Você está na página 1de 18

CLEBER MASSON + OUSE SABER + G7 + GRAN (PALLAZO) + GABRIEL HABIB

HOMICÍDIO - ESTRUTURA DO TIPO PENAL

HOMICÍDIO SIMPLES Art. 121, caput

HOMICÍDIO PRIVILEGIADO Art. 121, § 1º (causa de diminuição de


DOLOSO pena)

QUALIFICADORAS Art. 121, § 2º

CIRCUNSTANCIADO Art. 121, § 4º, 2ª parte

SIMPLES Art. 121, § 3º

CULPOSO CIRCUNSTANCIADO Art. 121, § 4º, 1ª parte

PERDÃO JUDICIAL Art. 121, § 5º

HOMICÍDIO

Conceito: Homicídio é a eliminação da vida humana extrauterina praticada por outra pessoa. A conduta deve
ser praticada por outra pessoa, não pode ser proveniente de ataque de animal, salvo quando o
animal for usado como instrumento do crime e a conduta de matar foi praticada por outra pessoa.

Bem jurídico A vida humana extrauterina. O homicídio é crime porque a Constituição Federal, em seu art. 5o,
protegido: caput, assegura a todas as pessoas o direito à vida. A vida é um direito material (com conteúdo que
merece proteção constitucional) e formalmente constitucional (prevista na CF).

Marco inicial e No Direito Penal, com a primeira respiração, o ser é considerado nascente. É a chamada docimasia
final do respiratória. Basta a vida humana, independentemente da viabilidade do ser nascente, de quem
homicídio: nasce. A supressão da vida humana até o início do parto configura aborto. A supressão da vida
humana após o início do parto configura homicídio.
Início do parto:
Parto normal: tem início com o rompimento do saco amniótico.
Parto cirúrgico: tem início com as incisões abdominais.
Marco final do homicídio coincide com a consumação. A consumação do homicídio dá-se com a
chamada morte encefálica. A morte encefálica é a cessação irreversível do encéfalo e tronco cerebral.
PORÉM, o homicídio se consuma a depender da produção da morte da vítima. Logo, o homicídio é
um crime material também chamado de causal ou, como o STF gosta de falar, crime de resultado.
- Prova da morte: exame necroscópico. O homicídio é um crime que deixa vestígios materiais. Então,
a prova da morte, pelo processo penal, depende de um exame de corpo de delito (gênero), cuja
espécie, nesse caso, é o chamado exame necroscópico, que prova a morte e a sua respectiva causa.

Crime Crime instantâneo é aquele que se consuma em um momento determinado, sem continuidade no
instantâneo ou tempo. Crime instantâneo de efeitos permanentes é aquele que se consuma em um momento
instantâneo de determinado, mas seus efeitos se prolongam no tempo independentemente da vontade do agente.
efeitos Não confundir com crime permanente, que é aquele que se consuma em um momento determinado,
permanentes? mas seus efeitos se prolongam no tempo só que pela vontade do agente.

➢ A posição amplamente dominante é no sentido de que o homicídio é um crime instantâneo.


Existe
divergência, há quem entenda que o homicídio é crime instantâneo de efeitos permanentes. A
vítima
morreu e o crime se consumou naquele momento, mas seus efeitos se prolongariam no tempo,
independentemente da vontade do agente. O filho ficou órfão, a mulher ficou viúva.

Forma: Homicídio é um crime de forma livre. Admite qualquer meio de execução. O homicídio pode,
inclusive, ser praticado por omissão quando quem se omitiu tinha o dever de agir para evitar o
resultado.
➢ Exemplo de homicídio por omissão: a mãe que dolosamente deixa de alimentar seu filho
recém-nascido para ele morrer desnutrido. Ela tinha o dever de agir para evitar o resultado.
A transmissão dolosa do vírus HIV: O STF diz que a transmissão dolosa do HIV não caracteriza
homicídio consumado ou tentado. Pode ser lesão corporal gravíssima pela enfermidade incurável,
se ocorrer a contaminação, ou pode ser o crime do art. 130 do CP, do perigo de contágio venéreo, se
não ocorrer a contaminação (HC 98.712, informativo 603). MASSON DISCORDAAA!

