operando-se a revogação tácita dá vedação
prevista no art. 83, V, do CP.
Esta exegese, porém, não convence, pois a menção ao resultado morte era necessária para se vedar o
livramento condicional, nessa situação, ao criminoso primário.
e) No crime de corrupção de menores, previsto no art. 244-B, §2º, do ECA, a pena aumenta de 1/3 (um
terço) no caso de crimes hediondos ou assemelhados.
f) Progressão de regime diferenciada
De acordo com o art. 112 da LEP, com redação dada pela lei 13.964/2019, a pena privativa de liberdade
será executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada
pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos:
- 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime hediondo ou
equiparado, se for primário. Antes da lei 13.964/2019, o percentual de progressão de crime hediondo ou
equiparado era de 2/5 (dois quintos), quando o apenado era primário. Na verdade, 2/5 (dois quintos) é a
mesma coisa que 40% (quarenta por cento). Portanto, trata-se de uma alteração puramente semântica. Abre-
se exceção se o apenado for condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização
criminosa estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado, pois, nesse caso, mesmo sendo
primário, o percentual será de 50% (cinquenta por cento).
- 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for condenado por exercer o comando, individual
ou coletivo, de organização criminosa estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado. A hipótese
não faz menção à associação criminosa, prevista no art. 288 do CP, mas apenas à organização criminosa, sendo
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
vedada a analogia “in malam partem”. Aqui, não há a vedação do livramento condicional, pois a condenação
é pelo crime de organização criminosa e não por crime hediondo ou equiparado.
- 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo ou
equiparado. Aqui, também se exige a reincidência específica em crime hediondo ou equiparado. Este
percentual só é aplicável quando não houver o resultado morte. Não há a vedação do livramento condicional.
- 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou equiparado com
resultado morte. Exige-se uma reincidência específica em crime hediondo ou equiparado com o resultado
morte.
Não se considera equiparado ao crime hediondo, para os fins deste artigo, o crime de tráfico de drogas
previsto no §4º do art. 33 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006 (§5º do art. 112 da LEP). Trata-se do
tráfico de drogas privilegiado, que se verifica quando o agente é primário, de bons antecedentes, não se dedica
às atividades criminosas nem integra a organização criminosa. O aludido delito, para efeito de progressão,
deverá observar os percentuais previstos para os delitos não hediondos ou equiparados.
Os delitos hediondos e equiparados também admitem a progressão especial do §3º do art. 112 da LEP.
A progressão especial é a que exige o cumprimento de apenas 1/8 (um oitavo) da pena no regime
anterior.
Só é possível este benefício à mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas
com deficiência.
O benefício é vedado nos crimes com violência ou grave ameaça contra pessoa e também àquelas que
integram ou integraram organizações criminosas. Outrossim, nos crimes contra seu filho ou dependente.
Exige-se ainda a primariedade e o bom comportamento carcerário.
A propósito dispõe o §3º do art. 112 da LEP, introduzido pela lei 13.771/2018:
“No caso de mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência,
os requisitos para progressão de regime são, cumulativamente:
I - não ter cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;
II - não ter cometido o crime contra seu filho ou dependente;
III - ter cumprido ao menos 1/8 (um oitavo) da pena no regime anterior;
IV - ser primária e ter bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento;
V - não ter integrado organização criminosa”.
O cometimento de novo crime doloso ou falta grave implicará a revogação do benefício (§ 4º do art.
112 da LEP).
A aludida progressão especial, que exige o cumprimento de apenas 1/8 (um oitavo) da pena no regime
anterior, também se aplica aos crimes hediondos e equiparados, quando não houver violência nem grave
ameaça contra pessoa, desde que preenchidos os demais requisitos acima.
O art. 9º da Lei 8.072/90, que prevê aumento de pena da metade a alguns crimes hediondos, quando a
vítima se enquadra no art. 224 do CP, foi revogado tacitamente, à medida que o citado art. 224 foi revogado
expressamente pela Lei 12.015/2.009.
Regime de pena
O art. 2º, §1º, da Lei 8.072/90 determina que a pena seja cumprida inicialmente em regime fechado.
O STF, no HC 111.840/ES, declarou a inconstitucionalidade dessa exigência de se iniciar a pena no regime
fechado, sob o argumento de violação do princípio da individualização da pena.
No texto original da Lei 8.072/90, proibia-se a progressão de regimes à medida que se determinava que
a pena deveria ser cumprida integralmente no regime fechado, mas a súmula vinculante nº 26 considerou
inconstitucional essa hipótese, por violar o princípio da individualização da pena.
Posteriormente, a Lei 11.464/2007 alterou a redação do §1º do art. 2º da Lei 8.072/90 para impor
apenas o regime inicial fechado, mas acabou também tendo o mesmo destino da inconstitucionalidade.
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Em suma, os crimes hediondos e equiparados admitem os três regimes: fechado. semiaberto e aberto.
Em matéria de regime de pena, seguem os mesmos critérios previstos para os demais delitos.
Benefícios permitidos
DELAÇÃO PREMIADA
Delação premiada ou direito premial é o benefício penal concedido ao criminoso que colabora com a
justiça.
Há no ordenamento jurídico brasileiro inúmeras hipóteses, sendo que duas delas estão previstas na Lei
8.072/90, a saber:
a) Na extorsão mediante sequestro, se o crime é cometido em concurso de pessoas, o concorrente que
o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços
(art. 159, §4º, do CP, introduzido pela Lei 8.072/90). Exige-se, para usufruir do benefício, que o delito do art.
159 do CP seja praticado em concurso de pessoas, outrossim, a eficácia da delação, isto é, que ela facilite a
libertação da vítima sequestrada. Esta delação tem a natureza jurídica de causa obrigatória de redução de
pena.
b) No crime de associação para a prática de crimes hediondos ou assemelhados, o participante e o
associado que denunciar à autoridade a associação, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida
de um a dois terços (parágrafo único do art. 8º da Lei 8.072/90). Exige-se dos requisitos. Primeiro que se trate
do delito de associação criminosa para fins de praticar crimes hediondos ou assemelhados. Segundo, que a
delação seja eficaz, isto é, viabilize o desmantelamento da associação. Esta delação também tem a natureza
jurídica de causa obrigatória de redução da pena. O delito de associação criminosa para a prática de crimes
hediondos ou equiparados não é crime hediondo.
PRIORIDADE NA TRAMITAÇÃO
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
CRIMES DE TORTURA
(LEI 9.455/97)
Introdução
Na doutrina dos direitos humanos, prevalece que a vedação da tortura é um direito absoluto, pois não
comportaria nenhuma exceção.
Coloca-se então a proibição da tortura acima do próprio direito à vida, que, assim como os demais
direitos, é relativo, podendo ser sacrificado em algumas situações. Exemplos: legítima defesa, estado de
necessidade, execução da pena de morte em caso de guerra externa, aborto legal.
O tema em discussão se torna instigante quando se analisa a chamada teoria do cenário da bomba
relógio ou “Ticking Bomb Scenario Theory”, que torna lícita a tortura contra o terrorista responsável para que
ele indique o local onde a bomba se encontra, a fim de se poder desarmá-la, salvando-se assim milhares de
vidas.
A maioria dos doutrinadores de direitos humanos, conforme já dito, proíbe a tortura, mesmo nesta
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
situação, por se tratar de um direito absoluto, temendo, sobretudo, que a permissão, de exceção em exceção,
acabe se transformando em regra, expandindo-se como um método de investigação.
É claro que é também possível se relativizar a proibição da tortura, na situação acima e em outras, pois,
em matéria de bens jurídicos, a proteção à vida sempre deve se sobressair. As teses de absolvição, no exemplo
acima, são: legítima defesa de terceiro, estado de necessidade de terceiro e inexigibilidade de conduta diversa,
conforme a hipótese.
Imagine, por exemplo, que um pai, cujo filho tenha sido sequestrado, torture o sequestrador até que
ele preste as informações acerca do local onde a vítima se encontra.
Na linha de raciocínio da corrente absolutista, o pai será condenado pelo crime de tortura, pois teria
agido em desacordo com o direito, enquanto que os relativistas o absolveriam pela legítima defesa de terceiro
ou outra tese similar.
É claro que a tortura não deve ser aceita como um método de investigação, mas a sua vedação absoluta,
sem comportar uma única exceção, está longe de ser aceita por todos que opinam sobre o assunto.
ESPÉCIES
A Lei 9.455/97, que regula a matéria, prevê 6 (seis) crimes de tortura, a saber:
a) Tortura-confissão ou probatória;
b) Tortura ao crime ou tortura-coação ou tortura como crime-meio;
c) Tortura discriminatória ou racista;
d) Tortura-castigo;
e) Tortura pela tortura;
f) Tortura por omissão.
SUJEITO ATIVO
Trata-se, em regra, de crime comum, praticável por qualquer pessoa. Há, entretanto, alguns delitos de
tortura que são crimes próprios. Portanto, a tortura nem sempre é crime comum.
Não obstante a referida lei tenha se inspirado na definição de tortura prevista na convenção da ONU de
1.984, da qual o Brasil é signatário, que insere como sujeito ativo apenas os agentes públicos, o certo é que, na
lei brasileira o delito de tortura não é uma exclusividade dos agentes públicos.
Se, no entanto, o sujeito ativo for agente público, a pena aumenta de um sexto a um terço (§4º do
art.1º).
OBJETIVIDADE JURÍDICA
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Tortura-prova
O delito de abuso de autoridade em análise faz menção à violência física, grave e violência imprópria,
ao passo que o crime de tortura-prova só prevê a violência física e a grave ameaça.
O referido crime de abuso de autoridade não exige o sofrimento físico ou mental, que, em relação ao
crime de tortura-prova, é essencial para a consumação.
Por consequência, em havendo o dolo de causar sofrimento físico ou mental, o agente responderá pelo
crime de tortura, caso tenha constrangido a vítima, mediante violência ou grave ameaça, a produzir prova
contra si ou terceiro, através de uma confissão, declaração ou informação, absorvendo-se o delito de abuso de
autoridade, por ser de menor gravidade, por força do princípio da consunção.
Tortura ao crime
Na tortura ao crime, também chamada de tortura coação ou ainda tortura como crime-meio, a violência
ou grave ameaça é empregada para provocar a ação ou omissão de natureza criminosa, isto é, para que a vítima
pratique determinado crime. Exemplo: coagir alguém a assaltar determinado banco.
Nesse caso, responderá, em concurso material, pelo crime de tortura e pelo crime praticado pela vítima.
Esta, por sua vez, se a coação for irresistível, será absolvida (art. 22 do CP), mas se for resistível responderá pelo
crime que praticou com a atenuante genérica do art. 65, III, “c”, do CP.
O tipo penal não abrange a coação para obrigar alguém a praticar contravenção penal. Nesse caso, não
há falar-se em crime de tortura.
Para a consumação, conforme já dito, não é preciso que a vítima pratique efetivamente o crime.
Tortura discriminatória
10
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O art. 1º, II e § 1 º da Lei 9.455/97 prevê duas modalidades criminosas: tortura-castigo e tortura de
preso ou pessoa sujeita à medida de segurança (tortura pela tortura).
Ambas têm como núcleo do tipo o verbo submeter, que significa subjugar, sujeitar, dominar a vítima.
A pena é de dois a oito anos de reclusão.
11
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
adolescente em alguma instituição. Aqui não há propriamente guarda, mas o dirigente de instituição acolhedora
torna-se responsável legal pelo menor, equipara-se, destarte, ao guardião, para todos os efeitos de direito,
conforme §1º do art. 92 do ECA, devendo garantir a assistência material e moral ao menor.
A autoridade, por sua vez, se refere a uma subordinação jurídica entre particulares. Deriva, pois, de uma
relação jurídica de direito privado. Exemplo: o professor em relação ao aluno menor, a babá em relação à
criança, os pais em relação aos filhos menores, o tutor em relação ao pupilo, o curador em relação ao curatelado.
Os pais, tutor e curador, caso detenham também a guarda, se enquadram simultaneamente, em relação
ao tipo penal, na guarda e na autoridade. Se, ao revés, não exercerem a guarda, o que é perfeitamente possível,
se enquadram apenas na autoridade.
Quanto ao significado do termo “poder”, porém, recai divergência.
A corrente restritiva sustenta que o poder consiste apenas na superioridade que um agente público
exerce sobre a pessoa torturada, em razão da sua função pública. Exemplo: carcereiro em relação ao preso.
Assim, o poder emana de uma relação jurídica de direito público, ao passo que, na autoridade, a superioridade
brota de uma relação de direito privado.
A corrente extensiva, por sua vez, considera que a expressão poder abrange qualquer situação
específica, ainda que circunstancial e ilícita, que coloca uma pessoa na condição de superioridade sobre a outra.
Portanto, o poder não tem necessariamente relação com a função pública. Qualquer situação, onde a vítima se
encontra subjugada ou dominada pelo agente, é suficiente para caracterizar uma relação de poder.
A abrangência conferida por esta corrente ao conceito de poder não foi aceita pelo STJ, que exige, para
a tipificação da tortura-castigo, uma prévia relação jurídica apta a firmar uma posição de garante do agente
sobre a vítima (Recurso especial improvido. (grifamos) (STJ, REsp 1.738.264/DF, 6ª Turma, Rel. Min. Sebastião
Reis Júnior, DJe 14.09.2018).
Houve, porém, no julgamento acima, um voto vencido do ministro Rogério Schietti, que acolheu a
corrente extensiva.
Eis alguns exemplos polêmicos:
a) a vítima de uma tentativa de furto, após dominar o meliante, tatuou em sua testa, a frase “eu sou
ladrão e vacilão”, causando-lhe sofrimento intenso. Este caso é real e teve ampla repercussão;
b) populares dominam o estuprador e passam a agredi-lo fisicamente, causando-lhe sofrimento intenso;
c) credor joga pimenta nos olhos e thinner na genitália do devedor, que não tinha como lhe pagar a
dívida, causando-lhe sofrimento intenso;
d) o marido castiga fisicamente a esposa, causando-lhe sofrimento intenso.
Nos quatros exemplos acima, a corrente restritiva nega a existência de poder e descarta a existência do
crime de tortura, ao passo que a corrente extensiva enquadra o fato no crime de tortura-castigo.
A meu ver, é preciso que a guarda, poder ou autoridade derivem de uma relação jurídica lícita, aceita
pela ordem jurídica. Não há, portanto, crime de tortura nos exemplos acima, malgrado as opiniões em contrário.
Ademais, a ampliação do conceito de poder, para abranger qualquer tipo de superioridade, tornaria
inócua as expressões “guarda” e “autoridade”, que também figuram no tipo penal.
O poder, a que se refere o tipo penal, é o respaldado pelo Direito e não o que decorre de uma situação
fática ilícita, que contrária os fins do ordenamento jurídico. Esta mesma observação também se aplica à guarda
e autoridade.
Quanto à guarda de fato que a pessoa exerce sobre o menor, sem ter sido investida por ordem judicial,
alguns autores a excluem do crime de tortura. Creio que quando se tratar de uma guarda de fato lícita,
amparada pelo Direito, como o caso de uma tia que assumiu os cuidados de um sobrinho órfão, o delito também
pode se caracterizar, mas se guarda de fato estiver à margem do Direito não há falar-se em crime de tortura.
Por outro lado, o meio de execução da tortura-castigo é a violência ou grave ameaça. Se houver
emprego de outros meios, como, por exemplo, fraude ou violência imprópria, o crime não se caracteriza.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo. Exige-se que a violência ou grave ameaça seja empregada como
forma de se aplicar castigo ou medida de caráter preventivo. Exemplo: o professor obriga o aluno a permanecer
meia hora de joelhos sobre grãos de milho.
Castigo é a punição por ato praticado.
Medida preventiva é a que visa evitar a prática de certos atos.
12
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
13
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O dolo é genérico. Ao contrário do tipo anterior, não se exige aqui a finalidade de impor castigo pessoal
ou medida de caráter preventivo.
Consuma-se com o sofrimento físico ou mental, ainda que não seja intenso.
Admite-se a tentativa.
A tortura omissiva imprópria consiste no fato de o agente deixar de evitar a tortura atual ou iminente.
Exemplo: o pai presencia a mãe torturando a criança e queda-se inerte.
Nesta modalidade, o sujeito ativo da tortura por omissão pode ser apenas a pessoa que tem o dever
jurídico de agir para impedir o resultado, nos termos do art. 13, § 2º, do CP. Exemplos: pais, tutor, guardião,
policial, etc.
O delito tem por pressuposto a ocorrência de uma tortura atual ou iminente.
Caso não houvesse o delito em análise, o agente seria punido como participe da tortura por ação, nos
termos do art. 13, § 2º, do CP, CP e a sua pena seria bem maior.
Há, por isso, entendimento doutrinário que o omitente deveria responder por um dos crimes de tortura
por ação, estudados anteriormente, cuja pena é bem maior, na condição de partícipe por omissão, nos termos
do arts. 5º, XLIII, da CF e 13, § 2º, do CP.
De acordo com esse ponto de vista, a pena branda prevista para esta tortura por omissão revela-se
inconstitucional, pois o art. 5º, XLIII, da CF teria equiparado o omitente ao comitente.
Esta exegese não tem cabimento.
De fato, o legislador é livre para prever uma pena mais branda aos delitos por omissão, pois,
ontologicamente, em regra, estes são menos graves que os delitos de ação.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo direto ou eventual.
Não se admite a forma culposa.
É, pois, master que a omissão seja dolosa, que pressupõe a consciência acerca da existência de uma
tortura atual ou iminente praticada por outrem.
O delito se consuma no mesmo momento em que se consuma a tortura por ação, ou seja, com o
resultado naturalístico.
Quanto à tentativa, é possível, pois se trata de crime omissivo impróprio ou comissivo por omissão. Se
a tortura por ação for tentada, a tortura omissiva imprópria também será tentada.
14
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
FORMAS QUALIFICADAS
De acordo com o §4º do art. 1º da Lei 9.455/97, aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
I – se o crime é cometido por agente público. Esta expressão compreende o conceito de funcionário
público do art.327 do CP. Outra corrente considera que se trata do conceito de agente público fornecido pela
Lei de Abuso de Autoridade (art. 2º, parágrafo único, da Lei 13.869/2019). Não incide o aumento na tortura-
castigo, pois a condição de funcionário público funciona como elemento do tipo. A excludente da obediência
hierárquica não pode ser invocada para excluir a culpabilidade, pois a ordem de torturar é manifestamente
ilegal (art. 2º da Convenção da ONU).
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60
(sessenta) anos. A razão do aumento é a baixa capacidade de resistência da vítima. Quanto ao enfermo, não é
mencionado no aludido rol, mas, nesse caso, incidirá a agravante do art. 61, II, “h”, do CP).
III – se o crime é cometido mediante sequestro. A hipótese, por interpretação extensiva, também
abrange o cárcere privado. Só incide o aumento quando o sequestro visa a prática da tortura. Se o objetivo for
outro, ainda que haja sofrimento da vítima em razão das condições do cativeiro, o crime será outro (arts. 148
ou 159 do CP).
As referidas causas de aumento de pena também incidem sobre as formas qualificadas, pois se localizam
no parágrafo subsequente.
15
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
CONSEQUÊNCIAS
Vedação da fiança
Anistia
Graça e indulto
A graça é expressamente proibida pelo § 6º do art. 1º. Outrossim, pelo art. 5º, XLIII, da CF.
Note-se que a lei e a Construção Federal não proíbem o indulto e, diante disso, uma corrente sustenta
que ele é permitido, enquanto outra também o proíbe, aplicando o art. 2º da lei 8.072/90, que veda
expressamente o indulto ao crime de tortura.
Ora, a Lei 9.455/97, que é posterior e específica, não veda o indulto e, sendo assim, parece-me
revogada, nesse aspecto, em relação ao crime de tortura, a proibição contida no art. 2º da Lei 8.072/90.
Não obstante, o STJ interpreta a expressão graça em sentido amplo para abranger também o indulto.
Portanto, de acordo com o STJ, o crime de tortura não admite o indulto.
Prescrição
16
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
humanidade.
Em relação a esses delitos contra a humanidade, é pacífico na jurisprudência da Corte Internacional a
imprescritibilidade, que também é prevista em resoluções da ONU, além de ser um princípio do direito
internacional.
Como o Brasil é signatário da Convenção Interamericana e de outros tratados sobre direitos humanos,
o crime de tortura seria então imprescritível.
A meu ver, não é correta esta exegese. Com efeito, há uma Convenção Internacional específica sobre a
imprescritibilidade dos crimes contra a humanidade e o Brasil, até o presente momento, não subscreveu essa
Convenção.
Não se pode, sob pena de se afrontar o princípio da reserva legal, acolher uma imprescritibilidade
baseada em jurisprudência e costumes do direito internacional.
O STF já repudiou a tese da imprescritibilidade do crime de tortura. O STJ aceitou a imprescritibilidade,
mas apenas no âmbito cível, em relação à ação de indenização por danos oriundos da tortura, fundando-se no
fato de os direitos da personalidade serem imprescritíveis.
Regime de pena
Salvo na tortura por omissão, nas demais modalidades de tortura, o §2º do art. 1º da Lei 9.455/97 impõe
o regime inicial fechado. Mas esta hipótese é inconstitucional, em razão da violação do princípio da
individualização da pena, conforme jurisprudência do STF.
Por consequência, o crime de tortura por ação admite os três regimes: fechado, semiaberto e aberto.
Aplicam-se as mesmas normas de regime de pena previstas para os demais delitos.
Na tortura por omissão só é possível o regime semiaberto e aberto.
Nos crimes de tortura com violência ou grave ameaça contra a pessoa, não é possível a substituição por
pena restritiva de direitos (STJ).
Na tortura sem violência ou grave ameaça, a substituição, em tese, é possível.
Sursis
Quanto ao sursis, é possível, mas dificilmente será concedido, pois, em regra, só é possível quando a
condenação não exceder a dois anos.
Concurso de crimes
O crime de tortura absorve, por força do princípio da consunção, os delitos de lesão corporal (art.129
do CP), constrangimento ilegal (art.146 do CP), ameaça (art.147 do CP), abuso de autoridade (lei 13.869/19),
etc.
Outros efeitos
Quanto à prisão temporária, progressão de regimes e livramento condicional aplica-se o que já foi dito
no estudo da Lei 8.072/90.
EXTRATERRITORIALIDADE
17
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Há, pois, duas hipóteses para o crime de tortura praticado no exterior. Ei-las:
a) vítima brasileira;
b) vítima estrangeira.
Trata-se, na primeira hipótese, de extraterritorialidade incondicionada, pois, para se aplicar a lei penal
brasileira ao crime de tortura praticado fora do Brasil, basta que a vítima seja brasileira, não se exige outros
requisitos, como, por exemplo, a entrada do agente no Brasil. Ainda que ele seja absolvido no exterior, o Brasil
poderá julgá-lo. Igualmente quando extinta a punibilidade segundo as leis estrangeiras.
Se, no entanto, a vítima não for brasileira, o Brasil ainda assim poderá julgar o crime de tortura praticado
no exterior, desde que o agente adentre no território brasileiro. Exige-se então esta condição, o que torna a
extraterritorialidade condicionada, embora nenhuma outra condição seja exigida. Alguns autores, no entanto,
sustentam que essa extraterritorialidade também é incondicionada. Trata-se aqui da aplicação do princípio da
justiça universal ou cosmopolita, segundo o qual aplica-se a lei do país em que o delinquente se encontra,
qualquer que seja a sua nacionalidade ou o local da prática do delito. Se o agente for brasileiro, o Brasil não terá
a opção de extraditá-lo, mas se ele for estrangeiro, o Brasil terá a opção de julgá-lo ou extraditá-lo, caso outro
país tenha requerido a sua extradição.
COMPETÊNCIA
AÇÃO PENAL
É pública incondicionada.
LEI DE DROGAS
INTRODUÇÃO
18
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece
normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define crimes”.
Conforme se verifica, não se trata apenas de uma lei de caráter penal, pois ela também disciplina outros
aspectos.
CONCEITO DE DROGAS
A portaria 344 deve ser periodicamente atualizada por Resoluções da Diretoria Colegiada da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), nos termos da Lei 9.782/99.
Caso a inclusão ou exclusão da droga da portaria emane de um ato monocrático de um dos diretores da
Anvisa, a alteração será nula e não extinguirá a punibilidade dos crimes anteriores, pois a atualização, para ser
válida, exige uma decisão colegiada da diretoria da Anvisa. Se, por exemplo, um diretor da Anvisa excluir da
lista o cloreto de etila, que contém o princípio ativo do lança-perfume, não haverá “abolitio criminis”.
A exclusão da droga da portaria, através de uma decisão colegiada da diretoria da Anvisa, porém, tem
o efeito de “abolitio criminis, retroagindo para extinguir a punibilidade dos fatos anteriores, inclusive, os já
transitados em julgado, ainda que posteriormente seja incluída novamente na portaria.
A inclusão da substância na portaria 344/1998 é um ato vinculado, pois é necessário que ela tenha
potencial para causar dependência física ou psíquica, mas, uma vez incluída, presume-se o seu potencial lesivo
à saúde pública, sendo vedado ao juiz excluí-la.
É, pois, incabível a perícia com o fim de se apurar se a substância constante da portaria tem ou não
potencial para causar a dependência física ou psíquica.
O que se exige é a perícia na droga apreendida para se apurar se ela contém o princípio ativo descrito
na portaria 344/1998, que a caracteriza como sendo uma droga ilícita.
ROL TAXATIVO
19
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Portanto, o que distingue os delitos da Lei de Drogas dos previstos nos art. 243 do ECA e 273, § 1º, do
CP é o fato de a substância constar ou não da portaria 344/1998.
O termo entorpecente, utilizado na revogada Lei 6.368/76, foi substituído por droga, que é a
nomenclatura adotada pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
De fato, no sentido científico, entorpecente é apenas uma das espécies de drogas, as que causam torpor
ou sonolência, de modo que a alteração revelou-se correta.
Entretanto, a portaria 344/1998 ainda faz menção ao termo entorpecente, que é empregado em sentido
amplo.
Por isso, o art. 66 esclarece que:
“Para fins do disposto no parágrafo único do art. 1º desta Lei, até que seja atualizada a terminologia da
lista mencionada no preceito, denominam-se drogas substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e
outras sob controle especial, da Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998”.
As drogas, conforme a portaria 344/1998, classificam-se nas seguintes substâncias:
a) entorpecente: é a substância que pode determinar dependência física ou psíquica relacionada, como
tal, nas listas aprovadas pela Convenção Única sobre Entorpecentes, reproduzidas nos anexos deste
Regulamento Técnico constante da portaria 344.
b) psicotrópica: é a substância que pode determinar dependência física ou psíquica e relacionada, como
tal, nas listas aprovadas pela Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas, reproduzidas nos anexos deste
Regulamento Técnico constante da portaria 344.
c) precursoras: são as utilizadas para a obtenção de entorpecentes ou psicotrópicos e constantes das
listas aprovadas pela Convenção Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e de Substâncias Psicotrópicas,
reproduzidas nos anexos deste Regulamento Técnico constante da portaria 344. Noutras palavras, as
substâncias precursoras são aquelas cuja mistura com outras podem gerar uma nova droga proibida.
d) outras substâncias sob controle especial, constantes na portaria 344.
Em termos científicos, porém, a classificação mais divulgada é a que divide as drogas em três espécies:
a) entorpecentes, também chamados de depressores ou psicolépticos. Exemplos: anestésicos, morfina
e barbitúricos.
b) estimulantes, que recebem também o nome de psicoanalépticos. Exemplos: cocaína, anfetamina e
codeína.
c) alucinógenas ou psicodélicas ou psicodislépticas. Exemplo: ácido lisérgico ou LSD.
Dentre as drogas constantes da portaria 344, constantes da portaria, cumpre mencionar as mais
comuns:
a) cocaína, que pode assumir a forma de sal cloridrato, merla ou crack;
b) maconha ou “canabis sativa lineu”, que contém o princípio ativo denominado “tetrahidrocanabinol”
ou THC.
c) LSD ou ácido lisérgido;
e) ecstasy ou MDMA;
f) cloreto de etila ou lança-perfume.
PERMISSÃO EXCEPCIONAL
20
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
“Pode a União autorizar o plantio, a cultura e a colheita dos vegetais referidos no caput deste artigo,
exclusivamente para fins medicinais ou científicos, em local e prazo predeterminados, mediante fiscalização,
respeitadas as ressalvas supramencionadas”.
Do exposto se conclui que as drogas, bem como o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais
e substratos dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas, constantes da portaria 344/1988, serão
permitidas em três situações:
a) autorização prevista em lei;
b) plantio exclusivo para fins medicinais ou científicos, mediante autorização da União, em local e prazo
predeterminados, mediante fiscalização. Esta autorização é através de regulamento baixado pela diretoria
colegiada da Anvisa. É o caso, por exemplo, de uma plantação destinada à fabricação de remédios;
c) plantas tradicionalmente utilizadas em rituais mágicos e religiosos, conforme a Convenção de Viena
de 1971. É, por exemplo, o caso do ayahuasca, também conhecido como santo-daime. Se, porém, não houver
o fim de utilizá-lo em rituais mágicos ou religiosos, o agente responderá pelo crime.
A Anvisa tem também autorizado a importação do canabidiol, que é uma substância extraída da
cannabis sativa, muito eficaz ao tratamento da epilepsia, mas, para tanto, impõe uma série de exigências
burocráticas, inclusive, que a importação se realize através do ente público responsável pelo registro do
medicamento. O STJ, porém, admitiu a importação direta deste medicamento, para fim de tratamento da
epilepsia, com base no direito fundamental à saúde (REsp 1.657.075).
Os delitos em estudo enquadram-se como sendo normas penais em branco heterogêneas, pois o
complemento da definição criminosa é feito através de um ato administrativo, isto é, pela Portaria nº 344/98.
Não se trata de tipo aberto, cujo complemento é feito pelo juiz, mas, sim, de norma penal em branco
heterogênea.
Isso não viola o princípio da reserva legal, pois não há necessidade de a lei conter todos os elementos
do tipo legal.
Desde que a lei contenha o mínimo de determinação da conduta criminosa, é perfeitamente viável se
delegar a atos administrativos o complemento da definição do tipo penal.
SUJEITO ATIVO
Em regra, os crimes da lei de droga são comuns, pois podem ser praticados por qualquer pessoa. Há,
contudo, algumas exceções.
No verbo prescrever, que significa receitar, o delito de tráfico de droga, previsto no art. 33, é próprio,
pois só pode ser praticado por médico ou dentista.
Igualmente, o delito do art. 38, que também prevê o verbo prescrever, é próprio do médico ou
odontólogo e, no verbo ministrar, além do médico e dentista, só pode ser praticado por farmacêutico e
profissionais de enfermagem.
OBJETIVIDADE JURÍDICA
Em todos os crimes previstos na Lei 11.343/2.006, o bem jurídico protegido é a saúde pública.
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
A Defensoria Pública sustenta que, no delito de porte de drogas para consumo próprio, deve ser
aplicado o princípio da insignificância, quando não houver a mínima possibilidade de o crime lesar a saúde
pública.
Os crimes de perigo presumido, segundo esta corrente, são inconstitucionais, pois violam o princípio da
presunção da inocência. Outrossim, afrontam o princípio da ofensividade, que exige para a tipicidade a lesão
21
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
SUJEITO PASSIVO
Trata-se de crimes vagos, tendo como sujeito passivo a coletividade, titular do bem jurídico, que é a
saúde pública.
Vê-se assim que o sujeito passivo não é a pessoa para quem se entrega a droga, mas em algumas
hipóteses ela também figurará como sujeito passivo secundário, como é o caso, por exemplo, das crianças,
adolescentes e doentes mentais.
CRIMES EM ESPÉCIE
Conceito
22
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
NÚCLEOS DO TIPO
Este delito, previsto no “caput” do art. 28, consiste em adquirir, guardar, ter em depósito, transportar
ou trazer consigo drogas para consumo pessoal.
Faz, pois, menção a cinco verbos (núcleos do tipo). Ei-los:
a) adquirir: é obter a propriedade ou a posse da droga. Exemplo: comprar a droga ou aceitá-la em
doação. A posição dominante é que se consuma com o fechamento do negócio para adquirir a droga. Outra
corrente, porém, sustenta que a consumação só se verifica com a tradição, ou seja, com o recebimento efetivo
da droga.
b) guardar: é armazenar, zelar, tomar conta da droga, em benefício de terceiro.
c) ter em depósito: é armazenar, zelar, tomar conta da droga, em benefício próprio.
d) transportar: é levar a droga de um lugar para outro, através de algum meio de locomoção que não
seja pessoal. Exemplo: levar a droga num carro ou na carroça.
e) trazer consigo: é levar a droga no corpo ou em compartimento ligado ao corpo. Exemplos: na meia
ou na bolsa.
Trata-se de um tipo misto alternativo ou de conteúdo variado, de modo que a prática sucessiva de mais
de uma conduta, mas no mesmo contexto fático, caracteriza delito único, por força do princípio da
alternatividade.
À exceção do verbo adquirir, que é crime instantâneo, nas demais modalidades o delito é permanente.
O tipo penal não prevê os verbos “usar e importar”.
Usar significa consumir a droga.
O consumo pretérito realmente não tem como ser punido, por falta de prova da materialidade. Não há,
por exemplo, crime quando a polícia apreende apenas a seringa vazia, com a qual o agente injetou heroína no
próprio corpo.
Quanto ao agente que é surpreendido consumindo a droga ou à iminência de consumi-la, em
quantidade destinada apenas ao consumo imediato, há duas situações:
a) ele mesmo trouxe a droga consigo. Nesse caso, diante da apreensão da droga, responderá pelo delito
do art. 28, no verbo trazer consigo.
b) ele não trouxe a droga, recebendo-a de terceiro para consumo imediato. Nesta situação, caso seja
surpreendido, antes ou durante o consumo, o fato será indubitavelmente atípico, pois ele não realizou a
conduta anterior de trazer consigo, que é permanente e, por isso, deve se prolongar no tempo por um tempo
além do necessário para o consumo.
A importação da droga para consumo pessoal também não é prevista no art. 28. Para uns, a importação
é uma forma de aquisição, enquadrando-se o fato no art. 28, “caput”. A meu ver, trata-se de fato atípico, pois
o art. 28 não contempla este verbo, mas se o agente tomar posse da droga, por tempo juridicamente
relevante, deverá ser incurso na modalidade trazer consigo do delito em estudo.
O elemento subjetivo do tipo é dolo, que consiste na vontade consciente de realizar uma das condutas
descritas no tipo penal.
Exige-se ainda o elemento subjetivo especial, que é o fim de consumo pessoal.
23
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Consumação e tentativa
O delito do art. 28 se consuma com a simples conduta, ainda que não haja o efetivo consumo da droga.
Admite-se, em tese, a tentativa, quando o agente, através de atos de execução, exterioriza a vontade
de realizar a conduta, mas não a concretiza por circunstâncias alheias à sua vontade.
Penas
24
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Trata-se de uma censura verbal feita pelo juiz, que será reduzida a termo, acerca dos efeitos maléficos
da droga ao indivíduo e à sociedade, sendo essencial a presença do advogado ou defensor público, malgrado
o silêncio da lei.
A aludida pena esgota-se no ato, pois não tem uma duração temporal.
Caso o agente não compareça injustificadamente à audiência de advertência, será cabível a sua
condução coercitiva.
25
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
isso, aplica-se, nos termos do art. 12 do CP, as normas gerais do Código Penal que, no § 3o do art. 46, prevê
que as tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do condenado, devendo ser cumpridas à razão de uma
hora de tarefa por dia de condenação, fixadas de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho.
Medidas coercitivas
Admoestação verbal
A admoestação verbal é um aviso feito pelo juiz ao autor da infração penal acerca da possibilidade de
lhe ser aplicada a pena de muita.
Distingue-se da pena de advertência verbal, onde o juiz aborda os efeitos deletérios da droga.
A admoestação verbal é aplicada pelo juiz numa audiência especialmente destinada a este fim, que
contará também com a presença do defensor e do Ministério Público.
26
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Caso o autor do delito não compareça sem motivo justo, o juiz poderá ordenar a sua condução coercitiva
ou designar uma nova audiência com condução coercitiva.
É razoável também se sustentar que, diante do não comparecimento injustificado, o juiz poderá lhe
aplicar diretamente a multa coercitiva.
Multa coercitiva
A multa coercitiva pode variar entre 40 (quarenta) a 100 (cem) dias – multa.
Cada dia-multa, atento à situação econômica do agente, será arbitrado pelo juiz entre 1/30 (um trinta
avos) até 3 (três) vezes o valor do salário mínimo, sendo que o dinheiro arrecadado será destinado ao Fundo
Nacional Antidrogas.
A referida multa, conforme já dito, não tem natureza penal, mas extrapenal, pois se trata de uma
medida coercitiva, destinada a pressionar psicologicamente o autor do delito a cumprir as penas educativas
do art. 28.
E, diante da sua natureza extrapenal, força convir que, em caso de morte do devedor, ela se transmite
aos herdeiros até as forças da herança, nos termos do art. 1792 do CC, ao contrário da multa penal, que é
intransmissível.
A multa coercitiva pode ser aplicada várias vezes, nas hipóteses de o agente persistir em não cumprir
as penas educativas, mas a soma de todas elas não poderá exceder ao teto máximo de 100 (cem) dias multa.
Prescrição
27
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
pena abstrata de reclusão ou detenção, de forma isolada, alternada ou cumulada com multa.
No tipo penal do art. 28, a pena não é de reclusão nem detenção, por consequência, consoante este
ponto de vista, não se trata de crime.
Segunda corrente, adotada pelo Supremo Tribunal Federal, trata-se de crime. Não houve, destarte, a
descriminalização, mas, apenas a despenalização.
Com efeito, o art. 28 é classificado expressamente como crime no capítulo III da Lei 11.343/2.006.
Ademais, a Lei de Introdução do Código Penal não é hierarquicamente superior à Lei de Drogas para lhe
impor limites à criação de crime.
Realmente, trata-se de crime.
O fato de a Lei de Introdução ao Código Penal estipular para o crime uma pena abstrata de reclusão ou
detenção, não impede que outros leis posteriores e do mesmo nível hierárquico preveja, para o crime, uma
pena abstrata diversa.
Ademais, as penas privativas de liberdade não são as únicas do direito penal, que pode estipular outras,
conforme art. 5°, XLVI, da CF, que prevê um rol exemplificativo das possíveis penas.
Acrescente-se ainda que a tendência do Direito Penal é reduzir, cada vez mais, as penas privativas de
liberdade.
Por conseguinte, como ensina Paulo Queiroz, ao não cominar pena privativa da liberdade, o art. 28 não
implicou “abolitio criminis”, mas simples despenalização, isto é, manteve a criminalização, mas optou por
vedar a pena privativa da liberdade.
Dessa forma, por se tratar de crime, deveria gerar a reincidência e maus antecedentes.
De acordo com o STJ, porém, a contravenção penal não gera reincidência nem maus antecedentes,
mesmo sendo punida com prisão simples, por consequência, o delito do art 28, cujas penas são bem mais
brandas, também não pode gerar reincidência nem maus antecedentes.
Inconstitucionalidade do art. 28
Primeira corrente, o art. 28 é inconstitucional, segundo alguns autores, pois a incriminação da conduta,
em circunstâncias onde não há perigo concreto para terceiros, viola o direito à intimidade e à vida privada,
previsto no art. 5º, X, da CF. Outrossim, ofende o princípio da ofensividade, segundo o qual não há crime sem
lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico.
Outra corrente, porém, nega a existência de qualquer inconstitucionalidade, pois o direito individual
não pode prevalecer sobre o interesse social em se punir a conduta que gera um perigo presumido à saúde
pública. Aliás, o consumo de drogas acaba estimulando também outras pessoas a consumirem e, dessa forma,
expõe a perigo a saúde pública.
Aos delitos do art. 28 aplicam-se as normas dos Juizados Especiais Criminais, por força do §1º do art.
48.
Tecnicamente, porém, não se trata de infração de menor potencial ofensivo, posto que não se sujeita a
pena privativa de liberdade.
A autoridade policial não instaura inquérito por este crime, e, sim, termo circunstanciado.
A competência para o julgamento é do JECRIM estadual, de modo que, desclassificado pela justiça
federal o delito de tráfico internacional de drogas para a figura típica do art. 28, os autos do processo devem
ser remetidos ao JECRIM estadual.
O delito do art. 28 admite a transação penal.
A propósito, dispõe o § 5º do art. 48:
“Para os fins do disposto no art. 76 da Lei nº 9.099, de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais
Criminais, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena prevista no art. 28 desta Lei, a ser
especificada na proposta”.
No tocante à transação penal, o Ministério Público só poderá propor as três penas previstas no art. 28,
28
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Tratando-se da conduta prevista no art. 28, não se imporá prisão em flagrante, devendo o autor do fato
ser imediatamente encaminhado ao juízo competente ou, na falta deste, assumir o compromisso de a ele
comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-se as requisições dos exames e perícias
necessários (§2º do art. 48).
Se ausente a autoridade judicial, as providências previstas no § 2º deste artigo serão tomadas de
imediato pela autoridade policial, no local em que se encontrar, vedada a detenção do agente (§ 3º do art.
48).
Concluídos os procedimentos de que trata o § 2º deste artigo, o agente será submetido a exame de
corpo de delito, se o requerer ou se a autoridade de polícia judiciária entender conveniente, e em seguida
liberado (§4º do art. 48).
Conforme se pode verificar, em caso de flagrante, não se imporá, em hipótese alguma, a prisão em
flagrante.
Ele será, entretanto, capturado e conduzido coercitivamente até o juiz competente, mas o auto de
prisão em flagrante não será lavrado, nem mesmo na hipótese de o agente se recusar a assumir o
compromisso de comparecer ao JECRIM.
Note-se que a lei prevê o seu encaminhamento ao juízo competente e, somente na ausência do juiz, é
que será encaminhado à autoridade policial.
Conquanto, na prática o encaminhamento seja quase sempre feito ao Distrito Policial, ainda que
presente o juiz competente, o certo é que o Plenário do STF, em julho de 2020, decidiu que, em caso de
flagrante pelo crime de posse ou plantio de drogas para consumo próprio, o encaminhamento do agente só
pode ser feito à autoridade policial na ausência de juiz.
O STF ainda foi além, pois decidiu que o magistrado ainda deverá lavrar o TC (Termo Circunstanciado) e
requisitar o exame pericial da droga.
De acordo com a relatora, ministra Carmen Lúcia, as normas foram editadas em benefício do usuário de
drogas, visando afastá-lo do ambiente policial quando possível e evitar que seja indevidamente detido pela
autoridade policial.
A lavratura do TC pelo juiz, segundo o STF, não implica em usurpação da função investigativa que é
atribuída à autoridade policial, pois o TC é uma peça Informativa e não investigativa.
De qualquer maneira, lavrado o termo circunstanciado, libera-se o agente, que não poderá ser preso
em flagrante, ainda que não assuma o compromisso de comparecer ao JECRIM.
CRIME DE PLANTIO DE DROGA EM PEQUENA QUANTIDADE PARA CONSUMO PESSOAL (ART. 28, §1º)
29
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Conceito
30
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Pena- reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e
quinhentos) dias-multa”.
O art. 5º, XLIII, da CF equipara aos hediondos o delito de tráfico ilícito de drogas.
A Lei 11.343/2006, porém, não prevê a nomenclatura dos crimes relacionados com drogas.
Dessa forma, não há na lei nenhum delito com nome legal de tráfico de drogas e, diante disso, o assunto
é polêmico.
De acordo com a corrente restritiva, os delitos de tráfico de drogas, equiparados aos hediondos, a que
se refere o art. 5º, XLIII, da CF, são apenas os previstos no art. 33, caput, e as figuras equiparadas do §1º do
art. 33. É a posição dominante.
A corrente extensiva, porém, apregoa que, além do art. 33, “caput”, e das figuras equiparadas do §1º
do art. 33, ainda devem ser equiparados a hediondos os delitos dos arts. 34, 36 e 37. Discordo desta exegese,
pois o delito do art. 34 trata do tráfico de máquinas e de outros objetos destinados à produção das drogas, ao
passo que a Constituição Federal, ao cuidar da equiparação, se restringe ao tráfico de drogas, sendo vedada a
analogia “in malam partem”. O art. 36, por sua vez, que prevê o crime de financiamento ou custeio destinado
ao tráfico de drogas, conquanto tenha uma pena maior que a do art. 33, “caput”, não é um tráfico de drogas,
tanto é que se consuma ainda que o tráfico não se realize . Quanto ao delito do art. 37, incrimina o informante
do tráfico que, por força de lei, não é considerado traficante.
O fato de os arts. 34, 36 e 37 se sujeitarem às restrições, previstas no art. 44, não os transformam num
tráfico de drogas.
Quanto ao delito de associação para o fim de tráfico de drogas, apesar de também sofrer as restrições
do art. 44, não é equiparado a hediondo por nenhuma das correntes acima.
Sujeito ativo
Trata-se de crime comum, praticável por qualquer pessoa, inclusive, pelo usuário ou dependente.
Abre-se exceção ao verbo prescrever, que significa receitar, cuja prática só é possível pelo médico ou
dentista, e, por isso, caracteriza-se como sendo crime próprio.
Quanto ao terceiro que estava junto com o agente, mas que não realizou nenhuma das condutas
criminosas, não responderá como participe, ainda que tenha ciência da existência da droga, pois a lei não lhe
impõe o dever jurídico de agir.
Assim, a omissão, por si só, não gera participação, salvo quando houver o dever jurídico específico de
agir, nos termos do art. 13, §2º, do CP. Exemplo: a mulher do traficante, que estava junto com o marido no
veículo que ele transportava a droga, não responde pelo delito, mesmo tendo ciência do transporte.
Igualmente, não responde pelo crime a pessoa que, ciente do transporte da droga, pediu carona ao
traficante.
Se, porém, a mulher do traficante ou o caronista for um policial, haverá a participação por omissão,
pois, nesse caso, existe o dever jurídico de agir.
31
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Trata-se crime de ação múltipla ou de conteúdo variado, também chamado de tipo misto alternativo,
pois a reiteração sucessiva de mais de uma dessas condutas, no mesmo contexto fático, caracteriza crime
único, por força do princípio da alternatividade. Exemplo: o agente que importa a droga, e, em seguida passa
a vendê-la a diversas pessoas, responde por apenas um delito.
Se, porém, o agente realizar as condutas em contextos diferentes, sem que haja relação causal entre as
32
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
condutas, responderá por todos os delitos cometidos, em concurso material ou crime continuado, quando
presentes os requisitos do art. 71 do CP. Se, porém, houver mudança do “modus operandi”, haverá concurso
material e não crime continuado.
O delito só é punido a título de dolo, que consiste na vontade consciente de realizar as condutas
descritas no tipo penal.
Quanto ao dolo eventual, é perfeitamente possível. Exemplo: o agente, na dúvida se o objeto
transportado é ou não cocaína, resolve realizar o transporte.
A culpa, ainda que grave, não é punida. O agente que, por exemplo, transporta cocaína supondo que se
trata de farinha, incide em erro de tipo, e, por isso, não responde pelo crime, ainda que o erro tenha sido
inescusável.
Não se exige, para a tipificação do crime, nenhum fim especial de agir. Não há, de fato, necessidade do
fim de traficar, revender ou comercializar a droga, pois o delito se caracteriza ainda que as condutas sejam
realizadas a título gratuito.
Prescinde-se também da habitualidade, ou seja, da reiteração criminosa.
Consumação
O crime de tráfico de drogas se consuma com a realização de uma das condutas descritas no tipo penal.
Ainda que o fato tenha sido vigiado por policiais, que impedem que a droga chegue ao seu destino, o
delito estará consumado, pois se trata de crime de perigo abstrato ou presumido.
Dos dezoito verbos, alguns são crimes instantâneos, consumam-se num exato momento, e outros
permanentes, isto é, o momento consumativo se prolonga no tempo, como nos verbos ter em depósito,
guardar, transportar e trazer consigo.
Nos crimes permanentes, a prisão em flagrante é possível enquanto não cessar a permanência (art. 303
do CPP).
Tentativa
Quanto à tentativa, em tese, é possível, mas é muito difícil a sua configuração, pois, diante da grande
quantidade de verbos, provavelmente se consumará num deles.
Princípio da insignificância
O princípio da insignificância não se aplica ao delito de tráfico de drogas, pois o fato sempre se reveste
de gravidade.
Há, por exemplo, o crime, quando o agente vende apenas três gramas de maconha.
Trata-se de crime de perigo abstrato ou presumido.
33
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O §1º do art. 33 prevê quatro crimes equiparados ao tráfico de drogas, inclusive, a pena é a mesma.
Dispõe o §1º que:
“Nas mesmas penas incorre quem:
I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em
depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de
drogas;
II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas;
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda
ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.
IV - vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de
drogas, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a agente policial
disfarçado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente”
A equiparação desses quatro delitos é para todos os fins e, portanto, sujeitam-se às restrições da Lei
8.072/90, que cuida dos crimes hediondos.
34
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
a matéria prima, mas por não constituir matéria prima. De fato, a matéria prima é a base da preparação da
droga e a ela se agrega, ao passo que as sementes não se incorporam à droga e, por isso, não podem ser
equiparadas à matéria prima, pois é vedada a analogia “in malam partem”.
Também não há o crime quando o agente traz, para consumo próprio, uma pequena quantidade de
folhas de coca que, pela escassez, não eram destinadas ao fabrico de cocaína.
Os núcleos do tipo são importar, exportar, remeter, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda,
oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo ou guardar, ainda que gratuitamente.
Como se vê, o tipo penal repete 13 (treze) verbos do “caput”.
O delito em análise é subsidiário do art. 33 “caput”. Se, por exemplo, o agente importar, no mesmo
contexto, droga e matéria prima destinada à preparação da droga, responderá apenas pelo delito art. 33
“caput”. É minoritária a corrente que sustenta o concurso material entre o art. 33 “caput” e o §1º, I, do art.
33.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste na vontade consciente de realizar as condutas
descritas no tipo penal, consciente que se trata de matéria prima, insumo ou produto químico destinado à
preparação de drogas.
Não se exige o fim de lucro nem o fim de preparação de drogas.
O elemento normativo do tipo consiste em realizar a conduta sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar,
35
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
36
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Dispõe art. 33, §1º, IV, introduzido pela lei 13.964/2019, que nas mesmas penas incorre quem:
“Vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de
drogas, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a agente policial
disfarçado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente.”
O tipo penal em análise introduziu a figura do agente policial disfarçado, cujo propósito é a coleta de
provas acerca da autoria e/ou materialidade.
O objeto material é a droga, bem como a matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à
preparação de drogas.
O criminoso que vende ou entrega droga ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à
preparação de drogas ao policial disfarçado só responderá pelo delito em análise quando houver elementos
probatórios razoáveis de uma conduta criminal preexistente.
No delito em apreço, que introduz no ordenamento jurídico o instituto do agente policial disfarçado, há
duas condutas criminais que se fundem para formar uma só conduta criminosa. São elas:
a) a conduta criminal preexistente. É a praticada pelo criminoso, sem qualquer induzimento ou
instigação do agente policial. Trata-se de uma conduta que pode revelar a autoria ou a materialidade.
Exemplo: o criminoso, numa interceptação telefônica, admite que é vendedor de drogas. Outro exemplo: o
policial sabe que, em determinado local, existe um estoque de cocaína destinada à venda, mas desconhece a
autoria.
b) a conduta criminal subsequente. É a praticada pelo criminoso, mediante induzimento ou instigação
do policial disfarçado. É necessário, para que a ação do policial seja legítima, que, ao tempo do induzimento
ou instigação, ele tenha conhecimento dos elementos probatórios razoáveis da conduta criminal preexistente.
Exemplo: o policial disfarçado, após a coleta das provas da autoria do delito de venda de drogas, se oferece
para comprar droga, com o intuito de comprovar a materialidade. Outro exemplo: o policial disfarçado, após
obter a prova da materialidade, ou seja, que há drogas em determinado balcão, se oferece para comprar
drogas do suspeito, assim agindo com o escopo de comprovar a autoria, prendendo-o em flagrante quando
ele lhe traz a droga do referido local.
Presentes estes dois requisitos, o flagrante será válido.
A hipótese se assemelha, mas não se confunde, com o flagrante provocado, também denominado crime
de ensaio ou delito putativo por obra do agente provocador.
Inicialmente, cumpre observar que o flagrante provocado é nulo, equipara-se ao crime impossível
(súmula 145 do STF), ao passo que o flagrante acima, realizado pelo agente policial disfarçado, é válido.
O flagrante provocado exige dois requisitos cumulativos:
a) o agente é induzido a realizar a conduta criminal, sem que houvesse qualquer prova razoável de uma
conduta criminal preexistente. Antes da criação do tipo penal em análise, o flagrante era provocado ainda que
houvesse prova razoável da conduta criminal anterior.
b) o provocador toma providências que tornam absolutamente impossível a consumação.
Se, por exemplo, o agente não possuía a droga, comprando-a de um terceiro para satisfazer o desejo do
falso cliente, ou seja, do policial disfarçado, a situação será a seguinte:
a) comprova-se, no flagrante, o envolvimento pretérito do agente na venda ilegal de drogas. Nesse caso,
ele responderá pelo delito em análise. Antes desta lei, não havia crime, pois o fato era considerado flagrante
provocado.
b) não se comprova, no flagrante, o envolvimento pretérito do agente na venda ilegal de drogas. Nesse
caso, o flagrante será provocado e, portanto, nulo (Súmula 145 do STF).
Se, por outro lado, o agente já possuí a droga , caso venha a vendê-la ou entregá-la ao policial
disfarçado, o flagrante, diante da comprovação da conduta pretérita de “ guardar ou ter em depósito”, será
válido na modalidade vender ou entregar, sendo que, antes da lei 13.964/2019, que introduziu o delito do art.
33, §1º, IV, o flagrante era nulo nestes verbos, embora válido na modalidade “ guardar ou ter em depósito”,
prevista no “caput” do art. 33, cuja consumação se prolonga no tempo, por se tratar de delito permanente.
De uma certa maneira, o tipo penal em análise facilitou a incriminação, pois o depoimento do policial
37
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
38
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
d) que o agente não integre organização criminosa. Ainda que se trate de organização criminosa não
relacionada ao tráfico de drogas, o benefício deverá ser negado.
Os requisitos acima são cumulativos.
O ônus da prova dos requisitos que vedam o benefício é da acusação.
Se não os comprovar, o réu fará jus ao benefício, que só poderá ser afastado mediante decisão judicial
fundamentada.
O delito de tráfico de drogas privilegiado, criado para beneficiar o traficante eventual, não é um crime
autônomo, mas uma causa de diminuição de pena.
A redução atinge tanto a pena de reclusão quanto a pena de multa.
O tráfico privilegiado de drogas não é equiparado aos crimes hediondos. De fato, foi cancelada a súmula
512 do STJ que previa esta equiparação.
Convém ainda destacar o art. 112, §5º, da Lei de Execuções Penais (Lei n. 7.210/1984), com redação que
lhe foi dada pela Lei no 13.964/2019, cujo teor é o seguinte:
"Não se considera hediondo ou equiparado, para os fins deste artigo, o crime de tráfico de drogas
previsto no § 4o do art. 33 da Lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006".
A expressão “para os fins deste artigo” causou duas interpretações.
Primeira, para outros fins que não seja a progressão de regimes, o tráfico privilegiado é crime hediondo,
caso contrário a aludida expressão séria inócua.
Segunda, o tráfico privilegiado não é crime hediondo para todos os efeitos penais e processuais, pois
seria incoerente a lei lhe negar a hediondez para fins de progressão e admiti-la para outros fins. É a posição
do STF e STJ.
No tráfico de drogas privilegiado é também cabível a substituição por pena restritiva de direitos, pois o
STF declarou a inconstitucionalidade desta vedação, que constava no § 4º do art. 33, e, posteriormente, o
Senado Federal, com base neste acórdão, editou a Resolução número 5 /2012, que suspendeu a eficácia
desta parte da lei que proibia a referida substituição.
Por outro lado, a quantidade e a qualidade da droga, para uma corrente, quando utilizadas, na terceira
fase da pena, para excluir o benefício do tráfico privilegiado, não poderão ser levadas em conta, na primeira
fase, para aumentar a pena-base, sob pena de “bis in idem”.
A causa especial de diminuição de pena em estudo, prevista no § 4º do art. 33, retroage para beneficiar
os réus que praticarem o antigo crime do art. 12 da lei revogada, pois se trata de “novatio legis in mellius”,
mas a combinação de leis é vedada.
Com efeito, dispõe a Súmula 501 do STJ: é cabível a aplicação retroativa da Lei 11.343/06, desde que
o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da
aplicação da Lei 6.368/76, sendo vedada a combinação de leis.
No tocante ao regime inicial de cumprimento da pena no tráfico de drogas privilegiado, a 6ª Turma do
Superior Tribunal de Justiça, no HC 596.603-SP, firmou as seguintes teses:
a) o condenado a pena igual ou inferior a 4 (quatro) anos de reclusão, em regra, faz jus a cumprir a
reprimenda em regime inicial aberto;
b) excepcionalmente, será possível o regime semiaberto, ao condenado a pena igual ou inferior a 4
(quatro) anos de reclusão, desde que haja fundamentação idônea, não decorrente da mera natureza do crime,
de sua gravidade abstrata ou da opinião pessoal do julgador;
c) ao condenado a pena igual ou inferior a 4 (quatro) anos de reclusão não poderá ser imposto o regime
fechado;
O referido julgado ainda destacou que o condenado a pena igual ou inferior a 4 (quatro) anos de
reclusão, em regra, faz jus à substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.
É importante ressaltar que o tráfico de drogas privilegiado é uma mera causa de diminuição de pena, e
não um delito autônomo, de tal sorte que a concessão do aludido benefício não implicará necessariamente
numa reprimenda penal igual ou inferior a 4 (quatro) anos.
Noutra palavras, nada obsta que haja o reconhecimento do tráfico de drogas privilegiado, que é
analisado apenas na terceira fase da aplicação da pena , e, ao mesmo tempo, uma condenação a pena
superior a 4 (quatro) anos, hipótese em que não será cabível o regime aberto, mas, sim, o semiaberto.
39
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Se, por exemplo, em razão do tráfico de drogas privilegiado, o juiz, na sentença, reduzir a pena de 5
(cinco) anos de reclusão em 1/6 (um sexto), o resultado será de 4 (quatro) anos e 2 (dois) meses.
Por outro lado, acerca da prisão preventiva no delito de tráfico de drogas privilegiado, o STJ, no mesmo
acórdão acima, decidiu que o condenado não pode permanecer preso preventivamente, após a sentença.
E, mesmo antes da sentença, prosseguiu o venerando acórdão, uma vez presentes os requisitos do 33,
§ 4o, que disciplina o delito de tráfico de drogas privilegiado, a prisão preventiva não poderá ser decretada
porque ela não é cabível por crime punido com pena privativa máxima igual ou inferior a 4 anos (art. 313, I do
Código de Processo Penal).
O referido julgado do Tribunal da Cidadania incidiu no erro de considerar que, uma vez presentes os
seus requisitos, a pena do delito de tráfico de drogas privilegiado não poderia ser superior a 4 (quatro) anos.
O fato de os seus pressupostos se mostrarem presentes não conduz matematicamente a uma
reprimenda igual ou inferior a 4 (quatro) anos, porquanto no sistema trifásico de aplicação da pena,
consagrado no art. 68 do CP, é preciso considerar as circunstâncias judiciais, as agravantes, as atenuantes, as
causas de aumento e as causas de diminuição de pena.
E, nesse aspecto, cumpre lembrar que o tráfico privilegiado, por ser uma mera causa de diminuição da
pena, é apenas um dos critérios que o magistrado levará em conta na hora de aplicar a pena, razão pela qual
a proibição genérica da prisão preventiva se revela inadequada.
40
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
41
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
ou transformação de drogas, mas não é necessário que tenha exclusivamente esta finalidade.
Ainda que nenhuma droga seja encontrada no local, o crime se caracteriza.
Se, além dos maquinários, a polícia ainda apreender drogas no local, o delito será apenas o de tráfico
do art. 33, “caput”, absorvendo-se o crime do art. 34, por força do princípio da consunção.
Haverá, entretanto, concurso material em duas situações:
a) quando as drogas e os aparelhos forem apreendidos em contextos distintos;
b) quando não houver nexo causal entre a droga apreendida e os aparelhos. Exemplo: a polícia apreende
um laboratório de fabricação de cocaína e também 10 (dez) quilos de maconha.
A denúncia deverá descrever o elemento normativo do tipo, que consiste no fato de a conduta ter sido
realizada sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar.
Quanto à causa de diminuição de pena do § 4º do art. 33, que prevê o tráfico privilegiado, não se aplica
ao delito do art. 34, por falta de previsão legal e também pelo fato de a presença do maquinário,
instrumentos, aparelhos e objetos ser um indício da dedicação em atividade da criminosa como sendo um
estilo de vida.
Outra corrente, porém, sustenta a incidência da minorante, por analogia “in bonam partem”, baseada
no princípio da isonomia, desde que presentes os requisitos do citado § 4º.
42
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Segunda, respondem também em concurso com a associação criminosa do art. 288 do CP ou art. 8º da
Lei 8.072/90, conforme a hipótese, desde que haja pelo menos três agentes.
O crime se consuma com a efetiva associação, ainda que nenhum dos delitos de tráfico seja praticado.
Não se trata de punir o pensamento e, sim, os atos exteriores e preparatórios que revelam o propósito
de associar-se. Exemplo: A e B compram um veículo com o propósito de vender drogas na porta da escola.
Não se exige, para a consumação, a apreensão da droga, pois a materialidade pode ser comprovada
através de outros elementos, por exemplo, interceptação telefônica.
Trata-se de crime formal e permanente.
Acrescente-se, contudo, que, na hipótese de os associados praticarem um dos delitos dos arts. 33, caput
e §1º e 34 haverá concurso material com o crime de associação criminosa em estudo.
Quanto à tentativa, não é possível, posto que o art. 35 já é um ato preparatório erigido à condição de
crime autônomo, e, como se sabe, os atos preparatórios não caracterizam tentativa.
O delito de associação criminosa não é equiparado aos crimes hediondos nem ao crime de tráfico de
drogas. Não sofre, pois, as consequências da hediondez. Entretanto, o art. 44 da Lei 11.343/06 considera o
delito de associação inafiançável e insuscetível de anistia, graça, indulto e sursis, assunto que será abordado
oportunamente.
O parágrafo único do art. 35 prevê a associação de duas ou mais pessoas para o fim de cometimento do
crime do art. 36, que cuida do financiamento ou custeio do tráfico de drogas.
Nesta associação, exige-se o fim da prática reiterada do delito do art. 36, ou seja, dois ou mais. Não
basta o propósito de cometê-lo uma única vez.
A união duradoura entre um traficante e um financiador não caracteriza a associação do parágrafo
único do art. 35, salvo se o agente, além de traficante, também atuar como financiador.
Da mesma forma, a união duradoura entre um traficante e um financiador não caracteriza a
associação do “caput” do art. 35, salvo se o agente, além de financiador, também atuar como traficante.
O agente que integrar duas associações criminosas, uma para fim de tráfico e outra para o fim de
financiamento do tráfico, responderá pelos dois crimes de associação, em concurso material.
43
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Quanto ao fim de financiar ou custear outros delitos, o fato será atípico, mas se o delito vier a ser
praticado o agente será participe.
Quanto à consumação, há duas correntes.
Primeira, trata-se de crime formal, consumando-se com o ato de financiamento ou custeio, ainda que
o delito-fim não seja praticado.
Segunda, o delito é material, consumando-se com a prática do tráfico consumado ou tentado.
A tentativa, em tese, é possível.
Sobre a natureza jurídica do delito em análise, há três correntes.
Primeira, é crime permanente. Discordo, pois os verbos financiar e custear não exigem um
comportamento prolongado no tempo, podendo se esgotarem num único ato.
Segunda, é crime habitual, pois exige-se a reiteração de atos de financiamento ou custeio, conforme
consta no parágrafo único do art. 35. Ora, o citado parágrafo único se refere ao delito de associação criminosa
para fim do delito do art. 36 e não propriamente ao delito do art. 36.
Terceira, trata-se de crime instantâneo, pois, para se configurar, basta a prática de um único ato de
financiamento ou custeio. Em havendo dois atos de financiamento ou custeio, visando crimes distintos, haverá
dois delitos do art. 36, em concurso material. É a posição correta.
O art. 40, VII, da Lei 11.343/2006, prevê o aumento da pena de um sexto a dois terços quando o agente
financiar ou custear a prática de crime da Lei de Drogas.
A referida majorante não se aplica ao delito do art. 36, pois o financiamento ou custeio já são elementos
do tipo penal.
Quanto ao sujeito ativo do delito em análise, é a pessoa que financia ou custeia, mas não prática os atos
de execução do tráfico. Trata-se de uma exceção pluralista à teoria monista. Se não houvesse o art. 36, o
agente seria participe do delito de tráfico. Assim, a meu ver, o sujeito ativo do delito do art. 36 é o financiador
que não atua como traficante.
O assunto, porém, é polêmico.
Com efeito, se o agente, além de financiador, também praticar atos de execução do tráfico, por
exemplo, realizar o transporte da droga, há três correntes:
a) responde somente pelo delito do art. 36, sem a majorante do art. 40, VII.
b) responde só pelo crime de tráfico dos arts. 33, “caput” e §1º e 34, com a majorante do art. 40, VII. É
a posição que me parece correta, pois o autofinanciamento não pode configurar o delito do art. 36.
c) responde em concurso material pelo crime do art. 36 e pelo crime de tráfico dos arts. 33, caput e §1º
e 34, sem a majorante do art. 40, VII.
44
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
responde pelo delito em análise, com a causa de aumento de pena do art. 40, II. Caso tenha solicitado ou
recebido vantagem, responderá pelo delito em análise, em concurso material, com o crime de corrupção
passiva, previsto no art. 317 do CP, mas sem a majorante do art. 40, II, que já integra o tipo penal do art. 317
do CP.
O trabalho de informante, no delito em estudo, pode ser oneroso ou gratuito. É essencial, no entanto,
que o informante não participe dos lucros do tráfico, pois, em caso positivo, conforme já dito, ele responderá
pelo crime de tráfico de drogas.
Ao punir o informante, que não participa dos lucros, no tipo penal privilegiado do art. 37, o legislador
abriu uma exceção pluralística à teoria monista. Não fosse essa exceção, o informante seria partícipe do crime
de tráfico de drogas, por força do art.29 do CP.
O núcleo do tipo é o verbo colaborar, que significa auxiliar, trabalhar em conjunto, de forma onerosa
ou gratuita.
É necessário, para a tipificação do delito, que a colaboração seja como informante, ou seja, para trazer
informações relevantes. Se a informação for irrelevante, haverá crime impossível. Se a colaboração não for
como informante, mas a outro título, o agente será participe do delito de tráfico de drogas.
A colaboração como informante, no delito em análise, deve ser para uma das seguintes entidades:
a) associação. Trata-se da associação prevista no art. 35 da lei em análise.
b) organização. Trata-se da organização criminosa da Lei 12.850/2013.
c) grupo. Trata-se da reunião eventual ou esporádica de duas ou mais pessoas, para o fim de tráfico.
O delito se consuma quando a informação chega até um dos membros da associação, organização ou
grupo criminoso.
Admite-se a tentativa, quando a informação não chegar até o destino, por circunstâncias alheias à
vontade do agente.
Trata-se de crime formal.
O delito não exige a habitualidade. Basta um único ato para a sua consumação.
Admite-se a tentativa.
Se o agente presta informações a um único traficante, visando facilitar a prática do tráfico de drogas,
há duas correntes.
Primeira, será participe do delito de tráfico, caso este se realize. Ora, não há lógica, pois o informante
de uma associação, organização ou grupo, a rigor, prática conduta mais grave e, no entanto, responde por um
delito mais brando.
Segunda responde pelo delito de informante do tráfico, por analogia “in bonam partem”.
Se, entretanto, nenhum delito houver sido concretizado, o fato será atípico, para ambas as correntes.
45
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O juiz, na sentença condenatória, não poderá cassar a licença do profissional, mas deverá comunicar a
condenação ao respectivo Conselho Federal para que tome as providências administrativas necessárias. Nada
obsta que esta comunicação ocorra por ocasião do recebimento da denúncia.
Não se trata de um efeito da condenação, pois o juiz, na sentença condenatória, não poderá cassar a
licença.
Quanto ao sujeito passivo, é o paciente da infração, outrossim, a coletividade, pois o bem jurídico
protegido, além da saúde individual, também é a saúde pública.
A culpa, no delito em análise, é bem restrita, pois consiste no fato de se prescrever ou ministrar droga,
através de um dos seguintes atos:
a) sem que o paciente necessite. Exemplo: enfermeiro ministra droga no paciente errado.
b) em doses excessivas, isto é, além do necessário. Se o excesso não for excessivo, o fato será atípico.
c) em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Trata-se de uma norma penal em branco.
Exemplo: o médico prescreve maconha ao doente em situação que a lei ou regulamento não permite.
Outras hipóteses de culpa não são punidas.
O delito é de mera conduta, consuma-se, no verbo prescrever, quando o agente entrega a receita, ainda
que a droga não seja adquirida e, no verbo ministrar, quando a droga é introduzida no organismo humano.
Por ser crime culposo, não admite a tentativa.
Note-se que é um crime culposo de mera conduta, isto é, sem resultado naturalístico, figura rara no
ordenamento jurídico.
Sobrevindo a morte ou lesão, uma corrente sustenta que o agente responderá apenas pelos delitos de
homicídio ou lesão culposos, absorvendo-se o crime do art. 38 em estudo. Outra, ao revés, preconiza pela
existência do concurso material com delito em estudo, pois os bens jurídicos são distintos.
Dispõe do art.39:
“Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de drogas, expondo a dano potencial a
incolumidade de outrem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da apreensão do veículo, cassação da habilitação
respectiva ou proibição de obtê-la, pelo mesmo prazo da pena privativa de liberdade aplicada, e pagamento
de 200 (duzentos) a 400 (quatrocentos) dias-multa”.
O delito em apreço abrange apenas a condução de embarcação ou aeronave.
Embarcação é qualquer construção, inclusive as plataformas flutuantes e, quando rebocadas, as fixas,
sujeita a inscrição na autoridade marítima e suscetível de se locomover na água, por meios próprios ou não,
transportando pessoas ou cargas (art. 2° da Lei 9.537/97).
Tratando-se de navio, que é a embarcação apta a navegar em alto mar, a competência será da justiça
federal (art. 109, IX, da CF).
Quanto às demais embarcações, a competência será da justiça estadual.
Aeronave, por sua vez, é todo aparelho manobrável em voo, que possa sustentar-se e circular no espaço
aéreo, mediante reações aerodinâmicas, apto a transportar pessoas ou coisas (art. 106 da Lei 7.565/86). Nesse
caso, a competência será da justiça federal (art. 109, IX, da CF).
Exige-se que essa condução ocorra após o consumo de drogas e ainda que haja perigo concreto à
incolumidade de alguém. Sem este perigo, não há o crime.
Se, sob efeito de álcool ou outra droga, o agente conduzir veículo terrestre, ele responderá pelo crime
de embriaguez ao volante do art. 306 do CTB, independentemente de perigo concreto.
Note-se que, em se tratando de embarcação ou aeronave, conduzida sob efeito de álcool, não se tipifica
o crime do art. 39 da Lei 11.343/2.006, pois o álcool não figura como droga na portaria da Anvisa. Não haverá
também o crime do art. 306 do CTB, que abrange apenas as vias terrestres. Todavia, em havendo perigo
46
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
concreto, quando se tratar de embarcação, haverá a contravenção do art. 34 da LCP e, no caso de aeronave,
o crime do art. 132 do CP, mas sem perigo concreto o fato será atípico.
O núcleo do tipo é o verbo conduzir, que significa dirigir, guiar, colocar em funcionamento.
As penas cumulativamente previstas são as seguintes:
a) detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos. É, entretanto, possível a substituição pela pena restritiva
de direitos.
b) apreensão do veículo, pelo mesmo prazo da pena privativa de liberdade aplicada, ainda que esta
pena seja substituída por pena restritiva de direitos. Não será apreendido o veículo que pertença a terceiro de
boa-fé, pois a pena não pode passar da pessoa do condenado (art.5o, XLV, da CF).
c) cassação da habilitação, se habilitado, pelo mesmo prazo da pena privativa de liberdade aplicada.
Não se trata de uma cassação definitiva, mas temporária. Por isso, na linguagem técnica, não é cassação, mas
suspensão.
c) proibição de se obter a habilitação, quando não habilitado, pelo mesmo prazo da pena privativa de
liberdade aplicada.
d) pagamento de 200 (duzentos) a 400 (quatrocentos) dias-multa”.
A apreensão do veículo, cassação da habilitação e proibição de obtê-la, no delito em análise, são penas
restritivas de direitos, que constam no preceito secundário do tipo penal e, dessa forma, só podem ser
impostas após o trânsito em julgado da condenação. Entretanto, como medidas cautelares probatórias,
podem ser determinadas pelo juiz no curso da investigação ou do processo, por analogia ao art. 294 do CTB.
O parágrafo único do art. 39 prevê uma qualificadora de 4 (quatro) a 6 (seis) anos de detenção e multa
de 400 (quatrocentos) a 600 (seiscentos) dias-multa se a embarcação ou aeronave for de transporte coletivo
de passageiros. É preciso, para a incidência da qualificadora, que haja, ao tempo do crime, passageiros na
embarcação ou aeronave.
BENEFÍCIOS PROIBIDOS
47
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
reconhecido na sentença condenatória. A exigência de recolher-se à prisão para poder apelar também já foi
declarada inconstitucional pelo STF, por violação ao princípio da presunção da inocência.
APLICAÇÃO DA PENA
48
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
DELAÇÃO PREMIADA
As aludidas causas de aumento de pena, de um sexto a dois terços, são aplicáveis aos delitos dos arts. 33
a 37.
Em caso de concurso material entre os aludidos delitos, haverá a incidência da mesma majorante sobre
cada um deles, sem que se possa falar em “bis in idem”, pois são delitos autônomos e independentes.
Quanto ao critério do aumento da pena, que varia entre um sexto a dois terços, não é a pluralidade de
majorantes previstas no art. 40, conforme raciocínio extraído da súmula 443 do STJ, mas, sim, a
fundamentação concreta.
As referidas causas de aumento de pena só não são aplicadas a quatro crimes:
a) porte de drogas para consumo próprio (art. 28, caput);
49
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Tráfico transnacional ou internacional é o que envolve o Brasil e outro país, desde que o fato seja crime
em ambos os países.
O lança perfume, por exemplo, não é crime na Argentina, de modo que a sua importação para o Brasil,
por exemplo, caracterizará o crime de tráfico interno, igualmente, a sua exportação do Brasil para a Argentina,
cuja competência é afeta à justiça estadual.
É ainda necessário, para que haja o tráfico transnacional, que a conduta ou resultado ocorra no Brasil,
ainda que parcialmente, ou então que seja esta a intenção do agente, pois se a integralidade da conduta
criminosa e do resultado houver sido cometidos no exterior, sem qualquer intenção de atingir o Brasil, a
questão será de extraterritorialidade, deferindo-se a competência à justiça estadual.
O que evidencia a transnacionalidade é a natureza da droga, a sua procedência e outras circunstâncias de
fato.
O fato de a droga ser estrangeira, porém, por si só, não caracteriza o tráfico internacional.
Igualmente, o estrangeiro flagrado no tráfico, pelo simples fato de ser estrangeiro, não pode ser
enquadrado no tráfico internacional.
No caso de tráfico transnacional, a competência será da justiça federal e nas demais hipóteses, justiça
estadual (Súmula 522 do STF).
A competência da justiça federal se justifica, nos termos do art. 109, V, da CF, por se tratar de um crime
que, em razão de tratado internacional, em especial, através da convenção de Viena, o Brasil se obrigou a
reprimir.
Se, no município da consumação do tráfico transnacional, não houver justiça federal, a competência
será da sessão judiciária da justiça federal a que pertencer o referido município.
Outro delito da Lei de Drogas da competência da justiça federal é o cometido a bordo de navios e
aeronaves (art. 109, IX, da CF).
O fato de o agente levar drogar para o exterior, por si só, não configura o delito de tráfico internacional,
que não se caracteriza quando o fato não for crime no outro país, outrossim, quando o fizer para consumo
próprio.
A majorante do tráfico transnacional de drogas se configura com a prova da destinação internacional
das drogas, ainda que não consumada a transposição de fronteiras (súmula 607 do STJ). Exemplo: a droga é
apreendida em aeroporto internacional, antes do embarque para o exterior.
A destinação internacional é a intenção de levar a droga de um país para outro.
Em regra, o tráfico internacional se verifica nos verbos importar e exportar, mas é também possível a
sua configuração noutros verbos. Exemplo: posta no correio um envelope contendo drogas, com destino ao
exterior. Outro exemplo: guarda a droga que será destinada a outro país.
A propósito, nos verbos importar e exportar o tráfico necessariamente é transnacional e, por isso, uma
corrente sustenta que a referida majorante, por ser elemento do tipo, não incidiria nestes dois verbos, sob
pena de “bis in idem”, mas o STJ não aceita este ponto de vista.
De fato, é possível importar ou exportar drogas sem caráter transnacional, por isso, a
transnacionalidade não é essencial aos aludidos verbos.
Por fim, a majorante do incisivo se refere à transnacionalidade do delito, e não apenas ao tráfico de
drogas transacional, de modo não paira qualquer discussão acerca de sua aplicação a todos os delitos
previstos entre os art. 33 a 37.
50
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A função pública é a que realiza fins próprios do Estado, aplicando-se, para identificá-la, o art. 327 do
CP.
É necessário, para a incidência da causa de aumento de pena, o nexo causal entre o delito e a função
pública, ou seja, que esta tenha facilitado o crime.
A função pública, a que se refere o texto legal, pode ser qualquer uma, e não apenas aquelas
relacionadas com o combate à criminalidade.
Quanto ao delegado de polícia, que vende a droga apreendida, sobre a qual tinha a detenção, responde
pelo crime de peculato em concurso com o delito de tráfico de drogas, incidindo sobre este último crime a
majorante do art. 40, II.
Delito praticado no desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância (art. 40,
II, parte final)
Educação é a arte de ensinar. Abrange qualquer modalidade de ensino, inclusive, cursos livres e aulas
particulares em residência.
O poder familiar é o atribuído aos pais de representar ou assistir os filhos menores.
A guarda é poder dever de ter em sua companhia os menores ou maiores incapazes, por força de lei ou
mediante decisão judicial.
A vigilância é o dever de fiscalizar uma pessoa ou determinado local, ainda que de forma eventual.
Conquanto a lei seja omissa, a majorante só se aplica para quem exerce a função de vigilância de locais que
contém licitamente a droga. Exemplo: vigia de um laboratório farmacêutico.
As dependências do estabelecimento abrangem a sua área interna e externa, que os delimita, como,
por exemplo, o quintal ou jardim.
As imediações compreendem as áreas que não integram o estabelecimento, mas que se localizam nas
proximidades. Exemplo: tráfico de drogas na esquina de uma escola.
Os estabelecimentos a que se refere o art. 40, III, são os seguintes:
a) prisionais;
b) de ensino;
c) hospitalares;
d) sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas ou beneficentes;
e) de locais de trabalho coletivo;
f) de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza;
g) de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social;
h) de unidades militares ou policiais.
A majorante também incide nos delitos cometidos em transportes públicos. Exemplos: ônibus, metrô.
Não abrange, porém, o interior de táxi ou uber, que são veículos de transporte individual.
O rol acima é taxativo. Não se admite a analogia. Assim, nas imediações de condomínio ou de praça
pública, não há o aumento de pena.
É pacífico que não é preciso que a droga seja destinada às pessoas que frequentam os referidos locais.
Exige-se, porém, que o crime seja efetivamente cometido num desses locais. Não basta, para a
incidência da majorante, a prática de atos preparatórios nos referidos locais.
A corrente objetiva sustenta que, para a incidência da majorante, basta portar a droga num dos
referidos locais.
A corrente subjetiva, porém, defende que é necessário a intenção de entregar a droga nos referidos
locais. É a posição atual do STF e STJ.
Crime praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer processo de
51
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Violência física é a força bruta, que envolve vias de fato ou lesões corporais. Exemplo: empurrão.
Grave ameaça é a promessa de malefício.
Emprego de arma de fogo é o uso ou porte ostensivo. Não abrange as armas que não são de fogo, como
o punhal, a espada, etc.
Os delitos de lesão corporal, ameaça e porte ilegal de arma de fogo serào absorvidos, por força do
princípio da subsidiariedade implícita, pois já funcionam como causas de aumento de pena.
Qualquer processo de intimação difusa ou coletiva. Aqui o legislador fez uso da interpretação analógica,
pois se trata de fórmula genérica que visa abranger meios similares à violência, grave ameaça e emprego de
arma de fogo. Exemplo: toque de recolher imposto pelo traficante. A intimidação difusa é a que atinge um
número indeterminado de pessoas e a coletiva mira um grupo determinado de pessoas.
Tráfico estadual é o que se estende a dois ou mais Estados ou entre estes e o Distrito Federal. Exemplo:
transportar maconha do Estado de São Paulo para o Estado do Paraná.
Sobre o assunto, dispõe a súmula 587 do STJ:
“Para a incidência da majorante prevista no artigo 40, inciso V, da lei 11.343/06 é desnecessária a efetiva
transposição de fronteiras entre Estados da Federação, sendo suficiente a demonstração inequívoca da
intenção de realizar o tráfico interestadual”.
Quanto ao tráfico intermunicipal, que envolve dois ou mais municípios do mesmo Estado, não gera o
aumento da pena.
A presença do tráfico transnacional absorve a majorante do tráfico interestadual, pelo mesmo fato, pois
há entre eles uma relação de meio e fim.
A majorante em análise se refere ao tráfico e, dessa forma, uma corrente sustenta que só é aplicável ao
delito do art. 33. Outra, ao revés, defende a sua incidência sobre todos os delitos compreendidos entre os
arts. 33 a 37, pois não há qualquer ressalva expressa para excluí-los.
Delito cuja prática envolve ou visa atingir criança ou adolescente ou a quem tenha, por qualquer
motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação (art. 40, VI)
Delito cuja prática envolve ou visa atingir criança ou adolescente ou a quem tenha, por qualquer motivo,
diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação (art. 40, VI)
Criança é a pessoa que ainda não completou 12 (doze) anos de idade.
Adolescente é a pessoa entre 12 (doze) anos completos e 18 (dezoito) incompletos.
Pessoa com a capacidade de entendimento e determinação suprimida é a que encontra-se totalmente
privada da razão. Exemplo: enfermo ou deficiente mental sem discernimento. Outro exemplo: embriaguez
completa. Mais um exemplo: pessoa em coma.
Pessoa com a capacidade de entendimento e determinação diminuída é a que encontra-se parcialmente
privada da razão. Exemplo: semi-imputável. Outro exemplo: embriaguez incompleta. Mais um exemplo: sob
estado de violenta emoção.
Trata-se de um rol taxativo, que não abrange o idoso nem o enfermo, que se encontram em perfeito
juízo.
É preciso, para a incidência da majorante, que o crime seja praticado com o concurso de uma destas
pessoas ou então que a droga se destine a elas.
Noutras palavras, incide a majorante quando uma destas pessoas figurarem como sujeito ativo ou
sujeito passivo do delito.
Não basta, destarte, a simples presença de uma destas pessoas no local do crime. Não incide, por
exemplo, a majorante quando se vende drogas na frente de uma criança.
Quanto ao traficante que praticar o delito juntamente com criança e adolescente, há duas correntes.
52
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Primeira, responderá pelo crime de tráfico de drogas em concurso material com o delito de corrupção
de menores, previsto no art. 244-B do ECA, mas, nesse caso, não incidirá a majorante do art. 40, VI, pois ela já
figura como elemento deste último tipo penal. Se, entretanto, se tratar de criança ou adolescente
completamente corrompidos, não há falar-se no delito de corrupção de menores, que se revela crime
impossível, mas o agente responderá pelo delito de tráfico de drogas, com a majorante do art. 40, VI, em
estudo.
Segunda, responderá apenas pelo delito de tráfico de drogas, com a majorante do art. 40, VI, quer o
menor seja ou não corrompido. Quanto ao crime de corrupção de menores, será sempre absorvido, por força
do princípio da especialidade. É a posição dominante na jurisprudência.
Financiar ou custear é disponibilizar os recursos financeiros e materiais para que o delito seja cometido.
Esta majorante, entretanto, não é aplicável ao delito do art. 36, pois, nesse caso, o financiamento ou
custeio funcionam como elementos do tipo.
Quanto ao sujeito que atua simultaneamente como financiador e traficante, o assunto, conforme já
visto, é polêmico.
Uma corrente o enquadra apenas no tráfico de drogas, com a incidência da majorante do art. 40, VII.
Outra o enquadra apenas no delito do art. 36, sem a majorante do art. 40, VII.
Uma terceira sustenta o concurso entre os dois delitos, sem a aludida majorante.
Caso se admita como correta a segunda ou terceira corrente, a majorante em estudo nunca seria
aplicada.
INIMPUTABILIDADE E SEMI-IMPUTABILIDADE
Inimputabilidade
A inimputabilidade por dependência toxicológica ou por se encontrar sob os efeitos da droga em razão
de caso fortuito ou força maior se verifica quando o agente, ao tempo da conduta criminosa, for inteiramente
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou determinar-se de acordo com esse entendimento.
Nesse caso, ele será isento de pena, isto é, será absolvido (art. 45, caput), qualquer que seja o crime
praticado, mas o juiz poderá determinar, na sentença, o seu encaminhamento para o tratamento médico
adequado (parágrafo único do art. 45).
Não se trata, a rigor, de medida de segurança e, sim, de um tratamento da dependência químico-
toxicológica.
Se, entretanto, a absolvição se verificar em função de o agente encontrar-se sob o efeito da droga por
53
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
caso fortuito ou força maior, nenhum tratamento médico lhe será imposto.
A inimputabilidade por dependência toxicológica ou por se encontrar sob os efeitos da droga em razão
de caso fortuito ou força maior gera a absolvição, nos termos acima, em relação a qualquer crime. Se, por
exemplo, o dependente toxicológico inimputável praticar um delito de roubo, o juiz deverá absolvê-lo, com
fundamento do art. 45 e parágrafo único da Lei de Drogas.
Sobre a inimputabilidade, dispõe o art. 45:
É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito
ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal
praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento”.
O parágrafo único do art. 45 acrescenta que:
“Quando absolver o agente, reconhecendo, por força pericial, que este apresentava, à época do fato
previsto neste artigo, as condições referidas no caput deste artigo, poderá determinar o juiz, na sentença, o
seu encaminhamento para tratamento médico adequado”.
Semi-imputabilidade
Imputabilidade
54
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
INVESTIGAÇÃO PENAL
PROCEDIMENTO ESPECIAL
55
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
É de 10 (dez) dias o prazo para o Ministério Público oferecer a denúncia quer se se trate de indiciado
preso ou solto.
A denúncia pode ser oferecida com base no laudo de constatação.
Todavia, para a condenação, é essencial o laudo toxicológico definitivo, sob pena de nulidade da
sentença.
Oferecida a denúncia, o juiz, antes de recebê-la, ordenará a notificação do acusado para oferecer a
defesa preliminar, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.
A falta dessa defesa preliminar acarreta a nulidade do processo e, por isso, o juiz nomeará um defensor
para apresentar essa defesa se o réu não a fizer.
Apresentada a defesa, o juiz, sem ouvir o Ministério Público, decidirá em 5 (cinco) dias pelo recebimento
ou rejeição da denúncia.
Vale lembrar que tanto o Ministério Público, na denúncia, quanto o acusado, na defesa preliminar,
podem arrolar até 5(cinco) testemunhas.
Recebida a denúncia, o juiz designará audiência de instrução e julgamento, ordenará a citação pessoal
do réu e a intimação do Ministério Público.
Note-se que, após o recebimento da denúncia, a lei não prevê a manifestação do Ministério Público.
Se o réu for funcionário público que houver praticado um dos delitos dos arts. 33, caput e §1º, 34 e 37,
o juiz ao receber a denúncia, poderá decretar o afastamento cautelar de suas atividades.
Na audiência de instrução e julgamento, pela lei 13.343/2006, o primeiro ato é o interrogatório do réu.
Entretanto, por força do princípio da ampla defesa e da aplicação subsidiária do CPP, o interrogatório é
último ato da instrução, em todos os procedimentos, inclusive, nos crimes de drogas. Trata-se de uma
jurisprudência pacífica, tanto no STF quanto do STJ.
Nesta audiência haverá a inquirição das testemunhas de acusação e defesa, sucessivamente e, por
último, o interrogatório.
Em seguida, as partes falam em debates pelo prazo de 20 (vinte) minutos prorrogável por mais 10 (dez)
a critério do juiz. Primeiro fala o Ministério Público e depois a defesa.
Esta audiência será realizada dentro de 30 (trinta) dias, a contar do recebimento da denúncia, salvo
quando o juiz determinar a realização de perícia para atestar a dependência da droga, nesse caso, o prazo
para a realização da audiência será de 90 (noventa) dias.
Encerrados os debates, proferirá o juiz sentença de imediato ou em 10 (dez) dias.
