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A profissão de Perito-Contador

A profissão de Perito-Contador
Autor: André Roberto Cillo
Como citar este documento: CILLO, André Roberto. A profissão de Perito-Contador. Valinhos: 2016.

Sumário
Apresentação da Disciplina 03
Unidade 1: Características do profissional perito-contador 04
Unidade 2: Deveres e direitos do perito 26
Unidade 3: Independência, impedimentos e suspeição 47
Unidade 4: Responsabilidades do perito 70
Unidade 5: Zelo profissional 93
Unidade 6: A prestação de esclarecimentos – obrigatório 116
Unidade 7: Formulação de quesitos 140
Unidade 8: Apresentação da proposta de honorários e execução 160

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Apresentação da Disciplina

Nesta disciplina, iremos estudar e analisar Contabilidade que trata do perfil profissio-
as características do profissional que exer- nal do Perito Contador. O CPC trata da Perí-
ce a função de perito, sua responsabilidade cia Judicial e determina as normas a serem
e o zelo profissional necessário na realiza- seguidas por todos os Peritos Judiciais, de
ção dos trabalhos, bem como os honorários todas as áreas do conhecimento humano,
profissionais a que tem direito. enquanto a NBC PP 01 trata das normas a
Dentre os vários objetivos deste curso, po- serem seguidas pelos profissionais da con-
demos destacar, em especial, três deles: tabilidade quando exercerem a função de
compreender as características do profis- perito contador.
sional perito-contador; saber quem pode
exercer a função de perito-contador e como
ele é remunerado; estudar os preceitos éti-
cos da profissão e a responsabilidade social
envolvida.
O conteúdo está amparado pelos artigos
464 a 480 do CPC – Código de Processo Ci-
vil, que tratam da Perícia Judicial, e pela NBC
PP 01, de 19/03/2015, Norma Brasileira de
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Unidade 1
Características do profissional perito-contador

Objetivos
No estudo das características do profissional perito-contador, trataremos três tópicos, que
podemos resumir como sendo:
1. A competência profissional que se espera do Perito.
2. A missão do Perito como auxiliar da Justiça.
3. As qualidades pessoais do Perito no serviço à comunidade.

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Introdução

De acordo com a NBC PP 01 2015, Norma Brasileira de Contabilidade que estabelece critérios
inerentes à atuação do contador que atua na perícia contábil, perito é o contador, regularmente
registrado no Conselho Regional de Contabilidade, que exerce a atividade pericial de forma pes-
soal, devendo ser profundo conhecedor da matéria periciada, por suas qualidades e experiências.
Perito oficial, ou perito judicial, é o profissional investido na função por lei e pertencente a órgão
especial do Estado destinado, exclusivamente, a produzir perícias e que exerce a atividade por
profissão. O perito judicial é o profissional nomeado pelo juiz para o exercício da perícia contábil.
O perito assistente, também chamado de assistente técnico, é o profissional contratado e in-
dicado pela parte em perícias contábeis, o qual tem a função de acompanhar os trabalhos do
Perito Judicial e auxiliar quem o contratou na elaboração de quesitos a serem respondidos pelo
perito judicial, bem como analisar o laudo pericial por ele apresentado.

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Para saber mais


O item 8 da NBC PP 01 estabelece que “a indicação ou a contratação de perito-assistente ocorre quan-
do a parte ou a contratante desejar ser assistida por contador, ou comprovar algo que dependa de co-
nhecimento técnico-científico, razão pela qual o profissional só deve aceitar o encargo se reconhecer
estar capacitado com conhecimento suficiente, discernimento, com irrestrita independência e liberda-
de científica para a realização do trabalho”.

Tanto o perito judicial quanto o perito assistente devem obedecer à NBC PP 01, além de seguir
as normas previstas no Código de Ética Profissional do Contador (Resolução CFC nº 803/96), na
NBC PG 100 (Aplicação Geral aos Profissionais da Contabilidade) e na NBC PG 200 (contadores
que prestam serviços), naqueles aspectos não abordados por essa norma.

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tos em litígios judiciais. Esse direito é ga-
rantido pela Constituição Federal e tem por
Link objetivo garantir ao cidadão o pleno gozo
A Norma Brasileira de Contabilidade NBC PP, que de seus direitos.
regulamenta a atividade de perito contador, está A aplicação da prova pericial pelo Judiciário
disponível no site do Conselho Federal de Conta- é adotada quando, no decorrer de uma lide,
bilidade. é necessária a produção de prova técnica, ou
seja, quando os fatos alegados pelas partes
são de natureza científica ou artística. Nes-
ses casos, o magistrado precisa da opinião
1. A competência profissional
técnica de um especialista, o perito.
que se espera do perito
Na conceituação de Alberto (2012, p. 3),
1.1 O que é perícia “perícia é um instrumento especial de cons-
tatação, prova ou demonstração, científica
Perícia ou prova pericial é um dos meios que ou técnica, da veracidade de situações, coi-
as pessoas naturais e jurídicas têm à sua sas ou fatos”. Judicialmente, o laudo peri-
disposição para se defender ou exigir direi- cial é uma prova altamente valorizada, mui-
tas vezes superior a algumas outras provas
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(o testemunho, o documento etc.), porque


representa a afirmação ou a opinião funda- Para saber mais
mentada científica ou tecnicamente. O artigo 464 do CPC determina que “a prova peri-
Nas lições do mestre Francisco D’Auria, ci- cial consiste em exame, vistoria ou avaliação” e o
tado por Alberto (2012), aprendemos que artigo 465 determina que “o juiz nomeará perito
perícia requer experiência e conhecimento. especializado no objeto da perícia e fixará de ime-
Função pericial é aquela em que uma pes- diato o prazo para a entrega do laudo”. Os artigos
soa conhecedora e experiente em matérias 464 a 480 do CPC trata dos procedimentos a se-
específicas examina registros e documen- rem obedecidos pelos Peritos.
tos que deram origem a fatos, reportando
sua autenticidade e opinando sobre suas
Num processo judicial, uma das questões
causas, essência e efeitos na coisa em lide.
mais importantes é a prova. Não basta que
Sua aplicação se faz por incumbência direta
as partes aleguem e reclamem por direitos;
ou indireta dos interessados ao especialista,
é preciso prová-los. É importante transfor-
para que esse examine e opine com relação
mar os fatos alegados em certeza jurídica,
a um caso predeterminado. A perícia origi-
e isso, muitas vezes, é realizado pela prova
na-se no interesse de pessoas litigantes, no
pericial. Segundo alguns juristas, a prova é
interesse da justiça e no interesse público.
8/182 Unidade 1 • Características do profissional perito-contador
a essência de um processo.
A prova é a somatória dos fatos produtores da convicção, apurados no processo. A convicção do
magistrado vai sendo formada à medida que as alegações e os fatos trazidos aos autos vão sen-
do confirmados e provados. Alguns fatos são evidentes, notórios, de domínio público. De fato, o
que é notório, desnecessário é provar; no entanto, não o são suas consequências, que necessi-
tam ser confirmadas.
Portanto, durante o processo judicial, se os fatos alegados pelas partes versarem sobre questões
de natureza técnica, ou se a contestação dos fatos versarem sobre esse tema, o juiz deverá soli-
citar a produção de prova técnica, em nosso caso a prova pericial contábil.
A função principal da prova pericial é a de transformar os fatos relativos à lide, de natureza téc-
nica ou científica, em verdade formal, em certeza jurídica. A verdade real só é conhecida pelas
partes envolvidas e pelas testemunhas oculares, mas ao juiz interessa a verdade formal, aquela
que se pode provar. Assim, adquirida a certeza jurídica sobre os fatos da causa, pode o magis-
trado aplicar a lei correspondente.

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Para saber mais


O §1o do artigo 464 do CPC determina que “o juiz indeferirá a perícia quando I - a prova do fato não
depender de conhecimento especial de técnico; II - for desnecessária em vista de outras provas produ-
zidas; III - a verificação for impraticável”. Isso significa que cabe ao magistrado a decisão de nomear ou
não um perito, pois, ainda que as partes solicitem a realização da Perícia, ela só será realizada se o juiz
entender ser necessário.

O exame pericial tem por objetivo gerar in- A perícia, no aspecto técnico, requer um
formação fidedigna, pois origina-se da ne- profissional com integral conhecimento da
cessidade de ajudar o judiciário a resolver matéria, cujo exame e relato baseiam-se
conflito de interesses, controvérsia entre nos princípios contábeis e conhecimentos
litigantes, e o trabalho do perito é requisi- correlatos, como administração, economia,
tado pelas partes ou pelas autoridades ju- direito, matemática, entre outros.
diciárias a auxiliar neste trabalho. A perícia, A primeira condição para um julgamento é a
portanto, tem um aspecto social, que é a apuração exata dos fatos e o conhecimento
função de auxiliar a justiça. preciso das causas que deram origem ao li-

10/182 Unidade 1 • Características do profissional perito-contador


tígio. Os magistrados são doutos em direito, to é nomeado pelo juiz e assume o compro-
mas não se pode pretender que sejam ex- misso de cumprir, de forma escrupulosa, o
perts em qualquer assunto. Por isso, quando encargo que lhe foi confiado.
a apuração dos fatos depende de conhe- A perícia tem meios de informar e esclare-
cimento técnico especializado, o judiciário cer o julgador, de forma a auxiliá-lo em suas
se vale dos conhecimentos de especialistas decisões. A responsabilidade que pesa so-
em cada assunto. bre os ombros do juiz é repartida com a do
Há casos em que a matéria a ser julgada perito que o auxiliou, que o certificou das
precisa ser esclarecida e certificada por pro- causas e fatos através do laudo pericial. A
fissionais que mereçam inteira fé, nos as- parcela de responsabilidade que cabe ao
pectos técnico, moral e científico. A perícia perito tem como garantia suas qualidades
é uma das provas admitidas pela legislação, de especialista, bem como suas qualidades
sendo que o parecer técnico do profissional éticas e morais.
é de suma importância para a elucidação de
casos.
A perícia judicial tem uma forma solene
porque é determinada pelo juiz e é sujeita a
ritos judiciais estabelecidos pela lei. O peri-
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1.2 Quem pode exercer a função A escolha do perito judicial é feita pelo ma-
de perito – A escolha do perito gistrado, que nomeia, para exercer tão im-
contábil portante função, profissional de sua con-
fiança. A decisão da realização da perícia é
No aspecto profissional, de natureza con- do juiz, mas uma das partes poderá requerer
tábil, é o contador, bacharel em Ciências a realização, quando julgar que a prova a ser
Contábeis, quem pode exercer a função de realizada pelo exame pericial será impor-
perito contador. O contador deve reunir tante para a elucidação dos fatos em litígio.
os conhecimentos sólidos da disciplina e No entanto, mesmo sem pedido das partes,
orientar seus trabalhos pela ética. O conta- o magistrado pode decidir pela realização
dor é profissional de fé pública e sua função da perícia. Em qualquer dos casos, a deci-
é tanto mais complexa quanto maior for a são pela realização da perícia cabe sempre
soma de interesses em jogo, assumindo ele ao juiz, bem como o profissional a ser indi-
a responsabilidade de suas afirmações que cado para tal tarefa.
são, afinal, ponto de apoio para decisões de
autoridades judiciárias e para a solução de-
finitiva de litígios, às vezes de importância
capital na aplicação da justiça.

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sistente técnico é o perito de confiança da
Link parte, indicado e pago por essa, e que irá
O Código de Processo Civil – CPC, Lei nº acompanhar o trabalho do perito judicial.
13.105/2015, está disponível na íntegra no site Após a apresentação do laudo pericial por
do Planalto, e os artigos 464 a 480 tratam da Pe- parte do perito judicial, o assistente técnico
rícia e do Perito. poderá apresentar seu parecer pericial, bem
como ajudar quem contratou seus serviços
na contestação do laudo judicial, direito que
cabe às partes.
1.3 Quem é o perito
A perícia é um exercício de cidadania, já
A lei processual chama de perito aquele que que, ao dispor e ordenar direitos de outrem,
é nomeado por iniciativa do juiz. Depois da o perito tem o dever de fazê-lo com total
nomeação do perito, as partes podem in- isenção de ânimo. O perito deve despir-se
dicar assistente técnico. O perito nomeado de todos os preconceitos para ofertar aos
pelo juiz é o perito judicial, profissional de cidadãos a garantia de um serviço tecnica-
confiança do magistrado, cujo laudo irá au- mente perfeito e moralmente isento e justo.
xiliar o judiciário na solução da lide. O as- Dessa forma, sendo a perícia uma institui-
ção da justiça, que atua sobre o direito de
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pessoas e coletividades, tem o perito o dever de bem servir.

1.4 Perfil profissional

Já podemos, a essa altura do estudo, ter uma ideia de quais características devem compor o per-
fil profissional daqueles que atuam na perícia, quais sejam, as duas formas de excelência que
encontramos na definição de Aristóteles, encontrada nas lições de Alberto (2012): a excelência
moral (honestidade, moderação, equidade etc.) e a excelência intelectual (inteligência, conhe-
cimento, discernimento etc.). Essas virtudes demonstrarão a consciência do perito diante dos
conflitos sobre os quais dissertará, de forma equilibrada, executando com perfeição o encargo
do qual está investido.
Nas palavras do jurista Moacyr Amaral Santos, citado por Ornelas (2011, p.34), o perito

é uma pessoa que, pelas qualidades especiais que possui, geralmente de


natureza científica ou artística, supre as insuficiências do juiz, no que tan-
ge à verificação ou apreciação daqueles fatos da causa que para tal exijam
conhecimentos especiais ou técnicos.
14/182 Unidade 1 • Características do profissional perito-contador
Glossário
CFC: Conselho Federal de Contabilidade.
NBC: Norma Brasileira de Contabilidade.
LITÍGIO: Conflito de interesses, divergência, desavença.
LIDE: conflito de interesses tratado numa ação judicial.

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?
Questão
para
reflexão

O item 18 da NBC PP 01 determina que “o perito deve


conhecer as responsabilidades sociais, éticas, profissio-
nais e legais às quais está sujeito no momento em que
aceita o encargo para a execução de perícias contábeis
judiciais e extrajudiciais, inclusive arbitral”. No seu en-
tendimento, quais são as responsabilidades atribuídas
ao perito contador por essa norma?

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Considerações Finais

Como se vê, o perito deve possuir conhecimento geral e contábil profundo, que
lhe permitam colaborar com o magistrado na verificação dos fatos contábeis
objetos da lide, de modo a auxiliar na busca da verdade.
Além dessas qualidades, deve o perito ter uma postura crítica, aceitando como
verdadeiro aquilo que é evidente e comprovado, e somente afirmar aquilo que
pode ser confirmado com fundamentos técnicos e embasado em documentos.
Nas palavras do mestre Francisco D’Áuria, citado por Ornelas (2011, p.35),
“o perito não deve se arrecear de fazer afirmações que contrariem interesses
alheios, porquanto ele nada inventa ou imagina, limitando-se a reportar coisas
e fatos autênticos e opinando, sempre, com integral imparcialidade”.

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Referências

ALBERTO, Valder Luiz Palombo. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
MAGALHÃES, Antonio de Deus Farias et al. Perícia contábil. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
NEVES, Antonio Gomes das. Curso de perícia contábil. 3. ed. São Paulo: LTR, 2012.
ORNELAS, Martinho M. G. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
SÁ, Antonio Lopes de. Perícia contábil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

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Questão 1
1. Quem escolhe o perito judicial é:

a) o juiz;
b) o requerido;
c) o juiz, ouvidos os advogados das partes;
d) o requerente;
e) o perito-assistente.

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Questão 2
2. A principal função da prova pericial é:

a) prestar esclarecimentos;
b) transformar os fatos relativos a lide em verdade formal;
c) responder aos quesitos elencados no Saneador;
d) apresentar os interesses das partes envolvidas no litígio;
e) liquidar a sentença judicial.

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Questão 3
3. A perícia contábil, tanto a judicial como a extrajudicial:

a) pode ser exercida, em determinadas condições, pelo técnico em contabilidade;


b) é de competência exclusiva dos profissionais de contabilidade;
c) pode ser exercida por todos os contabilistas registrados em Conselho Regional de Contabi-
lidade;
d) é de competência exclusiva de contador;
e) pode ser realizada por qualquer pessoa portadora de diploma de curso superior.

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Questão 4
4. A indicação do assistente técnico é feita:

a) pelo juiz
b) pela promotoria
c) pelo perito contábil
d) pelo empresário
e) pelas partes

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Questão 5
5. A prova pericial é considerada:

a) a somatória dos fatos produtores e não produtores de convicção, apurados no processo;


b) a somatória dos fatos produtores de convicção, apurados no processo;
c) um dos elementos que compõem a somatória dos fatos produtores de convicção, apurados
no processo;
d) a principal prova em qualquer ação judicial;
e) a prova produzida pelas partes.

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Gabarito
1. Resposta: A. 3. Resposta: D.

O perito judicial é nomeado pelo juiz, sem Somente os contadores podem exercer a
ouvir as partes, haja vista que se trata de função de peritos na área contábil. Conta-
pessoa de confiança do Magistrado. dores são os bacharéis em Ciências Con-
tábeis devidamente inscritos no Conselho
2. Resposta: B. Regional de Contabilidade de seu Estado de
atuação.
Verdade formal é aquela que pode ser pro-
vada. Para que o Magistrado forme sua con- 4. Resposta: E.
vicção em relação aos fatos da lide, ele irá
considerar todas as provas colocadas à sua Os peritos assistentes são contratados e pa-
disposição. Portanto, a função da prova é gos pelas partes de uma ação judicial, sem-
transformar os fatos em realidade formal. pre que desejarem ter o acompanhamento
do trabalho do perito judicial por um espe-
cialista da área. As partes não são obrigadas
a contratar Perito Assistente.

