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DISCIPLINA

ASPECTOS PROCESSUAIS PENAIS

CONTEÚDO

Inquérito Policial
Parte I
Aspectos Processuais Penais |

Inquérito Policial

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Inquérito Policial

Sumário
Sumário------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 3
1 Inquérito Policial ------------------------------------------------------------------------------------------- 4
1.1 Natureza Jurídica do Inquérito --------------------------------------------------------------------------------------- 6
1.2 Finalidade do Inquérito Policial -------------------------------------------------------------------------------------- 6
1.3 Atribuição para a Presidência do Inquérito Policial ------------------------------------------------------------ 8
1.3.1 Funções de polícia administrativa, judiciária e investigativa ------------------------------------------------------------ 8
1.4 Crime Comum Federal ------------------------------------------------------------------------------------------------ 10
1.5 Crime Comum Estadual----------------------------------------------------------------------------------------------- 11
1.6 Delegado de Polícia---------------------------------------------------------------------------------------------------- 12
1.7 Características do Inquérito Policial ------------------------------------------------------------------------------ 14
1.7.1 Procedimento Escrito ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 14
1.7.2 Procedimento Dispensável ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 15
1.7.3 Sigiloso. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 16
1.7.4 Inquisitorial ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 19
1.1.1 Citação dos Agentes -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 22
1.7.5 Discricionário ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 23
1.1.2 Oficial --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 25
1.1.3 Oficioso------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 25
1.1.4 Indisponível ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 26
1.1.5 Temporário -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 26
1.2 Da Instauração do Inquérito Policial ------------------------------------------------------------------------------ 27
1.2.1 Lei de Abuso de Autoridade (Lei n. 13.869/2019) ------------------------------------------------------------------------ 28
1.2.2 Formas de Instauração do Inquérito Policial ------------------------------------------------------------------------------- 28
1.7.6 Ação Penal Pública Condicionada a Representação ---------------------------------------------------------------------- 32
1.7.7 Ação Penal Privada ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 32
1.8 Notitia Criminis --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 33
1.8.1 Delatio Criminis -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 34
1.9 Diligências Investigatórias ------------------------------------------------------------------------------------------- 34

2 Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------------------------------ 36

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Inquérito Policial

1 Inquérito Policial
O Estado é o detentor do “direito de punir” e ninguém pode exercer esta função além
dele! Ou seja, o Estado monopoliza o encargo de aplicar as leis. Desta forma, o
indivíduo que cometer uma infração penal será punido pelo Estado, sendo necessário
que seja observado o processo legal, sobretudo à norma constitucional, a qual prevê
o art. 5º da Magna Carta:
“LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal [..]”

É dever do Estado assegurar a ordem social, zelando pelo bem-estar da população,


logo, o Estado possui o interesse de punir aos que praticam condutas ilícitas. Assim, o
inquérito policial faz parte do procedimento administrativo do Estado e a sua
instauração tem por objetivo verificar a ocorrência ou não de infração penal.

Renato Brasileiro traz o conceito do inquérito policial e cita que:


Procedimento administrativo inquisitório e preparatório, presidido pelo Delegado de Polícia, o
inquérito policial consiste em um conjunto de diligências realizadas pela polícia investigativa
objetivando a identificação das fontes de prova e a colheita de elementos de informação
quanto à autoria e materialidade da infração penal, a fim de possibilitar que o titular da ação
penal possa ingressar em juízo (LIMA, 2020, p. 175).

Basicamente Reis e Gonçalves (2020), compreendem como um procedimento de


investigação instaurado em razão da prática de infração penal, possui o objetivo
de possuir elementos de prova para que o titular da ação proponha contra o autor da
infração penal. O Estado por meio da polícia civil deve buscar provas iniciais a respeito
da autoria e materialidade para as apresentar ao titular da ação penal (ofendido ou
Ministério Público), para que seja decidido se a denúncia ou queixa-crime será
oferecida (REIS, GONÇALVES, 2020)

Quando é oferecido, o inquérito as acompanhará, para que assim o juiz avalie se


existem indícios suficientes de autoria e materialidade para recebê‐las, sendo o
destinatário imediato do inquérito o titular da ação (ofendido ou Ministério Público)
e o destinatário mediato é o juiz (REIS, GONÇALVES, 2020).

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Inquérito Policial

Existem diversas espécies de investigação, como por exemplo:

• Investigação Particular;
• Investigação Pelo MP;
• Inquérito Policial Militar;
• Inquérito Policial.
• Sindicância administrativa
• Processo administrativo disciplinar
• Inquérito Civil
• Representação Fiscal Para Fins Penais (RFPFP)

O inquérito será instaurado para apurar as infrações que possuam pena superior a 2
anos, pois nas infrações de menor potencial ofensivo o art. 69 da Lei n. 9.099/95 prevê
a lavratura de termo circunstanciado. Contudo, se a infração de menor potencial
ofensivo possuir alguma complexidade, inviabilizando a apuração mediante termo
circunstanciado o inquérito policial será instaurado de forma excepcional.

ATENÇÃO! Se atente aos termos do art. 41 da Lei n. 11.340/2006 (Maria da Penha),


pois as infrações que envolvam violência familiar ou doméstica contra a mulher são
apuradas mediante inquérito policial, mesmo que a pena máxima não seja superior
aos 2 anos.

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Inquérito Policial

1.1 Natureza Jurídica do Inquérito

A natureza jurídica é saber o que cada instituto representa para o direito, bem como
em qual categoria/classificação melhor se encaixa. Segundo Lopes Jr (2020, p.182) “[...]
à natureza jurídica do inquérito policial, vem determinada pelo sujeito e pela natureza
dos atos realizados, de modo que deve ser considerado como um procedimento
administrativo pré-processual.”

ATENÇÃO! O procedimento é diferente de processo, não confunda, em regra, no


procedimento não há contraditório ou ampla defesa, pois na conclusão do inquérito
policial não há aplicação de penalidade. Para que você não se confunda vamos
diferenciar procedimento de processo! O processo é o instrumento para que se
consiga a prestação jurisdicional, com sucessão de atos processuais específicos e o
procedimento é o modo em que os atos processuais devem ser cumpridos, isto é,
qual rito deveram seguir.

Judicialidade? Apesar de ser classificado como um procedimento administrativo, em


diversas hipóteses as diligências realizadas no âmbito do inquérito se sujeitam ao crivo
do Poder Judiciário.