56
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
se conta da decisão judicial que ordenou a destruição, mas, sim, da apreensão da droga.
c) destruição das amostras guardadas para contraprova. Nesse caso, a destruição só poderá ser
ordenada pelo juiz após o trânsito em julgado da sentença condenatória ou absolutória ou da decisão que
extinguiu a punibilidade, outrossim, após o arquivamento do inquérito policial. A propósito, dispõe o art. 72:
“Encerrado o processo criminal ou arquivado o inquérito policial, o juiz, de ofício, mediante representação da
autoridade de polícia judiciária, ou a requerimento do Ministério Público, determinará a destruição das
amostras guardadas para contraprova, certificando nos autos”. Esta destruição deve ser executada
imediatamente após a decisão judicial, malgrado o silêncio da lei.
As plantações ilícitas serão imediatamente destruídas pelo delegado de polícia na forma do art. 50-A,
que recolherá quantidade suficiente para exame pericial, de tudo lavrando auto de levantamento das
condições encontradas, com a delimitação do local, asseguradas as medidas necessárias para a preservação
da prova (art. 32).
As plantas ilícitas, ao contrário das drogas, devem ser imediatamente destruídas pela autoridade
policial, sem ordem judicial, recolhendo-se, porém, quantidade suficiente para exame pericial.
As glebas cultivadas com plantações ilícitas serão expropriadas, conforme o disposto no art. 243 da
Constituição Federal, de acordo com a legislação em vigor (§4º do art. 32).
Apreensão e sequestro
A decretação da apreensão dos bens móveis ou sequestro dos imóveis pode ocorrer no curso do
inquérito ou da ação penal.
A busca e apreensão tem por objeto o produto direto do crime, ou seja, a coisa móvel obtida por meio
criminoso, nos termos do art. 121 do CPP. Exemplo: a barra de ouro recebida em troca da droga.
O sequestro, por sua vez, se refere às coisas, móveis ou imóveis, adquiridas com o delito mediante
especificação ou alienação. Trata-se do produto indireto do crime. Exemplo: transformação da barra de ouro
em correntes de ouro. Outro exemplo: dinheiro obtido com a venda da barra de ouro.
Além da apreensão e do sequestro, o juiz poderá decretar outras medidas assecuratórias.
A decretação destas medidas não pode ser ordenada de ofício pelo juiz, pois depende de requerimento
do Ministério Público ou do assistente de acusação, ou de representação da autoridade policial.
É ainda necessário que haja suspeita de que os bens, direitos ou valores sejam produto do crime ou
constituam proveito dos crimes.
O ônus da prova desta suspeita compete ao requerente.
Não há, destarte, a presunção acerca da origem ilícita desses bens.
A propósito, dispõe o art. 60:
“O juiz, a requerimento do Ministério Público ou do assistente de acusação, ou mediante representação
da autoridade de polícia judiciária, poderá decretar, no curso do inquérito ou da ação penal, a apreensão e
outras medidas assecuratórias nos casos em que haja suspeita de que os bens, direitos ou valores sejam
produto do crime ou constituam proveito dos crimes previstos nesta Lei, procedendo-se na forma dos arts.
125 e seguintes do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo”.
A ordem de apreensão ou sequestro de bens, direitos ou valores poderá ser suspensa pelo juiz, ouvido
o Ministério Público, quando a sua execução imediata puder comprometer as investigações (§4º do art. 60).
Os instrumentos do crime, que são os meios utilizados pelo agente para a prática do delito, poderão ser
apreendidos pela autoridade policial, sem ordem judicial, que deverá comunicar a apreensão ao juiz
57
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Pedido de restituição
Nenhum pedido de restituição será conhecido sem o comparecimento pessoal do acusado, podendo o
juiz determinar a prática de atos necessários à conservação de bens, direitos ou valores (art. 63-A).
Comprovado o interesse público na utilização de quaisquer dos bens de que trata o art. 61, os órgãos
de polícia judiciária, militar e rodoviária poderão deles fazer uso, sob sua responsabilidade e com o objetivo
de sua conservação, mediante autorização judicial, ouvido o Ministério Público e garantida a prévia avaliação
dos respectivos bens ( art. 62).
A utilização dos bens só pode ser deferida aos órgãos da polícia.
O juízo deve cientificar o órgão gestor do FUNAD para que, em 10 (dez) dias, avalie a existência do
referido interesse público mencionado e indique o órgão que deve receber o bem.
Têm prioridade para receber os aludidos bens os órgãos de segurança pública que participaram das
ações de investigação ou repressão ao crime que deu causa à medida.
A autorização judicial de uso de bens deverá conter a descrição do bem e a respectiva avaliação e indicar
o órgão responsável por sua utilização.
Quando a autorização judicial recair sobre veículos, embarcações ou aeronaves, o juiz ordenará à
autoridade ou ao órgão de registro e controle a expedição de certificado provisório de registro e licenciamento
em favor do órgão ao qual tenha deferido o uso ou custódia, ficando este livre do pagamento de multas,
encargos e tributos anteriores à decisão de utilização do bem até o trânsito em julgado da decisão que decretar
o seu perdimento em favor da União.
O uso do bem, em razão da ordem judicial, é provisório, pois perdura somente até o trânsito em julgado
da condenação que ordenou o seu confisco em favor da União.
Caso não haja o confisco e seja constatada a depreciação do bem, o ente federado ou a entidade que
utilizou o bem indenizará o detentor ou proprietário dos bens.
Alienação antecipada
A alienação antecipada será ordenada de ofício pelo juiz, em relação aos seguintes bens:
a) instrumentos do crime, exceto as armas de fogo e os bens cujo uso tenha sido atribuído aos órgãos
da polícia. O juiz, no prazo de 30 (trinta) dias contado da comunicação da apreensão pela autoridade policial,
determinará a alienação dos bens que constituem instrumentos do crime, excetuadas as armas, que serão
recolhidas na forma da legislação específica.
b) moedas estrangeiras apreendidas. A moeda estrangeira apreendida em espécie deve ser
encaminhada a instituição financeira, ou equiparada, para alienação na forma prevista pelo Conselho
Monetário Nacional. Na hipótese de impossibilidade da alienação, a moeda estrangeira será custodiada pela
instituição financeira até decisão sobre o seu destino. Após o confisco da moeda estrangeira, caso seja
verificada a inexistência de valor de mercado, seus espécimes poderão ser destruídos ou doados à
representação diplomática do país de origem.
c) demais bens apreendidos e sequestrados que estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração ou
depreciação, ou quando houver dificuldade para sua manutenção (art. 144-A do CPP).
Quando a apreensão recair sobre títulos, valores mobiliários ou cheques emitidos como ordem de
58
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
CONFISCO
Quanto aos bens confiscados e não leiloados antecipadamente, a União, através do SENAD, do
Ministério da Justiça e Segurança Pública, poderá lhes dar a seguinte destinação;
a) alienação (art. 63-C). Neste caso, o valor arrecadado será destinado ao Funad;
b) incorporação ao patrimônio de órgão da administração pública, observadas as finalidades do Funad;
c) destruição.
d) inutilização.
O produto da alienação dos bens apreendidos ou confiscados será revertido integralmente ao Funad,
nos termos do parágrafo único do art. 243 da Constituição Federal, vedada a sub-rogação sobre o valor da
arrematação para saldar eventuais multas, encargos ou tributos pendentes de pagamento (art. 63-E).
Assim, os bens confiscados são revertidos à União que, por sua vez, reverterá diretamente o produto
de sua alienação ao FUNAD (Fundo Nacional Antidrogas).
Quanto às armas de fogo confiscadas, a União as reverterá ao Comando do Exército, conforme prevê o
Estatuto do Desarmamento.
Note-se que se trata de um confisco “sui generis”, posto que decretado antes mesmo da sentença
condenatória.
De fato, o confisco das armas de fogo deve ser ordenado após a elaboração do laudo pericial e sua
juntada aos autos, quando não mais interessarem à persecução penal (art. 25 do Estatuto do Desarmamento).
59
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O juiz determinará a liberação total ou parcial dos bens, direitos e objeto de medidas assecuratórias
quando comprovada a licitude de sua origem, mantendo-se a constrição dos bens, direitos e valores
necessários e suficientes à reparação dos danos e ao pagamento de prestações pecuniárias, multas e custas
decorrentes da infração penal (art. 63-B).
Entretanto, decorrido 360 (trezentos e sessenta) dias do trânsito em julgado e do conhecimento da
sentença pelo interessado, se os aludidos bens não forem reclamados serão revertidos ao Funad (§6º do art.
63).
Trata-se de um confisco que recai sobre o patrimônio lícito, que se verifica em razão do decurso do
tempo.
Sobre o confisco das glebas de terra, dispõe o art. 243, caput, da CF:
“As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de
plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à
reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo
de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º”.
O procedimento dessa expropriação de glebas de terras é regulamentado pela Lei 8.257/91.
INTRODUÇÃO
O Juizado Especial Criminal, conhecido pela sigla JECRIM, tem competência apenas para a conciliação,
processo, julgamento e execução das infrações penais de menor potencial ofensivo.
No âmbito dos Estados-Membros e do Distrito Federal, é previsto no art. 98, I, da CF, e, no âmbito da
Justiça Federal, no §1º do citado artigo.
Com efeito, dispõe o art. 98, I, da CF:
“A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:
I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação,
o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial
ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a
60
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
LEGISLAÇÃO APLICÁVEL
A Lei 9.099/95 rege o Juizado Criminal dos Estados-Membros e Distrito Federal, mas é também aplicada
ao Juizado Criminal Federal.
Com efeito, a Lei 10.259/2.001, que disciplina o Juizado Especial Federal, aborda apenas os aspectos
cíveis e, na seara criminal, faz expressa remissão a todos os institutos da lei 9.099/95.
O art. 95 da Lei 9.099/95 ordenou aos Estados e Distrito Federal a criação e instalação dos Juizados
Especiais permanentes, no prazo de seis meses, a contar da vigência desta Lei.
E, posteriormente, o parágrafo único do art. 95 da Lei 9.099/95, introduzido pela Lei 12.726/2.012,
ordenou também aos Estados e Distrito Federal a criação e instalação dos Juizados Especiais itinerantes, no
prazo de seis meses, a contar da vigência desta Lei, que deverão dirimir, prioritariamente, os conflitos
existentes nas áreas rurais ou nos locais de menor concentração populacional.
Vê-se assim que este juizado especial itinerante deve priorizar sua atuação:
a) nas áreas rurais;
b) nos locais de menor concentração populacional.
Composição
A jurisdição de consenso é a que visa a composição da lide através do acordo entre as partes.
Diversamente, na jurisdição de conflito, o objetivo do processo é, em regra, a imposição de uma pena
privativa de liberdade.
No juizado especial criminal vigora a jurisdição de consenso, pois se visa solucionar o conflito através
de três institutos despenalizadores, que são os seguintes:
a) composição civil dos danos;
b) transação penal;
c) suspensão condicional do processo.
Este último instituto também é cabível para infrações penais que não sejam de menor potencial
ofensivo, cuja pena mínima não exceda a um ano.
Particularidades do JECRIM
61
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
b) a materialidade da lesão corporal pode ser comprovada por boletim médico ou outra prova
equivalente, sem que haja necessidade do exame de corpo de delito;
c) não se lavra o auto prisão em flagrante, quando o autor da infração penal for encaminhado ao juizado
ou assumir o compromisso de comparecer.
d) possibilidade de composição civil dos danos, transação penal e suspensão condicional do processo;
e) adoção do procedimento sumaríssimo.
De acordo com o art. 61 da lei 9.099/95, com redação dada pela Lei 11.313/2.006, são duas as espécies
de infrações penais de menor potencial ofensivo:
a) As contravenções penais, qualquer que seja a quantidade da pena abstrata;
b) Os crimes a que a lei comina pena privativa de liberdade máxima não superior a 2 (dois) anos,
cumulada ou não com multa. Toma-se, pois, por base, a pena abstrata e não a pena concreta. Se a pena
abstrata excede a 2 (dois) anos, ainda que o tipo penal preveja também a multa como pena alternativa, não
há falar-se em infração penal de menor potencial ofensivo.
Se houver causa de aumento de pena, para verificar se a pena excede ou não a 2(dois) anos, toma-se
por base a pena máxima e sobre ela se aplica o aumento máximo.
Na causa de diminuição de pena, toma-se a pena máxima e sobre ela se aplica o percentual mínimo de
diminuição, pois dessa forma se obtém a pena máxima
As agravantes e atenuantes genéricas não exercem qualquer influência. De fato, as agravantes não
podem elevar a pena acima do máximo e as atenuantes não podem trazê-la abaixo do mínimo.
62
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Nos crimes que têm procedimentos especiais, mas que sejam de menor potencial ofensivo, como é o
caso dos crimes contra a honra, impõem-se também a aplicação do procedimento sumaríssimo do JECRIM,
pois a lei não os ressalva.
Quanto aos crimes de menor potencial ofensivo praticados por agentes com foro por prerrogativa de
função, seguirão o procedimento especial dos crimes de competência originária dos tribunais, aplicando-se,
contudo, as medidas despenalizadoras da Lei 9.099/95. Exemplos: crimes praticados por juízes de direito,
promotores de justiça, deputados, etc.
Crimes eleitorais
No tocante aos crimes eleitorais, segundo a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, o julgamento
será afeto à Justiça Eleitoral, que, entretanto, aplicará às infrações penais eleitorais de menor potencial
ofensivo os institutos despenalizadores da Lei 9.099/95, salvo quando, juntamente com a pena privativa de
liberdade, houver uma sanção específica do sistema eleitoral como acontece, por exemplo, com o delito do
art. 334 do Código Eleitoral, cujo preceito secundário também prevê a cassação do registro da candidatura do
responsável.
VÍTIMA IDOSA
Aos crimes previstos no Estatuto do Idoso, cuja pena abstrata não excede a 4 (quatro) anos, aplica-se o
procedimento da Lei 9.099/95, conforme prevê o art. 94 da Lei 10.741/2.003.
Na ADI 3.096, julgada em 2.010, o STF decidiu que, nos delitos cuja pena máxima excede a 2 (dois)
anos, aplica-se tão somente o procedimento da Lei 9.099/95, mas sem os respectivos benefícios.
Assim, os benefícios da Lei 9.099/95, como a composição civil, a transação penal, a vedação da prisão
em flagrante, etc., não são aplicáveis aos crimes do Estatuto do Idoso em que a pena abstrata exceda a 2 (dois)
anos. Exegese diversa, em vez de beneficiar, prejudicaria o idoso.
Se, no entanto, a pena abstrata do crime praticado contra idoso não exceder a 2 (dois) anos, torna-se
perfeitamente possível a aplicação de todos os institutos da lei 9.099/95.
CRIMES DE TRÂNSITO
Aos crimes de menor potencial ofensivo na direção de veículos automotores aplicam-se, em regra, a Lei
9.099/95, por força de expressa previsão do art. 291 do CTB.
Na lesão corporal culposa, prevista no art. 303 do CTB, a pena não excede a 2 (dois) anos e, por isso,
aplica-se também a Lei 9.099/95, exceto se o agente tiver:
a) sob influência do álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine dependência;
b) participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística, de exibição ou
demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente;
c) transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h (cinquenta
quilômetros por hora), isto é, exceder-se 50 km/h à velocidade máxima permitida.
Nessas três hipóteses, instaura-se inquérito, e não termo circunstanciado, sendo ainda vedada a composição
civil dos danos e a transação penal. Além disso, a ação penal será pública incondicionada.
Competência do JECRIM
Tanto o Juizado Criminal Estadual ou Distrital quanto o Juizado Criminal Federal só tem competência
63
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
para as infrações penais de menor potencial ofensivo. Por exemplo: desacato contra policial federal, a
competência é do Juizado Criminal Federal.
O JECRIM federal só tem competência para julgar os crimes de menor potencial ofensivo, que se
enquadram no art. 109 da CF.
Convém lembrar que justiça federal não tem competência para julgar contravenções penais, ainda que
elas atentem contra bens, interesses ou serviços da União.
As contravenções serão da alçada do JECRIM Estadual ou do Distrito Federal.
As infrações penais de menor potencial ofensivo, em regra, não podem ser julgadas pelo juízo comum.
Para uns, a competência do JECRIM é absoluta, pois é em razão da matéria, prevista na CF (art. 98, I).
Outros, ao revés, sustentam que a competência é relativa, pois a própria Lei 9.099/95 prevê algumas
hipóteses de modificação da competência, sendo que a competência absoluta é imodificável.
Esta última corrente é a mais correta, pois se houver sido aplicado pelo juízo comum os institutos
despenalizadores não haverá qualquer nulidade, diante da falta de prejuízo. Se, entretanto, houver sido
negada esta possibilidade, a nulidade será absoluta.
Definida a justiça do JECRIM, o próximo passo é estabelecer a competência territorial.
A competência territorial do Juizado Criminal será determinada pelo lugar em que houver sido praticada
a infração penal (art. 63 da Lei 9.099/95).
Uma primeira corrente interpreta como sendo o local da consumação, que é o foro competente para os
crimes em geral (art. 70 do CPP).
Outra sustenta que se trata do local da conduta criminosa (ação ou omissão), por força do art. 4o do
CP, que consagra a teoria da atividade. Com efeito, dispõe o art. 4º do CP: “Considera-se praticado o crime no
momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado”.
Há ainda uma terceira corrente, que adota a teoria da ubiquidade, de modo que o foro competente
seria tanto local da conduta quanto o do resultado.
A meu ver, a competência do Juizado não é do local da consumação e, sim, o da prática da conduta,
sendo, pois, uma exceção à regra geral do art. 70 do CPP.
Conflito de competência
Princípios
64
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Objetivos
O processo perante o JECRIM objetivará, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela
vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade (art. 62).
O JECRIM tem, pois, dois objetivos:
a) a reparação do dano causado pela infração penal; e
a) a descarcerizacão.
Citação
No JECRIM, nos termos do art. 66, a citação será sempre pessoal, podendo ser feita da seguinte forma:
a) no próprio juizado, sempre que possível;
b) por mandado.
Não é possível as seguintes citações:
a) pelo correio;
b) por meio eletrônico;
c) por edital;
d) por carta rogatória, posto que incompatível com o princípio da celeridade.
No JECRIM, segundo uma corrente, é também proibida a citação por hora certa.
O Fórum Nacional dos Juizados Especiais (FONAJE), no entanto, admite a citação por hora certa, posto
que a Lei 9.099/95 proíbe apenas a por edital.
Quanto à citação por carta precatória, ao acusado que reside noutra comarca, é possível, por aplicação
subsidiária do CPP. Nesse caso, em vez da precatória, nada obsta seja citado por qualquer outro meio de
comunicação.
Intimação
A intimação far-se-á por correspondência, com aviso de recebimento pessoal ou, tratando-se de pessoa
jurídica ou firma individual, mediante entrega ao encarregado da recepção, que será obrigatoriamente
identificado, ou, sendo necessário, por oficial de justiça, independentemente de mandado ou carta precatória,
ou ainda por qualquer meio idôneo de comunicação.
Assim, enquanto a citação no JECRIM só pode ser feita por oficial de justiça em cumprimento de
mandado judicial ou no próprio juizado, a intimação admite as seguintes modalidades:
a) via postal, com AR;
b) oficial de justiça, independentemente de mandado;
c) no próprio juizado;
d) qualquer meio idôneo de comunicação.
Dos atos praticados em audiência considerar-se-ão desde logo cientes as partes, os interessados e
65
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
defensores.
Informações importantes
Do ato de intimação do autor do fato e do mandado de sua citação, constarão duas observações:
a) a necessidade de seu comparecimento acompanhado de advogado;
b) a advertência de que, na falta do seu advogado, ser-lhe-á designado defensor.
DESLOCAMENTO DA COMPETÊNCIA
CONEXÃO E CONTINÊNCIA
Em caso de conexão e continência entre um crime que seja de maior potencial ofensivo e outro de
menor potencial ofensivo, afasta-se, por força do parágrafo único do art. 60 da Lei 9.099/95, a competência
do JECRIM.
Impõem-se, nesses casos, a reunião dos processos perante o juízo comum ou tribunal do júri, conforme
a hipótese, observando-se, contudo, nesses procedimentos, em relação às infrações de menor potencial
ofensivo, os institutos da transação penal e da composição civil dos danos.
Entretanto, a conexão entre infrações penais de menor potencial ofensivo cuja soma das penas não
excede a 2 (dois) anos não retira a competência do JECRIM. Igualmente, na continência, quando a pena não
se exceder a 2 (dois) anos.
Nos casos de conexão com outros crimes mais graves, a infração penal de menor potencial ofensivo
será julgada pela Justiça Comum ou Tribunal do Júri, nos termos do art. 60, parágrafo único, da Lei
9.099/1995).
Sobre o tema há duas correntes.
Primeira, os dispositivos legais, que permitem a alteração de competência, violam o princípio do juiz
natural e afrontam o art. 98 da CF, que conferem aos Juizados Especiais Criminais competência material
absoluta.
Segunda, adotada pelo Plenário do STF na ADI 5264, não há qualquer inconstitucionalidade, pois a
Constituição Federal não torna os Juizados Especiais Criminais instância exclusiva para o julgamento de
infrações de menor potencial ofensivo, mas apenas garante a esse tipo de infração penal a observância do
procedimento célere e dos institutos despenalizadores previstos na Lei 9.099/1995.
Por consequência, a competência do juizado especial não é absoluta, mas, sim, relativa.
De fato, o deslocamento da competência do processo para a Justiça Comum ou para o Tribunal do Júri
se faz em respeito ao princípio do devido processo legal, sem que haja qualquer ofensa às garantias
processuais.
66
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
CAUSAS COMPLEXAS
FASE PRELIMINAR
Na fase preliminar policial, destacam-se dois momentos: a lavratura do termo circunstanciado e a vedação da
prisão em flagrante.
Termo circunstanciado
Nas infrações penais de menor potencial ofensivo não se instaura inquérito policial, mas termo
circunstanciado.
O termo circunstanciado é uma narrativa minuciosa da ocorrência, similar ao boletim de ocorrência,
onde a autoridade policial ouve informalmente a vítima, as testemunhas e o autor da infração penal, inserindo
no termo apenas um resumo do que cada um relatou.
O termo circunstanciado deve necessariamente conter a identificação do autor da infração penal.
Após a sua lavratura, o autor da infração penal será encaminhado ao JECRIM pela autoridade policial ou
então assinará o termo de compromisso de comparecimento ao JECRIM.
A Lavratura do termo circunstanciado (TC) será feita pela autoridade policial que tomar conhecimento
da infração penal.
Não há, destarte, a instauração de inquérito policial nem de boletim de ocorrência.
Todavia, a autoridade policial deverá requisitar os exames periciais necessários.
Se, após a lavratura do termo circunstanciado, se verificar que se trata de um caso complexo ou que há
conexão ou continência com outro delito, que retira a competência do juizado criminal, a autoridade policial
poderá determinar a instauração do inquérito policial.
67
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Sobre a atribuição para a lavratura do terno circunstanciado, segundo o STF, é exclusiva da autoridade
policial.
O Provimento 806/03 do Conselho Superior da Magistratura do Estado de São Paulo, porém, admite
que o termo circunstanciado seja também lavrado por oficial da Polícia Militar.
Data venia, a Lei 9.099/95 atribui apenas à autoridade policial a lavratura de termo circunstanciado,
justamente por se tratar de função investigativa, que é exclusiva da polícia judiciária, nos termos do art. 144, §
1º, I, da CF.
Aliás, o decreto 1.557/2.003, do Estado do Paraná, que atribuía também à polícia militar poderes para
lavratura de termo circunstanciado foi declarado inconstitucional pelo STF, na ADI 3.614, por usurpação de
atribuição da polícia civil.
O termo circunstanciado, malgrado o silêncio da lei, devido à possibilidade de haver uma posterior
transação penal, não poderá constar de certidões de antecedentes criminais.
No termo circunstanciado, diante da possibilidade de transação penal, também não se deve realizar o
indiciamento, pois, em havendo transação penal, a infração penal não poderá constar em certidões criminais.
Nas infrações penais de menor potencial ofensivo, vigora a liberdade provisória obrigatória.
Não se imporá, destarte, prisão em flagrante nem se exigirá fiança ao autor do fato que, após a lavratura
do termo circunstanciado, for imediatamente encaminhado ao JECRIM pela autoridade policial ou então
assumir o compromisso de a ele comparecer na data que lhe for designada.
Trata-se de uma medida que visa evitar o recolhimento ao cárcere, mas não impede que, diante do
flagrante, haja a captura e a condução coercitiva.
Não haverá, entretanto, a lavratura do auto de prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser posto
em liberdade sem fiança.
Caso ele se recuse a assumir o compromisso de comparecer ao JECRIM, a autoridade policial, nas
infrações penais onde se comina pena privativa de liberdade, lavrará o auto de prisão em flagrante e, em
seguida, arbitrará a fiança, mas se à infração penal não for cominada pena privativa de liberdade, após a
lavratura do auto de prisão em flagrante, a autoridade policial concederá a liberdade provisória sem fiança.
Lavrado o auto de prisão em flagrante, por recusar-se a comparecer aos atos do juizado, conquanto seja
o indivíduo colocado em liberdade, as investigações serão feitas através de inquérito policial, posto que o
auto de prisão em flagrante é uma das formas de instauração do inquérito e, nesse caso, será possível o
indiciamento, segundo já decidiu o STJ, embora o tema seja polêmico, diante da possibilidade de transação
penal.
No delito do art. 28 da Lei de Drogas, porte ou plantio para consumo próprio, aplica-se, tão somente, a
Lei 9.099/95, conforme §1º do art. 28 da Lei 11.343/06, sendo, ainda vedado, em qualquer hipótese, a prisão
em flagrante. Portanto, apreende-se a droga, lavra-se o TC e, na sequência, libera-se o agente, ainda que ele
não assuma o compromisso de comparecer aos atos do JECRIM.
Encaminhados os autos ao JECRIM, inaugura-se a fase preliminar judicial, designando-se uma audiência
preliminar.
Nessa audiência preliminar, presentes o representante do Ministério Público, o autor do fato e a vítima
e, se possível, o responsável civil, acompanhados por seus advogados, o juiz esclarecerá sobre a possibilidade
de composição civil dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não privativa de
liberdade.
Noutras palavras, o juiz realizará a tentativa de conciliação sobre dois aspectos: composição dos danos
e transação penal.
68
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A composição dos danos, também chamada de transação civil ou conciliação civil, é o acordo entre o
autor do fato e a vítima sobre o montante que o primeiro deverá indenizar à segunda.
A conciliação será conduzida pelo juiz ou conciliador sob sua orientação.
Não há necessidade da participação do Ministério Público na composição civil dos danos, salvo quando
houver interesse de incapaz (art. 178, II, do CPC).
A composição dos danos será reduzida a escrito e homologada pelo juiz mediante sentença irrecorrível,
que tem a eficácia de título executivo, podendo ser executada no juízo cível competente.
Até 40 (quarenta) salários mínimos, a execução poderá ser feita no juizado especial cível, nos termos do
art. 3º, § 1º, II, da Lei 9.099/95, e, acima deste valor, no juízo cível comum.
Frise-se que, dessa sentença, não cabe nenhum recurso.
Este acordo homologado por sentença ainda tem o efeito de extinguir a punibilidade quando se tratar
de crime de ação penal privada ou ação penal pública condicionada à representação, pois, de acordo com o
parágrafo único do art. 74, ele equivale à renúncia ao direito de queixa ou representação.
Na ação penal privada, esta renúncia ao direito de queixa, por força do princípio da indivisibilidade da
ação penal privada, beneficiará os demais coautores e partícipes que não participaram da conciliação.
Não ação penal pública incondicionada, o juiz também homologará a eventual composição dos danos.
Nesse caso, porém, não haverá a extinção da punibilidade, mas apenas a redução da pena de um a dois terços,
quando se tratar de crime sem violência ou grave ameaça à pessoa, nos termos do art. 16 do Código Penal.
Oferecimento de representação
Nos crimes de ação penal pública condicionada à representação, dispõe o art. 75 da Lei 9.099/95,
que “não obtida a conciliação dos danos civis, será dada imediatamente ao ofendido a oportunidade de
exercer o direito de representação verbal, que será reduzida a termo”.
Uma primeira corrente, com base neste dispositivo legal, sustenta que, ainda que a vítima tenha
oferecido anteriormente a representação, haverá a necessidade de uma nova representação, na hipótese de
resultar infrutífera a tentativa de composição civil dos danos.
Uma segunda corrente, acertadamente, com base no princípio da informalidade, outrossim, pelo fato
de o artigo 92 da Lei 9099/95 mandar aplicar subsidiariamente ao juizado criminal as disposições do Código
Penal e do Código de Processo Penal, preconiza que a representação oferecida anteriormente, por ocasião da
lavratura do termo circunstanciado, já seria suficiente, dispensando-se uma nova representação. Por
consequência, o disposto no citado art. 75 só seria aplicado quando não houvesse uma representação anterior.
O parágrafo único do citado art. 75, por sua vez, acrescenta que “o não oferecimento da representação
na audiência preliminar não implica decadência do direito de representação, que poderá ser exercido no prazo
previsto em lei”.
Sobre o termo inicial do prazo decadencial de 6 (seis) meses para a oferta da representação, também
há duas correntes.
Primeira, é a data da audiência preliminar, por interpretação do parágrafo único do art. 75.
Segunda, é a data do conhecimento da autoria do crime, nos termos do art. 38 do CPP.
A primeira corrente, por consagrar uma interpretação ilógica, não pode prevalecer.
Com efeito, nos crimes que não são de menor potencial ofensivo, o prazo de representação se inicia
com o conhecimento da autoria, por consequência, seria incoerente que nos delitos de menor potencial
ofensivo o prazo só se iniciasse depois, quando restasse infrutífera a conciliação dos danos civis. Estar-se-ia
consagrando um prazo maior para delitos menos graves.
Vale lembrar, porém, que não se exige uma representação formal, pois a simples lavratura do termo
circunstanciado, a pedido da vítima, já equivale a representação.
69
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Os crimes de lesões corporais leves e lesões culposas são de ação penal pública condicionada à
representação, nos termos do art. 88 da Lei 9.098/95.
O prazo para ofertar a representação é de 6(seis) meses, a contar do conhecimento da autoria do delito.
O prazo de 30 (trinta) dias, previsto no art. 90, foi instituído apenas para os delitos cometidos antes da
Lei 9.099/95.
Em relação à contravenção de vias de fato, por interpretação lógica, também depende de
representação, mas outra corrente preconiza que a ação é pública incondicionada
Por fim, na lesão corporal leve, em situação de violência doméstica e familiar contra mulher, a ação
penal é pública incondicionada.
Oferecimento da queixa
Nos crimes de ação penal privada, não obtida a composição dos danos civis, malgrado o silêncio da lei,
será também dada imediatamente ao ofendido a oportunidade de, através de advogado ou defensor público,
exercer o direito de queixa verbal, que será reduzida a termo.
Nos crimes de ação penal privada, o não comparecimento da vítima à audiência preliminar, não gera a
extinção da punibilidade, pois ainda não há a oferta da queixa-crime, de modo que não há falar-se em
perempção, mas os autos permanecerão em cartório aguardando uma nova provocação ou o decurso do prazo
decadencial.
Conceito
Transação penal é o acordo entre o Ministério Público e o autor do fato, pelo qual o primeiro, em troca
de não oferecer a denúncia, propõe ao segundo a aceitação de uma pena de multa ou restritiva de direitos.
Esta imposição de pena sem julgamento não é inconstitucional, posto que autorizada expressamente
pelo art. 98, I, da CF.
Nas infrações penais de menor potencial ofensivo vigora o princípio da obrigatoriedade regrada ou
discricionariedade regrada ou mitigada ou balizada da ação penal pública, enquanto que nos demais delitos
esse princípio ainda é absoluto, à medida que o Ministério Público não terá outra opção que não seja o
oferecimento da denúncia.
Requisitos
70
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
c) Não ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores por outra transação penal. Quanto ao
prazo de 5 (cinco) anos, conta-se da extinção da punibilidade do delito que motivou a transação anterior.
d) Que os antecedentes, a conduta social, a personalidade do agente, os motivos e as circunstância do
crime indiquem que a pena aplicada na transação é necessária e suficiente. Trata- se de um requisito subjetivo,
que consagra o princípio da suficiência da pena.
e) Aceitação da proposta pelo autor da infração penal e seu defensor. Caso a transação tenha sido
realizada sem a presença de advogado ou defensor público, a nulidade será absoluta, por violação do princípio
da ampla defesa. Se o advogado ou defensor Público concorda com a proposta do Ministério Público, mas o
autor do delito a rejeita, o juiz não poderá homologar a transação. Se, ao revés, o autor do delito concorda,
mas o advogado ou defensor público rejeita a proposta, o juiz poderá homologar a transação, pois, por se
tratar de um instituto baseado na justiça consensual, a vontade do autor deverá prevalecer sobre a do
causídico.
Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a transação penal exige mais um requisito, que é
a prévia composição do dano ambiental, salvo em caso de comprovada impossibilidade (art. 27 da Lei
9.605/98).
Nos crimes de ação penal pública condicionada à representação ou requisição do ministro da justiça,
por sua vez, a transação ainda depende de outros dois requisitos:
a) que haja a representação ou requisição do ministro da justiça, conforme a hipótese;
b) que não tenha ocorrido a homologação judicial da composição civil dos danos. De fato, a composição
civil dos danos equivale à renúncia do direito de representação, e, por consequência, extingue a punibilidade,
inviabilizando-se a posterior transação penal.
Homologação
Na transação, a pena sugerida pelo Ministério Público pode ser restritiva de direitos ou multa.
Aceita a proposta, o juiz não estará obrigado a homologar automaticamente o acordo, pois terá que
analisá-lo sob o prisma da legalidade.
O juiz não poderá intervir no mérito da transação, salvo para reduzir a pena de multa, quando ela for a
única pena cominada ao tipo penal.
De fato, se o tipo penal prevê tão somente a pena de multa, como ocorre em várias contravenções
penais, o juiz reduzirá a pena até a metade (§1º do art. 76).
Presentes os requisitos legais, o juiz prolatará sentença homologatória da transação, da qual caberá o
recurso de apelação no prazo de 10 (dez) dias.
Trata-se de uma sentença condenatória imprópria, pois não gera os efeitos secundários da condenação.
Uma segunda corrente sustenta que a sentença é constitutiva, pois não há condenação sem o devido
processo legal.
Uma terceira corrente ensina que é meramente declaratória, pois apenas homologa a vontade das
partes (posição do STJ).
Efeitos
71
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Não é dado ao juiz o poder de conceder de ofício a transação penal contra vontade do Ministério Público.
Por analogia, o juiz pode aplicar o art. 28 do CPP e enviar os autos ao Procurador Geral de Justiça quando
o promotor de justiça optar pelo oferecimento da denúncia em vez de propor a transação penal.
No âmbito do Ministério Publico Federal, se houver o oferecimento da denúncia sem a prévia proposta
de transação, o juiz, em vez de receber a denúncia, remeterá os autos à Câmara de Coordenação e Revisão do
MPF.
O Procurador Geral de Justiça ou a Câmara de Coordenação e Revisão do MPF poderá insistir na
denúncia ou então propor a transação ou designar outro membro do Ministério Público para propô-la.
É também cabível a transação penal nos crimes de ação penal privada, mas a proposta deve ser feita pela
vítima ou por seu representante legal, e não pelo Ministério Público.
O entendimento contrário, que atribui a legitimidade ao Ministério Público, não pode ser aceito, pois
implica em usurpação da legitimidade “ad causam” para a ação penal privada.
Na hipótese de o querelante não oferecer a transação penal, ela se inviabilizará, pois o juiz não poderá
concedê-la de ofício. Outra corrente minoritária sustenta que, nesse caso, o Ministério Público poderia fazer
a proposta.
Nos crimes de ação penal privada só será possível transação quando não houver ocorrido a composição
civil dos danos, pois, nesse caso, antes de surgir a oportunidade para a transação, já terá ocorrido a extinção
da punibilidade.
Assistente de acusação
Convém salientar que, nos crimes de ação penal pública, a vítima não participa da transação penal, cuja
proposta deve ser formulada exclusivamente pelo Ministério Público.
A lei também não confere legitimidade ao assistente de acusação.
Aliás, antes do oferecimento da denúncia não é sequer possível a figura do assistente de acusação, pois
este só pode atuar após o recebimento da denúncia.
Forma
A transação pode ser ofertada por escrito ou verbalmente e deverá conter na proposta uma pena de
multa ou restritiva de direitos.
Concurso de pessoas
Em caso de concurso de pessoas, a proposta não precisa ser direcionada a todos eles.
A aceitação por um não se comunica aos demais.
Recurso
Acrescente-se ainda que da sentença que homologa a transação é cabível o recurso de apelação, nos
termos do art. 75, § 5º, da Lei 9.099/95.
Igualmente, caberá apelação contra decisão que não homologar a transação, nos termos do art. 593, II,
do CPP, pois se trata de uma decisão com força de definitiva.
72
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Se a transação for descumprida, os autos serão encaminhados ao Ministério Público para oferecimento
da denúncia ou requisição da instauração de Inquérito policial, desconstituindo-se, destarte, a sentença que
a havia homologado.
Não há falar-se em responsabilidade penal pelo crime de desobediência pelo fato de ter descumprido a
transação.
Quanto à pena de multa imposta na transação, cujo pagamento pode ser feito na própria Secretaria do
JECRIM, se for descumprida, jamais poderá ser convertida em prisão, estando, pois, revogado o art. 85 da Lei
9.099/95, que previa esta conversão, pela Lei 9.268/96, que deu nova redação ao art. 51 do CP para vedar, em
termos absolutos , a conversão da pena de multa em prisão.
Coisa julgada
Transação penal, conforme já visto, é o acordo entre o Ministério Público e o autor do fato, pelo qual o
primeiro, em troca de não oferecer a denúncia, propõe ao segundo a aceitação de uma pena de multa ou
restritiva de direitos. Se o autor do fato aceitar a proposta e o juiz homologá-la, operar-se-á a extinção da
punibilidade com a cláusula “rebus sic stantibus”, podendo o Ministério Público oferecer a denúncia apenas
na hipótese de o autor descumprir a pena.
Não faz, destarte, coisa julgada material a sentença que homologa a transação penal.
A propósito, dispõe a súmula vinculante 35:
“A homologação da transação penal prevista no art. 76 da Lei 9.99/95 não faz coisa julgada material e,
descumpridas as suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a
continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito policial”.
A transação penal e a composição civil, em regra, devem ser oferecidas na audiência preliminar, antes
da propositura da denúncia ou queixa.
Entretanto, poderão ser feitas depois nas seguintes hipóteses:
a) se, na fase preliminar, não tiver havido possibilidade de realização. Nesse caso, o juiz do JECRIM,
na audiência de instrução e julgamento, antes de iniciar o ato, dará oportunidade para a sua realização (art.
79 da Lei 9.099/95).
b) se, no curso do processo que tramita no juízo comum, houver sido dado ao fato criminoso, descrito
na peça acusatória, uma nova definição jurídica, conferindo-lhe o tratamento de infração penal de menor
potencial ofensivo. Trata-se da chamada “emendatio libelli”. Nessa situação, o juiz simplesmente deverá
prolatar uma decisão desclassificatória, onde reconhece a sua incompetência, ordenando a remessa dos autos
ao JECRIM, nos termos do § 2o do art. 383 do CPP, quando então será dada oportunidade para a composição
civil e transação. Caso, entretanto, o magistrado, no próprio processo que tramita no juízo comum, resolver
abrir a oportunidade para a conciliação civil ou transação penal, não há falar-se em nulidade, diante da
ausência de qualquer prejuízo.
c) se, no curso do processo que tramita no juízo comum, houver a alteração do fato descrito na peça
acusatória, que se transmuda em infração penal de menor potencial ofensivo, em razão de novos elementos
ou circunstâncias surgidos durante a instrução. Nessa situação, que é de “ mutatio libelli”, que enseja o
aditamento da denúncia pelo Ministério Público, feito o aditamento para se considerar o fato como sendo
infração penal de menor potencial ofensivo, o juiz deverá reconhecer a sua incompetência e ordenar a
remessa dos autos ao JECRIM, nos termos do art. 384 do CPP, quando então será dada oportunidade para a
composição civil e transação. Se, por exemplo, após a instrução, se constatar que não se trata de receptação
dolosa, mas culposa, o Ministério Público deverá aditar a denúncia, posto que a culpa, até então, não se
encontrava descrita na peça acusatória.
73
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
d) acusado por infração penal de menor potencial ofensivo, que é citado por edital no juízo comum,
mas que depois comparece. Nesse caso, ser-lhe-á, no próprio juízo comum, dada oportunidade para a
composição civil e transação, mas os autos não retornarão ao JECRIM.
e) acusado por infração penal de menor potencial ofensivo, cujos autos, devido à sua complexidade,
tenham sido remetidos ao juízo comum. Nesse caso, o juízo comum deverá dar oportunidade para a
composição civil e transação.
f) acusado, no juízo comum, por dois delitos, cuja soma das penas excedia a 2 (dois) anos, mas que, em
razão da absolvição de um deles, o delito remanescente passou a admitir a composição civil e transação. Nesse
caso, ao contrário dos art. 383 § 2o e 384 do CPP, persiste a competência do juízo comum, conforme art. 81
do CPP, que consagra o princípio da perpetuação da jurisdição. Entretanto, antes de também sentenciar o
delito remanescente de menor potencial ofensivo, o juiz deverá dar oportunidade para a realização da
composição civil e da transação.
Cumpre ainda acrescentar que quando a transação é realizada antes do oferecimento da denúncia, o
assistente de acusação não poderá recorrer da sentença que a homologou, pois a lei não admite que ele atue
antes do recebimento da denúncia.
Nas hipóteses acima, porém, onde a transação é realizada depois do recebimento da denúncia, não vejo
óbice para o recurso do assistente de acusação para questionar a legalidade da transação.
A transação e a prescrição
A prescrição, como se sabe, inicia-se a partir da consumação do delito e a sua primeira causa de
interrupção é o recebimento da denúncia ou queixa, conforme art. 117, I, do CP.
A realização da transação penal não tem a força de interromper nem de suspender a prescrição, pois,
ao contrário do que ocorre com a suspensão condicional do processo, prevista no art. 89 da Lei 9.099/95, onde
a lei ordena a suspensão da prescrição, na transação , a lei é omissa acerca do assunto, sendo vedada a
analogia “in malam partem”.
A prescrição só será interrompida com o recebimento da denúncia ou queixa, que, em caso de
descumprimento injustificado da transação, poderá ser oferecida.
Uma corrente sustenta que o início do cumprimento da pena constante da transação interrompe a
prescrição, nos termos do art. 117, V, do CP, mas esta tese foi repudiada pelo STJ, pois o pressuposto desta
interrupção da prescrição executória é que haja uma sentença condenatória transitada em julgado e, em se
tratando de transação penal, o STJ considera a sentença como sendo meramente declaratória.
Concurso de crimes
Discute-se acerca do cabimento da transação em caso de concurso material ou formal, quando as penas
isoladas não excedem a 2 (dois) anos, mas a soma sim, destacando-se duas correntes.
A primeira sustenta que é cabível a transação, desde que as penas máximas de cada delito não excedam
a 2 (dois) anos.
Esta corrente preconiza que as penas devam ser analisadas isoladamente, sem somá-las ou exasperá-
las. Baseia-se no art. 119 do CP, cujo teor é o seguinte: “No caso de concurso de crimes, a extinção da
punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente”.
A segunda corrente sustenta que não é cabível a transação quando as penas, analisadas conjuntamente,
excederem a 2 (dois)anos. De acordo com esse entendimento, há necessidade de se verificar a soma das
penas, no concurso material, ou exasperá-la no máximo, no caso do concurso formal e crime continuado. Se
as penas cominadas em abstrato, após a soma ou a exasperação, ultrapassarem o prazo de 2 (dois) anos,
exclui-se a competência do Juizado Especial Criminal, obstando-se, por consequência, a transação penal.
Fundamenta-se no fato de o concurso formal e o crime continuado serem causas de aumento de pena,
refletindo na pena cominada (“in abstrato”); e que no concurso material opera-se a soma na pena concreta,
de modo que com maior razão deve operar-se também na pena abstrata, a fim de impedir a transação. De
acordo com essa corrente, o art. 119 do CP cuida apenas de prescrição, não devendo ser aplicado à transação,
porque não há nenhuma semelhança entre esses dois institutos.
74
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO
Não sendo possível a transação penal, o Ministério Público oferecerá a denúncia e, nos crimes de ação
penal privada, a vítima poderá oferecer a queixa.
A denúncia ou queixa pode ser oferecida oralmente na própria audiência preliminar ou depois, por
escrito.
A prova da materialidade da infração penal que envolve lesão corporal pode ser feita por boletim
médico ou outra prova equivalente. Portanto, para o oferecimento da denúncia, dispensa-se o exame de corpo
de delito desde que a materialidade esteja comprovada por esses outros meios.
A propósito dispõe o art. 77, § 1º, da Lei 9.099/95
“Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo de ocorrência referido no
art. 69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á do exame do corpo de delito quando a
materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente”.
Uma primeira corrente, com base na interpretação literal, sustenta que o exame de corpo de delito só
pode ser substituído pelo boletim médico para efeito de oferecimento da denúncia ou queixa, mas, por
ocasião da sentença condenatória, haverá a necessidade do exame de corpo de delito.
Outra corrente, com fundamento na interpretação extensiva e no princípio da informalidade, assevera
que a materialidade poderá ser comprovada, inclusive, para efeito de sentença condenatória, com base no
boletim médico ou outra prova equivalente, dispensando-se o exame de corpo de delito.
Esta última exegese é a mais correta, sob pena de o referido dispositivo legal se revelar inócuo, posto
que, em regra, para efeito de oferecimento da denúncia ou queixa, o exame de corpo delito é dispensável
para todos os crimes.
Quanto ao número de testemunhas, uma primeira corrente sustenta que o máximo é de 3 (três)para
cada parte, por aplicação subsidiária do art. 34 da Lei 9.099/95, que cuida do juizado cível. Outra corrente
apregoa que o número seria 5 (cinco), por aplicação subsidiária do procedimento comum sumário do CPP.
Tanto a denúncia quanto a queixa podem ser oral ou escrita, outrossim oferecidas na própria audiência
preliminar ou depois. Caso seja oral será reduzida a escrito.
Convém observar que, enquanto as testemunhas de acusação devem ser arroladas na denúncia ou
queixa, sob pena de preclusão, as testemunhas da defesa não precisam ser arroladas, pois o acusado será
citado para trazê-las à audiência ou apresentar requerimento para intimação, no mínimo cinco dias antes da
realização da audiência, conforme § 1º do art. art. 78 da Lei 9.099/95.
Assim, o réu simplesmente leva as suas testemunhas à audiência, sem prévia comunicação ao juízo.
Citação do réu
Após a oferta da denúncia ou queixa, o réu será citado para comparecer à audiência de instrução e
75
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
julgamento.
Cumpre observar que a lei ordena a citação antes do recebimento da denúncia ou queixa, pois a decisão
de admissibilidade ou não da peça acusatória só será prolatada na audiência de instrução e julgamento.
A doutrina observa que não se trata propriamente de citação, mas, sim, de notificação, posto que a
citação pressupõe o recebimento da denúncia ou queixa.
Na verdade, trata-se ao mesmo tempo de notificação e citação sob condição suspensiva, pois o ato
citatório só se aperfeiçoará se houver o recebimento da denúncia ou queixa.
A lei rotulou o ato de citação para evitar que, após o recebimento da denúncia ou queixa, houvesse a
necessidade de uma citação, que implicaria em designação de nova audiência, retardando inocuamente o
andamento do processo, em contraste com o princípio da celeridade.
Se a denúncia ou queixa houver sido oferecida na audiência preliminar, na qual o acusado se encontrava
presente, a citação, para comparecer à audiência de instrução e julgamento, se considerará realizada na
própria audiência, entregando-lhe uma cópia da peça acusatória.
Com efeito, dispõe o art. 78 da Lei 9.099/95:
“Oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida a termo, entregando-se cópia ao acusado, que com ela
ficará citado e imediatamente cientificado da designação de dia e hora para a audiência de instrução e
julgamento, da qual também tomarão ciência o Ministério Público, o ofendido, o responsável civil e seus
advogados”.
Se o acusado não estiver presente na audiência preliminar, será citado pessoalmente, por mandado, e,
no mandado, constará a data da audiência de instrução e julgamento, outrossim, a informação que deverá
trazer para a audiência suas testemunhas ou apresentar requerimento para intimação, no mínimo cinco dias
antes da realização da audiência, conforme § 1º do art. art. 78 da Lei 9.099/95.
Em suma, o réu será citado pessoalmente para comparecer à audiência de instrução e julgamento.
Caso ele esteja presente na audiência preliminar, já sairá citado. Se não estiver, será citado por
mandado.
Do mandado de citação do acusado, também constará a necessidade de seu comparecimento
acompanhado de advogado, com a advertência de que, na sua falta, ser-lhe-á designado defensor.
Quanto à vítima ou responsável civil, se estava na audiência preliminar, também sairá intimado para
comparecer à audiência de instrução e julgamento, caso contrário, a intimação far-se-á por correspondência,
com aviso de recebimento pessoal ou, tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, mediante entrega
ao encarregado da recepção, que será obrigatoriamente identificado, ou, sendo necessário, por oficial de
justiça, independentemente de mandado ou carta precatória, ou ainda por qualquer meio idôneo de
comunicação (art. 67 da Lei 9.099/95).
A propósito, dispõe o art.78, §2º, da Lei 9.088/95:
“Não estando presentes o ofendido e o responsável civil, serão intimados nos termos do art. 67 desta
Lei para comparecerem à audiência de instrução e julgamento”.
Aberta a audiência, o primeiro ato é a defesa preliminar, isto é, o juiz dará a palavra ao defensor para
responder oralmente à acusação. Caso a defesa já esteja escrita, o juiz poderá autorizar a sua juntada aos
autos, dando oportunidade para que seja lida pelo órgão acusatório.
Em seguida, o juiz receberá ou não a denúncia ou queixa. Portanto, a denúncia ou queixa não são
recebidas ou rejeitadas de plano, mas somente após a apresentação da defesa preliminar, sob pena de
nulidade do processo.
É pacífico na jurisprudência que o recebimento da denúncia ou queixa não precisa ser fundamentado.
Na ação penal privada, o não comparecimento do advogado do querelante a esta audiência ensejará a
extinção da punibilidade pela perempção (art. 60, III, do CPP).
A defesa preliminar tem o objetivo convencer o magistrado acerca da rejeição da denúncia ou queixa,
suscitando a inépcia da peça acusatória, a falta de pressupostos processuais, de condições da ação ou de justa
causa.
76
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Entretanto, como não haverá depois do eventual recebimento da denúncia ou queixa uma nova
oportunidade para a apresentar a defesa de mérito , que é denominada de resposta à acusação, é conveniente
que, na própria defesa preliminar, o acusado também suscite as teses de absolvição ou de redução da pena,
mas se não o fizer ainda poderá argui-las durante os debates.
Uma outra corrente, porém, sustenta que, após o recebimento da denúncia ou queixa, ainda não teria
início a instrução processual, pois teria que se dar oportunidade para a apresentação da defesa meritória, que
é denominada
de resposta à acusação.
De fato, o §4º do art. 394 do CPP ordena que a resposta à acusação seja aplicada a todos os
procedimentos, inclusive, quando regidos por leis especiais.
Entretanto, a apresentação de duas defesas na mesma audiência colide com o princípio da
simplicidade, que é um dos postulados do juizado criminal, além de ferir o princípio da celeridade e
representar uma superfetação, ou seja, algo inútil, tendo em vista que, na própria defesa preliminar,
será também possível concentrar todas as teses meritórias.
Ademais, §5o do art. 394 do CPP esclarece que:
“Aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos especial, sumário e sumaríssimo as disposições do
procedimento ordinário”.
Vê-se assim que a aplicação das normas do procedimento comum ordinário tem caráter subsidiário, não
podendo contrariar as finalidades da lei.
Após a defesa preliminar, se houver o recebimento da denúncia ou queixa, o juiz analisará a
possibilidade de absolvição sumária, nos termos do §4º do art. 394 do CPP.
Outra corrente, porém, sustenta que o juiz, após o recebimento da denúncia ou queixa, não precisaria
analisar esta possibilidade, pois o recebimento da denúncia ou queixa implica em rejeição tácita da tese de
absolvição sumária.
Em não sendo o caso de absolvição sumária, inicia-se a fase de instrução com a inquirição na seguinte
ordem:
a) vítimas;
b) testemunhas de acusação;
c) testemunhas de defesa;
d) interrogatório do réu, se estiver presente.
Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, podendo o juiz limitar ou
excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias (§1º do art. 81 da Lei 9.099/95).
Tem sido admitido, porém, por força do direito à prova, a inquirição de testemunhas através de carta
precatória, pois o CPP é aplicado subsidiariamente ao procedimento sumaríssimo.
Nenhum ato será adiado, determinando o Juiz, quando imprescindível, a condução coercitiva de quem
deva comparecer.
Após o interrogatório do réu, passa-se imediatamente aos debates orais, no prazo de 20 (vinte) minutos
para a acusação e 20 (vinte) para a defesa.
A lei não prevê a substituição dos debates orais pelos memoriais escritos, mas caso haja esta
substituição não haverá nulidade, diante da falta de prejuízo.
Ato contínuo, haverá a prolação da sentença no próprio termo da audiência. A sentença dispensa o
relatório.
De todo o ocorrido na audiência será lavrado termo, assinado pelo Juiz e pelas partes, contendo:
a) um breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência; e
b) a sentença.
RECURSOS
A Lei 9.099/95 só prevê duas modalidades de recursos: apelação e embargos de declaração, mas por
aplicação subsidiária do CPP é pacífico o cabimento do recurso em sentido estrito e do recurso extraordinário.
77
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Apelação
Embargos de declaração
78
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
ou omissão.
Para dirimir dúvida, não cabe mais embargos de declaração, pois esta hipótese foi revogada pelo art.
1.066 da lei 13.015/2015.
Os embargos de declaração, contra sentença ou acórdão, serão opostos por escrito ou oralmente, no
prazo de 5 (cinco) dias, contados da ciência da decisão (art. 83 da Lei 9.099/95). No CPP, o prazo é de 2(dois)
dias, e só admite a forma escrita.
Quando opostos contra sentença ou acórdão, os embargos de declaração interromperão o prazo para
o recurso (art.83, §2o, da lei 9.099/95).
Não se trata de suspensão e, sim, de interrupção do prazo, de modo que, após a intimação do
julgamento dos embargos declaratórios, o prazo para recorrer será restituído por inteiro.
Quanto aos erros materiais da sentença, poderão ser corrigidos de ofício.
É pacífico que do acórdão da turma recursal é cabível recurso extraordinário ao STF (Súmula 640 do
STF).
De fato, este recurso é cabível quando a causa for decidida em única ou última instância, não se
exigindo, ao contrário do que ocorre com o recurso especial, que seja decidida por órgão de segundo grau de
jurisdição.
Não é cabível, destarte, o recurso especial ao STJ, pois a turma recursal não é um órgão de segundo
grau de jurisdição, posto que composta por magistrados de primeiro grau de jurisdição (Súmula 203 do STJ).
Ademais, a turma recurso não é um tribunal, sendo que recurso especial só é cabível contra decisões de
tribunal.
Uma primeira corrente sustenta que não é cabível o recurso em sentido estrito, posto que, além de não
previsto na Lei 9.099/95, a matéria poderá ser arguida em preliminar de apelação.
Outra corrente, que é dominante, acertadamente, admite este recurso nas hipóteses do art. 581 do
CPP, pois o CPP é aplicado subsidiariamente (art. 92 da Lei 9.099/95). Exemplo: decisão que reconhece a
prescrição ou outra causa de extinção da punibilidade (art. 581, VIII, do CPP). Outro exemplo: decisão que
reconhece a incompetência do JECRIM (art. 581, II, do CPP).
De fato, a exclusão do recurso em sentido estrito tornaria irrecorríveis as duas decisões citadas nos
exemplos acima e outras decisões relevantes, previstas no art. 581 do CPP.
Mandado de segurança
Sobre o mandado de segurança contra ato de juiz do JECRIM, dispõe a súmula 376 do STJ: “Compete a
turma recursal processar e julgar o mandado de segurança contra ato de juizado especial”.
Não obstante a súmula acima, o pleno do STF já decidiu que não cabe mandado de segurança contra as
decisões interlocutórias do juizado criminal, pois elas poderão ser impugnadas em preliminar de uma futura
apelação.
Quanto ao mandado de segurança interposto contra decisão da turma recursal, de acordo com o STF, é
da competência da própria turma recursal e não do STF ou do Tribunal de Justiça.
“Habeas corpus”
É ainda possível se impetrar “habeas corpus”, contra acórdão da turma recursal, perante o Tribunal de
Justiça ou Tribunal Regional Federal, conforme se trate de JECRIM Estadual ou Federal. A Súmula 690 do STF,
79
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Revisão criminal
Por aplicação subsidiária do CPP, também será cabível, após o trânsito em julgado da sentença ou
acórdão condenatório, a revisão criminal, que será julgada pela turma recursal, e não pelo tribunal de justiça.
No âmbito do juizado cível, a lei vedou expressamente a ação rescisória, silenciando, de forma
eloquente, acerca da revisão criminal, autorizando implicitamente o seu cabimento.
CONCEITO
Suspensão Condicional do Processo, também chamado de “sursis” processual, é o benefício que, após o
recebimento da denúncia ou queixa, paralisa o andamento dos autos, por um período que varia entre 2 (dois)
a 4 (quatro) anos, sujeitando o acusado ao cumprimento de determinadas condições.
Norma geral
Conquanto previsto na Lei n. 9.099/95, o “sursis” processual é norma geral, aplicável, por isso, a todo o
direito penal, inclusive aos delitos que apresentam procedimento especial.
É, pois, um equívoco supor que a suspensão condicional do processo seria cabível apenas nas infrações
penais de menor potencial ofensivo, pois esse instituto é aplicável a todos os demais crimes cuja pena mínima
não exceda a 1 (um) ano.
Na época, introduziu-se no projeto que gerou a Lei 9.099/95 dois outros projetos de leis que tramitavam
separadamente. Foi uma forma de aprová-los em conjunto. O primeiro foi o que passou a exigir representação
na ação penal relativa aos crimes de lesão corporal leve e lesões culposas (art. 88). O segundo foi justamente
a suspensão condicional do processo (art. 89).
Vedação
Requisitos
80
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
c) não pode registrar condenação por crime. É preciso, para se obstar o benefício, que se trate de uma
condenação transitada em julgado. Se o novo crime houver sido cometido depois do prazo de 5 (cinco) anos,
a contar do cumprimento da pena do crime anterior ou da extinção da punibilidade, o benefício poderá ser
deferido.
d) as circunstâncias do art. 59 do CP lhe devem ser favoráveis, isto é, demonstrar que o benefício da
suspensão condicional do processo é adequado e suficiente ao agente;
e) aceitação. A aceitação é um ato personalíssimo do acusado, que não poderá fazer-se representar por
procurador com poderes especiais. Ele ainda deverá estar assistido, no ato da aceitação, por advogado ou
defensor público, sob pena de nulidade. A vontade do acusado de aceitar ou negar, no caso de divergência,
sempre prevalecerá sobre a de seu advogado ou defensor público. A aceitação deve ser total à proposta do
Ministério Público, sem imposição de qualquer ressalva. A aceitação é irretratável. Além disso, deve ser
expressa, de modo que não haverá presunção de aceitação ao réu revel.
Pena mínima
Conforme já dito, para se obter o benefício, a pena abstrata mínima deve ser igual ou inferior a um ano;
Abre-se exceção aos tipos penais que preveem alternadamente pena privativa de liberdade ou multa,
nesse caso, ainda que a pena mínima seja superior a um ano, admite-se a suspensão do processo, conforme
Informativo 475 do STF. Exemplo: o crime do art. 7o da Lei 8.137/90 prevê como pena uma detenção de 2
(dois) a 5 (cinco) anos, ou multa.
Na hipótese de tentativa ou outra causa de diminuição de pena, toma-se a pena abstrata mínima e se
reduz ao máximo, obtendo-se assim a pena mínima. Uma tentativa de furto qualificado (§ 4o do art. 155 do
CP), por exemplo, cuja pena mínima é de 2 (dois) anos, mas que, reduzida no máximo de 2/3 (dois terços) pela
tentativa, totaliza 8 (oito) meses, admite a suspensão condicional do processo.
Ao revés, quando houver causa de aumento de pena, toma-se a pena mínima e se aumenta no mínimo,
verificando-se, em seguida, se excede ou não a 1 (um) ano.
Na hipótese de concurso de infrações penais, dispõe a Súmula 243 do STJ:
“O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em
concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo
somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um ano”.
A propósito, ainda dispõe a Súmula 723 do STF:
“Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado se a soma da pena mínima
da infração mais grave com o aumento de um sexto for superior a um ano”.
Assim, no concurso material, para a análise da concessão do benefício, faz-se a soma das penas
mínimas.
No concurso formal e crime continuado, aplica-se sobre a pena mínima o percentual mínimo de
aumento, que é de 1/6 (um sexto).
NATUREZA JURÍDICA
81
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
a suspensão do processo.
Aliás, se o benefício não for proposto ou concedido no momento do recebimento da denúncia ou queixa,
ainda pode ser proposto e deferido depois, isto é, ao término da instrução probatória, em duas hipóteses:
a) desclassificação do crime;
b) procedência parcial da pretensão punitiva.
Com efeito, dispõe a Súmula 337 do STJ:
“É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da
pretensão punitiva”.
No caso de desclassificação, o juiz, antes de prolatar a sentença, deve converter o julgamento em
diligência e abrir vista dos autos ao Ministério Público para que ele se manifeste sobre a suspensão condicional
do processo.
Antes, é claro, o juiz prolata uma decisão desclassificatória (exemplo: afasta a qualificadora do furto,
transmudando-o em furto simples, e, após a preclusão dessa decisão, abre vista ao Ministério Público para se
manifestar sobre a suspensão do processo.
A procedência parcial, por sua vez, se verifica quando o juiz, ao absolver o réu de um dos delitos, verifica
que, em relação ao outro, é possível a suspensão do processo. Nesse caso, após prolatar a sentença
absolutória, o magistrado se abstém de julgar o acusado pelo outro delito, abrindo vista ao Ministério Público
para se pronunciar sobre a suspensão do processo.
Na hipótese de a desclassificação ou procedência parcial se verificar no tribunal, em grau de recurso, o
julgamento deverá ser convertido em diligência para que o juiz intime as partes, a fim de se viabilizar a
concessão do benefício.
Se, antes do trânsito em julgado, ocorrer a extinção da punibilidade, em relação a um dos crimes,
viabilizando-se o benefício quanto ao delito remanescente, creio que o juiz ou tribunal deva converter o
julgamento em diligência para que o Ministério Público ofereça a proposta de suspensão do processo.
Há, entretanto, entendimento no sentido de que a prescrição com base na pena concreta, ainda que
ocorra antes do trânsito em julgado da condenação, obstaria o benefício para os demais delitos, pois, nesse
caso, a procedência da ação teria sido total, sendo inaplicável a súmula 337 do STJ.
Fora das hipóteses de desclassificação e de procedência parcial, se o benefício não houver sido proposto
por ocasião do oferecimento da denúncia, a defesa deve pleiteá-lo na resposta à acusação, sob pena de
preclusão, pois o não oferecimento da proposta de suspensão do processo é causa de nulidade relativa,
sujeitando-se, destarte, à preclusão.
Recursos
Da decisão que concede o benefício, suspendendo o processo é cabível o recurso de apelação (CPP, art.
593, II).
Outra corrente, entretanto, assevera que, por interpretação extensiva, seria o recurso em sentido
estrito, nos termos do art. 581, XI, do CPP.
Não há, data venia, na situação em análise, falar-se em interpretação extensiva, mas, sim, em analogia,
que é vedada no recurso em sentido estrito. Ademais, o “sursis” do Código Penal é concedido na sentença e,
por isso, o recurso cabível é o de apelação, estando, pois, revogado o inciso XI do art. 581 do CPP, que previa
o recurso em sentido estrito, de modo que se torna inviável tanto a interpretação extensiva quanto a analogia.
Da decisão que denega a suspensão do processo, é cabível “habeas corpus”, outrossim, quando o
benefício não é sequer proposto pelo Ministério Público.
A concessão do benefício de ofício pelo juiz ou com condições não constantes da proposta do Ministério
Público ou ainda sem a concordância do réu poderá ser ajuizada uma das seguintes medidas: correição parcial,
mandado de segurança pelo Ministério Público e “habeas corpus”.
Sobre o “habeas corpus”, nada obsta a sua impetração por quem aceitou benefício, com fim de obter o
a extinção do processo por falta de justa causa, pois a possibilidade de revogação do benefício põe em risco a
liberdade de locomoção, justificando-se, destarte, o remédio heroico.
Por fim, cumprido o período de prova sem revogação, o juiz declarará extinta a punibilidade e dessa
82
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Período de prova
O período de prova é o lapso de tempo em que o acusado deve cumprir as condições legais e judiciais.
Durante o período de prova, cujo prazo é idêntico ao do “sursis”do Código Penal, ou seja de 2 (dois) a 4
(quatro) anos, o réu deve cumprir as condições legais do art. 89, § 1o, I a IV, da Lei n. 9.099/95 e outras que o
juiz eventualmente fixar.
Na hipótese de contravenção penal, o período de prova é de 1 (um) a 3 (três) anos.
Extinção da punibilidade
Expirado o período de prova sem que tenha havido revogação, o juiz declarará extinta a punibilidade (§
5o do art. 89 da Lei n. 9.099/95).
Dessa decisão é cabível o recurso em sentido restrito (CPP, art. 581, IX).
De acordo com o STF, ao contrário do “sursis” do Código Penal que, por força de lei, extingue-se
automaticamente com o simples decurso do prazo do período de prova (art. 82 do CP), na suspensão
condicional do processo, prevista no art. 89 da Lei 9.099/95, a extinção da punibilidade depende de decisão
judicial.
Enquanto não prolatada essa decisão, o benefício pode ser revogado, ainda que tardiamente, quando
se detectar que, durante o período de prova, ele deveria ter sido revogado. Impõe-se, por exemplo, a
revogação quando, expirado o período de prova, o juiz verificar que, na vigência do benefício, o agente foi
processado por outro crime.
Questão aberta a polêmicas é a de saber se o juiz pode ou não conceder, de ofício, o “sursis” processual.
Uns respondem afirmativamente, argumentando que, em se tratando de direito subjetivo de liberdade
do réu, não se pode atribuir ao promotor de justiça a decisão sobre o cabimento ou não do benefício.
Outros respondem negativamente, apegados no próprio texto da lei, que confere ao Ministério Público
o monopólio da proposta da medida.
Filio-me a esta última corrente.
O “sursis” processual representa uma mitigação ao princípio da obrigatoriedade da ação penal, cuja
titularidade a Constituição Federal assegura ao Ministério Público (CF, art. 129, I).
É lógico, portanto, que apenas o titular da ação penal deve deter o poder de disponibilidade do “jus
persequendi in juditio”.
Caso, porém, o Ministério Público , por mero capricho, ou por um falso juízo, deixe de propor a
suspensão do processo, o juiz, entendendo cabível a suspensão, pode remeter os autos ao Procurador-Geral
da Justiça, provocando a sua opinião sobre a questão, aplicando, por analogia, o art. 28 do CPP (Súmula 696
do STF). No âmbito federal, porém, o juiz remeterá os autos à Câmara Criminal do Ministério Público Federal,
que é o órgão competente para apreciar a discordância do pedido de arquivamento de inquérito policial.
Nos crimes de competência originária dos tribunais, a proposta de suspensão do processo deverá ser
feita pelo Procurador Geral da República ou Procurador Geral de Justiça, conforme o caso, e, caso não seja
feita, não há o que fazer senão determinar o prosseguimento do processo.
Discute-se sobre a concessão da suspensão do processo em relação aos delitos de ação penal privada.
Uma primeira corrente preconiza pela impossibilidade, argumentando que o art. 89 somente admite a
aplicação do instituto por proposta do Ministério Público, quando do oferecimento da denúncia, não se
referindo à queixa-crime, acrescentando-se ainda que a ação penal privada tem natureza dispositiva, havendo
83
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
EFEITOS
CONDIÇÕES
REVOGAÇÃO
84
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O primeiro deles ocorre quando o réu vier a ser processado por outro crime, pouco importa se praticado
antes ou depois do delito que ensejou a suspensão condicional do processo. É, no entanto, essencial, para que
haja a revogação obrigatória, que a denúncia ou queixa já tenha sido recebida, pois antes disso, a rigor, ainda
não há processo.
A meu ver, há violação do princípio da presunção da inocência. A hipótese deveria figurar como causa
de prorrogação.
O segundo tem lugar quando o réu não efetuar, sem motivo justo, a reparação do dano.
Por outro lado, revoga-se facultativamente o benefício, isto é, a critério do juiz, quando o réu vier a ser
processado por contravenção ou descumprir qualquer das condições que lhe tenham sido impostas (§4º do
art. 89).
PRORROGAÇÃO
Nos crimes ambientais, conforme art. 28 da Lei 9.605/98, a extinção da punibilidade, em razão da
suspensão condicional do processo, dependerá de laudo de constatação da reparação do dano ambiental,
ressalvado os casos de absoluta e comprovada impossibilidade, ou seja, quando o acusado for insolvente ou
o dano for irreparável.
Na hipótese desse laudo de constatação comprovar não ter sido completa a reparação, o prazo de
suspensão do processo será prorrogado até o máximo, ou seja, 4 (quatro) anos acrescido de mais um ano,
totalizando-se, destarte, 5(cinco) anos, com suspensão do prazo de prescrição.
Nesse período de prorrogação não incidem as condições.
Findo esse prazo, será feito novo laudo de constatação e, apurada que a reparação não foi integral, será
admitida ainda outra prorrogação idêntica, ou seja, de até 5(cinco) anos.
Ao final dessas prorrogações, a declaração de extinção da punibilidade dependerá de um terceiro laudo
de constatação que comprove a reparação do dano ambiental. Se o dano não houver sido reparado
integralmente, revoga-se o benefício e o processo prossegue, salvo se do laudo de constatação o juiz concluir
que o acusado tomou as providências necessárias à reparação integral do dano, nesse caso, ainda que a
reparação não tenha sido integral, o juiz poderá declarar extinta a punibilidade.
Fora dos crimes ambientais, não há outra hipótese de prorrogação da suspensão condicional do processo.
O “sursis” processual apresenta nítida a diferença entre o “sursis” do Código Penal e o processual.
No primeiro, o juiz condena o réu, suspendendo a execução da pena privativa de liberdade imposta na
sentença.
No segundo, o juiz, após receber a denúncia, ou então no curso do processo, mas sempre a pedido do
Ministério Público, suspende o prosseguimento da ação penal.
No primeiro, o efeito da revogação é o cumprimento integral da pena; no segundo, a revogação acarreta
apenas o prosseguimento da ação penal.
O “sursis” processual também difere do antigo “sursis” inglês, que adotava o sistema do “probation
system”.
No primeiro, o juiz não prolata decisão sobre a culpabilidade do réu.
No segundo, o juiz chega a declarar o réu culpado, suspendendo, só depois disso, a prolação da sentença
condenatória.
ESTATUTO DO DESARMAMAMENTO
Introdução
85
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A lei 10.826/2003, conhecida como Estatuto do Desarmamento, que prevê os crimes relacionados às
armas de fogo, munições e acessórios, foi regulamentada pelos Decretos 9.845, 9.846, 9.847 e 10.030, todos
de 2019.
Os aludidos decretos passaram a considerar de uso permitido algumas armas que, nos decretos
anteriores, eram de uso restrito, ensejando, nessas hipóteses, a alteração retroativa do tipo penal, em
benefício do réu.
Quanto aos decretos 3.665/2000 e 9.493/2018, que também cuidavam do assunto, foram
expressamente revogados pelo decreto 10.030/2019.
Os delitos de arma de fogo são normas penais em branco em sentido estrito ou heterogêneas, pois a
definição das condutas criminosas são complementadas por atos administrativos, em especial pelos Decretos
9.845, 9.846, 9.847 e 10.030, todos de 2019.De fato, o conceito de arma de fogo, acessório e munição não é
fornecido pela lei em comento, mas, sim, pelos decretos acima mencionados.
Com efeito, a classificação legal, técnica e geral bem como a definição das armas de fogo e demais
produtos controlados, de usos proibidos, restritos, permitidos ou obsoletos e de valor histórico serão
disciplinadas em ato do chefe do Poder Executivo Federal, mediante proposta do Comando do Exército
(art. 23).
Objetividade jurídica
86
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
pública.
Sujeito passivo
Competência
OBJETO MATERIAL
O objeto material dos crimes em análise, em regra, são as armas de fogo, munições e acessórios, que
se classificam em de uso permitido, restrito e proibido.
Em alguns delitos, porém, o objeto material é apenas a arma de fogo, com a exclusão dos acessórios e
munições. São eles:
a) delito de omissão de cautela, previsto no art. 13, “caput”;
b) delito de modificação das características da arma de fogo, previsto no art. 16, §1º, II;
c) delito de posse ou porte de arma de fogo com numeração, marca ou sinal de identificação raspado,
suprimido e adulterado, previsto no art. 16, §1º, IV;
d) delito de posse ou porte de arma de fogo de uso proibido, previsto no art. 16, §2º.
Os artefatos explosivos também figuram como objeto material nos delitos do art. 16, §1º, III, IV e VI e
os artefatos incendiários no delito do art. 16, §1º, III.
Há uma lacuna na lei, que não incrimina a posse e o porte de:
a) munições e acessórios de uso proibido. Quanto à comercialização e o tráfico internacional de
munições e acessórios de uso proibido, são incriminadas nos arts. 17 e 18, que não lhes faz distinção.
b) de material destinado à fabricação de arma de fogo, acessório e munição.
c) de partes essenciais à constituição da arma de fogo. Exemplos: gatilho, tambor do revólver, etc. A lei
incrimina a posse ou porte dos acessórios da arma de fogo, mas silenciou sobre as partes essenciais.
Diante da falta de previsão legal, nas situações acima, o fato se revela atípico, pois é vedada a analogia
“in malam partem”.
Quanto à arma branca, também não é contemplada pelo Estatuto do Desarmamento.
Arma branca
BREVE GLOSSÁRIO
87
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Arma de fogo é a que arremessa projéteis empregando a força expansiva dos gases, gerados pela
combustão de um propelente confinado em uma câmara, normalmente solidária a um cano, que tem a função
de dar continuidade à combustão do propelente, além de direção e estabilidade ao projétil (Decreto
10,030/2019).
Munição é cartucho completo ou seus componentes, incluídos o estojo, a espoleta, a carga propulsora,
o projétil e a bucha utilizados em armas de fogo (art. 2º, X, do Decreto 9846/19).
Acessório de arma de fogo é o artefato que, acoplado a uma arma, possibilita a melhoria do
desempenho do atirador, a modificação de um efeito secundário do tiro ou a modificação do aspecto visual
da arma (Decreto 10,030/2019). Exemplos: silenciador, carregador, etc.
As armas de fogo, assim como as munições e acessórios, podem ser de:
a) uso permitido;
b) uso restrito;
c) uso proibido.
As penas dos delitos que envolvem armas de fogo, acessórios e munições de uso proibido e restrito são
mais graves que as previstas para os delitos correspondentes às armas de fogo, acessórios e munições de uso
permitido.
As armas de fogo de uso permitido são aquelas cuja posse ou porte pode ser autorizado às pessoas
físicas e jurídicas, que preenchem os requisitos normativos.
O art. 2º, I, do Decreto 9.847/2.019, considera de uso permitido, as armas de fogo semiautomáticas ou
de repetição que sejam:
a) de porte, cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum, não atinja, na saída do cano de
prova, energia cinética superior a mil e duzentas libras-pé ou mil seiscentos e vinte joules;
b) portáteis de alma lisa; ou
c) portáteis de alma raiada, cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum, não atinja, na
saída do cano de prova, energia cinética superior a mil e duzentas libras-pé ou mil seiscentos e vinte joules.
As armas de fogo de uso restrito, por sua vez, são aquelas em que a posse ou porte só é possível para
os membros das Forças Armadas ou de determinadas instituições, outrossim, por algumas pessoas físicas ou
jurídicas, devidamente, habilitadas, como é o caso dos colecionadores e competidores.
O art. 2º, II, do Decreto 9.847/2.019 considera de uso restrito, as armas de fogo automáticas e as
semiautomáticas ou de repetição que sejam:
a) não portáteis;
b) de porte, cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum, atinja, na saída do cano de prova,
energia cinética superior a mil e duzentas libras-pé ou mil seiscentos e vinte joules; ou
c) portáteis de alma raiada, cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum, atinja, na saída
do cano de prova, energia cinética superior a mil e duzentas libras-pé ou mil seiscentos e vinte joules;
Por fim, as armas de fogo de uso proibido são aquelas cuja posse ou porte não pode ser autorizada a
nenhuma pessoa. Exemplos: canhão, tanque de guerra, arma de fogo no formato de caneta ou de outros
objetos inofensivos.
O art. 2º, III, do Decreto 9.847/2.019 considera arma de fogo de uso proibido:
a) as armas de fogo classificadas de uso proibido em acordos e tratados internacionais dos quais a
República Federativa do Brasil seja signatária; ou
b) as armas de fogo dissimuladas, com aparência de objetos inofensivos;
88
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Princípio da insignificância
Por se tratar de crime de perigo presumido ou abstrato, o STJ tem dispensado o exame pericial na arma
de fogo, acessórios e munições.
89
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Aliás, de acordo com o STJ, para que haja condenação pelo crime de posse ou porte, não é necessário
que a arma de fogo tenha sido apreendida.
A doutrina, porém, exige, para a comprovação da materialidade, o exame de corpo de delito, sendo esta
orientação seguida por inúmeros tribunais de justiça. Nessa linha de raciocínio, se o laudo não fizer menção à
potencialidade ofensiva, o agente poderá ser absolvido por falta de prova da materialidade do crime.
A arma de fogo obsoleta não pode ser objeto material dos delitos em análise e a sua posse ou porte
caracterizará crime impossível, nos termos do art. 17 do CP.
O art. 2º, VI, do Decreto 9.847/2.019, considera obsoletas as armas de fogo que não se prestam ao uso
efetivo em caráter permanente, em razão de:
a) sua munição e seus elementos de munição não serem mais produzidos; ou
b) sua produção ou seu modelo ser muito antigo e fora de uso, caracterizada como relíquia ou peça de
coleção inerte.
A arma, para ser obsoleta e, por consequência, caracterizar crime impossível, deve se enquadrar em
uma de duas situações:
a) não se prestar ao uso efetivo em caráter permanente, em razão de a sua munição não ser mais
produzida. Nesse caso, não é necessário que se trate de uma arma antiga. Exemplo: fechamento da
empresa que fabricava determinada arma de fogo e respectiva munição. Se, porém, ela estiver municiada,
ainda que se trate das últimas munições, haverá o delito.
b) não se prestar ao uso efetivo em caráter permanente, em razão de ser muito antiga. O fato de ser
antiga, tendo sido fabricada há mais de cem anos atrás, por si só, não gera o crime impossível, pois, se apesar
de antiga, ela ainda funcionar, o agente responderá pelo delito.
Assim, a arma de fogo antiga, desde que revestida de eficácia, ainda que relativa, para efetuar disparos,
não se enquadra como obsoleta, podendo ser objeto material dos delitos em analise, pois a lei não lhe abre
qualquer exceção. Se, porém, for absolutamente ineficaz para efetuar disparos, haverá crime impossível (art.
17 do CP).
ARMAS DE BRINQUEDO
REGISTRO
O certificado de Registro de Arma de Fogo, com validade em todo o território nacional, autoriza o seu
proprietário a manter a arma de fogo exclusivamente no interior de sua residência ou domicílio, ou
dependência desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular ou o responsável legal
pelo estabelecimento ou empresa.
Aos residentes em área rural, para os fins acima, considera-se residência ou domicílio toda a extensão do
90
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
PORTE
O porte é documento que autoriza o proprietário a trazer a arma consigo fora de sua residência ou do
local de trabalho.
O porte de arma de fogo, em regra, é proibido, salvo em duas situações:
a) pessoas que, por força de lei tem direito ao porte. Exemplo: magistrados e membros do Ministério
Público. O rol dessas pessoas consta no art. 6o e em outras leis especiais;
b) pessoas que obtiveram o documento que autoriza o porte.
É vedado ao menor de 25 (vinte e cinco) anos adquirir ou portar arma de fogo, mas esta limitação pela
idade, em regra, não se aplica às situações de porte legal.
A autorização para o porte de arma de fogo de uso permitido, é de competência da Polícia Federal e
somente será concedida após autorização do Sinarm (art. 10).
Quanto à arma de fogo de uso restrito, a competência é do Comando do Exército.
Compete também ao Comando do Exército, a concessão de porte de trânsito de arma de fogo para as
seguintes pessoas:
a) colecionadores, atiradores e caçadores
b representantes estrangeiros em competição internacional oficial de tiro realizada no território
nacional.
Ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, porém, compete a autorização do porte de arma de fogo
para os responsáveis pela segurança de cidadãos estrangeiros em visita ou sediados no Brasil.
A autorização de porte legal de arma de fogo poderá ser concedida com eficácia temporária e territorial
limitada, nos termos de atos regulamentares, e dependerá de o requerente preencher determinados
requisitos previsto na lei e nos decretos que regulam o assunto
O porte de arma de fogo também pode ser concedido em nome da pessoa jurídica, que exerça as
atividades de segurança privada e de transporte de valores.
A empresa de segurança e de transporte de valores deverá apresentar documentação comprobatória
do preenchimento dos requisitos constantes do art. 4o desta Lei quanto aos empregados que portarão arma
de fogo. Esta lista dos empregados deverá ser atualizada semestralmente junto ao Sinarm.
A autorização de porte de arma de fogo, perderá automaticamente sua eficácia caso o portador dela
seja detido ou abordado em estado de embriaguez ou sob efeito de substâncias químicas ou alucinógenas.
Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, o juiz poderá aplicar, de
imediato, ao agressor, como medida protetiva de urgência, suspensão da posse ou restrição do porte de
armas, com comunicação ao órgão competente (art. 22, I, da Lei 11.340/2006).
O porte autoriza o agente a trazer a arma de fogo consigo fora de sua residência ou do local de trabalho,
ao passo que o registro lhe confere apenas a posse que, no âmbito da referida lei, significa o direito de ter a
arma de fogo em casa ou no local de trabalho onde é o titular do estabelecimento ou responsável legal pela
91
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
empresa.
Na posse, há uma delimitação espacial, pois o agente só poderá possuir a arma de fogo nesses dois
lugares:
a) em sua residência e dependências;
b) local de trabalho, e suas, desde que seja o titular do estabelecimento ou responsável legal pela
empresa.
Aos residentes em área rural, o registro autoriza a posse da arma de fogo no âmbito da residência e de
toda a extensão do respectivo imóvel rural (§5º do art. 5º do Estatuto do Desarmamento).
A posse é, pois, o direito de ter uma arma de fogo, devidamente registrada, em sua residência,
dependências desta, ou no local do trabalho.
No local de trabalho, a posse só é possível ao titular do estabelecimento ou responsável legal da
empresa.
O porte, por sua vez, é o direito de trazer a arma de fogo fora de casa ou do local do trabalho.
Na posse, basta o registro da arma de fogo.
No porte, além do registro, ainda se exige o documento de autorização do porte.
Portes vedados
De acordo com o art. 20 do Decreto 9847/2019, o titular do porte de arma de fogo não poderá conduzi-
la:
a) ostensivamente;
b) com ela adentrar ou permanecer em locais públicos, tais como igrejas, escolas, estádios desportivos,
clubes, agências bancárias ou outros locais onde haja aglomeração de pessoas em decorrência de eventos de
qualquer natureza. Nesse caso, o porte é vedado ainda que de forma não ostensiva.
c) em estado de embriaguez ou sob o efeito de drogas ou medicamentos que provoquem alteração do
desempenho intelectual ou motor.
As circunstâncias acima implicarão na cassação do porte de arma de fogo e na apreensão da arma e,
além disso, o agente responderá pelo delito de porte ilegal de arma (STJ RHC nº 35.260/PI).
De fato, por se tratar de norma penal em branco heterogênea, o porte deverá observar os ditames dos
atos administrativos que regulam o assunto, pois o documento não é uma carta branca para o agente conduzir
a arma de fogo, sem que haja qualquer regramento.
Quanto ao porte visível na residência do agente ou local do trabalho onde é o titular do estabelecimento
ou responsável legal pela empresa, também é vedado, pois o art. 20 do Decreto 9847/2019 não lhe abre
exceção.
Dessa forma, o porte ostensivo nesses dois locais é crime de posse ilegal de arma de fogo.
Se, até para quem tem o documento de porte, o aludido decreto veda o porte ostensivo, com maior
razão, por força de uma interpretação lógica, também é vedado para a pessoa que apenas tem o registro da
arma de fogo, estando, pois, autorizada a possuir, mas de forma não visível, no âmbito de sua residência ou
local do trabalho onde é o titular do estabelecimento ou responsável legal pela empresa.
O porte visível será, entretanto, permitido quando houver necessidade para a defesa pessoal ou do
local. Exemplo: segurança de um banco.
Nos crimes de posse de arma de fogo de uso permitido ou restrito ou proibido extingue-se a
punibilidade se o proprietário ou possuidor efetuar a entrega espontânea da arma de fogo à autoridade
competente.
Trata-se de uma causa de extinção da punibilidade aplicável apenas ao delito de posse de arma de fogo.
Não se aplica ao delito de porte.
Esta entrega, que pode se efetuar a qualquer tempo, deve preencher os seguintes requisitos:
a) entrega espontânea. Uma vez apreendida a arma de fogo pela polícia, o agente perderá a
92
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O transporte ilegal de arma de fogo, acessórios e munições também é crime dos arts. 14 ou 16.
É, pois, equiparado, no tocante à pena, ao delito de porte ilegal.
É importante, porém, fazer a distinção entre os dois verbos.
Portar é trazer consigo a arma de fogo, acessório ou munição.
Transportar, por sua vez, é deslocar a arma de fogo, acessório ou munição de um local para outro.
Ao adquirir licitamente uma arma de fogo, o agente, para transportá-la até a sua residência ou local de
trabalho onde é o titular do estabelecimento ou responsável legal pela empresa, deverá providenciar uma
guia de trânsito, que equivale ao porte de transporte, sob pena de responder pelo delito.
A guia de trânsito autoriza apenas o transporte da arma de fogo, desmuniciada e acondicionada, para o
percurso nela autorizado, sob pena de o agente responder pelo delito (art. 4º, §6º, do decreto 9845/2019).
Entretanto, os colecionadores, os atiradores e os caçadores poderão portar uma arma de fogo curta
municiada, alimentada e carregada, pertencente a seu acervo cadastrado no Sinarm ou no Sigma, conforme o
caso, sempre que estiverem em deslocamento para treinamento ou participação em competições, por meio
da apresentação do Certificado de Registro de Colecionador, Atirador e Caçador, do Certificado de Registro de
Arma de Fogo e da Guia de Tráfego válidos (§3º do art. 5º do decreto 9.846/2019).
Sem a guia de trânsito, é crime o transporte de arma de fogo, ainda que se trate de um atirador,
colecionador ou caçador, mas, se ela estiver desmontada ou descarregada, só haverá o crime quando a
distância for de fácil alcance para a sua montagem e manuseio.
São, pois, requisitos do transporte:
a) guia de trânsito;
b) arma de fogo desmuniciada;
c) arma de fogo acondicionada, ou seja, embalada ou embrulhada. Não se pode, por exemplo,
transportá-la debaixo do banco do carro, sob pena de responder pelo delito.
O art. 30 permitiu o registro tardio de arma de fogo de uso permitido até o dia 31 de dezembro de 2.008
mas, depois, este prazo foi prorrogado até 31 de dezembro de 2.009, conforme art. 20 da lei 11.922/2.009.
Por consequência, não era crime, até esta data, a posse de arma de fogo de uso permitido, na própria
residência ou no local de trabalho pelo titular do estabelecimento ou representante legal da empresa.
Trata-se de uma “abolitio criminis” temporária, também chamada de “vacatio legis” indireta, que estava
condicionada à comprovação, por qualquer meio de prova, da origem lícita da arma.
O registro feito até 31 de dezembro de 2009 tornava atípica a conduta de possuir arma de fogo na
residência ou no local de trabalho pelo titular do estabelecimento ou responsável legal da empresa.
O benefício era exclusivo para o crime de posse de arma de fogo. Não abrangia outros delitos.
Quanto à arma de fogo de uso restrito, o registro tardio também foi permitido, mas somente até 23 de
junho de 2005, por força da medida provisória 229/2004.
No tocante à arma de fogo de uso permitido com numeração raspada ou adulterada, o registro tardio
93
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
No tocante à arma de fogo de uso permitido, a posse é crime do art. 12 e o porte se enquadra no art.
14, que é mais grave.
Quanto à arma de fogo de uso restrito, a posse e o porte se enquadram no art. 16, não há, pois, distinção
entre as penas.
Em relação à arma de fogo de uso proibido, tanto a posse quanto o porte se enquadram na qualificadora
do §2º do art. 16.
Por fim, a posse e o porte de arma de fogo com numeração, marca ou sinal de identificação raspado,
suprimido e adulterado, se enquadra no delito do art. 16, §1º, IV, seja a arma de uso permitido, restrito ou
proibido.