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Gabarito
5. Resposta: C.

A prova pericial é considerada um dos ele-


mentos que compõem a somatória dos fa-
tos produtores de convicção, apurados no
processo, haja vista que existem outras for-
mas de prova, tais como depoimento pes-
soal das partes, testemunhas e documen-
tos.

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Unidade 2
Deveres e direitos do perito

Objetivos
No estudo dos deveres e direitos do pe-
rito, trataremos, em especial, de dois as-
pectos, que podemos resumir como sen-
do:
1. Obrigações do perito
2. Direitos do perito

26/182
Introdução

Neste tema, estudaremos os deveres e di- 1. Deveres do perito


reitos do perito, e para essa tarefa traremos
à apreciação as normas contidas no CPC e O exercício da função de perito judicial en-
na Norma Brasileira de Contabilidade NBC volve deveres e direitos que devem ser ob-
PP 01 de 2015. servados pelo perito. Trataremos, a seguir,
dos deveres do perito, elencando e comen-
tando um a um, bem como o dispositivo le-
gal a ele pertinente.
1. O perito tem o dever de cumprir o
Link ofício no prazo que lhe designar o
Normas brasileiras de Contabilidade – Perícia juiz, empregando toda sua diligência,
Contábil – NBC TP 01 e NBC PP 01. podendo escusar-se do encargo ale-
gando motivo legítimo (CPC art. 157).
São motivos legítimos:
a. Aqueles que o tornem inapto para
determinada perícia, por ausência
de conhecimento técnico específi-
co que o caso requer: nenhum pro-
27/182 Unidade 2 • Deveres e direitos do perito

fissional tem domínio sobre todas as questões relacionadas às áreas em que atua, razão
pela qual o perito pode se deparar com uma ação que trate de algum assunto sobre o
qual não tem conhecimentos suficientes para realizar a perícia e tem o direito de recusar
a nomeação, justificando-se perante o juiz;
b. Aqueles aplicáveis à suspeição e impedimentos do juiz, devendo considerar-se, ainda,
que a ninguém é dado eximir-se de colaborar para que a verdade venha aos autos. O
perito judicial deve declarar-se suspeito quando, após nomeado ou escolhido, verificar
a ocorrência de situações que venham suscitar suspeição em função da sua imparciali-
dade ou independência e, dessa maneira, comprometer o resultado do seu trabalho em
relação à decisão. Os impedimentos e suspeições do juiz estão previstos nos artigos 144
a 146 do CPC. Em relação ao Perito, o artigo 148, II, do CPC, reza que “aplicam-se os mo-
tivos de impedimento e de suspeição aos auxiliares da justiça”, e o artigo 467 determina
que “o perito pode escusar-se ou ser recusado por impedimento ou suspeição”, ou seja,
pode recusar a nomeação para a realização da perícia;
c. A escusa será apresentada no prazo de 15 (quinze) dias, contado da intimação, da sus-
peição ou do impedimento supervenientes, sob pena de renúncia ao direito a alegá-la.
Essa é a determinação do CPC em seu artigo 157, §1º, e isso significa que o perito deve
apresentar sua manifestação de liberação do encargo no prazo máximo de 15 dias a
28/182 Unidade 2 • Deveres e direitos do perito
partir da data em que tomar ciên- go 156, §1º, do CPC. Os peritos devem
cia de sua nomeação. manter seus registros ativos nos Con-
d. É importante ressaltar que a fun- selhos de Classe e devem comprovar
ção pericial não é um cargo para essa condição ao se cadastrar nos
o qual o profissional deve ou não Cartórios de cada Vara a que se vincu-
aceitar considerando apenas seus lar, na Justiça Federal, Trabalhista ou
interesses, de atuação e remune- Cível.
ração, pois a perícia é um encargo
de serviço à sociedade, de auxiliar
da justiça, e, como tal, se constitui Link
em um dever de excelência técnica. O Conselho Federal de Contabilidade instituiu um
2. Dever de comprovar sua habilitação: Cadastro Nacional de Peritos Contábeis por meio
os peritos serão nomeados entre os da Resolução CFC n.º 1.502 , de 19 de fevereiro de
profissionais legalmente habilitados 2016, tendo o objetivo de oferecer ao judiciário e
nos órgãos técnicos ou científicos, e à sociedade uma lista de profissionais qualifica-
devidamente inscritos em cadastro dos que atuam como peritos contábeis.
mantido pelo tribunal ao qual o juiz
está vinculado, de acordo com o arti-
29/182 Unidade 2 • Deveres e direitos do perito

O Código Civil de 2015, que entrou em vigor em março de 2016, determinou a criação de um ca-
dastro de peritos e os juízes deverão consultar esse cadastro para a nomeação dos profissionais
a serem chamados para os trabalhos periciais.

Para saber mais


Conforme o §2o do artigo 156 (CPC, 2015), “para formação do cadastro, os tribunais devem realizar
consulta pública, por meio de divulgação na rede mundial de computadores ou em jornais de gran-
de circulação, além de consulta direta a universidades, a conselhos de classe, ao Ministério Público, à
Defensoria Pública e à Ordem dos Advogados do Brasil, para a indicação de profissionais ou de órgãos
técnicos interessados”.

3. Dever de respeitar os prazos: o Código de Processo Civil, em seu artigo 157, é expresso
neste sentido, pois determina que “o Perito tem o dever de cumprir o ofício no prazo que
lhe designar o juiz, empregando toda sua diligência”, ou seja, aceito o encargo, o perito
deve envidar todos os esforços para cumprir o ofício, pois o andamento do processo e a
solução da lide dependem da realização do trabalho pericial. Somente em situações excep-
cionais pode o perito deixar de cumprir o prazo estabelecido pelo magistrado, e o pedido de
30/182 Unidade 2 • Deveres e direitos do perito
prorrogação do prazo deve ser proto- 5. Dever de cumprir escrupulosamente
colado com as devidas justificativas, o encargo: essa obrigação, determi-
haja vista a importância do laudo pe- nada pelo artigo 466 do CPC, deve re-
ricial para a resolução de conflitos no fletir a prudência do profissional, que
judiciário. deve agir para o bem e para a verdade,
4. Dever de lealdade: nesse contexto, com toda dedicação e dentro da ética
ser leal significa ser correto, honesto, profissional, para que o laudo reflita a
verdadeiro. O perito tem o dever de imparcialidade do perito. Deve o pe-
prestar somente informações verda- rito sempre agir para o bem e para a
deiras, agindo com lealdade para com verdade, agindo com todo o cuidado,
os usuários de seus serviços. Esse de- dedicação e bom senso, para que a
ver decorre da interpretação do artigo verdade prevaleça e a justiça seja fei-
158 do CPC, que estabelece penali- ta.
dades ao Perito caso preste informa- 6. Dever de prestar os esclarecimentos:
ções inverídicas em seu laudo pericial, após a apresentação do laudo pericial,
obrigando o expert a uma conduta leal as partes podem ainda ter dúvidas a
para com os usuários de seus serviços. respeito das questões apresentadas
ao perito. Nesses casos, deve o perito
31/182 Unidade 2 • Deveres e direitos do perito

atender a todo pedido de esclarecimento feito pelas partes, desde que respeitadas as for-
malidades legais.
Considerando que o objetivo da perícia é buscar a verdade, ou seja, oferecer ao magistrado ele-
mentos que o ajudem a chegar à veracidade dos fatos, o esclarecimento do perito, do ponto de
vista técnico, é dever inerente à própria finalidade pericial. O esclarecimento pode ser solicitado
por escrito, através de laudo complementar, ou pode o perito ser chamado a prestar esclareci-
mentos em audiência.

Para saber mais


O §2º do artigo 477 (CPC, 2015) determina que “o perito do juízo tem o dever de, no prazo de 15 (quinze)
dias, esclarecer ponto (a) sobre o qual exista divergência ou dúvida de qualquer das partes, do juiz ou do
órgão do Ministério Público, e (b) divergente apresentado no parecer do assistente técnico da parte”. O
§3º do mesmo artigo reza que, “se ainda houver necessidade de esclarecimentos, a parte requererá ao
juiz que mande intimar o perito ou o assistente técnico a comparecer à audiência de instrução e julga-
mento, formulando, desde logo, as perguntas, sob forma de quesitos”.

32/182 Unidade 2 • Deveres e direitos do perito


7. Dever de cumprir e fazer cumprir as contábil, no âmbito judicial, extrajudicial,
Normas Técnicas e Profissionais de mediante o esclarecimento dos aspectos e
Perícia: deve o profissional conhecer dos fatos do litígio por meio de exame, vis-
as normas técnicas da profissão e se- toria, indagação, investigação, arbitramen-
gui-las no exercício profissional, bem to, mensuração, avaliação e certificação.
como as recomendações de conduta
técnica e ética obrigatórias para os 2. Direitos do perito
contadores.
A NBC PP 01 determina, em seu item 1, que O perito tem também direitos que devem ser
a norma estabelece critérios inerentes à respeitados, tanto pelo magistrado quanto
atuação do contador na condição de perito, pelas partes e seus advogados. Estudare-
ou seja, obriga tanto o Perito Judicial quan- mos, então, alguns dos direitos do perito.
to o Perito Assistente a seguirem as deter- 1. Direito de escusar-se do encargo
minações constantes na NBC. por motivo legítimo: conforme já vi-
A NBC TP 01 determina, em seu item 1, que mos nos itens relativos aos deveres, o
a norma estabelece regras e procedimen- perito pode, quando tiver motivos le-
tos técnico-científicos a serem observados gítimos, seja do ponto de vista técnico
pelo perito, quando da realização de perícia ou do ponto de vista ético, escusar-se
33/182 Unidade 2 • Deveres e direitos do perito

do encargo, cuja previsão encontra- fundamentado, ou seja, deve estar acom-


-se no artigo 157 do CPC. panhado das razões do pedido.
2. Direito à prorrogação de prazo para É importante ressaltar que o pedido de pror-
realizar o trabalho: quando o peri- rogação de prazo deve, preferencialmente,
to, por motivo justificado, não puder ser solicitado ao magistrado antes de ven-
fazer a entrega do laudo pericial no cido o prazo para a conclusão e entrega do
prazo estabelecido pelo magistrado, laudo pericial, pois o pedido feito após ven-
pode pedir prorrogação do prazo para cido o prazo pode dar a falsa impressão de
fazê-lo. falta de zelo do profissional.
Determina o artigo 476 do CPC que “se o Por outro lado, quando o pedido é feito an-
perito, por motivo justificado, não puder tecipadamente ao vencimento do prazo e é
apresentar o laudo dentro do prazo, o juiz bem fundamentado, podem os juízes con-
poderá conceder-lhe, por uma vez, prorro- ceder até mais de uma prorrogação, quando
gação pela metade do prazo originalmente se tratar de interesse processual.
fixado”.
3. Direito à pesquisa de fontes docu-
No entanto, tal pedido deve ser feito for- mentais e testemunhais: para bem
malmente ao juiz que o nomeou e deve estar cumprir o encargo a que lhe foi con-

34/182 Unidade 2 • Deveres e direitos do perito


ferido, pode o perito realizar diligências necessárias ao esclarecimento da verdade a ser
expressa no laudo, ou seja, buscará todas as fontes, informativas ou documentais, para
elaborar a peça pericial. Tal prerrogativa, entretanto, deve ser usada com prudência, nos
limites da função e do processo, com toda seriedade e discrição.
O §3º do artigo 473 do CPC reza que

para o desempenho de sua função, o perito e os assistentes técnicos po-


dem valer-se de todos os meios necessários, ouvindo testemunhas, obten-
do informações, solicitando documentos que estejam em poder da parte,
de terceiros ou em repartições públicas.

4. Direito a honorários: tem o perito direito a receber honorários, em contraprestação ao


trabalho realizado, pois decorre do princípio de que a cada trabalho deve ter uma remu-
neração correspondente, já que ninguém pode ser obrigado a trabalhar sem remuneração,
salvo em situações especiais admitidas em lei.
O perito judicial receberá seus honorários nos autos do processo, cujo valor será pago
pelas partes, de acordo com a determinação do magistrado. O perito assistente receberá seus
35/182 Unidade 2 • Deveres e direitos do perito

honorários diretamente da parte que o contratou.

Para saber mais


O artigo 95 do CPC determina que “cada parte adiantará a remuneração do assistente técnico que hou-
ver indicado, sendo a do perito adiantada pela parte que houver requerido a perícia ou rateada quando
a perícia for determinada de ofício ou requerida por ambas as partes”. O §1ºdo mesmo artigo reza que
“o juiz poderá determinar que a parte responsável pelo pagamento dos honorários do perito deposite
em juízo o valor correspondente”.

Glossário
Superveniente: subsequente.
CNPC: Cadastro Nacional de Peritos Contábeis
CPC: Código de Processo Civil

36/182 Unidade 2 • Deveres e direitos do perito


?
Questão
para
reflexão

Um perito é chamado a realizar uma perícia judicial em


que a principal questão a ser solucionada pelo laudo pe-
ricial se refere a cálculos dos juros e encargos financei-
ros cobrados num contrato de empréstimo a um corren-
tista de um banco. Ocorre que o perito não tem domínio
de cálculos financeiros, não é um expert em matemática
financeira. O perito deve aceitar a nomeação do juiz?

37/182

Considerações Finais
Como vimos, no exercício da profissão o perito tem deveres, que devem
ser respeitados pelos magistrados e pelas partes envolvidas na lide, e
direitos, que devem ser respeitados pelo perito para evitar que ele seja
condenado a cumprir penalidades civis e criminais a que estará sujeito,
caso deixe de cumprir suas obrigações no exercício da profissão, espe-
cialmente se cometer algum ato ilícito.
A perícia é um exercício de cidadania, já que, ao dispor e ordenar direitos
de outrem, o perito tem o dever de fazê-lo com total isenção de ânimo.
O perito deve despir-se de todos os preconceitos para ofertar aos ci-
dadãos a garantia de um serviço tecnicamente perfeito e moralmente
isento e justo. Dessa forma, a perícia é uma instituição da justiça, que
atua sobre o direito de pessoas e coletividades, e tem o perito o dever de
bem servir.

38/182
Referências

ALBERTO, Valder Luiz Palombo. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
MAGALHÃES, Antonio de Deus Farias et al. Perícia contábil. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
NEVES, Antonio Gomes das. Curso de perícia contábil. 3. ed. São Paulo: LTR, 2012.
ORNELAS, Martinho M. G. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
SÁ, Antonio Lopes de. Perícia contábil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

39/182 Unidade 2 • Deveres e direitos do perito

Questão 1
1. Segundo o que foi estudado, não é direito do perito contábil:

a) Pedir prorrogação de prazos;


b) Solicitar documentos e informações às partes;
c) Rejeitar a causa por motivo justificado;
d) Receber honorários pelos serviços realizados;
e) Praticar as atividades sem o registro no Conselho Regional de Contabilidade.

40/182
Questão 2
2. O uso de diligências para pesquisa de fontes e documentos é direito do
perito e deve ser utilizado:

a) Em todos os processos onde for requerida a perícia, independente do objeto da lide;


b) Com prudência, nos limites da função e do processo, com toda seriedade e discrição;
c) Em todos os processos onde for requerida a perícia, independente do objeto da lide, exceto
em pericias contábeis;
d) Somente em processos criminais;
e) Somente com autorização judicial.

41/182

Questão 3
3. Quando há impossibilidade no cumprimento do prazo para realização da
perícia, deve-se:

a) Abdicar da perícia, comunicando tal desistência em audiência;


b) Solicitar às partes, por escrito, nova data para entregar o laudo;
c) Antes de vencido o prazo, requerer prazo suplementar, sempre por escrito;
d) Entregar o laudo da perícia, ainda que não concluída;
e) Solicitar ajuda do perito-assistente

42/182
Questão 4
4. Para escusar-se de uma nomeação para a realização de uma perícia, é consi-
derado um motivo legítimo:

a) Estar trabalhando em outra perícia para o mesmo juiz;


b) Estar trabalhando como perito-assistente em outra ação;
c) Ter relação direta com uma das partes;
d) Ter relação de trabalho com os peritos-assistentes;
e) Estar sobrecarregado com outras funções profissionais.

43/182

Questão 5
5. Em relação aos honorários pela realização da perícia:

a) O perito não tem direito por se tratar de uma atividade auxiliar à justiça;
b) O perito-assistente tem seus honorários determinados pelo juiz;
c) O perito judicial tem seus honorários determinados pelo juiz;
d) Perito judicial e perito-assistente têm seus honorários determinados pelo juiz;
e) O perito judicial recebe seus honorários diretamente das partes.

44/182
Gabarito
1. Resposta: E. 3. Resposta: C.

Nenhum profissional da contabilidade pode Quando há impossibilidade no cumprimen-


exercer sua atividade sem o devido registro to do prazo para a realização da perícia,
no CRC e isso também se aplica ao Perito, deve o perito dirigir-se ao juiz e requerer
que deve ter o registro de Bacharel em Ciên- prazo adicional. Contudo, deve tomar essa
cias Contábeis ter registro regular no CRC. providência antes de vencido o prazo, sem-
pre por escrito.
2. Resposta: B.
4. Resposta: D.
O uso de diligências é direito do perito e deve
ser utilizado em todos os processos onde for Para escusar-se de uma nomeação para a
requerida a perícia, independente do obje- realização de uma perícia, é considerado
to da lide, e que seja necessária a pesquisa um motivo legítimo ter relação direta com
de informações e documentos, mas esse di- uma das partes, pois ter relação comercial
reito deve ser utilizado com prudência, nos com outros peritos e estar trabalhando em
limites da função e do processo, com toda outras ações não é motivo para a renúncia a
seriedade e discrição. uma nomeação.

45/182

Gabarito
5. Resposta: C.

