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DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROVAS EM ESPÉCIE
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SUMÁRIO

1. PROVA PERICIAL----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 4
1.1. Classificação----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 4
1.2. Responsabilidade Criminal---------------------------------------------------------------------------------------------------------- 5
1.3. Laudo Pericial--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 6
1.4. Momento para apresentação dos quesitos:------------------------------------------------------------------------------------ 6
1.5. Divergência entre os peritos-------------------------------------------------------------------------------------------------------- 7
1.6. Defeitos do laudo---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 7
1.7. Sistemas de valoração da prova---------------------------------------------------------------------------------------------------- 7
1.8. Assistente técnico---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 8
1.9. Admissibilidade------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 8
1.10. Quantidade----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 8
1.11. Casos concretos----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 8
1.12. Autópsia e Exumação---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 9
1.13. Lesões corporais e exame complementar------------------------------------------------------------------------------------ 10
1.14. Exames laboratoriais e contraprova------------------------------------------------------------------------------------------- 11
1.15. Avaliação do prejuízo causado pelo delito-----------------------------------------------------------------------------------11
1.16. Exame grafotécnico---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 11
2. EXAME DE CORPO DE DELITO----------------------------------------------------------------------------------------------------- 12
2.1. Necessidade – quando possível--------------------------------------------------------------------------------------------------- 12
2.2. Horário---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 12
2.3. Procedimento------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 12
3. INTERROGATÓRIO DO RÉU-------------------------------------------------------------------------------------------------------- 13
3.1. Natureza jurídica--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 13
3.2. Necessidade---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 13
3.3. Procedimento------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 14
3.4. Direito de entrevista preliminar reservada------------------------------------------------------------------------------------14
3.5. Presença do advogado-------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 14
3.6. Interrogatório do réu preso-------------------------------------------------------------------------------------------------------- 15
3.7. Interrogatório por videoconferência/online/tele interrogatório.-------------------------------------------------------15
3.8. Regras interpretativas do interrogatório---------------------------------------------------------------------------------------16
3.9. Estrutura do interrogatório – ato bifásico.-------------------------------------------------------------------------------------17
4. CONFISSÃO---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 22
5. DECLARAÇÃO DO OFENDIDO----------------------------------------------------------------------------------------------------- 26
6. RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS------------------------------------------------------------------------------------ 28
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7. ACAREAÇÃO--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 30
8. PROVA DOCUMENTAL-------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 31
9. BUSCA E APREENSÃO--------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 33
10. BUSCA E APREENSÃO--------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 36
11. BUSCA PESSOAL---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 41
12. PROVA TESTEMUNHAL------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 43
13. DA COLABORAÇÃO PREMIADA---------------------------------------------------------------------------------------------------- 59
14. QUESTÕES REFERENTES À PROVA – GERAL E ESPECIAL---------------------------------------------------------------------65
15. INFORMATIVOS SOBRE PROVAS DIVERSAS------------------------------------------------------------------------------------ 68
16. DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO---------------------------------------------------------------------------------- 72
17. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA----------------------------------------------------------------------------------------------------------- 72

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ATUALIZADO EM 05/12/2019

PROVAS EM ESPÉCIEi

1. PROVA PERICIAL

 Segundo Tourinho Filho, a prova pericial é a modalidade probatória em que a autoridade, para produzi-la,
utilizará dos serviços de um perito, isto é, um especialista em determinada seara do conhecimento humano e que
funcione como auxiliar da administração da justiça. Como o perito é auxiliar da administração da justiça, ele deve
ser imparcial e as hipóteses de suspeição e impedimento, aplicáveis aos juízes, lhe são extensíveis no que for
compatível (art. 252 e 254, CPP). Nada impede que apresentemos uma exceção de suspeição ou de impedimento
que será julgada pelo juiz em decisão irrecorrível (art. 95, I, CPP).

STJ – é dispensável no crime de falsificação de documento, mormente quando há confissão.

 É gênero. Espécies: exame de corpo de delito; exame de sanidade mental (autorização do juiz – de ofício ou a
requerimento. Pode ser no inquérito, mediante requerimento da autoridade policial); constatação da idade do
acusado.

*#OUSESABER: Qual a única perícia prevista no CPP que o Delegado não pode determinar? Trata-se do exame
de insanidade mental, que só pode ser realizado mediante ordem judicial (art. 149, "caput", do CPP), de ofício, a
requerimento do MP, do defensor, do curador, do ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do acusado ou,
ainda, mediante pedido da autoridade policial, se na fase de inquérito.
Obs.: se, em prova objetiva, a questão apenas transcrever o art. 6º, VII, recomenda-se que assinale como
correta. Se, porém, afirmar expressamente também que o Delegado pode determinar o exame de insanidade
mental, aí estará incorreta.

1.1. Classificação

a) Perito oficial: é aquele que integra os quadros do funcionalismo público como perito. Deve atuar com
autonomia para que não ocorra ingerência interna da autoridade.

b) Perito não oficial: é a pessoa comum do povo convocada a atuar como perito. O perito não oficial é
também conhecido como juramentado (ausência de compromisso = mera irregularidade –
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As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura
identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o
número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca
do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos
anteriormente citados.
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jurisprudência), afinal, assumirá compromisso na nomeação. Já o oficial assume o compromisso no
momento em que é empossado.

 Para ser perito, é necessário nível superior completo. Regra de transição: os peritos que ingressaram por
concurso, antes da exigência, tem direito adquirido. Todavia, estão proibidos de promover perícia médica.

 É necessário um perito oficial ou dois não oficiais (Caso seja realizado por apenas um não oficial – nulidade
relativa). A Súmula 361 do STF (No processo penal, é nulo o exame realizado por um só perito, considerando-se
impedido o que tiver funcionando anteriormente na diligência de apreensão.) tem parcial aplicação, pois só
haverá nulidade do laudo quando o perito não oficial o subscreve monocraticamente. Na Lei de Tóxicos, o laudo
de constatação será subscrito por um só perito, pouco importa se oficial ou não. STF já firmou o entendimento
que é válido o laudo de arma de fogo realizado por dois policiais.

Art. 177.  No exame por precatória, a nomeação dos peritos far-se-á no juízo deprecado. Havendo, porém, no
caso de ação privada, acordo das partes, essa nomeação poderá ser feita pelo juiz deprecante.

Obs.: casos especiais


 Lei de drogas – um perito oficial ou um perito não oficial. Não fica impedido de elaborar o laudo
definitivo.
 Processo Penal Militar – sempre que possível, dois peritos.
 Crimes contra a propriedade imaterial – um oficial ou um não oficial
 Juizado – boletim médico ou prova equivalente substitui
 Crime falimentar- laudo do contador

1.2. Responsabilidade Criminal

 Se o perito falta com o seu dever na produção da perícia ou na confecção do laudo, será responsabilizado pelo
crime de falsa perícia (art. 342, CP).

Falso testemunho ou falsa perícia


Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou
intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: (Redação dada pela Lei
nº 10.268, de 28.8.2001)
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. (Vide Lei nº 12.850, de 2.013) (Vigência)
§ 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido
com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte
entidade da administração pública direta ou indireta.(Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)
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§ 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou
declara a verdade.

1.3. Laudo Pericial

 É a formalização do trabalho intelectual do perito e que vai externalizar as suas conclusões (art. 160, CPP). O
prazo é de 10 dias, prorrogáveis a requerimento do perito, admitindo-se a essencialidade no caso e a deliberação
da autoridade. Além disso, o laudo pericial deve ser levado aos autos com pelo menos 10 dias de antecedência da
realização da audiência de instrução e julgamento, para que as partes tenham acesso e possam se manifestar
quanto à impugnação ou não do laudo. Se oferecido extemporaneamente, a nulidade é relativa, devendo o réu
demonstrar prejuízo – STF.

 Não é condição de procedibilidade, de forma que a denúncia pode ser recebida, sendo ele realizado depois.
Exceções: I. Lei de drogas - laudo preliminar para prisão em flagrante e, consequentemente, para o oferecimento
da denúncia (condição específica de procedibilidade – pode ser dispensada no caso de impossibilidade. Ex. droga
sumiu. A obrigatoriedade é para quando é possível realizar o exame). II. Crime contra a propriedade imaterial art.
525 – exame pericial dos objetos que constituem o corpo de delito (condição específica de procedibilidade).

Art. 525.  No caso de haver o crime deixado vestígio, a queixa ou a denúncia não será recebida se não for instruída
com o exame pericial dos objetos que constituam o corpo de delito.

*#DEOLHONAJURIS#DIZERODIREITO#STF A perícia realizada por perito papiloscopista não pode ser considerada
prova ilícita nem deve ser excluída do processo. O exame de corpo de delito deve ser realizado por perito oficial
(art. 159 do CPP). Do ponto de vista estritamente formal, o perito papiloscopista não se encontra previsto no art.
5º da Lei nº 12.030/2009, que lista os peritos oficiais de natureza criminal. Apesar disso, a perícia realizada por
perito papiloscopista não pode ser considerada prova ilícita nem deve ser excluída do processo. Os peritos
papiloscopistas são integrantes de órgão público oficial do Estado com diversas atribuições legais, sendo
considerados órgão auxiliar da Justiça. Não deve ser mantida decisão que determinava que, quando o réu fosse
levado ao Plenário do Júri, o juiz-presidente deveria esclarecer aos jurados que os papiloscopistas – que
realizaram o laudo pericial – não são peritos oficiais. Esse esclarecimento retiraria a neutralidade do conselho de
sentença. Isso porque, para o jurado leigo, a afirmação, pelo juiz, no sentido de que o laudo não é oficial equivale
a tachar de ilícita a prova nele contida. Assim, cabe às partes, respeitado o contraditório e a ampla defesa,
durante o julgamento pelo tribunal do júri, defender a validade do documento ou impugná-lo. STF. 1ª Turma. HC
174400 AgR/DF, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 24/9/2019
(Info 953).

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Estrutura:

i. Preâmbulo: qualificação do perito e indicação do objeto da perícia;


ii. Esboço fático: os peritos vão descrever as suas impressões sensoriais quanto ao objeto da perícia
(art. 6º, I, do CPP); narrativa contextual.
iii. Esboço técnico: cabe ao perito aplicar as suas regras de conhecimento ao que foi analisado.
iv. Resposta aos quesitos;
v. Parte autenticativa: local, data, assinatura.

1.4. Momento para apresentação dos quesitos:

 Podem ser apresentados até antes do início da perícia. O legislador não promoveu uma dosagem temporal de
prazo. O entendimento prevalente é de que, durante o inquérito, o Defensor Público e o advogado do indiciado
não serão admitidos a apresentar quesitos, em razão da inquisitoriedade da investigação.

1.5. Divergência entre os peritos

a) Aspecto formal: Nesse caso, eles podem optar por elaborar laudos separados. Todavia, se elaborarem
laudo único, devem especificar os motivos da divergência;

b) Postura da autoridade: Cabe ao juiz nomear um terceiro perito para solucionar a divergência. Se o
terceiro perito não solucionar a divergência, o juiz poderá determinar uma nova perícia com a
intervenção de outros peritos.

Observação: subsistem duas posições quanto à necessidade de nomeação do terceiro perito. Para
Mirabete, a nomeação do terceiro perito é impositiva pela leitura fria do CPP. Para Guilherme Nucci, a
nomeação do terceiro perito é facultativa, afinal, pelo livre convencimento motivado, o magistrado já
poderá decidir conforme o seu entendimento.

1.6. Defeitos do laudo

 Os defeitos do laudo podem ser supridos a qualquer tempo. Todavia, se o defeito é estrutural, o laudo passa a
ser imprestável, devendo-se determinar outra perícia com a intervenção de outros peritos.

1.7. Sistemas de valoração da prova

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a) sistema vinculatório: por ele, a autoridade está vinculada à conclusão do perito, não podendo se
distanciar do laudo pericial. Esse sistema, por seu rigorismo, está afastado do nosso sistema.

b) sistema liberatório: por ele, a autoridade pode divergir do laudo, já que o juiz é livre para decidir, desde
que motive (art. 93, IX, da CRFB/88 c/c art. 155, do CPP).

Parágrafo único.  A autoridade poderá também ordenar que se proceda a novo exame, por outros peritos,
se julgar conveniente.

Art. 182.  O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte.

1.8. Assistente técnico

 É o técnico contratado pela parte para elaborar um parecer técnico na expectativa de ratificar ou
descredenciar o laudo pericial, em razão dos interesses do seu contratante. Em verdade, o assistente técnico é o
perito de confiança da parte. Noutros termos, servirá para confirmar, por parecer, o laudo realizado pelo perito
ou rechaçá-lo. Advertência: vale lembrar que o assistente não interfere na elaboração do laudo pericial, nem na
atuação do perito.

Pode intervir na fase inquisitorial? Não.


Pode responder pelo crime de falsa perícia? Não. Trata-se de crime de mão própria. O assistente não pode ser
considerado funcionário público, mas pode responder por falsidade ideológica.

1.9. Admissibilidade

 Cabe ao juiz deliberar quanto à admissibilidade ou não do assistente técnico, em decisão irrecorrível. Nada
impede que a decisão seja impugnada via mandado de segurança.

1.10. Quantidade

 Em regra, teremos um assistente para cada parte. Todavia, nas perícias complexas, que são aquelas que
exigem o domínio de mais de um ramo do conhecimento humano, poderíamos ter mais de um assistente e mais
de um perito oficial, cada qual na sua especialidade.

1.11. Casos concretos

I. Produto impróprio para o consumo – exame pericial obrigatório.


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*Para caracterizar o delito previsto no art. 7º, IX, da Lei 8.137/1990 (crime contra relação de consumo), é
imprescindível a realização de perícia a fim de atestar se as mercadorias apreendidas estão em condições
impróprias para o consumo, não sendo suficiente, para a comprovação da materialidade delitiva, auto de infração
informando a inexistência de registro do Serviço de Inspeção Estadual (SIE). STJ. 5ª Turma. RHC 49.752-SC, Rel.
Min. Jorge Mussi, julgado em 14/4/2015 (Info 560) #IMPORTANTE: Nesse crime, o STF entendeu que cabe
suspensão condicional do processo, já que a pena de multa é alternativa (“ou”).

II. Furto qualificado pelo rompimento de obstáculo – obrigatório, quando possível.


III. Porte ilegal de arma - desnecessária a realização de perícia. É irrelevante a potencialidade lesiva da arma.

INFORMATIVO 571 – STJ: Importante!!! É imprescindível a realização de perícia oficial para comprovar a prática
do crime previsto no art. 54 da Lei 9.605/98. “Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que
resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a
destruição significativa da flora. Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.” STJ. 6ª Turma. REsp 1.417.279-SC,
Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 22/9/2015 (Info 571).
- Exige-se a perícia mesmo no caso em que o Ministério Público impute apenas a possibilidade de resultar danos à
saúde humana (crime de perigo)? SIM. Mesmo na parte em que se tutela o crime de perigo, faz-se imprescindível
a prova do risco de dano à saúde. Isso porque, para a caracterização do delito, não basta a ação de poluir; é
necessário que a poluição seja capaz de causar danos à saúde humana e não há como verificar se tal condição se
encontra presente sem prova técnica.

*#MUDANÇADEENTENDIMENTO #STJ #SELIGA: O delito previsto na primeira parte do artigo 54 da Lei nº


9.605/1998 possui natureza formal, sendo suficiente a potencialidade de dano à saúde humana para configuração
da conduta delitiva. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.417.279-SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 11/04/2018 (Info
624).

*Para a comprovação da materialidade do delito previsto no art. 184, § 2º, do CP, é suficiente a perícia realizada
por amostragem. Assim, não se exige que a perícia seja feita sobre todos os bens apreendidos. Além disso, a
perícia pode ser feita apenas sobre os aspectos externos do material apreendido, não sendo necessário que seja
examinado o conteúdo de cada um dos DVD’s. Por fim, para a configuração do delito em questão, é dispensável a
identificação individualizada dos titulares dos direitos autorais violados ou de quem os represente. STJ. 3ª Seção.
REsp 1.456.239-MG e REsp 1.485.832-MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 12/8/2015 (recurso
repetitivo) (Info 567).

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*#DEOLHONAJURIS#DIZERODIREITO#STF: Lei estadual previu que se a vítima do estupro for pessoa do sexo
feminino menor de 18 anos, esta vítima deverá ser examinada, obrigatoriamente, por uma legista mulher, que irá
fazer a perícia. O STF concedeu medida cautelar em ADI para dar interpretação conforme a Constituição a esse
dispositivo. Segundo o STF, as crianças e adolescentes do sexo feminino vítimas de violência deverão ser,
obrigatoriamente, examinadas por legista mulher, mas desde que isso não importe retardamento ou prejuízo da
diligência. É preciso conciliar a proteção de crianças e adolescentes mulheres vítimas de violência e o acesso à
Justiça. Embora essa norma estadual vise proteger as vítimas de estupro na realização da perícia, o efeito
resultante foi contrário, porque peritos homens estavam se recusando a fazer o exame nas menores de idade em
razão da Lei. Dessa forma, as investigações não tinham prosseguimento. Vale ressaltar, por fim, que o Estado-
membro tinha competência legislativa para editar esta norma (não há inconstitucionalidade formal). Isso porque
esta Lei estadual não trata sobre direito processual penal (art. 22, I, da CF/88), mas sim sobre procedimento em
matéria processual, assunto que é de competência concorrente (art. 24, XI, da CF/88). STF. Plenário. ADI 6039
MC/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 13/3/2019 (Info 933).

1.12. Autópsia e Exumação

Art. 161.  O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora.

Art. 162.  A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos
sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no auto.
Parágrafo único.  Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver, quando não
houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a causa da morte e não
houver necessidade de exame interno para a verificação de alguma circunstância relevante.
Art. 163.  Em caso de exumação para exame cadavérico, a autoridade providenciará para que, em dia e hora
previamente marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto circunstanciado.
Parágrafo único.  O administrador de cemitério público ou particular indicará o lugar da sepultura, sob pena
de desobediência. No caso de recusa ou de falta de quem indique a sepultura, ou de encontrar-se o cadáver
em lugar não destinado a inumações, a autoridade procederá às pesquisas necessárias, o que tudo constará
do auto.

Art. 164. Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem encontrados, bem como, na
medida do possível, todas as lesões externas e vestígios deixados no local do crime.  (Redação dada pela Lei
nº 8.862, de 28.3.1994)

Art. 165.  Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando possível, juntarão ao laudo
do exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente rubricados.

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Art. 166.  Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, proceder-se-á ao reconhecimento pelo
Instituto de Identificação e Estatística ou repartição congênere ou pela inquirição de testemunhas, lavrando-
se auto de reconhecimento e de identidade, no qual se descreverá o cadáver, com todos os sinais e
indicações.
Parágrafo único.  Em qualquer caso, serão arrecadados e autenticados todos os objetos encontrados, que
possam ser úteis para a identificação do cadáver.

1.13. Lesões corporais e exame complementar

Art. 168.  Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto, proceder-se-á a
exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do
Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor.

§ 1o  No exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo de delito, a fim de suprir-lhe a
deficiência ou retificá-lo.

§ 2o  Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1o, I, - LESAO CORPORAL GRAVE
– INCAPACIDADE POR MAIS DE 30 DIAS -do Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30
dias, contado da data do crime.

§ 3o  A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal.

1.14. Exames laboratoriais e contraprova

Art. 170.  Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente para a eventualidade de nova
perícia. Sempre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográficas, ou microfotográficas,
desenhos ou esquemas.

1.15. Avaliação do prejuízo causado pelo delito

Objetivos:
 Aplicação do princípio da insignificância: se presentes os demais requisitos;
 Reconhecimento de figuras delituosas como furto e roubo privilegiados. Jurisprudência: o salário mínimo
vigente à época do crime pode ser utilizado como parâmetro;
 Valor mínimo a ser fixado pelo juiz pela reparação dos danos

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Art. 172.  Proceder-se-á, quando necessário, à avaliação de coisas destruídas, deterioradas ou que
constituam produto do crime. Parágrafo único.  Se impossível a avaliação direta, os peritos procederão à
avaliação por meio dos elementos existentes nos autos e dos que resultarem de diligências.

1.16. Exame grafotécnico

Art. 174.  No exame para o reconhecimento de escritos, por comparação de letra, observar-se-á o seguinte:
I - a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito será intimada para o ato, se for encontrada;

II - para a comparação, poderão servir quaisquer documentos que a dita pessoa reconhecer ou já tiverem
sido judicialmente reconhecidos como de seu punho, ou sobre cuja autenticidade não houver dúvida;

III - a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exame, os documentos que existirem em arquivos
ou estabelecimentos públicos, ou nestes realizará a diligência, se daí não puderem ser retirados;

IV - quando não houver escritos para a comparação ou forem insuficientes os exibidos, a autoridade
mandará que a pessoa escreva o que Ihe for ditado. Se estiver ausente a pessoa, mas em lugar certo, esta
última diligência poderá ser feita por precatória, em que se consignarão as palavras que a pessoa será
intimada a escrever- NÃO ESTÁ OBRIGADO – Princípio do nemotenetur se detegere.

2. EXAME DE CORPO DE DELITO

 Corpo de delito é o conjunto de vestígios deixados pela infração, quaisquer que sejam eles. É a perícia que tem
por objeto os vestígios deixados pela infração. Advertência: os crimes que deixam vestígios são chamados de não
transeuntes ou intranseuntes. É uma espécie de perícia. Não precisa de autorização judicial.

Art. 184.  Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial negará a perícia requerida
pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento da verdade.

2.1. Necessidade – quando possível

 Essa perícia é considerada como um ato necessário, e a omissão quanto à sua designação é fato gerador de
nulidade absoluta do processo (quando possível) - art. 564, III, b, do CPP. O magistrado pode, identificando a
ausência do exame, determinar a sua realização, a qualquer tempo, se ainda for possível. O mais indicado, no

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entanto, em que pese a norma legal, seria, diante da impossibilidade de realização da perícia e da insuficiência da
prova testemunhal, que o réu fosse absolvido.

 Não pode ser negada pelo magistrado quando não realizada e requerida em juízo.

*#NOVIDADELEGISLATIVA: foi publicada a Lei 13.721/2018, que altera o Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de
1941 (Código de Processo Penal), para estabelecer que será dada prioridade à realização do exame de corpo de
delito quando se tratar de crime que envolva violência doméstica e familiar contra mulher ou violência contra
criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.

Art. 1º  Esta Lei altera o Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal),  para
estabelecer que será dada prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar de crime que
envolva violência doméstica e familiar contra mulher ou violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa
com deficiência.

Art. 2º O art. 158 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), passa a vigorar
com a seguinte redação:

“Art. 158.  ..................................................................

Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar de crime que
envolva:

I - violência doméstica e familiar contra mulher;

II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.”

2.2. Horário

 Esta perícia será realizada 24h por dia, de modo que não há um horário fixado, respeitando-se, apenas, a
inviolabilidade domiciliar.

2.3. Procedimento

 A realização do exame comporta uma análise gradativa do modo de proceder, em razão da interpretação dos
arts. 158 e 167, do CPP, subsistindo três posições:

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 1ª posição (Guilherme Nucci): se o crime deixou vestígio, será realizado o exame direto, que é aquele em
que o perito dispõe dos vestígios para análise. Não sendo possível, será realizado o exame indireto, que é
aquele em que os peritos vão se valer de elementos acessórios na elaboração do laudo. Por sua vez, se
ambos forem frustrados, a ausência da perícia pode ser suprida pela prova testemunhal (art. 167, do
CPP), e jamais pela confissão (art. 168, do CPP).

 2ª posição (posição prevalente): para o STJ e para o STF, o exame indireto não conta com rigor formal,
nem com elaboração de laudo, sendo sinônimo da oitiva da prova testemunhal ou produção de prova
documental. Advertência: essa posição se assemelha a adotada pelo art. 328, do CPPM.

 3ª posição (Denílson Feitosa): para ele, o exame indireto pode contar com a intervenção do perito e a
elaboração do laudo ou se resumir a analise judicial do contexto probatório com a oitiva de testemunhas,
sem a existência de laudo.

3. INTERROGATÓRIO DO RÉU

 A primeira lei de reforma do interrogatório é a Lei 10.793/03, e, mais recentemente, houve alterações
realizadas pela Lei 11.900/09.

 Interrogatório é o momento da persecução penal em que o imputado poderá, se desejar, apresentar a sua
versão dos fatos, como expressão concreta do exercício da sua autodefesa.

3.1. Natureza jurídica

1ª posição (CPP - topograficamente): considera o interrogatório do réu como um meio de prova, pois que se
encontra, topograficamente, enquadrado no Capítulo III, Título VII. Sistema inquisitorial.

2ª posição: enquadra o interrogatório como meio de defesa. Nesse caso, segundo Eugênio Pacelli, a análise
constitucional faz concluir que não mais subsistem consequências processuais que permeiam o procedimento do
interrogatório, como eventual condução coercitiva (art. 260, do CPP) e a revelia, afinal o exercício da defesa não
pode ser sancionado.