Tentativa Cabível em todas as modalidades do homicídio, exceto no culposo, porque o homicídio é um crime
plurissubsistente. Crime plurissubsistente é aquele em que a conduta é composta de dois ou mais
atos que se unem, se agrupam para juntos produzirem a consumação.
No homicídio fica muito clara aquela divisão da tentativa em branca e vermelha. Tentativa branca
também é chamada de tentativa incruenta, sendo aquela em que a vítima não é atingida, não há
derramamento de sangue e nem aquela carne crua aparecendo pelos ferimentos provocados pela
conduta do agente. De outro lado, tentativa vermelha ou tentativa cruenta é aquela em que a vítima
é atingida. O sangue é derramado, aquela carne crua e vermelha fica aparecendo.

Competência Tribunal do Júri, salvo em relação ao homicídio culposo.

Ação Penal Ação Penal Pública Incondicionada.

Lei 9099/95 Cabe a suspensão condicional do processo unicamente no homicídio culposo, desde que presentes
os demais requisitos exigidos pelo art. 89 da lei 9099/95.

Sujeito ativo: O homicídio é crime comum ou geral. Pode ser praticado por qualquer pessoa, independente de
sexo, idade. Admite tanto coautoria como participação e o concurso de pessoas.
A pessoa jurídica NÃO pode ser sujeito ativo do crime de homicídio.
➢ E se o crime for praticado por xifópagos? Essa situação foi apresentada por um penalista e
magistrado Euclides Custódio da Silveira. Xifópagos são os chamados irmãos siameses. Depende.
Imagine que o irmão da direita combine com o irmão da esquerda e os dois, cada um com um
revólver atire contra uma vítima. Os dois respondem pelo crime em coautoria, ambos praticaram
atos de execução. Imagine que um deles atira e o outro apenas incentiva. Um é autor e o outro é
partícipe.
➢ O grande problema é quando um quer praticar o crime e mata, e o outro não, mas não consegue
impedir e não concorreu com o crime. É possível separá-los mediante cirurgia ou, depois do crime,
eles foram separados? Condena um e absolve o outro. Somente um vai ser denunciado. Se não é
possível a separação, é caso de absolvição para os dois, pelo in dubio pro reo. É melhor absolver um
culpado do que condenar um inocente.

Sujeito passivo: Ser humano nascido de mulher, para Franz Von Liszt. Pode ser qualquer pessoa, após o nascimento
com vida e desde que esteja vivo.
E se o homicídio foi praticado contra xifópagos? O agente queria matar os dois e desferiu um
disparo contra cada um, matando os dois, serão dois homicídios em concurso material. Se ele queria
matar os dois e matou os dois com um único disparo, serão dois homicídios em concurso formal
impróprio ou imperfeito, com desígnios autônomos. Se ele queria matar só um, mas matou o outro.
Ainda assim, serão dois homicídios em concurso formal impróprio ou imperfeito. Quando se mata
um se está, no mínimo, assumindo o risco de também matar o outro. Então, quando há dolo direto
em relação a um, nesse caso, existe, pelo menos, dolo eventual no tocante ao outro.

É crime bicomum: comum quanto ao sujeito ativo e comum quanto ao sujeito passivo.

Elemento No homicídio simples, o elemento subjetivo é o dolo, direto ou eventual. Esse dolo no homicídio é
subjetivo: chamado de animus necandi (dolo de matar) ou animus occidendi. Para caracterizar o homicídio
basta o dolo, sem nenhuma finalidade específica. Já no caso concreto pode existir uma finalidade
específica.

A embriaguez ao volante pode caracterizar dolo eventual ou culpa consciente, depende do caso
concreto.

Finalidade qualificadora ou causa de diminuição da pena: figura privilegiada do homicídio.


específica

Dependendo da situação concreta, pode incidir o princípio da especialidade,


não sendo mais o crime de homicídio.
Exemplo: art. 29 da Lei 7170/83. Essa lei será aplicada quando a vítima do
homicídio for o Presidente da República, do STF, da Câmara dos Deputados ou
Princípio da especialidade do Senado.
Art. 123 do CP: O crime de infanticídio possui elementos especializantes: o
sujeito ativo deve ser a mãe, o sujeito passivo deve ser o filho e deve ocorrer
durante ou logo após o parto.Art 124 e ss. do CP: No crime de aborto, a
especificidade é a conduta ocorrer antes do início do parto.