1.2 Finalidade do Inquérito Policial

Quando um delito é praticado, há o Estado para punir o suposto indivíduo que


cometeu tal delito. Para que o Estado possa cumprir com o seu dever é necessário a
presença de elementos de informação a respeito da autoria e à materialidade da
infração penal.

O inquérito geralmente é o instrumento utilizado pelo Estado para colher estes


elementos de informação, mas este processo também contribui para que inocentes
não sejam submetidos injustamente ao processo criminal.

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Inquérito Policial

O inquérito possui finalidade de:

• Identificar fonte de prova

Primeiramente identifica-se as fontes de prova e em sequência, através das fontes


serão extraídas o meio de prova efetiva.

Saiba diferenciar a fonte de prova de um meio de prova, são coisas distintas! É uma
diferença doutrinária, as fontes de prova são coisas e pessoas, sendo de onde
provém a prova. Já os meios de prova são instrumentos os quais permitem levar
ao juiz os elementos para a formulação do entendimento acerca do caso.

• Colheita de elementos informativos

O elemento informativo é colhido no âmbito da investigação preliminar e não se


sujeita a observância obrigatória do contraditório.

• Inibir a instauração de processo temerário

Ao inibir a instauração de processo temerário se elucida um fato aparentemente


criminoso.

Alterações ocorreram por meio da Lei nº 11.690/08, assim o cpp expressou a distinção
entre elementos informativos e prova, abaixo elencamos a nova redação do CPP:
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas.

As provas cautelares visam assegurar o resultado útil da prova para o processo, ou


seja, são as que possuem um risco de desaparecimento do objeto da prova, se não
forem produzidas perdem logo a sua razão de produção. É preciso de autorização
judicial para provas cautelares, e geralmente envolvem a restrição de direitos
fundamentais, o contraditório e ampla defesa ocorrem, mas são
postergados/diferidos. Ex: interceptações telefônicas; Busca e apreensão; etc.

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Inquérito Policial

As provas não repetíveis dependem de autorização judicial, são as provas que


possuem risco de desaparecimento, quando produzidas não podem ser feitas
novamente. Ex: exame de corpo de delito etc.

As provas antecipadas dependem de autorização judicial, possuem contraditório e


ampla defesa real. Ex: testemunha que no hospital em fase terminal.

1.3 Atribuição para a Presidência do Inquérito Policial


1.3.1 Funções de polícia administrativa, judiciária e investigativa

A partir deste momento iremos realizar a diferenciação entre a polícia administrativa,


judiciária e investigativa. Agora, vamos distingui-las:

A polícia administrativa possui a função eminentemente de prevenção da prática de


ilícitos, ou seja, visa impedir a prática de atos lesivos à sociedade. Já a polícia
judiciária possui o objetivo do cumprimento das ordens emanadas pelo poder
judiciário, ela apura os fatos já ocorridos.

Há quem sustente que a principal diferença entre ambas é a ocorrência ou não do


ilícito penal. Desta maneira, a polícia administrativa atua na prevenção e repressão do
ilícito administrativo e a judiciária/investigativa atua a partir do ilícito penal.

O autor Lima (2020, p 175) a respeito da polícia judiciaria compreende que:


[...] cuida-se de função de caráter repressivo, auxiliando o Poder Judiciário. Sua atuação ocorre
depois da prática de uma infração penal e tem como objetivo precípuo colher elementos de

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informação relativos à materialidade e à autoria do delito, propiciando que o titular da ação


penal possa dar início à persecução penal em juízo.

A polícia investigativa deve investigar a ocorrência do ilícito, lima (2020, p.178) cita
que “[...] devem ser compreendidas as atribuições ligadas à colheita de elementos
informativos quanto à autoria e materialidade das infrações penais [...]”

• Polícia Federal; e
• Polícia Civil dos Estados.

Militar da União

Quem investigará o crime militar, será as Forças Armadas (Marinha, Exército e


Aeronáutica), que designará um oficial.

Militar dos Estados

Ficará a cargo das Instituições de Polícias Militares e o Corpo de Bombeiros.

Crime Eleitoral

Quem investigará no crime eleitoral será a Polícia Federal, pois é uma justiça
administrada pela União, mas onde não possui órgão da polícia federal, é deferido a
investigação à Polícia Civil.

Portanto, quem é o titular/responsável pela elaboração e condução do inquérito


policial? Polícia investigativa.

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1.4 Crime Comum Federal

No Brasil, a polícia desempenha o papel de polícia judiciária e polícia preventiva, a


polícia judiciária realiza a investigação preliminar (no estado, realizado pela polícia
Civil e âmbito federal, pela polícia federal). A polícia civil estadual pode investigar um
delito de competência da Justiça federal e a polícia federal pode realizar um inquérito
em um delito de competência da Justiça Estadual. Entretanto, geralmente, a atuação
é limitada no âmbito da Justiça respectiva.

Segundo Lopes Jr (2020), em caso de inquérito policial, as atividades da polícia


judiciária serão exercidas no território de suas respectivas circunscrições. Para definir
a atribuição policial (competência) no inquérito policial se observa o critério
territorial ou razão da matéria. Considere que a polícia judiciária é exercida pela polícia
civil e polícia federal. Assim, incube à polícia federal, nos termos do art. 144, §1º da
Constituição Federal (...):

§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela
União e estruturado em carreira, destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços
e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como
outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão
uniforme, segundo se dispuser em lei;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o
descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas
de competência;
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

A respeito do critério adotado para definir a autoridade policial, Lopes Jr (2020)


compreende que se o inquérito é um instrumento a serviço do processo e
preparatório, o lógico é a orientação através dos critérios de competência processual.
Assim, se é possível identificar que se trata de um crime de competência da Justiça
Federal (art. 109 da CF), quem deverá investigar é a polícia federal, ou seja, no crime
comum federal quem irá investigar será a polícia federal.

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Inquérito Policial

Todos os crimes cuja prática tenha repercussão Inter estadual ou internacional,


ou exija a repressão uniforme, são de competência da justiça federal? A polícia
federal possui competência de investigação em relação aos crimes federais, sendo
necessário dois requisitos para que investigue os outros crimes:

• A repercussão internacional/ interestadual

• Previsão legal.

Ex: O tráfico interno de drogas quando envolve situações entre Estados.

1.5 Crime Comum Estadual

Nos termos do art. 144, §4º da Constituição Federal (...) cita que:
§4º Às policiais civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incubem, ressalvada a
competência da União, as funções de polícia judiciária e apuração de infrações penais, exceto
as militares.

