Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
No Capítulo I do Título I da Parte Especial do Código Penal estão previstos os crimes contra a
vida: homicídio, participação em suicídio, infanticídio e aborto (arts. 121 a 128).
Os crimes dolosos contra a vida, consumados ou tentados, e as infrações penais que lhes
sejam conexas são julgados pelo Tribunal do Júri, cuja soberania a Constituição Federal assegura em
termos peremptórios (CF, art. 5º, XXXVIII). Saliente-se, todavia, que por crimes dolosos contra a
vida se compreendem apenas os previstos no Capítulo I do Título I do Código Penal: homicídio (art.
121), participação em suicídio (art. 122), infanticídio (art. 123) e aborto (arts. 124 a 127).
Cumpre, porém, ressaltar que a Justiça Militar só tem competência para o julgamento dos
crimes dolosos contra a vida cometidos por militar contra militar, pois, com o advento da Lei n.
9.299 de 7 de agosto de 1996, o crime doloso contra a vida perpetrado por militar contra civil
passou a ser da competência do Tribunal do Júri.
HOMICÍDIO
CONCEITO
SUJEITO PASSIVO
1
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
MEIOS DE EXECUÇÃO
2
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
evento vale tanto quanto querê-lo: ainda que sem interesse nele, o agente o ratifica ex ante, presta
anuência ao seu evento”. No dolo eventual, o agente não quer o resultado, mas realiza a conduta
na dúvida se irá ou não produzi-lo, ao passo que no dolo direto de segundo grau o agente também
não quer o outro resultado, mas realiza a conduta na certeza de que irá produzi-lo.
A doutrina ministra alguns critérios para identificação do animus necandi, extraindo-o das
circunstâncias exteriores ao delito. Os mais lembrados são: a sede da lesão, o tipo de arma
empregada, número de disparos, profundidade do golpe de faca, as precedentes relações entre o
agente e a vítima e os motivos do crime.
O critério mais seguro, contudo, é o da sede da lesão, pois nesse caso a própria natureza da
conduta revela o propósito do agente. Se, por exemplo, o disparo atingiu o tórax ou a cabeça é
porque, em princípio, houve intenção de matar. Se, diferentemente, atingiu a perna ou o pé, em
tese, seria excluído o animus necandi. Saliente-se, porém, que nenhum critério, isoladamente, é
absoluto, devendo o intérprete, na identificação do animus necandi, socorrer-se de todas as
circunstâncias exteriores possíveis.
Não havendo ânimo de matar, exclui-se o delito de homicídio, respondendo o agente por
lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º) ou por homicídio culposo (art. 121, § 3º), conforme
tenha atuado com animus laedendi (intenção de ferir) ou não.
CONSUMAÇÃO
Consuma-se o crime com a morte da vítima, resultante da conduta praticada pelo agente.
Trata-se de delito não transeunte, exigindo-se, para comprovação da materialidade, o exame
de corpo de delito, sob pena de nulidade do processo. Com efeito, prova-se a morte pelo exame de
corpo de delito direto denominado necropsia. Não sendo, porém, encontrado o corpo da vítima (v.
g., o agente o lançou ao mar) torna-se impossível, evidentemente, o exame necroscópico, podendo,
no entanto, supri-lo pelo exame de corpo de delito indireto (art. 167 do CPP), não o suprindo,
porém, a simples confissão do agente (art. 158 do CPP).
TENTATIVA
HOMICÍDIO PRIVILEGIADO
3
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Três são, por conseguinte, as espécies de homicídio privilegiado reconhecidas pela ordem
jurídica:
1º) por motivo de relevante valor social;
2º) por motivo de relevante valor moral;
3º) sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima.
Preconiza Maggiore que o motivo “é o antecedente psíquico da ação, a força que põe em
movimento o querer e o transforma em ato: uma representação que impele à ação”.
O relevante valor social é aquele inspirado para satisfazer o interesse coletivo, como no
exemplo do agente que mata o traidor da pátria ou o perigoso bandido que apavora a comunidade
local.
O relevante valor moral compreende o interesse individual do agente, v. g., o pai que mata o
estuprador da filha.
Não se perca de vista, porém, que a circunstância de relevante valor moral ou social tem
caráter subjetivo e, por isso, não se comunica aos demais participantes do delito que não tenham
agido pelos mesmos motivos (art. 30 do CP).
Por outro lado, o denominado homicídio emocional deve preencher os seguintes requisitos:
1) provocação injusta da vítima;
2) domínio de violenta emoção;
3) reação logo após a provocação.
A nosso ver, entende-se por provocação injusta a conduta ilegal ou imoral, consoante os
padrões do homem normal.
Segundo mencionamos anteriormente, a provocação, além de injusta, deve ser a causa da
violenta emoção que domina o agente. Saliente-se, porém, que mister se faz o domínio de violenta
emoção, isto é, a emoção precisa ser intensa, absorvente. Havendo mera influência de violenta
emoção o privilégio será afastado, configurando-se, nesse caso, uma simples circunstância
atenuante genérica (art. 65, III, c, do CP).
Destaque-se, também, desde já, que, conquanto o Código se refira ao domínio de violenta
emoção, o privilégio é igualmente aplicável quando houver domínio de violenta paixão. Como dizia
Frederico Marques, por ser a paixão um estado emocional mais intenso e permanente está ela
abrangida pelo dispositivo legal do art. 121, § 1º, do CP. De fato, tanto a emoção como a paixão
provocam no agente um desequilíbrio psíquico, motivando-o a agir irrefletidamente, de maneira
impetuosa, com a diferença de que, enquanto a emoção é transitória, a paixão é duradoura.
Ainda quanto ao homicídio emocional, cumpre esclarecer que a reação deve ser quase
imediata, isto é, sem demora, in continenti a injusta provocação, pois não se pode esquecer a
expressão usada pelo legislador: “logo em seguida a injusta provocação da vítima” (art. 121, § 1º,
CP). Desse modo, o hiato imenso entre a provocação e a reação exclui o privilégio, pois, como
ensinava Aníbal Bruno, “o impulso emocional e o ato que dele resulta devem seguir-se
imediatamente à provocação da vítima. O fato criminoso objeto da minorante não poderá ser
produto de cólera que se recalca, transformada em ódio, para uma vingança intempestiva”.
Por outro lado, sobre a possibilidade da coexistência do homicídio privilegiado com a aberratio
ictus (erro na execução), prevista no art. 73 do CP, nenhuma divergência existe. Caracteriza-se, destarte,
o homicídio privilegiado com a aberratio ictus no exemplo do pai que dispara sua arma contra o
estuprador da filha, vindo, porém, por desvio de pontaria, a atingir outra pessoa.
Cumpre também registrar que a reação a uma agressão injusta configura legítima defesa,
impondo-se a absolvição do agente.
4
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
HOMICÍDIO QUALIFICADO
O art. 121, § 2º, I e II, do CP cuida das qualificadoras em razão dos motivos determinantes
do crime:
5
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O art. 121, §2º, III, do CP cuida dos meios empregados para a prática do crime:
Meio é o instrumento utilizado pelo agente para a prática criminosa. O homicídio é qualificado pelo
emprego de:
a) meio insidioso;
b) meio cruel;
c) meio de que possa resultar perigo comum.
Meio insidioso: é empregado sub-repticiamente, sem que a vítima dele tenha conhecimento,
como, por exemplo, o veneno. O homicídio cometido mediante emprego de veneno denomina-se
veneficio ou envenenamento.
Veneno é qualquer substância mineral, vegetal ou animal, capaz de provocar dano ao
organismo. Sendo assim, o açúcar ministrado ao diabético em dose profunda é considerado
veneno. É preciso, porém, ressaltar que o envenenamento só constitui meio insidioso quando a
vítima está insciente do fato. É necessário ainda que a perícia toxicológica constate a presença do
envenenamento. Atente-se, por fim, que, além do veneno, qualquer outro meio insidioso qualifica
o homicídio, v. g., sabotagem do motor de um carro.
Meio cruel: é o que causa sofrimento desnecessário à vítima.
O Código traz três exemplos de meios cruéis: tortura, fogo e asfixia.
Tortura é a inflição de sofrimento desnecessário ou fora do comum.
Por outro lado, o fogo e a asfixia também constituem meios cruéis, qualificando o homicídio.
No tocante ao fogo, Magalhães Noronha cita o exemplo dos playboys que o atearam em um
pobre homem que se achava dormindo num banco de jardim público.
Asfixia, dizia Costa e Silva, é o efeito da falta de ar e da suspensão, mais ou menos completa,
da respiração.
A asfixia mecânica pode ocorrer mediante: enforcamento, estrangulamento, esganadura,
sufocação, soterramento e afogamento. No enforcamento há a constrição do pescoço feita por laço
acionado pelo próprio peso da vítima; no estrangulamento há a constrição do pescoço feita por
laço acionado pela força muscular da própria vítima ou de estranhos; na esganadura a constrição
6
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O art. 121, §2º, IV, do CP qualifica o delito em virtude do modo de execução (forma pela
qual se manifesta a conduta):
7
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O art. 121, §2º, V, do CP qualifica o delito quando cometido para assegurar a execução, a
ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
8
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O art. 121, §2º, VI, do CP qualifica o delito quando cometido por razões da condição do sexo
feminino:
9
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
ainda que esporádico e sem qualquer relação íntima de afeto, com ou sem vínculo familiar, bem
como o perpetrado contra a mulher com quem o agente tem vínculo de parentesco natural ou por
afinidade ou ainda um parentesco por vontade expressa (pessoa que o agente considerava como
sendo parente). Compreende também o homicídio praticado em qualquer relação íntima de afeto,
contra mulher com quem o agente convive ou tenha convivido, independentemente de coabitação,
isto é, de terem morado juntos ou mantido relações sexuais. Quem, portanto, mata ex-namorada,,
por razões de gênero, incide na qualificadora.
No concernente ao feminicídio misógino, o tipo penal exige que as razões de gênero
consistam no fim de menosprezar ou discriminar a condição de mulher. Em contrapartida, não se
exige a situação de violência doméstica ou familiar, podendo o crime ser cometido até contra uma
mulher que o agente nem conhecia. Menosprezar é desprezar ou inferiorizar pela condição de
mulher. Exemplo: mata uma mulher por não aceitar o fato de ter sido a vereadora mais votada.
Discriminar é tratar de forma injusta ou desigual pela condição de mulher. Exemplo: mata uma
mulher para que ela não seja promovida no emprego. O feminicídio misógino é, pois, o sentimento
negativo em relação ao sexo feminino, que leva o agente a um comportamento hostil e
discriminatório, a ponto de matar simplesmente por desprezo à condição de mulher.
Nas duas modalidades de feminicídio se exige que a morte seja por razões de gênero, ou seja,
de condições relacionadas ao sexo feminino. Matar a esposa, por si só, por exemplo, não é
feminicídio. Se o marido mata a mulher por razões financeiras, não é feminicídio, mas se ele pratica
o crime por não concordar que ela trabalhe, o feminicídio se caracteriza.
Assim, no feminicídio, é preciso examinar os motivos do crime.
Por isso, o feminicídio é uma qualificadora subjetiva, pois está relacionada ao motivo de
gênero, sendo que na segunda modalidade há dois aspectos subjetivos: o motivo (razões de
gênero) e a finalidade (fim de menosprezo ou discriminação à condição de mulher). O
inconveniente deste ponto de vista é que a referida qualificadora teria sido inocuamente incluída
pela Lei 13.014/2.015, posto que sobre o homicídio praticado por razões de condição de sexo
feminino já incidia, antes da aludida lei, a qualificadora do motivo torpe, que, doravante, para se
evitar o “bis in idem”, a rigor, não poderá conviver com o feminicídio.
O STJ, entretanto, decidiu que o feminicídio é uma qualificadora objetiva, salientando que as
razões de gênero podem ser analisadas objetivamente (informativo 628/2018).
O primeiro efeito prático dessa discussão é que, sendo objetiva, é possível a coexistência de
duas qualificadoras: motivo torpe e feminicídio, ao passo que, sendo subjetiva, o motivo torpe seria
absorvido, pois já integraria a qualificadora do feminicídio, sendo vedado o “bis in idem”, a dupla
valoração de uma circunstância.
Outro efeito prático consiste no fato de a qualificadora objetiva ser compatível com o
homicídio privilegiado, ao passo que o privilégio é inconciliável quando a qualificadora for subjetiva.
De acordo com o STJ, o feminicídio é uma qualificadora objetiva e, dessa forma, se torna viável o
feminicídio privilegiado, sobretudo, pelo domínio de violenta emoção, logo após a injusta
provocação da vítima, mas é difícil imaginar o feminicídio privilegiado pelo relevante valor moral ou
social, à medida que, ao matar por razões de gênero, procede com torpeza, sendo contraditório
falar-se em relevante valor moral ou social.
Quanto ao sujeito ativo, o crime é comum, podendo ser praticado tanto pelo homem quanto
pela mulher, pois a lei não faz qualquer distinção.
O §7º do art. 121 estabelece que a pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a
metade se o crime for praticado:
10
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
I. Durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto. Quanto ao crime de aborto,
é absorvido, pois a condição de gestante já figura como qualificadora. Entendimento diverso geraria
“bis in idem”.
II. Contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com deficiênciaou
portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física
ou mental. Quanto ao fato de matar deficiente, vale lembrar que pode ser o deficiente físico ou
mental. Nessas três situações, para incidir o aumento da pena, é ainda necessário que a vítima seja
mulher, pois se trata de uma majorante do feminicídio. Quanto à doença degenerativa, é aquela
que paulatinamente ocasiona a inutilização ou debilidade dos órgãos do corpo ou da saúde física ou
mental. Exemplos: distrofia muscular progressiva, osteoporose, diabetes, glaucoma, Alzheimer,
doença de Parkinson.
III. Na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima. Ainda que seja
na presença de descendente recém-nascido ou doente mental, incide a causa de aumento de pena,
cujo fundamento não é apenas o possível trauma que o delito possa causar nessas pessoas, mas
também o fato do desprezo pela vítima e a esses parentesrevelar-se mais intenso. Incide a
majorante ainda que o crime seja praticado na presença virtual, por exemplo, mata a mulher ciente
que o filho da vítima assiste tudo de uma câmera de computador. É mister, para a incidência da
majorante, que o ascendente ou descendente da vítima presencie o crime, de forma física ou
virtual, não basta que assista às filmagens somente após a ocorrência do delito.
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do
caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.”. Trata-se das medidas protetivas
impostas nos delitos praticados em ambiente de violência doméstica.
O art. 121, §2º, VII, do CP qualifica o delito quando cometido contra autoridade, ou agente
descritos nos artigos 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da
Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra
seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição:
A incidência dessa qualificadora, introduzida pela lei 13.142/2015, exige que a vítima do
homicídio seja uma das seguintes autoridades ou agentes:
a) agente ou autoridade mencionados no art.142 da CF. A hipótese compreende os
integrantes das Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica.
b) agente ou autoridade mencionados no art.144 da CF. Trata-se dos integrantes dos
órgãos da segurança pública, que são a polícia federal, polícia rodoviária federal, polícia ferroviária
federal, polícias civis, polícias militares e corpos de bombeiros. Quanto à guarda civil municipal ou
metropolitana, encontra-se prevista no § 8º do art.144 da CF, integra também a segurança pública,
a meu ver, encontra-se incluída, pois a lei 13.142/2015 refere-se ao art.144 da CF e não apenas ao
caput desse dispositivo. Igualmente, integra a segurança pública os agentes de segurança viária,
previstos no §10 do art.144 da CF, acrescentado pela EC 82/2014.
c) agente ou autoridade integrantes do sistema prisional. Trata-se dos servidores
incumbidos de velar pela execução da pena ou medida de segurança. Exemplos: juiz da execução
penal, promotor da execução penal, diretor de penitenciária, agente penitenciário, membros da
comissão técnica de classificação dos presídios e membros dos demais órgãos da execução penal.
Não abrange, contudo, os órgãos incumbidos da execução das medidas socioeducativas aplicadas
aos adolescentes, pois é vedada a analogia “in malam partem”. Lamentavelmente, também não
abrange os magistrados e membros do Ministério Público que atuam na fase de conhecimento do
processo criminal.
11
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
É ainda preciso, para a incidência da qualificadora o nexo funcional, isto é, que a vítima
seja atingida no exercício da função ou em decorrência dela, ainda que em dia de folga. Quanto aos
parentes até terceiro grau, a incidência da qualificadora requer que eles sejam alvejados em razão
dessa condição de parentesco.
Trata-se de uma qualificadora subjetiva, posto que relacionada à qualidade da vítima e aos
motivos do crime, de modo que não se comunica aos demais coautores e partícipes (art.30 do CP).
Quanto à qualificadora prevista no art. 121, §2º, VIII, do CP, emprego de arma de arma de
fogo de uso restrito ou proibido, foi introduzida pela Lei 13.964/2019, através da derrubada do
veto presidencial pelo Congresso Nacional, em votação finalizada no dia 19 de abril de 2021.
O dispositivo legal que continha esta qualificadora havia sido vetado pelo Presidente da
República, pelas seguintes razões:
“A propositura legislativa, ao prever como qualificadora do crime de homicídio o emprego de
arma de fogo de uso restrito ou proibido, sem qualquer ressalva, viola o princípio da
proporcionalidade entre o tipo penal descrito e a pena cominada, além de gerar insegurança
jurídica, notadamente aos agentes de segurança pública, tendo em vista que esses servidores
poderão ser severamente processados ou condenados criminalmente por utilizarem suas armas,
que são de uso restrito, no exercício de suas funções para defesa pessoal ou de terceiros ou, ainda,
em situações extremas para a garantia da ordem pública, a exemplo de conflito armado contra
facções criminosas”.
As justificativas utilizadas para o veto foram extremamente frágeis.
De fato, não se visualiza, destarte, qualquer ofensa ao princípio da proporcionalidade da
pena, tendo em vista que o fato se reveste de extrema gravidade.
12
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
13
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
aquisição da arma com o propósito específico de matar a vítima, hipótese em que se impõe a
aplicação do princípio da consunção. Se, antes da decisão de matar a vítima, o agente já tinha a
arma, responderá pelo crime de homicídio em concurso material com respectivo crime de posse ou
porte de arma de fogo.
Homicídio qualificado contra menor de 14 (quatorze) anos ( art. 121, § 2 º, IX, do CP)
É qualificado o homicídio contra menor de 14 (quatorze) anos, conforme art. 121, §2 º, IX, do
CP, introduzido pela Lei 14.344/2022.
Trata-se de qualificadora objetiva, comunicando-se aos coautores e partícipes (art. 30 do CP).
É importante destacar que, por força da teoria da atividade, prevista no art 4º do CP, a
menoridade deve ser apurada ao tempo da conduta criminosa, incidindo a qualificadora ainda que,
ao tempo da morte, a vítima já tivesse completado quatorze anos.
Quanto ao agente que mata a vítima no dia em que ela completa quatorze anos, não
responderá pela qualificadora em debate, que só abrange o menor de quatorze anos.
No dia do aniversário, a vítima tem exatos quatorze anos, não sendo assim menor de
quatorze anos, de tal sorte que a incidência da qualificadora implicaria em analogia “in malam
partem”.
Se o legislador tivesse se referido à vítima que “não é maior de quatorze anos”, como fez no
parágrafo único do art. 126 do CP, o dia do aniversário de 14 anos também estaria abrangido pelo
tipo penal.
A incidência da qualificadora em análise, para se evitar o “bis in idem”, exclui a agravante
genérica de ter sido o crime cometido contra criança (art. 61, II, “h”, do CP).
Quanto ao erro escusável ou inescusável acerca da idade da vítima, afasta a qualificadora, por
ausência de dolo, mas a dúvida, por caracterizar dolo eventual, é suficiente para qualificar o delito.
Por outro lado, o §2º-B do art. 121 do CP, também introduzido pela Lei 14.344/2022, prevê
que a “pena do homicídio contra menor de 14 (quatorze) anos é aumentada de:
I - 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é pessoa com deficiência ou com doença que
implique o aumento de sua vulnerabilidade;
II - 2/3 (dois terços) se o autor é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge,
companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver
autoridade sobre ela”.
Sempre que presente uma destas causas de aumento de pena e, ao mesmo tempo, houver
outra qualificadora do homicídio, tendo em vista a impossibilidade de cumulá-las, o juiz dará
preferência para a qualificadora da menoridade, a fim de se viabilizar a incidência de uma das
referidas majorantes.
Assim, no concurso entre qualificadoras, se houver uma destas causas de aumento do §2º-B
do art. 121 do CP, o magistrado deve selecionar como qualificadora o fato de o homicídio ter sido
cometido contra menor de 14 (quatorze) anos (art. 121, §2º, IX, do CP), nestas condições, se revela
mais grave que as demais qualificadoras, que serão então utilizadas como agravantes genéricas ou
circunstâncias judiciais, conforme constem ou não do rol dos arts. 61 e 62 do CP.
Convém relembrar que, na primeira fase da aplicação da pena, incide a qualificadora e
circunstâncias judiciais, na segunda, as agravantes e atenuantes genéricas, e, na terceira fase, as
causas de aumento e diminuição de pena.
Oportuno também destacar que o parágrafo único do art. 68 do CP veda a cumulação de duas
ou mais causas de aumento de pena previstas na parte especial do Código Penal, hipótese em que o
juiz aplicará um só aumento, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente.
14
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Assim, caso o júri reconheça as duas majorantes do § 2º-B do art. 121 do CP, só incidirá a do
inciso II, que é de maior gravidade, e, nesse caso, a do inciso I, vítima com doença ou deficiência, o
juiz a utilizará, na segunda fase da pena, como agravante genérica de ter sido o crime cometido
contra enfermo (art. 61, II, “h” do CP).
A primeira majorante prevê o aumento de 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é pessoa
com deficiência ou com doença que implique o aumento de sua vulnerabilidade.
O fundamento é a maior proteção conferida aos vulneráveis.
Tanto a deficiência quanto a doença podem se referir a aspectos físicos ou mentais, pois a lei
não faz qualquer distinção.
Contudo, para a caracterização da majorante, não basta a deficiência ou doença, sendo ainda
necessário que ela implique no aumento da vulnerabilidade da vítima, que é a fraqueza que diminui
a possibilidade de defesa.
A outra causa de aumento, exaspera a pena em 2/3 (dois terços) se o autor é ascendente,
padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador
da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela.
Esta majorante prevê a interpretação analógica ou “intra legem”, pois o legislador, após
mencionar a fórmula casuística, utiliza-se de uma fórmula genérica, através da qual manda
abranger os casos semelhantes.
A fórmula casuística consiste na seguinte enumeração exemplificava: “se o autor é
ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou
empregador da vítima”. Há a estranha previsão de o agente ser cônjuge ou companheiro da vítima,
mas, na verdade, o menor de quatorze anos não pode se casar nem viver em união estável, aliás, a
lei civil veda, sem abrir exceção, o matrimônio aos menores de dezesseis anos (art.1.520 do CC).
A fórmula genérica, por sua vez, recai sobre a seguinte oração: “ou por qualquer outro título
tiver autoridade sobre ela”.
Vê-se assim que a enumeração da fórmula casuística é exemplificava, porquanto através da
fórmula genérica se abarca outros fatos semelhantes, como a babá da criança.
Ressalte-se que o fundamento da majorante, consiste na maior ofensa à moralidade, tendo
em vista que o delito acaba sendo praticado por quem deveria proteger a vítima.
De outro giro, o homicídio contra menor de 14 quatorze) anos se tornou qualificado, a partir
do advento da Lei 14.344/2022, pois, até então, era causa de aumento de pena de um terço,
prevista na parte final do § 4º do art. 121 do CP.
A Lei 14.344/2022, porém, não revogou expressamente a citada parte final do § 4º do art. 121
do CP, de tal sorte que o assunto comporta duas interpretações:
a) não houve revogação tácita, pois esta só se verifica diante da incompatibilidade absoluta
entre o novo dispositivo legal e o anterior e, no caso, é possível a compatibilização quando houver
mais de uma qualificadora, hipótese em que só uma poderá ter incidência. Dessa forma, em
havendo mais de uma qualificadora, o juiz, ao aplicar a pena, fora das hipóteses do § 2º-B do art.
121 do CP, não se utilizaria da menoridade como qualificadora, aplicando-a, contudo, como causa
de aumento de pena, com base na parte final do § 4º do art. 121 do CP. De fato, se a jurisprudência
aceita que uma qualificadora, após ser reconhecida pelo júri e depois descartada pelo juiz
presidente em função da existência de outra, seja utilizada como agravante genérica ou
circunstância judicial, não há também razão lógica para impedir a sua incidência como causa de
aumento de pena.
b) houve revogação tácita, porquanto a circunstância, no âmbito do mesmo tipo penal, não
pode, no plano legislativo, figurar simultaneamente como qualificadora e causa de aumento de
pena, sob pena de violação do princípio constitucional da individualização da pena, em seu aspecto
15
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
legislativo ou abstrato (art. 5 º, XLVI, da CF). Dessa forma, em havendo mais de uma qualificadora,
caso a escolhida pelo magistrado não seja a do art. 121, §2 º, IX, do CP, o juiz a utilizará como
agravante genérica de ter sido o crime cometido contra criança, nos termos do art. 61, II, “h”, do
CP; mas, se a vítima menor de quatorze anos já havia completado doze anos, não sendo assim mais
criança, o magistrado deverá então empregar a referida menoridade como circunstância judicial
(art. 59 do CP).
Filio-me aos adeptos da primeira exegese, porquanto se a qualificadora não utilizada como tal
pode ser empregada como agravante genérica ou circunstância judicial, conforme a hipótese, com
maior razão também poderá ser aplicada como causa de aumento de pena, pois esta tem maior
proximidade com a qualificadoras.
HOMICÍDIO CULPOSO
CONCEITO E ELEMENTOS
PERDÃO JUDICIAL
Perdão Judicial é o ato do magistrado que deixa de aplicar a pena ao réu em virtude da
presença de determinadas circunstâncias expressamente previstas em lei.
A Lei n. 6.416, de 24 de maio de 1977, introduziu o § 5º ao art. 121 do Código Penal, dispondo
que, “na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conse-
quências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne
desnecessária”.
Do exposto dá se conta de que o aludido perdão judicial é um benefício penal aplicável
exclusivamente ao homicídio culposo que tenha gerado graves consequências para o agente. As
consequências tanto podem ser físicas, como por exemplo, ferimentos graves no próprio agente,
ou morais, como no atropelamento do próprio filho.
16
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Considerações gerais
O suicídio, por si só, não constitui delito. Igualmente, a automutilação com justeza já se
afirmou o absurdo que seria o direito penal contemporâneo comportar-se como o direito canônico
da Idade Média, que aplicava pena ao cadáver do suicida e equiparava, ainda, a tentativa de
suicídio à tentativa de homicídio.
O legislador, porém, erigiu à categoria de crime a conduta de participação em suicídio ou em
automutilação.
Por outro lado, o art. 146, § 3o, II, do Código Penal tornou lícita a coação empregada para
impedir o suicídio e, por analogia “in bonam partem”, para impedir a automutilação. Sendo assim,
força convir que o suicídio é um fato antijurídico, porém desvestido de tipicidade. Igualmente, a
automutilação.
A tipicidade reside, tão-somente, nas condutas de induzir, instigar ou auxiliar alguém ao
suicídio ou à automutilação (CP, art. 122), à semelhança da prostituição que, por si só, não é
punida, residindo a criminalidade na conduta do proxeneta que induz alguém à prostituição (CP,
art. 228).
A lei 13.968/2019 alterou a redação do art. 122 do CP em inúmeros aspectos, com destaque
para os seguintes:
a) modificou o delito de participação em suicídio, responsabilizando criminalmente o terceiro
que concorre para uma tentativa frustrada de suicídio. Antes da aludida lei, o delito do art. 122 só
se configurava quando do fato resultava morte ou lesão grave, mas, agora, o crime se caracteriza
ainda que da tentativa resulte apenas lesão corporal leve ou então nenhuma lesão.
b) criou, no próprio art. 122 do CP, um novo crime, participação em automutilação.
c) alterou parcialmente o enquadramento típico na hipótese de o delito ser praticado contra
vítima vulnerável.
d) introduziu novas causas de aumento de pena.
A propósito, dispõe o art. 122 do CP:
”Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio
material para que o faça:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos”.
O tipo penal em análise se desdobra em 2 (dois):
a) participação em suicídio;
b) participação em automutilação.
No suicídio, a vítima tem o desejo de morrer; na automutilação, a vontade da vítima é de
apenas lesionar a própria integridade física.
Em ambos os delitos, o ato de execução é realizado pela própria vítima, ao passo que, nos
delitos de homicídio e lesão corporal, a execução provém de um terceiro.
Os dois delitos encontram-se inseridos no Capítulo I do Título I da Parte Especial do Código
Penal, que cuida dos crimes contra a vida.
No delito de participação em automutilação, conquanto a vítima não tenha a vontade de
17
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
morrer, o certo é que o terceiro que participou do fato quer que ela morra ou então assume o risco
de lhe provocar a morte.
Com efeito, à medida que o delito de participação em automutilação fora inserido entre os
crimes contra a vida, força convir que o agente procede com dolo de matar, tanto é que a pena
abstrata do referido delito é a mesma do crime de participação em suicídio, sendo ambos os delitos
da competência do tribunal do júri.
O agente que, sem o dolo de matar, induz a vítima à automutilação, não responde pelo delito
em análise e, na verdade, diante da atipicidade do fato, permanecerá impune, pois é vedada a
analogia “in malam partem”.
Talvez não tenha sido esta a intenção do legislador, mas, como se sabe, uma vez promulgada,
a vontade da lei se desprende da vontade do legislador e, na análise do tipo penal, o intérprete não
pode se desvencilhar do bem jurídico tutelado que, no caso, é a vida, sendo, pois, necessário que o
dolo do agente seja o de matar ou assumir o risco de matar a vítima através da automutilação.
Noutras palavras, o referido tipo penal dificilmente terá aplicação prática.
CONCEITO
Assim, se uma pessoa obriga a outra a ingerir veneno, mediante coação moral irresistível,
ocorre o delito de homicídio, pois no suicídio é curial o desejo de morrer da vítima.
Por outro lado, íntima é a ligação entre o suicídio e o homicídio consentido. No primeiro, a
execução é realizada pela própria vítima; no segundo, o ato executório de matar é operado por
terceiro.
Suponha-se que o agente encontre a vítima à beira de um despenhadeiro, com intenção de
despedir-se da vida, e resolva instigá-la ao salto letal. Nesse caso, responderá pelo delito de
participação em suicídio (art. 122 do CP), pois foi a própria vítima quem executou o ato
consumativo da morte. Se, entretanto, não tendo coragem de precipitar-se no despenhadeiro, a
vítima pede ao agente que a empurre, haverá delito de homicídio consentido (CP, art. 121), pois
dessa vez foi ele quem executou o ato consumativo da morte.
SUJEITO PASSIVO
Sujeito passivo deve ser pessoa ou pessoas determinadas, com capacidade de resistência e
discernimento para compreender o ato. No suicídio, a vítima conscientemente se auto-executa,
sendo, por isso, indispensável a capacidade de resistência ou discernimento em relação ao ato
praticado.
Por outras palavras, haverá homicídio se a capacidade de resistência da vítima for nula (art.
26, caput, do CP). Como adverte Euclides Custódio da Silveira: “Punir-se-á de acordo com o art. 121
aquele que induzir, instigar ou auxiliar um demente ou uma criança de tenra idade a se suicidar”.
Referentemente ao induzimento ou instigação de caráter genérico, isto é, dirigido a um
número indeterminado de pessoas, por exemplo, obra literária incentivando os leitores ao suicídio,
18
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
não caracteriza o delito em estudo, pois, como já vimos, o sujeito passivo tem de ser pessoa ou
pessoas determinadas.
O crime se imputa a título de dolo, que consiste na vontade livre e consciente de provocar a
morte da vítima através do suicídio. Não basta, porém, o desejo do agente em provocar a morte da
vítima, urge ainda que esta também tenha a intenção de suicidar-se. Como esclarece Cezar Roberto
Bitencourt: “Não haverá crime se, por exemplo, a vítima estivesse zombando de alguém que
acreditava em sua insinuação e, por erro, vem a falecer”.
Basta, porém, para a configuração do delito, o dolo eventual, que se dá quando o agente, sem
querer diretamente o suicídio, pratica uma daquelas três condutas assumindo o risco de provocá-
lo. Por exemplo, responde pelo delito o pai que expulsa a filha de casa tendo sérias razões para
acreditar que ela iria se suicidar.
O delito, contudo, não admite a forma culposa. Há quem sustente que se a conduta culposa
do agente provocar o suicídio da vítima haverá homicídio culposo. Rendemo-nos à posição
contrária, porque o crime culposo tem caráter excepcional, caracterizando-se apenas nos casos
expressos em lei. A lacuna não pode ser suprida, porque é vedada a analogia “in malam partem”.
CONSUMAÇÃO
O delito é material e, por isso, só se consuma com a ocorrência da morte ou lesão corporal
grave. São dois os resultados previstos na lei aptos a ensejarem a consumação, a saber: a morte e
as lesões corporais graves previstas nos §§ 1º e 2º do art. 129 do CP.
O Código Penal de 1890 só punia a participação em suicídio quando este se consumava. A
simples tentativa de suicídio, ainda que dela resultasse lesão corporal grave, não era punível. O
Código Penal vigente inovou, nesse aspecto, alargando a punição, considerando consumado o
delito quando da tentativa de suicídio resultar lesões corporais graves.
Cumpre registrar o posicionamento minoritário, esposado por Hungria, segundo o qual a
consumação ocorre com o simples induzimento, instigação ou prestação de auxílio. O ilustre
penalista vislumbrava na morte e lesão grave condições objetivas de punibilidade, necessárias à
instauração da persecução penal, e não propriamente para a consumação. Semelhante raciocínio
não pode prevalecer. Com efeito, as condições objetivas da punibilidade são fatos exteriores ao
tipo legal e cuja ocorrência independe da vontade do agente. Ora, no caso em apreço, a morte e a
lesão grave situam-se dentro do tipo legal e a sua ocorrência está compreendida no dolo do agente.
Não temos dúvida em afirmar que a morte e a lesão corporal grave são os resultados
necessários à consumação do delito do art.122 do CP.
TENTATIVA
19
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Motivo egoístico: ocorre quando o agente provoca o suicídio para obter vantagem pessoal,
de cunho patrimonial ou extrapatrimonial. Exemplos: induz o pai ao suicídio visando o recebimento
da herança; auxilia o jovem ao suicídio para conquistar-lhe a namorada.
Na segunda causa de aumento de pena, menoridade da vítima, o legislador não indicou
expressamente o limite dessa idade, obrigando o intérprete a socorrer-se do método lógico-
sistemático de hermenêutica, cotejando os diversos dispositivos legais, no intuito de apurar a
verdadeira ratio legis.
Assim, o menor aludido no texto legal deve ter capacidade de discernimento para entender o
ato praticado, isto é, de esboçar livremente a sua vontade, o que só acontece a partir dos quatorze
anos. Efetivamente, o art. 217-A do Código Penal, não considera válida a manifestação de vontade
de quem é menor de 14 anos. Desse modo, se a vítima é menor de 14 anos, responderá por
homicídio aquele que a induziu, instigou ou a auxiliou ao suicídio. Se a vítima já tiver 14 anos, mas
for menor de 18 anos, o agente responderá pelo delito de participação em suicídio com a pena
duplicada. A partir dos 18 anos, a pena do art. 122 não é mais duplicada. Portanto, a expressão
menor compreende a pessoa com quatorze até antes dos dezoito anos. De fato, o dispositivo fala
em menor, e a menoridade penal cessa aos dezoito anos (CP, art. 27).
A terceira causa de aumento de pena, diminuição da capacidade de resistência da vítima,
aplica-se quando a situação amoldar-se numa das hipóteses do parágrafo único do art. 26, do
Código Penal, ou então quando a vítima encontrar-se gravemente enferma, completamente
embriagada, altamente depressiva, etc., justificando-se, portanto, a duplicação da sanctio juris.
Enquadrando-se, porém, a vítima nas hipóteses do art. 26, caput, sendo, pois, absolutamente
incapaz de entender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento, v. g., idiotas, oligofrênicos, etc., haverá o delito de homicídio.
QUESTÕES ESPECIAIS
Dentre as questões que suscita o delito em apreço, a que exige raciocínio mais aguçado é a do
suicídio a dois.
Suponha-se que “A” e “B” tenham feito um pacto de suicídio, trancando-se num quarto
hermeticamente fechado, onde está instalada uma torneira de gás. Antes de elencarmos as
diversas hipóteses possíveis, cumpre destacar a presença de instigação recíproca à medida que o
pacto de morte foi combinado pelos dois.
Não se perca também de vista que no suicídio a vítima realiza diretamente o ato de execução
da morte. Nunca é demais salientar que o ato de execução, no exemplo ministrado, reside na
abertura da torneira de gás. Abrir a aludida torneira equivale a acionar o gatilho do revólver.
Feitas essas considerações preliminares, vamos à análise das hipóteses:
20
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
entretanto, “A” sofre lesões graves, “B” responde pelo delito consumado de participação
em suicídio.
2. Os dois abrem a torneira de gás, mas sobrevivem por circunstâncias alheias à
vontade. Ambos respondem por tentativa de homicídio. “A” em relação a “B”; “B” em
relação a “A”.
Urge também se formule a questão da roleta russa. Suponha-se que “A” e “B” rolem o tambor
do revólver que contém um só projétil, disparando, cada um em sua vez, a arma na própria direção.
O sobrevivente responde por participação em suicídio, pois, aderindo a essa prática, instigou a
vítima ao suicídio.
Por último, responde por homicídio culposo aquele que, pretendendo suicidar-se, erra o alvo
e mata um terceiro.
INFANTICÍDIO
CONCEITO
Pela nossa lei penal, o primeiro elemento indispensável à caracterização do delito é que o
fato lesivo seja executado pela própria mãe. Se o agente for o pai, responderá por homicídio.
Em segundo lugar exige-se a influência do estado puerperal. Este critério chama-se fisiológico.
Abandonou-se o critério psicológico, adotado no direito anterior, que exigia o motivo de honra,
verificado nos casos de gravidez resultante de relações extraconjugais, que procurava justificar o
infanticídio pelo receio da desonra e da reprovação social.
No Código vigente, contudo, a morte do recém-nascido provocada pela mãe que teme a
própria desonra caracteriza delito de homicídio privilegiado pelo relevante valor moral (CP, art.
121, § 1º).
SUJEITO ATIVO
Trata-se de crime próprio, uma vez que só pode ser cometido pela mãe.
O terceiro que concorre para o crime, na condição de coautor ou partícipe, responde pelo
delito. Efetivamente pela teoria monista da ação quem, de qualquer modo, concorre para o crime
responde pelo mesmo crime (CP, art. 29). Assim, o terceiro (partícipe) que induz, instiga ou auxilia
uma mãe a cometer infanticídio, responde também por infanticídio.
SUJEITO PASSIVO
Sujeito passivo do crime só pode ser o neonato (recém-nascido morto após o parto) ou o
nascente (feto morto durante o parto).
21
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Questão que também merece breve alusão é a morte de outro filho pela mãe, sob a
influência o estado puerperal, durante o parto ou logo após.
Nesse caso, não haverá infanticídio, mas homicídio, com o benefício do parágrafo único do
art. 26 do Código Penal. Efetivamente, o sujeito passivo do infanticídio é o filho enquanto nasce
(nascente) ou o recém-nascido (neonato), cuja vida a mãe destrói, sob a influência do estado
puerperal. Se, no entanto, por erro, a parturiente, influenciada pelo puerpério, durante o parto ou
logo após, mata outro filho, confundindo-o com o nascente ou neonato, responderá por delito de
infanticídio.
1ª.A parturiente que mata o filho, sem estar influenciada pelo estado puerperal,
responde por homicídio (CP, art. 121).