Mesmo considerando que se trata de um


trabalho de auxílio à justiça, tem o perito di-
reito ao recebimento de uma remuneração.
No entanto, o perito judicial tem seus ho-
norários estabelecidos pelo juiz, enquanto
o perito assistente recebe seus honorários
diretamente da parte que o contratou.

46/182
Unidade 3
Independência, impedimentos e suspeição

Objetivos
No estudo da independência, impedimento e suspeição, trataremos das condições de trabalho
do perito quanto à impossibilidade de interferência de terceiros na realização de seu trabalho,
bem como das situações em que o profissional não deverá aceitar o trabalho, por impedimento
ou suspeição.
Dessa forma, esse módulo tratará de três tópicos:
1. Independência
2. Impedimentos
3. Suspeição

47/182

Introdução

Trataremos neste tema sobre três tópicos o perito de exercer, regularmente, suas fun-
muito importantes no dia a dia do perito, ções ou realizar atividade pericial em pro-
pois as questões que serão estudadas hoje cesso judicial ou extrajudicial, inclusive ar-
poderão ocorrer em qualquer trabalho pe- bitral.
ricial, desde os mais simples até os mais
complexos, e em qualquer área da perícia 1. Independência do perito
contábil.
No tema em que estudamos os direitos e
Estudaremos inicialmente a questão da in-
deveres do perito, vimos que o perito judi-
dependência do perito no desempenho de
cial é nomeado pelo juiz quando este en-
suas funções, uma característica marcante
tender que, para solucionar o litígio, neces-
e necessária no desenvolvimento do traba-
sita comprovar algo que dependa de conhe-
lho pericial. Em seguida, analisaremos al-
cimento técnico-científico. Vimos também
gumas situações especiais em que o perito
que o perito-assistente é indicado ou con-
poderá ser obrigado a renunciar à nomea-
tratado quando a parte ou a contratante
ção de perito judicial, por questões éticas
desejar ser assistida por contador.
ou por questões legais.
Por essa razão, como já estudamos também,
Impedimento e suspeição são situações fá-
o profissional só deve aceitar o encargo se
ticas ou circunstanciais que impossibilitam
48/182 Unidade 3 • Independência, impedimentos e suspeição
reconhecer estar capacitado com conheci- deve ser apresentado no laudo, podendo,
mento suficiente para executar o trabalho obviamente, determinar quais indicadores
com excelência. Além disso, outra questão econômicos e juros devem ser utilizados em
importante para discernimento do perito é determinado cálculo financeiro ou traba-
avaliar se ele poderá desempenhar seu tra- lhista, quais os direitos cabem a cada parte
balho com irrestrita independência e liber- do processo e como quer que os cálculos se-
dade científica, para a realização da perícia jam realizados, especialmente em trabalhos
de forma imparcial e justa. de liquidação de sentença.
O perito é nomeado pela justiça e goza de O perito tem total liberdade de autoria em
independência total em sua atuação, ten- seu relatório e as conclusões a que chega
do total autonomia no desempenho de suas não estão sujeitas a interferências externas,
funções. O magistrado e as partes envolvi- o que faz desse trabalho uma atividade soli-
das no processo judicial não têm o direito tária, diferentemente da maioria dos servi-
de dizer ao perito como querem que o laudo ços que realizamos fora da justiça, nos quais
seja escrito, nem podem pressioná-lo quan- normalmente sofremos influência em rela-
to aos resultados. ção ao resultado final daquilo que fazemos.
Nem mesmo ao juiz é permitido interferir Mas, na justiça, é diferente: o perito des-
nas tarefas do perito, determinando o que fruta de autonomia nas diligências que
49/182 Unidade 3 • Independência, impedimentos e suspeição

promove e no laudo a que chega. E deve ser


assim mesmo, pois as partes, quando en-
tram em juízo, desejam que o magistrado Link
seja imparcial e aplique as leis o mais corre- O perito Rui Juliano tem uma página com excelen-
tamente possível. Em relação ao perito, as te material sobre o assunto de independência do
partes esperam que ele exercite o melhor da perito, no qual são oferecidos conhecimentos aos
técnica e da ciência e que trabalhe na mais peritos experientes e também aos que desejam
ampla liberdade. fazer carreira na área ou simplesmente preten-
O momento processual em que o perito se dem somar conhecimentos que podem ser utili-
sente pressionado pelo magistrado é quan- zados no futuro.
do há prazo para entrega do laudo e os de-
vidos esclarecimentos, quando for o caso,
que algumas vezes pode ser curto, dada a
complexidade do trabalho a ser realizado. Ainda em relação à independência na rea-
Entretanto, o caso pode ser resolvido sem lização do trabalho, o perito deve evitar e
qualquer dificuldade, ocasião em que o pe- denunciar qualquer interferência que possa
rito pode solicitar ao juiz uma prorrogação constrangê-lo em seu trabalho, não admi-
de prazo, justificando os motivos do pedido. tindo, em nenhuma hipótese, subordinar
50/182 Unidade 3 • Independência, impedimentos e suspeição
sua apreciação a qualquer fato, pessoa, situação ou efeito que possam comprometer sua inde-
pendência.
Conforme mencionamos previamente, nas palavras do mestre Francisco D´Áuria (1953, p.192),

o perito não deve se arrecear de fazer afirmações que contrariem interes-


ses alheios, porquanto ele nada inventa ou imagina, limitando-se a reportar
coisas e fatos autênticos e opinando, sempre, com integral imparcialidade.

Para saber mais


O artigo 149 do CPC determina que “são auxiliares da Justiça, além de outros cujas atribuições sejam
determinadas pelas normas de organização judiciária, o escrivão, o chefe de secretaria, o oficial de jus-
tiça, o perito, o depositário, o administrador, o intérprete, o tradutor, o mediador, o conciliador judicial,
o partidor, o distribuidor, o contabilista e o regulador de avarias”.

51/182 Unidade 3 • Independência, impedimentos e suspeição

2 Impedimento e suspeição de situações que venham suscitar suspei-


ção em função da sua imparcialidade ou in-
O CPC e a NBC PP 01 apontam algumas si- dependência e, dessa maneira, comprome-
tuações em que ocorre o impedimento ou a ter o resultado do seu trabalho em relação à
suspeição do perito, em virtude de possíveis decisão.
conflitos de interesses que podem compro-
Os impedimentos e suspeições do juiz estão
meter o resultado de seu trabalho, de acor-
previstos nos artigos 144 a 146 do CPC, e o
do com a legislação vigente e o Código de
artigo 148, II, do CPC, reza que “aplicam-se
Ética Profissional do Contabilista.
os motivos de impedimento e de suspeição
Quando estudamos os direitos e deveres aos auxiliares da justiça”, e o artigo 467 do
do perito judicial, vimos que o perito pode mesmo diploma legal determina que “o pe-
escusar-se do encargo alegando motivo le- rito pode escusar-se ou ser recusado por
gítimo, nos termos do artigo 157 do CPC. impedimento ou suspeição”, ou seja, pode
Dentre os motivos legítimos estudados, en- recusar a nomeação para a realização da
contramos aqueles aplicáveis à suspeição e perícia.
impedimentos do juiz, e que o perito judicial
Para que o perito possa exercer suas ativi-
deve declarar-se suspeito quando, após no-
dades com isenção, é fator determinante
meado ou escolhido, verificar a ocorrência
que ele se declare impedido, após nomeado
52/182 Unidade 3 • Independência, impedimentos e suspeição
ou indicado, quando ocorrerem as situações que estudaremos a seguir.
Quando nomeado, o perito do juízo deve dirigir petição, no prazo legal, justificando a escusa ou
o motivo do impedimento ou da suspeição. Quando indicado pela parte e não aceitando o en-
cargo, o perito-assistente deve comunicar a ela sua recusa, devidamente justificada por escrito,
com cópia ao juízo.

2.1 Impedimento

Em relação ao impedimento do perito, podemos dividir o estudo em impedimento legal e impe-

53/182 Unidade 3 • Independência, impedimentos e suspeição

dimento técnico. qual esses façam parte de seu quadro


societário ou de direção;
2.1.1 Impedimento legal d. tiver interesse, direto ou indireto, me-
diato ou imediato, por si, por seu côn-
Ocorre o impedimento legal quando o pe- juge ou parente, consanguíneo ou
rito-contador nomeado ou escolhido não afim, em linha reta ou em linha cola-
puder exercer suas atividades com impar- teral até o terceiro grau, no resultado
cialidade e sem qualquer interferência de do trabalho pericial;
terceiros, ou ocorrendo pelo menos uma
e. exercer cargo ou função incompatível
das seguintes situações exemplificativas:
com a atividade de perito-contador,
a. for parte do processo; em função de impedimentos legais ou
b. tiver atuado como perito contador estatutários;
contratado ou prestado depoimento f. receber dádivas de interessados no
como testemunha no processo; processo;
c. tiver cônjuge ou parente, consanguí- g. subministrar meios para atender às
neo ou afim, em linha reta ou em li- despesas do litígio; e
nha colateral até o terceiro grau, pos-
h. receber quaisquer valores e benefí-
tulando no processo ou entidades da
54/182 Unidade 3 • Independência, impedimentos e suspeição
cios, bens ou coisas sem autorização encargo, cumprir os prazos nos traba-
ou conhecimento do juiz ou árbitro. lhos em que o perito-contador for no-
meado, contratado ou escolhido, ou
2.1.2 Impedimento técnico em que o perito contador assistente
for indicado;
Ocorre o impedimento por motivos técni-
c. ter o perito-contador assistente atua-
cos, a ser declarado pelo perito, quando ele
do para a outra parte litigante na con-
não tiver condições de realizar seu traba-
dição de consultor técnico ou conta-
lho com autonomia, estrutura profissional e
dor responsável, direto ou indireto em
independência que devem possuir para ter
atividade contábil ou em processo no
condições de desenvolver de forma isenta o
qual o objeto de perícia seja seme-
seu trabalho.
lhante àquele da discussão, sem pre-
São motivos de impedimento técnico: viamente comunicar ao contratante.
a. a matéria em litígio não ser de espe- Importante ressaltar que essas normas obri-
cialidade do perito; gam tanto o perito judicial quanto o perito
b. o perito constatar que os recursos hu- assistente.
manos e materiais de sua estrutura
profissional não permitem assumir o
55/182 Unidade 3 • Independência, impedimentos e suspeição

Para saber mais


O artigo 144 do CPC determina as situações em que há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer
suas funções no processo, e o artigo 148 do CPC determina que “aplicam-se os motivos de impedi-
mento e de suspeição: I - ao membro do Ministério Público; II - aos auxiliares da justiça; III - aos demais
sujeitos imparciais do processo, ou seja, os motivos de suspeição aplicam-se aos peritos”.

2.2 Suspeição

Conforme mencionado anteriormente, o perito-contador nomeado ou escolhido deve declarar-


-se suspeito quando, após nomeado, contratado ou escolhido, verificar a ocorrência de situa-
ções que venha suscitar suspeição em função da sua imparcialidade ou independência e, desta
maneira, comprometer o resultado do seu trabalho em relação à decisão.
O perito-assistente deve declarar-se suspeito quando, após contratado, verificar a ocorrência de
situações que venham suscitar suspeição em função da sua imparcialidade ou independência e,
dessa maneira, comprometer o resultado do seu trabalho.
O perito do juízo ou assistente deve declarar-se suspeito quando, após nomeado ou contratado,
56/182 Unidade 3 • Independência, impedimentos e suspeição
verificar a ocorrência de situações que ve- de direção;
nham suscitar suspeição em função da sua d. ser herdeiro presuntivo ou donatá-
imparcialidade ou independência e, dessa rio de alguma das partes ou dos seus
maneira, comprometer o resultado do seu cônjuges;
trabalho em relação à decisão.
e. ser parceiro, empregador ou empre-
Os casos de suspeição aos quais estão su- gado de alguma das partes;
jeitos o perito-contador são os seguintes: f. aconselhar, de alguma forma, parte
a. ser amigo íntimo de qualquer das par- envolvida no litígio acerca do objeto
tes; da discussão; e
b. ser inimigo capital de qualquer das g. houver qualquer interesse no julga-
partes; mento da causa em favor de alguma
c. ser devedor ou credor em mora de das partes. Poderá ainda o perito de-
qualquer das partes, dos seus cônju- clarar-se suspeito por motivo íntimo.
ges, de parentes destes em linha reta O perito pode ainda declarar-se suspeito
ou em linha colateral até o terceiro por motivo íntimo.
grau ou entidades das quais esses fa-
çam parte de seu quadro societário ou

57/182 Unidade 3 • Independência, impedimentos e suspeição

Para saber mais


A suspeição que se aplica ao perito é a mesma que se aplica ao perito, e o artigo 145 do CPC reza que
há suspeição do juiz quando (a) ele for amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus ad-
vogados, (b) quando receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes ou depois de
iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa ou que subministrar
meios para atender às despesas do litígio, (c) quando qualquer das partes for sua credora ou devedora,
de seu cônjuge ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive, e (d)
quando o juiz estiver interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes.

58/182 Unidade 3 • Independência, impedimentos e suspeição


Glossário
Independência: não permitir qualquer interferência de terceiros em seu trabalho, que possam
comprometer o resultado final dele.
Impedimento: situações em que o perito está impedido de realizar o trabalho pericial, seja por
imposição legal ou das normas éticas da profissão.
Suspeição: situações em que o perito não deve ou não pode realizar o trabalho pericial em virtu-
de da possibilidade de ser contestada sua imparcialidade.

59/182 Unidade 3 • Independência, impedimentos e suspeição

?
Questão
para
reflexão

Um perito é chamado a realizar uma perícia judicial em


que figura como parte uma pessoa jurídica da qual já
foi consultor contábil. O perito deve aceitar a nomea-
ção do juiz? O que ele deve considerar para tomar essa
decisão?

60/182
Considerações Finais

A independência é uma prerrogativa do trabalho do perito, e essencial para que ele possa execu-
tar seu trabalho com imparcialidade e auxiliar o magistrado no estabelecimento da justiça. Sem
independência, o trabalho do perito estaria maculado e serviria apenas para atender a interesses
que podem estar em desacordo com a justiça.
E, para que o perito possa bem desempenhar suas funções e cumprir com a honrosa missão a ele
confiada, deve estar acima de qualquer suspeita, escusando-se do trabalho a ser realizado sem-
pre que pairar qualquer dúvida sobre sua capacidade de trabalhar de forma imparcial e indepen-
dente. Dessa forma, sempre que houver qualquer impedimento, legal ou técnico, ou suspeição,
deve o perito renunciar ao encargo.

61/182

Referências

ALBERTO, Valder Luiz Palombo. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
MAGALHÃES, Antonio de Deus Farias et al. Perícia contábil. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
NEVES, Antonio Gomes das. Curso de perícia contábil. 3. ed. São Paulo: LTR, 2012.
ORNELAS, Martinho M. G. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
SÁ, Antonio Lopes de. Perícia contábil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

62/182 Unidade 3 • Independência, impedimentos e suspeição


Questão 1
1. Assinale a alternativa que indica a situação em que o perito-contador
deve declarar-se impedido de executar o trabalho.
a) Se estiver impedido por lei;
b) Se ocorrer suspeição de natureza íntima;
c) Se a matéria em litígio for de sua especialidade;
d) Se estiver trabalhando em outra perícia;
e) Se estiver em atraso com a anuidade do CRC.

63/182

Questão 2
2. O perito-contador está impedido de exercer suas funções quando:

a) Não concordar com a matéria em questão;


b) Estiver em débito com o instituto dos peritos contadores;
c) For parte direta ou indireta do processo;
d) Seus honorários forem inferiores a 30% do valor da causa;
e) For amigo do perito-assistente.

64/182
Questão 3
3. O perito-contador deve declarar-se suspeito quando, após nomeado, con-
tratado ou escolhido, verificar a ocorrência de situações que venham susci-
tar suspeição em função da sua imparcialidade ou independência e, dessa
maneira, comprometer o resultado do seu trabalho em relação à decisão.
Assinale a opção que apresenta uma situação que NÃO configura um caso
de suspeição:

a) A filha de uma das partes tem uma dívida em atraso com o perito-contador.
b) O perito-contador é herdeiro presuntivo da esposa de uma das partes.
c) O perito-contador não é especialista na matéria em litígio.
d) Um dos litigantes é amigo íntimo do perito-contador.
e) Uma das partes é um empregado do perito judicial

65/182

Questão 4
4. Trata-se de um impedimento legal, em que o perito deve escusar-se da
nomeação como perito judicial:

a) A matéria em litígio não ser de especialidade do perito;


b) Tiver atuado como perito contador contratado ou prestado depoimento como testemunha
no processo;
c) Ser parceiro, empregador ou empregado de alguma das partes;
d) Aconselhar, de alguma forma, parte envolvida no litígio acerca do objeto da discussão;
e) O perito constatar que os recursos humanos e materiais de sua estrutura profissional não
permitem assumir o encargo.

66/182
Questão 5
5. Trata-se de um impedimento técnico, em que o perito deve escusar-se da
nomeação como perito judicial:
a) Tiver interesse, direto ou indireto, no resultado do trabalho pericial;
b) Tiver atuado como perito contador contratado ou prestado depoimento como testemunha
no processo;
c) Ser parceiro, empregador ou empregado de alguma das partes;
d) Aconselhar, de alguma forma, parte envolvida no litígio acerca do objeto da discussão;
e) A matéria em litígio não ser de especialidade do perito.

67/182

Gabarito
1. Resposta: A.

A alternativa B é um caso de suspeição e não de impedimento, e as alternativas C e D não repre-


sentam impedimento ou suspeição.