Este parágrafo prevê que a Polícia Civil possui funções de polícia judiciária e de
apuração de infrações penais. As funções de polícia investigativa devem ser
compreendidas como atribuições ligadas à colheita de elementos informativos quanto
à materialidade e autoria das infrações penais. Esta expressão “polícia judiciária” se
relaciona a auxiliar o Poder Judiciário, cumprindo as ordens judiciárias. Contudo, a
Constituição Federal excepciona a atribuição da Polícia Civil na investigação dos
crimes militares.

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A respeito da competência para fazer o inquérito policial, quem é a autoridade


competente para tal? O promotor de justiça não pode conduzir o inquérito policial,
ele pode ter papel no inquérito, mas não irá presidir o inquérito, pois quem preside é
o delegado de polícia.

1.6 Delegado de Polícia

A Lei de n.º 12.830/2013 dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo


delegado de polícia, em seu art. 2º compreende que:
As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de
polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado.
§ 1º Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da
investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei,
que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das
infrações penais.

Conhecido como autoridade policial, o Delegado da Polícia é o chefe da Polícia


Investigativa (conhecida como Polícia Judiciária Polícia Civil/Polícia Federal). O
Delegado possui a função de comandar a investigação de crimes, desvendando delitos
e assim permitindo a responsabilização dos infratores. As apurações das infrações
penais são documentadas em inquérito policial e ao presidir o inquérito policial, o
Delegado coordena os trabalhos, determinando quais diligências devem ser feitas,
esclarecendo os fatos de forma imparcial.

O termo circunstanciado poderia ser enquadrado segundo doutrinadores, há


autores que defendem que a Polícia Militar pode realizar o termo circunstanciado.

O art. 69 da Lei n. 9.099/95, traz o termo circunstanciado, este visa dar maior celeridade
ao procedimento investigatório, dispensando a instauração do inquérito policial para
apurar infrações de menor potencial ofensivo. Segundo Reis e Gonçalves (2020) foi

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instituído em seu lugar o termo circunstanciado onde a autoridade policial deve lavrar
assim que tomar conhecimento da ocorrência do ilícito penal, ou seja, a finalidade é a
mesma do inquérito policial, mas é feito de maneira menos formal e sem a
necessidade de colheita minuciosa de provas.

Já em seu parágrafo 2º a lei a Lei de n.º 12.830/2013 cita que:


Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição de perícia,
informações, documentos e dados que interessem à apuração dos fatos.

ATENÇÃO! Saiba diferenciar a requisição de requerimento, a requisição é uma ordem,


já o requerimento é um pedido. O delegado de polícia possui o poder de requisitar e
essa requisição será legitima caso seja algo que não dependa de decisão judicial.

Uma dúvida que pode surgir é a respeito da inamovibilidade, o Delegado possui


inamovibilidade? Antes de respondermos esta pergunta, vamos definir o que é a
inamovibilidade!

A inamovibilidade é uma garantia prevista, onde se assegura aos Magistrados a não


transferência, exceto por relevância de interesse público ou vontade própria. Esta
garantia está expressa no art. 95, inciso II da Carta Magna. Portanto, o Delegado não
possui essa garantia, mas a lei 12.830 trouxe uma previsão que dificulta a transferência:
§ 4º O inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei em curso somente poderá ser
avocado ou redistribuído por superior hierárquico, mediante despacho fundamentado, por
motivo de interesse público ou nas hipóteses de inobservância dos procedimentos previstos
em regulamento da corporação que prejudique a eficácia da investigação.
§5º A remoção do delegado de polícia dar-se-á somente por ato fundamentado.

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1.7 Características do Inquérito Policial


1.7.1 Procedimento Escrito

O inquérito é um processo escrito, previsto no código de processo penal, o art. 9º


compreende que:
Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou
datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.

Este artigo traz basicamente que as peças em um processo serão reduzidas a termo,
ou seja, o que ocorre no inquérito deve ser escrito e reunido aos autos do inquérito.
Segundo Lima (2020) discute-se na doutrina, sobre a possibilidade de se utilizar de
recursos de gravação audiovisual no curso das investigações policiais. Na atualidade
a forma escrita pode até ser considerada “ultrapassada”, pois com o avanço frequente
das tecnologias surgiram outros meios de captação como audiovisual. Muitos
processos e inquéritos policiais em curso são de forma eletrônica (isso não significa
que é dispensada a escrita, contudo, as tecnologias trazem uma maior fidelidade).

Cara aluna, havendo a captação audiovisual é necessária à sua degravação? Não


é preciso, em um primeiro momento as degravações eram realizadas, contudo, se
observou não ser necessário.

Lopes Jr, contudo, traz uma problemática e cita que:


A inserção de tecnologia é bem-vinda, mas existem limites da administração da justiça e do
ritual judiciário que devem ser respeitados. Se uma audiência é gravada (áudio e vídeo), isso
não pode excluir a necessária transcrição. Os recursos não se excluem, senão que se
complementam. Entregar, ao final da audiência, um CD é um grave erro, que causará grande
prejuízo para todos. Quem (juiz, promotor, advogados de defesa ou assistentes da acusação)
ficará horas e horas assistindo a depoimentos para elaborar memoriais ou mesmo um recurso
de apelação? E o duplo grau de jurisdição, como fica? Que desembargador fará isso antes de
julgar um recurso? Nenhum. Elementar que essa pseudoagilidade cobre um preço impagável.
Dessarte, parece-nos que a transcrição é fundamental para assegurar o direito de defesa e do

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duplo grau de jurisdição (LOPES JR, 2020, p. 1170/1171).

O art. 405 (...) traz a respeito do registro dos depoimentos e prevê o uso da tecnologia,
buscando a fidelidade das informações:
§1º Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, indiciado, ofendido e
testemunhas será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou
técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das informações .

ATENÇÃO! O inquérito policial é sigiloso, logo os arquivos produzidos no inquérito


são sigilosos. Já os arquivos produzidos em Processo Penal (fase judicial), são em regra
públicos, salvo, quando é preciso resguardar a intimidade dos envolvidos ou em caso
relevante de interesse público.

1.7.2 Procedimento Dispensável

O inquérito policial é um elemento dispensável, pois subsidia o titular da ação penal


no oferecimento da queixa/denuncia, ou seja, colhe elementos. Se o inquérito fosse
indispensável a sua falta causaria nulidade, logo, a atuação do titular da ação penal
pode ser subsidiada por outras peças de informação.