3ª posição (Denílson Feitosa e STF): o interrogatório é considerado meio de prova e meio de defesa,
indistintamente. Há, portanto, uma equivalência.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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4ª posição (Guilherme Nucci): DPU para ele, o interrogatório é, primordialmente, um meio de defesa, e,
subsidiariamente, um meio de prova. Fica estabelecida, dessa forma, uma gradação de importância.

3.2. Necessidade

 O juiz deverá oportunizar a realização do interrogatório, sob pena de nulidade do processo (art. 564, III, e, do
CPP).

Obs.: gradação da nulidade: subsistem duas posições quanto ao grau da nulidade ocasionada:

1ª posição: para Eugênio Pacelli, a nulidade é absoluta, já que o prejuízo é presumido, por ofensa ao princípio da
ampla defesa.

2ª posição (Guilherme Nucci e STF – HC 82.933): a posição preponderante é que se está diante de uma nulidade
meramente relativa, e o prejuízo deve ser demonstrado.

Obs.: Atualmente, em requerimento subscrito pelo advogado e pelo réu, é admitido o não comparecimento na
sessão plenária do júri, frustrando o interrogatório, diante da estratégia defensiva (art. 457, §2º, do CPP).

Obs.: na legislação eleitoral, o interrogatório acaba por ser substituído por uma manifestação (resposta) escrita
(art. 359, parágrafo único, do Código Eleitoral).

3.3. Procedimento

3.4. Direito de entrevista preliminar reservada

 Atualmente, o interrogado tem direito de se entrevistar reservadamente com o seu defensor, para a
construção técnica da estratégia a ser adotada no interrogatório.

Art. 266.  A constituição de defensor independerá de instrumento de mandato, se o acusado o indicar por ocasião
do interrogatório.

3.5. Presença do advogado

 Diante do advento da Lei 10.792/03, é necessário reconhecer que a presença do advogado é obrigatória, sob
pena de nulidade absoluta, já que a defesa técnica é indisponível (súmula 523, STF).  

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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 NO PROCESSO PENAL, A FALTA DA DEFESA CONSTITUI NULIDADE ABSOLUTA, MAS A SUA DEFICIÊNCIA SÓ O
ANULARÁ SE HOUVER PROVA DE PREJUÍZO PARA O RÉU.

 Ausência do advogado – nulidade absoluta. Independe de prejuízo

 Ausência de MP – nulidade relativa


*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STF O advogado de um réu deverá, obrigatoriamente, estar presente no
interrogatório do corréu que com ele responde o mesmo processo criminal? REGRA: não. A presença da defesa
técnica é imprescindível durante o interrogatório do réu por ela representado, não quanto aos demais. Assim, é
obrigatória a presença do advogado no interrogatório do seu cliente. No interrogatório dos demais réus, essa
presença é, em regra, facultativa. EXCEÇÃO: se o interrogatório é de um corréu delator, a presença do advogado
dos réus delatados é indispensável. Neste caso, deve-se exigir a presença dos advogados dos réus delatados, pois,
na colaboração premiada, o delator adere à acusação em troca de um benefício acordado entre as partes e
homologado pelo julgador natural. Normalmente, o delator presta contribuições à persecução penal incriminando
eventuais corréus, razão pela qual seus advogados devem acompanhar o ato. Se o advogado do corréu não
comparece ao interrogatório do réu delator, haverá nulidade? Depende: • Se o corréu foi delatado no
interrogatório e seu advogado não compareceu: sim, haverá nulidade. • Se o corréu não foi delatado no
interrogatório: não. Isso porque não houve prejuízo. STF. 2ª Turma. AO 2093/RN, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado
em 3/9/2019 (Info 955)

3.6. Interrogatório do réu preso

 Em um primeiro momento, nos anos de 2001 e 2002, a doutrina intensificou a discussão quanto à realização
da videoconferência no Brasil, nascendo, assim, duas posições:

a) Para Alexandre de Moraes, o instituto deveria ser imediatamente implementado, não só como
redução de custos, como também para evitar o risco de fuga no deslocamento de presos;
b) segundo René Ariel Dotti, a videoconferência viola a dignidade da pessoa humana, trazendo
impessoalidade ao ato, afastando o juiz do jurisdicionado e comprometendo a análise cognitiva do
julgador na formação da culpa do réu. DPU.

 Num segundo momento – 2003 – a Lei 10.782/03 reformou o interrogatório e foi omissa no tratamento da
videoconferência, trazendo, contudo, o instituto da ida do juiz ao estabelecimento prisional, desde que presentes
os seguintes requisitos cumulativos: sala própria, publicidade do ato, segurança do juiz, dos auxiliares e do
Ministério Público e presença do defensor ou advogado.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


17
 No terceiro momento, em 2005, a Lei estadual paulista n. 11.819 disciplinou a videoconferência no Estado de
São Paulo, iniciando-se a sua utilização.

 No quarto momento, em 2007, o STF reconheceu a inconstitucionalidade da lei paulista, e os interrogatórios


até então realizados foram considerados como prova ilícita – Nulidade absoluta por violação do devido processo
legal. Inconstitucionalidade formal: competência exclusiva da União para legislar sobre processo.

 O quinto momento ocorreu em 2009, quando o Congresso editou a Lei 11.900, que disciplina a
videoconferência no art. 185, do CPP.

3.7. Interrogatório por videoconferência/online/tele interrogatório.

 Caracteriza-se pela utilização dos novos sistemas tecnológicos para efetivação do interrogatório, por meio da
captação de som e imagem, de forma bidirecional, e transmissão ao vivo, por sistema satelitário ou tecnologia
similar. § 9o  Na hipótese do § 8o deste artigo, fica garantido o acompanhamento do ato processual pelo acusado e
seu defensor.

Obs.: right to be present – presença remota do acusado. Pode acompanhar os demais atos da audiência.

3.7.1. Hipóteses

São taxativas e a realização da videoconferência deve ser entendida como ultimaratio:

a) Para garantia da segurança pública: o risco subsiste quando o agente integra facção criminosa ou exista
um risco concreto de fuga durante o deslocamento; não basta o risco genérico. Todo deslocamento tem
risco.
b) Impossibilidade do deslocamento do réu, em virtude de enfermidade ou velhice. Não havendo tecnologia
para a videoconferência, é admitido, nessa hipótese, que o interrogatório seja realizado onde o réu
estiver (art. 220, do CPP); há outras dificuldades. Ex. falta de escolta.
c) Havendo risco de intimidação da vítima ou das testemunhas. Essa hipótese só será utilizada se não for
possível ouvir a própria vítima ou as testemunhas pela videoconferência. Não havendo estrutura
tecnológica e subsistindo o risco de intimidação, o réu será retirado da sala, com a oitiva da vítima e das
testemunhas na presença do advogado de defesa;
d) Garantia da ordem pública: é sinônimo de ordem pública social, almejando-se, aqui, evitar conturbação
da comarca.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


18
3.7.2. Requisitos formais

a) Ordem judicial motivada: é uma cláusula de reserva jurisdicional, de modo que a autorização só poderá
partir do juiz. Percebe-se, por critério interpretativo, que a videoconferência ocorrerá na fase processual,
não sendo aplicável à investigação e ao Plenário do Júri;
b) As partes devem ser intimadas da decisão com antecedência mínima de 10 (dez) dias, para que possam se
preparar para o ato;
c) Direito de entrevista preliminar reservada: mesmo na videoconferência, a entrevista preliminar deve ser
respeitada;
d) Direito de comunicação: os advogados que estão em locais distintos e o próprio réu têm o direito de se
comunicar sem ingerência do Estado;
e) Fiscalização: a sala de transmissão localizada no estabelecimento prisional se submete a uma
multifiscalização do Ministério Público, do juiz da causa, da Corregedoria do Judiciário e da OAB.

3.8. Regras interpretativas do interrogatório

 1ª regra – Regra geral: Ida do juiz ao estabelecimento prisional, à luz do art. 185, §1, CPP.

 2ª regra – Regra específica: Interrogatório por videoconferência, que só é cabível em 4 hipóteses, como visto:
garantia da segurança, da ordem pública, risco de ameaça a vitima ou testemunhas e risco de fuga do réu.

 3ª regra – Regra subsidiária a 1ª e 2ª regra. Não havendo os requisitos para que se implemente a 1ª regra ou
tecnologia para que se efetive a videoconferência, resta ao juiz determinar a condução do preso ao fórum –
última opção.

3.9. Estrutura do interrogatório – ato bifásico.

I – Qualificação do réu com a colheita de elementos que vão diferenciá-lo das demais pessoas, certificando que
ele é quem alega ser.

II – Informação quanto ao direito ao silêncio.

Obs.: Subsistem no Brasil duas posições quanto à abrangência do silêncio à qualificação do réu, quais sejam: 1 –
Para Guilherme Nucci, o silêncio não abrange a qualificação, cabendo, inclusive, responsabilidade criminal do réu
por falsa identidade (art. 307, CP). Posição majoritária. 2 – Para Aury Lopes Jr, o direito ao silêncio engloba a
qualificação, já que, neste momento, a verdade pode prejudicar o réu.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


19
Obs.: Autodefesa e uso de documento falso (art. 304 do CP)
Como expressão do direito a autodefesa, o réu pode apresentar um documento falso para não se prejudicar
criminalmente? (Ex: João é parado em uma blitz da PM e, sabendo que havia um mandado de prisão contra si
expedido, apresenta a cédula de identidade de seu irmão)
Não. Na hipótese retratada, João poderia ser condenado por uso de documento falso. Esse é o entendimento do
STF e STJ:

 Autodefesa e falsa identidade (art. 307 do CP)


Inicialmente, cumpre estabelecer a distinção entre falsa identidade e uso de documento falso.

Art. 307 – Falsa identidade Art. 304 – Uso de documento falso


Consiste na simples atribuição de falsa Aqui há obrigatoriamente o uso de
identidade, sem a utilização de documento documento falso.
falso.
Ex: ao ser parado em uma blitz, o agente Ex: ao ser parado em uma blitz, o agente
afirma que seu nome é Pedro Silva, quando, afirma que seu nome é Pedro Silva e
na verdade, ele é João Lima. apresenta o RG falsificado com esse nome,
quando, na verdade, ele é João Lima.

Assim como no caso do uso de documento falso, também na hipótese de falsa identidade, o STF entende que há
crime quando o agente, para não se incriminar, atribui a si uma identidade que não é sua. Essa questão já foi,
inclusive, analisada pelo Pleno do STF em regime de repercussão geral:

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA

Posição do STF
O princípio constitucional da autodefesa (art. 5º, inciso LXIII, da CF/88) não alcança aquele que atribui falsa
identidade perante autoridade policial com o intento de ocultar maus antecedentes, sendo, portanto, típica a
conduta praticada pelo agente (art. 307 do CP). O tema possui densidade constitucional e extrapola os limites
subjetivos das partes.
STF. Plenário. RE 640139 RG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22/09/2011.

Trata-se também da posição do STJ:


É típica a conduta do acusado que, no momento da prisão em flagrante, atribui para si falsa identidade (art. 307
do CP), ainda que em alegada situação de autodefesa. Isso porque a referida conduta não constitui extensão da

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


20
garantia à ampla defesa, visto tratar-se de conduta típica, por ofensa à fé pública e aos interesses de disciplina
social, prejudicial, inclusive, a eventual terceiro cujo nome seja utilizado no falso.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.362.524-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/10/2013 (recurso repetitivo).

Em suma, tanto o STF como o STJ entendem que a alegação de autodefesa não serve para descaracterizar a
prática dos delitos do art. 304 ou do art. 307 do CP.

III – Perguntas ao réu.

- Quanto à pessoa do réu (pregressamento): Elas servem pra aferir o histórico de vida do agente e serão
pontuadas, pelo magistrado, na dosimetria da pena, na aferição das circunstâncias judiciais (art. 59, CP) e, ainda,
podem servir de parâmetro para constatar a coculpabilidade do Estado, que nada mais é do que a
corresponsabilidade pela situação criminógena do réu, em razão das omissões nos mais variados setores sociais.
Consequências da coculpabilidade: Segundo Rogério Greco, ela pode servir para abrandar a pena ou impactar, nas
situações mais específicas, na absolvição do réu por inexigibilidade de conduta diversa.

- Quanto ao fato criminoso: Onde o réu poderá apresentar a sua versão.


IV – Possibilidades de reperguntas pelo promotor ou advogado de defesa. Obs.: O juiz pode denegar as
reperguntas. Requerer a consignação em ata da denegação (art. 488, CPP). Nada impede que o réu invoque o
silêncio, mesmo nas perguntas do seu próprio advogado.
V – Será lavrado um auto assinado por todos os presentes com a consignação fidedigna das perguntas e
respostas.

1ª Observação: se o réu não pode, não sabe, ou não quer assinar o interrogatório, o que fazer? Consignar o fato
no termo (art. 195 CPP). Essa solução jurídica oscila a depender do caso que está sendo praticado. No
interrogatório é assim, mas em outros atos é diferente, como na prisão em flagrante, em que será assinado por
duas testemunhas.

2ª Observação: se o acusado é estrangeiro e todos na audiência falam a sua língua, admite-se a realização do
interrogatório sem a presença de intérprete? Não, deve ser nomeado um intérprete mesmo assim, respeitando-
se, inclusive, a publicidade, para que todos compreendam o conteúdo do interrogatório. Ressalve-se, apenas, as
hipóteses em que a língua estrangeira é similar a nossa (art. 193 do PP).

3ª Observação: se o réu é portador de necessidades especiais, deve o juiz adequar o interrogatório, dando
preferência, no que for possível, a palavra falada (art. 192 do CPP).

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


21
4ª Observação: de acordo com o art. 6º. V, do CPP, a oitiva do indiciado perante o delegado deve seguir, no que
for compatível com a inquisitoriedade, a disciplina normativa do interrogatório judicial. Recentemente, a OAB
encaminhou um requerimento ao Ministério da Justiça para que se formule projeto de lei reconhecendo a
obrigatoriedade da presença do advogado na oitiva do suspeito e de testemunhas durante a investigação.

5ª Observação: Réu entre 18 e 21 anos incompletos: até 2008, quando o réu tinha entre 18 e 21 anos ele seria
interrogado com acompanhamento de curador, sob pena de nulidade absoluta do processo. Mas o art. 194 do
CPP, que exigia isso, foi expressamente revogado. Com o advento do art. 5º do CC, reconhece-se que os maiores
de 18 são absolutamente capazes, e a figura do curador não mais subsiste. Diante disso, tem-se por consequência
a revogação expressa do art. 194 do CPP e superação da súmula 352 do STF. NÃO É NULO O PROCESSO PENAL
POR FALTA DE NOMEAÇÃO DE CURADOR AO RÉU MENOR QUE TEVE A ASSISTÊNCIA DE DEFENSOR DATIVO.

6ª Observação: Inovações tecnológicas: atualmente as novas ferramentas tecnológicas podem ser utilizadas para
documentar o interrogatório, como a captação de som e imagem, além da estenotipia, que nada mais é do que
uma técnica de redução de palavras por símbolos (§1º do art. 405 do CPP). Segundo Eugenio Pacceli, haverá uma
maior fidedignidade ao interrogatório.

7ª Observação: Pluralidade de réus: Se existir pluralidade de réus, eles necessariamente serão interrogados de
maneira separada, pois um ato único com a presença do comparsa pode ocasionar nulidade, notadamente
quando as teses forem conflitantes (art. 191 do CPP). Os advogados podem fazer perguntas aos corréus – STJ e
STF- sob pena de nulidade absoluta. Deve constar na ata a irresignação do defensor.

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA
A decisão que impede que o defensor de um dos réus repergunte ao outro acusado ofende os princípios
constitucionais da ampla defesa, do contraditório e da isonomia, gerando nulidade absoluta (STF 1ª Turma. HC
101648, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 11/05/2010).

#IMPORTANTE - INF/STF 747. Julho 2014


O interrogatório do correu não poderá ser acompanhado pelo acusado, mesmo que este seja advogado e atue em
causa própria.

8ª Observação: Renovação do ato: A qualquer momento o réu pode ser reinterrogado por deliberação expressa
do juiz, de ofício, ou por requerimento das partes. Advirta-se que, se houve confissão e o réu quer se retratar,
deve o juiz oportunizar o reinterrogatório, sob pena de nulidade do processo (Art. 196 do CPP).

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


22
9ª observação: o STF decidiu que, se o interrogatório foi realizado no início da persecução criminal quando
vigente essa previsão, não precisa ser repetido. Tempus regitactum. Afora isso, deve o acusado demonstrar
prejuízo.
Obs. Lei de drogas/CPPM/procedimento originário de Tribunais: procedimentos especiais que trazem o
interrogatório no início.
STF #DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #AJUDAMARCINHO
MILITAR AO FINAL
PROCEDIMENTO ORIGINÁRIO DE TRIBUNAIS AO FINAL
• Último julgado do STF tratando de forma específica
sobre o tema: decidiu que seria no início.
• Último julgado do STF tratando sobre o CPPM, no
qual se mencionou, em obiter dictum, o tema na Lei de
Drogas: os Ministros afirmaram que o interrogatório
deveria ser feito apenas ao final da instrução.

* #MUDANÇADEENTENDIMENTO: O art. 400 do CPP


prevê que o interrogatório deverá ser realizado como
último ato da instrução criminal. Essa regra deve ser
aplicada: • nos processos penais militares; • nos
processos penais eleitorais e • em todos os
procedimentos penais regidos por legislação especial
LEI DE DROGAS
(ex: lei de drogas). Essa tese acima exposta
(interrogatório como último ato da instrução em todos
os procedimentos penais) só se tornou obrigatória a
partir da data de publicação da ata de julgamento do
HC 127900/AM pelo STF, ou seja, do dia 11/03/2016
em diante. Os interrogatórios realizados nos
processos penais militares, eleitorais e da lei de
drogas até o dia 10/03/2016 são válidos mesmo que
tenham sido efetivados como o primeiro ato da
instrução. STF. Plenário. HC 127900/AM, Rel. Min. Dias
Toffoli, julgado em 3/3/2016 (Info 816). STJ. 6ª Turma.
HC 397382-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis
Moura, julgado em 3/8/2017 (Info 609).

#ATENÇÃO:

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


23
A exigência de realização do interrogatório ao final da instrução criminal, conforme o art. 400 do CPP, é aplicável
no âmbito de processo penal militar. A realização do interrogatório ao final da instrução criminal, prevista no art.
400 do CPP, na redação dada pela Lei nº 11.719/2008, também se aplica às ações penais em trâmite na Justiça
Militar, em detrimento do art. 302 do Decreto-Lei nº 1.002/69. Logo, na hipótese de crimes militares, o
interrogatório também deve ser realizado depois da oitiva das testemunhas, ao final da instrução. STF. Plenário.
HC 127900/AM, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/3/2016 (Info 816) – Dizer o Direito

*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #STF: Nos processos criminais que tramitam perante o STF e o STJ, cujo
procedimento é regido pela Lei nº 8.038/90, o interrogatório também é o último ato de instrução. Apesar de não
ter havido uma alteração específica do art. 7º da Lei 8.038/90, com base no CPP, entende-se que o interrogatório
é um ato de defesa, mais bem exercido depois de toda a instrução, porque há possibilidade do contraditório mais
amplo. Assim, primeiro devem ser ouvidas todas as testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa para, só
então, ser realizado o interrogatório. STF. 1ª Turma. AP 1027/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luís
Roberto Barroso, julgado em 2/10/2018 (Info 918).

Obs.: Condução coercitiva para o interrogatório: a lei prevê, mas a doutrina e a jurisprudência rechaçam. E no
caso de condução para o reconhecimento pessoal: PODE! 2

Obs.: interrogatório por carta precatória. Possível.

Obs.: Interrogatório continua submetido ao sistema presidencialista.

Obs.: Art. 616.  No julgamento das apelações poderá o tribunal, câmara ou turma proceder a novo interrogatório
do acusado, reinquirir testemunhas ou determinar outras diligências.

*#OUSESABER: O que se entende por interrogatório sub-reptício? Conforme consta no livro "Terminologias e
Teorias Inusitadas", dos autores João Biffe Júnior e Joaquim Leitão Júnior: "O interrogatório sub-reptício acontece
quando há gravação clandestina de conversa informal com o preso, hipótese em que este não consente com a
gravação ambiental e tampouco é advertido do seu direito de permanecer em silêncio". É, portanto, a
modalidade de interrogatório que, além de realizar-se sem as formalidades legais do interrogatório no
inquérito policial, acontece sem que o indiciado seja advertido do seu direito ao silêncio, e por estas razões não
é admitido no Brasil. 

4. CONFISSÃO

2
#FICADEOLHO: Caiu na 2ª fase da DPU – 2017 (CESPE).
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
24
 É o meio de prova que significa admitir a culpa, por quem é suspeito ou acusado pela prática de uma infração
penal, fazendo-a de modo voluntário, expresso e pessoal, diante da autoridade competente, em um ato público e
formal.

 Pode ser: JUDICIAL (perante o juiz, como todas as garantias) ou EXTRAJUDICIAL (fora do juízo, na polícia ou no
MP).

Art. 199.  A confissão, quando feita fora do interrogatório, será tomada por termo nos autos, observado o
disposto no art. 195.

Valor da prova: a confissão extrajudicial somente vale se for ratificada (confirmada) em juízo. Obs.: pode ter valor
quando a) júri b) feita na presença do defensor.

Art. 197.  O valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados para os outros elementos de prova, e para a sua
apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais provas do processo, verificando se entre ela e estas existe
compatibilidade ou concordância.

Atenuante: a confissão é uma circunstância atenuante. Não pode ser estendida a outros acusados que não
confessaram. A confissão tem que ser livre e voluntária (por sua própria vontade), mas não precisa ser
espontânea (sincera). Entretanto, para valer como atenuante precisa ser espontânea. Ex. Sujeito apreendido com
droga confessa que a droga era sua, mas afirma que era para seu consumo, o que mais tarde ficou provado que
era para tráfico, no caso houve confissão não espontânea, não servindo com causa atenuante. A confissão deve
ser livre e espontânea.

Atenção: Incide a atenuante da confissão (art. 65, III, “d”, CPP), ainda que haja retratação em juízo, desde que
tenha concorrido para a condenação (STJ, HC 184.559/MS; STF, HC 91.654/PR).

A confissão, como as demais provas, tem valor relativo, devendo ser cotejada com os demais elementos
constantes nos autos (art. 197 do CPP).

* #NOVIDADE #SÚMULANOVA: 630-STJ: A incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de tráfico


ilícito de entorpecentes exige o reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando a mera admissão da
posse ou propriedade para uso próprio.
“O entendimento da súmula 630 do STJ não é aplicável para situações envolvendo roubo e furto:
Ministério Público oferece denúncia contra o acusado imputando-lhe a prática de roubo. O réu se defende
admitindo a subtração, mas negando o emprego de violência ou grave ameaça. Em outras palavras, o acusado
admitiu a prática de um furto (e não de roubo).
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
25
Nesses casos, o STJ tem admitido a incidência da atenuante afirmando que se está diante de confissão parcial:
Embora a simples subtração configure crime diverso - furto -, também constitui uma das elementares do delito
de roubo - crime complexo, consubstanciado na prática de furto, associado à prática de constrangimento,
ameaça ou violência, daí a configuração de hipótese de confissão parcial. STJ. 5ª Turma. HC 299.516/SP, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 21/06/2018. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 452.897/SP, Rel. Min.
Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 07/08/2018 3”.

STJ - INFO 506:


DIREITO PENAL. CONFISSÃO ESPONTÂNEA. INCIDÊNCIA DA ATENUANTE.
A confissão realizada em juízo, desde que espontânea, é suficiente para fazer incidir a atenuante prevista no art.
65, III, d, do CP, quando expressamente utilizada para a formação do convencimento do julgador. O CP confere à
confissão espontânea do acusado, no art. 65, inciso III, d, a estatura de atenuante genérica, para fins de apuração
da pena a ser atribuída na segunda fase do sistema trifásico de cálculo da sanção penal. Com efeito, a afirmação
de que as demais provas seriam suficientes para a condenação do paciente, a despeito da confissão espontânea,
não autoriza a exclusão da atenuante, se ela efetivamente ocorreu e foi utilizada na formação do convencimento
do julgador. Precedentes citados: HC 172.201-MG, DJe 24/5/2012, e HC 98.931-SP, DJe 15/8/2011. REsp
1.183.157-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 16/10/2012.

Confissão simples: réu confessa e nada invoca em seu favor.

Confissão qualificada: réu confessa e invoca algo em seu favor, ex: excludentes da ilicitude.

Confissão complexa: réu confessa vários fatos.

Confissão implícita: o acusado paga a indenização. Não tem efeitos no processo penal.

Confissão ficta ou presumida: NÃO existe no CPP.