2. Resposta: C.
As demais alternativas não representam casos de impedimento ou suspeição. A alternativa A é
um caso de foro íntimo, que não deve interferir no trabalho do perito, a alternativa B é um caso
particular do profissional com o órgão de classe e a alternativa D é um assunto entre o perito e o
magistrado.

3. Resposta: C.
Não ser um especialista na matéria em litígio pode ser um impedimento técnico, mas não um
caso de suspeição. As demais alternativas caracterizam-se como casos de suspeição.

68/182
Gabarito
4. Resposta: B.
Não ser um especialista na matéria em litígio pode ser um impedimento técnico, mas não legal.
As alternativas C e D são casos de suspeição.

5. Resposta: E.
As alternativas A e B são casos de impedimento técnico, e as alternativas C e D são casos de sus-
peição.

69/182

Unidade 4
Responsabilidades do perito

Objetivos

Neste tema, iremos estudar as responsabilidades sociais, éticas, profissionais e legais do peri-
to, bem como as penalidades civis e criminais a que estará sujeito caso deixe de cumprir suas
obrigações no exercício da profissão, especialmente se cometer algum ato ilícito. Para tanto,
trataremos do assunto em tópicos, que podemos resumir como sendo:
1. Responsabilidade sociais, éticas, profissionais e legais.
2. Responsabilidade civil e penal.
3. Penalidades civis e criminais.

70/182
Introdução

O perito é o profissional escolhido pelo juiz como garantia suas qualidades de especia-
para auxiliá-lo na solução de conflitos de lista, bem como seus atributos éticos e mo-
interesse sempre que a apuração dos fa- rais.
tos depender de conhecimento técnico es-
pecializado, ocasião em que o judiciário se 1. Responsabilidades sociais, éti-
vale dos conhecimentos de especialistas cas, profissionais e legais
em cada assunto.
A perícia é um exercício de cidadania, já
O perito é nomeado pelo juiz e assume o
que, ao dispor e ordenar direitos de outrem,
compromisso de cumprir, de forma escru-
o perito tem o dever de fazê-lo com total
pulosa, o encargo que lhe foi confiado. A
isenção de ânimo. O perito deve despir-se
perícia tem meios de informar e esclarecer o
de todos os preconceitos para ofertar aos
julgador, de forma a auxiliá-lo em suas de-
cidadãos a garantia de um serviço tecnica-
cisões.
mente perfeito e moralmente isento e justo.
A responsabilidade que pesa sobre os om-
Dessa forma, sendo a perícia uma institui-
bros do juiz é repartida com a do perito que
ção da justiça, que atua sobre o direito de
o auxiliou, que o certificou das causas e fa-
pessoas e coletividades, tem o perito o de-
tos através do laudo pericial. A parcela de
responsabilidade que cabe ao perito tem
71/182 Unidade 4 • Responsabilidades do perito

ver de bem servir. A NBC PP 01, de 2015, respeitar os princípios da ética e do direito,
determina, nos seus itens 18 a 22, as res- atuando com lealdade, idoneidade e hones-
ponsabilidades e obrigações do perito, as tidade no desempenho de suas atividades,
quais passaremos a analisar. sob pena de responder civil, criminal, ética
O item 18 determina que “o perito deve co- e profissionalmente por seus atos”. O perito
nhecer as responsabilidades sociais, éticas, é pessoa de confiança de juiz, que o ajuda-
profissionais e legais às quais está sujeito rá a resolver conflitos de interesses levados
no momento em que aceita o encargo para ao judiciário, e tem o dever de respeitar os
a execução de perícias contábeis judiciais e princípios da ética e do direito, e respon-
extrajudiciais, inclusive arbitral”. Isso quer derá por seus atos quando deixar de agir de
dizer que o perito não deve aceitar a nomea- forma correta.
ção como perito judicial ou a contratação O item 20 reforça o entendimento do item
como perito assistente apenas pensando anterior, ao dispor que “a responsabilidade
na remuneração que irá receber, mas pen- do perito decorre da relevância que o re-
sando nas consequências de sua aceitação sultado de sua atuação pode produzir para
e nas responsabilidades de seus atos. a solução da lide”, ou seja, o perito respon-
O item 19 reza que “o termo ‘responsabi- derá pelo dano que causar às partes e à so-
lidade’ refere-se à obrigação do perito em ciedade, sendo que, quanto maior o dano,
72/182 Unidade 4 • Responsabilidades do perito
maior a responsabilidade e maior a pena a ser a ele aplicada.
O item 21 trata da responsabilidade do perito ao aceitar o encargo que a ele foi confiado, agindo
como auxiliar da justiça, podendo, no entanto, escusar-se dele, desde que se justifique perante o
juiz. A norma determina que

ciente do livre exercício profissional, deve o perito do juízo, sempre que


possível e não houver prejuízo aos seus compromissos profissionais e as
suas finanças pessoais, em colaboração com o Poder Judiciário, aceitar o
encargo confiado ou escusar-se do encargo, no prazo legal, apresentando
suas razões.

Para saber mais


Essa norma está em acordo com o CPC, que em seu artigo 157 determina que “o perito tem o dever de
cumprir o ofício no prazo que lhe designar o juiz, empregando toda sua diligência, podendo escusar-se do
encargo alegando motivo legítimo”, e o artigo 466 reza que “o perito cumprirá escrupulosamente o en-
cargo que lhe foi cometido, independentemente de termo de compromisso”.

73/182 Unidade 4 • Responsabilidades do perito

O item 22 determina que

“o perito do juízo, no desempenho de suas funções, deve propugnar pela


imparcialidade, dispensando igualdade de tratamento às partes e, espe-
cialmente, aos peritos-assistentes. Não se considera parcialidade, entre
outros, os seguintes: (a) atender às partes ou assistentes técnicos, desde
que se assegure igualdade de oportunidades, e (b) fazer uso de trabalho
técnico-científico anteriormente publicado pelo perito do juízo”.

Esse dispositivo da norma visa evitar que o perito seja imparcial em suas análises e trate com im-
parcialidade as partes e seus assistentes técnicos, permitindo aos colegas contadores o acesso
às mesmas informações. Ressalta, porém, que o atendimento às partes, individualmente, não
caracteriza imparcialidade, desde que assegure o mesmo tratamento à outra parte.

74/182 Unidade 4 • Responsabilidades do perito


Link
O Conselho Nacional de Peritos Judiciais da República Federativa do Brasil mantém um cadastro na-
cional de peritos judiciais para consulta pública e oferece a seus associados uma série de serviços e
facilidades.

2. Responsabilidade civil e penal

Como todo exercício profissional, a função de perito está sujeita a penalidades civis e criminais
quando a conduta do profissional estiver em desacordo com as normas e procedimentos relativo
às leis civis e criminais.
Estudaremos, inicialmente, a NBC PP 01, de 2015, que determina nos seus itens 23 e 24 as res-
ponsabilidades civis e penais do perito, as quais passaremos a analisar.

75/182 Unidade 4 • Responsabilidades do perito

O item 23 estabelece que “a legislação civil determina responsabilidades e penalidades para o


profissional que exerce a função de perito, as quais consistem em multa, indenização e inabilita-
ção”.
As penalidades civis referem-se a penas pecuniárias, ou seja, pagamento de multa ou indeniza-
ção, mas pode ser uma penalidade de afastamento dos trabalhos como perito, que é a inabilita-
ção para novas perícias, conforme se verá a seguir.
O item 24 reza que “a legislação penal estabelece penas de multa e reclusão para os profissionais
que exercem a atividade pericial que vierem a descumprir as normas legais”.

76/182 Unidade 4 • Responsabilidades do perito


As penalidades criminais referem-se à multa e reclusão, que é uma pena restritiva da liberdade,
ou seja, hipóteses em que o perito pode ir preso por ter cometido alguma infração ao código pe-
nal, se condenado for. A condenação criminal inclui também o pagamento de multa.

Para saber mais


O artigo 33 do Código Penal Brasileiro reza que a pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado,
semiaberto ou aberto, e que a pena de detenção deve ser cumprida em regime semiaberto ou aberto, sal-
vo necessidade de transferência a regime fechado. Seus parágrafos detalham como é cumprida a pena de
reclusão.

3. Penalidades civis e criminais

Estudaremos na sequência as penalidades civis e criminais previstas no Código de Processo Ci-


vil e no Código de Processo Penal. Entre as penalidades previstas, destacamos as seguintes:
1. Multa, pelo prejuízo causado na ação, se deixar de entregar o laudo no prazo fixado pelo
magistrado (CPC art. 468).

77/182 Unidade 4 • Responsabilidades do perito

A multa é estabelecida pelo juiz, conside- ou culpa.


rando o prejuízo causado e o valor da ação, O dolo caracteriza-se quando o agente agiu
não havendo nenhum limite mínimo ou com intenção de causar o dano, quando quis
máximo. Considerando que muitas causas, ou assumiu o risco de produzi-lo, e a culpa
especialmente nas áreas comercial, con- se dá quando o prejuízo causado pelo perito
tratual e societária, têm um valor elevado, decorre de imprudência, imperícia ou negli-
o perito deve ter muito cuidado para que os gência dele.
prazos sejam cumpridos, a fim de que não
fique sujeito a tal penalidade. 3. Inabilitação pelo prazo de 2 (dois) a 5
(cinco) anos para funcionar em outras
2. Indenização, pelos prejuízos que cau- perícias, pelos mesmos motivos do
sar à parte, se, por dolo ou culpa, pres- item anterior.
tar informações falsas (CPC art. 158).
Quando provado que o perito agiu da for-
Essa penalidade nada tem a ver com o item ma descrita no item anterior, o juiz ou o tri-
anterior – não cumprimento do prazo –, pois bunal podem declarar sua inabilitação. Tal
aqui se refere ao conteúdo da peça pericial. penalidade, ainda que por prazo certo, pode
Essa penalidade é aplicada quando o perito, significar inabilitação definitiva, pois o tra-
através do conteúdo do laudo pericial, cau- balho do perito, como já vimos, depende de
sar prejuízo a uma das partes, seja por dolo
78/182 Unidade 4 • Responsabilidades do perito
sua reputação pessoal e profissional, haja ou administrativo, ou em juízo arbi-
vista a característica da função, que, por ser tral, por falsa perícia (Código Penal
a de auxiliar da justiça, requer a existência art. 342).
de confiança do magistrado no profissional. A falsa perícia não se caracteriza somen-
Sendo assim, o profissional condenado por te pelo exame falso ou pela afirmação fal-
prática de ato inescrupuloso dificilmente sa, mas, também, pela omissão, quando,
voltará a ser indicado ou nomeado para a tendo acesso à verdade, tendo-a verificado,
realização de perícias judiciais. deixa de trazê-la aos autos. Dessa forma, é
4. Quando o juiz entender que os atos imprescindível ao perito a atitude isenta e
praticados pelo perito estão eivados equilibrada, não relatando inverdades nem
de dolo ou culpa, por prestação de in- omitindo verdades.
formações falsas, a legislação proces- 6. Detenção, de três meses a dois anos,
sual civil manda que tais informações e multa, se inovar artificiosamente, na
sejam remetidas para apreciação do pendência de processo civil ou admi-
juízo penal. nistrativo, o estado de lugar, de coisa
5. Reclusão, de um a três anos, e multa, ou de pessoa, com o fim de induzir a
se fizer afirmação falsa, ou negar ou erro o juiz, por fraude processual (Có-
calar a verdade, em processo judicial digo Penal art. 347).
79/182 Unidade 4 • Responsabilidades do perito

Quando, de forma artificial, o perito, na elaboração do laudo, prestar ao magistrado informações


que o levem a julgamento errôneo da matéria, constituindo um grave delito, haja vista a grande
confiança que o segundo deposita no primeiro.

Para saber mais


O Código Penal Brasileiro traz em seu artigo 342 o crime de falso testemunho ou falsa perícia. Trata-se
de condutas contra a administração da justiça e somente pode ser cometido por testemunha, perito, tra-
dutor, contador ou intérprete (pessoas essenciais para a atividade judiciária). Pois essas pessoas prestam
informações que podem servir de fundamento para decisões em processos judiciais ou administrativos.

80/182 Unidade 4 • Responsabilidades do perito


Glossário
Reclusão: trata-se de uma das espécies de pena privativa de liberdade, prevista para os crimes
mais graves, que é cumprida inicialmente nos regimes fechado, semiaberto ou aberto.
Detenção: consiste em uma pena imposta em sentença condenatória. Tal reprimenda tem menor
gravidade, eis que o condenado a pena de detenção poderá iniciar o seu cumprimento apenas
em regime semiaberto ou aberto, ao contrário da reclusão, que prevê também o regime fechado.
Responsabilidade e ética: necessidade do cumprimento dos princípios éticos, em especial os
estabelecidos no Código de Ética Profissional do Contabilista e nessa Norma.
Responsabilidade civil e penal: a legislação civil determina responsabilidades e penalidades
para o profissional que exerce a função de perito-contador, as quais consistem em multa, inde-
nização e inabilitação.

81/182 Unidade 4 • Responsabilidades do perito

?
Questão
para
reflexão
O artigo 342 do Código Penal Brasileiro reza que é cri-
me “fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade
como testemunha, perito, contador, tradutor ou intér-
prete em processo judicial, ou administrativo, inquérito
policial, ou em juízo arbitral”. Por outro lado, o artigo 473
do Código de Processo Civil estabelece, em seu §1º, que,
na elaboração do laudo, “o perito deve apresentar sua
fundamentação em linguagem simples e com coerên-
cia lógica, indicando como alcançou suas conclusões”
e o §2º determina que “é vedado ao perito ultrapassar
os limites de sua designação, bem como emitir opiniões
pessoais que excedam o exame técnico ou científico do
objeto da perícia”.

82/182
?
Questão
para
reflexão
Assim, como deve se comportar o perito quando detec-
tar uma verdade que deve ser levada aos autos e não
conseguir provas documentais para dar sustentação ao
seu laudo? Calar sobre a verdade e correr o risco de ser
acusado de calar a verdade ou mencionar o fato no lau-
do e correr o risco de ser acusado de falsa perícia?

83/182

Considerações Finais
É dever do perito judicial, bem como do assistente técnico, honrar sua
função, seguindo as presentes Normas e Procedimentos e, quando pro-
fissional, os preceitos constantes do Código de Ética de sua profissão. A
nomeação do Perito Judicial e a indicação do assistente técnico devem ser
considerados sempre, por eles, como distinção e reconhecimento de sua
capacidade e honorabilidade e delas declinação nos casos previstos no
Código de Processo Civil.
A cidadania está diretamente relacionada com a responsabilidade e pode
ser exercida por todos aqueles que estão em pleno gozo de seus direitos
políticos e civis que tem deveres e obrigações perante a sociedade. O pe-
rito, como um bom cidadão, tem seus deveres e obrigações substanciados
no próprio exercício da perícia, pois, ao dispor e ordenar direitos de outrem,
deve fazê-los de forma firme, correta e verdadeira sem envolver qualquer
temperamento ou vontade, para que se possa garantir um serviço moral-
mente isento e tecnicamente perfeito.
84/182
Referências

ALBERTO, Valder Luiz Palombo. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
MAGALHÃES, Antonio de Deus Farias et al. Perícia contábil. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
NEVES, Antonio Gomes das. Curso de perícia contábil. 3. ed. São Paulo: LTR, 2012.
ORNELAS, Martinho M. G. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
SÁ, Antonio Lopes de. Perícia contábil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

85/182 Unidade 4 • Responsabilidades do perito

Questão 1
1. Dentre as ações do perito que o sujeitam a penalidades civis e criminais
estão o dolo e a culpa, o que caracteriza a culpa?
a) Quando o perito age com a intenção de causar o dano.
b) Quanto o perito assume o risco de cometer um ato ilícito.
c) Quando o perito não comete nenhum ato ilícito.
d) Quando o perito age com imprudência, imperícia ou negligência.
e) Quando o perito age com elevado conservadorismo.

86/182
Questão 2
2. Dentre as ações do perito que o sujeitam a penalidades civis e
criminais, estão o dolo e a culpa. O que caracteriza o dolo?

a) Quando o perito age com a intenção de causar o dano.


b) Quando o perito age com negligência.
c) Quando o perito não comete nenhum ato ilícito.
d) Quando o perito age com imprudência ou imperícia.
e) Quando o perito age com imprudência, imperícia e negligência.

87/182

Questão 3
3. O item 20 da NBC PP 01 do CFC dispõe que “a responsabilidade do
perito decorre da relevância que o resultado de sua atuação pode
produzir para a solução da lide”. Isso significa que:
a) O juiz responde pelos atos do perito, pois a palavra final é do magistrado;
b) O resultado de sua atuação significa o valor a ser pago ao perito;
c) A solução da lide significa que o autor terá seu pleito atendido pelo juiz;
d) A responsabilidade do perito decorre do valor da causa;
e) Quanto maior o dano, maior a responsabilidade e maior a pena a ser a ele aplicada.

88/182
Questão 4
4. O tratamento imparcial que o perito deve dispensar aos peritos assis-
tentes significa que:

a) O perito judicial não deve passar nenhuma informação aos peritos assistentes;
b) O perito judicial deve compartilhar com os peritos assistentes todas as informações que ob-
tiver;
c) O perito judicial só deve passar qualquer informação se todas as partes da lide nomearem
peritos assistentes;
d) O perito deve dar o mesmo tratamento e compartilhar as mesmas informações com todos
os peritos assistentes;
e) O perito deve compartilhar seu laudo aos peritos assistentes antes de apresentá-lo ao ma-
gistrado.

89/182

Questão 5
5. A falsa perícia pode induzir o juiz a erro, levando-o a cometer uma in-
justiça. O perito que, na elaboração do laudo, prestar ao magistrado infor-
mações que o levem a julgamento errôneo da matéria poderá, de acordo
com o Código Penal Brasileiro:
a) Indenizar a parte prejudicada;
b) Indenizar o estado;
c) Ter seu registro cassado pelo conselho regional de contabilidade;
d) Ser preso e pagar multa;
e) Ser processado pelo juiz da causa.