2ª.A parturiente que mata o filho, sob a influência do estado puerperal, responde por
infanticídio (CP, art. 123). Inadmissível a invocação do parágrafo único do art. 26 do Código
para obter-se a redução da pena, pois a influência do estado puerperal (causa de semi-
imputabilidade) já está compreendida no tipo legal do art. 123 do Código.
3ª.A parturiente que mata o filho, influenciada pelo estado puerperal e também por
apresentar alguma outra causa que lhe tire a plenitude do poder de autodeterminação,
responde pelos arts. 123 e 26, parágrafo único do CP, podendo assim beneficiar-se da
redução da pena de um a dois terços, ou então obter medida de segurança.
4ª.A parturiente que mata o filho, por estar acometida de doença mental (psicose
puerperal), responde pelo art. 123 c/c o art. 26, caput, ambos do Código Penal, devendo ser
absolvida sumariamente, em razão da causa excludente da culpabilidade.
ABORTO
CONCEITO
22
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O aborto é crime de forma livre, admitindo uma infinidade de meios executórios. Os meios
abortivos mais citados são:
a) processos químicos: introdução de certas substâncias químicas no organismo, como o
fósforo, chumbo, álcool, ácido etc.;
b) processos físicos mecânicos: curetagem, jogos esportivos, quedas voluntárias, etc.;
c) processos físicos térmicos: bolsas de água quente e bolsas de gelo;
d) processos psíquicos: susto, sugestão, incutimento de terror, etc.
O delito de aborto somente admite a forma dolosa, consistente na vontade livre e consciente
de interromper a gravidez, provocando a morte do produto da concepção.
O dolo pode ser direto (quando há vontade de eliminar o produto da concepção) e eventual
23
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
(quando assume o risco de matar o feto). A dúvida quanto à gravidez caracteriza dolo eventual.
Por outro lado, não há crime de aborto culposo ou preterintencional. O terceiro que
culposamente der causa ao aborto responderá por lesão corporal culposa. Se, porém, agir com dolo
em relação à lesão corporal produzida na mulher grávida (cuja gravidez desconhecia, mas com a
diligência normal poderia conhecer), sobrevindo o aborto culposo, responde por lesão corporal
gravíssima (art. 129, § 2º, V, do CP).
A necessidade da presença do dolo exclui a tipicidade do aborto acidental, provocado por um
traumatismo involuntário, como, por exemplo, queda da escada. Igualmente, não há crime no aborto
natural, consistente num processo patológico manifestado na gestante ou no nascituro que conduz
espontaneamente ao aborto, sem qualquer provocação intencional.
CONSUMAÇÃO
TENTATIVA
Urge, porém, antes de mais nada, salientar que o delito de aborto contém duplicidade
de resultados: interrupção da gravidez e morte do nascituro. Assim, haverá tentativa quando,
malgrado o emprego de meios abortivos idôneos, não sobrevier a morte do produto da concepção,
por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Mister, porém, a idoneidade do meio empregado, isto é, aptidão para interromper a gravidez.
Se este foi absolutamente inidôneo (v. g., rezas ou despachos) não se pode falar nem em tentativa
de aborto, pois o crime é impossível (CP, art. 17).
O caso mais típico de tentativa de aborto é quando o agente, pretendendo interromper a
24
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
gravidez, apenas acelera o parto e o feto nasce com vida e sobrevive. Nessa hipótese, a ação
ulterior contra o recém-nascido, depois da expulsão, tendo este maturidade suficiente para
continuar a viver, constitui crime de infanticídio ou homicídio.
Questão interessante é a relatada por José Frederico Marques: um homem desfere violenta
facada no ventre de mulher grávida, para matá-la, e o delito se consuma. O feto, porém, é expulso
vivo e vem a perecer, poucos dias depois, em consequência de ter sido atingido pela facada. Houve
aí, segundo o genial jurista, concurso formal de homicídio e aborto provocado. Realmente, essa é a
única solução, pois a morte do feto foi decorrente da interrupção da gravidez.
Outro caso revelado pela doutrina, narrado por Magalhães Noronha, concerne a certo
indivíduo que desfere facadas no ventre de mulher grávida de nove meses, sem matá-la; dias
depois nasce a criança, que, entretanto, vem a falecer dez dias após, devido à lesão que lhe foi
produzida, quando no ventre materno. Anote-se, desde já, que não houve a interrupção da
gravidez, operando-se o nascimento no termo normal. A solução da questão é a seguinte:
ESPÉCIES DE ABORTO
25
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O aborto consentido ocorre quando a gestante permite que outrem lho provoque. Encontra-
se definido na 2ª parte do art. 124 do Código Penal. É essencial ao crime o concurso dos dois
elementos seguintes: a) consentimento da gestante; b) execução do aborto por terceiro.
Observe-se, porém, desde logo, que o aborto consentido é crime bilateral, exigindo a
presença de duas pessoas: a gestante e o terceiro executor.
Ressalte-se ainda que o terceiro responde pelo art. 126 do Código Penal, enquanto a
gestante, pelo art. 124, 2ª parte, do mesmo codex, operando-se assim uma exceção pluralística à
teoria monista da ação, pois cada um dos protagonistas responde por delito autônomo e distinto.
Por outro lado, cuidando especificamente do aborto consensual, dispõe o art. 126: “Provocar
aborto com o consentimento da gestante: Pena — reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos”.
Aborto consensual é o praticado por terceiro com o consentimento da gestante. Íntima,
portanto, a sua relação com o delito de aborto consentido.
É necessária a capacidade para consentir, isto é, que a gestante tenha mais de 14 (quatorze)
anos e não seja alienada ou débil mental. A falta de capacidade para consentir é disciplinada no
parágrafo único do art. 126 do Código, dando ensejo à figura típica do art. 125 do Código Penal.
Urge não esquecer que o consentimento precisa ser esboçado livremente pela gestante capaz
de consentir. Assim, se o consentimento for obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência,
configurar-se-á o delito previsto no art. 125 do Código Penal.
Questão que os tribunais têm enfrentado com certa frequência é a da adequação típica
daquele que concorre para o aborto provocado com o consentimento da gestante, instigando-a,
encaminhando-a ao médico aborteiro. Facilmente se vê que a gestante estará incursa no art. 124,
2ª parte (aborto consentido), e o médico, no art. 126 (aborto consensual). O enquadramento da
conduta daquele que a conduziu, porém, requer exame pormenorizado. Efetivamente, se executou
diretamente o abortamento, atuando como coautor do delito juntamente com o médico,
responderá pelo art. 126 do Código Penal. Se, entretanto, teve participação meramente acessória,
limitando-se a induzir, instigar ou auxiliar a gestante a procurar o médico inescrupuloso,
concorrendo exclusivamente no processo de seu convencimento, sem provocar materialmente o
aborto, responderá como partícipe do art. 124, 2ª parte, do Código Penal.
O art. 125 do Código pune, com reclusão de 3 (três) a 10 (dez) anos, o aborto provocado sem
o consentimento da gestante.
O dissenso da gestante é o elemento essencial à configuração do delito. Pode ser expresso ou
presumido. Expresso ou real ocorre quando a gestante opõe-se ao aborto, mas é vencida pela
violência física (v. g., pontapé no ventre), grave ameaça (v. g., obriga a gestante a fazer o aborto,
sob ameaça de morte) e fraude (v. g., introduz substância abortiva na alimentação da gestante).
Fraude é o artifício empregado pelo agente para induzir ou manter a gestante em erro. Anote-se
que para a configuração do delito em apreço basta a ausência do consentimento, sendo
desnecessária a violência, grave ameaça ou fraude. Assim, responde pelo crime quem provoca o
aborto em gestante que se encontra dormindo, fazendo-a ingerir um gás tóxico.
Presumido é o dissenso decorrente de certas condições em que a lei fixa a incapacidade de
consentir. Essas condições estão previstas no parágrafo único do art. 126 do Código Penal. Assim,
por presunção legal, entende-se haver falta de consentimento quando:
26
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O art. 127 do Código Penal dispõe que as penas cominadas nos dois artigos anteriores são
aumentadas de um terço se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-
lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas se, por qualquer dessas
causas, lhe sobrevém a morte. O art. 127 prevê duas hipóteses de aborto qualificado:
As lesões graves, vale salientar, são aquelas tipificadas nos §§ 1º e 2º do art. 129 do Código
Penal.
Os dois resultados qualificativos do delito, isto é, a morte e a lesão grave, devem ser
imputados ao agente a título de culpa. Trata-se de crime preterdoloso, pois o agente age com dolo
(direto ou eventual) em relação ao aborto e culpa em relação ao resultado (morte ou lesão grave).
Atuando com dolo em relação à morte ou lesão grave, fica excluída a norma do art. 127 do Código
Penal, respondendo, contudo, o agente pelo delito de aborto (arts. 125 ou 126) em concurso formal
imperfeito com o crime de homicídio doloso (CP, art. 121) ou lesão grave (CP, art. 129, §§ 1º e 2º),
conforme o caso.
Para a configuração do art. 127 não é necessária a consumação do aborto. Basta que a morte
ou lesão grave resultem dos meios empregados para provocá-lo. Destarte, resultando a morte ou
lesão grave dos meios empregados para a realização do aborto, ainda que não ocorra a morte do
feto, estará consumado o delito do art. 127 do Código.
Cumpre, ainda, salientar que o art. 127 só se aplica aos dois artigos anteriores (arts. 125 e 126
do CP). Não existe, portanto, autoaborto (art. 124, 1ª parte) e aborto consentido (art. 124, 2ª
parte), qualificados. Se fosse diferente, estar-se-ia punindo a autolesão. Assim, se o terceiro se
limita a induzir a gestante a praticar autoaborto, ou a consentir que outrem lhe provoque o aborto,
vindo esta a morrer ou a sofrer lesão grave, questiona-se por qual delito aquele deveria responder,
formando-se, a respeito, duas posições:
1ª) art. 124 do Código Penal, na condição de partícipe (CP, art. 29);
2ª) art. 124 do Código Penal em concurso formal com o delito de homicídio culposo ou lesão
culposa, conforme o caso. Esse ponto de vista, que pune a conduta culposa daquele que concorreu
para o resultado morte ou lesão grave, nos parece mais razoável, estando, pois, em harmonia com
a teoria da conditio sinequa non, consagrada expressamente no art. 13 do Código Penal.
27
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
ABORTO LEGAL
O texto do art. 128 prevê duas modalidades em que o aborto não constitui delito, desde que
praticado por médico:
1) se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
2) se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou,
quando incapaz, de seu representante legal.
O Código usa a expressão “não é punível” o aborto em tais circunstâncias. Não se trata,
porém, de causa extintiva da punibilidade. Na verdade, exclui-se a antijuridicidade, pois a norma
penal permite expressamente o abortamento, estabelecendo, destarte, a licitude do fato. Em razão
disso, mais correta seria a expressão: “não há crime”.
Aborto necessário é o praticado por médico, se não há outro meio de salvar a vida da
gestante. No art. 128, I, o Código reconhece expressamente a licitude do aborto necessário, desde
que presentes três requisitos: a) perigo real à vida da gestante; b) que não haja outro meio de
salvar-lhe a vida; c) execução por médico.
Aborto sentimental é aquele praticado para interromper a gravidez resultante do estupro.
Perante o Código Penal brasileiro não há restrição, no tempo, para que a estuprada decida pelo
abortamento.
Os requisitos necessários para a exclusão da ilicitude do aborto humanitário são:
a) gravidez resultante de estupro;
b) prévio consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal;
c) execução por médico.
LESÃO CORPORAL
CONCEITO
Considera-se lesão corporal, reza o art. 129, caput, do Código Penal, a ofensa à integridade
física ou à saúde de outrem.
A integridade corporal ou física é ofendida quando ocorre o dano físico (anatômico) nos
tecidos internos ou externos do corpo. Por exemplo: escoriações, feridas, mutilações e equimoses.
Com o dano anatômico opera-se, em regra, a solução de continuidade nos tecidos, causando a
desordem da integridade física. O dano anatômico, físico, não precisa ser perceptível
exteriormente, pois, não raro, são lesados os tecidos internos, v. g, escoriações no útero ou
rompimento de um rim.
A saúde é ofendida com o comprometimento da regularidade do funcionamento dos órgãos
ou do cérebro. A saúde é, pois, encarada sob o aspecto físico e mental. A saúde física (ou
fisiológica) é lesada quando ocorre o desequilíbrio funcional dos órgãos do corpo, v. g., a vítima fica
paraplégica em razão do rompimento da medula. A saúde mental (psíquica) é ofendida com o
comprometimento da regularidade do funcionamento do cérebro, causando a desordem das
funções psíquicas, como, por exemplo, quando a vítima, em virtude da conduta criminosa do
agente, vem a sofrer convulsões, desmaios ou doença mental.
SUJEITO ATIVO
28
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Trata-se de crime comum ou geral, que pode ser praticado por qualquer pessoa.
No tocante à autolesão, se volvermos ao delito de participação em suicídio recordar -
nos-emos de que o legislador não pune a tentativa de suicídio. Coerente com esse
posicionamento a autolesão também não é punida como crime de lesão corporal. Realmente,
o art. 129 está redigido da seguinte forma: “ofender a integridade corporal ou a saúde de
outrem”.
Contudo, a autolesão cometida para alcançar algum fim ilícito poderá configurar outro delito.
Por exemplo: autolesão para fugir do serviço militar (art. 160 do CPM), para receber o prêmio do
seguro (CP, art. 171, § 2º, V) e para realizar aborto (CP, art. 124).
OBJETIVIDADE JURÍDICA
SUJEITO PASSIVO
Sujeito passivo também pode ser qualquer pessoa humana viva. Todavia, nas lesões previstas
no § 1º, inciso IV e § 2º, inciso V, o sujeito passivo é somente a mulher grávida.
Em todas as modalidades da lesão dolosa, a pena aumenta de 1/3 se o crime for praticado: a)
contra índio não integrado (art. 59, da lei nº 6.001/73 – Estatuto do Índio); b) pessoa menor de 14
anos ou maior de 60 (sessenta) anos ( § 7º do art.129 ) .
ELEMENTO SUBJETIVO
29
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
configura delito de lesão corporal. Urge ainda, para a configuração do crime de tortura, que o
castigo tenha causado intenso sofrimento físico ou mental. Se não for intenso esse sofrimento,
poderá haver o crime de lesão corporal, ainda que o sujeito ativo exerça sobre a vítima a guarda,
poder ou autoridade.
CONSUMAÇÃO
TENTATIVA
No “caput” do art. 129 do Código Penal concentra-se a lesão leve, também denominada lesão
simples ou comum ou fundamental.
30
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Lesão leve, como dizia Nélson Hungria, em forma lapidar, “é a lesão típica. O seu conceito
obtém-se por exclusão: é a lesão que, compreendida na fórmula genérica do art. 129, não acarreta
nenhum dos resultados previstos nos §§ 1º, 2º e 3º do mesmo artigo”. Trata-se de delito de menor
potencial ofensivo, ao qual é aplicável a lei nº 9.099/95, que prevê: a) o termo circunstanciado, ao
invés de inquérito policial; b) boletim médico para comprovação da materialidade; c) conciliação,
tendo em vista que a ação penal depende de representação; d) transação.
1ª) o agente agiu com dolo em relação ao resultado, isto é, quis ou assumiu o risco de cegá-la;
2ª) o agente agiu com culpa em relação ao resultado, pois queria apenas feri-la levemente no
rosto.
Em ambas as hipóteses o agente será enquadrado no art. 129, § 1º, III, do Código Penal.
Evidentemente, tendo agido com culpa em relação ao resultado, o magistrado, na fixação da
pena, lhe dará tratamento mais benéfico do que se tivesse agido com dolo, nos termos do art. 59
do Código.
Havendo dolo em relação à lesão corporal e culpa em relação ao resultado fala-se em delito
preterdoloso ou preterintencional.
Os resultados dos §§ 1º e 2º, como já dito, podem ocorrer a título de dolo ou culpa. Todavia,
os resultados do § 1º, II (perigo de vida) e do § 2º, V (aborto) só podem ocorrer a título de culpa.
Nesses dois casos, se houver dolo, o agente responderá por tentativa de homicídio e por delito de
aborto, respectivamente.
INCAPACIDADE PARA AS OCUPAÇÕES HABITUAIS POR MAIS DE 30 (TRINTA) DIAS (ART. 129, §
1º, I)
31
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Perigo de vida é, pois, a probabilidade concreta e atual da morte. Não basta que a lesão tenha
provocado a possibilidade do perigo. É preciso que o perigo tenha efetivamente ocorrido. O perigo
deve ser concreto e atual (presente), e não remoto ou presumido, pois, como dizia Alimena, não há
lesão alguma que, através de sucessivas complicações, não possa pôr a vida de alguém em perigo.
É necessário o diagnóstico do perigo de vida e não o mero prognóstico. Como bem observa
Euclides Custódio da Silveira: “Não bastará, por exemplo, a possibilidade de uma peritonite oriunda
de facada no ventre, pois é necessário que ocorra efetivamente”.
No tocante ao elemento subjetivo, o perigo de vida deve ter sido provocado
involuntariamente pelo agente. Para a aplicabilidade de tal circunstância, já dizia Manzini, sempre
se pressupõe que o perigo de vida não foi causado intencionalmente, pois, se assim acontecesse, o
delito seria de tentativa de homicídio.
Por outras palavras, no inciso II do § 1º do art. 129, o agente age com dolo (direto ou
eventual) em relação à lesão e culpa em relação ao resultado perigo de vida. Atuando com dolo
direto ou eventual em relação ao perigo de vida responderá por tentativa de homicídio.
32
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Empregou-se, então, o termo aceleração do parto para indicar o parto prematuro, isto é, a
expulsão precoce do produto da concepção.
É necessário, para o reconhecimento da qualificadora, que o agente tenha ciência da gravidez
ou, pelo menos, a possibilidade de ciência da prenhes, ignorada por erro inescusável. Se ignorava a
gravidez da ofendida e não lhe era possível percebê-la, dá-se um erro de tipo invencível, que exclui
a qualificadora, respondendo o agente por lesão corporal de natureza leve.
A incidência da qualificadora depende ainda que o feto nasça vivo e sobreviva. Se o feto
morre, dentro ou fora do útero, em consequência da conduta, a lesão passa a ser gravíssima em
razão do aborto (§ 2º, V, do art. 129).
33
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Realmente, em ambas sobressai um ponto comum, a incapacidade da pessoa. Mas, suas diferenças
são fundamentais: na lesão grave, a incapacidade é temporária (por mais de trinta dias) e se
relaciona com as ocupações habituais; na lesão gravíssima, a incapacidade é permanente e se
relaciona com o trabalho.
Permanente é a incapacidade duradoura, longa e dilatada, de tal sorte que não se possa
calcular a época da sua cessação. É suficiente o prognóstico de incapacidade definitiva. Não há,
entretanto, necessidade de diagnóstico de perpetuidade, isto é, de incapacidade por toda a vida.
É necessário, para a existência da qualificadora, que a incapacidade seja para o trabalho.
O vocábulo trabalho é utilizado para indicar a função lucrativa, isto é, a atividade econômica.
Na jurisprudência prevalece a orientação de que, se a incapacidade não for total e
permanente, desclassifica-se do § 2º, I, para o § 1º, III (RT, 550:284).
34
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
descobertas ou que seja perceptível apesar das roupas (por exemplo: marcha claudicante). A
dissimulação da lesão, como, por exemplo, olho de vidro, orelha de borracha, dentes postiços,
crescimento da barba etc., não exclui a qualificadora. A reparação, diz Flamínio Fávero, deve ser
natural e de tal sorte que não dê ao portador do dano a impressão de que este subsiste mal
dissimulado aos olhos estranhos, e presente sempre à sua impressão subjetiva, lembrando-lhe o
trauma sofrido, e daí o incômodo, o vexame, o mal-estar que lhe produziu.
A deformidade deve ser capaz de causar impressão vexatória. Não se exige impressão
horripilante ou insuportável de fixar os olhos. Basta a provocação de uma impressão desagradável.
Na análise da existência ou não do dano estético, diversos fatores influem: idade, sexo e
condição social. Efetivamente, é possível que o dano estético situado no rosto de um velho fique
encoberto pelas rugas, excluindo-se, assim, a qualificadora. Salta aos olhos, lembra Magalhães
Noronha, a disparidade existente entre um gilvaz no peito de um estivador e no colo de uma dama
da alta sociedade. Uma cicatriz na coxa de uma mulher que frequenta o banho de mar ou academia
de ginástica caracteriza dano estético; diferentemente, exclui-se a qualificadora quando a mesma
lesão atingir uma freira.
A forma mais grave de lesão corporal está prevista no § 3º do art. 129 do Código Penal, que
assim dispõe:
“Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem
assumiu o risco de produzi-lo: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos”.
Urge salientar os elementos constitutivos do delito: 1) lesão dolosa; 2) morte culposa; 3) nexo
causal entre a lesão dolosa e a morte culposa.
O tipo subjetivo revelador do propósito criminoso do agente se limita ao animuslaedendi, isto
é, intenção de ferir (dolo direto) ou de assumir o risco de ferir (dolo eventual). Relativamente à
35
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
1) A morte culposa decorre de um gesto de ameaça ou de vias de fato (art. 21 da LCP), como,
por exemplo, empurrão numa pessoa cardíaca. O agente responde por homicídio culposo.
2) A morte culposa decorre de lesão culposa, como, por exemplo, atropelamento. O agente
responde por homicídio culposo.
3) O agente age com dolo em relação à lesão, mas a morte ocorre por caso fortuito ou força
maior. Responde apenas pelo crime de lesões leve, grave ou gravíssima, conforme o caso. Por
exemplo, “A” fere “B”, que vem a falecer em consequência de um desabamento ocorrido quando
se dirigia à farmácia para comprar remédios. No caso, não há como atribuir-lhe o resultado morte.
Filiou-se assim o Código aos sistemas jurídicos que limitam a responsabilidade penal à presença de
culpa. Efetivamente, dispõe o art. 19 do Código Penal que, “pelo resultado que agrava espe-
cialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos culposamente”. A
primitiva ideia de punição com base na responsabilidade objetiva, isto é, independentemente de
culpa, não encontra seguidores no direito penal atual.
Também não pode ser esquecido que na hipótese de concurso de agentes nem todos os
coautores e partícipes respondem pelo delito de lesão corporal seguida de morte. Diz o § 2º do art.
29 do Código Penal que, “se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-
á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o
resultado mais grave”. Por exemplo: “A” manda “B” agredir “C”. “B” age com excesso e acaba
produzindo culposamente a morte de “C”. “A” responde por crime de lesões corporais leve, grave
ou gravíssima, conforme o caso, cuja pena será aumentada até a metade se a morte da vítima era
previsível ao homem médio. “B” responde por lesão corporal seguida de morte. Ora, o mandante
“A” deveria também responder por lesão corporal seguida de morte, uma vez que o evento letal lhe
era previsível. No entanto, a reforma penal de 1984, no § 2º do art. 29 do Código Penal, tratou a
questão de maneira diferente, mitigando a aplicação da teoria monista da ação.
Inadmissível a tentativa em face do caráter preterdoloso do delito, que exige dolo no antecedente
(lesão corporal) e culpa no subsequente (evento morte). A tentativa pressupõe sempre a vontade
dirigida ao resultado, que o agente não obtém por circunstâncias alheias à sua vontade. No caso, não
sendo a vontade dirigida ao evento morte, é incorreto dizer-se que o agente tentou obter a morte da
vítima. Finalmente, aproxima-se a lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º, do CP) do homicídio
culposo (art. 121, § 3º, do CP). Realmente, em ambos sobressai um ponto comum, a morte culposa.
Mas suas diferenças são nítidas: na lesão corporal seguida de morte, o resultado letal deriva de um
crime de lesão corporal dolosa; no homicídio culposo, o evento morte resulta de um comportamento
penalmente indiferente ou de lesão culposa ou de vias de fato
36
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
GRAU, EM RAZÃO DESSA CONDIÇÃO ( ART. 129, §12 DO CP, INTRODUZIDO PELA LEI 13.142/2015)
O art. 1º, I-A, da lei 8.072/90 considera crime hediondo a “lesão corporal dolosa de natureza
gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3o), quando praticadas
contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau,
em razão dessa condição”.
Vê-se assim que a hediondez depende de dois requisitos cumulativos:
Lesão gravíssima (art. 129, § 2o) ou lesão seguida de morte (art. 129, § 3o);
Que o delito seja praticado contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição.
O estudo das lesões culposas é idêntico ao homicídio culposo, inclusive no tocante ao perdão
judicial (§8º), ao qual reporto o leitor.
Conceito
37
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
“Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do sexo feminino, nos
termos do §2º-A do art. 121 deste Código:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos)."
O tipo penal acima, introduzido pela Lei 14.188/2021, apresenta as seguintes características:
a) é uma qualificadora, pois tem pena própria.
b) é aplicável apenas à lesão corporal leve, prevista no “caput” do art. 129 do CP, pois as
lesões corporais graves, gravíssimas e seguida de morte, previstas respectivamente nos §§ 1º e 2º e
3º do art. 129 do CP, incidem sobre o caso concreto, independentemente de o delito ser praticado
contra mulher, por razões da condição do sexo feminino.
c) o sujeito ativo pode ser tanto o homem quanto a mulher. Exemplo: mãe agride a filha por
não aceitar que ela exerça a profissão de taxista, reputando ser tradicional dos homens.
d) o sujeito passivo é somente a mulher, sendo vedada a analogia para se abranger as vítimas
biologicamente masculinas, mas socialmente femininas. É a posição do STJ. Outra corrente, porém,
considera também que as mulheres transexuais e/ou travestis poderiam também figurarem como
vítimas, conferindo-se ao termo “mulher” um sentido sociológico.
e) é um tipo penal remetido, pois se reporta expressamente ao delito de feminicídio. previsto
no §2º-A do art. 121 do CP, que passa a integrá-lo.
f) exige o cometimento do crime por razões de gênero.
g) não há a incidência das causas de aumento de pena, previstas para o feminicídio no §7º do
art. 121 do CP, pois o §13 do art. 129 do CP não se reportou a elas; nem a incidência, diante da
lacuna da lei, das majorantes previstas no §10 do art. 129 do CP.
Espécies
38
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Nas duas modalidades, se exige o cometimento da lesão corporal leve por razões de gênero,
que consiste nas condições relacionadas ao sexo feminino.
As razões de gênero, dentre outras hipóteses, compreendem:
a) o ataque ao feminismo;
b) o ataque por não aceitar, como sendo possível à mulher, a realização de determinados
comportamentos tradicionalmente masculinos.
Eis alguns exemplos de incidência do tipo penal em análise:
a) o marido agride a esposa por não concordar que ela trabalhe;
b) o companheiro agride a companheira por ela ter usado roupas curtas;
c) o marido agride a mulher porque ela o traiu.
Em contrapartida, não responde pelo tipo penal em análise:
a) o marido que agride a mulher por razões financeiras;
b) o ex-marido que agride a ex-mulher pelo fato de ela não cumprir a ordem judicial que lhe
concedia o direito de visitar o filho menor;
c) irmão que agride a irmã, por discussão sobre herança.
A lesão corporal leve praticada em ambiente de violência doméstica e familiar é uma norma
penal em branco.
Com efeito, o conceito de violência doméstica e familiar é fornecido pelo art. 5º da lei
11.340/2006, que exige que o fato seja praticado por razões de gênero contra mulher, nas
seguintes situações:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente
de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são
ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a
ofendida, independentemente de coabitação.
Fora das três situações acima, não há falar-se em violência doméstica e familiar contra
mulher.
Vê-se assim que a lesão corporal leve em análise, cometida em ambiente de violência
doméstica e familiar, abrange as seguintes situações:
a) lesão corporal leve praticada contra mulher com quem o agente mantém ou manteve
convívio, ainda que esporádico e sem qualquer relação íntima de afeto, com ou sem vínculo
familiar.
É o vínculo de unidade doméstica. Exemplo: patrão que, por razões de gênero, agride a
empregada doméstica. Outro exemplo: agredir a colega de trabalho por não aceitar que ela exerça
determinada função. Mais um exemplo: república de mulheres em que uma agride a outra, por não
aceitar o lesbianismo. A hipótese ainda abrange as pessoas esporadicamente agregadas. Se, por
exemplo, uma amiga convida outra para morar um mês em sua casa, agredindo-a por razões de
gênero, impõe-se a incidência da lei.
b) lesão corporal leve perpetrada contra a mulher com quem o agente tem vínculo de
parentesco natural ou por afinidade ou ainda um parentesco por vontade expressa.
É o vínculo familiar, que abrange o parentesco natural, por afinidade e por vontade
própria. Parentesco natural é o consanguíneo, que na linha reta, ascendente ou
descendente, é infinito e, na linha colateral, vai somente até o quarto grau. Não há. por
39
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
exemplo, parentesco com a filha do primo, pois se trata de colateral de quinto grau.
Parentesco por afinidade é o vínculo entre o cônjuge ou companheiro e os parentes do outro.
Exemplos: sogro, sogra, genro, nora, padrasto, madrasta, enteado, enteada e cunhado.
O parentesco por vontade expressa é que resulta da adoção.
Outrossim, o socioafetivo. Por exemplo, filho de criação. Outro exemplo: mulher que o
agressor considera como sendo sua irmã.
c) lesão corporal leve praticada em qualquer relação íntima de afeto, contra mulher com
quem o agente convive ou tenha convivido, independentemente de coabitação, isto é, de terem
morado juntos ou mantido relações sexuais.
É o vínculo de afeto. Exemplo: lesão corporal leve contra a ex-noiva, por razões de gênero.
No tocante à agressão da namorada, por razões de gênero, para a incidência da qualificadora
em análise, é preciso verificar no caso concreto se havia ou não a relação íntima de afeto, o que
poderá ser excluído num namoro breve.
A relação intima de afeto, para uns, abrange o amor, o sexo e também a amizade.
Dessa forma, se, por exemplo, o agente que agride uma amiga, com quem convive quase que
diariamente, responderia pelo §13 do art. 129 do CP.
Outros, porém, restringem a expressão à intimidade amorosa e sexual, excluindo-se a
amizade.
De fato, trata-se de uma relação íntima de afeto e não relação íntima de amizade.
Não se aplica, por exemplo, a lei em análise ao sujeito que agride a sua vizinha.
Por outro lado, a violência doméstica e familiar, seja o vínculo de unidade doméstica, familiar
ou afetivo, consoante se depreende do art. 5º da Lei 11.340/2.006, só se configura quando houver
razões de gênero.
Por consequência, a menção às razões da condição do sexo feminino, prevista no § 13 do art.
129 do CP, apenas repetiu, com o intuito de reforçar, o que já é da essência do conceito de
violência doméstica e familiar.
Não há, porém, a necessidade, para a incidência desta primeira qualificadora do §13 do art.
129 do CP, da intenção de menosprezar ou discriminar a condição de mulher.
Frise-se, entretanto, que, para a incidência da qualificadora em análise, é essencial que a
lesão corporal leve seja cometida por razões de gênero.
Outra questão interessante diz respeito ao fato de a lei ter dispensado a coabitação, pois a
Convenção de Belém do Pará, nas relações íntimas de afeto, exige que as partes convivam ou
tenham convivido sob o mesmo teto.
Uma primeira exegese impõe também esta exigência, pois as Convenções de Direitos
Humanos são hierarquicamente superiores às leis internas.
Outra corrente, que é a adotada no STJ, aplica o princípio “pro homine”, que, em matéria de
conflito de leis internas e tratados sobre direitos humanos, prioriza a norma que confere a maior
proteção e, nessa linha de raciocínio, prevalece a Lei Maria da Penha, que dispensa a convivência
sob o mesmo teto.
Assim, nos três vínculos acima, para a configuração da violência doméstica e familiar prevista
no artigo 5º da Lei n.11.340/2006 não se exige a coabitação entre autor e vítima (súmula 600 do
STJ).
Quanto ao local do crime, pode ser qualquer um, não precisa ser o recinto do convívio das
partes.
Por fim, cumpre analisar a questão da vulnerabilidade da vítima, que é também requisito
necessário à configuração da violência doméstica e familiar.
A vulnerabilidade da vítima é a sua inferioridade física, econômica, moral, social, intelectual
40
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
41
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
lesão corporal leve privilegiada pelo relevante valor moral ou social, à medida que, ao lesionar a
vítima por razões de gênero, o agente procede com torpeza, sendo assim contraditório falar-se em
relevante valor moral ou social.
42
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Por outro lado, as circunstâncias indicadas no § 9º não funcionam como causas de aumento
de pena do §13.
A propósito, dispõe o §10 do art. 129 do CP:
“Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no §9º
deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço)”.
Em relação às qualificadoras do §13 do art. 129 do CP, as circunstâncias do § 9º funcionarão
como agravantes genéricas nos seguintes termos:
a) crime cometido contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge (art. 61, II, “e”, do CP);
b) quando o agente se prevalecer das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade
(art. 61, II, “f”, do CP).
AÇÃO PENAL
É pública condicionada à representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais
leves e lesões culposas (art. 88 da Lei n. 9.099, de 26-9-1995).
Entretanto, na lesão corporal leve contra mulher praticada em ambiente de violência
doméstica, a ação penal é pública incondicionada.
A propósito, dispõe a súmula 542 do STJ:
“A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a
mulher é pública incondicionada”.
Já em relação aos crimes de lesões corporais graves ou gravíssimas e lesões seguida de morte
a ação penal é pública incondicionada.
RIXA
O Código Penal brasileiro adotou o sistema da autonomia, incriminando a rixa por si só,
independentemente da morte ou lesão grave. Tais resultados, porém, funcionam como
circunstâncias qualificadoras da rixa.
OBJETIVIDADE JURÍDICA
CONCEITO
SUJEITO ATIVO
43
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Trata-se de crime plurissubjetivo ou coletivo, porquanto exige o concurso de pelo menos três
rixosos, computando-se nesse número os menores, inimputáveis e desconhecidos. Mas não são
computados os que intervêm para separar os contendores.
Carrara e Manzini admitem a rixa com apenas duas pessoas. Esse ponto de vista, porém, não
tem encontrado ressonância no direito pátrio, pois somente com o número mínimo de três
rixadores é possível distinguir-se a rixa do delito de lesões corporais recíprocas; entre duas pessoas
as agressões são sempre bem definidas.
SUJEITO PASSIVO
Os próprios rixosos são também sujeitos passivos, bem como as pessoas estranhas
porventura atingidas pela briga.
Assim, os rixosos (também chamados de rixadores ou rixantes ou rixentos) são ao mesmo
tempo sujeitos ativos e passivos do delito. Observe-se, todavia, que ninguém pode ser ao mesmo
tempo sujeito ativo e passivo do delito em face de sua própria conduta. No caso, o rixoso é sujeito
ativo da conduta que praticou e sujeito passivo das condutas realizadas pelos demais participantes.
A rixa ingressa na categoria dos crimes de concurso necessário de condutas contrapostas à medida
que há reciprocidade de agressões. Diferentemente, na associação criminosa temos um crime de
concurso necessário de condutas convergentes (art. 288).
O núcleo do tipo é o verbo participar, que significa tomar parte, concorrer para o
desencadeamento ou manutenção da rixa.
Anote-se, desde já, que não basta para a configuração da rixa a simples altercação ou troca de
palavras injuriosas ou ameaçadoras. É indispensável a violência física entre os contendores, o que
requer, no mínimo, vias de fato (v. g., empurrão, puxão de cabelo, etc). Dispensável, no entanto, o
corpo a corpo, isto é, o contato corpóreo entre os rixosos, porquanto a violência física pode
perfeitamente caracterizar-se sem a presença desse requisito, como, por exemplo, troca de tiros ou
arremesso de pedras à distância.
Cumpre também salientar que a rixa é uma luta desorganizada, caracterizada pela
reciprocidade de ofensas materiais entre os contendores, tornando-se, por isso mesmo, muito
difícil distinguir-se a atividade hostil de cada rixoso. Na verdade, cada rixoso age por si mesmo
contra qualquer um dos contendores, de modo que a agressão bem individuada entre dois grupos
definidos não caracteriza o delito de rixa. Efetivamente, para a configuração da rixa, os três ou mais
rixosos devem lutar entre si, agredindo indistintamente os contendores. Se dois ou mais indivíduos
investem contra outros três, de modo que os elementos de um grupo agridam apenas os desafetos
do outro grupo e vice-versa, não se trata de rixa, mas de lesões corporais recíprocas.
A leitura dos dois julgados abaixo elucidarão a questão.
Efetivamente, já se decidiu:
“O instituto da rixa é de aplicação limitada, somente se convertendo em realidade penal
quando os fatos se apresentam, originária e conceitualmente, obscuros e confusos. Assim, não há
falar no delito em cuidando de agressão recíproca entre grupos rivais, identificados em cada um
dos respectivos membros, e sabendo-se abinitio como e porque teve início a briga” (TACrim-SP, AC,
rel. Azevedo Júnior, Jutacrim, 39:241).
“Bem definida a posição dos contendores no desenrolar da luta, ficando certo que três
44
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
homens brigaram, dois de um lado e um de outro, não se pode cogitar do delito de rixa” (TACrim-
SP, AC, rel. Camargo Aranha, RT, 502:304).
Todavia, se dois grupos se desafiam, marcando lugar e hora para a luta, vindo a generalizar-se
a confusão, com agressões indistintas, tornando-se a briga indiscriminada, com agressões aos
elementos do próprio grupo e do outro grupo, não há como deixar de reconhecer a existência da
rixa.
CONSUMAÇÃO
Trata-se de crime de perigo presumido juriset de jure, consumando-se com a prática de vias
de fato ou violência recíproca. Nesse momento, presume-se a ocorrência do resultado, que é o
próprio perigo.
Observe-se, todavia, que somente com o emprego de, no mínimo, vias de fato recíprocas o
delito estará consumado. Contudo, não se exige a efetiva lesão corporal em um dos rixosos. A rixa,
cumpre lembrar, ganhou autonomia em nosso direito, sendo incriminada pelo simples perigo
resultante de sua prática.
TENTATIVA
A rixa ex proposito admite a tentativa. Suponha-se, por exemplo, que na hora e local do
desafio entre três ou mais baderneiros a polícia compareça, impedindo o início da briga.
Já a rixa ex improviso não admite a tentativa. Ou pelo menos três rixosos praticam atos de
execução e o delito estará consumado, ou então apenas dois realizam atos executórios idôneos e
haverá contravenção de vias de fato (art. 21 da LCP), lesões corporais (CP, art. 129) ou homicídio
(CP, art. 121).
RIXA QUALIFICADA
No parágrafo único do art. 137 está prevista a rixa qualificada, passando a pena a ser de seis
meses a dois anos de detenção se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave.
Efetivamente, dispõe o aludido parágrafo único: “Se ocorre morte ou lesão corporal de
natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção de seis meses a dois
anos”.
Trata-se, como se vê, de crime qualificado pelo resultado. Todos os rixosos, inclusive os que
não praticaram os atos de que derivou a morte ou lesão grave, pelo simples fato da participação na
rixa, respondem pela rixa qualificada.
45
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Anote-se ainda que o Código não qualifica a rixa em que ocorre tentativa de homicídio. Salvo
na hipótese em que esta tentativa causar uma lesão grave, não é possível, diante da omissão,
reconhecer-se a rixa qualificada. Todos responderão por rixa simples. No entanto, o rixoso autor da
tentativa responderá também por tentativa de homicídio em concurso com o crime de rixa simples.