Atenção: O Art. 198 do CPP (O silêncio do acusado não importará confissão, mas poderá constituir elemento para
a formação do convencimento do juiz) foi tacitamente revogado pelo parágrafo único do art. 186 do CPP (O
silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser interpretado em prejuízo da defesa 4), INCLUÍDO PELA
Lei nº 10.792, de 1º.12.2003.

3
Súmula aprovada em 24.04.2019.
Para mais informações, vide comentários do site Dizer o Direito. Disponível em:
https://www.dizerodireito.com.br/2019/07/sumula-630-do-stj-comentada.html
4
A seguinte assertiva foi considerada correta (TJPR – 2017): O exercício do direito ao silêncio não gera presunção de
culpabilidade para o acusado, tampouco pode ser interpretado em prejuízo da defesa.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
26
Confissão delatória: réu confessa e delata terceiras pessoas. As leis estão prevendo vários prêmios (DELAÇÃO
PREMIADA) (LEI DO CRIME ORGANIZADO, LAVAGEM DE CAPITAIS, PROTEÇÃO DAS VITÍMAS E TESTEMUNHAS, LEI
DE DROGAS). É o que se chama de DIREITO PENAL PREMIAL. O delator é denominado também de COLABORADOR
DA JUSTIÇA.
STJ - INFO 495
Se o réu confessa o crime, mas suas declarações não representam efetiva colaboração com a investigação policial
e com o processo criminal nem fornecem informações eficazes para a descoberta da trama delituosa, ele não terá
direito ao benefício da delação premiada.

*#OUSESABER #SELIGANOSINÔNIMO: Chamamento de corréu é expressão sinônima a delação premiada. Trata-


se, portanto, de uma das espécies de colaboração premiada. Pressupõe que o delator confesse a prática
criminosa e incrimine os comparsas. Não se confunde, todavia, com a colaboração premiada, tendo em vista que
esta se trata de gênero em que o investigado não apenas identifica os comparsas, mas também presta outras
informações. Ex: localização da vítima com sua integridade física preservada, sem necessariamente delatar
comparsas. 

Processo Penal: CPP, Art. 200.  A confissão será divisível e retratável, sem prejuízo do livre convencimento do juiz,
fundado no exame das provas em conjunto.

Características da confissão:

 É ato personalíssimo;
 É ato livre;
 É Retratável: é possível confessar e retratar-se e cabe também a retratação da retratação;
 É Divisível: o réu pode confessar uma parte e a outra não, ou seja, pode confessar um crime e outro não.

AUTO-DENÚNCIA DELAÇÃO
O sujeito procura a autoridade e fala que foi É chamar a si a culpa e indicar os outros
ele o responsável comparsas
Prova testemunhal
Meios de prova

DIREITO PENAL. FURTO QUALIFICADO. FORMAÇÃO DE QUADRILHA. INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS. CONJUNTO


PROBATÓRIO. AUTORIA COMPROVADA. DINHEIRO SUBTRAÍDO NÃO RECUPERADO. CONSEQUÊNCIAS DO CRIME.
CIRCUNSTÂNCIA NEUTRA. CONFISSÃO E REINCIDÊNCIA. COMPENSAÇÃO. CONTINUIDADE DELITIVA ENTRE FURTOS
E FORMAÇÃO DE QUADRILHA. IMPOSSIBILIDADE. REGIME FECHADO.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


27

1. A autoria da formação de quadrilha restou comprovada pelas gravações de diálogos e pelas demais provas dos
autos, que apontam claramente para a culpabilidade dos acusados.

2. O fato de os valores furtados não terem sido reavidos não serve para ensejar a pena-base, pois o tipo penal não
prevê a recuperação da res furtiva.

3. Em relação à segunda fase de fixação da pena, conforme o recente entendimento da Terceira Seção do
Superior Tribunal de Justiça (EResp 1.154.752), devem ser compensadas entre si a reincidência e a confissão
espontânea.

4. Não há falar em continuidade delitiva entre os furtos e a formação de quadrilha, pois não se trata de crimes da
mesma espécie, como requer o art. 71 do Código Penal. Além disso, o delito de quadrilha é permanente, cuja
configuração é independente da efetiva prática de ilícitos. 5. Fixado o cumprimento da pena em regime fechado,
nos termos do art. 33, §2º, "b", do CP.
(TRF4, ACR 0000036-59.2011.404.7000, Sétima Turma, Relatora Salise Monteiro Sanchotene, D.E. 09/01/2013)

STF – prevalece reincidência.

*A confissão, mesmo que qualificada, dá ensejo à incidência da atenuante prevista no art. 65, III, d, do CP, quando
utilizada para corroborar o acervo probatório e fundamentar a condenação. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.416.247-GO,
Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 22/6/2016 (Info 586). Importante recordar o entendimento sumulado do STJ
sobre o tema: Súmula 545-STJ: Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador,
o réu fará jus à atenuante prevista no artigo 65, III, d, do Código Penal.

CONFISSÃO PARCIAL CONFISSÃO QUALIFICADA CONFISSÃO RETRATADA


A confissão parcial ocorre A confissão qualificada A chamada confissão
quando o réu confessa ocorre quando o réu admite retratada ocorre quando o
apenas parcialmente os a prática do fato, no agente confessa a prática do
fatos narrados na denúncia. entanto, alega em sua delito e, posteriormente, se
Ex.: o réu foi denunciado por defesa um motivo que retrata, negando a autoria.
furto qualificado pelo excluiria o crime ou o Ex: durante o inquérito
rompimento de obstáculo isentaria de pena. Ex: eu policial, João confessa o
(art. 155, § 4º, I, do CP). Ele matei sim, mas foi em crime, mas em juízo volta
confessa a subtração do legítima defesa. Obs: por atrás e se retrata, negando a

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


28
serem muito próximos os
conceitos, alguns autores
bem, mas nega que tenha imputação e dizendo que foi
apresentam a confissão
arrombado a casa torturado pelos policiais.
parcial e a qualificada como
sinônimas.
ATENUA A PENA, se for ATENUA A PENA, se for ATENUA A PENA, se for
utilizada no convencimento. utilizada no convencimento. utilizada no convencimento.
5. DECLARAÇÃO DO OFENDIDO

Ofendido

 É a vítima do crime, que funciona para esclarecer a verdade dos fatos, apresentando as suas impressões. O
ofendido é um meio de prova e, como qualquer outro, tem um valor relativo que será analisado dentro de um
contexto conjuntural. Se as declarações do ofendido são um meio de prova, o STJ e o STF já reconheceram a
possibilidade de condenação com base nas declarações que em alguns crimes ganham singular importância.

 Se o ofendido, devidamente convocado, não comparece a respectiva audiência, caberá a condução coercitiva.
Por sua vez, se o crime é de ação privada, a ausência do ofendido ocasiona a perempção (art. 60, CPP) e a
respectiva extinção da punibilidade (art. 107, CP).

Proteção do Ofendido

 O ofendido passou seis décadas no ostracismo, vitimada pelo criminoso e pelo Estado. A Reforma Processual
de 2008 tentou humanizar o tratamento do ofendido com uma macroproteção que, em última análise, visa
resguardá-lo. Com o advento da Lei nº 11.690/2008, o legislador apresentou um leque de proteção ao ofendido,
destacando-se as seguintes prerrogativas:

i) Direito de intimação: o ofendido passa a ter direito de ser intimado das decisões que importem na soltura
do acusado e esta intimação pode ocorrer, por opção do ofendido, por email. * necessidade de intimação
do ofendido, quando da ocorrência dos seguintes atos (art 201, § 2º, CPP): ingresso e saída do réu da
prisão; designação da audiência de instrução e julgamento; Sentença e respectivos acórdãos que
“mantenham” (o que passa a valer é a decisão do tribunal) ou modifiquem a decisão. Obs.: as
comunicações deverão ser feito no endereço por ele indicado ou por meio eletrônico, se esta for a sua
opção (art. 201, § 3º, CPP);

ii) Direito de espaço reservado: no ambiente forense, haverá espaço reservado para abrigar o ofendido,
na expectativa que ele não tenha contato com pessoas vinculadas ao réu;
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
29

iii) Direito de tratamento e atendimento: por deliberação do juiz, o ofendido pode ser, de imediato,
encaminhado para tratamento médico, psicológico ou jurídico, as expensas do Estado ou do próprio
infrator.

iv) Direito à intimidade: pode o juiz decretar o segredo de justiça da persecução penal, na expectativa de
que as informações não sejam partilhadas com a imprensa, preservando-se, assim, a intimidade, a
vida privada e a família da vítima.

Valor Probatório

 O valor desse meio de prova é relativo, devendo ser contextualizado dentro da instrução. Para os tribunais
superiores, as declarações do ofendido ganham especial relevância nos crimes de pouca visibilidade, como
acontece nos crimes sexuais.

 O ofendido não é testemunha. Não presta compromisso. (testemunha é imparcial, o ofendido é parte da
relação jurídica de direito material - é um sujeito parcial). As consequências disso são: - não é computado no rol
de testemunhas; - não pratica falso testemunho, se mentir (porém, poderá responder por denunciação
caluniosa).
Condução coercitiva: é possível que o juiz determine a sua busca. Durante o IP, pode haver também a condução,
que poderá ser determinada pela autoridade policial. Art. 201, § 1º, do CPP: é possível, para que ela preste em
juízo suas declarações. Obs.: pode haver condução coercitiva para a realização de exames periciais, salvo no caso
de serem invasivas.

 De um modo geral, entretanto, a vítima cumpre apenas seu papel “testemunhal”, com todos os riscos
inerentes. Uma das características da reforma foi a revalorização do papel da vítima. [Ex.: na sentença
condenatória, o juiz deve definir um valor mínimo de indenização; alteração do capítulo referente ao ofendido
(não mais é mero objeto de prova)]. Com a reforma, foram conferidas algumas prerrogativas para a vítima:

*#IMPORTANTE #DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA:
O depoimento sem dano consiste na oitiva judicial de crianças e adolescentes que foram supostamente vítimas de
crimes contra a dignidade sexual por meio de um procedimento especial, que consiste no seguinte: a criança ou o
adolescente fica em uma sala reservada, sendo o depoimento colhido por um técnico (psicólogo ou assistente
social), que faz as perguntas de forma indireta, por meio de uma conversa em tom mais informal e gradual, à
medida que vai se estabelecendo uma relação de confiança entre ele e a vítima. O juiz, o Ministério Público, o réu
e o Advogado/Defensor Público acompanham, em tempo real, o depoimento em outra sala por meio de um
sistema audiovisual que está gravando a conversa do técnico com a vítima. Atualmente, a legislação não prevê
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
30
expressamente essa prática. Apesar disso, o STJ entende que é válida nos crimes sexuais contra criança e
adolescente, a inquirição da vítima na modalidade do “depoimento sem dano”, em respeito à sua condição
especial de pessoa em desenvolvimento, inclusive antes da deflagração da persecução penal, mediante prova
antecipada. Assim, não configura nulidade por cerceamento de defesa o fato de o defensor e o acusado de crime
sexual praticado contra criança ou adolescente não estarem presentes na oitiva da vítima devido à utilização do
método de inquirição denominado “depoimento sem dano”. STJ. 5ª Turma. RHC 45.589-MT, Rel. Min.Gurgel de
Faria, julgado em 24/2/2015 (Info 556).

*#NOVIDADELEGISLATIVA #OUSESABER: Foi publicada a Lei 13.431/17 que estabelece o sistema de garantia de
direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência e altera a Lei no 8.069, de 13 de julho de
1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Dentre outros assuntos importantes, a lei normatiza dois
mecanismos importantíssimos: a ESCUTA ESPECIALIZADA e o DEPOIMENTO ESPECIAL. Escuta especializada é o
procedimento de ENTREVISTA sobre situação de violência com criança ou adolescente perante órgão da rede de
proteção, limitado o relato estritamente ao necessário para o cumprimento de sua finalidade. (art. 7º) Já o
Depoimento especial consiste no procedimento de OITIVA de criança ou adolescente vítima ou testemunha de
violência perante autoridade policial ou judiciária. (art. 8º) A lei 13.431/17 vai ser bastante cobrada nas provas.
Mas, cuidado, esta lei entra em vigor após decorrido 1 (um) ano de sua publicação oficial.

*#OUSESABER:Em 4 de abril de 2017, foi publicada a Lei n• 13.431/2017, vulgo Lei da Escuta Protegida, a qual
entra em vigor em abril de 2018, que alterou o ECA para estabelecer garantias de direitos à crianças e
adolescentes que sejam vítimas ou testemunhas de violência, e aplicável facultativamente a jovens de 18 a 21
anos. O mérito da lei é positivar o depoimento sem dano, já adotado na prática por muitos juízes, que visa a
evitar a revitimização da criança, através da previsão de escuta especializada e depoimento especial, além de
outras garantias como o resguardo da ausência de contato da criança ou do adolescente com o responsável pela
violência e a produção antecipada de prova, para evitar a emissão de falsas memórias, a proibição de leitura da
denúncia a ela, e a vedação de ouvir novamente a criança no depoimento especial, salvo em caso de
imprescindibilidade justificada pelo magistrado. A lei avança em relação à Lei Maria da Penha e prevê uma nova
espécie de violência: a institucional, definida como a praticada por instituição pública ou conveniada, inclusive
quando gerar revitimização.

6. RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS

Art. 226.  Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de pessoa, proceder-se-á pela seguinte


forma:
I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva ser reconhecida;
Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem
qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la;
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
31
III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidação ou
outra influência, não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará
para que esta não veja aquela;
IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada
para proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.
Parágrafo único.  O disposto no no III deste artigo não terá aplicação na fase da instrução criminal ou em plenário
de julgamento.

Art. 227.  No reconhecimento de objeto, proceder-se-á com as cautelas estabelecidas no artigo anterior, no que
for aplicável.

Art. 228.  Se várias forem as pessoas chamadas a efetuar o reconhecimento de pessoa ou de objeto, cada uma
fará a prova em separado, evitando-se qualquer comunicação entre elas.

Reconhecer é identificar (individualizar) uma pessoa (art. 226 do CPP) ou uma coisa (art. 227 do CPP).

Na fase policial, o reconhecimento de pessoas consiste em convidar a vítima ou testemunha do crime para, diante
de várias pessoas colocadas lado a lado, com as mesmas características físicas e de raça (quando possível),
proceder ao reconhecimento. Quanto mais parecidas forem as pessoas, maior a credibilidade do reconhecimento.

Jamais duas pessoas podem fazer reconhecimento ao mesmo tempo, o reconhecimento é individualizado, cada
um reconhece em seu momento.
O reconhecimento pode ser: policial ou judicial. Obs.: na jurisprudência, tem-se dado maior valor ao policial,
desde que obedecidas as formalidades, em razão da maior proximidade com o fato delituoso.
Reconhecimento policial (art. 226 e ss.): é válido se ratificado em juízo ou se coerente com a prova produzida em
juízo.

ATENÇÃO: Art. 226, III e p. único, CPP – Embora, literalmente, o inciso III do art. 226, CPP, não seja aplicável ao
reconhecimento judicial (art. 226, p. único, CPP), tal conclusão vem sendo flexibilizada. É que, na prática, por
medo, muitas testemunhas quedam-se inertes em juízo por estarem frente a frente com o réu. Para viabilizar o
reconhecimento em juízo, então, havendo intimidação da pessoa que irá reconhecer, permite-se a incidência do
inciso III do art. 226, CPP.

No Brasil, como não existem em muitos lugares os vidros espelhados, utiliza-se inclusive “buraco da fechadura”
ou luzes fortes contra os suspeitos. Em juízo, basta afirmar na presença do juiz que o réu é a pessoa reconhecida,
que a prova estará perfeita. Porém, na prática, por medo, muitas testemunhas em juízo quedam-se inertes. Por
analogia, em muitos fóruns o reconhecimento vem sendo feito por meio de “vidro espelhado”.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
32

 Reconhecimento indireto ou invertido: o réu reconhece a vítima.


 Reconhecimento judicial ou policial (ratificado em juízo): têm valor relativo (como todas as provas).
 Reconhecimento por fotografia: não tem previsão. Prova inominada. Tem valor relativo (muito relativo). A
jurisprudência vem reconhecendo que o juiz não pode condenar ninguém com base, exclusivamente, no
reconhecimento fotográfico (que é muito precário).
 Retrato falado: é meio de investigação, não de reconhecimento.
 Reconhecimento da voz: não tem previsão. Prova inominada. Tem valor relativo. Isso ocorre muitas vezes
nos crimes sexuais. Não pode ser a única prova.
 Reconhecimento da autenticidade da voz (espectograma da voz): é possível. Na linguagem extrajudicial
era chamado de “clichê fônico”. Talvez, no nosso país, não haja outro local mais apropriado para se fazer esse
exame que a Unicamp (que conta com tecnologia muito avançada para isso). Note-se o réu pode se recusar a falar
(nemotenetur se detegere).

Obs.: Reconhecimento não exige ação do acusado – pode conduzir coercitivamente. Reconhecimento fonográfico
– exige ação do acusado – não pode conduzir coercitivamente.

7. ACAREAÇÃO

Art. 229.  A acareação será admitida entre acusados, entre acusado e testemunha, entre testemunhas, entre
acusado ou testemunha e a pessoa ofendida, e entre as pessoas ofendidas, sempre que divergirem, em suas
declarações, sobre fatos ou circunstâncias relevantes.
Parágrafo único.  Os acareados serão reperguntados, para que expliquem os pontos de divergências, reduzindo-se
a termo o ato de acareação.

Acarear é confrontar, é colocar duas pessoas frente a frente, cara a cara, para que esclareçam divergências
relevantes. A acareação se dá sempre entre duas pessoas. Qualquer pessoa pode ser acareada, desde que esteja
incluída no processo. Na fase investigatória ou processual. Partes podem requerer.

O réu tem o direito ao silêncio, inclusive na acareação (nemotenetur se detegere). STF: as testemunhas também
têm o direito de não se auto-incrimar, tem dever de depor, mas não têm obrigação de se incriminar.
Pressuposto: para a acareação, exige-se que as pessoas já tenham sido previamente ouvidas por meio de
interrogatório, depoimentos ou declarações e exista uma controvérsia relevante, ou seja, um ponto divergente,
controvertido entre as referidas manifestações.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


33
A acareação, em regra, se dá entre presentes, mas o art. 230 permite a acareação entre ausentes, o que a
doutrina denomina de confronto. LFG: na verdade isso não é uma acareação, é uma mera confrontação, mas o
CPP chama de acareação entre ausentes.

Art. 230.  Se ausente alguma testemunha, cujas declarações divirjam das de outra, que esteja presente, a esta se
darão a conhecer os pontos da divergência, consignando-se no auto o que explicar ou observar. Se subsistir a
discordância, expedir-se-á precatória à autoridade do lugar onde resida a testemunha ausente, transcrevendo-se
as declarações desta e as da testemunha presente, nos pontos em que divergirem, bem como o texto do referido
auto, a fim de que se complete a diligência, ouvindo-se a testemunha ausente, pela mesma forma estabelecida
para a testemunha presente. Esta diligência só se realizará quando não importe demora prejudicial ao processo e
o juiz a entenda conveniente.

No Brasil, a acareação, em regra, é muito mal produzida e há má vontade neste meio de prova que pode ser
precioso. Se for bem feita, com perguntas precisas e impressões pessoais do magistrado sobre a conduta dos
acareados no ato da acareação, seus gestos, nervosismo etc, a prova será de grande valia para a verdade real,
sendo que, se o réu mentir, possivelmente será condenado; se a testemunha mentir, será processada por falso
testemunho e, por fim, se a vítima mentir, poderá ser processada por denunciação caluniosa.
Pode a acareação ter grande importância quando bem formulada, principalmente no Tribunal do Júri, em que a
impressão dos Jurados é motivo de condenação ou absolvição, em face do princípio da íntima convicção.

8. PROVA DOCUMENTAL

Conceito doutrinário: são escritos, imagens ou sons que possam comprovar um fato. Podem ser escritos ou não-
escritos (filmagens, fotografias, gravações etc). Sentido estrito – só escritos.

Para o CPP “consideram-se documentos quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares”
(art. 232 do CPP). Hoje esse dispositivo legal deve merecer releitura mais ampla. A prova documental,
atualmente, não se limita ao escrito, englobando a fotografia, as gravuras, pinturas, fitas de vídeo etc.
Interpretação progressiva.

Art. 232.  Consideram-se documentos quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares.


Parágrafo único.  À fotografia do documento, devidamente autenticada, se dará o mesmo valor do original.

Qual a diferença entre instrumento e documento em sentido estrito? O INSTRUMENTO (DOCUMENTO


ORIGINÁRIO) é um documento que nasce com a finalidade de comprovar um fato (ex.: escritura pública, que
nasce para comprovar um direito de propriedade, v.g.). DOCUMENTO EM SENTIDO

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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ESTRITO/EVENTUAL/ACIDENTAL é o documento que nasce sem a finalidade de comprovar qualquer fato, mas
pode eventualmente servir de prova em um processo. Ex.: uma carta particular.
Os documentos podem ser originais ou cópias, sendo que, se forem cópias, deverão obrigatoriamente estar
autenticadas.

Momento de apresentação dos documentos: em princípio, os documentos podem ser apresentados a qualquer
momento (CPP, Art. 231: Salvo os casos expressos em lei, as partes poderão apresentar documentos em qualquer
fase do processo.). Exceção: CPP, art. 479: em plenário, no procedimento do júri, só podem ser utilizados
documentos juntados com pelo menos três dias ÚTEIS de antecedência; CPPM – se estiver concluso para
julgamento não pode juntar documento.

Em princípio, todo e qualquer documento pode ser juntado ao processo. Exceções ou limitações na produção de
prova documental (não pode nem juntar):
 Carta interceptada criminosamente (art. 233 do CPP:  As cartas particulares, interceptadas ou obtidas por
meios criminosos, não serão admitidas em juízo. Parágrafo único.  As cartas poderão ser exibidas em juízo pelo
respectivo destinatário, para a defesa de seu direito, ainda que não haja consentimento do signatário).
 Provas ilícitas (art.5º, LVI, da Constituição Federal);
 Provas ilegítimas
 Em determinadas fases do processo não se admite a juntada de documentos – art. 479 do CPP - Júri
 Provas ilícitas por derivação etc.

Requisição judicial: o juiz pode requisitar documentos de ofício, para complementar as provas já existentes nos
autos. Esse poder instrutório do juiz, no entanto, vem sendo mitigado, haja vista que o processo penal brasileiro é
regido pelo modelo acusatório, com nítida separação entre as funções de acusar, defender e julgar; assim, o papel
do juiz na instrução penal seria meramente complementar às diligências probatórias das partes.

Art. 234.  Se o juiz tiver notícia da existência de documento relativo a ponto relevante da acusação ou da defesa,
providenciará, independentemente de requerimento de qualquer das partes, para sua juntada aos autos, se
possível.

Documento em língua estrangeira precisa ser traduzido, se necessário – *vale destacar que, nesse ponto, há
divergência na doutrina. Para alguns, a tradução será sempre necessária, mesmo que as partes dominem o
idioma, a fim de garantir a publicidade do processo. Nesse sentido, Renato Brasileiro 5:

“(...)A nosso juízo, em que pese a ressalva constante do art. 236 do CPP ("se necessário"), mesmo que as partes
tenham conhecimento da língua estrangeira, impõe-se a tradução do documento para o Português, haja vista o
5
Manual de Processo Penal, 2017.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
35
principio da publicidade dos atos processuais, do qual deriva a necessária acessibilidade de todos ao conteúdo do
documento. A dispensa de tradução só deverá ocorrer quando o conteúdo do documento não interessar ao
acertamento do fato delituoso. Eventual indeferimento de tradução é causa de nulidade relativa, devendo ser
alegada oportunamente, sob pena de preclusão, além da necessária comprovação do prejuízo.”

Por outro lado, há quem entenda que a tradução para o vernáculo de documentos em idioma estrangeiro
juntados aos autos só deverá ser realizada se tal providência for absolutamente “necessária”. O STF já entendeu
dessa forma, vejamos:

“(...)A tradução para o vernáculo de documentos em idioma estrangeiro juntados só deveria ser realizada se essa
providência se tornasse absolutamente “necessária” (CPP, art. 236). Desse modo, não bastasse ser possível a
dispensa da tradução de alguns documentos, o acusado não teria demonstrado, na espécie, de que forma essa
providência seria imprescindível à sua defesa. Ademais, seria possível, durante a instrução, requerer ou mesmo
apresentar a tradução de tudo o que a defesa julgasse necessário. Vencido, em relação às referidas preliminares, o
Ministro Marco Aurélio, que as acolhia por reputar que os autos do inquérito, considerada a ordem jurídica em
vigor, não estariam devidamente aparelhados para deliberação do Colegiado, sob pena de atropelo ao direito de
defesa. Inq 4146/DF, rel. Min. Teori Zavascki, 22.6.2016. (Inq-4146) – informativo 831.