Eis algumas situações:
a) o taxista ou caminhoneiro, que traz a arma no interior do veículo, responde pelo crime de porte, e
não pelo delito de posse, de arma de fogo, pois o veículo não é o local, mas, sim, o instrumento do
trabalho. Ainda que a pessoa more no veículo, haverá o delito, pois o local da residência ou do trabalho deve
ser fixo. Não abrange, destarte, os bens móveis. Na hipótese de o agente morar no veículo será necessário o
mandado judicial de busca domiciliar para que haja a apreensão da arma, salvo na hipótese de flagrante
delito, pois, em tal situação, o veículo funciona como a sua casa, estando, pois, sob a proteção do art. 5º, XI,
da CF, embora não seja a sua residência ou domicílio nem o seu local de trabalho.
b) a posse, no interior da residência, de arma de fogo com registro vencido, é fato atípico, pois não há
o dolo de manter a arma de forma ilegal, em sua residência. Trata-se de mera infração administrativa
(informativo 572 STJ).
c) o crime de homicídio praticado por meio de arma de fogo pode ou não absorver o crime de posse ou
porte de arma. Se a arma houver sido adquirida com a finalidade específica de matar a vítima, impõe-se a
absorção, por força do princípio da consunção, pois há, entre os delitos, uma relação de meio e fim. Se, ao
revés, a aquisição ocorreu por outras razões, haverá o concurso material entre os crimes de homicídio e posse
ou porte de arma de fogo, pois os contextos são diferentes. É a posição do STJ. Na doutrina, porém, há
entendimento que sempre defende a absorção dos delitos de posse ou porte de arma de fogo, aplicando-se o
princípio da consunção.
d) o magistrado tem porte de arma “ex vi legis”, ainda que se trate de arma de fogo de uso restrito,
pois o art. 33, V, Lei Complementar 35/1979, não faz qualquer distinção quanto ao tipo de arma, liberando-
lhe o porte para defesa pessoal. Por consequência, o magistrado não se sujeita à necessidade de expedição
do documento de porte pelo Comando do Exército, mas a lei não o exime do dever de registrar a arma de
fogo.
e) o conselheiro do tribunal de contas da União, e, por simetria, também os dos Estados, nos termos
dos arts. 73, §3°, e 75, da CF, tem as mesmas prerrogativas do magistrado e. portanto, não necessita do
documento de porte, ainda que se trate de arma de fogo de uso restrito.
f) o policial aposentado não tem direito ao porte, cuja permissão legal se relaciona à função pública.
Portanto, responderá pelo delito de porte ilegal de arma de fogo (Informativo STJ 554/2014).
g) no roubo com emprego de arma de fogo, o delito de porte ilegal de arma de fogo é absorvido, por
força do princípio da subsidiariedade tácita, pois já funciona como qualificadora do roubo, nos termos do art.
157, §2º-A e §2º-B, do CP. Se, porém, o porte se verificar em contexto diferente do roubo, não há falar-se em
absorção. Se, por exemplo, no dia seguinte ao roubo com emprego de arma de fogo, o agente portar num bar
a mesma arma, haverá roubo qualificado pelo emprego de arma de fogo em concurso material com o crime
de porte ilegal de arma de fogo.
94
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
h) o porte de arma de fogo por vigia, mas fora do horário de trabalho, é crime (Informativo STJ
581/2016). Trata-se da situação em que o porte é atribuído à pessoa jurídica de segurança e de transporte de
valores. Conforme já visto, o porte de arma de fogo também pode ser concedido em nome da pessoa jurídica,
que exerça as atividades de segurança privada e de transporte de valores. A empresa de segurança e de
transporte de valores deverá apresentar documentação comprobatória do preenchimento dos requisitos
constantes do art. 4o desta Lei quanto aos empregados que portarão arma de fogo. As armas de fogo utilizadas
pelos empregados das empresas de segurança privada e de transporte de valores, serão de propriedade,
responsabilidade e guarda das respectivas empresas, somente podendo ser utilizadas quando em serviço. A
listagem dos empregados das empresas deverá ser atualizada semestralmente junto ao Sinarm.
i) a posse simultânea de duas ou mais armas de fogo, ainda haja, entre elas, armas de uso restrito e
proibido, é crime único, pois o bem jurídico é lesado uma única vez. A pluralidade de armas, porém, exercerá
influência na fixação da pena base (art. 59 do CP).
O agente que, para repelir uma agressão injusta, atual ou iminente, utiliza, como meio necessário e
moderado, uma arma de fogo, será absolvido do fato praticado, por força da legítima defesa, mesmo que não
tenha porte de arma.
Entretanto, ainda lhe remanescerá a imputação do delito de porte ilegal de arma de fogo, mesmo
estando presentes os requisitos da legítima defesa, na hipótese de se comprovar o porte pretérito,
desvinculado da situação fática posterior, pois, nesse caso, o delito já havia se consumado anteriormente.
Se, contudo, o agente se armar no exato instante em que ocorre a agressão injusta, atual ou iminente,
será também absolvido do delito de porte ilegal de arma de fogo, com base na legítima defesa.
Quanto ao temor de uma agressão futura ou de assaltos, não autoriza a pessoa a andar armada, de
modo que não há falar-se em legítima defesa em relação ao delito de porte ilegal de arma de fogo.
CRIMES HEDIONDOS
95
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Ação penal
96
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
haverá confisco.
As armas de fogo apreendidas, em razão do tráfico de drogas serão também confiscadas após perícia
ou vistoria que atestem seu bom estado, mas o Comando do Exército as destinará com prioridade para os
órgãos de segurança pública e do sistema penitenciário da unidade da federação responsável pela apreensão
(§1º-A do art. 25).
No período que antecede o confisco, o Poder Judiciário encaminhará ao Sinarm ou ao Sigma, conforme
se trate de arma de uso permitido ou de uso restrito, semestralmente, a relação de armas acauteladas em
juízo, mencionando suas características e o local onde se encontram (§5o do art. 25).
O confisco das armas de fogo se verifica ainda que o agente, condenado pelo crime, tenha porte de
arma.
Neste caso, porém, malgrado o silêncio da lei, o confisco só poderá ser concretizado após o trânsito em
julgado da condenação, devolvendo-lhe a arma em caso de absolvição.
Convém esclarecer que o art. 91, II, a, do CP só permite o confisco dos instrumentos do crime, cujo
fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito, mas, por se tratar de uma norma geral, não é
aplicável às armas de fogo, que são regidas por normas especiais.
Vê-se assim que a perda da arma de fogo difere do confisco comum, previsto no Código Penal, nos
seguintes aspectos:
a) a perda é determinada após a juntada do laudo pericial e não como efeito de uma condenação
criminal definitiva.
b) a perda se verifica ainda que se trate de um instrumento lícito.
c) a perda não é em favor da União, mas, sim, para que a arma seja destruída pelo Comando do Exército
ou doada por ele aos órgãos de segurança pública ou às Forças Armadas.
Por fim, de acordo com o STJ, na condenação pelo crime de disparo de arma de fogo haverá também o
confisco. Aliás, ainda que se aplique o art. 91, II, a, do CP, impõe-se o confisco, pois o uso da arma se revelou
ilícito.
97
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
CRIMES EM ESPÉCIE
98
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
No que tange à pousada eventual, por exemplo, uma casa de veraneio, ainda que pertencente ao sujeito
ativo, que muito pouco a frequenta, a rigor, não se trata de sua residência, e, por isso, em princípio, o
enquadramento será no delito de porte ilegal de arma de fogo.
A residência é, pois, o local onde se fixa a moradia com uma certa estabilidade. Não se exige que se
trate do domicílio, que é a residência com ânimo definitivo, mas é imprescindível uma estabilidade que seja
pelo menos relativa. Há, por exemplo, residência quando se fixa a moradia numa cidade para se realizar um
curso de apenas dois meses.
Nada obsta que se tenha mais de uma residência.
No concernente ao local de trabalho, é preciso também que o sujeito ativo, nos termos do contrato
social, seja o titular do estabelecimento ou o responsável legal pela empresa, caso contrário o enquadramento
será no delito de porte ilegal de arma de fogo (art. 4º, §1º, III e IV, do Decreto 9845/19).
O objeto material é a arma de fogo acessório e munição, de uso permitido. Se for de uso restrito, haverá
o delito do art. 16, “caput” e, em se tratando de arma de fogo de uso proibido, o delito do §2º do art. 16.
Quanto à arma de fogo com sinal de identificação raspado, suprimido e adulterado, a posse ou porte
será crime do art. 16, §1º, IV, seja ela de uso permitido, restrito ou proibido.
As condutas criminosas consistem em possuir e manter sob guarda.
Possuir é o poder de usar, gozar, dispor ou reivindicar a coisa. Abrange qualquer ato exterior que revela
o comportamento de dono.
A posse não exige o contato físico com a arma de fogo nem a possibilidade de seu uso imediato.
Responde, por exemplo, pelo delito, o agente que, no momento da apreensão da arma de fogo, em sua
residência, não se encontrava no local.
No direito penal, a posse é empregada em sentido amplo, para abranger também a detenção, que é o
contato físico com a coisa mediante subordinação, permissão ou tolerância.
Manter sob guarda, por sua vez, é armazenar, zelar, tomar conta do objeto material, em benefício de
terceiro.
Assim, o sujeito que guarda a arma de fogo alheia em sua residência, responde pelo delito em análise,
na modalidade “manter sob guarda”.
A rigor, era desnecessária a alusão à conduta de manter sob guarda, pois ela também se enquadra no
verbo possuir, que é bem abrangente.
O tipo penal não contempla, por exemplo, a conduta de ter em depósito, que significa armazenar, zelar,
tomar conta do objeto material, em benefício próprio, mas este fato também se enquadra no verbo possuir.
O elemento normativo do tipo consiste no fato de o agente possuir ou manter sob guarda o objeto
material, em desacordo com determinação legal ou regulamentar.
Para possuir licitamente a arma de fogo na residência ou local de trabalho onde é o titular do
estabelecimento ou responsável legal pela empresa, exige-se três requisitos cumulativos:
a) que o agente seja o proprietário da arma de fogo;
b) que haja o certificado de Registro de Arma de Fogo, expedido pela polícia federal;
c) que a posse não seja exercida de forma visível (art. 20 do Decreto 9847/2019).
A aquisição de munição, por sua vez, somente poderá ser feita no calibre correspondente à arma
registrada e na quantidade estabelecida no regulamento desta Lei (§2o do art. 4º).
O agente, que tem o objeto material no interior de sua residência ou no local de trabalho do qual é o
titular do estabelecimento ou responsável legal pela empresa,
responderá pelo delito de posse de arma de fogo, em estudo, nos seguintes exemplos:
a) possuir uma arma com registro, mas da qual não é o proprietário.
b) possuir uma arma sem registro, quer seja ou não o seu proprietário.
c) exercer a posse de forma ostensiva, portando-a, por exemplo, na cintura, sem que houvesse
necessidade.
d) possuir munição que não corresponde ao calibre da arma registrada.
e) possuir munição no caibre da arma registrada, mas em quantidade superior à prevista nas normas
que regulam o assunto.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste na vontade de realizar a conduta de possuir ou
99
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
manter sob guarda a arma de fogo, acessório ou munição, consciente que se encontra em desacordo com
determinação legal ou regulamentar.
Se, por erro, ainda que inescusável, o agente supõe que a arma de fogo estava registrada, o fato será
atípico, pois o delito não é punido na forma culposa.
Não se exige, para a tipicidade, o propósito de uso ou qualquer outro fim especial.
No tocante à consumação, ocorre quando se adentra, com a arma de fogo, acessório ou munição, à
residência ou local de trabalho em que é o titular do estabelecimento ou responsável legal pela empresa.
Trata-se de crime permanente, que autoriza a prisão em flagrante a qualquer momento, enquanto não
cessada a conduta.
O delito é de mera conduta.
Quanto à tentativa, a doutrina, de um modo geral, a considera inadmissível. Fernando Capez ensina
que: “Ou o agente mantém consigo ou não mantém. Ou possui ou não possui. Na hipótese do agente
surpreendido enquanto tenta adquirir ilegalmente a arma de fogo, o crime será o do art. 14, na forma tentada,
e não o delito em comento”.
A meu ver, a tentativa é possível, quando houver o dolo de possuir a arma de fogo apenas em sua
residência ou no local de trabalho do qual é o titular do estabelecimento ou responsável legal pela empresa.
Assim, no exemplo acima, citado por Capez, data venia, a hipótese é de tentativa do delito de posse de arma
de fogo, pois, diante da ausência do dolo de ter a arma fora de sua residência, não há falar-se no delito de
porte ilegal de arma de fogo.
Ademais, caso tivesse recebido a encomenda, o enquadramento seria no delito de posse de arma de
fogo, por consequência, é ilógico enquadrá-lo no delito mais grave, quando a entrega não se perfaz, pois,
nesse caso, o fato se revela menos grave.
Omissão de cautela
10
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
É ainda um crime culposo, porque “deixar de tomar as cautelas necessárias” significa omissão de
precaução, ou seja, a negligência, que é uma das formas de culpa.
Não há crime, por exemplo, por ausência de culpa, quando o sujeito guarda a arma de fogo
descarregada, em móvel da casa, colocando a munição em local seguro.
O delito em análise é apontado pela doutrina como sendo o único crime omissivo próprio culposo.
Quanto à culpa por ação, que é a imprudência. não é mencionada pelo tipo penal, mas aquele que
realiza uma ação perigosa e não elimina o perigo decorrente de sua conduta será sucessivamente imprudente
e negligente, incidindo também no delito. Exemplo: o agente coloca a arma de fogo em cima da mesa
(imprudência) e se esquece de retirá-la dali (negligência).
Em havendo dolo do agente, que intencionalmente permite o apoderamento da arma de fogo pelo
menor ou deficiente mental, o delito será o de posse ou porte ilegal de arma de fogo, conforme o fato ocorra
dentro ou fora da residência, previstos nos arts. 12, 14 e 16.
Sobre a consumação, ocorre quando o menor ou deficiente mental efetivamente se apodera da arma
de fogo. Não basta a conduta.
Trata-se de crime material, pois só se consuma com a ocorrência do resultado.
Quanto à tentativa, não é possível, porquanto o crime, além de culposo, é ainda omissivo próprio. Se,
por exemplo, o sujeito esquece a arma de fogo sobre a mesa da sala, sem que haja o seu apoderamento pelo
menor ou deficiente mental, não há falar-se em crime.
Haverá concurso material com o crime de posse de arma de fogo, caso a arma não tenha registro e o
fato ocorra na residência ou no local de trabalho do qual o omitente seja titular ou responsável legal pelo
estabelecimento ou empresa. Outrossim, concurso material com o crime de porte ilegal de arma de fogo,
quando o fato ocorrer fora desses dois locais, ainda que haja o registo da arma de fogo.
10
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Exige-se, pois, para que o crime se caracterize, que haja cumulativamente uma dupla omissão:
a) não registrar a ocorrência policial. Este registro é o boletim de ocorrência, que pode ser feito perante
a polícia civil ou militar;
b) não comunicar à Polícia Federal. Esta comunicação pode ser feita por escrito ou verbalmente.
Se o agente toma uma dessas providências não há crime.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo. É, pois, necessário o propósito de omitir-se. Mero retardamento,
isto é, atraso em tomar essas providências, não é crime.
O delito não é punido na forma culposa.
Consuma-se quando expira o período de 24 (vinte e quatro) horas, sem que o fato tenha sido
comunicado. O prazo é contado de minuto a minuto.
O prazo de 24 (vinte e quatro) horas, segundo o texto legal, é contado depois de ocorrido o fato, mas é
pacífico que só se inicia após a ciência do furto, roubo, perda ou extravio. Entendimento diverso seria a
consagração da responsabilidade penal objetiva.
É possível fluir o prazo acima sem que ocorra o delito, desde que o agente comprove que tinha a
intenção de registrar a ocorrência ou comunicar o fato à polícia federal.
Trata-se de crime a prazo, posto que a consumação depende de um certo lapso de tempo.
Quanto à tentativa, não é possível, pois o crime é omissivo próprio.
10
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
10
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O projétil deve ser verdadeiro, caso seja de festim, não há falar-se em crime, pois o festim, para efeitos
desta Lei, não se classifica como sendo munição.
Quanto à deflagração de explosivos, como bombas e dinamites, é crime do art. 16, §1º, III.
A deflagração perigosa de fogos de artifício é contravenção do parágrafo único do art. 28 da LCP.
É, preciso, para que haja o crime em análise, que a conduta seja praticada nas seguintes situações:
a) em lugar habitado ou em suas adjacências. Lugar habitado é aquele onde as pessoas residem em seu
entorno. Exemplos: cidade, fazenda povoada, distrito, aldeia indígena. Adjacência de local habitado é o que
se localiza nas proximidades.
b) em via pública. Exemplos: rua, praça, avenida, rodovia.
c) na direção de via pública. Nesse caso, pouco importa o local de onde emanou o disparo.
Tratando-se de residência ou suas adjacências, é ainda necessário, segundo a jurisprudência, que o fato
ocorra fora dela ou em direção à via pública. Assim, efetuado o disparo de uma residência, não há falar-se no
delito em análise, salvo quando feito na direção de via pública.
O disparo de arma de fogo feito de uma via pública, é crime, ainda que para o alto, pois se trata de crime
de perigo presumido. Não há, pois, necessidade que seja na direção de uma via pública.
Em relação ao disparo emanado de uma residência ou dependência desta, ou de local não habitado só
é crime quando feito na direção de uma via pública, presumindo-se também o perigo. Exemplo: o agente,
de sua residência ou de um lugar ermo, dispara na direção de uma avenida, ainda que deserta.
Em suma, o disparo realizado de via pública, é crime do art. 15, mesmo sendo para o alto. Se, no entanto,
for feito, para o alto, de uma residência ou local não habitado, o fato será atípico.
Dessa forma, não há o delito do art. 15, quando se dispara da própria residência na direção do muro da
respectiva casa, pois o disparo não emanou de via pública nem se direcionou à via pública.
Neste exemplo, não há falar-se no delito do art. 15, em análise, mas o agente poderá responder pelo
delito de posse de arma de fogo. Se, porém, havia o registro da arma de fogo, o fato será atípico, salvo se
houve perigo concreto para alguma pessoa, hipótese em que o agente será incurso no delito de perigo à vida
ou saúde de outrem, previsto no art. 132 do CP.
A propósito, o delito do art. 132 do CP é de perigo concreto, figurando como sujeito passivo pessoa ou
pessoas determinadas, enquanto que o delito do art. 15, em análise, é de perigo presumido, tendo por sujeito
passivo a coletividade.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste na vontade consciente de realizar o disparo de arma
de fogo nas circunstâncias descritas no tipo penal.
Quanto ao disparo culposo ou acidental, é fato atípico.
A consumação se verifica com o disparo da arma de fogo, independentemente da demonstração de
qualquer perigo, pois se trata de crime de perigo presumido.
Não há, pois, necessidade de se comprovar o perigo concreto de lesão ao bem jurídico.
Admite-se a tentativa. Exemplo: uma pessoa intervém e impede que o agente efetue o disparo.
O crime de disparo de arma de fogo é absorvido quando tiver por finalidade a prática de outro crime,
conforme ressalva expressa constante no próprio art. 15.
Uma primeira corrente sustenta que, nesse caso, o disparo de arma de fogo será sempre absorvido,
ainda que o delito fim seja mais leve, pois a lei não faz qualquer distinção.
Nessa linha de raciocínio, de acordo com Guilherme de Souza Nucci, “se a intenção do agente era ferir,
ainda que levemente a vítima, o delito de dano prevalece sobre o de perigo, embora este tenha pena abstrata
mais grave que o outro. É a incoerência do sistema penal brasileiro.”
Com efeito, a ressalva do art. 15 não ordena a sua absorção apenas pelo delito mais grave. Não se trata,
portanto, de uma subsidiariedade expressa, princípio que, no conflito aparente de normas, ordena sempre a
prevalência do delito mais grave.
De fato, a absorção é imposta quando o disparo de arma de fogo tiver por finalidade a prática de outro
crime, seja este mais leve ou mais grave, pois onde a lei não distingue ao intérprete não é lícito distinguir.
Trata-se, portanto, de uma previsão expressa do princípio da consunção e não da subsidiariedade
expressa, como pensam alguns doutrinadores.
Cumpre lembrar que o falso, delito mais grave, também é absorvido pelo estelionato, delito menos
10
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
10
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso
proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou
juiz;
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar;
IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer
outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado;
V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou
explosivo a criança ou adolescente; e
VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição
ou explosivo”.
O §1º do art. 16 prevê 6 (seis) crimes autônomos, cuja pena é a mesma do caput, reclusão de 3 (três) a
6 (seis) anos, e multa, ou do §2º do art. 16, quando se tratar de arma de fogo de uso proibido.
Ao contrário do “caput” do art. 16, que se refere à arma de fogo de uso restrito, o §1º não faz esta
limitação e, por consequência, também é aplicado às de uso permitido, pois onde a lei não distingue ao
intérprete não é lícito distinguir (Informativo STJ 364).
Quanto à arma de fogo de uso proibido, são incriminadas no §2º do art. 16 tanto as condutas descritas
no caput quanto as previstas no §1º.
Os delitos do §1º do art. 16, à exceção do inciso V, não fazem menção aos acessórios e munições da
arma de fogo, sendo vedada a analogia “in malam partem”. O inciso VI também faz referência às munições,
mas silencia sobre os acessórios.
Não se trata de qualificadoras nem de causas de aumento de pena.
As qualificadoras e causas de aumento de pena complementam, através de elementos especializantes,
as mesmas condutas descritas no caput, ao passo que os elementos dos tipos penais em análise gozam de
autonomia, não estando, pois, subordinados ao caput.
São, pois, 6 (seis) os crimes equiparados ao previsto no caput.
Passo à análise de cada um deles.
Suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação (art. 16, §1º, I)
O delito consiste em suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma
de fogo ou artefato. Exemplo: raspagem do número ou sinal da arma.
O bem jurídico protegido é duplo: o SINARM (Sistema Nacional de Armas) e a incolumidade pública.
Trata-se de crime pluriofensivo.
A lei faz menção aos verbos suprimir ou alterar, sendo que a prática de ambos sobre a mesma arma de
fogo, caracteriza crime único, pois se trata de tipo misto alternativo ou de conteúdo variado, regido pelo
princípio da alternatividade.
Suprimir é fazer desaparecer a marca, numeração ou qualquer sinal de identificação. Exemplo: raspar,
tornar ilegível, riscar.
Alterar é a modificação da marca, numeração ou qualquer sinal de identificação. Exemplo: apaga a
marca e depois acrescenta outra no lugar.
O objeto material é a arma de fogo e o artefato.
A arma de fogo, conforme já dito, pode ser de uso permitido, restrito ou proibido, pois a lei não faz
qualquer distinção.
Artefato, por sua vez, é o objeto construído para determinado fim.
Entretanto, o tipo penal não esclarece a espécie de artefato e os decretos que regulamentam o assunto
também não fornecem uma definição. Dessa forma, força convir que, no tocante ao artefato, o tipo penal, por
ora, é inaplicável.
Quanto aos acessórios e munições, não são abrangidos pelo tipo penal, de modo que o fato será atípico.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste na vontade consciente de realizar as condutas
descritas no tipo penal.
10
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A supressão ou modificação culposa não caracteriza o crime. Exemplo: a numeração é alterada, por
culpa, em função do produto químico utilizado para limpar a arma de fogo.
A consumação se verifica quando o agente ultima a conduta de alterar ou modificar.
Admite-se a tentativa quando o agente iniciar a execução da conduta, mas não consegue conclui-la por
circunstâncias alheias à sua vontade.
Os delitos de porte ou posse de arma de fogo são absorvidos, quando os fatos se verificam no mesmo
contexto, mas, quando praticados em contextos distintos, haverá concurso material de crimes.
O delito consiste na modificação das características da arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a
uma arma de fogo de uso restrito ou proibido ou então para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a
erro a autoridade policial, perito ou juiz.
O objeto material é apenas a arma de fogo. Não abrange os acessórios e munições.
Há, no tipo em análise, dois delitos.
No primeiro, o agente modifica a arma de fogo de uso permitido para torná-la de uso restrito ou
proibido ou então modifica a de uso restrito para torná-la de uso proibido.
Há, pois, o aumento do potencial lesivo da arma de fogo. Se a modificação for feita com a intenção de
reduzir o potencial da arma, tornando-a, por exemplo, de uso permitido, o delito em análise não se
caracteriza.
A modificação que aumenta o potencial da arma de fogo, mas sem alterar a sua classificação, também
é fato atípico.
Trata-se de crime material. pois só se consuma quando a modificação atinge o resultado, que consiste
na efetiva transformação em arma de fogo de uso proibido ou restrito.
Admite-se a tentativa, quando o resultado não ocorre por circunstâncias alheias à vontade do agente.
No segundo delito, o agente modifica as características da arma de fogo com o fim induzir a erro a
autoridade policial, perito ou juiz ou para dificultar a sua análise por estas pessoas.
Trata-se, na verdade, de um tipo especial de fraude processual, que recai sobre arma de fogo.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, ainda que não seja parte nem tenha interesse na causa. Até
mesmo a vítima pode cometer o crime.
O bem jurídico protegido é o regular funcionamento da Administração Pública e a incolumidade pública.
Trata-se, pois, de delito pluriofensivo.
O sujeito passivo é o Estado, a coletividade e a pessoa prejudicada com a fraude.
O objeto material é apenas a arma de fogo. Não abrange os acessórios e munições.
A conduta criminosa consiste em modificar as características da arma de fogo, ainda que ela se
mantenha na mesma classificação ou tenha o seu potencial reduzido.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste na vontade consciente de realizar a modificação
das características da arma de fogo.
É ainda necessário o fim especial de induzir a erro ou dificultar a análise da arma pela autoridade policial,
perito ou juiz.
A modificação das características da arma de fogo, mas sem a intenção de induzir a erro ou dificultar a
análise da arma pela autoridade policial, perito ou juiz, só será crime, previsto neste mesmo inciso II, primeira
parte, quando a arma de fogo for modificada para outra de uso restrito ou proibido.
Entende-se por juiz os membros da magistratura e os julgadores de processos administrativos.
A referência ao perito era desnecessária, pois quem visa burlar o perito também quer enganar o juiz.
Não é exigível, para a caracterização do crime, que o processo ou inquérito tenha se iniciado.
O delito não é punido na forma culposa.
O delito é formal, pois se consuma com a ultimação da modificação da arma de fogo, ainda que o
propósito de enganar ou dificultar a análise da arma não se concretize.
Admite-se a tentativa, quando o agente não conclui a modificação da arma de fogo por circunstâncias
10
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Posse, detenção, fabricação ou emprego de artefato explosivo ou incendiário (art. 16, §1º, III)
O crime consiste na posse, detenção, fabricação ou emprego de artefato explosivo ou incendiário, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar.
O objeto material é o artefato explosivo ou incendiário. Exemplos: bomba explosiva, bomba incendiária,
granada.
Acerca do explosivo, trata-se do tipo de matéria que, quando iniciada, sofre decomposição muito
rápida, com grande liberação de calor e desenvolvimento súbito de pressão (Anexo III do Decreto
10.030/2019).
Artifício pirotécnico ou incendiário, por sua vez, é qualquer artigo, que contenha substâncias explosivas
ou uma mistura explosiva de substâncias, concebido para produzir um efeito calorífico, luminoso, sonoro,
gasoso ou fumígeno, ou uma combinação destes efeitos; devido a reações químicas exotérmicas
autossustentadas (Anexo III do Decreto 10.030/2019).
Há várias lacunas, pois não abrange o artefato de gás nem os acessórios do artefato explosivo ou
incendiário.
Quanto aos mísseis, também não são contemplados pelo tipo penal.
O tipo penal seria mais abrangente se se referisse a qualquer artefato destrutivo.
A propósito, no informativo 599, o STJ reconheceu a atipicidade da conduta de portar granadas de gás
lacrimogêneo e de gás de pimenta, pois não são consideradas artefatos explosivos, à medida que causam
apenas incômodo com o gás tóxico expelido.
O emprego de gás tóxico ou asfixiante, porém, desde que haja perigo concreto à incolumidade pública,
caracteriza o delito do art. 252 do CP.
Quanto aos fogos de artifício, é definido no anexo III do Decreto 10.030/2019 como sendo um artigo
pirotécnico destinado para ser utilizado em entretenimento. Não é, portanto, classificado como artefato
explosivo.
A queima de fogos de artifício ou soltura de rojões, é mera contravenção do art. 28, parágrafo único, da
LCP, desde que haja perigo, caso contrário, o fato será atípico.
A soltura de balões, por sua vez, é crime ambiental, previsto no art. 42 da Lei 9.605/98.
O tipo penal em análise não incrimina a posse de substância incendiária ou explosiva, quando ainda não
inseridas num artefato, mas, nesse caso, a simples posse de substância explosiva será crime do art. 253 do CP,
que não contempla, porém, as substâncias incendiárias, como o álcool e gasolina.
O tipo penal em análise incrimina as seguintes condutas:
a) a posse: é o poder de usar, gozar, dispor ou reivindicar o artefato explosivo ou incendiário.
b) a detenção: é o contato físico com o artefato explosivo ou incendiário, mediante subordinação,
permissão ou tolerância.
c) a fabricação: é a criação, em grande ou média escala, do artefato explosivo ou incendiário, através de
máquinas e equipamentos. Quanto à produção de explosivo, é crime do art. 16, §1º, VI, que não contempla,
porém, a produção de artefato incendiário. Produzir é criar manualmente a munição.
d) emprego: é o uso ou porte ostensivo do artefato explosivo ou incendiário. Em caso de uma efetiva
explosão ou incêndio, em havendo perigo concreto à incolumidade pública, o agente responderá pelo crime
de incêndio ou explosão, absorvendo-se o delito em análise.
Com efeito, o delito em estudo, que é de perigo presumido, não se confunde com os delitos de incêndio
e explosão, previstos, respectivamente, nos arts. 250 e 251 do CP, que exigem o perigo concreto a um número
indeterminado de pessoas ou de patrimônios.
Assim, caso haja perigo comum, o delito em análise será absorvido pelos crimes de incêndio ou
explosão, previstos respectivamente, nos arts. 250 e 251 do CP.
O elemento normativo do tipo reside na oração “sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar”.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste na vontade consciente de realizar as condutas
10
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Posse ou porte de arma de fogo com numeração, marca ou qualquer sinal de identificação raspado,
suprimido ou adulterado (art. 16, §1º, IV)
O delito consiste em portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração,
marca ou qualquer sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado.
Trata-se de um tipo especial de posse e porte de arma de fogo.
O objeto material é a arma de fogo de uso permitido, restrito ou proibido, com numeração, marca ou
qualquer sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado.
Quando se tratar de arma de fogo de uso proibido, nas condições acima, haverá a qualificadora do §2º
do art. 16.
O tipo penal não faz menção à munição e acessório com numeração, marca ou qualquer sinal de
identificação raspado, suprimido ou adulterado. Nesse caso, porém, haverá o delito de posse ou porte de
munição ou acessório, previsto nos arts. 12, 14 ou 16, caput, conforme se trate de uso permitido ou restrito;
mas se for de uso proibido, o fato será atípico, por falta de previsão legal.
Os núcleos do tipo são os verbos portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer.
No “caput” dos arts. 14 e 16 há ainda os seguintes verbos não contemplados no tipo em análise: deter,
receber, ter em depósito, ceder, emprestar, remeter, empregar, guardar e ocultar. Nestes verbos, porém, o
agente responderá pelo delito de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido, restrito ou proibido, conforme
a hipótese, previstos respectivamente nos arts. 14, 16 caput e 16 § 2º.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste na vontade consciente de realizar as condutas
descritas no tipo penal.
A consumação ocorre com uma das condutas descritas no tipo penal.
Trata-se de delito de mera conduta, pois o tipo penal não faz menção a qualquer resultado naturalístico.
Admite-se a tentativa.
Venda ou entrega de arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança e adolescente (art.
16, §1º, V)
O quinto delito é vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório,
munição ou explosivo a criança e adolescente.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, exceto o comerciante ou industrial do ramo de armas de fogo,
acessórios ou munição, pois, no exercício dessas atividades empresariais, a venda, entrega ou fornecimento,
em desacordo com as normas legais, caracteriza o delito de comércio irregular de arma de fogo, previsto no
art. 17, que é mais grave.
O sujeito passivo, além da coletividade, também é a criança ou adolescente.
Criança é a pessoa que ainda não completou 12 (doze) anos.
Adolescente é a pessoa que já atingiu 12 (doze), mas ainda não completou 18 (dezoito) anos.
A entrega ou fornecimento de arma de fogo, acessório ou munição a pessoa maior de 18 (dezoito) anos,
é crime dos arts. 14 ou 16, mas estes dispositivos legais não contemplam o verbo vender.
Quanto à venda de arma de fogo a pessoas maiores, para uma corrente, será contravenção penal,
prevista no art. 18 da LCP, que contempla o verbo vender, mas outra corrente enquadra o fato nos arts. 14 ou
16, no verbo ceder, com o argumento de que a cessão onerosa é sinônima de venda.
O objeto material é a arma de fogo, acessório, munição ou explosivo. É importante observar que o
explosivo também figura como objeto material, mas a lei não contempla o artefato incendiário.
Note-se que a lei faz menção ao explosivo sem exigir que ele esteja contido num artefato.
Quanto ao fornecimento de explosivo a maior de 18 (dezoito) anos, é crime do art. 253 do CP.
10
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O crime do art. 242 do ECA, que se refere a arma (e não apenas arma de fogo), munição ou explosivo,
por ser oriundo de uma lei anterior, deve ser afastado, só sendo aplicado às armas brancas (exemplos: faca,
punhal, etc.).
Assim, por força do princípio da especialidade, outrossim, por se tratar de lei posterior, o delito em
análise afasta a incidência do art. 242 do ECA.
O tipo penal em análise não contempla a venda de artefato explosivo a pessoas maiores nem de artefato
incendiário a pessoas maiores ou menores e, por isso, o fato será atípico. Entretanto, a simples posse,
detenção, emprego ou fabricação de artefato explosivo ou incendiário é crime do art. 16, §1º, III.
No tocante à venda de arma branca, é contravenção penal (art. 18 da LCP).
Os núcleos do tipo são os verbos vender, entregar e fornecer.
Não se incrimina a simples oferta à venda.
A venda é o contrato, escrito ou verbal, onde se assume a obrigação de entregar a coisa mediante
contraprestação em dinheiro.
A entrega é a tradição onerosa ou gratuita da coisa, de eventual.
O fornecimento é a tradição onerosa ou gratuita da coisa, de forma contínua.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo.
A consumação, no verbo vender, ocorre com o fechamento do negócio, independentemente da
tradição. Nos verbos entregar e fornecer, a consumação se verifica com a tradição.
É possível a tentativa.
11
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
FORMA QUALIFICADA
11
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
quintal de sua casa, responde também pelo crime, pois o §1º do art. 17 incrimina qualquer forma de prestação
de serviço.
Para que haja o crime, a atividade industrial, comercial ou de prestação de serviços pressupõe a
habitualidade, ou seja, a reiteração de atos, dispensando-se, porém, o registro.
Exige-se, pois, que se trate de uma profissão do agente.
O sujeito que realiza uma única venda ou vendas esporádicas, por exemplo, não pode ser considerado
empresário e, portanto, não incide no delito em análise.
Não basta, para a configuração do crime, o exercício de qualquer tipo de atividade industrial, comercial
ou de prestação de serviços, pois é preciso que seja uma atividade relacionada às armas de fogo, acessórios
ou munições.
Noutras palavras a atividade deve consistir em adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar,
ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma
utilizar armas de fogo, acessórios ou munições, bem como prestar serviços, fabricar ou comercializar armas
de fogo, acessórios ou munições.
O objeto material é arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, proibido ou restrito.
Se o objeto material for de uso proibido ou restrito, a pena aumenta da metade por força da majorante
prevista no art. 19.
O tipo penal não inclui como objeto material o artefato explosivo ou incendiário, mas o assunto é
tratado no art. 16, §1º, III e IV.
Em relação às armas brancas, também não são contempladas pelo tipo penal em análise, mas constitui
contravenção penal, prevista, no art. 18 da LCP, a sua fabricação, importação, exportação, depósito ou venda,
sem permissão da autoridade, quer o fato tenha ou não sido praticado no exercício de uma atividade
empresarial.
Com efeito, o art. 18 da LCP, que prevê a contravenção penal de fabrico, comércio ou detenção de arma
ou munição, encontra-se assim redigido: “Fabricar, importar, exportar, ter em depósito ou vender, sem
permissão da autoridade, arma ou munição”.
Quanto à venda de arma de fogo, acessório e munição, a pessoa maior, por quem não exerce atividade
comercial, industrial ou de prestação de serviços, há duas correntes.
Primeira, é crime do art. 14 ou 16, que incrimina a cessão onerosa ou gratuita, sendo que a venda se
enquadra como sendo uma cessão onerosa.
Segunda, é contravenção penal do art. 18 da LCP, quando se tratar de arma de fogo ou munição, mas o
fato será atípico em relação ao acessório.
De fato, a cessão é a transferência dos direitos sobre uma determinada arma de fogo. O seu objeto não
é propriamente a arma, mas os direitos sobre ela. Difere da venda, cujo objeto é a própria arma de fogo. Em
razão disso, filio-me à segunda corrente.
O tipo penal prevê 17 (dezessete) condutas criminosas, sendo 14 (catorze) no caput e 3 (três) no §1º.
A prática de mais de uma conduta, no mesmo contexto, caracteriza crime único, pois o delito é de ação
múltipla ou de conteúdo variado. Em contextos diferentes, haverá concurso material de crimes.
Os núcleos do tipo, previstos no caput, são os verbos adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir,
ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda e utilizar.
No § 1º há ainda as condutas de prestar serviços, fabricar e comercializar.
Haverá a absorção do delito de receptação qualificada, previsto no art. 180, §1º, do CP, quando se tratar
de arma de fogo, acessórios ou munições que sejam produtos de crime.
Outra corrente, porém, sustenta que há concurso material, pois os bens jurídicos são distintos, sendo,
por isso, inaplicável o princípio da consunção.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste na vontade consciente de realizar as condutas
descritas no tipo penal.
O delito se caracteriza quer a conduta se realize em proveito próprio ou alheio.
Não se a exige o fim de lucro.
O comerciante de armas de fogo que, por exemplo, no exercício de sua atividade empresarial, adquirir
uma arma de fogo para defesa pessoal, também responde pelo delito em análise, pois o tipo penal não exige
11
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
11
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
11
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
fogo, acessório ou munição. Nesse caso, o flagrante será provocado e, portanto, nulo (Súmula 145 do STF).
Quanto ao agente que já possuí a arma de fogo, acessório ou munição, caso venha, no exercício da
atividade empresarial, a vendê-la ou entregá-la ao policial disfarçado, o flagrante, diante da comprovação da
conduta pretérita de “ter em depósito, será válido na modalidade vender ou entregar, sendo que, antes da lei
13.964/2019, que introduziu o §2º do art. 17, o flagrante era nulo nestes verbos, embora válido na modalidade
“ter em depósito”, prevista no “caput” do art. 17, cuja consumação se prolonga no tempo, por se tratar de
delito permanente.
No exemplo acima, o agente será enquadrado apenas no delito em análise, absorvendo-se o delito
anterior, previsto no art. 17, “caput”, relacionado ao depósito da arma de fogo, acessório e munição.
Vê-se assim que o tipo penal em análise facilitou a incriminação, validando o disfarce do policial ante à
existência de elementos probatórios razoáveis acerca da conduta criminal anterior.
Imagine agora o seguinte exemplo: o policial disfarçado provoca a conduta criminal, oferecendo-se para
comprar arma de fogo de um comerciante, mas sem que houvesse elementos probatórios razoáveis de uma
conduta criminal preexistente.
Caso obtenha êxito, por se tratar coincidentemente de um comerciante de armas, que tinha a arma de
fogo em depósito, o flagrante será válido?
Creio que não, pois, de acordo com o tipo penal em estudo, o policial só poderá utilizar-se do disfarce
quando houver elementos probatórios razoáveis de uma conduta criminal preexistente.
De fato, não se pode estimular este tipo de diligência, que se revela como sendo de caráter excepcional,
à medida que é tênue a linha divisória que a separa do campo da imoralidade.
Outra corrente, porém, considera o flagrante válido, no delito do caput do art. 17, pois, na modalidade
ter em depósito, o delito é permanente.
Por fim, cumpre distinguir três situações distintas:
a) agente policial disfarçado: é o que, motivado por elementos probatórios razoáveis de conduta
criminal preexistente, se faz passar por outra pessoa para coletar provas sobre a existência da materialidade
ou da autoria. Trata-se de uma postura legítima em relação aos crimes do §2º do art. 17 e parágrafo único do
art. 18, ambos do Estatuto do Desarmamento, outrossim, no art. 33, §1º, IV, da Lei das Drogas. Com relação a
outros delitos, há duas exegeses. Primeira, o flagrante será válido, pois o ordenamento jurídico admite todos
os meios de prova moralmente legítimos. Segunda, o flagrante será nulo, pois o ato de induzir ou instigar a
conduta criminal atenta contra os preceitos morais.
b) agente policial provocador: é o que induz outra pessoa à pratica de uma conduta criminosa, com o
intuito de prendê-la em flagrante, sem que houvesse elementos probatórios razoáveis de uma conduta
criminal preexistente. Trata-se de uma conduta ilegítima, de um flagrante provocado. Nesse caso, não há
crime, sendo nulo o flagrante (Súmula 145 do STF);
c) agente policial infiltrado: é o que se faz passar por outra pessoa para ingressar no ambiente dos
criminosos, com o intuito de obter provas. Desde que presentes os requisitos legais, trata-se de um
comportamento legítimo, em relação aos crimes de organização criminosa, tráfico de drogas e lavagem de
capitais, mas que não é previsto no Estatuto do Desarmamento.
11
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O tipo penal em análise é especial em relação ao delito de contrabando, previsto no art.334 do CP,
afastando-o, por força do princípio da especialidade.
Trata-se ainda de crime hediondo.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive, aquele que tem porte de arma. Trata-se de crime
comum.
Não é necessário, para a caracterização do crime, que o fato seja praticado no exercício da atividade
industrial, comercial ou de prestação de serviços, mas, ainda que seja, o agente responderá pelo delito em
análise, absorvendo o delito de comércio ilegal de arma de fogo, previsto no art. 17.
Quanto ao funcionário público, que facilita a importação ou exportação de armas de fogo, acessórios e
munições, também responderá pelo delito em estudo, por força do princípio da especialidade, e não pelo
delito de facilitação ao contrabando, previsto no art. 318 do CP.
O objeto material é arma de fogo, acessório ou munição. Se forem de uso restrito ou proibido incide a
causa de aumento, prevista no art. 19, que majora a pena na metade.
Ainda que a arma de fogo esteja desmontada ou desmuniciada, o delito se caracteriza, mas se estiver
avariada, a ponto de tornar absolutamente ineficaz o seu funcionamento, haverá crime impossível (art. 17 do
CP).
Tratando-se de munição ou acessório, em pequena quantidade, desacompanhado da arma de fogo, o
STF e STJ, conforme já visto, têm admitido a aplicação do princípio da insignificância.
Há o delito ainda que se trate de uma única arma de fogo.
Se, no mesmo contexto, houver a apreensão de várias armas de fogo haverá crime único, ainda que
algumas sejam de uso permitido e outras de uso restrito ou proibido.
No concernente aos artefatos explosivos e incendiários, não constituem objeto material do delito em
análise, mas a sua importação ou exportação caracteriza crime de contrabando, previsto no art. 334 do CP.
Quanto à arma de brinquedo, conquanto proibida, não é objeto material do delito em estudo, mas a
sua importação ou exportação também configura delito de contrabando, previsto no art. 334 do CP.
No concernente â importação ou exportação de arma branca caracteriza contravenção penal, prevista
no art. 18 da LCP. Esta contravenção, no tocante às armas de fogo e munições, encontra-se revogada pelo art.
18 do Estatuto do Desarmamento, em estudo.
Os núcleos do tipo são os verbos importar, exportar ou favorecer.
Importar é promover a entrada do exterior para o Brasil.
Exportar é promover a saída do Brasil para outro país.
Favorecer é facilitar a entrada ou saída do território nacional. É, pois, o auxílio para que haja a
importação ou exportação. Exemplos: providenciar os documentos falsos, fornecer o meio de transporte, etc.
O favorecimento também pode se verificar através da omissão do agente que tem o dever jurídico de
agir. Exemplo: funcionário da alfândega dolosamente se abstém de realizar a fiscalização.
O favorecimento, ainda que não previsto no tipo penal, seria punido como participação, nos termos do
art. 29 do CP, sendo desnecessária a sua inserção no tipo.
O elemento normativo consiste em realizar as condutas descritas no tipo penal sem autorização da
autoridade competente. Ê necessário que seja descrito este elemento na denúncia.
O Comando do Exército é o órgão competente para autorizar e fiscalizar a exportação, importação e
desembaraço alfandegário das armas de fogo, acessórios e munições.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste na vontade consciente de realizar as condutas
descritas no tipo penal.
Não é exigível o fim de lucro ou de comércio, sendo irrelevante o objetivo do agente.
O fato de o objeto material ser oriundo do exterior, ou de o agente ser estrangeiro, por si só, não implica
no reconhecimento do tráfico internacional ou transnacional, cujo ônus da prova compete à acusação.
Quanto à consumação, nos três verbos, ocorre no instante em que a arma de fogo transpõe a fronteira
do país ou a sua zona de fiscalização aduaneira, prevalecendo o que ocorrer primeiro.
A transposição das fronteiras pode se dar pelas vias terrestre, aérea ou marítima, antes mesmo do
pouso do avião ou atracamento da embarcação.
No verbo favorecer, caso se entenda que a consumação ocorre com o simples favorecimento, mas a
11
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
importação ou exportação não se verificar, haveria a ilógica solução de a conduta de favorecer, fato menos
grave, ser crime consumado, enquanto que o fato mais grave, importar ou exportar, permaneceria no terreno
tentado.
O delito é instantâneo. Não é necessário a habitualidade da conduta criminosa.
Admite-se a tentativa. Exemplo: apreensão da arma de fogo, quando o traficante tentava passar pela
zona aduaneira.
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
INTRODUÇÃO
A lei 12.850, de 02 de agosto de 2.013, define organização criminosa e outras infrações penais
correlatas, dispondo ainda sobre os meios de obtenção de prova e o procedimento criminal a ser aplicado.
Além disso, revogou expressamente a lei 9.034/95, que disciplinava o crime organizado, substituindo,
esta expressão por organização criminosa.
A Lei 9.034/95 não definia a organização criminosa, obrigando os intérpretes a se valerem do conceito
fornecido pela Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, conhecida
por Convenção de Palermo, aprovada no ordenamento jurídico pátrio com status de lei ordinária.
O acolhimento pelo STF e STJ do conceito contido na Convenção de Palermo não implicou na violação
do princípio da reserva legal, pois a referida convenção não criou crime algum, limitando-se a fornecer o
conceito de organização criminosa, viabilizando-se, destarte, à aplicação dos preceitos processuais da antiga
Lei 9.034/95.
A discussão hoje se encontra superada, pois o conceito de organização criminosa está previsto na Lei
12.850/2013 que, nesse aspecto conceitual, revogou a Convenção de Palermo.
Quanto à Lei 12.694/2.012, revogada parcialmente, que versa sobre o mesmo tema, ainda permanece
em vigor nos assuntos que não colidem com a Lei 12.850/2013, com destaque para o juízo colegiado de
primeiro grau.
11
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Cumpre, desde logo, fazer a distinção entre organização criminosa e associação criminosa.
A associação criminosa, expressão que substituiu o termo quadrilha ou bando, encontra-se definida no
art. 288 do CP, com nova redação que lhe foi dada pelo art. 24 da lei 12.850/2.013, nos seguintes termos:
“Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos”.
As diferenças são as seguintes:
a) a organização criminosa exige 4 (quatro) ou mais pessoas, na associação criminosa bastam 3 (três) ou
mais.
b) a organização criminosa exige a finalidade de praticar infrações penais (crimes ou contravenções),
cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional, isto é, lese
bem jurídico de mais de um país. Já a associação criminosa exige a finalidade de praticar crimes, quaisquer
11
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O crime de organização criminosa por natureza ou propriamente dito é previsto no art. 2º, caput, da
Lei 12.850/2.013, nos seguintes termos:
“Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização
criminosa:
Pena-reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais
infrações penais praticadas”.
Trata-se de crime plurissubjetivo, pois exige-se a presença de pelo menos 4 (quatro) pessoas,
computando-se os menores e os não identificados.
Quanto ao agente policial infiltrado na organização criminosa, não é computado.
Aliás, para que a infiltração seja autorizada pelo juiz, é preciso que se demonstre a prévia existência da
organização criminosa, que pressupõe a presença de pelo menos quatro membros.
O bem jurídico protegido é a paz pública, a tranquilidade social.
Trata-se de crime de perigo abstrato ou presumido.
O sujeito passivo é a coletividade, que é a titular do bem jurídico. É assim um crime vago.
Os núcleos do tipo são:
a) promover: é diligenciar originariamente para a formação da organização criminosa. É fundar a
organização criminosa.
b) constituir: é organizar as bases, estabelecer o plano de uma organização criminosa.
c) financiar: é liberar os recursos financeiros para que a organização criminosa possa se formar ou atuar.
d) integrar: é participar, fazer parte, atuar na organização criminosa.
Trata-se de crime de ação múltipla ou de conteúdo variado, de modo que a prática de mais de uma das
condutas acima caracteriza crime único, por força do princípio da alternatividade.
Acerca do conceito de organização criminosa, que é elemento do tipo em análise, é previsto no art. 1o
da Lei 12.850/2013, de tal sorte que o delito em estudo é uma norma penal em branco homogênea e
homovitelina ou univitelina.
Homogênea por ser complementada por lei federal; homovitelina pelo fato de o seu complemento se
encontrar na própria lei penal.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste na vontade de associar-se de forma estável ou
permanente, consciente sobre o número mínimo de agentes exigido pelo tipo penal.
Não há o delito, por exemplo, quando o agente supõe que está associado a apenas duas pessoas,
ignorando a presença de um quarto elemento.
Exige-se ainda dupla finalidade:
11
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
a) fim de praticar infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou infrações
penais de caráter transnacional, ainda que inferior a 4 (quatro) anos.
b) fim de obter vantagem de qualquer natureza, de forma direta ou indireta.
O delito se consuma com a efetiva associação, independentemente da prática de qualquer crime.
Trata-se de crime formal ou de consumação antecipada ou ainda de resultado cortado.
O delito é permanente, pois o momento consumativo se prolonga no tempo, o que viabiliza a prisão em
flagrante a qualquer momento, enquanto não cessada a atividade criminosa.
Quanto à tentativa, é inadmissível, pois os fatos tipificados constituem atos preparatórios de outras
infrações penais.
O preceito secundário do citado art. 2º ressalva expressamente o concurso material entre o delito de
organização criminosa e as demais infrações penais praticadas pelos agentes, eliminando-se, destarte,
qualquer possibilidade de absorção.
Mas, pelos delitos praticados, só responderão os agentes que concorreram efetivamente para a sua
prática. Não basta, portanto, que seja integrante da organização criminosa.
Em contrapartida, o sujeito que não pertence à organização, mas auxiliou os agentes na prática do
crime, responde só por este crime, estando isento de qualquer responsabilidade pelo crime de organização
criminosa.
O §1º do art. 2º da lei 12.850/2.013 incrimina, nas mesmas penas, quem impede ou, de qualquer forma,
embaraça a investigação de infração penal que envolva organização criminosa.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.
Quanto ao agente que já integra a organização criminosa, para uns, só responderia pelo delito anterior.
Outros, ao revés, preconizam pelo concurso material de crimes, pois o delito do §1º do art. 2º é
autônomo em relação ao delito do “caput”.
O tipo penal em análise não é uma qualificadora, mas, sim, um delito autônomo, em relação ao crime
de organização criminosa, previsto no “caput” do art.2o, razão pela qual não há falar-se em sua absorção.
De fato, a qualificadora é um tipo penal derivado, com pena própria, que adiciona às mesmas
elementares do tipo fundamental circunstâncias que complementam a definição legal da conduta criminosa.
A figura típica equiparada, por sua vez, é tipo autônomo, com a mesma pena do tipo fundamental, mas
com elementares próprias e desvinculadas das previstas no tipo fundamental.
O delito em análise é monossubjetivo, pois pode ser praticado por uma única pessoa.
O bem jurídico tutelado é a administração da justiça.
O sujeito passivo é o Estado.
Os núcleos do tipo são os verbos:
a) impedir: é obstar.
b) embaraçar: é atrapalhar ou tumultuar.
O delito é de forma livre, pois admite inúmeros meios de execução.
O tipo se refere a impedir ou embaraçar a investigação de infração penal que envolva organização
criminosa.
O STJ já decidiu que a investigação também se verifica na fase processual e não apenas no inquérito
policial e em outros procedimentos investigatórios que antecedem à propositura da ação penal.
Outra corrente, porém, reputa o delito inexistente, diante da vedação da analogia “in malam partem”,
quando a conduta ocorrer no curso da ação penal.
A consumação ocorre quando o agente efetivamente impede ou embaraça a investigação.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste na vontade consciente de impedir ou embaraçar à
investigação.
Trata-se de crime material.
Admite-se à tentativa, quando o agente inicia a execução, mas não consegue impedir nem embaraçar
as investigações, por circunstâncias alheias à sua vontade.
12
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Quanto ao delito de coação no curso do processo, previsto no art. 340 do CP, é absorvido pelo delito
em análise, para se evitar o “bis in idem”.
AGRAVANTE ESPECIAL
Os delitos caput e do §1º do art. 2º da Lei 12.850/2.01 têm uma agravante especial.
Com efeito, a pena é agravada para quem exerce o comando, individual ou coletivo, da organização
criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de execução (§3º do art. 2º).
Trata-se do autor intelectual ou de escritório, que tem o domínio do fato, isto é, o poder para fazer
cessar a atuação da própria organização criminosa ou de algum integrante que lhe é subordinado.
É, pois, necessário, para a incidência da agravante, que se demonstre a existência de subordinação de
outros membros da organização criminosa, em relação ao autor intelectual.
Quanto à agravante genérica do art. 62, I, do CP, que trata do mesmo assunto, é absorvida pela
agravante especial.
É sempre bom esclarecer que não se trata de causa de aumento de pena, mas sim de agravante.
Na causa de aumento, a lei indica a quantidade da majoração da pena.
Na agravante, a lei ordena a exacerbação da pena, mas não indica a quantidade do aumento.
12
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
do tipo penal , de tal sorte que a sua incidência, como causa de aumento de pena, geraria o “bis in idem”.
O §5º do art. 2º acrescenta ainda que se houver indícios suficientes de que o funcionário público integra
organização criminosa, poderá o juiz determinar seu afastamento cautelar do cargo, emprego ou função, sem
prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à investigação ou instrução processual.
São, pois, dois os requisitos para o afastamento cautelar:
a) “fumus comissi delicti”: é a aparência do fato criminoso, caracterizada pelos indícios suficientes de
que o funcionário público integra a organização criminosa;
b) “periculum in mora”: que a demora em se decretar o afastamento seja prejudicial à investigação ou
instrução processual.
O afastamento cautelar, por força da argumentação “a fortiori”, pode também ser parcial. Exemplo: o
juiz determina que ele realize apenas serviços internos, proibindo-o de ter contato com o público.
A decisão que decreta ou mantém o afastamento cautelar, é irrecorrível, mas pode ser impugnada por
mandado de segurança.
Quanto à decisão que indefere o pedido de afastamento cautelar ou revoga o afastamento
anteriormente decretado, é suscetível de recurso em sentido estrito, por interpretação extensiva do art. 581,
V, do CPP.
Por fim, durante o afastamento cautelar, a lei esclarece expressamente que a sua remuneração deve
ser mantida.
A condenação com trânsito em julgado acarretará ao funcionário público a perda do cargo, função,
emprego ou mandato eletivo e a interdição para o exercício de função ou cargo público pelo prazo de 8 (oito)
anos subsequentes ao cumprimento da pena (art. 2º, § 6º).
Conforme se pode verificar, são dois os efeitos cumulativos da condenação disciplinados pela Lei
12.850/2013, sem prejuízo de outros previstos no Código Penal e em leis especiais. Ei-los:
a) perda do cargo, função, emprego ou mandato eletivo.
Aludido efeito se verifica imediatamente após o trânsito em julgado da sentença condenatória.
Após o cumprimento da pena, não há falar-se em restituição do cargo, função, emprego ou mandato
eletivo, pois se trata da perda e não de uma mera suspensão.
A lei em análise não prevê, como efeito da condenação, a cassação da aposentadoria do funcionário
público, sendo vedada a analogia “in malam partem”.
No tocante à perda do mandato eletivo, é definitiva e, por isso, não se confunde com a previsão do art.
15, III, da CF, que trata da suspensão automática dos direitos políticos, em razão de sentença penal
condenatória transitada em julgado, cujo caráter é transitório, cessando com o cumprimento ou extinção da
pena.
Este efeito da perda do mandado eletivo, porém, em relação aos deputados e senadores, não é
automático.
Além da perda do cargo, função, emprego ou mandato eletivo, ainda haverá a interdição para o
exercício de função ou cargo público pelo prazo de 8 (oito) anos subsequentes ao cumprimento da pena,
conforme se verá logo em seguida.
b) interdição para o exercício de função ou cargo público pelo prazo de 8 (oito) anos subsequentes ao
cumprimento da pena.
Trata-se de uma proibição imposta a todos os condenados pelo crime de organização criminosa e não
apenas aos que já exerciam função pública.
O prazo de 8 (oito) anos se inicia a partir do cumprimento da pena.
A proibição abrange o mandato eletivo e emprego público, malgrado o silêncio da lei, pois são também
funções públicas.
12
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Findo o prazo de 8 (oito) anos, a meu ver, o referido efeito cessa automaticamente, independentemente
de reabilitação penal.
Outra corrente, porém, exige, para a sua cessação, a reabilitação penal, prevista no art. 93, parágrafo
único, do CP, mas esse raciocínio representa analogia “in malam partem”.
Ambos os efeitos são automáticos, ou seja, prescindem de menção expressa na sentença e se verificam
independentemente da quantidade da pena concreta.
Convém ainda registrar que os efeitos acima não se aplicam aos deputados e senadores, que também
não se submetem à suspensão dos direitos políticos prevista no art. 15, III, da CF.
Com efeito, no tocante à perda do mandado de deputados e senadores, a Constituição exige que seja
decidida pela Câmara dos Deputados ou Senado, por voto aberto e maioria absoluta, mediante provocação da
respectiva Mesa ou de Partido Político representado no Congresso Nacional, assegurada a ampla defesa (art.
55, VI e §2º da Constituição Federal).
INVESTIGAÇÕES DE POLICIAIS
Se houver indícios da participação de policial nos crimes de que trata esta Lei, a Corregedoria de Polícia
instaurará inquérito policial e comunicará ao Ministério Público, que designará membro para acompanhar o
feito até a sua conclusão (art.2º, §7º).
O referido inquérito policial deverá:
a) ser instaurado pela Corregedoria de Polícia, ou seja, não tramitará na delegacia de polícia.
b) ser comunicado ao Procurador Geral do Ministério Público. Esta comunicação deve ser feita pela
própria Corregedoria da Polícia e não pelo Delegado Geral.
c) ser obrigatoriamente acompanhado por um representante do Ministério Público designado pelo
Procurador Geral desta instituição.
A norma em análise se aplica a todos os crimes previstos na Lei 12.850/2013, inclusive, aos disciplinados
nos arts. 18 a 21.
Quanto à possibilidade de o próprio Ministério Público instaurar o procedimento investigatório criminal,
não vejo qualquer obstáculo.
Alguns autores, entretanto, sustentam que como a lei deferiu a investigação à Corregedoria de Polícia,
houve a proibição tácita de o fato ser investigado pelo Ministério Público.
As lideranças de organizações criminosas armadas ou que tenham armas à disposição deverão iniciar o
cumprimento da pena em estabelecimentos penais de segurança máxima (§8º do art. 2º).
O dispositivo prevê implicitamente o regime inicial fechado, com base na gravidade abstrata do fato
criminoso e, por isso, é inconstitucional, em face da violação do princípio da individualização da pena.
O condenado expressamente em sentença por integrar organização criminosa ou por crime praticado
por meio de organização criminosa não poderá progredir de regime de cumprimento de pena ou obter
livramento condicional ou outros benefícios prisionais se houver elementos probatórios que indiquem a
manutenção do vínculo associativo (§9º do art. 2º).
Na verdade, caso seja condenado por outros delitos, mas mantenha vínculo com organização ou
associação criminosa, também não poderá obter os aludidos benefícios, cuja concessão depende do
preenchimento de requisitos subjetivos relacionados com o merecimento.
Noutras palavras, o dispositivo, por dizer o óbvio, se revela inócuo.
Convém esclarecer que o livramento condicional, progressão de regimes e outros benefícios da Lei de
Execução Penal poderão ser deferidos aos condenados por organização criminosa que romperam o vínculo
12
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
associativo.
A organização criminosa gera, dentre outros, os seguintes efeitos previstos na legislação especial:
a) aplicação do regime disciplinar diferenciado. De fato, o RDD poderá ser aplicado aos presos
provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, sob os quais recaiam fundadas suspeitas de
envolvimento ou participação, a qualquer título, em organização criminosa, associação criminosa ou milícia
privada, independentemente da prática de falta grave (art. 54, § 1º, II, da LEP).
b) possibilidade de interrogatório do réu preso, integrante de organização criminosa, por sistema de
videoconferência ou outro recurso tecnológico (art. 185, § 2o, do CPP).
c) impossibilidade de concessão do benefício do tráfico de drogas privilegiado ao integrante de
organização criminosa (art. 33, §4º, da Lei 11.346/2006).
d) a pena do delito de lavagem de capitais será aumentada de um a dois terços, se for cometido por
intermédio de organização criminosa (art.1º, §4o, da Lei 9.613/98).
e) o crime de organização criminosa é hediondo, mas apenas quando direcionado à prática de crime
hediondo ou equiparados (art. 1o, parágrafo único, inciso V, da Lei 8.072/90). Os crimes equiparados aos
hediondos são o terrorismo, a tortura e o tráfico de drogas;
f) juízo colegiado de primeiro grau.
Introdução
O juízo de primeiro grau, em regra, é singular, pois é composto por um único juiz.
Há, entretanto, os seguintes juízos colegiados de primeiro grau:
a) Tribunal do Júri;
b) Conselho de Justiça Militar;
c) Juízo Colegiado nos crimes praticados por organização criminosa (lei 12.694/2.012).
Previsão legal
A criação de varas colegiadas depende de lei federal ou lei estadual, conforme se trate da Justiça
Estadual ou Federal.
Com o advento da lei 13.964/2019, porém, os Tribunais de Justiça e os Tribunais Regionais Federais
poderão instalar, nas comarcas sedes de Circunscrição ou Seção Judiciária, mediante resolução, Varas
Criminais Colegiadas com competência para o processo e julgamento:
I - de crimes de pertinência a organizações criminosas armadas ou que tenham armas à disposição;
II - do crime de milícia privada, prevista no art. 288-A do Código Penal; e
III - das infrações penais conexas aos crimes a que se referem os incisos I e II do caput deste artigo.
Vê-se assim que, no tocante aos delitos acima, a criação de varas colegiadas de primeiro grau pode se
verificar através de uma resolução do tribunal, que é um ato administrativo normativo.
As Varas Criminais Colegiadas terão competência para todos os atos jurisdicionais no decorrer da
investigação, da ação penal e da execução da pena, inclusive a transferência do preso para estabelecimento
prisional de segurança máxima ou para regime disciplinar diferenciado.
12
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Ao receber, segundo as regras normais de distribuição, processos ou procedimentos que tenham por
objeto os crimes mencionados acima, o juiz deverá declinar da competência e remeter os autos, em qualquer
fase em que se encontrem, à Vara Criminal Colegiada de sua Circunscrição ou Seção Judiciária.
Feita a remessa mencionada, a Vara Criminal Colegiada terá competência para todos os atos processuais
posteriores, incluindo os da fase de execução.
Por fim, segundo já decidiu o STF, no âmbito da Justiça Estadual, o juízo colegiado de primeiro grau
pode, mediante lei estadual de iniciativa dos Tribunais de Justiça, ser estendido para outras infrações penais ,
pois a competência para legislar sobre procedimento é concorrente, conforme preceitua o art. 24, XI, da CF.
Caso, nas comarcas sedes de Circunscrição ou Seção Judiciária, não haja a Vara Criminal Colegiada, ainda
assim será possível a instauração deste juízo colegiado, nos crimes praticados por organização criminosa.
Esta instauração, porém, não é automática, pois depende de decisão do juiz que preside o processo.
Só é cabível quando houver risco à sua integridade física ou de seus familiares.
O juízo colegiado pode ser instaurado, na fase de conhecimento ou de execução, para praticar qualquer
ato processual. Exemplos: decretação de prisão ou de medidas assecuratórias; concessão de liberdade
provisória ou revogação de prisão; sentença; progressão ou regressão de regime de cumprimento de pena;
concessão de liberdade condicional; transferência de preso para estabelecimento prisional de segurança
máxima; inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado.
O juiz, ao decidir pela instauração do juízo colegiado, deverá dar conhecimento ao órgão correicional,
ou seja, à Corregedoria Geral de Justiça, mas este órgão, por ser administrativo, não tem poder para cassar a
sua decisão judicial.
O juízo colegiado de primeiro será formado pelo juiz do processo e por 2 (dois) outros juízes escolhidos
por sorteio eletrônico dentre aqueles de competência criminal em exercício no primeiro grau de jurisdição. A
competência do colegiado limita-se ao ato para o qual foi convocado.
Não há violação do princípio do juiz natural, pois a escolha dos magistrados é por sorteio e, além disso,
a previsão de sua criação antecede à prática do fato criminoso, mas o tema ainda é polêmico.
As reuniões do juízo colegiado poderão ser sigilosas sempre que houver risco de que a publicidade
resulte em prejuízo à eficácia da decisão judicial. Não há inconstitucionalidade no sigilo, posto que justificado
por razões de interesse público, estando, pois, amparado pelos arts. 5º, LX, e 93, IX, da CF.
As decisões do colegiado, devidamente fundamentadas e assinadas, sem exceção, por todos os seus
integrantes, serão publicadas sem qualquer referência a voto divergente de qualquer membro. Não se trata,
destarte, do juiz secreto ou sem rosto, que decide sem se identificar. Aliás, seria inconstitucional a figura do
juiz secreto ou sem rosto, pois inviabiliza a análise de sua imparcialidade, ofendendo, destarte, o princípio da
ampla defesa.
NORMAS PROCEDIMENTAIS
Os crimes previstos na Lei 12.850/2013 e as infrações penais conexas devem observar as seguintes
normas procedimentais:
a) procedimento ordinário independentemente da quantidade de pena;
b) a instrução criminal deverá ser encerrada em 120 (cento e vinte) dias quando o réu estiver preso.
Note-se que o prazo acima não é para a prolação da sentença, mas, sim, para o encerramento da fase
instrutória.
O referido prazo começa a fluir a partir da data da prisão.
Admite-se, porém, uma prorrogação por igual período por decisão judicial, desde que a causa seja
complexa ou que a demora tenha sido provocada pelo próprio réu.
O termo inicial do prazo é a data da prisão em flagrante, preventiva e temporária.
O termo final é o encerramento da instrução processual.
Encerrada a instrução, fica superada a alegação de constrangimento por excesso de prazo (súmula 52
12
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
do STJ).
No procedimento do júri, pronunciado o réu, também fica superada a alegação de constrangimento por
excesso de prazo (súmula 21 do STJ).
c) o juiz pode decretar o sigilo do inquérito policial e, nesse caso, o defensor, para ter acesso às
investigações, precisará de autorização judicial, mas não poderá ter acesso às diligências ainda em andamento
(art. 23).
Determinado o depoimento do investigado, seu defensor terá assegurada a prévia vista dos autos, ainda
que classificados como sigilosos, no prazo mínimo de 3 (três) dias que antecedem ao ato, podendo ser
ampliado, a critério da autoridade responsável pela investigação (art. 23, parágrafo único).
12
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
II e V (art. 3º, § 1 º). Trata-se de uma hipótese de dispensa da licitação para se garantir o sigilo das
investigações
b) Nas hipóteses acima, uma vez dispensada a licitação, fica também dispensada a exigência de
publicação resumida do instrumento de contrato ou de seus aditamentos na imprensa oficial, devendo,
entretanto, ser comunicado o órgão de controle interno da realização da contratação (art. 3º, § 2º).
Conceito
A ação controlada consiste em retardar a prisão em flagrante ou a apreensão de bens para outro
momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de informações.
É também denominada flagrante diferido ou postergado ou retardado.
Requisitos
Legitimidade
A ação controlada pode ser comunicada ao juiz pelo delegado de polícia ou por autoridade
administrativa, por inciativa própria ou atendendo à solicitação de subordinados envolvidos na operação.
Trata-se, portanto, de uma intervenção policial, quando levada a efeito pela autoridade policial, bem
como de uma intervenção administrativa, quando emanar de autoridade administrava.
As autoridades administrativas que podem realizar a ação controlada são as que atuam para obter
12
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
elementos de informações acerca de ilícitos administrativos que também configuram infrações penais
perpetradas por organizações criminosas. Exemplos: auditores fiscais, agentes de corregedorias, agentes da
ABIN, fiscais do IBAMA.
Procedimento
O pedido de prévia comunicação tramita em segredo de justiça e o seu conteúdo será sigiloso, isto é,
não pode conter informações que possam indicar a operação a ser realizada.
Até o encerramento da diligência, a defesa não terá acesso aos autos.
Como forma de se garantir o êxito das investigações, o acesso será restrito ao juiz, ao Ministério Público,
outrossim, ao Delegado de Polícia ou à autoridade administrativa, conforme o tipo de intervenção.
O juiz, ao receber a comunicação, comunicará o Ministério Público.
Ao deferir o pedido, o juiz, se for o caso, estabelecerá os limites à ação. Exemplo: fixação de prazo
máximo. Outro exemplo: ordenar que se efetue a prisão imediata, quando surgir risco à vida ou à integridade
física de alguém.
Ao término da diligência, a autoridade policial ou administrativa deverá elaborar auto circunstanciado
acerca da ação controlada.
Não se trata de termo, mas, sim, de auto circunstanciado.
No flagrante esperado, a polícia fica de espreita para aguarda a prática do delito, com o intuito de poder
realizar a prisão.
É, pois, uma diligência que antecede à situação de flagrante, ao passo que, na ação controlada, a
situação de flagrante já se encontra presente, mas, por razões estratégicas, a prisão é relegada para outro
momento mais oportuno.
No flagrante esperado há o fim de se realizar a prisão em flagrante.
Na ação controlada o fim é de se retardar a prisão em flagrante.
Não obsta que, após a diligência de flagrante esperado, sobrevindo a prática delituosa, seja também
realizada, sem interrupção, a ação controlada.
Entrega vigiada
12
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Convém esclarecer que é possível a entrega vigiada sem que ocorra uma situação de flagrante.
Neste caso, a entrega vigiada não se classifica como espécie de ação controlada, aproximando-se do
flagrante esperado. Exemplo: a polícia detecta um tráfico de cocaína num envelope do correio, onde não
consta o nome do destinatário, figurando o endereço como sendo uma determinada repartição pública.
O art. 20 da Lei 12.850/2.013 prevê como crime “descumprir determinação de sigilo das investigações
que envolvam a ação controlada e a infiltração de agentes”.
Trata-se de crime próprio, praticável apenas pelo funcionário público que tem o dever de sigilo.
INFILTRAÇÃO DE AGENTES
Conceito
Infiltração é o fato de o agente policial ingressar na organização criminosa, de forma disfarçada, fingindo
que é um de seus membros.
O agente infiltrado também se denomina testemunha de coroa.
Previsão
A infiltração física de policiais, além de ser prevista na Lei 13.850/2013, também é admitida para os
crimes das leis de drogas e de lavagem de capitais (arts. 53, I, da Lei 11.343/2006 e 1º, §6º, da Lei 9.613/98).
A infiltração virtual é prevista nos arts. 10-C Lei 12.850/2013 e 190-A do ECA.
De fato, o art. 190-A do ECA permite a infiltração virtual dos seguintes delitos praticados contra criança
e adolescente:
a) crimes de pedofilia: são os previstos nos arts. 240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D;
b) crimes contra a dignidade sexual de vulnerável: estupro de vulnerável (art. 217-A do CP), corrupção
de menores (art. 218 do CP), satisfação de lascívia (art. 218-A do CP) e favorecimento à prostituição (art. 218-
B do CP);
c) invasão de dispositivo Informático (art. 154-A do CP).
Classificação
Fundamento
12
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Sob o ponto de vista ético, o instituto tem sido combatido por inúmeros doutrinadores, porquanto se
baseia na mentira.
Além disso, o agente infiltrado pode ser autorizado pelo juiz a cometer determinados delitos, o que de
uma certa forma colide com os fins do Direito.
O certo, porém, é que a periculosidade social ocasionada por certas infrações penais, justifica, com base
no princípio da proporcionalidade, o mal menor com o escopo de se combater o mal maior.
Requisitos
Na Lei de Organização Criminosa, a infiltração exige os seguintes requisitos para a infiltração física ou
virtual:
Legitimidade
13
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Da mesma forma, se requerida pelo Ministério Público, no curso do inquérito policial, será necessária a
manifestação técnica do delegado de polícia.
Agentes da ABIN
Além de a lei fazer expressa menção à infiltração por agentes de polícia, o certo é que a eventual
previsão legal de infiltração por agentes de inteligência, para fins de investigação criminal, seria
inconstitucional, por violação do art. 144, §1º, IV, da CF.
É assim sendo vedada, por usurpação de função pública, que a infiltração, para fins de investigação
criminal, seja executada por agentes da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência).
Os agentes de inteligência podem realizar a infiltração sem ordem judicial, mas não para os fins de
investigação criminal.
Os agentes de inteligência, também chamados de agentes secretos ou agentes especiais, têm a função
de defesa da soberania nacional e do Estado Democrático de Direito.
No Brasil, os agentes de inteligência são os que integram a ABIN (Agência Brasileira de Inteligência),
sendo o assunto disciplinado pela Lei 9.883/1.999.
Entende-se como inteligência a atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de
conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência
sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do
Estado.
Os agentes da ABIN, conforme já visto, não podem atuar na investigação de infrações penais, sob pena
de invasão de atribuição que a Constituição Federal reservou à polícia judiciária.
Distinguem-se, destarte, dos agentes policiais infiltrados, pois estes, mediante ordem judicial, podem
atuar na persecução penal.
Infiltração de particulares
O colaborador premiado é o coautor ou partícipe que, além de confessar o seu envolvimento na infração
penal, ainda fornece, em troca da obtenção de benefícios penais e processuais, informações pertinentes à
investigação da infração penal.
Se o acordo de colaboração premiada, que é sigiloso, autorizar o colaborador a permanecer de forma
fingida na organização criminosa, com vistas à colheita de novos elementos de prova, será discutível, ainda
que homologado pelo juiz, a validade de sua atuação.
Primeira corrente, as provas serão nulas, pois não há previsão legal para o juiz ordenar a infiltração de
pessoas que não sejam policiais.
Segunda, as provas serão válidas, à medida que não se trata propriamente do instituto da infiltração,
mas, sim, de um desdobramento do acordo de colaboração premiada.
A meu ver, são, pois, dois institutos distintos, razão pela qual a prova me parece válida.
De fato, o agente policial infiltrado simula ingressar numa organização criminosa da qual não faz
13
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
nem fazia parte, ao passo que o mencionado colaborador premiado simula permanecer numa organização
criminosa da qual já fazia parte.
O agente encoberto ou “undercover” ou ainda agente policial disfarçado é o policial que, sem ordem
judicial, se disfarça, fazendo-se passar por outra pessoa, para colher informações sobre a infração penal.
Sobre o assunto, dispõe o art. 10-C, incluído pela Lei 13.864/2019:
“Não comete crime o policial que oculta a sua identidade para, por meio da internet, colher indícios de
autoria e materialidade dos crimes previstos no art. 1º desta Lei”.
Não se trata propriamente de uma infiltração, mas de uma ocultação voluntária da identidade.
O parágrafo único do art. 10-C, porém, numa imprecisão técnica, também se refere à hipótese como
sendo infiltração, dispondo que:
“O agente policial infiltrado que deixar de observar a estrita finalidade da investigação responderá pelos
excessos praticados”.
Convém distinguir o instituto em análise da infiltração propriamente dita.
Na infiltração exige-se prévia autorização judicial para que o agente policial infiltrado passe a se
comportar como se fosse um dos membros da organização criminosa, sendo a sua identidade
obrigatoriamente substituída por outra.
O agente encoberto, por sua vez, se limita a ocultar voluntariamente a sua identidade, sem ordem
judicial, mas o fingimento não pode chegar ao ponto de se comportar como se fosse um dos membros da
organização criminosa.
Ambos os institutos são previstos para colher indícios de autoria e materialidade dos crimes previstos
no art. 1º desta Lei”.
O agente policial disfarçado também é previsto no art. 190-A do ECA, nos seguintes termos:
“Não comete crime o policial que oculta a sua identidade para, por meio da internet, colher indícios de
autoria e materialidade dos crimes previstos nos arts. 240 , 241 , 241-A , 241-B ,241-C e 241-D desta Lei e
nos arts. 154-A , 217-A , 218 , 218-A e 218-B do Código Penal”.
A infiltração pode ser física ou virtual.
O agente encoberto, por sua vez, só pode ocultar a sua identidade por meio da internet.
Em três hipótese, porém, admite-se que o agente policial oculte fisicamente a sua identidade:
a) simular a compra ou aquisição de drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à
preparação de drogas, quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente
(art. 33, §1º, V, da Lei 11.343/2.006);
b) simular a compra ou aquisição de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em
desacordo com a determinação legal ou regulamentar, quando presentes elementos probatórios razoáveis de
conduta criminal preexistente (§2º do art. 17 da Lei 10.826/2,003).
c) simular a compra ou aquisição de arma de fogo, acessório ou munição, em operação de importação,
sem autorização da autoridade competente, quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta
criminal preexistente (parágrafo único do art. 18 da Lei 10.826/2.0003).
Nas três hipóteses acima, o agente policial só poderá simular a compra ou aquisição de drogas ou armas
de fogo quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente.
Duração da infiltração
A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de eventuais renovações,
desde que comprovada sua necessidade (art. 10, § 3º).
Nada obsta que o juiz a autorize a por prazo inferior a 6 (seis) meses.
A renovação ou prorrogação é possível, mas não é automática, pois depende de decisão judicial
fundamentada acerca da necessidade da prorrogação.
Para que haja a prorrogação, não é necessário a apresentação do relatório da infiltração.
13
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Cada prorrogação pode ser autorizada pelo prazo máximo de até seis meses.
A decisão que autoriza a prorrogação deve ser prolatada antes do vencimento do prazo anterior
Vencido o prazo sem que tenha ocorrido a prorrogação, a prova colhida no período descoberto será
nula, ainda que posteriormente sobrevenha a decisão judicial autorizando a prorrogação.
Na infiltração física, a prorrogação pode ser renovada, sem limite ao número de vezes, desde que
comprovada a sua necessidade.
No tocante à infiltração virtual, porém, as sucessivas prorrogações têm um limite, não podendo
ultrapassar o prazo máximo de 720 (setecentos e vinte) dias.
Relatório Circunstanciado
É perfeitamente possível que, diante da situação de flagrante comunicada pelo agente infiltrado aos
policiais que realizam o monitoramento da operação, seja deliberada a postergação da prisão em flagrante,
com vistas à colheita de outros elementos probatórios
Procedimento
13
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Sustação da operação
Havendo indícios seguros de que o agente infiltrado sofre risco iminente, a operação será sustada
mediante requisição do Ministério Público ou pelo delegado de polícia, dando-se imediata ciência ao
Ministério Público e à autoridade judicial (§3º do art. 12);
Vê-se assim tanto a autoridade policial quanto o Ministério Público, independentemente de ordem
judicial, obrigatoriamente deverão sustar a infiltração, quando houver indícios seguros de que o agente
infiltrado sofre risco iminente.
A sustação pela autoridade policial deverá ser comunicada ao Ministério Público e ao juiz.
A sustação pelo Ministério Público deverá ser comunicada ao juiz.
Por fim, a infiltração ainda pode ser cessada pelo próprio agente infiltrado (art. 14, I). Nesse caso, ainda
que não lhe haja risco iminente, o infiltrado poderá fazer cessar a infiltração, pois se trata de um direito
potestativo.
Se, no período da infiltração, o agente policial infiltrado praticar algum crime, por exemplo, venda de
drogas, a sua culpabilidade só será excluída se inexigível uma conduta diversa.
A inexigibilidade de conduta diversa se verifica quando a recusa à prática do delito puder comprometer
a finalidade das investigações
É claro que ele responderá pelos excessos representados pelos crimes que se revelarem
desproporcionais à finalidade das investigações.
De fato, reza o art. 13:
“O agente que não guardar, em sua atuação, a devida proporcionalidade com a finalidade da
13
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Nos crimes de organização criminosa e demais abrangidos pela lei 12.850/2.013, alguns sigilos podem
ser quebrados pelo delegado de polícia e Ministério Público, independentemente de ordem judicial. São os
seguintes:
a) dados de cadastros pessoais do investigado, mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas telefônicas,
instituições financeiras, provedores de internet e administradores de cartão de crédito (art. 15).
Os dados de cadastro pessoais são os que versam sobre a qualificação pessoal, filiação e endereço. A
qualificação pessoal compreende o nome, estado civil, nacionalidade, naturalidade, RG, CPF e profissão.
Quanto aos dados de cadastros não pessoais, a requisição dependerá de ordem judicial.
O citado art. 15 só se refere aos dados de cadastros pessoais do investigado, silenciando sobre os da
vítima que, entretanto, também poderão ser requisitados pela autoridade policial ou Ministério Público, em
relação aos delitos previstos no art. 13-A do CPP.
Aliás, se nos delitos do art. 13-A do CPP a requisição pode versar sobre os cadastros pessoais da vítima,
o mesmo tratamento, por interceptação extensiva, também deve ser dispensado às organizações criminosas
e aos delitos por ela praticados.
O art. 15 em análise se refere apenas cadastros pessoais do investigado, mantidos pela Justiça Eleitoral,
empresas telefônicas, instituições financeiras, provedores de internet e administradores de cartão de crédito,
surgindo então discussão se o rol seria exemplificativo, podendo se estender a quaisquer órgãos do poder
público e às empresas da iniciativa privada, ou se deveria ser interpretado como sendo taxativo.
Mais uma vez, é possível se aplicar, por interpretação extensiva, o art. 13-A do CPP, que admite a aludida
requisição a quaisquer órgãos do poder público e às empresas da iniciativa privada.
b) informações sobre os dados de reservas e registros de viagens dos últimos 5 (cinco) anos que constam
nos bancos de dados das empresas de transporte (art. 16). Aqui a lei faculta o acesso à informação sobre
qualquer pessoa, e não apenas do investigado, desde que o fato seja do interesse das investigações.
O transporte pode ser aéreo, marítimo e terrestre. Abrange tanto o transporte de carga quanto o de
passageiros.
Nas duas hipóteses acima, previstas nos arts. 15 e 16, a possibilidade de quebra do sigilo sem ordem
judicial, para uns, é inconstitucional, por violação do direito à intimidade, mas a jurisprudência tem
considerado válida, pois o que se encontra sob reserva de jurisdição, nos termos do art. 5º, XII, da CF, é o
sigilo das comunicações, que recai sobre o conteúdo dos dados, e não o sigilo dos dados em si.
Afinal, os dados permanecem armazenados e, dessa forma, são do conhecimento das pessoas jurídicas
que os armazenam, razão pela qual não seria coerente se exigir ordem judicial para que a autoridade policial
e o Ministério Público tivessem acesso a eles.
Por outro lado, o art. 17 dispõe que:
“As concessionárias de telefonia fixa ou móvel manterão, pelo prazo de 5 (cinco) anos, à disposição das
autoridades mencionadas no art. 15, registros de identificação dos números dos terminais de origem e de
destino das ligações telefônicas internacionais, interurbanas e locais”.
A expressão contida no citado art. 17, “manterão, pelo prazo de 5 (cinco) anos, à disposição das
autoridades mencionadas no art. 15”, é de uma clareza cristalina de que o acesso aos registros de identificação
dos números dos terminais de origem e de destino das ligações telefônicas podem ser requisitados
diretamente pela autoridade policial e Ministério Público, prescindindo-se de ordem judicial.
A hipótese, entretanto, para alguns autores, se afigura inconstitucional, por violação do art. 5º, XII, da
13
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
CF, que assegura o sigilo das comunicações telefônicas, pois os números dos telefones não se inserem no
conceito de cadastros pessoais.
Os que assim pensam exigem ordem judicial para se ter acesso aos números dos telefones utilizados
pelos interlocutores.
Acerca do afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, o art. 3º, VI, preceitua que deve ser
feito nos termos da legislação específica.
O pleno do STF já decidiu, porém, que a Receita Federal não pode transmitir diretamente ao Ministério
Público as informações sobre o contribuinte, sem prévia autorização judicial.
Igualmente, às instituições financeiras e administradoras de cartões de créditos, não podem prestar
informações acerca da data de abertura da conta corrente ou solicitação de cartão de crédito e muito menos
sobre o conteúdo das operações realizadas.
Quanto às informações sobre os dados cadastrais pessoais (qualificação pessoal, endereço e filiação),
devem ser fornecidos pela Receita Federal, bem como por instituições financeiras e de cartão de crédito,
mediante requisição da autoridade policial ou do Ministério Público, por força do art. 15, sem necessidade de
ordem judicial.
No tocante à Receita Federal, o plenário do STF proferiu duas decisões importantes:
a) ela pode requisitar diretamente das instituições financeiras os dados das operações bancárias do
contribuinte, porquanto não há quebra, mas, sim, transferência do sigilo dos bancos ao Fisco.
b) ela não pode transferir as informações acima à autoridade policial ou ao Ministério Público, sem
prévia autorização judicial.
Assim, o Ministério Público não pode requisitar diretamente documentos fiscais e bancários sigilosos
diretamente do Fisco ou das Instituições Financeiras (Informativo 482 - STJ).
Conceito
Nomenclatura
Críticas
13
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A colaboração premiada se baseia na traição e, por isso, é alvo de críticas por alguns doutrinadores, que
a acoimam de ferir a ética, rotulando-a de extorsão premiada.
O certo, porém, é que a ética dos criminosos não merece a proteção legal, pois, acima dela, se encontra
o interesse social em se desvendar a prática da infração penal.
Outra crítica é que o colaborador recebe benefícios que não condizem com o crime que cometeu,
ferindo o ideal da pena justa.
De fato, sob a ótica individual, o argumento acima é inquestionável, mas a verdade é que as vantagens
trazidas pela colaboração premiada atendem à utilidade e interesse público, como, por exemplo, o
desmantelamento de uma organização criminosa ou o repatriamento de milhões de reais desviados dos
cofres públicos, compensando-se, destarte, injustiça individual.
A lei não esclarece se o benefício se aplicaria apenas ao crime de organização criminosa, nos termos da
corrente restritiva, ou se estenderia também aos delitos praticados pelo colaborador, enquanto integrante
dessa organização criminosa, conforme defende a corrente extensiva.
Prevalece a corrente extensiva, caso contrário não haveria estímulo para a celebração do acordo e o
instituto estaria fadado ao insucesso.
Quanto ao agente que participou do delito praticado pela organização criminosa, mas que não integra a
organização, não poderá celebrar o acordo de colaboração premiada.
Partes
Natureza jurídica
O acordo de colaboração premiada é negócio jurídico processual e meio de obtenção de prova, que
pressupõe utilidade e interesse públicos (art. 3º-A).
Reveste-se assim da seguinte natureza jurídica:
a) meio de obtenção de prova;
b) negócio jurídico processual.
Malgrado o silêncio da lei, também é um meio de defesa, pois colaborador, sempre acompanhado de
advogado ou defensor, aufere benefícios que dificilmente conseguiria se não tivesse se aliado ao órgão
acusatório.
13
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Os negócios jurídicos processuais são os aqueles cuja vontade humana tem o poder decidir tanto sobre
sua prática quanto em relação aos efeitos que se produzirão.
É, pois, necessário se analisar as duas faces do negócio jurídico processual:
a) a voluntariedade;
b) os seus efeitos.
O acordo de colaboração premiada é um negócio jurídico processual bilateral, pois depende do acordo
entre as partes.
Voluntariedade
A voluntariedade é a livre manifestação da vontade para se decidir sobre a prática ou não do negócio
jurídico processual.
É violada quando o agente realiza a colaboração por erro, dolo ou coação.
O fato de o colaborador se encontrar preso preventivamente não retira a voluntariedade do acordo,
pois a prisão não configura coação.
Quanto à espontaneidade, que é o fato de a inciativa de realizar o acordo emanar do colaborador, não
é exigida.
Nada obsta, destarte, que tenha sido convencido a colaborar por iniciativa do seu advogado, mulher,
filhos, parentes e amigos, de tal sorte que a colaboração voluntária pode ser espontânea ou não espontânea.
Os motivos da colaboração são irrelevantes, podendo ela ser oriunda de medo, arrependimento,
interesse em obter os prêmios, etc.
Conquanto não seja vedado expressamente que o representante do Ministério Público tome a iniciativa
de convencer o investigado ou acusado a ser um colaborador, recomenda-se uma postura passiva, a fim de
que a voluntariedade não seja comprometida pela eventual alegação de temor reverencial.
Efeitos
Os efeitos, que cada parte visa obter com o acordo de colaboração premiada, são de duas categorias:
a) os resultados almejados pelo órgão celebrante;
b) os benefícios penais ou prêmios almejados pelo colaborador.