Ex: Representação fiscal; sindicância no âmbito administrativo, PIC etc.

Observe que o inquérito policial é uma peça auxiliar, mas não obrigatória, pois
acompanha a queixa servindo de base, caso não sirva de base, pois já existem provas
ou qualquer outro motivo, o inquérito poderá ser dispensado. Entretanto, existem
posições contrarias, como a do professor Henrique Hoffmann sobre a
indispensabilidade do inquérito.

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ATENÇÃO! A posição do Prof. Henrique Hoffmann a respeito da indispensabilidade


do inquérito pode ser cobrada em prova.

Com base em alguns argumentos, Henrique Hoffmann compreende que a maioria dos
crimes utiliza o inquérito policial, pois é o que conduz a investigação impessoal e
imparcial, há a busca da verdade, seja para subsidiar o titular da ação ou para colher
elementos uteis a defesa.

É importante destacar que a atuação da polícia não é apenas em prol de acusação,


essa é uma visão que deve ser alterada, pois a polícia deve buscar a verdade, isto é, o
esclarecimento dos fatos. É através da instauração do inquérito policial que se evita
acusações precipitadas. Portanto, Hoffmann compreende que o inquérito é uma
importante ferramenta de proteção de direitos fundamentais

1.7.3 Sigiloso.

O inquérito é peça de natureza administrativa, preliminar e inquisitiva à ação penal e


deve ser sigiloso, o art. 20 do Código de Processo Penal compreende que:
A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo
interesse da sociedade.
Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade
policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito
contra os requerentes.

Não cabe a incursão na delegacia, pois segundo Nucci (2020), as investigações já são
fiscalizadas e acompanhadas por órgãos estatais, sendo dispensado a publicidade.
Assim, não poderá ser feito da maneira em que ocorre quanto ao processo-crime em
juízo.

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Nem o próprio indiciado possui acesso aos autos, “[...] É certo que, inexistindo
inconveniente à “elucidação do fato” ou ao “interesse da sociedade”, pode a
autoridade policial, que o preside, permitir o acesso de qualquer interessado na
consulta aos autos do inquérito (NUCCI, 2020, p187).”

O delegado pode ao seu juízo, deixar de juntar ao processo as diligências já


realizadas? O delegado poderá deixar de juntar em algumas hipóteses como:
Diligências em andamento/diligências futuras; e diligências que possam ser frustradas.

Esta situação é comum quando repórteres buscam saber sobre a investigação, desta
forma o delegado pode especificar que a investigação é confidencial decretando o
estado de sigilo. Quando há o decreto, se afasta dos autos o acesso de qualquer
indivíduo, contudo, o advogado possui o acesso ao inquérito.

1.7.3.1 Tratamento do Sigilo em Relação ao Advogado

Logo o sigilo por alguns autores pode ser considerado ineficaz, pois se há uma
investigação em segredo em andamento, o suspeito pode por intermédio de
advogado acessar os autos, assim saberá o rumo que o inquérito está. A respeito da
amplitude do acesso, está pacificada na súmula vinculante 14 do Supremo Tribunal
Federal, a qual compreende que “é direito do defensor, no interesse do representado,
ter acesso amplo aos elementos de prova, que, já documentados em procedimento
investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam
respeito ao exercício do direito de defesa”.

No inquérito não prevalecem a ampla defesa e o contraditório, visto não ser processo,
mas investigação, o indiciado possui o interesse de se resguardar por meio de seu
advogado. Portanto, ter o conhecimento dos elementos, pela defesa, é essencial para
combater o início de ação penal, sem justa causa.

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Inquérito Policial

No que se refere ao advogado e o acesso ao inquérito, possui previsão no Estatuto


da Advocacia Lei 8.906/94, art. 7.º, sendo claro nesse sentido, cita que:
(...)
XIV- examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação mesmo sem
procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em
andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos,
em meio físico ou digital;

A respeito da autorização judicial, segundo Lima (2020) independe de prévia


autorização judicial para que o defensor tenha acesso aos elementos de informação
já documentados nos autos do procedimento investigatório. Porém, ao se tratar de
investigação referente a organizações criminosas, se decretado o sigilo da
investigação pela autoridade judicial, o acesso precisará de autorização judicial, está
previsto na Lei nº 12.850/13, em seu art. 23.
Art. 23 O sigilo da investigação poderá ser decretado pela autoridade judicial competente,
para garantia da celeridade e da eficácia das diligências investigatórias, assegurando-se ao
defensor, no interesse do representado, amplo acesso aos elementos de prova que digam
respeito ao exercício do direito de defesa, devidamente precedido de autorização judicial,
ressalvados os referentes às diligências em andamento.

Esta lei basicamente define a organização criminosa e dispõe sobre a investigação


criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento
criminal.

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ATENÇÃO! Caso o delegado de polícia negue o acesso, será preciso de autorização


judicial. O advogado poderá realizar uma petição, em relação ao cliente impetrar
habeas corpus ou poderá realizar um mandado de segurança.

1.7.4 Inquisitorial

O inquérito policial possui o procedimento inquisitorial, ou seja, se reúne em uma


única autoridade os poderes de condução do IPL. Com a nova redação conferida à Lei
nº 8.906/94, a natureza jurídica das investigações preliminares fora questionada, o
inquérito policial é um procedimento sujeito ao contraditório diferido e à ampla
defesa? Ou é de natureza inquisitorial?

A Investigação preliminar como procedimento inquisitorial é a corrente mais utilizada,


onde o contraditório e a ampla defesa não são obrigatórios. Contudo, alguns
doutrinadores compreendem ser uma afirmação errada, o autor Lopes Jr é um
exemplo e cita que:
É lugar-comum na doutrina a afirmação genérica e infundada de que não existe direito de
defesa e contraditório no inquérito policial. Está errada a afirmação, pecando por
reducionismo. Basta citar a possibilidade de o indiciado exercer no interrogatório policial sua
autodefesa positiva (dando sua versão aos fatos); ou negativa (usando seu direito de silêncio).
Também poderá fazer-se acompanhar de advogado (defesa técnica) que poderá agora intervir
no final do interrogatório. Poderá, ainda, postular diligências e juntar documentos (art. 14 do
CPP) e apresentar razões (defesa escrita e outras alegações defensivas), nos termos da Lei n.
8.906/94, art. 7º, XXI (LOPES JR, 2020, p. 294).