Tenha-se em vista que ocorrendo morte ou lesão grave, conquanto não apurada a autoria, todos
os rixosos responderão por rixa qualificada, mas nenhum dos participantes responderá pelo delito de
homicídio ou pelo crime de lesões corporais. Se, porém, lograr-se apurar a autoria, os responsáveis (co-
autores e partícipes) pela morte ou lesão grave responderão por homicídio doloso ou lesão corporal de
natureza grave em concurso material com o delito de rixa simples, pois, como assevera Euclides
Custódio da Silveira, não se pode admitir que um mesmo resultado seja concomitantemente imputado
a alguém a título de crime doloso e de circunstância agravante de outro crime. Realmente, como o
agente já irá responder por homicídio doloso ou lesão corporal grave não tem sentido, sob pena de
consagrar-se o bis in idem, imputar-lhe o delito de rixa qualificada.
CONCURSO DE CRIMES
CONCEITO
46
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O bem jurídico honra é disponível. Exclui-se o crime se a vítima anuir à ofensa. Não há delito,
por exemplo, na hipótese de o noivo que, desejando livrar-se da noiva, autoriza um amigo a injuriá-
lo, difamá-lo ou caluniá-lo na frente dela e da família.
Anote-se que o representante legal do menor ou do incapaz não pode por ele consentir.
CALÚNIA
CONCEITO
SUJEITO PASSIVO
47
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
“Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena — detenção, de
6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa”.
Os outros dois núcleos do tipo constam do § 1º, que assim dispõe:
“Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga”.
Nos verbos propalar e divulgar o agente repete o que ouviu.
Propalar é o relato oral, ao passo que divulgar é o relato escrito ou por qualquer outro meio
que não seja verbal.
Urge, ainda, destacar a presença de dois elementos imprescindíveis à caracterização da
calúnia: falsidade da imputação e fato tido como crime.
A falsidade da imputação pode recair sobre o fato ou autoria. Haverá calúnia quando se
atribuir a alguém a prática de crime inexistente (falsidade sobre o fato) ou quando atribuir crime
existente, porém, cometido por outra pessoa (falsidade sobre a autoria).
Mister a imputação falsa de fato criminoso. A imputação de fato contravencional (por
exemplo, dizer que fulano é dono de uma banca de jogo do bicho) não caracteriza calúnia, mas
difamação. Com efeito, no delito de denunciação caluniosa, previsto no art.339 do CP, o código
admite expressamente a prática de contravenção (§ 2º), ao passo que no crime de calúnia há uma
lacuna, sendo vedada a analogia “ in malam partem “ .
ELEMENTO SUBJETIVO
Trata-se de crime doloso. Não se pune a calúnia culposa, que poderá ter repercussão no
campo da responsabilidade civil.
O crime de calúnia, no caput do art. 138 do Código, na modalidade imputação, admite o dolo
direto e eventual.
O dolo é direto caracterizando-se quando o agente faz a imputação sabendo de sua falsidade;
eventual se, malgrado a dúvida quanto à falsidade, mesmo assim realiza a imputação.
Urge, porém, salientar que nas modalidades propalar e divulgar, a lei exige o dolo direto ao
empregar a expressão “sabendo falsa a imputação”; é mister que o agente tenha certeza da
falsidade. Se for praticada com dolo eventual, como, por exemplo, na dúvida quanto à falsidade, o
agente propala ou divulga o fato caluniador, o crime não se configurará.
CONSUMAÇÃO
Os crimes contra a honra são formais ou de consumação antecipada, não exigindo a efetiva
lesão à honra. Basta que a conduta seja manifestada com o propósito ofensivo à honra.
No tocante à calúnia, consuma-se quando a imputação é conhecida por alguém, que não o
sujeito passivo.
Imputando o fato diretamente à vítima, sem ser ouvido por uma terceira pessoa, não haverá
delito de calúnia, mas sim injúria, tendo em vista o propósito de ofender apenas a honra subjetiva.
TENTATIVA
48
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
EXCEÇÃO DA VERDADE
CONCEITO
Difamar é imputar a alguém fato não criminoso, porém ofensivo à sua reputação.
Difere nitidamente da calúnia.
Efetivamente, a calúnia requer a imputação falsa de fato criminoso, ao passo que na
difamação o fato imputado não pode ser criminoso. Sobremais, a difamação não exige a falsidade
da imputação. Se, por exemplo, digo que certa mulher manteve um caso amoroso com outra
mulher, conquanto verdadeira a imputação, cometerei difamação.
Tal como na calúnia, o fato difamatório deve ser determinado, caso contrário o crime será de
injúria. De fato, a imputação de fatos vagos, genéricos, como, por exemplo, dizer que fulano é
49
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
SUJEITO PASSIVO
Qualquer pessoa física ou jurídica pode figurar como sujeito passivo do crime de difamação.
Realmente, tutelando a lei penal a honra objetiva, força convir que o menor, o doente mental
ou a pessoa jurídica, seja de direito público ou privado, podem ser sujeitos passivos, pois podem ser
atingidos em sua reputação social.
CONSUMAÇÃO
Ocorre no momento em que um terceiro, que não a vítima, toma conhecimento da
imputação ofensiva à reputação alheia.
O momento consumativo não difere do crime de calúnia.
Assim, tanto na calúnia como na difamação ocorre a consumação no exato instante em que
uma terceira pessoa toma conhecimento da imputação. Pouco importa se esta pessoa tenha ou não
dado crédito ao fato ofensivo. Basta que a ofensa seja capaz de lesar a honra alheia e seja
pronunciada com a intenção de ofender, não se exigindo, porém, a efetiva lesão à honra, pois,
conforme já salientado, os crimes contra a honra são formais.
TENTATIVA
EXCEÇÃO DA VERDADE
50
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
libidinoso se deu no exercício do cargo, é fato referente à vida funcional, permitindo-se, assim, a
exceção da verdade.
INJÚRIA
CONCEITO
SUJEITO PASSIVO
Prevalece a tese de que o sujeito passivo da injúria deve ter consciência da dignidade ou
decoro. Conseguintemente, não se consideram injuriados o doente mental, a criança de tenra idade
e nem a pessoa jurídica.
Realmente, injúria é a ofensa à honra subjetiva, consistente no juízo que cada pessoa faz de si
mesma acerca de sua dignidade ou decoro. Mister que a vítima tenha consciência de estar sendo
ofendida para que o delito se caracterize.
Uma criança de dez anos, por exemplo, tem condições de aferir o caráter ofensivo da
expressão. O mesmo não ocorre a uma criança de dois ou três anos.
No tocante à criança e ao doente mental, cremos que a solução deve ser analisada à luz do
caso concreto, para considerar-se caracterizado o delito somente na hipótese de ter sido
compreendido o caráter ofensivo da expressão empregada pelo agente injuriador.
A pessoa jurídica, por sua vez, não possui honra subjetiva, não podendo assim ser vítima de
injúria. Mas a ofensa pode ferir a honra dos responsáveis pela pessoa jurídica, que passarão, então,
a figurar como sujeitos passivos do delito.
MEIOS DE EXECUÇÃO
Pertence a injúria aos delitos de forma livre, admitindo, assim, inúmeros meios de execução,
tais como: gestos, palavras, símbolos, atitudes, figuras etc.
Por omissão também se pratica injúria, quando nítida a intenção de ofender, como acontece
na recusa ao cumprimento à pessoa que lhe estende as mãos. Diferentemente, calúnia e
difamação, por envolverem imputação de fatos determinados, não admitem a forma omissiva.
A ofensa pode ser:
51
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
CONSUMAÇÃO
A honra subjetiva, traduzida no sentimento de estima própria que cada pessoa faz de si
mesma, só é violada quando o ofendido toma conhecimento da injúria.
Portanto, consuma-se o delito no momento em que a qualidade negativa imputada pelo
agente entra na esfera do conhecimento da vítima.
Se a ofensa é dita a um terceiro, e não diretamente à vítima, haverá o delito de injúria
52
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
somente na hipótese de o agente ter desejado ou assumido o risco de este terceiro comunicar o
fato ao ofendido. Se o agente acreditava sinceramente que o terceiro não comunicaria o fato à
vítima, exclui-se o delito, tendo em vista que a lei não incrimina a injúria culposa.
Anote-se, no entanto, mais uma vez, que os delitos contra a honra são formais, pouco
importando à consumação se a vítima sentiu-se efetivamente ofendida. Basta a conduta idônea a
ofender, praticada com o animus injuriandi, para que o delito se tenha como consumado.
TENTATIVA
Admite-se a tentativa, sobretudo na injúria escrita. Por exemplo, A envia missiva ultrajante a
B, que se extravia, indo parar nas mãos de terceiro.
EXCEÇÃO DA VERDADE
PERDÃO JUDICIAL
O § 1º do art. 140 do Código dispõe que o juiz pode deixar de aplicar a pena:
Trata-se do perdão judicial, cuja natureza jurídica já foi discutida na análise do homicídio
culposo, a qual reportamos o leitor.
No tocante à injúria, são dois os casos de perdão judicial, que se justificam pelo fato da ofensa
ter sido assacada em estado emocional.
O primeiro consiste na provocação direta e reprovável do ofendido. Diante disso, o injuriador
revida a ofensa recebida, injuriando o provocador. O legislador, reconhecendo que a injúria foi
assacada num momento de ira ou irritação, prevê o benefício do perdão judicial ao injuriador.
Note-se, porém, que a provocação deve ser direta, isto é, na presença do agente, e
reprovável, isto é, censurável. A provocação pode consistir num crime de calúnia ou difamação,
ameaça, lesão corporal etc., exceto injúria. Veja-se o seguinte exemplo: certa pessoa imputa a
outro fato difamatório. Esta reage, imputando-lhe uma injúria. Se ambos vierem a ser processados,
o difamador será condenado e o injuriador beneficiado pelo perdão judicial.
A segunda hipótese ocorre quando o ofendido responde com uma injúria à ofensa injuriosa. É
o instituto da retorsão imediata, consistente na injúria pela injúria. Veja-se o exemplo de
Magalhães Noronha: “Certo professor, irritado com o aluno que não sabia o ponto, bradou ao
bedel: ‘Sr. F., traga um feixe de capim’; ao que o discípulo retrucou: ‘Para mim uma xícara de café’.
Noutras palavras, o professor injuriou o aluno. Este, por sua vez, respondeu com uma nova injúria
ao professor, pedindo uma xícara de café, dando, pois, a entender que o feixe de capim era para o
professor. Na hipótese de um processar o outro, o professor seria condenado e o aluno receberia o
perdão judicial”. Como se vê, a retorsão imediata não gera a compensação de injúrias, pois o
perdão judicial é concedido apenas àquele que respondeu com injúria à injúria.
53
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
INJÚRIA REAL
Injúria real é a cometida mediante violência ou vias de fato aviltantes por sua própria
natureza ou pelo meio empregado.
Dispõe o § 2º do art. 140 do Código Penal:
“Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio
empregado, se considerem aviltantes”.
Justifica-se a maior gravidade do delito, punido com detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano,
além da pena correspondente à violência, pela intensa humilhação sofrida pela vítima, lesada
simultaneamente em sua honra e na integridade física ou fisiopsíquica.
Na injúria real, as vias de fato e a violência física são empregadas para ofender a dignidade ou
decoro da vítima. A lei não contempla a injúria real mediante grave ameaça.
Indispensável, portanto, a presença do animus injuriandi, caso contrário o delito a identificar-
se será o de lesão corporal (CP, art. 129) ou a contravenção de vias de fato (LCP, art. 21).
Saliente-se, contudo, que, identificado o animus injuriandi, o agente responderá por injúria
real em concurso material com o delito de lesão corporal do art. 129 do Código Penal. É o que
expressamente dispõe o preceito secundário do § 2º do art. 140 do Código. Malgrado a presença
do concurso formal, pois o agente com uma só conduta ofende a honra e a integridade corporal ou
a saúde da vítima, o estatuto penal determina a aplicação da regra do concurso material, somando-
se, então, as penas (CP, art. 69).
Todavia, a injúria real cometida mediante vias de fato recebe tratamento distinto. A aludida
contravenção do art. 21 da Lei das Contravenções Penais é absorvida pela aplicação do princípio da
consunção, respondendo o agente apenas pelo delito de injúria real.
A caracterização da injúria real, a par do animus injuriandi, está condicionada ao caráter
aviltante, isto é, humilhante, da violência ou vias de fato.
A violência (termo designado para abranger a lesão corporal) e as vias de fato podem ser
aviltantes:
a) por sua própria natureza. Exemplos: rompimento de vestes femininas com o intuito de
submeter a vítima ao ridículo da nudez; arrancamento de um fio de barba com o propósito
aviltante;
b) pelo meio empregado: é o instrumento aviltante. Exemplos: surrar com chicote de rabo de
tatu; atirar excremento ao rosto.
Como bem se vê por esses vários exemplos, hauridos no ensinamento de Euclides Custódio
Silveira, na injúria real é indispensável o propósito de injuriar, caso contrário o agente responderá
apenas pelas infrações do art. 129 do Código Penal ou do art. 21 da Lei das Contravenções Penais.
54
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
cominada aos delitos de autoaborto (CP art.124) e homicídio culposo (CP, art.121 § 3º).
Urge, para que o delito se caracterize, que a ofensa contenha elementos referentes à raça,
cor, etnia, religião, origem, idade ou deficiência. Não basta que a motivação seja discriminatória. É
essencial que o dito ofensivo contenha, em termos objetivos, uma expressão discriminatória. Não
configura o delito quando se chama, por exemplo, um árabe de “pão duro“. Ao revés, haverá o
delito quando se disser: “você é um árabe pão duro”. Como se pode perceber, nesse último
exemplo, a ofensa contém a utilização de elementos discriminatórios referentes à etnia.
Caracteriza-se também o delito quando se chama alguém de “judeu”, “baiano”, “japa”, “velho”,
“cego”, “surdo”, “aleijado”, etc., com o propósito de ofender-lhe a honra subjetiva.
Raça é o conjunto de indivíduos cujos caracteres somáticos, tais como a cor da pele, a
conformação do crânio e do rosto, o tipo de cabelo, etc., são semelhantes e se transmitem por
hereditariedade, embora variem de indivíduo para indivíduo. Trata-se de um conceito biológico.
Etnia é o grupo biológico e culturalmente homogêneo. A expressão é empregada para
designar os costumes de um povo. Trata-se de um conceito cultural, tendo em vista que o aspecto
biológico da etnia já integra o conceito de raça.
Cor é o colorido da pele. Trata-se de um dos componentes da raça.
Religião é qualquer doutrina que cultua a existência de uma força superior ou sobrenatural.
Origem é a procedência da pessoa, referente a lugar ou ascendência.
Idoso, para efeitos desta qualificadora, é a pessoa de 60 anos ou mais (art.1º da lei nº
10.741/2003).
A deficiência para caracterizar esta circunstância majorante pode ser mental ou física
adotando-se os critérios de Organização Mundial de Saúde. Num e noutro caso a lei pune mais
severamente o desrespeito a essas pessoas.
A lei não prevê a qualificadora quando a ofensa contém elementos referentes a sexo e
convicção política.
Note-se que não abrange a discriminação por orientação sexual. Entretanto, de acordo com o
STF, os tipos penais que incriminam o preconceito racial também se aplicam à homofobia e, nessa
linha de raciocínio, a discriminação por preconceito sexual também poderá caracterizar crime de
injúria preconceituosa, mas o assunto certamente ensejará polêmica.
O delito em estudo assemelha-se ao crime de racismo previsto no art. 20 da lei nº 7.716/89,
cujo teor é o seguinte:
“Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional. Pena - reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos e multa”.
No delito de racismo, acima transcrito, o agente realiza uma conduta de apologia à
discriminação ou preconceito. Não objetiva a ofensa a pessoa ou pessoas determinadas, e sim a
incitação do preconceito, de maneira impessoal. Portanto, o sujeito passivo é a coletividade de
pessoas que integram o grupo ofendido. Caracteriza-se, por exemplo, o delito de racismo quando
se instiga uma certa pessoa a odiar membros de uma determinada raça ou então quando se publica
uma mensagem instigadora do preconceito de raça, cor, etc.
Na injúria qualificada, ao contrário, a ofensa se dirige a pessoa ou pessoas determinadas, e
não ao grupo como um todo. Se, porém, a ofensa preconceituosa for assacada contra uma pessoa
com a intenção de incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, etc, haverá concurso
formal entre a injúria qualificada e o delito de racismo. Tal ocorre quando, por exemplo, o agente
ofende publicamente uma pessoa com a intenção de incitar os presentes ao preconceito de raça,
cor, etc.
Convém salientar que no delito de racismo a ação é pública incondicionada, ao passo que na
injúria qualificada a ação é pública condicionada à representação da vítima, conforme Lei
55
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O art. 141 contém regras sobre o aumento da pena nos crimes contra a honra, em suas três
modalidades: calúnia, difamação e injúria.
Dispõe que as penas cominadas a estes delitos aumentam-se de um terço, se cometidos:
I. contra presidente da República ou chefe de governo estrangeiro;
II. contra funcionário público, em razão de suas funções, ou contra os Presidentes do Senado
Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal;
III. na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, injúria e
difamação;
IV. contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto em caso de
injúria.
A primeira dessas causas, crime cometido contra a honra do presidente da República ou de
chefe de governo estrangeiro, tem seu fundamento na alta relevância política desses cargos,
dispensando-se, para a incidência da majorante, o nexo entre a ofensa e a função pública, sendo
imprescindível, porém, que o agente tenha consciência do cargo ocupado pelo ofendido.
Tratando-se de ofensa a chefe de governo estrangeiro, como esclarece Heleno Cláudio
Fragoso, de nenhuma importância é o fato de manter o Brasil relações diplomáticas com o país de
que se trata. A expressão “Chefe de Governo Estrangeiro” compreende o Presidente da República e
o Primeiro - Ministro, tendo em vista que essas duas autoridades são representativas do governo
estrangeiro, ocupando o cargo máximo do Estado.
A segunda majorante, crime contra funcionário público, em razão de suas funções, ou contra
os Presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal, visa
amparar o respeito a função pública.
A inclusão da majorante em relação aos Presidentes do Senado Federal, da Câmara dos
Deputados ou do Supremo Tribunal Federal, ocorreu com o advento da Lei 14.197/2021, que
revogou a Lei de Segurança Nacional.
56
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
57
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
meu ver, com o advento da lei 12.850/2013, que alterou a redação do art.288 do CP e passou a
exigir para a caracterização do crime de associação criminosa “3 (três) ou mais pessoas”, o
significado do termo “várias” também sofreu mutação, para abranger no mínimo 5 (cinco) pessoas,
pois se a lei quisesse abarcar apenas 3 (três) teria dito 3 (três) ou mais pessoas. A doutrina,
entretanto, ainda não se atentou para isso e continua interpretando a expressão “várias” como
sendo no mínimo 3 (três) pessoas.
Pondere-se, porém, que nesse número não se computam as vítimas e nem os demais
coautores e partícipes. Excluem-se, também, as pessoas que não têm capacidade de entender a
ofensa, como as crianças, loucos e surdos. É preciso ainda que o agente tenha consciência de estar
na presença de várias pessoas. Urge ainda, para a incidência da majorante, que o agente tenha
consciência da pluralidade de pessoas presentes. A quarta causa de aumento de pena se configura
quando o crime for cometido por meio que facilite a divulgação. A ratio legis é idêntica à hipótese
anterior. Exemplos: imprensa (televisão, rádio, jornal e periódicos), pintura, vitrola e cartaz. Não se
exige a efetiva divulgação, mas é preciso o emprego efetivo de meio capaz de facilitar a divulgação.
Finalmente, a majorante do inciso IV abrange as seguintes situações:
a) vítima maior de 60 (sessenta) anos;
b) vítima portadora de deficiência, que pode ser física ou mental, pois a lei não faz qualquer
distinção.
c) vítima criança ou adolescente. Criança é a pessoa que ainda não atingiu doze anos.
Adolescente é a pessoa entre doze anos completos e dezoito incompletos (art. 2º da Lei 8.069/90).
As duas primeiras situações foram introduzidas pela Lei 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) e a
última, vítima criança ou adolescente, pela Lei 14.344/2022.
Esta majorante do inciso IV não se aplica ao crime de injúria preconceituosa, previsto como
qualificadora no § 3º do art. 140 do CP, que consiste na utilização de elementos referentes à raça,
cor, etnia, religião, origem ou condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência.
Caso a ofensa não contenha nenhum dos elementos acima, a injúria será simples, hipótese
em que incidirá o aumento da pena do inciso IV.
Se a ofensa contiver elementos referentes à raça, cor, etnia, religião, origem, mas não se
referir à condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência, ainda assim não será aplicada a
majorante do inciso IV, que excluiu a injúria preconceituosa do âmbito de sua incidência, sem
fazer qualquer ressalva.
Antes do advento da Lei 14.344/2022, a majorante do inciso IV não se aplicava a nenhum tipo
de injúria, mas a partir de sua edição a exclusão se restringe à injúria qualificada do §3º do art. 140
do CP.
58
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
59
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A causa de aumento de pena em análise não se aplica às redes sociais da intranet, pois é
vedada a analogia “in malam partem”.
Quanto às redes sociais da internet, embora disponíveis a todos, nem sempre é aberta ao
público, pois inúmeras delas podem ser utilizadas em caráter privado, onde o acesso é restrito a
pessoas autorizadas pelo usuário, hipótese em que também não se justifica o aumento em triplo da
pena, pois a situação se assemelha à intranet. Exemplos: grupo fechado de WhatsApp, Facebook
privado, Twitter privado.
De fato, não teria cabimento em se triplicar a pena quando, por exemplo, o delito for
praticado numa rede de WhatsApp, cujo acesso é restrito aos pais, filhos, tios e avós.
Interpretação diversa feriria o princípio da proporcionalidade da pena.
Por fim, a majorante em análise afasta a incidência da prevista no inciso III do art. 141 do
CP, pois se refere a um meio específico de divulgação.
EXCLUSÃO DO CRIME
Estabelece o art. 142 do Código Penal que não constituem injúria ou difamação punível:
I. a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador;
II. a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a
intenção de injuriar ou difamar;
III. o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação
que preste no cumprimento de dever de ofício.
Trata-se de dispositivo oriundo do Código alemão, que o nosso direito anterior desconhecia.
Vê-se, desde logo, que o preceito em análise não se refere à calúnia, limitando-se a
imunidade à difamação e injúria.
A primeira causa de exclusão do crime é a chamada imunidade judiciária. Assim, não constitui
crime a injúria ou a difamação irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou seu pro-
curador.
O motivo preponderante da ofensa é o animus defendendi, pouco importando se
simultaneamente houve o propósito de ofender.
A imunidade aproveita apenas às partes e aos seus procuradores. A palavra parte
compreende todos os sujeitos da relação processual, diversos do juiz, a saber: autor, réu, Ministério
Público, assistente, opoente e litisconsorte. A expressão procurador abrange o constituído, o dativo
e o ad hoc.
No tocante ao Ministério Público, ousamos divergir de Hungria ao dizer que o representante
do parquet só pode invocar a imunidade quando for autor da ação. Ora, nos processos em que atua
como custos legis, o promotor de justiça não deixa de ser parte. No sentido puramente processual,
parte compreende todo aquele que atua no contraditório, não se podendo negar esse atributo ao
representante do Ministério Público, mesmo nas hipóteses em que funciona como fiscal da lei.
A imunidade só tem incidência se a ofensa irrogada em juízo tiver nexo com a discussão da
causa.
Mister a presença de dois requisitos:
60
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
imunidade (RT, 543:431). O benefício alcança qualquer forma de processo (civil, penal, trabalhista,
administrativo etc.).
b) Relação entre a ofensa e a causa em discussão. Exclui-se a imunidade se, por exemplo, nos
debates orais ou por escrito um advogado chamar o outro de homossexual.
O Estatuto da OAB prevê a imunidade em relação aos crimes de injúria, difamação e desacato.
Quanto à calúnia, não há imunidade. Andou bem o legislador em omiti-la, porque na calúnia é
admitida a exceção da verdade. Não há, portanto, necessidade de imunidade, diante da amplitude
da defesa, que permite a demonstração da verdade como causa de exclusão o crime.
No tocante ao desacato, o Supremo Tribunal Federal, em liminar concedida aos 06 de outubro
de 1994, na ação declaratória de inconstitucionalidade (ADIn) nº 1127-8, suspendeu a eficácia do
termo desacato.
A segunda causa de exclusão do crime é a denominada imunidade literária. Dispõe o inciso II
do art. 142 do Código que não constitui injúria ou difamação a opinião desfavorável da crítica
literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar.
A última causa de exclusão do crime é a denominada imunidade funcional. Dispõe o inciso III
do art. 142 do Código que não constituem injúria ou difamação o conceito desfavorável emitido por
funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever de ofício.
RETRATAÇÃO
61
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A retratação deve ser feita pelo querelado ou procurador com poderes especiais. Não exige
fórmula sacramental, mas deve abranger todo o fato criminoso.
A oportunidade para o ofensor retratar-se é até antes da sentença de primeira instância na
ação penal.
Em regra, a ação penal nos crimes contra a honra tem natureza privada (art. 145 do CP).
Excepcionalmente, porém, a ação é pública. Senão vejamos:
a) Quando o crime é cometido contra funcionário público, em razão da função, a ação penal é
de natureza pública condicionada à representação. Por exemplo: ofensa contra prefeito, juiz de
direito, deputado, escrevente etc. O Supremo Tribunal Federal, porém, acertadamente, vem
admitindo, para a hipótese, a chamada “legitimação concorrente”, sustentando que a ação penal
tanto pode ser privada quanto pública condicionada à representação do ofendido. Argumenta-se
que a honra é um direito individual constitucional, previsto no art. 5º, X, da CF, razão pela qual o
funcionário público pode defendê-la pessoalmente como qualquer outro cidadão. Trata-se, a rigor,
de aplicação do princípio da isonomia.
b) Quando o crime é cometido contra o presidente da República ou chefe de governo
estrangeiro, a ação penal tem natureza pública condicionada à requisição do ministro da Justiça.
c) Na injúria real, resultando lesão corporal grave ou gravíssima, a ação penal é de natureza
pública incondicionada. Mas se houver apenas lesão leve a ação penal será pública condicionada à
representação (art. 101 do CP c/c o art. 88 da Lei n. 9.099/95). E, no caso de vias de fato, a ação
será privada.
d) No crime contra honra eleitoral, a ação é pública incondicionada (art. 355 do Código
Eleitoral).
e) No crime de injúria qualificada, previsto no parágrafo 3º do art. 140 do CP, a ação penal é
pública condicionada à representação da vítima, conforme Lei 12.033, de 29 de setembro de 2009,
que alterou o parágrafo único do art. 145 do CP.
Introdução
O stalking, que é o fato de perseguir alguém, de forma contínua, começou a ser seriamente
discutido somente nos anos de 1980, desencadeado pela perseguição e morte de algumas
celebridades, por fãs, como foi o caso do cantor John Lennon.
A partir dos anos de 1990, passou a ser incriminado nos EUA e nos países europeus, de forma
ampla, não se restringindo apenas à perseguição de celebridades.
No Brasil, o fato se enquadrava como contravenção de perturbação da tranquilidade, prevista
no art. 65 da LCP.
Com o advento da Lei 14.132/2021, que introduziu no Código Penal o art. 147-A, o stalking se
tornou crime e a contravenção de perturbação da tranquilidade foi expressamente revogada.
O tipo penal em análise tem potencial pedagógico similar à da Lei Maria da Penha, para
impulsionar o comportamento humano no rumo da civilidade, coibindo todo e qualquer tipo de
perseguição, inclusive, a que atenta contra a liberdade de autodeterminação, violada com
frequência no próprio núcleo familiar, tendo as mulheres como principais vítimas.
62
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Conceito
O delito em análise, que foi introduzido pela Lei 14.132/2021, também é conhecido como
“stalking”, palavra da língua inglesa que significa perseguição.
Sujeito ativo
Objetividade jurídica
Tutela-se a liberdade pessoal, assegurada no art. 5º, caput, da CF, em seus dois aspectos:
a) liberdade psíquica. É o direito à tranquilidade, à paz interna, à privacidade.
b) a liberdade física. É o direito de locomoção, ou seja, de ir, vir e permanecer livremente no
local de escolha.
O consentimento da vítima, desde que ela seja maior e capaz, exclui o delito.
Sujeito passivo
63
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
64
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Conquanto o tipo penal se refira apenas à perseguição com ameaça à integridade física ou
psicológica, por interpretação extensiva, também se encontra abrangido pelo tipo penal o fato mais
grave, que é a perseguição com efetiva violência física ou psicológica.
Aliás, no caso de violência física, haverá concurso material entre o delito de stalking e o delito
correspondente à violência (por exemplo, homicídio ou lesão corporal), nos termos do §2º do art.
147-A do CP.
Ameaça é a intimidação ou atemorização pela promessa de malefício.
Não se exige, ao contrário do delito de ameaça do art. 147 do CP, que se trate de um mal
injusto e grave.
Se o mal prometido for justo, ou seja, permitido pelo ordenamento jurídico, o seu emprego
reiterado, que extrapola os limites do razoável, como instrumento de perseguição, também
ensejará o delito em análise. Exemplos: ameaças continuas feitas pelo credor ao devedor de propor
ação de cobrança, de protestar o título de requerer a penhora de bens.
A integridade física é violada com a lesão nos tecidos internos ou externos do corpo.
65
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
66
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A privacidade é o direito de viver em paz, sem ser incomodado por terceiros, nos aspectos da
vida privada.
Na invasão, o stalker tem acesso às informações de caráter privado. Não é necessário, para o
delito, que os fatos sejam reservados ou sigilosos.
Exemplo: o marido vasculha com frequência o WhatsApp e os e-mails de sua mulher, ou vice-
versa. Outro exemplo: o sujeito, ao ser bloqueado, usa, de forma reiterada, perfis falsos para fazer
parte das redes sociais da vítima.
Na perturbação, por sua vez, o stalker importuna, incomoda ou irrita a vítima. Exemplo: o ex-
namorado manda flores todos os dias. Outro exemplo: e-mails sucessivos para galantear a vítima.
Mais um exemplo: o namorado, com frequência, aborda os fatos do passado íntimo de sua
namorada. É claro que o delito para se caracterizar exige a ciência do dissenso da vítima.
Nesta modalidade criminosa, também não há necessidade de ameaça.
Convém esclarecer que, no casamento ou união estável, também existe privacidade em
relação ao outro cônjuge ou companheiro, em relação a determinados fatos ou assuntos que não
sejam do interesse comum do casal.
No tocante à vida pública, inerente às pessoas que exercem funções públicas, não há falar-se
em privacidade, mas o delito pode se configurar quando houver invasão ou perturbação dos fatos
de sua vida privada.
A privacidade também existe em local público, pois se trata do direito de não ser
incomodado.
Quanto às pessoas famosas, perseguidas, de forma contínua, pelos “paparazzis” e fãs, é
preciso distinguir duas situações:
a) a celebridade se encontra em local público ou aberto ao público, sendo então fotografada.
Nesse caso, diante do consentimento tácito, ainda que o stalker faça isso centenas de vezes, não há
falar-se em crime. O delito, porém, pode se caracterizar na abordagem em local público, para obter
um autógrafo ou tirar uma foto, que já lhe havia sido negado, por exemplo, em outras vinte
oportunidades, pois a reiteração desse comportamento caracteriza uma perturbação criminosa ao
direito de liberdade.
b) a celebridade se encontra em sua residência ou em recinto privado, não aberto ao público.
Nesse caso, as sucessivas perseguições dos paparazzis ou fãs, que invadem o local, podem
caracterizar o delito em estudo, mas o ato de ficar esperando na rua para fotografar a
personalidade, não chega a caracterizar crime, pois o assédio é inerente à fama.
Por fim, a invasão de dispositivo informático com o fim de obter, adulterar ou destruir dados
ou informações, é delito do art. 154-A do CP.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste vontade de perseguir alguém, por
qualquer meio, através da reiteração de uma das condutas descritas no tipo penal, consciente do
dissenso da vítima.
Se a vítima adere ou estimula o comportamento, não há falar-se em crime.
A pessoa que expõe nas redes sociais certos acontecimentos de sua vida privada não poderá
reclamar da invasão da privacidade por estes fatos, mas, em relação aos demais fatos de sua vida
privada, se mantém intacto o seu direito à privacidade.
O dolo será direto ou eventual, conforme o agente tenha certeza ou dúvida acerca do
dissenso da vítima.
67
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Quanto à culpa, constitui fato atípico. Exemplo: o ex-namorado, estimulado pela mãe da
vítima, acreditando estar sendo correspondido, manda flores durante cem dias.
Consumação
Tentativa
O §1º do art. 147-A do CP prevê que a pena é aumentada de metade se o crime é cometido:
I – contra criança, adolescente ou idoso.
Criança é a pessoa que ainda não completou doze anos (art. 2º da Lei 8.069/90).
Adolescente é a pessoa com doze anos completos e dezoito incompletos.
Idoso é o maior de sessenta anos (Lei 10.741/2003).
Adotou-se, para as três situações, o critério cronológico em detrimento da aparência, pouco
importando se esta é frágil ou forte.
II – contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do §2º-A do art. 121
do CP.
Trata-se da perseguição por razões de gênero, que é a motivada pelo fato de a vítima ser
mulher.
Nesse caso, é preciso verificar se há ou não uma das situações de violência doméstica e
familiar, que estão previstas no art. 5º da Lei 11.340/2006.
Presente uma destas situações de violência doméstica e familiar, para a incidência da
majorante, basta a perseguição por razões de gênero, ainda que não haja o fim de menosprezar ou
discriminar a condição de mulher. Exemplo: ex-namorado persegue a vítima por não concordar que
ela trabalhe.
Fora das situações de violência doméstica e familiar, porém, para incidir a majorante, além da
perseguição por razões de gênero, é ainda preciso a finalidade de menosprezar ou discriminar a
condição de mulher.
Ou seja, se houver as razões de gênero, mas sem o fim de menosprezar ou discriminar a
condição de mulher, exclui-se a majorante, salvo quando presente uma das situações de violência
doméstica e familiar.
68
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Este delito do art. 244-B do ECA, segundo a súmula 500 do STJ, é formal, independe da prova
da efetiva corrupção do menor.
Outra corrente, porém, acertadamente, o encara como crime material, dependente da prova
da efetiva corrupção.
Por outro lado, a majorante do emprego de arma, para se caracterizar, exige o uso ou porte
ostensivo da arma durante a prática da conduta.
A arma pode ser:
a) própria: é a que tem a finalidade específica de ataque ou defesa. Exemplos: armas de fogo,
punhal, soco inglês.
b) imprópria: é a que serve para ataque ou defesa, embora não seja esta a sua finalidade
específica. Exemplos: tesoura, caco de vidro, pedaço de pau.
Quanto à arma de brinquedo, não é arma e, dessa forma, não majora a pena do delito.
Com relação à arma de fogo, é preciso distinguir as seguintes situações:
a) o agente tem o registro, mas não tem o porte da arma. Nesse caso, se o delito de
perseguição for praticado no interior de sua residência, incide a majorante em análise, mas se
praticado fora, será excluído, para se evitar o “bis in idem”, pois ele já responderá pelo crime de
porte de arma de fogo, previsto no Estatuto do Desarmamento, que é mais grave.
b) o agente tem o registro e o porte da arma de fogo. Nesse caso, incidirá a majorante em
análise, tendo em vista a não caracterização dos crimes de posse ou porte de arma de fogo.
c) o agente não tem o registro nem o porte de arma de fogo. Nesse caso, exclui-se a
majorante, para se evitar, o “bis in idem”, pois ele já responderá pelo crime de posse ou porte ilegal
de arma de fogo.
Noutras palavras, nas hipóteses em que o emprego da arma de fogo caracterizar o crime de
porte ou posse de arma de fogo, exclui-se a majorante, para se evitar o “bis in idem”.
Se, ao revés, não se tipificar o delito de posse ou porte de arma de fogo, incide a majorante
quando houver o seu emprego na conduta de perseguir.
Quanto ao agente que adquire a arma de fogo com a finalidade específica de perseguir a
vítima, utilizando-a apenas para isso, há duas interpretações.
Primeira, responde somente pelo delito de stalking, com a majorante em análise, impondo-se
a absorção do crime de posse ou porte de arma de fogo, por força do princípio da consunção.
Segunda, responde pelo delito de stalking, sem a referida majorante, em concurso com o
crime de posse ou porte de arma de fogo, que é mais grave que aquele, o que inviabiliza a sua
absorção, por razões lógicas.
Por fim, a incidência da aludida majorante pressupõe que haja também a habitualidade no
“perseguir com emprego de arma”.
Em havendo, destarte, o emprego da arma em apenas um dos atos de perseguição, não há
falar-se na majorante em análise, aplicando-se o mesmo raciocínio para a majorante do concurso
de pessoas.
O assunto, porém, ensejará polêmica, certamente se sustentará que um único ato praticado
com emprego de arma ou em concurso de pessoas já será suficiente para a incidência das referidas
majorantes.
Concurso material
69
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Medidas protetivas
As medidas protetivas, previstas na Lei Maria da Penha, só podem ser aplicadas ao delito de
stalking quando a vítima for mulher em situação de violência doméstica e familiar.
Assim, uma mulher que é, por exemplo, perseguida, nas redes sociais, por um desconhecido,
não poderá pleitear as referidas medidas protetivas.
O ideal seria que, através de lei, houvesse a ampliação da possibilidade de aplicação das
medidas protetivas, para toda e qualquer situação em que o delito de stalking for praticado.
Será, entretanto, possível a aplicação das medidas cautelares pessoais, previstas no art. 319
do CPP, com destaque para a proibição de frequentar determinados lugares ou de manter contato
com a vítima, previstas, respectivamente, nos incisos II e III.
I - ataques físicos;
II - insultos pessoais;
III - comentários sistemáticos e apelidos pejorativos;
IV - ameaças por quaisquer meios;
V - grafites depreciativos;
70
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
VI - expressões preconceituosas;
VII - isolamento social consciente e premeditado;
VIII - pilhérias.
Como se pode verificar, o stalking, na sua primeira modalidade, perseguição com ameaça à
integridade física ou psicológica, se assemelha ao bullying, pois ambos se referem à ameaça à
integridade física ou psicológica.
O bullying, entretanto, exige que a conduta cause dor ou angústia à vítima, sendo, pois, um
ilícito material, ao passo que, no stalking, os aludidos resultados são dispensados, revelando-se,
destarte, nesta modalidade, um crime formal.
A relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas é exigida no bullying e
dispensada no stalking.
Assim, o bullying deve ser vertical descendente, ou seja, praticado de cima para baixo, ao
passo que o stalking pode ser vertical descendente, paritário ou horizontal (pessoas em situação de
pé de igualdade) e vertical ascendente (praticado de baixo para cima).
Não há o delito específico de bullying, mas o fato se enquadra como crime de stalking em sua
forma de ameaça à integridade física ou psicológica.
Aliás, antes de se consumar o bullying, que é um ilícito material, já pode se consumar o crime
correspondente de stalking, que é formal.
Por fim, há ainda o mobbing, que é o assédio moral, caracterizado pela humilhação ou
constrangimento, repetitivo e prolongado, no ambiente laborativo. Não há uma lei específica sobre
o assunto, mas algumas situações se confundem com o bullying e outras podem caracterizar crime
de stalking, ainda que não se enquadrem como bullying. E há também assédios morais que não se
tipificam como bullying nem stalking.
Conceito
Sujeito ativo
Trata-se de crime comum, praticável por qualquer pessoa, tanto pelo homem quanto pela
mulher.
O funcionário público, também pode cometer o delito. Exemplo: o policial humilha
determinada mulher durante uma blitz, causando-lhe dano emocional.
Objetividade jurídica
71
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O bem jurídico protegido é a saúde psicológica da mulher, bem como a sua liberdade de
autodeterminação.
A saúde psicológica é o sofrimento oriundo do dano emocional.
A liberdade pessoal ou de autodeterminação compreende a liberdade física e a liberdade
psíquica ou interna.
A liberdade física é o direito de locomoção, que consiste no poder de ir, vir e permanecer
livremente no local de sua escolha.
A liberdade psíquica ou interna é o direito de formar livremente a vontade e de agir conforme
a própria consciência.