Tanto os resultados quanto os prêmios, devem constar no acordo de colaboração premiada.
A obtenção dos prêmios está condicionada à eficácia da colaboração em relação aos resultados
constantes do acordo.
Resultados da colaboração
No acordo de colaboração premiada, o colaborador deve cooperar para a produção de um ou mais dos
seguintes resultados:
a) identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por
eles praticadas.
Trata-se da delação premiada, também conhecida como chamamento de correu.
É mister, para fazer jus ao benefício, que essa colaboração, identifique todos os demais coautores e
partícipes da organização criminosa e todas as infrações penais por eles praticadas, que sejam do
conhecimento do delator.
Não há necessidade de se delatar infrações penais que não foram praticadas pela organização
13
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
criminosa.
d) a recuperação total ou parcial do produto ou proveito das infrações penais praticadas pela
organização criminosa.
Trata-se da chamada colaboração premiada recuperadora.
Nesse caso, também não há necessidade de se delatar os comparsas e, sim, de colaborar para a
recuperação do proveito do crime.
Prêmios legais
Os prêmios são os benefícios penais que podem ser estipulados em favor do colaborador.
A colaboração premiada poderá ensejar ao colaborador os seguintes prêmios:
a) perdão judicial;
b) causa de redução da pena privativa de liberdade em até 2/3 (dois terços);
c) substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos;
d) não oferecimento da denúncia;
e) progressão de regime ou redução da pena até a metade, quando o acordo houver sido celebrado
após a sentença.
13
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
colaboração.
A gravidade abstrata do delito, na verdade, não é óbice para o acordo, mas a gravidade concreta pode
servir de fundamento para a sua não homologação pelo juiz.
A lei não impõe como requisito do acordo a primariedade do agente.
Perdão judicial
O perdão judicial é uma causa de extinção da punibilidade concedida pelo juiz, na sentença, nos casos
previstos em lei.
Uma das hipóteses legais de concessão do perdão judicial é o acordo de colaboração premiada,
qualquer que seja o delito praticado pela organização criminosa, ainda que hediondo ou equiparado, pois o
texto legal não faz qualquer restrição.
Acerca do aditamento do acordo, considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério
Público, a qualquer tempo, e o delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação do
Ministério Público, poderão requerer ou representar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador,
ainda que esse benefício não tenha sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do
CPP (§2º do art. 4º).
Em havendo acordo de colaboração premiada, é dever do magistrado, de ofício, ao proferir a sentença,
analisar se o colaborador faz ou não jus ao perdão judicial, ainda que o aludido benefício não esteja previsto
no acordo (art. 4, §2º, da Lei 12.850/2013).
O acordo pode prever uma causa de redução da pena privativa de liberdade em até 2/3 (dois terços).
Note-se que o percentual mínimo dessa redução não é fixado pela lei, mas deve ser interpretado como
sendo de 1/6 (um sexto).
Se a colaboração for posterior à sentença, a pena poderá ser reduzida somente até a metade (§5º do
art. 4º).
O STF decidiu que é possível a incidência simultânea da confissão, como atenuante genérica (art. 65, I,
“d”, do CP), na segunda fase da aplicação da pena, e da causa de redução de pena em análise, na terceira fase,
oriunda da colaboração premiada, pois são dois institutos diferentes e, por isso, não há falar-se em “bis in
idem”.
De fato, embora a colaboração premiada pressuponha sempre uma confissão, o certo é que ela vai
além, à medida que o colaborador também se propõe a fornecer os meios de prova para o êxito da persecução
penal, de tal sorte que são dois institutos distintos.
O acordo também pode estipular a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva de
direitos.
Esta substituição poderá ocorrer ainda que não estejam presentes os requisitos do art. 44 do CP, caso
contrário a previsão teria sido inócua, pois as infrações penais praticadas pela organização criminosa, que se
submetem à Lei 12.850/2013, devem ter pena superior a 4 (quatro) anos, salvo as de caráter transnacional.
A lei não prevê a substituição por simples pena de multa.
Não oferecimento da denúncia
O acordo pode estipular o não oferecimento da denúncia, que é uma espécie de imunidade penal.
Trata-se do chamado acordo de leniência, também chamado de acordo de brandura ou doçura, que é
uma causa de exclusão do processo, caracterizada pelo fato de o Ministério Público deixar de oferecer a
denúncia.
Este benefício, que é o maior de todos, representa uma exceção ao princípio da obrigatoriedade da ação
14
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O §7º art. 4º, introduzido pela Lei 13.964/2019, obriga o juiz a examinar a adequação dos benefícios
pactuados àqueles previstos na Lei 12.850/2013.
Vê-se assim que os prêmios, que podem figurar no acordo de colaboração premiada, são somente
aqueles previstos expressamente na Lei 12.850/2013.
Por consequência, no que tange aos possíveis prêmios, o acordo não poderá afastar as normas cogentes
previstas pelo direito penal e direito processual penal, sob pena de violação do princípio da legalidade.
Antes da alteração trazida pela Lei 13.964/2019, o Pleno do STF admitia que o acordo estipulasse
prêmios não previstos em lei. Exemplo: prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica. Outro exemplo:
substituição da pena privativa de liberdade por pena de multa. Mais um exemplo: redução da pena de multa.
Basicamente, eram dois os fundamentos:
a) o acordo de colaboração premiada é um negócio jurídico processual, cujas consequências podem
14
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Quanto ao acordo de execução antecipada da pena, em que o colaborador, após a sua homologação
judicial, já inicia desde logo o cumprimento da pena acordada, é um assunto polêmico.
Uma corrente assevera que é nulo, pois não se pode impor pena sem julgamento.
Outra, referendada pelo Supremo Tribunal Federal, o reputa válida, com base na liberdade, que deve
existir nos negócios jurídicos processuais.
A meu ver, desde que os prêmios e os resultados da colaboração sejam os previstos em lei, não visualizo
qualquer ilegalidade.
Com efeito, nenhum direito é absoluto, de modo que o princípio do devido processo legal e tantos
outros do direito penal e processual penal, previstos em benefício do acusado, podem ser dispensados quando
o seu afastamento lhe for favorável.
Progressão de regime
São também nulas, de acordo com o §7º do art. 4º, com redação que lhe foi dada pela lei 13.964/2019:
as cláusulas que violarem as normas legais de progressão de regime, salvo na hipótese do §5º do art. 4º que
admite, no caso de colaboração posterior à sentença a progressão de regime ainda que ausentes os requisitos
objetivos.
As normas de progressão de regimes também não podem ser afastadas, salvo no acordo celebrado após
a sentença.
Assim, o acordo celebrado após a sentença, poderá dispensar os requisitos objetivos da progressão, por
14
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
exemplo, a quantidade da pena cumprida, mas em hipótese alguma poderá afastar os requisitos subjetivos,
relacionados ao merecimento do condenado.
Momento da colaboração
Direitos do colaborador
14
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
assim a sua identidade terá que ser preservada, não restando outra opção que não a sua oitiva como
testemunha anônima, que não se confunde com a testemunha oculta.
A testemunha anônima não tem a sua qualificação revelada.
A testemunha oculta tem a sua qualificação revelada, mas não pode manter contado visual com os
demais corréus.
III - ser conduzido, em juízo, separadamente dos demais coautores e partícipes;
O objetivo da lei é preservar a sua integridade física e evitar constrangimentos.
IV - participar das audiências sem contato visual com os outros acusados.
No interrogatório do correu colaborador, os advogados dos corréus delatados poderão lhe formular
perguntas, pois o aludido interrogatório, em relação a eles, tem natureza de prova testemunhal.
Entretanto, os corréus delatados não poderão ingressar na audiência, durante o interrogatório do
colaborador, pois este fato implicaria na violação do direito de participar das audiências sem contato visual
com os outros acusados.
O colaborador em relação aos demais corréus será uma testemunha oculta, pois não poderá ser visto
por aqueles.
V - não ter sua identidade revelada pelos meios de comunicação, nem ser fotografado ou filmado, sem
sua prévia autorização por escrito;
A violação desta norma configura crime do art. 18, acima transcrito.
VI - cumprir pena ou prisão cautelar em estabelecimento penal diverso dos demais corréus ou
condenados.
A hipótese acima se refere tanto à prisão pena, oriunda de condenação penal transitada em julgado,
quanto à prisão cautelar.
Não se trata, porém, de uma prisão especial.
Proposta inicial
A proposta inicial, que é a declaração de Vontade para realizar o acordo de colaboração premiada, deve
emanar do investigado, acusado ou condenado.
A proposta inicial não pode emanar da autoridade policial nem do representante do Ministério Público,
mas, segundo uma corrente, eles poderão sugerir que o investigado ou acusado seja um colaborador,
mostrando-lhe os benefícios.
Outra corrente, porém, impõe uma postura absolutamente passiva do Ministério Público e da
autoridade policial, que não poderiam sequer sugerir ao investigado que optasse pela colaboração premiada.
A proposta pode ser assinada:
a) apenas pelo advogado do interessado, desde que munido de procuração com poderes especiais para
celebrar o referido acordo;
b) pessoalmente pelo interessado, assistido por seu advogado ou defensor público, que também
deverão assiná-la.
Convém ressalvar que nenhuma tratativa sobre colaboração premiada deve ser realizada sem a
14
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Recebimento da proposta
O recebimento da proposta, que é feito pela autoridade policial ou pelo representante do Ministério
Público, conforme a hipótese, produz os seguintes efeitos:
a) demarca o início das negociações, que visam à formalização do acordo de colaboração premiada.
b) constitui também marco de confidencialidade.
A autoridade celebrante, além de lavrar o termo de recebimento da proposta, deverá também lavrar o
termo de confidencialidade, que impõe o dever de sigilo.
As tratativas iniciais e o documento que a formaliza, até o levantamento de sigilo por decisão judicial,
não podem ser divulgados, sob pena de quebra da confiança e da boa-fé.
Os termos de recebimento de proposta de colaboração e de confidencialidade serão elaborados pela
autoridade celebrante e assinados por ela, pelo colaborador e pelo advogado ou defensor público.
c) impede o indeferimento posterior da proposta, sem justa causa.
O recebimento da proposta não obriga a autoridade celebrante a firmar o acordo de colaboração
premiada, mas a vincula a prosseguir com as tratativas.
Assim, em sendo recebida a proposta, o seu indeferimento posterior, com vistas à cessação das
tratativas, só poderá ocorrer se houver justa causa, por exemplo, continuidade da atividade criminosa.
O recebimento da proposta de colaboração ou o Termo de Confidencialidade não implica, por si só, na
suspensão da investigação, ressalvado acordo em contrário quanto à propositura de medidas processuais
penais cautelares e assecuratórias, bem como medidas processuais cíveis admitidas pela legislação processual
civil em vigor.
Assim, o recebimento da proposta não implica em suspensão das investigações, mas as partes podem
celebrar um acordo para suspender:
14
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
a) as medidas processuais penais cautelares. É o caso da prisão cautelar e das medidas cautelares
pessoais diversas da prisão.
b) as medidas assecuratórias (arresto, sequestro e hipoteca legal).
c) as medidas processuais cíveis admitidas pela legislação processual civil em vigor.
A suspensão das referidas medidas deverão ser submetidas à apreciação judicial, mas, como o
magistrado não pode atuar de ofício na fase investigatória, não lhe restará outro caminho que não seja o do
acolhimento da suspensão dessas medidas.
Negociações ou tratativas
Instrução
O acordo de colaboração premiada poderá ser precedido de instrução, quando houver necessidade de
identificação ou complementação de seu objeto, dos fatos narrados, sua definição jurídica, relevância,
utilidade e interesse público.
A fase instrutória é facultativa, pois o acordo pode ser celebrado sem ela.
Na fase instrutória, poderá a autoridade celebrante, malgrado o silêncio da lei, inquirir o colaborador,
testemunhas e peritos.
Acordo
14
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
conter:
I - o relato da colaboração e seus possíveis resultados. Exemplo: a colaboração deverá revelar a
estrutura hierárquica e a divisão de tarefas da organização criminosa. Não basta, destarte, declarações vagas
e genéricas.
II - as condições da proposta do Ministério Público ou do delegado de polícia. Exemplo: se o objetivo for
atingido, o colaborador terá a pena reduzida em dois terços, desde que não minta em juízo.
III - a declaração de aceitação do colaborador e de seu defensor;
IV - as assinaturas do representante do Ministério Público ou do delegado de polícia, do colaborador e
de seu defensor;
V - a especificação das medidas de proteção ao colaborador e à sua família, quando necessário. Estas
medidas de proteção, previstas na Lei 9.807/99, poderão ser utilizadas quando houver risco à vida ou à
integridade física do colaborador e de seus familiares.
É sempre conveniente reiterar que o juiz não assina nem participa do acordo.
14
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
em diligência para que as próprias partes corrijam o acordo nos tópicos que não encontram guarida legal, pois,
como se sabe, o juiz não pode participar do acordo.
A decisão judicial que homologa o acordo produz os seguintes efeitos:
a) o colaborador passa a ter o direito Público subjetivo de obtenção do benefício. Trata-se de um direito
condicionado ao cumprimento das condições. Antes da sua homologação, o acordo gera apenas uma
expectativa de direito. Com a homologação, nasce o direito condicional, que só se transmudará em direito
adquirido se houver o cumprimento integral do acordo.
b) o colaborador, na fase policial, não poderá ser ouvido pelo Delegado de Polícia ou membro do
Ministério Público, sem a presença do seu Defensor;
c) nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu defensor, ao direito ao
silêncio. Não se trata propriamente de uma renúncia ao direito de silêncio, que é indisponível, mas, sim, do
seu não exercício, tanto é que, frustrado acordo, as provas obtidas não poderão ser utilizadas contra
colaborador, surtindo, destarte, o mesmo efeito do direito ao silêncio.
d) O colaborador estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade. Caso falseie, não responderá
por crime de falso testemunho, pois não é testemunha, mas perderá o benefício previsto no acordo. No acordo
de exclusão do processo, porém, o colaborador não será réu e, portanto, responderá pelo crime de falso
testemunho.
e) na fase do inquérito policial, o advogado do colaborador só pode ter amplo acesso aos autos com
autorização judicial e, mesmo assim, apenas quanto aos atos já documentados, pois não terá qualquer acesso
em relação às diligências em andamento.
A súmula vinculante 14, que prevê ao advogado o acesso aos atos documentados do inquérito policial,
foi afastada, pois, a partir da homologação do acordo, o advogado, para ter amplo acesso aos atos já
documentados do inquérito policial, precisará de autorização judicial, mas em nenhuma hipótese terá acesso
às diligências em andamento.
Assim, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia, como
forma de garantir o êxito das investigações, assegurando-se ao defensor, no interesse do representado, amplo
acesso aos elementos de prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa, devidamente precedido
de autorização judicial, ressalvados os referentes às diligências em andamento.
f) o acordo de colaboração premiada e os depoimentos do colaborador serão mantidos em sigilo até o
recebimento da denúncia ou da queixa-crime. Antes disso, é vedado ao magistrado decidir por sua publicidade
em qualquer hipótese.
Por outro lado, são nulas de pleno direito as previsões de renúncia ao direito de impugnar a decisão
homologatória do acordo.
Assim, o fato de ter assinado o acordo não obsta que possa impugná-lo, recorrendo, por exemplo, da
sentença condenatória, com vistas à obtenção de benefícios maiores.
A impugnação do acordo não pode ser interpretada como “venire contra factum proprium”.
Convém, porém, registrar que os demais acusados não têm interesse em impugnar a existência nem o
conteúdo do acordo de colaboração premiada, que é um negócio jurídico processual personalíssimo, pois a
ampla defesa lhes é assegurada, mas poderão impugnar os depoimentos prestados pelo colaborador.
Execução do acordo
Após a homologação judicial, inicia-se a fase de execução do acordo de colaboração premiada, que
consiste no cumprimento pelo colaborador das condições que lhe foram estipuladas.
As provas da acusação devem ser juntadas pelo Ministério Público e não pelo colaborador, que se limita
a prestar as informações sobre os meios de obtê-las.
O colaborador, que cumpre as condições do acordo, prestando informações objetivas e eficazes, fará
jus ao benefício ainda que o delatado seja absolvido, pois a sua obrigação, em relação à condenação, é de
meio e não de resultado.
Aliás, o interesse pela condenação dos demais réus é do órgão acusatório e não do colaborador, pois
este não tem a natureza jurídica de assistente da acusação.
14
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A decisão judicial que homologa o acordo é prolatada sob condição suspensiva, pois só produzirá efeitos
se for confirmada na sentença.
Com efeito, a sentença apreciará os termos do acordo homologado anterior e sua eficácia.
Força convir, portanto, que o acordo, para surtir efeitos, exige duas decisões judiciais:
a) decisão homologatória;
b) confirmação da sua eficácia pela sentença.
Na sentença, o juiz, de forma fundamentada, pode declarar a ineficácia do acordo. Nesse caso, o
colaborador perderá o benefício, sendo que, no acordo de leniência (exclusão do processo), a denúncia poderá
ser então oferecida.
O acordo apenas prevê os possíveis benefícios, mas a definição concreta desses benefícios é função
exclusiva do juiz.
De fato, na sentença, após verificar o maior ou menor grau de eficácia da colaboração, o juiz fixará, na
medida adequada, os benefícios a que tem direito o colaborador.
Exegese diversa implicaria numa indevida e inconstitucional transferência do direito de punir ao
Ministério Público.
Em sendo, porém, cumprido totalmente o acordo, o magistrado, sob pena de ofensa ao princípio da
moralidade, deve fixar os benefícios estipulados no acordo.
O juiz ou o tribunal deve proceder à análise fundamentada na seguinte ordem:
a) do mérito da denúncia. Trata-se da materialidade e autoria. Ausente a materialidade ou autoria, ou,
em caso de dúvida, o colaborador será absolvido e, por consequência, o acordo nem será apreciado.
b) do perdão judicial. Em havendo acordo de colaboração premiada, o magistrado deverá analisar se é
ou não o caso de concessão do perdão judicial, ainda que não estipulado esse benefício.
c) das primeiras etapas de aplicação da pena. A pena privativa de liberdade é fixada em três fases: pena
base (primeira fase), agravantes e atenuantes (segunda fase) e causas de aumento ou diminuição de pena
(terceira fase).
d) concessão ou não dos benefícios pactuados.
A rescisão do acordo consiste na sua extinção por descumprimento das cláusulas pactuadas.
O acordo homologado poderá ser rescindido em caso de:
a) omissão dolosa sobre os fatos objeto da colaboração. Trata-se da reserva mental emanada do
colaborador, que oculta fatos criminosos, provas ou informações relacionadas com o objeto da colaboração.
b) o colaborador não cessar o envolvimento em conduta ilícita relacionada ao objeto da colaboração.
A rescisão do acordo depende de decisão judicial e gerará a perda do direito de obtenção dos prêmios
previstos no acordo.
Quanto às provas produzidas, em caso de rescisão, poderão ser utilizadas, inclusive, para incriminar o
próprio colaborador.
A lei é omissa sobre a rescisão do acordo pelo fato de o Ministério Público ter descumprido condições,
mas, nesse caso, a doutrina sugere que o colaborador terá a opção de cessar a colaboração, sem perder o
direito à obtenção dos prêmios acordados.
A rescisão, embora também dependa de decisão judicial, não se confunde com a não confirmação do
acordo pela sentença.
14
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Com efeito, o fundamento da rescisão é o ato ilícito praticado pelo colaborador, que oculta fatos
relevantes ou persiste na atividade criminosa relacionada com a colaboração.
O fundamento da não confirmação do acordo, por sua vez, é o descumprimento pelo colaborador das
condições fixadas no acordo, ou seja, a ineficácia da colaboração.
Retratação da proposta
15
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
criminosa.
A nulidade do acordo depende de decisão judicial.
Na anulação total do acordo, as provas produzidas e as derivadas serão ilícitas, por força da teoria dos
frutos da árvore contaminada.
Difere, nesse aspecto da rescisão, pois, nesse caso, as provas permanecem válidas.
Manifestações do acusado delatado
Em todas as fases do processo, deve-se garantir ao réu delatado a oportunidade de manifestar-se após
o decurso do prazo concedido ao réu que o delatou.
Trata-se de uma norma que visa preservar os princípios do contraditório e da ampla defesa.
Assim, o prazo para a apresentações dos memoriais, após o encerramento da instrução, não pode ser
simultâneo para os corréus, pois o delatado sempre deve se manifestar após o delator.
Aliás, a regra é válida para todas as fases processuais e não apenas para a apresentação dos memoriais.
Valor probatório das declarações do colaborador
O que é dito apenas pelo colaborador, por si só, não tem nenhum valor probatório, embora sirva para
a instauração do inquérito policial.
Assim, nenhuma das seguintes medidas será decretada ou proferida com fundamento apenas nas
declarações do colaborador:
I - medidas cautelares reais ou pessoais;
II - recebimento de denúncia ou queixa-crime;
III - sentença condenatória.
É, pois, necessário, para a relevância das declarações do colaborador, que haja outras provas
confirmando-as.
É assim essencial a chamada regra de corroboração, que é o fato de o conteúdo da colaboração
premiada ser confirmado por outros elementos probatórios.
Quanto à corroboração cruzada ou recíproca, que é a confirmação de uma delação por outra delação,
não é aceita pelo STF.
15
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Colaboração falsa
15
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
mas ele poderá responder por calúnia ou denunciação caluniosa, conforme a hipótese, nos termos dos arts.
138 e 339 do CP.
O bem jurídico protegido é a administração da justiça e também a honra da pessoa injustamente
caluniada.
O tipo penal prevê dois delitos. São eles:
a) imputação falsa da prática de infração penal a pessoa que sabe inocente.
A expressão infração penal abrange tanto os crimes quanto as contravenções.
A falsidade pode recair sobre o fato ou sobre a autoria.
Na primeira, o agente imputa a alguém uma infração penal que não ocorreu.
Na segunda, a infração penal ocorreu, mas não foi praticada pela pessoa a quem se imputou.
O delito em análise, que é uma espécie de calúnia, se caracteriza pela simples imputação falsa,
distinguindo-se do crime de denunciação caluniosa que, além da imputação falsa, ainda exige a instauração
de investigação policial, processo judicial, investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade
administrativa.
Se, porém, em razão da imputação falsa, sobrevier a instauração de um desses procedimentos, o delito
em análise será absorvido pela denunciação caluniosa, que é crime mais grave.
15
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Desobedecer requisições
15
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O descumprimento de requisição ilegal não caracteriza crime. Exemplo: gerente do banco se recusa a
fornecer os extratos bancários do investigado, requisitados pelo delegado de polícia ou pelo representante do
Ministério Público.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo direto ou eventual.
Quanto à culpa, por exemplo, esquecimento, não é punida.
A consumação ocorre quando o agente se abstém de responder ou então responde de forma
incompleta.
Não se admite a tentativa, pois o delito se revela omissivo próprio.
A ação penal é pública incondicionada.
CRIMES DE TRÂNSITO
(LEI 9.503/97)
ÂMBITO DE INCIDÊNCIA
O Código de Trânsito só regula a circulação de veículos nas vias terrestres, sejam elas urbanas ou rurais
(art. 1º).
Não se aplica os crimes do Código de Trânsito e, sim, os delitos do Código Penal, aos acidentes que
envolvem:
a) o tráfego marítimo: embarcações que circulam nas águas.
b) o tráfego aéreo: aeronaves que circulam pelo espaço aéreo.
c) o tráfego das vias férreas: veículos que circulam sobre os trilhos. Exemplos: trens, metrô, etc.
Há, pois, para a incidência dos crimes de trânsito, a necessidade de que haja o binômio: via terrestre e
veículo catalogado no Código de Trânsito Brasileiro.
VIAS TERRESTRES
São vias terrestres urbanas e rurais as ruas, as avenidas, os logradouros, os caminhos, as passagens, as
estradas e as rodovias, que terão seu uso regulamentado pelo órgão ou entidade com circunscrição sobre elas,
de acordo com as peculiaridades locais e as circunstâncias especiais (art. 2º).
São também consideradas vias terrestres as praias abertas à circulação pública e as vias internas
pertencentes aos condomínios constituídos por unidades autônomas e as vias e áreas de estacionamento de
estabelecimentos privados de uso coletivo (parágrafo único do art. 2º).
Vê-se assim que, em regra, os crimes de trânsito também podem ser cometidos em vias que não são
públicas. Exemplo: homicídio culposo numa rua de condomínio. Outro exemplo: lesão corporal culposa em
estrada particular localizada numa fazenda.
Há, entretanto, dois delitos que só podem ser cometidos em vias públicas. São eles: competição ou
15
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
exibição não autorizada (art. 308) e direção de veículo sem permissão ou habilitação (art. 309).
O art. 96 do CTB lista os veículos abrangidos pelo Código de Trânsito e, nesta lista, não se encontram as
embarcações, aeronaves e os que circulam sobre trilhos.
Ainda que o condutor de avião, ou trem provoque o acidente em via terrestre, por exemplo, a aeronave
pousa numa rua, matando culposamente alguém, aplica-se o homicídio culposo do Código Penal. Igualmente,
quando uma lancha ou jet ski atropela alguém numa praia.
De fato, o avião, o trem e a lancha não estão classificados no Código de Trânsito como veículos
automotores.
Não basta assim, para a incidência dos crimes de trânsito, que o delito seja praticado em via terrestre,
é preciso ainda que o condutor se encontre na direção de um dos veículos que figuram nesta lista do CTB.
Nesta lista, além dos veículos automotores, como carros, motos, tratores, caminhões, etc., também
consta os veículos de tração humana, como a bicicleta, e os de tração animal, como a charrete.
Em regra, os delitos do Código de Trânsito, porém, exigem que se trate de veículo automotor, de modo
que os outros veículos, como bicicletas e charretes, ganham importância apenas em relação às sanções
administrativas.
Alguns delitos, porém, se caracterizam ainda que o veículo não seja automotor, como é o caso das
bicicletas, ciclomotores, charrete e outros. São eles: omissão de socorro (art. 304), fuga do local do acidente
(art. 305) e velocidade incompatível ou excessiva (art. 311).
VEÍCULO AUTOMOTOR
Segundo o anexo I do CTB, “veículo automotor é todo veículo a motor de propulsão que circule por seus
próprios meios, e que serve normalmente para o transporte viário de pessoas e coisas, ou para a tração viária
de veículos utilizados para o transporte de pessoas e coisas. O termo compreende os veículos conectados a
uma linha elétrica e que não circulam sobre trilhos (ônibus elétrico)”.
Convém observar que o conceito faz referência ao motor de propulsão, que é o movimento criado a
partir de uma força impulsionadora, que não precisa ser necessariamente uma combustão, pois o conceito
não exige que o motor seja movido por um combustível.
Os veículos automotores, dentre outros, são os seguintes: automóvel, motocicleta, caminhão, trator,
caminhonete, ônibus, micro-ônibus e motoneta.
Quanto ao automóvel com motor elétrico ou à bateria, também se enquadra como veículo automotor,
pois neste conceito, conforme já dito, não se exige que o motor seja de combustão.
A equiparação do ônibus elétrico a veículo automotor foi necessária, pois ele circula graças a uma linha
elétrica, ao passo que o carro elétrico circula por seus próprios meios, enquadrando-se como veículo
automotor, independentemente de equiparação.
No tocante ao ciclomotor, o anexo I do CTB o define como sendo o veículo de duas ou três rodas, provido
de um motor de combustão interna, cuja cilindrada não exceda a cinquenta centímetros cúbicos (3,05
polegadas cúbicas) e cuja velocidade máxima de fabricação não exceda a cinquenta quilômetros por hora.
O ciclomotor exige quatro requisitos cumulativos:
a) motor de combustão;
b) que não exceda 50 (cinquenta) cilindradas;
c) que velocidade máxima de fabricação não exceda a 50 (cinquenta) quilômetros por hora;
d) veículo de duas ou três rodas.
Na doutrina, discute-se se o veículo ciclomotor é ou não equiparado ao veículo automotor.
Sobre o assunto, há duas correntes.
15
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Primeira, o ciclomotor é, sim, veículo automotor, pois tem propulsão que o permite circular por seus
próprios meios, servindo para o transporte viário de pessoas e coisas, enquadrando-se no conceito de veículo
automotor do anexo I do CTB.
Segunda, não é veículo automotor, pois a distinção foi estabelecida pelo próprio anexo I do CTB, sendo
vedada a analogia “in malam partem”. É a posição dominante.
O anexo I do CTB, ao definir o ciclomotor, não empregou o vocábulo “automotor”, mas este argumento
não é determinante, pois há no anexo I veículos automotores designados apenas de veículos, como ê o caso
das caminhonetes.
O fato de a legislação não exigir Carteira Nacional de Habilitação para a condução de ciclomotores
também não é um bom argumento para descaracterizá-lo como veículo automotor, pois, para dirigi-lo, exige-
se o documento de autorização, que é similar à carteira de habilitação.
Na verdade, o ciclomotor não se trata de veículo automotor pelo fato de o próprio anexo I do CTB ter
estabelecido a distinção.
Por consequência, o homicídio e lesão corporal culposos cometidos através de ciclomotor serão regidos
pelo Código Penal.
Quanto à bicicleta elétrica, não se enquadra como ciclomotor, pois este exige um motor de combustão,
por consequência, não é necessário autorização para dirigi-la.
Idêntico raciocínio se aplica ao patinete elétrico.
BEM JURÍDICO
Nos crimes de trânsito, o bem jurídico protegido, em todos eles, é a segurança viária, que tem natureza
difusa, supraindividual, pois a tutela é do interesse de toda a coletividade e, em função disso, revela-se
indisponível.
Cada crime de trânsito, entretanto, também tutela outro bem jurídico específico, que será examinado
mais adiante. No homicídio culposo, por exemplo, o bem jurídico protegido, além da segurança viária, é a vida
humana
Vê-se assim que os crimes de trânsito são pluriofensivos, porquanto ofendem mais de um bem jurídico.
SUJEITO PASSIVO
O sujeito passivo dos crimes de trânsito, além da vítima atingida diretamente pela conduta criminosa,
é toda a coletividade, titular do bem jurídico segurança viária.
SANÇÕES ADMINISTRATIVAS
O mesmo fato pode gerar sanção penal e sanção administrativa, sem que haja “bis in idem” nem
tampouco detração penal, pois as instâncias criminais e administrativas são autônomas e independentes.
Dessa forma, a pena de multa imposta pelo crime de trânsito não gera o abatimento da multa
administrativa, e vice-versa, oriunda do mesmo fato.
O Código de Trânsito, ao tratar dos crimes, prevê as disposições gerais nos arts. 291 a 301, para só
depois, a partir do art. 302 definir os crimes em espécie.
Passo agora à análise dessas normas gerais.
Aplicação subsidiária
As normas gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal são aplicadas subsidiariamente aquilo
que o Código de Trânsito não dispuser de modo diverso (art. 292). A Lei 9.099/95 também será aplicada
15
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
subsidiariamente aos crimes de trânsito, quando não houver conflito com as disposições específicas.
Assim, nos delitos de trânsito cuja pena máxima não excede a 2 (dois) anos, será instaurado Termo
Circunstanciado, em vez de Inquérito Policial, admitindo-se também a transação penal.
É claro que, por força do princípio da especialidade, no conflito entre as normas de diplomas distintos,
deverá prevalecer a norma específica do Código de Trânsito Brasileiro.
Assim, em relação ao delito de lesão corporal culposa, há algumas hipóteses de exclusão da transação
penal e outras regras específicas, que serão abordadas oportunamente.
PENA ACESSÓRIA
Conceito
O Código de Trânsito prevê também pena acessória, que é a imposta cumulativamente com a pena
privativa de liberdade ou com a pena restritiva de direitos substitutiva da privativa de liberdade.
Espécies
Duração
Início
A pena acessória só se inicia após o trânsito em julgado da condenação, com a entrega do documento
de permissão ou da carteira de habilitação.
Sobre a entrega do documento de permissão ou da carteira de habilitação, em regra, só deverá ser feita
após o trânsito em julgado da condenação, devendo o réu ser intimado a efetuar essa entrega ao juiz (§1º do
art. 293).
Entretanto, a pena acessória não se inicia enquanto o sentenciado estiver preso em estabelecimento
15
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Destinatários
Se o réu for reincidente em crimes de trânsito, o juiz obrigatoriamente lhe aplicará a pena acessória de
suspensão da permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor, além das demais penas previstas no
tipo penal (art. 296).
Vê-se assim que a aludida pena acessória para dirigir veículo automotor será necessariamente
aplicada ao réu que for reincidente em crimes de trânsito, pouco importa se a reincidência é em crime doloso
ou culposo.
É, pois, necessário, para que haja a aplicação desta pena, que os delitos geradores da reincidência
estejam previstos no Código de Trânsito Brasileiro.
Abre-se exceção aos crimes de trânsito em que o preceito secundário prevê como pena a proibição ou
suspensão para se obter a permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor, pois, nesse caso, a aludida
pena acessória será aplicada cumulativamente com a pena privativa de liberdade, independentemente de o
réu ser reincidente em crimes de trânsito.
Os delitos que preveem abstratamente a referida pena acessória são os seguintes:
a) homicídio culposo (art. 302);
b) lesão culposa (art. 303);
c) embriaguez ao volante (art. 306);
d) participação em competição ou exibição não autorizada (art. 308).
Convém acrescentar que não há qualquer inconstitucionalidade em se aplicar ao motorista profissional
a pena acessória de suspensão da carteira de habilitação, porquanto à liberdade de trabalho não é um direito
absoluto, assim como os demais direitos, podendo sofrer restrições oriundas de normas de ordem pública.
A propósito, o STJ firmou a seguinte tese:
“O fato de a infração ao art. 302 do Código de Trânsito Brasileiro – CTB ter sido praticada por motorista
profissional não conduz à substituição da pena acessória de suspensão do direito de dirigir por outra
reprimenda, pois é justamente de tal categoria que se espera maior cuidado e responsabilidade no trânsito“.
Forma de aplicação
A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor pode
ser imposta isolada ou cumulativamente com outras penalidades (art. 292).
Na verdade, a aludida pena, por falta de previsão legal, nunca será aplicada isoladamente, mas sempre
cumulativamente com outra pena.
A pena acessória de suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo
automotor não tem caráter substitutivo da pena privativa de liberdade.
É, pois, uma sanção cumulativa e não alternativa.
Não há assim, como se vê, a possibilidade de esta pena substituir a pena privativa de liberdade, estando,
pois, derrogado o art. 47, III, do CP, que subsiste apenas em relação à autorização para dirigir veículos, que é
diferente da permissão e habilitação.
Esta autorização, a que se refere o art. 47, III, do CP, é necessária para veículos ciclomotores, isto é, com
menos de 50 (cinquenta) cilindradas.
Em tal situação, salvo nos delitos dos arts. 304, 305 e 311, não é aplicável o Código de Trânsito e, sim, o
Código Penal, sendo perfeitamente possível a substituição da pena privativa de liberdade pela pena de
suspensão da autorização para dirigir veículo.
15
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Em qualquer fase da investigação ou da ação penal, havendo necessidade para a garantia da ordem
pública, poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público ou ainda
mediante representação da autoridade policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou
da habilitação para dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção (art.294).
Creio que a possibilidade de concessão de ofício pelo juiz viola o sistema acusatório e o princípio da
imparcialidade do magistrado e, diante da inconstitucionalidade, não pode ser aceita.
Da decisão que deferir ou indeferir esta medida cautelar, é cabível o recurso em sentido estrito, sem
efeito suspensivo.
Se, porém, o pedido houver sido formulado pelo delegado de polícia, mediante representação, o
parágrafo único do art. 294, em caso de indeferimento, não prevê nenhum recurso.
A imposição em caráter cautelar não tem natureza de pena acessória, mas, sim, de medida cautelar
pessoal diversa da prisão, mas, por analogia “in bonam partem” ao art. 42 do CP, impõe-se a detração penal
em relação à pena acessória.
De fato, a pena não se inicia antes do trânsito em julgado da condenação, em razão do princípio da
presunção da inocência.
A imposição da suspensão do direito de dirigir veículo automotor, segundo o STJ, não tem o condão, de,
por si só, caracterizar ofensa ou ameaça à liberdade de locomoção do paciente, razão pela qual não é cabível
o manejo do habeas corpus. Assim, caso a decisão cautelar, ou a sentença que impôs a pena acessória, seja
manifestamente ilegal, o remédio cabível será o mandado de segurança.
A suspensão para dirigir veículo automotor ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação será
sempre comunicada pela autoridade judiciária ao Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, e ao órgão de
trânsito do Estado em que o indiciado ou réu for domiciliado ou residente (art. 295).
Estas comunicações devem ser feitas quer a aplicação tenha sido como medida cautelar ou como pena
acessória.
MULTA REPARATÓRIA
Conceito
A multa reparatória consiste no pagamento, mediante depósito judicial, em favor da vítima, ou de seus
sucessores, de quantia em dinheiro, sempre que houver prejuízo material resultante do crime.
Natureza jurídica
Quanto à sua natureza jurídica, não se trata de pena, mas, sim, de um efeito secundário específico da
condenação, pois exige motivação expressa na sentença.
Não se trata, portanto, de efeito automático da condenação.
Execução
À medida que não é pena, a sua execução deve ser feita pela vítima, e não pelo Ministério Público, no
juízo cível.
Valor
16
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A multa reparatória não poderá ser superior ao valor do prejuízo demonstrado no processo.
É, pois, aplicável a todos os crimes de trânsito em que houver dano material.
De acordo com a jurisprudência, ela pode ser imposta de ofício pelo juiz.
A meu ver, a imposição de ofício deve ser vedada, pois viola o princípio da inércia da jurisdição e o
sistema acusatório, além de representar uma decisão surpresa, que atenta contra os princípios do
contraditório e da ampla defesa.
Esta multa, na verdade, é uma indenização, tendo, pois, natureza civil, e, por isso, só é devida quando
houver danos materiais (econômicos) e o seu valor não pode ultrapassar o valor dos prejuízos, sob pena de
enriquecimento sem causa, respeitado o limite máximo previsto para a multa penal.
De fato, nos termos do processo.
O §2º do art. 297, aplica-se à multa reparatória o disposto nos arts. 50 a 52 do Código Penal.
Assim, o valor desta multa é igual ao da multa penal, isto é, varia de 10 (dez) a 360 (trezentos e sessenta)
dias – multa, sendo que cada dia-multa pode ser de 1/30 (um trigésimo) até 5 (cinco) vezes o valor do salário
mínimo.
Note-se que enquanto a multa penal é revertida em favor do Fundo Penitenciário Nacional, a multa
reparatória destina-se à vítima ou seus sucessores.
A multa penal, ao contrário da multa reparatória, é aplicada ainda que o delito não tenha causado
prejuízo material.
Cumpre ainda observar a distinção entre a multa reparatória e a pena de prestação pecuniária, prevista
no Código Penal.
A multa reparatória não substitui a pena privativa de liberdade.
A pena prestação pecuniária é aplicada em substituição à pena privativa de liberdade.
A multa reparatória não é pena, mas uma medida de caráter civil, tendo, pois, a natureza de efeito
extrapenal específico da condenação.
A prestação pecuniária, por sua vez, é uma das espécies de pena restritiva de direitos.
A multa reparatória, entretanto, não poderá ser imposta cumulativamente com a pena de prestação
pecuniária, pois a única pena restritiva de direitos cabível nos crimes de trânsito é a de prestação de serviços
à comunidade ou à entidades públicas.
Nos crimes definidos no Código de Trânsito, nos casos em que o juiz substituir privativa de liberdade
por restritiva de direitos, esta somente poderá consistir na prestação de serviço à comunidade ou às entidades
públicas. Não poderá, destarte, substituir a pena privativa de liberdade por outra modalidade de pena
restritiva de direitos.
Vê-se assim que, nos crimes de trânsito, a única pena restritiva de direitos que é cabível é a de prestação
de serviço à comunidade ou às entidades públicas.
Nas condenações superiores a 1 (um ano), o 2o do art. 44 do CP, prevê que a pena privativa de
liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos.
Entretanto, neste caso, nos crimes de trânsito, a substituição será por uma pena restritiva de direitos e
multa, nos termos do art. 12 do CP, pois a aplicação de duas restritivas de direitos geraria a imposição, em
relação a uma delas, de uma pena restritiva de direitos diversa da prestação de serviços à comunidade ou às
entidades públicas, em flagrante violação ao art. 312-A do CTB.
Nos crimes de trânsito, a pena de prestação de serviço à comunidade ou às entidades públicas deverá
16
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
consistir em tarefas gratuitas relacionadas com atendimento e recuperação às vítimas de acidente de trânsito.
Com efeito, dispõe o art. 312-A do CTB, que foi introduzido pela lei 13.281/2016:
“Para os crimes relacionados nos arts. 302 a 312 deste Código, nas situações em que o juiz aplicar a
substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos, esta deverá ser de prestação de
serviço à comunidade ou a entidades públicas, em uma das seguintes atividades:
I - trabalho, aos fins de semana, em equipes de resgate dos corpos de bombeiros e em outras unidades
móveis especializadas no atendimento a vítimas de trânsito;
II - trabalho em unidades de pronto-socorro de hospitais da rede pública que recebem vítimas de
acidente de trânsito e politraumatizados;
III - trabalho em clínicas ou instituições especializadas na recuperação de acidentados de trânsito;
IV - outras atividades relacionadas ao resgate, atendimento e recuperação de vítimas de acidentes de
trânsito.”
O condutor condenado por delito de trânsito deverá ser submetido a novos exames para que possa
voltar a dirigir, de acordo com as normas estabelecidas pelo CONTRAN, independentemente do
reconhecimento da prescrição, em face da pena concretizada na sentença (art. 160).
Assim, em caso de condenação, em qualquer crime de trânsito, haverá este efeito extrapenal, que
consiste na necessidade de novos exames para que se possa voltar a dirigir.
Trata-se de um efeito automático da condenação, pois independe de menção expressa na sentença.
Caso ocorra a prescrição em face da pena concreta, o art. 160 ressalva a persistência deste efeito.
O art. 160, porém, só poderá ser aplicado em relação à prescrição executória, que se verifica após o
trânsito em julgado da condenação.
Quanto às prescrições retroativas e supervenientes, que também se baseiam na pena concreta, não
geram este efeito.
De fato, estas duas prescrições ocorrem antes do trânsito em julgado da condenação. Por consequência,
impedem que a condenação transite em julgado e, ausente o trânsito em julgado da condenação, o princípio
que prevalece é o da presunção da inocência.
Na fixação da pena-base dos crimes de trânsito, há uma hierarquia entre as circunstâncias judiciais, pois
a culpabilidade, as circunstâncias e as consequências do crime devem merecer uma especial atenção do
julgador.
Noutras palavras, o magistrado deve conferir a estas três circunstâncias um peso maior que as demais
circunstâncias judiciais do art. 59 do CP.
Assim, de acordo com o §4º do art. 291 do CTB, o juiz fixará a pena-base segundo as diretrizes previstas
no art. 59 do Código Penal, dando especial atenção:
a) à culpabilidade do agente;
b) às circunstâncias;
c) às consequências do crime.
O caráter preponderante, conforme a hipótese, pode beneficiar ou prejudicar o réu.
As outras circunstâncias judiciais do art. 59 do CP, conquanto não preponderantes, também deverão
ser levadas em conta.
Agravantes específicas
O art. 298 prevê o rol das agravantes obrigatórias da pena, que incidem na segunda fase da aplicação
da pena, aplicáveis a todos crimes de trânsito, dolosos ou culposos.
Ao lado da reincidência, são as únicas agravantes do sistema penal que também incidem sobre os delitos
16
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
culposos.
Ressalte-se que, além dessas agravantes específicas, ainda se impõe, aos crimes dolosos de trânsito, por
força do art. 12 do CP, as agravantes dos arts. 61 e 62 do CP, que, no entanto, não se aplicam aos crimes
culposos, salvo a agravante da reincidência, esta, sim, incide sobre todos os delitos, dolosos ou culposos.
Claro que essas agravantes não são aplicáveis quando já integrarem o delito como elementar,
qualificadora ou causa de aumento de pena.
As agravantes dos incisos III, V (no transporte de passageiros) e VII do art. 298, por exemplo, não são
aplicáveis ao homicídio ou lesão culposos, pois, nesses delitos, elas já figuram como causas de aumento de
pena.
De acordo com o art. 298 do CTB, são circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos crimes de
trânsito ter o condutor do veículo cometido a infração:
I – com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de grave dano patrimonial a
terceiros;
Dano potencial significa perigo, ou seja, a probabilidade concreta do dano.
Há, a rigor, duas agravantes neste inciso I:
a) dano potencial para duas ou mais pessoas.
Nos crimes em que o perigo concreto à vida, saúde ou integridade física e psíquica já funciona como
elemento do tipo não há falar-se na incidência da aludida agravante, sob pena de “bis in idem”.
A aludida agravante, no tocante ao homicídio ou lesão culposos, só é aplicável quando outras duas ou
mais pessoas não se lesionaram, mas sofreram perigo de lesão ou de morte. Se, por exemplo, por culpa do
motorista, duas ou mais pessoas morrem ou sofrem lesão corporal, não incide a aludida agravante, pois já
haverá concurso formal entre os crimes (art. 70 do CP).
b) grande risco de grave dano patrimonial a terceiros.
Aqui, não basta, para a incidência da agravante, um perigo patrimonial, mas, sim, um grande perigo,
que se caracteriza pelo fato de o perigo quase ter se convertido em dano.
Além disso, ainda é necessário o perigo de um dano patrimonial grave a terceiros, ou seja, ao patrimônio
de duas ou mais pessoas, não se computando a vítima.
O dano patrimonial grave é o de grande valor, tomando-se por base a situação econômica dos terceiros
que foram expostos ao perigo.
16
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
V - quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o transporte de passageiros ou de
carga.
A hipótese abrange os seguintes exemplos: taxista, motorista de empresa, motorista particular,
motorista de caminhão, motorista de ônibus, motorista de vã escolar, etc.
No tocante ao homicídio e lesão culposos, a agravante só é aplicável quando se tratar de veículo de
transporte de carga, pois, no tocante ao transporte de passageiros, exclui-se a agravante pelo fato de ela já
funcionar como causa de aumento de pena.
Se, por ocasião do delito, o agente não desempenhava a profissão nem a atividade, não há falar-se na
agravante. Exemplo: motorista de ônibus provoca acidente quando dirigia o seu carro.
VI - utilizando veículo em que tenham sido adulterados equipamentos ou características que afetem a
sua segurança ou o seu funcionamento de acordo com os limites de velocidade prescritos nas especificações
do fabricante;
Não é qualquer alteração no veículo que faz incidir a agravante em análise, mas apenas a que afeta a
sua segurança, outrossim, o seu funcionamento em relação ao limite da velocidade especificada pelo
fabricante.
Não incide, por exemplo, a agravante quando a alteração da suspensão tornar o veículo ainda mais
seguro.
No tocante à alteração dos limites da velocidade, o texto legal não faz distinção se é para aumentá-la
ou reduzi-la, mas, a meu ver, não deve incidir a agravante quando o agente altera o funcionamento do motor
com vistas à redução de sua velocidade, tendo em vista que, nesse caso, o veículo se torna menos perigoso.
Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte vítima, não se imporá a prisão
em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral socorro àquela (art.301).
Trata-se de uma norma de caráter pedagógico, que visa induzir o agente a prestar socorro à vítima.
Perdão judicial
Quanto ao perdão judicial, no homicídio culposo ou lesão culposa, é possível, com base nos arts. 107,
IX, 121, §5º e 129, §8º, todos do Código Penal, quando as circunstâncias do crime atingirem o próprio agente
de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. Exemplo: morte do filho. Outro exemplo: o
motorista culpado fica tetraplégico.
Com efeito, o art. 291 do CTB manda aplicar aos crimes de trânsito as normas gerais do CP e uma dessas
normas é justamente o art. 107, IX, que prevê o perdão judicial.
É certo, pois, que o CTB não prevê o perdão judicial, mas, durante os trâmites do seu projeto de lei,
havia previsão e o Presidente da República ao vetar esse dispositivo ressalvou que deveria ser aplicado, por
ser mais abrangente, o perdão judicial do homicídio ou lesão culposos do Código Penal.
De fato, o perdão judicial que constava no Código de Trânsito era muito restrito, pois só tinha incidência
quando a morte ou lesão culposos atingisse, exclusivamente, o cônjuge ou companheiro, ascendente,
16
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
HOMICÍDIO CULPOSO
16
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Não há crime quando a culpa for exclusiva da vítima, mas, em caso de culpa concorrente do motorista
e da vítima, subsiste o crime.
Se houver dolo eventual, isto é, assunção do risco de se produzir o resultado, o agente responderá por
homicídio doloso, previsto no art. 121 do CP.
A propósito do dolo eventual, o STJ firmou a seguinte tese:
“Na hipótese de homicídio praticado na direção de veículo automotor, havendo elementos nos autos
indicativos de que o condutor agiu, possivelmente, com dolo eventual, o julgamento acerca da ocorrência
deste ou da culpa consciente compete ao Tribunal do Júri, na qualidade de juiz natural da causa”.
Assim, na dúvida se houve dolo eventual ou culpa consciente, o Ministério Público deve oferecer a
denúncia por homicídio doloso, por força do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública; e o juiz, na
dúvida, também deverá pronunciar o réu, em função do princípio do juiz natural, remetendo-o a júri.
No tocante ao veículo automotor. a expressão abrange carros, tratores, motos, ônibus, caminhões e
outros.
É, pois, todo veículo de propulsão que circule por seus próprios meios, inclusive, os conectados a uma
linha elétrica e que não circulam sobre trilhos (ônibus elétricos).
Não se compreende nesse conceito os veículos de propulsão humana (exemplo: bicicletas) e os de
tração animal (exemplo: charretes).
Os veículos que trafegam sobre trilhos, como trens, metrô, também não são abrangidos no conceito.
Igualmente, o conceito não abrange as lanchas, barcos, jet ski, aviões, etc.
Em todas essas hipóteses, aplica-se o homicídio culposo do Código Penal.
Por fim, no que tange à via terrestre, cumpre ressaltar que o tipo penal não exige que o fato ocorra em
via pública, ao contrário dos delitos previstos nos arts. 308 e 309.
Portanto, o motorista que pratica homicídio culposo em vias particulares, responderá pelo art. 302 do
CTB. Exemplos: estrada de um sítio, estacionamento de condomínio, pátio de um posto de gasolina, garagem,
etc. Em suma, qualquer que seja o lugar do crime, será aplicado o homicídio culposo do art. 302 do CTB.
A consumação ocorre com a morte.
Quanto à tentativa, não é possível.
O §1º do art. 302 prevê que a pena é aumentada de 1/3 (um terço) à 1/2 (metade), se o agente:
I – não possui permissão para dirigir ou carteira de habilitação.
Nesse caso, absorve-se o crime do art. 309, direção sem permissão ou habilitação, pois ele já funciona
como causa de aumento pena (princípio da subsidiariedade tácita ou implícita).
Exclui-se também a agravante genérica do art. 298, III, pois ela já funciona como causa de aumento de
pena.
Não incide a majorante quando houver o vencimento da carteira de motorista, pois, nesse caso, o
agente passou pelos trâmites legais para a aquisição da permissão ou habilitação (Informativo 581 do STJ).
Se o agente tem carteira de habilitação de categoria diferente ao veículo que dirigia, a meu ver, não
incide a majorante, mas haverá a agravante genérica do art. 298, IV, do CTB.
Com efeito, a direção de veículo de categoria diferente, para a qual o motorista se encontra
habilitado, não pode ser equiparada à falta de habilitação, porquanto o art. 298 do CTB trata das duas
situações em incisos separados, sinalizando o nítido propósito de distingui-las, sendo, pois, vedada a analogia
“in malam partem”.
Exegese diversa tornaria inócuo o inciso IV do art. 298 do CTB, pois a hipótese já estaria abrangida pelo
inciso III e, como se sabe, a lei não contém palavras inúteis.
Outra corrente, porém, sustenta a incidência da majorante, pelo fato de a hipótese se equiparar à falta
de habilitações.
16
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O delito de omissão de socorro, previsto no art. 304, é também absorvido, por força do princípio da
subsidiariedade tácita.
Ainda que a vítima tenha morte instantânea incide a majorante, segundo o STJ, o que me parece
inconstitucional, pois, nesse caso, inexiste o bem jurídico “vida”.
Exclui-se a causa de aumento de pena se o socorro não foi prestado em função do risco de agressão ou
linchamento.
IV – no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros.
Exemplos: ônibus, táxi, van escolar, etc.,
Para se evitar o “bis in idem”, exclui-se a agravante do art. 298, V, do CTB, mas se for veículo de
transporte de carga, por exemplo, caminhão, não há nenhuma causa de aumento de pena e, por
consequência, aplica-se a dita agravante.
É necessário, para a incidência da majorante, que o agente, ao tempo do crime, esteja exercendo a
profissão ou atividade de motorista, mas não se exige a presença de passageiros (Informativo 537 do STJ).
Por outro lado, incidirá a qualificadora do §3º se o agente conduziu o veículo sob influência de álcool
ou de qualquer outra substancia psicoativa que determine dependência.
Com efeito, dispõe o §3º do art. 302 do CTB, que foi introduzido pela lei 13.546/2017:
“Se o agente conduz veículo automotor sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância
psicoativa que determine dependência:
Penas - reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão ou proibição do direito de se obter a permissão ou
a habilitação para dirigir veículo automotor.”
Trata-se de qualificadora, pois tem pena própria.
A hipótese abrange a condução do veículo sob influência do álcool ou de outra substância psicoativa
que causa dependência, como, por exemplo, cocaína.
Não se exige, porém, para a incidência da qualificadora, que a capacidade psicomotora esteja alterada,
ao contrário do que ocorre com a qualificadora similar prevista para o delito de lesão corporal culposa.
O delito de embriaguez no volante, previsto no art. 306 do CTB, deverá ser absorvido pelo homicídio
culposo, por força da subsidiariedade implícita, pois já funciona como qualificadora do homicídio culposo.
Convém esclarecer que o delito de homicídio culposo funciona como qualificadora do delito do art. 308,
§ 2o, sendo, pois, por este absorvido, por força do princípio da subsidiariedade tácita.
Por fim, no homicídio culposo, a ação penal, é pública incondicionada.
16
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
III - transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h (cinquenta
quilômetros por hora).
Nessas hipóteses, deverá ser instaurado inquérito policial e não se admitirá os institutos composição
civil dos danos como causa de extinção da punibilidade, nem a transação penal.
Assim, se a velocidade permitida era 40 Km/h e o agente dirigia a 85 Km/h, o delito de lesão corporal
culposa, por ele causado ,dependerá de representação, será investigado através de Termo Circunstanciado e
ainda admitirá a composição civil dos danos e a transação penal, pois o excesso de velocidade, em relação à
permitida, foi de 45 Km/h.
Por fim , incidirá a qualificadora do §2º se o agente conduziu o veículo sob influência de álcool ou de
qualquer outra substancia psicoativa que determine dependência, se do crime resultar lesão corporal grave
ou gravíssima, que são os resultados previstos, respectivamente, nos §§ 1º e 2º do art. 129 do CP.
Com efeito, dispõe o §2º do art. 303 do CTB, que foi introduzido pela lei 13.546/2017:
“A pena privativa de liberdade é de reclusão de dois a cinco anos, sem prejuízo das outras penas
previstas neste artigo, se o agente conduz o veículo com capacidade psicomotora alterada em razão da
influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência, e se do crime resultar lesão
corporal de natureza grave ou gravíssima.”
A incidência da qualificadora depende de três requisitos cumulativos:
a) influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência;
b) alteração da capacidade psicomotora, em razão da influência de álcool ou de outra substância
psicoativa;
c) que do crime resulte lesão corporal de natureza grave ou gravíssima. Estas lesões são as que
produzem os resultados previstos nos §§ 1º e 2º do art. 129 do CP, respectivamente.
Quanto ao delito de embriaguez no volante, previsto no art. 306 do CTB, deverá ser absorvido, por força
da subsidiariedade implícita, pois já funciona como qualificadora do homicídio culposo.
16
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Em havendo lesão corporal leve, não incide a qualificadora. Nesse caso, haverá o concurso material
entre os crimes de lesão corporal culposa e embriaguez no volante (STJ, recurso especial 1.629.107/DF). Outra
corrente, porém, sustenta a absorção do crime de embriaguez ao volante, por força do princípio da consunção.
A Lei 14.071/2020, publicada em 13 de outubro de 2020, passou a vedar a pena restritiva de direitos
aos delitos do:
a) 3º do art. 302 do CTB: homicídio culposo, quando o agente conduzia veículo automotor sob a
influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência.
b) § 2º do art. 303 do CTB: lesão culposa, se o agente conduzia o veículo com capacidade psicomotora
alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência, e se
do crime resultar lesão corporal de natureza grave ou gravíssima. Aqui, ao contrário do homicídio culposo,
onde basta a embriaguez para se vedar a pena restritiva de direitos, é ainda preciso a alteração da capacidade
psicomotora, em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa e que do crime resulte lesão
corporal de natureza grave ou gravíssima. Estas lesões são as que produzem os resultados previstos nos §§ 1º
e 2º do art. 129 do CP, respectivamente.
OMISSÃO DE SOCORRO
16
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O tipo penal em análise é aplicado a qualquer acidente ocorrido em via terrestre. Não se exige que se
trate de veículo automotor nem tampouco que o fato ocorra em via pública.
Por consequência, abrange também os veículos disciplinados pelo Código de Trânsito, que não são
automotores, como bicicletas, charretes, bem como os acidentes de trânsito ocorridos em vias particulares,
como a rua de condomínio e a estrada de fazenda.
De acordo com o parágrafo único do art. 304, o delito se caracteriza ainda que:
a) a vítima tenha sido socorrida por terceiros. Se o socorro por terceiros não for imediato, é pacífico que
haverá o crime de omissão de socorro. Se, ao revés, o socorro por terceiros houver sido imediato, há duas
correntes Primeira, não há falar-se no delito, em face de o socorro pelo agente ter se tornado desnecessário.
Segunda, há o crime se o agente não parou o veículo para socorrer ou auxiliar no socorro.
b) a vítima tenha morte instantânea. Aqui é estranho, pois já não há vida e, portanto, tipificou-se como
criminosa uma conduta sem que houvesse um bem jurídico correspondente. Flagrante a
inconstitucionalidade, por violação dos princípios da intervenção mínima e lesividade. No STJ, contudo, a
jurisprudência proclama a existência do crime.
c) a vítima tenha sofrido apenas ferimentos leves. Se, porém, os ferimentos foram tão leves a ponto de
ela não necessitar de socorro, o delito não se perfaz.
A consumação ocorre com a omissão por tempo juridicamente relevante.
Não há aumento da pena, quando houver morte ou lesão grave, mas o juiz poderá levar em conta, cimo
consequência do crime, na dosagem da pena base, nos termos do art. 59 do CP.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste na vontade consciente de omitir socorro.
É, pois, necessário, para que haja o crime, que o agente tenha consciência de que a vítima necessitava
de socorro, sendo que a dúvida caracteriza dolo eventual.
Quanto à tentativa, não é possível, pois se trata de crime omissivo próprio.
A ação penal é pública incondicionada. O motorista culpado pelo acidente, conforme já dito, não
responde pelo crime de omissão de socorro. Neste caso, se a vítima da lesão corporal não ofertar a
representação, o agente, segundo a jurisprudência, não poderá responder pelo delito autônomo de omissão
de socorro, permanecendo impune.
17
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
estupro e roubo, não é incriminada, sendo desproporcional a incriminação apenas quando a fuga se relacionar
a acidentes de trânsito.
O STF, entretanto, posicionou-se pela existência do crime, ainda que tenha ocorrido apenas danos
patrimoniais, afastando a tese da inconstitucionalidade.
O bem jurídico protegido é a administração da Justiça e também a segurança viária.
O sujeito passivo é o Estado, e também a pessoa cujo direito tenha sido lesado pela fuga.
Não se exige que se trate de veículo automotor nem que o local do acidente ocorra em via pública.
Por consequência, abrange também os demais veículos disciplinados pelo Código de Trânsito, como
bicicletas e charretes, bem como as vias particulares.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste na vontade de empreender fuga, consciente de sua
responsabilidade civil ou penal.
A consumação ocorre com a fuga. que é o afastamento do local, ainda que o agente acabe sendo
identificado.
O delito é formal, pois a consumação se verifica independentemente da ocorrência do resultado visado
pela fuga, que é a subtração da responsabilidade civil ou penal.
Admite-se a tentativa. Exemplo: o agente é detido pela vítima quando iniciava a fuga.
A ação penal é pública incondicionada.
Em havendo outros delitos de trânsito, como embriaguez ao volante, direção sem habilitação, etc.,
impõe-se o concurso material com o delito em análise.
No tocante ao homicídio e lesão culposos cometidos na direção de veículo automotor, porém, a fuga já
gera o aumento da pena, em face da omissão de socorro, e, por isso, o delito em apreço é excluído, sob pena
de a fuga ser incriminada duas vezes.
Na lesão culposa, contudo, é possível o concurso com o delito em análise, se a vítima não necessitava
de socorro.
EMBRIAGUEZ AO VOLANTE
17
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
17
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
17
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
propõe a absorção do crime de embriaguez no volante, por força do princípio da consunção. Outra, porém,
sustenta o concurso de crimes.
17
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O sujeito ativo é a pessoa cujo direito de dirigir estava suspenso, em razão de condenação penal
transitada em julgado.
O bem jurídico protegido é a administração da justiça, além da segurança viária.
O sujeito passivo é o Estado e a coletividade.
O núcleo do tipo é o verbo deixar, que significa se omitir.
O pressuposto deste crime é que haja uma condenação penal transitada em julgado, que tenha imposto
ao agente a pena acessória de suspensão da permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor, pois
o tipo penal exige que o delito seja praticado pelo condenado.
Não há falar-se no delito em análise, quando esta suspensão houver sido imposta pelo juiz como medida
cautelar ou administrativamente pela autoridade competente, pois é vedada a analogia “in malam partem”,
mas o agente responderá pelo crime de desobediência, previsto no art. 330 do CP.
É ainda necessário, para a caracterização do crime, que após o trânsito em julgado da condenação o
agente seja intimado a entregar ao juiz a permissão para dirigir ou a carteira de habilitação, omitindo-se por
mais de 48 (quarenta e oito) horas, nos termos do § 1º do art. 293.
Enquanto não houver esta intimação, o delito não se configura.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste na vontade consciente de não entregar o
documento no prazo legal.
A consumação se verifica quando se expira o lapso de tempo de 48 (quarenta e oito) horas, sem que o
documento tenha sido entregue.
Trata-se, pois, de crime a prazo, pois a consumação depende da expiração deste lapso de tempo, que é
contado de minuto a minuto.
Caso não conste a hora exata da intimação, o prazo será de dois dias.
Quanto à tentativa, não é possível, porquanto o delito é omissivo próprio.
A ação penal é pública incondicionada e as penas são as mesmas do caput do art. 307.
17
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
automotor.
Outrossim, que haja perigo concreto à incolumidade pública ou privada.
A incolumidade pública é violada quando o perigo atinge coletividade, que representa um número
indeterminado de pessoas.
A incolumidade privada é violada quando o perigo atinge pessoa ou pessoas determinadas.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste na vontade consciente de realizar a conduta descrita
no tipo penal.
Na primeira modalidade criminosa, é preciso a vontade consciente de participar de corrida, disputa ou
competição automobilística.
Na segunda, exige-se a vontade consciente de exibição ou demonstração de perícia em manobra de
veículo automotor.
O elemento normativo do tipo é o fato de a conduta ser realizada sem a prévia autorização da
autoridade competente.
O delito se consuma com o surgimento da situação de risco à incolumidade pública ou privada.
Não há, portanto, necessidade que haja perigo à coletividade, pois o tipo penal também faz menção à
incolumidade privada, que deve ser interpretada como sendo o perigo a pessoa ou pessoas determinadas.
Igualmente, não é preciso que o perigo atinja pessoa ou pessoas determinadas, porquanto o tipo penal
também se refere à incolumidade pública.
Não se exige, porém, para a consumação, a ocorrência de lesão corporal.
Quanto à tentativa, é possível, quando o perigo à incolumidade pública ou privada não ocorre por
circunstâncias alheias à vontade do agente.
Outra corrente, porém, nega a possibilidade de tentativa, sob o argumento de que o início de execução
se coincide com a consumação. Nesse sentido, Victor Rios Gonçalves.
Ora, não se trata de crime de perigo abstrato, onde a conduta é suficiente para a consumação, mas,
sim, de delito de perigo concreto, cuja consumação depende do resultado naturalístico, que consiste na
demonstração da ocorrência do perigo.
Imagine, por exemplo, que o “racha” visava criar uma situação de perigo para determinada pessoa, que
estava no veículo, mas que, segundos antes do início da conduta, saiu do automóvel, sem que o agente
percebesse. Neste exemplo, se não houver nenhuma outra situação de risco, o delito será tentado, pois crime
não se consumou por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Ambos os delitos são qualificados, quando ocorrer morte ou lesão corporal grave (§§1º e 2º do art. 308)
A expressão lesão corporal de natureza grave foi empregada em sentido amplo para abranger também
a lesão corporal gravíssima, pois o tipo penal se refere aos resultados previstos nos §§1º e 2º do art. 129 do
CP, mas a lesão corporal leve, não qualifica o delito em análise.
No caso de lesão corporal grave, a pena do tipo qualificado é de reclusão de 3 (três) a 6 (seis) anos e, se
ocorrer morte, a pena é de reclusão de 5 (cinco) a 10 (dez) anos.
Nas duas qualificadoras, além da pena de reclusão, há ainda as penas de multa e de suspensão ou
proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor, previstas no preceito
secundário do tipo penal fundamental.
São, pois, duas as qualificadoras, a morte e a lesão corporal grave e, em ambas, o delito é preterdoloso,
pois há dolo no antecedente, que é o delito do art. 308, e culpa no consequente, que é a morte ou lesão grave.
Com efeito, por ser a pena inferior à pena dos delitos dos arts. 129, §§1º e 2º e 121 do CP, força convir
que se trata de uma qualificadora preterdolosa, onde a lesão grave ou a morte ocorre a título de culpa.
Quanto aos crimes de homicídio e lesão culposos, previsto nos art. 302 e 303 do CTB, são absorvidos,
por força do princípio da subsidiariedade tácita, pois já funcionam como qualificadoras do delito em análise.
Se, no entanto, houver lesão corporal culposa de natureza leve, não incide a qualificadora. Nesse caso,
haverá concurso entre o crime de lesão culposa (art. 303) e o delito em análise (art. 308 caput).
Em havendo mais de uma morte ou lesão grave, todas culposas, o deito será um só, mas o número de
mortes ou de lesões graves será levado em conta, na fixação da pena base, como circunstância judicial do art.
59 do CP.
Caso não haja sequer culpa em relação à morte ou lesão grave, exclui-se a qualificadora.
17
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Convém ainda esclarecer que responderá por homicídio doloso (art. 121 do CP) ou lesão corporal grave
ou gravíssima (art. 129, §§1º e 2º do CP), o agente que quis ou assumiu o risco de matar ou causar a lesão
corporal grave, sem prejuízo da incidência do delito do art. 308, em sua forma simples.
Assim, caso haja dolo direto ou eventual em relação à morte ou lesão grave, o agente responderá pelo
delito em análise, na sua forma simples (art. 308, caput, do CTB) em concurso com os crimes dos arts. 121 ou
129, §§1º e 2º do CP.
A ação penal, tanto no tipo fundamental quanto no qualificado, é pública incondicionada.
Diante da proibição da analogia “in malam partem”, não há o crime em análise nas seguintes hipóteses:
a) exame médico vencido. É mera infração administrativa.
b) suspensão da carteira de habilitação. Não há crime, pois o art. 309 se refere à cassação, mas, segundo
a doutrina, configura o crime do art. 307, caput. Mas quem permite que o agente dirija responde pelo crime
do art. 310 do CTB.
c) sem portar o documento de permissão ou a carteira de habilitação. É mera infração administrativa
(art. 232).
Nas hipóteses acima, porém, haverá a contravenção penal de direção perigosa (art. 34 da LCP).
Se o agente tem carteira de habilitação de categoria diferente ao veículo que dirigia perigosamente, a
17
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
meu ver, não responde pelo delito em análise, mas, sim, pela contravenção penal do art. 34 da LCP.
Com efeito, a direção de veículo de categoria diferente, para a qual o motorista se encontra
habilitado, não pode ser equiparada à falta de habilitação, porquanto o art. 298 do CTB trata das duas
situações em incisos separados, sinalizando o nítido propósito de distingui-las, sendo, pois, vedada a analogia
“in malam partem”.
Exegese diversa tornaria inócuo o inciso IV do art. 298 do CTB, pois a hipótese já estaria abrangida pelo
inciso III e, como se sabe, a lei não contém palavras inúteis.
Outra corrente, porém, sustenta a incidência do crime do art. 309, considerando também a hipótese
como sendo de falta de habilitação.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste na vontade consciente de realizar a conduta descrita
no tipo penal.
A consumação se verifica quando ocorre o perigo concreto em relação a pelo menos uma pessoa.
Quanto ao perigo suportado pelo próprio motorista, a meu ver, é insuficiente para a caracterização do
crime, pois ninguém pode ser ao mesmo tempo sujeito ativo e sujeito passivo de sua própria conduta.
Sobre a consumação, outra corrente, defendida por Victor Rios Goncalves, sustenta que
basta demonstrar que o agente conduzia o veículo sem habilitação e de forma anormal, irregular,
sendo desnecessário provar que certa pessoa sofreu efetiva situação de risco.
Não compactuo desse ponto de vista, pois o tipo penal faz expressa menção ao perigo de dano.
Por consequência, a mera direção sem habilitação, com violação das normas de trânsito, mas sem
causar qualquer perigo, é fato atípico.
Quanto à tentativa, a meu ver, é possível, quando o perigo não se verifica por circunstâncias alheias à
vontade do agente. Outra corrente, porém, nega a sua possibilidade.
A ação penal é pública incondicionada.
Em se tratando de carteira de habilitação falsa, o agente responderá pelo delito em análise e pelo crime
de uso de documento falso (art. 304 do CP), em concurso material.
O delito em estudo é absorvido pelo homicídio ou lesão corporal culposos, previstos nos arts. 302 e
303, pois já os integra como causa de aumento de pena.
Será também absorvido pelos delitos de embriaguez ao volante (art. 306), participação em competição
não autorizada (art. 308) e excesso de velocidade (art. 311), pois, em todos eles, há a exigência do perigo,
mas a falta de permissão ou habilitação servirá como agravante genérica destes delitos, nos termos do art.
298, III, do CTB.
17
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Em sentido contrário, exigindo que se trate de via pública, há a opinião de Victor Gonçalves Rios.
É ainda necessário, para a tipificação, que o destinatário do veículo automotor seja uma das
seguintes pessoas:
a) não habilitada. Exemplos: entrega da direção de veículo automotor a menor de 18 (dezoito) anos, a
deficiente visual, a deficiente mental ou a qualquer outra pessoa sem habilitação.
17
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
FRAUDE PROCESSUAL
18
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo, ainda que não iniciados, quando da inovação, o
procedimento preparatório, o inquérito ou o processo aos quais se refere”.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, ainda que não esteja envolvida no acidente. Exemplo: o tio
do motorista vai até o local e altera a posição do veículo.
O bem jurídico protegido é a administração da justiça e a segurança viária.
O sujeito passivo é o Estado e também a coletividade.
Trata-se de um tipo especial de fraude processual que, portanto, afasta a incidência do tipo genérico
previsto no art. 347 do CP.
A conduta criminosa consiste no emprego de fraude para alterar o estado de lugar, da coisa ou da
pessoa e assim induzir a erro o agente policial, o perito, ou o juiz.
Exemplos:
a) retirar os estilhaços de vidro do local do crime;
b) mudar a posição dos cadáveres;
c) apagar os sinais de frenagem no asfalto.
A simples fuga, sem alterar o estado de lugar, da coisa ou da pessoa, não configura o delito em análise,
mas, sim, o previsto no art. 305 do CTB.
Só se aplica o delito em apreço em relação aos acidentes automobilísticos com vítima. Não se exige que
haja morte. Bastam lesões corporais. Se houver apenas danos patrimoniais, não há falar-se em crime.
A expressão “acidentes automobilísticos” deve ser interpretada como acidentes com veículos
automotores e não apenas com automóveis, mas certamente também ensejará interpretações restritivas para
se excluir, por exemplo, os acidentes que envolvem apenas motocicletas.
Não é preciso que o fato ocorra em via pública e nem que, ao tempo da conduta, já se tenha instaurado
o procedimento preparatório, o inquérito policial ou o processo-crime.
A propósito, o parágrafo único do dispositivo em análise esclarece que o delito se caracteriza, ainda que
não iniciados, quando da inovação, o procedimento preparatório, o inquérito ou o processo aos quais se
refere.
Aliás, ainda que não haja nenhum crime de trânsito anterior, o delito pode se configurar, quando o
acidente automobilístico com vítima motivar a instauração de um destes três procedimentos policiais.
Exemplo: o motorista que, sem culpa, atropela o pedestre que se atirou à frente do seu veículo, altera o local
dos fatos.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste na vontade consciente de realizar os elementos do
tipo.
Exige-se ainda o fim de induzir a erro o agente policial, o perito, ou juiz.
A mera alteração do estado de lugar, da coisa ou da pessoa, sem o propósito de induzir a erro o agente
policial, o perito, ou juiz, é fato atípico.
Não se exige o propósito de beneficiar a si próprio ou a terceiro nem o fim de causar prejuízo.
A consumação com a conduta de alteração do estado de lugar, de coisa ou de pessoa,
independentemente do resultado.
Assim, o delito se caracteriza, ainda que a conduza não surta o efeito de induzir a erro o agente policial,
o perito, ou juiz.
Trata-se, portanto, de crime formal.
Quanto à tentativa, é possível. Exemplo: o agente é impedido por terceiro de alterar o local do crime.
A ação penal é pública incondicionada.
Haverá concurso material entre o delito em análise e o eventual crime de trânsito anterior, quando
praticados pelo mesmo agente.
INTRODUÇÃO
18
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
a) proteção à mulher que é vítima de violência doméstica e familiar. Exemplos: atendimento policial
especializado e concessão das medidas protetivas de urgência.
b) tratamento jurídico mais rigoroso ao agressor. Exemplo: exclusão da Lei 9.099/95 às infrações penais
cometidas em ambiente de violência doméstica e familiar contra mulher.
FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL
A coibição da violência no âmbito familiar tem fundamento constitucional no art. 226, §8º, da CF, cujo
teor é o seguinte:
“O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando
mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações”.
FUNDAMENTO CONVENCIONAL
FUNDAMENTO LEGAL
A Lei 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, instituiu os mecanismos contra a violência
doméstica e familiar à mulher.
A lei recebeu este nome em função da luta da farmacêutica Maria da Penha para ver seu marido
agressor condenado.
Cumpriu-se assim, através da Lei Maria da Penha, os compromissos internacionais assumidos pelo
Brasil.
Há uma imprecisão técnica na terminologia “violência doméstica e familiar”, pois, na verdade, a
violência pode ser doméstica ou familiar, podendo ainda ocorrer nas relações de afeto.
MARIA DA PENHA
CONSTITUCIONALIDADE
18
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A Lei Maria da Penha ê aplicável apenas à violência doméstica e familiar contra mulher
Frise-se, apenas contra mulher.
Quando a vítima for homem, a referida lei não é aplicada.
E, nesse aspecto, não há qualquer inconstitucionalidade por eventual violação à isonomia.
Com efeito, o objetivo da lei é justamente a preservação do aludido princípio, que, no plano substancial,
consiste em tratar de forma desigual os desiguais, a fim de se reduzir a desigualdade material.
É histórica a desigualdade material entre o gênero masculino e feminino e, em razão disso, foi editada a
Lei Maria da Penha, que se revela como sendo uma importante ação estatal afirmativa, com vistas à
eliminação ou pelo menos a redução desta desigualdade.
Não é, pois, qualquer delito praticado contra mulher que se sujeita à referida lei, mas apenas os
cometidos em situação de violência doméstica e familiar, por razões de gênero, quando houver, entre as
partes, uma unidade doméstica ou relação familiar ou vínculo afetivo e, desde ainda, que o fato lhe acarrete
morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial (art. 5º).
A propósito, o STF na ADC 19 decidiu: “VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06 – GÊNEROS
MASCULINO E FEMININO – TRATAMENTO DIFERENCIADO. O artigo 1º da Lei nº 11.340/06 surge, sob o ângulo
do tratamento diferenciado entre os gêneros – mulher e homem –, harmônica com a Constituição Federal, no
que necessária a proteção ante as peculiaridades física e moral da mulher e a cultura brasileira. COMPETÊNCIA
– VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06 – JUIZADOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER. O artigo 33 da Lei nº 11.340/06, no que revela a conveniência de criação dos juizados de violência
doméstica e familiar contra a mulher, não implica usurpação da competência normativa dos estados quanto
à própria organização judiciária. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER – REGÊNCIA – LEI Nº
9.099/95 – AFASTAMENTO. O artigo 41 da Lei nº 11.340/06, a afastar, nos crimes de violência doméstica
contra a mulher, a Lei nº 9.099/95, mostra-se em consonância com o disposto no § 8º do artigo 226 da Carta
da República, a prever a obrigatoriedade de o Estado adotar mecanismos que coíbam a violência no âmbito
das relações familiares”. (ADC 19, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 09/02/2012,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-080 DIVULG 28-04-2014 PUBLIC 29-04-2014).
A Lei 11.340/2006, à exceção do delito de desobediência (art. 24-A), não define outros crimes, mas
apenas determina a sua incidência aos delitos em que há violência doméstica e familiar contra mulher.
A rigor, portanto, não há um crime específico de violência doméstica e familiar, mas esta violência, por
sua vez, pode se encontrar presente numa gama enorme de delitos contra a mulher. Exemplos: homicídio,
lesão corporal, ameaça, crimes contra a honra, estupro, constrangimento ilegal, furto, dano, etc.
Aliás, a Lei Maria da Penha também é aplicada no âmbito cível, nas ações de divórcio, dissolução de
união estável e dissolução de união homoafetiva feminina.
Portanto, é possível a incidência da lei em estudo mesmo quando a violência doméstica e familiar não
configurar nenhum crime.
18
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Uma corrente minoritária acrescenta mais um requisito, exigindo que o sujeito ativo seja homem, mas
este ponto de vista é isolado.
Antes de analisar os 5(cinco) requisitos acima, farei uma exposição sobre o sujeito ativo.
SUJEITO ATIVO
Tanto o homem quanto a mulher podem praticar a violência doméstica e familiar, a que se refere a lei
em comento. É a posição do STJ.
Aplica-se, por exemplo, esta lei quando a mãe agride a própria filha, por não aceitar a sua opção sexual.
Há, entretanto, uma corrente minoritária que exclui a aplicação da lei quando o delito houver sido
praticado por uma mulher contra outra, pois, nesse caso, a vítima não se encontraria em situação de
vulnerabilidade em relação à sua agressora.
Não merece guarida esta posição, pois a vulnerabilidade não se limita apenas à inferioridade física,
estendendo-se também a outras situações, como, por exemplo, a dependência econômica.
SUJEITO PASSIVO
O primeiro requisito para se aplicar a Lei Maria da Penha é que violência doméstica e familiar seja
praticada contra mulher.
Sobre o conceito de mulher, há duas correntes.
Primeira, é a pessoa do sexo feminino, pois se trata de um conceito biológico.
Segunda, é a pessoa do gênero feminino, pois se trata de um conceito sociológico.
Gênero é um conceito que leva em conta o comportamento de construção social, que identifica papéis
de natureza cultural, que levam a pessoa à aquisição da masculinidade ou da feminilidade.
Não se confunde assim com o sexo, que é um conceito puramente biológico.
O STJ adotava o conceito biológico, mas acabou aderindo à segunda corrente para que a proteção seja
também estendida aos transexuais, transgêneros, cisgêneros, travestis e outras categorias relacionadas ao
gênero feminino (REsp 1.977.124).
Não se trata de analogia “in malam partem”, como asseveram alguns doutrinadores, mas sim de
interpretação sociológica sobre o significado atual do termo “mulher”, adaptando-se o Direito à realidade
social.
No tocante à violência doméstica e familiar contra criança e adolescente, ainda que do sexo masculino,
independentemente portanto de razões de gênero, aplica-se a lei 14.344/2022, por força do princípio da
especialidade, sendo que a aludida lei prevê uma sistemática bem similar à Lei Maria da Penha, a qual é ainda
aplicada subsidiariamente.
O segundo requisito para se aplicar a Lei Maria da Penha é que haja, entre o agressor e a vítima, um
vínculo oriundo da unidade doméstica, do âmbito familiar ou da relação de afeto.
Basta um destes três vínculos, mas, ausentes os três, a lei não será aplicada, ainda que o fato seja
praticado por razões de gênero contra uma mulher vulnerável.
Se, por exemplo, por razões de gênero, o agente agride uma prostituta, com a qual não tinha qualquer
vínculo, não há falar-se na incidência da Lei Maria da Penha.
Nos três vínculos, para a configuração da violência doméstica e familiar prevista no artigo 5º da Lei
n.11.340/2006 não se exige a coabitação entre autor e vítima (súmula 600 do STJ).
Passo então à análise destes três vínculos.
Unidade doméstica é o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar,
18
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
inclusive, as esporadicamente agregadas (art. 5º, I). Exemplo: patrão que agride a empregada doméstica.
Outro exemplo: república de mulheres em que uma agride a outra. Mais um exemplo: mulher que é agredida,
no ambiente laborativo, por seu colega de trabalho. Neste último exemplo, que retrata a agressão de uma
colega de trabalho, o assunto é polêmico, pois valiosas opiniões excluem a incidência da Lei Maria da Penha
que, a meu ver, deve ser aplicada, pois não se exige a convivência sob o mesmo teto nem relação amorosa
entre a vítima e o agressor.
Para a incidência da lei em estudo, pouco importa o local do crime, que não precisa ser praticado no
recinto da unidade doméstica.
Não é necessário, para a caracterização da unidade doméstica, que agressor e vítima convivam sob o
mesmo teto, mas é imprescindível que haja, entre eles, um convívio permanente, ou seja, prolongado no
tempo.
A hipótese ainda abrange as pessoas esporadicamente agregadas. Se, por exemplo, uma amiga convida
outra para morar um mês em sua casa, agredindo-a por razões de gênero, impõe-se a incidência da lei.
No tocante ao patrão que agride a faxineira que, uma vez por semana, vai fazer a limpeza na sua casa,
o assunto comporta duas interpretações.
Primeira, a lei não é aplicada, pois o convívio não se revela permanente.
Segunda, a lei é aplicada na hipótese de a diarista prestar serviços no local durante um tempo
juridicamente relevante.
De fato, o convívio permanente não precisa ser diário, mas duradouro, prolongado no tempo, ainda que
de forma espaçada, ou seja, esporádica. Exemplo: diarista que há três anos presta serviços no mesmo local,
onde vai uma vez por semana.
A menção ao advérbio esporádico não elimina a necessidade de uma unidade doméstica, que é o espaço
de convívio permanente de pessoas, mas, em contrapartida, não é também exigido um convívio diário.
Vínculo familiar
Na Lei Maria da Penha, a família é conceituada como sendo a comunidade formada por indivíduos que
são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa (art. 5º,
II).
Assim, a união que configura o âmbito familiar emana de:
a) Laços naturais: é o parentesco consanguíneo.
b) Laços de afinidade: é o vínculo entre o cônjuge ou companheiro e os parentes do outro. É o caso do
sogro, sogra, genro, nora, padrasto, madrasta, enteado, enteada e cunhado.
c) Por vontade expressa. Exemplos: adoção, parentesco socioafetivo, isto é, filho de criação. Outro
exemplo: mulher que o agressor considera como sendo sua irmã.
Não é necessário que haja, entre agressor e vítima, que integram a mesma família, a convivência
permanente na mesma unidade doméstica.
Também não é preciso que morem ou tenham morado sob o mesmo teto.
Assim, presente o vínculo familiar, não há necessidade de se comprovar o vínculo de unidade doméstica.
Relação Íntima de afeto é uma expressão que indica o fato de o agente conviver ou ter convivido com a
vítima, independentemente de coabitação (art. 5º, III).
A coabitação, que significa morar ou ter morado junto, é dispensável.
Não há assim a necessidade de morarem ou terem morado sob o mesmo teto. Aplica-se, por exemplo,
a lei à ameaça que o sujeito faz à ex-noiva, por não concordar com o desfazimento do noivado.
Sobre o namoro o STJ firmou a seguinte tese:
“A agressão do namorado contra a namorada, mesmo cessado o relacionamento, mas que ocorra em
decorrência dele, está inserida na hipótese do art. 5o, III, da Lei n. 11.340/06, caracterizando a violência
doméstica”.
18
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O próprio STJ ressalva, porém, que o namoro só será considerado uma relação íntima de afeto quando
não houver sido fugaz ou passageiro.
É, pois, preciso analisar o caso concreto para se concluir se as agressões à namorada ou à ex-namorada
se sujeitam ou não à Lei Maria da Penha.
A invocação da relação íntima de afeto, para se justificar a incidência da lei em análise, só é necessária
quando não houver, entre as partes, convívio permanente numa unidade doméstica nem relação familiar.
A relação íntima de afeto, para uns, abrange o amor, o sexo e também a amizade. Dessa forma, se, por
exemplo, o agente agride uma amiga, com quem convive quase que diariamente, aplicar-se-á a lei em estudo.
Outros, porém, restringem a expressão à intimidade amorosa e sexual, excluindo-se a amizade.
De fato, trata-se de uma relação íntima de afeto e não relação íntima de amizade. Não se aplica,
destarte, a lei em análise ao sujeito que agride a sua vizinha.
Outra questão interessante diz respeito ao fato de a lei ter dispensado a coabitação, pois a Convenção
de Belém do Pará, nas relações íntimas de afeto, exige que as partes convivam ou tenham convivido sob o
mesmo teto.
Uma primeira exegese impõe também esta exigência, pois as Convenções de Direitos Humanos são
hierarquicamente superiores às leis internas.
Outra corrente, que é a adotada no STJ, aplica o princípio “pro homine”, que, em matéria de conflito de
leis internas e tratados sobre direitos humanos, prioriza a norma que confere a maior proteção e, nessa linha
de raciocínio, prevalece a Lei Maria da Penha, que dispensa a convivência sob o mesmo teto.
Violência física
Violência psicológica
18
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
g) perseguição contumaz;
h) insulto;
i) chantagem,
j) violação de sua intimidade;
k) ridicularização;
l) exploração;
m) limitação do direito de ir e vir; ou
n) qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação.
Violência sexual
Violência patrimonial
A violência patrimonial é qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou
total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos
econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades.
No aspecto da violência patrimonial, cumpre lembrar a imunidade absoluta, também chamada de
escusa absolutória, prevista para os crimes contra o patrimônio sem violência ou grave ameaça, cometidos
em prejuízo de cônjuge (por isonomia, abrange também o companheiro), ascendente e descendente, cujo
efeito é o de impedir a instauração do inquérito policial, deixando, pois, o fato impune (art. 181 do CP).
Uma primeira corrente sustenta que, em sendo a vítima mulher, em situação de violência doméstica ou
familiar, já não há mais esta imunidade, diante da incompatibilidade com o art. 7º, IV, da lei Maria da Penha,
que, de forma expressa, classifica o fato como sendo um ato de violência, ao passo que a imunidade só incide
nos crimes sem violência ou grave ameaça.
Uma segunda corrente mantém em vigor a imunidade nos crimes patrimoniais praticados em ambiente
de violência doméstica e familiar, desde que não haja violência física nem grave ameaça, pois a Lei Maria da
Penha não afastou expressamente a incidência do art. 181 do CP.
Violência moral
RAZÕES DE GÊNERO
18
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
É, assim, necessário o nexo causal entre a conduta e o fato de a vítima ser mulher.
Se, por exemplo, o sujeito agride a ex-mulher motivado pelo fato de ela descumprir a decisão judicial
que lhe garantia o direito de visita da criança, não há falar-se na incidência da lei em estudo, pois a razão da
agressão não foi o fato de ela ser mulher.
Da mesma forma, o irmão que xinga a irmã, por razões de herança, não sofre os efeitos danosos da Lei
Maria da Penha, pois não há nexo causal entre a ofensa e a condição feminina da vítima.
Diante da exigência de o delito ser praticado por razões de gênero, que pressupõe uma motivação
dolosa, poder-se-ia concluir, à primeira vista, que a Lei Maria da Penha não seria aplicável aos crimes culposos.
Ledo engano, pois as razões de gênero também podem se verificar no crime culposo. É a produção do
STJ. Exemplo: o marido, em função do atraso do jantar, discutiu com a mulher, quebrando um prato no chão,
mas um dos estilhaços a atingiu numa das vistas, cegando-a.
Eis aí um exemplo de lesão corporal culposa cometido em ambiente violência doméstica e familiar, cuja
ação penal será pública incondicionada.
18
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
18
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
De fato, o art. 41 da lei 11.340/2.006 excluiu, na íntegra, a aplicação de qualquer dispositivo da Lei
9.099/95, sem abrir exceção para o citado art. 88.
A propósito, dispõe a súmula 542 do STJ:
“A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é
pública incondicionada”.
Onde consta na súmula a oração “violência doméstica contra a mulher”, deve ser lido “violência contra
mulher nos termos da Lei Maria da Penha”.
RENÚNCIA À REPRESENTAÇÃO
À medida que as infrações penais que envolvem violência doméstica e familiar nunca são consideradas
de menor potencial ofensivo, força convir que a elas também não se aplicam o princípio da insignificância.