ATENÇÃO! Um ato judicial não ocorrerá sem a presença do defensor, se o fizer


considera-se nulidade absoluta. Já no procedimento investigativo (inquérito policial),
se o advogado não estiver presente o ato pode ser considerado valido.

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Inquérito Policial

O defensor para exercer a atividade com plena eficácia, atua com uma série de
garantias, as quais permitem a autonomia e a independência em relação ao promotor,
autoridade policial e o juiz. Assim, a Constituição Federal dispõe em seu art. 133 que:
O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e
manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.

Existem garantias vinculadas a atuação do advogado, destacaremos as presentes na


Lei n. 8.906/94 em seu art. 7º (...), após a alteração feita pela Lei n. 13.245/2016:
XXI - assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de
nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de todos
os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou
indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração: (Incluído pela Lei nº
13.245, de 2016)
a) apresentar razões e quesitos; (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016)

• A Lei n. 8.906/94 é a que disciplina a atividade profissional do advogado.

ATENÇÃO! Não existe sigilo para o advogado no inquérito policial, desta forma não
lhe pode ser negado o acesso às suas peças nem ser negado o direito à extração de
cópias ou fazer apontamentos.

Com a nova Redação conferida a Lei 8.906/94 duas correntes surgem, vamos
diferenciá-las:

❖ Investigação preliminar como procedimento sujeito ao contraditório


diferido e à ampla defesa:

Parte defende que o inquérito policial possui a ampla defesa e o contraditório,


a qual pode ocorrer de duas formas, sendo:

• Endógena (dentro do processo);

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Segundo Lima (2020, p. 185) “[...] é aquele praticado nos autos da


investigação preliminar, por meio da oitiva do imputado (autodefesa –
direito de audiência), de diligências porventura solicitadas [...] à autoridade
policial (CPP, art. 14), ou através da apresentação de razões e quesitos [...]”.

• Exógena (fora do processo);


Segundo Lima (2020, p. 185) “[...] é aquele efetivado fora dos autos do
inquérito policial, por meio de algum remédio constitucional (habeas corpus
ou mandado de segurança) ou por requerimentos endereçados ao juiz ou
ao promotor de justiça”.

Esta é uma corrente minoritária.

❖ Investigação preliminar como procedimento inquisitorial:

Já a segunda corrente é a de contraditório e ampla defesa não serem obrigatórios.


É um direito do advogado.

O autor Lima traz a respeito do procedimento inquisitorial e cita que:


[...] ante a impossibilidade de aplicação de uma sanção como resultado imediato das
investigações criminais, como ocorre, por exemplo, em um processo administrativo disciplinar,
não se pode exigir a observância do contraditório e da ampla defesa nesse momento inicial da
persecução penal (LIMA, 2020, p. 189).

ATENÇÃO! É importante que você conheça as duas correntes, mas há uma


probabilidade maior de aparecer em sua prova a investigação preliminar como
procedimento inquisitorial!

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1.1.1 Citação dos Agentes

O conhecido “Pacote Anticrime” (alteração promovida pela Lei nº 13.964/2019) traz a


redação do art. 14-A do CPP o qual estabelece a obrigatoriedade de “citação” dos
agentes das forças de segurança pública, quando são investigados em procedimentos
de apuração preliminar de fatos que estão relacionados ao uso da força letal
praticados no exercício profissional.

É uma alteração recente a qual compreende que:


Nos casos em que servidores vinculados às instituições dispostas no art. 144 da Constituição
Federal figurarem como investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e
demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de fatos relacionados ao
uso da força letal praticados no exercício profissional, de forma consumada ou tentada,
incluindo as situações dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal), o indiciado poderá constituir defensor. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado deverá ser citado da
instauração do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48
(quarenta e oito) horas a contar do recebimento da citação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
§ 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo com ausência de nomeação de defensor
pelo investigado, a autoridade responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que
estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para que essa, no prazo de 48
(quarenta e oito) horas, indique defensor para a representação do investigado. (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019)
§ 3º (VETADO).
§ 4º (VETADO).
§ 5º (VETADO).
§ 6º As disposições constantes deste artigo se aplicam aos servidores militares vinculados às
instituições dispostas no art. 142 da Constituição Federal, desde que os fatos investigados
digam respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)

Os agentes das forças de segurança pública estão elencados no art. 144 da


Constituição Federa a qual cita que:
A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos
seguintes órgãos:

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I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
VI - polícias penais federal, estaduais e distrital. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
104, de 2019)

A respeito do art. 14-A do CPP, basicamente estabelece a obrigatoriedade de


“citação” dos agentes das forças de segurança pública. É preciso cientificar o
investigado de que ocorre a apuração em curso do fato, a citação é o ato de
comunicação processual a qual dá o conhecimento ao acusado que existe uma
imputação, cientificando e dando a possibilidade do acusado o exercício da ampla
defesa no decorrer do processo.

Em resumo, há uma regra específica para agentes de segurança publica investigados


por crimes pelo uso da força letal (consumado ou tentado). O agente de segurança
pode constituir defensor e caso não constitua, o delegado deve “citar” o investigado
(indiciado da investigação) para constituir defensor em 48 horas. Se não o fizer deverá
ser intimado o órgão para apresentar defensor para o agente (também em 48 horas),
sendo o órgão o qual o agente estava vinculado na época em que os fatos ocorreram.

1.7.5 Discricionário

Este é um tópico específico do direito administrativo, mas que está presente em todos
os ramos do direito. O caráter discricionário é a liberdade dentro dos ditames legais
para a condução das investigações da forma que a autoridade considera mais efetiva,

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ou seja, a autoridade policial que decide o rumo da investigação e as diligências


que serão efetuadas (as quais possuem o objetivo de elucidar as circunstâncias, a
autoria do fato criminoso e a materialidade). Previsto no art. 14 do Código de Processo
Penal traz que a vítima e o indiciado podem solicitar diligências para a autoridade
policial:
Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer
diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.

Segundo Lima (2020) a discricionariedade implica a liberdade de atuar nos limites


traçados pela lei, mas se a autoridade policial ultrapassar os limites, a atuação passará
a ser arbitrária, isto é, contrária à lei. Portanto, não se permite à autoridade policial a
adoção de diligências contrárias à Lei.