No concurso para Promotor de Justiça do Mato Grosso, a banca adotou o segundo posicionamento:

#JÁCAIU #MPMT #2019:


Ao tratar da prova, o Código de Processo Penal estabelece que serão considerados documentos quaisquer
escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares. Em relação aos documentos em língua estrangeira,
eles:6
a) só poderão ser juntados aos autos, traduzidos ou não, mediante requerimento das partes.
b) sendo originários de órgãos públicos não necessitam de tradução, enquanto que os particulares deverão
sempre ser traduzidos.
c) só poderão ser juntados aos autos após necessariamente traduzidos por tradutor público ou pessoa idônea
nomeada pela autoridade.
d) poderão ser juntados aos autos, mas deverão ser posteriormente traduzidos por tradutor público ou pessoa
idônea nomeada pela autoridade.
e) poderão ser juntados aos autos, mesmo sem tradução, se a crivo do julgador esta se revele desnecessária e não
cause prejuízo às partes.

Art. 236.  Os documentos em língua estrangeira, sem prejuízo de sua juntada imediata, serão, se necessário,
traduzidos por tradutor público, ou, na falta, por pessoa idônea nomeada pela autoridade.
6
Gabarito: letra e.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
36

Havendo dúvida sobre letra ou assinatura, tratando-se de documento particular, realizar-se-á o exame
grafotécnico.

Art. 235.  A letra e firma dos documentos particulares serão submetidas a exame pericial, quando contestada a
sua autenticidade.

Tratando-se de documento público, estes gozam de presunção de veracidade, até que se prove o contrário.

Art. 237.  As públicas-formas só terão valor quando conferidas com o original, em presença da autoridade.

Se os documentos já foram juntados aos autos, podem ser desentranhados desde que não sejam imprescindíveis
ao processo, mas sempre ficará uma cópia nos autos.

Art. 238.  Os documentos originais, juntos a processo findo, quando não exista motivo relevante que justifique a
sua conservação nos autos, poderão, mediante requerimento, e ouvido o Ministério Público, ser entregues à
parte que os produziu, ficando traslado nos autos.

Requisitos do documento: Veracidade e autenticidade (o autor é aquele a quem se atribui o documento.


Documentos públicos têm presunção relativa de autenticidade). Como é relativa, pode ser objeto de incidente de
falsidade documental.

Autenticidade: um documento se reputa verdadeiro quando o conteúdo corresponder à realidade dos fatos,
inexistindo dúvida a respeito da autoria.

Autenticidade de documento particular: um documento particular é autêntico quando não houver dúvida a
respeito de sua autoria. Considera-se autêntico o documento assim reconhecido por oficial público ou prova
pericial.

Documentos protegidos pelo sigilo profissional: não serão juntados (EXEMPLO: ficha médica ou de escritório de
advocacia).

Obs.: parecer de jurista renomado não é prova documental. Não precisa nem abrir vista à parte contrária.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


37
7
9. BUSCA E APREENSÃO

Apesar de ser único meio de prova, as duas podem ser usadas em momentos distintos ou, simplesmente, uma ou
outra. Não é meio de prova. É meio de obtenção de prova. Sua finalidade não é obter elementos de prova, mas
sim fontes materiais de prova.

BUSCA – movimento praticado por agentes do Estado para investigação, descoberta e pesquisa de algo
interessante para DPP, realizando-se em coisas, pessoas ou lugares. Ex. perito ir tirar foto.

APREENSÃO – medida assecuratória que toma algo de alguém ou de algum lugar com a finalidade de preservar
direitos ou produzir provas, podendo ser domiciliar ou pessoal. Ex. criança sendo maltratada pelos pais na rua;
não precisa da busca, basta a apreensão. Pessoas podem ser apreendidas, ex. vítima drogada em cativeiro. Muitas
vezes são apreendidas coisas que servem de instrumento de prova.

OBS.: Pode haver apreensão sem busca? Sim, quando, por exemplo, a vítima, o agente policial, o próprio réu
(apresentação espontânea) ou a testemunha levam o objeto ou instrumento da infração penal à Polícia Judiciária.

Funções da apreensão: 1) Para restituir; 2) Para fazer prova.

Buscar é procurar. Apreender é pegar (apoderar-se, reter). A busca e a apreensão são possíveis tanto no inquérito
policial, quanto no processo. Quem determina? Autoridade judicial.
Mandado de busca e apreensão tem que ser ESPECÍFICO, o art. 243, CPP traz vários requisitos que devem ser
preenchidos para sua validade (nome, lugar, motivo e finalidade).

INFO 772
O juiz deferiu mandado de busca e apreensão tendo como alvo o escritório de um banco, localizado no 28º andar
de um prédio comercial. Quando os policiais chegaram para cumprir a diligência, perceberam que a sede do
banco ficava no 3º andar. Diante disso, entraram em contato com o juiz substituto que autorizou, por meio de
ofício sem maiores detalhes, a apreensão do HD na sede do banco. A 2ª Turma do STF declarou a ilegalidade da
apreensão por ausência de mandado judicial específico. STF. 2ª Turma. HC 106566/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 16/12/2014. O Min. Celso de Mello afirmou que os mandados de busca e apreensão não podem se
revestir de conteúdo genérico, nem ser omissos quanto à indicação do local objeto dessa medida extraordinária.

Art. 243.  O mandado de busca deverá:

7*
CAIU NA SEGUNDA FASE DA DPE ALAGOAS (2017) #CESPE.

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I - indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será realizada a diligência e o nome do respectivo
proprietário ou morador; ou, no caso de busca pessoal, o nome da pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais que a
identifiquem;
II - mencionar o motivo e os fins da diligência;
III - ser subscrito pelo escrivão e assinado pela autoridade que o fizer expedir.
§ 1o Se houver ordem de prisão, constará do próprio texto do mandado de busca.
§ 2o Não será permitida a apreensão de documento em poder do defensor do acusado, salvo quando constituir
elemento do corpo de delito. 

Art. 244.  A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando houver fundada suspeita de
que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou
quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar.

*#OUSESABER: O que se entende por doutrina da visão aberta?A doutrina da visão aberta, de origem norte-
americana, fundada no princípio da razoabilidade, pretende tornar legítima a apreensão de elementos
probatórios do fato investigado ou de outro crime, quando a despeito de não se tratar da finalidade visada pelo
mandado de busca e apreensão, no momento da realização da diligência, o objeto ou documento é encontrado
por estar a plena vista do agente policial.

*É lícita a apreensão, em escritório de advocacia, de drogas e de arma de fogo, em tese pertencentes a


advogado, na hipótese em que outro advogado tenha presenciado o cumprimento da diligência por solicitação
dos policiais, ainda que o mandado de busca e apreensão tenha sido expedido para apreender arma de fogo
supostamente pertencente a estagiário do escritório – e não ao advogado – e mesmo que no referido mandado
não haja expressa indicação de representante da OAB local para o acompanhamento da diligência. STJ. 5ª Turma.
RHC 39.412-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 3/3/2015 (Info 557).

*A apreensão de documentos no interior de veículo automotor constitui uma espécie de "busca pessoal" e,
portanto, não necessita de autorização judicial quando houver fundada suspeita de que em seu interior estão
escondidos elementos necessários à elucidação dos fatos investigados. Exceção: será necessária autorização
judicial quando o veículo é destinado à habitação do indivíduo, como no caso de trailers, cabines de caminhão,
barcos, entre outros, quando, então, se inserem no conceito jurídico de domicílio. STF. 2ª Turma. RHC 117767/DF,
Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 11/10/2016 (Info 843).

*Entrega voluntária de computador do órgão público para ser periciado em investigação.Autorização para
acesso de e-mails baixados no computador que foi objeto de busca e apreensão.Não há nulidade se, em
mandado de busca e apreensão, o titular do órgão entrega para ser periciado pela Polícia o computador utilizado

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pela chefia e, após esse fato, antes de a perícia ser iniciada, o magistrado responsável pela investigação autoriza a
diligência na máquina. Não há violação do sigilo de correspondência eletrônica se o magistrado autoriza a
apreensão e perícia de computador e nele estão armazenados os e-mails do investigado que, então, são lidos e
examinados. A proteção a que se refere o art. 5º, XII, da CF/88, é da 'comunicação de dados' e não dos 'dados em
si mesmos', ainda quando armazenados em computador. STF. 1ª Turma. RHC 132062/RS, rel. orig. Min. Marco
Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 29/11/2016 (Info 849).

*Em princípio, não se anula provas obtidas em busca e apreensão pelo fato de não terem sido lacrados os
materiais apreendidos. A ausência de lacre em todos os documentos e bens - que ocorreu em razão da grande
quantidade de material apreendido - não torna automaticamente ilegítima a prova obtida. STJ. 5ª Turma. RHC
59.414-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 27/6/2017 (Info 608)

10. BUSCA E APREENSÃO8

Art. 240.  A busca será domiciliar ou pessoal.


§ 1º Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões a autorizarem, para:
a) prender criminosos;
b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;
c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados ou contrafeitos;
d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados a fim delituoso; Armas
próprias e impróprias – não têm essa função, mas pode ser usada para tal.
e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu;
f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando haja suspeita de que o
conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação do fato;
g) apreender pessoas vítimas de crimes; Pode entrar sem autorização se for flagrante.
h) colher qualquer elemento de convicção.

É feita numa casa. O conceito de casa está no art. 150 do CP, é um conceito relacionado à habitação. A
abrangência do conceito é corroborada pelo art. 246 do CPP.

Art. 241.  Quando a própria autoridade policial ou judiciária não a realizar pessoalmente, a busca domiciliar
deverá ser precedida da expedição de mandado. ERROS: JUIZ NÃO REALIZA MAIS. DELEGADO PRECISA DE
AUTORIZAÇÃO JUDICIAL.

Art. 242.  A busca poderá ser determinada de ofício ou a requerimento de qualquer das partes.

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CAIU NA SEGUNDA FASE DA DPE ALAGOAS (2017) #CESPE.

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Trailer pode ser casa, cabine de caminhão pode ser casa. Carro não é casa (por isso que pode ser feita a busca
sem mandado judicial). Estabelecimento comercial aberto ao público não é considerado casa.

STJ – INFO 505:


DIREITO PROCESSUAL PENAL. BUSCA EM INTERIOR DE VEÍCULO. PRESCINDIBILIDADE DE MANDADO JUDICIAL.
Prescinde de mandado judicial a busca por objetos em interior de veículo de propriedade do investigado fundada
no receio de que a pessoa esteja na posse de material que possa constituir corpo de delito, salvo nos casos em
que o veículo é utilizado para moradia, como é o caso de cabines de caminhão, barcos, trailers. Isso porque, nos
termos do art. 244 do CPP, a busca nessa situação equipara-se à busca pessoal. HC 216.437-DF, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 20/9/2012.

Já a sede da empresa, o seu escritório privado, onde acham-se os documentos da empresa, é casa ( STF, RE
331.303, AgR-PR, rel. Min. Sepúlveda Pertence).

Art. 245.  As buscas domiciliares serão executadas de dia, salvo se o morador consentir que se realizem à noite, e,
antes de penetrarem na casa, os executores mostrarão e lerão o mandado ao morador, ou a quem o represente,
intimando-o, em seguida, a abrir a porta.
§ 1o Se a própria autoridade der a busca, declarará previamente sua qualidade e o objeto da diligência.
§ 2o Em caso de desobediência, será arrombada a porta e forçada a entrada.
§ 3o Recalcitrando o morador, será permitido o emprego de força contra coisas existentes no interior da casa,
para o descobrimento do que se procura.
§ 4o Observar-se-á o disposto nos §§ 2o e 3o, quando ausentes os moradores, devendo, neste caso, ser intimado
a assistir à diligência qualquer vizinho, se houver e estiver presente. MESMA COISA SE OS PRESENTES NÃO
TIVEREM CAPACIDADE DE CONSENTIR.
§ 5o Se é determinada a pessoa ou coisa que se vai procurar, o morador será intimado a mostrá-la.
§ 6o Descoberta a pessoa ou coisa que se procura, será imediatamente apreendida e posta sob custódia da
autoridade ou de seus agentes.
§ 7o Finda a diligência, os executores lavrarão auto circunstanciado, assinando-o com duas testemunhas
presenciais, sem prejuízo do disposto no § 4o.
Art. 246.  Aplicar-se-á também o disposto no artigo anterior, quando se tiver de proceder a busca em
compartimento habitado ou em aposento ocupado de habitação coletiva ou em compartimento não aberto ao
público, onde alguém exercer profissão ou atividade.

CP - Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de
quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:
§ 4º - A expressão "casa" compreende: (NORMA EXPLICATIVA)
I - qualquer compartimento habitado;
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II - aposento ocupado de habitação coletiva; (HOTEL, MOTEL, HOSPEDAGEM EM GERAL)
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade. (ESCRITÓRIOS)
§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa":
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do
parágrafo anterior;
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.

Busca domiciliar depende de mandado judicial (matéria sob reserva jurisdicional), a teor do art. 5º, XI, CF,
devendo o art. 241, CPP, ser interpretado à luz da CF/88. Busca pessoal, não necessariamente.

Atenção: matérias sob reserva de jurisdição (CPI não pode determinar tais medidas):
a) prisão, salvo flagrante (art. 5º, LXI, CF);
b) violação domiciliar (art. 5º, XI, CF);
c) interceptação das comunicações telefônicas (art. 5º, XII, CF). 9*
d) afastamento de sigilo de processos judiciais.

IMPORTANTE: Conquanto as autoridades fazendárias possuam poderes fiscalizatórios relacionados à


administração tributária (arts. 194 a 200, CTN), não podem, sob tal argumento, violar o domicílio do contribuinte
(art. 5º, XI, CF/88), exigindo-se para tanto a competente autorização judicial (STF: HC 82.788/RJ).

Notícia do STF: NEM MESMO AS AUTORIDADES FAZENDÁRIAS PODEM VIOLAR UM ESCRITÓRIO PROFISSIONAL
SEM AUTORIZAÇÃO JUDICIAL.  Não podem ingressar na parte do estabelecimento onde é equiparada a
domicílio. (RHC 90736 / RE 331.303)

HC 82788 STF E M E N T A: FISCALIZAÇÃO TRIBUTÁRIA - APREENSÃO DE LIVROS CONTÁBEIS E DOCUMENTOS


FISCAIS REALIZADA, EM ESCRITÓRIO DE CONTABILIDADE, POR AGENTES FAZENDÁRIOS E POLICIAIS FEDERAIS,
SEM MANDADO JUDICIAL - INADMISSIBILIDADE - ESPAÇO PRIVADO, NÃO ABERTO AO PÚBLICO, SUJEITO À
PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DA INVIOLABILIDADE DOMICILIAR (CF, ART. 5º, XI) - SUBSUNÇÃO AO CONCEITO
NORMATIVO DE "CASA" - NECESSIDADE DE ORDEM JUDICIAL - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E FISCALIZAÇÃO
TRIBUTÁRIA - DEVER DE OBSERVÂNCIA, POR PARTE DE SEUS ÓRGÃOS E AGENTES, DOS LIMITES JURÍDICOS
IMPOSTOS PELA CONSTITUIÇÃO E PELAS LEIS DA REPÚBLICA - IMPOSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO, PELO
MINISTÉRIO PÚBLICO, DE PROVA OBTIDA EM TRANSGRESSÃO À GARANTIA DA INVIOLABILIDADE DOMICILIAR -
PROVA ILÍCITA - INIDONEIDADE JURÍDICA - "HABEAS CORPUS" DEFERIDO. ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA -
FISCALIZAÇÃO - PODERES - NECESSÁRIO RESPEITO AOS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS DOS CONTRIBUINTES
E DE TERCEIROS.

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*CAIU NA SEGUNDA FASE DA DPE ALAGOAS (2017) #CESPE.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


42

Pode ser determinada de ofício ou a requerimento (art. 242, CPP).

ATENÇÃO: Para a instalação de equipamento necessário à captação e à interceptação ambiental de sinais


eletromagnéticos, óticos ou acústicos, a circunstanciada autorização judicial a que se refere o art. 2º, IV, Lei
9.034/95 (escuta ambiental), pode determinar a realização da diligência no período noturno, sob pena de se
frustrar a finalidade da medida, mormente quando se tratar de local com grande movimentação durante o dia
(Informativo 529 do STF: Inq. 2.424/RJ).

Finalidade: é possível para prender pessoas (art. 240, §1º, “a” e “g”, CPP) ou apreender objetos de interesse
criminal (art. 240 §1º, “b”, “c”, “d”, “e”, “f” e “h”, CPP).
Advogado: busca tem que ser acompanhada de representante da OAB. Se ele não for, a prova será lícita do
mesmo jeito. Não pode ser expedido de modo genérico, sem objeto definido.

Em regra, documento em poder do advogado do réu não pode ser apreendido, salvo:
a) Quando o documento é o corpo de delito do crime praticado pelo cliente (art. 243, § 2º, CPP). Ex.:
escritura falsa;
b) Quando o advogado é participante do crime, deixando, portanto, de ser (só) advogado (o advogado é o
investigado ou um dos investigados).

STJ: Info 495:


1) Configura excesso a instauração de investigações ou ações penais com base apenas em elementos
recolhidos durante a execução de medidas judiciais cautelares, relativamente a investigados que não eram,
inicialmente, objeto da ação policial.
2) Consoante o disposto nos §§ 6º e 7º do art. 7º do Estatuto da OAB, documentos, mídias e objetos
pertencentes a clientes do advogado averiguado, bem como demais instrumentos de trabalho que contenham
informações sobre clientes, somente poderão ser utilizados caso estes estejam sendo formalmente investigados
como partícipes ou coautores pela prática do mesmo crime que deu causa à quebra de inviolabilidade.

BUSCA E APREENSÃO. DOCUMENTOS. ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA. NOVA INVESTIGAÇÃO.


Cuida-se de habeas corpus no qual os impetrantes postulam o trancamento do inquérito policial devido à suposta
nulidade no procedimento, pelo fato de o inquérito ter sido originado de documentos apreendidos no escritório
do advogado do paciente em determinação judicial relativa a outra investigação. A Turma reafirmou que
configura excesso a instauração de investigações ou ações penais com base apenas em elementos recolhidos
durante a execução de medidas judiciais cautelares relativamente a investigados que não eram, inicialmente,
objeto da ação policial. Nesse tocante, destacou-se que os escritórios de advocacia, como também os de outros

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profissionais, não são impenetráveis à investigação de crimes. Entretanto, consignou-se queos documentos, as
mídias e os objetos pertencentes a clientes do advogado averiguado, bem como dos demais instrumentos de
trabalho que contenham informações sobre clientes somente poderão ser utilizados caso ele esteja sendo
formalmente investigado como partícipe ou coautor pela prática do mesmo crime que deu causa à quebra de
inviolabilidade (§ 7º do art. 7º da Lei n. 8.906/1994). In casu, o paciente não estava sendo formalmente
investigado e o crime ora apurado não guardava relação com o crime que originou a cautelar de busca e
apreensão (estelionato judiciário). Assim, a Turma concedeu em parte a ordem para afastar do inquérito policial
instaurado contra o paciente a utilização dos documentos obtidos por meio da busca e apreensão no escritório de
seu advogado. Precedente citado: HC 149.008-PR, DJe 9/8/2010. HC 227.799-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 10/4/2012.

Foto furtada do consultório de dentista pedófilo pode ser objeto de prova? STF reconheceu que se trata de prova
obtida por meio ilícito porque foi cometida mediante furto.
O mandado deve individualizar duas coisas: quem é o investigado; qual é o crime que está sendo investigado.

No que toca à busca domiciliar cabe distinguir o seguinte 10*:


(a) na hipótese de flagrante: pode-se ingressar em casa alheia, nesse caso, em qualquer dia e em qualquer hora,
com ou sem consentimento do morador e sem ordem judicial. Também no caso de desastre, prestação de
socorro ou com o consentimento do morador.
Qualquer situação de flagrância reconhecida pela lei brasileira (CPP, art. 302) permite a busca domiciliar, nos
termos que acabam de ser expostos;

(b) fora do flagrante: só é possível a busca domiciliar se houver consentimento do morador. E se o morador não
consentir? Nesse caso, é preciso fazer a seguinte distinção:

Durante o dia: com ordem judicial, ingressa-se na casa (tem que ser ordem judicial; não basta ordem
policial; de outro lado, se o juiz realiza a diligência pessoalmente, não necessita de ordem);

Durante a noite: diante do não consentimento do morador, jamais se pode ingressar em sua residência.
Nem com ordem judicial. Deve-se, nesse caso, cercar a casa e nela ingressar durante o dia. De qualquer
modo, saliente-se que a recusa do morador durante a noite não constitui nenhum delito. É seu direito
permitir ou não o ingresso de pessoas em sua casa. O que está autorizado pela CF (por uma norma), não
pode estar proibido por outra (tipicidade conglobante). Dia, para fins penais e processuais, compreende o
período das 6 às 18 h; noite vai das 18 às 6h 11. Jurisprudência fala no critério físico-astronômico (entre
nascimento e crepúsculo) – Brasileiro diz que prevalece na jurisprudência.

*CAIU NA SEGUNDA FASE DA DPE ALAGOAS (2017)! #CESPE


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*CAIU NA SEGUNDA FASE DA DPE ALAGOAS (2017)! #CESPE


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Pode a polícia iniciar a busca domiciliar pouco antes das 18 e avançar depois deste horário? Sim, desde que se
prove que iniciou antes das 18 horas – TRF e Brasileiro. Em regra, não pode.

A CPI não pode determinar a busca e apreensão, em razão da cláusula de reserva de jurisdição (STF, MS
23.452/RJ).
Deve ser feita pela Polícia Judiciária – civil e federal – e pelos oficiais de justiça.

*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #STF: Paulo Bernardo era investigado e o juiz de 1º grau determinou, contra ele,
busca e apreensão. Ocorre que Paulo Bernardo residia com a sua esposa, a Senadora Gleisi Hoffmann, em um
imóvel funcional cedido pelo Senado. Desse modo, a busca e apreensão foi realizada neste imóvel funcional. O
STF entendeu que esta prova foi ilícita (art. 5º, LVI, da CF/88) e determinou a sua inutilização e o
desentranhamento dos autos de todas as provas obtidas por meio da referida diligência. O Supremo entendeu
que a ordem judicial de busca e apreensão foi ampla e vaga, sem prévia individualização dos bens que seriam de
titularidade da Senadora e daqueles que pertenciam ao seu marido. Diante disso, o STF entendeu que o juiz, ao
dar essa ordem genérica, acabou por também determinar medida de investigação contra a própria Senadora.
Logo, como ela tinha foro por prerrogativa de função no STF (art. 102, I, “b”, da CF/88), somente o Supremo
poderia ter ordenado qualquer medida de investigação contra a parlamentar federal. Isso significa que o juiz de
1ª instância usurpou uma competência que era do STF. Reconheceu, por conseguinte, a ilicitude da prova obtida
(art. 5º, LVI, da CF/88) e de outras diretamente dela derivadas. STF. 2ª Turma. Rcl 24473/DF, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 26/6/2018 (Info 908).

*#DEOLHONAJURIS#DIZERODIREITO#STF #IMPORTANTE A determinação de busca e apreensão nas


dependências da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal pode ser decretada por juízo de 1ª instância se o
investigado não for congressista A Constituição, ao disciplinar as imunidades e prerrogativas dos parlamentares,
não conferiu exclusividade ao STF para determinar medidas de busca e apreensão nas dependências da Câmara
dos Deputados ou do Senado Federal. Assim, a determinação de busca e apreensão nas dependências do
Congresso Nacional, desde que não direcionada a apurar conduta de congressista, não se relaciona com as
imunidades e prerrogativas parlamentares. Isso porque, ao contrário do que ocorre com as imunidades
diplomáticas, as prerrogativas e imunidades parlamentares não se estendem aos locais onde os parlamentares
exercem suas atividades nem ao corpo auxiliar. O fato de o endereço de cumprimento da medida coincidir com as
dependências do Congresso Nacional não atrai, de modo automático e necessário, a competência do STF. É
necessário examinar, no caso concreto, se a investigação tinha congressista como alvo. O STF não detém
competência exclusiva para apreciação de pedido de busca e apreensão a ser cumprida no Congresso Nacional.
STF. Plenário. Rcl 25537/DF e AC 4297/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgados em 26/6/2019 (Info 945).