90/182
Gabarito
1. Resposta: D.

O que caracteriza a culpa, quando a pessoa age sem a intenção de causar dano a alguém, é a
imprudência, imperícia ou negligência. Imprudência é uma ação precipitada e sem cautela, uma
conduta diversa da esperada; imperícia é a falta de qualificação técnica, teórica ou prática, ou
ausência de conhecimentos elementares e básicos de uma profissão; e negligência é agir com
descuido, indiferença ou desatenção, não tomando as devidas precauções.

2. Resposta: A.

O que caracteriza o dolo é a intenção de causar o dano. Negligência e imperícia caracterizam a


culpa.

3. Resposta: E.

Quanto maior o dano, maior poderá ser a pena imposta pelo juiz, pois a indenização significa
compensar a parte pelo dano causado.

91/182

Gabarito
4. Resposta: D.

O perito deve dar o mesmo tratamento e compartilhar as mesmas informações com todos os pe-
ritos assistentes, seja qual for a informação com eles compartilhada, e a parte que não nomear
perito assistente abre mão de ter esse apoio técnico no desenvolvimento da perícia.

5. Resposta: D.
Quando se tratar de falsa perícia o Código Penal prevê multa e prisão. Obviamente que o perito
pode também ter seu registro cassado pelo CRC e o juiz da ação pode condená-lo a pagar multa
ou indenização, mas a previsão do Código Penal é a pena de prisão.

92/182
Unidade 5
Zelo profissional

Objetivos

No estudo do zelo profissional do peri-


to, trataremos, em especial, de aspectos
que podemos resumir como sendo:
1. O zelo que se espera do perito.
2. Zelo na realização dos trabalhos peri-
ciais.
3. Transparência e respeito.
4. Código de Ética do Profissional da
Contabilidade.

93/182

Introdução

Antes de estudarmos a questão do zelo pro- respeitar os princípios da ética e do


fissional que se espera do perito, faremos direito, pois responderá por seus atos
uma pequena síntese a respeito dos deve- quando deixar de agir de forma corre-
res e responsabilidades do profissional: ta;
• O perito é um profissional de confian- • Muitas vezes, o resultado da atuação
ça do juiz e trabalha como auxiliar da do perito pode decidir a solução da
Justiça na solução de conflitos; lide, e ele responderá pelo dano que
causar às partes e à sociedade, lem-
• É um profissional com fé pública e ca-
brando que, quanto maior o dano,
paz de influenciar o juiz em suas deci-
maior a responsabilidade e maior a
sões, bem como é o responsável pelos
pena;
cálculos nas liquidações de sentenças;
• O perito deve ser absolutamente im-
• O perito tem o dever de agir com re-
parcial.
tidão de caráter e dever de servir com
excelência; Estudaremos a seguir alguns itens da NBC
PP 01 (Norma Brasileira de Contabilidade)
• O profissional precisa sempre pensar que tratam do zelo profissional.
nas consequências e nas responsabi-
lidades de seus atos e tem o dever de
94/182 Unidade 5 • Zelo profissional
Link
A Norma Brasileira de Contabilidade NBC PP, que regulamenta a atividade de Perito Contador, está dis-
ponível no site do Conselho Federal de Contabilidade.

1. Zelo profissional a bom termo e, consequentemente, o laudo


pericial contábil e o parecer técnico-contá-
O item 25 da NBC PP 01 determina que o bil dignos de fé pública.
termo “zelo”, para o perito, refere-se ao cui-
O perito, como pessoa pública, de fé públi-
dado que ele deve dispensar na execução
ca, tem a obrigação de demonstrar eleva-
de suas tarefas, em relação à sua conduta,
do padrão ético e moral, oferecendo um
documentos, prazos, tratamento dispensa-
trabalho de elevada qualidade, e para isso
do às autoridades, aos integrantes da lide e
deve ter boa guarda todos os documentos
aos demais profissionais, de forma que sua
disponibilizados para a realização de seu
pessoa seja respeitada, seu trabalho levado
trabalho.
95/182 Unidade 5 • Zelo profissional

Além disso, precisa dispensar um trata- 2. Zelo na realização dos traba-


mento cordial e respeitoso com os juízes e lhos periciais
demais autoridades com quem relacionar,
além dos advogados, peritos-assistentes e O item 26 da NBC PP 01 determina que o
as partes do processo. zelo profissional do perito na realização dos
Obviamente que é isso que se espera tam- trabalhos periciais compreende:
bém do perito-assistente, que, a despeito a. Cumprir os prazos fixados pelo juiz em
de ter sido contratado pela parte litigante, perícia judicial e nos termos contrata-
tem os mesmos deveres do perito judicial. dos em perícia extrajudicial, inclusive
arbitral;
Para saber mais b. Assumir a responsabilidade pes-
O art. 466 do CPC reza que “o perito cumprirá es- soal por todas as informações pres-
crupulosamente o encargo que lhe foi cometido, tadas, quesitos respondidos, pro-
independentemente de termo de compromisso”. cedimentos adotados, diligências
O §1º do mesmo artigo determina que “os assis- realizadas, valores apurados e con-
tentes técnicos são de confiança da parte e não clusões apresentadas no laudo pe-
estão sujeitos a impedimento ou suspeição”. ricial contábil e no parecer técnico-
-contábil;
96/182 Unidade 5 • Zelo profissional
c. Prestar os esclarecimentos deter- Isso significa que o perito judicial:
minados pela autoridade compe- a. Não pode entregar o laudo pericial
tente, respeitados os prazos legais depois de vencido o prazo estabeleci-
ou contratuais; do pelo magistrado;
d. Propugnar pela celeridade proces- b. Será responsável por todas as afirma-
sual, valendo-se dos meios que ga- ções que fizer e todo o conteúdo exa-
rantam eficiência, segurança, pu- rado no laudo pericial, bem como por
blicidade dos atos periciais, econo- todos os documentos e informações
micidade, o contraditório e a ampla que obtiver na realização de diligên-
defesa; cias, haja vista que muitos documen-
e. Ser prudente, no limite dos aspec- tos e informações são sigilosas e não
tos técnico-científicos, e atento às devem ser levados ao conhecimento
consequências advindas dos seus de outros a não ser por meio do laudo
atos; pericial;
f. Ser receptivo aos argumentos e crí- c. Prestar ao juiz, aos peritos-assisten-
ticas, podendo ratificar ou retificar o tes e às partes os esclarecimentos que
posicionamento anterior. se fizerem necessário, em virtude das

97/182 Unidade 5 • Zelo profissional

afirmações feitas no laudo pericial; lência. Em outras palavras, o peri-


d. Fazer todo o esforço para garantir ce- to deve ser humilde e reconhecer
leridade ao processo, não somente outras opiniões quando isso puder
cumprindo os prazos estabelecidos, proporcionar um trabalho mais jus-
como também garantir a todas as par- to e correto, sem perder a indepen-
tes envolvidas no processo o acesso a dência e imparcialidade.
suas informações e conclusões;
e. Agir nos limites do objeto da lide, tra-
tando apenas das questões técnico-
-científicas colocadas à sua aprecia-
ção, atento às suas obrigações e con-
sequências de seus atos;
f. Saber ouvir as partes, seus advo-
gados e peritos-assistentes, bem
como ao magistrado, e aceitar as
críticas, sugestões, argumentos e
críticas, e aproveitar tudo isso para
elaborar um trabalho com exce-
98/182 Unidade 5 • Zelo profissional
Para saber mais
O art. 473 do CPC estabelece que o laudo pericial deverá conter a exposição do objeto da perícia, a
análise técnica ou científica realizada pelo perito, a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e
demonstrando ser predominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento da qual se
originou e a resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas partes e pelo órgão
do Ministério Público.

3. Transparência e Respeito

O item 27 da NBC PP 01 reza que a transparência e o respeito recíprocos entre o perito do juízo
e o perito-assistente pressupõem tratamento impessoal, restringindo os trabalhos, exclusiva-
mente, ao conteúdo técnico-científico.
Ainda que os profissionais tenham opiniões divergentes, e considerando que o perito-assistente
trabalha em prol das partes, qualquer divergência deve se restringir ao campo técnico-científico,
não podendo, em hipótese alguma, haver qualquer desrespeito de um profissional com o outro.
No item 28, vimos que o perito é responsável pelo trabalho de sua equipe técnica, a qual com-
99/182 Unidade 5 • Zelo profissional

preende os auxiliares para execução do tra- Já vimos que o perito deve entregar o lau-
balho complementar do laudo pericial con- do pericial no prazo fixado pelo juiz, e que
tábil e/ou parecer técnico-contábil. pode pedir prorrogação de prazo que julgar
O significado desse item da NBC é que o pe- necessário, desde que apresente as justifi-
rito pode valer-se de outros peritos, bem cativas para tal pedido. Ressalte-se, porém,
como assistentes e auxiliares, ou seja, pode que tal pedido deve ser feito antes do ven-
ter uma equipe técnica que o auxilie na ela- cimento do prazo do qual se solicita prorro-
boração dos trabalhos periciais, mas a res- gação.
ponsabilidade pelos resultados será sempre De acordo com o item 30 da NBC, na perícia
do perito nomeado pelo juiz. extrajudicial o perito deve estipular os pra-
O item 29 trata dos prazos que o perito deve zos necessários para a execução dos traba-
cumprir na entrega do laudo, e estabelece lhos junto com a proposta de honorários e
que, sempre que não for possível concluir o com a descrição dos serviços a executar.
laudo pericial contábil no prazo fixado pelo Nesse caso, a norma trata do trabalho peri-
juiz, deve o perito do juízo requerer a sua di- cial realizado fora do âmbito judicial, a pe-
lação antes de vencido aquele, apresentan- rícia extrajudicial, em que as partes envol-
do os motivos que ensejaram a solicitação. vidas num conflito decidem contratar um
perito para que elabore um trabalho téc-
100/182 Unidade 5 • Zelo profissional
nico e emita uma opinião sobre a questão parem da obtenção das provas que o perito
discutida, para que as partes possam tomar judicial necessitará para elaborar seu laudo.
uma decisão e, preferencialmente, chegar a Por derradeiro, cabe mencionar que o item
um acordo sem a necessidade de promover 32 da NBC PP 01 estabelece que o peri-
uma ação judicial. to pode valer-se de especialistas de outras
O item 31 estabelece que, quando o peri- áreas para a realização do trabalho, quando
to tiver de realizar diligências para obten- parte da matéria-objeto da perícia assim o
ção de documentos e informações durante requeira.
a elaboração do laudo pericial, para busca Se o perito utilizar informações de especia-
de provas, deve comunicar às partes para lista, inclusive se anexar documento emiti-
ciência de seus peritos-assistentes, com o do por especialista, o perito é responsável
objetivo de permitir a participação deles na por todas as informações contidas em seu
realização dos trabalhos. laudo ou parecer.
Esse procedimento, além de aproximar o Podemos citar como exemplo a necessida-
perito judicial dos peritos-assistentes, per- de de um perito contador que, ao elaborar
mite a agilidade na busca por documentos a avaliação de um patrimônio, de uma em-
e informações, e pode evitar contestações presa, se depara com a existência de um
ao laudo pericial, se os assistentes partici-
101/182 Unidade 5 • Zelo profissional

imóvel, o qual também precisa ser avaliado para compor o patrimônio que está sendo levantado
pelo contador.
Caso o perito contador solicite a um outro perito a elaboração de um laudo de avaliação do imó-
vel e o utilize juntamente com seu laudo, o perito contador será responsável pelas informações
prestadas pelo outro perito.

Para saber mais


O § 2º do artigo 466 do CPC determina que “o perito deve assegurar aos assistentes das partes o acesso
e o acompanhamento das diligências e dos exames que realizar, com prévia comunicação, comprovada
nos autos, com antecedência mínima de 5 (cinco) dias”.

4. Código de ética do profissional da contabilidade

Neste tópico, estudaremos cinco itens do Código de Ética do Profissional da Contabilidade que
dizem respeito ao zelo do profissional quando investido da função de perito.
1. Dever de recusar a indicação quando não se achar capacitado para bem desempenhar o
102/182 Unidade 5 • Zelo profissional
encargo (Código de Ética Profissional parcialidade do trabalho pericial, evitando
do Contabilista, art. 5º, item I). qualquer interferência, seja das partes seja
Quando o profissional não se sente capaci- de terceiros que tenham interesse no pro-
tado a desempenhar a função, em virtude cesso.
da matéria a que se refere o trabalho peri- 3. Dever profissional de abster-se de dar
cial, tem esse o dever de recusar a nomea- sua convicção pessoal sobre direitos
ção e esclarecer os motivos da recusa. das partes, mantendo seu laudo no
2. Dever profissional de evitar interpre- âmbito técnico (Código de Ética Pro-
tações tendenciosas, mantendo ab- fissional do Contabilista, art. 5º, item
soluta independência moral e técnica III).
(Código de Ética Profissional do Con- O laudo pericial deve, ao máximo possível,
tabilista, art. 5º, item II). esclarecer as dúvidas levantadas no proces-
A principal característica do perito judicial, so, respondendo de forma clara e objetiva
nesse contexto, é a independência. Não às questões levantadas pelas partes. No en-
deve o profissional estar sujeito a nenhu- tanto, não deve opinar sobre matéria de di-
ma interferência em seu trabalho. Essa in- reito, posicionar-se parcialmente, deixando
dependência é essencial para manter a im- essa função para o magistrado, que utiliza-
rá o laudo pericial para este fim.
103/182 Unidade 5 • Zelo profissional

4. Dever profissional de apreciar com O laudo pericial deve estar, sempre, respal-
imparcialidade o pensamento expos- dado em informações e documentos que
to em laudo pericial que lhe for sub- garantam ao profissional convicção a res-
metido (Código de Ética Profissional peito da conclusão exposta na peça. A obri-
do Contabilista, art. 5º, item IV). gação de cumprir o prazo não deve ser mo-
Quando o perito realizar trabalho de assis- tivo para que o perito elabore seu lado sem
tente técnico ou for chamado a dar parecer estar suficientemente convicto em relação
sobre laudo elaborado por outro colega, às opiniões exaradas na peça pericial.
deve se ater a opinar tecnicamente, emba-
sando suas opiniões em documentos e in-
formações fidedignas, evitando qualquer
parecer tendencioso ou imparcial.
5. Dever profissional de abster-se de dar
parecer ou emitir opinião sem estar
suficientemente informado ou docu-
mentado (Código de Ética Profissional
do Contabilista, art. 5º, item VI).

104/182 Unidade 5 • Zelo profissional


Glossário
CEPC: Código de Ética Profissional do Contabilista.
Contraditório: direito de resposta a quem é acusado de algo, ouvir o outro lado.
Ampla defesa: direito de se defender de toda acusação que receber.
Fé pública: crédito que se deve dar a documentos emanados de autoridades públicas ou serven-
tuários da justiça, em virtude da função ou ofício exercido.

105/182 Unidade 5 • Zelo profissional

?
Questão
para
reflexão
Um perito realiza um trabalho como perito-assistente e acompanha
os trabalhos desenvolvidos pelo perito judicial, e concorda com as
conclusões a que esse chegou, tendo a mesma opinião. No entan-
to, ao apresentar os resultados do trabalho pericial, a parte que o
contratou não concordou com as conclusões do perito judicial, pois
contraria suas pretensões. Seu cliente pede para que você elabore
um parecer pericial que apresente resultados diferentes do perito
judicial, que vá ao encontro de suas pretensões na ação. O que deve
fazer o perito-assistente? Mantém sua opinião técnica e se nega a
fazer o parecer como pede seu cliente, ou se rende ao pedido, haja
vista que ele foi contratado e pago pela parte?

106/182
Considerações Finais

Conforme vimos, o perito judicial tem muita responsabilidade sobre seus om-
bros, tem muitas obrigações e pode influenciar o juiz na solução da lide, razão
pela qual deve primar pela excelência moral (honestidade, moderação, equi-
dade etc.) e a excelência intelectual (inteligência, conhecimento, discernimen-
to etc.).

107/182

Referências

ALBERTO, Valder Luiz Palombo. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
MAGALHÃES, Antonio de Deus Farias et al. Perícia contábil. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
NEVES, Antonio Gomes das. Curso de perícia contábil. 3. ed. São Paulo: LTR, 2012.
ORNELAS, Martinho M. G. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
SÁ, Antonio Lopes de. Perícia contábil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

108/182 Unidade 5 • Zelo profissional


Questão 1
1. Muitas vezes, o resultado da atuação do perito pode decidir a solução da
lide, quando o juiz decide de acordo com o laudo pericial. Nesse caso, se
houver uma falsa perícia:
a) O perito não responderá pelo dano que causar às partes;
b) A responsabilidade pela sentença é do juiz;
c) O perito apenas emite sua opinião técnica sobre o assunto;
d) O perito não influencia a sentença judicial;
e) O perito responderá pelo dano que causar às partes.

109/182

Questão 2
2. O perito, como pessoa pública, de fé pública, tem a obrigação de de-
monstrar elevado padrão ético e moral, oferecendo um trabalho de eleva-
da qualidade:

a) Essa afirmação está absolutamente correta.


b) O perito judicial não tem fé pública, apenas o juiz tem.
c) Elevado padrão ético e moral não é necessidade no laudo pericial.
d) Laudo pericial com qualidade não tem relação com a questão ética.
e) A obrigação do perito judicial é apenas a de mostrar a verdade.