ATENÇÃO! O delegado de polícia possui discricionariedade para avaliar a necessidade


de interceptação telefônica, contudo, não poderá o fazer sem a autorização judicial.

O autor Lopes Jr (2020) prevê que:


De qualquer maneira, independente da vigência desse artigo, com base no direito de defesa,
no art. 14 do CPP e também dos dispositivos da Lei n. 8.906, PODE o imputado requerer a
produção da prova pericial; apresentar quesitos; indicar assistente técnico; e acompanhar a
colheita de elementos pelos peritos (extração de sangue, vestígios químicos no local etc.);
manifestar-se sobre a prova, podendo requerer nova perícia, sua complementação ou
esclarecimento dos peritos. Tal participação no inquérito policial (ou na investigação realizada
pelo MP) está perfeitamente autorizada, também pelo art. 14 do CPP, cabendo mandado de
segurança para o juiz (das garantias) contra o ato do delegado que injustificadamente recusar
o pedido feito pela defesa (LOPES JR, 2020, p. 684).

A discricionariedade não é ilimitada, pois sofre mitigação como por exemplo:

• No exame de corpo de delito, isto é, quando a infração deixar vestígio;


• Nas requisições determinadas pelo Ministério Público e Magistrados.

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A requisição é uma ordem que é fundamentada na lei, desta forma, não existe
hierarquia entre juiz, Ministério Público e delegado, não podendo ocorrer
arbitrariedade ao realizar requisições desprovidas de fundamento legal. Se ocorrer
uma requisição ilegal, a autoridade policial poderá fundamentar a negativa e oficiar o
órgão que a requisitou, isto é, o delegado de polícia não pode ser obrigado a atender
em caso de requisição manifestamente ilegal.

Como não existe a hierarquia entre juiz, ministério público e delegado, a Lei nº
13.245/2016 previa que o advogado no interesse do cliente poderia requisitar
diligências em sua alínea b do inciso XXI do art. 7º do Estatuto da OAB, e foi vetada.
Este dispositivo poderia levar à interpretação errônea de que a requisição seria
mandatória.

1.1.2 Oficial

Não existe inquérito policial informal, sendo de atribuição das policias investigativas,
ou seja, é conduzido por órgão oficial. Assim, incube ao Delegado de Polícia (civil ou
federal) a presidência do inquérito policial.

1.1.3 Oficioso

Após a sua instauração, seu andamento deve ser dado de ofício, ou seja, independe
de provocação. Segundo Lima (2020) a autoridade policial é obrigada a agir de oficio
ao tomar conhecimento de notícia de crime de ação penal pública incondicionada.

Lima (2020, p. 195) cita que:


No caso de crimes de ação penal pública condicionada à representação e de ação penal de
iniciativa privada, a instauração do inquérito policial está condicionada à manifestação da
vítima ou de seu representante legal. Porém, uma vez demonstrado o interesse do ofendido
na persecução penal, a autoridade policial é obrigada a agir de ofício, determinando as
diligências necessárias à apuração do delito.

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1.1.4 Indisponível

O Delegado de Polícia não pode arquivar os autos de inquérito policial segundo o art.
17 do CPP:
Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito.

Isto é, este é um procedimento indisponível que não pode ter seu arquivamento
determinado pelo Delegado de Polícia, mesmo que seja concluído a atipicidade da
conduta investigada a autoridade policial não poderá determinar o arquivamento do
inquérito, uma vez que instaurado.

1.1.5 Temporário

Não pode existir inquérito eterno, existem prazos para a sua conclusão. Disposto no
art. 10 do Código de Processo penal cita que:
O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante,
ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se
executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou
sem ela.
§ 1º A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz
competente.
§ 2º No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas,
mencionando o lugar onde possam ser encontradas.
§ 3º Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá
requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no
prazo marcado pelo juiz.

ATENÇÃO! O STJ determina o trancamento de inquéritos policiais, em razão de


grande decurso de prazo.

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1.2 Da Instauração do Inquérito Policial

A instauração depende da natureza do crime a ser investigado (art. 5º, CPP). Para a
instauração de um inquérito há a exigência de razões minimamente fundadas, isto
não significa que é um juízo de certeza, mas sim fundadas razões pela existência de
infração penal.

Em caso de denúncia anônima o procedimento de verificação preliminar deve


ocorrer, ou seja, antes de instaurar o inquérito, o delegado de polícia tende a mobilizar
uma equipe para verificar a procedência da denúncia.

Qual é a ação penal na infração penal a ser investigada? Poderá ser: Ação penal
pública incondicionada; Ação penal pública condicionada a representação do
ofendido; e Ação penal privada a qual depende da iniciativa do ofendido ou
representante legal.

O Ministro Celso de Mello traz o julgado de como proceder em documentos apócrifos


ou denúncias anônimas:

STF – HC 97.197

As autoridades públicas não podem iniciar qualquer medida de persecução (penal


ou disciplinar), apoiando-se, unicamente, para tal fim, em peças apócrifas ou em
escritos anônimos. É por essa razão que o escrito anônimo não autoriza, desde que
isoladamente considerado, a imediata instauração de “persecutio criminis”.

- Peças apócrifas não podem ser formalmente incorporadas a procedimentos


instaurados pelo Estado, salvo quando forem produzidas pelo acusado ou,
ainda, quando constituírem, elas próprias, o corpo de delito (como sucede com
bilhetes de resgate no crime de extorsão mediante seqüestro, ou como ocorre
com cartas que evidenciem a prática de crimes contra a honra, ou que
corporifiquem o delito de ameaça ou que materializem o “crimen falsi”, p. ex.).

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- Nada impede, contudo, que o Poder Público, provocado por delação anônima
(“disque-denúncia”, p. ex.), adote medidas informais destinadas a apurar,
previamente, em averiguação sumária, “com prudência e discrição”, a possível
ocorrência de eventual situação de ilicitude penal, desde que o faça com o
objetivo de conferir a verossimilhança dos fatos nela denunciados, em ordem a
promover, então, em caso positivo, a formal instauração da “persecutio
criminis”, mantendo-se, assim, completa desvinculação desse procedimento
estatal em relação às peças apócrifas.

1.2.1 Lei de Abuso de Autoridade (Lei n. 13.869/2019)

Em seu art. 27 a nova Lei de Abuso de Autoridade passa a criminalizar a conduta de


requisitar instauração, compreendendo que:
Requisitar instauração ou instaurar procedimento investigatório de infração penal ou
administrativa, em desfavor de alguém, à falta de qualquer indício da prática de crime, de ilícito
funcional ou de infração administrativa:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Não há crime quando se tratar de sindicância ou investigação preliminar
sumária, devidamente justificada.