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Duplo juízo de validade de uma mesma prova Eventual nulidade decorrente da inobservância da prerrogativa de
foro não se estende aos agentes que não se enquadrem nessa condição. Ex: Polícia Federal investiga 5 pessoas
que não têm foro por prerrogativa de função; ocorre que havia indícios da participação de 3 Senadores; logo, essa
investigação criminal deveria ter a supervisão do STF, a quem competiria autorizar as medidas cautelares; isso,
contudo, não acontece; o juiz de 1ª instância autoriza a interceptação telefônica das 5 pessoas formalmente
investigadas; essa interceptação será considerada nula em relação aos 3 Senadores (por usurpação da
competência do STF), mas será válida para os 2 investigados sem foro. Assim, a usurpação da competência do STF
não contamina os elementos probatórios colhidos no que se refere aos investigados que não possuem foro por
prerrogativa de função. Podem ser utilizadas contra eles. STF. Plenário. Rcl 25537/DF e AC 4297/DF, Rel. Min.
Edson Fachin, julgados em 26/6/2019 (Info 945).
Mesmo que haja usurpação da competência do STF, os elementos informativos colhidos e que não precisavam de
autorização judicial são válidos Ex: Polícia Federal investiga 5 pessoas que não têm foro por prerrogativa de
função; ocorre que havia indícios da participação de 3 Senadores; logo, essa investigação criminal deveria ter a
supervisão do STF, a quem competiria autorizar as medidas cautelares; isso, contudo, não acontece; a Polícia
ouve uma série de testemunhas sobre o caso; esses depoimentos não serão anulados; isso porque se a prova
produzida não precisava de autorização judicial (como é o caso da mera oitiva de testemunhas), não há motivo
para que ela seja anulada. Em suma: mesmo que tenha sido usurpada a competência do STF para supervisionar o
inquérito, não deverão ser desconstituídos (anulados) os atos de investigação que não precisavam de autorização
judicial, como é o caso da tomada de depoimentos. Por outro lado, as provas que foram colhidas sem autorização
do STF (com decisão apenas do juízo de 1ª instância) deverão ser anuladas, mas essa anulação se aplica somente
para os agentes detentores de foro por prerrogativa (tais provas continuam válidas para os processos envolvendo
os investigados sem foro). STF. Plenário. Rcl 25537/DF e AC 4297/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgados em
26/6/2019 (Info 945).

11. BUSCA PESSOAL

Há duas espécies:

 Para fins de segurança: festas. Não é a que trata o CPP. Natureza contratual
Esclareça-se, de logo, que a busca pessoal de que ora se trata é a penal (para fins penais). Não se confunde com a
busca para fins de segurança, que é feita nas portas dos estádios, dos locais de espetáculos, das boates etc. Essa
busca para fim de segurança é legítima, desde que realizada dentro da razoabilidade (BECCARIA: ceder parte da
liberdade individual para permitir o gozo da liberdade coletiva). Não pode haver abuso. Quem não quer se
submeter a essa busca pessoal deve se retirar do local.

 Para efeitos de prova


É a busca feita em uma pessoa. Na linguagem popular, chama-se revista ou “blitz”.

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Finalidade: somente é possível para apreender objetos ocultados por pessoa, NÃO sendo possível para prender a
pessoa propriamente.

Condição: somente quando houver fundada suspeita de posse de armas ou objeto de interesse criminal. Quando
não existir fundada suspeita contra a pessoa, a recusa à busca (em ser revistado) não constitui o crime de
desobediência (CP, art. 330).

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA
A busca não pode ser abusiva. A falta de um motivo justo para a diligência configura violação a vários direitos
fundamentais (privacidade, intimidade. liberdade individual etc.). É arbitrária a atividade do policial quando diz
que decidiu pela busca porque o sujeito “estava vestindo um blusão”. A polícia não pode determinar a busca
pessoal com base em critérios puramente subjetivos. Sendo manifesta a ausência de justa causa para a
abordagem, não há crime de desobediência. A "fundada suspeita", prevista no art. 244 do CPP, não pode fundar-
se em parâmetros unicamente subjetivos, exigindo elementos concretos que indiquem a necessidade da revista,
em face do constrangimento que causa. Ausência, no caso, de elementos dessa natureza, que não se pode ter por
configurados na alegação de que trajava, o paciente, um "blusão" suscetível de esconder uma arma, sob risco de
referendo a condutas arbitrárias ofensivas a direitos e garantias individuais e caracterizadoras de abuso de poder
(STF, Primeira Turma, HC 81.305, Ilmar Galvão, j. 13.11.01, v.u.).

A revista pessoal está dentro do Poder da Polícia, mas deve ser explicado o motivo para o cidadão, sem
humilhação e abuso. Essa medida amplia o poder discricionário da Polícia na investigação. Para revista de carro,
obedece-se à mesma regra da revista pessoal, que pode ocorrer se houver suspeita de porte de armas e drogas,
sem mandado. Mas se precisar olhar a tatuagem para identificação é preciso o mandado de busca????
Em regra, quando possível, a busca em mulher deve ser efetuada por outra mulher (art. 249 do CPP).
Em regra, é necessário mandado judicial ou ordem policial para a busca pessoal (art. 244 do CPP). Exceções:
a) quando é a própria autoridade que faz a busca;
b) se a pessoa vem a ser presa;
c) durante a busca domiciliar;
d) quando houver fundada suspeita de posse de arma ou objetos do corpo de delito.

Art. 250, CPP – Busca pessoal que penetra no território de jurisdição alheia: possível quando a autoridade e seus
agentes forem no seguimento de pessoa ou coisa nas hipóteses previstas no §1º do art. 250, CPP.

Busca Pessoal Penal:

Art. 240.  A busca será domiciliar ou pessoal. (...)

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§ 2o Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada suspeita de que alguém oculte consigo arma proibida
ou objetos mencionados nas letras b a f e letra h do parágrafo anterior.
b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;
c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados ou contrafeitos;
d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados a fim delituoso;
e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu;
f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando haja suspeita de que o
conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação do fato;
h) colher qualquer elemento de convicção.

Da Busca e da Apreensão

Art. 247.  Não sendo encontrada a pessoa ou coisa procurada, os motivos da diligência serão comunicados a
quem tiver sofrido a busca, se o requerer.     

Art. 248.  Em casa habitada, a busca será feita de modo que não moleste os moradores mais do que o
indispensável para o êxito da diligência.        
Art. 249.  A busca em mulher será feita por outra mulher, se não importar retardamento ou prejuízo da diligência.
Art. 250.  A autoridade ou seus agentes poderão penetrar no território de jurisdição alheia, ainda que de outro
Estado, quando, para o fim de apreensão, forem no seguimento de pessoa ou coisa, devendo apresentar-se à
competente autoridade local, antes da diligência ou após, conforme a urgência desta.
§ 1o Entender-se-á que a autoridade ou seus agentes vão em seguimento da pessoa ou coisa, quando:
a) tendo conhecimento direto de sua remoção ou transporte, a seguirem sem interrupção, embora depois a
percam de vista;
b) ainda que não a tenham avistado, mas sabendo, por informações fidedignas ou circunstâncias indiciárias, que
está sendo removida ou transportada em determinada direção, forem ao seu encalço.
§ 2o Se as autoridades locais tiverem fundadas razões para duvidar da legitimidade das pessoas que, nas referidas
diligências, entrarem pelos seus distritos, ou da legalidade dos mandados que apresentarem, poderão exigir as
provas dessa legitimidade, mas de modo que não se frustre a diligência.

12. PROVA TESTEMUNHAL

Exceções:
a) Parentes do réu: as relações familiares nunca seriam colocadas em segundo plano para a administração
da justiça prevalecer. O rol de parentesco vem prefixado em lei, mas existe uma única circunstância em que o
parente do réu é obrigado a testemunhar, é o caso em que a testemunha for o único meio de prova. Porém,
nesse caso, quando obrigados a funcionar como testemunhas, não serão compromissados a dizer a verdade, isso
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
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significa que não cometerão o crime de falso testemunho. Os parentes da vítima não se submetem a essa
prerrogativa, funcionando regularmente como testemunha e assumindo o compromisso de dizer a verdade.

b) Proibições em razão da profissão, função ou ministério que desempenham: há uma incompatibilidade


lógica. Referem-se a fatos pretéritos. Contudo, podem funcionar, se forem desimpedidas e autorizadas pelo
interessado e se assim desejarem. Nessa hipótese, assumem o compromisso de dizer a verdade e se mentirem
praticam o crime de falso testemunho.

i. Laudadores (testemunhas de beatificação): são as testemunhas que prestam declaração sobre os


antecedentes do réu.
ii. Testemunhas da coroa: são os agentes infiltrados nas facções criminosas (Lei nº 9.434/95) que acabam
funcionando como verdadeiras testemunhas privilegiadas, em razão da proximidade com o fato criminoso.

*#OUSESABER: A hearsay witness (testemunha por assim dizer) pode ser conceituada como a testemunha que
não teve contato direto com a coisa ou fato discutido no processo, mas que somente “ouviu dizer” de outras
pessoas sobre o que de fato ocorreu, sendo que, a partir daí, ingressa no processo, na qualidade de
“testemunha”, e reproduz em juízo o que ouviu de terceiros.De acordo com Gustavo Badaró, as regras
probatórias em geral, especialmente a proibição do testemunho de “ouvir dizer”, têm origem no Direito anglo-
americano, em meados do século XVIII, quando, diante das regras de exclusão, inadmitia-se a hearsay witness,
com base na pressuposta supervalorização que o julgador poderia fazer de sua oitiva, em especial, no Tribunal do
Júri. Desse modo, desde a sua origem, a hearsay witness não era admitida, tendo em vista que a ausência de uma
testemunha sem conhecimento direto dos fatos inviabiliza o exercício do direito de defesa e torna impossível o
cross-examination, comprometendo, assim, a qualidade do interrogatório.

A 6ª turma do STJ, no RESP 1.373.356/BA, DJ de 28.04.2017, entendeu que "o testemunho por ouvir dizer
(hearsay rule), produzido somente na fase inquisitorial, não serve como fundamento exclusivo da decisão de
pronúncia, que submete o réu a julgamento pelo Tribunal do Júri".

*O testemunho por ouvir dizer (hearsay rule), produzido somente na fase inquisitorial, não serve como
fundamento exclusivo da decisão de pronúncia, que submete o réu a julgamento pelo Tribunal do Júri. STJ. 6ª
Turma. REsp 1.373.356-BA, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/4/2017 (Info 603).

*#DEOLHONAJURIS #STF: Na fase de defesa prévia, o réu arrolou uma série de testemunhas, mas o juiz negou a
oitiva afirmando que o requerimento seria protelatório, haja vista que as testemunhas não teriam, em tese,
vinculação com os fatos criminosos imputados. O STF entendeu que houve constrangimento ilegal. O direito à
prova é expressão de uma inderrogável prerrogativa jurídica, que não pode ser, arbitrariamente, negada ao

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réu. O princípio do livre convencimento motivado (art. 400, § 1º, do CPP) faculta ao juiz o indeferimento das
provas consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias. No entanto, no caso concreto houve o
indeferimento de todas as testemunhas de defesa. Dessa forma, houve ofensa ao devido processo legal, visto que
frustrou a possibilidade de o acusado produzir as provas que reputava necessárias à demonstração de suas
alegações. STF. 2ª Turma. HC 155363/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 8/5/2018 (Info 891).

Número de testemunhas é contado para cada réu e para cada fato criminoso!

Procedimento

A testemunha tem o dever de dizer a verdade, não podendo calar a verdade ou negar a verdade, sob pena de
responsabilidade criminal por falso testemunho (art. 342, CP). Muito se discute sobre o flagrante quanto ao falso
testemunho. Se a testemunha se retratar antes da sentença ser proferida no processo em que ela mentiu,
ocorrerá a extinção da punibilidade pelo falso testemunho. Logo, uma vez proferida a sentença, como não mais
cabe retratação, o juiz oficiará a polícia para apuração do falso testemunho. Por sua vez, se o juiz profere
sentença na mesma audiência em que a testemunha mentiu, caberá autuação em flagrante pelo falso
testemunho.

Outra obrigação da testemunha é comparecer em juízo. Quais são as consequências se ela não comparecer?
Nesse caso caberá condução coercitiva 12, será responsabilizada por desobediência, caberá multa (o Código Penal
prevê, mas não foi atualizada monetariamente, sendo inexequível) e pagará as custas da diligência. O CPC não faz
a previsão da responsabilidade por crime de desobediência.

Oralidade

Algumas autoridades têm a prerrogativa de prestar testemunho por escrito, em razão da alta envergadura do
cargo.

Quanto à oralidade, prevalece a palavra falada, mas nada impede que a testemunha consulte apontamentos.
Devemos destacar as seguintes situações especiais:

1. Surdo e/ou mudo: nesse caso, o depoimento será adaptado a necessidade especial do depoente;
2. Estrangeiro: nesse caso, o depoimento é realizado por meio de intérprete, salvo, segundo a
jurisprudência, quando a língua é muito próxima a nossa.

#FICADEOLHO: Caiu na 2ª fase da DPU – 2017 (CESPE).


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3. Prerrogativa funcional: as autoridades apontadas no §1º do art. 221, CPP, em razão da importância do
cargo, prestam testemunho por escrito.

Segundo o STF, na Súmula 155, se as partes não forem intimadas da expedição da carta precatória haverá
nulidade relativa.

Se a testemunha é enferma ou idosa, tendo dificuldade de locomoção, será ouvida onde estiver. É um critério de
humanização da postura do juiz.

Situações especiais:
i. O caput do art. 221, CPP, apresenta um rol de autoridades que, em razão da importância do cargo ou da
função desempenhada, poderão agendar local, dia e hora para prestar depoimento;
ii. Funcionário público: ele será intimado pessoalmente, mas o chefe da repartição também será
comunicado para que tome providências em homenagem ao princípio da continuidade do serviço público.
iii. Militar: o militar será requisitado ao seu superior em respeito à hierarquia militar.

Filtro judicial: o juiz pode vetar, eventualmente, pergunta da parte que seja impertinente, que já tenha sido
respondida ou que possa induzir a resposta.

O termo de declaração será assinado pelo juiz, pelas partes e pela testemunha. E na impossibilidade de ela
assinar, haverá assinatura a rogo (alguém assina por ela).

Conclusões Procedimentais:
a) O depoimento testemunhal é essencialmente narrativo e a testemunha não deve apresentar as suas
opiniões pessoais, salvo se forem indissociáveis da narrativa fática;
b) A autoridade deve promover o registro de forma fidedigna para que o depoimento não seja subvertido;
c) Produção antecipada de provas: em razão da enfermidade ou velhice a testemunha pode ser
antecipadamente ouvida, resguardando-se assim o conteúdo do depoimento.

*OBS. Existe um argumento no sentido de que se as testemunhas forem policiais, deverá haver autorizada a sua
oitiva como prova antecipada, considerando que os policiais lidam diariamente com inúmeras ocorrências e, se
houvesse o decurso do tempo, eles iriam esquecer dos fatos. Esse argumento é aceito pela jurisprudência? A
oitiva das testemunhas que são policiais é considerada como prova urgente para os fins do art. 366 do CPP?
1ª corrente: SIM. O fato de o agente de segurança pública atuar constantemente no combate à criminalidade faz
com que ele presencie crimes diariamente. Em virtude disso, os detalhes de cada uma das ocorrências acabam se
perdendo em sua memória. Existem vários precedentes do STJ nesse sentido.

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2ª corrente: NÃO. Não serve como justificativa a alegação de que as testemunhas são policiais responsáveis pela
prisão, cuja própria atividade contribui, por si só, para o esquecimento das circunstâncias que cercam a apuração
da suposta autoria de cada infração penal. STF. 2ª Turma. HC 130038/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
3/11/2015 (Info 806).

*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ: É cabível recurso em sentido estrito para impugnar decisão que
indefere produção antecipada de prova, nas hipóteses do art. 366 do CPP. As hipóteses de cabimento de recurso
em sentido estrito estão previstas no art. 581 do CPP, sendo esse um rol taxativo (exaustivo). No entanto, apesar
disso, é admitida a interpretação extensiva dessas hipóteses legais de cabimento. Se você observar as situações
ali elencadas, verá que não existe a previsão de recurso em sentido estrito contra a decisão que indefere o pedido
de produção antecipada de provas. Apesar disso, será possível a interposição de RESE contra essa decisão com
base no inciso XVI do art. 581: “Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: XVI - que
ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial;” A decisão que indefere a produção
antecipada de provas com base no art. 366 deve ser encarada, para fins de recurso, como sendo uma decisão que
“ordena a suspensão do processo” e, além disso, determina se haverá ou não a produção das provas. Logo,
enquadra-se no inciso XVI do art. 581 do CPP. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.630.121-RN, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, julgado em 28/11/2018 (Info 640).

Dispõe o art. 202 do CPP que “toda pessoa poderá ser testemunha”. Testemunha é uma terceira pessoa (não é a
vítima nem o acusado) que depõe sobre um fato. O valor probatório da prova testemunhal é relativo (como todas
as provas). Podem depor menores de 18 anos, doentes e deficientes.

A testemunha deve ser identificada pelo juiz. Se ocorrer dúvida sobre a identidade da testemunha, o juiz
procederá à verificação pelos meios ao seu alcance, podendo, entretanto, tomar-lhe o depoimento desde logo
(art. 205 do CPP).

1. Características:

a) judicialidade: tecnicamente, a prova testemunhal que possui valor probatório é a produzida em juízo, sendo
que havendo divergência entre a inquirição na fase policial e na fase judicial, prevalece esta. Art. 215.  Na redação
do depoimento, o juiz deverá cingir-se, tanto quanto possível, às expressões usadas pelas testemunhas,
reproduzindo fielmente as suas frases.

b) oralidade: o depoimento só deve ser prestado verbalmente, não sendo permitido à testemunha trazê-lo por
escrito, salvo consulta a apontamentos (parágrafo único do art. 204 do CPP). Exceções: mudo, Presidente da

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República e outras autoridades, que devem ou podem depor por escrito (CPP, art. 221, § 1º). Somente o
Presidente do STF e não todos os ministros.

Art. 216.  O depoimento da testemunha será reduzido a termo, assinado por ela, pelo juiz e pelas partes. Se a
testemunha não souber assinar, ou não puder fazê-lo, pedirá a alguém que o faça por ela, depois de lido na
presença de ambos.
§ 1o  O Presidente e o Vice-Presidente da República, os presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados
e do Supremo Tribunal Federal poderão optar pela prestação de depoimento por escrito, caso em que as
perguntas, formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz, Ihes serão transmitidas por ofício.

“A produção da prova testemunhal é complexa, envolvendo não só o fornecimento do relato, oral, mas também,
o filtro de credibilidade das informações apresentadas. Assim, não se mostra lícita a mera leitura pelo magistrado
das declarações prestadas na fase inquisitória, para que a testemunha, em seguida, ratifique-a”. (STJ, HC
183.696/ES)

c) objetividade: a testemunha deve depor a respeito de fatos, sem externar opiniões ou emitir juízos valorativos.
Art. 213.  O juiz não permitirá que a testemunha manifeste suas apreciações pessoais, salvo quando inseparáveis
da narrativa do fato.

d) retrospectividade: o testemunho deve versar sobre fatos passados. Testemunha não tem que fazer previsões
sobre o futuro, nem dizer o que “acha” que vai acontecer.

e) contraditoriedade: a testemunha está sujeita a perguntas pelas partes, sendo que no Júri é feita diretamente
(artigo 467 do CPP). Atualmente, também é realizada diretamente no procedimento comum (art. 212), tendo sido
adotado o sistema do “Cross Examination”. OBS: Inversão da ordem de perguntas estabelecida no art. 212, CPP,
caracteriza nulidade relativa, a depender de comprovação do prejuízo e alegação oportuna, sob pena de
preclusão (STF: HC 103.525/PE; STJ: AgRg no HC 238.263/RS). No mesmo sentido: STF, Segunda Turma. RHC
110623/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 13.3.2012.

STJ: Info 496: INOBSERVÂNCIA DA ORDEM DE INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHAS.A inobservância da ordem de


inquirição de testemunhas prevista no art. 212 do CPP é causa de nulidade relativa, ou seja, o reconhecimento do
vício depende de arguição em momento oportuno e comprovação do prejuízo para a defesa.. Precedente citado
do STF: HC 87.926-SP, DJe 24/4/2008. HC 212.618-RS, Rel. originário Min. Og Fernandes, Rel. para acórdão Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/4/2012.

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Importante!!! Não gera nulidade do processo o fato de, em audiência de instrução, o magistrado, após o registro
da ausência do representante do MP (que, mesmo intimado, não compareceu), complementar a inquirição das
testemunhas realizada pela defesa, sem que o defensor tenha se insurgido no momento oportuno nem
demonstrado efetivo prejuízo. STJ. 6ª Turma. REsp 1.348.978-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Rel. para acórdão
Min. Nefi Cordeiro, julgado em 17/12/2015 (Info 577). O juiz continua tendo a possibilidade de formular
perguntas às testemunhas, a fim de complementar a inquirição, na medida em que o próprio CPP lhe incumbe do
dever de se aproximar o máximo possível da realidade dos fatos (princípio da verdade real e do impulso oficial), o
que afasta o argumento de violação ao sistema acusatório. Na hipótese em análise, a oitiva das testemunhas pelo
magistrado, de fato, obedeceu à exigência de complementaridade, nos termos do que determina o art. 212 do
CPP, pois somente ocorreu após ter sido registrada a ausência do Parquet e dada a palavra à defesa para a
realização de seus questionamentos. Vale ressaltar, ainda, que a jurisprudência do STJ se posiciona no sentido de
que eventual inobservância ao disposto no art. 212 do CPP gera nulidade meramente relativa, sendo necessário,
para reconhecimento, a alegação no momento oportuno e a comprovação do efetivo prejuízo. Assim, ainda que
tivesse havido prejuízo, como não foi arguido pela defesa na audiência, restou caracterizada a preclusão.

f) individualidade: cada testemunha é ouvida separadamente das demais. Art. 210.  As testemunhas serão
inquiridas cada uma de per si, de modo que umas não saibam nem ouçam os depoimentos das outras, devendo o
juiz adverti-las das penas cominadas ao falso testemunho.

*A antecipação da prova testemunhal prevista no art. 366 do CPP pode ser justificada como medida necessária
pela gravidade do crime praticado e possibilidade concreta de perecimento, haja vista que as testemunhas
poderiam se esquecer de detalhes importantes dos fatos em decorrência do decurso do tempo. Além disso, a
antecipação da oitiva das testemunhas não traz nenhum prejuízo às garantias inerentes à defesa. Isso porque
quando o processo retomar seu curso, caso haja algum ponto novo a ser esclarecido em favor do réu, basta que
seja feita nova inquirição. STF. 2ª Turma. HC 135386/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 13/12/2016 (Info 851).

2. Tipos de testemunhas:

 Direta: ocorre quando a testemunha depõe sobre fatos que viu, que presenciou (essa é a testemunha de
visu).
 Indireta: ocorre quando a testemunha depõe sobre fato que ouviu dizer (testemunha de auditu).
 Própria: é a que depõe sobre os fatos, ou seja, depõe sobre o objeto principal do litígio, sobre o
themaprobandum.
 Imprópria ou instrumentária ou fedatária: é a testemunha que depõe sobre a regularidade de um ato, ou
seja, são as testemunhas que confirmam a autenticidade de um ato processual realizado. Depõem, portanto,

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sobre a regularidade de atos que presenciaram, não sobre os fatos que constituem o objeto principal do
julgamento. São, por exemplo, as testemunhas instrumentárias do interrogatório extrajudicial (art.6º, V, parte
final, do CPP), do auto de prisão em flagrante (art. 304, § 2º e 3º, do CPP) etc.
 Numerárias ou numéricas: são as testemunhas arroladas pelas partes de acordo com o número máximo
previsto em lei e que prestam compromisso. Entram no número legal possível e não podem ser recusadas pelo
juiz, exceto nas proibições legais.
 Extranuméricas: são aquelas ouvidas por iniciativa do juiz, sem que tenham sido arroladas pelas partes.
Podem ou não prestar compromisso, conforme cada caso. São também denominadas testemunhas do juízo;
Art. 209.  O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras testemunhas, além das indicadas pelas partes.
§ 1o Se ao juiz parecer conveniente, serão ouvidas as pessoas a que as testemunhas se referirem.
§ 2o Não será computada como testemunha a pessoa que nada souber que interesse à decisão da causa.
 Informante: é a testemunha que não presta compromisso.Ex.: arts. 206 e 208, CPP).
 Referida: é a testemunha que foi mencionada, indicada ou referida por outra testemunha em seu
depoimento (art. 209, § 1º, do CPP) ou por qualquer outra pessoa ouvida em juízo. São ouvidas como
testemunhas do juízo.
 Testemunha da coroa ou infiltração (tráfico de drogas e crime organizado): agente infiltrado que obtém
informações sobre determinado crime (organização criminosa ou sobre tráfico de entorpecentes).
 Laudadores/testemunha de beatificação/abonatórias: abonam a conduta pretérita do infrator.
 Inócua: testemunha que nada sabe a respeito da causa (art. 209, §2º, CPP).
 Testemunhas remotas – videoconferência.
 Depoimento ad perpetuam rei memoriam: Art. 225.  Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou,
por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá,
de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o depoimento.
 Testemunhas anônimas: não são reveladas ao defensor nem ao acusado. Aqui no Brasil a restrição pode
ser feita apenas em relação ao acusado.
 Testemunhas ausentes: prestaram depoimento no inquérito, mas não podem em juízo. Morreram. Valer
o depoimento no inquérito? Em regra não. exceção: 1. Acusado deu causa ao seu desaparecimento. 2. Colheita
antecipada de provas.