110/182
Questão 3
3. Após a entrega do laudo:

a) O perito judicial não tem mais obrigação perante ao juiz;


b) O perito judicial não tem mais obrigação perante aos peritos-assistentes;
c) O perito judicial não tem mais obrigação perante as partes;
d) Os esclarecimentos que se fizerem necessários estão emitidos em seu laudo pericial;
e) O perito deve prestar todos os esclarecimentos feitos a ele, pelo juiz e pelas partes

111/182

Questão 4
4. Se o perito judicial utilizar informações de outro perito, inclusive se
anexar documento emitido por esse especialista:
a) O perito só é responsável pelas informações por ele apuradas;
b) Cada perito responde por seu laudo pericial;
c) O perito judicial responde por todas as informações contidas em seu laudo;
d) O juiz decide quem é o responsável por cada informação;
e) As partes decidem quem é o responsável por cada informação

112/182
Questão 5
5. O laudo pericial deve estar sempre respaldado em informações e docu-
mentos que garantam ao profissional ter convicção a respeito da conclu-
são exposta na peça:

a) A responsabilidade é de quem forneceu as informações ao Perito.


b) O perito é responsável por todas as informações contidas no laudo pericial.
c) O perito divide a responsabilidade com quem forneceu a informação.
d) A responsabilidade é da parte que forneceu a informação ao perito judicial.
e) A responsabilidade é do perito-assistente que forneceu a informação ao perito judicial.

113/182

Gabarito
1. Resposta: E.

O perito responderá pelo dano que causar às partes porque divide com o juiz a responsabilidade
pela sentença, à medida que o perito pode fazer afirmações falsas, induzindo o juiz a erro.

2. Resposta: A.

O perito tem fé pública e por isso tem a obrigação de demonstrar elevado padrão ético e moral,
elaborando sempre um laudo de elevada qualidade.

3. Resposta: E.
Após a entrega do laudo, o perito judicial tem obrigação de prestar os esclarecimentos que se
fizerem necessários perante o juiz, os peritos-assistentes e as partes.

114/182
Gabarito
4. Resposta: C.

Se o perito utilizar informações de outro perito, inclusive se anexar documento ou laudo emiti-
do por outro especialista, o perito é responsável por todas as informações prestadas pelo outro
profissional.

5. Resposta: B.

O laudo pericial deve estar sempre respaldado em informações e documentos que garantam ao
profissional ter convicção a respeito da conclusão exposta na peça, pela qual responderá civil e
criminalmente.

115/182

Unidade 6
A prestação de esclarecimentos – obrigatório

Objetivos
No estudo da obrigatoriedade do perito na pres-
tação de esclarecimentos, trataremos dos tópi-
cos:
1. As determinações do CPC e da NBC PP 01.
2. Laudo complementar e de esclarecimentos.
3. Esclarecimentos em audiência.

116/182
Introdução

Neste tema, estudaremos a obrigação do perito judicial em prestar esclarecimentos ao juiz e


às partes sobre as questões debatidas nos autos do processo. Essa obrigação é proveniente do
próprio encargo assumido pelo perito, que é o de esclarecer as questões técnicas presentes no
conflito, e, caso o laudo não esclareça todas as questões, deve o perito esclarecer os pontos que
não foram elucidados.
Estudaremos a Norma Brasileira de Contabilidade NBC PP 01 e o Código de Processo Civil, pois
ambos os diplomas legais tratam da matéria.

117/182 Unidade 6 • A prestação de esclarecimentos – obrigatório

1. As determinações da NBC PP 01 e do CPC

O item 41 da NBC determina que

o perito deve prestar esclarecimentos sobre o conteúdo do laudo pericial


contábil ou do parecer técnico-contábil, em atendimento à determinação
do juiz ou árbitro que preside o feito, os quais podem não ensejar novos
honorários periciais, se forem apresentados para obtenção de detalhes do
trabalho realizado, uma vez que as partes podem formulá-los com essa
denominação, mas serem quesitos suplementares.

A primeira parte do citado item da norma estabelece que o perito judicial deve prestar esclare-
cimentos sobre o laudo pericial apresentado, e que o perito-assistente deve prestar esclareci-
mentos sobre seu parecer pericial, quando juntados aos autos. Digo quando juntados aos autos
porque o perito-assistente pode emitir um parecer sobre o laudo do perito judicial somente para
a parte que o contratou, que fará uso do parecer para apresentar sua contestação ao laudo judi-
cial.

118/182 Unidade 6 • A prestação de esclarecimentos – obrigatório


A segunda parte do texto alerta que o pedido de esclarecimento não pode ser a apresentação de
novos quesitos, mas apenas elucidação dos quesitos já apresentados e que não foram devida-
mente compreendidos pelas partes e pelo magistrado. A apresentação de novos quesitos daria
ao perito o direito de requerer novos honorários, mas o esclarecimento às respostas dos quesi-
tos já respondidos não, haja vista que o perito já recebeu por esse trabalho.

Para saber mais


O item 35 da NBC PP 01 estabelece que “o perito deve ressaltar, em sua proposta de honorários, que
esta não contempla os honorários relativos a quesitos suplementares e, se estes forem formulados
pelo juiz e/ou pelas partes, pode haver incidência de honorários complementares a serem requeridos,
observando os mesmos critérios adotados para elaboração da proposta inicial”.

O artigo 473 do CPC orienta como deve o perito fazer a apresentação de seu trabalho, indicando
o que deve conter o laudo pericial. O citado artigo diz que o laudo pericial deverá conter:
I. A exposição do objeto da perícia;
II. A análise técnica ou científica realizada pelo perito;

119/182 Unidade 6 • A prestação de esclarecimentos – obrigatório

III. A indicação do método utilizado, es- todos e técnicas utilizados são de aceitação
clarecendo se é predominantemente predominante pelos especialistas da área
aceito pelos especialistas da área; ou não, ou seja, se o perito está seguindo
IV. Resposta conclusiva a todos os quesi- uma corrente de pensamento já aceita pe-
tos apresentados pelo juiz. los especialistas e academia.
A exposição do objeto da perícia é a introdu- Em seguida, deve o perito apresentar suas
ção ao trabalho, momento em que o perito observações relevantes, e espera-se do pe-
esclarece ao leitor qual a matéria tratada no rito que apresente respostas conclusivas
laudo pericial, o que motivou o pedido da aos quesitos apresentados, com clareza,
perícia e quais objetivos devem ser alcan- objetividade e concisão. O perito deve uti-
çados pelo trabalho do perito. lizar linguagem clara e coerente, permitin-
do a fácil compreensão do magistrado e das
Na sequência, o perito passa a fazer a análi-
partes, evitando-se, assim, a necessidade
se técnica ou científica da matéria periciada
de esclarecimentos posteriores.
e desenvolve o laudo pericial. Exige-se do
perito, nessa parte do trabalho, que indique O § 1º do artigo 473 do CPC determina que
qual foi o método e os critérios utilizados na cabe ao perito apresentar sua fundamenta-
realização do laudo, esclarecendo se os mé- ção em linguagem simples e com coerên-
cia lógica, indicando como alcançou suas
120/182 Unidade 6 • A prestação de esclarecimentos – obrigatório
conclusões. Esse dispositivo legal reforça o muito cuidado em respeitar limites de sua
que foi dito anteriormente, pois a utilização designação, ou seja, tratar apenas do obje-
de uma linguagem simples facilita a com- to da perícia, da questão que foi colocada
preensão do leitor, e coerência lógica per- para sua análise.
mite ao magistrado e às partes entenderem O § 3º do CPC determina algumas prerro-
a quais conclusões chegou o perito. gativas importantes para o perito judicial,
O § 2º do mesmo artigo determina que “é ao permitir que, para o desempenho de sua
vedado ao perito ultrapassar os limites de função, o perito e os assistentes técnicos
sua designação, bem como emitir opiniões possam valer-se de todos os meios neces-
pessoais que excedam o exame técnico ou sários, ouvindo testemunhas, obtendo in-
científico do objeto da perícia”. Existe uma formações, solicitando documentos que
linha tênue que separa a omissão da verda- estejam em poder da parte, de terceiros ou
de e a afirmação sem a devida prova, e lidar em repartições públicas, bem como instruir
com isso não é uma tarefa fácil, que o perito o laudo com planilhas, mapas, plantas, de-
precisa aprender a fazer. senhos, fotografias ou outros elementos
O perito não pode fazer afirmações que não necessários ao esclarecimento do objeto da
possa provar, nem calar sobre verdade que perícia.
vier a saber, razão pela qual precisa tomar Essa é uma prerrogativa importante para o
121/182 Unidade 6 • A prestação de esclarecimentos – obrigatório

perito judicial e também para o perito-as- esse profissional atua em nome do juízo,
sistente desenvolverem seus trabalhos, pois ou seja, em nome da Instituição do Judiciá-
nem sempre os autos do processo trazem rio, como auxiliar da Justiça, cujo laudo irá
a esses profissionais todas as informações contribuir com o magistrado na solução de
e documentos necessários à realização da conflitos levados à apreciação do Judiciário.
perícia. Pode ocorrer que as partes ou funcionários
Muitas vezes, o perito necessita de docu- de repartições públicas dificultem o traba-
mentos e informações que estão em poder lho do perito e neguem ao profissional a in-
das partes, de terceiros ou em repartições formação ou documento solicitado, e, neste
públicas e o perito pode solicitar o acesso a caso, deve o perito fazer tal comunicado ao
eles. Quando se tratar de informações, pode magistrado para que possa tomar as provi-
o perito solicitá-las por meio de entrevistas dências cabíveis. Em outras palavras, o pe-
e reuniões com as partes e seus peritos-as- rito pode solicitar documentos diretamente
sistentes, e quando se tratar de documen- às partes e às repartições públicas, mas, se
tos pode requisitá-los, inclusive solicitando houver recusa na entrega deles, deve o pe-
cópias dos mesmos quando julgar necessá- rito fazer o pedido ao juiz.
rio.
Essa prerrogativa é dada ao perito porque
122/182 Unidade 6 • A prestação de esclarecimentos – obrigatório
tre a entrega do laudo pelo perito judicial e
2. Laudo complementar e de
a audiência de instrução e julgamento.
esclarecimentos
Na audiência de instrução, o juiz ouvirá as
O artigo 477 do CPC determina que o perito partes e as testemunhas, e certamente o
protocolará o laudo em juízo, no prazo fixa- resultado do laudo pericial será objeto de
do pelo juiz, pelo menos 20 (vinte) dias an- análise, razão pela qual o laudo deve ser
tes da audiência de instrução e julgamento. protocolado pelo perito com uma antece-
Esse dispositivo da lei estabelece que não dência de 20 dias antes da audiência. O juiz
pode haver um curto espaço de tempo en- pode adiar a audiência se esse prazo não for

123/182 Unidade 6 • A prestação de esclarecimentos – obrigatório

respeitado. prazo de 15 dias, esclarecer ponto sobre o


O §1º do mesmo artigo reza que “as partes qual exista divergência ou dúvida de qual-
serão intimadas para manifestar-se sobre quer das partes, do juiz ou do órgão do Mi-
o laudo do perito do juízo no prazo comum nistério Público, ou ponto divergente apre-
de 15 dias, podendo o assistente técnico de sentado no parecer do assistente técnico da
cada uma das partes, em igual prazo, apre- parte.
sentar seu parecer”. Após a entrega do lau- O perito judicial deve esclarecer qualquer
do pelo perito judicial, o juiz emite um des- dúvida apresentada pelas partes, pelo juiz
pacho para tornar público o conteúdo dele, ou promotor público e terá ainda de escla-
e as partes terão 15 dias para apresentar recer a divergência existente entre seu lau-
sua manifestação sobre o conteúdo do lau- do pericial e o parecer pericial apresentado
do, dizendo se concorda ou discorda, apre- pelo perito-assistente. A despeito de ser o
sentando os motivos da discordância. perito judicial profissional de confiança do
O §2º do artigo 477 do CPC é o artigo que magistrado e gozar de fé pública, o juiz pode
determina a obrigação do perito em pres- pedir explicações sobre a divergência entre
tar os devidos esclarecimentos sobre o con- seu laudo e o parecer do perito-assistente,
teúdo do laudo pericial. O citado parágrafo quando julgar necessário, o que deve acon-
reza que o perito do juízo tem o dever de, no tecer somente quando houver significativa
124/182 Unidade 6 • A prestação de esclarecimentos – obrigatório
divergência entre os dois laudos, ou quando o magistrado não tiver convicção que o laudo do
perito judicial seja conclusivo o suficiente para seu julgamento.

Para saber mais


O artigo 479 do CPC autoriza o magistrado a decidir diferentemente do disposto no laudo pericial, ao
determinar que “o juiz apreciará a prova pericial de acordo com o disposto no art. 371, indicando na
sentença os motivos que o levaram a considerar ou a deixar de considerar as conclusões do laudo, le-
vando em conta o método utilizado pelo perito”.

O artigo 475 do CPC autoriza que, tratando-se de perícia complexa, que abranja mais de uma
área de conhecimento especializado, o juiz poderá nomear mais de um perito, e a parte, indicar
mais de um assistente técnico. Isso pode acontecer quando uma ação tiver questões técnicas a
serem elucidadas que envolvam mais de uma especialização técnica, e que requeira o trabalho
de mais de um especialista, como, por exemplo, um contador e um atuário, um contador e um
engenheiro.
O artigo 480 do CPC reza que o juiz determinará, de ofício ou a requerimento da parte, a rea-

125/182 Unidade 6 • A prestação de esclarecimentos – obrigatório

lização de nova perícia quando a matéria judicial apresentar seus esclarecimentos e


não estiver suficientemente esclarecida. Se as partes entenderem que ainda restam dú-
o perito judicial prestar todos os esclareci- vidas, podem solicitar ao juiz que intimem
mentos adicionais que lhe compete e, mes- o perito a comparecer em audiência e sanar
mo assim, o juiz ou as partes entenderem as dúvidas ainda restantes.
que ainda restam dúvidas a serem esclare- O §4º reza que o perito ou o assistente téc-
cidas o juiz poderá determinar a realização nico deverá ser intimado por meio eletrôni-
de uma nova perícia. co, com pelo menos 10 dias de antecedên-
cia da audiência. Se o perito não for avisa-
3. Esclarecimentos em audiência do com a devida antecedência, não poderá
ser penalizado se não puder comparecer à
O §3º do artigo 477 do CPC determina que,
audiência, mas, de qualquer forma, deverá
se ainda houver necessidade de esclareci-
comunicar ao magistrado qualquer impos-
mentos, a parte requererá ao juiz que man-
sibilidade de comparecimento.
de intimar o perito ou o assistente técnico a
comparecer à audiência de instrução e jul- O artigo 472 do CPC determina que o juiz
gamento, formulando, desde logo, as per- poderá dispensar prova pericial quando as
guntas, sob forma de quesitos. Se o perito partes, na inicial e na contestação, apresen-
tarem, sobre as questões de fato, pareceres
126/182 Unidade 6 • A prestação de esclarecimentos – obrigatório
técnicos ou documentos elucidativos que considerar suficientes.
O artigo 464 reza que a prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação, e o §2º deter-
mina que, “de ofício ou a requerimento das partes, o juiz poderá, em substituição à perícia, de-
terminar a produção de prova técnica simplificada, quando o ponto controvertido for de menor
complexidade”. Isso significa que não haverá laudo pericial escrito, pois de acordo com o § 3º a
prova técnica simplificada consistirá apenas na inquirição de especialista, pelo juiz, sobre ponto
controvertido da causa que demande especial conhecimento científico ou técnico.

Para saber mais


O §2º do artigo 464 do CPC reza que, “de ofício ou a requerimento das partes, o juiz poderá, em subs-
tituição à perícia, determinar a produção de prova técnica simplificada, quando o ponto controvertido
for de menor complexidade”. O §3º estabelece que “a prova técnica simplificada consistirá apenas na
inquirição de especialista, pelo juiz, sobre ponto controvertido da causa que demande especial conhe-
cimento científico ou técnico”.

127/182 Unidade 6 • A prestação de esclarecimentos – obrigatório

O §4º estabelece que o especialista deverá ter formação acadêmica específica na área objeto
de seu depoimento, e que poderá valer-se de qualquer recurso tecnológico de transmissão de
sons e imagens com o fim de esclarecer os pontos controvertidos da causa.

128/182 Unidade 6 • A prestação de esclarecimentos – obrigatório


Glossário
De ofício: expressão muito usada no direito e que vem do latim ex officio, que significa “por lei,
oficialmente, em virtude de lei, de iniciativa de autoridade pública”.
Quesitos: conjunto de perguntas de natureza técnica ou científica a serem respondidas pelo pe-
rito.
Atuário: especialista em matemática estatística, que age na avaliação de riscos, fixação de prê-
mios, indenizações.

129/182 Unidade 6 • A prestação de esclarecimentos – obrigatório

?
Questão
para
reflexão

Um perito recebe um telefone do juiz que o nomeou


para realizar uma perícia, solicitando sua presença na
audiência que será realizada no dia seguinte. O perito
já tem compromisso agendado para o dia seguinte, e
a comunicação deveria ser enviada a ele com uma an-
tecedência mínima de 10 (dez) dias. O que deve fazer o
perito? Tentar remarcar o compromisso e comparecer à
audiência ou avisar ao juiz que não poderá comparecer
em virtude de compromisso já agendado?

130/182
Considerações Finais

Prestar esclarecimentos sobre o laudo pericial é obrigação do perito decor-


rente do encargo assumido, pois tem o profissional o dever de informar, de
esclarecer as questões controversas a ele apresentados e dar ao magistrado
condições de prolatar a sentença. Por isso, deve o perito estar sempre pronto a
esclarecer as dúvidas apresentadas pelo magistrado e pelo Ministério Público,
bem como pelas partes e seus peritos-assistentes.