Sujeito passivo
72
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
73
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste na vontade consciente de causar o dano
emocional na mulher.
Não há necessidade do dolo direto, que é o fato de o agente querer causar o dano emocional,
pois também se admite o dolo eventual, que é a assunção do risco de produzir este dano.
A conduta culposa de violência psicológica contra mulher, que lhe causa dano emocional, não
configura o delito em análise, por falta de previsão legal. Exemplo: o marido escreve em sua agenda
secreta as supostas traições da mulher, sem a intenção de lhe entregar, mas ela acaba tomando
ciência, ao vasculhar a gaveta onde se encontrava a referida agenda e, em razão disso, acaba
sofrendo dano emocional.
No tocante à conduta dolosa de violência psicológica, que produz culposamente o dano
emocional à mulher, não configura o delito em análise, pois este se revela incompatível com o
preterdolo.
Insustentável, data venia, o ponto de vista que admite a incidência do tipo penal em análise
quando da violência psicológica contra mulher sobrevier um dano emocional culposo, pois,
consoante se depreende do art. 19 do CP, não se pode admitir o preterdolo senão em relação aos
delitos que sejam qualificados pelo resultado.
Ainda sobre o elemento subjetivo, convém relembrar que não se exige as razões de gênero
nem a situação de violência doméstica e familiar contra mulher, prevista na Lei 11.340/2.006.
Consumação
74
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
75
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
da mulher, conduta que se reveste de maior gravidade, o delito se consuma com o dano emocional
simples, facilitando-se, destarte, a sua consumação.
Se, ao revés, o agente não age para prejudicar nem perturbar o modo de pensar, de agir ou
de se locomover da vítima, conduta que se reveste de menor gravidade, o delito, para se consumar,
exige o dano emocional qualificado, dificultando-se assim a sua consumação, conferindo-se uma
importância maior ao resultado naturalístico.
Por fim, o dano emocional deverá ser concretamente descrito na denúncia do Ministério
Público, sob pena de inépcia da peça acusatória.
Tentativa
Admite-se a tentativa, quando o dano emocional previsto no tipo penal não ocorrer por
circunstâncias alheia à vontade do agente.
Ação Penal
Concurso de crimes
76
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
No tocante à agravante prevista no art. 61, II, “f”, do CP, aplicável aos crimes cometidos “com
violência contra mulher na forma da lei específica”, há duas correntes.
Primeira, não incide no crime de violência psicológica, tendo em vista que a violência contra
mulher já é elemento do tipo.
Segunda, incide no crime de violência psicológica, mas somente quando houver
simultaneamente as razões de gênero e a situação de violência doméstica e familiar contra mulher,
que são os requisitos da lei específica, conforme art. 5º da Lei 11.340/2.006.
Esta última corrente é a mais correta, pois a aludida agravante não é elementar do tipo penal
de violência psicológica contra mulher, tanto é que, para a sua incidência, não basta a vítima ser
mulher.
Por consequência, à medida que não é elemento constitutivo do tipo penal, deverá
obrigatoriamente ser levada em consideração na aplicação da pena, quando presentes os seus
requisitos.
A violência psicológica contra mulher, que é definida no art. 7o, II, da Lei 11.340/2.006
abrange, em síntese, duas situações:
a) a conduta que causa dano emocional à mulher.
b) a conduta que visa degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e
decisões, ainda que não lhe cause dano emocional.
Em contrapartida, o delito de violência psicológica contra mulher, previsto no art. 147-B do
CP, só se refere à primeira situação, ou seja, à violência psicológica que causa dano emocional.
É assim perfeitamente possível que haja violência psicológica contra mulher, sem que se
configure o respectivo crime de violência psicológica.
Qualquer crime pode se enquadrar na Lei Maria Penha, quando houver violência psicológica
contra mulher, nos termos do citado art. 7º, II, somada às razões de gênero e a uma das situações
de violência doméstica e familiar contra mulher, previstas no art. 5º da Lei 11.340/2.006.
O delito de “stalking”, previsto no art. 147-A do CP, tem, dentre outras, as seguintes
características:
77
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
FURTO
CONCEITO
Trata-se de crime comum ou geral, podendo ser cometido por qualquer pessoa, exceção feita
ao furto qualificado pelo abuso de confiança, previsto no art. 155, § 4º, II, que se revela como crime
próprio.
Por outro lado, o possuidor e detentor da coisa também podem cometer delito de furto,
quando a posse ou detenção for vigiada. Exemplo: o aluno subtrai o livro que consultava no interior
da biblioteca. Se, porém, a posse ou detenção for desvigiada, haverá apropriação indébita, e não
furto. Exemplo: o aluno toma emprestado o livro da biblioteca e depois se recusa a devolvê-lo.
Note-se que o furto é delito de forma livre, admitindo inúmeros meios de execução. Assim,
responde por furto o agente que realiza a subtração valendo-se de um animal especialmente
adestrado para tal fim.
O objeto material do furto é a coisa alheia móvel.
O termo “alheia” é elemento normativo do tipo, pois se trata de expressão jurídica,
relacionando-se com a propriedade da coisa. Não há furto quando se trata de res nullius (coisa que
jamais teve dono) ou res derelicta (coisa abandonada), pois, a apropriação desses bens é o meio
lícito para obtenção do domínio (CC, art. 1263).
78
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Exclui-se o delito quando o agente realiza a subtração supondo erroneamente que a vítima
havia consentido.
Vale ainda ressaltar que o ouro da arcada dentária do esqueleto não constitui res nullius nem
res derelicta. Com a morte, a propriedade dos bens do de cujus é imediatamente transmitida aos
herdeiros (Princípio de Saisine). Portanto, todos os objetos sepultados com o morto pertencem aos
sucessores do defunto, que figuram como sujeitos passivos do eventual delito de furto. Ressalte-se,
porém, que o delito de violação de sepultura, previsto no art. 210 do Código Penal, é absorvido
pelo furto, previsto no art. 155, § 4º, I, do Código Penal, porque além de ter sido meio de execução
da subtração, ainda funciona como qualificadora do rompimento ou destruição de obstáculo. A
absorção é justificada pelos princípios da consunção e subsidiariedade implícita. Há, porém, quem
sustente que o ouro enterrado junto com o defunto é res derelicta, de modo que a subtração é fato
atípico, respondendo o agente apenas pelo crime de violação de sepultura do art.210 do CP.
Se, por outro lado, o agente subtrai a própria coisa, supondo-a alheia, não haverá furto, mas
crime impossível (CP, art. 17).
A subtração de pessoa não caracteriza furto, mas sequestro, extorsão mediante a subtração
de incapazes, conforme a hipótese. Todavia, as partes artificiais da pessoa podem ser objeto de
furto (exemplo: orelha de borracha e olho de vidro).
Aliás, é possível o furto de algumas partes naturais do corpo humano, passíveis de figurarem
numa relação jurídica (exemplo: subtração do cabelo com animus lucrandi). É claro que a subtração
de um rim ou outro órgão vital não é furto, e sim lesão corporal grave, podendo, dependendo da
intenção do agente, configurar delito de homicídio, consumado ou tentado.
A subtração de cadáver, em regra, constitui delito do art.211 do CP, mas desde que tenha
valor econômico, como o pertencente a alguma Faculdade de Medicina, haverá delito de furto.
Por coisas móveis, entende-se ser as que têm movimento próprio (semoventes) e as que
podem se deslocar de um lugar para outro. A árvore pode ser objeto de furto, pois, após ser
retirada do solo, torna-se bem móvel.
O direito civil, por ficção jurídica, considera bem imóvel os materiais separados
provisoriamente de um prédio demolido para nele mesmo se incorporarem, os navios e aeronaves
para o fim de hipoteca. Todavia, essas ficções civilísticas não se aplicam ao direito penal.
Quanto à energia elétrica, discutia-se no início do século passado se constituía ou não coisa
móvel. O legislador penal, com o intuito de prevenir-se de eventual celeuma, consagrou no § 3º do
art. 155 do CP uma norma penal explicativa, equiparando-se a coisa móvel a energia elétrica ou
qualquer outra que tenha valor econômico.
Toda e qualquer energia que apresenta valor econômico pode ser objeto de furto. Exemplos:
energia radioativa, energia cinética, energia atômica etc. Urge, porém, que a energia seja suscetível
de apossamento, isto é, que possa ser separada da coisa que a produz. Assim, não caracteriza furto
o apossamento da energia física do animal.
Dentre as diversas energias, merece destaque a genética, cujo valor econômico é inegável,
respondendo por furto o agente que introduz fêmea em propriedade alheia para ser fecundada
pelo animal do vizinho. Trata-se de furto de esperma, que constitui energia genética, operando-se a
consumação quando o líquido espermático é introduzido no organismo da fêmea, ainda que não
ocorra a fecundação, pois o lucro não é requisito do furto.
79
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
sibhabendi, isto é, o fim de assenhoreamento definitivo da coisa, porque o tipo faz menção à
subtração “para si ou para outrem”.
E é justamente em razão desse dolo específico, qual seja, o animus rem sibhabendi, que o
furto de uso constitui fato atípico, subsistindo, porém, a responsabilidade civil.
Verifica-se o furto de uso quando o agente subtrai a coisa, com o intuito de servir-se dela
momentaneamente para depois restituí-la. Não há o animus rem sibhabendi, qual seja, o fim de
apoderamento definitivo da coisa.
Vejamos alguns exemplos de furto de uso: o indivíduo subtrai uma bicicleta, devolvendo-a
após dar uma volta no quarteirão; o estudante subtrai um livro, devolvendo-o no dia seguinte; o
lenhador subtrai uma ovelha, devolvendo-a logo após utilizá-la no transporte de lenha.
Do exposto dessume-se que, para o reconhecimento do furto de uso, urge a presença de dois
requisitos:
a) uso momentâneo de coisa infungível. Assim, o uso duradouro constitui crime de furto.
Tratando-se de coisa fungível, como o dinheiro, nem o uso momentâneo seguido da pronta
restituição exclui o delito;
b) restituição imediata e integral da coisa.
No entanto, não há furto na hipótese de o credor subtrair bens do devedor para ressarcir-se.
Há aqui um delito específico, previsto no art. 345 do CP (exercício arbitrário das próprias razões).
Quanto ao furto famélico, isto é, para saciar a fome, não é estado de necessidade, salvo se a
subtração for o único meio de se alimentar (art.24 do CP).
CONSUMAÇÃO
TENTATIVA
Admite-se a tentativa, quando o agente não consegue subtrair o bem, por circunstâncias
alheias à sua vontade. Exemplo: o ladrão é preso em flagrante, ao adentrar na residência da vítima.
No caso do punguista que tenta subtrair a carteira da vítima, enfiando a mão no bolso da
vítima, mas nada encontrando, haverá tentativa, à vista do perigo concreto, caso a carteira se
encontre no outro bolso e crime impossível se a vítima não trazia pertence algum em nenhum dos
bolsos. Nessa última hipótese, Hungria sustenta haver tentativa, porque foi meramente acidental a
inexistência de dinheiro no bolso do transeunte. Data venia, o bem jurídico não foi exposto a
perigo, porque sequer existia a coisa, havendo crime impossível, e não tentativa.
Sobre a tentativa, cumpre examinar duas teorias:
a) Teoria formal objetiva: só há tentativa quando o agente inicia o núcleo do tipo, a ação
80
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
FURTO NOTURNO
81
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
o critério físico-astronômico, noite é o período entre o crepúsculo e a aurora. A noite é mais ampla
que o repouso noturno, que abrange apenas um pedaço dela, qual seja, a “calada” da noite.
Sobre a necessidade de a casa estar habilitada e os moradores repousando, para que incida o
aumento de um terço, as opiniões divergem.
Segundo a teoria subjetiva, a razão de ser do aumento da pena é a maior proteção à
tranquilidade dos que repousam, bem como à incolumidade da vítima, que se encontra dormindo
e, portanto, desprotegida. Os adeptos dessa exegese restringem o aumento da pena ao furto
cometido em casa habitada com os moradores repousando.
Para a teoria objetiva, o fundamento do aumento da pena é a proteção do patrimônio, que,
nesse período, encontra-se vulnerável à subtração.
Essa última interpretação realiza melhor a finalidade da lei, que visa proteger
primordialmente o patrimônio, e secundariamente a tranquilidade.
Afinal, o repouso noturno, ensina Magalhães Noronha, é o tempo em que a vida das cidades e
dos campos desaparece, em que seus habitantes se retiram, e as ruas e as estradas despovoam,
facilitando essa circunstância a prática do crime. Seja ou não habitada a casa, estejam ou não seus
moradores dormindo, cabe a majoração se o crime ocorreu naquele período.
Assim, incide o aumento de um terço não só em furtos de residência, mas também em
bancos, joalherias, casas comerciais, bem como de automóveis estacionados na rua, de gado
(abigeato), em suma, a qualquer furto ocorrido na calada da noite, ainda que os moradores se
achem em festa.
FURTO PRIVILEGIADO
a) aplicar a pena de detenção ao invés da pena de reclusão, cumulativa com a pena de multa.
b) reduzir a pena de reclusão de um a dois terços;
c) aplicar só a pena de multa.
Urge, para o reconhecimento do furto privilegiado, a presença de dois requisitos:
primariedade;
pequeno valor da coisa.
82
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
exclusão da ilicitude, sendo que para diversos autores é causa de destipificação da conduta.
O princípio da insignificância é aplicado quando houver irrisória ofensa ao bem jurídico e
ausência de periculosidade social da conduta. Exige-se esses dois requisitos, prescindindo-se da
análise do perfil subjetivo do criminoso, pouco importando se ele é reincidente ou portador de
maus antecedentes. A invasão de domicílio ou arrombamento para subtrair uma lata de sardinha,
por exemplo, caracteriza delito de furto qualificado, afastando-se a incidência do princípio da
insignificância, tendo em vista a periculosidade social da conduta.
Finalmente, o furto privilegiado aplica-se ao furto qualificado, conforme súmula 511 do STJ.
FURTO QUALIFICADO
Esse preceito legal consagra o furto qualificado, cuja pena é autônoma e desvinculada da
figura típica fundamental. Trata-se de qualificadora, pois tem pena própria, e não de mera causa de
aumento de pena.
À exceção do abuso de confiança, que é de caráter subjetivo, todas as demais são de natureza
objetiva, comunicando-se aos coautores e partícipes (CP, art. 30).
Destruir é desfazer, demolir. Por exemplo, explodir a porta. Romper é abrir brecha, arrombar,
arrebentar, serrar, forçar, rasgar etc. Por exemplo, abrir a porta com um “pé de cabra”.
Nos dois casos, o delito deixa vestígios, sendo imprescindível o exame de corpo delito (CPP,
art. 158). Em ambos há uma danificação, que é total no verbo “destruir”, sendo parcial no verbo
“romper”.
O delito de dano é absorvido pelo furto qualificado, por força do princípio da subsidiariedade
implícita.
A destruição e o rompimento devem ser praticadas contra obstáculo, e não sobre a própria
coisa furtada. Como diz Hungria, não é furto qualificado a subtração da árvore serrada pelo agente,
ou da porção de pano por ele cortada, pois a violência recaiu sobre a própria res furtiva.
Obstáculo é o empecilho que protege a coisa, dificultando a subtração. Vejamos alguns
exemplos de incidência da qualificadora: a) arrombar a porta da casa; b) matar o cão de guarda da
residência; c) destruir as telhas para adentrar na residência; d) cortar os fios do alarme do
automóvel ou da cerca eletrificada.
A mera remoção de obstáculo, quando destituída da danificação, não qualifica o furto.
Exemplos: desparafusar o farol do automóvel; desatar o nó da corda que prende a canoa; remoção
de telhas, etc.
Sobre o conceito de obstáculo, paira controvérsia. Para uns, deve ser exterior à coisa, e não
inerente a ela, de modo que a destruição do quebra-vento para subtrair o automóvel constitui furto
simples, porque a danificação recaiu sobre a própria coisa furtada, e, por razões lógicas, o fato
83
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
menos grave, qual seja, destruição do quebra-vento para furtar o toca-fitas do automóvel,
caracteriza também furto simples, embora o quebra-vento seja exterior ao automóvel. Para outros,
obstáculo é tudo aquilo que dificulta a subtração, seja exterior ou inerente à coisa furtada, sendo o
furto qualificado nas duas hipóteses, isto é, destruição do quebra-vento para subtrair o veículo ou o
toca-fitas. Preferimos essa última exegese, porque obstáculo é qualquer coisa que dificulta a
subtração, seja inerente ou exterior àquilo que se pretende furtar. Exemplos: o quebra-vento do
veículo; o vidro do carro; a campainha da casa; o alarme; a trava da direção do veículo; a parede da
casa, etc.
O exemplo clássico é o famulato, isto é, furto praticado por empregado. Entretanto, para que
o famulato seja furto qualificado, é necessária a presença dos dois requisitos. Ausente um ou
ambos os requisitos, exclui-se qualificadora, mas incide a agravante genérica do art. 61, inciso II,
“g”, do CP. Caracterizada a qualificadora, exclui-se a sobredita agravante, pois é vedado o bis in
idem. O simples vínculo empregatício é insuficiente para a configuração da relação de confiança.
Esta se traduz na lealdade ou fidelidade, a ponto de a coisa permanecer à disposição do agente. Se
as pessoas se conhecem há pouco tempo, não há falar-se em confiança. A simples relação de
parentesco também é insuficiente para o reconhecimento da qualificadora.
O furto qualificado pelo abuso de confiança distingue-se da apropriação indébita. Nesta, o
agente tem a posse ou detenção desvigiada da coisa; naquele, a posse ou detenção é vigiada.
Finalmente, a qualificadora do abuso de confiança é subjetiva, não se comunicando aos
demais agentes (art.30 do CP).
Fraude é qualquer meio apto a enganar a vítima, permitindo uma maior facilidade na
subtração do bem. Urge, no entanto, que a fraude seja empregada antes ou durante a subtração.
Exclui-se a qualificadora, quando a fraude é posterior à consumação, como no exemplo do agente
que engana uma pessoa para esconder o veículo furtado.
A fraude é qualificadora do furto e elemento do estelionato. Todavia, os dois delitos
distinguem-se nitidamente. No furto, a fraude é empregada para distrair o detentor, facilitando a
ação de subtrair. No estelionato, a fraude induz o detentor a entregar livremente a coisa, iludindo-o
a ponto de ele permitir que o agente se afaste do local levando consigo o objeto material.
Assim, o furto fraudulento é caracterizado pela clandestinidade da ação de subtrair ou então
pelo transporte da coisa contra a vontade do detentor, ao passo que o estelionato é pautado pela
tradição do bem seguida da permissão para deslocá-lo do local em que se encontra.
Como exemplo de estelionato vale lembrar o caso do falso manobrista que leva o automóvel
da pessoa, quando esta estaciona o veículo no restaurante. Igualmente, o sujeito que se apresenta
no lava rápido como encarregado da retirada do veículo, pagando a conta e dele se apropriando.
Em contrapartida, responde por furto fraudulento, o agente que distrai o vendedor enquanto
84
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
o seu comparsa subtrai os bens. Outrossim, aquele que adentra a uma loja de calçados e sai com o
sapato novo no pé, deixando o velho na caixa. Igualmente, o sujeito que, após botar gasolina no seu
veículo, distrai o frentista, afastando-se do local sem pagar a conta. Por fim, a falsa empregada
doméstica que adentra a residência da vítima, subtraindo diversos objetos.
O agente que coloca a mercadoria valiosa na embalagem da barata, pagando o valor menor,
comete furto fraudulento. Se, no entanto, troca apenas as etiquetas ao passar pelo caixa, haverá
estelionato, diante da ausência de clandestinidade.
O agente que adultera o relógio de energia elétrica para pagar menos comete estelionato, se
realiza instalação clandestina dessa energia é furto.
Escalada é a entrada do agente, por via anormal, em edifício, local destinado à habitação ou
em suas adjacências, valendo-se, para tanto, de esforço incomum, meios artificiais ou particular
agilidade. Exemplos: entrar pelo telhado, pular o muro, etc.
Escalada não é só galgar altura.Também se caracteriza quando o agente cava um túnel para
adentrar a casa da vítima. De fato, o essencial é a entrada por via imprópria de acesso ao local do
furto.
A subida em poste para furto de fio elétrico não configura escalada. Esta exige a entrada em
edifício, local destinado à habitação ou em suas adjacências.
Modernamente, para o reconhecimento da qualificadora, não basta a entrada por via
anormal, urge ainda que o agente realize esforço incomum (por exemplo: saltar um muro alto) ou
utilize meios artificiais (exemplos: escada, corda, etc.) ou revele particular agilidade (exemplo: muro
alto saltado por um campeão em salto em altura).
Finalmente, a prova pericial só é necessária quando a escalada deixa vestígios. Caso contrário,
a qualificadora pode ser provada por outro meio.
85
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Chave falsa é todo e qualquer instrumento apto a abrir fechaduras. Exemplos: gazuas, pedaço
de arame, micha, clips, etc. Anote-se que a chave falsa pode ou não ter formato de chave. Discute-
se na jurisprudência se a ligação direta do veículo caracteriza ou não chave falsa.
A abertura com a chave verdadeira, obtida ilicitamente pelo agente, não caracteriza chave
falsa, pois não se pode fazer analogia in malam partem. Discordamos da corrente que justifica
qualificadora, considerando como sendo chave falsa qualquer abertura ilícita, desconsiderando o
princípio da tipicidade.
A cópia da chave verdadeira, quando obtida licitamente, não é chave falsa. Se, no entanto, for
tirada clandestinamente, incide a qualificadora em apreço.
O §4º-A do art. 155 do CP, introduzido pela Lei 13.654/2.018, dispõe que:
“A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de explosivo
ou de artefato análogo que cause perigo comum”.
Trata-se de qualificadora, pois tem pena própria, cominada cumulativamente com a multa.
É o único furto que é crime hediondo (art. 1º, IX, da lei 8072/90, com redação dada pela lei
13.964/2019).
86
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O meio utilizado, explosivo ou artefato análogo, torna o fato mais grave, justificando-se o
rigor da reprimenda penal, em razão da provocação de perigo coletivo.
Meio explosivo é o que causa estrondo. Exemplos: dinamite, pólvora, gases comprimidos.
Difere do inflamável, que faz o fogo propagar rapidamente, como é o caso da gasolina, não sendo
abrangido pela qualificadora, diante da vedação da analogia “in malam partem”. Assim, não incide
a qualificadora em análise, por exemplo, quando se ateia fogo no caixa eletrônico, com intuito de
se realizar a subtração do dinheiro.
Importante destacar que o tipo penal, ao contrário do art. 251 do CP, não se refere a
substância explosiva, mas, sim, a meio explosivo.
A propósito, substância explosiva é a que provoca explosão, dissolvendo-se com o estrondo.
É, entretanto, possível explosão sem que haja substância explosiva, como é o caso da explosão do
ar ou do vapor d’agua.
O meio ou artefato explosivo, a que se refere a qualificadora em análise, abrange qualquer
explosão, seja ela oriunda de substância explosiva ou não explosiva, mas o assunto certamente
ensejará polêmica.
Sobre o artefato explosivo, trata-se de qualquer objeto confeccionado por trabalho mecânico
ou à mão. São as denominadas bombas caseiras, que podem ser fabricadas com bebidas, gel de
cabelo, etc.
É mister, para a incidência da qualificadora, que seja um explosivo ou artefato que causa
perigo comum, ou seja, que coloque em risco um número indeterminado de pessoas ou de
patrimônios.
De fato, o perigo comum, a que se refere o texto legal, é o que pode afetar pessoas ou coisas,
pois onde a lei não distingue ao intérprete não é lícito distinguir.
Sobre o significado da oração “emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo
comum”, é fácil concluir que, para a configuração da qualificadora, não basta portar o explosivo,
mas, sim, empregá-lo, pressupondo-se, portanto, a existência de uma explosão.
Além disso, exige-se um perigo comum concreto, efetivamente ocorrido, caso contrário a
redação seria similar à utilizada no art. 121, §2º, III do CP, que se refere a “meio de que possa
causar perigo comum”.
A interpretação sistemática não permite que se paire qualquer dúvida acerca da necessidade
de o perigo comum ter realmente se verificado.
O agente que se utiliza de um explosivo com potencial para causar perigo comum que,
entretanto, mesmo diante da explosão, não se concretiza, responderá, em caso de destruição ou
rompimento de obstáculo, pelo furto qualificado do art. 155, §4ª, I, do CP e não pela qualificadora
em análise, prevista no §4º-A.
Portanto, a nova qualificadora exige simultaneamente a explosão e a demonstração da
efetiva ocorrência do perigo comum, sendo ainda essencial o exame de corpo de delito, pois se
trata de infração penal que deixa vestígios.
O explosivo geralmente é utilizado em furtos de caixas eletrônicos de bancos, sendo que,
diante do advento desta nova qualificadora, encerra-se o antigo debate travado acerca da
adequação típica, que dividia as opiniões entre o furto qualificado pela destruição ou rompimento
de obstáculo (art. 155, §4º, I) e a explosão qualificada pelo intuito de obter vantagem pecuniária
(art. 251, §2º). Doravante, o enquadramento será no art. 155, §4º-A, do CP, absorvendo-se os
delitos de explosão e de dano, pois já funcionam como causa de aumento de pena, aplicando-se o
princípio da subsidiariedade tácita. Quanto aos que foram condenados em concurso formal
imperfeito pelos arts. 155, §4º, I e 251, §2º, impõe-se a retroatividade do §4ºA do art. 155 do CP,
por se tratar, neste aspecto, de uma lei mais benéfica.
87
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Sobre o assunto, cumpre ainda lembrar que configura crime, nos termos do art. 16, parágrafo
único, III, do estatuto do desarmamento: possuir, deter, fabricar ou empregar artefato explosivo ou
incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Este
delito, entretanto, será absorvido pelo crime do §4ºA do art. 155 do CP, pois já funciona como
qualificadora.
88
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
89
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O §5º do art.155 do CP prevê uma pena de reclusão de três a oito anos. Não basta, porém,
para a incidência da qualificadora, o furto de veículo automotor, pois ainda se exige o efetivo
transporte para outro Estado ou exterior.
90
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
91
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
92
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
ou emprego.”
Trata-se de qualificadora, pois tem pena própria, cominada cumulativamente com multa.
O objeto material consiste em substâncias explosivas ou acessórios que possibilitem
a fabricação, montagem ou emprego de substância explosiva.
Substância explosiva é a que causa estrondo, dissolvendo-se com a arrebentação. Exemplos:
pólvora, dinamite.
Quanto aos acessórios, são os elementos que, em conjunto (misturados com outros) ou
isoladamente, são capazes de se transformar quimicamente numa substância explosiva. Exemplos:
estopim, espoleta e cordel detonante.
Estes acessórios são os que possibilitam a fabricação, montagem ou emprego da substância
explosiva. Noutras palavras, são os acessórios que integram a substância para que ela se torne
explosiva.
Fabricação é a produção ou confecção. Montagem é a junção dos componentes. Emprego é a
utilização.
O tipo penal não se refere aos maquinários e outros objetos que também são utilizados para
fabricar, montar ou utilizar os explosivos, mas tão somente aos acessórios que compõe a própria
substância explosiva.
Note-se que no delito do art. 291 do CP, que cuida dos petrechos para fabricação de moeda, a
oração utilizada é “maquinário, aparelho ou objeto especialmente destinado à fabricação,
montagem ou emprego de moeda”, ao passo que o tipo em análise, que cuida de substância
explosiva, não faz menção a nada disso, sendo vedada a análoga “in malam partem”.
Sobre o assunto, cumpre ainda lembrar que configura crime, nos termos do art. 16, parágrafo
único, III, do estatuto do desarmamento: possuir, deter, fabricar ou empregar artefato explosivo ou
incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Este
delito, entretanto, será absorvido pelo crime do §6º do art. 155 do CP, pois já funciona como
qualificadora.
ROUBO
93
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
CONCEITO
O roubo, previsto no art.157 do Código Penal, é a subtração de coisa alheia móvel, para si ou
para outrem, mediante violência contra pessoa. Conforme veremos adiante, a violência se
desdobra em três modalidades.
O roubo assemelha-se ao furto, uma vez que ambos exigem a subtração de coisa alheia móvel
para si ou para outrem. Distinguem-se, porém, quanto ao emprego da violência. No crime de furto
não há violência contra pessoa, podendo ocorrer, no máximo, uma violência contra coisa, ao passo
que no roubo, necessariamente, verifica-se uma das três modalidades de violência contra a pessoa.
Portanto, o furto atenta exclusivamente contra o patrimônio. O roubo, além de ofender o
patrimônio, atinge ainda a integridade física, a saúde, a tranquilidade, e eventualmente a própria
vida.
OBJETIVIDADE JURÍDICA
SUJEITO PASSIVO
O sujeito passivo pode ser tanto a pessoa que sofre a violência (física, moral e imprópria),
quanto aquela que sofre a lesão patrimonial.
A violência pode ser dirigida contra o proprietário, possuidor ou o detentor da coisa e até
mesmo contra policiais e terceiros. A pessoa jurídica também pode ser sujeito passivo de roubo,
quando atingida em sua esfera patrimonial.
ESPÉCIES
94
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
95
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Cumpre ainda salientar que, no §2º-A do art. 157, há ainda outras duas causas de
aumento de pena que serão analisadas em separado.
Vê-se assim, que no citado §1º, há a existência de cinco causas de aumento de pena, que são
aplicáveis ao roubo próprio e ao impróprio, mas que não incidem em relação ao roubo qualificado
pelo resultado, previsto no § 3º do art.157, porque as sobreditas causas de aumento antecedem à
qualificadora do § 3º.
A primeira, consistente no concurso de duas ou mais pessoas, justifica-se pela maior
organização do delito, aumentando a possibilidade de consumação à medida em que diminui a
chance de defesa da vítima. Os menores de 18 anos, os doentes mentais e os desconhecidos,
participantes da conduta criminosa, também são computados.
A segunda causa de aumento ocorre quando a vítima está em serviço de transporte de
valores e o agente conhece tal circunstância. Objetiva-se tutelar a segurança do transporte. A
expressão valores abrange o dinheiro, joias preciosas e qualquer outro bem passível de ser
convertido em pecúnia. O valor que a vítima transporta deve ser alheio, porque a lei fala em
serviço de transporte, de modo que não incide o aumento se a vítima transporta valores próprios. A
noção de serviço nada tem a ver com emprego, incidindo o aumento ainda que o transporte seja
gratuito ou acidental. O serviço de transporte consiste na condução da coisa de um local para
outro. Se a vítima estiver apenas portando valores alheios, o roubo será simples. Finalmente, urge
que o agente saiba que a vítima está em serviço de transporte. A lei exige o dolo direto, isto é, a
certeza acerca desse fato. A dúvida sobre a vítima estar ou não em serviço de transporte de valores
exclui o aumento, porque não se admite, em tal hipótese, o dolo eventual.
A terceira majorante consiste na subtração de veículo automotor que venha a ser
transportado para outro Estado ou Exterior. A expressão veículo automotor abrange aeronaves,
automóveis, motocicletas, lanchas, jet-ski, enfim qualquer veículo movido por motor de propulsão.
Exclui-se os veículos de tração humana (exemplo: bicicleta ) , bem como os de tração animal
(exemplo: charrete). Urge, para a incidência do aumento da pena, que o veículo seja efetivamente
transportado para outro Estado ou Exterior.
A quarta majorante ocorre quando o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo a
sua liberdade. Justifica-se o aumento, tendo em vista a violação da liberdade pessoal de
movimento, isto é, o direito de ir, vir e ficar no local. Urge salientar, todavia, que nem toda a
restrição da liberdade consiste na subtração da vítima
A quinta causa de aumento de pena, introduzida pela lei 13.654/2018, verifica-se quando a
subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente,
possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. Sobre esta majorante, reporto o leitor aos
comentários feitos em relação à idêntica ao §7º do art. 155 do CP.
A última causa de aumento de pena, violência ou grave ameaça exercida com emprego de
arma branca, foi introduzida pela lei 13.964/2019. Arma branca é a que não é arma de fogo. Trata-
se de um conceito que se obtém por exclusão. Abrange as armas impróprias, que são os
instrumentos que servem para ataque ou defesa, embora não seja esta a sua finalidade, como a
tesoura, faca de cozinha, pedaço de pau, caco de vidro, etc., bem como as armas próprias que não
sejam de fogo, que são os instrumentos cuja finalidade específica é o ataque ou defesa, como o
punhal, a espada, o soco inglês e outros. Outra corrente, ao revés, só considera arma branca as
armas próprias, ou seja, o instrumento que tem a finalidade específica de ataque ou defesa. É
mister, para a majoração da pena, que haja o emprego da arma branca, que consiste no seu uso
efetivo ou exibição ostensiva. Caso a arma branca não tenha sido exibida nem anunciada pelo
assaltante, exclui-se a majorante.
96
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
São três as majorantes do roubo com emprego de arma de fogo. São elas:
a) arma de fogo de uso permitido: é aquela cujo porte é passível de obtenção.
Nesse caso, a pena é aumentada de 2/3 (dois terços), por força do art. 157, §2º-A, I, do
CP, introduzido pela lei 13.654/2018.
b) arma de fogo de uso restrito: é aquela cujo porte é restrito a determinadas
pessoas. Neste caso, a pena é dobrada, nos termos do art. 157, §2º-B, do CP, introduzido
pela lei 13.964/2019.
c) arma de fogo de uso proibido: é aquela cujo porte é vedado. A pena também
é dobrada, nos termos do art. 157, §2º-B, do CP, introduzido pela lei 13.964/2019.
Justifica-se a majorante, em razão da maior potencialidade lesiva do fato, que cria risco de
morte à vítima.
O porte oculto não majora a pena do roubo, porque a lei exige o emprego da arma,
consistente no uso efetivo ou porte ostensivo. Assim, só incide a majorante quando a violência ou
grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo.
Por outro lado, o roubo majorado absorve o delito de arma de fogo, previsto na legislação
especial, que já funciona como causa de aumento de pena, sendo de rigor o afastamento dessa
última norma em face do princípio da subsidiariedade implícita. Outra corrente, entretanto,
sustenta que o crime de porte de arma só será absorvido quando o agente armar-se com a
finalidade específica de praticar o roubo, caso tenha se armado, independentemente do roubo,
responderá também pelo crime de porte de arma em concurso com o roubo majorado pelo
emprego de arma.
Quanto à arma de brinquedo, também denominada “arma finta”, não funciona como causa
de aumento de pena, pois não se trata de arma de fogo, mas é suficiente para servir de meio de
execução de um roubo simples. O agente que na calada da noite encosta o dedo nas costas da
vítima, simulando estar armado, responde por roubo simples, porque o dedo não pode ser
equiparado a arma. A situação é idêntica quando se trata de arma de brinquedo.
Quanto à arma descarregada, também não majora a pena do roubo, falta-lhe potencialidade
ofensiva e, portanto, não se trata de arma, respondendo o agente por roubo simples.
No tocante à arma não apreendida, compete ao agente exibi-la em juízo para que seja
periciada, sob pena de incidência da majorante diante da presunção de potencialidade ofensiva.
Dispõe o art. 157, §2º-A, II, do CP, introduzido pela lei 13.654/2018:
“A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de
artefato análogo que cause perigo comum”.
Aplica-se a esta majorante os comentários já feitos para o §4º-A do art. 155 do CP.
Cumpre, entretanto, observar que a qualificadora do art. 155, §4º-A, do CP tem incidência,
ainda que não haja destruição ou rompimento de obstáculo, bastando o emprego de explosivo ou
de artefato que cause perigo comum, ao passo, no roubo, a majorante em análise depende, além
do explosivo ou artefato que cause perigo comum, que haja ainda destruição ou rompimento de
obstáculo, expressões que também já foram objeto de análise no estudo do art. 155, §4º, I, do CP.
97
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Por fim, enquanto o art. 155, §4º-A é uma qualificadora, pois tem pena própria, o roubo em
análise é uma causa de aumento de pena, em quantidade fixa de 2/3 (dois terços) e, por se tratar
de “novatio in pejus”, também não se aplica aos fatos anteriores à sua vigência.
Dispõe o art. 157, §3º, II, do CP que: Se da violência resulta: morte, a pena é de reclusão de 20
(vinte) a 30 (trinta) anos, e multa.”
Trata-se de qualificadora, porque o preceito secundário tem pena própria. O aludido delito é
denominado latrocínio, ingressando no rol dos delitos hediondos.
O sujeito passivo é tanto a pessoa que sofre a lesão patrimonial quanto aquela que é morta,
podendo esta última ser até mesmo um policial ou terceiro. Com efeito, trata-se de crime
pluriofensivo, que ofende mais de um bem jurídico, qual seja, o patrimônio e a vida. Não há
necessidade que morra a vítima do patrimônio, sendo suficiente, para a caracterização do delito, a
morte de qualquer outra pessoa. Não se tipifica, porém, o delito na hipótese de morte de coautor,
salvo quando houver aberractio ictus, isto é, o agente disparar contra a vítima e errar o alvo
matando o comparsa (CP, art.73). Com efeito, excepcionando-se a hipótese de aberractio ictus, a
morte de coautor ou partícipe não configura latrocínio, porque nesse delito quem deve morrer é o
sujeito passivo, e não o sujeito ativo. Ademais, quando a morte ocorre em situação de legítima
98
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
defesa, como na hipótese do assaltante que é alvejado pela polícia, não há falar-se em resultado
criminoso. Também haverá latrocínio, em função da aberracio ictus, na hipótese de morte de um
terceiro, durante troca de tiros entre policiais e assaltantes.
Na hipótese de pluralidade de sujeitos passivos com unidade de subtração patrimonial,
haverá um só delito de latrocínio. Exemplo: o agente mata três empregados e em seguida subtrai
bens do patrão. Deve ser refutada a tese do concurso formal de latrocínios, porque houve ofensa a
um só patrimônio, razão pela qual não há falar-se em pluralidade de crimes. Menos técnica ainda é
a corrente que vislumbra a figura do crime continuado, pois este pressupõe pluralidade de
condutas, sendo que no exemplo ministrado ocorreu a unicidade de conduta. A nosso ver, o
agente deverá responder por crime único de latrocínio, funcionando as diversas mortes como
circunstância judicial, nos moldes do art.59 do CP.
O latrocínio é delito qualificado pelo resultado, tendo em vista a duplicidade de eventos. A
morte pode ocorrer a título de dolo ou culpa. Somente nessa última hipótese é que o delito será
preterdoloso. O homicídio, seja doloso ou culposo, é sempre absorvido, em face do princípio da
especialidade. Ainda que a morte seja dolosa, o latrocínio não é julgado pelo júri, porquanto trata-
se de delito contra o patrimônio. A propósito, dispõe a Súmula 603 do STF: “A competência para
processo e julgamento do latrocínio é do Juiz singular e não do Tribunal do Júri”.
A morte deve decorrer da violência física. Se decorrer de grave ameaça ou violência imprópria
exclui-se o delito de latrocínio, respondendo o agente por roubo em concurso com homicídio.
Conforme dito anteriormente, a expressão violência, quando empregada isoladamente, refere-se
apenas à vis corporalis.
Na hipótese de concurso de agentes em que o disparo da arma é efetuado por apenas um
deles, há julgados sustentando que todos devem responder por latrocínio (RTJ 98/636).
Discordamos, porque o § 2º do art.29 do CP dispõe que se algum dos concorrentes quis participar
de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa será aumentada até a metade, na
hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. A nosso ver, responde por latrocínio aquele
que efetuou o disparo ainda que culposamente. Entretanto, os demais agentes que não
provocaram diretamente a morte só devem responder por latrocínio na hipótese de terem
procedido com dolo, direto ou eventual, sendo certo que esse último dolo pode ocorrer na
hipótese de o agente saber que o comparsa estava armado.