4. Deveres das testemunhas:

→ Dever de depor: em regra, todas as testemunhas devem depor, sob pena de crime de desobediência (art. 330
do CP).

[Em regra, a testemunha não tem direito ao silêncio. Exceção: quando inquirida a respeito de fato que possa lhe
incriminar, a testemunha tem direito de ficar em silêncio.

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Exceções:

A) art. 207 do CPP: sigilo profissional: Trata-se de limite/restrição à liberdade de provas. As pessoas que, em razão
de função (pública ou por encargo judicial), ministério (religioso), ofício (atividade que exige habilidade manual)
ou profissão (atividade exercida com fim de lucro), devam guardar segredo, salvo se desobrigadas pela parte
interessada e quiserem dar o seu testemunho. Portanto, quem tem o dever de guardar segredo não pode depor.
Ex: advogado, padre etc.

No conflito entre o sigilo e a verdade real, o CPP escolhe o sigilo.

Atenção: muitas delas, mesmo quando desobrigadas, não podem depor em razão de normas profissionais ou
éticas. Ex: advogados (Estatuto da advocacia) e padres (Direito canônico).
Todos os documentos profissionais estão protegidos pelo sigilo. Ex: fichas médicas.
Documentos em poder dos advogados podem ser apreendidos? Podem, desde que constituam o corpo de delito,
ou seja, documento que faz parte da prova do crime. Documentos do advogado ou do cliente? Desde que
constituam o corpo de delito (art. 243, § 2º, CPP).
Os jornalistas têm direito ao sigilo da fonte, de acordo com a CF, o que não significa que não vão depor, ou seja,
eles vão depor, só não precisam dizer de onde veio a informação. [Há uma exceção prevista no direito das Cortes
Européias, na qual o jornalista tem que ceder.] EX: para provar a inocência do réu, o sigilo jornalístico deve ceder,
em decorrência do princípio da proporcionalidade.
Se juiz e promotor são testemunhas, não podem exercer as suas atividades no processo, há um impedimento
claríssimo.
Corréu não pode ser testemunha no mesmo processo. O réu fala no momento do interrogatório.
Policial que participou da prisão pode ser testemunha normalmente, é evidente que o juiz dará o valor devido a
essa prova.

B) Art. 206 do CPP. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Poderão, entretanto, recusar-se a
fazê-lo o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, o irmão e o pai, a
mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a
prova do fato e de suas circunstâncias.
Os parentes do réu não são obrigados a depor, tendo o direito de se recusarem a fazê-lo, salvo se não houver
outra forma de se comprovar o fato. Portanto, as pessoas elencadas no art. 206 podem eximir-se de depor:
ascendente, descendente, afim em linha reta, cônjuge (ou COMPANHEIRO), irmão, pai, mãe e filho adotivo do
acusado. (Os parentes da vítima vão depor normalmente).

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Caso optem por prestar depoimento, fá-lo-ão sem compromisso, devendo ser ouvidas como simples
INFORMANTES DO JUÍZO. Também não prestam compromisso os “doentes e deficientes mentais e os menores
de 14 anos”. (art. 208).

Art. 208.  Não se deferirá o compromisso a que alude o art. 203 aos doentes e deficientes mentais e aos menores
de 14 (quatorze) anos, nem às pessoas a que se refere o art. 206.

C) Parlamentares: não são obrigados a depor sobre fatos que tomaram conhecimento no exercício da profissão
(artigo 53 da CF de 88, também aplicável aos deputados estaduais).

Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e
votos. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001)
§ 6º Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em
razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001)

D) Imunidade diplomática: quem possui imunidade diplomática somente presta depoimento como testemunha se
quiser, não podendo ser conduzido coercitivamente.
→ Dever de comparecimento: a testemunha, quando regularmente intimada, deve comparecer ao ato judicial
designado para sua oitiva.

Art. 218.  Se, regularmente intimada, a testemunha deixar de comparecer sem motivo justificado, o juiz poderá
requisitar à autoridade policial a sua apresentação ou determinar seja conduzida por oficial de justiça, que poderá
solicitar o auxílio da força pública.

Art. 219. O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a multa prevista no art. 453, sem prejuízo do processo penal
por crime de desobediência, e condená-la ao pagamento das custas da diligência. (L 6.416, de 24.5.1977)

Art. 225.  Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de
que ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento de qualquer das
partes, tomar-lhe antecipadamente o depoimento.

Exceções:
A) art. 220 do CPP: pessoa enferma, ou muito idosa; pessoa que não pode se locomover. O juiz desloca-se até
onde está a testemunha, levando toda a estrutura para o registro do ato e garantindo o contraditório (presença
de advogado e do MP). Transformar o local em sala de audiência, garantindo a publicidade.

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Art. 220.  As pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou por velhice, de comparecer para depor, serão
inquiridas onde estiverem.

B) Art. 221 do CPP: Presidente da República, Vice-Presidente da República, Governador de Estado etc.: estas
autoridades se entendem com o juiz e marcam a hora, local e dia para serem ouvidas, o juiz vai até onde as
testemunhas solicitarem, levando toda a estrutura necessária: O Presidente e o Vice-Presidente da República, os
senadores e deputados federais, os ministros de Estado, os governadores de Estados e Territórios, os secretários
de Estado, os prefeitos do Distrito Federal e dos Municípios, os deputados às Assembléias Legislativas Estaduais,
os membros do Poder Judiciário, os ministros e juízes dos Tribunais de Contas da União, dos Estados, do Distrito
Federal, bem como os do Tribunal Marítimo serão inquiridos em local, dia e hora previamente ajustados entre
eles e o juiz. 
§ 1o O Presidente e o Vice-Presidente da República, os presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados
e do Supremo Tribunal Federal poderão optar pela prestação de depoimento por escrito, caso em que as
perguntas, formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz, Ihes serão transmitidas por ofício. (L6.416/77)
§ 2o Os militares deverão ser requisitados à autoridade superior.   (Lei nº 6.416, de 24.5.1977)
§ 3o Aos funcionários públicos aplicar-se-á o disposto no art. 218, devendo, porém, a expedição do mandado ser
imediatamente comunicada ao chefe da repartição em que servirem, com indicação do dia e da hora marcados. 
(Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)

Obs.: se não indicar dia e hora e não comparecer ou não indicar – perde a prerrogativa.

C) Art. 222 do CPP: testemunha que mora fora da comarca (“prova fora da terra”). É ouvida por meio de Carta
Precatória (delegação de competência do juízo processante – deprecante, para o juízo onde a testemunha está
domiciliada - juízo deprecado, devendo este último colher o depoimento). Caso esteja no estrangeiro, é ouvida
por meio de Carta Rogatória. Quando o Tribunal designar a oitiva de testemunha, é ouvida por meio de Carta de
Ordem.

Art. 222.  A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de sua residência,
expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, intimadas as partes.
§ 1o A expedição da precatória não suspenderá a instrução criminal.
§ 2o Findo o prazo marcado, poderá realizar-se o julgamento, mas, a todo tempo, a precatória, uma vez
devolvida, será junta aos autos.
§ 3o Na hipótese prevista no caput deste artigo, a oitiva da testemunha poderá ser realizada por meio de
videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, permitida a
presença do defensor e podendo ser realizada, inclusive, durante a realização da audiência de instrução e
julgamento.

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Art. 222-A. As cartas rogatórias só serão expedidas se demonstrada previamente a sua imprescindibilidade,
arcando a parte requerente com os custos do envio. – É CONSTITUCIONAL EXIGIR A IMPRESCINDIBILIDADE
Parágrafo único. Aplica-se às cartas rogatórias o disposto nos §§ 1 o e 2odo art. 222 deste Código.

*#OUSESABER: Ainda que não tenha terminado o prazo para cumprimento da carta precatória para oitiva da
testemunha de defesa, o Juiz pode julgar o processo, visto que este não está suspenso. Certo ou errado? Errado.
De fato, conforme exposto na assertiva, o envio da carta precatória não enseja a suspensão do processo, nos
moldes exposto pelo art.222, §1º, do Código de Processo Penal, podendo o feito ter regular processamento, com
a realização da audiência de instrução e até oferecimento de alegações finais de ambas as partes. No entanto, o
art.222, §2º, do Código de Processo Penal prever que o Juiz só poderá julgar o processo quando findar o prazo
estipulado para o cumprimento da precatória. Como na assertiva se afirma que ainda não terminou o prazo para
cumprimento da precatória, o processo não pode ser julgado.

É evidente que a Justiça Federal pode delegar a função de oitiva para juiz estadual.

Quando se expede uma Carta Precatória, é imprescindível a intimação das partes. Intima-se da expedição, não da
data da audiência (Súmula 273 do STJ; STF, HC 104.767/BA). Ocorre que, ainda que não haja a intimação da
expedição, a nulidade daí decorrente é meramente relativa (Súmula 155 do STF), dependendo de comprovação
do prejuízo e arguição oportuna, sob pena de preclusão.

PROCESSO PENAL. MANDADO DE SEGURANÇA. CARTA PRECATÓRIA. INTIMAÇÃO DA DEFESA NO JUÍZO


DEPRECADO. SÚMULA Nº 273 DO STJ. 1. Não há disposição legal determinando a intimação das partes - inclusive
da Defensoria Pública da União - pelo juízo deprecado quanto à data e horário da audiência. A obrigatoriedade de
intimação se refere unicamente à expedição da carta precatória, consoante expressamente previsto no artigo
222, caput, do CPP. 2. É atribuição da defesa, inclusiva da DPU, acompanhar a tramitação da precatória perante o
juízo deprecado, a fim de tomar conhecimento da data da realização do ato. 3. Aplicabilidade, in casu, da Súmula
nº 273 do STJ. (TRF4 5016844-68.2012.404.0000, Sétima Turma, Relatora p/ Acórdão Salise Monteiro Sanchotene,
D.E. 14/12/2012)

*#SELIGA: Exceção à Súmula 273: se o réu for assistido da Defensoria Pública e, na sede do juízo deprecado, a
Instituição estiver instalada e estruturada, será obrigatória a intimação da Defensoria Pública acerca do dia do ato
processual designado, sob pena de nulidade.

O acusado preso tem direito de ir até o juízo deprecado? Sim, desde que haja requerimento.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


59
A expedição de precatória não suspende o andamento do processo, mesmo que passado o prazo para o
cumprimento dela. Expirado o prazo, o processo terá seguimento normal. O juiz pode sentenciar mesmo sem a
precatória (art. 222, § 2º).

Art. 222, §3º, CPP – possibilidade de oitiva de testemunha que mora fora da jurisdição por meio de
videoconferência.

Quando uma testemunha é pessoal e regularmente intimada, mas não comparece, o juiz pode estabelecer as
seguintes sanções:

- mandar conduzir coercitivamente (polícia civil, polícia militar ou o oficial de justiça) (condução sob vara) 13;

- aplicar multa (de 5 a 50 centavos: multa não atualizada monetariamente; não tem valor na prática);

- impor o pagamento das diligências a ela;

- mandar processar por crime de desobediência (diferente do CRIME DE RESISTÊNCIA, que tem violência ou
ameaça contra o funcionário ou quem o auxilie).

→ Dever de prestar compromisso: em regra, a testemunha presta compromisso de dizer a verdade. O Estado
brasileiro é laico, não há prestação de compromisso sobre a Bíblia, não é compromisso para Deus. Juiz deve
advertir das penas cominadas.

Art. 203.  A testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa de dizer a verdade do que souber e lhe for
perguntado, devendo declarar seu nome, sua idade, seu estado e sua residência, sua profissão, lugar onde exerce
sua atividade, se é parente, e em que grau, de alguma das partes, ou quais suas relações com qualquer delas, e
relatar o que souber, explicando sempre as razões de sua ciência ou as circunstâncias pelas quais possa avaliar-se
de sua credibilidade.

Exceções (rol taxativo) (informantes):


a) art. 206: parentes do réu;
b) art. 208: menor de 14 anos, débil mental etc.
art. 206: as testemunhas elencadas no artigo 206 do CPP (parentes do réu) podem ser ouvidas, mediante algumas
circunstâncias, porém, não prestam compromisso (informantes).

#FICADEOLHO: Caiu na 2ª fase da DPU – 2017 (CESPE).


13

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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Obs.: os que não estão obrigados em razão do sigilo, se desejarem depois e forem autorizados, prestarão o
compromisso.

Os informantes não entram no número legal e não podem ser punidos por crime de falso testemunho. Por outro
lado, o índio presta compromisso.

→ Dever de dizer a verdade: o que interessa é a verdade real, se a testemunha mentir ou calar estará cometendo
o crime de falso testemunho (CP, art. 342). Cuida-se de crime contra a Administração da Justiça.

Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou
intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: (L10.268/01)
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
§ 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido
com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte
entidade da administração pública direta ou indireta.(Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)
§ 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou
declara a verdade. (Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)

Início do processo por falso testemunho: pode-se iniciar o processo por falso testemunho imediatamente, mesmo
sem terminar o outro processo, no qual o réu mentiu. Não é possível sentenciar o processo do crime de falso,
antes que seja sentenciado o crime do processo no qual foi prestado o falso testemunho, por uma dependência
lógica, já que o réu poderá se retratar. Enquanto o juiz espera, a prescrição corre normalmente.

Art. 211.  Se o juiz, ao pronunciar sentença final, reconhecer que alguma testemunha fez afirmação falsa, calou ou
negou a verdade, remeterá cópia do depoimento à autoridade policial para a instauração de inquérito.
Parágrafo único.  Tendo o depoimento sido prestado em plenário de julgamento, o juiz, no caso de proferir
decisão na audiência (art. 538, § 2o), o tribunal (art. 561), ou o conselho de sentença, após a votação dos
quesitos, poderão fazer apresentar imediatamente a testemunha à autoridade policial.

Admite retratação, antes da sentença de primeiro grau (sentença no processo em que se mentiu, não no processo
sobre o falso testemunho). A retratação, como se sabe, é causa de extinção da punibilidade.

Prisão em flagrante no crime de falso testemunho: em tese, não há problema, mas na prática isso é muito raro e
muito difícil. O juiz, depois do depoimento e geralmente na sentença, extrai cópias e manda para a autoridade
policial (art. 211 do CPP).
Testemunha que não presta compromisso pode ser processada por falso testemunho? Há polêmica sobre isso.
NÃO HÁ CONSENSO!!! CESPE – SIM. 2014.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
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1º) Testemunha, ainda que não preste compromisso, pode ser processada pelo delito tipificado no art. 342, CP,
vez que este não exige, a título de elementar, que o agente tenha prestado compromisso de dizer a verdade.

2º) Se o próprio CPP dispensa o compromisso, fica claro que eventual falsidade não pode ser enquadrada no art.
342 do CP. Razões familiares afastam a necessidade de pena nesse caso. DOUTRINA MAJORITÁRIA!DP

Falso testemunho no plenário do júri: o falso testemunho tem que ser objeto de quesitação. Se a resposta for
positiva, o juiz providenciará o envio de tudo para o delegado: a testemunha está presa em flagrante e o delegado
vai lavrar o flagrante. Quando a testemunha mente em plenário, não há mais prazo para a retratação, porque o
processo já foi sentenciado. Pode ser objeto de alegação em recurso.

→ Dever de comunicação ao juiz de eventual mudança de endereço: art. 224 do CPP. Se a testemunha descumpre
esse dever, dentro do prazo de um ano, a contar da primeira data em que foi ouvida, é muito questionável que
possa sofrer qualquer tipo de sanção. Art. 224.  As testemunhas comunicarão ao juiz, dentro de 1 (um) ano,
qualquer mudança de residência, sujeitando-se, pela simples omissão, às penas do não-comparecimento.

Multa não paga porque não houve atualização monetária da multa prevista no art. 453 do CPP. No que diz
respeito ao crime de desobediência, é bem provável que todas as testemunhas irão alegar total ignorância do
dever jurídico em tela (é o caso de erro de proibição).

DEPOIMENTO
Momentos relevantes do depoimento:
1) identificação da testemunha. Se mentir sobre sua identificação? Falsa identidade ou falso testemunho?
2) advertência (de dizer a verdade, somente a verdade) = COMPROMISSO;
3) perguntas sobre fatos do processo. O acusado pode se comunicar durante a oitiva com o seu advogado.
Se a testemunha se recusar a depor, estará cometendo crime de desobediência (art. 330 do CP: Desobedecer a
ordem legal de funcionário público: Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa).
A testemunha não tem direito ao silêncio, salvo uma exceção que será vista adiante (depoimentos em CPI ou em
procedimento que esteja mais na condição de investigado ou acusado, que realmente na de testemunha).
Ordem dos depoimentos:
1º) oitiva das testemunhas da acusação;
2º) oitiva das testemunhas da defesa.

Não pode haver inversão da ordem, caso contrário haverá nulidade relativa (para nulidade deve ser provado o
prejuízo). O juiz é passível de correição parcial, pois estará tumultuando o processo.
Se possível, a vítima deve ser ouvida antes das testemunhas (art. 400 do CPP).
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ATENÇÃO: Arts. 222 e 400, CPP – Precatória e inversão da ordem de inquirição de testemunhas: inexistência de
nulidade (STJ: HC 167.900/MG).

Momento do arrolamento:

Acusação: as testemunhas devem ser arroladas na peça de acusação (sob pena de preclusão).
O magistrado é obrigado a aceitar o pedido da defesa para apresentar o rol de testemunhas a posteriori? NÃO.
Ficará ao prudente arbítrio do magistrado deferir ou não o pedido formulado, devendo a sua decisão ser
motivada. Importante destacar, no entanto, que, se o juiz decidir, em nome da busca da verdade real, deferir o
pedido da defesa, tal decisão não viola os princípios da paridade de armas e do contraditório. Quando a defesa
apresentar posteriormente o rol de testemunhas, elas serão classificadas e ouvidas como "testemunhas do juízo"
(art. 209 do CPP)? NÃO. Não se trata, em neste caso, de testemunha do juízo (art. 209 do CPP). Tais testemunhas
serão ouvidas como testemunhas de defesa. A única diferença é que o juiz aceitou que o rol fosse apresentado
depois do prazo da resposta à acusação. STJ. 6ª Turma. REsp 1.443.533-RS, Min. Maria Thereza de Assis Moura,
julgado em 23/6/2015 (Info 565).

Alô, Defensoria. Aprofunde: http://www.conjur.com.br/2016-mar-15/tribuna-defensoria-contato-acusado-


defensor-arrola-testemunhas

Defesa: devem ser arroladas na defesa escrita, sob pena de preclusão.

PRECLUSÃO PEREMPÇÃO
Perda de um ato processual Perda do processo

Nada obsta que se proceda à oitiva das testemunhas não arroladas, as quais são chamadas de testemunhas do
juízo (art. 209, § 1º, CPP). São extranumerárias. Prestam compromisso regularmente, salvo se constantes de uma
das exceções (art. 208 do CPP).
A Reinquirição é perfeitamente possível, quando se constata a necessidade. Pode ser de ofício ou a requerimento
das partes

 Número máximo de testemunhas que podem ser arroladas pelas partes:

a) No procedimento comum ou ordinário (sanção máxima cominada for igual ou superior a 4 (quatro) anos):
admite-se até oito testemunhas para cada uma das partes (art. 401 do CPP). Em caso de vários fatos, a acusação
poderá arrolar até 8 testemunhas para cada fato (sanção máxima cominada for igual ou superior a 4 (quatro)
anos). A defesa pode arrolar 8 por fato e 8 por acusado. O que passar de 8, o juiz pode ouvir como testemunha do
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
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juízo. Assim, o MP normalmente arrola mais de 8 e o juiz ouve como suas testemunhas. Em se tratando de vários
réus, podem ser arroladas até 8 testemunhas em relação a cada réu.

b) No procedimento sumário (crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 4 (quatro) anos): até 5
testemunhas (art. 532 do CPP);

c) No procedimento sumaríssimo da Lei 9.099/95: até 3 testemunhas;

d) Na Lei 11.343/06 (Lei de Drogas) até 5 testemunhas (artigo 37, III);

e) No Júri: até 8 testemunhas na 1ª fase (art. 406, §§ 2º e 3º, CPP) e até 5 testemunhas no plenário (art. 422
do CPP).

Testemunha arrolada não pode ser ARBITRARIAMENTE excluída pelo juiz.

OBS: a parte pode substituir a testemunha, caso não seja encontrada ou venha a falecer. Aplicação subsidiária do
CPC (STF):
#NCPC Art. 45: Depois de apresentado o rol de que tratam os §§ 4º e 5º do art. 357, a parte só pode substituir a
testemunha:
I - que falecer;
II - que, por enfermidade, não estiver em condições de depor;
III - que, tendo mudado de residência ou de local de trabalho, não for encontrada.

Obs.: desistir da testemunha: POSSÍVEL, desde que antes de começar o depoimento. Júri: tem que ser antes de
começar a sessão. Se for após, o juiz, jurados e a parte adversa têm de concordar.

Não entram no número legal:


- testemunha que não presta compromisso (informante) (art. 208)
- testemunha do juízo (art. 209)
- testemunha que nada sabe/inócua (art. 209, § 2º)

Vigia o sistema presidencialista, no qual as partes somente poderiam questionar as testemunhas através de
reperguntas. Atualmente, com a reforma penal, temos o CROSS EXAMINATION, que é o oposto, permitindo a
pergunta diretamente à testemunha. O juiz pergunta por último – exploração subsidiária da prova – sistema
acusatório. Se não observar a ordem legal? STF e STJ – nulidade relativa. OBS: se forem testemunhas do juízo =
juiz pergunta primeiro.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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Art. 212.  As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente às testemunhas, não admitindo o juiz aquelas
que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem na repetição de outra já
respondida.
Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar a inquirição.

 Incidentes possíveis no momento da oitiva:

A) Contradita: contraditar é impugnar, pretende-se com ela excluir a testemunha impedida de depor (exemplo:
advogado que soube dos fatos no exercício da profissão – CPP, art. 207). Há dupla finalidade: I) excluir a
testemunha ou II) excluir o compromisso. ATENÇÃO! Parte que arrolou pode contraditar? SIM!

Art. 214.  Antes de iniciado o depoimento, as partes poderão contraditar a testemunha ou argüir circunstâncias


ou defeitos, que a tornem suspeita de parcialidade, ou indigna de fé. O juiz fará consignar a contradita ou
argüição e a resposta da testemunha, mas só excluirá a testemunha ou não lhe deferirá compromisso nos casos
previstos nos arts. 207 e 208.

Procedimento: antes do início do depoimento, contradita-se a testemunha, procedendo-se, então, à sua oitiva
sobre a contradita, cabendo, em seguida, ao juiz decidir se exclui ou não exclui a testemunha (Qual o recurso
cabível? Deve constar nas alegações finais e depois no recurso de apelação depois da sentença).

B) Arguição de parcialidade: se dá quando se alega circunstância que torna a testemunha suspeita de


parcialidade (testemunha que vive mentindo, testemunha com parentesco com a vítima etc.). Ou seja, significa
levantar um motivo que tira a imparcialidade da testemunha, falta de credibilidade da testemunha.

Procedimento: arguição de parcialidade, oitiva da testemunha, o juiz sempre ouvirá essa testemunha e dará o
valor devido ao seu testemunho (necessariamente será ouvida como testemunha do caso, sempre será ouvida,
NUNCA será excluída, o incidente serve somente para alertar o juiz, permitindo uma correta valoração da prova).

C) Videoconferência e retirada do réu da sala: a Retirada do réu da sala (art. 217 do CPP) se dá quando o réu, por
sua atitude, possa influenciar no ânimo da testemunha. A ameaça deve ser real e não mera suposição.
Art. 217.  Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor ou sério constrangimento à
testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a inquirição por
videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na
inquirição, com a presença do seu defensor.

ATENÇÃO: A Lei 9.807/99 instituiu o Programa Federal de Assistência a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas,
prevendo, em seu art. 7º, uma série de medidas aplicáveis, de forma isolada ou cumulada, sem prejuízo de
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
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outras, tais como: segurança na residência; escolta; transferência de residência; preservação da identidade,
imagens e dados; ajuda financeira mensal para subsistência, inclusive familiar, em havendo impossibilidade para o
trabalho; suspensão das atividades funcionais, sem prejuízo dos vencimentos, no caso de funcionários públicos
civis ou militares; apoio social, médico e psicológico; sigilo em relação aos atos praticados em virtude da
proteção; auxílio para a prática de atos civis ou administrativos que exijam a presença da pessoa protegida.