131/182

Referências

ALBERTO, Valder Luiz Palombo. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
MAGALHÃES, Antonio de Deus Farias et al. Perícia contábil. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
NEVES, Antonio Gomes das. Curso de perícia contábil. 3. ed. São Paulo: LTR, 2012.
ORNELAS, Martinho M. G. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
SÁ, Antonio Lopes de. Perícia contábil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

132/182 Unidade 6 • A prestação de esclarecimentos – obrigatório


Questão 1
1. Quando o juiz ou as partes tiverem dúvidas sobre o laudo ou sobre a con-
clusão dele, podem solicitar esclarecimentos ao perito, e para tanto o perito
precisa. Se isso acontecer:

a) A prioridade do perito é responder às dúvidas do juiz;


b) A prioridade do perito é responder às dúvidas das partes;
c) O perito deve responder a todas as dúvidas a ele apresentadas;
d) O perito pode escolher quais esclarecimentos prestará;
e) O perito não tem obrigação de prestar esclarecimentos.

133/182

Questão 2
2. Se o perito for chamado na audiência, ele deve comparecer:

a) Se for avisado com a antecedência mínima de dez dias;


b) Se estiver com a agenda livre;
c) Se estiver em condições de esclarecer as dúvidas do juiz e das partes;
d) Se houver algum pedido de esclarecimento nos autos do processo;
e) Se receber com antecedência às perguntas que a ele serão formuladas na audiência.

134/182
Questão 3
3. Se o perito-assistente protocolar nos autos do processo parecer pericial
e esse estiver divergente do laudo do perito judicial, o juiz:
a) Considerará somente o laudo do perito judicial;
b) Fará uma média entre os valores dos dois laudos;
c) Pedirá para o perito judicial explicar a divergência;
d) Decidirá o que fazer em cada caso, pois a ele cabe a decisão final;
e) Chamará o perito-assistente para explicar a divergência.

135/182

Questão 4
4. Se restarem muitas dúvidas sobre o laudo pericial, pode o juiz determi-
nar a realização de outra perícia. Se isso acontecer:

a) O juiz utilizará somente as conclusões da primeira perícia;


b) O juiz utilizará somente as conclusões da segunda perícia;
c) O juiz utilizará as duas perícias, considerando uma parte de cada uma;
d) O juiz não utilizará nenhuma das duas perícias;
e) O juiz é livre para decidir sobre qualquer uma das perícias.

136/182
Questão 5
5. O juiz pode dispensar a realização de perícia e apresentação de laudo
pericial escrito, solicitando a presença do perito em audiência. Isso
poderá ocorrer quando:

a) Não houver perito capacitado na comarca;


b) O ponto controvertido for de menor complexidade;
c) O perito deixou de entregar o laudo solicitado;
d) As partes não concordarem com a nomeação do perito judicial;
e) O juiz não pode dispensar a realização da perícia.

137/182

Gabarito
1. Resposta: C.

O perito deve responder a todas as dúvidas a ele apresentadas, tanto do juiz quanto das partes,
e até mesmo do Ministério Público, conforme previsão legal. A prestação de esclarecimentos é
dever inerente à função de perito judicial.

2. Resposta: A.

Se for avisado com a antecedência mínima de dez dias, o perito é obrigado a comparecer na au-
diência, mas, se ele for avisado com um prazo menor e puder comparecer, deverá fazê-lo, pois
isso demonstraria ao magistrado e às partes sua disposição em bem servir.

3. Resposta: D.

O juiz decidirá o que fazer em cada caso, pois a ele cabe a decisão final. Sendo o perito judicial
pessoa de confiança do magistrado, o laudo desse perito sempre terá muito crédito perante o
juiz, mas o parecer pericial pode ser considerado e o perito judicial pode ser solicitado a explicar
as divergências, mas somente se o juiz assim o decidir.

138/182
Gabarito
4. Resposta: E.

O juiz é livre para decidir sobre qualquer uma das perícias, da mesma forma que é ele quem de-
cide se há a necessidade da realização da primeira perícia, bem como da segunda.

5. Resposta: B.

O juiz dispensará a realização de perícia e apresentação de laudo pericial escrito, solicitando a


presença do perito em audiência, quando o ponto controvertido for de menor complexidade. O
fato de não existir perito capacitado na Comarca não impede a realização da perícia, podendo o
juiz nomear perito de outras Comarcas.

139/182

Unidade 7
Formulação de quesitos

Objetivos

No estudo da formulação de quesitos para o Peri-


to trataremos dos aspectos:
1. O que são quesitos.
2. Quesitos do juiz e das partes.
3. Quesitos suplementares.
4. Indeferimento de quesitos.
5. Quesitos na autocomposição.

140/182
Introdução

A formulação de quesitos é um ato proces- pelas partes, mas também podem ser for-
sual que antecede o trabalho do perito judi- mulados pelo magistrado. Os quesitos são
cial, e muitas vezes representa o início dos apresentados ao perito antes do início das
trabalhos do perito-assistente, pois esse diligências e da produção das provas peri-
pode auxiliar seu cliente na elaboração dos ciais.
quesitos a serem respondidos pelo perito Oferecer resposta correta e adequada aos
do juízo. quesitos formulados requer boa leitura dos
Trataremos, portanto, da elaboração autos e das questões formuladas e entender
dos quesitos, trabalho em que a participa- o que está sendo indagado, tarefa essa que
ção do perito-assistente é muito importan- nem sempre é fácil, especialmente quando
te, e das respostas aos quesitos, trabalho do as perguntas não são bem formuladas, dan-
perito judicial. do margem a dúvida quanto ao seu sentido
ou que permita mais de uma interpretação
1. O que são quesitos técnica.

Quesito é o conjunto de perguntas de natu- 2. Quesitos do juiz e das partes


reza técnica ou científica a serem respondi-
das pelo perito. Os quesitos são formulados De acordo com o caput do artigo 465 do
141/182 Unidade 7 • Formulação de quesitos

CPC, o juiz nomeará perito especializado cesso que contratou seus serviços de perito.
no objeto da perícia e fixará de imediato o Como especialista na área em que será rea-
prazo para a entrega do laudo. Isso significa lizada a prova pericial, o assistente técnico
que, ao nomear o perito, o juiz já determi- pode ajudar seu cliente na formulação dos
nará o prazo que o expert terá para fazer a quesitos.
entrega do laudo. É muito comum o perito-assistente ser con-
O §1º do mesmo artigo determina que as tratado após o despacho do juiz, e com fre-
partes terão 15 (quinze) dias, contados da quência o profissional tem pouco tempo
intimação do despacho de nomeação do para ler os autos do processo, inteirar-se do
perito, para: assunto e formular os quesitos a serem res-
I. Arguir o impedimento ou a suspeição pondidos pelo perito judicial. Esse trabalho
do perito, se for o caso; requer do perito-assistente muita atenção
e cuidado, pois seu cliente não terá outra
II. Indicar assistente técnico;
oportunidade para apresentar quesitos, a
III. Apresentar quesitos. menos que o magistrado aceite a apresen-
Esse é o momento em que o perito-assis- tação de quesitos suplementares, que tra-
tente pode começar a desenvolver seu tra- taremos mais adiante.
balho junto ao seu cliente, à parte do pro- Obviamente que o trabalho do perito-as-
142/182 Unidade 7 • Formulação de quesitos
sistente não para por aí, pois ele poderá trabalhar junto ao perito judicial no desenvolvimento
dos trabalhos periciais e poderá também apresentar seu parecer pericial, ou auxiliar seu cliente
na contestação do laudo do perito judicial, quando for necessário.
O perito judicial deve informar aos peritos-
Para saber mais -assistentes quando e onde fará diligências,
com antecedência mínima de 5 (cinco) dias,
O artigo 466 do CPC determina que o perito cum-
cuja comunicação deve ser comprovada nos
prirá escrupulosamente o encargo que lhe foi co-
autos do processo. Deverá também permitir
metido, independentemente de termo de com-
que os assistentes técnicos acompanhem os
promisso. Estabelece ainda, em seu §2º, que o
trabalhos nas diligências e os exames que
perito deve assegurar aos assistentes das partes
realizar em documentos, compartilhando
o acesso e o acompanhamento das diligências e
as informações a que tiver acesso.
dos exames que realizar, com prévia comunica-
ção, comprovada nos autos, com antecedência
mínima de 5 (cinco) dias.
3. Quesitos suplementares

O magistrado não aceitará a apresentação


de quesitos fora do prazo legal ou do prazo
por ele estabelecido. Também não aceitará

143/182 Unidade 7 • Formulação de quesitos

quesitos suplementares apresentados sem a autorização prevista no artigo 469 do CPC.


Reza o citado artigo que as partes poderão apresentar quesitos suplementares durante a dili-
gência, que poderão ser respondidos pelo perito previamente ou na audiência de instrução e
julgamento.
Os quesitos suplementares poderão ser apresentados ao perito judicial no decorrer das diligên-
cias quando surgir algo novo ou algum fato novo que justifique a apresentação de novos ques-
tionamentos, mas não pode configurar como apresentação de quesitos fora de prazo. Em outras
palavras, os quesitos suplementares só poderão ser apresentados do momento que o perito teve
acesso aos autos para iniciar a perícia até o momento que ele entregar seu laudo.
Quando uma das partes apresentar quesitos suplementares, o escrivão comunicará a parte con-
trária da juntada dos quesitos aos autos, para que essa tenha também a oportunidade de apre-
sentar quesitos suplementares, caso deseje. Essa é a previsão do parágrafo único do artigo 469
do CPC.

144/182 Unidade 7 • Formulação de quesitos


4. Indeferimento de quesitos

Algumas vezes, o perito se depara com quesitos impertinentes, ou seja, quesitos que são desne-
cessários ou que buscam do perito contábil opinião fora de sua competência legal. Pode o perito,
por petição, se dirigir ao magistrado e pedir orientação a respeito do tratamento a ser dado aos
quesitos impertinentes.
Cuidado especial deve ter o perito ao responder quesito cujo conteúdo envolva matéria de di-
reito, devendo o perito contábil se eximir de oferecer resposta que não seja de natureza técnica,
pois tal procedimento está fora de sua competência legal.

145/182 Unidade 7 • Formulação de quesitos

Para saber mais


O magistrado pode auxiliar o perito nesta questão de não ter de responder aos quesitos impertinen-
tes, pois o artigo 470 do CPC determina que se incumbe ao juiz indeferir quesitos impertinentes e for-
mular os quesitos que entender necessários ao esclarecimento da causa. Desta forma, pode o juiz se
antecipar ao perito e já indeferir os quesitos que julgar serem impertinentes ou fora da competência
do perito judicial.

Não é muito comum os juízes formularem quesitos, especialmente nas perícias para liquidação
de sentença. No entanto, ao prolatar a sentença o magistrado dá o direcionamento que deseja
do profissional da perícia, estabelecendo o que ele buscar saber, os critérios de cálculos, a taxa de
juros, o índice de correção monetária, a base legal desses indicadores, entre outras informações.
Nas demais ações, especialmente naquelas em que a perícia servirá como produção de prova
para auxiliar o magistrado na sentença, o mais comum é o juiz deixar as partes formularem os
quesitos ao perito, raramente formulando ele próprio seus quesitos, a despeito da previsão legal.

146/182 Unidade 7 • Formulação de quesitos


5. Quesitos na autocomposição

Como mencionado ao longo desta disciplina, é prerrogativa do magistrado a escolha do perito.


Também mencionamos que as partes podem indicar peritos-assistentes para acompanhar os
trabalhos do perito judicial. Vimos, portanto, que o juiz escolhe o perito judicial e as partes con-
tratam peritos-assistentes.
No entanto, o novo CPC estabelece a possibilidade de indicação do perito judicial pelas partes,
conforme previsão do artigo 471 desse diploma legal. Reza o citado artigo que as partes podem,
de comum acordo, escolher o perito, indicando-o mediante requerimento, desde que os peritos

147/182 Unidade 7 • Formulação de quesitos

indicados sejam plenamente capazes e a causa possa ser resolvida por autocomposição.
Vejam que o CPC condiciona a nomeação pelos peritos pelas partes, ou seja, quando a causa
possa ser resolvida por autocomposição, ou seja, quando as partes estiverem dispostas a fazer
um acordo mediante o resultado da perícia.
Além disso, o CPC determina que as partes, ao escolher o perito, já devem indicar os respectivos
assistentes técnicos para acompanhar a realização da perícia, que se realizará em data e local
previamente anunciados, ou seja, as partes devem indicar o perito que fará o laudo pericial e os
peritos-assistentes.
O mesmo artigo do CPC reza que o perito e os assistentes técnicos devem entregar, respectiva-
mente, laudo e pareceres em prazo fixado pelo juiz, ou seja, cada perito apresentará seu laudo,
a despeito de terem realizado o trabalho conjuntamente. A perícia consensual substitui, para
todos os efeitos, a que seria realizada por perito nomeado pelo juiz.

Para saber mais


O artigo 472 do CPC determina que o juiz poderá dispensar prova pericial quando as partes, na inicial
e na contestação, apresentarem, sobre as questões de fato, pareceres técnicos ou documentos eluci-
dativos que considerar suficientes.

148/182 Unidade 7 • Formulação de quesitos


Glossário
Caput: parte superior, cabeça, capítulo, enunciado de artigo de lei ou regulamento, é a parte
inicial de cada artigo.
Expert: é um atributo dado ao perito, pois se trata de um indivíduo com habilidade ou conheci-
mentos especiais que o fazem dominar determinado saber ou fazer humano.
Diligência: prerrogativa do perito para solicitar os elementos de que necessitem para o desen-
volvimento do seu trabalho, sejam informações ou documentos, nos estabelecimentos das par-
tes litigantes ou em repartições públicas.

149/182 Unidade 7 • Formulação de quesitos

?
Questão
para
reflexão
Um perito é nomeado para fazer uma perícia numa ação
de prestação de contas, em que uma empresa aciona
um escritório de contabilidade com a acusação de que o
segundo recebeu dinheiro de seu cliente para o recolhi-
mento de tributos. A perícia comprovou que os valores
dos impostos recolhidos pelo escritório de contabilidade
foram inferiores aos valores entregues pelo cliente ao es-
critório. Em seus quesitos, o autor da ação pede ao perito
para que ele responda se houve crime de apropriação in-
débita. Como deve o perito responder a esse quesito?

150/182
Considerações Finais

A apresentação de respostas aos quesitos formulados pelas partes e pelos magistrados pode
representar o trabalho mais importante num laudo pericial, especialmente naqueles em que a
perícia estiver sendo realizada para a formação de prova. Para que o perito possa realizar um tra-
balho com excelência, deve ler e estudar atentamente os autos do processo e se inteirar de tudo
o que está sendo discutido e o que se espera do laudo pericial. Em seguida, munir-se de todos
os documentos e informações, cálculos e reflexão, para responder aos quesitos e apresentar ao
magistrado o auxílio que se espera do perito.

151/182

Referências

ALBERTO, Valder Luiz Palombo. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
MAGALHÃES, Antonio de Deus Farias et al. Perícia contábil. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
NEVES, Antonio Gomes das. Curso de perícia contábil. 3. ed. São Paulo: LTR, 2012.
ORNELAS, Martinho M. G. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
SÁ, Antonio Lopes de. Perícia contábil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

152/182 Unidade 7 • Formulação de quesitos


Questão 1
1. Os quesitos são formulados:

a) Somente pelo juiz;


b) Somente pelas partes;
c) Pelo juiz e pelas partes;
d) Pelo perito judicial;
e) Pelo promotor público.

153/182

Questão 2
2. Em qual momento são apresentados os Quesitos ao Perito Judicial?

a) Na petição inicial, juntamente com outras provas.


b) Na contestação, juntamente com outras provas.
c) Logo após a sentença judicial.
d) Após a manifestação do Ministério Público.
e) Após a nomeação do perito, no prazo dado pelo magistrado.

154/182
Questão 3
3. Quesitos são:

a) As evidências que o perito utilizará para compor prova real;


b) Todos os assuntos que envolvem o processo;
c) As peças que compõem o processo;
d) As dúvidas acerca do processo que precisam ser elucidadas por parecer técnico específico;
e) As provas apresentadas pelas partes no decorrer do processo.

155/182

Questão 4
4. Não havendo quesitos, a perícia será orientada:

a) Pelo perito;
b) Pelo objeto da ação;
c) Pelo réu da ação;
d) Pelo autor da ação;
e) Pelo perito-assistente.

156/182
Questão 5
5. A nomeação do perito judicial pelas partes só é possível:

a) Quando houver possibilidade de acordo;


b) Quando o juiz não conhecer nenhum perito;
c) Quando não for necessária a perícia;
d) Quando as partes forem da mesma família;
e) Quando o juiz conhecer as partes.

157/182

Gabarito
1. Resposta: C.

O CPC determina que tanto as partes quanto o juiz possam apresentar quesitos ao perito judicial.

2. Resposta: E.
A apresentação de quesitos ao perito é feita após a nomeação dele, no prazo dado pelo magis-
trado. Nos casos de perícias para liquidação de sentença, a apresentação dos quesitos se dá logo
após a sentença judicial, mas pós a nomeação do perito, no prazo dado pelo magistrado.

3. Resposta: D.
Quesitos são as dúvidas acerca do processo que precisam ser elucidadas por parecer técnico es-
pecífico, que muitas vezes aparecem para o perito na forma de perguntas, mas algumas vezes o
perito precisa detectar qual é a dúvida acerca do processo, e elucidar o caso.

158/182
Gabarito
4. Resposta: B.

Não havendo quesitos na forma de perguntas, a perícia será orientada pelo objeto da ação, ou
seja, o perito deverá estudar e interpretar os autos do processo e indicar as respostas às dúvidas
a ele apresentadas.

5. Resposta: A.

A nomeação de peritos pelas partes só é possível quando houver possibilidade de acordo, ou


seja, possibilidade de autocomposição, conforme prevê o artigo 471 do CPC.