Por outro lado, a Súmula nº 610 do STF dirimiu a controvérsia acerca do momento
consumativo do latrocínio, dispondo que o aludido delito se consuma com a morte, ainda que a
subtração não tenha se concretizado. Assim, responde por latrocínio consumado o agente que
mata a vítima, sendo preso em flagrante quando iniciava a subtração dos bens.
Em contrapartida, na hipótese de homicídio tentado e subtração consumada, prevalece,
acertadamente, a orientação de que o latrocínio é tentado. Discordamos da orientação que
vislumbra uma tentativa de homicídio qualificado. Aludido entendimento desconsidera o princípio
da especialidade.
ROUBO HEDIONDO
99
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A inovação foi introduzida pela lei 13.964/2019, pois antes dela apenas o roubo qualificado
pela morte, consumada ou tentada, era considerado hediondo.
EXTORSÃO
CONCEITO
SUJEITO ATIVO
Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. O funcionário público
também comete extorsão quando realiza ameaças estranhas às funções, como na hipótese do
escrivão que exige dinheiro de uma pessoa para não influenciar o delegado de polícia a realizar o
indiciamento. Note-se que não se inserem nas atribuições do escrivão influenciar ou não influenciar
a autoridade policial a proceder o indiciamento. Se, porventura, o mal prometido pelo funcionário
público relacionar-se às suas funções, haverá o delito de concussão, previsto no art. 316 do Código
Penal. Tome-se como exemplo de concussão a hipótese de a autoridade policial exigir dinheiro para
não lavrar o auto de prisão em flagrante. Nítida, portanto, a distinção entre extorsão e concussão.
Na primeira, a ameaça não se relaciona às funções; na segunda, a ameaça consiste na prática de um
ato funcional, de modo que a vítima cede à exigência, exclusivamente, metusauctoritatis causa.
O núcleo do tipo é o verbo constranger, que significa coagir, forçar, obrigar alguém a fazer,
deixar de fazer ou tolerar que se faça alguma coisa que a lei não lhe impõe.
Urge, porém, destacar como elemento indispensável à configuração do delito a ilegitimidade
da pretensão buscada pelo agente. Tratando-se de pretensão legítima, isto é, capaz de ser obtida
em juízo, preferindo o agente obtê-la pela via da coação, responderá pelo delito do exercício
arbitrário das próprias razões (CP, art. 345). Por exemplo: obrigar o inquilino a pagar o aluguel
mediante ameaça de morte.
Os meios de execução do delito são: violência física e violência moral.
100
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Violência física (vis absoluta ou corporalis) é o emprego de vias de fato ou lesão corporal para
vencer a resistência da vítima.
Violência moral (vis compulsiva) é o emprego de grave ameaça. Ameaçar é intimidar pela
promessa de malefícios. A ameaça há de ser grave, isto é, capaz de atemorizar a vítima, tendo em
vista as suas qualidades pessoais (sexo, idade, saúde, etc). A ameaça pode se dar por palavras,
gestos. Escritos e meios simbólicos. Pode ser feita na presença como na ausência da vítima. A
ameaça fraudulenta também funciona como meio de execução da extorsão. Tal ocorre quando o
agente, em seu íntimo, não tem a intenção de cumpri-la. Em tal situação, não há falar-se em
estelionato, e sim em extorsão, porque o estelionato é incompatível com o emprego de violência ou
grave ameaça. Assim, responde por extorsão o falso sequestrador que telefona para a família da
vítima, exigindo o preço do resgate.
Finalmente, cumpre registrar a omissão do tipo penal em relação à violência imprópria, de
modo que o emprego dessa violência não caracteriza extorsão. Assim, o agente que hipnotiza ou
narcotiza a vítima, induzindo-a a praticar algum ato que lhe favoreça economicamente, responderá
por delito de roubo, se a vantagem consistir em bem móvel, e pelo delito de estelionato, se a
vantagem traduzir-se em bem imóvel, porque o delito de roubo não contempla essa última
vantagem. Se a vantagem não for econômica, haverá o delito de constrangimento ilegal.
O delito é punido a título de dolo. O agente visa conseguir da vítima uma ação ou omissão,
com o fim de obter, para si ou para outrem, indevida vantagem econômica. Exige-se, como se vê,
uma finalidade específica, qual seja, a intenção de obter uma vantagem indevida e econômica.
A vantagem econômica pode consistir em bem móvel ou imóvel, diferentemente do roubo,
cuja vantagem restringe-se ao bem móvel. A vantagem não econômica caracteriza crime de
constrangimento ilegal; a vantagem sexual, estupro.
No caso de a vantagem econômica ser de impossível obtenção não haverá delito de extorsão,
pois em tal hipótese não há falar-se em lesão ou perigo de lesão ao patrimônio. Assim, não há
extorsão no fato de o agente constranger um menor de 16 anos a assinar uma nota promissória,
porque, diante da nulidade absoluta, decretável de oficio, torna-se impossível a obtenção da
vantagem. No exemplo ministrado haverá o delito de constrangimento ilegal. Em contrapartida,
tratando-se de menor púbere, que pratica ato desassistido, a nulidade será relativa, passível de
ratificação, sendo suficiente para a configuração do delito de extorsão, tendo em vista que essa
nulidade o juiz não pode decretar de ofício, havendo, portanto, perigo de lesão ao patrimônio.
A vantagem, além de econômica, deve ainda ser indevida, isto é, contrária ao direito. Se for
devida, como, por exemplo, obrigar o inquilino a pagar o aluguel, mediante ameaça de morte,
haverá o delito de exercício arbitrário das próprias razões (art. 345 do CP). Se conquanto devida, a
vantagem configurar uma pretensão ilegítima, isto é, desprovida de ação judicial, como, por
exemplo, obrigar alguém a pagar uma dívida de jogo ou uma dívida prescrita ou ainda uma dívida
oriunda do pretium carnis, haverá o delito de constrangimento ilegal. Note-se, que nos exemplos
ministrados, a dívida em si é legítima, tanto é que o credor tem o direito de reter o pagamento
realizado espontaneamente, valendo-se do instituto da soluti retentio. Finalmente, se a vantagem
for devida, mas o agente exigir, mediante violência ou grave ameaça, uma importância superior,
caracterizar-se-á o delito de extorsão.
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
101
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Dispõe o § 3o do art. 158 do Código Penal, introduzido pela Lei n. 11.923, de 17 de abril de
2009:
“Se o crime é cometido mediante restrição da liberdade da vítima, e essa condição é
necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze)
anos, além de multa; se resultar lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no
art. 159, § 2o e § 3o ,respectivamente”.
O exemplo clássico desse delito, conhecido como “sequestro relâmpago”, é aquele em que a
vítima é conduzida, no seu próprio veículo, sendo coagida a percorrer caixas eletrônicos para a
retirada de dinheiro, revelando ao meliante o código secreto de seu cartão bancário magnético.
Extorsão hedionda
102
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
houver lesão corporal, ainda que não haja restrição da liberdade. Terceira, quando houver
morte, ainda que não haja restrição da liberdade. Esta exegese não reflete o propósito da
lei, pois esta se refere expressamente ao §3º do art. 158, que cuida da extorsão com
restrição da liberdade de locomoção. Não se pode, dessa forma, considerar também como
crime hediondo as extorsões dos parágrafos anteriores ou do “caput” do art. 158.
Por consequência, a extorsão qualificada pela morte, prevista no §2º do art. 158 do CP, não é
mais crime hediondo.
Trata-se de uma “novatio legis in mellius” em relação ao §2º do art. 158 do CP, impondo-se a
sua retroatividade e, “in pejus”, portanto, irretroativa quanto ao §3º do art. 158 do CP.
CONCEITO
Extorsão mediante sequestro é o delito em que o agente priva a vítima de sua liberdade de
locomoção, exigindo uma indevida vantagem econômica, como condição ou preço do resgate.
Com efeito, dispõe o art.159 do CP:
"Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem qualquer vantagem, como
condição ou preço do resgate”:
Pena - reclusão de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
Sem embargo de o tipo penal não ter feito menção expressa à vantagem econômica e
indevida, limitando-se a dizer “qualquer vantagem", pacificou-se o entendimento de que o delito
em apreço exige a finalidade de se obter uma vantagem econômica e indevida.
Trata-se de crime complexo, pois é formado pela fusão de outros dois delitos, quais sejam, o
sequestro e a extorsão, previstos, respectivamente, nos arts.148 e 158 do CP. Cuida-se ainda de
crime permanente, porque o momento consumativo se prolonga no tempo. Ingressa também no
rol dos crimes hediondos, em todas as suas modalidades, simples (caput) ou qualificadas ( §1º,§ 2º
e §3°), conforme preceitua o art. 1º da Lei n° 8072/90.
SUJEITO PASSIVO
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
Consuma-se com o simples sequestro ou cárcere privado. Trata-se de crime formal, não se
exigindo o resultado, isto é, a obtenção da vantagem. Assim, o momento consumativo ocorre
103
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
independentemente da entrega do resgate. Aliás, não se exige sequer que o sequestrador tenha
entrado em contato com os familiares da vítima. Antes mesmo da formulação da exigência da
vantagem, consubstanciada num bilhete ou telefonema, o delito já estará consumado.
Admite-se a tentativa, quando o agente não consegue consumar o sequestro, sendo, por
exemplo, detido por policiais no momento da abordagem da vítima. Cumpre ressaltar que o
sequestro só se consuma no momento em que o agente priva a vítima de sua liberdade de
locomoção por um tempo juridicamente relevante. Não precisa prolongar por horas a fio, mas
também não pode ser diminuto, por poucos segundos.
As duas hipóteses são qualificadoras, porque têm penas próprias. Ingressam ainda no rol dos
delitos qualificados pelo resultado. A lesão grave e a morte podem ser dolosas ou culposas (CP,
art.19). Os delitos de homicídio e lesão corporal, sejam eles dolosos ou culposos, são absorvidos,
porque já funcionam como qualificadoras (princípio da subsidiariedade implícita). A extorsão
mediante sequestro seguida de morte, a propósito, é o crime mais grave do Código Penal tendo
como pena mínima 24 anos de reclusão.
Basta, para a incidência da qualificadora, que a morte ou lesão grave resulte “do fato”. Não
há necessidade que seja provocado por violência física ou grave ameaça. O suicídio do sequestrado,
por exemplo, é suficiente para o reconhecimento da qualificadora, porque em tal situação é
evidente a culpa dos sequestradores.
104
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Finalmente, uma boa parcela da doutrina sustenta ser necessário que a morte ou lesão
corporal de natureza grave seja produzida “no sequestrado". Assim, se morrer outra pessoa, haverá
o delito de extorsão mediante sequestro em concurso com homicídio. Data venia, desde que haja
nexo entre a morte e o sequestro, o enquadramento correto é a extorsão mediante sequestro
qualificado pela morte, absorvendo-se o delito do homicídio. De fato, o § 3º do art. 159 do CP
dispõe: “Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave e morte”.
EXTORSÃO INDIRETA
CONCEITO
SUJEITO ATIVO
Em regra, o sujeito ativo é o credor. Nada obsta, porém, que um terceiro cometa o crime.
Exemplo: esposa do credor recebe do devedor um documento criminalmente comprometedor.
SUJEITO PASSIVO
105
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
CONSUMAÇÃO
CRIME DE DANO
CONCEITO
SUJEITO ATIVO
Trata-se de crime comum, pois pode ser praticado por qualquer pessoa.
Anote-se, porém, que o proprietário não responde pelo delito em apreço, porque o texto
legal exige que a coisa seja alheia. Assim, o proprietário, que danifica a própria coisa que se
encontra legitimamente em poder de outrem, comete o delito de exercício arbitrário das próprias
razões, previsto no art.346 do CP.
Quanto à coisa comum, isto é, pertencente a mais de uma pessoa, o condômino que a
danificar responde pelo crime de dano, porque, a rigor, trata-se também de coisa alheia. Se, no
entanto, a coisa for fungível e a danificação restringe-se à cota a que tem direito, excluem-se o
delito, aplicando-se, por analogia in bonam partem, o disposto no § 2º do art.156 do CP.
106
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Urge, para que o delito se caracterize, que a coisa sofra diminuição do valor ou da utilidade.
Não há crime se o pintor modifica a obra alheia, melhorando-a; ou se o agente introduz o
dispositivo numa máquina, aumentando a sua potência.
Anote-se, porém, que pichar, ou por qualquer outro meio conspurcar edificação ou
monumento urbano, caracteriza o delito previsto no art.65 da lei nº 9.605/98. Grafitar, porém, não
é crime, por força da Lei nº 12.408/2011.
Há ainda a lacuna da lei em relação à conduta de fazer desaparecer, que, por si só, não
configura nenhuma danificação. Trata-se de mero ilícito civil. Exemplos: soltar o passarinho da
gaiola, abrir o portão para facilitar a fuga do cachorro do vizinho, etc.
Por outro lado, o objeto material é coisa alheia, abrangendo os imóveis e móveis, inclusive
os semoventes (animais). Quanto aos animais, sejam eles domésticos ou silvestres, a mutilação,
ferimento, maus tratos ou qualquer ato de abuso, configura delito previsto no art.32 da lei nº
9.605/98.
TIPO QUALIFICADO
O parágrafo único do art.163 do CP é uma qualificadora, pois tem pena própria, consistente
na detenção de seis meses a três anos e multa, além da pena correspondente à violência.
A primeira qualificadora ocorre quando o dano é cometido com violência ou grave ameaça a
pessoa.
A segunda qualificadora ocorre quando o dano é praticado com o emprego de substância
inflamável ou explosiva. Justifica-se a maior gravidade da reprimenda penal em virtude da
periculosidade ocasionada pelo fato, além do estrago e alarme social que dele pode advir.
Inflamável é a substância que propicia a rápida ou violenta propagação do fogo (exemplos:
petróleo, benzina, nafta, etc). Explosiva é a que causa detonação, isto é que rebenta com estrondo,
produzindo o deslocamento do ar (exemplos: dinamite, pólvora, ácido pícrico, cordite, etc).
Convém anotar que folhas secas e capim não se encaixam no conceito de substâncias inflamáveis,
sendo apenas combustíveis, excluindo-se, portanto, a qualificadora. A substância inflamável ou
explosiva deve ser empregada antes ou durante a danificação; se posterior, não incide a
107
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
qualificadora. Cumpre não confundir este crime de dano qualificado com o crime de incêndio ou
explosão. Com efeito, a danificação que provoca perigo comum constitui delito de incêndio ou
explosão, previsto nos arts. 250 e 251 do CP, respectivamente. Em tal situação, o crime de dano é
absorvido, por força do princípio da subsidiariedade. A propósito, a lei ressalva expressamente que
só haverá crime de dano se o fato não constituir crime mais grave. A subsidiariedade é expressa.
Assim, o delito de dano só ocorrerá quando a substância inflamável ou explosiva não ocasionar
perigo comum . O agente que explode um veículo numa rua movimentada, responde pelo crime de
explosão, diante da existência de perigo comum (CP, art.254), se o fizer numa rua deserta, haverá
crime de dano qualificado.
A terceira qualificadora ocorre quando o crime é praticado contra o patrimônio da União,
Estados Membros, Município, Empresa Concessionária de Serviços Públicos ou Sociedade de
Economia Mista.
A quarta qualificadora ocorre quando o delito é praticado por motivo egoístico. Ocorre o
motivo egoístico quando o agente provoca a danificação para obter vantagem pessoal, de cunho
patrimonial ou extrapatrimonial.
A última qualificadora ocorre quando o dano causa prejuízo considerável para a vítima.
A REPARAÇÃO DO DANO
O delito de dano simples é de menor potencial ofensivo, pois sua pena não excede a dois anos
de detenção, submetendo-se, por consequência, ao Juizado Criminal, substituindo-se o inquérito
policial por termo circunstanciado, admitindo-se ainda a conciliação e a transação penal. A
conciliação, que só é admitida nos delitos de ação privada e pública condicionada à representação,
consiste no acordo entre o autor e a vítima, acerca da reparação do dano. Caso o juiz homologue
esse acordo, ocorrerá a extinção da punibilidade pela decadência do direito de queixa ou
representação. Portanto, no delito de dano simples, a reparação do dano pode gerar a extinção da
punibilidade.
Quanto ao dano qualificado, em todas as suas modalidades, a pena excede a dois anos. Não
se trata de delito de menor potencial ofensivo, razão pela qual deve ser instaurado inquérito
policial, e não termo circunstanciado, sendo inadmissível a conciliação ou transação. Assim, a
reparação do dano é uma mera causa de diminuição de pena, de um a dois terços, desde que se
concretize antes do recebimento da denúncia (CP, art.16); após, será uma mera atenuante genérica
(art.65, III, alínea b). Anote-se ainda que o art.16 é inaplicável ao dano qualificado pela violência ou
grave ameaça.
AÇÃO PENAL
A ação penal é privada no dano simples (art.163, caput) e no dano qualificado por motivo
egoístico ou considerável prejuízo para a vítima (art.163, parágrafo único, inciso IV). Nas demais
formas de dano qualificado, a ação é pública incondicionada.
Na hipótese de o Ministério Público oferecer denúncia por dano qualificado e, no curso do
processo, o magistrado verificar a inocorrência da qualificadora, a ação penal deverá ser anulada,
inclusive o ato de recebimento da denúncia, pois o Ministério Público é parte ilegítima para
oferecer denúncia nos delitos de ação privada. O juiz deverá anular o processo e, se o caso,
decretar a extinção da punibilidade, caso tenha ocorrido a decadência do direito de queixa. Não é
razoável sustentar a desclassificação do dano qualificado para o dano simples, salvo na hipótese do
inciso IV, porque um delito de ação penal pública não pode ser desclassificado para outro de ação
108
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
APROPRIAÇÃO INDÉBITA
CONCEITO
SUJEITO ATIVO
Trata-se de crime próprio, que só pode ser cometido pelo possuidor ou detentor da coisa.
O proprietário não comete o delito em apreço, pois o tipo legal exige que a coisa seja alheia.
Ademais, é inerente à propriedade o comportamento animus domini. Tratando-se, porém, de
coproprietário, que se apropria da parte dos demais, caracteriza-se o delito, quando, por exemplo,
aliena a coisa toda (RT 577/368).
Por outro lado, o possuidor ou detentor comete o crime de apropriação indébita apenas na
hipótese de posse ou detenção desvigiada da coisa. Se for vigiada, haverá furto, como no exemplo
do aluno que subtrai o livro no interior da biblioteca, aproveitando-se da distração da funcionária.
A conduta criminosa consiste em apropriar-se, que significa fazer sua a coisa alheia. Urge,
como vimos, que a coisa seja entregue ao agente, para que este a possua em nome alheio (in
nomine alieno). O agente obtém a posse ou detenção de maneira honesta, traindo, num momento
posterior, a confiança de quem lhe entregou.
O agente que obtém a posse ou detenção de maneira desonesta, utilizando-se de meio
fraudulento, não comete apropriação indébita, mas furto ou estelionato.
O objeto material é coisa alheia móvel. As coisas fungíveis também podem ser objetos do
delito de apropriação indébita. Aliás, é muito comum a apropriação de dinheiro praticada por
gerente de estabelecimento comercial. Quanto ao caixa de supermercado, em regra, responde por
furto, porque a detenção é vigiada. Só haverá apropriação na hipótese de ser desvigiada.
Cumpre, porém, registrar que em duas hipóteses o fato de a coisa ser fungível impede a
caracterização do delito. Referimo-nos ao mútuo e ao depósito.
Com efeito, o mutuário que se recusa a efetuar o pagamento do empréstimo não responde
por apropriação indébita, porque o mútuo é daqueles contratos que gera transferência do domínio,
de modo que ao operar-se a tradição do dinheiro ou de outra coisa fungível, o mutuário torna-se
dono da quantia emprestada (art. 587 do Código Civil).
Igualmente, no depósito de coisa fungível, o depositário, tão logo a coisa lhe é entregue,
adquire a propriedade do bem, conforme dispõe o art.645 do Código Civil. Assim, o depositário de
109
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
coisa fungível que aliena o bem não comete apropriação indébita, porque a alienação recaiu sobre
coisa própria. Trata-se de um mero ilícito civil. Note-se que o art.645 do Código Civil manda aplicar
ao depósito de coisa fungível todas as regras do mútuo, não excepcionando aquela atinente à
transferência do domínio.
110
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O art.169, 1ª parte, do CP, prevê o delito de apropriar-se de coisa alheia vinda ao seu poder
por erro, cominando uma pena de detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa .
Urge, para configuração do delito, que o agente não induza nem mantenha a pessoa em erro,
no momento do recebimento da coisa, caso contrário, tendo em vista a fraude, haverá o crime de
estelionato.
Na apropriação de coisa havida por erro, ao tempo do recebimento da coisa, o agente
procede de boa-fé, isto é, não percebe o erro. Este é constatado após o recebimento da coisa.
Necessário, portanto, o dolo subsequente. Tratando-se de dolo ab initio, ter-se-á o crime de
estelionato.
O erro, como esclarece Magalhães Noronha, deve ser alheio, isto é, de quem concede a
disponibilidade da coisa ao sujeito ativo. Concordamos com o ilustre penalista, pois é evidente que
a pessoa que entrega a coisa ao agente deve incidir em erro. Todavia, ressaltamos também a
necessidade de o agente não perceber o aludido erro. Caso contrário, o dolo será ab initio e haverá
o crime de estelionato . Há, a rigor, uma duplicidade de erros, de quem entrega e de quem recebe a
coisa .
O art.169, 2ª parte, do CP tipifica a apropriação de coisa alheia vindo ao seu poder por caso
fortuito ou força da natureza. A pena também é branda, consistente em detenção de um mês a um
ano, ou multa.
No delito em apreço, a coisa chega ao agente através de um evento imprevisível. Exemplo:
Um vendaval lança as roupas do varal do vizinho ao quintal da casa de B, e este apropria-se delas.
Outro exemplo: Uma mala despenca de um avião, caindo na chácara de B, que dela se apropria.
Mais um exemplo: o animal de uma fazenda passa para a fazenda de B, que dele se apropria.
Note-se que a coisa não é entregue pela vítima ao agente, originando-se o apossamento de
um acontecimento imprevisível.
APROPRIAÇÃO DE TESOURO
111
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
quota a que tem direito o proprietário do prédio”. A pena é de detenção de 1 (um ) mês a 1 (um )
ano, ou multa.
Sujeito ativo é o inventor, que é aquele que acha o tesouro. Trata-se de crime próprio. O
enfiteuta que encontra o tesouro no terreno aforado torna-se dono de todo o tesouro, de modo
que nada deve ser repassado ao proprietário (art.609 do CC de 1916) . Se um operário encontra o
tesouro e o seu companheiro, que não participou da invenção, dele se apodera, responderá, este
último, por crime de furto.
Sujeito passivo é o proprietário ou enfiteuta. Quanto ao usufrutuário e arrendatário, não
figuram como sujeitos passivos, porque não têm direito ao tesouro. Podem figurar como sujeitos
ativos na hipótese de encontrarem o tesouro e não repassarem ao proprietário ou enfiteuta a
respectiva quota.
O objeto material do crime é o tesouro. Trata-se de norma penal em branco homogênea,
porque a definição da conduta criminosa é complementada pelo Código Civil.
Com efeito, entende-se por tesouro, consoante dispõe o art. 1.264 do Código Civil, o depósito
antigo de moeda ou coisas preciosas, enterrado, ou oculto, de cujo dono não haja memória.
Anote-se, ainda, que, para a caracterização do delito, o encontro do tesouro deve ser casual.
Assim, a pessoa que é contratada pelo proprietário para procurar tesouro, caso o encontre e dele se
aproprie, responderá por furto. Da mesma forma, se o tesouro for encontrado por uma pessoa não
autorizada a adentrar no imóvel, haverá crime de furto. Em tal situação, o tesouro pertence por inteiro
ao senhor do prédio (art. 1.265 do CC).
Em suma, o inventor responderá pelo delito de apropriação do tesouro quando o encontrar
casualmente em imóvel no qual estava autorizado a adentrar.
1) A invenção, consistente no encontro da coisa perdida. A nosso ver, a invenção deve ser
casual. Se for intencional, haverá furto. Exemplo: A percebe o momento em que a carteira cai do
bolso de B. Ao invés de avisá-lo, pisa na carteira, esperando B distanciar-se. Em seguida, apropria-se
dela. Trata-se de furto, diante do dolo ab initio, e não de apropriação de coisa perdida, como
sustenta Júlio F. Mirabete. Este último delito exige dolo subsequente, isto é, posterior ao encontro
casual da coisa.
2) Occupatio, consistente no apossamento da coisa. Como ensina Magalhães Noronha, se
uma pessoa acha uma coisa e, imediatamente, esta lhe é arrebatada por um ladrão, torna-se claro
não cometer o crime em tela.
3) Não devolução da coisa. A simples invenção e apossamento não configuram o delito. Urge
ainda ocorra a apropriação consubstanciada na não devolução do bem dentro do prazo de quinze
dias.
112
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O objeto material é coisa alheia perdida (res desperdita). Trata-se de elemento normativo do
tipo, cujo significado requer um juízo de valor do magistrado. Coisa perdida é a que se encontra em
lugar público ou de uso público em circunstâncias indicativas do extravio. Exemplos: um anel de
brilhante ou uma carteira exposta no meio da rua. Em contrapartida, não se pode considerar
perdido um automóvel com os vidros abertos e a chave no contato, no acostamento de uma
estrada, porque as circunstâncias não indicam o extravio, mas um outro problema. Em tal situação,
o agente que apropriar-se do veículo, responderá por furto.
Por outro lado, tratando-se de res derelicta (coisa abandonada) ou de res nullius (coisa sem
dono), não haverá crime algum por parte de quem apropriar-se. Este torna-se dono da coisa.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, consistente na vontade de apropriar-se da coisa. É
admissível o erro de proibição, quando o agente, por ser uma pessoa rústica, desconhece a ilicitude
do fato e supõe erroneamente ter o direito de apropriar-se do bem (CP, art.21). Anote-se ainda que
não se admite a forma culposa, de modo que se o agente deixa de restituir a coisa, por mero
esquecimento ou desleixo, não se configura o delito em apreço .
Quanto à consumação, ocorre quando o agente deixa de restituir a coisa ao dono ou legítimo
possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro do prazo de quinze dias. Trata-se de
crime a prazo, tendo em vista que a consumação depende de um lapso de tempo. O delito poderá
consumar-se antes dos quinze dias na hipótese de o agente alienar a coisa, revelando
inequivocamente a inversão do animus da posse. Também estará consumado quando o agente
deposita em sua conta um cheque encontrado na rua. Assim, o prazo de quinze dias é necessário à
consumação apenas quando o agente não tiver praticado antes algum ato de apropriação.
O art.170 dispõe que: “Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o disposto no art.155, §
2º”. Assim, se o criminoso é primário e é de pequeno valor a coisa apropriada, o juiz pode substituir
a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de
multa. Reportamos o leitor ao que foi dito anteriormente sobre furto privilegiado.
ESTELIONATO
CONCEITO
Dispõe o art.171, caput, do CP: “Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo
alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio
fraudulento: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa”.
São quatro os elementos do delito:
Fraude;
Erro;
Resultado duplo (obtenção da vantagem ilícita + prejuízo alheio);
Dolo.
SUJEITO PASSIVO
Para que se configure o estelionato, que a pessoa enganada seja determinada e com
113
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
capacidade de discernimento.
Com efeito, o meio enganoso dirigido a um número indeterminado de pessoas caracteriza
delito contra a economia popular, previsto na Lei nº 1.521/51. Exemplos: a) bomba de gasolina
viciada; b) balança do feirante desregulada.
Tratando-se de louco ou criança sem discernimento não haverá estelionato e sim o delito de
abuso de incapazes (CP, art.173) ou furto (CP, art.155).
FRAUDE
114
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O erro é o efeito do meio fraudulento. A fraude provoca o erro, isto é, engana a pessoa ou a
mantém enganada.
Assim, o meio fraudulento deve induzir ou manter a pessoa em erro. No induzimento, a
fraude é a causa do erro, pois induzir significa convencer (exemplo: A dirige-se até B para receber
uma dívida, alegando falsamente que está a serviço do credor). Na manutenção, o erro é anterior à
fraude, sendo que esta é empregada para que a pessoa continue na condição de enganada
(exemplo: o devedor dirige-se até o credor para pagar-lhe a dívida, entregando o dinheiro a B,
irmão gêmeo do credor, que percebe a confusão, mas mantém o devedor em erro).
Urge ainda, para a caracterização do estelionato, o nexo causal entre o erro e a obtenção da
vantagem. Com efeito, o erro deve anteceder o auferimento da vantagem. Se, após obter
licitamente a coisa, o agente utiliza-se da fraude para apropriar-se definitivamente dela, haverá o
delito de apropriação indébita, e não estelionato. Em suma, no estelionato, a fraude deve ser
anterior ou concomitante ao apossamento do bem.
RESULTADO DUPLO
Em ambos os casos, o dolo deve anteceder à obtenção da vantagem ilícita. Conforme salientado
anteriormente, o dolo subsequente, posterior à obtenção da vantagem, caracteriza o delito de
apropriação indébita.
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
ESTELIONATO PRIVILEGIADO
115
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Dispõe o art.171, § 2º, inciso V, que nas mesmas penas incorre quem: “Destrói, total ou
parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as
consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro”.
Sujeito ativo é o segurado. Trata-se de crime próprio. Admite-se, portanto, a coautoria e
a participação.
O delito em apreço pressupõe um contrato válido e vigente do seguro. Se o contrato for nulo
ou então estiver vencido haverá crime impossível (CP art.17). Anote-se ainda que a simulação da
própria morte para obter o valor do seguro não é contemplada no delito em apreço, enquadrando-
se, porém, no art.171, caput.
Consuma-se o delito com a simples conduta de destruir, ocultar, lesar ou agravar. Trata-se de
crime formal ou de consumação antecipada, prescindindo-se da ocorrência do resultado, isto é, da
obtenção da indenização ou valor do seguro.
Admite-se a tentativa. Observe-se que a danificação parcial configura-se crime consumado,
de modo que tentativa haverá quando nem a danificação parcial se verificar. Exemplo: O agente
arremessa ao fogo a coisa segurada, mas alguém a retira intacta.
Dispõe o art.171, § 2º, inciso VI que nas mesmas penas incorre quem: “Emite cheque, sem
suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento”.
O tipo penal desdobra-se em dois:
Emissão de cheque sem fundos;
Frustração do pagamento de cheque com suficiente provisão de fundos.
Sujeito ativo é o titular da conta corrente, que emite ou frustra o pagamento do cheque.
Trata-se de crime próprio. Admite a participação e também a coautoria. Essa última hipótese
verifica-se quando há conta conjunta e o cheque é emitido pelos dois correntistas. A abertura de
conta corrente com documentos falsos para depois emitir cheques sem fundos caracteriza delito do
art.171, caput, pois no §2º, inciso VI, é essencial que o correntista tenha obtido licitamente o talão
de cheques. Igualmente é delito do caput do art.171 a emissão de cheque sem fundos de conta
encerrada.
Quanto ao endossante de cheque sem suficiente provisão de fundos, prevalece a orientação
116
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
de que não responde pelo delito, porque a lei fala em emitente, que é o titular da conta corrente.
Em abono a essa tese, costuma-se acrescentar o fato de o tipo penal também incriminar a
frustração do pagamento, conduta que não pode ser praticada pelo endossante. Outras valiosas
opiniões, porém, enquadram o endossante no delito do art.171, § 2º, inciso VI, sob o singelo
argumento de que o endosso equivale a uma nova emissão. A nosso ver, não obstante a diferença
entre emissão e endosso, o emitente pode figurar como sujeito ativo, na condição de partícipe.
Com efeito, conforme veremos, o delito só se consuma quando o sacado se recusa a pagar o
cheque. Antes desta recusa, o delito ainda está na fase de execução, admitindo a participação,
mediante endosso, desde que este contribua para que terceiro de boa fé receba o cheque sem
suficiente provisão de fundos, aderindo à conduta do emitente. Se, porém, o endossante não
estiver em concurso com o emitente, responderá pelo art.171 “caput“, na hipótese de ter efetuado
o pagamento, mediante o endosso de um cheque do qual tinha ciência da falta de fundos.
Em relação ao avalista, também pode figurar como partícipe do delito em estudo, pois a sua
conduta estimula a circulação do cheque. Por outro lado, o terceiro que preenche e assina cheque
alheio, pondo-o em circulação, sem o consentimento do correntista, responde pelo estelionato do
art.171, caput, porque o subtipo do estelionato do § 2º, inciso VI, é crime próprio do correntista.
O bem jurídico protegido é o patrimônio e subsidiariamente a fé pública, tendo em vista que
o cheque é um documento e a conduta acaba realizando uma falsidade ideológica. É claro que o
agente responde apenas pelo estelionato, e não pela falsidade ideológica, que deve ser absorvida.
O sujeito passivo é o tomador (beneficiário) do cheque, que pode ser pessoa física ou jurídica.
As condutas típicas consistem em emitir e frustrar.
Emitir é colocar o cheque em circulação, isto é, entregá-lo a uma terceira pessoa. Aqui o
cheque não tem fundos. O preenchimento e assinatura, desde que o cheque não saia do bolso do
emitente, é mero ato preparatório, não configurando sequer a tentativa.
Frustrar é impedir o pagamento do cheque. Aqui o cheque é emitido com suficiente provisão
de fundos, mas o agente frustra, sem justa causa, o seu pagamento. A frustração pode se dar: a)
pela retirada de fundos antes da apresentação do cheque; b) pela contra-ordem ao sacado (banco)
para não pagar o cheque. Essa contra-ordem ocorre mediante sustação (quando o cheque está
dentro do prazo de apresentação) ou revogação (após o prazo de apresentação do cheque).
Tratando-se de cheque visado não é possível o emitente frustrar o seu pagamento.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, consistente na ciência de que o cheque não tem
fundos. O delito não é punido na forma culposa. Portanto, a emissão de cheque insciente o agente
da falta de fundos, não configura o delito em apreço. Em relação ao delito de frustração e
pagamento do cheque, também só é punido a título de dolo, mas o erro sobre a ilicitude da
frustração configura erro de proibição, previsto no art.21 do CP. Se o erro for escusável, o agente é
isento de pena; se inescusável, responde pelo delito, com a pena reduzida de 1/6 a 1/3. Não se
trata de erro de tipo, porque a figura típica não menciona o termo “injustamente”, limitando-se à
expressão “frustrar”.
Urge, ainda, para a caracterização do delito, a existência da fraude. Com efeito, dispõe a
Súmula nº 246 do STF: “Comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de emissão de
cheque sem fundos”. Assim, se a vítima, ao tempo do recebimento do cheque, tinha ciência da falta
de fundos, ou então motivos para desconfiar, exclui-se o delito em apreço, pois, em tal situação,
não se pode dizer que foi enganada.
A consumação ocorre no momento em que o banco se recusa a efetuar o pagamento do
cheque. O estelionato é crime material, consumando-se com resultado consubstanciado nesta
recusa.
Nesse instante, concretiza-se o prejuízo.
A tentativa é admissível, quando a emissão ou o resultado não ocorrem por circunstâncias
117
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
alheia à vontade do agente. Exemplos: O agente é preso em flagrante no ato de emitir um cheque
sem provisão de fundos, sendo descoberto após a consulta do vendedor junto aos órgãos de
proteção do crédito. Outro exemplo: O agente emite um cheque sem a suficiente provisão de
fundos, mas o gerente do banco acaba pagando o cheque, acreditando numa breve restituição. Se
o agente emite cheque sem fundo, mas deposita o valor antes da recusa do sacado, ocorrerá o
arrependimento eficaz, destipificando-se a tentativa (CP art.15).
Quanto à reparação do dano, a Excelsa Corte editou a Súmula nº 554: “O pagamento de
cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta o
prosseguimento da ação penal”. A contrario sensu, o pagamento do cheque efetuado antes do
recebimento da denúncia, exclui a justa causa para a ação penal. Discute-se sobre a natureza
jurídica deste pagamento. Desenvolveram-se as seguintes correntes: 1) Causa de exclusão da
tipicidade; 2) Causa de exclusão da culpabilidade; 3) Causa de extinção da punibilidade. Prevalece a
orientação de que a questão é de tipicidade, argumentando-se que o pagamento exclui o prejuízo,
fazendo com que o crime desapareça, tendo em vista que o prejuízo é elemento do estelionato .
Critica-se a sobredita súmula, porque sendo o estelionato crime instantâneo, o prejuízo deve ser
analisado ao tempo da consumação consubstanciada na recusa do pagamento pelo sacado.
Ademais, noutras modalidades de estelionato, o pagamento não tem o condão de excluir a
tipicidade, sendo incoerente a destipificação apenas no delito de emissão de cheque sem fundos. A
propósito, já tivemos a oportunidade de escrever que o pagamento ulterior do cheque não tem o
condão de destipificar um crime consumado. Consiste o equívoco da súmula em relegar a análise
do prejuízo para o momento do recebimento da denúncia, quando deveria averiguar esse fato no
momento da consumação. Com o advento do art.16 do CP, que prevê para a reparação do dano
apenas uma redução de pena de um a dois terços, a doutrina acreditou que a súmula seria
finalmente cancelada. Entretanto, sob o pretexto de política criminal, a jurisprudência ainda
continua a aplicá-la, em detrimento do disposto no referido artigo.
Quanto à emissão de cheque pré-datado sem suficiente provisão de fundos, também não
caracteriza estelionato. Os argumentos contrários à incriminação são férteis. Podemos sintetizá-los
assim: 1) o cheque pré-datado, a rigor, não é cheque, mas uma promessa de pagamento, pois o
cheque, por definição legal, é ordem de pagamento à vista. A lei incrimina a emissão de cheque, e
não a emissão de promessa de pagamento. O cheque pré-datado assemelha-se a uma nota
promissória; 2) a pessoa que recebe cheque pré-datado nunca tem plena certeza da provisão de
fundos. Há sempre uma desconfiança, tanto é que exige a entrega do cheque, de antemão, ao invés
de aguardar o pagamento voluntário no vencimento. Portanto, não se pode dizer que foi enganada.
Em suma, não há fraude, excluindo-se, por isso, o estelionato, nos moldes da Súmula nº 246 do STF;
3) o cheque pré-datado é dado em garantia de dívida. A Constituição Federal proíbe a prisão civil
por dívida, salvo nas hipóteses de alimentos e depositário infiel (art.5º, inciso LXVII). De nada
adiantaria a Magna Carta proibir a prisão civil se a lei pudesse incriminar o inadimplemento de uma
dívida. Por via oblíqua, haveria também uma prisão por dívida. Portanto, a lei não pode incriminar o
inadimplemento de uma dívida, sob pena de inconstitucionalidade, razão pela qual o cheque pré-
datado não se enquadra em nenhuma espécie de estelionato. Em algumas hipóteses, o cheque pré-
datado pode configurar o estelionato do caput do art.171 do CP. Tal ocorre quando ele funcionar
como meio de execução da fraude.
Por outro lado, o delito de emissão de cheque sem fundos, por ser uma modalidade de
estelionato, só se configura se houver prejuízo. Urge que se demonstre o nexo causal entre o
cheque e o prejuízo experimentado pela vítima. Conforme dispõe a 2ª parte do art.13 caput do CP:
“Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”. Adotou-se, no
plano físico da causalidade, a teoria da conditio sine qua non, que desvenda a causa utilizando-se do
procedimento hipotético de eliminação de Thyrén, segundo o qual uma conduta só faz jus ao nome
118
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
de causa quando excluída mentalmente o resultado não teria se produzido como ocorreu ou no
momento em que ocorreu. Assim, cumpre abstrair mentalmente o cheque e indagar se o prejuízo
teria ocorrido da mesma forma. Se a resposta for negativa, o cheque terá sido causa do resultado;
se positiva, exclui-se a tipicidade por não ter sido o cheque a causa do prejuízo.