HOMICÍDIO PRIVILEGIADO: ART 21, § 1º

Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social [1] ou moral [2], ou sob o domínio de violenta
emoção [3], logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.”

Causa de diminuição da pena. Isso que todo mundo chama de homicídio


privilegiado não é privilégio. Esse nome, portanto, é uma criação da doutrina
Natureza jurídica encampada pela jurisprudência. O Código Penal não chama de homicídio
privilegiado e sim de minorante, de causa da diminuição da pena. Sendo causa
de diminuição da pena, ela incide na terceira e última fase da dosimetria da
pena.

Em respeito à soberania dos veredictos e à competência constitucional do


Tribunal do Júri para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, se os
jurados concluíram pela presença do privilégio, o juiz não pode deixar de
Diminuição da pena aplicá-lo. A soberania dos veredictos, por consequência, vincula o magistrado.
Se os jurados reconheceram o privilégio, o juiz está obrigado e deve aplicar, o
que ele pode é optar pelo quantum da diminuição, entre 1/6 até 1/3.
Não isenta de pena. !

O privilégio não se comunica no concurso de pessoas (salvo, quando


elementares do crime) porque o privilégio é uma circunstância de natureza
Incomunicabilidade do privilégio pessoal ou subjetiva e, conforme o art. 30 do CP, as circunstâncias pessoais ou
subjetivas nunca se comunicam no concurso de pessoas, ainda que sejam do
conhecimento dos demais agentes.

O homicídio simples, em regra, não é crime hediondo. Só será crime hediondo


Homicídio privilegiado e Lei dos se praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que por um só
Crimes Hediondos agente. O homicídio só privilegiado é hediondo? Nunca, por falta de previsão
legal.

Hipóteses do privilégio

Motivo de relevante valor social De interesse da coletividade. Ex: traidor da pátria.

Motivo de relevante valor moral Diz respeito ao interesse particular do agente ou de pessoa que dele seja
próxima. O motivo de relevante valor social é o interesse da coletividade,
considerada em sua totalidade e o motivo de relevante valor moral é o interesse
particular do agente ou de pessoa a ele relacionada. Ex: eutanásia, pai que
matou ou manda matar o estuprador da própria filha, da irmã, da mãe.

a) Eutanásia em sentido estrito, homicídio piedoso, compassivo, médico,


caritativo ou consensual: é o modo comissivo de abreviar a vida de alguém, de
antecipar a morte de alguém. O agente faz alguma coisa, como no filme Menina
de Ouro em que o treinador dela pega uma seringa com um pó e insere no soro
para que ela pudesse morrer como ela queria. Essa eutanásia é, no Brasil,
homicídio privilegiado.
b) Ortotanásia, eutanásia por omissão, moral ou terapêutica: é o modo omissivo
de abreviar a vida da vítima, de antecipar a morte daquela pessoa doente em
estado terminal e que padece de grande sofrimento, não tendo chances
concretas de cura pela Medicina. É quando param de dar medicamentos, param
de tentar as manobras médicas e cirúrgicas para prolongar a vida. Também é
forma de homicídio privilegiado.
c) Distanásia ou obstinação terapêutica: é o esforço da Medicina, sendo a morte
lenta, vagarosa e sofrida em razão dos esforços dos profissionais da Medicina.
Imagine um paciente com um tumor no cérebro em estágio avançado. É difícil
ter volta, mas o médico está lá se esforçando, estudando, aplicando tudo que é
possível para salvar aquele paciente, dentro do que a Medicina permite e, ainda
assim, a pessoa morre. Na distanásia ou obstinação terapêutica, não há nenhum
crime. Esse fato é atípico.
d) Mistanásia: é chamada por alguns do Biodireito e da Bioética por eutanásia
social. Aqui, não há essa compaixão e nem essa dor. Mistanásia é a morte
precoce, antes da hora, e miserável de alguém provocada pelo descaso, pela
negligência ou até mesmo pela maldade de alguns seres humanos.
➢ Seria a mistanásia uma eutanásia social? Masson acha que esse termo é
incorreto para o Direito Penal. Enquanto a eutanásia e a ortotanásia
pressupõem aquela compaixão, aquela piedade, aquele bom sentimento nobre,
a mistanásia, por sua vez, pressupõe desídia, relaxo, descaso, má-fé e maldade.
Daí que não se pode falar em eutanásia social.