A propósito, dispõe a súmula 589 do STJ:
“É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a
mulher no âmbito das relações domésticas”.
Embora a súmula só faça referência à violência doméstica, o seu escopo foi abranger todas as situações
de violência contra mulher previstas na Lei Maria da Penha.
19
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Onde a súmula diz “no âmbito das relações domésticas” deve ser lido “no âmbito da Lei Maria da Penha”.
A violência doméstica que não se enquadra na Lei Maria da Penha pode ensejar a aplicação do princípio
da insignificância, pois o que impede a incidência deste princípio é o fato de se tratar de uma violência por
razões de gênero, cujas marcas são indeléveis no âmbito da personalidade da mulher.
VEDAÇÃO DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO QUANDO HOUVER VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA
Nos crimes ou contravenções com violência ou grave ameaça contra a mulher, em ambiente doméstico,
a vedação da substituição estende-se a qualquer pena restritiva de direito, por força da súmula 588 do STJ
que, a rigor, repete a proibição que já é ditada pelo art. 44, I, do CP.
A propósito, dispõe a súmula 588 do STJ:
“A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher, com violência ou grave ameaça, no
ambiente doméstico impossibilita a substituição de pena privativa de liberdade por restritiva de direitos”.
Onde consta na súmula a expressão “no ambiente doméstico”, deve ser lido “quando presentes os
requisitos da Lei Maria da Penha”.
Nos crimes com violência ou grave ameaça de menor potencial ofensivo, que não sejam praticados
contra mulher em ambiente doméstico e familiar, cuja pena abstrata não exceda a 2 (dois) anos, a
jurisprudência tem admitido a substituição por pena restritiva de direito, posto que esta substituição é cabível
no âmbito da transação penal do JECRIM.
Caso a hipótese seja de violência doméstica e familiar contra mulher a substituição por pena restritiva
de direito, não será possível quando envolver violência física ou grave ameaça.
Os crimes ou contravenções contra mulher no ambiente doméstico e familiar podem ter a pena privativa
de liberdade substituída por pena restritiva de direito, desde que não haja violência ou grave ameaça,
ressalvando-se que substituição por cesta básica, multa ou outra prestação pecuniária não é cabível nem
mesmo nos crimes ou contravenções, em ambiente doméstico, sem violência ou grave ameaça contra mulher.
19
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O Ministério Público intervirá, quando não for parte, nas causas cíveis e criminais decorrentes da
violência doméstica e familiar contra a mulher (art. 25).
Justifica-se a intervenção do Ministério Público, nas causas cíveis e criminais, em função da qualidade
da parte, que se revela vulnerável, outrossim, pelo interesse social em se coibir a violência doméstica e familiar
contra mulher.
Aliás, no tocante às causas criminais, a intervenção do Ministério Público é sempre obrigatória, ainda
que se trate de ação penal privada, de modo que, nesse aspecto, o citado art. 25 se revela inócuo.
Caberá ao Ministério Público, nos termos do art. 26, sem prejuízo de outras atribuições, nos casos de
violência doméstica e familiar contra a mulher, quando necessário:
I - requisitar força policial e serviços públicos de saúde, de educação, de assistência social e de
segurança, entre outros.
A requisição é uma ordem e não uma mera solicitação.
A requisição do Ministério Público dispensa a aprovação judicial, quando se tratar de requisição de força
policial e requisição para prestação de serviços públicos, em favor da mulher, vítima de violência doméstica e
familiar.
Aliás, a requisição de serviços públicas em favor da mulher e seus dependentes, nas situações de
violência doméstica e familiar, conforme já visto, também pode ser feita pela autoridade policial.
II – fiscalizar os estabelecimentos públicos e particulares de atendimento à mulher em situação de
violência doméstica e familiar, e adotar, de imediato, as medidas administrativas ou judiciais cabíveis no
tocante a quaisquer irregularidades constatadas.
O Ministério Público aqui exerce uma fiscalização extrajudicial sobre os estabelecimentos públicos e
particulares de atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar.
Ao constatar quaisquer irregularidades, deverá tomar as medidas administrativas ou judiciais cabíveis.
III - cadastrar os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher.
A lei criou junto ao Ministério Público o cadastro dos casos de violência doméstica e familiar contra a
mulher.
O ideal é que haja um cadastro local, em cada promotoria, outro estadual e ainda o cadastro nacional.
O art. 27 preceitua que todos os atos processuais, cíveis e criminais, a mulher em situação de violência
doméstica e familiar deverá estar acompanhada de advogado, ressalvado o previsto no art. 19 desta Lei.
É, pois, dispensada a presença de advogado, na fase processual, apenas para se requerer as medidas
protetivas de urgência (art. 19).
É garantido a toda mulher em situação de violência doméstica e familiar o acesso aos serviços de
Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita, nos termos da lei, em sede policial e judicial, mediante
atendimento específico e humanizado (art. 28).
Portanto, ainda que se trate de uma mulher rica, ela poderá pleitear o acesso aos serviços de Defensoria
Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita.
O ideal é que o juiz comunique a defensoria pública ou nomeie um advogado dativo para acompanhar
a mulher nos atos processuais em que ela deva estar presente.
Atendimento imediato
19
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Procedimento de inquirição
Providências
19
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
assistência judiciária para o eventual ajuizamento perante o juízo competente da ação de separação judicial,
de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável”.
O art. 12 prevê o rol meramente exemplificativo das diligências que deverão ser tomadas pela
autoridade policial.
Assim, de acordo com o art. 12, em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher,
feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos,
sem prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal:
I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se apresentada.
Conforme se verifica, a oitiva da vítima, sempre que possível, deve ser imediata. Além disso, será lavrado
imediatamente o boletim de ocorrência e, nos crimes que dependem de representação, esta será atermada,
ou seja, reduzida a termo
As declarações da vítima, em regra, é a principal prova e, quase sempre, a única, pois os referidos delitos
costumam ocorrer na clandestinidade, em recinto particular e sem testemunhas.
Assim, nos delitos com violência doméstica e familiar, a vítima, quando procura a delegacia de polícia
sai de lá com o boletim de ocorrência e com o termo de suas declarações, ao passo que nos demais delitos
haverá, de imediato, apenas a lavratura do boletim de ocorrência, pois a sua oitiva só ocorrerá no curso do
inquérito policial.
Se a vítima, por alguma razão não for ouvida de imediato, ela será devidamente intimada para prestar
as declarações e, caso não compareça, a autoridade policial poderá determinar a sua condução coercitiva, nos
termos do § 1º do art. 201 do CPP, aplicado subsidiariamente, salvo nos delitos de ação penal privada e ação
penal pública condicionada à representação.
II – colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas circunstâncias.
III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido da
ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência.
É necessário que o delegado de polícia tome a iniciativa de esclarecer a vítima sobre as espécies de
medidas protetivas.
O ideal é ele lhe apresentar um formulário contendo o rol destas medidas para que ela assinale aquelas
que deseja.
O §1º do art. 12 esclarece que o pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e
deverá conter qualificação da ofendida e do agressor; o nome e idade dos dependentes, a descrição sucinta
do fato e das medidas protetivas solicitadas pela ofendida e a informação sobre a condição de a ofendida ser
pessoa com deficiência e se da violência sofrida resultou deficiência ou agravamento de deficiência
preexistente.
A autoridade policial ainda deverá anexar ao pedido de medida protetiva o boletim de ocorrência e
cópia de todos os documentos disponíveis em posse da ofendida (§2º do art.12).
Cumpre, porém, observar que, de acordo com o STJ, para o requerimento da medida protetiva de
urgência, não há necessidade de se lavrar boletim de ocorrência e nem de oferecer representação nos crimes
que a exigem.
Serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e
postos de saúde (§ 3º do art. 12). Esta medida facilita a comprovação da materialidade para efeito de
concessão da medida protetiva, pois o laudo de exame de corpo de delito não costuma ficar pronto na hora.
IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros exames
periciais necessários.
A realização do exame de corpo de delito é necessária apenas nos delitos que deixam vestígios.
O § 3º do art. 12, conforme já dito, esclarece que serão admitidos como meios de prova os laudos ou
19
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes criminais,
indicando a existência de mandado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra ele.
O inciso VI não esclarece se se trata da identificação civil ou criminal (dactiloscópica e fotográfica).
Uma corrente defende que, nas infrações penais que envolvem violência doméstica e familiar, a
identificação criminal, por força do inciso VI em análise, é sempre obrigatória.
Outra corrente sustenta que o texto legal quis se referir apenas à obrigatoriedade da identificação civil,
porquanto a criminal só é obrigatória nas hipóteses previstas na Lei 12.037/2009, que silencia acerca dos
crimes que envolvem violência doméstica e familiar.
De fato, a identificação criminal é uma medida excepcional e, por isso, a sua imposição ao identificado
civilmente deve resultar da lei, de forma clara e inequívoca.
VI-A - verificar se o agressor possui registro de porte ou posse de arma de fogo e, na hipótese de
existência, juntar aos autos essa informação, bem como notificar a ocorrência à instituição responsável pela
concessão do registro ou da emissão do porte, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003
(Estatuto do Desarmamento).
Em relação à arma de fogo, haverá:
a) a apreensão: quando o delito houver sido praticado com arma de fogo, ainda que haja o registro e o
documento de porte, outrossim, quando o agente possuir a arma sem o registro ou portá-la sem ter o
documento de porte.
b) notificar a ocorrência à instituição responsável pela concessão do registro ou da emissão do porte,
que é a Polícia Federal ou Comando do Exército, conforme se trata de arma de fogo de uso permitido ou
restrito, que poderá então cassar o registro e o porte. Esta notificação é necessária, ainda o agente tenha o
registro e o porte, e não tenha utilizado a arma para a prática do crime de violência doméstica e familiar contra
mulher.
Vê-se assim que a diligência de verificação do registro de porte ou posse de arma de fogo é obrigatória,
ainda que o delito não tenha sido praticado por meio de arma de fogo, pois onde a lei não distingue ao
intérprete não é lícito distinguir.
Ainda que o agente tenha o registro e documento de porte da arma de fogo e o delito não houver sido
19
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
praticado com a arma, a autoridade policial, embora não possa apreendê-la, deverá notificar a ocorrência à
instituição responsável pela concessão do registro ou da emissão do porte, que é a Polícia Federal ou Comando
do Exército, conforme se trata de arma de fogo de uso permitido ou restrito, que poderá então cassar o
registro e o porte.
Se o delito houver sido praticado com arma de fogo, a autoridade policial deverá apreendê-la, ainda
que haja o registro e a autorização do porte.
Haverá igualmente a apreensão quando a arma de fogo não guardar qualquer relação com o crime, mas
o agente não tiver o registro ou o porte, pois, nesse caso, ele responderá também pelo delito de posse ou
porte de arma de fogo.
VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao Ministério Público.
O prazo para conclusão do inquérito policial é o mesmo previsto para os delitos cometidos sem violência
doméstica e familiar.
Não há nenhuma especificidade.
O §3º do art. 12-B ainda prevê que a autoridade policial poderá requisitar os serviços públicos
necessários à defesa da mulher em situação de violência doméstica e familiar e de seus dependentes
Os Estados e o Distrito Federal, de acordo com o art. 12-A, na formulação de suas políticas e planos de
atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, darão prioridade, no âmbito da Polícia
Civil, à criação de:
a) Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deams);
b) Núcleos Investigativos de Feminicídio;
c) equipes especializadas para o atendimento e a investigação das violências graves contra a mulher.
A criação dos três órgãos acima é um dever dos Estados e Distrito Federal, e não uma mera faculdade,
devendo o orçamento público reservar uma verba para o cumprimento desta norma.
A não criação destes órgãos pode ensejar a propositura de ação civil pública, pelo fato de o orçamento
público não priorizar a política pública de atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar.
A criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher não é um dever, mas mera
faculdade da União, dos Estados ou Distrito Federal, que têm a opção de criá-los ou não (arts. 14 e 29).
É pertinente a sua criação nos Estados e Distrito Federal.
A União também pode também criá-los, nas não há grande demanda, pois dificilmente um crime com
violência doméstica e familiar contra mulher será da competência da justiça federal.
Nos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, os atos processuais poderão realizar-
se em horário noturno, conforme dispuserem as normas de organização judiciária (parágrafo único do art. 14).
Nas comarcas em que o aludido juizado não houver criado, a Lei Maria da Penha será normalmente
aplicada pelo juízo comum.
Sobre o assunto, dispõe o art. 33, caput:
“Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas
criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática
de violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada
pela legislação processual pertinente”.
O dispositivo em análise preceitua que as varas criminais acumularão as competências cível e criminal
para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher,
enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.
A competência das varas, porém, não pode ser disciplinada por lei federal, mas sim pelas normas locais
de organização judiciária, nos termos do art. 125, §1º, da CF.
19
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Por consequência, o dispositivo acima, sob pena de inconstitucionalidade, deve ser interpretado como
sendo uma mera recomendação dirigida aos Estados Membros.
O parágrafo único do art. 33 ainda recomenda que seja garantido o direito de preferência, nas varas
criminais, para o processo e o julgamento das aludidas causas.
COMPETÊNCIA
Aplicação subsidiária
Nos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher não há falar-se em Turmas Recursais
compostas por juízes de primeiro grau, pois eles não se confundem com os Juizados Especiais Criminais, que
são regidos pela Lei 9.099/95.
Alguns Estados, porém, em razão da falta de recursos financeiros para criá-los, têm atribuído aos
Juizados Especiais Criminais a competência para julgar as infrações penais com violência doméstica e familiar
contra mulher, mas, nesse caso, impõe-se duas observações:
a) a Lei 9.099/95 não poderá ser aplicada aos delitos de violência doméstica e familiar contra mulher.
b) os recursos e habeas corpus contra atos do juiz não poderão ser julgados pelas Turmas Recursais, que
é composta por magistrados de primeiro grau, cuja competência se restringe às infrações penais de menor
potencial ofensivo, nos termos do art. 98, I, da CF, das quais são excluídas, em termos absolutos, as que
19
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
envolvem violência doméstica e familiar contra mulher (art.41). Portanto, os recursos e habeas corpus contra
atos do juiz serão julgados pelos respectivos Tribunais de Justiça.
Competência cumulativa
Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher têm competência cível e criminal, para
o processo, o julgamento e a execução das das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar
contra a mulher (art. 14).
Vê-se assim que os dispositivos da Lei Maria da Penha, inclusive, as medidas protetivas de urgência,
poderão também ser aplicados nas causas cíveis, ainda que a violência doméstica e familiar não se enquadre
como crime.
Se não houver o juizado, a Lei Maria da Penha será normalmente aplicada pelo juízo comum competente
para processar, julgar e executar a causa.
Competência criminal
A competência dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher estende-se a todos os
crimes e contravenções, inclusive, os delitos cuja pena máxima não exceda a 2 (dois) anos.
Os delitos conexos aos cometidos mediante violência doméstica e familiar, por força da conexão
instrumental ou probatória, em algumas situações, também serão julgados pelo referido juizado, observando-
se as normas legais sobre conexão
No tocante à competência territorial, é a do juizado do local da consumação (art. 70 do CPP).
Nas ações penais exclusivamente privadas, o querelante poderá optar entre o juizado do local da
consumação e o juizado do domicílio ou residência do querelado (art. 73 do CPP).
No concernente aos crimes dolosos contra a vida cometidos mediante violência doméstica e familiar
contra mulher, por exemplo, feminicídio, a competência para o julgamento é do tribunal do júri, por força de
previsão constitucional.
Entretanto, a primeira fase do procedimento do júri, que medeia entre a denúncia ou queixa e a decisão
de pronúncia, pode tramitar no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, quando assim
dispuser expressamente a norma de organização judiciária local, mas, após a preclusão da pronúncia, o
processo deverá ser enviado ao juiz presidente do tribunal do júri.
Competência cível
19
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Vê-se assim que, à exceção das ações de divórcio, dissolução de união estável e, por isonomia, também
as de dissolução de união homoafetiva feminina, o aludido juizado não dispõe de mais nenhuma competência
cível, em termos de tutela principal.
Noutras palavras, os dispositivos da Lei Maria da Penha só poderão ser aplicados, no âmbito cível, nas
ações de divórcio, dissolução de união estável e dissolução de união homoafetiva feminina.
Não há, portanto, competência para se aplicar a referida lei nas demais causas cíveis.
Todas as medidas protetivas de urgência, sem exceção, podem ser aplicadas nas ações de divórcio,
dissolução de união estável e dissolução de união homoafetiva feminina.
Em algumas dessas medidas, a ação principal, porém, difere das ações de divórcio, dissolução de união
estável e dissolução de união homoafetiva feminina, o que torna a competência do juizado de violência
doméstica e familiar mais ampla para a tutela cautelar que para a tutela definitiva.
As hipóteses em que o juizado de violência doméstica e familiar contra mulher tem competência para a
tutela cautelar, sob a forma de medida protetiva de urgência, mas não tem para a tutela definitiva, são as
seguintes:
a) restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida (art. 24, I);
b) proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de
propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial (art. 24, II);
c) suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor (art. 24, III);
d) prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes
da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida (art. 24, IV).
Nestas hipóteses, a ação principal deverá ser ajuizada no juízo comum, no prazo de 30 (trinta) dias, a
contar do deferimento da medida cautelar, sob pena de caducidade.
Trata-se de uma situação em que a tutela cautelar, sob a forma de medida cautelar de urgência, é
julgada pelo Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e a tutela definitiva pelo juízo comum,
que poderá evidentemente revogar a tutela cautelar.
Nada obsta que a tutela cautelar, nas situações acima, também seja pleiteada diretamente ao juízo
comum.
Por outro lado, acerca da competência territorial, de acordo com o art. 15, é competente, por opção da
ofendida, para os processos cíveis regidos pela Lei Maria da Penha, o Juizado:
I - do seu domicílio ou de sua residência;
II - do lugar do fato em que se baseou a demanda;
III - do domicílio do agressor.
Trata-se de foro alternativo, aplicável apenas aos processos cíveis regidos pela Lei Maria da Penha.
A questão que surge é se a competência acima só se aplica às ações de divórcio, dissolução de união
estável e dissolução de união homoafetiva ou se também se estenderia às ações principais ajuizadas no juízo
comum quando houver a tutela cautelar, na forma de medida protetiva de urgência concedida pelo juizado
de violência doméstica e familiar contra mulher.
Creio que a competência territorial acima também se aplica às ações principais ajuizadas no juízo
comum cujo objeto esteja relacionado com a medida protetiva de urgência concedida pelo Juizado de
Violência Doméstica e Familiar contra Mulher, pois, na interpretação desta Lei, serão considerados os fins
sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições peculiares das mulheres em situação de violência
doméstica e familiar (art. 4º da Lei Maria da Penha).
De acordo com o STJ, nos crimes praticados no âmbito doméstico e familiar, a palavra da vítima tem
especial relevância para fundamentar o recebimento da denúncia ou a condenação, pois normalmente são
cometidos sem testemunhas.
É, pois, possível uma condenação baseada exclusivamente na palavra da vítima, quando o delito ocorre
na clandestinidade, sem que tenha sido presenciado por testemunhas.
19
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
De acordo com o art. 798-A do CPP, introduzido pela Lei 14.365/2022, os prazos processuais não se
suspendem nos procedimentos regidos pela Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha).
A propósito, dispõe o art. 798-A do CPP:
Suspende-se o curso do prazo processual nos dias compreendidos entre 20 de dezembro e 20 de janeiro,
inclusive, salvo nos seguintes casos:
I - que envolvam réus presos, nos processos vinculados a essas prisões;
II - nos procedimentos regidos pela Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha);
III - nas medidas consideradas urgentes, mediante despacho fundamentado do juízo competente.
Durante o período de suspensão, fica vedada a realização de audiências e de sessões de julgamento,
salvo nas hipóteses dos incisos I, II e III acima mencionadas (parágrafo único do art. 798-A do CPP).
Conceito
As medidas protetivas de urgência são providências determinadas pelo juiz, com o intuito de proteger
a ofendida e os seus bens contra o agressor.
Elas só podem ser decretadas pelo juiz, cível ou criminal, nos casos de violência doméstica e familiar
contra mulher (art. 22).
Abre-se exceção à medida de afastamento do agressor do lar, domicílio ou local onde de convivência
com a ofendida, que, nos termos do art. 12-C, verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à
integridade física ou psicológica da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus
dependentes, pode ser decretada pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca; ou
pelo policial quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível no momento da
denúncia. Em ambas as hipóteses, o juiz deverá ser comunicado em 24 (vinte e quatro) horas.
O art. 313, III, do CPP estabelece que será admitida a prisão preventiva “se o crime envolver violência
doméstica e familiar contra a mulher, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das
medidas protetivas de urgência”.
Vê-se assim que os crimes que envolvem violência doméstica e familiar contra idoso, enfermo ou pessoa
com deficiência, ainda que do sexo masculino, pois o art. 313, III, não faz qualquer distinção, admitem
expressamente a aplicação de medidas protetivas de urgência.
Entretanto, não há na lei nenhum dispositivo mandando estender expressamente as medidas protetivas
de urgência dos arts. 22 a 24 da Lei Maria da Penha às referidas pessoas do sexo masculino.
Diante disso, há duas interpretações.
Primeira, o art. 313, III, do CPP é inaplicável às pessoas do sexo masculino, pois as normas restritas de
direito não admitem a analogia, sob pena de violação do princípio da legalidade, previsto no art. 5º, II, da CF.
Segunda, é possível a aplicação das medidas protetivas de urgência dos arts. 22 a 24 da Lei Maria da
Penha, pois o art. 313. III, do CPP, de forma implícita, admitiu a sua incidência aos crimes que envolvem
violência doméstica e familiar contra idoso, enfermo ou pessoa com deficiência.
Convém destacar que a aplicação da Lei Maria da Penha às pessoas mencionadas no art. 313, III, do CPP,
para os que adotam esta segunda corrente, será restrita às medidas protetivas de urgência, não se estendendo
às restrições de direito penal.
No tocante à violência doméstica e familiar contra a criança e adolescente, ainda que do sexo masculino,
20
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
independentemente portanto de razões de gênero, aplica-se a lei 14.344/2022, que, em seu artigo 33, prevê
expressamente a aplicação subsidiária da Lei Maria da Penha, admitindo ainda a prisão preventiva do agressor,
quando houver suficientes indícios de ameaça à criança ou ao adolescente vítima ou testemunha de violência
(art. 21, III).
Natureza jurídica
20
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Endosso a corrente que trata o tema como medida cautelar satisfativa, mas apenas em relação às
medidas protetivas de urgência de caráter pessoal.
Neste caso, as medidas protetivas, quando necessárias à proteção da mulher e de seus dependentes,
devem perdurar, ainda que o processo principal não seja instaurado.
No tocante, porém, às medidas protetivas de urgência de caráter patrimonial, previstas no art. 24,
outrossim, as que versam sobre alimentos provisórios e provisionais (art. 22, V). a meu ver, têm a natureza
das cautelares tradicionais, que são acessórias e não sobrevivem sem o processo principal.
Pressupostos
Cumulação de medidas
Momento do requerimento
O pedido de medida protetiva de urgência poderá ser feito pela vítima ou seu representante legal, ou
ainda pelo Ministério Público, na própria delegacia de polícia ou no curso do processo, inclusive, após o
trânsito em julgado da condenação.
Normalmente, o pedido é formulado perante a autoridade policial, que deverá encaminhar o
20
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
20
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Prisão preventiva
A prisão preventiva nos crimes que envolvem violência doméstica e familiar apresenta um diferencial
apenas quando houver o descumprimento injustificado das medidas protetivas de urgência.
Este diferencial consiste no fato de poder também ser decretada nas infrações penais em que a pena
máxima não excede a 4 (quatro) anos, ainda que o agente seja primário.
De fato, o art. 313, III, do CPP, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência, admite a
prisão preventiva quando o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança,
adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, independentemente da quantidade da pena abstrata.
É, por exemplo, cabível, com base no art. 313, III, do CPP, a prisão preventiva pelo crime de ameaça (art. 147
do CP).
Entretanto, quando a situação não envolver o descumprimento injustificado de medidas protetivas de
urgência, a prisão preventiva, ainda que se trate de crime com violência doméstica e familiar contra mulher,
segue a regra comum, só podendo ser decretada em crime doloso punidos com pena privativa de liberdade
máxima superior a 4 (quatro) anos ou então quando se tratar de pessoa condenada por outro crime doloso,
em sentença transitada em julgado (art. 313, I e II).
Sobre a prisão preventiva, quer haja ou não o descumprimento injustificado das medidas protetivas de
urgência, convém fazer as seguintes observações:
a) não existe a prisão preventiva automática. Assim, o descumprimento injustificado das medidas
protetivas de urgência não conduz automaticamente à prisão preventiva, que sempre dependerá de uma
decisão judicial.
b) o juiz não poderá decretar de ofício a prisão preventiva, conforme §2º do art. 282 do CPP, com
redação dada pela Lei 13.964/2019, estando, nesse aspecto, revogado o art. 20, caput, da Lei Maria da
Penha. A revogação da prisão preventiva, entretanto, poderá se dar de ofício pelo juiz. quando verificar a falta
de motivo para que subsista (art. 20, parágrafo único).
c) a prisão preventiva poderá ser decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou mediante
representação da autoridade policial, em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal.
d) prisão preventiva, para ser decretada, além da necessidade de se enquadrar numa das hipóteses do
art. 313 do CPP, ainda depende da presença de um dos fundamentos do art. 312 do CPP: garantia da ordem
pública, conveniência da instrução criminal ou assegurar a aplicação da lei penal.
e) no tocante ao descumprimento de medidas protetivas de urgência impostas por juiz cível, não será
cabível a prisão preventiva, pois esta só é admitida quando se imputar ao agente a prática de crime. Nesse
caso, será possível a imposição das medidas de execução específica, como, por exemplo, multa diária,
previstas no CPC (art. 22, § 4º).
20
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
de desobediência (§2º).
O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras sanções cabíveis (§3º). Portanto, além
do crime de desobediência, o juiz ainda poderá decretar a prisão preventiva, quando presentes os requisitos
do art. 312 do CPP ou outras providências como o reforço ou substituição da medida por outra mais severa,
outrossim, a imposição de multa pelo descumprimento.
Convém esclarecer que, antes da criação deste tipo penal, o descumprimento das medidas protetivas
de urgência não caracterizava crime de desobediência, pois a lei previa outras sanções e não ressalvava
expressamente a existência do crime de desobediência.
O descumprimento injustificado da medida protetiva de urgência de afastamento do lar, quando
imposta pela autoridade policial ou por policial, nos termos do art. 12-C, antes de ser ratificada pelo juiz, não
caracteriza crime de desobediência, pois o tipo penal em análise só se refere à decisão judicial.
Por fim, o delito em análise, a meu ver, também é regido pela Lei Maria da Penha e, por isso, nos termos
do seu art. 41, não se sujeita à Lei 9.099/95.
De fato, o sujeito passivo não é apenas o Estado, mas também a mulher que, diante do descumprimento
injustificado da medida protetiva de urgência, tem também o seu direito lesado.
O assunto, porém, não é pacífico, pois outra corrente considera o referido delito como sendo
exclusivamente contra a administração pública e, dessa forma, a ele poderia ser aplicado a Lei 9.099/95, pois
o art. 41 da Lei Maria da Penha só veda a incidência desta lei aos delitos que envolvem violência doméstica e
familiar contra mulher.
A medida protetiva de urgência é decretada com a cláusula “rebus sic stantibus”, pois só será mantida,
nos termos de sua decretação, se a situação fática permanecer a mesma.
Se, em razão de fato novo, ela se tornar excessiva, o juiz, de ofício, a qualquer tempo, poderá revogá-la
ou substituí-la por outra.
A revogação é o cancelamento da medida protetiva, por decisão judicial.
A substituição é a troca da medida por outra mais branda ou mais severa.
A substituição, de ofício pelo juiz, por outra medida mais severa poderá ensejar polêmica.
Recursos
Na seara processual penal, por interpretação extensiva do art. 581, V, do CPP, que cuida da prisão
preventiva, caberá recurso em sentido estrito, interposto pelo Ministério Público ou querelante da ação penal
privada, contra a decisão que:
a) indeferir o requerimento de medida protetiva de urgência;
b) revogar a medida protetiva de urgência.
Este recurso não tem efeito suspensivo e. por isso, o Ministério Público ou o querelante, paralelamente
à sua interposição, poderá ingressar com uma medida cautelar para, em sede de liminar, obter a decretação
da medida protetiva de urgência ou impedir a sua revogação, conforme a hipótese.
Quanto à vítima, ainda que habilitada como assistente de acusação, não poderá interpor recursos no
processo penal, salvo nas hipóteses do art. 584, §1º, e 598 do CPP, ou seja, sentença absolutória e decisão
que extingue a punibilidade. Por consequência, não lhe é facultado ingressar com recurso em sentido estrito
contra a decisão que indeferir ou revogar a medida protetiva de urgência, mas poderá impugnar a aludida
decisão através do mandado de segurança.
Por outro lado, na hipótese de o indeferimento do requerimento de medida protetiva de urgência ou a
sua revogação emanar de decisão do juiz cível, o recurso cabível será o agravo de instrumento (art. 1.015, I,
do CPC).
Em relação à decisão que decreta a medida protetiva de urgência, no âmbito do processo penal, é
irrecorrível.
Neste caso, uma corrente sustenta o cabimento do “habeas corpus”, pois o descumprimento
20
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
injustificado poderá ensejar a decretação da prisão preventiva, pondo em risco a liberdade de locomoção.
Outra corrente, porém, sustenta que, quando a medida protetiva de urgência não implica na violação
do direito de ir e vir, não tem cabimento o “habeas corpus”, por exemplo, suspensão do porte de arma de
fogo. Se, entretanto, afetar o direito de ir e vir, justifica-se o cabimento do remédio heroico, por exemplo,
obrigação de manter distância da vítima.
É, pois, a posição do STJ, que fixou a seguinte tese:
“O habeas corpus não constitui meio idôneo para se pleitear a revogação de medidas protetivas
previstas no art. 22 da Lei n. 11.340/2006 que não implicam constrangimento ao direito de ir e vir do paciente”.
Por fim, no âmbito cível, é cabível o recurso de agravo de instrumento contra a decisão que decretar ou
indeferir o pedido de decretação de medida protetiva de urgência, nos termos do art. 1.015, I, do CPC. Nesse
caso, a interposição de recurso em sentido estrito será considerado erro grosseiro, inviabilizando-se a sua
conversão em agravo.
A autoridade policial pode conceder fiança aos delitos cuja pena abstrata não excede a 4 (quatro) anos
(art. 322 do CPP).
Não se abre exceção aos delitos cometidos mediante violência doméstica e familiar contra
mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, sendo, pois, perfeitamente viável a
concessão da fiança pela autoridade policial.
É equivocada a corrente que nega a possibilidade de fiança concedida pela autoridade policial, sob o
singelo argumento de que os referidos delitos admitem a prisão preventiva, nos termos do art. 313, III, do
CPP.
Ora, a admissão da prisão preventiva, na hipótese do art. 313, III, do CPP, não deriva da prática do crime,
mas, sim, de um acontecimento futuro e incerto, que é o descumprimento injustificado da medida protetiva
de urgência.
Ademais, a admissão da prisão preventiva depende da presença dos fundamentos do art. 312 do CPP e
é claro que, diante da presença de um desses fundamentos, a autoridade policial não poderá conceder a
fiança.
Acrescente-se que quando foi para proibir a fiança pela autoridade policial a lei o fez expressamente,
como no delito de desobediência, previsto no art. 24-A, silenciando de forma eloquente quanto aos demais
crimes.
É necessário, para que haja liberdade provisória, que se trate de uma prisão em flagrante lícita, sob o
prisma formal e material, pois a prisão ilícita não é tecnicamente objeto de liberdade provisória, mas, sim, de
relaxamento do flagrante.
A concessão da liberdade provisória, com ou sem fiança, como se sabe, é função exclusiva do juiz, salvo
nos delitos cuja pena máxima não excede a 4 (quatro) anos, pois, nesse caso, a autoridade policial poderá
conceder a liberdade provisória mediante fiança à pessoa que é presa em flagrante.
Convém observar que a autoridade policial não pode conceder a liberdade provisória sem fiança.
Na Lei Maria da Penha, o §2º do art. 12-C preceitua que nos casos de risco à integridade física da
ofendida ou à efetividade da medida protetiva de urgência, não será concedida liberdade provisória ao preso.
A vedação da liberdade provisória, segundo o dispositivo acima, ocorrerá quando houver a presença de
um dos seguintes requisitos:
a) risco à integridade física da ofendida; ou
b) risco à efetividade da medida protetiva de urgência.
Nas infrações penais cometidas com violência doméstica e familiar contra mulher, no âmbito da Lei
Maria da Penha, em havendo um dos riscos acima, o agente, que é preso em flagrante, não poderá mais ser
posto em liberdade provisória.
20
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
É claro que, enquanto persistir o risco, não deverá ser concedida a liberdade provisória, mas o texto da
lei induz à interpretação de que, uma vez caracterizado o risco, não poderia mais ser posto em liberdade
provisória, ainda que posteriormente houvesse a cessação do risco.
Criou-se aparentemente uma hipótese de presunção de periculosidade permanente.
No tocante à vedação da liberdade provisória pela autoridade policial, quando houver um dos riscos
acima, não vislumbro qualquer inconstitucionalidade, pois da mesma forma que a lei pode lhe atribuir o poder
de conceder fiança, nos delitos cuja pena máxima não excede a 4 (quatro) anos, também pode prever
hipóteses de vedação da fiança pela referida autoridade policial.
O dispositivo em análise, entretanto, veda, em termos peremptórios, sem fazer qualquer distinção,
entre a autoridade policial e a autoridade judiciária, a liberdade provisória ao preso, nos casos de risco à
integridade física da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de urgência.
No concernente à autoridade judiciária, a vedação, pela lei, da liberdade provisória se reveste de
inconstitucionalidade, conforme já decidiu o STF (HC 104.339/SP, de 10 de maio de 2012).
De fato, segundo o Plenário do STF, a vedação abstrata da liberdade provisória viola os princípios
constitucionais da presunção da inocência e do devido processo legal.
Noutras palavras, a lei obriga o juiz a converter a prisão em flagrante em prisão preventiva e, como se
sabe, a lei não pode estabelecer situações de prisão preventiva obrigatória.
Intimação da vítima
A ofendida deverá ser notificada dos atos processuais relativos ao agressor, especialmente dos
pertinentes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da intimação do advogado constituído ou do defensor
público (art. 21).
Há um equívoco neste art. 21, quando utiliza o termo notificação, em vez de intimação.
A notificação é a comunicação para realizar um comportamento. Notifica-se, por exemplo, a
testemunha para que compareça para prestar depoimento.
A intimação, por sua vez, é a comunicação de ato já praticado.
Assim, a ofendida deverá, portanto, ser intimada dos atos pertinentes ao ingresso e à saída da prisão,
outrossim, dos atos processuais relativos ao agressor.
Sobre a forma desta intimação, entende-se que deve ser pessoal e não através da imprensa.
A propósito, dispõe o art. 201, §3o do CPP:
“As comunicações ao ofendido deverão ser feitas no endereço por ele indicado, admitindo-se, por opção
do ofendido, o uso de meio eletrônico”
A intimação da ofendida não é uma mera discricionariedade, mas, sim, um dever. Entretanto, a
falta de intimação não tem o condão de anular o processo, salvo quando:
a) ela houver se habilitado como assistente de acusação;
b) nos casos de ação penal privada.
20
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O art. 22 prevê o rol das medidas protetivas de urgência que obrigam o agressor. Ei-las:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos
termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 .
Há, neste inciso I, duas medidas protetivas de urgência aplicadas pelo juiz ao agressor que tinha a posse
lícita ou o porte lícito da arma de fogo. São elas:
a) suspensão da posse da arma de fogo. É a proibição de ter a arma de fogo em sua residência ou no
local de trabalho do qual é o titular do estabelecimento ou responsável legal da empresa. Trata-se da hipótese
em que o agente tem o certificado de registro da arma.
b) restrição do porte de arma de fogo. É a diminuição do tempo e do espaço para portar a arma de fogo
fora de casa. Neste caso, além do registro, o agente ainda tem o direito ao porte. Exemplo: o juiz autoriza o
policial que agrediu a mulher a portar a arma apenas durante o exercício de suas funções. Note-se que a lei
não confere ao juiz o poder de suspender o porte, mas apenas restringi-lo. A lei também não autoriza o juiz a
cassar o registro nem o porte, pois estas sanções são impostas pela polícia federal ou comando do exército.
As duas medidas acima são aplicadas quando a arma não houver sido utilizada para a prática da violência
doméstica e familiar, pois, caso contrário, a apreensão, por se tratar de instrumento de crime, será feita pela
própria autoridade policial.
Além das duas medidas acima, o juiz ainda comunicar o órgão competente para o registro e concessão
do porte de arma de fogo, que são a polícia federal e o comando do exército, conforme se trate de arma de
fogo de uso permitido ou restrito;
Nas hipóteses de porte de arma de fogo autorizado pela lei, nos termos do art. 6º do Estatuto do
Desarmamento, juiz tem o dever de aplicar esta medida de restrição do porte de arma de fogo e de comunicar
ao órgão, corporação ou instituição a que pertencer o agressor sobre toda e qualquer medida protetiva de
urgência que lhe tenha sido aplicada, ficando o superior imediato do agressor responsável pelo cumprimento
da determinação judicial, sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o
caso (§2º do art. 22).
Trata-se de uma hipótese rara de crime de desobediência, previsto no art. 330 do CP, que poderá ser
cometido pelo funcionário público superior incumbido da fiscalização. Se o superior permitir o
descumprimento da ordem judicial para satisfazer interesse ou sentimento pessoal, o crime será de
prevaricação (art. 319 do CP).
20
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
20
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Trata-se da única hipótese em que os alimentos podem ser concedidos por juiz criminal.
Os alimentos podem ser pleiteados pela mulher em benefício próprio ou em favor dos filhos menores,
na sua qualidade de representante legal.
A mulher só poderá pleitear os alimentos em benefício próprio, nos casos em que a lei civil lhe defere
este direito, ou seja, quando se tratar de cônjuge, companheira, ascendente, descendente e irmã do agressor.
Una namorada que, por exemplo, é agredida pelo namorado não faz jus aos alimentos, pois a lei civil
não lhe confere este direito.
Os alimentos, a que se refere o inciso V em análise, são apenas os provisórios ou provisionais.
Segundo a própria lei, estes alimentos não são definitivos e, por isso, não é razoável sustentar que se
trata de uma medida cautelar satisfativa, que esgota-se em si mesma a ponto de se prescindir do ajuizamento
da ação principal.
Na Lei Maria da Penha, tanto os alimentos provisórios quanto os alimentos provisionais têm caráter de
medida cautelar acessória e, por isso, a ação principal deve ser proposta no prazo de 30 (trinta) dias, a contar
da decisão concessiva, sob pena de caducidade.
Ambos, na lei em estudo, são arbitrados liminarmente, sem ouvir a parte contrária.
A diferença consiste no fato de os alimentos provisórios serem destinados ao sustento, habitação e
vestuário da vítima de violência doméstica e familiar, ao passo que os alimentos provisionais ou “ad litem”,
além do sustento, habitação e vestuário, ainda visam obter uma quantia para pagar as despesas processuais
e honorários advocatícios da ação principal que se pretende mover em face do agressor.
A ação principal pode ser de alimentos, divórcio, dissolução de união estável e outras.
Trata-se de uma medida que visa recuperar e reeducar o agressor, conscientizando-o dos malefícios da
violência doméstica e familiar contra mulher.
O comparecimento do agressor a programas de recuperação e reeducação é previsto:
a) pelo art. 152 da Lei de Execução Penal, quando lhe houver sido imposta a pena de limitação de fim
de semana, que é uma das espécies de penas restritivas de direito.
b) pelo inciso VI do art. 22 da Lei Maria da Penha, em análise, como medidas protetivas de urgência.
Quando imposto em decorrência da pena de limitação de fim de semana, o seu início só se verifica após
o trânsito em julgado da condenação e, nesse caso, a recusa injustificada em comparecer poderá ensejar a
conversão da pena restritiva de direitos em pena privativa de liberdade, mas não caracteriza crime de
desobediência.
Quando imposta como medida protetiva de urgência, o início ê imediato, prescindindo-se da
condenação penal e até mesmo da necessidade de instauração de processo criminal. Nesse caso, a recusa
injustificada em comparecer caracteriza crime de desobediência do art. 24-A, além de outras sanções.
VII – acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento individual e/ou em grupo de
apoio.
O acompanhamento psicossocial do agressor pode ser feito de forma individual ou através de grupo de
apoio, contando sempre com a participação de profissionais especializados (psicólogos e assistentes sociais).
Trata-se de uma medida que, na prática, costuma surtir o efeito de recuperar e reeducar o agressor.
Espécies
21
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Consoante preceitua o art. 23, poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de
atendimento.
De acordo com o art. 35, a União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios poderão criar e
promover, no limite das respectivas competências, centros de atendimento integral e multidisciplinar para
mulheres e respectivos dependentes em situação de violência doméstica e familiar. Outrossim, casas-abrigos
para mulheres e respectivos dependentes menores em situação de violência doméstica e familiar;
III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos
filhos e alimentos.
21
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
21
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais
decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida.
A caução é o depósito feito em dinheiro para se garantir o cumprimento de uma obrigação.
Trata-se de um ato acessório, pois se destina a garantir o adimplemento de uma outra obrigação.
A caução pode ser:
a) legal: quando imposta por lei;
b) convencional: quando imposta por acordo entre as partes;
c) judicial: quando imposta por decisão judicial.
O inciso IV prevê a caução judicial para garantir o pagamento das perdas e danos materiais decorrentes
da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida.
É, pois, necessário que a ofendida, em seu pedido, demonstre, num juízo de cognição sumária, os
seguintes requisitos:
a) a existência do dano material;
b) o valor do dano material;
c) a autoria do dano
Não é possível a aludida caução quando se tratar de danos morais.
Prestada a caução, o dinheiro permanecerá depositado em juízo, em caráter provisório, pois, ao término
da ação principal, será entregue à vítima, em caso de procedência; ou restituída ao agressor, na hipótese de
improcedência.
Sobre a necessidade de se ajuizar a ação principal de perdas e danos, no prazo de 30 (trinta) dias, sob
pena de restituição da caução ao agressor, ê preciso considerar duas situações.
Primeira, a medida foi imposta no curso da persecução penal.
Neste caso, a ação principal será a própria ação penal pública ou privada, pois a condenação penal
transitada em julgado torna certa a obrigação de indenizar a vítima, funcionando como título executivo judicial
na esfera cível.
Não haverá, pois, a necessidade de se ajuizar a ação de indenização, mas, após o trânsito em julgado da
condenação, a vítima terá que ajuizar a ação de liquidação de sentença, no prazo de 30 (trinta) dias, para se
apurar o valor do dano, sob pena de a caução ser restituída ao agressor.
Segunda, a medida foi imposta pelo juiz cível.
Neste caso, a ação principal de indenização pelos danos materiais deverá ser ajuizada em 30 (trinta)
dias, sob pena de restituição da caução ao agressor.
Ajuizada a ação indenizatória, o juiz do juizado de violência doméstica e familiar contra mulher
encaminhará o depósito judicial ao juízo comum, onde tramita a ação de indenização.
De acordo com o parágrafo único do art. 38-A, as medidas protetivas de urgência serão, após sua
concessão, imediatamente registradas em banco de dados mantido e regulamentado pelo Conselho Nacional
de Justiça, garantido o acesso instantâneo do Ministério Público, da Defensoria Pública e dos órgãos de
segurança pública e de assistência social, com vistas à fiscalização e à efetividade das medidas protetivas.”
O juiz, quando aplica a medida protetiva de urgência, deverá determinar o seu registro imediato em
21
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A alínea “f” do art. 61, II, preceitua que “a pena será agravada quando o agente cometer o crime com
violência contra a mulher na forma da lei específica”.
A agravante da violência doméstica e familiar contra a mulher só terá incidência quando presentes os
requisitos para a aplicação da Lei Maria da Penha.
21
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
No tocante ao ascendente, descendente, irmão, cônjuge, companheiro, pessoa com quem convive ou
tenha convivido, não é necessário, para a incidência da qualificadora, que o agente tenha se prevalecido de
relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade.
Acrescente-se ainda que não se aplicam as agravantes do art. 61, II, “e” e “f”, pois elas já integram o
tipo penal em estudo.
No delito em análise, em sendo a vítima mulher, a violência não é cometida em razão do gênero
feminino.
Com efeito, a lesão corporal leve contra mulher, por razões do gênero feminino, se enquadra na
qualificadora do §13 do art. 129 do CP.
Há, entretanto, algumas situações excepcionais, que serão analisadas mais adiante, que admitem a
aplicação do §9º do art. 129 do CP, quando presentes as razões de gênero contra vítima mulher.
Por fim, a ação penal é pública condicionada à representação.
Conceito
O programa de cooperação Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica é uma das medidas de
enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a mulher, através da ampliação dos canais para se
denunciar os crimes desta natureza.
Antes deste programa, que foi instituído pela Lei 14.188/2.021, a mulher, para fazer uma denúncia de
crime de violência doméstica e familiar, tinha que entrar em contato com a polícia, pessoalmente ou por
telefone, o que, em função da permanência vigilância e opressão impostas pelo agressor, nem sempre era
possível.
Com o advento desta lei, a mulher pode fazer a denúncia numa farmácia ou supermercado, por
exemplo, onde então o atendente treinado tomará as providências protocolares para socorrê-la.
21
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Natureza jurídica
Trata-se de mais uma das medidas de enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a mulher,
que visa dar cumprimento à política pública que mira a sua proteção.
No sentido técnico jurídico, não se trata de uma medida de proteção, mas, sim, da concretização da
política pública de ampliação dos canais de denúncia de violência doméstica e familiar contra mulher.
Organização do programa
A promoção e a realização do programa Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica será feita através
da integração entre o setor público as entidades privadas de todo o país.
Está integração é que é uma das diretrizes da política pública de combate à violência doméstica contra
mulher (art. 8º, I, da Lei 11.340/2.006).
No âmbito do setor público, os legitimados para instrumentalizar a integração são:
a) Poder Executivo. Abrange o Poder Executivo federal, estadual, distrital e municipal, em suas
respectivas áreas de atuação.
b) Poder Judiciário. Compreende os juízos e tribunais federais, estaduais, trabalhistas, eleitorais e
militares. Outrossim, o Conselho Nacional de Justiça, os Tribunais Superiores e o Supremo Tribunal Federal.
c) o Ministério Público. Abrange o Ministério Público Federal, Estadual, Distrital, Trabalhista, Eleitoral e
Militar. Outrossim, o Conselho Nacional do Ministério Público.
d) Defensoria Pública. Compreende a Defensoria Pública da União, dos Estados e do Distrito Federal.
e) os órgãos de segurança pública. Estes órgãos, nos termos do art. 144 da CF, são: a polícia federal,
polícia rodoviária federal polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias militares, corpos de bombeiros
militares e polícias penais federal, estadual e distrital.
Cada um desses órgãos desfruta de legitimidade concorrente e autônoma para celebrar o instrumento
de integração, pois o objetivo é a expansão cada vez maior do programa de proteção.
Quanto às entidades privadas de todo o país, que podem aderir ao programa, são as sociedades,
associações, fundações, organizações religiosas, partidos políticos, empresas individuais de responsabilidade
limitada, bem como os partidos políticos e as empresas individuais.
É importante destacar que a adesão ao programa, por entidades privadas de todo o país, é facultativa.
Acrescente-se ainda que lei não cuidou da forma da integração, que deverá ser definida por cada um
dos órgãos públicos acima referidos.
Canal de comunicação
Os órgãos públicos acima mencionados deverão estabelecer um canal de comunicação imediata com as
entidades privadas participantes do programa.
Este canal de comunicação poderá ser um site, um telefone, um e-mail, um WhatsApp, etc.
Cada um dos referidos órgãos públicos deverá ter o seu próprio canal de comunicação, a fim de se
viabilizar a assistência e segurança à vítima, a partir do momento em que houver sido efetuada a denúncia por
meio do código "sinal em formato de X", preferencialmente feito na mão e na cor vermelha.
Com o objetivo de se estimular a mulher a denunciar a violência doméstica, através do programa de
cooperação Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica, deverão ser realizadas campanhas informativas.
E, para que a mulher seja realmente protegida, deverão ser realizadas a capacitação permanente dos
profissionais pertencentes ao programa.
Aliás, o art. 8º, VII, da Lei 11.340/2.006 já determinava a capacitação permanente das Polícias Civil e
Militar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas
de segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação, quanto às questões de gênero
e de raça ou etnia.
21
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
De acordo com a lei, a denúncia poderá ser feita pela vítima por meio do código "sinal em formato de
X", preferencialmente feito na mão e na cor vermelha.
Exemplo: a vítima, ao sair do toalete de um restaurante, mostra discretamente, para o garçom, o “X”
em sua mão, contornado com batom vermelho.
Trata-se assim de uma forma de denúncia silenciosa, para que o agressor, que esteja ao lado dela, não
possa perceber.
Sobre o "sinal em formato de X", é preciso fazer duas observações:
a) é um mero exemplo de se fazer a denúncia silenciosa, que poderá obviamente ser realizada por
outros meios.
b) deverá ser divulgado em campanha publicitária informativa como sendo o código oficial de se realizar
a denúncia.
A promoção e a realização de campanhas educativas de prevenção da violência doméstica e familiar
contra a mulher deve ser voltada ao público escolar e à sociedade em geral, com o intuito escopo da difusão
da Lei 11.350/2.006 e dos instrumentos de proteção aos direitos humanos das mulheres (art. 8º, V, da Lei
11.340/2.006).
Locais da denúncia
A denúncia, através do sinal em formato de X, poderá ser feita pela vítima pessoalmente em:
a) repartições públicas
b) entidades privadas de todo o País.
No tocante as repartições públicas, todas elas necessariamente deverão aderir ao programa.
Em contrapartida, as entidades privadas só participarão do programa mediante adesão voluntária, pois
ainda não há lei que as obrigue.
CRIMES AMBIENTAIS
(LEI 9.605/98)
INTRODUÇÃO
Meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. Este conceito é extraído do art. 3º da lei
12.305/2.010, que é a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente.
No aspecto penal, o meio ambiente é regido pela lei 9.605, que dispõe sobre:
a – Disposições gerais sobre o sujeito ativo;
b – Aplicação da pena;
c – Apreensão do produto e instrumentos dos crimes;
d – Ação e Processo penal;
e – Crimes contra a fauna;
f – Crimes contra a flora;
g – Poluição e outros crimes ambientais;
h – Crimes contra o ordenamento urbano e patrimônio cultural;
i - Crimes contra a Administração Ambiental.
LEIS REVOGADAS
No aspecto penal, operou-se a revogação tácita do Código de Pesca e do Código de Caça, à medida que
a lei 9.605/98 disciplinou toda a parte criminal referente à pesca e caça.
O antigo Código Florestal (lei 4.771/65), quanto aos crimes contra a flora, também foi revogado pela lei
21
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
em estudo, mais ainda sobreviveu por alguns anos em relação às contravenções florestais. Com o advento da
lei 12.651/2.012, que instituiu o novo Código Florestal, operou-se a revogação expressa do antigo e, por
consequência, de todas as contravenções penais que ele previa. Em resumo, não existe mais nenhuma
contravenção florestal.
A lacuna que ficou foi quanto à “queimada”, isto é, o fogo sem as devidas cautelas para se evitar a sua
propagação. De mera contravenção prevista no antigo Código Florestal, tornou-se fato atípico.
O Código de Pesca, o Código de Caça e o novo Código Florestal não tratam mais de questões penais,
mas são diplomas normativos úteis na exegese dos delitos ambientais previstos na lei 9.605/98.
SUJEITO ATIVO
Sujeito ativo dos crimes ambientais pode ser tanto a pessoa física quanto a pessoa jurídica (art. 2º).
No concernente às pessoas físicas, há duas observações:
a) em regra, os crimes são comuns, isto é, podem ser praticados por qualquer pessoa, salvo quanto aos
crimes contra a administração pública ambiental dos arts. 66 e 67, cujo sujeito ativo é o funcionário público.
Saliente-se, ainda, que os demais crimes contra a administração ambiental, também são comuns.
b) nos crimes praticados por pessoa jurídica, a pessoa física também responderá pelo delito, conforme
art. 2º, mediante três requisitos. O primeiro é que ocupe o cargo de diretor, administrador, membro de
conselho e de órgão técnico, auditor, gerente, preposto ou mandatário da pessoa jurídica. O segundo é o dolo
direto, ou seja, a ciência da conduta criminosa de outrem. O terceiro é a omissão de deixar de impedir a sua
prática quando podia agir para evitá-la.
Quanto à pessoa jurídica, a sua responsabilidade penal exige dois requisitos:
a) que o delito seja praticado por decisão de seu representante legal ou contratual ou de seu órgão
colegiado (exemplos: assembleia geral, conselho de administração, etc).
b) que o delito seja praticado no interesse ou benefício da própria pessoa jurídica.
A responsabilidade penal da pessoa jurídica não exclui a das pessoas físicas, autoras, coautoras ou
partícipes do mesmo fato (parágrafo único do art. 3º). Há, pois, o concurso necessário de agentes entre a
pessoa jurídica e as pessoas físicas responsáveis pelo delito. São, pois, os delitos praticados pela pessoa jurídica
de dupla ou plúrima subjetividade ativa.
Denota-se, portanto, a prevalência, pelo menos na doutrina, do sistema da dupla imputação, consagrado
no parágrafo único do art. 3º da Lei n. 9.605/98, segundo o qual a responsabilidade penal da pessoa jurídica
implica necessariamente a responsabilidade criminal das pessoas físicas que participaram do mesmo delito. Força
convir, destarte, que os crimes praticados pela pessoa jurídica são plurissubjetivos, porque necessariamente
devem ser também perpetrados por pessoas físicas. Entretanto, a posição do STF é a que não vigora o sistema
da dupla imputação, de modo que a pessoa jurídica pode ser processada criminalmente, independentemente
das pessoas físicas responsáveis pela deliberação ou execução do ato criminoso. O argumento da Excelsa Corte é
que o § 3º do art. 225 da CF refere-se aos infratores pessoas físicas ou jurídicas, e não pessoas físicas e jurídicas.
O art. 4º ainda acrescenta que poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua
personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.
Na desconsideração da personalidade jurídica, os sócios passam a ser também os responsáveis diretos
e solidários pela indenização aos danos ambientais.
APLICAÇÃO DA PENA
21
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS
Para fixar a pena-base, o juiz deverá examinar as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP e do art. 6º, I
e II, da lei 9.605/98.
Estas circunstâncias do art. 6º são:
I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas consequências para a saúde pública
e para o meio ambiente;
II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse ambiental;
ATENUANTES GENÉRICAS
Além das atenuantes genéricas dos arts. 65 e 66 do CP, o art. 14 ainda prevê as seguintes, que são
específicas para os crimes ambientais:
I - baixo grau de instrução ou escolaridade do agente;
II - arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea reparação do dano, ou limitação
significativa da degradação ambiental causada;
III - comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação ambiental;
IV - colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle ambiental.
7 – Agravantes genéricas
As agravantes genéricas específicas das crimes ambientais concentram-se no art. 15. São as seguintes:
I - reincidência nos crimes de natureza ambiental;
II - ter o agente cometido a infração:
a) para obter vantagem pecuniária;
b) coagindo outrem para a execução material da infração;
c) afetando ou expondo a perigo, de maneira grave, a saúde pública ou o meio ambiente;
d) concorrendo para danos à propriedade alheia;
e) atingindo áreas de unidades de conservação ou áreas sujeitas, por ato do Poder Público, a regime
especial de uso;
f) atingindo áreas urbanas ou quaisquer assentamentos humanos;
g) em período de defeso à fauna;
h) em domingos ou feriados;
i) à noite;
j) em épocas de seca ou inundações;
l) no interior do espaço territorial especialmente protegido;
m) com o emprego de métodos cruéis para abate ou captura de animais;
n) mediante fraude ou abuso de confiança;
o) mediante abuso do direito de licença, permissão ou autorização ambiental;
p) no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou parcialmente, por verbas públicas ou beneficiada
por incentivos fiscais;
q) atingindo espécies ameaçadas, listadas em relatórios oficiais das autoridades competentes;
r) facilitada por funcionário público no exercício de suas funções.
Claro que também incidirão as agravantes genéricas dos arts. 61 e 62 do CP, por força do art. 12 do CP.
PENA DE MULTA
A pena de multa será calculada segundo os critérios do Código Penal e, portanto, varia de 10 (dez) a 360
(trezentos e sessenta) dias-multa.
21
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Na fixação do valor do dia-multa, o juiz levará em conta a situação econômica do réu. Cada dia-multa
varia entre 1/30 (um trigésimo) a 5 (cinco) vezes o valor do salário mínimo.
A multa será calculada segundo os critérios do Código Penal; se revelar-se ineficaz, ainda que aplicada
no valor máximo, poderá ser aumentada até três vezes, tendo em vista o valor da vantagem econômica
auferida.
A perícia de constatação do dano ambiental, sempre que possível, fixará o montante do prejuízo
causado para efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa.
A perícia produzida no inquérito civil ou no juízo cível poderá ser aproveitada no processo penal,
instaurando-se o contraditório.
22
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Nos crimes ambientais, o “sursis” é cabível na condenação a pena privativa de liberdade de até três
anos (art. 16), ao passo que nos demais crimes o benefício só pode ser aplicado em condenações que não
excedem a dois anos.
O sursis pode ser:
a) simples: quando o condenado não houver reparado o dano. Nesse caso, o condenado, no primeiro
ano de período de prova, presta serviços à comunidade ou submete-se à limitação de fim de semana (§1º do
art. 78 do CP).
b) especial: quando o condenado reparar o dano ambiental, devidamente comprovado em laudo
ambiental. Nesse caso, não terá que prestar serviços à comunidade nem se submeterá à limitação de fim de
semana. Terá, no entanto, que cumprir as condições do §2º do art. 78 do CP e outros impostas pelo juiz
relacionadas com a proteção ao meio ambiente.
REPARAÇÃO DO DANO
A sentença penal condenatória, sempre que possível, fixará o valor mínimo para reparação dos danos
causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido ou pelo meio ambiente.
Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá efetuar-se pelo valor fixado nos
termos do caput, sem prejuízo da liquidação para apuração do dano efetivamente sofrido.
A execução desse valor mínimo será no juízo cível.
Quanto ao restante da indenização, caso ela ultrapasse esse valor mínimo, deverá primeiro ser objeto
de ação de liquidação para depois se iniciar a execução.
22
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
AÇÃO PENAL
PROCESSO PENAL
A competência, em regra, é da Justiça Estadual, mas se o delito lesar bens, serviços ou interesses da
União, ou de suas autarquias e empresas públicas, a competência será da Justiça Federal, conforme art. 109,
IV, da CF. Se lesar interesses de sociedade de economia mista, persiste a competência da Justiça Estadual.
Embora não haja mais contravenções ambientais, na época em que existia o STJ editou a Súmula 38:
“Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o processo por contravenção penal,
ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades”.
É que a Justiça Federal não tem competência julgar contravenções penais, consoante se ressalva no art.
109, IV, da CF.
Sobre a conexão entre crimes da Justiça Federal e da Justiça Estadual, dispõe a Súmula 122 do STJ:
“Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência
federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, “a”, do Código de Processo Penal”.
Quanto à transação penal, também é cabível nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, isto
é, cuja pena abstrata não exceda a dois anos, mas exige-se um requisito extra, que é a prévia reparação do
dano ambiental, salvo em caso de comprovada impossibilidade (art. 27).
A suspensão condicional do processo, prevista no art. 89 da lei 9.099/95, também é cabível nos crimes
ambientais.
Estranhamente, o art. 28 da lei 9.605/98 só prevê esse benefício aos crimes de menor potencial
ofensivo, ao passo que o art. 89 da lei 9.099/95 estende o benefício aos crimes de médio potencial ofensivo,
que são aqueles cuja pena mínima não excede a um ano. Por interpretação lógica, é preciso concluir que a
expressão “crimes de menor potencial ofensivo”, prevista no art. 28, foi empregada em sentido amplo para
abranger também aqueles cuja pena mínima não exceda a um ano. Exegese diversa tornaria inócuo o referido
benefício, posto que, para os genuínos crimes de menor potencial ofensivo, já existe o instituto da transação
penal, que é muito mais benéfico.
Após cumprir o período de prova oriundo da suspensão do processo, a declaração de extinção da
punibilidade dependerá de laudo de constatação da reparação total do dano ambiental, salvo comprovada
impossibilidade.
22
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Apurado que o dano não foi reparado na íntegra, prorroga-se a suspensão do processo até o prazo
máximo, que é de quatro anos, acrescido de mais um ano.
Durante a prorrogação, a prescrição permanece suspensa e não há exigência de se cumprir qualquer
condição.
Findo o prazo de prorrogação, é feito novo laudo de constatação de reparação do dano ambiental e,
para que a punibilidade seja extinta, será preciso que o laudo de constatação comprove ter o acusado tomado
as providências necessárias à reparação do dano. Caso contrário, o período de prova, se ainda não havia sido
prorrogado até o máximo, poderá ser novamente prorrogado. Se já havia atingido o máximo da prorrogação,
o benefício será revogado, impondo-se então o prosseguimento do processo.
Nos arts. 29 a 37 estão os crimes contra a fauna, todos eles dolosos. Não há nenhum culposo.
Alguns desses delitos referem-se à fauna silvestre, outros, não.
São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies nativas, migratórias e
quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro
dos limites do território brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras (§3º do art.29).
Trata-se, como se vê, de uma norma penal explicativa.
Os crimes dos arts. 29 a 32 cuidam da fauna terrestre e os previstos nos arts. 33 a 35 da fauna aquática,
em especial da pesca.
O art. 36, que é outra norma penal explicativa, dispõe que: “Para os efeitos desta Lei, considera-se pesca
todo ato tendente a retirar, extrair, coletar, apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes,
crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento econômico, ressalvadas as
espécies ameaçadas de extinção, constantes nas listas oficiais da fauna e da flora”.
O art. 37, por fim, é uma norma penal permissiva, aplicável tanto à fauna terrestre quanto à aquática.
Preceitua que não é crime o abate de animal, quando realizado:
a) em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família. É o chamamento abate
famélico.
b) para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora de animais, desde
que legal e expressamente autorizado pela autoridade competente. É o chamado abate científico ou de
equilíbrio, cuja ilicitude só é excluída se houver prévia autorização da autoridade competente.
c) por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente. É o abate nocivo. É,
no entanto, necessário, para se excluir o crime, que o animal seja realmente caracterizado pelo órgão
competente como sendo nocivo, isto é, perigoso à vida ou saúde das pessoas. Exemplo: matar animal
contaminado por uma doença transmissível e grave.
No tocante à fauna terrestre, os crimes são os seguintes:
a) matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, seja ela natura ou em rota
migratória (art. 29, caput).
b) impedir a procriação da fauna (art. 29, §1º, I).
c) modificar ou danificar ninho, abrigo ou criadouro de animal (art. 29, §2°, II).
d) vender, expor a venda, exportar ou adquirir, guardar, ter um cativeiro ou depósito, utilizar ou
transportar ovos, larvas ou espécies da fauna silvestre, nativa ou rota migratória, bem como produtos e
objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados (art. 29, §1°, III). No tocante à guarda
doméstica de espécie silvestre, o §2° do art. 29 permite o perdão judicial desde que o animal não esteja
ameaçado de extinção e ainda as circunstâncias sejam favoráveis ao agente.
Em todos esses delitos acima previstos no art. 29, caput e §1°, a pena é aumentada da metade,
conforme §4°, se o crime é praticado:
I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que somente no local da infração;
II - em período proibido à caça;
III - durante a noite;
IV - com abuso de licença;
22
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
V - em unidade de conservação;
VI - com emprego de métodos ou instrumentos capazes de provocar destruição em massa.
O §5° do art. 29 ainda preceitua que a pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício
de caça profissional.
A fauna terrestre não abrange evidentemente os atos de pesca e por isso essas normas do art. 29 não
se aplicam aos crimes contra a pesca.
O art. 30 incrimina quem exporta para o exterior peles e couros de anfíbios e répteis em bruto, sem a
autorização da autoridade ambiental competente. Não se exige que se trate de animais silvestres. A
importação desse material bruto não é crime. A exportação de bolsas, sapatos e outros produtos feitos com
esse material também não é incriminada.
Na sequência, o art. 31 incrimina a importação ilegal, ou seja, a introdução de espécie animal no país
sem parecer técnico oficial favorável e licença expedida pela autoridade competente. É, pois, preciso esses
dois documentos, obtidos previamente, para que se exclua a tipicidade. Evita-se, destarte, o desequilíbrio
ambiental. A expressão “espécie animal”, abrange tanto a fauna terrestre quanto a aquática. O delito persiste
ainda que não se trate de animal silvestre. O crime se consuma quando o animal ingressa no Brasil, ainda que
ele não seja solto na natureza.
O art. 32 descreve o crime de maus tratos nos seguintes termos:
“Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados,
nativos ou exóticos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa”.
Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para
fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos (§1º).
§ 1º-A Quando se tratar de cão ou gato, a pena para as condutas descritas no caput deste artigo será de
reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, multa e proibição da guarda (Incluído pela Lei nº 14.064, de 2020).
A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal (§2º).
O objeto material do crime de maus tratos pode ser os animais silvestres, domésticos ou domesticados.
Pouco importa se o animal é nativo (originário do Brasil) ou exótico (oriundo de outro país).
Cumpre observar que a pena do crime de maus tratos a animais é superior à do art. 136 do CP, que
cuida dos maus tratos a pessoa.
No tocante à fauna aquática, o art. 33, caput, prevê como crime provocar o perecimento dessas espécies
em rios, lagos, açude, lagoas, baías ou águas jurisdicionais brasileiras. Trata-se, no entanto, de um crime de
forma vinculada, pois só há crime quando o perecimento é provocado através da emissão de efluentes ou
carreamento de materiais.
O parágrafo único do art. 33 também incrimina:
I - quem causa degradação em viveiros, açudes ou estações de aquicultura de domínio público;
II - quem explora campos naturais de invertebrados aquáticos e algas, sem licença, permissão ou
autorização da autoridade competente;
III - quem fundeia embarcações ou lança detritos de qualquer natureza sobre bancos de moluscos ou
corais, devidamente demarcados em carta náutica.
Por outro lado, no tocante à incriminação específica da pesca, cumpre observar que equipara-se à pesca
a captura ou apreensão de crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios. A planta vitória régia, por exemplo, é
um vegetal hidróbio, logo a sua retirada do local onde se encontra caracteriza também crime de pesca.
Portanto, a pesca não se relaciona apenas aos peixes.
É, pois, crime pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão
competente (art. 34, caput).
Se a pesca é feita em período no qual ela é permitida, o crime ainda pode se caracterizar quando a pesca
recair sobre espécies que devam ser preservadas ou espécimes com tamanhos inferiores ao permitido (art.
34, parágrafo único, inciso I). Outrossim, quando pescar uma quantidade superior à permitida ou então
utilizar-se de aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos (art. 34, parágrafo único, inciso II). Se,
no entanto, o agente pescar mediante explosivos ou substâncias tóxicas, incidirá no crime do art. 34, que é
punido com reclusão de um a cinco anos.
22
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
São inúmeros os delitos contra a flora, a maioria dolosos, mas há alguns culposos. Em todos esses
crimes, conforme preceitua o art. 53, a pena é aumentada de um sexto a um terço se:
I - do fato resulta a diminuição de águas naturais, a erosão do solo ou a modificação do regime climático;
II - o crime é cometido:
a) no período de queda das sementes;
b) no período de formação de vegetações;
c) contra espécies raras ou ameaçadas de extinção, ainda que a ameaça ocorra somente no local da
infração;
d) em época de seca ou inundação;
e) durante a noite, em domingo ou feriado.
Quanto aos delitos contra a flora, cumpre destacar os seguintes:
a) danificar ou utilizar indevidamente floresta de preservação permanente (art. 38). Se o crime for
culposo a pena será reduzida na metade.
b) danificar ou utilizar indevidamente vegetação do Bioma Mata Atlântica (art. 38-A). Só há o crime
quando se tratar de vegetação primária ou secundária em estágio avançado ou médio de regeneração. Se o
crime for culposo a pena será reduzida na metade.
c) cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente (art. 39).
d) causar dano direto ou indireto às Unidades de Conservação da Natureza, independentemente de sua
localização (art. 40). Entende-se por Unidades de Conservação de Proteção Integral as Estações Ecológicas, as
Reservas Biológicas, os Parques Nacionais, os Monumentos Naturais e os Refúgios de Vida Silvestre e entende-
se por Unidades de Conservação de Uso Sustentável as Áreas de Proteção Ambiental, as Áreas de Relevante
Interesse Ecológico, as Florestas Nacionais, as Reservas Extrativistas, as Reservas de Fauna, as Reservas de
Desenvolvimento Sustentável e as Reservas Particulares do Patrimônio Natural. Também é crime do art. 40
causar dano às áreas de que trata o art. 27 do Decreto 99.724/1.990. Trata-se aqui de uma norma penal em
branco, essas áreas compreendem um raio de dez quilômetros ao redor das Unidades de Conservação. Se o
crime for culposo a pena será reduzida à metade (art. 40, §3° e 40-A, §3°). A ocorrência de dano afetando
espécies ameaçadas de extinção no interior das Unidades de Conservação de Proteção Integral será
considerada circunstância agravante para a fixação da pena.
e) provocar incêndio em mata ou floresta (art. 41). A pena é de reclusão de dois a quatro anos e multa.
Se o crime é culposo a pena passa a ser de detenção de seis meses a um ano e multa. Exige-se, para a tipificação
do incêndio, que haja perigo comum a um número indeterminado de pessoas ou a espécimes da flora ou da
fauna. A simples queimada, que não provoca incêndio, isto é, que não gera perigo comum, é fato atípico. No
Código Florestal, era contravenção penal, que, no entanto, foi revogada pelo advento da lei 12.651/2.012.
f) fabricar, vender, transportar ou soltar balões (art. 42). É necessário, para que haja crime, que o balão
tenha potencial para provocar incêndios em florestas, vegetações, em áreas urbanas ou em assentamentos
humanos. Se o balão for totalmente inofensivo à provocação de incêndios, o fato será atípico.
g) extrair pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais de florestas de domínio público ou
consideradas de preservação permanente (art. 44).
h) cortar ou transportar em carvão madeira de lei para fins industriais ou para qualquer outra
exploração econômica ou não (art. 45).
i) receber ou adquirir, para fins comerciais ou industriais, madeira, lenha, carvão e outros produtos de
origem vegetal, sem exigir a exibição de licença do vendedor, outorgada pela autoridade competente, e sem
munir-se da via que deverá acompanhar o produto até final beneficiamento (art.46, caput). Incorre nas
mesmas penas quem vende, expõe à venda, tem em depósito, transporta ou guarda madeira, lenha, carvão e
outros produtos de origem vegetal, sem licença válida para todo o tempo da viagem ou do armazenamento,
outorgada pela autoridade competente (parágrafo único do art.46).
22
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
j) impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação (art.48). A pena
é de detenção, de seis meses a um ano, e multa.
k) destruir, danificar, lesar ou maltratar, por qualquer modo ou meio, plantas de ornamentação de
logradouros públicos ou em propriedade privada alheia (art.49). A pena é de detenção, de três meses a um
ano, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. No crime culposo, a pena é de um a seis meses, ou multa.
Incrimina-se, como se vê, o dano culposo em plantas.
l) destruir ou danificar florestas nativas ou plantadas ou vegetação fixadora de dunas, protetora de
mangues, objeto de especial preservação (art.50). A pena é de detenção, de três meses a um ano, e multa.
m) desmatar, explorar economicamente ou degradar floresta, plantada ou nativa, em terras de domínio
público ou devolutas, sem autorização do órgão competente (art.50-A). A pena é de reclusão de 2 (dois) a 4
(quatro) anos e multa. Não é crime a conduta praticada quando necessária à subsistência imediata pessoal do
agente ou de sua família. Se a área explorada for superior a 1.000 ha (mil hectares), a pena será aumentada
de 1 (um) ano por milhar de hectare. Assim, a cada mil hectares de desmatamento, a pena aumenta de um
ano. É o crime ambiental mais grave.
n) comercializar motosserra ou utilizá-la em florestas e nas demais formas de vegetação, sem licença
ou registro da autoridade competente (art.51). A pena é de detenção, de três meses a um ano, e multa.
o) penetrar em Unidades de Conservação conduzindo substâncias ou instrumentos próprios para caça
ou para exploração de produtos ou subprodutos florestais, sem licença da autoridade competente (art.52). A
pena é de detenção, de seis meses a um ano, e multa. Trata-se da incriminação como crime autônomo de
alguns atos preparatórios da destruição da flora. É ainda um crime de mera conduta.
INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO
Nos crimes dos arts. 38, 39 e 48, o art. 60 do Código Florestal (lei 12.651/2.012), ao cuidar do Programa
de Regularização Ambiental, estabelece que a assinatura do termo de compromisso para regularização do
imóvel ou posse rural perante o órgão ambiental competente, suspenderá a punibilidade, enquanto o termo
estiver sendo cumprido. A adesão a esse programa implicará na suspensão do processo e durante esse período
a prescrição, consoante §1° do art. 60, ficará interrompida. Descumprido o programa, a prescrição volta fluir
do início, pois a lei se refere à interrupção, e não à suspensão da prescrição. Se, no entanto, o agente cumprir
todas as exigências, a punibilidade será extinta.
Causar poluição de quaisquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à
saúde humana é crime do art. 54. Outrossim, quando provocar efetivamente a mortandade de animais ou a
destruição significativa da flora.
Quanto à poluição sonora, é mera contravenção de perturbação do sossego alheio (art. 45 do LCP), pois
o art. 59 da Lei Ambiental, que incriminava este fato, foi vetado pelo Presidente da República.
O crime de poluição pode também ser culposo (§1° do art. 54).
O crime de poluição é qualificado, nos termos do §2º do art.54, quando:
I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana;
II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das
áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população;
III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de
uma comunidade;
IV - dificultar ou impedir o uso público das praias;
V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias
oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos
O §3° preceitua que incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar,
quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental
grave ou irreversível. Trata-se um tipo especial de desobediência.
22
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Ainda sobre a poluição, o art. 60 preceitua como crime construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer
funcionar, em qualquer parte do território nacional, estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente
poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando as normas legais
e regulamentares pertinentes. Exemplo: empresas petrolíferas construídas ilegalmente.
Há ainda nessa seção III da lei 9.605/98 outros crimes ambientais, que atentam contra aspectos do meio
ambiente que não envolvem a flora nem a pesca nem a poluição.
São eles:
a) executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, permissão,
concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida (art.55).
b) produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar, armazenar,
guardar, ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao
meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos (art.56). Se
o produto ou a substância for nuclear ou radioativa, a pena é aumentada de um sexto a um terço. O fato é
também punível na modalidade culposa (§3° do art. 56).
c) disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna,
à flora ou aos ecossistemas (art.61).
22
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
ABUSO DE AUTORIDADE
Introdução
Os crimes de abuso de autoridade são disciplinados pela Lei 13.869/2.019, que revogou expressamente
a Lei 4.898/65.
A referida lei, na visão de muitos, foi editada com o propósito de conter os excessos ocorridos na
operação lava jato e outras similares, cometidos por magistrados, delegados de polícia, membros do
Ministério Público e policiais, gerando uma série de críticas.
Dificilmente, porém, terá uma ampla aplicação prática, pois para a tipificação dos delitos exige-se um
especial fim de agir, mas com certeza conterá abusos, tendo, destarte, efeito pedagógico.
Todos os delitos de abuso de autoridade são punidos com pena de detenção. Não há nenhum punido
com reclusão.
Sujeito ativo
Os crimes de abuso de autoridade são os cometidos por agente público, servidor ou não, que, no
exercício da função ou a pretexto de exercê-la, extrapole o poder que lhe tenha sido atribuído, com o fim
específico de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou
satisfação pessoal.
Trata-se de delito próprio, pois só pode ser cometido por agente público. Quanto ao particular, pode
figurar como coautor ou partícipe, nos termos dos arts. 29 e 30 do CP.
É ainda necessário que o delito seja praticado no exercício das funções ou a pretexto de exercê-las.
Assim, o agente público que está de férias, mas age como se estivesse no exercício das funções, pode
responder pelos delitos em análise.
Reputa-se agente público, nos termos do art. 2º, parágrafo único, para os efeitos desta Lei, todo aquele
que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação,
contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função em órgão
ou entidade abrangidos pelo “caput” do art. 1º da Lei 13.869/2019. Exemplos: jurados, mesários de eleição,
prefeito, vereador, funcionários públicos.
A propósito, dispõe o art. 2º, caput, da Lei 13.869/2019:
“É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente público, servidor ou não, da
administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Municípios e de Território, compreendendo, mas não se limitando a:
I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas;
II - membros do Poder Legislativo;
III - membros do Poder Executivo;
IV - membros do Poder Judiciário;
V - membros do Ministério Público;
VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas”.
Trata-se de uma norma penal explicativa ou interpretativa.
O conceito acima tem amplitude similar ao art. 327 do CP, que define o funcionário público para fins
penais.
22
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Os delitos de abuso de autoridade só são punidos a título de dolo, que é a vontade consciente de realizar
os elementos do tipo penal.
Além do dolo, ainda se exige o fim específico de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a
terceiro, ou, ainda, o fim de mero capricho ou satisfação pessoal.
Os referidos elementos subjetivos são exigidos para quase todos os delitos de abuso de autoridade,
exceto alguns.
A exigência de um destes elementos subjetivos é para os tipos penais que não fazem menção expressa
a nenhum elemento subjetivo.
Nos tipos penais que fazem menção expressa ao elemento subjetivo, não se exige os elementos
subjetivos acima, mas apenas os mencionados no próprio tipo, por força do princípio da especialidade.
Em regra, os tipos penais não contemplam nenhum elemento subjetivo e por isso exige-se um dos
elementos subjetivos do art. 1º, §1º, acima mencionados.
É necessário, para a caracterização dos delitos, a presença de pelo um dos seguintes elementos
subjetivos do tipo:
a) finalidade específica de prejudicar outrem, ou seja, causar dano patrimonial ou extrapatrimonial;
b) finalidade específica de beneficiar a si mesmo ou a terceiro, isto é, trazer alguma vantagem
patrimonial ou extrapatrimonial para si ou para outrem. Se o fim for beneficiar o sujeito passivo, não há crime;
c) fim de mero capricho, ou seja, satisfazer um desejo ou vontade, ou por simples birra;
d) fim de satisfação pessoal, que é o fim de obter prazer, alegria ou contentamento. A lei não prevê o
fim de agradar uma terceira pessoa, nesse caso, o delito não se configura, pois é vedada a analogia “in malam
partem”.
Assim, se a agente agir de boa-fé, por exemplo, com o fim de promover a defesa da sociedade, os delitos
não se caracterizam.
Uma primeira corrente, que é a dominante, sustenta que os delitos de abuso de autoridade só admitem
o dolo direto.
Outra, ao revés, aceita também o dolo eventual.
Ação penal
22
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
De acordo com o art. 5º, as penas restritivas de direitos substitutivas das privativas de liberdade
previstas nesta Lei são:
I - prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas;
II - suspensão do exercício do cargo, da função ou do mandato, pelo prazo de 1 (um) a 6 (seis) meses,
com a perda dos vencimentos e das vantagens.
As penas restritivas de direito substituem as penas privativas de liberdade. O juiz, na sentença,
primeiramente aplica a pena privativa de liberdade e, em seguida, na própria sentença, pode substituí-la pela
pena restritiva de direitos.
No Código Penal, a pena de prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas só pode ser
aplicada em condenações superiores a 6 (seis) meses, mas nos crimes de abuso de autoridade, por razões
lógicas, pode ser imposta em condenações inferiores, iguais ou superiores a 6 (seis) meses, caso contrário o
23
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
juiz teria que optar pela pena do inciso II, que é mais grave, na condenação igual ou inferior a 6 (seis) meses.
O parágrafo único do 5º acrescenta que:
“As penas restritivas de direitos podem ser aplicadas autônoma ou cumulativamente”.
A redação não é boa, mas o que o legislador quis dizer foi que as duas penas restritivas de direitos
podem ser aplicadas de forma isolada ou cumulativa.
Sobre os critérios de substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos, a lei de abuso
de autoridade é omissa e, por isso, a doutrina sugere a aplicação subsidiária do Código Penal, por força do art.
12 do CP.
Assim, grosso modo, as penas restritas de direitos só serão aplicadas aos crimes cometidos sem
violência ou grave ameaça à pessoa, cuja condenação seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos e, desde ainda,
que não se trate de reincidente específico em crime doloso (art. 44 do CP).
Sobre o reincidente, o §3º do art. 44 do CP esclarece que:
“Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de condenação
anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática
do mesmo crime”.
Exige-se ainda, para a aplicação de pena restritiva de direitos, que a culpabilidade, os antecedentes, a
conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa
substituição seja suficiente”.
O §2º do art. 44 do CP acrescenta que:
“Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena
restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena
restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos”.
A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento
injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo
cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão (§4º
do art. 44 do CP).
Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da execução penal decidirá
sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva
anterior (§5º do art. 44 do CP).
As penas previstas na Lei de Abuso de Autoridade serão aplicadas independentemente das sanções de
natureza civil ou administrativa cabíveis.
As notícias de crimes de abuso de autoridade, que descreverem falta funcional, serão informadas à
autoridade competente com vistas à apuração administrativa.
As responsabilidades civil e administrativa são independentes da criminal.
Entretanto, não se poderá mais questionar sobre a existência ou a autoria do fato quando essas
questões tenham sido decididas no juízo criminal.
Assim, a absolvição penal por negativa de autoria ou inexistência do crime impede a condenação civil e
administrativa pelo mesmo fato.
Igualmente, a condenação penal transitada em julgado obsta que, nas searas civil e administrativa,
23
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Os delitos de abuso de autoridade não têm “nomen juris”, mas para efeito didático nominá-los-ei.
É ainda necessário, para a configuração de quase todos os crimes, o fim específico de prejudicar outrem
ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, o fim de mero capricho ou satisfação pessoal.
Cumpre ainda lembrar do crime de violência arbitrária, previsto no art. 322 do CP, que consiste no fato
de o funcionário público praticar violência física no exercício da função ou pretexto de exercê-la, funciona
como crime subsidiário, caso o fato não se enquadre nos delitos de abuso de autoridade.
Os crimes de abuso de autoridade da lei 13.869/2019 contém uma definição mais precisa que os
previstos na revogada lei 4.898/65, que abarcava um número maior de situações, mas era genérica e tida por
muitos como inconstitucional.
23
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
23
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O sujeito ativo não é apenas o juiz e a autoridade policial, mas qualquer agente público que decreta
ilegalmente a condução coercitiva de alguém.
O bem jurídico protegido é a liberdade de locomoção.
O sujeito passivo é a testemunha e o investigado.
Fora das hipóteses do investigado e da testemunha, a condução coercitiva ilegal poderá caracterizar o
delito do art. 9º. Exemplo: o juiz decreta a condução coercitiva do réu para interrogatório. Outro exemplo: o
juiz decreta a condução coercitiva da vítima sem prévia intimação. Outra corrente, porém, sob o argumento
de o silêncio ter sido eloquente, considerará o fato atípico.
O núcleo do tipo é o verbo decretar, que significa ordenar, determinar, deliberar.
A condução coercitiva é uma medida cautelar diversa da prisão, embora não catalogada no rol do art.
319 do CPP, posto que consiste numa rápida privação da liberdade com o escopo de participar de um ato na
presença da autoridade.
O art. 206 do CPP prevê a condução coercitiva para o interrogatório ou qualquer outro ato que não
possa ser realizado sem a presença do acusado, como, por exemplo, o reconhecimento pessoal.
Não obstante o art. 206 do CPP condicione a condução coercitiva ao não atendimento da intimação
pessoal, o certo é que na prática alguns juízes já expediam o mandado de condução coercitiva juntamente
com o mandado de busca e apreensão domiciliar, como ocorreu com o ex-presidente Lula, na operação “lava-
jato”.
O plenário no STF, no julgamento da ADPF 444, decidiu pela não recepção do citado art. 260 do CPP, no
que diz respeito à condução coercitiva para interrogatório, por colidir com as garantias trazidas pela
Construção de 1.988.
De fato, a condução coercitiva é uma medida privativa da liberdade, ainda que por breve período, sem
embasamento constitucional.
Além disso, ainda viola os princípios da presunção de inocência. Se o acusado tem direito ao silêncio,
não faz sentido obrigá-lo a comparecer para o interrogatório.
O magistrado que ordenar a condução coercitiva para interrogatório estará sujeito à responsabilidade
penal, civil e disciplinar.
Antes deste julgamento, o STF havia dado mostras de conivência com a condução coercitiva, a ponto de
permitir que ela fosse determinada até na fase investigatória, ordenada pela autoridade policial, pois o art.
260 do CPP refere-se à autoridade e não apenas à autoridade judicial.
A condução coercitiva, entretanto, ainda é possível para o réu participar de ato processual cuja presença
seja necessária, desde que não seja para compeli-lo a fazer prova contra si mesmo.
O tipo penal em análise incrimina a condução coercitiva de testemunha ou investigado, em duas
situações.
a) quando manifestamente descabida. Não é, por exemplo, possível a decretação da condução
coercitiva do investigado, para fim de interrogatório, pois ele tem direito ao silêncio. Se houver controvérsia
jurídica sobre o cabimento da condução coercitiva, não há falar-se no delito, que só se configura, nessa
modalidade, quando a condução coercitiva for manifestamente incabível;
b) sem prévia intimação de comparecimento em juízo. O juiz Sérgio Moro, por exemplo, decretou a
condução coercitiva do ex-presidente Lula, sem prévia intimação. Hoje, isto é vedado, pois não é mais possível,
segundo já decidiu o plenário do STF, condução coercitiva para o fim de interrogatório. Em outras situações,
a condução coercitiva só poderá ser decretada após a desobediência à prévia intimação.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que é a vontade de decretar a condução coercitiva
manifestamente descabida ou sem prévia intimação.
É ainda necessário, para a configuração do crime, o fim específico de prejudicar outrem ou beneficiar a
si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, o fim de mero capricho ou satisfação pessoal.
Quanto à consumação, ocorre quando o agente ordena a condução coercitiva, ainda que está não se
concretize. Trata-se, pois, de crime formal.
A tentativa, não é possível, pois se trata de delito unissubisistente.
23
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A falta de comunicação da prisão em flagrante ao juiz se enquadra no art. 12, caput, mas a não
comunicação ao juiz acerca da execução da prisão temporária ou preventiva é delito do art. 12, parágrafo
único, inciso I. A prisão em flagrante deve ser comunicada ao juiz em até 24 horas. A execução da prisão
preventiva ou temporária lhe deve ser comunicada imediatamente.
Há também o crime de abuso de autoridade quando o agente público responsável pela prisão deixa de
comunicar imediatamente a prisão e o local onde se encontra o preso à sua família ou à pessoa por ele
indicada. Esta comunicação, que deve ser imediata, é necessária em qualquer prisão e não apenas na prisão
em flagrante. Em se tratando de criança ou adolescente, a falta de comunicação da apreensão em flagrante
será delito do art. 231 do ECA.
O tipo penal ainda incrimina o fato de deixar de entregar a nota de culpa ao preso.
23
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Na prisão em flagrante, a identificação dos responsáveis pela prisão consta na nota de culpa, que
deverá ser entregue ao preso.
A nota de culpa é o documento dirigido ao preso, onde consta:
a) o nome da autoridade policial que lavrou o auto de prisão em flagrante;
b) o nome do condutor, que é a pessoa que efetuou a prisão;
c) o nome das testemunhas;
d) o motivo da prisão.
A nota de culpa deverá ser expedida no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, após a realização da prisão
em flagrante, nos termos do §2o do art. 306 do CPP. É, pois, contado este prazo do momento da captura e não
da lavratura do auto de prisão em flagrante.
A nota de culpa, que deverá ser assinada pelo preso, não significa o reconhecimento da culpa. Trata-se,
a rigor, de um simples recibo da prisão. Caso ele se recuse a assiná-la, duas testemunhas instrumentárias
atestarão que houve a entrega da nota de culpa ao preso.
Com o fim de preservar a sua identidade, imagem e dados pessoais, é possível, nas exceções legais, que
da nota de culpa não conste o nome do condutor, das testemunhas e das vítimas.
Na prisão com ordem judicial, o preso deve receber uma cópia do mandado de prisão, onde consta a
identificação do juiz e dos responsáveis pela execução do mandado, mas a falta da entrega deste documento
não caracteriza crime de abuso de autoridade, pois é vedada analogia “in malam partem”.
Também configura crime de abuso de autoridade, nos termos do citado inciso IV, prolongar a execução
de pena privativa de liberdade, de prisão temporária, de prisão preventiva, de medida de segurança ou de
internação, deixando, sem motivo justo e excepcionalíssimo, de executar o alvará de soltura imediatamente
após recebido ou de promover a soltura do preso quando esgotado o prazo judicial ou legal. A internação, a
que se refere o texto legal, é a provisória, decretada nos termos do art. 319, VII, do CPP.