Utilizando-se o raciocínio acima, resolvem-se as seguintes situações:
a) o pagamento de dívida vencida com cheque sem fundos não configura estelionato, pois
abstraindo-se o cheque o valor do prejuízo seria o mesmo. Assim, não há crime na hipótese de o agente
efetuar o pagamento de aluguel ou de um acordo judicial ou de empregada doméstica, mediante a
emissão de cheque sem fundos. Com efeito, o cheque é emitido pro solvendo, e não pro soluto, de
modo que o emitente não obteve nenhuma vantagem à medida que não ocorreu a quitação do débito.
Também não há prejuízo novo, pois o prejuízo ocorreria de qualquer jeito, com ou sem emissão do
cheque. Aliás, por ser um título executivo, é mais vantajoso ter às mãos um cheque sem fundo do que
nada.
b) não há crime se o cheque é dado em pagamento de uma dívida garantida por nota
promissória, duplicata ou por outro título, pois suprimindo mentalmente o cheque o valor do
prejuízo seria o mesmo. Acrescente-se ainda que o devedor não auferiu vantagem à medida em
que o cheque sem fundos não tem o efeito de quitar a dívida.
c) não há crime se o cheque é emitido para pagamento de dívida de jogo, pois o prejuízo ocorreu
com a derrota no jogo, antecedendo, destarte, à emissão do cheque. Suprimindo mentalmente a sua
emissão o prejuízo seria o mesmo, de modo que o cheque não foi a causa da existência do prejuízo.
Acrescente-se ainda que a dívida de jogo é inexigível judicialmente. Por consequência, o cheque acabou
sendo uma vantagem ao vencedor do jogo, tendo em vista que não poderia mover ação judicial de
cobrança. Anote-se, porém, a existência de valiosas opiniões no sentido contrário. Com efeito,
Magalhães Noronha sustenta que na hipótese dos jogos lícitos, configura-se o delito, negando a
tipicidade para os jogos ilícitos, porque nesse último caso a lei civil não dá ao credor ação para obter o
que legalmente ganhou. Nelson Hungria é adepto da tese de que o delito se configura seja o jogo lícito
ou ilícito. A nosso ver, o delito não se configura, quer no jogo lícito ou no ilícito, porque suprimindo
mentalmente o cheque o prejuízo teria se verificado da mesma forma. Força convir, portanto, que não
há nexo causal entre o cheque e o prejuízo. Convém, porém, ressalvar que configura-se o delito em
apreço quando o agente aposta em jogos lícitos (loterias, operações da bolsa, etc.), mediante a emissão
de cheque sem fundos, pois, em tal situação, há nexo causal entre a obtenção da vantagem, consistente
no direito de participar do jogo.
d) não há crime na emissão de cheque sem fundos para o pagamento de prostituta. Com
efeito, a imoralidade da venda do ato sexual inviabiliza a ação judicial de cobrança, tendo em vista a
nulidade absoluta do contrato. Portanto, o Direito Civil nega proteção ao negócio, sendo incoerente
a prostituta encontrar respaldo no Direito Penal, que é um ramo de intervenção mínima. Ademais,
a sentença penal condenatória é título executivo na esfera cível, tornando certa a obrigação de
reparar (CP. art. 91, inciso I). A eventual condenação do emitente tornaria certa a obrigação de
reparar o dano? Se positiva a resposta, o preceito penal sobreporia aos princípios civilísticos; se
negativa, o Direito Civil anularia a norma penal. Qualquer que seja a solução haveria conflito entre
o Direito Civil e o Direito Penal. Assim, não há falar-se em estelionato. Acrescente-se ainda que o
cheque não representou um prejuízo novo, pois suprimindo-o mentalmente o prejuízo seria o
mesmo. De fato, não se vislumbra nenhum prejuízo oriundo da emissão do cheque à medida que a
prostituta não pode ajuizar ação judicial de cobrança. Há, porém, diversos julgados condenando o
agente por estelionato.
Finalmente, para que o delito se caracterize, é necessário que o cheque tenha sido a causa do
prejuízo e da obtenção da vantagem. Exemplo: o agente adquire uma televisão, efetuando o
pagamento com cheque sem fundos. Outro exemplo: o agente abastece o tanque de seu veículo,
119
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
efetuando o pagamento com cheque sem fundos. Nesses dois exemplos, tipifica-se o crime à medida
que o cheque foi a causa da entrega do bem. Suprimindo-o mentalmente, a tradição não se efetuaria. O
agente obteve uma vantagem e causou prejuízo. Tudo isso graças à emissão do cheque.
120
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Filio-me à segunda corrente, de tal sorte que, quanto maior a gravidade do resultado danoso,
em termos patrimoniais, maior será o aumento da pena.
De fato, o legislador, ao se referir à gravidade do resultado danoso, visou eliminar a dosagem
da majorante por critérios subjetivos, como a personalidade, maus antecedentes e a reincidência.
São duas as causas de aumento da pena:
a) vítima idosa;
b) vítima vulnerável.
Idoso é a pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos (art. 1º da Lei
10.741/2003).
Vulnerável, por sua vez, nos termos do art. 217-A do CP, abrange três situações:
a) menor de 14 (catorze) anos;
b) enfermo ou deficiente mental sem o necessário discernimento;
c) pessoa que, por qualquer outra causa, não puder oferecer resistência.
É necessário, para que incida o aumento da pena, que o agente tenha consciência de que a
vítima é idosa ou vulnerável, tendo em vista a vedação da responsabilidade penal objetiva.
No tocante ao enfermo ou deficiente mental sem o necessário discernimento, só poderá ser
vítima de estelionato se ainda lhe restar alguma capacidade de entender e querer, pois, na hipótese
de apresentar total supressão do discernimento, o delito não será de estelionato, mas, sim, de
abuso de incapaz, previsto no art. 173 do CP, ou furto (art. 155 do CP), conforme o caso concreto.
COMPETÊNCIA TERRITORIAL
121
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
AÇÃO PENAL
Natureza jurídica
A partir do advento da Lei 13.964/2019, o delito de estelionato, que era de ação penal pública
incondicionada, se tornou de ação pública condicionada à representação.
Vê-se assim que o estelionato, cuja ação penal era pública incondicionada, transmudou-se,
em regra, para ação penal pública condicionada à representação.
Com base no princípio da proporcionalidade, a Defensoria Pública sustenta que, em delitos
patrimoniais menos graves, a ação penal também depende de representação. Exemplos: arts. 155,
“caput”, 168, “caput”, 180, “caput”, e 180, §3º, todos do CP.
No delito de estelionato, a ação penal será pública incondicionada, nos termos do §5º do art.
171 do CP, quando a vítima for:
I - a Administração Pública, direta ou indireta;
II - criança ou adolescente;
III - pessoa com deficiência mental; ou
IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.”
O inciso I se refere à administração pública direta ou indireta.
122
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
A administração pública direta é o serviço público prestado diretamente pela União, Estados-
membros, Distrito Federal e Municípios.
A administração pública indireta é o serviço público prestado por pessoa jurídica criada pelo
poder público para exercer a referida atividade. Abrange as autarquias, fundações públicas,
sociedades de economia mista e empresas públicas.
Quanto ao estelionato cometido contra concessionárias de serviços públicos, a ação
dependerá de representação, pois é vedada a analogia “in malam partem”.
O inciso II faz menção à criança ou adolescente.
Criança é a pessoa que ainda não completou 12 (doze) anos.
Adolescente é a pessoa com 12 (doze) anos completos e que ainda não atingiu 18 (dezoito)
anos.
O inciso III se refere ao deficiente mental.
O deficiente mental é o portador de intelectualidade abaixo da média, em função de uma
situação inerente à sua condição psíquica.
Em relação ao deficiente mental, a ação será pública incondicionada, ainda que ele seja
civilmente capaz.
A hipótese não abrange, porém, o deficiente físico, pois é vedada a analogia “in malam
partem”.
Por fim, o inciso IV prevê o maior de 70 (setenta) anos ou incapaz.
Em relação ao maior de 70 (anos), a ação será pública incondicionada ainda que ele seja
plenamente capaz.
Quanto aos incapazes , a que se refere o texto legal, são os do art. 4o, II a IV, do Código Civil,
ou seja, os ébrios habituais, os viciados em tóxico;, aqueles que, por causa transitória ou
permanente, não puderem exprimir sua vontade e os pródigos. É, contudo, possível se interpretar
como sendo o portador de alguma deficiência física, permanente ou transitória, que não consegue
superar determinadas barreiras. Não basta, destarte, a deficiência física, sendo ainda necessária a
incapacidade para superar o obstáculo oriundo desse problema. O deficiente visual, por exemplo,
que lê em braile superou o obstáculo da leitura, de tal sorte que, nesse aspecto, não é tido, em
princípio, como incapaz.
Ação penal nos estelionatos praticados antes do início da vigência da Lei 13.964/2019
Inicialmente, é preciso considerar o caráter híbrido da lei que exige representação aos delitos
que até então eram de ação penal pública incondicionada.
Aludida lei tem ao mesmo tempo natureza penal e processual penal.
Com efeito, a falta de representação gera a extinção da punibilidade, em razão da
decadência, residindo neste aspecto o seu caráter penal, mas a representação também funciona
como condição de procedibilidade da ação penal e, por isso, se revela igualmente presente o seu
caráter processual.
A lei penal benéfica retroage para se aplicar aos delitos anteriores, ao passo que a lei
processual, em regra, não atinge os atos processuais já praticados.
A doutrina, em relação à lei híbrida, tem dito que prevalece o seu caráter penal, impondo-se
assim a sua retroatividade para atingir inclusive os delitos com sentença penal condenatória
transitada em julgado, por força do art. 5º, XL, da CF.
Noutras palavras, a representação seria exigida para todos os delitos praticados antes da nova
lei.
A jurisprudência, porém, em relação aos estelionatos praticados antes do início da vigência da
123
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
lei em análise, abandonou os ensinamentos doutrinários para abraçar outros dois posicionamentos:
a) se, quando a lei entrou em vigor, a denúncia já havia sido oferecida, a ação penal
continuará sendo pública incondicionada. Se, entretanto, ainda não havia denúncia, ela só poderá
ser ofertada se houver a representação. O fundamento é que, sem cláusula expressa, a lei híbrida
não pode retroagir para violar o ato jurídico perfeito (2ª Turma do STF e 5ª Turma do STJ).
b) será sempre exigida a representação, quer haja ou não a denúncia ao tempo do início da
vigência da nova lei, mas só em relação aos estelionatos cuja sentença condenatória não tenha
ainda transitado em julgado (6ª Turma do STJ). Assim, de acordo com essa corrente, a vítima, por
aplicação analógica do art. 91 da Lei 9.099/95, em relação aos estelionatos anteriores, deverá ser
intimada para apresentar a representação, dentro do prazo de 30 (trinta) dias, sob pena de
decadência. Se, entretanto, já havia representação tácita, caracterizada pela manifestação de
vontade da vítima ou de seu representante legal de instaurar a persecução penal, o feito
prosseguirá normalmente, sem necessidade de uma representação expressa.
Ambas as correntes, como se pode verificar, aceitam a retroatividade da nova lei, mas com
limites temporais.
Na primeira, o limite é o oferecimento da denúncia; na segunda, é a coisa julgada.
RECEPTAÇÃO
CONCEITO
SUJEITO ATIVO
OBJETO MATERIAL
124
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Com efeito, a expressão produto de crime compreende: a) a coisa adquirida diretamente com
o crime (exemplo: a jóia furtada); b) a coisa obtida mediante especificação (exemplo: o anel feito
com ouro roubado); c) a coisa adquirida em razão de alienação (exemplo: o dinheiro obtido com a
venda de jóia roubada). De fato, o art. 180 do CP não exige que a coisa seja proveniente
diretamente do crime, abrangendo, destarte, o produto indireto. Seria absurdo não considerar
receptação o fato de alguém receber do delinquente o dinheiro obtido com o desconto do cheque
furtado, e, ao mesmo tempo, reconhecer o delito no ato do recebimento do aludido cheque. Ora, o
dinheiro é produto indireto; o cheque é o produto direto. O recebimento do dinheiro é um fato
mais grave do que o recebimento do próprio cheque. Assim, como ensina Magalhães Noronha, se o
agente subtrai dinheiro e adquire uma jóia comprada com aquela quantia, presenteando a sua
amante, esta responderá pelo delito de receptação. Registre-se, contudo, as opiniões de Galdino
Siqueira e Von Liszt, excluindo o delito de receptação quando se tratar de produto indireto,
argumentando-se que nada tem a ver com o crime.
Acrescente-se, porém, que os instrumentos e o preço do delito não podem ser objeto
material de receptação, pois é vedada a analogia “in malam partem”. Instrumento do crime é o
meio utilizado pelo agente para a prática da conduta delituosa (exemplo: o revólver do homicida).
Preço do crime é a quantia dada ao agente para induzi-lo a delinquir (exemplo: o carro presenteado
ao homicida para estimulá-lo a matar a vítima). Deve-se ter em mira o caráter patrimonial do delito
de receptação e o fato de o sujeito passivo ser o mesmo do delito anterior. Quando se recebe
instrumento ou preço do crime não há qualquer lesão ao patrimônio da vítima do delito anterior.
Todavia, conforme salienta Victor Eduardo Rios Gonçalves, “quem guarda o instrumento de um
crime para dar cobertura ao autor do delito antecedente comete favorecimento real, delito previsto
no art.348 do Código Penal”.
PRESSUPOSTO DO CRIME
125
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
delito anterior. A esposa que furta o marido, por exemplo, é isenta de pena, conforme dispõe o art.
181 do CP, mas a pessoa que adquirir-lhe o bem cometerá receptação.
A pessoa que adquire produto de um fato típico acobertado por alguma excludente da
antijuridicidade, como a legítima defesa e o estado de necessidade, não comete receptação,
porquanto estas justificativas excluem o delito anterior.
Acrescente-se ainda que extinta a punibilidade do crime anterior subsiste a responsabilidade
do receptador, por força do art. 108 do CP, salvo na hipótese de abolitio criminis ou anistia, quando
então o fato deixa de ser crime. Nas demais causas extintivas da punibilidade, como a morte e a
prescrição, permanece intacto o delito de receptação.
RECEPTAÇÃO PRÓPRIA
126
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
terceiro de boa-fé, responderá por estelionato, na modalidade vender coisa alheia como própria
(art. 171, § 2º, I, do CP), ainda que o terceiro tenha atuado com culpa, quando então o terceiro
responderá por receptação culposa. O alienante de má-fé não é partícipe da receptação culposa,
mas sim autor de estelionato, pois não há participação dolosa em crime culposo.
O dolo ainda deve ser motivado pelo animus lucrandi, tendo em vista a expressão “em
proveito próprio ou alheio”, prevista no art. 180, caput, do CP. O receptador deve receber a coisa
visando uma vantagem patrimonial para si ou para terceiro. Exemplo: adquire uma joia roubada
para presentear a namorada. O agente que recebe a coisa com a intenção de auxiliar o criminoso a
tornar seguro o proveito do crime, agindo com animus amoris vel pietatis causa, comete o crime de
favorecimento real (art. 349), como no exemplo da pessoa que guarda o veículo furtado, visando
prestar auxílio ao criminoso, por amor ou amizade.
RECEPTAÇÃO IMPRÓPRIA
127
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
convencendo um terceiro de má-fé, isto é, que tem ciência da origem criminosa do bem, a adquiri-
lo. Em tal situação, o terceiro responderá por receptação própria (art. 180, caput, 1ª parte), mas o
mediador não responderá por crime algum, pois não há participação culposa em crime doloso.
RECEPTAÇÃO PRIVILEGIADA
RECEPTAÇÃO AGRAVADA
RECEPTAÇÃO QUALIFICADA
128
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
impossibilidade de se punir o dolo eventual de maneira mais severa que o dolo direto. Os adeptos
dessa orientação asseveram que, para que seja preservado o princípio da proporcionalidade da
pena, o § 1º do art. 180 do CP deve conter a mesma pena do caput, pois se para o dolo direto é
aplicável o caput, com maior razão deve ser aplicado quando se tratar do dolo eventual.
Uma segunda corrente preconiza que na expressão deve saber também está embutido o dolo
direto. Para tanto, invoca-se a interpretação extensiva, ampliando o texto da lei, adaptando-a a sua
vontade real, pois ela disse menos do que quis. Trata-se do argumento a fortiori - se a lei prevê um
caso deve estendê-la a outro caso em que a razão da lei se manifeste com maior rigor. Com efeito,
se a expressão “deve saber” abrange o dolo eventual, consistente na dúvida sobre a origem
criminosa da coisa, com maior razão deve abranger o dolo direto, em que há a certeza da origem
ilícita. Filiamo-nos a essa última corrente. Não se trata de suprir lacunas da lei, mas de revelar o seu
real significado. Na realidade, o dolo direto encontra-se implicitamente previsto no texto legal.
Outra discussão é se a expressão “deve saber” compreende ou não a culpa. De um lado,
argumenta-se que o crime culposo tem caráter excepcional, só sendo punível nos casos expressos
em lei, razão pela qual a dita expressão não compreende a culpa. De outro lado, sustenta-se que a
expressão “deve saber” é indicativa de negligência, sendo uma das formas de expressão da culpa.
Em termos de conteúdo desta expressão, cremos que abrange a culpa, caso contrário seria uma
expressão inútil, pois para referir-se ao dolo direto e eventual não há necessidade de utilizar-se de
expressão alguma. Todavia, a pena abstrata, reclusão de três a oito anos, e multa, revela-se
desproporcional para a modalidade culposa, sendo mais severa do que o homicídio culposo,
violando o princípio da proporcionalidade da pena. Em razão disso, força convir que a finalidade da
lei foi abranger apenas o dolo direto e eventual, excluindo-se a culpa.
RECEPTAÇÃO CULPOSA
129
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
RECEPTAÇÃO DE ANIMAL
130
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
impossibilidade de se punir o dolo eventual de maneira mais severa que o dolo direto. Os adeptos
dessa orientação asseveram que, para que seja preservado o princípio da proporcionalidade da
pena, o art. 180-A do CP deve conter a mesma pena do caput do art. 180 pois se para o dolo direto
é aplicável esta pena menor, com maior razão deve ser aplicado quando se tratar do dolo eventual.
Uma segunda corrente preconiza que na expressão deve saber também está embutido o dolo
direto. Para tanto, invoca-se a interpretação extensiva, ampliando o texto da lei, adaptando-a a sua
vontade real, pois ela disse menos do que quis. Trata-se do argumento a fortiori - se a lei prevê um
caso deve estendê-la a outro caso em que a razão da lei se manifeste com maior rigor. Com efeito,
se a expressão “deve saber” abrange o dolo eventual, consistente na dúvida sobre a origem
criminosa da coisa, com maior razão deve abranger o dolo direto, em que há a certeza da origem
ilícita. Filiamo-nos a essa última corrente. Não se trata de suprir lacunas da lei, mas de revelar o seu
real significado. Na realidade, o dolo direto encontra-se implicitamente previsto no texto legal.
Outra discussão é se a expressão “deve saber” compreende ou não a culpa. De um lado,
argumenta-se que o crime culposo tem caráter excepcional, só sendo punível nos casos expressos
em lei, razão pela qual a dita expressão não compreende a culpa. De outro lado, sustenta-se que a
expressão “deve saber” é indicativa de negligência, sendo uma das formas de expressão da culpa.
Em termos de conteúdo desta expressão, cremos que abrange a culpa, caso contrário seria uma
expressão inútil, pois para referir-se ao dolo direto e eventual não há necessidade de utilizar-se de
expressão alguma. Todavia, a pena abstrata, reclusão de três a oito anos, e multa, revela-se
desproporcional para a modalidade culposa, sendo mais severa do que o homicídio culposo,
violando o princípio da proporcionalidade da pena. Em razão disso, força convir que a finalidade da
lei foi abranger apenas o dolo direto e eventual, excluindo-se a culpa.
Por fim, além do dolo, há ainda outro elemento subjetivo do tipo que é a finalidade de
produção ou comercialização, que alguns penalistas chamam de dolo específico.
IMUNIDADES ABSOLUTAS
As imunidades absolutas, que isentam de pena quem comete delito contra o patrimônio em
prejuízo de ascendente, descendente ou cônjuge, na constância da sociedade conjugal, são
autênticas escusas absolutórias, vedando inclusive a instauração do inquérito policial. Trata-se de
um perdão legal. Conquanto o fato seja típico, antijurídico e culpável, há um impedimento legal da
punibilidade, que é excluída, de antemão, antes mesmo da prática do delito, distinguindo-se do
perdão judicial, que é concedido pelo juiz na sentença, após o devido processo legal.
Nas imunidades penais relativas, previstas no art. 182 do CP, o delito, de ação pública
incondicionada, transmuda-se para ação pública condicionada à representação da vítima ou de seu
representante legal. Tratando-se de crime de ação privada, não há falar-se em imunidade
processual, cuja finalidade é beneficiar, ao invés de prejudicar. A ação penal privada é mais
vantajosa do que a ação penal pública condicionada à representação.
A primeira causa de imunidade processual consiste no fato de o delito ser praticado em
prejuízo de cônjuge desquitado ou judicialmente separado.
A segunda causa, delito praticado em prejuízo de irmão, abrange os irmãos germanos ou
bilaterais (filhos dos mesmos pais) e os irmãos unilaterais, que podem ser consanguíneos (filhos do
131
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
mesmo pai) ou uterinos (filhos da mesma mãe). É claro que a imunidade também se estende aos
irmãos adotivos.
A última causa de imunidade, delito praticado em prejuízo de tio ou sobrinho com quem o
agente coabita, pode se caracterizar ainda que o crime tenha sido praticado fora do local em que
eles vivem, como, por exemplo, numa pescaria.
EXCEÇÕES ÀS IMUNIDADES
Dispõe o art. 183 do CP que as imunidades absolutas e relativas, referidas anteriormente, não
se aplicam:
a) Ao delito de roubo.
b) Ao delito de extorsão.
c) Aos delitos cometidos com emprego de grave ameaça ou violência à pessoa. Exemplo: art.
163, parágrafo único, inciso I, do CP. De acordo com Magalhães Noronha, exclui-se a imunidade
quer a violência ou ameaça seja empregada contra o parente da vítima ou contra terceiro, pois a lei
não faz distinção.
d) Ao estranho que participa do crime. De fato, a imunidade é uma circunstância pessoal, logo
incomunicável, por força do art. 30 do CP. Assim, o terceiro que auxilia o marido a furtar a esposa
responde pelo delito de furto.
e) Aos delitos praticados contra pessoa com idade igual ou superior a 60 anos. Foi introduzida
essa hipótese pelo estatuto do idoso (Lei n. 10.741/2003). Assim, o filho que furta o pai maior de 60
anos responde pelo delito.
ESTUPRO
CONCEITO
132
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
os crimes de atentado violento ao pudor praticados antes da referida lei passaram a ser crimes de
estupro. Só houve alteração do nome do delito. A hipótese é de aplicação do princípio da
continuidade normativa.
OBJETIVIDADE JURÍDICA
SUJEITO ATIVO
Trata-se de crime comum, podendo ser praticado tanto pelo homem quanto pela mulher,
porquanto o tipo penal refere-se a “constranger alguém”. De fato, a mulher pode figurar como
autora do estupro se obrigar o homem a ter com ela conjunção carnal ou outro ato libidinoso.
É partícipe aquele que induzir, instigar ou auxiliar alguém a praticar estupro. É coautor quem
constranger alguém, mediante grave ameaça, para que o seu comparsa mantenha conjunção carnal
ou ato libidinoso com a vítima. Será, por fim, autor mediato quem ordenar uma pessoa que atua
sem culpabilidade a praticar conjunção carnal ou ato libidinoso com outra pessoa, mediante
violência ou grave ameaça. É, por exemplo, autora mediata de estupro a mulher que instiga um
doente mental a manter conjunção carnal violenta com a vítima. Também é autor mediato de
estupro, diante da coação moral irresistível, aquele que aponta a arma para um casal, obrigando os
dois a manterem relação sexual.
Por outro lado, a mulher, munida de uma prótese peniana, ao obrigar outra mulher ao coito
vagínico cometerá estupro. Aludido ato não é conjunção carnal, mas é um ato libidinoso. Equivale à
introdução de objeto na vagina. O conceito de conjunção carnal é restrito à introdução do pênis na
vagina, mas para a configuração do estupro não é mais imprescindível que ocorra conjunção carnal.
O hermafrodita, dotado de órgão sexual masculino e órgão sexual feminino, ao constranger
uma mulher à relação sexual, cometerá também o delito de estupro.
SUJEITO PASSIVO
O sujeito passivo do estupro é o homem e a mulher. O tipo penal do art. 213 do CP não deixa
dúvidas ao referir-se expressamente a “constranger alguém”. Não se exige a honestidade da vítima,
e, por isso, a prostituta pode figurar também como sujeito passivo.
Discute-se se a esposa pode ser vítima de estupro praticado pelo marido, quando este,
mediante violência ou grave ameaça, a obriga à relação sexual. Nelson Hungria assevera tratar-se
de exercício regular do direito, pois entre os cônjuges existe o dever recíproco de manter relação
sexual, diante do chamado débito conjugal, de modo que a cópula sexual, em si mesma, é legítima,
caracterizando, porém, o delito de estupro quando a recusa for justa (marido com doença venérea;
133
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
ELEMENTOS OBJETIVOS
Conjunção carnal é a relação sexual normal entre o homem e a mulher, caracterizada pelo
coito vagínico, ainda que incompleto. É, pois, a “introductio penis in vaginam”.
Atos libidinosos diversos da conjunção carnal são os equivalentes ou sucedâneos fisiológicos
desta (Exemplos: coito oral, coito anal, onanismo etc.). Igualmente, aqueles que contrastam com a
dignidade sexual e, por isso, são tidos como depravações sexuais.
O delito de estupro, mediante ato libidinoso diverso da conjunção carnal, pode ser executado
de duas formas:
a) O agente constrange a vítima a praticar o ato libidinoso. Nesse caso, a vítima realiza o
ato em si mesma, no agente ou em terceiro, tendo, pois, uma participação ativa. Exemplos: a
vítima é obrigada a realizar a felação, a masturbação etc.
b) O agente constrange a vítima a permitir que com ela seja praticado o ato libidinoso.
Em tal situação, a vítima tem participação passiva, sendo constrangida a anuir à prática do
ato. Exemplo: coito anal.
Urge, para a caracterização do delito, tenha a vítima uma participação material nos fatos.
Como salienta Nelson Hungria, o ato libidinoso tem de ser praticado pela, com ou sobre a vítima.
134
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Desnecessário, porém, o contato físico entre o agente e a vítima. Tipifica-se, por exemplo, o
delito quando o agente obriga a vítima a se masturbar. Igualmente, responde pelo crime o agente
que surpreende uma mulher nua e a constrange a permanecer nua para contemplá-la, realizando a
chamada visão lasciva.
Por outro lado, não comete o delito em apreço o agente que obriga a vítima a presenciar atos
de libidinagem praticados por terceiros. De fato, em tal situação, a vítima não pratica nem permite
que com ela se pratique o ato libidinoso. Ela não teve uma participação material nos fatos. Aludida
perversão sexual, de se satisfazer vendo os outros, é denominada mixoscopia ou voyeurismo. Caso
a vítima seja menor de 14 anos haverá o delito de satisfação de lascívia mediante presença de
criança ou adolescente, previsto no art. 218-A do CP. Se ela for maior de 14 (catorze) anos, ausente
a violência ou grave ameaça para obrigá-la a presenciar o ato, o fato será atípico, porquanto o art.
218-A do CP não incrimina a corrupção dos maiores de 14 (catorze) anos, mas se houver violência
ou grave ameaça, o agente poderá responder pelo crime de constrangimento ilegal (art. 146 do CP).
135
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
surpresa, não podia oferecer resistência. Outra amolda o fato no crime de importunação sexual,
previsto no art. 215-A do CP que, com o advento da lei 13.718/2018, substituiu a contravenção de
importunação ao pudor, que era previsto no art. 61 da LCP, mas que acabou sendo revogada.
DISSENSO DA VÍTIMA
O núcleo do tipo é o verbo constranger, que significa obrigar, forçar ou coagir, pressupondo o
dissenso da vítima, a sua não adesão ao ato sexual.
Urge, para perfeita caracterização do delito, distinguir duas situações.
A primeira, que diz respeito ao estupro praticado por celerado desconhecido da vítima, não
exige desta um sacrifício desmesurado ou heroísmo excessivo, configurando-se o crime ainda que
ela não venha, por medo, a resistir.
A segunda, referentemente ao estupro praticado por homem do relacionamento da vítima,
por exemplo, noivo ou namorado, há de ser analisado com maior cautela, dela se exigindo uma
resistência positiva, sincera e inequívoca, para a tipificação do crime, sendo, pois, insuficiente as
chamadas “negativas tímidas”, consubstanciadas num “não querer sem rebeldia” ou meras palavras
de protesto.
A oposição da ofendida deve estar presente durante todo o desenrolar da conjunção carnal,
se a certa altura ela aceita, não há falar-se em estupro. Em contrapartida, haverá estupro quando a
vítima, que inicialmente havia consentido, passa a discordar com veemência do ato sexual ou
libidinoso.
O consentimento posterior à conjunção carnal, não exclui o crime. Assim, persiste o delito na
hipótese de a vítima passar a namorar o estuprador, ou manter novas relações sexuais com ele.
136
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
é justa.
É o dolo, caracterizado pela vontade de manter a conjunção carnal ou ato libidinoso ciente ou
na dúvida acerca da oposição da vítima. Na hipótese de dúvida sobre a oposição da vítima, ter-se-á
o dolo eventual. Se, porém, o agente acreditava sinceramente ser desejo da vítima manter a
conjunção carnal ou ato libidinoso, por ser ela pessoa do seu relacionamento íntimo, haverá apenas
culpa, e, como é sabido, o Código não incrimina o estupro culposo.
Uma primeira corrente, denominada subjetiva, exige o dolo específico, o fim de satisfazer a
lascívia, ou seja, o prazer sexual. Se o propósito for outro, por exemplo, vingar-se ou humilhar, o
crime seria de injúria real.
Uma segunda corrente, denominada objetiva, que é dominante, sustenta que o dolo é
genérico, caracterizando-se o crime de estrupo quer haja ou não o fim de satisfazer a lascívia, pois
não se pode presumir a existência de um elemento subjetivo que não é mencionado pelo tipo
penal.
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
CONCURSO DE CRIMES
As lesões corporais leves e as vias de fato são absorvidas pelo estupro, pois já o integram.
Se o estuprador tinha doença venérea, mas esta não se transmitir à vítima responderá por
estupro em concurso com o art. 130 do CP; se, ao revês operar-se a transmissão da doença, a pena
do estupro aumenta de um sexto até a metade, nos termos do art. 234-A, IV, do CP, absorvendo-se
o delito do art. 130 do CP, tendo em vista o princípio da subsidiariedade tácita.
Se o estupro for praticado em lugar público, responderá em concurso com o delito de ato
137
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Dispõe o §1º do art. 213 do CP: “Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se
a vítima é menor de 18(dezoito) ou maior de 14(catorze) anos:
Pena- reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.”
Trata-se de qualificadora, pois tem pena própria, isto é, desvinculada da pena prevista no tipo
fundamental.
São duas qualificadoras.
A primeira é o fato de a vítima, ao tempo do crime, ser menor de 18 anos e maior de 14. Se
ela for menor de 14 anos, o crime será de estupro de vulnerável, previsto no art. 217-A do CP.
A segunda refere-se à lesão corporal de natureza grave causada pela conduta. Não é
necessário que seja oriunda da violência ou grave ameaça. Basta que da conduta resulte a lesão
grave. Exemplo: a vítima, durante o estupro, sofre um derrame cerebral.
A expressão lesão corporal de natureza grave abrange os §§ 1º e 2º do art. 129 do CP. Quanto
às lesões leves e vias de fato, não qualificam o estupro, pois são elementares do tipo, e, por isso,
absorvidas.
A lesão grave pode ser tanto dolosa quanto culposa, conforme determina o art. 19 do CP. É
138
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
minoritária a corrente que considera a qualificadora apenas na hipótese de lesão grave culposa,
sustentando que, na dolosa, o estupro seria simples em concurso com a lesão corporal grave. A
pena do estupro qualificado pela lesão grave é elevada, bem superior à pena do delito de lesão
grave, de modo que o resultado agravador, para que incida a qualificadora, pode ser tanto culposo
quanto doloso, conforme preceitua o art. 19 do CP.
Haverá o preterdolo quando a lesão grave for culposa.
É essencial, para a incidência da qualificadora, que a lesão corporal seja antecedente ou
concomitante à conjunção carnal ou ato libidinoso. Em tal situação, o delito de lesão corporal
grave, previsto nos §§ 1º e 2º do CP é absorvido, por força do princípio da subsidiariedade tácita.
Se a lesão grave se verifica somente após a consumação do estupro, como no exemplo em
que o agente, após a conjunção carnal, causa dano estético na vítima, riscando-lhe o rosto com
uma faca, haverá delito de estupro simples em concurso com o crime de lesão corporal gravíssima,
previsto § 2º, inciso IV, do art. 129 do CP. De fato, o § 1º do art. 213 do CP exige que a lesão grave
resulte da conduta descrita no tipo, que é diferente das condutas perpetradas após a consumação.
É, pois, necessário o nexo causal entre a conduta descrita no art. 213 do CP e a lesão grave
sofrida pela vítima, outrossim, o dolo ou culpa do agente em relação a esta lesão. Sobrevindo a
lesão grave de um fato imprevisível ao homem médio exclui-se a qualificadora.
139
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
libidinoso.
Uma segunda corrente tipifica o fato como sendo tentativa de estupro qualificado.
Uma terceira sustenta que é tentativa de estupro qualificado, quando a morte for dolosa,
mas, na hipótese de morte culposa, tendo em vista a impossibilidade de tentativa em crime
preterdoloso, o fato passa a ser tentativa de estupro simples em concurso com homicídio culposo.
DISPOSIÇÕES GERAIS
O capítulo III do Título VI prevê duas disposições gerais aplicáveis aos delitos dos capítulos I e
II, arts. 213 a 218–B do CP, a saber:
a) Ação penal (art. 225);
b) Causas de aumento de pena (art. 226).
O art. 234–A, por sua vez, prevê outras causas de aumento de pena, aplicáveis a todos os
delitos contra a dignidade sexual (arts. 213 a 234 do CP).
E, por fim, o art. 234–B estabelece o segredo de justiça.
A ação penal é pública incondicionada, qualquer que seja o delito contra a dignidade sexual
previsto neste Título VI da Parte Especial.
A propósito, dispõe o art. 225 do CP, com nova redação que fora dada pela Lei 13.718/2.018:
“Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal
pública incondicionada”.
Em nenhuma hipótese a ação será privada ou pública condicionada à representação. Até
mesmo no delito de assédio sexual, a ação penal será pública incondicionada, pois o art. 225
abrange todos os crimes dos Capítulos I e II (arts. 213 à 218-C) .
Antes desta lei, a ação era pública condicionada em relação às vítimas maiores de 18 anos.
Quanto aos crimes anteriores, a ação penal dependerá de representação, por força da
irretroatividade da lei penal que prejudica o réu.
De fato, a lei que exclui a exigência de representação tem caráter híbrido, sendo ao mesmo
tempo uma lei penal e processual penal, sendo, pois, regida pelo princípio da irretroatividade.
O art. 226 estabelece causas de aumento de pena aos delitos contra a dignidade sexual,
previstos nos Capítulos I e II (arts 213 à 218-C).
Com efeito, dispõe o art. 226 do CP:
A pena é aumentada:
I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas;
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge,
companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver
autoridade sobre ela; (Redação dada pela Lei nº 13.718, de 2018).
III - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado: (Incluído pela Lei nº
13.718, de 2018).
140
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Esta majorante, crime cometido com concurso de duas ou mais pessoas, é aplicável a todos os
delitos dos capítulos anteriores, exceto aos crimes de estupros, pois para estes a lei prevê a causa
de aumento de pena específica, introduzida pela Lei 13.718/2.018, prevista no inciso IV, alínea “a”,
desse mesmo art. 226.
CRIME PRATICADO POR QUEM A QUALQUER TÍTULO TIVER AUTORIDADE SOBRE A VÍTIMA
Esta majorante de metade da pena consagra a interpretação analógica, pois o legislador, após
mencionar uma fórmula casuística, consubstanciada na frase – “se o agente é ascendente, padrasto
ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor (professor, mestre) ou
empregador da vítima” - menciona uma fórmula genérica, concretizada na expressão “ou por
qualquer outro título tiver autoridade sobre ela”.
A enumeração constante na fórmula casuística é exemplificativa, porquanto, através da
fórmula genérica, abarca-se outros fatos semelhantes, como a babá da criança. Não se trata de
integração analógica (analogia), mas sim de interpretação analógica. Na analogia, há lacuna, a lei
não prevê o fato, sendo vedada na área penal, quando “in malam partem”; na interpretação
analógica, não há lacuna, pois a lei, através da fórmula genérica, manda abranger expressamente
outros fatos.
Ressalte-se o fundamento da majorante, consistente na maior ofensa à moral e aos bons
costumes.
Trata-se, em algumas dessas hipóteses, de incesto, que, por si só não é crime, mas funciona
como causa de aumento de pena dos delitos sexuais.
Quanto ao crime de assédio sexual praticado pelo empregador, não incide a referida causa
de aumento de pena, pois a condição de superior hierárquico já é um dos elementos deste tipo
penal.
ESTUPRO COLETIVO
O estupro coletivo é o praticado mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes. Nesse caso,
a pena aumenta de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços).
De acordo com Nelson Hungria, só tem incidência o aumento da pena se os dois ou mais
agentes atuaram na fase de execução.
Em contrapartida, Magalhães Noronha, acertadamente, dispensa, para o reconhecimento da
majorante, a presença na execução, pois o concurso de agentes também pode ocorrer mediante
participação (induzimento, instigação ou auxílio). De fato, se o legislador quisesse exigir a presença
na fase da execução teria ressalvado expressamente, como no § 1º do art. 146 do CP, utilizado
como parâmetro para a concretização da interpretação sistemática. Assim, se “A” instiga “B” a
cometer um estupro contra determinada vítima, ambos, para a segunda corrente, terão o aumento
da pena, que, na hipótese, seria excluído pela primeira corrente.
141
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
ESTUPRO CORRETIVO
Trata-se de uma novidade introduzida pela Lei 13.718/2.018, que prevê o aumento de 1/3
(um terço) a 2/3 (dois terços) da pena.
O objetivo do agente é controlar, ou seja, conter , regular, corrigir, censurar o
comportamento social ou sexual da vítima, com o intuito de forçá-la a mudar a orientação sexual
ou social.
Trata-se, a rigor, de um crime de ódio. As vítimas geralmente são lésbicas, bissexuais,
transexuais e pessoas de costumes liberais.
É essencial, para a incidência da causa de aumento de pena, que o propósito do agente seja o
de controlar o comportamento da vítima.
A majorante se refere ao estupro sem apontar o dispositivo legal correspondente e, por
consequência, abrange o estupro comum e o estupro de vulnerável, previstos nos arts. 213 e 217-A
do CP, respectivamente, mas o assunto certamente ensejará polêmica para se excluir a majorante
no estupro de vulnerável. Se a causa de aumento fosse exclusiva do estupro do art. 213, ela teria
sido inserida neste dispositivo legal, e não no Capítulo IV, que cuida das disposições comuns. Este
argumento topográfico elimina qualquer discussão hermenêutica.
O art. 9º da Lei n. 8.072/90 prevê ainda outra majorante, aplicável ao delito de estupro,
determinando o aumento da pena de metade, quando a vítima estiver em qualquer das hipóteses
referidas no art. 224 do CP (não é maior de 14 anos; é alienada ou débil mental e o agente conhecia
esta circunstância; não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência). Mas diante da
revogação expressa do art. 224 do CP, conforme art. 7º da Lei 12.015/2009 operou-se também a
revogação desta causa de aumento de pena prevista no art. 9º da Lei 8.072/1990, pois este
dispositivo referia-se expressamente ao citado art.224. Ademais, nessas hipóteses, o crime não é
mais de estupro, mas sim estupro de vulnerável, previsto do art. 217-A do CP, sendo que esta de
causa de aumento de pena já funciona como elemento do tipo.