Lima (2020, p. 197) cita que “[...] o crime de abuso de autoridade restará caracterizado
tão somente quando as condutas nucleares forem praticadas num ambiente de
absoluta falta de qualquer indício da prática de crime, de ilícito funcional ou de
infração administrativa”.

1.2.2 Formas de Instauração do Inquérito Policial

O inquérito policial será iniciado de ofício pelo delegado de polícia, ocorrerá toda vez
que possuir conhecimento de uma infração penal, a prática pode ser relatada por
qualquer meio. Caso o delegado tome conhecimento de um crime por meio da
imprensa, poderá instaurar o inquérito policial, desde que seja uma infração penal
sujeita a sua competência.

Segundo Lopes Jr (2020) o inquérito possui a sua origem na notitia criminis ou na

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atividade de ofício dos órgãos encarregados da segurança pública. De maneira formal,


o IP inicia com um ato administrativo do delegado de polícia, o qual determina a
instauração por meio de portaria. Lopes Jr (2020, p.234) cita que “[...] sem embargo, a
relevância está no ato que dá causa à portaria, que, em última análise, carece de
importância jurídica”. Assim surge o art. 5º do CPP, onde o IP será iniciado:
Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:
I- De ofício;
II- Mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a
requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.

O inciso II, traz a parte de requisição da autoridade judiciária a qual não foi
recepcionada, pois não cabe ao juiz requisitar a instauração do IP, porque viola a
matriz constitucional do sistema acusatório e o art. 3º-A do Código de Processo Penal,
o juiz deverá remeter ao MP, para que este arquive ou providencie a representação
prevê Lopes Jr (2020).

O que é Notitia criminis? Segundo Nucci (2020, p. 118) é a ciência da autoridade


policial da ocorrência de um fato criminoso, podendo ser: a) direta, quando o próprio
delegado, investigando, por qualquer meio, descobre o acontecimento; b) indireta,
quando a vítima provoca a sua atuação, comunicando-lhe a ocorrência, bem como
quando o promotor ou o juiz requisitar a sua atuação.

Requerimento Do Ofendido Ou Representante Legal


§ 1º O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que possível:
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;
b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou de
presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer;
c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência.
§ 2º Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para
o chefe de Polícia.

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§ 3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que
caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e
esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito.

O § 1º, não se aplica à requisição, mas somente ao requerimento do ofendido. A


requisição deve descrever o fato a ser investigado, cabendo ao promotor indicar os
elementos que já possui e que possam facilitar o trabalho policial. Já o § 2º é um
recurso para o chefe de polícia, tido como recurso inominado, sendo direcionado ao
delegado geral e ao Superintendente da Polícia Federal. Lopes Jr (2020) compreende
que o § 2º se refere ao requerimento do ofendido, o qual não se aplica à requisição.

ATENÇÃO! Saiba diferenciar a requisição do requerimento, a requisição possui força


de ordem, já o requerimento é um pedido.

Segundo Nucci (2020, p. 120) requisição é a exigência para a realização de algo,


fundamentada em lei. Assim, não se deve confundir requisição com ordem, pois nem
o representante do Ministério Público, tampouco o juiz, são superiores hierárquicos
do delegado, motivo pelo qual não lhe podem dar ordens. Requisitar a instauração
do inquérito é diferente, pois é um requerimento lastreado em lei, fazendo com que
a autoridade policial cumpra a norma, e não a vontade particular do promotor ou do
magistrado.

O mesmo autor traz o conceito de requerimento, Nucci (2020, p. 124) cita que é um
pedido ou uma solicitação, passível de indeferimento pelo destinatário. Diferente da
requisição, que é uma exigência legal, não sujeita ao indeferimento, como regra,
porque lastreada em lei e produzida por outra autoridade, o requerimento é um
pedido feito por leigo, não necessariamente legal, por isso, analisado livremente pelo
critério da autoridade policial.

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Requerimento Do Ofendido Ou Representante Legal


§ 1º O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que possível:
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;
b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou de
presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer;
c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência.
§ 2º Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para
o chefe de Polícia.
§ 3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que
caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e
esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito.

O § 1º, não se aplica à requisição, mas somente ao requerimento do ofendido. A


requisição deve descrever o fato a ser investigado, cabendo ao promotor indicar os
elementos que já possui e que possam facilitar o trabalho policial. Já o § 2º é um
recurso para o chefe de polícia, tido como recurso inominado, sendo direcionado ao
Delegado Geral e ao Superintendente da Polícia Federal, cabendo o recurso
inominado. Lopes Jr (2020) compreende que o § 2º se refere ao requerimento do
ofendido, o qual não se aplica à requisição.

Segundo o § 3º qualquer indivíduo que possua conhecimento da existência de


infração penal que caiba ação pública, poderá comunicar a autoridade policial
verbalmente ou por escrito. É deste parágrafo que surge a notícia da infração delatio
criminis, o delegado deve verificar a procedência das informações antes de instaurar
o inquérito policial.

O Auto de prisão em flagrante é uma hipótese que não está expressa no art. 5º do
Código de Processo Penal, mas a doutrina traz que o próprio auto funciona como a
peça inaugural da investigação, ou seja, dá início ao inquérito policial, sendo o auto
de prisão em flagrante um instrumento de abertura do inquérito.

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1.7.6 Ação Penal Pública Condicionada a Representação

Em crimes de ação penal pública condicionada segundo Lima (2020, p.202) “[...] a
deflagração da persecutio criminis está subordinada à representação do ofendido ou
à requisição do Ministro da Justiça”. O art. 5º em seu §4º cita que:
O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem
ela ser iniciado.

Isto é, depende da representação do ofendido, assim o inquérito só poderá ser


iniciado com a representação. Deve ocorrer a manifestação do ofendido informando
que deseja que o crime seja investigado para que ocorra a instauração do inquérito
policial. A representação é condição para instauração de inquérito nos crimes de ação
penal publica condicionada, a qual não possui forma pré-estabelecida, podendo ser
qualquer manifestação inequívoca de vontade.

1.7.7 Ação Penal Privada

Em crimes de ação penal de iniciativa privada o Estado fica condicionado ao


requerimento do representante legal ou do ofendido (LIMA, 2020).

O art. 5º em seu §5º cita que:


Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a
requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la.