O inciso IV incrimina duas situações:
a) deixar de executar o alvará de soltura imediatamente após tê-lo recebido;
b) deixar de promover a soltura do preso quando esgotado o prazo judicial ou legal. Esgotado o prazo
judicial ou legal da prisão, o diretor do presídio, independentemente de alvará de soltura, deverá promover a
soltura do preso. A execução imediata do alvará de soltura deve ocorrer após o cumprimento dos
procedimentos de segurança necessários, incluindo a checagem sobre a existência de outras ordens de prisão
e da autenticidade do próprio alvará.
Nestas duas hipóteses, não haverá o delito se o prolongamento da prisão ocorrer por motivo justo e
excepcionalíssimo. Exemplo: o alvará de soltura é recebido na sexta-feira pela autoridade policial e não havia
ninguém no juízo criminal para confirmar a sua autenticidade.
23
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O referido delito é uma espécie de constrangimento ilegal, que é previsto no art. 146 do CP.
O núcleo do tipo é o verbo constranger, que significa coagir, forçar ou obrigar.
Exige-se ainda uma das seguintes modalidades de violência:
a) violência física: é a força bruta. Abrange as vias de fato, as lesões corporais e morte. O preceito
secundário ressalva expressamente que o agente responderá pelo delito em análise em concurso com o delito
correspondente à violência, ou seja, lesão corporal e homicídio. As vias de fato e a grave ameaça, porém, são
absorvidas.
b) violência moral: é a grave ameaça.
c) violência imprópria: é reduzir a capacidade de resistência da vítima, sem empregar violência física ou
grave ameaça. Exemplo: hipnose. Outro exemplo: aplicação de sonífero.
No delito em análise, a pessoa presa ou detida é compelida a:
a) exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública. A curiosidade pública se refere
à exposição a um número indeterminado de pessoas. O preso, para poder ser fotografado pela imprensa ou
ter a sua imagem divulgada, precisa anuir expressamente, pois essa exposição causa danos irreparáveis tanto
ao preso quanto aos seus familiares. Não se pode, entretanto, censurar o veículo de comunicação, mas este
terá que indenizar os danos materiais e morais oriundos da divulgação do momento prisão e das imagens do
preso no presídio ou na cela.
b) submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei. A situação vexatória
é a que causa humilhação. A situação constrangedora é a que causa mal estar ou desconforto. Exemplo: o
preso é compelido a exibir o seu corpo, de forma vexatória, perante pessoa ou pessoas determinadas.
c) produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro. Exemplo: obrigar o indiciado a contribuir para a
prova pericial que lhe prejudicará. Se o preso ou detento for compelido a produzir prova em benefício próprio,
o agente responderá pelo delito de constrangimento ilegal (art. 146 do CP).
Cumpre ressalvar que o constrangimento, mediante violência ou grave ameaça, para se obter
declaração, informação ou confissão é crime de tortura-prova, previsto no art. 1º, I, “a”, da Lei 9.455/97, que
absorve o crime de abuso de autoridade.
O delito de abuso de autoridade em análise faz menção à violência física, grave e violência imprópria,
ao passo que o crime de tortura-prova só prevê a violência física e a grave ameaça.
O referido crime de abuso de autoridade não exige o sofrimento físico ou mental, que, em relação ao
crime de tortura-prova, é essencial para a consumação.
Por consequência, em havendo o dolo de causar sofrimento físico ou mental, o agente responderá pelo
crime de tortura-prova, caso tenha constrangido a vítima, mediante violência ou grave ameaça, a produzir
prova contra si ou contra terceiro, através de uma confissão, declaração ou informação, absorvendo-se o
delito de abuso de autoridade, por ser de menor gravidade, por força do princípio da consunção.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo.
É ainda necessário, para a configuração do crime, o fim específico de prejudicar outrem ou beneficiar a
si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, o fim de mero capricho ou satisfação pessoal.
Quanto à consumação, ocorre quando:
a) o corpo do preso ou detento ou parte dele é exibido à curiosidade pública;
b) o preso ou detento é submetido a uma situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em
lei;
c) o preso ou detento produz prova contra si mesmo ou contra terceiro.
Trata-se de crime material, pois, para a consumação, não basta a conduta de constranger, sendo ainda
necessária a ocorrência de um dos resultados acima mencionados.
Admite-se a tentativa, quando o agente emprega a violência, mas o resultado não ocorre por
circunstâncias alheias à sua vontade.
Violação de sigilo
23
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O sujeito ativo deste delito são os agentes públicos incumbidos de colherem depoimentos. Exemplos:
juiz de direito, delegado de polícia, membros de CPI, membro do Ministério Público.
O depoimento pode ser prestado em processos cíveis, criminais, trabalhistas, administrativos,
inquéritos policiais, inquéritos civis, CPI’s e outros. Aliás, ainda que não haja qualquer procedimento
instaurado, o delito pode se configurar.
O bem jurídico protegido é o direito à proteção de segredos pessoais, que é prevista no art. 5º, X, da CF.
Os sujeitos passivos são os confidentes necessários, pessoas que, em razão da função, ministério, ofício
ou profissão, tomam conhecimento de fatos sigilosos que lhes são narrados. Exemplos: médico, advogado,
padre.
Função, ensina Magalhães Noronha, é “o encargo que alguém recebe, em virtude de lei, decisão judicial
ou contrato, como ocorre com os tutores, curadores, inventariantes, diretores de empresas, hospitais etc.”.
Ministério é o encargo relacionado a um estado ou condição pessoal, em que normalmente não há lucro.
Por exemplo: o sacerdote, a freira, o ministro de qualquer culto religioso etc.
Ofício é a atividade mecânica ou manual. Por exemplo: costureiro, barbeiro etc.
Profissão é toda atividade, particular ou pública, geralmente lucrativa e especializada, a que
habitualmente se entrega uma pessoa, destinada a prestar serviços a terceiros, inclusive ao Estado. Por
exemplo: médico, advogado, dentista, engenheiro, comerciante, servidor público etc.
Estas pessoas têm o dever de guardar segredo, sob pena de cometerem o delito do art.154 do CP. Caso
sejam arroladas como testemunhas, terão o dever de comparecer, mas não poderão prestar depoimentos
sobre fatos sigilosos.
Se o titular do segredo autorizar o depoimento, o confidente necessário terá a faculdade de revelar ou
não o segredo, de modo que, ainda assim, poderá se recusar a depor.
Confidência necessária é a revelada a pessoas que, para bem desenvolver a função, ministério, ofício ou
profissão, devem inteirar-se de segredos alheios.
Confidência voluntária é a revelada a pessoas cuja missão não é a de receber segredos.
O confidente voluntário não pode se recusar a depor.
Pela nossa lei, exige-se nexo causal entre o exercício do trabalho e o conhecimento do segredo. Urge
que o segredo tenha sido revelado ao confidente necessário, isto é, ao profissional que pela natureza da
atividade se vê obrigado a receber informações sobre fatos secretos da vida do paciente (v. g., médico,
advogado, padre etc.).
Vê-se do exposto que o trabalho deve ser a causa, e não a ocasião, do conhecimento do segredo. Este
deve ser obtido ratione officii.
Como explica Magalhães Noronha, “o médico que vai visitar a cliente e a encontra em colóquio amoroso
com outrem, não está obrigado a segredo profissional, pois as relações ilícitas da paciente nada têm a ver com
o exercício de medicina”.
Este dever de guardar segredo nem sempre foi compreendido por todos magistrados, sendo comum o
confidente necessário, num primeiro momento invocar o dever de sigilo, mas, após ser ameaçado de prisão
pelo juiz, acaba sendo compelido a depor.
Cumpre ressalvar que, nos casos em que a própria lei obriga o confidente necessário a revelar o segredo,
ele terá que depor, sob pena de ser preso em flagrante por falso testemunho.
O núcleo do tipo é o verbo constranger, que significa obrigar, forçar, intimidar, coagir.
É necessário, para que o delito se configure, que o constrangimento seja para compelir o sujeito passivo
a depor, o que pressupõe a sua condição de testemunha.
Não há o crime quando o constrangimento é para a vítima prestar declarações, pois é vedada a analogia
“in malam partem”.
O delito é ainda de forma vinculada, pois o meio de execução deve ser a ameaça de prisão. Outras
23
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
ameaças não são contempladas pelo tipo penal, mas o agente poderá responder pelo crime de
constrangimento ilegal, previsto no art. 146 do CP. Exemplo: ameaça de colocar tornozeleira eletrônica.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo.
É ainda necessário, para a configuração do crime, o fim específico de prejudicar outrem ou beneficiar a
si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, o fim de mero capricho ou satisfação pessoal.
Sobre o momento consumativo, o tipo penal comporta duas interpretações.
Primeira, consuma-se com o constrangimento, independentemente do efetivo depoimento. Nesse caso,
não há falar-se em tentativa.
Segunda, consuma-se com o depoimento. Nesse caso, o constrangimento seria mera tentativa.
Interrogatório abusivo
Sujeito ativo é o agente público que preside o interrogatório, geralmente, o juiz e a autoridade policial.
A lei, entretanto, não exige que se trate de um procedimento investigatório ou judicial e, por isso, abarca
também os interrogatórios que ocorrem em procedimentos administrativos e inquérito civil
O bem jurídico protegido é o princípio da ampla defesa.
O sujeito passivo é a pessoa interrogada.
O núcleo do tipo é o verbo prosseguir, que significa continuar, dar sequência.
São dois os delitos descritos no referido parágrafo único.
O primeiro consiste em prosseguir o interrogatório da pessoa que tenha decidido exercer o direito ao
silêncio. Exemplo: após o réu exercer o direito ao silêncio, o juiz continua a lhe formular perguntas.
O segundo se refere a prosseguir o interrogatório sem a presença de patrono da pessoa que tenha
optado em ser assistida por advogado ou defensor público. Assim, se o investigado ou réu se recusa a depor
sem a presença de advogado ou defensor público, a autoridade policial ou judicial não poderá realizar o seu
interrogatório. Aliás, na fase processual, o interrogatório sem a presença do advogado ou defensor público
será nulo.
Ambos os delitos podem se verificar em qualquer tipo de processo ou procedimento, penal ou
extrapenal, onde haja interrogatório.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo.
É ainda necessário, para a configuração do crime, o fim específico de prejudicar outrem ou beneficiar a
si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, o fim de mero capricho ou satisfação pessoal.
O delito se consuma com o prosseguimento do interrogatório, após o sujeito passivo optar pelo silêncio
ou pela presença de advogado ou defensor público, ainda que não responda a nenhuma pergunta.
Admite-se a tentativa, quando o agente público é impedido de prosseguir com o interrogatório, por
circunstâncias alheias à sua vontade. Exemplo: fuga do interrogado.
23
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
detenção ou prisão.
O sujeito passivo é a pessoa presa. Caso haja a captura ou detenção, mas sem a concretização da prisão,
o delito não se configura, pois o sujeito passivo é o preso e não a pessoa capturada ou detida. Tratando-se de
criança ou adolescente, o delito será o previsto no parágrafo único do art. 230 do ECA.
A propósito, a prisão em flagrante passa por quatro fases:
a) captura;
b) condução coercitiva até a autoridade policial;
c) lavratura do auto de prisão em flagrante;
d) recolhimento ao cárcere.
A prisão em flagrante só se verificará se houver o recolhimento ao cárcere. A captura e a condução
coercitiva não são prisões, mas meros atos de privação da liberdade, pois, no sentido técnico jurídico, prisão
é a privação da liberdade mediante encarceramento.
É perfeitamente possível a captura e a condução coercitiva sem que haja a lavratura do auto de prisão
em flagrante e o recolhimento ao cárcere, nas seguintes hipóteses:
a) infrações penais de menor potencial ofensivo. Nesse caso, após a lavratura do Termo
Circunstanciado, se o agente for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de
comparecer ao juizado criminal não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança (art. 69, parágrafo
único, da Lei 9.099/95). Se, porém, o agente se recusar a assumir este compromisso de comparecer, a
autoridade policial deverá lavrar o auto de prisão em flagrante e, em seguida, lhe conceder a liberdade
provisória com fiança.
b) crime de porte ou plantio de droga para consumo pessoal. Nesse caso, não se imporá prisão em
flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo competente ou, na falta deste,
assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-se as
requisições dos exames e perícias necessários (§2o do art. 48 da Lei 11.343/06). Ainda que o agente se recuse
a assinar o compromisso de comparecer não lhe será imposta a prisão em flagrante ou qualquer medida
restritiva da liberdade, pois o delito do art. 28 não admite a pena privativa de liberdade.
c) quando a autoridade policial constatar que não há fundada suspeita (§1o do art. 304 do CPP).
d) crimes de trânsito, quando o motorista houver socorrido a vítima. Ao condutor de veículo, nos casos
de acidentes de trânsito de que resulte vítima, não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se
prestar pronto e integral socorro àquela (art. 301 do CTB).
São duas as formas de realizar o delito em análise. Ei-las:
a) deixar de identificar-se ao preso. Aqui o delito é omisso próprio. É preciso que se trate de uma
omissão dolosa, ou seja, intencional, pois o delito não é punido na forma culposa. Assim, o mero esquecimento
não constitui crime. Se, porém, a pessoa que está sendo presa a identificação e o agente público se recusa a
identificar-se haverá o delito em análise, salvo se havia algum motivo justo. Ao prender, por exemplo, um
perigoso bandido, o agente policial que, por temer represálias, recusa-se a identificar-se, não cometerá o
referido delito.
b) identificar-se falsamente. Trata-se de crime comissivo. É, pois, uma espécie de falsa identidade. É
preciso que a mentira recaia sobre o nome, pois o tipo penal, ao contrário do seu parágrafo único, não faz
menção à falsidade sobre o cargo e função.
O delito só se caracteriza quando o agente deixa de identificar-se ao preso ou identifica-se falsamente
durante a captura, detenção ou prisão. Fora desses momentos, o delito não se configura.
Convém frisar que, no caso de captura ou detenção, a recusa em se identificar ou a falsa identificação
só será crime se a captura ou detenção se converter em prisão, pois, conforme já dito, o sujeito passivo é o
preso e não a pessoa detida ou capturada.
O crime só se configura quando a omissão ou a falsa identidade ocorrer por ocasião da captura ou
durante a detenção ou prisão. Em relação às pessoas que já se encontram presas, não há falar-se no delito em
análise. Não comete, por exemplo, o crime, o carcereiro que se recusa a fornecer a sua identificação a uma
pessoa presa.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo.
É ainda necessário, para a configuração do crime, o fim específico de prejudicar outrem ou beneficiar a
24
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Violência Institucional
No plano processual, a violência institucional, que produz a revitimização, já era proibida pelos seguintes
diplomas normativos:
a) Lei nº 13.431/2017, que disciplina a escuta especializada e o depoimento especial de crianças e
adolescentes que figurem como vítimas ou testemunhas de violência (artigos 7º a 12).
b) Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha): prevê a inquirição especial de mulher em situação de violência
doméstica e familiar ou de testemunha de violência doméstica, quando se tratar de crime contra a mulher
(art. 10-A, introduzido pela Lei 13.505/2017).
c) Lei 14.245/2021 (Lei Mariana Ferrer): estabelece que, na audiência de instrução e julgamento,
durante a instrução em plenário do júri, bem como na audiência do Juizado Especial Criminal, todas as partes
e demais sujeitos processuais presentes no ato deverão respeitar a dignidade da vítima (arts. 400-A e 474-A
do CPP e 81 da Lei nº 9.099/95, introduzidos pela Lei 14.245/2021).
Não se pode, destarte, se recorrer ao princípio da ampla defesa como pretexto para se produzir a
revitimização, pois todo e qualquer direito só pode ser invocado à vista de uma finalidade ética.
Noutras palavras, a vedação da violência institucional impõe limites à ampla defesa, relativizando-a, a
fim de que seja exercida dentro dos padrões de razoabilidade.
No âmbito do direito penal, porém, ainda não havia o crime específico de violência institucional, mas a
lacuna acabou sendo suprida com o advento do art. 15-A da Lei 13.869/2019, introduzido pela Lei nº 14.321,
de 2022.
De fato, dispõe o citado art. 15-A:
“Submeter a vítima de infração penal ou a testemunha de crimes violentos a procedimentos
desnecessários, repetitivos ou invasivos, que a leve a reviver, sem estrita necessidade:
I - a situação de violência; ou
II - outras situações potencialmente geradoras de sofrimento ou estigmatização:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa”.
Como se vê, o delito de violência institucional é o praticado por agente público, no exercício da função
ou em razão dela, através de procedimentos desnecessários, repetitivos ou invasivos, que produzem a
revitimização.
A revitimização ou vitimização
24
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
ou, em sendo homem a vítima, como injúria (art. 140 do CP), outrossim, como coação no curso do processo,
caso haja emprego de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio (art. 344
do CP).
No concernente aos agentes públicos que podem figurar como sujeito ativo, há duas interpretações.
Primeira, apenas os que atuam na área criminal. Exemplos: delegados de polícia, promotores de justiça,
juízes criminais, policiais militares, policiais penais, policiais civis, etc.
Segunda, qualquer agente público que, no exercício da função ou em razão dela, entrar em contato,
ainda que informalmente, com vítimas e testemunhas de crimes. Exemplo: psicólogos e assistentes sociais que
atuam como auxiliares da justiça na área da Infância e Juventude.
Filio-me entre os adeptos da segunda corrente, pois o tipo penal não faz qualquer referência à área de
atuação do agente público, de tal sorte que onde a lei não distingue ao intérprete não é lícito distinguir.
Nesta linha de raciocínio, o delito poderia também ser perpetrado em processos cíveis, trabalhistas,
administrativos, inquéritos civis, procedimentos de apuração de atos infracionais, etc.
O delito também pode ser praticado antes da instauração de qualquer procedimento. Exemplo:
revitimização praticada por policial militar durante a lavratura do boletim de ocorrência.
Quanto ao bem jurídico protegido, é prioritariamente a saúde psicológica e secundariamente o regular
funcionamento das instituições estatais.
A saúde psicológica é abalada com o sofrimento psíquico. É a que é atingida pelo dano emocional.
De fato, o tipo penal se refere à conduta que leva a vítima ou testemunha a reviver “situações
potencialmente geradoras de sofrimento ou estigmatização”.
O delito, como se vê, é de perigo concreto, sendo mister a demonstração de que a revivência dos fatos
expõe a vítima ou testemunha a perigo de sofrimento ou estigmatização.
Quanto, à honra, que é o conjunto dos atributos que confere à pessoa estima própria e reputação social,
a rigor, não é objeto jurídico, pois, para a tipicidade, não há necessidade de o agente proceder com “animus
injuriandi” vel diffamandi”.
O sujeito passivo é a vítima de infração penal ou a testemunha de crimes violentos, podendo atingir
tanto os homens quanto as mulheres, inclusive, idosos ou crianças.
Quanto ao informante, que é a testemunha que não presta compromisso legal, também pode figurar
como sujeito passivo do delito, pois não há como negar que, na essência, se trata também de testemunha,
mas o assunto poderá ensejar polêmica.
A testemunha de crime só pode figurar como sujeito passivo quando houver testemunhado crime
violento.
Diversamente, a vítima pode ser sujeito passivo, ainda que a infração penal que a acometeu não tenha
sido praticada com violência,
Em suma, o tipo penal se refere à vítima de infração penal e testemunha de crimes violentos.
É, no entanto necessário, que tanto os crimes violentos quanto as demais infrações penais provoquem
no sujeito passivo situações potencialmente geradoras de sofrimento ou estigmatização, caso contrário o fato
será atípico por ausência de perigo de lesão ao bem jurídico.
O termo infração penal é o gênero que abrange tanto os crimes quanto as contravenções, ainda que
sem violência ou ameaça, compreendendo até mesmo os delitos culposos, pois a lei não faz qualquer
distinção.
Sobre o que significa “crimes violentos”, há três interpretações.
Primeira, compreende somente os cometidos com violência física, pois se o tipo penal almejasse
também abranger a violência psicológica teria empregado a expressão “crimes violentos ou com grave
ameaça”.
Segunda, abrange tanto os crimes cometidos com violência física quanto os perpetrados com grave
ameaça, pois o bem jurídico protegido é a saúde psicológica, que também pode ser lesada ou exposta a perigo
com a grave ameaça.
Terceira, os crimes violentos são os que lesam ou expõe a perigo, com intensidade, qualquer bem
jurídico, compreendendo não só aqueles em que há violência física ou grave ameaça (violência psicológica)
como também os que se caracterizam pela violência patrimonial, violência sexual e violência moral, tanto é
24
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
que o tipo penal se refere a fatos que levam a reviver não só a situação de violência; como também outras
situações potencialmente geradoras de sofrimento ou estigmatização, circunstância que permite a
interpretação de que o termo violência foi realmente empregado em sentido amplo, nos moldes já adotado
pela Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha).
Aliás, a adoção das duas primeiras correntes geraria o absurdo de deixar sem proteção a vítima do crime
de estupro de vulnerável (art. 217-A do CP, diante da ausência de violência ou grave ameaça.
Por outro lado, o núcleo do tipo é o verbo submeter, que foi empregado no sentido de expor a uma
situação ruim.
É importante destacar que, para a caracterização do crime, o agente deve submeter a vítima ou
testemunha a procedimentos desnecessários, repetitivos ou invasivos.
Não há necessidade, para a tipicidade, que a pergunta seja dirigida ao sujeito passivo, pois o que importa
é que ele tenha sido submetido, no ambiente supervisionado pelo Estado, a uma situação de revitimização.
Se, por exemplo, o juiz, ao formular ao perito uma pergunta totalmente desnecessária, que leve a
vítima, presente à audiência, a reviver a situação de violência, o delito poderá se caracterizar.
Se o mesmo fato causar a revitimização em mais de um sujeito passivo haverá concurso de crimes de
violência institucional.
O tipo penal se refere a “procedimentos” no plural, mas a referida expressão, que compreende os
diversos modo de agir do agente, é indicativa de gênero, no sentido de que o delito pode se caracterizar com
qualquer tipo de ação ou omissão que leve à revitimização do sujeito passivo.
Não se exige, destarte, a pluralidade de atos, o que transformaria o delito em habitual, bastando assim
apenas um.
Os procedimentos que caracterizam o crime são os desnecessários, repetitivos ou invasivos.
Desnecessários são os dispensáveis à solução dos fatos.
Repetitivos são os que já foram realizados, com força probatória.
Invasivos são os que adentram na esfera de privacidade do sujeito passivo, além dos limites aceitáveis
pelo bom senso.
O delito é de forma livre. pois admite inúmeros meios de execução. Exemplos: perguntas humilhantes,
exibição de fotos da vítima nua, reconstituição simulada do crime sexual, com a presença da vítima.
Não basta, para a caracterização do crime, que os procedimentos sejam desnecessários, repetitivos ou
invasivos, pois é ainda mister que cause a revitimização, ou seja, que leve a vítima ou a testemunha a reviver
sem estrita necessidade a situação de violência ou outras situações potencialmente geradoras de sofrimento
ou estigmatização.
O tipo penal prevê a interpretação analógica, pois, após mencionar a fórmula casuística representada
pela expressão “situação de violência”, se utiliza da seguinte fórmula genérica: “ou outras situações
potencialmente geradoras de sofrimento ou estigmatização”.
Assim, a revivência de situação de violência ou não violência só gera a revitimização, necessária à
configuração do delito em apreço, quando for potencialmente geradora de sofrimento ou estigmatização, o
que deve ser analisado no caso concreto.
A revivência de situações que não tem potencial para gerar sofrimento ou estigmatização constitui fato
atípico.
O sofrimento é a dor psicológica.
A estigmatização, por sua vez, é o fato de o sujeito passivo ser lembrado, classificado ou qualificado de
uma forma desagradável, o que obviamente também tem potencial para gerar sofrimento, razão pela qual
nem havia necessidade de sua menção.
O sofrimento ou estigmatização não precisam ter conotação sexual, pois o tipo penal não faz qualquer
restrição nesse sentido, podendo assim compreender outros tipos de recordações com potencial para causar
dor psíquica, como é o caso do sofrimento patrimonial, moral, físico, etc.
O elemento normativo do tipo recai sobre a expressão “sem estrita necessidade”.
Por consequência, se o agente realizar os procedimentos repetitivos ou invasivos, que levam à
revitimização, mas que se revelam estritamente necessários à solução dos fatos, não há falar-se em crime.
Em relação aos procedimentos desnecessários, sob pena de redundância, prescindem da invocação do
24
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
24
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
á imputado o delito de coação no curso do processo, previsto no art. 344 do CP. Nesse caso, o agente público,
que permitiu a intimidação através de violência ou grave ameaça, será participe, por omissão, do crime de
coação no curso do processo, absorvendo-se, porém, o crime de violência institucional, que é de menor
gravidade, por força do princípio da consunção.
b) que o agente público permita a intimidação. Permitir é anuir, concordar. Assistir inerte à intimidação
configura permissão tácita, tendo em vista que há o dever jurídico de impedir o resultado (§2º do art. 13 do
CP).
c) que a intimidação recaia sobre a vítima de crimes violentos. Exclui-se assim a majorante quando a
intimidação é dirigida à testemunha de crimes violentos ou a vítima de crimes não violentos.
d) que a intimidação gere a indevida revitimização, ou seja, faça a vítima reviver, sem estrita
necessidade. a situação de violência ou outras situações potencialmente geradoras de sofrimento ou
estigmatização.
e) que a intimidação ocorra mediante procedimentos desnecessários, repetitivos ou invasivos. De fato,
como se trata de tipo penal derivado, impõe-se, para a sua incidência, a realização dos elementos descritos
no “caput”.
É relevante acrescentar que se ocorrer de o terceiro realizar procedimentos desnecessários, repetitivos
ou invasivos, mas sem intimidar a vítima, levando-a, porém, à revitimização, não há falar-se na incidência da
majorante em debate, mas o agente público, que permitiu ou assistiu inerte, como tinha o dever jurídico de
agir, nos termos do § 2º do art. 13 do CP, responderá pelo delito de violência institucional, previsto no “caput”
do citado art. 15-A.
A segunda majorante, prevista no § 2º do art. 15-A, prevê que “se o agente público intimidar a vítima
de crimes violentos, gerando indevida revitimização, aplica-se a pena em dobro”.
Eis os requisitos para a sua incidência:
a) que a intimidação recaia sobre a vítima de crimes violentos. Exclui-se assim a majorante quando a
intimidação é dirigida à testemunha de crimes violentos ou a vítima de crimes não violentos.
b) que a intimidação gere a indevida revitimização, ou seja, faça a vítima reviver, sem estrita
necessidade. a situação de violência ou outras situações potencialmente geradoras de sofrimento ou
estigmatização.
c) que a intimidação ocorra mediante procedimentos desnecessários, repetitivos ou invasivos. De fato,
como se trata de tipo penal derivado, impõe-se, para a sua incidência, a realização dos elementos descritos
no “caput”.
Por fim, a ação penal é pública incondicionada.
O delito em análise incrimina o responsável pelo interrogatório do preso que deixa de identificar-se ou
identifica-se falsamente.
O sujeito ativo é a pessoa responsável pelo interrogatório, ainda que, pela lei, não tenha esta atribuição.
Comete, por exemplo, o delito, o escrivão de polícia que, ao realizar o interrogatório do preso, identifica-se
como sendo o delegado de polícia.
O sujeito passivo é o investigado preso. Não há o delito, diante da lacuna da lei, quando se tratar de
investigado solto, pois o tipo penal refere-se apenas ao preso.
Estranhamente, a lei só incrimina o fato quando ocorrido em procedimento investigatório de infração
penal. Caso se verifique na fase judicial, não há falar-se no delito em análise, pois é vedada a analogia “in
malam partem”.
São duas as formas de se praticar o crime:
24
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
a) deixar de identificar-se;
b) identificar-se falsamente. É o fato de atribuir a si mesmo falsa identidade, falso cargo ou falsa função.
Se o agente é confundido com outra autoridade e se mantém em silêncio, o delito não se caracteriza, pois é
necessário que a falsidade seja irrogada pelo próprio agente.
O sujeito ativo é o agente público que realizou o interrogatório policial, no exercício da função ou a
pretexto de exercê-la, ainda que não seja esta a sua a função.
O tipo penal só faz menção ao interrogatório policial, ou seja, realizado na fase do inquérito policial.
Por consequência, o delito não se caracteriza quando o interrogatório durante o repouso noturno
houver sido realizado pelo representante do Ministério Público, nos procedimentos investigatórios de sua
atribuição.
O bem jurídico protegido é a administração da justiça e a dignidade do preso.
O sujeito passivo é o investigado preso.
O delito em análise incrimina o interrogatório policial do preso durante o repouso noturno, salvo em
duas hipóteses:
a) prisão em flagrante;
b) consentimento do preso, que esteja assistido por advogado ou defensor público. Sem a assistência
do seu patrono, ele não poderá ser interrogado durante o repouso noturno, ainda que consinta.
O repouso noturno é um elemento normativo do tipo. Trata-se do pedaço da noite em que, segundo os
costumes ou as normas administrativas do presídio, os presos se recolhem para dormir.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo.
É ainda necessário, para a configuração do crime, o fim específico de prejudicar outrem ou beneficiar a
si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, o fim de mero capricho ou satisfação pessoal.
Quanto à consumação, ocorre com o início do interrogatório.
Admite-se a tentativa, quando o interrogatório não se inicia por circunstâncias alheias à vontade do
agente.
O sujeito ativo pode ser qualquer agente público que, no exercício da função ou a pretexto de exercê-
la, tenha realizado a conduta descrita no tipo penal.
O bem jurídico protegido é o direito de petição, que consiste em formular requerimentos às autoridades
públicas, sem a assistência de advogado.
O sujeito passivo é o preso. Não abrange os adolescentes apreendidos, pois eles não são rotulados como
presos, mas outra corrente, por interpretação extensiva, também os compreende. O tipo penal também não
faz menção ao doente mental internado, em razão de medida de segurança, sendo vedada a analogia “in
malam partem”.
Os núcleos do tipo são os verbos impedir e retardar.
Impedir é obstar, criar obstáculos.
24
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O sujeito ativo do delito é apenas o magistrado que tem competência para fiscalizar o presídio ou decidir
sobre a prisão. Não abrange outras autoridades.
O núcleo do tipo é verbo deixar, que indica uma omissão definitiva. Não se incrimina o retardar, que é
o simples atraso com o propósito de agir posteriormente.
São duas as formas de se praticar o delito:
a) o magistrado, ciente do impedimento ou da demora, deixa de tomar as providências para sanar
ilegalidade, ou seja, para que o pleito do preso lhe seja enviado.
b) o magistrado, ciente do impedimento ou da demora, mas não sendo competente para decidir sobre
a prisão, deixa de enviar o pedido à autoridade judiciária que o seja.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo. Exige-se o dolo direto, a ciência, ou seja, a certeza acerca da
violação do direito de petição do preso. Na dúvida, não há falar-se no delito.
É ainda necessário, para a configuração do crime, o fim específico de prejudicar outrem ou beneficiar a
si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, o fim de mero capricho ou satisfação pessoal.
Em ambas as modalidades, o delito é omissivo próprio e se consuma quando flui um tempo suficiente
para se demonstrar a omissão do magistrado.
Não se admite a tentativa.
24
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O sujeito ativo pode ser qualquer agente público que, no exercício da função ou a pretexto de exercê-
la, tenha realizado a conduta descrita no tipo penal.
O bem jurídico protegido é o direito de defesa do preso e o direito do advogado de comunicar-se com
seu cliente preso.
Sujeitos passivos são o preso e o seu advogado. Não é qualquer advogado, mas apenas o advogado do
preso, pois o tipo penal se refere à comunicação do preso “com seu advogado”. O tipo penal, ao contrário do
seu parágrafo único, não faz menção à defensoria pública, sendo vedada a analogia “in malam partem”,
embora o defensor público também tenha o direito de se comunicar com o preso.
Em qualquer modalidade de interrogatório, ainda que realizado mediante videoconferência, o juiz
garantirá ao réu o direito de entrevista prévia e reservada com o seu advogado ou defensor durante um tempo
razoável.
O direito de entrevista prévia é uma conversa reservada para acertar os pontos da defesa.
Em relação ao investigado ou réu solto, o delito em análise não se caracteriza, mas se o impedimento,
nessa hipótese, ocorrer antes de uma audiência judicial, haverá o delito do parágrafo único do art. 20.
O núcleo do tipo é verbo impedir, que significa obstar. Não se incrimina a conduta de retardar ou atrasar
a comunicação entre o preso e seu advogado.
O referido delito visa garantir o contato entre o preso e seu advogado, em local reservado, ou seja, onde
se garanta o sigilo desta conversa.
Trata-se da entrevista que não antecede a uma audiência judicial, pois, nesse caso, o delito será o
previsto no parágrafo único deste art. 20.
Vê-se assim que o direito de o preso entrevistar-se com seu advogado é também assegurado na fase
das investigações, antes do interrogatório ou em qualquer outro momento.
O elemento normativo do tipo é a expressão “sem justa causa”. Se havia motivos, por exemplo, motim
no presídio, não há falar-se no delito.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo.
É ainda necessário, para a configuração do crime, o fim específico de prejudicar outrem ou beneficiar a
si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, o fim de mero capricho ou satisfação pessoal.
A consumação ocorre quando a conduta do agente impede a comunicação entre o preso e seu
advogado.
Trata-se de crime material. Admite-se, portanto, a tentativa, quando o agente realiza, sem sucesso, os
atos de execução para impedir a comunicação.
24
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
seu advogado ou defensor e de com ele se comunicar. Se não sentou ao lado, mas pode se comunicar, não há
o crime. Se sentou ao lado, mas não pode se comunicar, também não há crime. A redação inadequada obsta
a tipificação dessa última conduta, não obstante a sua gravidade
O sujeito ativo é o agente público que, no exercício da função ou a pretexto de exercê-la, realiza a
conduta descrita no tipo penal.
O bem jurídico protegido é a dignidade da pessoa.
O sujeito passivo, no delito do “caput”, pode ser qualquer pessoa, mas, na figura típica do parágrafo
único, é a criança ou adolescente.
O núcleo do tipo é o verbo manter, que significa fazer permanecer ou perdurar determinada situação,
outrossim, reter ou acondicionar.
É preciso que a manutenção seja na mesma cela ou no mesmo espaço de confinamento, ou seja, em
qualquer ambiente onde as pessoas são isoladas das demais. Exemplos: camburão, quarto, sala, etc.
O tipo penal incrimina as seguintes situações:
a) manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou em espaço de confinamento. Não se pune a
manutenção de um travesti numa cela masculina, sendo vedada a analogia “in malam partem”, salvo quando
em seu documento pessoal constar o sexo feminino.
b) manter na mesma cela criança ou adolescente na companhia de maior de idade. Ainda que todos
sejam do mesmo sexo, haverá o delito em análise.
c) manter na mesma cela criança ou adolescente em ambiente inadequado. O tipo penal não veda
expressamente a manutenção na mesma cela de criança ou adolescente de sexos diferentes, mas, nessa
situação, o delito pode se caracterizar se o ambiente se revelar inadequado, ou seja, gerar constrangimento
ou for propício a atos impróprios.
Convém observar que a criança não pode, em hipótese alguma, ser mantido em cela, pois não se sujeita
às medidas socioeducativas.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo.
É ainda necessário, para a configuração do crime, o fim específico de prejudicar outrem ou beneficiar a
si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, a realização da conduta por mero capricho ou satisfação pessoal.
A consumação ocorre quando o agente mantém as pessoas numa das situações descritas no tipo, ainda
que por pouco tempo.
Admite-se a tentativa.
Violação de domicílio
24
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Trata-se do crime de violação de domicílio cometido por agentes públicos, estando, pois, revogado
expressamente pela lei em comento o disposto no §2º do art. 150 do CP, que também versava sobre o mesmo
assunto.
A revogação, entretanto, não foi uma boa solução, pois a violação de domicílio, que constitui delito de
abuso de autoridade, exige elementos subjetivos específicos que tornam difícil a sua configuração.
O bem jurídico protegido é o direito à intimidade.
O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa física ou jurídica.
O delito em análise refere-se a imóvel alheio. Quanto aos bens móveis que funcionam como domicílio ,
como na hipótese de o agente morar no próprio veículo, a invasão sem ordem judicial ou com ordem judicial,
mas no período noturno, conquanto ilícita, não configura o delito em análise, pois é vedada a analogia “in
malam partem”, mas o agente poderá ser enquadrado no delito de violação de domicílio do art. 150 do CP.
O tipo penal incrimina as seguintes condutas:
a) Invadir, adentrar ou permanecer em imóvel alheio ou em suas dependências, sem autorização do
ocupante ou do juiz. Durante o dia, o ingresso é possível com ordem judicial ou autorização do morador, mas
à noite, ou seja, após as 21h (vinte e uma horas) ou antes das 5h (cinco horas), só é possível mediante
autorização do morador.
b) coagir alguém, mediante violência ou grave ameaça, a franquear-lhe o acesso a imóvel ou suas
dependências. O delito se consuma com a coação, ainda que o agente não consiga ter acesso ao imóvel. Trata-
se de uma tentativa punida como crime consumado.
c) cumprir mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h (vinte e uma horas) ou antes das 5h
(cinco horas). O mandado de busca domiciliar só pode ser expedido pelo juiz competente, sendo que o seu
cumprimento só poderá ser feito durante o dia, ou seja, após as 5h (cinco horas) e antes das 21h (vinte e uma
horas). Se, entretanto, houver a autorização do morador, o cumprimento também poderá ocorrer no período
noturno.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo.
É ainda necessário, para a configuração do crime, o fim específico de prejudicar outrem ou beneficiar a
si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, que o agente realize a conduta por mero capricho ou satisfação pessoal.
O delito se consuma com a realização da conduta. No verbo permanecer, exige-se, para a consumação,
que o agente persista em ficar no local, contra a vontade da vítima, por um lapso de tempo razoável, que
demonstre o seu propósito de ali continuar.
Admite-se a tentativa. No verbo coagir, só será possível a tentativa na hipótese de o agente enviar uma
ameaça por escrito, mas que, por circunstâncias alheia à sua vontade, não chega ao conhecimento da vítima.
Por fim, não haverá delito algum quando o ingresso for no imóvel alheio for para:
a) prestar socorro;
b) realizar prisão em flagrante, quando houver fundados indícios da situação de flagrante;
c) em caso de desastre.
Fraude processual
Dispõe o art. 23:
“Inovar artificiosamente, no curso de diligência, de investigação ou de processo, o estado de lugar, de
coisa ou de pessoa, com o fim de eximir-se de responsabilidade ou de responsabilizar criminalmente alguém
25
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
ou agravar-lhe a responsabilidade:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem pratica a conduta com o intuito de:
I - eximir-se de responsabilidade civil ou administrativa por excesso praticado no curso de diligência;
II - omitir dados ou informações ou divulgar dados ou informações incompletos para desviar o curso da
investigação, da diligência ou do processo”.
Trata-se de uma espécie de fraude processual, cuja incriminação já é prevista no art. 347 do CP.
O sujeito ativo é o agente público que, no exercício da função ou a pretexto de exercê-la.
Não é necessário que o sujeito ativo seja parte ou tenha interesse no processo. Aliás, ele nem precisa
conhecer os eventuais beneficiados.
O bem jurídico protegido é o regular funcionamento da administração da justiça.
O sujeito passivo é tanto o Estado quanto a pessoa prejudicada com a fraude processual.
O núcleo do tipo é o verbo inovar, que significa modificar, através de acréscimo ou supressão.
O meio de execução é a fraude, que consiste em qualquer meio enganoso. É, pois, necessária que se trate
de uma inovação artificial, que é o oposto daquilo que é natural. Este delito, na doutrina, também é conhecido
como estelionato processual.
O delito deve ser praticado no curso de diligência, investigação ou processo. Abrange qualquer processo
judicial. Exemplos: processos trabalhistas, família, sucessões, etc. O processo administrativo, por sua vez, é o
instaurado perante as autoridades administrativas (exemplos: sindicâncias, processos disciplinares, processos
fiscais).
O delito pode ser também praticado até mesmo antes do início do processo ou das investigações, pois a
lei admite a sua prática quando também praticado no curso de diligência, ainda que esta não tenha caráter
investigatório ou processual.
A inovação fraudulenta, para ser criminosa, deve modificar o estado, ou seja, a situação ou posição do:
a) lugar: Exemplo: o criminoso limpa o local do crime para apagar as suas impressões digitais.
b) coisa: Exemplo: mudar a posição do cadáver ou colocar uma arma em suas mãos para simular o
suicídio.
c) pessoa.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste na vontade consciente de realizar a conduta
criminosa.
É ainda necessário o dolo específico, o fim de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro
ou ainda o fim de mero capricho ou de satisfação pessoal.
Caso haja o fim de eximir-se de responsabilidade civil ou administrativa por excesso praticado no curso
de diligência ou de omitir dados ou informações ou divulgar dados ou informações incompletos para desviar
o curso da investigação, da diligência ou do processo, o agente responderá pela figura equiparada, prevista no
parágrafo único do art. 23.
Quanto à consumação, verifica-se no momento da alteração do local, coisa ou pessoa,
independentemente de se atingir o fim de induzir a erro o juiz ou o perito. Trata-se de delito formal, pois se
consuma independentemente do resultado.
Admite-se a tentativa. Exemplo: o agente é surpreendido segundos antes de iniciar a inovação
fraudulenta.
25
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem faz uso de prova, em desfavor do investigado ou
fiscalizado, com prévio conhecimento de sua ilicitude”.
25
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Parágrafo único. Não há crime quando se tratar de sindicância ou investigação preliminar sumária,
devidamente justificada”.
Divulgação de gravação
O delito em análise foi motivado pelo ato do juiz Sérgio Moro que, na operação lava jato, divulgou
trechos da gravação do ex-presidente Lula e também de sua mulher Maria Letícia, sem relação com a prova
do processo.
O bem jurídico protegido é o direito à intimidade e à vida privada.
A publicidade do processo só autoriza a divulgação das provas relacionadas com o fato criminoso.
Quanto às gravações ou trechos de gravações sem qualquer relação com o processo, devem
permanecer em sigilo e serem destruídos.
O delito em análise, na verdade, incrimina a violação do sigilo que deve recair sobre as gravações ou
trechos dela, que não se relacionam com o processo.
A consumação ocorre com a divulgação, bastando a revelação do fato a uma única pessoa, pois o tipo
penal não exige a publicidade, ou seja, a revelação do fato ao número indeterminado de pessoas.
É ainda necessário, para a configuração do crime, o fim específico de prejudicar outrem ou beneficiar a
si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, o fim de mero capricho ou satisfação pessoal.
25
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Persecução penal, civil ou administrativa sem justa causa ou contra pessoa que sabe inocente
25
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
art. 30, por violação do princípio do retrocesso na tutela dos bens jurídicos envolvidos, já protegidos pelo art.
339 do CP, punido, inclusive, com pena em dobro.
Esta tese, entretanto, não convence, pois o princípio da vedação do retrocesso, que proíbe a eliminação
de determinados direitos, é aplicável apenas aos direitos sociais e não às normas penais.
Procrastinar a investigação
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, inexistindo prazo para execução ou conclusão de
procedimento, o estende de forma imotivada, procrastinando-o em prejuízo do investigado ou do fiscalizado”.
25
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
malam partem”.
É ainda necessário, para a configuração do crime, o fim específico de prejudicar outrem ou beneficiar a
si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, o fim de mero capricho ou satisfação pessoal.
Ainda que o advogado não tenha procuração do investigado, o Estatuto da OAB lhe faculta, em regra, o
acesso aos autos desses procedimentos.
O sigilo no inquérito se desdobra em três graus:
a) automático ou extremo;
b) extensivo;
c) extremado.
O sigilo automático ou externo é o que se opera por força de lei, sem que haja uma expressa
manifestação da autoridade policial.
Dispensa-se, portanto, despacho da autoridade policial. Em regra, todo inquérito é sigiloso em relação
à população em geral.
O objetivo do sigilo é assegurar o sucesso das investigações e também proteger a dignidade das pessoas
envolvidas.
A propósito, dispõe o art. 20 do CPP: “A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à
elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade”.
Este sigilo externo, que recai tanto sobre a existência quanto sobre o conteúdo do inquérito, vedando-
lhe o acesso a qualquer pessoa, não se aplica à autoridade judiciária, ao membro do Ministério Público, ao
advogado, ao indiciado e à vítima. Quanto ao advogado, mesmo sem procuração, tem o direito de examinar
os inquéritos policiais e qualquer outro procedimento investigatório, findos ou em andamento, ainda que
conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital (art. 7º, XIV,
da Lei 8.906/94).
O sigilo extensivo é o decretado pela autoridade policial para vedar que os advogados sem procuração,
e eventualmente o próprio indiciado ou a vítima, tenha acesso aos autos do inquérito.
É possível quando o sigilo for necessário à elucidação dos fatos ou aos interesses da sociedade.
Nesse caso, além do juiz e do Ministério Público, o acesso aos autos só será deferido ao advogado que
apresentar procuração (art. 7º, §10, da Lei 8.906/94).
O sigilo extremado é o decretado pela autoridade policial para vedar que, até mesmo o advogado com
procuração, tenha prévia ciência dos próximos atos de investigação que ainda serão realizados.
Entretanto, uma vez documentado nos autos o ato praticado, o advogado, com procuração, passa a
ter acesso, que lhe poderá ser franqueado pela própria autoridade policial.
Sobre o assunto, dispõe a Súmula Vinculante 14:
“É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária,
digam respeito ao exercício do direito de defesa”.
Nos crimes relacionados com organização criminosa, se a autoridade policial decretar o sigilo, o
advogado com procuração nos autos, após documentada a diligência realizada, só poderá ter acesso a ela com
autorização judicial (art. 23 da Lei 12.850/2.003).
Violação da legalidade
25
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
amparo legal.
A obrigação é a prestação patrimonial; o dever é a prestação extrapatrimonial.
Não há a necessidade de violência ou grave ameaça, ao contrário do delito de constrangimento ilegal,
previsto no art. 146 do CP.
A incriminação recai apenas sobre a exigência, que é a imposição de uma ordem.
Quanto à solicitação, mero pedido para, de forma livre e sem coação, prestar informação ou cumprir
obrigação ou dever, não caracteriza crime.
É ainda necessário, para a configuração do crime, o fim específico de prejudicar outrem ou beneficiar a
si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, o fim de mero capricho ou satisfação pessoal.
O parágrafo único do art. 33 incrimina o agente público que se utiliza de cargo ou função pública ou
invoca a condição de agente público para se eximir de obrigação legal ou para obter vantagem ou privilégio
indevido.
O tipo penal incrimina a famosa “carteirada” do agente público.
São duas as modalidades criminosas:
a) usar ou invocar a função pública para se eximir de obrigação legal.
b) usar ou invocar a função pública para obter vantagem ou privilégio indevido. Exemplo: identifica-se,
num espetáculo, como agente público para não pagar o ingresso.
O tipo penal prevê expressamente o elemento subjetivo, que consiste no fim de eximir de obrigação
legal ou de obter vantagem ou privilégio indevido.
25
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Judiciário. Abrange também os tribunais administrativos, os tribunais de contas e qualquer outro órgão
colegiado incumbido de julgar processos disciplinares ou administrativos, pois o tipo penal se refere a processo
e não apenas aos processos judiciais.
O bem jurídico protegido é a administração da justiça.
O sujeito passivo é o Estado e secundariamente a pessoa prejudicada.
O núcleo do tipo é o verbo demorar, que significa atrasar, procrastinar, retardar. É preciso que se trate
de uma demora demasiada, ou seja, exagerada, muito além do tempo normal para devolução do processo.
No tipo penal em análise, incrimina-se o julgador do órgão colegiado que requereu vista dos autos com
o intuito de procrastinar o andamento do processo ou retardar o julgamento.
De fato, o tipo penal prevê expressamente o elemento subjetivo, que consiste no fim de procrastinar o
julgamento ou o andamento do processo. Não se exige, destarte, o fim específico de prejudicar outrem ou
beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, o fim de mero capricho ou satisfação pessoal.
O elemento normativo do tipo é o termo injustificadamente. Se houver motivo justo para a demora,
não há crime.
O delito se consuma quando flui lapso de tempo suficiente para demonstrar que se trata de uma demora
demasiada.
Quanto à tentativa, não possível, pois, implicitamente, é um crime omissivo próprio, tendo em vista que
a demora consiste no fato de abandonar o processo por tempo exagerado.
Dispõe o art.38:
“Antecipar o responsável pelas investigações, por meio de comunicação, inclusive rede social, atribuição
de culpa, antes de concluídas as apurações e formalizada a acusação:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa”.
O sujeito ativo deste delito é o responsável pelas investigações. Exemplo: Delegado de Polícia, no
inquérito policial. Outro exemplo: presidente de CPI. Mais um exemplo: Promotor de Justiça que preside o
PIC (procedimento investigatório criminal). O tipo penal não exige que se trate de uma investigação penal e,
dessa forma, abrange também as investigações extrapenais. Exemplos: inquérito civil, presidido pelo
Ministério Público, procedimento administrativo fiscal presidido por auditor da receita federal.
O bem jurídico protegido é o princípio da presunção da inocência.
O sujeito passivo é a pessoa a quem se atribuiu a culpa.
O núcleo do tipo é o verbo antecipar, que significa comunicar com antecedência, ou seja, antes do
tempo previsto.
O delito é de forma vinculada, pois só se incrimina a antecipação realizada através de meio de
comunicação.
Os meios de comunicação são os instrumentos utilizados para difundir as informações entre as pessoas.
Exemplo: jornal, revista, televisão, YouTube, etc.
O próprio tipo penal fornece a rede social como exemplo de meio de comunicação.
O telefone, a rigor, também é um meio de comunicação, mas, a meu ver, o tipo penal só abrange os
meios de comunicação de massa, ou seja, capazes de atingirem um grande número de pessoas, com efeito
similar à rede social a que faz menção o tipo penal.
Não se pune, destarte, a antecipação da culpa feita reservadamente a uma determinada pessoa.
A conduta típica consiste em antecipar a atribuição de culpa antes de concluídas as apurações e
formalizada a acusação.
A atribuição de culpa consiste em imputar a autoria da infração penal ou administrativa a determinada
pessoa.
A formalização da acusação ocorre com o oferecimento da peça acusatória. Exemplo: denúncia ou
queixa, em relação à ação penal. Outro exemplo: lavratura do auto de infração, em relação aos procedimentos
administrativos fiscais ou ambientais. Mais um exemplo: portaria nos procedimentos administrativos.
Antes de se formalizar a acusação, é possível que haja a formalização da suspeita. No inquérito policial,
25
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
(LEI 9.613/98)
INTRODUÇÃO
A lei 9.613/98, conhecida popularmente como “lei de lavagem de dinheiro”, além de definir os referidos
crimes, também prevê displavagemosições processuais e efeitos da condenação, tendo ainda criado o
Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), órgão vinculado ao Ministério da Fazenda com a
finalidade de disciplinar, aplicar penalidades administrativas e identificar as ocorrências suspeitas de
atividades ilícitas previstas nesta lei, sem prejuízo da competência de outros órgãos e entidades. O COAF tem,
pois, a missão de baixar instruções às atividades arroladas no art. 9º desta lei, que geralmente servem de
ponte para a consumação do crime de lavagem de dinheiro. Exemplos: pessoas físicas ou jurídicas que
comercializam joias ou pedras preciosas, compra e venda de imóveis, empresas de “factoring”, bolsa de
valores, etc.
25
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Nos referidos delitos, ao contrário de outros crimes acessórios, não se exige que o autor do crime
anterior seja pessoa diversa daquela que pratica a lavagem de dinheiro. Adota-se, destarte, o sistema da
superproteção dos bens jurídicos, porquanto o delito pode ser praticado pelo próprio autor do crime anterior.
O extorsionário que, por exemplo, investe o dinheiro da chantagem em postos de gasolina, responde em
concurso material pelos dois crimes, extorsão e lavagem de dinheiro.
Sobre as espécies criminosas, dispõe o art. 1º da Lei 9.613/98:
“Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de
bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de crime:
Pena: reclusão de três a dez anos e multa”.
Os núcleos do tipo são ocultar e dissimular.
Ocultar, na referida lei, é esconder através de algum negócio jurídico, pois simplesmente esconder é
mero delito de receptação.
Dissimular, por sua vez, é encobrir, disfarçar, dar uma ideia falsa.
A ocultação ou dissimulação deve recair sobre um dos seguintes aspectos:
a) a natureza dos bens, direitos ou valores. É a sua transformação em espécie diversa. Exemplo: utiliza
o dinheiro do crime para comprar um veículo.
b) a sua localização. É a mudança do local.
c) a sua disposição. É a alienação ou oneração do bem. Exemplo: aliena o carro roubado. Outro exemplo:
dá em penhor a joia furtada.
d) a sua movimentação. Exemplo: transferência do dinheiro criminoso de um banco para outro.
e) a sua propriedade. É o fato de o criminoso colocar o produto do crime em nome de “laranja” ou “testa
de ferro”.
O objeto material do crime são os bens, direitos ou valores, provenientes, direta ou indiretamente, da
infração penal. A expressão valores abrange, além do dinheiro, os títulos ou documentos representativos de
dinheiro. Bens, aqui, são as coisas corpóreas; direitos, são os bens incorpóreos.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo direto ou eventual.
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive, os autores, coautores e partícipes da infração penal
anterior.
A consumação ocorre com a ocultação ou dissimulação que recai sobre um dos seis aspectos
mencionados.
Quando à tentativa, é possível.
O §1º do art. 1º ainda dispõe que “incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização
de bens, direitos ou valores provenientes de infração penal:
I - os converte em ativos lícitos. Exemplo: aplicação financeira do dinheiro oriundo da contravenção de
jogo do bicho;
II - os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garantia, guarda, tem em depósito, movimenta
ou transfere. Esta hipótese consagra a chamada teoria da cegueira deliberada ou teoria do avestruz ou das
instruções do avestruz, oriunda do EUA, segundo a qual aquele que, na realização de um negócio suspeito,
não procura indagar a procedência dos bens, direitos ou valores, incide em dolo eventual, porque assume o
risco de estar contribuindo para a lavagem do dinheiro criminoso. O dono de uma concessionária de veículos
que, sem tomar as cautelas devidas, vende diversos carros a uma pessoa que se propõe a pagar em dinheiro
“vivo”, oriundo de crime, incide também no delito de lavagem de dinheiro.
III - importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos verdadeiros.
Outras condutas criminosas ainda são previstas no §2º do art. 1º. Com efeito, incorre, ainda, na mesma
pena quem:
I - utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores provenientes de infração
penal. Exemplo: empresário que utiliza em seus negócios o dinheiro criminoso;
II - participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de que sua atividade principal ou
secundária é dirigida à prática de crimes previstos nesta Lei. Este delito só é punível se houver dolo direto, isto
26
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
é, a certeza que uma das atividades do escritório, ainda que secundária, destina-se ao crime de lavagem de
dinheiro. Se o agente tem dúvida, dolo eventual, não responde pelo crime.
DELAÇÃO PREMIADA
A liberdade provisória é possível a todos os crimes. A fiança também, salvo os crimes hediondos,
terrorismo, tortura e tráfico de drogas.
Portanto, esses dois benefícios são cabíveis nos crimes de lavagem de dinheiro.
Ambos são crimes acessórios. O receptador simplesmente adquire, recebe, oculta, transporta ou conduz
o produto crime, sem procurar conferir-lhe uma aparência lícita, ao passo que, no crime de lavagem de
dinheiro, o agente realiza a ocultação ou dissimulação que confere uma imagem lícita ao produto criminoso.
26
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Quem, por exemplo, simplesmente esconde o dinheiro roubado pratica o crime de receptação. Se, no entanto,
aplica este dinheiro na caderneta de poupança ou compra um carro, incide nas penas do crime de lavagem de
dinheiro.
Acrescente-se ainda que o coautor ou partícipe de crime anterior não responde por receptação, mas
pode incidir no delito de lavagem de dinheiro.
Por fim, a receptação, em regra, só admite o dolo direto, ao passo que na lavagem de dinheiro também
é punível o dolo eventual.
COMPETÊNCIA
O acusado que não comparece nem constitui advogado, estando, portanto, em lugar incerto e não
sabido, será citado por edital, prosseguindo-se o feito até o julgamento, com a nomeação de defensor dativo
(§2º do art. 2º). Não há, pois, a suspensão do processo pelo fato de ser citado por edital. Trata-se de exceção
à regra do art. 366 do CPP.
Poderão ser decretadas medidas assecuratórias sobre bens, direitos ou valores para reparação do dano
decorrente da infração penal antecedente ou da prevista nesta Lei ou para pagamento de prestação
pecuniária, multa e custas.
A constrição de bens consiste em sua apreensão por ordem judicial ou na proibição de alienação quando
se tratar de imóveis.
Em havendo indícios suficientes de infração penal, o juiz pode decretar essa medida de ofício ou a
requerimento do Ministério Público ou ainda mediante representação do Delegado de Polícia, ainda que os
bens estejam no nome de interposta pessoa.
Com a decretação dessa medida, a lei impõe a inversão do ônus da prova para presumir a ilicitude da
origem desses bens. Por consequências, o juiz só determinará a liberação dos bens se o réu comprovar a
origem lícita. E, ainda assim, o juiz manterá a constrição de uma parte desses bens, direitos e valores
necessários para reparação do dano e pagamento de prestação pecuniária, multas e custas decorrentes de
infração penal.
Acrescente-se, contudo, que nenhum pedido de liberação será conhecido sem o comparecimento
pessoal do réu ou da pessoa em nome de quem os bens se encontravam.
Quando as circunstâncias o aconselharem, o juiz, ouvido o Ministério Público, nomeará pessoa física ou
jurídica qualificada para a administração dos bens, direitos ou valores sujeitos a medidas assecuratórias,
mediante termo de compromisso (art.5º). Esta pessoa “fará jus a uma remuneração, fixada pelo juiz, que será
satisfeita com o produto dos bens objeto da administração” (art.6º, I).
26
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A alienação antecipada para preservação de valor de bens sob constrição será decretada pelo juiz, de
ofício, a requerimento do Ministério Público ou por solicitação da parte interessada, mediante petição
autônoma, que será autuada em apartado e cujos autos terão tramitação em separado em relação ao processo
principal (art.4º-A).
O juiz determinará a avaliação dos bens, nos autos apartados, e intimará o Ministério Público (§2º do
art.4º-A).
A alienação será em leilão ou pregão, preferencialmente eletrônico, por valor não inferior a 75%
(setenta e cinco por cento) da avaliação.
O dinheiro obtido com a venda será depositado em conta judicial e, após o trânsito em julgado da
condenação, será destinado à União, nos processos de competência da Justiça Federal e da Justiça do Distrito
Federal, e, ao Estado-Membro, respectivo, nos processos de competência da Justiça Estadual.
Em caso de sentença absolutória ou extintiva da punibilidade, será colocado à disposição do réu pela
própria instituição financeira.
Eventuais recursos contra a alienação antecipada de bens não terão efeito suspensivo (art. 4º-A, §9º)
EFEITOS DA CONDENAÇÃO
O acesso a dados cadastrais do investigado pode ser requisitado diretamente pela autoridade policial
ou Ministério Público, independentemente de autorização judicial, desde que se trate de informações sobre
qualificação pessoal, filiação e endereço mantidos pela Justiça Eleitoral, pelas empresas telefônicas, pelas
instituições financeiras, pelos provedores de internet e pelos administradores de cartão de crédito (art. 17-B).
Na lei 11.850/2.013, que trata das organizações criminosas, ainda é possível à autoridade policial e
Ministério Público o acesso, junto às empresas de transporte aos bancos de dados de reservas e de registros
de passagens bem como requisitar das concessionárias de telefonia os registros da identificação das ligações
feitas ou recebidas pelo investigado.
Em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado, sem prejuízo de remuneração e demais
direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em decisão fundamentada, o seu retorno.
Trata-se, como se vê, de um efeito automático do indiciamento que só será cancelado mediante decisão
judicial.
Mediante carta rogatória, o juiz brasileiro poderá determinar constrição dos bens, direitos e valores
oriundos de crimes praticados no estrangeiro, outrossim, a alienação antecipada. Se houver tratado entre o
26
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Brasil e este país, a divisão desses bens será feita nos moldes previsto no referido tratado. Se, ao revés, não
houver qualquer tratado, metade pertencerá ao Brasil e a outra metade do Estado requerente. Sem o tratado,
o Brasil só cumprirá essa carta rogatória de constrição dos bens mediante compromisso de reciprocidade do
outro país.
Todos os delitos de lavagem, previstos na lei 9613/98, conforme §6º do art. 1º, introduzido pela lei
13.964/2019, admitem a utilização de dois meios probatórios:
a) ação controlada;
b) a infiltração de agentes.
A ação controlada ou flagrante diferido consiste em retardar a prisão em flagrante ou a apreensão de
bens para outro momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de informações.
Infiltração é o fato de o agente policial ingressar no ambiente dos criminosos, de forma disfarçada,
fingindo que é um de seus membros.
A lei 9613/96 não prevê os requisitos para que haja a ação controlada e a infiltração de agentes. Diante
disso, comporta duas interpretações. Primeira, aplica-se por analogia o procedimento previsto para estas
medidas nas leis 12.850/2012 e 11.343/2006, respectivamente, que cuidam da organização criminosa e dos
crimes de drogas. Segunda, os referidos meios de provas são inaplicáveis aos delitos da lei 9613/96, pois as
normas restritivas de direitos não admitem analogia.
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA
CONCEITO
Interceptação telefônica é a captação da conversa realizada por telefone, sem o conhecimento dos
interlocutores.
De acordo com o art. 5, XII, da CF só é possível, por ordem do juiz criminal competente, para os fins de:
a) investigação criminal;
b) instrução processual penal.
A proteção constitucional consiste, pois, na necessidade de a quebra do sigilo das comunicações
telefônicas ocorrer mediante decisão do juiz criminal competente.
FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL
Dispõe o art. 5º, XII, da CF que “é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas,
de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma
que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal”.
Quanto ao sigilo das correspondências e das comunicações telegráficas, de dados, o dispositivo acima
é omisso, mas a sua quebra também é possível, mediante decisão judicial fundamentada em razões de
relevante interesse público, porquanto nenhum direito é absoluto.
A interceptação telefônica só é cabível, mediante decisão do juiz criminal competente, ao passo que os
demais sigilos podem ser quebrados por decisão de juiz criminal, cível, trabalhista e das demais áreas do
Direito.
O fato de o art. 5º, XII, da CF ter previsto a quebra do sigilo apenas em relação à interceptação telefônica
estimulou a interpretação de que os demais sigilos seriam absolutos, raciocínio que não se sustenta, pois
nenhum direito é absoluto, só podendo ser invocado à vista de uma finalidade ética.
Ademais, a razão da menção expressa foi exigir decisão do juiz criminal para se quebrar o sigilo das
comunicações telefônicas e não para se vedar, em termos absolutos, o sigilo das demais comunicações, que
podem ser quebrados por decisão de qualquer juiz e não apenas do juiz criminal.
26
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
FUNDAMENTO LEGAL
Gravação telefônica ou gravação clandestina é o registro de conversa por um dos interlocutores, sem o
conhecimento do outro.
Escuta telefônica ou escuta clandestina é a captação de conversa por um terceiro, mas com a
autorização de um dos interlocutores.
Consoante jurisprudência do STJ e do STF, tanto a gravação quanto a escuta telefônica são meios lícitos
de prova, que dispensam ordem judicial, porquanto não são proibidas pela Constituição nem pela Lei
9.296/96.
É, como se vê, reconhecido pela jurisprudência o direito de gravar a própria conversa.
A interceptação telefônica, que exige ordem de juiz criminal, abrange as comunicações telefônicas de
qualquer natureza, compreendendo tanto o telefone fixo quanto o móvel (celular), inclusive, o que funciona
com fibras ópticas.
A Lei 9.296/96, entretanto, equiparou à telefônica as comunicações em sistemas de informática ou
telemática, condicionando a interceptação à exigência de decisão do juiz criminal competente.
A informática é a ciência que regula a comunicação através do computador, softwares, sistemas de
rede, etc. Exemplo: comunicação por e-mails.
A telemática é a comunicação que se faz pela junção dos serviços de telefonia com os de
Informática. Exemplos: Skype, WhatsApp, etc.
A propósito, dispõe o parágrafo único do art. 1º:
“O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de informática e
telemática”.
Não há qualquer inconstitucionalidade, malgrado a opinião contrária do festejado Vicente Greco Filho,
pois a equiparação, em vez de reduzir, ampliou a proteção, à medida que a interceptação em sistemas de
informática ou telemática dependerá também de decisão do juiz criminal competente.
Não fosse a aludida equiparação legal, as referidas interceptações poderiam ser ordenadas por juiz
extrapenal.
Em duas situações, a interceptação poderá ser realizada sem a necessidade de ordem judicial. São elas:
a) salas de bate-papo da internet ou chats, pois se trata de ambiente público.
b) e-mails corporativos, que são os disponibilizados pela empresa aos empregados para assuntos
exclusivamente profissionais. Nesse caso, o empregador tem o direito de monitorar o uso destes e-mails e
utilizá-los como meios de prova para demissão por justa causa.
APREENSÃO DE CELULAR
O telefone celular, caso contenha as informações necessárias à elucidação do crime, pode ser
apreendido pela autoridade policial, sem necessidade de ordem judicial.
Entretanto, a jurisprudência do STJ e STF salientava que o acesso ao conteúdo das informações
armazenadas no celular, em WhatsApp, SMS e outros recursos tecnológicos, dependiam de ordem judicial,
sob pena de a prova ser considerada ilícita.
Assim, o acesso às comunicações contidas no celular apreendido equiparava-se às interceptações de e-
26
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
mails e, por isso, era necessária a autorização judicial, com o escopo de se resguardar o direito à intimidade.
Operou-se, porém, a mudança da jurisprudência pelo Plenário do STF, no ARE 1042075, de 30/10/2020,
onde se firmou o seguinte entendimento:
"É lícita a prova obtida pela autoridade policial, sem autorização judicial, mediante acesso a registro
telefônico ou a agenda de contatos de celular apreendido ato contínuo no local do crime atribuído ao acusado,
não configurando esse acesso ofensa ao sigilo das comunicações à intimidade ou a privacidade do indivíduo
(CF, art. 5º, incisos X e XII)."
FINALIDADE
PROVA EMPRESTADA
A Lei 9.296/96 é omissa sobre a utilização da interceptação telefônica, que é colhida na área penal, em
outros tipos de processos.
O STF tem admitido que, em processos administrativos envolvendo o mesmo fato delituoso, a prova
obtida na área penal, por ordem do juiz criminal, sirva também de fundamento para o julgamento
administrativo, pois, nesse caso, o interesse público revela-se evidente. Proíbe-se, no entanto, a sua utilização
para fins particulares, isto é, em ações cíveis ou trabalhistas.
Não se pode, por exemplo, fazer uso desse meio de prova para, em ação de indenização movida pelo
marido, se comprovar o adultério da mulher.
LEGITIMIDADE ATIVA
26
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
“A interceptação das comunicações telefônicas poderá ser determinada pelo juiz, de ofício ou a
requerimento:
I - da autoridade policial, na investigação criminal;
II - do representante do Ministério Público, na investigação criminal e na instrução processual penal”.
O dispositivo em análise autoriza o juiz a decretar, de ofício, a interceptação telefônica.
Na fase das investigações, porém, há um consenso na doutrina acerca da vedação de o magistrado agir
de ofício, sob pena de violação do sistema acusatório e do princípio da imparcialidade.
Na fase processual, o princípio da busca da verdade real o autoriza a proceder de ofício, mas ainda assim
o assunto é polêmico, pois uma parcela da doutrina sustenta que a interceptação telefônica, assim como
qualquer outra prova, ordenada de ofício pelo juiz, mesmo na fase judicial, atenta contra o sistema acusatório
e o princípio da imparcialidade.
Há uma tendência muito forte em se proibir o juiz de decretar de ofício as medidas cautelares.
O §2o do art. 282 do CPP, com redação dada pela Lei 13.964/2019, veda que o magistrado decrete de
ofício a prisão preventiva ou qualquer outra medida cautelar pessoal, por consequência, em função da
argumentação lógica “a fortiori”, também não poderia decretar de ofício a interceptação telefônica, estando,
pois, nesse aspecto, revogado o art. 3° da Lei 9.296/96.
No tocante à autoridade policial, poderá ela requerer ao juiz a interceptação telefônica, mas somente
na fase das investigações.
O requerimento de interceptação telefônica também pode ser formulado pelo Ministério Público, tanto
na fase das investigações quanto na fase processual.
Aliás, nas investigações criminais presididas pelo próprio Ministério Público, também lhe será lícito
requerer ao juiz a interceptação telefônica.
No concernente à vítima, não tem legitimidade para requerer a interceptação telefônica, quer tenha ou
não se habilitado como assistente de acusação, pois o dispositivo acima é omisso, sendo vedada a
analogia, por se tratar de norma restritiva de direitos.
Ressalve-se, porém, que, em relação aos delitos de ação penal privada, malgrado o silêncio da lei, a
doutrina dominante tem admitido o requerimento da vítima, com base na analogia.
Outra corrente, porém, acertadamente, lhe nega a legitimidade mesmo nos crimes de ação penal
privada, diante da proibição da analogia em normas restritivas de direito, nesse caso, a vítima teria que
solicitar à autoridade policial ou ao Ministério Público para formular o requerimento ao juiz.
A lei também não atribuiu legitimidade ao réu , mas, com base nos princípios da ampla defesa e
proporcionalidade, uma parcela da doutrina responde afirmativamente e, nesse caso, com vistas a obter a
prova de sua inocência, a interceptação, para aqueles que a admitem, poderia recair até sobre o telefone da
própria vítima.
Este posicionamento, porém, revela-se minoritário, pois não se pode fazer analogia em normas
restritivas de direito, de tal sorte que o acusado não desfruta de legitimidade para pleitear a interceptação
telefônica.
26
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
26
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Os executores da ordem judicial não podem ampliar a interceptação para outras linhas telefônicas não
abrangidas pela decisão judicial e se o fizerem a prova será ilícita e eles ainda responderão pelo delito do art.
10 da Lei 9.296/96.
PROCEDIMENTO
Requerimento
Na fase das investigações, conforme já dito, o pedido de interceptação telefônica pode ser formulado
tanto pela autoridade policial quanto pelo Ministério Público.
Nos casos em que o requerimento emana da autoridade policial, a lei é silente sobre a oitiva do
Ministério Público.
A doutrina, entretanto, sustenta que é obrigatória, além da sua manifestação, a concordância com o
pedido, por ser ele o destinatário das investigações policiais e o titular da ação penal pública.
Na hipótese de o procedimento ser desencadeado de ofício pelo juiz, malgrado o silêncio da lei, será
também necessária a manifestação do representante do “parquet”.
26
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
incompetência. Exemplo: somente após a interceptação telefônica é que surgiram as provas de que se tratava
de crime de tráfico internacional de drogas, de competência da justiça federal, e não de mero tráfico
interestadual, da alçada da justiça estadual. Nesse caso, invoca-se a teoria do juízo aparente para se considerar
a prova como válida.
b) o juiz criminal, que decretou a interceptação telefônica, desde o início não dispunha de competência.
Nesse caso, a decisão será nula, em face da violação do princípio do juiz natural.
Por outro lado, a decisão judicial que decreta a interceptação telefônica deve ser fundamentada, sob
pena de nulidade, devendo ainda indicar a forma de execução da diligência, que não poderá exceder o prazo
de 15 (quinze) dias, renovável por igual tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova (
art. 5°).
Por fim, a decisão do juiz que defere ou indefere o pedido de interceptação telefônica pode ser
impugnada por mandado de segurança.
EXECUÇÃO DA DILIGÊNCIA
A interceptação telefônica é presidida pelo Delegado de Polícia, que obrigatoriamente dará ciência ao
Ministério Público, que poderá, caso queira, acompanhar a diligência.
Note-se, então, que não é o juiz que presidirá esta diligência.
A ciência ao Ministério Público será dada diretamente pelo Delegado de Polícia, e não pela autoridade
judiciária.
A ciência da diligência ao Ministério Público é obrigatória, sob pena de nulidade relativa, mas o membro
do “parquet” tem a mera faculdade de acompanhá-la ou não.
O delegado de polícia poderá requisitar serviços técnicos especializados às concessionárias de serviço
público, para auxiliá-lo na execução da diligência.
Acrescente-se ainda que, nos crimes militares, a interceptação telefônica será conduzida pela Polícia
Militar.
Nos procedimentos investigatórios presididos pelo Ministério Público, a execução da interceptação
telefônica será coordenada pelo representante do “parquet”.
O STF também já admitiu a condução da interceptação telefônica pelo CISPEN (Coordenadoria de
Inteligência do Sistema Penitenciário).
Outrossim, pela Polícia Rodoviária Federal, com base no art. 1º, X, do Decreto 1.665/1.995, que confere
ao referido órgão a função de auxiliar na prevenção de repressão de determinados delitos.
Por outro lado, não há na lei a obrigatoriedade, mas sim a mera faculdade de a autoridade policial gravar
a comunicação, interceptada.
Se não houver, porém, a gravação, a prova do conteúdo das conversas terá que ser feita pela inquirição,
como testemunhas, dos responsáveis pela execução das diligências.
Caso, entretanto, a conversa seja gravada, deverá ser transcrita.
A jurisprudência é pacífica que, nas gravações muito longas, como as que perduraram por 60 (sessenta)
dias, só há necessidade da transcrição dos trechos importantes.
Quanto à degravação, que é a transcrição das conversas, não precisa ser feita por perito, pois a sua
execução dispensa conhecimentos técnicos.
POSSIBILIDADE DE PRORROGAÇÃO
27
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Mediante ordem judicial, o referido art. 5º admite a renovação “por igual tempo”, uma vez comprovada
a indispensabilidade do meio de prova.
Não é preciso, para se formular o pedido de prorrogação, que haja a transcrição da conversa captada
no período anterior, mas é essencial que se demonstre que se trata de uma medida indispensável para a coleta
das provas.
A prorrogação, entretanto, deve ser autorizada antes de findar o prazo inicial.
Caso a interceptação perdure, sem ordem judicial, além do prazo inicial, a prova colhida neste período
descoberto será considerada ilícita, ainda que depois sobrevenha decisão judicial autorizando a prorrogação.
A expressão “igual tempo”, de acordo com o STJ e STF, significa que cada prorrogação será de até 15
(quinze) dias, admitindo-se, no entanto, inúmeras prorrogações, e não apenas uma, pois a lei não impõe
limites ao número de vezes que essa diligência poderá ser prorrogada.
Noutras palavras, tem sido admitido a prorrogação por um número indefinido de vezes, mediante
comprovação de que se trata de uma prova indispensável, o que afronta o princípio da duração razoável.
Há, entretanto, sobre o assunto, outras três correntes:
a) só é possível uma única prorrogação, de tal sorte que o tempo máximo da interceptação telefônica
será de 30 (trinta) dias;
b) o tempo máximo será de 60 (sessenta dias), pois, no estado de sítio, por força do art. 136, §2º, da CF,
a interceptação telefônica não pode perdurar além desse período, por consequência, este também será o
limite temporal no estado de normalidade.
c) é possível inúmeras prorrogações, desde que se respeite o princípio da duração razoável.
APENSAMENTO
27
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
prova.
Com efeito, a defesa não é ouvida previamente, pois o pedido tramita em segredo de justiça, de tal
sorte que o contraditório só será instaurado após a conclusão das diligências, quando sobrevier o
apensamento.
E, nessa manifestação, nada obsta que a pessoa, que não reconheceu como sua a voz interceptada,
requeira a perícia de comparação do espectograma das vozes.
SEGREDO DE JUSTIÇA
A interceptação telefônica, conforme já visto, é decidida pelo juiz sem ouvir o indiciado ou acusado, ou
seu defensor, tramitando, pois, em segredo de justiça.
O contraditório será posterior ou diferido.
Após o apensamento, o indiciado ou acusado e respectivo defensor passam a ter acesso aos autos para
o exercício do contraditório posterior ou diferido, mantendo-se, porém, o sigilo para as demais pessoas, com
o intuito de se preservar a intimidade e a vida privada do investigado ou acusado e das pessoas que com ele
se comunicaram.
A violação do aludido sigilo caracteriza delito do art. 10 da Lei 9.296/96.
INCIDENTE DE INUTILIZAÇÃO
A gravação que não interessar à prova será inutilizada por decisão judicial, durante o inquérito, a
instrução processual ou após esta, em virtude de requerimento do Ministério Público ou da parte interessada
(art. 9º).
A inutilização das conversas que não interessar à prova é uma medida salutar para preservação dos
direitos à intimidade e à vida privada.
O requerimento pode ser formulado:
a) pelo Ministério Público;
b) pela parte interessada, que pode ser o investigado, o acusado e o terceiro que tenha também se
comunicado com a pessoa interceptada.
O ato judicial, que defere ou indefere o incidente de inutilização, poderá ser impugnado através do
recurso de apelação, pois se trata de uma decisão com força de definitiva (art. 593, II, do CPP).
A destruição só será possível após a preclusão da aludida decisão judicial.
O incidente de inutilização será assistido pelo Ministério Público, sendo facultada a presença do acusado
ou de seu representante legal (parágrafo único do art. 9º).
CAPTAÇÃO AMBIENTAL
Conceito
Captação ambiental é a gravação ou oitiva das conversas pessoais, bem como a filmagem ou
visualização das pessoas, através de aparelhos que captam os sinais acústicos, ópticos ou eletromagnéticos.
É também denominada de vigilância eletrônica.
Previsão legal
A captação ambiental é disciplinada pelo art. 8º-A da Lei 9.296/96, introduzido pela Lei 13.964/2019,
sendo cabível para todas as infrações penais, cuja pena máxima seja superior a 4 (quatro) anos.
Antes da referida lei, era prevista no art. 3º, II, da Lei 12.850/2013, mas apenas para os crimes de
organização criminosa.
27
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
OBJETO
ESPÉCIES
Direito de reserva
O direito de reserva consiste na proibição de se divulgar o conteúdo das conversas e das imagens das
pessoas.
Se, por um lado, existe o direito de gravar as próprias conversas e de filmar a si próprio, por outro lado,
vigora a proibição de se divulgar o que se gravou ou filmou, com vistas à proteção da intimidade e vida privada
do outro interlocutor.
27
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
MEIOS DE EXECUÇÃO
Ocorre quando o aparelho, que grava ou filma a conversa, ou, então, que permite a sua oitiva ou
visualização, é instalado no próprio local em que se encontram os interlocutores.
Ocorre quando o aparelho que filma ou grava a conversa, ou que possibilita a visualização ou oitiva, é
instalado fora do local em que se encontram os interlocutores e, por isso, exige uma tecnologia mais avançada.
VALIDADE DA PROVA
Da mesma forma que a escuta e a gravação de comunicações telefônicas são provas válidas, que
dispensam a autorização judicial, a escuta e a gravação ambiental também são admitidas pela jurisprudência,
com base no direito de gravar as próprias conversas e de filmar a si mesmo.
Ainda que verse sobre fato sigiloso, a revelação do conteúdo da escuta ou gravação ambiental, para fins
de investigação de uma infração penal, constitui justa causa para violação de segredo.
Quanto à interceptação ambiental, por ser feita sem o conhecimento dos interlocutores, é preciso
distinguir duas situações:
a) interceptação em ambiente público ou privado aberto ao público. Exemplos: ruas, praças, estádio de
futebol, teatros, cinemas. As conversas pessoais nesses locais não são propriamente sigilosas e, por isso, a
Excelsa Corte considera válida a prova obtida através de interceptação ambiental independentemente de
ordem judicial. Exemplo: policial disfarçado, numa praça pública, aproxima-se dos interlocutores e liga o
gravador.
b) interceptação em ambientes privados ou fechados, que não são abertos ao público, como
residências, presídios, ambiente de trabalho, motéis, hotéis, etc. Nesses locais, a interceptação de sons e
imagens somente é possível mediante prévia autorização do juiz criminal competente, aplicando-se o
procedimento das interceptações telefônicas, nos termos do art. 8º-A, § 5º, da lei 9.296/96.
Quanto à prova obtida pelo sujeito que da varanda de sua casa filma o crime praticado no interior da
residência de seu vizinho, o STJ a considerou válida.
De fato, à medida que é lícita a instalação de câmeras na residência para filmar o seu entorno, não há,
destarte, como se negar a validade da aludida prova, sob pena de afronta ao direito de visão.
É, no entanto, ilícita, por invasão da privacidade e da intimidade, a instalação de câmeras para filmar o
que está por detrás das paredes da residência alheia, embora, até o momento, ainda não exista uma tecnologia
avançada a esse ponto.
27
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Oriunda dos EUA, a teoria do “fruits of the poisonous tree” (frutos da árvore envenenada), adotada pelo
STF, significa que a prova ilícita gera a nulidade de todas as demais provas que derivaram dela.
FINALIDADE
REQUISITOS
27
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Caso a prova só possa ser obtida através de interceptação telefônica ou ambiental, poderá ocorrer duas
interpretações.
Primeira, o magistrado poderá autorizar uma ou outra medida, pois ambas se inserem no âmbito do
sigilo, de modo que uma não exerce preferência sobre a outra.
Segunda, o magistrado deverá optar pela interceptação telefônica, que é menos invasiva, à medida que
só quebra o sigilo do investigado ou do réu.
b) que haja elementos probatórios razoáveis de autoria e participação.
Trata-se do “fumus comissi delicti”, que é a aparência da ocorrência do crime.
É, pois, necessário que já exista a probabilidade de autoria, baseada em elementos probatórios
constantes dos autos, pois não se pode utilizar a interceptação ambiental para se colher os indícios de
autoria.
De fato, é vedado o “fishing expedition”, ou seja, a pescaria de provas, numa investigação especulativa,
onde ainda não há indícios razoáveis de autoria.
c) que se trate de infrações criminais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos ou em
infrações penais conexas.
A lei não exige que a pena seja de reclusão, mas deve ser superior a 4 (quatro) anos, ainda que de
detenção.
A rigor, é cabível até para contravenção penal, se a pena de prisão simples for superior a 4 (quatro)
anos, pois a lei utiliza a nomenclatura infrações penais, que é o gênero que abrange os crimes e as
contravenções.
Na interceptação telefônica, por sua vez, não há limites quantitativos em relação à pena que, em
contrapartida, tem que ser de reclusão.
Em infrações conexas à com pena superior a 4 (quatro), a interceptação ambiental ainda pode ser
deferida, ainda que a pena máxima da infração penal conexa seja inferior a este patamar.
A interceptação telefônica, ao revés, jamais poderá ser autorizada para investigar delitos de detenção,
ainda que conexo com crime de reclusão.
LEGITIMIDADE ATIVA
PRESSUPOSTOS DO PEDIDO
27
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
PRORROGAÇÃO
O indiciado ou suspeito que, em conversa informal com policiais, tem o seu diálogo gravado pela própria
polícia, sofre evidente violação ao seu direito constitucional ao silêncio, do qual não fora informado, e,
portanto, esta gravação é nula.
Será igualmente nula, quando, diante das câmeras de televisão, o sujeito confessa um crime a
jornalistas, sem ser previamente informado do seu direito constitucional de permanecer calado.
Evidente que, sem ordem judicial, a interceptação ambiental será nula em qualquer ambiente privado,
sobretudo, nos escritórios de advocacia, onde são elaboradas as estratégias de defesa.
A interceptação ambiental instalada na residência do investigado, com ordem do juiz criminal
competente, será nula, em relação à captação dos diálogos travados com seu advogado, por força do princípio
da ampla defesa e da proteção ao sigilo profissional.
Será, porém, uma prova válida a oriunda de interceptação ambiental instalada na residência ou
escritório do advogado, com ordem do juiz criminal competente, se o investigado for o próprio advogado,
suspeito de praticar o crime em conluio ou não com o cliente.
Se, contudo, a investigação recair exclusivamente sobre o cliente, a interceptação ambiental realizada
com ordem judicial no escritório do seu advogado será nula, por violação ao direito de defesa e do princípio
do resguardo ao sigilo profissional.
27
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
27
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
gravação da conversa telefônica, sem lhe comunicada que é oriunda de uma investigação criminal.
c) quando se revela o conteúdo da comunicação oriunda da interceptação de comunicação telefônica,
de informática, telemática ou promoção de escuta ambiental, ainda que silencie sobre a existência da
investigação criminal.
Exemplo: funcionário da concessionária telefônica que auxiliou o delegado na execução da diligência,
revela o conteúdo da diligência à sua namorada. Outro exemplo: advogado do réu divulga à imprensa as
transcrições das gravações das interceptações telefônicas.
Nas duas últimas hipóteses, o delito se configura, mas, na primeira, não, pois o que o tipo penal
incrimina é a violação do sigilo da interceptação e não o das investigações criminais.
Convém esclarecer que, no § 2º do art. 10-A, que prevê delito similar, o tipo penal também se refere à
quebra do sigilo das investigações.
Aliás, no tocante à quebra do segredo de justiça oriundo da captação ambiental, o tipo penal em
análise pode ou não ser aplicado, conforme quem seja o sujeito ativo do delito.
Com efeito, se a revelação do segredo emanar de funcionário público que tem o dever de sigilo, o delito,
por força do princípio da especialidade, será o previsto no § 2º do art. 10-A da Lei 9.296/96, reservando-se o
art. 10 “caput” para quando for perpetrado por particulares ou funcionários públicos que não têm o dever
de sigilo.
O quarto delito é a quebra de segredo de justiça, mediante autorização judicial, mas com objetivo não
autorizado em lei.
Aqui o que se incrimina é a revelação do sigilo autorizado pelo juiz, mas com objetivos não autorizados
por lei, hipótese que também se aplica à quebra de sigilo da captação ambiental, pois o art. 10-A não disciplina
o assunto.
A quebra do sigilo, que caracteriza o delito em análise, conforme já salientado anteriormente, pode
recair sobre a existência ou conteúdo da interceptação.
27
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
é dispensada.
No tocante ao elemento normativo do tipo, se encontra na expressão “sem autorização judicial, quando
esta for exigida”.
Em relação à realização de interceptação ambiental, com ordem do juiz competente, mas com objetivo
não autorizado em lei, é crime do art. 10 da Lei 9.296/96.
Em havendo autorização do juiz criminal competente, com objetivo autorizado por lei, não há crime.
Igualmente, não há crime nos casos onde não se exige a autorização judicial, que são os seguintes:
a) gravação ambiental, em qualquer local;
b) escuta ambiental, em qualquer local;
c) interceptação ambiental em local público ou aberto ao público.
Os elementos subjetivos do tipo são:
a) o dolo, que consiste na vontade consciente de realizar a interceptação ambiental, sem ordem do juiz.
Se, por erro, ainda que inescusável, o agente supõe que havia autorização judicial, o delito não se caracteriza,
em função do erro de tipo, previsto no art. 20 do CP, outrossim, por não ser punido na forma culposa.
b) fim de investigação ou instrução criminal. Assim, além do dolo, ainda se exige, para a caracterização
do crime, o especial fim de agir. Se o intuito do agente for uma investigação não criminal, o delito não se
configura, pois é vedada a analogia “in malam partem”.
Quanto à consumação, se verifica com o início da oitiva da conversa ou visualização da imagem,
independentemente da gravação ou filmagem, prescindido-se também da divulgação que, se ocorrer, será
mero exaurimento, ou seja, um “post factum impunível”.
Convém também relembrar que o delito previsto no art. 10 “caput”, no que se refere à interceptação
ambiental, foi revogado pelo delito em análise, que é oriundo de lei posterior.
Quanto à tentativa, é possível.
Por fim, a ação penal é pública incondicionada.
28
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Quanto à quebra segredo de justiça de interceptação ambiental, com autorização judicial, mas com
objetivo não autorizado em lei. é crime do art. 10 da Lei 9.296/96.
É importante registrar que o tipo penal em análise se refere à captação ambiental, que foi empregada
em sentido amplo para abranger as suas três espécies que são a gravação ambiental, a escuta ambiental e a
interceptação ambiental.
De fato, o tipo penal faz alusão à “determinação de sigilo das investigações” que, em relação à
interceptação ambiental, emana da lei, o que tornaria a exigência inócua.
A aludida expressão só se justifica se o tipo penal também for aplicável à escuta ambiental e à gravação
ambiental, hipóteses em que a determinação de sigilo depende de uma determinação judicial.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste na vontade consciente de realizar uma das condutas
descritas no tipo penal.
Quanto à culpa, ainda que grave, não é punida.
A consumação se verifica quando se revela a alguém a existência das investigações criminais ou o
conteúdo da captação ambiental.
Admite-se a tentativa. Exemplo: a carta que revelaria o segredo é interceptada pela autoridade policial
antes de ser aberta pelo destinatário.
A ação penal é pública incondicionada.
CRIMES DE PRECONCEITO
(LEI 7.716/89)
INTRODUÇÃO
FORMAS DE PRECONCEITO
28
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A referida lei não abrange o preconceito ou descriminação oriundo de doença nem de sexo, estado civil
e deficiência. Quanto ao preconceito resultante de sexo ou estado civil, que impede o ingresso em certos
locais, caracteriza contravenção da lei 7.437/85.
O STF, entretanto, na ADO 26 e MI 4.733, equiparou a homofobia e a transfobia ao crime de racismo,
através da analogia “ in malam partem”, disfarçada de argumentações jurídicas baseadas, sobretudo, no
princípio da isonomia e na proibição do preconceito, em flagrante violação ao princípio da reserva legal. A
Excelsa Corte reconheceu expressamente a mora legislativa, ou seja, a omissão da lei em relação à
criminalização da homofobia e transfobia, ato contínuo, decidiu pela aplicação da lei de racismo, que rege
hipóteses semelhantes. O pressuposto da analogia é a omissão da lei, mas, em matéria penal, não se pode
fazer analogia “in malam partem”, sob pena de violação do princípio da reserva legal, que é uma cláusula
pétrea. Ademais, a rigor, tanto a homofobia quanto a transfobia, é um preconceito relacionado à opção sexual
e, dessa forma, não havia omissão, pois os preconceitos relacionados ao sexo são expressamente tipificados
como contravenção penal, conforme lei 7437/1985.