142
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O fato de o agente ser casado deixou de figurar como causa de aumento de pena nos crimes
sexuais, porque a Lei n. 11.106, de 28 de março de 2005, revogou expressamente o inciso III do art.
226 do CP.
Dispõe o citado art. 234–A do CP: “Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada:
I. (VETADO);
II. (VETADO);
III. de metade a 2/3 (dois terços), se do crime resulta gravidez;
IV. de um sexto até a metade, se o agente transmite à vítima doença sexualmente
transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador ou se a vítima é idosa ou pessoa com
deficiência.”
Majorante da gravidez
Se do crime resulta gravidez, seja esta viável ou inviável, impõe-se a majorante em análise.
O aumento da pena, que era da ½ (metade) , passou a ser de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois
terços), a partir do advento da lei 13.718/2.018.
Nos crimes anteriores, o juiz poderá levar em conta a nova lei para aplicar o aumento de 1/3 (
um terço) até a 1/2 ( metade), por força da retroatividade da lei penal benéfica, mas este aumento
não poderá ultrapassar da metade, pois a lei posterior, nos aspectos que prejudicam o réu, não
poderá retroagir.
143
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Quanto ao delito previsto no art. 130 do CP, é absorvido, quando houver a transmissão da
doença, porque já integra o tipo penal como causa de aumento de pena, aplicando-se, destarte, o
princípio da subsidiariedade implícita. Se, no entanto, não se operar o contágio, exclui-se a
majorante, mas, em contrapartida, o agente responderá pelo delito de perigo de contágio de
moléstia venérea, previsto no art.130 do CP, em concurso com o delito sexual.
Estas duas majorantes, de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), também introduzidas pela lei
13.718/2.018, referem-se ao idoso e ao deficiente.
Idoso é o maior de 60 anos, ao tempo da conduta criminosa, conforme o Estatuto do Idoso
(lei n. 10.741/2003).
Deficiente é a pessoa que apresenta alguma disfunção física ou mental.
Nesses dois casos, não incidem as agravantes genéricas, previstas no art. 61, inciso I, alínea
“h”, do Código Penal, consistente em ter sido o crime cometido contra maior de 60 anos ou
enfermo, porque já funcionam como causas de aumento da pena.
No tocante à deficiência mental, já funciona como elemento do crime de estupro de
vulnerável e, por isso, não poderá também ensejar a causa de aumento de pena, diante da vedação
do “bis in idem”.
SEGREDO DE JUSTIÇA
Os processos em que se apuram crimes contra a dignidade sexual, arts. 213 a 234, correrão
em segredo de justiça (art. 234–B do CP). O segredo de justiça, em relação a esses delitos, é
obrigatório, ficando o acesso aos autos restrito ao juiz, ao órgão acusatório, ao réu e ao seu
advogado.
CONCEITO
144
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
OBJETIVIDADE JURÍDICA
O bem jurídico protegido é a liberdade sexual, violada pela atitude fraudulenta do agente ou
por outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima.
SUJEITO ATIVO
Trata-se de crime comum, pois pode ser cometido por qualquer pessoa, homem ou mulher.
SUJEITO PASSIVO
O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa. Consequentemente, até a prostituta pode ser
vítima do delito.
145
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
ludibriada pelo agente que, sem que ela perceba, retira o preservativo.
O agente que, após manter relações sexuais com prostituta, empreende fuga para não
efetuar o pagamento, responde pelo delito do art. 215 do CP?
Uma primeira corrente afirma que sim, pois a intenção premeditada de “dar o calote”
caracteriza um meio fraudulento.
Uma segunda corrente nega a existência do crime, à medida que a vítima não incidiu em erro
sobre a identidade do agente ou legitimidade do ato sexual. A meu ver, é a orientação correta,
posto que nem toda fraude caracteriza o delito em análise, mas apenas aquela que leva a vítima a
erro sobre a identidade do agente ou legitimidade do ato sexual.
Além da fraude, o legislador faz menção a outro meio que impeça ou dificulte a livre
manifestação da vontade da vítima. Exemplos: coação resistível, embriaguez incompleta, etc. Se,
porém, a vítima não podia oferecer resistência, o delito passa a ser estupro de vulnerável (art. 217-
A do CP), como na hipótese de o agente manter relação sexual com vítima completamente
embriagada.
Assim, cumpre distinguir duas situações:
a) A situação da pessoa que não pode, por qualquer causa, oferecer resistência. Esta pessoa é
a que se encontra em estado de inconsciência ou então consciente, mas sem força física ou
psicológica para se opor ao ato sexual ou libidinoso. Figura esta pessoa como vítima do crime de
estupro de vulnerável (art. 217- A do CP). São exemplos de estado de inconsciência a embriaguez
completa, o coma, o sonambulismo, a hipnose e o sono profundo. Como exemplo de vítima
consciente, mas sem força física para oferecer resistência ao ato, podemos citar a pessoa
tetraplégica. E, por fim, o exemplo clássico de vítima consciente, mas sem força psicológica para
oferecer resistência ao ato, é o temor reverencial profundo da filha em relação às investidas sexuais
do pai. Em todas essas hipóteses, o agente responderá pelo crime de estupro de vulnerável.
b) A situação da pessoa que, em razão do meio empregado pelo agente, se encontra
impedida ou com dificuldade para manifestar livremente a vontade. Esta pessoa se encontra
consciente e com força física e psicológica para se opor ao ato sexual ou libidinoso, e, por isso, não
pode figurar como vítima do crime de estupro de vulnerável.
Todavia, o livre arbítrio, para decidir entre a prática e a rejeição do ato sexual ou libidinoso,
não se encontra em sua plenitude. Assim, o meio empregado pelo agente que impede ou dificulta a
livre manifestação de vontade da vítima é o que influi significativamente no livre arbítrio dela,
motivando-a a aderir ao ato sexual ou libidinoso. A embriaguez incompleta, a coação resistível e a
promessa de vantagem são exemplos desses meios mencionados pelo delito do art. 215 do CP. É
essencial, para a configuração do citado delito, que o meio tenha sido empregado pelo agente. Se,
por exemplo, ele depara com a vítima em situação de embriaguez incompleta e aproveita para ter
com ela a conjunção carnal, exclui-se o crime do art. 215 do CP. Já no delito de estupro de
vulnerável, a lei não exige que a impossibilidade de resistência da vítima tenha sido causada pelo
próprio agente.
146
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
delito. Saliente-se ainda que a fraude não pode privar a vítima de sua consciência. De fato, o
emprego de narcóticos para obter a relação sexual caracteriza delito de estupro de vulnerável.
Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa,
conforme o parágrafo único do art. 215. Exemplo: o agente pratica o delito para ganhar uma aposta
que havia feito.
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
IMPORTUNAÇÃO SEXUAL
Sujeito ativo
Objetividade jurídica
Sujeito passivo
É a pessoa ou pessoas contra quem o ato libidinoso foi praticado. Em havendo mais de uma
vítima, o agente responderá pelos diversos delitos em concurso formal (art. 70 do CP).
É ainda necessário que a vítima já tenha 14 anos. De fato, se o agente praticar o ato
libidinoso, na presença de alguém menor de 14(catorze) anos, haverá o delito do art. 218-A do CP.
147
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O núcleo do tipo é o verbo praticar, que significa executar ou realizar o ato libidinoso.
O ato libidinoso deve ser praticado contra alguém. Exemplos: masturbar-se na frente de uma
determinada pessoa. Outro exemplo: passar as mãos nas nádegas de uma pessoa. Mais um
exemplo: tocar nos seios ou nas partes íntimas de uma mulher, durante uma balada.
É mister que o agente realize algum ato libidinoso em si mesmo , em terceiro ou na vítima. Na
hipótese de palavras ou narrações libidinosas, não há falar-se no delito em análise.
Igualmente, para a tipicidade, é fundamental que o ato libidinoso seja praticado contra a
vítima, isto é, que seja direcionado a ela.
Não é preciso, para que o delito se caracterize, que haja o contato físico com a vítima.
Se, no entanto, houver o contato físico, os delitos serão os seguintes:
a) estupro, em caso de violência ou grave ameaça;
b) importunação ao pudor, caso não haja violência nem grave ameaça.
Quanto ao local do crime, conforme já salientado anteriormente, não é mencionado pelo tipo
penal. Pode assim o delito ser praticado em recinto público ou privado. Se for em local
público, haverá concurso com o delito de ato obsceno.
O delito só é punido a título de dolo, que é a vontade consciente de praticar o ato libidinoso
contra a vítima.
Admite-se também o dolo eventual. Exemplo: o agente, na dúvida se será ou não observado
por alguém, resolve masturbar-se no interior de um trem.
É ainda essencial o dolo específico, ou seja, o fim de satisfazer a lascívia própria ou alheia.
Lascívia, conforme já visto anteriormente, é o prazer sexual. Se o fim for outro, por exemplo,
satisfazer alguma necessidade fisiológica, por exemplo, urinar, o delito não se caracteriza, mas
poderá responder pelo crime de ato obsceno, previsto no art. 233 do CP.
Quanto à culpa, não é contemplada pelo tipo penal. Nesse caso, não há o delito em apreço.
Exemplo: o agente se masturba acreditando sinceramente que ninguém o observava.
Consumação
O delito se consuma com a prática do ato libidinoso contra alguém, ainda que a vítima não
tenha percebido a cena.
Um ato libidinoso é suficiente para a consumação do crime. Se, no mesmo contexto, o agente
praticar mais de um ato libidinoso contra a mesma vítima, haverá delito único.
Tentativa
Admite-se a tentativa quando o ato libidinoso não é praticado por circunstâncias alheias à
vontade do agente.
Ação penal
ASSÉDIO SEXUAL
148
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
CONCEITO
OBJETIVIDADE JURÍDICA
Tutela-se a liberdade sexual, que é atingida diante do constrangimento imposto pelo agente à
vítima.
Trata-se de bem jurídico disponível, excluindo-se o delito quando a vítima adere
espontaneamente ao assédio, sem que o agente lhe tenha constrangido.
Ao lado da liberdade sexual, outro bem jurídico tutelado é o direito à não-discriminação no
trabalho. De fato, o Código Penal só incrimina o assédio laboral, isto é, relacionado ao ambiente de
trabalho.
O assédio moral, caracterizado pelas restrições à liberdade no ambiente de trabalho, como a
proibição de conversar, cumprimentar os colegas etc., não caracteriza o delito.
SUJEITO ATIVO
Trata-se de crime próprio, pois só pode ser cometido por pessoa que seja superior
hierárquico ou tenha ascendência sobre a vítima em razão de emprego, cargo ou função.
A expressão emprego é para os assédios sexuais no ambiente laborativo privado; as
expressões cargo ou função, referem-se ao ambiente laborativo no setor público.
O tipo penal refere-se à superioridade hierárquica ou ascendência em razão de emprego,
cargo ou função.
Por superior hierárquico, entende-se a pessoa que, no ambiente laborativo, detém o poder
jurídico sobre o subalterno, podendo, por exemplo, promovê-lo, demiti-lo, instaurar contra ele
sindicância ou processo administrativo etc.
Em contrapartida, a ascendência refere-se ao poder de fato sobre o subalterno, exercido por
pessoa que não integra a estrutura hierárquica jurídica do ambiente laborativo, mas dela participa,
como na hipótese do sócio majoritário de uma empresa em relação aos empregados, razão pela
qual não concordo com a opinião de Damásio E. de Jesus, pugnando pela inexistência do delito,
diante da ausência de vínculo empregatício entre o empregado e o sócio.
O autor do delito pode ser homem ou mulher. Não há falar-se no delito quando o autor do
assédio não exerce qualquer poder de mando sobre a vítima, sendo subalterno a ela ou então do
mesmo nível hierárquico.
Conforme se vê, o Código não incrimina o assédio ambiental, caracterizado por qualquer
comportamento de natureza sexual intimidatório ou ofensivo ao trabalhador, ainda que entre colegas
do mesmo nível hierárquico, podendo ser praticado até pelo subalterno em face do superior.
O pai não comete o delito de assédio sexual contra a filha, pois a sua ascendência advém do
poder familiar, e não de emprego, cargo ou função. Igualmente, não se configura o delito quando o
149
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
SUJEITO PASSIVO
O núcleo do tipo é o verbo constranger, que, no delito em apreço, não tem o significado de
coagir com violência, forçar ou obrigar, pois este tipo de ação caracteriza estupro, consumado ou
tentado. Para o fim de assédio sexual, o constrangimento se traduz pelo ato de acanhar a vítima,
envergonhá-la, deixá-la “sem jeito”, chateá-la, se bem que o delito pode se caracterizar pela
coação, desde que esta não se revele com violência ou grave ameaça. Na gíria, o assédio é a
chamada “cantada”.
Trata-se de delito de forma livre, pois a lei não especifica os meios de execução, razão pela
qual pode ser praticado por qualquer forma, como palavras, gestos, cartas etc.
Presente a violência física ou grave ameaça, não há falar-se em assédio, mas em estupro.
Todavia, o constrangimento seguido de leve ameaça para obter vantagem ou favorecimento sexual
pode tipificar o delito de assédio sexual.
150
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
hierárquico pede para a vítima convencer uma amiga a ter um encontro sexual com ele. Assim,
enquanto a vantagem refere-se a uma atitude sexual direta da vítima, no favorecimento esta realiza
apenas uma intermediação para beneficiar o agente em relação a uma outra pessoa.
A vantagem ou favorecimento sexual pode ser em benefício do agente ou de terceiro, ainda
que este se mostre alheio aos fatos, pois onde a lei não distingue, ao intérprete não é lícito
distinguir. Se o terceiro estiver em conluio com o agente, responderá como partícipe do delito de
assédio sexual.
Acrescente-se ainda que o fato de o agente ser apaixonado pela vítima não exclui o delito
(art. 28, I, do CP).
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
CONCEITO
OBJETIVIDADE JURÍDICA
Tutela-se a intimidade sexual da vítima, que é lesada com a prática a de uma das condutas
criminosas.
Trata-se de bem jurídico disponível, excluindo-se o delito quando a vítima, desde que seja
maior de 18 anos, tenha autorizado previamente o fato.
Em havendo mais de uma pessoa envolvida na cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso, é
necessário, para exclusão do crime, o consentimento prévio de todas elas.
O consentimento após a consumação não exclui o delito.
SUJEITO ATIVO
Trata-se de crime comum, praticável por qualquer pessoa, tanto pelo homem quanto pela
mulher, independentemente da existência de um prévio relacionamento íntimo com a vítima.
151
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
SUJEITO PASSIVO
O sujeito passivo também pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher. Quanto à criança e
adolescente, em regra, não podem ser vítimas do delito em análise.
De fato, quando se tratar de criança ou adolescente haverá o delito especial do art. 240 do
ECA, cuja pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Entretanto, o art. 240 do ECA só incrimina o fato quando se tratar de cena de sexo explícito
ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente. Dessa forma, na hipótese de cena de nudez,
que não tenha conotação de sexo explícito e pornográfica, impõe-se a aplicação do art. 216-
B, suprindo-se a lacuna do art. 240 do ECA.
152
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
CONSUMAÇÃO
TENTATIVA
Admite-se a tentativa quando a conduta não se última por circunstâncias alheia à vontade do
agente. Exemplo: a polícia surpreende o agente no instante em que ele iria iniciar a filmagem.
AÇÃO PENAL
Este capítulo II do título VI do Código Penal refere-se aos crimes sexuais contra pessoa
vulnerável. Foi introduzido pela lei 12.015, de 7 de agosto de 2009. Estes delitos são os seguintes:
a) Estupro de vulnerável (art. 217-A);
b) Mediação para satisfazer a lascívia alheia (art. 218);
c) Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente (art. 218-A);
d) Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual (art. 218-B).
Em todos esses delitos o sujeito passivo é a pessoa vulnerável, isto é, que apresenta um
ponto fraco e, por isso, revela-se suscetível de ser ofendida com maior facilidade.
ESTUPRO DE VULNERÁVEL
CONCEITO
153
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Dispõe o artigo 217-A do CP: “Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com
menor de 14(catorze) anos: Pena – reclusão, de 8(oito) a 15(quinze) anos.”
“Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou
que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência”.
OBJETIVIDADE JURÍDICA
SUJEITO ATIVO
Trata-se de crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa, seja homem ou
mulher. Trata-se de crime hediondo, nos termos do art. 1º da lei n. 8.072/1990, com redação dada
pela lei 12.015/2009.
SUJEITO PASSIVO
154
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
b) Enfermo ou deficiente mental que não tem o necessário discernimento para a prática do
ato. Não basta, para caracterização do crime, a enfermidade ou deficiência mental, pois é preciso
ainda a falta do discernimento necessário para a prática da conjunção carnal ou ato libidinoso. É
imprescindível a realização de perícia médica para apuração da situação mental e do discernimento
da vítima. Mesmo sendo ela semi-imputável, enquadrada no parágrafo único do art. 26 do CP, é
possível a configuração do crime, caso lhe falte o necessário discernimento para prática do ato.
Entretanto, com o advento da lei 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), há uma
controvérsia sobre a vulnerabilidade sexual do enfermo ou deficiente mental sem o necessário
discernimento, pois o art. 6º da referida lei preceitua que a deficiência não afeta a plena
capacidade civil da pessoa, inclusive para exercer direitos sexuais e reprodutivos. O deficiente sem
discernimento é classificado como relativamente incapaz, e não mais absolutamente incapaz. Note-
se que o Estatuto do Deficiente preservou-lhe a liberdade para exercer direitos sexuais e
reprodutivos. Diante disso, certamente haverá entendimento proclamando a inexistência do crime
de estupro de vulnerável quando o enfermo ou deficiente mental sem o necessário discernimento
aderir à prática do ato sexual. Trata-se evidentemente de um tema polêmico. Filio-me a este
entendimento, pois a curatela da pessoa com deficiência afeta tão somente os atos relacionados
aos direitos de natureza patrimonial e negocial, não atingindo o direito ao próprio corpo, à
sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto (art. 85 da
lei 13.146/2015).
c) Pessoa que não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência. A expressão
“qualquer outra causa” abrange outras situações que não sejam a idade inferior a 14 anos e o
problema mental. Exemplos: vítima completamente embriagada, hipnotizada, drogada,
tetraplégica, temor reverencial profundo, etc. Estando a vítima em estado de inconsciência
(embriaguez completa, hipnose, drogada, etc.), creio que o consentimento posterior ao ato sexual
exclui o crime, implicando em ratificação da conduta do agente, desde que ela seja maior de
18(dezoito) anos. Se a vítima estava consciente durante o ato sexual, mas não podia resistir, porque
era tetraplégica, o delito só se tipifica diante do seu dissenso. Entendimento diverso violaria a sua
liberdade sexual.
No delito em estudo, não se exige violência ou grave ameaça. Quer haja ou não a violência ou
grave ameaça, o enquadramento será o mesmo, respondendo o agente pelo art. 217-A, podendo
este maior grau de truculência influir na dosagem da pena (art. 59 do CP). A adesão da vítima ao
ato sexual não exclui o delito, pois diante da sua vulnerabilidade, a lei não empresta validade ao seu
consentimento.
1º Ter conjunção carnal com pessoa vulnerável. Entende-se por conjunção carnal a relação
155
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
sexual normal entre o homem e a mulher, consistente no coito vagínico. A mulher que induz o
adolescente menor de 14 anos a ter com ela conjunção carnal também pratica o delito em estupro.
2º Praticar outro ato libidinoso com pessoa vulnerável. O tipo penal exige, como se vê, que o
agente pratique o ato libidinoso com a pessoa vulnerável. Esta apenas suporta o ato, assumindo um
papel passivo. É lamentável a lacuna da lei, que não incrimina o fato de a pessoa vulnerável praticar
o ato em si mesma, no agente ou num terceiro. Em tal situação, caso haja violência ou grave
ameaça, o agente responderá pelo estupro do art. 213 do CP, mas ausente a violência ou ameaça
força convir que o fato é atípico, diante da proibição da analogia “in malam partem”.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, consistente na vontade livre de ter a conjunção carnal
ou ato libidinoso, consciente da vulnerabilidade da vítima. Admite-se também o dolo eventual
quando o agente, não obstante a dúvida sobre a idade ou outra situação de vulnerabilidade da
vítima, opta pela prática da conjunção carnal ou ato libidinoso.
Exclui-se o crime, diante do erro de tipo, se o agente desconhecia completamente a situação
de vulnerabilidade da vítima, acreditando sinceramente, por exemplo, que ela era maior de 14
anos, diante do seu porte físico avantajado ou da exibição de um documento falso.
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
Consuma-se com a conjunção carnal ou ato libidinoso, ainda que praticado de forma
incompleta. Admite-se a tentativa quando a conjunção carnal ou ato libidinoso não se verifica, nem
mesmo de forma incompleta, por circunstâncias alheias à vontade do agente, como no exemplo da
vítima que consegue fugir ilesa do seu algoz.
FORMAS QUALIFICADAS
Dispõe do § 3º do art. 217-A: “Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave: Pena –
reclusão, de 10(dez) a 20(vinte) anos.”
E, em seguida, dispõe o § 4º do art. 217-A: “Se da conduta resulta morte: Pena – reclusão, de
12 (doze) a 30 (trinta) anos”.
Conforme se vê, o delito é qualificado pela lesão grave ou morte. Trata-se de qualificadora,
porque tem pena própria. A morte ou lesão grave pode ser dolosa ou culposa. Deve haver ainda
nexo causal entre a conduta descrita no tipo e o resultado lesivo. O delito de homicídio e o delito de
lesão corporal grave são absorvidos, pois já integram o tipo penal como qualificadoras.
Sobre o assunto, reporto ao leitor sobre os comentários já feitos no art. 213, §§ 1º e 2º, do
CP.
156
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
crime."
Trata-se de uma norma penal explicativa, pois o tipo penal já era interpretado dessa forma
pela Súmula 593 do STJ. O consentimento da vítima é, pois, irrelevante.
Igualmente, não se exclui o crime pelo fato de a vítima, em outras oportunidades anteriores,
ter mantido relações sexuais com o agente.
Aliás, as relações sexuais posteriores, praticadas voluntariamente, quando a vítima já houver
deixado a condição de vulnerável, também não excluem o delito, cuja ação penal é pública
incondicionada e, por isso, não há falar-se em perdão.
O aludido §5º é, entretanto, omisso sobre a existência ou não do crime que envolve vítima
com experiência sexual, ressuscitando a polêmica que havia sido encerrada pela Súmula 593 do STJ.
Com efeito, o entendimento sumulado mantém intacto o crime em três situações:
a) Quando houver o consentimento da vítima;
b) Quando a vítima houver mantido anteriormente relações sexuais com o agente;
c) Quando a vítima tiver experiência sexual.
O §5º abraçou expressamente as duas situações, mantendo a existência do crime, mas
silenciou sobre a última. Dessa forma, concedeu munição para a interpretação que exclui o crime
quando a vítima for prostituta ou outra pessoa com experiência sexual, pois o silêncio da lei teria
sido conclusivo, isto é, proposital. A meu ver, o delito persiste, aplicando-se a Súmula 593 do STJ,
por força também dos argumentos acima deduzidos.
CONCEITO
Dispõe o art. 218 do CP: “Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de
outrem: Pena- reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.”
Este delito, introduzido pela Lei 12.015, de 7 de agosto de 2009, consta na lei como sendo
corrupção de menores, mas merece o nome de mediação para satisfazer a lascívia de outrem, pois
é uma espécie de lenocínio, delito previsto do art. 227 do CP, diferindo apenas quanto à idade da
157
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
vítima.
De fato, na corrupção de menores, o agente age para satisfazer a própria lascívia, ao passo
que no delito em análise, que é uma espécie de lenocínio, o propósito é satisfazer a lascívia alheia.
OBJETIVIDADE JURÍDICA
Tutela-se a dignidade sexual dos menores, visando evitar a sua contaminação e depravação
sexual. O consentimento da vítima não exclui o crime, ainda que ela seja emancipada, pois a
imaturidade decorrente da idade por si só é fator impeditivo de sua adesão à conduta criminosa.
SUJEITO ATIVO
SUJEITO PASSIVO
O núcleo do tipo é o verbo induzir, que significa persuadir, convencer, aconselhar, inspirar,
sugerir, mover, incitar, instigar, encorajar, obrigar, arrastar, compelir, fazer incorrer, enfim, levar
alguém a agir de determinada maneira. Todavia, se o agente já estava firmemente decidido a
satisfazer a lascívia alheia, a incitação subsequente não constituirá delito.
O induzimento deve visar à satisfação da lascívia de outrem. Entende-se por lascívia, no sentido
do texto penal, o prazer sexual, a sensualidade, a luxúria, a libidinagem, a concupiscência, em suma, o
apetite sexual. Não há necessidade que o induzimento seja para que a vítima mantenha relação sexual
ou outro ato libidinoso com o destinatário do lenocínio, pois o prazer sexual, a lascívia, é um termo mais
158
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
amplo, abrangendo também o ato de presenciar a libidinagem, assistir a filmes pornográficos, folhear
revistas de sexo, praticar atos libidinosos em si mesmo ou com terceiro etc.
O pronome outrem, por sua vez, refere-se à pessoa ou pessoas determinadas, de modo que o
induzimento à prostituição, isto é, à satisfação da lascívia de um número indeterminado de
pessoas, não configura o delito em estudo e sim um crime de favorecimento a prostituição, previsto
no art. 218-B do CP.
É o dolo, consistente na vontade livre de induzir a vítima a satisfazer a lascívia alheia, consciente de
que se trata de pessoa menor de 14 (catorze) anos. O erro sobre a idade da vítima exclui o delito em
análise, mas, de qualquer maneira, o agente ainda responderá pelo crime do art. 227 do CP.
O dolo genérico consiste na vontade de induzir e o dolo específico é revelado pela expressão
“fim de satisfazer a lascívia de outrem”.
Vê-se, portanto, que o objetivo do lenão é satisfazer a lascívia de outrem. Não há lenocínio
quando o agente age para satisfazer a lascívia do próprio induzido, instigando-o, por exemplo, a
manter relação sexual com a namorada.
Conquanto não haja necessidade de conluio, acordo prévio, entre o lenão e o destinatário da
libidinagem, configurando-se o crime ainda que este desconheça a ação daquele, é imprescindível,
para a ocorrência do delito, o dolo específico, consistente no fim único e exclusivo de satisfazer a
lascívia de uma terceira pessoa.
Acrescente-se ainda que se exclui o delito em apreço quando o agente induz alguém a
satisfazer a lascívia alheia com o propósito de extorquir economicamente, chantagear, o induzido, o
destinatário, ou ambos, mas, nesse caso, responderá pelo crime de extorsão (art. 158 do CP).
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
Uma primeira corrente sustenta acertadamente que o crime se consuma com o simples
induzimento, independentemente de a vítima prestar-se efetivamente à satisfação da lascívia
alheia, admitindo-se a tentativa no induzimento por escrito que, por circunstâncias alheias à
vontade do agente, não chega até a vítima.
Outra corrente preconiza que a consumação ocorre quando a vítima efetivamente se presta à
satisfação da lascívia alheia, sem que haja necessidade da satisfação do gozo genésico deste,
configurando-se a tentativa quando a vítima, já plenamente induzida, é impedida, por
circunstâncias alheia à vontade do agente, a realizar o ato destinado a satisfazer a lascívia de
outrem.
Saliente-se, por fim, que o delito não é habitual, consumando-se com a prática de um único
ato libidinoso.
Vale lembrar que quando o ato libidinoso for praticado pelo próprio vulnerável não se
configura o delito do art. 217-A do CP, conforme já salientado anteriormente. Se, no entanto, é o
próprio agente que pratica o ato libidinoso com menor de 14(catorze) anos, o enquadramento será
no art. 217-A do CP (estupro de vulnerável), absorvendo-se o delito do art. 218 do Código Penal.
CONCEITO
159
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
OBJETIVIDADE JURÍDICA
O bem jurídico protegido é a dignidade sexual dos menores de 14 (catorze) anos. O tipo penal
visa evitar a contaminação moral e depravação deles. Por ser a vítima menor de 14 (catorze) anos,
o seu consentimento revela-se inócuo, subsistindo o crime, ainda que o menor seja civilmente
emancipado.
SUJEITO ATIVO
Trata-se de crime comum, pois pode ser praticado por qualquer pessoa, homem ou mulher.
SUJEITO PASSIVO
160
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
CONCEITO
161
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
OBJETIVIDADE JURÍDICA
SUJEITO ATIVO
162
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
(catorze) e menor de 18 (dezoito) anos, além de mentalmente sã, pois se ela for menor de 14
(catorze) anos ou enferma ou deficiente mental sem o necessário discernimento para o ato, o
cliente responderá pelo crime de estupro de vulnerável (art. 217-A do CP), figurando o proxeneta
como partícipe deste delito. Em contrapartida, se a vítima for maior de 18 (dezoito) anos, o cliente
que a possuiu sexualmente não responde por delito algum.
c) O proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas
referidas no caput do art. 218-B. É claro que, para que responda pelo crime, é mister tenha
consciência do fato criminoso.
Tratando-se da vítima menor de 14 (catorze) anos, ou enferma ou deficiente mental sem o
necessário discernimento para o ato, situação em que o proxeneta e o cliente enquadram-se no
delito de estupro de vulnerável (art. 217-A do CP), o proprietário, o gerente ou o responsável pelo
local responderão, tão somente, pelo crime de favorecimento à prostituição (art. 218-B, § 2°, II, do
CP), operando-se uma exceção pluralística à teoria monista da ação. Com efeito, no § 2°, inciso I, do
art. 218-B do CP, o legislador ressalva que o cliente responderá pelo crime de favorecimento à
prostituição quando a vítima for menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze), silenciando sobre o
fato de a vítima ser menor de 14 (catorze) anos ou então enferma, ou deficiente mental justamente
para que, nessa situação, o enquadramento se faça no art. 217-A (estupro de vulnerável). Em
contrapartida, no § 2°, inciso II, do art. 218-B do CP, o legislador enquadra o proprietário, o gerente
ou o responsável pelo local no delito de favorecimento à prostituição sempre que a vítima
encontrar-se na situação do caput, que abrange tanto o menor de 18 (dezoito), inclusive o menor
de 14 (catorze) anos, quanto o enfermo ou deficiente mental. Esta postura do legislador, a meu ver,
revela-se absurda, excluindo-se do estupro de vulnerável o fornecedor do local em que ocorre a
exploração sexual.
Acrescente-se ainda que constitui efeito obrigatório da condenação, previsto no § 3° do art.
218 -B do CP, a cassação da licença de localização de funcionamento do estabelecimento.
SUJEITO PASSIVO
O sujeito passivo do crime pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher, que seja menor de
18 (dezoito) ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento
para a prática do ato.
Tratando-se de vítima menor de 14 (catorze) anos, o delito em apreço, previsto no art. 218-B
do CP, também se configura, desde que ela não chegue a praticar a conjunção carnal ou outro ato
libidinoso. De fato, se ocorrer a efetiva conjunção carnal ou outro ato libidinoso, o proxeneta e os
clientes responderão pelo crime de estupro de vulnerável (art. 217 do CP).
Quanto à prostituta, pode figurar como sujeito passivo do crime quando o agente realizar as
condutas de submeter ou facilitar a prostituição ou exploração sexual, outrossim, impedir ou
dificultar que abandone o meretrício. Mas não é possível a ocorrência do crime nos verbos induzir e
atrair, pois se ela já exerce o meretrício exclui-se qualquer possibilidade de induzir ou atraí-la à
prostituição.
163
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
164
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
exploração sexual”.
Esta outra forma de exploração sexual, que deve ser similar à prostituição, a meu ver,
consiste no fato de a vítima expor a sua sensualidade, de forma habitual, para a satisfação da
lascívia alheia. É, pois, explorada sexualmente quem se expõe habitualmente à sensualidade para
que outras pessoas tirem proveito pessoal ou econômico. À guisa de exemplos, podemos
mencionar os seguintes:
a) dançarina de casa de espetáculos, que se apresenta nua ou em trajes íntimos;
b) ator ou atriz de filme pornográfico;
c) quem habitualmente se entrega sexualmente a qualquer pessoa, sem fim lucrativo;
d) quem habitualmente se entrega sexualmente a um número determinado de pessoas, com
ou sem fim lucrativo.
É mister, a meu ver, para que se caracterize essa outra forma de exploração sexual, que se
trate de um modo de viver da pessoa explorada, consistente em expor continuamente a sua
sensualidade à satisfação da libidinagem alheia.
CONSUMAÇÃO
Nas modalidades submeter, induzir, atrair e facilitar o delito se consuma com o início do
estado de prostituição ou de exploração sexual. E, nos verbos dificultar e impedir, a consumação
ocorre com o prosseguimento do estado de prostituição ou de exploração sexual, não conseguindo
a vítima abandoná-la.
O estado de prostituição se inicia pela publicidade ou facilidade do acesso carnal,
prescindindo-se da prática efetiva da conjunção carnal ou outros atos libidinosos. Portanto, antes
mesmo do primeiro freguês, já pode configurar o estado de prostituição, quando a vítima, por
exemplo, faz do prostíbulo sua moradia ou nele permanece em busca de clientes.
Não se trata de crime habitual, porquanto não se exige que o agente reitere
sistematicamente a conduta criminosa. Uma única ação de submeter, induzir, atrair, facilitar,
dificultar ou impedir pode ser suficiente para a consumação do delito, desde que ela tenha
eficiência causal para fazer iniciar o estado de prostituição ou o prosseguimento do meretrício.
O delito, conquanto instantâneo, pode revelar-se eventualmente permanente nas
modalidades submeter, dificultar ou impedir, tendo em vista que, nessas hipóteses, a conduta pode
prolongar-se no tempo por desígnio do agente.
Quanto à tentativa, é possível quando o agente realiza a conduta, mas o estado de
prostituição ou o prosseguimento no meretrício não se verifica por circunstâncias alheias à sua
vontade.
165
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
DISTINÇÃO
CONCEITO
“Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar,
por qualquer meio - inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de informática ou telemática
-, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de
vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento da vítima, cena de sexo,
nudez ou pornografia:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime mais grave.
Sujeito ativo
Objetividade jurídica
166
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Sujeito passivo
O sujeito passivo é a pessoa que aparece na cena como vítima do estupro. Igualmente, as
pessoas que aparecem na cena de sexo, nudez ou pornografia.
O consentimento da vítima não exclui o crime, quando se tratar de cena de estupro ou de
estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza à prática desses delitos, mas na hipótese
de cena de sexo, nudez ou pornografia, o consentimento prévio da vítima afasta o delito, desde que
ela seja maior de 18 anos.
167
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
No caso de culpa, o fato será atípico. Exemplo: o agente desconhecia o conteúdo do vídeo.
Não é exigível, para a configuração do crime, o fim de satisfazer a lascívia própria ou alheia.
Consumação
Tentativa
Admite-se a tentativa quando a conduta não é realizada, por circunstâncias alheias à vontade
do agente.
Aumento de pena
a) ter mantido relação íntima de afeto com a vítima. Exemplos: amizade, namoro, casamento,
união estável, união homoafetiva. Não é preciso que o agente tenha tido relação sexual com a
vítima. Basta, para a incidência da majorante, uma exposição das partes íntimas em razão de uma
relação de afeto. Quanto ao ginecologista, que por ventura tenha filmado a paciente, não sofre a
incidência do aumento da pena, pois não se trata de uma relação de afeto.
b) fim de vingança. Trata-se do escopo de retaliação ou represália. Nesse caso, exclui-se a
agravante do motivo torpe, prevista no art. 61, II, “a”, do CP.
c) fim de humilhação. Humilhar é rebaixar ou desmoralizar a pessoa. Igualmente, este
propósito constitui motivo torpe, afastando-se a agravante do art. 61, II, “a”, do CP.
Exclusão de ilicitude
168
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Ação penal
Crimes funcionais, isto é, aqueles praticados por funcionário público (art. 312 a 327 do Código
Penal). Por exemplo: o crime de peculato.
Todo crime praticado contra a Administração Pública para se obter a progressão de regimes,
isto é, a transferência do regime mais rigoroso para o menos rigoroso, a passagem, por exemplo, do
regime fechado para o semiaberto, semiaberto para o aberto; além de ter que cumprir o
percentual legal da pena, é preciso ainda reparar o dano (§3º do art. 33 do Código Penal).
Os crimes funcionais são aqueles em que a lei exige que o autor seja funcionário público.
Podem ser:
a) Crimes funcionais próprios ou puros ou absolutos: são aqueles em que se o autor não for
funcionário público, o fato é atípico, isto é, não há crime nenhum. Por exemplo: receber dinheiro
para praticar algum ato. Se o agente é funcionário público é corrupção passiva. Agora, no âmbito de
uma repartição privada, o empregado de uma empresa privada que recebe dinheiro para praticar
algum ato não pratica crime nenhum;
b) Crimes funcionais impróprios ou impuros ou relativos: são aqueles em que se o agente
não for funcionário público, ainda assim há outro crime. Por exemplo: apropriar-se de dinheiro. Se
for funcionário público no âmbito da Administração Pública é peculato, mas, um particular que se
apropria de dinheiro na empresa privada é apropriação indébita.
Os crimes funcionais puros ou impuros quando são afiançáveis tem rito especial, isto é, o Juiz
antes de receber a denúncia notifica o réu (funcionário público) para apresentar a defesa preliminar
em 15 (quinze) dias. Só após é que o Juiz decide se recebe ou não a denúncia. Se o Juiz receber
direto essa denúncia sem dar oportunidade para o réu apresentar a defesa preliminar a Súmula 330
do STJ diz: “se houve inquérito policial antes é mera irregularidade não ter notificado para
apresentar defesa preliminar”. Portanto, se teve inquérito policial, mas não teve a defesa
preliminar não há nulidade.
Na nova sistemática todos os crimes são afiançáveis. Só não cabe fiança para aqueles crimes
que a Constituição proíbe expressamente, como os hediondos, terrorismo, tráfico de entorpecentes
e tortura. Portanto, todos os crimes funcionais são afiançáveis.
O funcionário público que é condenado por crime funcional a uma pena igual ou superior a 01
(um) ano pode perder o cargo. O próprio Juiz Penal na sentença pode determinar a perda do cargo,
169
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
função ou mandato se a condenação for igual ou superior a 01 (um) ano por crime funcional. A
perda do cargo não é automática depende de fundamentação do Magistrado na sentença. É o
efeito da condenação específico.
Quando o funcionário público pratica um crime não funcional, por exemplo, um estupro, um
homicídio, a sentença penal só pode determinar a perda do cargo se a condenação for superior a 04
(quatro anos).
No Direito Administrativo funcionário público é só quem exerce cargo público junto à
Administração Direta, isto é, junto à União, Estado-Membro, Municípios e Distrito Federal.
No Direito Penal o conceito é mais abrangente. Funcionário Público é quem exerce cargo
público, emprego público, função pública, seja na Administração Direta, seja na Administração
Indireta, ainda que transitoriamente e sem remuneração. Por exemplo: um jurado é funcionário
público para fins penais, se ele receber dinheiro para julgar ele pratica corrupção passiva; o mesário
da eleição é funcionário público para os fins penais. Funcionário Público é aquele que exerce função
pública. Função Pública é a que realiza os fins próprios do Estado. A faxineira do Fórum é
funcionária pública para fins penais, porque ela realiza uma função específica do Estado, limpar as
repartições públicas. O conceito de funcionário público abrange Chefes do Executivo como o
Presidente da República, Governadores, Prefeitos, Ministros, Secretários, Promotores de Justiça,
Estagiário de Promotoria, Defensores Públicos.