Isto é, somente o requerimento do ofendido é que dá início ao inquérito policial


e em caso de morte ou ausência do ofendido, o requerimento será formulado pelo
cônjuge, ascendente, descendente ou irmão, prevê o art. 31 do CPP.

O requerimento é “[...] condição de procedibilidade do próprio inquérito policial, sem


o qual a investigação sequer poderá ter início” (LIMA, 2020, p. 202). O requerimento
deverá ser formulado pelo ofendido no prazo decadencial de 6 meses, contado do dia
em que souber quem é o autor do crime (em regra). Assim se a autoridade policial
verificar que o requerimento do ofendido foi formulado após o decurso do prazo

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decadencial de 6 meses, será extinta a punibilidade, portanto, deverá se abster de


instaurar o inquérito policial.

1.8 Notitia Criminis

Muitos editais trazem a Notitia Criminis e Delatio criminis, agora vamos diferenciá-los,
pois, há uma grande incidência em provas.

Notitia criminis é qualquer forma de levar a conhecimento da autoridade policial o


cometimento de uma infração penal. A doutrina classifica a notitia criminis em quatro
espécies, sendo:

• Cognição Imediata- A autoridade policial toma conhecimento da infração


penal de forma espontânea.
Ex: Um delegado está passando na Avenida Brasil e vê um crime ocorrer em sua
frente.

• Cognição mediata- O conhecimento se dá mediante a apresentação de


requerimento/expediente escrito.
Ex: Um indivíduo informa uma infração penal, um exemplo são os boletins de
ocorrência, o famoso “B.O”, mas não necessariamente irá virar um inquérito
policial.

• Cognição coercitiva- a infração penal é comunicada por meio de uma prisão


em flagrante.
Ex: Há o uso da força, por exemplo a polícia militar da voz de prisão e conduz
o sujeito até a delegacia, por uso da força se cessa a prática de infração penal,
levando ao conhecimento da autoridade policial.

• Inqualificada- denúncia anônima, mas também recebe o nome de delação


apócrifa.
Ex: Um indivíduo percebe uma movimentação estranha em frente a sua
residência e resolve relatar a situação as autoridades policiais, pois desconfia
que esteja ocorrendo na vizinhança o tráfico ilícito de drogas.

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1.8.1 Delatio Criminis

É uma espécie de notitia criminis, feita por qualquer pessoa do povo. Isto é, é feita por
um 3º alheio a situação potencialmente criminosa. Lima traz a definição e compreende
como uma:
[...] espécie de notitia criminis, consubstanciada na comunicação de uma infração penal feita
por qualquer pessoa do povo à autoridade policial, e não pela vítima ou seu representante
legal. A depender do caso concreto, pode funcionar como uma notitia criminis de cognição
imediata, quando a comunicação à autoridade policial é feita durante suas atividades
rotineiras, ou como notitia criminis de cognição mediata, na hipótese em que a comunicação
à autoridade policial feita por terceiro se dá através de expediente escrito (LIMA, 2020, p. 203).

1.9 Diligências Investigatórias

O art. 6º traz um rol exemplificativo de diligências investigatórias as quais poderão ser


utilizadas pela autoridade policial. O inquérito policial é discricionário, desta maneira
o exposto no art poderá ser realizado ou não a juízo da autoridade policial
competente.

Segundo o Art. 6º CPP logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a
autoridade policial deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das
coisas, até a chegada dos peritos criminais;
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos
criminais;
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do
Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe
tenham ouvido a leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras
perícias;
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer
juntar aos autos sua folha de antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social,
sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele,

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Inquérito Policial

e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e


caráter.
X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma
deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado
pela pessoa presa.

ATENÇÃO! A respeito do inciso VII, em infrações que deixam vestígios o exame de


corpo de delito é obrigatório, são infrações penais não transeuntes. Os crimes não
transeuntes são os que deixam vestígios materiais, como: homicídio; lesões corporais;
crimes contra a honra praticados por escrito; etc.

O art. 6.º, VIII se refere apenas à identificação dactiloscópica, sendo a colheita das
impressões digitais do indiciado, este era o método disponível à época na atualidade
a Lei 12.037/ 09 traz a respeito da identificação criminal, e esta dispõe sobre a
identificação criminal do civilmente identificado, regulamentando o art. 5º, inciso LVIII,
da Constituição Federal. Em seu art. 3º cita que embora apresentado documento de
identificação, poderá ocorrer identificação criminal quando:
I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação;
II – o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado;
III – o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações conflitantes
entre si;
IV – a identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo despacho da
autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da
autoridade policial, do Ministério Público ou da defesa;
V – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações;
VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição do
documento apresentado impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais.
Parágrafo único. As cópias dos documentos apresentados deverão ser juntadas aos autos do
inquérito, ou outra forma de investigação, ainda que consideradas insuficientes para identificar
o indiciado.

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Referências Bibliográficas

A respeito da identificação de perfil genético o art. 5º-A cita que:


Os dados relacionados à coleta do perfil genético deverão ser armazenados em banco de
dados de perfis genéticos, gerenciado por unidade oficial de perícia criminal.
§ 1º As informações genéticas contidas nos bancos de dados de perfis genéticos não poderão
revelar traços somáticos ou comportamentais das pessoas, exceto determinação genética de
gênero, consoante as normas constitucionais e internacionais sobre direitos humanos, genoma
humano e dados genéticos.
§ 2º Os dados constantes dos bancos de dados de perfis genéticos terão caráter sigiloso,
respondendo civil, penal e administrativamente aquele que permitir ou promover sua
utilização para fins diversos dos previstos nesta Lei ou em decisão judicial.
§ 3º As informações obtidas a partir da coincidência de perfis genéticos deverão ser
consignadas em laudo pericial firmado por perito oficial devidamente habilitado.

2 Referências Bibliográficas
LIMA, R. B. de. Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro de Lima
– 8. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.

LOPES. JR, A. Direito processual penal / Aury Lopes Junior. – 17. ed. – São Paulo:
Saraiva Educação, 2020.

NUCCI, G. DE. S. Código de Processo Penal Comentado / Guilherme de Souza Nucci.


– 19. ed. – Rio de Janeiro. Forense, 2020.

REIS, A.C.A.; GONÇALVES, V.E.R. Esquematizado - Direito processual penal. São


Paulo: Editora Saraiva, 2020.

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Referências Bibliográficas

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