13. DA COLABORAÇÃO PREMIADA

Art. 4o O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a
pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e
voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou
mais dos seguintes resultados:
I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles
praticadas;
II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa;
III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;
IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização
criminosa;
V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.
§ 1o Em qualquer caso, a concessão do benefício levará em conta a personalidade do colaborador, a natureza, as
circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração.
§ 2o Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério Público, a qualquer tempo, e o delegado de
polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação do Ministério Público, poderão requerer ou
representar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que esse benefício não tenha sido
previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de
1941 (Código de Processo Penal).
§ 3o O prazo para oferecimento de denúncia ou o processo, relativos ao colaborador, poderá ser suspenso por até
6 (seis) meses, prorrogáveis por igual período, até que sejam cumpridas as medidas de colaboração,
suspendendo-se o respectivo prazo prescricional.
§ 4o Nas mesmas hipóteses do caput, o Ministério Público poderá deixar de oferecer denúncia se o colaborador:
I - não for o líder da organização criminosa;
II - for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos deste artigo.
§ 5o Se a colaboração for posterior à sentença, a pena poderá ser reduzida até a metade ou será admitida a
progressão de regime ainda que ausentes os requisitos objetivos.
§ 6o O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para a formalização do acordo de
colaboração, que ocorrerá entre o delegado de polícia, o investigado e o defensor, com a manifestação do
Ministério Público, ou, conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e seu defensor.
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§ 7o Realizado o acordo na forma do § 6 o, o respectivo termo, acompanhado das declarações do colaborador e de
cópia da investigação, será remetido ao juiz para homologação, o qual deverá verificar sua regularidade,
legalidade e voluntariedade, podendo para este fim, sigilosamente, ouvir o colaborador, na presença de seu
defensor.
§ 8o O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais, ou adequá-la ao caso
concreto.
§ 9o Depois de homologado o acordo, o colaborador poderá, sempre acompanhado pelo seu defensor, ser ouvido
pelo membro do Ministério Público ou pelo delegado de polícia responsável pelas investigações.
§ 10º As partes podem retratar-se da proposta, caso em que as provas autoincriminatórias produzidas pelo
colaborador não poderão ser utilizadas exclusivamente em seu desfavor.
§ 11º A sentença apreciará os termos do acordo homologado e sua eficácia.
§ 12º Ainda que beneficiado por perdão judicial ou não denunciado, o colaborador poderá ser ouvido em juízo a
requerimento das partes ou por iniciativa da autoridade judicial.
§ 13º Sempre que possível, o registro dos atos de colaboração será feito pelos meios ou recursos de gravação
magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinados a obter maior fidelidade das
informações.
§ 14º Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu defensor, ao direito ao silêncio
e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade.
§ 15º Em todos os atos de negociação, confirmação e execução da colaboração, o colaborador deverá estar
assistido por defensor.
§ 16º Nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações de agente
colaborador.

Art. 5o São direitos do colaborador:


I - usufruir das medidas de proteção previstas na legislação específica;
II - ter nome, qualificação, imagem e demais informações pessoais preservados;
III - ser conduzido, em juízo, separadamente dos demais coautores e partícipes;
IV - participar das audiências sem contato visual com os outros acusados;
V - não ter sua identidade revelada pelos meios de comunicação, nem ser fotografado ou filmado, sem sua prévia
autorização por escrito;
VI - cumprir pena em estabelecimento penal diverso dos demais corréus ou condenados.

Art. 6o O termo de acordo da colaboração premiada deverá ser feito por escrito e conter:
I - o relato da colaboração e seus possíveis resultados;
II - as condições da proposta do Ministério Público ou do delegado de polícia;
III - a declaração de aceitação do colaborador e de seu defensor;

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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IV - as assinaturas do representante do Ministério Público ou do delegado de polícia, do colaborador e de seu
defensor;
V - a especificação das medidas de proteção ao colaborador e à sua família, quando necessário.

Art. 7o O pedido de homologação do acordo será sigilosamente distribuído, contendo apenas informações que
não possam identificar o colaborador e o seu objeto.
§1o As informações pormenorizadas da colaboração serão dirigidas diretamente ao juiz a que recair a distribuição,
que decidirá no prazo de 48 (quarenta e oito) horas.
§2o O acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de
garantir o êxito das investigações, assegurando-se ao defensor, no interesse do representado, amplo acesso aos
elementos de prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa, devidamente precedido de autorização
judicial, ressalvados os referentes às diligências em andamento.
§ 3o O acordo de colaboração premiada deixa de ser sigiloso assim que recebida a denúncia, observado o disposto
no art. 5o.

*#DEOLHONAJURIS#DIZERODIREITO#STF Não há violação da súmula vinculante 14 no caso em que, ao contrário


do que alega a defesa, os áudios interceptados foram juntados ao inquérito policial e sempre estiveram
disponíveis para as partes, inclusive na forma digitalizada depois de deflagrada a investigação. Súmula vinculante
14-STF: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam
respeito ao exercício do direito de defesa. Caso concreto: defesa ingressou com reclamação no STF alegando que
o magistrado não permitiu que ela tivesse acesso ao procedimento de interceptação telefônica que serviu de base
ao oferecimento da denúncia. Ficou provado, no entanto, que o procedimento estava disponível para a defesa, de
forma que não houve violação à SV 14. STF. 1ª Turma. Rcl 27919 AgR/GO, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em
27/8/2019 (Info 949)

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA:

*A colaboração premiada é apenas meio de obtenção de prova, ou seja, é um instrumento para colheita de
documentos que, segundo o resultado de sua obtenção, poderão formar meio de prova. A colaboração premiada
não se constitui em meio de prova propriamente dito.  O acordo de colaboração não se confunde com os
depoimentos prestados pelo colaborador com o objetivo de fundamentar as imputações a terceiros. Uma coisa é
o acordo, outra é o depoimento prestado pelo colaborador e que será ainda valorado a partir da análise das
provas produzidas no processo.  Homologar o acordo não significa dizer que o juiz admitiu como verídicas ou
idôneas as informações prestadas pelo colaborador. Quando o magistrado homologa o acordo, ele apenas afirma
que este cumpriu sua regularidade, legalidade e voluntariedade.  O STF entendeu que o acordo não pode ser

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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impugnado por terceiro, mesmo que seja uma pessoa citada na delação. Isso porque o acordo é personalíssimo
e, por si só, não vincula o delatado nem afeta diretamente sua situação jurídica. O que poderá atingir eventual
corréu delatado são as imputações posteriores, constantes do depoimento do colaborador.  A personalidade do
colaborador ou o fato de ele já ter descumprido um acordo anterior de colaboração premiada não têm o condão
de invalidar o acordo atual. Não importa a idoneidade do colaborador, mas sim a idoneidade das informações
que ele fornecer e isso ainda será apurado no decorrer do processo. STF. Plenário. HC 127483/PR, Rel. Min. Dias
Toffoli, julgado em 26 e 27/8/2015 (Info 796)

*Colaboração premiada é um instituto previsto na legislação por meio do qual um investigado ou acusado da
prática de infração penal decide confessar a prática do delito e, além disso, aceita colaborar com a investigação
ou com o processo fornecendo informações que irão ajudar, de forma efetiva, na obtenção de provas contra os
demais autores dos delitos e contra a organização criminosa, na prevenção de novos crimes, na recuperação do
produto ou proveito dos crimes ou na localização da vítima com integridade física preservada, recebendo o
colaborador, em contrapartida, determinados benefícios penais (ex: redução de sua pena). "EMF", um dos réus na
operação Lava-Jato impetrou no STF habeas corpus contra ato do Min. Teori Zavascki, que homologou o acordo
de delação premiada de Alberto Youssef. No HC, a defesa do réu alegou, dentre outras teses, que o colaborador
não teria idoneidade para firmar o acordo e que, por isso, as informações por ele repassadas não seriam
confiáveis. Afirmou-se, ainda, que ele já descumpriu um outro acordo de colaboração premiada, demonstrando,
assim, não ter compromisso com a verdade. Em razão disso, o acordo seria ilícito e todas as provas obtidas a
partir dele também seriam ilícitas por derivação, devendo ser anuladas. O STF concordou com o HC? A ordem foi
concedida? NÃO. O STF indeferiu o habeas corpus. • A colaboração premiada é apenas meio de obtenção de
prova, ou seja, é um instrumento para colheita de documentos que, segundo o resultado de sua obtenção,
poderão formar meio de prova. A colaboração premiada não se constitui em meio de prova propriamente dito. •
O acordo de colaboração não se confunde com os depoimentos prestados pelo colaborador com o objetivo de
fundamentar as imputações a terceiros. Uma coisa é o acordo, outra é o depoimento prestado pelo colaborador e
que será ainda valorado a partir da análise das provas produzidas no processo. • Homologar o acordo não
significa dizer que o juiz admitiu como verídicas ou idôneas as informações prestadas pelo colaborador. Quando o
magistrado homologa o acordo, ele apenas afirma que este cumpriu sua regularidade, legalidade e
voluntariedade. COGNIÇÃO DO JUIZ, NA HOMOLOGAÇÃO, É RESTRITA!• O STF entendeu que o acordo não pode
ser impugnado por terceiro, mesmo que seja uma pessoa citada na delação. Isso porque o acordo é
personalíssimo e, por si só, não vincula o delatado nem afeta diretamente sua situação jurídica. O que poderá
atingir eventual corréu delatado são as imputações posteriores, constantes do depoimento do colaborador. • A
personalidade do colaborador ou o fato de ele já ter descumprido um acordo anterior de colaboração premiada
não têm o condão de invalidar o acordo atual. Não importa a idoneidade do colaborador, mas sim a idoneidade
das informações que ele fornecer e isso ainda será apurado no decorrer do processo. STF. Plenário. HC
127483/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26 e 27/8/2015 (Info 796).

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Não existe obrigatoriedade legal absoluta de que as declarações do colaborador premiado sejam registradas em
meio audiovisual. O § 13 do art. 4º da Lei nº 12.850/2013 prevê que “sempre que possível, o registro dos atos de
colaboração será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar,
inclusive audiovisual, destinados a obter maior fidelidade das informações”.Desse modo, Existe sim uma
recomendação da Lei no sentido de que as declarações sejam registradas em meio audiovisual, Mas isso não é
uma obrigação legal absoluta a ponto de gerar nulidade pelo simples fato de o registro não ter sido feito dessa
forma. STF. Plenário. Ok a 4146/DF, Rel. Min. Teori Zavaski, julgado em 22/6/2016 (Info 831).

* A colaboração premiada foi tratado com detalhes pela Lei nº 12.850/2013. No entanto, o julgado do STF
envolveu fatos que aconteceram antes da Lei nº 12.850/2013. Desse modo, o julgamento foi feito com base na
colaboração premiada disciplinada pela Lei nº 9.807/99. A Lei nº 9.807/99 prevê o instituto da colaboração
premiada, assegurando ao colaborador a redução da pena (art. 14) ou até mesmo o perdão judicial (art. 13) O réu
colaborador não terá direito ao perdão judicial, mas apenas à redução da pena, caso a sua colaboração não tenha
tido grande efetividade como meio para obter provas, considerando que as investigações policiais, em momento
anterior ao da celebração do acordo, já haviam revelado os elementos probatórios acerca do esquema criminoso
integrado. STF. 1ª Turma. HC 129877/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/4/2017 (Info 861).

*#IMPORTANTE: Natureza jurídica do acordo de colaboração premiada A colaboração premiada é um negócio


jurídico processual entre o Ministério Público e o colaborador, sendo vedada a participação do magistrado na
celebração do ajuste entre as partes. Papel do Poder Judiciário no acordo de colaboração premiada A colaboração
é um meio de obtenção de prova cuja iniciativa não se submete à reserva de jurisdição (não exige autorização
judicial), diferentemente do que ocorre nas interceptações telefônicas ou na quebra de sigilo bancário ou fiscal.
Nesse sentido, as tratativas e a celebração da avença são mantidas exclusivamente entre o Ministério Público e o
pretenso colaborador. O Poder Judiciário é convocado ao final dos atos negociais apenas para aferir os requisitos
legais de existência e validade, com a indispensável homologação. Natureza da decisão que homologa o acordo
de colaboração premiada: A decisão do magistrado que homologa o acordo de colaboração premiada não julga o
mérito da pretensão acusatória, mas apenas resolve uma questão incidente. Por isso, esta decisão tem natureza
meramente homologatória, limitando-se ao pronunciamento sobre a regularidade, legalidade e voluntariedade
do acordo (art. 4º, § 7º, da Lei nº 12.850/2013). O juiz, ao homologar o acordo de colaboração, não emite juízo de
valor a respeito das declarações eventualmente prestadas pelo colaborador à autoridade policial ou ao Ministério
Público, nem confere o signo da idoneidade a seus depoimentos posteriores. A análise se as declarações do
colaborador são verdadeiras ou se elas se confirmaram com as provas produzidas será feita apenas no momento
do julgamento do processo, ou seja, na sentença (ou acórdão), conforme previsto no § 11 do art. 4º da Lei. Na
decisão homologatória, magistrado examina se as cláusulas contratuais ofendem manifestamente o ordenamento
jurídico No ato de homologação da colaboração premiada, não cabe ao magistrado, de forma antecipada e
extemporânea, tecer juízo de valor sobre o conteúdo das cláusulas avençadas, exceto nos casos de flagrante
ofensa ao ordenamento jurídico vigente. Ex: o Relator poderá excluir ao acordo a cláusula que limite o acesso à
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
70
justiça, por violar o art. 5º, XXXV, da CF/88. Neste momento, o Relator não realiza qualquer controle de mérito,
limitando-se aos aspectos formais e legais do acordo. Em caso colaboração premiada envolvendo investigados ou
réus com foro no Tribunal, qual é o papel do Relator? É atribuição do Relator homologar, monocraticamente, o
acordo de colaboração premiada, analisando apenas a sua regularidade, legalidade e voluntariedade, nos termos
do art. 4º, § 7º da Lei nº 12.850/2013: § 7º Realizado o acordo na forma do § 6º, o respectivo termo,
acompanhado das declarações do colaborador e de cópia da investigação, será remetido ao juiz para
homologação, o qual deverá verificar sua regularidade, legalidade e voluntariedade, podendo para este fim,
sigilosamente, ouvir o colaborador, na presença de seu defensor. Não há qualquer óbice à homologação do
respectivo acordo mediante decisão monocrática. O art. 21, I e II, do RISTF confere ao Ministro Relator no STF
poderes instrutórios para ordenar, de forma singular, a realização de quaisquer meios de obtenção de provas. Em
caso colaboração premiada envolvendo investigados ou réus com foro no Tribunal, qual é o papel do órgão
colegiado? Compete ao órgão colegiado, em decisão final de mérito, avaliar o cumprimento dos termos do acordo
homologado e a sua eficácia, conforme previsto no art. 4º, § 11 da Lei nº 12.850/2013: § 11. A sentença apreciará
os termos do acordo homologado e sua eficácia. Assim, é possível que o órgão julgador, no momento da sentença
ou acórdão, ou seja, após a conclusão da instrução probatória, avalie se os termos da colaboração foram
cumpridos e se os resultados concretos foram atingidos, o que definirá a sua eficácia. Acordo de colaboração
homologado pelo Relator deve, em regra, produzir seus efeitos, salvo se presente hipótese de anulabilidade O
acordo de colaboração devidamente homologado individualmente pelo relator deve, em regra, produzir seus
efeitos diante do cumprimento dos deveres assumidos pelo colaborador. Vale ressaltar, no entanto, que o órgão
colegiado detém a possibilidade de analisar fatos supervenientes ou de conhecimento posterior que firam a
legalidade do acordo, nos termos do § 4º do art. 966do CPC/2015: § 4º Os atos de disposição de direitos,
praticados pelas partes ou por outros participantes do processo e homologados pelo juízo, bem como os atos
homologatórios praticados no curso da execução, estão sujeitos à anulação, nos termos da lei. Direitos do
colaborador somente serão assegurados se ele cumprir seus deveres O direito subjetivo do colaborador nasce e
se perfectibiliza na exata medida em que ele cumpre seus deveres. Assim, o cumprimento dos deveres pelo
colaborador é condição sine qua non para que ele possa gozar dos direitos decorrentes do acordo. Por isso diz-se
que o acordo homologado como regular, voluntário e legal gera vinculação condicionada ao cumprimento dos
deveres assumidos pela colaboração, salvo ilegalidade superveniente apta a justificar nulidade ou anulação do
negócio jurídico. STF. Plenário. Pet 7074/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 21, 22, 28 e 29/6/2017 (Info 870).

* O descumprimento de acordo de delação premiada ou a frustração na sua realização, isoladamente, não


autoriza a imposição da segregação cautelar. Não se pode decretar a prisão preventiva do acusado pelo simples
fato de ele ter descumprido acordo de colaboração premiada. Não há, sob o ponto de vista jurídico, relação direta
entre a prisão preventiva e o acordo de colaboração premiada. Tampouco há previsão de que, em decorrência do
descumprimento do acordo, seja restabelecida prisão preventiva anteriormente revogada. Por essa razão, o
descumprimento do que foi acordado não justifica a decretação de nova custódia cautelar. É necessário verificar,
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71
no caso concreto, a presença dos requisitos da prisão preventiva, não podendo o decreto prisional ter como
fundamento apenas a quebra do acordo. STJ. 6ª Turma. HC 396.658-SP, Rel. Min. Antônio Saldanha Palheiro,
julgado em 27/6/2017 (Info 609). STF. 2ª Turma. HC 138207/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 25/4/2017
(Info 862)

* A homologação de acordo de colaboração premiada por juiz de 1º grau de jurisdição, que mencione autoridade
com prerrogativa de foro no STJ, não traduz em usurpação de competência deste Tribunal Superior. Ocorrendo a
descoberta fortuita de indícios do envolvimento de pessoa com prerrogativa de foro, os autos devem ser
encaminhados imediatamente ao foro prevalente, definido segundo o art. 78, III, do CPP, o qual é o único
competente para resolver sobre a existência de conexão ou continência e acerca da conveniência do
desmembramento do processo. STJ. Corte Especial. Rcl 31.629-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
20/09/2017 (Info 612).

*#ATENÇÃO #DIVERGÊNCIA #STF: Competência para homologação do acordo de colaboração premiada se o


delatado tiver foro por prerrogativa de função. Se a delação do colaborador mencionar fatos criminosos que
teriam sido praticados por autoridade (ex: Governador) e que teriam que ser julgados por foro privativo (ex: STJ),
este acordo de colaboração deverá, obrigatoriamente, ser celebrado pelo Ministério Público respectivo (PGR),
com homologação pelo Tribunal competente (STJ). Assim, se os fatos delatados tiverem que ser julgados
originariamente por um Tribunal (foro por prerrogativa de função), o próprio acordo de colaboração premiada
deverá ser homologado por este respectivo Tribunal, mesmo que o delator não tenha foro privilegiado. A delação
de autoridade com prerrogativa de foro atrai a competência do respectivo Tribunal para a respectiva
homologação e, em consequência, do órgão do Ministério Público que atua perante a Corte. Se o delator ou se o
delatado tiverem foro por prerrogativa de função, a homologação da colaboração premiada será de competência
do respectivo Tribunal. Análise da legitimidade do delatado para impugnar o acordo de colaboração premiada.
Em regra, o delatado não tem legitimidade para impugnar o acordo de colaboração premiada. Assim, em regra, a
pessoa que foi delatada não poderá impetrar um habeas corpus alegando que esse acordo possui algum vício.
Isso porque se trata de negócio jurídico personalíssimo. Esse entendimento, contudo, não se aplica em caso de
homologação sem respeito à prerrogativa de foro. Desse modo, é possível que o delatado questione o acordo se a
impugnação estiver relacionada com as regras constitucionais de prerrogativa de foro. Em outras palavras, se o
delatado for uma autoridade com foro por prerrogativa de função e, apesar disso, o acordo tiver sido
homologado em 1ª instância, será permitido que ele impugne essa homologação alegando usurpação de
competência. STF. 2ª Turma. HC 151605/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 20/3/2018 (Info 895).

*#DEOLHONAJURIS #STF: Os dados obtidos por meio da quebra dos sigilos bancário, telefônico e fiscal devem ser
mantidos sob reserva. Assim, a página do Senado Federal na internet não pode divulgar os dados obtidos por
meio da quebra de sigilo determinada por comissão parlamentar de inquérito (CPI). STF. Plenário. MS 25940, Rel.
Min. Marco Aurélio, julgado em 26/4/2018 (Info 899).
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*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO: Os dados do contribuinte que a Receita Federal obteve das instituições
bancárias mediante requisição direta (sem intervenção do Poder Judiciário, com base nos arts. 5º e 6º da LC
105/2001), podem ser compartilhados, também sem autorização judicial, com o Ministério Público, para serem
utilizados como prova emprestada no processo penal. Isso porque o STF decidiu que são constitucionais os arts.
5º e 6º da LC 105/2001, que permitem o acesso direto da Receita Federal à movimentação financeira dos
contribuintes (RE 601314/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/2/2016. Info 815). Este entendimento do STF
deve ser estendido também para a esfera criminal. Assim, é possível a utilização de dados obtidos pela Secretaria
da Receita Federal, em regular procedimento administrativo fiscal, para fins de instrução processual penal. STF. 1ª
Turma. RE 1043002 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 01/12/2017. STF. 2ª Turma. RHC 121429/SP, Rel.
Min. Dias Toffoli, julgado em 19/4/2016 (Info 822). STJ. 6ª Turma. HC 422.473-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 20/03/2018 (Info 623). #IMPORTANTE

*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STF: É possível o compartilhamento, para outros órgãos e autoridades


públicas, das provas obtidas no acordo de colaboração premiada, desde que sejam respeitados os limites
estabelecidos no acordo em relação ao colaborador. Assim, por exemplo, se um indivíduo celebra acordo de
colaboração premiada com o MP aceitando fornecer provas contra si, estas provas somente poderão ser
utilizadas para as sanções que foram ajustadas no acordo. STF. 2ª Turma. PET 7065/DF, Rel. Min. Edson Fachin,
julgado em 30/10/2018 (Info 922).

*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STF: Ainda que remetido a outros órgãos do Poder Judiciário para
apuração dos fatos delatados, o juízo que homologou o acordo de colaboração premiada continua sendo
competente para analisar os pedidos de compartilhamento dos termos de depoimentos prestados no âmbito da
colaboração. STF. 2ª Turma. PET 7065/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 30/10/2018 (Info 922).

*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STF: Não existe direito líquido e certo a compelir o Ministério Público à
celebração do acordo de delação premiada, diante das características desse tipo de acordo e considerando a
necessidade de distanciamento que o Estado-juiz deve manter durante o cenário investigado e a fase de
negociação entre as partes do cenário investigativo. O acordo de colaboração premiada, além de meio de
obtenção de prova, constitui-se em um negócio jurídico processual personalíssimo, cuja conveniência e
oportunidade estão submetidos à discricionariedade regrada do Ministério Público e não se submetem ao
escrutínio do Estado-juiz. Em outras palavras, trata-se de ato voluntário, insuscetível de imposição judicial. Vale
ressaltar, no entanto, que o ato do membro do Ministério Público que se nega à realização do acordo deve ser
devidamente motivado. Essa recusa pode ser objeto de controle por órgão superior no âmbito do Ministério
Público (Procurador-Geral de Justiça ou Comissão de Coordenação e Revisão), por aplicação analógica do art. 28
do CPP (art. 62, IV, da LC 75/93). Mesmo sem ter assinado o acordo, o acusado pode colaborar fornecendo as
informações e provas que possuir. Ao final, na sentença, o juiz irá analisar esse comportamento processual e
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
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poderá conceder benefício ao acusado mesmo sem que tenha havido a prévia celebração e homologação do
acordo de colaboração premiada. Dito de outro modo, o acusado pode receber a sanção premial mesmo sem a
celebração do acordo caso o magistrado entenda que sua colaboração foi eficaz. STF. 2ª Turma. MS 35693
AgR/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 28/5/2019 (Info 942). #IMPORTANTE

14. QUESTÕES REFERENTES À PROVA – GERAL E ESPECIAL

 Narcoanálise é prova ILÍCITA, pois é um processo de sondagem do inconsciente pelo qual, mediante
certos entorpecentes.
 Não se reconhece ilegalidade no posicionamento do réu sozinho OU ao lado de pessoas que com ele não
guardem semelhança para o reconhecimento, pois o art. 226, inc. II, do CPP, determina que o agente será
colocado ao lado de outras pessoas que com ele tiverem qualquer semelhança "se possível", sendo tal
determinação, portanto, recomendável mas não essencial.
 Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto;
porém, se não for realizado, essa omissão não produz efeito quando a sentença condenatória não levou em
consideração o elemento de fato cuja comprovação teria que ser feita pericialmente;
 Os termos da Lei 9.296/996, e consoante diversos precedentes desta Corte Superior, é dispensável que a
transcrição do conteúdo das interceptações telefônicas seja feita por peritos oficiais.
 O que se veda em habeas corpus, semelhantemente ao que acontece no recurso especial, é a simples
apreciação de provas, digamos, a operação mental de conta, peso e medida dos elementos de convicção.
 A majoritária jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que a apuração do crime de
lavagem de dinheiro é autônoma e independe do processamento e da condenação em crime antecedente, sendo
necessário apenas sejam apontados os indícios suficientes da prática do delito anterior.
 A jurisprudência do STJ tem oscilado quanto à necessidade, ou não, de prévia notificação do réu para que,
querendo, constitua novo defensor, antes de o magistrado nomear outro defensor para que apresente as
alegações finais. Em recente precedente, entendeu aquela Corte que: “(...) deve prevalecer, no entanto, o
entendimento, manifestado em diversos precedentes de ambas as Turmas deste STJ, nos quais se assentou a
necessidade de prévia notificação do réu para, querendo, constituir novo defensor, a fim de que apresente as
alegações finais não oferecidas pelo advogado inicialmente constituído”.
 O entendimento pacificado do STJ é no sentido de que o Diário de Justiça, embora seja o veículo utilizado
para comunicação dos atos processuais, não constitui repositório oficial de jurisprudência.
 A decisão que não reconhece a ilicitude da prova juntada aos autos é irrecorrível, mas desafia HC ou MS,
desde que não seja necessário o exame aprofundado dos elementos de convicção trazidos pelo impetrante. Já a
decisão que reconhece a ilicitude da prova desafia RESE, em analogia ao art. 581, XIII ("que anular o processo da
instrução criminal, no todo ou em parte").