A lei 7.853/89, por sua vez, cuida do preconceito contra portadores de deficiência, punindo com
reclusão o responsável pela instituição de ensino que o discrimina.
Com efeito, em relação ao portador do HIV e o doente da AIDS, a lei 12.984/2014, tornou crime as
seguintes condutas:
“Constitui crime punível com reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, as seguintes condutas
discriminatórias contra o portador do HIV e o doente de aids, em razão da sua condição de portador ou de
doente:
I - recusar, procrastinar, cancelar ou segregar a inscrição ou impedir que permaneça como aluno em
creche ou estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado;
II - negar emprego ou trabalho;
III - exonerar ou demitir de seu cargo ou emprego;
IV - segregar no ambiente de trabalho ou escolar;
V - divulgar a condição do portador do HIV ou de doente de aids, com intuito de ofender-lhe a dignidade;
VI - recusar ou retardar atendimento de saúde”.
Saliente-se, contudo, que o preconceito referente às demais doenças não se encontram tipificando
como crime.
CRIMES EM ESPÉCIE
28
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O delito consiste em impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo
da Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos.
Também é crime obstar a promoção funcional a quem já ocupa cargo ou emprego público (art.3º e
parágrafo único).
28
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
APOLOGIA AO PRECONCEITO
EFEITOS DA CONDENAÇÃO
28
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor público, e a
suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior a três meses (art.16). Este
efeito não é automático, pois depende de ser motivadamente declarado na sentença (art. 17).
Na hipótese de apologia ao preconceito, cometido através de meios de comunicação ou de publicação,
após o trânsito em julgado da condenação, o material apreendido deverá ser destruído. Trata-se de um efeito
automático da condenação, previsto no §4º do art. 20, pois independe de expressa menção na sentença.
Vê-se assim que o art. 16 prevê dois efeitos específicos da condenação:
a) perda do cargo ou função pública;
b) suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por até três meses.
EXECUÇÃO PENAL
(LEI 7.210/1984)
INTRODUÇÃO
A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e
proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado (art.1º).
Em resumo, o objetivo da execução penal é o cumprimento da sentença ou decisão criminal e a
ressocialização do condenado ou internado.
Vale lembrar que entende-se por condenado o que sofreu pena e internado aquele a quem se impôs
medida de segurança.
DESTINATÁRIOS
A lei em análise é aplicada aos condenados e internados, em caráter definitivo, ou seja, por força de
sentença penal transitada em julgado, outrossim, ao preso provisório, conforme parágrafo único do art. 2º.
O preso provisório tem, portanto, direito aos diversos benefícios que a lei de execução penal prevê.
Exemplos: progressão de regimes, remição, etc.
Quanto aos condenados pela Justiça Eleitoral e Militar, aplica-se também a Lei de Execução Penal, desde
que recolhidos a estabelecimento sujeito à jurisdição comum ou ordinária (parágrafo único do art. 2º).
Caso estejam recolhidos em presídio militar, não se aplica a lei em comento, mas sim o Código Penal
Militar e o Código de Processo Penal Militar.
O Estado deverá recorrer à cooperação da comunidade nas atividades de execução da pena e da medida
de segurança (art.4º). Exemplo: Conselho de Comunidade, que é um dos órgãos da Execução Penal.
Vigora, destarte, o princípio da participação popular.
COMPETÊNCIA
O processo de conhecimento, como se sabe, se encerra com o trânsito em julgado da sentença penal e,
a partir de então, deve se iniciar o processo de execução das sentenças penais condenatórias ou absolutórias
impróprias.
A justiça competente para o processo de execução penal é definida pela natureza do presídio. Ou seja,
será da justiça federal ou estadual, conforme se trate de presídio federal ou estadual.
A execução penal do condenado pela justiça federal, que cumpre pena em presídio estadual, por
exemplo, será da competência da justiça estadual, e vice-versa.
A propósito, dispõe a Súmula 192 do STJ:
“Compete ao juízo das execuções penais do Estado a execução das penas impostas a sentenciados pela
28
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
justiça federal, militar ou eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos a administração estadual”.
No tocante ao foro competente, é o da comarca ou sessão judiciária a que se encontra situado o
estabelecimento penal onde se cumpre a pena ou medida de segurança.
No Estado de São Paulo foi criado o DEECRIM, que são os departamentos estaduais de execuções penais,
cuja constitucionalidade é duvidosa, por violação do princípio do juiz natural.
Os DEECRIM’s englobam grupos de comarcas cujas execuções penais serão presididas por determinado
juiz, em relação aos condenados em regime fechado e semiaberto.
Por outro lado, hipótese de o condenado cumprir o regime aberto em sua residência, bem como quando
se tratar de penas restritivas de direitos, o foro competente para a execução penal será o do local de sua
residência.
No tocante ao juízo competente, é o da execução penal, pois o juízo do processo de conhecimento já se
encerrou.
Tratando-se de preso provisório, ou seja, cuja sentença condenatória ainda não transitou em julgado, a
competência para decidir sobre as questões de execução penal será também do juízo do processo de
execução, pois se trata de uma competência funcional, portanto, absoluta.
NATUREZA JURÍDICA
As decisões prolatadas pelo juiz das Execuções Penais tem natureza jurisdicional, sujeitando-se à coisa
julgada material.
E, por consequência, deve se assegurar ao condenado ou internado o devido processo legal, a ampla
defesa, o contraditório, enfim, os mesmos princípios pertinentes ao processo de conhecimento.
Está assim superada a doutrina que visualizava na execução penal uma atividade administrativa exercida
pelo magistrado.
Aliás, o art. 2º da LEP faz expressa menção à expressão jurisdição penal, espancando assim qualquer
dúvida acerca do caráter jurisdicional das decisões proferidas pelo magistrado.
Há, por outro lado, na Lei de Execução Penal, além de uma atividade jurisdicional, uma atividade
administrativa. Exemplo: normas sobre fiscalização dos estabelecimentos penais. Outro exemplo: normas que
tratam do cumprimento das políticas públicas dentro dos presídios, acerca do trabalho do preso, estudo,
tratamento médico, etc. Mais um exemplo: imposição de sanções disciplinares aplicadas pelo diretor do
presídio.
Vê-se assim que a Lei de Execução Penal tem caráter misto ou híbrido, pois, além de versar sobre a
jurisdicional, ainda contém uma série de normas de natureza administrativa.
CLASSIFICAÇÃO
EXAME CRIMINOLÓGICO
28
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A identificação do perfil genético, disciplinada no art. 9º-A da LEP, é a feita mediante extração de DNA
- ácido desoxirribonucleico.
No âmbito da execução penal, deve ser realizada apenas por perito oficial, utilizando-se de técnica
adequada e indolor
Aliás, o §7º do art. 9º-A da LEP, estabelece que tanto a coleta da amostra quanto a realização do
respectivo laudo serão realizados por perito oficial. Ora, a coleta é um procedimento simples, de modo que
bastaria a sua supervisão pelo perito judicial.
A identificação do perfil genético é obrigatória ao condenado definitivamente, a pena privativa de
liberdade, nas seguintes hipóteses:
a) crime doloso cometido com violência grave contra pessoa;
b) crime contra vida;
c) crime contra a liberdade sexual;
d) crime sexual contra vulnerável.
Quanto aos condenados por crimes hediondos, que não se enquadram em nenhuma das situações
acima, não há falar-se em identificação genética, em função do advento da Lei 12.964/2019, que a aboliu para
os referidos delitos.
Sobre o momento de sua realização, será após o trânsito em julgado da condenação, por ocasião do
ingresso no estabelecimento prisional, mas, caso não realizada nesta oportunidade, deverá ser feita durante
o cumprimento da pena.
Constitui falta grave a recusa do condenado em submeter-se ao procedimento de identificação do perfil
genético (arts. 9º-A, §8º e 50, VIII, da LEP).
A autoridade policial só poderá ter acesso a esses dados mediante ordem judicial e, mesmo assim, desde
28
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
ASSISTÊNCIA
II – à saúde.
É o atendimento médico, farmacêutico e odontológico.
Será assegurado acompanhamento médico à mulher, principalmente no pré-natal e no pós-parto,
extensivo ao recém-nascido.
Quando o estabelecimento penal não estiver aparelhado para prover a assistência médica necessária,
esta será prestada em outro local, mediante autorização da direção do estabelecimento.
28
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
De acordo com o STJ, os problemas graves de saúde justificam a mudança para prisão domiciliar, mesmo
em casos de condenados que cumprem pena em regime fechado, a qualquer momento do cumprimento da
pena, quando o serviço médico do presídio for insuficiente (HC 366.517).
Se, no entanto, a doença grave for passível de tratamento no próprio presídio não se justifica a prisão
domiciliar.
III – Jurídica.
É destinada apenas aos que não tem recursos financeiros para constituir advogado. Esta assistência
jurídica, que é gratuita e integral, será exercida pela Defensoria Pública, dentro e fora dos estabelecimentos
penais.
Em todos os estabelecimentos penais, haverá local apropriado destinado ao atendimento pelo Defensor
Público.
Fora dos estabelecimentos penais, serão implementados Núcleos Especializados da Defensoria Pública
para a prestação de assistência jurídica integral e gratuita aos réus, sentenciados em liberdade, egressos e
seus familiares, sem recursos financeiros para constituir advogado.
IV – Educacional.
É a instituição escolar e a formação profissional do preso e do internato.
A educação é um dos caminhos mais eficazes para a reinserção social do preso.
O ensino de 1º grau será obrigatório, integrando-se no sistema escolar da Unidade Federativa.
O ensino profissional será ministrado em nível de iniciação ou de aperfeiçoamento técnico.
A mulher condenada terá ensino profissional adequado à sua condição.
As atividades educacionais podem ser objeto de convênio com entidades públicas ou particulares, que
instalem escolas ou ofereçam cursos especializados.
Em atendimento às condições locais, dotar-se-á cada estabelecimento de uma biblioteca, para uso de
todas as categorias de reclusos, provida de livros instrutivos, recreativos e didáticos.
O STJ já decidiu pela permissão da saída temporária do preso, em regime semiaberto, para frequentar
curso superior, nos termos do art. 122, II, da LEP (HC 535.383).
V – Social.
A assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e prepará-los para o retorno à
liberdade. Incumbe ao serviço de assistência social:
a) conhecer os resultados dos diagnósticos ou exames;
b) relatar, por escrito, ao Diretor do estabelecimento, os problemas e as dificuldades enfrentadas pelo
assistido;
c) acompanhar o resultado das permissões de saídas e das saídas temporárias;
d) promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a recreação;
e) promover a orientação do assistido, na fase final do cumprimento da pena, e do liberando, de modo
a facilitar o seu retorno à liberdade;
f) providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da Previdência Social e do seguro por
acidente no trabalho;
g) orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado e da vítima.
VI – Religiosa.
A assistência religiosa, com liberdade de culto, será prestada aos presos e aos internados, permitindo-
se-lhes a participação nos serviços organizados no estabelecimento penal, bem como a posse de livros de
instrução religiosa.
No estabelecimento haverá local apropriado para os cultos religiosos.
Nenhum preso ou internado poderá ser obrigado a participar de atividade religiosa.
TRABALHO
28
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O trabalho do preso não está sujeito ao regime da Consolidação das Leis do Trabalho.
O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não podendo ser inferior a 3/4 (três
quartos) do salário mínimo.
O produto da remuneração pelo trabalho deverá atender:
a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados judicialmente e não
reparados por outros meios;
b) à assistência à família;
c) a pequenas despesas pessoais;
d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção do condenado, em proporção
a ser fixada e sem prejuízo da destinação prevista nas letras anteriores.
A sobra será depositada em caderneta de poupança para constituir o pecúlio penitenciário, que o preso
poderá levantar após ser posto em liberdade.
A jornada normal de trabalho não será inferior a 6 (seis) nem superior a 8 (oito) horas, com descanso
nos domingos e feriados.
Caso haja excesso de jornada ou trabalho aos domingos e feriados, porém, o período trabalhado
também deverá ser computado para efeito de remição.
Poderá ser atribuído horário especial de trabalho aos presos designados para os serviços de conservação
e manutenção do estabelecimento penal.
O condenado à pena privativa de liberdade está obrigado ao trabalho na medida de suas aptidões e
capacidade.
Trata-se assim de um dever do preso.
A recusa em trabalhar é falta grave. Todavia, não se pode coagir o preso a trabalhar, pois é vedado o
trabalho forçado.
O dever de trabalho não se confunde com a pena de trabalho forçado, também conhecida como pena
das galés, que é vedada pelo art. 5º, XLVI, da CF, onde o preso era compelido a trabalhar com os pés amarrados
com correntes de ferro.
De fato, no dever de trabalho o preso não pode ser compelido fisicamente a trabalhar. Aliás, o art. 6º
da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto San José da Costa Rica) não considera como trabalho
forçado os trabalhos ou serviços exigidos de pessoa reclusa em cumprimento de sentença (HC 264.989).
Só não estão obrigados a trabalhar:
a) o condenado por crime político (art. 200 do LEP);
b) o preso provisório;
c) o condenado por contravenção penal a pena de prisão simples que não exceder a 15 (quinze) dias
(art. 6º, §2º da LEP).
Os maiores de 60 (sessenta) anos poderão solicitar ocupação adequada à sua idade.
Os doentes ou deficientes físicos somente exercerão atividades apropriadas ao seu estado.
Quanto ao tipo de trabalho, dispõe o art. 32 que “na atribuição do trabalho deverão ser levadas em
conta a habilitação, a condição pessoal e as necessidades futuras do preso, bem como as oportunidades
oferecidas pelo mercado”.
Deverá ser limitado, tanto quanto possível, o artesanato sem expressão econômica, salvo nas regiões
de turismo.
O trabalho interno no presídio poderá ser gerenciado por fundação, ou empresa pública, com
autonomia administrativa, e terá por objetivo a formação profissional do condenado. Nessa hipótese,
incumbirá à entidade gerenciadora promover e supervisionar a produção, com critérios e métodos
empresariais, encarregar-se de sua comercialização, bem como suportar despesas, inclusive pagamento de
remuneração adequada.
Os governos federal, estadual e municipal poderão celebrar convênio com a iniciativa privada, para
implantação de oficinas de trabalho referentes a setores de apoio dos presídios.
Conforme a natureza do estabelecimento, nele poderão trabalhar os liberados ou egressos que se
dediquem a obras públicas ou ao aproveitamento de terras ociosas.
29
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Quanto ao trabalho externo, será admissível para os presos em regime fechado somente em serviço ou
obras públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou entidades privadas, desde que
tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina.
O limite máximo do número de presos será de 10% (dez por cento) do total de empregados na obra.
Caberá ao órgão da administração, à entidade ou à empresa empreiteira a remuneração desse trabalho.
A prestação de trabalho à entidade privada depende do consentimento expresso do preso.
A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção do estabelecimento, dependerá de
aptidão, disciplina e responsabilidade, além do cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena (art.37).
No regime semiaberto, o trabalho externo pode ser realizado, ainda que o preso não tenha cumprido
1/6 (um sexto) da pena (REsp 450.592).
Revogar-se-á a autorização de trabalho externo ao preso que vier a praticar fato definido como crime,
for punido por falta grave, ou tiver comportamento contrário aos requisitos estabelecidos neste artigo
(parágrafo único do art. 37).
O trabalho externo é vedado ao preso provisório, mas não é proibido ao condenado por crime hediondo,
quando presentes as condições permissivas do trabalho extramuros.
A remuneração do trabalho do preso, que pode ser inferior ao salário mínimo, nos termos do art. 29 da
LEP, segundo decidiu o Pleno do STF, na ADPF 336/DF, não ofende os princípios da isonomia e da dignidade
da pessoa humana, em razão dos seguintes argumentos:
a) é inaplicável à hipótese a garantia de salário mínimo prevista no artigo 7º, IV, da Constituição Federal,
pois preso não se sujeita ao regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e seu trabalho possui
finalidades educativa e produtiva, não podendo ser comparado com o trabalho das pessoas que não cumprem
pena;
b) o preso já tem atendidas pelo Estado boa parte das necessidades vitais básicas que o salário-mínimo
almeja satisfazer, tais como educação, alojamento, saúde, alimentação, vestuário e higiene;
c) o preso recebe o benefício da remição da pena, na proporção de 1 dia de redução da sanção criminal
para cada 3 dias de trabalho;
d) o produto da remuneração do preso é direcionado para a indenização dos danos causados pelo crime,
a assistência à família, para pequenas despesas pessoais e para promover o ressarcimento ao Estado das
despesas realizadas com a sua manutenção;
e) o trabalho do detento pode até mesmo ser subsidiado pelo Erário.
Portanto, a legitimidade da diferenciação entre o trabalho do preso e o dos empregados é evidenciada
pela distinta lógica econômica do labor no sistema executório penal.
DIREITOS DO PRESO
O preso, à exceção da sua liberdade de ir e vir e do direito de votar, conserva todos os seus demais
direitos.
O preso, cuja sentença condenatória tenha transitado em julgado, não poderá votar, por força do art.
15, III, da CF, mas ao preso provisório é garantido o direito ao voto.
Além do direito ao trabalho remunerado, constituem ainda direitos do preso: previdência social,
pecúlio, entrevista pessoal e reservada com o advogado, chamamento nominal, isto é, pelo nome, audiência
especial com o diretor do presídio, enviar e receber correspondências escritas, atestado anual de pena a
cumprir fornecido pela autoridade competente, etc.
No tocante à previdência social, o preso deve contribuir para o INSS para que o seu trabalho na prisão
conte como tempo de serviço para fins de aposentadoria.
O pecúlio penitenciário é a remuneração destinada ao preso pelo trabalho prestado durante a execução
da pena, que só é liberada após ser colocado em liberdade, sendo, pois, depositado em caderneta de poupança
(§2º do art. 29 da LEP). A liberação antecipada, desde que fundada em motivo justo, por exemplo, custear o
estudo de filho, tem sido autorizada pela jurisprudência.
Em defesa do seu direito, o próprio preso pode peticionar ou formular representação a qualquer
autoridade.
29
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Portanto, para pleitear os benefícios da execução penal, o próprio preso pode peticionar ao juiz da
execução, independentemente de advogado.
O preso ainda tem direito à visita íntima, isto é reservada, do cônjuge, da companheira, de parentes e
amigos em dias determinados. Este direito, que também deve ser assegurada às uniões homoafetivas, pode
ser suspenso em algumas situações, por exemplo, cometimento de falta grave.
É garantida a liberdade de contratar médico de confiança pessoal do internado ou do submetido a
tratamento ambulatorial, por seus familiares ou dependentes, a fim de orientar e acompanhar o tratamento.
As divergências entre o médico oficial e o particular serão resolvidas pelo juiz da execução.
Documentos internacionais
Ainda sobre os direitos do preso, é preciso observar, dente outros, os seguintes documentos
internacionais aprovados pela ONU e vigentes no Brasil:
a) Resolução 43/173 da ONU, que prevê os princípios para a proteção de todas as pessoas presas ou
detidas;
b) Regras de Mandela, que são as regras mínimas, estipuladas pelas Nações Unidas, para tratamento
dos presos;
c) Regras de Bangkok, igualmente aprovadas pela ONU, versam sobre o tratamento das mulheres presas
e das políticas públicas de medidas não privativas de liberdade às mulheres infratoras. Disciplinam também a
questão da presa gestante, o seu direito à prisão domiciliar e de amamentação no presídio;
d) Regras de Tóquio, que contém os padrões mínimos das Nações Unidas para a elaboração de medidas
não privativas de liberdade, versando, destarte, sobre a política pública do desencarceramento.
RECOMPENSAS
Transferência de presos
O art. 103 da LEP prevê o direito de o preso cumprir pena em local próximo ao seu meio social e familiar.
Não se trata, porém, de um direito absoluto, podendo ser afastado em função do interesse da
administração do presídio e da segurança social.
Em suma, o preso não tem o direito de escolher o local onde cumprirá a pena, mas, sempre que possível,
com vistas à sua ressocialização e em atenção ao princípio da dignidade da pessoa humana, deve ser atendida
a sua pretensão de cumprir a pena em estabelecimento penal próximo aos seus familiares, desde que revele
bom comportamento carcerário.
Os interesses do preso, em querer cumprir a pena próximo ao seu meio social e familiar, não pode,
porém, sobrepor-se aos interesses da administração do presídio, de modo que o disposto no art. 103 da LEP
não é um direito absoluto.
Por outro lado, a transferência de presos para estabelecimentos penais federais de segurança máxima
é regida pela lei 11.671/2008.
A sua transferência para outro presídio é decidida de acordo com a conveniência da administração
prisional pela autoridade judicial encarregada da execução da pena.
Aliás, de acordo com o STJ, as razões da decisão do juiz estadual que ordena a transferência do preso
para presídio federal de segurança máxima não podem ser questionadas pelo juízo federal.
29
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
De fato, compete à autoridade judicial responsável pela execução da pena decidir pela transferência ou
não do apenado de um presídio para outro.
Sobre a transferência de presos, dispõe a Súmula 639 do STJ:
“Não fere o contraditório e o devido processo decisão que, sem ouvida prévia da defesa, determine
transferência ou permanência de custodiado em estabelecimento penitenciário federal”.
É possível, porém, o contraditório diferido ou postergado, onde o preso poderá questionar
judicialmente a legalidade extrínseca de sua transferência.
DISCIPLINA
Disposições gerais
FALTA DISCIPLINAR
Conceito
Espécies
Sobre a falta grave, durante o cumprimento da pena privativa de liberdade, o art. 50 da LEP prevê as
seguintes:
29
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
29
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
29
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Na regressão por falta grave, o § 2º do art. 118 da LEP exige a prévia oitiva do condenado.
É dispensável, porém, nova oitiva do apenado antes da homologação judicial da falta grave, se
previamente ouvido em procedimento administrativo disciplinar, em que foram assegurados o contraditório
e a ampla defesa STJ).
Outra corrente, porém, exige a oitiva em juízo, ainda que já tenha ocorrido a oitiva no processo
administrativo disciplinar.
No tocante à regressão cautelar, é perfeitamente possível sem a prévia oitiva do preso, que será,
entretanto, necessária para a regressão definitiva.
b) revogação do direito de saída temporária (art. 125);
c) perda de até 1/3 (um terço) do tempo temido (art. 127);
d) conversão em prisão da pena de prestação de serviços à comunidade (art. 181, §1º, d);
e) conversão em prisão da pena de limitação de fim de semana (art. 181, §2º);
f) interrupção do prazo para a progressão de regime (art. 112 da LEP). O STJ, porém, após a falta grave,
admite o reinício da contagem do prazo, ou seja, a fixação de novo termo inicial para progredir.
A propósito, a súmula 534 do STJ:
“A prática de falta grave interrompe a contagem do prazo para a progressão de regime de cumprimento
de pena, o qual se reinicia a partir do cometimento dessa infração”.
g) A falta grave pode ser utilizada para se verificar o cumprimento do requisito subjetivo necessário
para a concessão de benefícios da execução penal.
h) A falta grave é justificativa idônea para a realização de exame criminológico para fins de progressão
de regime.
A prática de falta grave, salvo nos casos expressos em lei, não interrompe o prazo para a obtenção dos
benefícios previstos na Lei de Execução Penal, embora seja motivo para o indeferimento do pedido.
O indeferimento, porém, não será baseado na ausência do preenchimento do requisito temporal, mas,
sim, na falta de merecimento.
Assim, a prática de falta grave não interrompe o prazo para fim de livramento condicional, comutação
de pena ou indulto (súmulas 441 e 535 do STJ).
Por falta da previsão legal, também não interrompe o prazo para obtenção do direito de saída
temporária e trabalho externo.
Ou seja, não há, diante da falta grave, a alteração do marco inicial para a concessão de livramento
condicional, indulto e comutação da pena e de outros benefícios, à exceção da progressão de regime.
Entretanto, o preso que cometeu falta grave nos dozes meses anteriores ao pedido de livramento
condicional não poderá obter o aludido benefício (Lei 13.964/19).
Acrescente-se ainda que a falta grave praticada no período estabelecido pelos decretos presidenciais
de indulto ou de comutação da pena, impede também estes benefícios (STJ).
A reabilitação é o lapso de tempo necessário para que a falta disciplinar deixe de ser obstáculo à
concessão do atestado de bom comportamento carcerário.
No tocante à falta grave, o assunto, para fins de progressão de regime, é disciplinado pelo §7º do art.
112 da LEP, introduzido pela Lei 13.964/2019, que dispõe:
“O bom comportamento é adquirido após 1 (um) ano da ocorrência do fato, ou antes, após o
cumprimento do requisito temporal exigível para a obtenção do benefício”.
O prazo de 1 (um ano) é contado da prática da falta grave e não do término do cumprimento da
respectiva sanção disciplinar que dela se originou.
Se, porém, antes do prazo de 1 (um) ano, o condenado, que havia cometido falta grave, preencher o
lapso temporal exigível para a obtenção do benefício da progressão de regime, também poderá ser expedido
29
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
SANÇÕES DISCIPLINARES
Conceito
Sanções disciplinares são as penalidades administrativas previstas para a prática de faltas leves, médias
e graves.
Vedações
São vedadas:
a) as sanções com o emprego de cela escura.
b) as sanções coletivas. Assim, ainda que se trate de falta grave, em autoria coletiva, por exemplo,
celular apreendido na cela e nenhum dos presos assume a autoria, é preciso individualizar a conduta de cada
um dos eventuais participantes.
c) as sanções que poderão colocar em perigo a integridade física e moral do preso.
Espécies
II - repreensão.
Trata-se da admoestação por escrito.
III - suspensão ou restrição de direitos mencionados no art. 41, parágrafo único, da LEP.
A duração máxima da suspensão é de trinta dias.
Não se trata, portanto, da perda definitiva de direitos.
Os direitos que podem ser suspensos ou restringidos são apenas seguintes:
29
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
IV - isolamento na própria cela, ou em local adequado, nos estabelecimentos que possuam alojamento
coletivo, observado o disposto no artigo 88 desta Lei.
O isolamento não pode falar exceder trinta dias.
O isolamento não é a incomunicabilidade do preso.
O isolamento será sempre comunicado ao Juiz da execução.
A autoridade administrativa poderá decretar o isolamento preventivo do faltoso pelo prazo de até dez
dias, que será computado no período de cumprimento da sanção disciplinar.
As sanções dos incisos I a IV do art. 53 serão aplicadas por ato motivado do diretor do estabelecimento
e a do inciso V, por prévio e fundamentada decisão do juiz competente.
Assim, à exceção da inclusão no regime disciplinar diferenciado, todas as demais sanções disciplinares
são aplicadas pelo diretor do estabelecimento penal.
Nas faltas graves, aplicam-se as sanções previstas nos incisos III a V do art. 53 desta Lei, ou seja,
suspensão ou restrição de direitos e o isolamento.
Nas faltas leves e médias, aplicam-se as sanções de advertência e repreensão.
O prazo prescricional para se instaurar o procedimento, à mingua de previsão legal, é de três anos, que
é o menor prazo prescricional do Código Penal, a contar da prática da falta disciplinar, mas, quando esta
consistir na fuga, o termo inicial da prescrição será a data da recaptura.
29
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Introdução
O Regime Disciplinar Diferenciado surgiu para conter o poder de organização das facções criminosas,
através do isolamento de seus líderes, por até 360 (trezentos e sessenta) dias.
Uma corrente sustenta a inconstitucionalidade do instituto, alegando que se trata de pena cruel,
desumana e degradante e por isso viola o princípio da dignidade da pessoa humana.
Outrossim, por afrontar a coisa julgada, à medida que altera o regime imposto na sentença.
Outra corrente proclama a sua constitucionalidade, pois não se trata de uma forma cruel de
cumprimento da pena, mas, sim, de uma medida que visa cumprir os ditames do princípio da
proporcionalidade da pena, com vistas à garantia da ordem e segurança do estabelecimento penal e da
sociedade.
Outrossim, que não há qualquer ofensa à coisa julgada, pois não se trata de um novo regime de pena,
mas de uma forma de se cumprir o regime fechado.
Conceito
O Regime Disciplinar Diferenciado é a sanção disciplinar que consiste no isolamento do preso, cumulada
com a suspensão e a restrição de determinados direitos.
Anote-se que, apenas no regime disciplinar diferenciado, o isolamento, a suspensão e a restrição de
direitos podem exceder a 30 (trinta) dias (art. 58 da LEP).
Competência
Natureza jurídica
29
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
LEP.
Faz parte do direito penitenciário, e não propriamente do direito penal, razão pela qual, conquanto mais
severa, a nova lei tem aplicação imediata, abrangendo também fatos anteriores à sua vigência.
Características
As características desse regime, conforme art. 52 da LEP, são:
I - duração máxima de até 2 (dois) anos, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de
mesma espécie;
III - visitas quinzenais, de 2 (duas) pessoas por vez, a serem realizadas em instalações equipadas para
impedir o contato físico e a passagem de objetos, por pessoa da família ou, no caso de terceiro, autorizado
judicialmente, com duração de 2 (duas) horas.
As visitas serão gravadas em sistemas de áudios ou de áudios e vídeos e, com autorização judicial,
fiscalizadas por agentes penitenciários (§ 6º do art. 52 da LEP).
Após os primeiros 6 (seis) meses de regime disciplinar diferenciado, o preso que não receber visita
poderá, após prévio agendamento, ter contato telefônico, que será gravado, com uma pessoa da família, 2
(duas) vezes por mês e por 10 (dez) minutos (art. 52, §7º da LEP).
IV - direito do preso à saída da cela por 2 (duas) horas diárias para banho de sol, em grupos de até 4
(quatro) presos, desde que não haja contato com presos do mesmo grupo criminoso;
V - entrevistas sempre monitoradas, exceto aquelas com seu defensor, em instalações equipadas para
impedir o contato físico e a passagem de objetos, salvo expressa autorização judicial em contrário;
30
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Destinatários
A LEP autoriza a inclusão no Regime Disciplinar Diferenciado tanto para os presos provisórios quanto
para os presos definitivos, nacionais ou estrangeiros.
Saliente-se, ainda, que, malgrado a omissão da lei, o ingresso no regime disciplinar diferenciado é tão
somente para quem se encontra no regime fechado, ou cujo prognóstico seja de cumprimento da pena nesse
regime, quando se tratar de preso provisório, sendo incoerente, sem a prévia regressão, incluir no regime
excepcional os presos que se encontram no semiaberto ou aberto.
Prorrogação do RDD
De acordo com o §4º do art. 52 da LEP, o regime disciplinar diferenciado poderá ser prorrogado
sucessivamente, por períodos de 1 (um) ano, existindo indícios de que o preso:
I - continua apresentando alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal de origem
ou da sociedade;
II - mantém os vínculos com organização criminosa, associação criminosa ou milícia privada,
considerados também o perfil criminal e a função desempenhada por ele no grupo criminoso, a operação
duradoura do grupo, a superveniência de novos processos criminais e os resultados do tratamento
penitenciário.
Cada período de prorrogação deve ser no máximo de 1 (um) ano, mas se os fatos acima persistirem
poderá ocorrer uma nova prorrogação de 1 (um) ano e assim sucessivamente.
Não há, pois, limite ao número de prorrogações, que não poderá, porém, exceder o tempo de
cumprimento da pena.
Vê-se assim que, em caso de prorrogação, a duração do RDD pode ultrapassar o período de 2 (dois)
anos.
A rigor, é possível permanecer no RDD durante todo o tempo de cumprimento da pena, desde que
persistam os fatores de sua prorrogação.
O art. 60, 2ª parte, da LEP autoriza o Juiz da execução penal a incluir o preso no regime disciplinar
diferenciado, de forma preventiva, no interesse da disciplina e da averiguação do fato, pelo prazo máximo de
30
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
10 (dez) dias, sem possibilidade de prorrogação ou de nova decretação preventiva pelo mesmo fundamento.
Escoado o decênio, como esclarece Renato Flávio Marcão, ou se determina a inclusão no regime
disciplinar diferenciado, conforme regulado no art. 52, ou se restitui ao preso sua normal condição de
encarcerado.
A decretação do Regime Disciplinar Diferenciado Preventivo depende de fumus boni iuris e periculum
in mora acerca dos fatos autorizadores da sua inclusão definitiva.
O tempo de isolamento ou inclusão preventiva no regime disciplinar diferenciado será computado no
período de cumprimento do regime disciplinar definitivo (art. 60, parágrafo único, da LEP).
Procedimento
O juiz não pode, de ofício, determinar a inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado.
O pedido de inclusão no regime disciplinar diferenciado só pode ser formulado pelo diretor do presídio
ou outra autoridade administrativa, como o Secretário da Segurança Pública e o Secretário da Administração
Penitenciária, mediante requerimento fundamentado (§1º do art. 54 da LEP).
O Ministério Público não tem legitimidade para postular a inclusão no regime disciplinar diferenciado,
malgrado opiniões contrárias, que o enquadram como autoridade administrativa.
O pedido é dirigido ao Juiz da execução, que dará vista dos autos ao Ministério Público e à defesa,
sucessivamente, no prazo máximo de 15 (quinze) dias para cada um.
Em seguida, o Juiz decidirá, podendo a sua decisão ser impugnada por agravo de execução.
Regras de Mandela
As Regras de Mandela apregoam que deve haver um sistema duplo de inspeções regulares nos
estabeleci- mentos e serviços prisionais:
a) Inspeções internas ou administrativas conduzidas pela própria administração prisional;
b) Inspeções externas conduzidas por um órgão independente da administração prisional, que pode
incluir órgãos internacionais ou regionais competentes.
Cumpre desde já destacar a existência de órgãos internacionais e regionais de inspeção nos
estabelecimentos prisionais, que serão abordados mais adiante, por ocasião do estudo do Protocolo de
Istambul.
No LEP, como se vê, não há apenas um órgão independente de inspeção e fiscalização externa, mas,
sim, oito.
De fato, os oito órgãos da execução penal acima mencionados têm em comum os seguintes atributos:
a) a função de inspecionar e fiscalizar os estabelecimentos penais, podendo, inclusive, fazer registros
fotográficos;
30
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Em sua função de inspecionar e fiscalizar os estabelecimentos penais, os oito órgãos acima têm
autoridade para:
a) ter acesso a todas as informações sobre o estabelecimento penal e detentos. Exemplo: acesso sobre
o número de reclusos;
b) ter acesso a todos os locais de detenção;
c) ter acesso à informação relevante sobre o tratamento dos reclusos, incluindo os seus registos e as
condições de detenção;
d) realizar visitas por iniciativa própria sem aviso prévio;
e) entrevistar os reclusos e funcionários prisionais, em total privacidade e confidencialidade, durante
as suas visitas;
f) depois de uma inspeção, devem elaborar um relatório escrito à autoridade competente.
g) empreender esforços para tornar público os relatórios das inspeções externas, excluindo-se qualquer
dado pessoal dos reclusos, a menos que estes tenham dado explicitamente o seu acordo.
h) fazer recomendações à administração prisional e a outras autoridades competentes.
A administração prisional ou qualquer outra autoridade competente, por sua vez, deve indicar, num
prazo razoável, se as recomendações provindas das inspeções externas serão implementadas.
Estas funções também se aplicam aos órgãos de prevenção da tortura, criados com base no Protocolo
de Istambul, que são os seguintes:
a) Subcomitê Internacional de Prevenção e Combate à Tortura;
b) Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura - CNPCT;
c) Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura - MNPCT.
É ainda possível a criação de Comitês e Mecanismos Estaduais e Distrital de Prevenção e Combate à
Tortura.
O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), com sede na Capital da República, é
subordinado ao Ministério da Justiça, tendo atuação tanto em âmbito federal quanto estadual.
Trata-se do primeiro órgão da execução, cujas funções principais são:
a) elaborar o Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária, quanto à prevenção do delito,
administração da justiça criminal e execução das penas e das medidas de segurança.
Estas diretrizes, que devem ser cumpridas por todos os Estados, estão previstas na Resolução 16/2003
do CNPCP.
b) realizar avaliação periódica do sistema penitenciário;
c) realizar inspeções em estabelecimentos prisionais de todo o país;
d) preparar a minuta do decreto de indulto, que será encaminhada ao Ministro da Justiça que, por sua
vez, caso a acolha, submeterá à apreciação do Presidente da República, que poderá ou não aprová-la. Convém
esclarecer que a competência para a expedição do decreto de indulto é do Presidente da República.
É composto por 13 (treze) membros nomeados e selecionados pelo Ministério da Justiça, com mandato
de 2 (dois) anos, renovado 1/3 (um terço) em cada ano.
Assim. todos os anos, um terço do Conselho é renovado, com a posse de novos membros.
É um órgão multidisciplinar, pois deve ser formado por profissionais de diversas áreas
Com efeito, a escolha deve recair sobre professores e profissionais da área do Direito Penal, Processual
30
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Penal, Penitenciário e ciências correlatas, bem como por representantes da comunidade e dos Ministérios da
área social.
De acordo com o art. 64 da LEP, ao Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, no exercício
de suas atividades, em âmbito federal ou estadual, incumbe:
I - propor diretrizes da política criminal quanto à prevenção do delito, administração da Justiça Criminal
e execução das penas e das medidas de segurança;
II - contribuir na elaboração de planos nacionais de desenvolvimento, sugerindo as metas e prioridades
da política criminal e penitenciária;
III - promover a avaliação periódica do sistema criminal para a sua adequação às necessidades do País;
IV - estimular e promover a pesquisa criminológica;
V - elaborar programa nacional penitenciário de formação e aperfeiçoamento do servidor;
VI - estabelecer regras sobre a arquitetura e construção de estabelecimentos penais e casas de
albergados;
VII - estabelecer os critérios para a elaboração da estatística criminal;
VIII - inspecionar e fiscalizar os estabelecimentos penais, bem assim informar-se, mediante relatórios
do Conselho Penitenciário, requisições, visitas ou outros meios, acerca do desenvolvimento da execução penal
nos Estados, Territórios e Distrito Federal, propondo às autoridades dela incumbida as medidas necessárias
ao seu aprimoramento;
IX - representar ao Juiz da execução ou à autoridade administrativa para instauração de sindicância ou
procedimento administrativo, em caso de violação das normas referentes à execução penal;
X - representar à autoridade competente para a interdição, no todo ou em parte, de estabelecimento
penal.
O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária ainda determinará o limite máximo de
capacidade do estabelecimento, atendendo a sua natureza e peculiaridades.
JUÍZO DA EXECUÇÃO
30
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
No tocante às funções processuais do juiz da execução penal, previstas no art. 66 da LEP, são as
seguintes:
I - aplicar aos casos julgados lei posterior que de qualquer modo favorecer o condenado.
Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação de lei mais
benigna (súmula 611 do STF).
V - determinar:
a) a forma de cumprimento da pena restritiva de direitos e fiscalizar sua execução.
b) a conversão da pena restritiva de direitos e de multa em privativa de liberdade.
A multa, em hipótese alguma, poderá ser convertida em prisão, estando, pois, revogada a hipótese
acima, desde a Lei 9.268/96.
c) a conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos;
d) a aplicação da medida de segurança, bem como a substituição da pena por medida de segurança;
e) a revogação da medida de segurança;
f) a desinternação e o restabelecimento da situação anterior;
g) o cumprimento de pena ou medida de segurança em outra comarca;
h) a remoção do condenado na hipótese prevista no §1º, do artigo 86, desta Lei.
MINISTÉRIO PÚBLICO
O Ministério Público, na execução penal, além das funções processuais, também exerce a função
administrativa de fiscalizar os estabelecimentos penais, visitando-os mensalmente, registrando a sua presença
em livro próprio (parágrafo único do art. 68 da LEP).
No âmbito processual, nos termos do art. 67 da LEP, o Ministério Público sempre deve se manifestar,
antes de o juiz decidir, inclusive, nos incidentes de execução, pois lhe é incumbida a função de fiscalizar a
execução da pena e da medida de segurança, velando pelo cumprimento do ordenamento jurídico.
30
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A ausência de manifestação do Ministério Público no processo de execução penal, para uns, gera a
nulidade absoluta da decisão, por violação do art. 67 da LEP e 127 da CF. Outros, ao revés, relativizam a
nulidade, que só será decretada mediante comprovação de prejuízo.
Em sua função de fiscal do ordenamento jurídico, deverá zelar pelo cumprimento dos direitos e deveres
dos condenados. manifestando-se de forma favorável ou desfavorável ao sentenciado, conforme este
preencha ou não os requisitos legais para obtenção do benefício pleiteado.
Ainda lhe é lícito formular pedidos em benefício do condenado. Exemplos: progressão de regimes,
livramento condicional, remição, prescrição, revogação da medida de segurança, etc.
Poderá igualmente recorrer em favor do preso. Exemplo: juiz da execução aplica o RDD por tempo
indeterminado.
É claro que também atuará contra o condenado, quando os interesses deste colidir com o ordenamento
jurídico. Exemplo: pedido de perda de 1/3 (um terço) do tempo remido em função da prática de falta grave.
De acordo com o art. 68 da LEP, cujo rol é meramente exemplificativo, incumbe ao Ministério Público:
I - fiscalizar a regularidade formal das guias de recolhimento e de internamento;
II - requerer:
a) todas as providências necessárias ao desenvolvimento do processo executivo;
b) a instauração dos incidentes de excesso ou desvio de execução;
c) a aplicação de medida de segurança, bem como a substituição da pena por medida de segurança;
d) a revogação da medida de segurança;
e) a conversão de penas, a progressão ou regressão nos regimes e a revogação da suspensão condicional
da pena e do livramento condicional;
f) a internação, a desinternação e o restabelecimento da situação anterior.
III - interpor recursos de decisões proferidas pela autoridade judiciária, durante a execução.
CONSELHO PENITENCIÁRIO
O Conselho Penitenciário é órgão consultivo e fiscalizador da execução da pena, que só atual nos
Estados e Distrito Federal.
Não se trata, portanto, de órgão de atuação nacional.
O Conselho será integrado por membros nomeados pelo Governador do Estado ou do Distrito Federal,
conforme a hipótese.
A sua composição é multidisciplinar, ou seja, de áreas distintas.
Ou seja, devem ser escolhidos dentre professores e profissionais da área do Direito Penal, Processual
Penal, Penitenciário e ciências correlatas, bem como por representantes da comunidade.
A legislação federal e estadual regulará o seu funcionamento.
O mandato dos membros do Conselho Penitenciário terá a duração de 4 (quatro) anos.
No tocante à sua função fiscalizadora, são três:
a) inspecionar os estabelecimentos e serviços penais;
b) supervisionar os patronatos, que é outro órgão da execução penal;
c) supervisionar o serviço de assistência aos egressos.
Quanto à sua função consultiva, isto é, de emitir parecer antes de o juiz decidir, a LEP previa para duas
situações:
a) livramento condicional. A hipótese, que era prevista no art. 70, I, da LEP, foi revogada pela Lei
10.792/93. O art. 131 da LEP ainda mantém a exigência do perecer do Conselho Penitenciário para a concessão
do livramento condicional, mas se pacificou na jurisprudência pela sua desnecessidade, operando-se, neste
aspecto, a revogação tácita desta parte do citado art. 131.
b) indulto e comutação da pena, que não versa sobre o estado de saúde do preso (art. 70 da LEP). O
Superior Tribunal de Justiça, porém, firmou entendimento pela desnecessidade do parecer Conselho
Penitenciário se o decreto de indulto não tiver estabelecido tal requisito. O argumento é que a Constituição
Federal atribui exclusivamente ao Presidente da República a competência para concessão de indulto e, por
isso, a lei não pode lhe impor outros requisitos, sob pena de afronta ao princípio da separação dos poderes.
30
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Por outro lado, o Conselho Penitenciário tem algumas funções que não são fiscalizadoras nem
consultivas. Ei-las:
a) apresentar, no 1º (primeiro) trimestre de cada ano, ao Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária, relatório dos trabalhos efetuados no exercício anterior (art. 70, IV, da LEP);
b) a cerimônia do livramento condicional será realizada solenemente no dia marcado pelo Presidente
do Conselho Penitenciário, no estabelecimento onde está sendo cumprida a pena (art. 137 da LEP);
c) a sentença que concede o livramento condicional será lida ao liberando, na presença dos demais
condenados, pelo Presidente do Conselho Penitenciário ou membro por ele designado, ou, na falta, pelo Juiz
(art. 137, I, da LEP);
d) formular ao juiz da execução pedido de revogação, modificação e extinção do livramento condicional
(arts. 143, 144 e 146 da LEP)
e) propor ação civil pública para defesa dos direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos
referentes à fiscalização de estabelecimentos penais. De fato, a ação civil pública pode ser proposta por órgãos
da administração pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, conforme art. 82, III, da Lei
8078/90, aplicável a todas as ações civis públicas, por força do art. 21 da Lei 7.347/85.
DEPARTAMENTOS PENITENCIÁRIOS
30
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
“A legislação local poderá criar Departamento Penitenciário ou órgão similar, com as atribuições que
estabelecer”.
O Departamento Penitenciário local, ou órgão similar, tem por finalidade supervisionar e coordenar os
estabelecimentos penais da Unidade da Federação a que pertencer.
Outrossim, executar a política estadual de assuntos penitenciários.
Quanto ao ocupante do cargo de diretor de estabelecimento deverá satisfazer os seguintes requisitos:
I - ser portador de diploma de nível superior de Direito, ou Psicologia, ou Ciências Sociais, ou Pedagogia,
ou Serviços Sociais;
II - possuir experiência administrativa na área;
III - ter idoneidade moral e reconhecida aptidão para o desempenho da função.
O diretor deverá residir no estabelecimento, ou nas proximidades, e dedicará tempo integral à sua
função.
PATRONATO
O Patronato, que pode ser instituído pelo poder público ou por particular.
É claro que patronato particular, malgrado o silêncio da lei, deve ser instituído por entidades sem fins
lucrativos, ou seja, por associações ou fundações.
O patronato é o órgão da execução penal que têm as seguintes funções:
a) prestar assistência aos albergados, que são os que cumprem pena no regime aberto, em casa de
albergado;
b) prestar assistência ao egresso, que abrange o liberado definitivo, pelo prazo de 1 ano, a contar da
saída do estabelecimento, e o liberado condicional, durante o período de prova;
c) orientar os condenados à pena restritiva de direitos;
d) fiscalizar o cumprimento das penas de prestação de serviço à comunidade e de limitação de fim de
semana;
e) colaborar na fiscalização do cumprimento das condições da suspensão condicional da pena e do
livramento condicional.
O patronato é fiscalizado pelos seguintes órgãos:
a) juiz da execução penal;
b) Ministério Público;
c) Conselho Penitenciário;
d) Departamento Penitenciário.
CONSELHO DE COMUNIDADE
Haverá, em cada comarca, um Conselho da Comunidade, cuja função principal é a prestar assistência
material e humana ao preso ou internado, reduzindo-se assim os efeitos danos da prisão. Exemplo: diligenciar
a prestação de alimentação e alojamento, se necessário.
É composto, no mínimo, por 1 (um) representante de associação comercial ou industrial, 1 (um)
advogado indicado pela Seção da Ordem dos Advogados do Brasil, 1 (um) Defensor Público indicado pelo
Defensor Público Geral e 1 (um) assistente social escolhido pela Delegacia Seccional do Conselho Nacional de
Assistentes Sociais.
Esta composição, prevista no art. 80 da LEP, é a mínima, pois quanto maior o número de Conselheiros
melhor para o cumprimento da finalidade da lei.
Trata-se assim de um órgão multidisciplinar, que tem por fundamento o princípio da participação
popular.
Na falta da representação acima, ficará a critério do Juiz da execução a escolha dos integrantes do
Conselho.
Incumbe ao Conselho da Comunidade:
I - visitar, pelo menos mensalmente, os estabelecimentos penais existentes na comarca;
30
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
II - entrevistar presos;
III - apresentar relatórios mensais ao Juiz da execução e ao Conselho Penitenciário;
IV - diligenciar a obtenção de recursos materiais e humanos para melhor assistência ao preso ou
internado, em harmonia com a direção do estabelecimento.
Compete ao juiz da execução compor e instalar o Conselho da Comunidade (art.66, IX, da LEP).
Uma primeira corrente sustenta que o juiz da execução também integra o Conselho de Comunidade.
Outra corrente responde negativamente, pois o art. 80 da LEP não o incluiu na composição. Quanto ao
verbo compor, previsto no citado art. 66, IX, foi empregado no sentido de reunir os membros do Conselho de
Comunidade.
Caso não haja na comarca Conselho de Comunidade, o juiz tem o dever de instalá-lo.
Sobre as diferenças entre o patronato e o conselho de comunidade, são as seguintes:
a) a composição do patronato não é prevista em lei, ao contrário da composição do conselho de
comunidade.
b) o patronato auxilia e fiscaliza os albergados, os egressos e os que cumprem pena restritiva de direitos;
o conselho de comunidade presta auxílio aos presos em regime fechado ou semiaberto e aos internados por
medida de segurança.
É, no entanto, perfeitamente lícito que o Conselho de Comunidade também atue sobre os egressos,
mediante auxílio e fiscalização, conforme art. 5º da Resolução 10/04 do CNPCP.
DEFENSORIA PÚBLICA
A Defensoria Pública, além de suas funções processuais, ainda exerce, na execução penal, a função de
fiscalizar os estabelecimentos penais, podendo, para tanto, praticar os seguintes atos:
a) representar ao Juiz da execução ou à autoridade administrativa para instauração de sindicância ou
procedimento administrativo em caso de violação das normas referentes à execução penal;
b) visitar os estabelecimentos penais, registrando a sua presença em livro próprio, podendo ingressar
em todas as dependências do local e fazer inclusive registro fotográfico;
c) entrevistar presos e funcionários;
d) fazer recomendações para melhoria do estabelecimento prisional;
e) tomar as providências para o adequado funcionamento dos estabelecimentos penais, e requerer,
quando for o caso, a apuração de responsabilidade;
f) requerer à autoridade competente, que é o juiz da execução penal, a interdição, no todo ou em parte,
de estabelecimento penal. Este pedido pode ser feito de forma administrativa ou mediante a propositura de
ação civil pública.
Por outro lado, no que tange à sua atuação no processo de execução penal, se restringe à defesa dos
necessitados, ou seja, que não reúne condições financeira para constituir advogado.
De fato, a Defensoria Pública velará pela regular execução da pena e da medida de segurança, oficiando,
no processo executivo e nos incidentes da execução, para a defesa dos necessitados em todos os graus e
instâncias, de forma individual e coletiva.
Vê-se assim Defensoria Pública pode também mover ação civil pública para defesa dos direitos dos
detentos necessitados.
Incumbe-lhe, para o desempenho de suas funções:
I - requerer:
a) todas as providências necessárias ao desenvolvimento do processo executivo;
b) a aplicação aos casos julgados de lei posterior que de qualquer modo favorecer o condenado;
c) a declaração de extinção da punibilidade;
d) a unificação de penas;
e) a detração e remição da pena;
f) a instauração dos incidentes de excesso ou desvio de execução;
g) a aplicação de medida de segurança e sua revogação, bem como a substituição da pena por medida
de segurança;
30
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O protocolo de Istambul é uma Convenção Internacional da ONU, promulgada no Brasil pelo decreto
presidencial 6.085/07.
O objetivo do Protocolo de Istambul é estabelecer um sistema de visitas regulares efetuadas por órgãos
nacionais e internacionais independentes a lugares onde pessoas são privadas de sua liberdade, com a
intenção de prevenir a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.
Aludido protocolo, para cumprir seu objetivo, criou um órgão internacional independente denominado
Subcomitê de Prevenção da Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes.
Trata-se de um órgão da ONU.
Cada país signatário do Protocolo de Istambul deverá permitir visitas do Subcomitê de Prevenção nos
estabelecimentos penais, que, no final, elaborará um relatório com as recomendações.
O Protocolo de Istambul ainda ordenou a criação, em cada país signatário, a criação de um órgão
nacional independente de Prevenção e Combate à Tortura.
No Brasil, houve a criação, pela Lei 12.847/13, de dois órgãos específicos:
a) Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura - CNPCT;
b) Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura - MNPCT.
É ainda possível a criação de Comitês e Mecanismos Estaduais e Distrital de Prevenção e Combate à
Tortura.
Estes órgãos têm competência para:
a) inspecionar os estabelecimentos penais;
b) visitar todas as dependências dos estabelecimentos penais;
c) entrevistar os presos e funcionários, de forma reservada e sem testemunhas;
d) ter acesso ao número de presos do estabelecimento penal e a todas as informações sobre os
detentos;
e) fazer recomendações às autoridades para melhorar o tratamento e as condições dos presos.
ESTABELECIMENTOS PENAIS
Introdução
31
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Conceito
Destinatários
Espécies
31
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
eficácia da ressocialização e melhoria das condições do preso ou internado (§1º do art. 24 da CF).
No Estado de São Paulo, por exemplo, há os seguintes estabelecimentos penais:
a) Centro de Detenção Provisória (CDP): é destinado aos presos provisórios. Equivale a uma grande
cadeia pública.
b) Penitenciária Compacta: é a que abriga um número menor de presos em comparação com as
penitenciárias tradicionais. Contém a estrutura de uma penitenciária, como cozinha, oficinas e salas de aula.
Destina-se aos presos já condenados, em regime fechado.
c) Centro de Ressocialização de Presos (CRP): destina-se aos presos primários e de baixa periculosidade,
tanto em regime semiaberto como fechado.
d) Centro de Progressão Penitenciária (CPP): se destina exclusivamente aos detentos que cumprem
pena em regime semiaberto.
Presos provisórios
De acordo com o art. 84 da LEP, o preso provisório ficará separado do condenado por sentença
transitada em julgado.
O objetivo da lei, que tem conotação discriminatória, é evitar que sejam moralmente contaminados
pelos presos definitivos
Os presos provisórios ficarão separados em seção do estabelecimento penal destinada a eles, de acordo
com os seguintes critérios:
I - acusados pela prática de crimes hediondos ou equiparados;
31
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
II - acusados pela prática de crimes cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa;
III - acusados pela prática de outros crimes ou contravenções diversos dos apontados nos incisos I e II.
O preso que, ao tempo do fato criminoso, era funcionário da Administração da Justiça Criminal ficará
também em dependência separada.
Aqui é separação é em relação aos presos provisórios e definitivos.
Os presos condenados ficarão separados, em seções dos estabelecimentos penais, de acordo com os
seguintes critérios:
I - condenados pela prática de crimes hediondos ou equiparados;
II - reincidentes condenados pela prática de crimes cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa;
III - primários condenados pela prática de crimes cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa;
IV - demais condenados pela prática de outros crimes ou contravenções em situação diversa das
previstas nos incisos I, II e III.
O preso que tiver sua integridade física, moral ou psicológica ameaçada pela convivência com os demais
presos ficará segregado em local próprio do estabelecimento penal. Exemplo: estupradores. Esta ala do
estabelecimento penal é conhecida como “seguro”.
Preso indígena
Número de presos
O estabelecimento penal deverá ter lotação compatível com a sua estrutura e finalidade.
O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária determinará o limite máximo de capacidade do
estabelecimento, atendendo a sua natureza e peculiaridades.
31
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Estrutura
O estabelecimento penal, conforme a sua natureza, deverá contar em suas dependências com áreas e
serviços destinados a dar assistência, educação, trabalho, recreação e prática esportiva (art. 83 da LEP).
Haverá instalação destinada a estágio de estudantes universitários.
Serão instaladas salas de aulas destinadas a cursos do ensino básico e profissionalizante.
Em todos os estabelecimentos penais, haverá instalação destinada ao atendimento pela Defensoria
Pública.
Serviços indelegáveis
Os estabelecimentos penais são públicos e não podem ser de propriedade da iniciativa privada.
Não há, pois, estabelecimentos penais particulares.
A administração dos estabelecimentos penais não pode ser delegada a empresas particulares.
De acordo com o art. 83-B da LEP, são indelegáveis as funções de direção, chefia e coordenação no
âmbito do sistema penal, bem como todas as atividades que exijam o exercício do poder de polícia, e
notadamente:
I - classificação de condenados;
II - aplicação de sanções disciplinares;
III - controle de rebeliões;
IV - transporte de presos para órgãos do Poder Judiciário, hospitais e outros locais externos aos
estabelecimentos penais. (
Serviços delegáveis
Poderão ser objeto de execução indireta, ou seja, por particulares, as atividades materiais acessórias,
instrumentais ou complementares desenvolvidas em estabelecimentos penais, e notadamente:
I - serviços de conservação, limpeza, informática, copeiragem, portaria, recepção, reprografia,
telecomunicações, lavanderia e manutenção de prédios, instalações e equipamentos internos e externos;
II - serviços relacionados à execução de trabalho pelo preso.
É assim possível, mediante convênio, que empresas ofertem trabalho dentro do estabelecimento penal.
A execução indireta, ou seja, por pessoa jurídica de direito privado, contratada mediante licitação, será
realizada sob supervisão e fiscalização do poder público.
Os serviços acima relacionados poderão compreender o fornecimento de materiais, equipamentos,
máquinas e profissionais.
Penitenciária
31
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
e Penitenciária
Não, destarte, penitenciárias municipais nem particulares.
A União, Estados e Distrito Federal podem também construir penitenciárias exclusivas para presos
provisórios e condenados no regime fechado, sujeitos ao regime disciplinar diferenciado (parágrafo único do
art. 52 da LEP).
Na penitenciária, o condenado será alojado em cela individual que conterá dormitório, aparelho
sanitário e lavatório (art. 8º da LEP). Na prática, porém, as celas são coletivas.
São requisitos básicos da cela individual, também conhecida como unidade celular:
a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento
térmico adequado à existência humana;
b) área mínima de 6,00m² (seis metros quadrados).
Art. 89. Além dos requisitos referidos no art. 88, a penitenciária de mulheres será dotada de seção para
gestante e parturiente e de creche para abrigar crianças maiores de 6 (seis) meses e menores de 7 (sete) anos,
com a finalidade de assistir a criança desamparada cuja responsável estiver presa.
Parágrafo único. São requisitos básicos da seção e da creche referidas neste artigo:
I – atendimento por pessoal qualificado, de acordo com as diretrizes adotadas pela legislação
educacional e em unidades autônomas; e
II – horário de funcionamento que garanta a melhor assistência à criança e à sua responsável.
A penitenciária de homens será construída, em local afastado do centro urbano, à distância que não
restrinja a visitação (art. 90 da LEP). O afastamento não pude ser muito distante da cidade, caso contrário
dificultaria as visitas.
Casa do Albergado
Centro de Observação
31
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Os exames poderão ser realizados pela Comissão Técnica de Classificação, na falta do Centro de
Observação.
Cadeia Pública
O processo de execução penal, para ser instaurado, depende de um título executivo judicial, que se
denomina guia de execução.
Convém esclarecer que a guia de execução é o gênero, que se desdobra em cinco espécies:
a) guia de recolhimento, quando se tratar da execução de pena privativa de liberdade no regime fechado
ou semiaberto;
b) guia de execução de regime aberto, quando imposto o referido regime para a pena privativa de
liberdade;
c) guia de execução de pena restritiva de direitos, quando imposta uma dessas penas, à exceção da pena
de prestação pecuniária;
d) guia de internação para a execução de medida de segurança detentiva;
e) guia de tratamento ambulatorial para a execução de medida de segurança restritiva.
No tocante à execução das penas de multa e prestação pecuniária, não há falar-se em guia de execução,
pois o título executivo é a certidão da sentença penal condenatória, com menção do trânsito em julgado.
No processo civil, o processo de execução, para se instaurar, exige uma petição inicial instruída com o
título executivo, ao passo que, na área criminal, o título executivo judicial serve também como a peça inicial
do processo de execução penal, salvo nas seguintes hipóteses:
a) quando a execução penal não for instaurada de ofício pelo juiz. Nesse caso, será possível um
requerimento do interessado
31
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Os títulos executivos judiciais acima mencionados são expedidos mediante ordem do juiz da
condenação e encaminhados para o juiz da execução penal.
Abrem-se duas exceções, pena de multa e pena de prestação pecuniária, pois, nesses casos, o
encaminhamento do respectivo título executivo judicial é para o Ministério Público (art. 164 da LEP).
Competência
A competência para o processo de execução é do juízo da execução penal, mas, se na comarca não
houver este juízo, a competência será do juízo da condenação que, nesse caso, acumulará as funções do juiz
da execução.
No tocante às condenações emanadas do Juizado Especial Criminal, é preciso distinguir duas situações:
a) a execução das penas privativas de liberdade e restritivas de direitos, ou de multa cumulada com
estas, será processada perante o juízo comum da execução penal. É o que estatui o art. 86 da Lei 9.099/95,
que se revela uma norma especial em relação ao art. 60 da mesma Lei.
b) execução das penas de multa aplicadas isoladamente, outrossim, da pena de multa ou restritivas de
direitos aplicadas em transação penal, serão da competência do próprio Juizado Especial Criminal. É o que se
deduz da norma geral prevista no art. 60 da Lei 9.099/95. Como a norma especial do citado art. 86 não faz
menção expressa à transação, força convir que a sua execução deve ser realizada no próprio JECRIM.
A execução será provisória ou definitiva, conforme se verifique antes ou depois do trânsito em julgado
da condenação.
Somente as penas privativas de liberdade admitem a execução provisória, na hipótese de prisão
cautelar.
Quanto às penas restritivas de direitos e de muita só comportam a execução definitiva, nos termos dos
arts. 147 e 164 da LEP, que fazem expressa menção ao trânsito em julgado da condenação como condição do
início da execução.
A propósito das penas restritivas de direitos, dispõe a súmula 643 do STJ:
“A execução da pena restritiva de direitos depende do trânsito em julgado da condenação".
31
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Introdução
Caráter jurisdicional
O Juiz competente para a execução da pena ordenará, de ofício, a formação do Processo de Execução
Penal (PEP), a partir de uma das espécies de guia de execução e das peças que a acompanham. A guia de
execução é, pois, a peça inicial do processo de execução penal.
Em caso de inércia do juiz da execução, a instauração do processo poderá ser requerida por um dos
legitimados do art. 195 da LEP.
A propósito, dispõe o art. 195 da LEP:
“O procedimento judicial iniciar-se-á de ofício, a requerimento do Ministério Público, do interessado,
de quem o represente, de seu cônjuge, parente ou descendente, mediante proposta do Conselho
Penitenciário, ou, ainda, da autoridade administrativa”.
A menção ao descendente era desnecessária, pois o texto legal também se refere a parente.
Quanto à companheira, também desfruta de legitimidade, por isonomia ao casamento, desde que a
união esteja documentalmente comprovada.
O art. 4º da Resolução 113/2010 do CNJ também confere legitimidade ativa aos órgãos da execução
penal.
Para cada réu condenado, formar-se-á um Processo de Execução Penal, individual e indivisível.
Não há, pois, litisconsórcio passivo no processo de execução penal, pois a execução penal é individual.
No mesmo processo de execução, se reunirão todas as condenações impostas contra o mesmo réu,
31
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
c) julgamento antecipado
Sendo desnecessária a produção de prova, o Juiz decidirá de plano, em igual prazo, ou seja, em três dias
(§1º do art. 196 da LEP).
Extinção da execução
31
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O sigilo das condenações, após o cumprimento ou extinção da pena, pode ser automático ou oriundo
da reabilitação penal.
Cumprida ou extinta a pena, o direito ao sigilo sobre os antecedentes criminais é automático, isto é,
independe de pedido de reabilitação. Efetivamente, dispõe o art. 202 da LEP:
“Cumprida ou extinta a pena, não constarão da folha corrida, atestados ou certidões fornecidas por
autoridade policial ou por auxiliares da Justiça, qualquer notícia ou referência à condenação, salvo para instruir
processo pela prática de nova infração penal ou outros casos expressos em lei”.
Este sigilo automático do art. 202 da LEP, entretanto, tem dois inconvenientes:
a) pode ser quebrado por simples ofício de qualquer autoridade judiciária, mesmo cível ou trabalhista,
e até mesmo do delegado de polícia;
b) não apaga a condenação dos bancos de dados dos institutos de identificação.
Em contrapartida, o sigilo oriundo da reabilitação penal tem duas vantagens:
a) só pode ser quebrado por requisição do juiz criminal, nos termos do art. 748 do CPP;
b) apaga a condenação dos bancos de dados dos institutos de identificação.
Caso não seja respeitado o sigilo automático do art. 202 da LEP ou o derivado da reabilitação, será
cabível mandado de segurança, e não habeas data, pois este último remédio não se presta para impor o sigilo,
mas, sim, para a retificação ou supressão de dados falsos, outrossim, para se obter o acesso a informações.
A vantagem do sigilo do art. 202 da LEP é que é automático, emana diretamente da lei.
A desvantagem do sigilo oriundo da reabilitação é que depende da ação judicial de reabilitação, que
tramita no juízo da condenação, só podendo ser proposta após o decurso do prazo de dois anos, a contar do
cumprimento ou extinção da pena.
Da sentença que concede ou denega a reabilitação é cabível o recurso de apelação, e não o agravo de
execução, porque não se trata de matéria a ser decidida pelo juiz da execução. Além disso, na hipótese de
concessão, é ainda cabível o recurso de ofício (art. 746 do CPP).
AGRAVO EM EXECUÇÃO
Conceito
Agravo em execução é o recurso cabível para impugnar as decisões do juiz da execução penal.
Cabimento
Qualquer decisão do juiz da execução penal será passível de agravo em execução, inclusive, quando se
tratar de execução penal de pena de multa.
A competência do juiz da execução, em regra, inicia-se após o trânsito em julgado da sentença penal
condenatória ou absolutória imprópria.
Entretanto, estando o condenado preso preventivamente, na pendência do seu recurso, ele fará jus aos
benefícios da LEP, sendo que contra estas decisões do juiz da execução penal também será cabível o recurso
32
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
de agravo em execução.
Legitimidade
O agravo em execução pode ser interposto pelo condenado ou por quem o represente.
Outrossim, por seu cônjuge (ou companheiro), parente ou descendente, pois todas essas pessoas
também podem formular pedidos na execução em favor do condenado.
Trata-se de uma rara previsão de interposição de recurso por terceiro moralmente interessado.
O Conselho Penitenciário e autoridades administrativas não podem recorrer, pois não podem formular
pedidos, mas apenas requerer ao juiz a instauração da execução.
O advogado ou defensor público do condenado também podem recorrer.
O condenado pode recorrer contra a vontade de seu advogado ou defensor, e vice-versa.
Interposto o recurso pelo condenado, as razões devem ser apresentadas por advogado ou defensor
público, com o fim de se preservar a ampla defesa.
Não se deve assim confundir a interposição do recurso, que é a manifestação da vontade de recorrer,
com as razões do recurso, que é a sua fundamentação.
Para se interpor o recurso, basta o condenado, ao ser intimado da decisão, manifestar ao oficial de
justiça a sua intenção de recorrer.
Por fim, o Ministério Público também pode interpor agravo em execução.
Prazo e procedimento
O art. 197 da LEP, que prevê o agravo em execução, não prevê o prazo nem o procedimento do aludido
recurso, mas, por analogia, a jurisprudência manda aplicar as normas do recurso em sentido estrito.
Por consequência, o prazo é de 5 (cinco) dias para a interposição e de dois dias para as razões (arts. 586
e 588 do CPP).
A propósito, dispõe a súmula 700 do STF:
“É de cinco dias o prazo para interposição de agravo contra decisão do juiz da execução penal”.
O agravo em execução sobe em instrumento para o tribunal.
Assim, o agravante deverá, no ato da interposição, indicar as peças processuais que deverão compor o
referido instrumento.
Efeitos
32
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Neste caso, o agente só será posto em liberdade após o trânsito em julgado desta decisão, conforme
preceitua o art. 179 da LEP.
Desse modo, o agravo em execução do Ministério Público, à medida que retarda o trânsito em julgado,
será revestido de efeito suspensivo, obstando a libertação do sentenciado.
Introdução
GUIA DE RECOLHIMENTO
Conceito
A guia de recolhimento é a peça inicial do processo de execução das penas privativas de liberdade, no
regime fechado ou semiaberto.
Trata-se de uma espécie do gênero “guia de execução “.
Nomenclatura
A expressão guia de recolhimento é utilizada pela LEP, enquanto que o CPP utiliza o termo carta de guia.
Funções
Além de ser a peça inicial do processo de execução penal da pena privativa de liberdade no regime
fechado ou semiaberto, a referida guia é também necessária para que haja o recolhimento do condenado no
estabelecimento penal.
A propósito, dispõe o art. 107 da LEP:
“Ninguém será recolhido, para cumprimento de pena privativa de liberdade, sem a guia expedida pela
autoridade judiciária”.
Vê-se assim que enquanto o cumprimento da prisão cautelar é autorizado pelo mandado de prisão, o
cumprimento da pena privativa de liberdade, além do mandado de prisão, ainda exige a expedição da guia de
recolhimento, sob pena de o agente público receptor cometer crime de responsabilidade e falta funcional.
A expedição da guia de recolhimento, em regra, é autorizada pelo juiz da condenação, mas há algumas
exceções, que serão vistas mais adiante.
Ordenada a expedição, a guia de recolhimento será extraída pelo escrivão, que a rubricará em todas as
folhas e a assinará com o Juiz, remetendo-a ao juízo da execução penal (art. 106 da LEP).
Espécies
32
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A Guia de Recolhimento Provisória será também expedida pelo juiz da condenação, para o fim de
execução provisória, em caso de recurso, quando o réu estiver preso em razão de prisão cautelar decretada
no referido processo.
Trata-se da única hipótese de expedição de guia de recolhimento sem que haja ainda o trânsito em
julgado da condenação.
Os requisitos para a sua expedição são:
a) réu preso provisoriamente em função do processo;
b) sentença condenatória, que lhe tenha imposto o regime fechado ou semiaberto;
c) interposição de recurso da acusação ou defesa.
Assim, a guia provisória de recolhimento só poderá ser expedida após a prolação da sentença
condenatória, independentemente de quem tenha recorrido, devendo, nesse caso, o juízo da execução definir
o agendamento dos benefícios cabíveis (art. 8º da Resolução 113/2010 do CNJ).
Estando o processo em grau de recurso, sem expedição da guia provisória de recolhimento, às
Secretarias desses órgãos caberão expedi-la e remetê-la ao juízo competente (§2° do art. 8º da Resolução
113/2010 do CNJ).
Note-se que, neste caso, há uma competência concorrente para a expedição da guia provisória de
recolhimento, que será tanto do juiz da condenação quanto da Secretaria do Tribunal incumbido de julgar o
recurso.
32
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
o juiz da condenação ordena a expedição da guia de execução do regime aberto, e o juiz da execução, após
formar o processo de execução, designa a referida audiência.
Segunda corrente, a competência é do juiz da condenação. Assim, após o trânsito em julgado, o próprio
Juiz da condenação realizará a audiência admonitória, pois o art. 113 da LEP preceitua que o ingresso do
condenado em regime aberto supõe a aceitação de seu programa e das condições impostas pelo Juiz. Ou seja,
a guia de execução do regime aberto só será expedida após a realização da audiência admonitória pelo juiz da
condenação.
Acerca da audiência admonitória, o art. 113 da LEP apenas disciplina que o ingresso do apenado no
regime aberto supõe sua anuência às condições do referido regime, não impondo ou obrigando nenhuma
audiência.
É pacífico, porém, que a audiência admonitória deve sim ser realizada após o trânsito em julgado da
condenação, intimando-se para tanto o condenado, mas o art. 113 da LEP não é claro se deve ser feita pelo
juiz da condenação ou pelo juiz da execução.
Particularmente, defendo que a realização da audiência admonitória é atribuição do juiz da execução,
pois, após a sentença, o magistrado do processo de conhecimento esgota o seu poder jurisdicional.
Imagine uma condenação no regime fechado ou semiaberto, mas que, em razão do tempo de
cumprimento da prisão preventiva, deveria ter sido fixada no regime aberto.
Nesse caso, será cabível habeas corpus, com dupla finalidade:
a) impedir o cumprimento do mandado de prisão;
b) pleitear a expedição da guia de recolhimento provisória, mesmo sem prisão, para que o juiz da
execução penal aprecie a questão da progressão de regime oriunda da detração penal.
Trata-se da única hipótese em que seria possível a expedição de guia de recolhimento para condenado
solto.
Somente após a decisão do juiz da execução, é que haveria ou não a expedição da guia de recolhimento
definitiva.
Ou seja, aceita a progressão para o regime aberto, não se expediria o mandado de prisão nem a guia de
recolhimento., mas, sim, a guia de execução de regime aberto.
Negada a progressão ou sendo ela admitida para o regime semiaberto, o mandado de prisão seria
expedido e, após o seu cumprimento, haveria também a expedição da guia de recolhimento definitiva.
Conteúdo
Nos termos do art. 105 da LEP, a guia de recolhimento deverá conter as seguintes informações:
a) o nome do condenado;
b) a sua qualificação civil e o número do registro geral no órgão oficial de identificação;
c) a informação sobre os antecedentes e o grau de instrução;
d) a data da terminação da pena;
Se o condenado, ao tempo do fato, era funcionário da Administração da Justiça Criminal, far-se-á, na
guia, menção dessa circunstância, para fins do disposto no §2°, do artigo 84, da LEP, que ordena que ele
32
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Cientificação e Registro
Retificação
No tocante às demais guias de execução, previstas para o regime aberto, penas restritivas de direitos e
32
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
medidas de segurança, devem conter os mesmo requisitos e informações da guia de recolhimento definitiva.
Conceito
O Roteiro das Penas contém o cálculo de liquidação das penas e o resumo das informações relacionadas
ao cumprimento da pena. Ou seja, além do cálculo da pena, deve ainda conter as informações sobre remição
da pena, progressão de regime, indulto, livramento condicional, certidões de feitos em curso, folhas de
antecedentes e outros documentos que permitam o direcionamento dos atos a serem praticados, tais como
requisição de atestado de conduta carcerária, comunicação de fuga e recaptura.
É regulado pela Resolução 113 do CNJ e deve ser constantemente atualizado.
Momento de realização
Forma de tramitação
Homologação judicial
Efeitos
Homologado o cálculo de liquidação, a secretaria do juízo da execução penal deverá, nos termos do §2º
32
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Coisa julgada
A homologação judicial do cálculo se sujeita à coisa julgada, exceto em relação aos erros materiais e
omissões de penas, que não foram levadas em consideração, devendo a retificação ser providenciada de ofício
pelo juiz da execução penal.
Conceito
O atestado de pena a cumprir é o documento que contém a data do início e do término da pena privativa
de liberdade.
Deve anda conter o montante da pena, o regime e as informações sobre a data em que poderá postular
a progressão de regime e o livramento condicional.
A cópia do cálculo do roteiro da pena também serve como atestado de pena a cumprir.
Competência
Momento da expedição
Nos termos da Resolução 113 do CNJ, deve ser emitido anualmente pelo juiz da execução penal:
a) até o último dia do mês de janeiro de cada ano; e
b) em sessenta dias, para os presos que iniciaram ou reiniciaram o cumprimento da pena, a contar da
data do início ou do reinício.
Assim, é expedido logo no início ou reinício do cumprimento da pena privativa de liberdade e, depois
disso, a expedição deve ser anual.
Conteúdo
O atestado de pena a cumprir conterá, dentre outras, as seguintes informações, previstas no art. 13 da
Resolução 113:
I - o montante da pena privativa de liberdade;
II - o regime prisional de cumprimento da pena;
III - a data do início do cumprimento da pena e a data, em tese, do término do cumprimento integral da
pena; e
IV - a data a partir da qual o apenado, em tese, poderá postular a progressão do regime prisional e o
livramento condicional.
32
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Omissão
Se o requerimento de emissão do atestado de pena a cumprir não for apreciado, no prazo legal, pelo
juiz da execução penal, será cabível a impetração de mandado de segurança.
Outra corrente, porém, preconiza que o remédio cabível seria o “habeas corpus”, pois a referida
omissão coloca em risco a liberdade de locomoção.
Ora, tendo em vista que o requerente já se encontra preso, dificilmente haveria o agravamento do risco
à liberdade de locomoção, razão pela qual o mandado de segurança se revela mais adequado.
A doença mental, que ocorre após o trânsito em julgado da condenação a pena privativa de liberdade,
pode ensejar duas situações:
a) conversão da pena privativa de liberdade em medida de segurança, quando se tratar de doença
mental permanente;
b) internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, quando se tratar de doença mental
transitória (arts.41 do CP e 108 da LEP). Nesse caso, o tempo de internação será computado como pena, nos
termos do art. 42 do CP.
Por outro lado, a doença mental, que ocorre após o trânsito em julgado da condenação a pena de multa,
é causa de suspensão do processo de execução da pena de multa (art. 52 do CP).
Sobre a doença mental, que ocorre após o trânsito em julgado da condenação a pena restritiva de
direitos, a lei é omissa, mas, por analogia “in bonam partem”, deve também ser aplicado o art. 52 do CP,
suspendendo-se a execução penal.
Nas duas situações acima, suspenso o processo de execução das penas de multa ou restritiva de direitos,
a prescrição da pretensão executória, diante da falta de previsão legal, não é suspensa, fluindo normalmente.
INCIDENTES DE EXECUÇÃO
Conceito
Espécies
CONVERSÃO DE PENAS
Conceito
32
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Na fase de execução penal, o art. 180 da LEP prevê que a pena privativa de liberdade, não superior a 2
(dois) anos, poderá ser convertida em restritiva de direitos, desde que:
I - o condenado a esteja cumprindo em regime aberto;
II - tenha sido cumprido pelo menos 1/4 (um quarto) da pena;
III - os antecedentes e a personalidade do condenado indiquem ser a conversão recomendável.
O art. 180 da LEP comporta duas interpretações.
Primeira, só é cabível a conversão nas condenações que não excedem a 2 (dois) anos.
Segunda, admite-se a conversão, qualquer que seja o montante da condenação, desde que o restante
da pena não exceda a 2 (dois) anos.
Filio-me a esta última orientação, pois onde a lei não distingue ao intérprete não é lícito distinguir.
No processo de conhecimento, a conversão da pena privativa de liberdade, nos termos do art. 44 do CP,
só é cabível:
a) aos crimes culposos, qualquer que seja a quantidade da pena concreta;
b) aos crimes dolosos, cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, cuja condenação não exceda
a 4 (quatro) anos.
Já a conversão na fase de execução, prevista no art. 180 da LEP, pode ser aplicada a qualquer crime,
inclusive, aos cometidos com violência ou grave ameaça contra pessoa.
A conversão do processo de conhecimento não pode ser aplicada ao reincidente específico na prática
do mesmo crime (§3º do art. 44 do CP).
A conversão na fase de execução, por sua vez, pode ser aplicada ao reincidente específico, pois o art.
180 da LEP não impõe esse obstáculo.
Por fim, não se vislumbra vantagem na conversão do art. 180 da LEP, pois o regime aberto, que é um
dos requisitos da conversão, na prática, por ser domiciliar, é mais vantajoso que as penas restritivas de direitos.
Se, entretanto, na comarca houver casa de albergado, a conversão se revelará atrativa.
Introdução
Em relação à pena de prestação pecuniária, o assunto é polêmico, quando o condenado solvente deixa
de efetuar o pagamento.
32
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Uma primeira corrente sustenta que também pode ser convertida em pena privativa de liberdade,
porquanto a lei não lhe abre exceção.
Outra corrente rejeita a conversão, pois esta implicaria numa prisão civil por dívida, o que é vedado pelo
art. 5º, LXVII, da CF.
De fato, na prestação pecuniária revertida em prol da vítima ou seus beneficiários, o montante pago
será deduzido do valor da indenização, de tal sorte que, ao lado do seu caráter de pena, também se reveste
da natureza de dívida.
Causas de conversão
São três as causas de conversão das penas restritivas de direitos em pena privativa de liberdade. Ei-las:
a) descumprimento das restrições impostas;
b) superveniência de condenação por crime doloso à pena privativa de liberdade.
c) prática de falta grave.
Quando houver o descumprimento das restrições que foram impostas ao condenado, a conversão será
obrigatória (art. 44, §4º, do CP).
No cálculo da pena privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva
de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão.
A conversão é assim pelo restante da pena.
Se, porém, restava menos que trinta dias, a conversão será por trinta dias, que é o saldo mínimo.
No tocante ao descumprimento das restrições, o §1º do art. 181 da LEP dispõe que:
“A pena de prestação de serviços à comunidade será convertida quando o condenado:
a) não for encontrado por estar em lugar incerto e não sabido, ou desatender a intimação por edital;
b) não comparecer, injustificadamente, à entidade ou programa em que deva prestar serviço;
c) recusar-se, injustificadamente, a prestar o serviço que lhe foi imposto;
d) praticar falta grave;
e) sofrer condenação por outro crime à pena privativa de liberdade, cuja execução não tenha sido
suspensa”.
O §2º do citado art. 181 da LEP acrescenta que:
“A pena de limitação de fim de semana será convertida quando o condenado não comparecer ao
estabelecimento designado para o cumprimento da pena, recusar-se a exercer a atividade determinada pelo
Juiz ou se ocorrer qualquer das hipóteses das letras "a", "d" e "e" do parágrafo anterior”.
O § 3º do dispositivo acima ainda rege que:
“A pena de interdição temporária de direitos será convertida quando o condenado exercer,
injustificadamente, o direito interditado ou se ocorrer qualquer das hipóteses das letras "a" e "e", do § 1º,
deste artigo”.
Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da execução penal decidirá
sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva
anterior (art. 44, §5º, do CP).
Trata-se assim de uma conversão facultativa, quando for possível o cumprimento simultâneo de ambas
as penas.
Com efeito, na condenação à pena privativa de liberdade, no regime aberto, será possível ao condenado
cumprir a pena alternativa anterior e, dessa forma, a conversão será facultativa.
Será igualmente facultativa a conversão, na condenação no regime fechado ou semiaberto, em relação
às penas de prestação pecuniária e perda de bens e valores, pois, em relação a elas, será possível cumprir
33
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Ao condenado a quem sobrevier doença mental ou perturbação da saúde mental, no curso do processo
de execução, poderá ocorrer duas situações
a) doença ou perturbação mental transitória, ou seja, com prognóstico de cessação.
Nesse caso, não há falar-se na conversão da pena em medida de segurança.
O condenado será internado em Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (art. 108 da LEP).
Ou seja, até que se restabeleça, cumprirá a pena neste local.
Com a cessação da doença ou perturbação mental, haverá o seu retorno ao estabelecimento penal
anterior, computando-se como pena cumprida o período em que permaneceu internado (art. 42 do CP).
33
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Outra corrente, porém, sustenta que, uma vez cessada a periculosidade, deverá ocorrer, caso ainda
reste pena a cumprir, a regressão da medida de segurança em pena, mas este ponto de vista, diante da falta
de previsão legal, não se sustenta, pois viola o princípio da reserva legal.
Assim, cessada a periculosidade, impõe-se a suspensão da medida de segurança, mediante liberação,
com as seguintes condições obrigatórias, previstas no §1º do art. 132 da LEP, especificadas pelo juiz:
a) obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho;
b) comunicar periodicamente ao Juiz sua ocupação;
c) não mudar do território da comarca do Juízo da execução, sem prévia autorização deste.
O §2° do art. 132 da LEP ainda prevê as seguintes condições facultativas:
a) não mudar de residência sem comunicação ao Juiz e à autoridade incumbida da observação cautelar
e de proteção;
b) recolher-se à habitação em hora fixada;
c) não frequentar determinados lugares.
Se, dentro do prazo de um ano, a contar da liberação condicional, houver a prática de fato indicativo da
persistência da periculosidade, que não precisa ser necessariamente um crime, a medida de segurança, que
estava suspensa, será restabelecida (§3º do art. 97 do CP).
Se, entretanto, não houver nenhum fato indicativo da periculosidade, a medida de segurança será então
declarada extinta pelo juiz da execução penal.
Conceito
33
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Tanto no excesso quanto no desvio de execução, o ato praticado viola o ordenamento jurídico,
afrontando:
a) a sentença condenatória;
b) a sentença absolutória imprópria;
c) normas legais,
d) normas regulamentares.
O desvio ou excesso de execução pode atentar contra as normas de direito penal ou de direito
penitenciário.
A concessão indevida de regalias ao preso, por exemplo, afronta o direito penitenciário.
A apreciação do excesso ou desvio de execução será da competência do juiz da execução penal, quer a
norma violada seja de direito penal ou de direito penitenciário.
Excesso de execução
O excesso de execução é a prática de ato que aumenta a quantidade da sanção penal ou disciplinar.
Há, pois, excesso nos seguintes exemplos:
a) a condenação de três anos de reclusão é inscrita na guia de recolhimento como treze anos de
reclusão;
b) o condenado cumpre integralmente a pena, mas não é solto;
c) o condenado por falta grave perde todo o tempo de remição, quando o limite máximo da perda seria
de um terço;
d) o condenado é incluído no RDD preventivo por prazo superior a dez dias;
e) o diretor do presídio aplica a sanção disciplinar de isolamento por prazo superior a trinta dias.
Desvio de execução
O desvio de execução, por sua vez, é a prática de ato que altera a qualidade da sanção penal ou
disciplinar ou que reduz a sua quantidade.
Exemplos:
a) a sentença impõe o regime fechado, mas o sujeito é recolhido em regime semiaberto;
b) a sentença impõe o regime semiaberto, mas, por falta de vaga, a pena é cumprida no regime fechado,
o que afronta a súmula vinculante 56 do STF;
c) o diretor do presídio concede ao preso regalias não previstas nas normas legais ou regulamentares;
d) o juiz concede livramento condicional antes de o condenado cumprir o tempo mínimo da pena
privativa de liberdade exigido pela lei;
e) o diretor do presídio concede dispensa injustificada do trabalho prisional;
f) não instauração de procedimento administrativo disciplinar pela prática de falta grave;
g) autorização de saída temporária fora das hipóteses legais;
h) o sujeito é condenado a dez anos de reclusão, mas na guia de recolhimento consta dez meses.
Distinção
O excesso de execução é o ato que eleva a quantidade da pena, medida de segurança ou sanção
disciplinar, ao passo que o desvio de execução afeta a qualidade ou reduz a quantidade da sanção penal ou
disciplinar.
Outra diferença é que o excesso de execução é necessariamente maléfico para o condenado, ao passo
que o desvio de execução pode ser tanto benéfico quanto maléfico.
Legitimidade
33
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
I - o Ministério Público;
II - o Conselho Penitenciário;
III - o sentenciado;
IV - qualquer dos demais órgãos da execução penal”.
Assim, o juiz, de ofício, também pode instaurar o incidente de excesso ou desvio de execução, por duas
razões:
a) é um dos órgãos da execução penal e, portanto, se enquadra no citado art. 186, IV, da LEP;
b) compete ao juiz da execução penal zelar pelo correto cumprimento da pena e da medida de
segurança; nos termos do art. 66, VI, da LEP.
Generalidades
Anistia, graça e indulto são formas de indulgência, emanadas de órgãos alheios ao Poder Judiciário, que
dispensam, em certos casos, a aplicação da lei penal.
Conquanto oriundos de órgãos estranhos ao Judiciário, anistia, graça e indulto só provocam a extinção
da punibilidade depois de acolhidos por decisão judicial (CP, art. 107, II).
ANISTIA
Conceito
Forma
Vedações
Em regra, qualquer delito pode ser anistiado, salvo os crimes hediondos, tortura, tráfico ilícito de
entorpecentes e o terrorismo (art. 5º, XLIII, da CF).
Efeitos
A anistia tem efeito “ex tunc”, isto é, para o passado, apagando todos os efeitos penais, rescindindo,
inclusive, a sentença condenatória.
Se, posteriormente, o agente vier a cometer novo delito não será considerado reincidente.
Subsistem, porém, os efeitos civis da sentença penal, que continuará a valer como título executivo
judicial.
Momento
Pode a lei de anistia ser aprovada antes ou durante o processo-crime e mesmo depois do trânsito em
julgado da condenação.
33
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Classificação
A anistia sempre gera a extinção da punibilidade, não podendo assumir o perfil de comutação de pena.
Ela pode ser:
a) plena ou geral: é a que não abre exceção ao fato anistiado, beneficiando todos os criminosos;
b) restrita ou parcial: é a que excetua certas pessoas ou certos fatos, como a que abrange só os réus
primários;
c) própria: é a concedida antes do trânsito em julgado;
d) imprópria: é a concedida após o trânsito em julgado da sentença condenatória;
e) incondicionada: quando a lei não impõe nenhum encargo ao criminoso, hipótese em não poderá ser
recusada, pois se trata de um benefício de ordem
pública.
f) condicionada: quando a lei impõe algum encargo ao criminoso, que, em função disso, pode se recusar
a aceitar o benefício;
g) especial: abrange só crimes políticos;
h) comum: abrange outros delitos.
Juiz competente
Uma vez em vigor a lei de anistia, a punibilidade, para ser extinta, depende ainda de decisão judicial,
prolatada após a prévia oitiva do Ministério Público.
Caso ainda não haja sentença, a decisão judicial será proferida pelo juiz que conduz o processo de
conhecimento.
Se, porém, o processo, após a sentença, encontrar-se no tribunal, em grau de recurso, o próprio tribunal
reconhece a extinção da punibilidade.
Pode ainda ocorrer de a lei de anistia entrar em vigor após o trânsito em julgado da sentença, quando,
então, a extinção da punibilidade será decretada pelo juízo da execução.
Distinção
INDULTO E GRAÇA
Terminologia
A LEP não utiliza o termo “graça”, mas, em contrapartida, emprega a palavra indulto em dois sentidos:
a) indulto individual, que é a graça (art. 188);
b) indulto coletivo, que é o indulto propriamente dito (art. 193).