O “munus público” é o encargo imposto, mas para proteger interesses preponderantemente
particulares, daí não é funcionário público para fins penais. Assim, o inventariante que se apropria
de dinheiro de inventário não é peculato porque não é funcionário público, ele é nomeado para
atender interesses preponderantemente dos herdeiros; o administrador judicial da massa falida;
tutor; curador, não são funcionários públicos para efeitos penais, logo eles não praticam os crimes
funcionais; mesma coisa depositário judicial que se apropria de dinheiro; o Juiz nomeou fulano para
depositário e o sujeito se apropriou do bem não é peculato, porque ele é nomeado para atender
interesses preponderantemente particulares.
170
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Os crimes próprios são compatíveis com o concurso de pessoas tanto para admitir a
coautoria, quanto a participação por força da Teoria Monista; essa Teoria diz: “quem concorre para
o crime responde pelo mesmo crime”. O particular que auxilia o funcionário a subtrair bens da
repartição pública também responde por peculato. Portanto, o particular pode ser participe, pode
ser coautor do peculato e dos demais crimes funcionais por força da Teoria Monista. É similar ao
que ocorre com o infanticídio que é um crime próprio (a mãe parturiente que mata o próprio filho),
mas o terceiro que auxilia também responde por infanticídio por força da Teoria Monista.
PECULATO
É a expressão que serve para designar dois peculatos: a) peculato apropriação; b) peculato
desvio.
Em ambos o sujeito ativo é o funcionário público que tem a posse lícita do bem em razão da
função, isto é, faz parte da função ter posse do bem. Ter posse significa ter o contato físico ou ter
poder para requisitar o bem. O chefe da repartição pública que tem poder para requisitar os bens,
tem posse.
O conceito de posse é mais amplo, é diferente do conceito do Direito Civil, no Direito Penal
quando se fala em posse abrange também a detenção (contato físico com a coisa).
Agora, se o sujeito entrega dinheiro para o amigo dele que é Oficial de Justiça pagar uma guia
no Fórum e o Oficial de Justiça se apropria do dinheiro, não é peculato, e, sim, apropriação
indébita, pois ele teve posse não em razão da função, mas em razão de amizade.
Qual a diferença entre o peculato apropriação e o peculato desvio?
A diferença está no dolo. No peculato apropriação há o “animus rem sibi habendi” que é o fim
de apoderamento definitivo do bem. O sujeito se apropria para si ou para outrem para nunca mais
devolver. No peculato desvio a o animus restituendi, o sujeito desvia, dá uma finalidade diversa em
proveito próprio ou alheio, mas com a intenção de devolver depois; o tesoureiro pegou dinheiro
público e emprestou para o sogro, mas com a intenção de devolver, mesmo assim é peculato
desvio. Portanto, a intenção de devolver o bem não exclui o peculato.
171
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O peculato desvio de uso de um bem infungível não é crime pela jurisprudência se for um uso
momentâneo, rápido, seguido da devolução do bem. Imaginemos: o funcionário público que usa o
carro público para fazer uma viagem para visitar a mãe, e depois devolve o bem, uso momentâneo
e pronta devolução não é crime de peculato pela jurisprudência. Portanto, o peculato-desvio de uso
só vai incriminar bens fungíveis, por exemplo, dinheiro, gasolina, ainda que o uso seja momentâneo
e haja devolução seguida, existe o crime de peculato. Bem infungível de uso duradouro daí existe o
peculato. Agora, quando o bem é infungível e o uso é momentâneo não há peculato, salvo,
Prefeito. O Decreto-Lei 201/67 incrimina o Prefeito que comete o peculato desvio ainda que seja
um desvio momentâneo. Aliás, o Decreto-Lei 201 também incrimina o Prefeito que comete
peculato de serviço. Nós vimos que o peculato de serviço em regra não é crime, salvo, quando
praticado por Prefeito.
O sujeito ativo é o funcionário público que não tem a posse, ele subtrai o bem ou concorre,
isto é, auxilia um terceiro a subtrair valendo-se das facilidades que o cargo lhe proporciona.
Exemplo: funcionário público esqueceu a porta do cofre aberta, daí o funcionário ladrão foi lá e
subtraiu o dinheiro. O funcionário ladrão comete peculato-furto ou impróprio, aquele que
esqueceu a porta do cofre aberto, peculato-culposo. Outro exemplo: funcionário público entrega a
chave da repartição pública para o amigo ladrão e o amigo ladrão vai lá e furta os bens. O amigo
ladrão responde por peculato-furto e o funcionário também por peculato-furto, por força da Teoria
Monista (quem concorre para o crime responde pelo mesmo crime). Agora, imaginemos:
funcionário público de madrugada, mascarado, entra pelo telhado da repartição pública para
subtrair bens; nesse caso, não é peculato, porque a função não facilitou, nesse caso, é furto.
Lembrando que bem particular pode ser objeto de peculato (malversação) desde que o bem
esteja sob a guarda ou custódia da Administração Pública. O investigador de Polícia que subtrai o
carro que estava apreendido no pátio da Delegacia comete peculato-furto, porque é um bem
particular que estava sob a guarda da Administração Pública. Agora, se o bem não está sob a
guarda da Administração Pública, daí é crime de furto. Então, imaginemos: um investigador
investigando um furto vê uma gaveta aberta na casa da vítima e pegou o bem, mas esse bem não
estava sob a guarda da Administração, então, nesse caso, é furto. Da mesma forma o Policial
Rodoviário mandou o motorista abrir o porta-malas, o motorista abriu e ele pegou alguma coisa lá.
Esse bem que ele pegou não estava sob a guarda da Administração, nesse caso, então, o crime é
furto.
PECULATO CULPOSO
O art. 312, §2º diz: “Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem”; como
naquele exemplo: funcionário público esqueceu a porta aberta do cofre e outro funcionário
subtraiu o bem. Funcionário ladrão peculato furto. O funcionário que esqueceu a porta do cofre
aberta peculato culposo. O peculatário culposo não está em conluio com o peculatário doloso.
No peculato culposo, se o funcionário público reparar o dano (pagar os prejuízos) antes do
trânsito em julgado da condenação, extingue a sua punibilidade. Se ele reparar o dano após o
trânsito em julgado, a pena é reduzida na metade. No peculato doloso não há esses benefícios. No
172
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
peculato doloso, se o funcionário reparar o dano antes do recebimento da denúncia, a pena apenas
diminui de 1 (um) a 2/3 (dois terços) (art. 16). Após o recebimento da denúncia e antes da
condenação, há uma mera atenuante genérica (art. 65, III, alínea “b”).
É também chamado de peculato eletrônico, mas a denominação não é correta porque este
crime do art. 313-A não tem o nome de peculato, tem o nome de inserção de dados falsos em
sistema de informações.
Comete esse crime o funcionário autorizado a fazer inserções no sistema. É o crime típico do
funcionário que tem poderes para incluir dados ou excluir dados do sistema. Ele pratica esse crime
quando excluem dados que não eram para serem excluídos, ou quando inserem dados que não
eram para ser inseridos, ou quando ele facilita essa inserção de dados falsos.
Esse crime exige um dolo específico. Só há o crime se houver a finalidade de obter vantagem
indevida para si ou para outrem ou causar dano. Exemplo: funcionário do DETRAN incumbido de
mexer no sistema informatizado cancela as multas, exclui as multas, ele fez isso para causar um
benefício para terceiro. Outro exemplo: funcionário do INSS inclui um benefício para quem não
tinha direito.
Esse crime tem a pena bem alta, de modo que o crime de estelionato é absorvido porque tem
a pena menor.
173
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O sujeito ativo é qualquer funcionário público que modifica o sistema, que altera o sistema.
Não precisa ser aquele funcionário público autorizado a mexer no sistema.
Não é preciso a finalidade de obter vantagem ou de causar dano. Agora, se houver algum
dano, seja para a Administração, seja para um terceiro, a pena aumenta de 1/3 (um terço).
Se o funcionário, portanto, não autorizado inclui no sistema um benefício para alguém
receber do INSS, ele vai praticar o crime de estelionato, e esse crime do art. 313-B é absorvido pelo
estelionato, porque tem uma pena menor.
Se fosse funcionário autorizado seria o art. 313-A e o estelionato seria absorvido. No art. 313-
B, crime de funcionário não autorizado, daí o nome peculato-hacker, mas, em contrapartida, se
obteve alguma vantagem fraudulenta, este crime por ter prenda branda é absorvido pelo
estelionato que tem uma pena bem maior.
174
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Sobre a diferença entre a concussão e extorsão praticada por funcionário público, cumpre
destacar que a ameaça de praticar atos funcionais que se inserem no âmbito de sua competência,
caracteriza crime de concussão, onde o funcionário abusa de seus poderes, ao passo que a ameaça
de praticar atos estranhos às funções, será crime de extorsão. Exemplo: o escrevente que exige
dinheiro para cumprir os atos processuais, responde por concussão, mas caso a exigência seja feita
para não influenciar o juiz no julgamento, haverá extorsão, posto que influenciar ou não o
magistrado refoge das suas funções. Outro exemplo: o escrivão de polícia, que exige dinheiro para
não indiciar o suspeito, pratica extorsão, pois a função de indiciar ou não é exclusiva do delegado
de polícia.
A concussão também se difere da corrupção passiva. Com efeito, o funcionário público que
solicita vantagem indevida em razão da função responde por corrupção passiva, cujo verbo solicitar
significa um mero pedido, sem qualquer ameaça ou pressão psicológica, de modo que a vítima
sente-se livre para atender ou não. Em contrapartida, o verbo exigir, que é o previsto no crime de
concussão, significa uma ameaça, ainda que implícita, sendo essencial que se infunda um temor à
vítima, pressionando-a, chantageando-a.
Por outro lado, o objeto material da concussão é a vantagem indevida, que é aquela não
prevista em lei penal ou extrapenal. Trata-se, portanto, de uma vantagem ilícita. Se a vantagem
exigida for devida haverá o crime de abuso de autoridade, previsto no art. 33 da lei 13.964/2019,
por exemplo, o delegado de polícia que, para não lavrar o auto de prisão em flagrante, exige que o
criminoso lhe pague uma dívida que realmente existe.
A vantagem exigida em proveito da própria Administração Pública, por exemplo, o delegado
de polícia exige dinheiro em troca de não indiciar o suspeito, mas com o propósito de aplicar essa
verba numa reforma da cadeia pública, a rigor, não caracteriza concussão, malgrado a opinião
contrária do penalista Magalhães Noronha, que interpreta a expressão “para si ou outrem”,
prevista no art. 316 do CP, como sendo passível de beneficiar até mesmo a própria Administração
Pública. A hipótese configura crime de abuso de autoridade, previsto no art. 33 da lei 13.869/2019.
A vantagem exigida, segundo Nelson Hungria, deve ter conotação econômica, mas Júlio
Mirabete explica que a vantagem também pode ser extrapatrimonial, pois a concussão é crime
contra a moralidade administrativa e não contra o patrimônio. De fato, no crime de extorsão, que é
previsto no art. 158 do CP, o legislador utiliza a expressão “indevida vantagem econômica”, sendo
que no art. 316 a expressão utilizada é “vantagem indevida”. Por consequência, não é necessário
que a vantagem seja econômica. O delegado de polícia que exige que lhe seja apresentado
mulheres novas e bonitas como condição de não realizar o indiciamento, a meu ver, pratica o crime
de concussão.
175
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O elemento subjetivo do tipo é o dolo específico, que consiste no fim de obter vantagem
indevida, para si ou para outrem.
Quanto à consumação, ocorre com a simples exigência da vantagem indevida. Mais
precisamente, ocorre a consumação quando a vítima toma ciência da exigência. Trata-se de crime
formal, pois não exige que a vítima se intimide ou que haja o recebimento da vantagem. Se a
exigência, por exemplo, é feita na cidade de São Paulo e o recebimento da vantagem na cidade de
Salvador, o local da consumação é São Paulo, que será o foro competente, por força do art. 70 do
CPP.
A vítima que, diante da exigência, cede à pressão e entrega a vantagem ao funcionário
público, não pratica delito algum. Em havendo o crime de concussão, cuja iniciativa da exigência é
sempre do funcionário público, não haverá o crime de corrupção ativa, pois são dois delitos
incompatíveis. Não é possível, entre estes dois crimes, a bilateralidade criminosa.
Sobre a prisão em flagrante no ato do recebimento da vantagem, só será válida se houver
sido feita logo após a exigência. Com efeito, o crime se consuma com a exigência, e não com o
recebimento da vantagem. O flagrante só existe quando o agente é surpreendido realizando a
conduta criminosa, ou logo depois. Por isso, se houver um hiato muito grande entre exigência e o
recebimento, a situação não será de flagrante. Exemplo: a vítima, cansada das exigências de
vantagens feitas pelo funcionário público, comunica a polícia, que a orienta a marcar um encontro
para a entrega simulada da vantagem e, na data designada, o agente é preso em flagrante no ato
do recebimento. Em primeiro lugar, cumpre esclarecer que não houve flagrante provocado, à
medida que o agente não foi induzido a realizar a conduta de exigir a vantagem indevida. Na
verdade, quando a polícia foi informada, o crime já havia sido praticado. No flagrante provocado,
que é nulo, a súmula 145 do STF exige o ato de provocação, que é anterior à conduta criminosa. No
exemplo, a provocação foi posterior à conduta criminosa. Em razão disso, não há falar-se em
flagrante provocado. Entretanto, o que se flagrou foi o recebimento da vantagem, sendo que a
conduta criminosa consiste na exigência, funcionando o recebimento como exaurimento do crime.
Se entre a exigência e o recebimento decorreu um certo lapso de tempo, a prisão em flagrante será
nula, não por ter se tratar de flagrante provocado, mas, sim, em face da inexistência de flagrante,
entretanto, nesse caso, não obstante a nulidade, a prova desse encontro entre o agente e a vítima
será válida, à medida que não se trata de flagrante provocado. Se, contudo, o flagrante do
recebimento foi feito logo depois da exigência, a prisão em flagrante será válida.
Por fim, no crime de concussão é possível a tentativa quando o delito houver sido praticado
por escrito, revelando-se, destarte, plurissubsistente. Exemplo: o funcionário público envia uma
carta exigindo vantagem indevida, mas opera-se o extravio sem que missiva seja entregue à vítima.
176
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
É o crime praticado pelo funcionário público que solicita, recebe ou aceita promessa de
vantagem indevida em razão da função, é o funcionário público que se vende, e temos a corrupção
ativa (art. 333), cujo sujeito ativo é o particular que oferece ou promete a vantagem para o
funcionário se corromper.
É possível ocorrer corrupção passiva sem a corrupção ativa?
Sim. No verbo “solicitar”. Quando o funcionário público solicita a vantagem para o particular.
Nesse verbo, a iniciativa é do funcionário público. Se ele solicita vantagem para o particular para
praticar algum ato só há corrupção passiva, o Código não incrimina o particular que atende a
solicitação. Da mesma forma que não há corrupção ativa quando o particular atende a exigência do
concussionário, também não corrupção ativa quando o particular atende a solicitação do corrupto.
Por outro lado, é possível ocorrer corrupção ativa sem a passiva?
Sim. Quando o particular oferece ou promete a vantagem para o funcionário e o funcionário
não aceita. Nesse caso, então, só há corrupção ativa.
Em que hipóteses ocorrendo a corrupção passiva, necessariamente ocorre a ativa? É o que se
chama de crimes bilaterais que estão interligados, se ocorrer um, tem que ocorrer o outro?
Ocorre nas corrupções passivas dos verbos “receber” e “aceitar” promessa. Nesses dois
verbos “receber” e “aceitar” necessariamente também ocorreram a corrupção ativa. Se o
funcionário público recebe é porque o particular ofereceu, logo, o particular responde por
corrupção ativa e o funcionário, corrupção passiva; se o funcionário aceita promessa é porque o
particular prometeu, logo o particular que prometeu comete corrupção ativa e o funcionário
corrupção passiva. Então, vejam: empresário oferece dinheiro para o Delegado não indiciar e o
Delegado recebe o dinheiro.
177
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
O Delegado, corrupção passiva (art. 317); o particular, corrupção ativa (art. 333). É uma
exceção pluralística à Teoria Monista.
Pela Teoria Monista quem concorre para o crime responde pelo mesmo crime. Aqui nós
temos dois crimes diferentes:
a) O corruptor: corrupção ativa;
b) O corrompido (funcionário): corrupção passiva.
O funcionário público pode praticar corrupção ativa quando age fora da função. Imaginemos:
um Juiz que não vai julgar a causa oferece dinheiro para o Juiz que vai julgar. Esse Juiz que não vai
julgar comete corrupção ativa, e o que vai julgar se aceitou a promessa corrupção passiva.
A corrupção passiva própria é quando o funcionário se vende para violar seus deveres
funcionais. Exemplo: o Escrivão pede dinheiro para esconder o processo.
A corrupção passiva imprópria é quando o funcionário público se vende para cumprir seus
deveres. Exemplo: Juiz pede dinheiro para expedir rapidamente alvará, uma guia de levantamento.
A corrupção passiva antecedente é aquela que o funcionário público se vende antes de
praticar o ato, isto é, ele solicita, recebe ou aceita a promessa de vantagem antes de praticar o ato.
Então, o Delegado pede dinheiro para não indiciar.
A corrupção passiva subsequente verifica-se quando o funcionário se vende após já ter
praticado o ato. Exemplo: o Delegado não indiciou, e depois disso foi lá solicitou, recebeu, aceitou
promessa de vantagem.
A corrupção passiva direta é quando o próprio funcionário solicita, recebe ou aceita promessa
de vantagem.
A corrupção passiva indireta é quando tem um “testa de ferro” que vai solicitar, receber ou
aceitar a promessa. Este “testa de ferro” responderá junto com o funcionário por corrupção
passiva.
O sujeito ativo da corrupção passiva é o funcionário público. Ele pratica este crime ainda que
esteja fora da função (férias, suspenso), e mesmo antes de assumir a função.
Se o funcionário solicita e depois recebe, se o funcionário aceita a promessa e depois recebe é
um crime só, por força do Princípio da Alternatividade. Este princípio é aplicado aos tipos penais
mistos alternativos, também chamados de crimes de conduta fungível ou variável (são aqueles que
a lei prevê mais de uma conduta como forma de praticar o mesmo crime). Nesse caso, a reiteração
das condutas caracteriza crime único. A lei fala: “solicitar, receber promessa ou receber”, é um
crime só. À semelhança do que acontece com o art. 122 (induzir, instigar ou auxiliar alguém ao
suicídio). Se induz, instiga ou auxilia é um crime só, por força do Princípio da Alternatividade.
178
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Consuma-se quando o funcionário solicita a vantagem, ainda que não receba. Quando ele
toma essa iniciativa de pedir, já está consumado quando a vítima tomou ciência da solicitação.
Se quem oferece é o particular, consuma-se quando o funcionário recebe. Se quem promete
é o particular, consuma-se quando o funcionário aceita a promessa.
Portanto, a corrupção passiva consuma-se quando o funcionário solicita, recebe ou aceita
promessa da vantagem, ainda que não pratique ato nenhum. Foi uma troca para praticar um ato ou
por ter praticado, ainda que viole o compromisso de praticar o ato. Exemplo: Promotor recebeu
dinheiro para dar parecer para absolver e deu parecer para condenar, mesmo assim é corrupção
passiva, porque o crime se consuma quando solicita, recebe ou aceita promessa por ter praticado
um ato ou omissão.
Prisão em Flagrante: Policial disfarçado que oferece dinheiro ao funcionário para testar se ele
é corrupto ou não. Quando o funcionário aceita, o policial disfarçado o prende em flagrante.
Evidente que esse flagrante é nulo porque foi um flagrante provocado. O agente foi induzido a
realizar a conduta criminosa por uma pessoa que impediu a prática do crime. Nem tentativa há
(Súmula 145 do STF).
A pena da corrupção passiva é desproporcional é de 02 (dois) a 12 (doze) anos. Ao passo que
a pena da concussão, que é um crime mais grave, porque há uma exigência, uma ameaça, vai até 08
(oito) anos. Então, se o crime mais grave (concussão) a pena máxima é 08 (oito) anos, o crime
menos grave (corrupção passiva) a pena máxima não pode ser 12 (doze), viola o Princípio da
Proporcionalidade da Pena; portanto, a pena máxima da corrupção passiva por força desse
princípio também deve ser 08 (oito) anos.
Pena
A corrupção passiva, que é prevista no art. 317 do CP, tem a seguinte pena: reclusão, de 2
(dois) a 12 (doze) anos, e multa.
Entretanto, o crime de concussão, previsto no art. 316 do CP, que é mais grave, tendo em
vista que o funcionário público faz uma exigência, com conotação ameaçadora, a pena era inferior,
reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.
Era nítida a violação do princípio da proporcionalidade da pena, porquanto o delito menor
não pode ter uma reprimenda maior que o delito mais grave.
A confusão foi gerada pela lei 10.763/2003, que aumentou a pena da corrupção passiva e se
esqueceu de majorar a pena do crime de concussão.
A doutrina preconizava pela recomposição da lógica para que a pena máxima da corrupção
passiva fosse também de 8 (oito) anos, além da multa. Quanto à pena mínima, não havia qualquer
ilegalidade.
Com o advento da Lei 13.964/2019, a pena do delito de concussão passou a ser de reclusão
de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa, igualando-se, destarte, à pena do crime de corrupção passiva,
previsto no art. 317 do CP, encerrando-se, destarte, a incongruência.
A pena aumenta de 1/3 (um terço), não é propriamente uma qualificadora, e, sim, uma causa
de aumento de pena. A pena aumenta de 1/3 (um terço), mas exige dois requisitos cumulativos:
a) Que seja uma corrupção antecedente, isto é, que o funcionário se venda antes de
praticar o ato. Se ele praticou o ato sem se vender e só depois ele pediu, recebeu ou aceitou
179
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
promessa, não tem esse aumento de pena. Então, o aumento depende dele ter feito a
solicitação, recebimento, aceitação da promessa antes de praticar o ato;
b) Que se trate de uma corrupção própria, isto é, que ele se vende para violar seus
deveres. Quando ele se vende para cumprir deveres a corrupção passiva é sempre simples
(art. 317, “caput”). Igualmente, a corrupção passiva subsequente é sempre simples (art.
317, “caput”);
Exige também que efetivamente viole os seus deveres. Nós vimos que a corrupção passiva se
consuma quando solicita, recebe ou aceita promessa, ainda que ele não viole os deveres. Agora, se
depois disso ele violar efetivamente os deveres, a pena aumenta de 1/3 (um terço). Assim, por
exemplo, o guarda recebeu dinheiro como cortesia para não multar, e de fato não multou, é uma
corrupção passiva qualificada, porque se ele recebe o dinheiro e mesmo assim multa é corrupção
passiva simples, agora se ele recebe o dinheiro e não multa é corrupção passiva qualificada, porque
ele violou efetivamente os seus deveres.
É aquela que o funcionário público viola os deveres para atender a pedido ou solicitação de
terceiros. Ele não se vende, por isso que é privilegiada e tem uma pena branda, pena de 03 (três)
meses a 01 (um) ano ou multa, que é a mesma pena da prevaricação.
Este crime é parecido com a prevaricação. A diferença está no interesse a ser atendido. Na
prevaricação o funcionário viola os seus deveres para atender interesse ou sentimento pessoal,
próprios dele. Na corrupção passiva privilegiada o funcionário viola seus deveres para atender
interesse de terceiro, para atender pedido de terceiro, para bajular terceiro. O Delegado que deixa
de prender em flagrante o amigo de infância, pratica prevaricação; se ele deixa de prender uma
pessoa atendendo pedido do Governador, ou ao saber que é amigo do Governador, é corrupção
passiva privilegiada, porque ele está agindo para bajular um terceiro.
180
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
PREVARICAÇÃO
Na prevaricação o funcionário público viola seus deveres de ofício, seus deveres funcionais,
deveres da sua competência, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Exemplo: o Delegado
de Polícia que deixa de prender em flagrante o amigo de infância.
Só pratica esse crime o funcionário público que está no exercício da função, porque a lei fala
violar os deveres funcionais, os deveres de ofício. Então, ele vai praticar atos de ofício ou violar
deveres de ofício, então, pressupõe que ele esteja no exercício da função. O Policial que em dia de
folga deixa de prender em flagrante o amigo de infância não pratica prevaricação, é um mero ilícito
administrativo.
Portanto, o funcionário que viola os seus deveres, mas não o faz para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal não é prevaricação. Mero atraso de serviço, a desídia, portanto, ele está
violando os deveres, mas isso não é prevaricação porque ele não está fazendo para satisfazer
interesse pessoal ou sentimento pessoal. Por outro lado, se ele cumpre seus deveres para satisfazer
interesse ou sentimento pessoal também não é prevaricação. Se ele viola os deveres para não se
incriminar deve ser absolvido da prevaricação, pois ninguém é obrigado a fazer prova contra si
mesmo. O Prefeito, por exemplo, que deixa de apurar irregularidades ocorridas na sua
administração não pratica prevaricação, porque ele não pode apurar fatos que lhe iriam incriminá-
lo.
Se o juiz ou Ministério Público requisitam instauração de inquérito policial e o delegado não
instaura, não é crime de desobediência, pois a desobediência é crime praticado por particular
181
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
(Capítulo II – Crimes Praticados por Particular). Ao passo que a prevaricação é crime praticado por
funcionário público. Então, o delegado que desobedece a uma ordem do juiz ou Ministério Público
deixa de instaurar inquérito para satisfazer interesse ou sentimento pessoal o crime será
prevaricação e não desobediência.
O art. 319-A é conhecido pela doutrina como sendo prevaricação imprópria. Ocorre quando
Diretor de Penitenciária ou agente público deixa de cumprir o seu dever de vedar ao preso o acesso
a aparelho telefônico, rádio ou similar, que permita comunicação com outros presos ou com
ambiente externo.
Sujeito ativo é só o Diretor do presídio ou agente de fiscalização do presídio, outros
funcionários não praticam esse crime. O Diretor do presídio ou agente de fiscalização pratica
quando deixa o preso ter acesso a aparelhos de comunicação, seja aparelho de comunicação
interno, isto é, entre os presos, ou externo, isto é com ambiente externo, como telefone celular,
por exemplo, rádios ou similar. Agora, se permitiu o ingresso de partes de aparelho, como pilhas,
baterias, chips, daí não há o crime porque a lei fala entrada de aparelho e não se pode fazer
analogia “in malam partem”. Pode ser um preso em regime fechado, semiaberto, aberto. Se
entregar aparelho para menores infratores me parece que não há crime, porque não é preso, é
apreendido.
Quem entrega o aparelho para o preso responde pelo crime do art. 349-A, e o Diretor do
presídio ou agente de fiscalização que permitiu pelo art. 319-A. É mais uma exceção pluralística a
Teoria Monista, pois cada um vai responder por um crime diferente.
O crime é doloso, tem que ser uma omissão dolosa. Evidente que se o sujeito não viu, não
fiscalizou direito, ele não pratica esse crime, porque o delito não punido na forma culposa.
182
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
ADVOCACIA ADMINISTRATIVA
A definição consiste em abandonar cargo público fora das hipóteses previstas em lei.
Embora o nome seja abandono de função, só há crime se houver abandono de cargo, isto é,
de todas as funções. O abandono de uma ou algumas das funções, mas, permanece exercendo
outras funções, não é crime.
Só pratica esse crime o funcionário que exerce cargo público junto a Administração Direta.
Tem que ser funcionário público no sentido estrito do Direito Administrativo (aquele que trabalha
junto a União, Estado, Município e Distrito Federal).
Abandonar é deixar ao desamparado. Pode ser que ele se afaste ou permaneça de braços
cruzados. Então, Delegado fica no plantão dormindo, isto também é abandono.
O funcionário público que pede exoneração ou aposentadoria só pode sair após seu pedido
ser deferido. Se ele sair antes do deferimento do pedido pratica este crime de abandono de função.
Tem jurisprudência dizendo que ele precisa aguardar só 15 (quinze) dias, depois de 15 (quinze) dias
se seu pedido não foi apreciado ele poderia sair que não cometeria crime.
Só há o crime de abandono de função se houver perigo concreto, se houver um risco de dano
para o serviço público. Se o funcionário abandona a função, mas não fez falta nenhuma, não criou
perigo nenhum, não há o crime. Portanto, se o substituto legal assumir as funções não há crime.
Exemplo: o Juiz foi ao cinema, mas deixou substituto fazendo as audiências, não há crime porque é
preciso que haja um perigo à Administração Pública.
183
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA
Conceito
Objetividade jurídica
Competência
A denunciação caluniosa será julgada pela Justiça Federal ou Estadual, conforme o crime,
infração ético-disciplinar ou ato improbo imputado seja federal ou estadual.
Sujeito ativo
Em regra, trata-se de crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa, tendo em
vista que a ação penal na maioria dos casos é pública incondicionada e, dessa forma, a “notitia
criminis” pode ser levada à autoridade competente por qualquer do povo.
Outrossim, qualquer do povo pode requerer a apuração de infrações ético-disciplinares e por
ato improbo.
Quanto ao advogado que, juntamente com o cliente, assina o requerimento de instauração
de inquérito policial, ciente da inocência, será também enquadrado no delito em apreço. A
propósito, o requerimento de instauração de inquérito não exige capacidade postulatória,
prescindindo-se da assinatura do advogado.
Nos crimes de ação penal privada ou pública condicionada à representação ou requisição do
Ministro da Justiça, a denunciação caluniosa revela-se um crime próprio, que só poderá ser
praticado pelas pessoas legitimadas a providenciar a instauração da persecução penal, ou seja, a
184
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
vítima ou seu representante legal, bem como o Ministro da Justiça, conforme a natureza da ação
penal. Nesses casos, se a autoridade policial tiver a certeza da inocência e ainda assim deferir o
requerimento de instauração do inquérito, ela será também incursa no crime de denunciação
caluniosa.
Quanto ao agente público, no exercício da função ou a pretexto de exercê-la, será
enquadrado no crime de abuso de autoridade, previsto no art. 30, parte final, da lei 13.869/2019,
que prevê um delito específico de denunciação caluniosa, que afasta a incidência do delito geral do
art. 339 do CP, por força do princípio da especialidade.
A propósito, dispõe o citado art. 30, parte final:
“Dar início ou proceder à persecução penal, civil ou administrativa sem justa causa
fundamentada ou contra quem sabe inocente:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa”.
Por consequência, o juiz de direito ou o promotor de justiça, e até mesmo o delegado de
polícia e o ministro da justiça, que, por exemplo, provocam a instauração de um inquérito policial,
sabendo da inocência da pessoa, respondem pelo delito do art. 30 da lei 13.869/2019, e não pelo
art. 339 do CP, por força da princípio da especialidade.
Portanto, no delito do art. 339 do CP, o sujeito ativo é o particular, ao passo que, no delito do
art. 30 da lei 13.869/2019, o sujeito ativo é um agente público.
Sujeito passivo
O núcleo do tipo é o verbo “dar causa”, que significa provocar a instauração de um dos
procedimentos mencionados no art. 339.
Trata-se de um crime de forma livre, também chamado de delito onímodo, pois admite
inúmeros meios de execução, à medida que a “notitia criminis” pode ser levada à autoridade
competente por escrito ou verbalmente, de forma direta ou através de uma interposta pessoa ou
da maquinação astuciosa.
Entende-se por maquinação astuciosa o uso de um meio fraudulento para se imputar o delito
a uma pessoa inocente. Exemplo: o policial coloca droga no carro de uma pessoa, prendendo-a em
flagrante, nesse caso, será incurso na denunciação caluniosa do art. 30 da lei 13.869/2019. Outro
exemplo: o ladrão põe a “res furtiva” no bolso de um inocente, sem que ele perceba, dando causa à
sua prisão em flagrante pela polícia. Nesses dois exemplos, haverá o crime de denunciação
caluniosa, sendo que o ladrão ainda responderá pela tentativa de furto.
A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto
(§1º do art. 339 do CP). Esta majorante se justifica pela dissimulação do agente que provocou a
instauração do procedimento, fornecendo nome falso ou valendo-se de uma denúncia anônima.
A testemunha ou réu que imputa, durante o depoimento ou interrogatório, a autoria do
crime a uma pessoa, sabendo da sua inocência, com o propósito de gerar a instauração de um
inquérito policial, responde por denunciação caluniosa, quer tenha feito a imputação
espontaneamente, isto é, por iniciativa própria, ou em resposta às perguntas que lhe foram
formuladas. Em sentido contrário, Nelson Hungria sustenta que só haverá denunciação caluniosa se
a imputação houver sido espontânea, pois se a falsa imputação foi feita em resposta às perguntas
185
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
186
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
uma pena.
b) infração ético-disciplinar: é o comportamento ilícito que enseja penalidades
administrativas. Pode ser praticada pelo servidor público e também por profissionais que exercem
atividades regulamentadas por lei, sujeitas a controle administrativo. Exemplos: advogados,
médicos, engenheiros e outros.
c) ato improbo: é o comportamento que caracteriza improbidade administrativa, cuja
disciplina é prevista na Lei 8.429/92.
No tocante ao crime ou contravenção, se, por exemplo, o agente requer a instauração de um
inquérito imputando falsamente a alguém um homicídio, mas ressalvando que houve legítima
defesa, não responderá pelo crime de denunciação caluniosa, pois o que ele imputou não é crime,
tendo em vista que a legítima defesa é uma causa de exclusão da ilicitude.
Igualmente, não há crime de denunciação caluniosa, quando a imputação se refere a um fato
criminoso, mas prescrito ou cuja punibilidade já esteja extinta por alguma outra causa, pois, nesse
caso, o procedimento não poderia ser instaurado. Trata-se de crime impossível. Exemplo: a mulher
comunica ao delegado que o marido lhe furtou um determinado bem. Nesse exemplo, a autoridade
policial não deveria instaurar o inquérito policial, diante da imunidade penal absoluta, também
chamada de escusa absolutória, prevista no art. 181 do CP que, de antemão, extingue a
punibilidade.
A falsidade da imputação pode recair sobre:
a) a autoria: ocorre quando houve a prática do delito ou infração ético-disciplinar ou ato
improbo, mas o agente o imputa a um inocente.
b) o fato: imputa-se a um inocente a autoria de um crime ou infração ético-disciplinar ou ato
improbo que não existiu.
A denúncia do Ministério Público, sob pena de inépcia, deve descrever o crime ou infração
ético-disciplinar ou ato improbo que foi imputado ao inocente.
Há também denunciação caluniosa quando, por exemplo, se imputa um roubo à pessoa que
havia praticado um furto, mas não há o crime quando a falsidade recai sobre circunstâncias.
Exemplo: a vítima imputa a autoria do furto ao verdadeiro ladrão, mas falseia sobre a existência de
uma qualificadora, dizendo que houve arrombamento.
Por outro lado, é ainda necessário que se impute falsamente a autoria a uma pessoa
determinada ou determinável, pois a falsa comunicação de um crime ou contravenção, que provoca
a ação da autoridade, mas sem atribuir a autoria a quem quer que seja, é delito do art. 340 do CP.
Da mesma forma, não há o crime de denunciação caluniosa, quando o agente imputa
falsamente a si próprio a autoria de crime inexistente ou praticado por outrem. Nessa situação em
que denunciante e denunciado se confundem na mesma pessoa, o crime será de autoacusação
falsa, previsto no art. 341 do CP.
Frise-se, portanto, que na denunciação caluniosa o agente imputa ao terceiro inocente a
autoria de uma infração penal, infração ético-disciplinar ou ato ímprobo.
É então necessário que este terceiro seja uma pessoa determinada, isto é, identificada
previamente, ou determinável, passível de identificação através dos elementos que o agente
forneceu à autoridade, como os traços fisionômicos, endereço e outros dados.
187
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
a autoria de um furto a uma pessoa que ele sabe inocente, mas posteriormente se verifica que se
trata do verdadeiro culpado, haverá crime impossível de denunciação caluniosa.
O dolo inicial ou “ab initio” é a certeza da inocência ao tempo em que deu causa à
instauração do procedimento. Se, por exemplo, num primeiro momento, supôs que o imputado
fosse realmente o criminoso e, depois, ao tomar conhecimento da sua inocência, abstém-se de se
retratar à autoridade, não há falar-se em denunciação caluniosa, tendo em vista que o dolo
subsequente, que surge após já ter dado causa ao procedimento, não é contemplado no art. 339 do
CP. Entretanto, o penalista Rogério Greco defende a denunciação caluniosa com dolo subsequente,
pois a má-fé do denunciante, que não se retrata, implica na violação do dever jurídico de agir do
art. 13, §2º, alínea c, do CP, caracterizando uma omissão penalmente relevante.
Consumação e tentativa
De acordo com Magalhães Noronha, o delito se consuma com o início da investigação policial
ou administrativa, independentemente da instauração formal do inquérito ou processo
administrativo. Quando, por exemplo, a autoridade policial desloca um investigador, antes de
instaurar o inquérito, para fazer uma averiguação preliminar, o delito já estaria consumado. Quanto
à tentativa, é possível na hipótese de as investigações não se iniciarem por circunstâncias alheias à
vontade do agente (exemplo: a autoridade policial descobre a fraude antes de iniciar as
investigações).
Heleno Cláudio Fragoso, acertadamente, defende que a consumação só se verifica com a
instauração formal de inquérito policial, de procedimento investigatório criminal, de processo
judicial, de processo administrativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbidade
administrativa.
De fato, o art. 339 do CP refere-se expressamente à “instauração” de inquérito policial, de
procedimento investigatório criminal, de processo judicial, de processo administrativo disciplinar,
de inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa, ao passo que o art. 340 do CP, que
cuida da comunicação falsa de crime ou contravenção, utiliza a expressão “provocar a ação de
autoridade”. O termo “ação de autoridade” significa o início das investigações, enquanto que a
expressão “instauração” se refere a abertura formal do procedimento (inquérito policial,
procedimento investigatório criminal, processo judicial, processo administrativo disciplinar,
inquérito civil ou ação de improbidade administrativa). A interpretação sistemática, que faz o
cotejamento dos dispositivos legais para que o Código Penal seja visto como um todo harmônico,
reforça o ponto de vista de Heleno Cláudio Fragoso.
Sobre o momento em que pode ser oferecida a denúncia pelo crime de denunciação
caluniosa, por imputação falsa de infração penal, também há divergência.
Uma primeira corrente, com o escopo de evitar decisões conflitantes, sustenta que a
denúncia só pode ser oferecida após o arquivamento do inquérito ou trânsito em julgado da
sentença absolutória, que tramitava contra o inocente.
Uma segunda preconiza que a denúncia poderia ser oferecida desde logo, sobretudo, pelo
fato de a prescrição estar fluindo. Argumenta-se ainda que o arquivamento do inquérito e a
sentença absolutória não são questões prejudiciais do crime de denunciação caluniosa, sequer são
mencionadas pelo tipo penal do art. 339 do CP.
A mesma polêmica existe quando se trata de imputação falsa de infração ético-disciplinar ou
de ato improbo, divergindo a doutrina sobre a necessidade de se aguardar ou não o desfecho do
procedimento instaurado.
Distinção entre calúnia e denunciação caluniosa
188
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
Tipos especiais
A denunciação caluniosa com finalidade eleitoral é crime do art. 326-A, do Código Eleitoral,
introduzido pela lei 13.834/2019, cujo teor é o seguinte:
“Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, de investigação
administrativa, de inquérito civil ou ação de improbidade administrativa, atribuindo a alguém a
prática de crime ou ato infracional de que o sabe inocente, com finalidade eleitoral:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.
§1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve do anonimato ou de nome
suposto.
§2º A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção”.
Outro tipo especial, conforme já salientado anteriormente, é o delito de abuso de autoridade
previsto no art. 30, parte final, da lei 13.869/2019.
Pena desproporcional
189
Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Olivia Oliveira Guimarães
DIREITO PENAL ESPECIAL CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
190