159/182

Unidade 8
Apresentação da proposta de honorários e execução

Objetivos
No estudo da proposta de honorários e execução, tratare-
mos dos tópicos:
1. Arbitramento dos honorários.
2. Depósito prévio e complementar.
3. Levantamento dos honorários.
4. A elaboração da estimativa de honorários.

160/182
Introdução

Neste tema, iremos estudar como são es- pete àquele fixar sua remuneração. Esse ato
tabelecidos os honorários do perito pelos processual praticado pelo magistrado é co-
juízes, como os peritos podem estimar seus nhecido por arbitramento. Sendo o perito
honorários e a forma como esses valores contratado pela parte como assistente téc-
são pagos aos peritos. nico, seus honorários são livremente nego-
Estudaremos as regras constantes no CPC ciados entre as partes; ele não está sujeito a
– Código de Processo Civil e na NBC PP 01 – nenhuma regra do CPC, mas deve seguir as
Norma Brasileira de Contabilidade. orientações da NBC PP 01.
De acordo com o artigo 465 do CPC, o juiz
1. Arbitramento nomeará perito especializado no objeto da
perícia e fixará de imediato o prazo para a
A remuneração do trabalho pericial pode ser entrega do laudo. O §1º do mesmo artigo
abordada sob duas dimensões: a primeira, determina que as partes terão 15 (quinze)
relativa ao perito contábil quando na fun- dias para apresentar seus quesitos.
ção judicial, e a segunda, quando na função
O §2º do artigo 465 determina que, após
de assistente técnico.
tomar ciência da nomeação, o perito terá 5
Sendo o perito contábil nomeado pelo ma- (cinco) dias para apresentar sua proposta de
gistrado, portanto na função judicial, com- honorários e seu currículo, com a compro-
161/182 Unidade 8 • Apresentação da proposta de honorários e execução

vação de especialização e seus contatos profissionais, em especial o endereço eletrônico, para


onde serão dirigidas as intimações pessoais.
Para tanto, o perito judicial subsidia essa decisão, apresentando sua demonstração dos custos
do trabalho pericial, em que constem as horas técnicas aplicadas em cada fase do trabalho pe-
ricial, o custo da hora profissional e o custo de material de consumo, através de petição.

Para saber mais


O item 33 da NBC PP 01 estabelece que, “na elaboração da proposta de honorários, o perito dever consi-
derar os seguintes fatores: a relevância, o vulto, o risco, a complexidade, a quantidade de horas, o pessoal
técnico, o prazo estabelecido e a forma de recebimento, entre outros fatores”.

Na petição de requerimento do arbitramento de seus honorários, o perito contábil fará uma ex-
posição resumida dos principais eventos de seu trabalho, a título de justificativa e embasamento
para o valor requerido. Esse procedimento é usualmente realizado no mesmo momento em que
é entregue o laudo pericial contábil em cartório, mas pode ser feito antes de iniciadas as diligên-
cias se for solicitada pelo juiz.

162/182 Unidade 8 • Apresentação da proposta de honorários e execução


Há magistrados que, à vista dessa petição, Se as partes reagiram concordando com o
já fixam prontamente a remuneração do pedido, é usual o magistrado fixar a remu-
perito contábil sem ouvir as partes, mesmo neração na quantia requerida pelo perito
porque não há determinação processual contador, mas, se houver impugnação, o
para tanto. magistrado poderá entendê-las pertinen-
Na verdade, a oitiva das partes sobre a pre- tes, ou seja, pode concordar com o pedido
tensão da remuneração do perito contábil da parte para a redução do valor requerido,
é medida de prudência do magistrado, na fixando os honorários em menor quantia do
tentativa de evitar eventuais impugnações que aquela demonstrada e requerida pelo
futuras quanto à fixação definitiva da verba perito.
honorária. O perito contador, embora não sendo parte
O §3º do artigo 465 do CPC determina que no processo, pode e deve requerer reconsi-
as partes serão intimadas da proposta de deração, se a remuneração fixada represen-
honorários para, querendo, manifestar-se tar, em seu entender, aviltamento de seu
no prazo comum de 5 (cinco) dias, após o trabalho. Pode, ainda, não obtendo suces-
que o juiz arbitrará o valor, intimando-se as so no pedido de reconsideração, através de
partes para os fins do art. 95. advogado, recorrer também à Segunda Ins-
tância, agravando a decisão do magistrado
163/182 Unidade 8 • Apresentação da proposta de honorários e execução

(Agravo de Instrumento). Independentemente de concordância, de impugnação, ou de agravo,


a quantia fixada deve ser depositada à ordem do magistrado em instituição bancária autorizada
a receber depósitos judiciais no prazo por este determinado.

2. Depósito prévio e complementar


No despacho saneador, no qual deferiu a prova pericial, nomeando o perito, o magistrado poderá
fixar o valor dos honorários provisórios a favor do perito contábil, ordenando o respectivo depó-
sito judicial por quem o magistrado especificar. Outra decisão poderá ser determinar ao perito
contábil que ofereça sua estimativa dos custos de realização da prova contábil deferida, confor-

164/182 Unidade 8 • Apresentação da proposta de honorários e execução


me vimos no tópico anterior. rá decidir ouvir as partes sobre a estimativa
Nesse caso, o perito, após a oferta dos que- oferecida, fixando-a na quantia requerida
sitos pelas partes, terá necessidade de reti- ou em outro valor a seu critério, determi-
rar os autos do cartório para se inteirar do nando seu depósito pela parte responsável.
conteúdo do mesmo, objetivando conhecer Os depósitos dos honorários provisórios,
os fatos contábeis objeto da lide, para, as- assim como os depósitos dos honorários
sim, poder dimensionar, de forma estimati- estimados, são denominados de depósito
va, as horas técnicas a serem aplicadas no prévio, já que são efetuados antes do início
desenvolvimento do trabalho pericial. dos trabalhos periciais.

Feito o estudo preliminar, está o perito apto Após a entrega do laudo pericial, o magis-
a oferecer petição contendo a estimativa do trado fixa os honorários definitivos e, haven-
custo do trabalho pericial. Esse estudo tem do depósito prévio, determina que seja rea-
sido facilitado nos casos dos processos di- lizado depósito judicial complementar, que
gitais, pois o perito pode acessar o conteú- consiste na diferença entre os honorários
do todo do processo de seu escritório, sem fixados e os já depositados previamente. Na
deslocamentos e viagens. ausência de depósito prévio, os honorários
definitivos são depositados à ordem do ma-
À vista dessa petição, o magistrado pode- gistrado numa totalidade fixada, no prazo
165/182 Unidade 8 • Apresentação da proposta de honorários e execução

por este determinado. Nessa circunstância, remuneração e o levantamento daquela


não há que se falar em depósito comple- quantia provisória ou estimada.
mentar, mas sim em depósito integral. Assim, o cartório, deferido o levantamen-
to do depósito prévio, elabora documento
3 Levantamento dos honorários próprio, denominado mandado de levanta-
mento judicial, o qual é entregue ao Perito
Como visto, os depósitos prévio e comple-
Contábil, que se dirige ao estabelecimento
mentar, ou o depósito integral dos honorá-
bancário depositário e recebe o numerário
rios periciais, são sempre realizados em es-
disponível.
tabelecimentos bancários autorizados, em
conta judicial, à ordem do magistrado, e, Em hipótese alguma, o perito contador, na
consequentemente, só esse pode autorizar função judicial, pode ser pago diretamente
sua movimentação. pela parte responsável pela remuneração
pericial. Esse é um ato financeiro que preci-
Referida movimentação é, em geral, pro-
sa ser e estar comprovado nos autos do pro-
vocada pelo perito contábil que, após a en-
cesso. A parte responsável pelo pagamento
trega do laudo pericial contábil, neste mes-
precisa provar que cumpriu a determinação
mo momento, oferece também petição re-
do magistrado, sob pena de desobediên-
querendo o arbitramento definitivo de sua
cia ou de extinção do processo. Além desse
166/182 Unidade 8 • Apresentação da proposta de honorários e execução
aspecto relevante, é fundamental também mesmo porque, se a parte que antecipou a
como prova nos autos, no eventual ressar- mencionada despesa for a vencedora, será,
cimento dessa despesa processual. por ocasião da liquidação de sentença, res-
A regra básica quanto à responsabilidade sarcida pela parte perdedora.
financeira pelos honorários periciais está A remuneração e o pagamento dos serviços
posta no CPC. Honra o pagamento dos ser- profissionais de perito contábil, quando na
viços periciais realizados pelo perito à par- função de assistente técnico, não se vincu-
te que requereu a prova pericial. Havendo lam aos autos do processo. Trata-se de uma
requerimento de ambas as partes ou se o relação particular entre o profissional e seu
magistrado determinar de ofício a realiza- cliente, ajustando com a parte seus honorá-
ção de perícia, responde pelos honorários o rios e forma de pagamento.
autor do processo. A relação profissional do perito contábil
Cabe, por outro lado, notar que o pagamen- com o magistrado acontece de maneira so-
to da remuneração do perito contábil nada lene e formal, através de petição. A questão
mais é do que um adiantamento de uma remuneratória obriga o perito a comunicar-
das despesas processuais, realizado nas -se com o magistrado em várias oportuni-
condições supramencionadas. Isto vale di- dades, requerendo o arbitramento de sua
zer tratar-se de um desembolso provisório, remuneração, apresentando estimativa ho-
167/182 Unidade 8 • Apresentação da proposta de honorários e execução

norária, pedindo o levantamento de depósito prévio e suplementar ou de levantamento do de-


pósito integral dos seus honorários.

Para saber mais


O §4º do artigo 465 do CPC determina que “o juiz poderá autorizar o pagamento de até cinquenta por cen-
to dos honorários arbitrados a favor do perito no início dos trabalhos, devendo o remanescente ser pago
apenas ao final, depois de entregue o laudo e prestados todos os esclarecimentos necessários”. No entan-
to, o §5º do mesmo artigo estabelece que, “quando a perícia for inconclusiva ou deficiente, o juiz poderá
reduzir a remuneração inicialmente arbitrada para o trabalho”.

4. Elaboração da proposta de honorários

O item 34 da NBC PP 01 determina que o perito deve elaborar a proposta de honorários estiman-
do, quando possível, o número de horas para a realização do trabalho, por etapa e por qualifica-
ção dos profissionais, considerando os trabalhos a seguir especificados:
a. Retirada e entrega do processo ou procedimento arbitral;
b. Leitura e interpretação do processo;
168/182 Unidade 8 • Apresentação da proposta de honorários e execução
c. Elaboração de termos de diligências pervenientes.
para arrecadação de provas e comu- O item 35 da NBC estabelece que o pe-
nicações às partes, terceiros e peri- rito deve ressaltar, em sua proposta de ho-
tos-assistentes; norários, que essa não contempla os hono-
d. Realização de diligências; rários relativos a quesitos suplementares
e. Pesquisa documental e exame de li- e, se estes forem formulados pelo juiz e/ou
vros contábeis, fiscais e societários; pelas partes, pode haver incidência de ho-
norários complementares a serem requeri-
f. Elaboração de planilhas de cálculo,
dos, observando os mesmos critérios ado-
quadros, gráficos, simulações e análi-
tados para elaboração da proposta inicial.
ses de resultados;
g. Elaboração do laudo; Os itens 36 e 37 da NBC determinam que
o perito deve apresentar sua proposta de
h. Reuniões com peritos-assistentes,
honorários devidamente fundamentada, e
quando for o caso;
que o perito-assistente deve explicitar a sua
i. Revisão final; proposta no contrato que, obrigatoriamen-
j. Despesas com viagens, hospedagens, te, celebrará com o seu cliente, observando
transporte, alimentação etc.; as normas estabelecidas pelo CFC – Conse-
k. Outros trabalhos com despesas su- lho Federal de Contabilidade.
169/182 Unidade 8 • Apresentação da proposta de honorários e execução

Para saber mais


O item 37 da NBC PP 01 informa que no final da Norma há um modelo de contrato que pode ser utilizado
pelos peritos assistentes para a elaboração de um contrato de prestação de serviços com seu cliente (Mo-
delo nº 10 – Contrato particular de prestação de serviços profissionais).

O perito pode requerer a liberação parcial dos honorários quando julgar necessário para o cus-
teio de despesas durante a realização dos trabalhos. Os honorários periciais fixados ou arbitra-
dos e não quitados podem ser executados, judicialmente, pelo perito em conformidade com os
dispositivos do Código de Processo Civil.
Nos casos em que houver necessidade de desembolso para despesas supervenientes, como via-
gens e estadas, para a realização de outras diligências, o perito deve requerer ao juízo ou solicitar
ao contratante o pagamento das despesas, apresentando a respectiva comprovação, desde que
não estejam contempladas ou quantificadas na proposta inicial de honorários.

170/182 Unidade 8 • Apresentação da proposta de honorários e execução


Glossário
Petição: ato de pedir, pedido por escrito, requerimento; é a forma solene de comunicação entre
o perito e o magistrado.
Arbitramento: é o ato do Juiz que ordena, indica, ou dá limites ao valor que deverá ser pago ao
perito judicial.
Despacho saneador: despacho do juiz que saneia o processo; é nesse momento que o juiz deci-
de sobre as provas a serem produzidas e nomeia o perito judicial.

171/182 Unidade 8 • Apresentação da proposta de honorários e execução

?
Questão
para
reflexão
Um perito atua em determinada vara cível e é nomeado pelo juiz há
vários anos. Em determinada ação, após estimar seus honorários, a
pedido do juiz, a parte do processo que deve efetuar o pagamento
dos honorários periciais contesta o valor apresentado, argumentan-
do que o valor pedido é muito elevado em virtude do valor da ação e
da complexidade do trabalho. Mediante essa contestação, o juiz ar-
bitra seus honorários em valor equivalente a 1/3 do valor estimado.
O que deve fazer o perito? Aceitar a redução, haja vista que o juiz o
prestigia há tanto tempo? Apresentar um pedido de reconsideração,
apresentando seus argumentos? Apresentar agravo de instrumen-
to, por aviltamento de honorários?

172/182
Considerações Finais
A fixação da remuneração pericial é um ato arbitral do magistrado que, normalmente, ao decidir,
leva em consideração a relevância e qualidade do trabalho pericial oferecido, a complexidade
técnica da prova produzida, o custo apresentado pelo perito contábil e as possibilidades econô-
mico-financeiras das partes, bem como as eventuais reações das partes.

173/182

Referências

ALBERTO, Valder Luiz Palombo. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
MAGALHÃES, Antonio de Deus Farias et al. Perícia contábil. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
NEVES, Antonio Gomes das. Curso de perícia contábil. 3. ed. São Paulo: LTR, 2012.
ORNELAS, Martinho M. G. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
SÁ, Antonio Lopes de. Perícia contábil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

174/182 Unidade 8 • Apresentação da proposta de honorários e execução


Questão 1
1. Em relação aos honorários do perito judicial:

a) O juiz fixa o valor pedido pelo perito;


b) O juiz tem a prerrogativa de fixar o valor;
c) As partes negociam com o perito o valor a ser pago;
d) O juiz consulta as partes envolvidas;
e) O juiz considera o currículo do perito judicial.

175/182

Questão 2
2. Em relação aos honorários do perito-assistente:

a) O juiz fixa o valor pedido pelo perito;


b) O juiz tem a prerrogativa de fixar o valor;
c) As partes negociam com o perito o valor a ser pago;
d) O juiz consulta as partes envolvidas;
e) O juiz considera o currículo do perito judicial.

176/182
Questão 3
3. Em relação ao pagamento dos honorários do perito judicial:

a) O valor é depositado diretamente em sua conta bancária;


b) O valor é depositado em conta bancária judicial atrelada ao processo;
c) O pagamento é feito diretamente pelo juiz da causa;
d) O pagamento é livremente negociado entre as partes e o perito;
e) O pagamento é feito juntamente com os honorários do perito assistente.

177/182

Questão 4
4. Em relação ao pagamento dos honorários do perito-assistente:

a) O valor é depositado diretamente em sua conta bancária;


b) O valor é depositado em conta bancária judicial atrelada ao processo;
c) O pagamento é feito diretamente pelo juiz da causa;
d) O pagamento é livremente negociado entre as partes e o perito;
e) O pagamento é feito juntamente com os honorários do perito assistente.

178/182
Questão 5
5. Em relação à apresentação da proposta de honorários, o perito judicial
deve:
a) Considerar a capacidade intelectual do perito judicial;
b) Considerar o valor a ser pago ao perito-assistente;
c) Considerar o valor da causa;
d) Considerar a capacidade de pagamento das partes;
e) Considerar a relevância, o vulto, o risco, a complexidade, o tempo gasto.

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Gabarito
1. Resposta: B.

O juiz tem a prerrogativa de fixar o valor. O magistrado pode solicitar ao perito que faça uma es-
timativa dos honorários, mas a palavra final é dele.

2. Resposta: C.
As partes negociam com o perito o valor a ser pago, pois o valor a ser pago ao perito-assistente é
de livre negociação entre as partes e não guarda nenhuma relação com os honorários do perito
judicial.

3. Resposta: B.

O valor é depositado em conta bancária judicial atrelada ao processo, e em hipótese alguma


pode o perito judicial receber qualquer verba diretamente das partes.

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Gabarito
4. Resposta: D.

O pagamento é livremente negociado entre as partes e o perito. Tanto o valor como a forma de
pagamento do perito-assistente é livremente negociado com quem o contratou.

5. Resposta: E.

Considerar a relevância, o vulto, o risco, a complexidade, o tempo gasto. O perito judicial deve
considerar apenas seu trabalho e se preocupar em realizá-lo com qualidade, sem considerar o
valor a ser pago ao perito-assistente, nem o valor da causa ou a capacidade de pagamento das
partes.

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