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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 Interceptação ambiental: é a captação da conversa ambiente feita por um TERCEIRO sem o conhecimento
dos interlocutores.
 Escuta ambiental: é a captação da conversa ambiente feita por um TERCEIRO com o conhecimento de um
dos interlocutores.
 Gravação ambiental: é a captação da conversa ambiente feita por um dos INTERLOCUTORES da conversa
ambiente.
 Expressão visumetrepertum, significa "ver e reportar". Trata-se da atividade do perito, que analisa a
situação posta a sua frente, e deve reportar o que auferiu, independentemente de suas convicções e princípios
íntimos.
 A interceptação telefônica deve perdurar pelo tempo necessário à completa investigação dos fatos
delituosos. O prazo de duração da interceptação deve ser avaliado pelo Juiz da causa, considerando os relatórios
apresentados pela Polícia. Não se pode exigir que o deferimento das prorrogações (ou renovações) seja sempre
precedido da completa transcrição das conversas, sob pena de frustrar-se a rapidez na obtenção da prova. Não se
faz necessária a transcrição das conversas a cada pedido de renovação da escuta telefônica, pois o que importa,
para a renovação, é que o Juiz tenha conhecimento do que está sendo investigado, justificando a continuidade
das interceptações, mediante a demonstração de sua necessidade.
 Interceptação das comunicações telefônicas poderá ser determinada pelo juiz, de ofício ou a
requerimento: I - da autoridade policial, na investigação criminal; II - do representante do Ministério Público, na
investigação criminal e na instrução processual penal.
 O examinador tenta confundir o candidato, pois a busca sem o devido mandado judicial não invalida a
referida prova, porquanto se tratava de crime permanente... Trata-se de prova ilegítima, tendo em vista que os
seus efeitos são internos ao processo penal, porque o laudo químico foi juntado ao processo somente após a
prolatação da sentença, sendo que a lei determina que este laudo seja juntado já no momento do flagrante...
 Por expressa disposição do inc. X, do art. 29, da Constituição Federal de 1988, o prefeito será julgado pelo
Tribunal de Justiça. Dessa forma, como ambos (prefeito e senador) possuem prerrogativa de função de natureza
constitucional, não haverá vis atractiva, devendo cada qual ser julgado em seu Tribunal respectivo."
 Não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito, mas deverão elas declarar-se
suspeitas, quando ocorrer motivo legal." 
 A decisão judicial que determina o arquivamento do inquérito policial é, em regra, irrecorrível, embora
caiba recurso de ofício no caso de crime contra a economia popular.
 Ao lado do exame grafotécnico, há o mecanográfico, em que são inspecionadas máquinas datilográficas,
contábeis, taquigráficas, computadores. O sistema utilizado também é o de comparação. Assim, havendo a
apreensão da máquina, os peritos coletam material de impressão e pelo método comparativo concluem se o
escrito ou o documento foi por ela produzido.
 No curso de uma investigação federal de grande porte, o juízo federal autorizou medida de busca e
apreensão de bens e documentos, conforme descrito em mandado judicial, atendendo a representação da
autoridade policial. Na realização da operação, houve dificuldade de identificação e de acesso ao imóvel
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
75
apresentado na diligência, por estar situado em zona rural. Nesse mesmo dia, no entanto, durante a realização de
outras diligências empreendidas no curso de operação policial de grande porte, os agentes chegaram ao
sobredito imóvel no período noturno. Apresentaram-se, então, ao casal de moradores e proprietários do bem,
realizando a leitura do mandado, com a exibição do mesmo, obedecendo às demais formalidades legais para o
cumprimento da ordem judicial. Desse modo, solicitaram autorização dos moradores para o ingresso no imóvel e
realização da diligência. Considerando a situação hipotética acima, julgue os próximos itens, com base nos
elementos de direito processual. Na execução regular da diligência, caso haja suspeita fundada de que a
moradora oculte consigo os objetos sobre os quais recaia a busca, poderá ser efetuada a busca pessoal,
independentemente de ordem judicial expressa, ainda que não exista mulher na equipe policial, de modo a não
retardar a diligência. – CORRETO.
 O juiz só pode condenar por tráfico se houver no processo o laudo definitivo OU outras provas que
confirmem a autoria e a materialidade do delito (testemunhas) somadas à posterior juntada do laudo definitivo,
ainda que pós-sentença.

 *#OUSESABER: Admite-se a interceptação telefônica por prospecção? Para que a interceptação


telefônica seja decretada, a Lei 9.296/96 exige que esteja presente indícios razoáveis de autoria ou participação
na infração penal. A interceptação telefônica por prospecção é realizada com a finalidade de averiguar se o
indivíduo está ou não envolvido em práticas ilícitas, embora destituída de indícios mínimos de autoria ou
participação. Afirma Luiz Flávio Gomes que não é possível interceptação telefônica para verificar se uma
determinada pessoa, contra a qual inexiste qualquer indício, está ou não cometendo algum crime. É
absolutamente defesa a chamada interceptação de prospecção, desconectada da realização de um fato
delituoso, sobre o qual ainda não se conta com indícios suficientes.

*#NOVIDADELEGISLATIVA # LEI Nº 13.869, DE 5 DE SETEMBRO DE 2019


“Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática,
promover escuta ambiental ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não
autorizados em lei: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judicial que determina a execução de conduta prevista no
caput deste artigo com objetivo não autorizado em lei.”

15. INFORMATIVOS SOBRE PROVAS DIVERSAS

*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ #IMPORTANTE É ilícita a revista pessoal realizada por agente de
segurança privada. Caso concreto: o homem passava pela catraca de uma das estações da Companhia Paulista de
Trens Metropolitanos (CPTM) com uma mochila nas costas, quando foi abordado por dois agentes de segurança
privada da empresa. Os seguranças acreditavam que se tratava de vendedor ambulante e fizeram uma revista,
tendo encontrado dois tabletes de maconha na mochila do passageiro. O homem foi condenado pelo TJ/SP por
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tráfico de drogas (art. 33 da Lei nº 11.343/2006). O STJ, contudo, entendeu que a prova usada na condenação foi
ilícita, considerando que obtida mediante revista pessoal ilegal feita pelos agentes da CPTM. Segundo a CF/88 e o
CPP, somente as autoridades judiciais, policiais ou seus agentes estão autorizados a realizarem a busca domiciliar
ou pessoal. Diante disso, a 5ª Turma do STJ concedeu habeas corpus para absolver e mandar soltar um homem
acusado de tráfico de drogas e condenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo com base em prova recolhida em
revista pessoal feita por agentes de segurança privada da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
STJ. 5ª Turma. HC 470.937/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 04/06/2019 (Info 651). #IMPORTANTE

*O fato de a interceptação telefônica ter visado elucidar outra prática delituosa não impede a sua utilização em
persecução criminal diversa por meio do compartilhamento da prova/prova emprestada. STF. 1ª Turma. HC
128102/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/12/2015 (Info 811).

*Segundo o art. 8º da Lei 9.296/96, o procedimento de interceptação telefônica (requerimento, decisão,


transcrição dos diálogos etc.) deverá ser instrumentalizado em autos apartados. Haverá nulidade caso a
interceptação não seja formalizada em autos apartados?
NÃO. Preenchidas as exigências previstas na Lei nº 9.296/96 (ex: autorização judicial, prazo etc.), não deve ser
considerada ilícita a interceptação telefônica pela simples ausência de autuação. A ausência de autos apartados
configura mera irregularidade que não viola os elementos essenciais à validade da interceptação. STF. 1ª Turma.
HC 128102/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/12/2015 (Info 811).

*Ação controlada é uma técnica especial de investigação por meio da qual a autoridade policial ou administrativa
(ex: Receita Federal, corregedorias), mesmo percebendo que existem indícios da prática de um ato ilícito em
curso, retarda (atrasa, adia, posterga) a intervenção neste crime para um momento posterior, com o objetivo de
conseguir coletar mais provas, descobrir coautores e partícipes da empreitada criminosa, recuperar o produto ou
proveito da infração ou resgatar, com segurança, eventuais vítimas. Imagine que a Polícia recebeu informações de
que determinado indivíduo estaria praticando tráfico de drogas. A partir daí, passou a vigiá-lo, seguindo seu carro,
tirando fotografias e verificando onde ele morava. Em uma dessas oportunidades, houve certeza de que ele
estava praticando crime e foi realizada a sua prisão em flagrante. A defesa do réu alegou que a Polícia realizou
"ação controlada" e que, pelo fato de não ter havido autorização judicial prévia, ela teria sido ilegal, o que
contaminaria toda prova colhida. A tese da defesa foi aceita pelo STJ? NÃO. A investigação policial que tem como
única finalidade obter informações mais concretas acerca de conduta e de paradeiro de determinado
traficante, sem pretensão de identificar outros suspeitos, não configura a ação controlada do art. 53, II, da Lei
nº 11.343/2006, sendo dispensável a autorização judicial para a sua realização. STJ. 6ª Turma. RHC 60.251-SC,
Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 17/9/2015 (Info 570).
- Não houve ação controlada no presente caso considerando que os policiais não pretendiam com a investigação
prolongada revelar a identidade de outros possíveis traficantes que atuassem em conjunto com o réu, mas sim,
tão somente, encontrar informações mais precisas a respeito das supostas condutas ilícitas por ele praticadas
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para obterem maior êxito durante sua abordagem. Além disso, os elementos retratados nos autos apontam no
sentido de que, na primeira oportunidade em que se materializou um crime por parte do réu a Polícia Militar
efetuou sua prisão em flagrante, encaminhando-o à delegacia de polícia, não estando configurada, assim,
qualquer ação controlada.
- Em que consiste a chamada “entrega vigiada”? Trata-se de uma forma de “ação controlada”, prevista na
Convenção de Palermo (Decreto 5.015/2004), por meio da qual as autoridades policiais ou administrativas
permitem que “remessas ilícitas ou suspeitas saiam do território de um ou mais Estados, os atravessem ou neles
entrem, com o conhecimento e sob o controle das suas autoridades competentes, com a finalidade de investigar
infrações e identificar as pessoas envolvidas na sua prática” (art. 2º, "i").
- Para que ocorra a ação controlada é necessária prévia autorização judicial? A resposta irá depender do tipo de
crime que está sendo investigado. Se a ação controlada envolver crimes: A) da Lei de Drogas ou de Lavagem de
Dinheiro: SIM. Será necessária prévia autorização judicial porque o art. 52, II, da Lei nº 11.343/2006 e o art. 4ºB
da Lei nº 9.613/98 assim o exigem. B) praticados por organização criminosa: NÃO. Neste caso será necessário
apenas que a autoridade (policial ou administrativa) avise o juiz que irá realização ação controlada. Veja o que diz
o § 1º do art. 8º da Lei nº 12.850/2013: “Art. 8º (...) § 1º O retardamento da intervenção policial ou administrativa
será previamente comunicado ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e comunicará
ao Ministério Público.”
- A Lei nº 12.850/2013 fez bem ao dispensar a prévia autorização, exigindo tão-somente a comunicação. Isso
porque algumas vezes os fatos se desenrolam de forma muito rápida e não daria tempo para se aguardar uma
decisão judicial. Logo, a comunicação prévia supre a preocupação externada no parágrafo anterior (evitar que a
autoridade policial "simule" uma ação controlada) e, ao mesmo tempo, não prejudica a dinâmica das
investigações. Assim, protocolizada a comunicação, a ação controlada poderá ser levada a efeito pela autoridade
até que venha, se vier, uma limitação imposta pelo juiz.
- Vale ressaltar que, se o crime de tráfico de drogas ou de lavagem de capitais estiverem sendo praticados por
organização criminosa que se enquadre no conceito da Lei nº 12.850/2013, será possível que a autoridade policial
invoque o art. 8º, § 1º deste diploma e faça a ação controlada valendo-se da mera comunicação prévia
considerando que neste caso estará sendo investigada uma organização criminosa.
- O § 1º do art. 8º da Lei nº 12.850/2013 afirma que, depois de o juiz ser comunicado sobre a realização da ação
controlada ele poderá estabelecer limites a essa prática. Ex1: o juiz poderá estabelecer limite de tempo para a
ação controlada, de forma que depois disso, a , por exemplo, a autoridade deverá obrigatoriamente intervir (24h,
2 dias, uma semana etc.). Ex2: o magistrado poderá determinar a autoridade policial que não permita
determinadas condutas que violem de forma muito intensa ou irreversível o bem jurídico. Seria o caso de o juiz
alertar o Delegado: em caso de ofensa à integridade física de vítimas, a força policial deverá intervir
imediatamente, evitando lesões corporais ou morte. Se a ação controlada envolver transposição de fronteiras, o
retardamento da intervenção policial ou administrativa somente poderá ocorrer com a cooperação das
autoridades dos países que figurem como provável itinerário ou destino do investigado, de modo a reduzir os
riscos de fuga e extravio do produto, objeto, instrumento ou proveito do crime (art. 9º da Lei nº 12.850/2013).
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*#ATENÇÃO: Segundo Renato Brasileiro, a entrega vigiada pode ser classificada da seguinte forma:
a) entrega vigiada limpa (ou com substituição): as remessas ilícitas são trocadas antes de serem entregues ao
destinatário final por outro produto qualquer, um simulacro, afastando-se o risco de extravio da mercadoria
b) entrega vigiada suja (ou com acompanhamento): a encomenda segue seu itinerário sem alteração do
conteúdo. Portanto, a remessa ilícita segue seu curso normal sob monitoramento, chegando ao destino sem
substituição do conteúdo. À evidência, como não há substituição da mercadoria, esta espécie de entrega vigiada
demanda redobrado monitoramento, exatamente para atenuar o risco de perda ou extravio de objetos ilícitos.

*INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA Ausência de autos apartados configura mera irregularidade. STF. 1ª Turma. HC
128102/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/12/2015 (Info 811).
As notícias anônimas ("denúncias anônimas") não autorizam, por si sós, a propositura de ação penal ou mesmo,
na fase de investigação preliminar, o emprego de métodos invasivos de investigação, como interceptação
telefônica ou busca e apreensão14*. Entretanto, elas podem constituir fonte de informação e de provas que não
podem ser simplesmente descartadas pelos órgãos do Poder Judiciário. Procedimento a ser adotado pela
autoridade policial em caso de “denúncia anônima”: 1) Realizar investigações preliminares para confirmar a
credibilidade da “denúncia”; 2) Sendo confirmado que a “denúncia anônima” possui aparência mínima de
procedência, instaura-se inquérito policial; 3) Instaurado o inquérito, a autoridade policial deverá buscar outros
meios de prova que não a interceptação telefônica (esta é a ultima ratio). Se houver indícios concretos contra os
investigados, mas a interceptação se revelar imprescindível para provar o crime, poderá ser requerida a quebra
do sigilo telefônico ao magistrado. STF. 1ª Turma. HC 106152/MS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 29/3/2016
(Info 819)

*O simples fato de o advogado do investigado ter sido interceptado não é causa, por si só, para gerar a anulação
de todo o processo e da condenação que foi imposta ao réu. Se o Tribunal constatar que houve indevida
interceptação do advogado do investigado e que, portanto, foram violadas as prerrogativas da defesa, essa
situação poderá gerar três consequências processuais: 1ª) Cassação ou invalidação do ato judicial que determinou
a interceptação; 2ª) Invalidação dos atos processuais subsequentes ao ato atentatório e com ele relacionados; 3ª)
Afastamento do magistrado caso se demonstre que, ao assim agir, atuava de forma parcial. Se o próprio juiz, ao
perceber que o advogado do investigado foi indevidamente "grampeado", anula as gravações envolvendo o
profissional e, na sentença, não utiliza nenhuma dessas conversas nem qualquer prova derivada delas, não há
motivo para se anular a condenação imposta. STF. 2ª Turma. HC 129706/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
28/6/2016 (Info 832).

14
*CAIU NA SEGUNDA FASE DA DPE ALAGOAS (2017) #CESPE.

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* A obtenção do conteúdo de conversas e mensagens armazenadas em aparelho de telefone celular ou
smartphones não se subordina aos ditames da Lei nº 9.296/96. O acesso ao conteúdo armazenado em telefone
celular ou smartphone, quando determinada judicialmente a busca e apreensão destes aparelhos, não ofende o
art. 5º, XII, da CF/88, considerando que o sigilo a que se refere esse dispositivo constitucional é em relação à
interceptação telefônica ou telemática propriamente dita, ou seja, é da comunicação de dados, e não dos dados
em si mesmos. Assim, se o juiz determinou a busca e apreensão de telefone celular ou smartphone do
investigado, é lícito que as autoridades tenham acesso aos dados armazenados no aparelho apreendido,
especialmente quando a referida decisão tenha expressamente autorizado o acesso a esse conteúdo. STJ. 5ª
Turma. RHC 75.800-PR, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 15/9/2016 (Info 590).

*A Lei nº 9.296/96 prevê que a interceptação telefônica "não poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável
por igual tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova." (art. 5º). A interceptação
telefônica não pode exceder 15 dias. Contudo, pode ser renovada por igual período, não havendo restrição legal
ao número de vezes para tal renovação, se comprovada a sua necessidade. STF. 2ª Turma. HC 133148/ES, Rel.
Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 21/2/2017 (Info 855).

*Após receber diversas denúncias de fraudes em licitações realizadas no Município, o Ministério Público Estadual
promoveu diligências preliminares e instaurou Procedimento Investigativo. Segundo a jurisprudência do STJ e do
STF, não há ilegalidade em iniciar investigações preliminares com base em "denúncia anônima" a fim de se
verificar a plausibilidade das alegações contidas no documento apócrifo. Após confirmar a plausibilidade das
"denúncias", o MP requereu ao juízo a decretação da interceptação telefônica dos investigados alegando que não
havia outro meio senão a utilização de tal medida, como forma de investigação dos supostos crimes. O juiz
acolheu o pedido. O STJ e o STF entenderam que a decisão do magistrado foi correta considerando que a
decretação da interceptação telefônica não foi feita com base unicamente na "denúncia anônima" e sim após a
realização de diligências investigativas por parte do Ministério Público e a constatação de que a interceptação era
indispensável neste caso. STJ. 6ª Turma. RHC 38.566/ES, Rel. Min. Ericson Maranho (Des. Conv. do TJ/SP), julgado
em 19/11/2015. STF. 2ª Turma. HC 133148/ES, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 21/2/2017 (Info 855).

*É nula decisão judicial que autoriza o espelhamento do WhatsApp via Código QR para acesso no WhatsApp Web.
Também são nulas todas as provas e atos que dela diretamente dependam ou sejam consequência, ressalvadas
eventuais fontes independentes. Não é possível aplicar a analogia entre o instituto da interceptação telefônica e o
espelhamento, por meio do WhatsApp Web, das conversas realizadas pelo aplicativo WhatsApp. STJ. 6ª Turma.
RHC 99.735-SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 27/11/2018 (Info 640).

*#DEOLHONAJURIS#DIZERODIREITO#STF: Determinado policial militar foi designado para participar, nas ruas, à
paisana, de passeatas e manifestações, a fim de coletar dados para subsidiar a Força Nacional de Segurança em
atuação estratégica diante dos movimentos sociais e dos protestos ocorridos no Brasil em 2014. Para essa
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atividade, não se exigia prévia autorização judicial. No curso de sua atividade originária, o referido policial,
percebendo que algumas pessoas estavam se reunindo para planejar a prática de crimes, aproximou-se desses
suspeitos, ganhou a sua confiança e infiltrou-se no grupo participando das conversas virtuais e das reuniões
presenciais dos envolvidos. Assim, o policial ultrapassou os limites da sua atribuição original e passou a agir como
agente infiltrado. Ocorre que a infiltração de agentes somente pode acontecer após prévia autorização judicial, o
que não havia no caso. Diante disso, o STF declarou a ilicitude e determinou o desentranhamento da infiltração
realizada pelo policial militar e dos depoimentos por ele prestados em sede policial e em juízo, nos termos do art.
157, § 3º, do CPP. STF. 2ª Turma. HC 147837/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 26/2/2019 (Info 932).
#IMPORTANTE

16. JURISPRUDÊNCIA EM TESES

*#JURISEMTESES:
- Edição nº 11115:
1) É possível o arrolamento de testemunhas pelo assistente de acusação (art. 271 do Código de Processo
Penal), desde que respeitado o limite de 5 (cinco) pessoas, previstos no art. 422 do CPP.
2) O réu não tem direito subjetivo de acompanhar, por sistema de videoconferência, audiência de inquirição
de testemunhas realizada, presencialmente, perante o Juízo natural da causa, por ausência de previsão
legal, regulamentar e principiológica.
3) Em delitos sexuais, comumente praticados às ocultas, a palavra da vítima possui especial relevância,
desde que esteja em consonância com as demais provas acostadas aos autos.
4) Nos delitos praticados em ambiente doméstico e familiar, geralmente praticados à clandestinidade, sem a
presença de testemunhas, a palavra da vítima possui especial relevância, notadamente quando
corroborada por outros elementos probatórios acostados aos autos.
5) É possível a antecipação da colheita da prova testemunhal, com base no art. 366 do CPP, nas hipóteses
em que as testemunhas são policiais, tendo em vista a relevante probabilidade de esvaziamento da prova
pela natureza da atuação profissional, marcada pelo contato diário com fatos criminosos.
6) Não há cerceamento de defesa quando a decisão que indefere oitiva de testemunhas residentes em
outro país for devidamente fundamentada.
7) É ilícita a prova colhida mediante acesso aos dados armazenados no aparelho celular, relativos a
mensagens de texto, SMS, conversas por meio de aplicativos (WhatsApp), e obtida diretamente pela
polícia, sem prévia autorização judicial.

15
As teses aqui resumidas foram elaboradas pela Secretaria de Jurisprudência, mediante exaustiva pesquisa na base de
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, não consistindo em repositórios oficiais da jurisprudência deste Tribunal. Os
entendimentos foram extraídos de julgados publicados até 06/09/2018. Disponível em:
http://www.stj.jus.br/internet_docs/jurisprudencia/jurisprudenciaemteses/Jurisprud%EAncia%20em%20teses%20111%20-
%20Provas%20no%20Processo%20Penal%20-%20II.pdf
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8) É desnecessária a realização de perícia para a identificação de voz captada nas interceptações telefônicas,
salvo quando houver dúvida plausível que justifique a medida.
9) É necessária a realização do exame de corpo de delito para comprovação da materialidade do crime
quando a conduta deixar vestígios, entretanto, o laudo pericial será substituído por outros elementos de
prova na hipótese em que as evidências tenham desaparecido ou que o lugar se tenha tornado impróprio
ou, ainda, quando as circunstâncias do crime não permitirem a análise técnica.
10) O laudo toxicológico definitivo é imprescindível para a configuração do crime de tráfico ilícito de
entorpecentes, sob pena de se ter por incerta a materialidade do delito e, por conseguinte, ensejar a
absolvição do acusado.
11) É possível, em situações excepcionais, a comprovação da materialidade do crime de tráfico de drogas pelo
laudo de constatação provisório, desde que esteja dotado de certeza idêntica à do laudo definitivo e que
tenha sido elaborado por perito oficial, em procedimento e com conclusões equivalentes.
12) É prescindível a apreensão e a perícia de arma de fogo para a caracterização de causa de aumento de
pena prevista no art. 157, § 2º-A, I, do Código Penal, quando evidenciado o seu emprego por outros
meios de prova.

17. DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO

DIPLOMA DISPOSITIVOS
Código de Processo Penal Art. 158 a 250
Lei 12.850/2013 Art. 4º a 7º

18. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

Anotações de aula

Jurisprudência do site Dizer o Direito.

Manual de Processo Penal – Renato Brasileiro

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i
Este material foi produzido pelos coaches com base em anotações pessoais de aulas, referências e trechos de
doutrina, informativos de jurisprudência, enunciados de súmulas, artigos de lei, anotações oriundas de questões,
entre outros, além de estar em constante processo de atualização legislativa e jurisprudencial pela equipe do Ciclos
R3.

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