O art. 70, II, da LEP ainda se refere à comutação de pena.
Entretanto, a comutação das penas, que é a sua substituição por outra de espécie diversa, em razão de
decreto presidencial, é, na verdade, uma espécie de indulto.
33
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Conceito
Indulto é a indulgência, de caráter coletivo, que extingue, substitui ou abranda a pena aplicada.
Graça é a indulgência concedida a determinado criminoso, que extingue, substitui ou abranda a pena
aplicada. É também chamada de indulto individual.
A graça, como ensina Basileu Garcia, visa premiar o sentenciado exemplar, para quem a pena já se
mostrou manifestamente desnecessária, ou eximir de maior sofrimento o preso enfermo que tem os dias
contados em razão de algum mal cruciante e incurável.
É claro que outras razões louváveis também poderão motivar a concessão da graça.
Na hipótese de pena de morte, imposta por tribunais militares, em caso de guerra externa (CF, art. 5º,
XLVII, a), transitada em julgado a condenação, cuja execução é por fuzilamento, deverá ser comunicado o
Presidente da República, que poderá, ou não, em sete dias, exercer o direito de graça (arts. 707 e 708 do
CPPM).
Vedação
Dispõe a Constituição Federal que são insuscetíveis de graça e anistia a prática de tortura, o tráfico ilícito
de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os crimes hediondos (art. 5º, XLIII).
A Lei n. 8.072/90, porém, estende a proibição ao indulto (art. 2º, I), ensejando duas interpretações.
Primeira, a restrição ao indulto é inconstitucional, devendo a proibição limitar-se à graça.
Segunda, o termo graça foi empregado em sentido amplo pela Constituição, estendo-se a proibição ao
indulto, de tal sorte que a previsão legal apenas reforça a norma constitucional. É a posição do STJ.
Quanto ao delito de tráfico de drogas privilegiado, previsto no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006, não é
equiparado ao hediondo, razão pela qual admite a anistia, a graça e o indulto.
A Lei 9454/97 não veda o indulto ao crime de tortura, mas o STJ tem decidido que a proibição emana
do texto constitucional, que interpreta o termo graça em sentido amplo para abranger também o indulto.
Classificação
Efeitos
Acerca dos efeitos da graça e do indulto, cumpre mencionar a Súmula 631 do STJ: “
O indulto extingue os efeitos primários da condenação (pretensão executória), mas não
atinge os efeitos secundários, penais ou extrapenais”.
Esta súmula se refere obviamente ao indulto pleno, que extingue a punibilidade e, por
consequência, afasta o efeito primário da condenação, que é a aplicação da pena ou medida de
segurança, subsistindo, na íntegra os efeitos secundários de natureza penal ou civil (exemplos: reincidência,
maus antecedentes, título executivo no cível).
33
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Semelhanças
Distinção
Conquanto apresentem tantas características comuns, indulto e graça têm também alguns pontos de
divergência.
O indulto, tal como a anistia, é medida de caráter coletivo, de efeitos impessoais, pois os seus
beneficiários não são identificados nominalmente, e, sim, através de circunstâncias em que o delito tenha sido
cometido, ao passo que a graça tem caráter individual, contemplando uma determinada pessoa.
O indulto e a anistia têm caráter espontâneo, pois são concedidos independentemente de
requerimento.
A graça, por sua vez, pode ser:
a) espontânea: quando o decreto houver sido expedido por iniciativa do próprio Presidente da
República.
b) provocada: quando houver sido requerida ao Presidente da República, por petição do próprio
condenado, do Ministério Público, do Conselho Penitenciário ou da autoridade administrativa (art. 188 da
LEP).
Procedimento administrativo
33
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Aludido decreto poderá ou não se basear nos pareceres do Conselho Penitenciário e do Ministério da
Justiça, pois estes não têm caráter vinculante.
O procedimento acima, conquanto previsto para a graça provocada, também se aplica ao indulto e à
graça espontânea, colhendo-se assim o parecer do Conselho Penitenciário e do Ministro da Justiça, o que é
salutar, pois se confere um certo suporte jurídico ao Presidente da República, antes de ele expedir o decreto
de indulto.
Procedimento judicial
Expedido o decreto de graça ou indulto, o juiz da execução penal, nos termos do art. 192 da LEP,
declarará extinta a pena ou ajustará a execução aos termos do decreto, no caso de comutação.
O juiz, antes de decidir, deverá ouvir o Ministério Público.
De acordo com o STJ, o juiz da execução penal, malgrado a previsão no art. 70, II, da LEP, não deve
colher a manifestação do Conselho Penitenciário, salvo quando houver expressamente esta exigência no
decreto de indulto.
Considerações gerais
Nos termos da súmula 643 do STJ, a execução da pena restritiva de direitos depende do trânsito em
julgado da condenação.
É, pois, vedada, por falta de previsão legal e em atenção ao princípio da presunção da inocência, a
execução provisória, qualquer que seja a modalidade das penas restritivas de direitos.
Competência
Legitimidade ativa
33
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O processo de execução das penas de prestação de serviços à comunidade, limitação de fim de semana
e interdição temporária de direitos deve se iniciar de ofício, pelo juiz da execução penal, ou mediante
requerimento do Ministério Público.
Assim, tanto o juiz da execução penal quanto o Ministério Público têm legitimidade ativa para a
instauração do processo de execução das referidas penas.
Sobre o assunto, dispõe o art. 147 da LEP:
“Transitada em julgado a sentença que aplicou a pena restritiva de direitos, o Juiz da execução, de ofício
ou a requerimento do Ministério Público, promoverá a execução, podendo, para tanto, requisitar, quando
necessário, a colaboração de entidades públicas ou solicitá-la a particulares”.
Peça inicial
A peça inicial do processo de execução penal será a guia de execução de pena restritiva de direitos ou
o requerimento do Ministério Público.
Quando instaurado de ofício, a peça inicial do processo de execução será a guia de execução de pena
restritiva de direitos.
Com efeito, transitada em julgado a sentença, o juiz da condenação tem o dever de ordenar a expedição
da guia de execução de pena restritiva de direitos, que será encaminhada ao juízo da execução penal que, por
sua vez, ao receber a guia, instaurará o processo de execução.
Se, por algum lapso, o juiz não instaurar o processo de execução, o Ministério Público deverá requerer
a sua instauração, hipótese em que o juiz da execução providenciará a juntada da guia de execução de pena
restritiva de direitos, para que seja anexada aos autos, solicitando-a ao juiz da condenação, caso este ainda
não lhe tenha enviado.
33
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A pena de limitação de fim de semana consiste na obrigação de permanecer, aos sábados e domingos,
por 5 (cinco) horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado (art. 48 do CP).
Ou seja, 5 (cinco) horas no sábado e outras 5 (cinco) nos domingos, sendo, pois, uma prisão de fim de
semana.
Nesta pena, poderão ser ministrados ao condenado, durante o tempo de permanência, cursos e
palestras, ou atribuídas atividades educativas (art. 152 da LEP).
Nos casos de violência doméstica contra a mulher, o juiz poderá determinar o comparecimento
obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeducação (parágrafo único do art. 152).
Instaurado o processo de execução, caberá ao Juiz da execução determinar a intimação do condenado,
cientificando-o do local, dias e horário em que deverá cumprir a pena (art. 151 da LEP).
A execução terá início a partir da data do primeiro comparecimento (parágrafo único do art. 151).
O estabelecimento designado encaminhará, mensalmente, ao Juiz da execução, relatório, bem assim
comunicará, a qualquer tempo, a ausência ou falta disciplinar do condenado (art. 153 da LEP).
Em qualquer fase da execução, poderá o Juiz, motivadamente, alterar, a forma de cumprimento da
aludida pena, ajustando-as:
a) às condições pessoais do condenado;
b) às características do estabelecimento ou do programa comunitário ou estatal (art. 148 da LEP).
34
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
situação em que o início da pena é disciplinado pelo § 1º do art. 47 do CP, que dispõe:
“Na hipótese de pena de interdição do artigo 47, inciso I, do Código Penal, a autoridade deverá, em 24
(vinte e quatro) horas, contadas do recebimento do ofício, baixar ato, a partir do qual a execução terá seu
início”.
Assim, o início da execução desta pena ocorre com o ato de proibição da autoridade administrativa
acerca da proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo.
Nas hipóteses do artigo 47, incisos II e III, do Código Penal, o Juízo da execução determinará a apreensão
dos documentos, que autorizam o exercício do direito interditado (§2º do art. 47 da LEP).
Assim, serão apreendidos os seguintes documentos:
a) a autorização para dirigir veículo, quando aplicada a respectiva pena de suspensão da autorização.
b) o documento de habilitação especial, a licença e autorização, conforme a hipótese, quando aplicada
a correspondente pena de proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício.
A autoridade deverá comunicar imediatamente ao Juiz da execução o descumprimento da pena (art.
155 da LEP).
A comunicação também poderá ser feita por qualquer prejudicado (parágrafo único do art. 155 da LEP).
A perda de bens e valores, regulada pelo §3º do art. 45 do CP, consiste na expropriação de coisas
corpóreas ou incorpóreas do condenado, tendo como teto o que for maior entre o montante do prejuízo
34
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
causado e o provento obtido pelo agente ou por terceiro, em consequência da prática do crime.
É destinada, ressalvada a legislação especial, ao Fundo Penitenciário Nacional.
O processo de execução desta pena, conforme já dito, não é regulado pela LEP.
Na verdade, com o trânsito em julgado da condenação, a propriedade do bem ou valor expropriado será
automaticamente incorporado ao patrimônio do Fundo Penitenciário Nacional, prescindindo-se de uma
execução penal.
No tocante à posse, é preciso distinguir três situações:
a) o bem ou valor expropriado se encontra apreendido no processo. Nesse caso, o próprio juiz da
condenação, após o trânsito em julgado, determinará a sua entrega ao Fundo Penitenciário Nacional.
b) o bem ou valor expropriado se encontra na posse de terceiro. Nesse caso, a União terá que mover na
esfera cível federal
a ação de imissão de posse.
c) o bem ou valor expropriado se encontra na posse do condenado. Nesse caso, penso que, por analogia,
deve ser aplicado, no que couber, o procedimento de cumprimento de sentença para entrega de coisa,
previsto no art. 538 do CPC, que tramitará no juízo da execução penal, tendo em vista a possibilidade de esta
pena, em caso de descumprimento, ser convertida em pena privativa de liberdade.
O procedimento pode ser instaurado de ofício pelo juiz da execução penal, nos termos dos arts. 536 e
538 do CPC, ou mediante petição inicial do Ministério Público, funcionando como título executivo a carta de
sentença.
Por se tratar de execução de pena, não poderá ser movida pela Fazenda Pública Nacional.
O condenado será citado para entregar a coisa no prazo fixado pelo juiz e, se o fizer, será lavrado o
termo de entrega ou auto de imissão na posse, conforme se trate de bem móvel ou imóvel, extinguindo-se a
execução.
Se a coisa não for entregue no prazo será possível duas alternativas:
a) a expedição do mandado de busca e apreensão ou de imissão de posse, conforme se trate de bem
móvel ou imóvel; ou
b) a conversão em pena privativa de liberdade.
Decretada a conversão em pena privativa de liberdade, os efeitos serão os seguintes:
a) desaparece a pena de perda de bens e valores, de modo que o bem ou valor volta a pertencer ao
condenado;
b) o juiz da execução penal manda expedir a guia de recolhimento e instaura formalmente o processo
de execução da pena privativa de liberdade.
Se ocorrer o perecimento do bem sem culpa do condenado, a execução será extinta e não haverá a
conversão em pena privativa de liberdade, pois, nesse caso, o descumprimento da pena restritiva ocorreu por
motivo justificado.
Introdução
Tipos de processos
34
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
em julgado da condenação.
O pagamento da pena de multa pode se verificar em dois tipos de processos:
a) processo de conhecimento;
b) processo de execução.
Normas comuns
Nas condenações com trânsito em julgado à pena de multa, aplicada isoladamente ou cumulativamente
com pena privativa de liberdade ou com pena restritiva de direitos, o juiz da vara onde tramitou o processo
de conhecimento deverá primeiramente verificar se houve ou não a decretação de fiança.
De fato, caso o réu tenha recolhido fiança, o respectivo valor servirá para pagamento da pena de multa,
nos termos do art. 336 do CPP, prescindindo-se da intimação do condenado.
Em sendo o valor da fiança suficiente para o pagamento total, o juiz declarará extinta a pena de multa;
se o valor for insuficiente, será feito o respectivo abatimento da pena de multa.
Se não houver fiança, ou se o seu valor for insuficiente, o juiz do processo de conhecimento ordenará a
intimação do condenado, nos termos do art. 50 do CP, para que, dentro do prazo de 10 (dez) dias, efetue o
pagamento ou requeira o seu parcelamento.
O referido prazo de 10 (dez) dias começa a fluir no primeiro dia útil seguinte à intimação.
No mandado de intimação deve constar o valor atualizado da multa, mas sem a incidência de juros, pois
ainda não há mora, outrossim, o prazo de 10 (dez) dias para que se efetue o pagamento ou se requeira o
parcelamento.
34
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Na prática, a aludida intimação costuma ser feita por carta com AR.
Caso o condenado não seja encontrado, após esgotados os meios para se tentar localizá-lo, o juiz do
processo de conhecimento determinará a sua intimação por edital.
Na intimação por edital, o prazo de 10 (dez) dias para pagamento voluntário ou requerimento de
parcelamento, só começa a fluir após esgotado o prazo do edital, que é de 15 (quinze) dias (arts. 370 c/c 361
do CPP).
Efetivada a intimação, por carta, mandado ou por edital, dentro do prazo de 10 (dez) dias, podem
ocorrer três situações:
a) o pagamento integral da pena de multa. Nesse caso, o juiz declarará extinta a pena de multa e, em
sendo ela a única pena aplicada, comunicará o Tribunal Regional Federal para restabelecimento dos direitos
políticos do condenado
b) o não pagamento. Nesse caso, o juiz ordenará a extração da certidão da sentença penal condenatória,
com menção do trânsito em julgado e do valor da multa, que será enviada ao Ministério Público para que o
mesmo providencie a instauração do processo de execução.
Em alguns Estados, o juiz da vara onde tramitou o processo, no lugar dessa certidão, manda expedir a
carta de sentença, que é a cópia das principais peças do processo, que também funciona como título executivo
judicial.
c) o pedido de parcelamento em parcelas mensais, nos termos art. 50, 2ª parte, do CP.
A lei não impõe limites ao número de parcelas, que deverá observar o princípio da razoabilidade. Se o
juiz deferir o parcelamento, sobrevindo a quitação de todas as parcelas, a pena de multa será declarada
extinta.
Em havendo impontualidade de uma das parcelas, o juiz revogará o parcelamento e mandará extrair a
certidão da sentença condenatória transitada em julgado, entregando-a ao Ministério Público para o fim de
instauração do processo de execução.
A rigor, o título executivo judicial da pena de multa é a certidão da sentença condenatória, contendo o
valor da multa e a menção do trânsito em julgado, que é extraída pelo escrivão, prescindindo-se de outras
peças do processo cognitivo (art. 164 da LEP).
Nada obsta, porém, que seja extraída a carta de sentença, que contém as principais peças do processo
de conhecimento, inclusive, a certidão do trânsito em julgado.
Em suma, o título executivo judicial da pena de multa, quer tenha sido aplicada isoladamente ou
cumulativamente com a pena privativa de liberdade, pode ser tanto certidão da sentença condenatória com
menção do trânsito em julgado, extraída com base no art. 164 da LEP, quanto a carta de sentença.
Ambos os documentos são extraídos pelo escrivão, por ordem do juiz do processo de conhecimento e
entregue ao Ministério Público.
34
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Competência
A competência para o processo de execução da pena de multa é do juízo da execução penal (art. 51 do
CP).
Se, porém, a penhora recair sobre bem imóvel, a competência será deslocada para o juízo cível (art. 165
da LEP).
A pena de multa, quando aplicada, juizado criminal, terá a seguinte competência;
a) juízo comum da execução penal, quando aplicada cumulativamente com as penas privativa de
liberdade ou restritiva de direitos (art. 86 da Lei 9.099/95).
b) no próprio juizado especial criminal, quando for a única pena aplicada ou imposta em transação penal
(art. 60 da Lei 9.099/95).
Legitimidade ativa
A legitimidade ativa para propor a ação de execução da pena de multa, ainda que se trate de ação penal
privada, é exclusiva do Ministério Público (arts. 129, I, da CF e 164 da LEP).
A súmula 521 do STJ, que previa a competência do juízo da execução fiscal e a legitimidade exclusiva da
Procuradoria da Fazenda Pública, foi cancelada, em razão do advento da Lei 13.964/2019 que alterou a
redação do art. 51 do CP para determinar que a multa deve ser executada perante o juiz da execução penal.
Procedimento da execução
O primeiro ato do processo de execução, previsto no art. 164 e seguintes da LEP, é a petição inicial do
Ministério Público, contendo o valor da multa e o pedido de citação para, no prazo de 10 (dez) dias, pagar ou
nomear bens à penhora (art. 164 da LEP).
Efetuada a citação, podem ocorrer, dentro do prazo de dez dias, quatro situações:
II) o executado requer o parcelamento da pena de multa, em prestações mensais, iguais e sucessivas.
O pedido de parcelamento só pode ser feito dentro deste prazo de dez dias (art. 69 da LEP).
O Juiz, conforme preceitua o §1° do art. 169 da LEP, antes de decidir sobre o pedido de parcelamento,
poderá determinar diligências para verificar a real situação econômica do condenado e, ouvido o Ministério
Público, fixará o número de prestações.
O parcelamento é um direito público subjetivo do condenado, só podendo ser indeferido quando puder
pagar à vista sem ser privado dos recursos necessários à sua sobrevivência.
Acolhido o pedido parcelamento, o §2º do citado art. 169 esclarece que se o condenado for impontual
ou se melhorar de situação econômica, o Juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, revogará o
benefício executando-se a multa, prosseguindo-se na execução já iniciada.
Como se vê, o benefício do parcelamento será revogado em duas situações:
a) se houver impontualidade. Não se exige, para a revogação, o inadimplemento.
b) se o executado melhorar a sua situação econômica.
III) o executado apresenta impugnação. Exemplo: alega a prescrição da pena de multa. Outro exemplo:
alega que ainda não houve o trânsito em julgado da condenação.
Se a impugnação recair sobre o valor da execução, ou seja, excesso de execução, é mister que esteja
acompanhada:
a) do pagamento da parte incontroversa, sob pena de penhora.
34
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
b) do cálculo do valor que reputa ser o correto, sob pena de não conhecimento desse fundamento, por
aplicação subsidiária do §5º do art. 525 do CPC.
IV) o executado não paga, não requer o parcelamento nem nomeia bens à penhora.
Neste caso, o juiz expedirá o mandado de penhora e avaliação de tantos bens quantos bastem para
garantir a execução, sendo também possível a penhora on-line, que é uma ordem de bloqueio de dinheiro
dirigida às instituições financeiras.
Se a penhora recair em bem imóvel, os autos apartados serão remetidos ao Juízo Cível para
prosseguimento (art. 165 da LEP).
Recaindo a penhora em outros bens, dar-se-á prosseguimento nos termos do § 2º do artigo 164, da LEP,
no próprio juízo da execução penal (art. 166 da LEP).
Dispõe o §2º do art. 164 do CPC:
“A nomeação de bens à penhora e a posterior execução seguirão o que dispuser a lei processual civil”.
Assim, após a penhora, são aplicáveis às normas do Código de Processo Civil, que prevê que os próximos
atos devem ser os seguintes:
a) o executado será intimado da penhora e se esta recair sobre imóvel, intima-se também o seu cônjuge,
que poderá ingressar com embargos de terceiro para excluir a sua meação da penhora;
b) avaliação do bem penhorado;
c) leilão;
d) pagamento realizado pelo arrematante do bem penhorado;
e) extinção da execução.
Com a arrematação do bem penhorado, se o valor for suficiente, a pena de multa será declarada extinta;
se insuficiente, a execução prosseguirá, em relação ao saldo remanescente.
34
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
a) aplicada isoladamente;
b) aplicada cumulativamente com pena restritiva de direitos;
c) concedida a suspensão condicional da pena.
Noutras palavras, só não seria possível o desconto em folha quando a pena de multa houvesse sido
aplicada cumulativamente com pena privativa de liberdade
Entretanto, veja o que dispõe o art. 170 da LEP:
“Quando a pena de multa for aplicada cumulativamente com pena privativa da liberdade, enquanto
esta estiver sendo executada, poderá aquela ser cobrada mediante desconto na remuneração do condenado”.
Ou seja, a pena de multa, mesmo quando cumulada com a pena privativa de liberdade, poderá também
ser executada mediante desconto em folha.
A conclusão é que sempre será possível a execução por desconto em folha, devendo ser desconsiderada
a proibição implícita prevista no §1º do art. 51 do CP, por colidir com o citado art. 170 da LEP, impondo-se,
destarte, a sua interpretação “ab rogante”.
Suspensão da execução
Conceito e Espécies
34
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
As penas privativas de liberdade são três: reclusão, detenção e prisão simples. As duas primeiras estão
previstas no CP (art. 33) e a terceira, na LCP (art. 5º).
Não é correto chamar as penas privativas de liberdade de penas corporais, porque esta denominação
amolda-se melhor às penas de açoite ou flagelo, proibidas pelo ordenamento jurídico pátrio.
O regime de cumprimento da pena deve ser fixado na sentença, de forma fundamentada, dispensando-
se a fundamentação apenas quando se tratar dos crimes da Lei n. 8.072/90, cujo regime, por força de lei, é o
fechado, mas o STF, mesmo nesses delitos, exige a fundamentação, por força do princípio da individualização
das penas. Acerca da necessidade de fundamentação, convém destacar o teor da Súmula 719 do STF: “A
imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea”.
Atualmente, a jurisprudência do STF exige fundamentação inclusive para imposição de regime fechado nos
crimes da lei 8.072/90 e equiparados.
Ainda que se tenha concedido sursis ou pena restritiva de direitos, é necessária a anterior fixação do
regime, antes da concessão daqueles benefícios, diante da possibilidade de serem revogados.
Ressalte-se ainda que a não fixação do regime viola o princípio da individualização da pena, reputando-
se nula a sentença passível de habeas corpus, não se podendo aferir que do silêncio se adote este ou aquele
regime. Não comungamos do posicionamento adotado no Superior Tribunal de Justiça, segundo o qual a falta
de fixação do regime é mera irregularidade, algo que pode ser corrigido, invocando-se, para tanto, o princípio
do aproveitamento dos atos jurídicos. Sobredito princípio, data venia, não pode sobrepor-se aos preceitos de
ordem pública.
De acordo com o CP, a qualidade da pena, a quantidade da pena e a reincidência são os três fatores
determinantes na fixação do regime inicial, mas devem também ser levadas em conta a reeducação do agente
e a segurança da sociedade.
Aliás, a fixação da pena no mínimo legal nem sempre justifica o regime mais brando. Com efeito, a
aplicação da pena é pautada pela dosagem das circunstâncias que a influenciam, sobretudo as do art. 59 do
CP. Conquanto estas circunstâncias também sejam consideradas na definição do regime, este também é fixado
visando à reeducação do agente e à segurança social.
Pena de reclusão
A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto (art. 33, caput, do CP).
Assim, nem sempre ela se inicia no regime fechado.
As regras são as seguintes:
a) o reincidente sempre iniciará o cumprimento no regime fechado, qualquer que seja a quantidade da
pena a que tenha sido condenado; todavia, a Súmula 269 do STJ admite que o reincidente condenado a pena
igual ou inferior a quatro anos inicie o cumprimento da pena no regime semiaberto, se favoráveis as
circunstâncias judiciais do art. 59 do CP;
b) o não reincidente condenado a pena superior a oito anos deverá começar a cumpri-la no regime
fechado;
c) o não reincidente, cuja condenação seja superior a quatro anos e não exceda a oito anos, poderá,
desde o princípio, cumpri-la em regime semiaberto;
34
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
d) o não reincidente condenado a pena igual ou inferior a quatro anos poderá, desde o início, cumpri-la
em regime aberto.
Nada impede, porém, que o réu não reincidente, condenado a pena de reclusão inferior a oito anos, inicie
o cumprimento da pena no regime fechado, pois, consoante dispõe o § 3º do art. 33 do CP, “a determinação do
regime inicial de cumprimento da pena far-se-á com observância dos critérios previstos no art. 59 deste Código”.
Todavia, conforme salienta a Súmula 719 do STF, a imposição do regime de cumprimento mais severo do que a
pena aplicada permitir exige motivação idônea. Finalmente, a Súmula 718 do STF preceitua que: “A opinião do
julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a imposição de regime
mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada”.
Pena de detenção
A pena de detenção deve ser cumprida em regime semiaberto ou aberto (CP, art. 33, caput, 2ª parte).
Nunca se inicia no regime fechado.
As regras são as seguintes:
a) o condenado reincidente deve iniciar o cumprimento no regime semiaberto, qualquer que seja a
quantidade da pena;
b) o não reincidente condenado a pena superior a quatro anos deve iniciar o cumprimento no regime
semiaberto;
c) o não reincidente condenado a pena igual ou inferior a quatro anos deve iniciar o cumprimento no
regime aberto.
Nada impede, porém, que o réu não reincidente, condenado a pena de detenção igual ou inferior a
quatro anos, inicie o cumprimento no regime semiaberto, desde que as circunstâncias do art. 59 do CP lhe
sejam desfavoráveis. Saliente-se, contudo, que a gravidade abstrata do crime, por si só, não pode justificar a
fixação de regime mais severo, quando a pena comporta regime menos rigoroso, sendo necessárias, para
tanto, a demonstração da periculosidade do agente e a necessidade da segurança social.
Como se vê, a pena de detenção, nunca se inicia no regime fechado. Admite-se, no entanto, durante a
execução, a regressão para esse regime.
O réu reincidente
Numa ligeira interpretação gramatical do §2º do art. 33 do CP, verifica-se que o reincidente, quando a
pena for de reclusão, deve começar a cumpri-la no regime fechado; se de detenção, no regime semiaberto.
Urge, porém, que se faça a interpretação restritiva, pois o texto escrito extrapolou a vontade da lei. Por
isso, aquelas regras acima devem prevalecer apenas ao reincidente em crime doloso.
A nosso ver, o reincidente em crime culposo ou, então, o reincidente que cometeu um crime doloso e
outro culposo, ou vice-versa, pode iniciar o cumprimento da pena de reclusão no regime semiaberto ou aberto.
É certo, pois, que o §2º do art. 33, b e c, não faz distinção entre os reincidentes. Porém, o reincidente em
crime culposo ou o reincidente em que o crime anterior é culposo e o posterior doloso, ou vice-versa, pode obter
o sursis (CP, art. 77, I). Seria ilógico negar-lhe o benefício menor, qual seja, o regime semiaberto ou aberto.
Desnecessário dizer o absurdo que seria o juiz fixar o regime fechado a condenado que obtém o sursis.
Aliás, até o reincidente em crime doloso, desde que a condenação anterior tenha sido de multa, pode
obter a concessão do sursis (§1º do art. 77 do CP). Portanto, nesse caso, malgrado a sua condição de
reincidente em crime doloso, reunindo condições para a concessão do sursis, o juiz deverá fixar-lhe o regime
aberto, pois é contrária à lógica a fixação de regime fechado. Sim, pois quem tem direito ao sursis, com maior
razão, faz jus ao regime aberto.
A propósito, o STJ, visando amenizar o rigor excessivo da lei, editou a Súmula 269: “É admissível a adoção
do regime prisional semiaberto aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se
favoráveis as circunstâncias judiciais”.
34
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A pena de prisão simples deve ser cumprida sem rigor penitenciário em estabelecimento especial ou
seção especial da prisão comum, em regime semiaberto ou aberto, separado dos presos de reclusão ou
detenção. Quanto ao trabalho é facultativo se a pena não exceder a quinze dias.
Pluralidade de crimes
Sobre a quantidade da pena, dispõe o art. 111 da Lei de Execução Penal: “Quando houver condenação
por mais de um crime, no mesmo processo ou em processos distintos, a determinação do regime de
cumprimento será feita pelo resultado da soma ou unificação das penas, observada, quando for o caso, a
detração ou remição. Parágrafo único. Sobrevindo condenação no curso da execução, somar-se-á a pena ao
restante da que está sendo cumprida, para determinação do regime”.
O regime inicial de cumprimento das penas privativas de liberdade é determinado pelo juiz da sentença
(CP, art. 59, III). E se no processo estiver sendo imputado mais de um crime ao acusado, o juiz, ao fixar o
regime, tomará por base a soma das penas concretas.
Sendo todas as penas de detenção, salienta Mirabete, o regime inicial será o semiaberto ou aberto, mas,
se houver uma de reclusão, poderá ser determinado o fechado. Além disso, se a soma ultrapassar quatro anos,
não poderá ser imposto o regime aberto, seja qual for a espécie da pena privativa de liberdade e, se superar
oito anos, sendo uma delas ao menos de reclusão, deve ser determinado o regime fechado.
Se no curso da execução surgirem outras condenações transitadas em julgado, caberá ao juiz da
execução efetuar a soma do restante da pena que estava sendo cumprida com a nova pena aplicada, fixando,
em seguida, o regime inicial de cumprimento das penas somadas.
Vê-se, portanto, que se houver mais de uma condenação, a determinação do regime inicial se dará pelo
resultado da soma ou unificação das penas. Todavia, como observa José Paulo Baltazar, em havendo uma pena
de reclusão e outra de detenção, não será imposto o regime mais gravoso se o quantitativo for alcançado com
a pena de detenção. Se, por exemplo, o réu é condenado a sete anos de reclusão pelo crime de roubo e a um
ano e dois meses de detenção pelo delito de lesão corporal leve, não se lhe impõe o regime fechado, mas o
semiaberto, porque o quantitativo superior a oito anos só foi atingido graças à pena de detenção, que, como
veremos adiante, não admite o regime fechado.
A pena de reclusão pode se iniciar no regime fechado, semiaberto ou aberto; a pena de detenção não
se inicia no regime fechado.
Na pena de reclusão, a medida de segurança é detentiva, consistente na internação em hospital
psiquiátrico ou outro estabelecimento adequado, ao passo que na pena de detenção é cabível a medida de
segurança detentiva ou a medida de segurança restritiva, esta última consistente em tratamento ambulatorial
(art. 97 do CP).
Nos crimes dolosos sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado, se prevê
como efeito da condenação a perda do poder familiar, tutela ou curatela (art. 92, II, do CP); na pena de
detenção, não há esse efeito da condenação.
Finalmente, o juiz só pode autorizar interceptação telefônica em crimes de reclusão (Lei 9296/96) e na
execução penal primeiro se cumpre a pena de reclusão e depois a de detenção (art. 76 do CP).
Os delitos em que o regime é obrigatoriamente fechado, quer o réu seja reincidente ou não, são os
seguintes:
a) crime de tortura, exceto quando praticado por omissão (Lei n. 9.455/97);
b) crimes hediondos, tráfico ilícito de entorpecentes e terrorismo (Lei n. 8.072/90).
Todavia, o STF, estabeleceu, por maioria de oito votos contra três, no HC 111840/ES (Rel. Min. DIAS
35
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A rigor, o regime fechado deve ser cumprido em penitenciária afastada do centro urbano, isto é, for a
da cidade, alojando-se o condenado em cela individual, com área mínima de seis metros quadrados, que
conterá dormitório, aparelho sanitário e lavatório (arts. 88 e 90 da LEP), pois a cadeia pública destina-se ao
recolhimento de presos provisórios (art. 102 da LEP). Aliás, a cadeia pública localiza-se em centro urbano e os
presos permanecem juntos em compartimento coletivo.
Vale a pena ainda destacar que, no regime fechado, o condenado será obrigatoriamente submetido, no
início do cumprimento da pena, a exame criminológico de classificação para individualização da execução (CP,
art. 34). Esse exame, que no regime semiaberto é facultativo (parágrafo único do art. 8º da LEP), é realizado
pela Comissão Técnica de Classificação de cada presídio e só pode ser feito após o trânsito em julgado da
sentença. Não se realiza esse exame quando a sentença impõe o regime aberto ou pena restritiva de direitos.
No regime fechado, o condenado fica sujeito a trabalho no período diurno e a isolamento durante o
repouso noturno (§ 1º do art. 34 do CP). O trabalho será em comum dentro do estabelecimento, na
conformidade das aptidões ou ocupações anteriores do condenado, desde que compatíveis com a execução
da pena (§ 2º do art. 34 do CP). O trabalho a que alude o texto legal é o interno, pois o trabalho externo, no
regime fechado, só é admissível em serviços ou obras públicas realizados por órgãos da administração direta
ou indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina (art.
36 da LEP). O limite máximo do número de presos será de 10% do total de empregados na obra. Caberá ao
órgão da administração, à entidade ou à empresa empreiteira a remuneração desse trabalho. A prestação de
trabalho a entidade privada depende do consentimento expresso do preso (§§ 1º, 2º e 3º do art. 36 da LEP).
Urge, ainda, para que se admita o trabalho externo, o cumprimento de no mínimo 1/6 da pena. A autorização
para este tipo de trabalho será dada pela direção do estabelecimento penitenciário (art. 37 da LEP).
Por outro lado, o regime semiaberto deve ser cumprido em colônia agrícola, industrial ou similar,
alojando-se o condenado em compartimento coletivo, atentando-se para o limite da capacidade máxima que
atenda aos objetivos de individualização da pena (arts. 91 e 92 da LEP). Nesse regime semiaberto, o condenado
fica sujeito a trabalho em comum durante o período diurno. O trabalho externo é admissível, bem como a
frequência a cursos supletivos profissionalizantes, de instrução de segundo grau ou superior (§ 2º do art. 35
do CP). O art. 92 da LEP, como vimos, prevê que as colônias contenham, facultativamente, compartimento
coletivo para o alojamento dos condenados.
O juiz também pode no regime semiaberto autorizar a saída temporária do estabelecimento, sem
vigilância direta, para que o condenado visite a sua família, frequente curso supletivo profissionalizante de
segundo grau ou superior na comarca do juízo da execução, bem como participe de atividades que concorram
para o retorno ao convívio social. Para obter este benefício é preciso cumprir 1/6 da pena se for primário e ¼
se reincidente (art. 122 da LEP), sendo certo que a súmula 40 do STJ dispõe que para obtenção dos benefícios
de saída temporária e trabalho externo, considera-se o tempo de cumprimento da pena no regime
fechado Todavia, de acordo com a Lei n. 12.258/2010, o juiz poderá definir a fiscalização por meio da
35
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
monitoração eletrônica, que é um equipamento de vigilância indireta que se agrega ao condenado, quando
autorizar a saída temporária do regime semiaberto. Vale lembrar que a ausência de vigilância direta não
impede a utilização de equipamento de monitoração eletrônica pelo condenado, quando assim determinar o
juiz da execução (parágrafo único do art. 122 e art. 146-B, II, da LEP). Ao conceder o benefício da saída
temporária o juiz imporá ao condenado, dentre outras condições pertinentes, as seguintes (art. 124, § 1º, da
LEP):
“I — fornecimento do endereço onde reside a família a ser visitada ou onde poderá ser encontrado
durante o gozo do benefício;
II — recolhimento à residência visitada no período noturno;
III — proibição de frequentar bares, casas noturnas e estabelecimentos congêneres”.
O condenado que se beneficiou de uma saída temporária somente poderá obter outra após 45
(quarenta e cinco) dias, conforme § 3º do art. 124 da LEP, salvo quando se tratar de frequência a curso
profissionalizante, de ensino médio ou superior, quando então o tempo de saída será o necessário para o
cumprimento das atividades discentes.
Não terá direito à saída temporária a que se refere o caput deste artigo o condenado que cumpre pena
por praticar crime hediondo com resultado morte (§2º do art. 122 da LEP).
O benefício da saída temporária, nos termos do art. 125 da LEP, será automaticamente revogado
quando o condenado:
a) praticar crime doloso;
b) for punido por falta grave;
c) violar as condições impostas na autorização;
d) revelar baixo grau de aproveitamento do curso.
A recuperação do direito à saída temporária dependerá da absolvição no processo penal, do
cancelamento da punição disciplinar ou da demonstração do merecimento do condenado.
Vale ressaltar que a revogação do benefício da saída temporária não implica necessariamente em
regressão do regime semiaberto para o fechado, pois as hipóteses de regressão somente são aquelas previstas
nos arts. 118 e 146-C, parágrafo único, ambos da LEP.
Já no regime aberto, cujo fundamento é a autodisciplina e senso de responsabilidade, o condenado deverá,
fora do estabelecimento e sem vigilância, trabalhar, frequentar curso ou exercer outra atividade autorizada,
permanecendo recolhido durante o período noturno e nos dias de folga.
O ingresso do condenado em regime aberto supõe a aceitação de seu programa e das condições
impostas pelo juiz (art. 113 da LEP). É inadmissível a fixação de pena substitutiva (art. 44 do CP) como condição
especial ao regime aberto (súmula 493 do STJ).
Somente poderá ingressar no regime aberto o condenado que estiver trabalhando ou comprovar a
possibilidade de fazê-lo imediatamente, sendo que as pessoas referidas no art. 117 da LEP poderão ser
dispensadas do trabalho. O condenado ainda deve apresentar, pelos seus antecedentes ou pelo resultado dos
exames a que foi submetido, fundados indícios de que irá ajustar-se, com autodisciplina e senso de
responsabilidade, ao novo regime (art. 114 da LEP).
Acrescente-se ainda que a Lei n. 9.613/98 prevê o regime aberto para quem colaborar
espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações
penais e da sua autoria ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime de lavagem de dinheiro.
O regime aberto é cumprido em casa de albergado ou estabelecimento adequado. Admite-se,
excepcionalmente, o recolhimento do beneficiário de regime aberto em residência particular quando se tratar
de (art. 117 da LEP):
“I — condenado maior de 70 (setenta) anos;
II — condenado acometido de doença grave;
III — condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental;
IV — condenada gestante”.
Fora dessas hipóteses torna-se inadmissível a prisão domiciliar, de modo que, nas comarcas onde ainda
não se encontram instaladas as casas de albergado, o magistrado poderá determinar o cumprimento do
regime aberto em cela especial do estabelecimento carcerário. Na prática, porém, diante da ausência de casa
35
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
de albergado, generalizou-se a concessão do albergue domiciliar a qualquer condenado. Todavia, o art. 146-B
da LEP, introduzido pela Lei n. 12.258/2010, estabelece que o juiz poderá definir a fiscalização por meio da
monitoração eletrônica quando determinar a prisão domiciliar.
A propósito, referida lei introduziu no ordenamento jurídico pátrio um moderno sistema de
monitoramento eletrônico, consistente na utilização de equipamento de vigilância indireta pelo condenado,
uma espécie de detector do âmbito territorial em que ele se encontra, que segue eletronicamente os seus
passos.
Só é possível a implantação desse monitoramento eletrônico por ordem do juiz das execuções penais e
apenas em duas hipóteses: autorização para saída temporária no regime semiaberto e determinação de prisão
domiciliar no regime aberto, conforme art. 146-B da LEP. Note-se que esse monitoramento eletrônico, por
falta de previsão legal, não pode ser implantado no regime aberto em que o condenado cumpre a pena em
casa de albergado ou estabelecimento similar.
O condenado será instruído acerca dos cuidados que deverá adotar com o equipamento eletrônico e
dos seguintes deveres:
“I - receber visitas do servidor responsável pela monitoração eletrônica, responder aos seus contatos e
cumprir suas orientações;
II - abster-se de remover, de violar, de modificar, de danificar de qualquer forma dispositivo de
monitoração eletrônica ou de permitir que outrem o faça”.
A violação desses deveres poderá acarretar uma das seguintes sanções:
a) regressão do regime;
b) revogação da autorização de saída temporária;
c) revogação da prisão domiciliar;
d) advertência por escrito.
REMIÇÃO
Remição é o benefício instituído ao preso, consistente no desconto de um dia de pena por três de
trabalho ou por doze horas de frequência escolar.
Todos os crimes, inclusive os hediondos, admitem a remição, pois nenhuma vedação se encontra na Lei
n. 8.072/90.
A remição só era possível por trabalho. Com o advento da Lei nº 12.433/2011, passou a ser admitida
também por frequência escolar. O objetivo da lei é a reinserção social do preso, mediante política criminal que
estimula o trabalho e o estudo, revelando-se como sendo um eficiente meio de combate à ociosidade.
A remição por trabalho só é aceita ao condenado que cumpre pena em regime fechado ou semiaberto,
outrossim, no caso de prisão cautelar, que é a decretada antes do trânsito em julgado da condenação. A cada
três dias de trabalho abate-se um dia de pena.
No regime fechado, o condenado só pode trabalhar internamente. O trabalho externo só é admissível
em serviços ou obras públicas ao preso que tenha cumprido no mínimo 1/6 da pena. No regime semiaberto,
o trabalho pode ser interno ou externo. É claro que o trabalho externo, conhecido como atividade laborativa
“extramuros”, também gera direito à remição, quer seja realizado no regime fechado ou semiaberto (súmula
562 do STJ).
Para o preso provisório, o trabalho não é obrigatório e só poderá ser executado no interior do
estabelecimento. A jornada normal de trabalho não poderá ser inferior a 6 (seis), nem superior a 8 (oito) horas,
com descanso nos domingos e feriados. Caso o preso extrapole o limite de 8 (oito) horas, as horas extras
deverão ser computadas para efeito de remição da pena (STJ, HC 426.424-SP). O artesanato é também uma
forma de trabalho (§1º do art. 32 da LEP).
Assim, além de uma remuneração mínima de três quartos do salário mínimo, o trabalho do preso ainda
dá ensejo à remição da pena.
Por outro lado, a remição por frequência escolar, no regime fechado, só abrange o ensino oficial, isto é,
o ensino fundamental, o ensino médio profissionalizante ou não, o ensino superior e o ensino de requalificação
profissional. Ensino oficial é o reconhecido pelo Governo, podendo ser ministrado por instituições públicas ou
35
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
particulares. A cada 12 (doze) horas de frequência escolar, divididas, no mínimo, em 3 (três) dias, abate-se um
dia de pena.
De acordo com o STJ, se o preso estudar além das 12 (doze) horas, as horas excedentes também devem
ser computadas para efeito de remição (Informativo 677 do STJ). De fato, não há qualquer vedação legal em
relação ao cômputo das horas excedentes, devendo ser prestigiada a exegese mais favorável ao estímulo do
estudo.
Referidas atividades de estudo poderão ser desenvolvidas de forma presencial ou por metodologia de
ensino a distância e deverão ser certificadas pelas autoridades educacionais competentes dos cursos
frequentados.
O tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de 1/3 (um terço) no caso de conclusão
do ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da pena, desde que certificada pelo órgão
competente do sistema de educação. O fato de o preso ser reprovado é irrelevante, porquanto a lei se
contenta com a frequência escolar.
O condenado que cumpre pena em regime aberto ou semiaberto e o que usufrui liberdade condicional
(sursis e livramento condicional) poderão remir, não só pelo ensino oficial como também pela frequência a
cursos de ensino regular ou de educação profissional, parte do tempo de execução da pena ou do período de
prova. Note-se que, nessas hipóteses, admite-se a remição pela frequência a cursos livres, isto é, não oficiais,
como por exemplo, curso de inglês, curso preparatório para concurso público etc. Exige-se apenas que se trate
de curso regular, que envolva uma sequência de aulas ou palestras, ou então de curso profissionalizante, como
é o caso dos cursos para cabeleireiros, operadores de telemarketing etc. Em relação à prisão cautelar, admite-
se também a remição pela frequência a curso de ensino regular ou de educação profissional, pois o §7º do
art.126 da LEP não impõe qualquer restrição.
O preso impossibilitado de prosseguir no trabalho ou nos estudos por acidente continuará a beneficiar-
se com a remição (§4º do art. 126 da LEP).
A remição será declarada pelo juiz da execução, ouvido o Ministério Público e a Defesa (§8º do art. 126
da LEP). O deferimento do pedido depende de comprovação da execução da jornada mínima de 6 (seis) horas,
sendo que a jornada diária não pode exceder 8 (oito) horas. Na remição por estudo, a cada 12 (doze) horas de
frequência escolar abate-se um dia de pena. Transitada em julgado a decisão que a reconheceu, a remição
não pode mais ser revista, sob pena de violação da coisa julgada.
O tempo remido será computado como pena cumprida para todos os efeitos, e não apenas para o fim
de concessão do livramento condicional e indulto (art. 128 da LEP).
O condenado que foi punido por falta grave poderá perder no máximo 1/3 do tempo remido,
começando o novo período a partir da data da infração disciplinar (art. 127 da LEP). Compete ao juiz da
execução a decisão sobre a perda do tempo remido. O magistrado não poderá analisar o mérito da punição
disciplinar, pois, como é sabido, o mérito administrativo escapa à apreciação jurisdicional. Poderá, porém,
anular a decisão administrativa, caso ela tenha inobservado os requisitos extrínsecos. Antes do advento da Lei
nº 12.433/2011, a falta grave ensejava a perda de todo o tempo remido.
A autoridade administrativa encaminhará mensalmente ao juízo da execução cópia do registro de todos
os condenados que estejam trabalhando ou estudando, com informação dos dias de trabalho ou das horas de
frequência escolar ou de atividades de ensino de cada um deles. O condenado autorizado a estudar fora do
estabelecimento penal deverá comprovar mensalmente, por meio de declaração da respectiva unidade de
ensino, a frequência e o aproveitamento escolar. Ao condenado dar-se-á a relação de seus dias remidos. O
art. 130 da LEP preceitua que “constitui o crime do art. 299 do Código Penal declarar ou atestar falsamente
prestação de serviço para fim de instruir pedido de remição”. Essa regra, tipificando o fato na falsidade
ideológica do art. 299 do CP, não é supérflua, pois exclui a norma do art. 301 do mesmo Código. Efetivamente,
a falsidade ideológica de certidão ou atestado constitui delito previsto no art. 301, mas se se destina a instruir
pedido de remição, o fato é enquadrado no art. 299, cuja pena é bem mais severa.
Nas cadeias ou penitenciárias em que o preso não trabalha nem estuda por falta de condições materiais,
a jurisprudência tem negado a remição, embora a situação se mostre injusta, uma vez que o direito do preso
é prejudicado pela inércia do Estado. Isso viola até mesmo o princípio da isonomia, uma vez que o benefício é
atribuído aos presos recolhidos em estabelecimento prisional aparelhado para o trabalho ou estudo e negado
35
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
a outros, que tiveram a infelicidade de ser recolhidos em estabelecimento onde não há oportunidade de
trabalho ou estudo.
Nesse caso, como ensina Sidnei Agostinho Beneti, “de rigor a concessão da remição, mesmo que o
trabalho não tenha sido prestado por culpa da administração carcerária, como no caso comum de omissão de
organização de serviços aptos à laborterapia, subordinando-se, contudo, o deferimento da remição à prova,
pelo sentenciado, de que requereu a colocação em condições de trabalho”.
É possível a cumulação de ambas as remições, desde que sejam compatíveis as horas de trabalho com
as horas de estudo.
Conforme salientado anteriormente, admite-se a remição nas hipóteses de prisão cautelar. Todavia, a
apreciação do pedido de remição só deve ser admitida após o trânsito em julgado da condenação. De fato,
antes disso, o que há é uma prisão sem pena, tornando-se ilógica a concessão da remição. Caso o réu seja
absolvido, o tempo de trabalho ou estudo só poderá ser levado em conta para remição de crimes cometidos
antes da prisão cautelar, mas não pode ser considerado para os crimes posteriores, pois isso estimularia a
prática de outros delitos, criando um crédito para o agente.
Finalmente, o instituto da remição pertence ao Direito Penitenciário, e não propriamente ao Direito
Penal, impondo-se a aplicação imediata da nova lei, aos casos pendentes de julgamento, mas não há falar-se
em retroatividade da lei benéfica aos casos já definitivamente julgados, à medida em que apenas a lei penal
benéfica tem o condão de rescindir a coisa julgada.
PROGRESSÃO DE REGIMES
Até o advento da lei 13.964/2019, bastava cumprir 1/6 (um sexto) da pena para pleitear a progressão
de regimes, mas com o advento desta lei instituiu-se inúmeros percentuais, cujos critérios são:
a) a reincidência e a primariedade;
b) o fato de o crime ser ou não cometido com violência ou grave ameaça à pessoa;
c) o fato de se tratar de crime hediondo ou equiparado, com ou sem resultado morte.
Assim, de acordo com o art. 112 da LEP,
com redação dada pela lei 13.964/2019, a pena privativa de liberdade será executada em forma
progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso
tiver cumprido ao menos:
I - 16% (dezesseis por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido sem
violência à pessoa ou grave ameaça. Neste aspecto, a nova lei pode ou não se revelar mais branda, pois 16%
(dezesseis por cento) é um pouco mais favorável que 1/6 (um sexto), impondo-se a retroatividade, nas
situações benéficas ao réu. A violência, a que se refere o texto legal, é a física, que abrange as vias de fato, a
35
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
lesão corporal e a morte. Não abarca a violência imprópria, que é o fato de o agente, sem aplicar violência ou
grave ameaça, reduzir a vítima à impossibilidade de resistência, por exemplo, hipnotizar ou drogar a vítima
antes de praticar o delito de constrangimento ilegal, previsto no art. 146 do CP. Assim, o delito de
constrangimento ilegal praticado por réu primário, mediante violência imprópria, admitirá a progressão com
percentual de 16% (dezesseis por cento). No tocante à violência culposa, por exemplo, homicídio ou lesão
culposos, também admitirá a progressão com base neste percentual.
II - 20% (vinte por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido sem violência à
pessoa ou grave ameaça. Este percentual, assim como os dos incisos posteriores, é mais rigoroso que o
anterior, que era de 1/6 (um sexto), e, por isso, não há falar-se em retroatividade. O texto legal não faz
distinção entre o reincidente em crime doloso e o reincidente em crime culposo. Quanto ao tecnicamente
primário, que é o réu que ostenta condenação definitiva sem ser reincidente, diante da omissão da lei, deve
se enquadrar no inciso anterior, que exige apenas o cumprimento de 16% (dezesseis por cento) da pena.
III - 25% (vinte e cinco por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido com
violência à pessoa ou grave ameaça. Esta hipótese revela-se injusta em relação às infrações penais de menor
potencial ofensivo cometidas com violência ou grave ameaça à pessoa, mas como a lei não faz qualquer
distinção, elas também terão que seguir o percentual 25% (vinte e cinco por cento). Tratando-se de violência
imprópria não se aplica este percentual, mas, sim, o previsto no inciso I, de 16% (dezesseis por cento).
IV - 30% (trinta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido com violência à
pessoa ou grave ameaça. Tratando-se de violência imprópria não se aplica este percentual, mas, sim, o
previsto no inciso II, de 20% (vinte por cento). O texto legal não se refere a qualquer reincidente, mas apenas
ao reincidente em crime cometido com violência à pessoa ou grave ameaça. Se um dos crimes, que gera a
reincidência, houver sido cometido sem e o outro com violência ou grave ameaça à pessoa, o percentual,
diante da lacuna da lei, será de 20% (vinte por cento).
V - 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime hediondo ou
equiparado, se for primário. Antes da lei 13.964/2019, o percentual de progressão de crime hediondo ou
equiparado era de 2/5 (dois quintos), quando o apenado era primário. Na verdade, 2/5 (dois quintos) é a
mesma coisa que 40% (quarenta por cento). Portanto, trata-se de uma alteração puramente semântica. Os
delitos hediondos são os catalogados na lei 8.072/90. Os equiparados são o tráfico de drogas, terrorismo e
tortura. Não há vedação do livramento condicional.
VI - 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for:
a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário,
vedado o livramento condicional. Este percentual só será aplicado ao não reincidente em crime hediondo e
equiparado, mas nada obsta que seja reincidente noutros delitos. De fato, o reincidente em crime hediondo
ou equiparado, com resultado morte, para obter a progressão, terá que cumprir 70% (setenta por cento) da
pena. Na hipótese de tentativa, onde não ocorre a morte por circunstâncias alheias à vontade do agente, não
se aplica este percentual, mas, sim, o de 40% (quarenta por cento), previsto no inciso V.
b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa estruturada para
a prática de crime hediondo ou equiparado. A hipótese não faz menção à associação criminosa, prevista no
art. 288 do CP, mas apenas à organização criminosa, sendo vedada a analogia “in malam partem”. Aqui, não
há a vedação do livramento condicional, pois a condenação é pelo crime de organização criminosa e não por
crime hediondo ou equiparado.
c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada. A hipótese não faz menção à
associação criminosa, prevista no art. 288 do CP, nem ao crime de organização criminosa, mas apenas à milícia
privada, tipificada no art. 288-A do CP, sendo vedada a analogia “in malam partem”. Aqui, não há a vedação
do livramento condicional, pois a condenação é pelo crime de milícia privada e não por crime hediondo ou
equiparado.
VII - 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo ou
equiparado. Aqui, também se exige a reincidência específica em crime hediondo ou equiparado. Este
percentual só é aplicável quando não houver o resultado morte. Não há a vedação do livramento condicional.
VIII - 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou equiparado
35
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
com resultado morte, vedado o livramento condicional. Exige-se uma reincidência específica em crime
hediondo ou equiparado com o resultado morte.
III- Crimes hediondos e equiparados, tanto ao primário quanto ao não reincidente específico nesses
crimes:
a) 40% (quarenta por cento);
b) 50% (cinquenta por cento), quando houver morte.
IV- Crimes hediondos e equiparados, ao reincidente específico nesses crimes:
a) 60% (sessenta por cento);
b) 70 % (setenta por cento), quando houver morte
V- Regras específicas:
a) 50% (cinquenta por cento), ao condenado por exercer o comando de organização criminosa
estruturada para a prática de crimes hediondos e equiparados.
b) 50% (cinquenta por cento), ao condenado por crime constituição de milícia privada.
Vê-se assim que o critério principal do percentual de progressão não é o tipo de crime cometido, mas,
sim, o fato de o agente ser primário ou reincidente em determinadas categorias de delitos. O agente que, por
exemplo, é reincidente em crime cometido com violência ou grave ameaça à pessoa para obter a progressão
de regimes terá que cumprir 30% (trinta por cento) da pena, mesmo em relação aos crimes cometidos sem
violência ou grave ameaça à pessoa.
Da mesma forma, por exemplo, o reincidente em crime hediondo com o resultado morte terá, para
obter a progressão, que cumprir 70% (setenta por cento) da pena, mesmo em relação aos crimes que não
sejam hediondos nem equiparados.
Quanto ao reincidente em contravenções penais, a lei é omissa e, por isso, para efeito de progressão, o
agente deverá ser tratado como primário.
Em todos os casos, o apenado só terá direito à progressão de regime se ostentar boa conduta carcerária,
comprovada pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão (§1º do art. 112
da LEP). Não basta, para se obter a progressão, cumprir um percentual da pena; é preciso ainda que o
condenado tenha méritos para obter a progressão, isto é, bom comportamento carcerário. A única forma de
comprovação da boa conduta carcerária é através do atestado do diretor do estabelecimento penal, mas se
houver má-fé do aludido diretos, o juiz da execução poderá anular o atestado e deferir a progressão.
No caso de a condenação ser superior a 40 (quarenta) anos, é preciso cumprir um percentual da pena
total, e não dos 40 (quarenta) anos (Súmula 715 do STF).
Observe-se ainda que o condenado por crime contra a administração pública terá progressão do regime
de cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito
praticado, com os acréscimos legais (§4º do art. 33 do CP).
A decisão do juiz que determinar a progressão de regime será sempre motivada e precedida de
manifestação do Ministério Público e do defensor, procedimento que também será adotado na concessão de
livramento condicional, indulto e comutação de penas, respeitados os prazos previstos nas normas vigentes
(§2º do art. 112 da LEP).
Não se considera hediondo ou equiparado, para os fins deste artigo, o crime de tráfico de drogas
previsto no §4º do art. 33 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006 (§5º do art. 112 da LEP). Trata-se do
35
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
tráfico de drogas privilegiado, que se verifica quando o agente é primário, de bons antecedentes, não se dedica
às atividades criminosas nem integra a organização criminosa. O aludido delito, para efeito de progressão,
deverá observar os percentuais previstos para os delitos não hediondos ou equiparados.
O cometimento de falta grave durante a execução da pena privativa de liberdade interrompe o prazo
para a obtenção da progressão no regime de cumprimento da pena, caso em que o reinício da contagem do
requisito objetivo terá como base a pena remanescente (§6º do art. 112 da LEP). É flagrante a violação do
princípio constitucional da presunção da inocência, pois a lei presume a culpabilidade pelo simples
cometimento de falta grave. Na verdade, a interrupção só poderá ocorrer após a condenação definitiva pela
falta grave, em processo administrativo disciplinar, observando-se o contraditório e a ampla defesa. A partir
da interrupção, inicia-se uma nova contagem do percentual de cumprimento de pena, tomando-se por base a
pena remanescente, e não o total da pena inicialmente imposta.
Por outro lado, o ideal seria que só após a concessão do regime aberto o condenado pudesse progredir
para o livramento condicional. Todavia, a lei não impõe esse requisito, de modo que o livramento condicional
pode ser deferido aos criminosos que estejam cumprindo pena em regime fechado.
Cabe também ressaltar que o caráter progressivo do sistema, consistente na transferência do regime
mais rigoroso para o imediatamente menos rigoroso, veda, por raciocínio lógico, a progressão “por saltos”,
isto é, a passagem direta do regime fechado para o aberto. Se, porém, não houver vaga no semiaberto, o
condenado deverá aguardar a vaga no regime aberto, conforme Súmula Vinculante 56.
Finalmente, dispõe a Súmula 192 do STJ que compete ao Juízo das Execuções Penais do Estado a
execução das penas impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando recolhidos a
estabelecimentos sujeitos à administração estadual.
PROGRESSÃO ESPECIAL
A progressão especial é a que exige o cumprimento de apenas 1/8 (um oitavo) da pena no regime
anterior.
Só é possível este benefício à mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas
com deficiência.
O benefício é vedado nos crimes com violência ou grave ameaça contra pessoa e também àquelas que
integram ou integraram organizações criminosas. Outrossim, nos crimes contra seu filho ou dependente.
Exige-se ainda a primariedade e o bom comportamento carcerário.
A propósito dispõe o §3º do art. 112 da LEP, introduzido pela lei 13.771/2018:
“No caso de mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência,
os requisitos para progressão de regime são, cumulativamente:
I - não ter cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;
II - não ter cometido o crime contra seu filho ou dependente;
III - ter cumprido ao menos 1/8 (um oitavo) da pena no regime anterior;
IV - ser primária e ter bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento;
V - não ter integrado organização criminosa”.
A propósito deste último requisito, o STJ firmou entendimento que se trata da organização criminosa
prevista na Lei 12.850/2013, sendo vedada a analogia “in malam partem” ou interpretação extensiva para se
abranger outras espécies de sociedades criminosas (Informativo 678 do STJ).
O cometimento de novo crime doloso ou falta grave implicará a revogação do benefício (§ 4º do art.
112 da LEP).
A aludida progressão especial, que exige o cumprimento de apenas 1/8 (um oitavo) da pena no regime
anterior, também se aplica aos crimes hediondos e equiparados, quando não houver violência nem grave
ameaça contra pessoa, desde que preenchidos os demais requisitos acima, pois a lei não faz qualquer ressalva
em relação a esses delitos.
35
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O condenado expressamente em sentença por integrar organização criminosa ou por crime praticado
por meio de organização criminosa não poderá progredir de regime de cumprimento de pena ou obter
livramento condicional ou outros benefícios prisionais se houver elementos probatórios que indiquem a
manutenção do vínculo associativo (§9º do art. 2º).
SÚMULA VINCULANTE 56
35
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Outro problema que a súmula não resolve é o fato de, após a saída antecipada do regime semiaberto
para o aberto, a fim de se abrir vagas, ressurgir outras vagas no regime semiaberto. Nesse caso, o preso que
havia saído antecipadamente deverá ou não voltar para o regime semiaberto? A meu ver, impõe-se o retorno,
pois o seu regime é o semiaberto, salvo se ao tempo do ressurgimento da vaga havia verdadeiramente
completado o tempo de progredir de um regime para o outro.
Por outro lado, o sentenciado que obtém a progressão para o regime aberto, em caso de falta de vagas
por ausência de casa de albergado ou estabelecimento similar, deverá, como primeira opção, ter a pena
privativa de liberdade convertida em pena restritiva de direitos. Numa segunda opção, até que sejam
estruturadas estas medidas alternativas consubstanciadas nas penas restritivas de direitos, o juiz deverá
conceder o albergue domiciliar (prisão domiciliar) com tornozeleira eletrônica. A primeira opção, de substituir,
na fase de execução, a pena privativa de liberdade por pena restritiva de direito, não tem previsão legal, a não
ser nas hipóteses do art. 180 da LEP, mas não se vislumbra qualquer prejuízo, posto que a pena restritiva de
direitos é mais branda que a pena de prisão no regime aberto.
EXECUÇÃO PROVISÓRIA
Antes mesmo de transitar em julgado a sentença penal condenatória, a progressão de regimes já pode
ser requerida ao juízo competente. Esse fenômeno dá-se o nome de execução provisória. Tal ocorre quando
o acusado, preso provisoriamente e já estando condenado por sentença, aguarda o julgamento de seu recurso
pelo tribunal. O pressuposto básico da execução provisória é o trânsito em julgado para a acusação, pois, se
também estiver pendente o apelo do Ministério Público, torna-se inadmissível que, antes do trânsito em
julgado, pleiteie-se a progressão de regimes. Há, todavia, uma corrente que aceita a execução provisória
mesmo na pendência do apelo do Ministério Público, argumentando que o art. 2º da Lei n. 7.210/84 não exige
o requisito do trânsito em julgado para a acusação.
A súmula 716 do STF preceitua que é possível a progressão de regime antes do trânsito em julgado da
sentença condenatória. A súmula 717 do STF esclarece que o fato de o réu se encontrar em prisão especial
não impede a progressão de regime antes do trânsito em julgado da sentença.
A expressão “execução provisória” tem sido objeto de debate. Os seus opositores salientam que no
processo penal não há execução provisória, devido ao princípio da presunção da inocência. Argumentam que
a progressão não passa de uma medida cautelar de antecipação dos efeitos da sentença definitiva. Sidnei
Agostinho Beneti destaca: “o que é provisória, esta sim, é a concessão da contracautela assecuratória do
direito à progressão de regime, e não a execução”.
Quando se fala, porém, em execução provisória, a nosso ver, não se deseja afrontar o princípio da
presunção de inocência, e, sim, beneficiar o acusado, razão pela qual não compreendemos a celeuma
instaurada sobre a aludida expressão.
Aliás, a Excelsa Corte já decidiu que “a execução provisória da sentença transitada em julgado para a
acusação e pendente recurso interposto pela defesa pressupõe estejam presentes no Juízo das Execuções
Penais as peças indispensáveis, incumbindo ao interessado providenciá-las junto ao Tribunal que exercerá o
crivo de revisão” (HC 69.152-8, Rel. Marco Aurélio, DJU, 2 dez. 1992). Utilizou-se, como se vê, a expressão
“execução provisória”.
O réu deve requerer, perante o tribunal pelo qual se processa o recurso, a expedição de carta de guia
provisória. Deferido o pedido, o juízo da execução realizará a autuação provisória e processará o pedido de
progressão de regimes. Ressalte-se, por fim, a existência de numerosas decisões atribuindo a competência ao
juízo da condenação (RT, 686:337, 688:307; RJDTACrimSP, 11:28). Essas decisões baseiam-se na inexistência de
execução provisória, encarando o problema como mera antecipação cautelar dos efeitos da sentença definitiva.
A nosso ver, existe, sim, execução provisória, de modo que o pedido deve ser apreciado pelo juízo da
execução, pois o juízo da condenação, com a sentença, esgota o seu poder jurisdicional. Sobremais, ele não
dispõe de poderes para decidir questões afetas ao juízo da execução.
A execução provisória, a propósito, é admitida expressamente pelo parágrafo único do art. 2º da Lei n.
7.210/84. Em São Paulo, o assunto encontra-se regulamentado no Provimento n. 653/99 do Conselho Superior
da Magistratura.
36
0
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Entretanto, não é possível a execução provisória das penas de multa e restritivas de direito, pois o art.
147 da LEP exige expressamente o trânsito em julgado da sentença.
Finalmente, quanto à possibilidade de execução provisória na pendência de recurso especial perante o
STJ e de recurso extraordinário perante o STF, uma corrente sustenta que esses dois recursos não inviabilizam
a expedição do mandado de prisão, ainda que se trate de réu primário e de bons antecedentes. Assim, na
pendência de um desses recursos, o condenado não teria o direito de aguardar em liberdade o julgamento,
porque despojados, ambos, de eficácia suspensiva. De acordo com esse entendimento, o direito de recorrer em
liberdade circunscreve-se aos recursos de apelação e embargos infringentes. Confirmada a condenação no
julgamento desses recursos, ocorre uma espécie de trânsito em julgado provisório, razão pela qual deve ser
expedido o mandado de prisão, iniciando-se, por consequência, a execução provisória, a despeito da pendência
dos recursos especial ou extraordinário. Ora, o art. 675, § 1º, do CPP exige expressamente o trânsito em julgado
para o fim de ser expedido o mandado de prisão, não abrindo exceção aos recursos especial e extraordinário.
Onde a lei não distingue, o intérprete não pode distinguir. Ademais, o entendimento acima viola o princípio da
presunção da inocência, previsto no item LVII do art. 5º da CF. Na verdade, reveste-se de flagrante
inconstitucionalidade os dispositivos que negam efeito suspensivo aos recursos especial e extraordinário. Na
esfera penal, os recursos devem ter efeito suspensivo, sob pena de violação do princípio da presunção da
inocência, segundo o qual ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença
condenatória penal. Não se pode antecipar a culpabilidade do condenado, apegando-se à velha distinção,
proposta por Espínola Filho, que diferencia o caso julgado da coisa julgada. De acordo com o ilustre
processualista, ocorre o caso julgado na hipótese de a sentença poder ser executada na pendência de recurso
extraordinário, sem efeito suspensivo, ao passo que a coisa julgada verifica-se quando da decisão não cabe mais
recurso de espécie alguma. Ora, se a lei pode excluir o efeito suspensivo dos recursos especial e extraordinário,
pode também exclui-lo no recurso de apelação e, dessa forma, fazer tábula rasa do princípio da presunção da
inocência.
REGRESSÃO
Admite-se a regressão para qualquer dos regimes mais rigorosos. É, portanto, admissível a regressão
direta do regime aberto para o fechado.
As hipóteses de regressão, previstas no citado art. 118 da LEP, são as seguintes:
a) Se o condenado praticar fato definido como crime doloso ou falta grave. Para o deferimento da
regressão, a lei exige a oitiva prévia do condenado (§2º do art. 118 da LEP). A prática de crime culposo ou
contravenção, por si só, não autoriza a regressão, salvo se revelar que o condenado está frustrando os fins da
execução. A regressão depende apenas da prática do crime doloso ou falta grave; a lei não exige condenação
ou trânsito em julgado da sentença ou decisão. A nosso ver, a hipótese é inconstitucional, porque viola o
princípio da presunção da inocência (CF, art. 5º, LVII).
b) Se o condenado sofrer condenação por crime anterior cuja pena, somada ao restante da pena em
execução, tornar incabível o regime. Nesse caso, a regressão pode ser apreciada sem a prévia inquirição do
condenado.
c) Violação dos deveres previstos no art. 146-C da LEP decorrentes da implantação da monitoração
eletrônica. O juiz, nesse caso, poderá, após ouvir o Ministério Público e a defesa, determinar uma das seguintes
medidas: regressão do regime aberto para o semiaberto ou deste para o fechado; revogação apenas da
autorização de saída temporária concedida no regime semiaberto; revogação da prisão domiciliar (volvendo
o condenado ao regime aberto normal); ou advertência por escrito. Note-se que são várias opções, sendo que
a regressão é apenas uma delas.
Aquele que cumpre pena no regime aberto, além das hipóteses anteriores, também será regredido,
mediante a sua prévia oitiva, quando:
— Frustrar os fins da execução. Exemplos: desobediência a ordens recebidas, provocação de rescisão
36
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
de contrato de trabalho ou seu abandono, prática de contravenção ou crime culposo, prática de falta leve ou
média etc. Nesses exemplos, hauridos do ensinamento de Júlio Fabbrini Mirabete, desde que revelem a falta
de autodisciplina e de senso de responsabilidade do condenado, será de rigor a regressão.
— Não pagar, podendo, a multa cumulativamente imposta. A nosso ver, com o advento da Lei n.
9.268/96, que proíbe a conversão da multa em pena privativa de liberdade, operou-se a revogação tácita dessa
causa de regressão. Seria ilógico que o não pagamento da multa continuasse a figurar como causa de regressão
se a própria lei veda a conversão da multa em pena privativa de liberdade.
DETRAÇÃO
36
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
crime perpetrado após ou durante a prisão, torna-se inadmissível a detração, sob pena de se instituir uma “conta
corrente” em favor do réu. Este, animado pelo crédito adquirido, certamente não hesitaria em delinquir
novamente. Cumpre mencionar a existência de superadas decisões que só admitiam a detração na hipótese de
conexão ou continência entre o crime de que o réu veio a ser absolvido e o crime pelo qual foi condenado.
Por outro lado, no tocante às penas restritivas de direitos, no caso de conversão em prisão, desconta-
se o tempo cumprido, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão, operando-se,
portanto, a detração penal (CP, art. 44, § 4º).
Quanto ao réu condenado à pena de multa, a lei silencia acerca da detração do tempo de prisão
provisória. Esse tempo de prisão, a nosso ver, deve ser computado como dia-multa, aplicando-se por
analogia in bonam partem a detração penal prevista no art. 42 do CP. Um critério razoável, à míngua de texto
legal, seria abater um dia-multa para cada dia de prisão.
Finalmente, a decisão sobre a detração é da competência do juízo da execução (art. 66, III, c, da LEP). A
formulação do pedido diretamente no tribunal suprime um grau de jurisdição.
O condenado a quem sobrevém doença mental deve ser recolhido a hospital de custódia e tratamento
psiquiátrico ou, à falta, a outro estabelecimento adequado (CP, art. 41). O tempo de internação é computado
na pena privativa de liberdade (CP, art. 42). Ressalte-se, porém, que essa internação não pode exceder ao
tempo da pena privativa de liberdade fixada na sentença.
LIVRAMENTO CONDICIONAL
Conceito
36
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
social.
O condenado que obtém o livramento condicional é denominado egresso.
Natureza jurídica
Enquanto no sursis o condenado não chega a iniciar o cumprimento da pena privativa de liberdade,
no livramento ele só conquista a liberdade no curso da execução, após cumprir uma parcela da pena que lhe
foi imposta. Sobremais, no sursis o período de prova é fixado entre dois e quatro anos, ao passo que, no
livramento, perdura pelo restante da pena.
O sursis, em regra, é concedido na sentença e o recurso cabível é a apelação; o livramento é concedido
pelo juízo da execução, cabendo de sua decisão o recurso de agravo de execução.
Sursis e livramento condicional, porém, apresentam diversos pontos comuns:
a) em ambos o condenado é submetido a um período de provas;
b) os dois benefícios são causas condicionadas de extinção da punibilidade;
c) ambos ingressam nos chamados direitos públicos subjetivos de liberdade do réu. Não se trata de mera
faculdade, e, sim, de dever do magistrado conceder esses benefícios aos acusados que preencham os
requisitos legais.
Requisitos
36
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
novo delito na qualidade de reincidente em crime doloso e é condenado a quatro anos, de modo que ambas
as penas somam sete anos, para o fim de cálculo do tempo do livramento condicional, tendo em vista a teoria
da atividade, que considera o tempo do crime como sendo o momento da conduta, terá que cumprir um terço
da primeira pena e metade da segunda, totalizando quatro anos. Portanto, as penas, conquanto somadas, são
analisadas separadamente, consoante a situação do condenado ao tempo do crime.
Exige-se o cumprimento de mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo,
prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, se o apenado
não for reincidente específico em crimes dessa natureza (livramento condicional qualificado), conforme art.
83, V, do CP, com nova redação dada pela lei 13.344/2016, que acrescentou a este rol o tráfico de pessoas. O
dispositivo em apreço trouxe à tona a antiga distinção entre reincidente genérico e específico. O reincidente
específico em crimes dessa natureza está proibido de obter o livramento condicional. Quem não é reincidente
específico, para obter o livramento condicional, precisa cumprir mais de dois terços da pena. Sobre o exato
significado da expressão “reincidente em crimes dessa natureza”, duas correntes se desenvolveram. Uma,
defendida por Scarance Fernandes, compreende nos aludidos termos todos os crimes mencionados na Lei n.
8.072/90, quais sejam, os crimes hediondos, a prática de tortura, o tráfico de entorpecentes, tráfico de pessoas
e o terrorismo. Outra, sustentada por Alberto Silva Franco, reduz o alcance da expressão, que deve abranger
apenas os crimes idênticos ou os que apresentam certas características comuns, como, por exemplo, o furto
fraudulento e o estelionato. Filiamo-nos a este segundo ponto de vista. Referentemente ao crime de tráfico de
entorpecentes, o livramento condicional só não é cabível se o agente for reincidente específico nesse crime (art.
44, parágrafo único, da lei 11.343/2.006). Os crimes hediondos e equiparados, com resultado morte, ainda que
o condenado seja primário, não admite livramento condicional (art. 112, VI, “a” e VIII, da LEP).
O último requisito objetivo é a reparação do dano causado pela infração, salvo efetiva impossibilidade
de fazê-lo. A falta de reparação do dano, a nosso ver, só é óbice para a concessão do livramento quando o réu
solvente tiver sido notificado judicialmente para o pagamento de um título líquido, certo e exigível. Antes disso,
não há mora. Se a própria vítima não o notifica, através da via judicial, para ressarcir-se do dano sofrido, não
é justo sonegar-lhe o benefício do livramento. Na prática, porém, a maioria dos condenados são insolventes e,
por isso, não reparam o dano. E a vítima, para evitar o constrangedor contato com o seu algoz, também não o
procura para fazer valer o seu direito à indenização. E assim o requisito da reparação do dano acaba sendo
“letra morta”.
Por outro lado, para obter o livramento condicional, urge ainda o preenchimento de mais cinco
requisitos subjetivos.
O primeiro é o bom comportamento durante a execução da pena. Antes da lei 13.964/2019, não se
exigia bom comportamento, mas, sim, o comportamento carcerário satisfatório. A ausência de falta disciplinar,
por si só, não preenche esse requisito. A boa conduta carcerária deve ser comprovada pelo diretor do
estabelecimento penal (§1º do art. 112 da LEP).
O segundo requisito, introduzido pela lei 13.964/2019, é o não cometimento de falta grave nos últimos
12 (doze) meses. O mero cometimento da falta grave, segundo o texto da lei, é fator inibitório do livramento
condicional, sendo flagrante a violação do princípio da presunção da inocência. Se, entretanto, sobrevier a
absolvição em processo administrativo o obstáculo desaparecerá. Convém esclarecer que a prática de falta
grave não interrompe o prazo para se obter o livramento condicional (súmula 441 do STJ). Mas, após a falta
grave, para se obter o livramento condicional, é preciso revelar bom comportamento carcerário.
O terceiro é o bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído. Se nenhum trabalho lhe foi
incumbido, devido à deficiência do presídio, fica prejudicado esse requisito.
O quarto é a aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto. A lei fala em aptidão,
isto é, capacidade para arrumar trabalho honesto. Não é exigida a proposta de emprego, mesmo porque isso
não depende apenas do condenado. Na prática, porém, costuma-se fazer tal exigência, embora descabida.
O quinto é a constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a delinquir.
Esse requisito só é exigido para os crimes dolosos, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa (p. ex.:
roubo, homicídio, estupro com violência real etc.), dispensando-o em relação aos demais crimes. O objetivo da
lei é denegar o benefício aos condenados que apresentam periculosidade, isto é, personalidade voltada para o
crime. Havendo um prognóstico de que o réu voltará a delinquir, o livramento deve ser negado. Na análise desse
36
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
requisito costuma-se determinar, acertadamente, a realização de perícia psiquiátrica. Embora a lei não exija
exame criminológico, é de bom alvitre a sua realização, pois assim o juiz encontrará melhores subsídios para a
apreciação do fato. A propósito, dispõe a súmula 439 do STJ: “Admite-se o exame criminológico pelas
peculiaridades do caso, desde que em decisão motivada”.
O pedido de livramento é dirigido ao juízo da execução. Pode ser formulado pelo sentenciado, cônjuge,
parente em linha reta, diretor do estabelecimento penal e pelo Conselho Penitenciário (art. 712 do CPP). Não
há necessidade de advogado. O juiz pode também conceder o benefício de ofício.
Antes de decidir, o juiz deve colher a manifestação do promotor de justice e do defensor, sob pena de
nulidade. Conforme se depreende do art. 131 da LEP, não há mais necessidade de se ouvir o diretor do
estabelecimento carcerário, estando, pois, revogado o art. 714 do CPP, mas um dos requisitos do livramento
condicional é o atestado de bom comportamento carcerário que é expedido pelo diretor do presídio (art. 112
da LEP).
Quanto à necessidade do parecer do Conselho Penitenciário, não é mais exigida, pois a lei 10.792/2003
revogou expressamente o art. 70, I, da LEP, para excluir, no livramento condicional, a manifestação do Conselho
Penitenciário. Mas o tema é polêmico, pois o art. 131 da LEP exige expressamente a manifestação do Conselho
Penitenciário. A meu ver, desde o advento da lei 10.792/2003, operou-se a revogação tácita, neste aspecto, do
citado art. 131.
É também possível o livramento condicional antes do trânsito em julgado da condenação, desde que
não caiba mais recurso para a acusação. Pendente recurso da acusação visando aumento da pena, não será
possível a concessão do livramento condicional, salvo se o condenado já cumpriu o tempo necessário
tomando-se por parâmetro a pena máxima.
É o concedido ao condenado que é portador de alguma doença grave, ainda que ele não tenha cumprido
o tempo necessário para obtenção do benefício.
Não é previsto pelo Direito Brasileiro.
No livramento condicional, o período de prova é integrado pelo restante da pena. É nesse lapso de
tempo que o liberado se submete às condições legais e judiciais.
O período de prova tem início com a audiência admonitória, também chamada de cerimônia de
concessão, realizada no estabelecimento onde está sendo cumprida a pena (art. 137 da LEP). A audiência é
presidida e marcada pelo presidente do Conselho Penitenciário ou membro por ele designado, ou, na falta,
pelo juiz (inciso I do art. 137 da LEP). Nessa audiência, a sentença será lida ao liberando, na presença dos
demais condenados. Ao término da leitura, o liberando declarará se aceita as condições. Se não as aceita, o
livramento fica sem efeito, a menos que o juiz resolva alterá-las. Ao aceitar o livramento, o liberado recebe
uma caderneta contendo a sua identificação e as condições impostas (art. 138 da LEP), e na falta dessa
caderneta lhe é entregue um salvo conduto.
O período de prova pode ser reduzido em caso de remição pelo estudo, que é também cabível no
livramento condicional. A cada 12 horas de estudo, distribuídas em pelo menos 3 (três) dias abate-se um dia
de pena. O estudo deve ser em curso regular ou profissionalizante (art. 26, §6º da LEP).
São condições legais, isto é, obrigatórias:
a) Obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável, se for apto para o trabalho. O prazo para a comprovação
36
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
da ocupação lícita deve ser fixado pelo juiz. A expressão “ocupação lícita” compreende também cursos técnicos,
e não apenas o trabalho. Se o liberado for deficiente físico, isto é, inapto para o trabalho, não se lhe impõe essa
condição.
b) Comunicar periodicamente ao juiz sua ocupação. É o juiz quem fixa o intervalo dessa comunicação,
que, na prática, costuma ser mensal.
c) Não mudar do território da comarca do juízo da execução sem prévia autorização deste. Note-se que
a lei não fala em mudança da residência, e, sim, da comarca.
Além dessas condições obrigatórias, previstas no §1º do art. 132 da LEP, o juiz pode fixar as seguintes
condições judiciais (§2º do art. 132 da LEP):
a) não mudar de residência sem comunicação ao juiz e à autoridade incumbida da observação cautelar
e de proteção;
b) recolher-se à habitação em hora fixada;
c) não frequentar determinados lugares.
Ainda é possível outras condições judiciais adequadas ao fato e à situação pessoal do liberado. Se o
livramento é concedido pelo tribunal, em grau de recurso, as condições, a critério do tribunal, podem ser
fixadas pelo juízo da execução, aplicando-se, por analogia, o disposto no §2º do art. 159 da Lei de Execução
Penal. Nada obsta que o juiz da execução altere de ofício as condições, ouvindo o condenado (art. 144 da LEP).
O juiz pode revogar de ofício o livramento condicional, mas o condenado sempre deve ser ouvido. A
revogação, seja ela obrigatória ou facultativa, ensejará a expedição do mandado de prisão, o período de prova
não será computado para efeito de prescrição quinquenal da reincidência e também será desconsiderado para
o fim do cômputo do prazo bienal da reabilitação penal.
São duas as causas de revogação obrigatória do livramento condicional.
A primeira ocorre quando o liberado vem a ser condenado a pena privativa de liberdade, em sentença
irrecorrível, por crime cometido durante a vigência do benefício. Nesse caso, a revogação produz três efeitos:
a) Não se computa na pena o tempo em que esteve solto.
b) Não se concederá, em relação à mesma pena, novo livramento (arts. 88 do CP e 142 da LEP). Nada
obsta que ele obtenha o livramento condicional em relação a segunda pena, desde que cumpra integralmente
o restante da primeira, pois no que respeita a esta lhe é vedado novo livramento.
c) O restante da pena cominada ao crime, em sendo o livramento revogado, não pode somar-se à nova
pena para efeito da concessão de novo livramento. Suponha-se que, na primeira condenação, a pena tenha
sido fixada em seis anos. Após cumprir um terço, isto é, dois anos, ele vem a obter o livramento com um
período de prova de quatro anos. Durante esse período ele comete novo delito, pelo qual acaba
definitivamente condenado a seis meses de reclusão. O livramento condicional é então revogado. Ele terá de
cumprir quatro anos de reclusão (restante da pena anterior) e mais seis meses da nova condenação. No tocante
à primeira condenação, não poderá obter novo livramento. E, no exemplo ministrado, o benefício não poderá
ser concedido nem em relação ao delito subsequente, pois a condenação inferior a dois anos não admite o
livramento condicional, sendo ainda vedada a soma do tempo das duas penas para a concessão de novo
livramento.
A segunda causa de revogação obrigatória ocorre se o liberado vem a ser condenado a pena privativa
de liberdade, em sentença irrecorrível, por crime anterior. Vê-se assim que a condenação irrecorrível pela
prática de crime anterior ao início do período de prova também é causa de revogação obrigatória do
livramento. Mas, nesse caso, os efeitos não são tão drásticos. Senão, vejamos: a) o período de prova é
computado como tempo de cumprimento da pena (art. 141 da LEP); b) é possível a concessão de novo
livramento, desde que o condenado tenha cumprido a metade ou um terço, conforme seja ou não reincidente
em crime doloso, da soma do tempo das duas penas (art. 141 da LEP). Suponha-se, no entanto, que ao obter
o livramento ainda lhe restassem quatro anos de reclusão. Depois de dois anos e dez meses, transita em
julgado nova condenação de um ano de prisão. O livramento é então revogado. Porém, o tempo do período
de prova transcorrido, isto é, dois anos e dez meses, é computado como pena cumprida, restando-lhe,
36
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
portanto, apenas dois anos e dois meses — um ano e dois meses da pena anterior e um ano da nova
condenação. As duas penas podem ser somadas, possibilitando novo livramento, após o cumprimento de mais
um terço ou metade, conforme seja ou não reincidente em crime doloso. Se a lei proibisse a soma das penas,
tornar-se-ia inadmissível novo livramento, porque, isoladamente, as penas são inferiores a dois anos.
A nosso ver, há um caso em que a condenação definitiva, por crime cometido antes da vigência do
benefício, não é causa de sua revogação. Tal ocorre se, ao tempo da concessão do livramento, caso o
condenado já ostentasse essa nova condenação, ainda assim fazia “jus” ao benefício. Suponha-se, por
exemplo, que um réu primário, condenado a três anos de prisão, só venha a obter o livramento condicional,
devido à demora da justiça, após ter cumprido dois terços da pena, isto é, dois anos de prisão. Um mês após
o início do período de prova, transita em julgado nova condenação, impondo-lhe pena de seis meses de
reclusão. Note-se que a soma do total das duas penas é de três anos e seis meses. Portanto, se as duas
condenações existissem desde o início da primeira prisão, para obter o livramento, ele teria de cumprir um
terço, ou seja, um ano e dois meses. Porém, como na ocasião do livramento ele já havia cumprido tempo
superior (2 anos de reclusão), não é justo revogar o benefício.
Nos casos de revogação facultativa, se o juiz optar pela manutenção do livramento condicional, deverá
advertir o liberado ou agravar as condições (parágrafo único do art. 140 da LEP).
São duas as hipóteses de revogação facultativa.
A primeira ocorre quando o liberado deixa de cumprir qualquer das condições constantes da sentença.
Se o juiz optar pela revogação, os efeitos serão os seguintes: a) não se computa na pena o tempo em que o
condenado esteve solto; b) não se concederá, em relação à mesma pena, novo livramento.
A segunda ocorre se o liberado for irrecorrivelmente condenado, por crime ou contravenção, a pena que
não seja privativa da liberdade. Denota-se que, enquanto a condenação, por crime, a pena privativa de
liberdade, é causa de revogação obrigatória, a condenação, por crime ou contravenção, a pena de multa ou
restritiva de direitos, dá ensejo à revogação facultativa.
Em caso de revogação facultativa, os efeitos, na hipótese de crime, ou contravenção, cometido durante
o período de prova, são os seguintes: a) não se computa na pena o tempo em que o condenado esteve solto;
b) não se concederá, em relação à mesma pena, novo livramento.
Tratando-se, porém, de revogação facultativa por crime ou contravenção cometido antes do período de
prova, computa-se na pena o tempo em que o réu esteve solto, sendo ainda permitido novo livramento
condicional em relação ao restante da pena.
Finalmente, a condenação a pena privativa de liberdade (prisão simples), em razão da prática de
contravenção, não é causa de revogação obrigatória nem facultativa. O cochilo do legislador não pode ser
suprido pela analogia in malam partem. Há quem sustente que o benefício deve ser revogado pois o
condenado será recolhido à prisão, inviabilizando o cumprimento do livramento condicional.
Referentemente à suspensão do livramento condicional, pode ser decretada pelo juiz da execução penal,
mediante inquirição do conselho penitenciário, que expedirá então mandado de prisão, na hipótese de o agente
praticar infração penal durante o benefício (art. 145 da LEP).
Trata-se de uma medida cautelar.
Dá-se a prorrogação quando o liberado estiver sendo processado por crime cometido durante a vigência
do livramento. Nesse caso, enquanto não passar em julgado a sentença, o juiz não poderá declarar extinta a
pena, prorrogando-se o período de prova até o trânsito em julgado da sentença.
Trata-se de prorrogação automática, prescindindo-se de despacho judicial, conforme se depreende da
36
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
análise do art. 89 do CP. Entretanto, o STF já decidiu que a prorrogação não é automática, exigindo decisão
judicial expressa. O argumento é que, na suspensão do livramento condicional, é preciso que haja uma decisão
judicial, conforme art. 145 da LEP, aplicando-se este dispositivo legal à prorrogação. Este último ponto de vista,
segundo a doutrina dominante, encontra-se consagrado na Súmula 617 do STJ.
Convém observar que não se opera a prorrogação na hipótese de o réu estar sendo processado por
contravenção penal, pois não se pode fazer analogia in malam partem.
Uma vez transitada em julgado a sentença, podem ocorrer as seguintes hipóteses:
a) O réu é absolvido. Nesse caso, o livramento condicional é extinto.
b) O réu é condenado, por contravenção, a pena de prisão simples. Nesse caso, o livramento condicional
também é extinto.
c) O réu é condenado a pena privativa de liberdade por crime cometido antes ou durante a vigência do
livramento. Nesse caso o livramento é obrigatoriamente revogado.
d) O réu é condenado, por crime ou contravenção, a pena que não seja privativa de liberdade. Nesse
caso, o juiz pode revogar o livramento ou então extinguir a pena.
Durante o período da prorrogação, desde é claro que já se tenha exaurido o período de prova normal, não
subsistem as condições do livramento condicional. Por último, não se opera a prorrogação se o réu estiver sendo
processado por crime cometido antes da vigência do livramento.
36
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
EXTINÇÃO DA PENA
Expirado o prazo do livramento sem revogação, suspensão ou prorrogação, considera-se extinta a pena
privativa de liberdade.
É meramente declaratória a decisão que decreta a extinção da pena; logo, sua eficácia é ex tunc,
retroagindo ao término do período de prova. Antes de decretar a extinção, o juiz deve ouvir o Ministério
Público. Não haverá prorrogação se, após o término do período de prova, o réu vier a ser processado por outro
crime.
Ao estrangeiro residente no Brasil aplica-se o princípio da isonomia (CF, art. 5º, caput). Pode, assim,
obter o livramento condi-cional, a menos que por decreto do Presidente da República tenha sido determinada
a sua expulsão, após regular processo administrativo.
Já o estrangeiro que está apenas de passagem pelo Brasil, isto é, em caráter temporário, não pode obter
sursis nem livramento condicional, porque está proibido de exercer atividade honesta e remunerada, condição
obrigatória do livramento.
37
0