A mistanásia pode ocorrer em três situações:

a) Falta de atendimento médico, o que, no Brasil, infelizmente, é uma realidade


muito comum. Aquele doente vem a falecer pela falta de atendimento médico
adequado pelo sistema de saúde. Não tem crime, aparentemente. É mais uma
desídia, uma incompetência.
b) Erro médico. Tem crime (imprudência, negligência ou imperícia), um
homicídio aparentemente culposo.
c) Má-fé de quem atendeu esse doente. Exemplo típico é a retirada de órgãos e
tecidos, de partes do corpo humano para fins de alimentar o tráfico, o mercado
clandestino e criminoso de transplante de órgãos. Tem crime, um homicídio
aparentemente doloso.

Domínio de violenta emoção O Código Penal, nesse ponto, adotou um critério subjetivo, uma concepção
subjetiva ou subjetivista porque, nessa hipótese do privilégio, leva-se em conta
o aspecto emocional, psicológico do agente. Ele é provocado e isso abala e o
altera tanto que ele mata quem o provocou.
No estudo da culpabilidade, a emoção e a paixão não excluem a
imputabilidade penal (art. 28, II do CP), mas aqui temos um tratamento
diferenciado da emoção no Direito Penal.
Requisitos:

a) domínio de violenta emoção: a emoção é alteração da psique humana de


natureza transitória. Não é qualquer emoção que autoriza o privilégio, a
emoção tem que ser violenta, de grande proporção, capaz de efetivamente
alterar o plano psicológico do agente. Não basta MERA INFLUÊNCIA (que é
atenuante genérica – art. 65, III, .c
O domínio de violenta emoção autoriza o privilégio e o domínio de violenta
paixão não autoriza, porque não há previsão legal e porque a paixão é
duradoura. A paixão se prolonga no tempo, não necessariamente eterna, mas
duradoura.

b) injusta provocação da vítima: pode ser criminosa (exemplo: um crime contra


a honra), mas não necessariamente precisa ser criminosa (exemplo: o vizinho
joga um saco cheio de fezes no quintal do outro). Provocação injusta é aquela
que o agente não está obrigado a suportar, como um gracejo à esposa do
agente. Essa injusta provocação pode ser dirigida ao agente ou pessoa a ele
próxima, seja por laços de parentesco ou mesmo de afinidade ou contra animal
de estimação. Cuidado para não confundir essa provocação com agressão
injusta. No caso daquele que mata alguém em resposta a uma agressão injusta,
não comete crime algum porque, existindo proporcionalidade e não havendo
excessos, existe a legítima defesa;

ATENÇÃO: O erro quanto à injustiça da provocação não afasta a incidência da


qualificadora (Habib)

c) reação imediata: deve ser “logo em seguida” à injusta provocação da vítima.


Relação de imediatidade. A lei não diz quanto tempo, o que ela não permite é o
hiato temporal entre a provocação injusta e a morte de quem provocou. Essa
reação imediata deve se basear na data, no momento em que o agente tomou
conhecimento da provocação injusta. Em outras palavras, essa provocação
injusta da vítima pode até ter ocorrido em data passada, distante, desde que
esse agente somente tenha tomado conhecimento dela naquele momento.

Privilégio: art. 121, § 1º Atenuante genérica: art. 65, III, “c”

Homicídio doloso Homicídio doloso: Qualquer crime,


inclusive no homicídio doloso, desde
que não simultaneamente e não der
Privilégio e atenuante genérica: para aplicar o privilégio
distinções.
Domínio de violenta emoção + Influência de violenta emoção –

Injusta provocação da vítima Ato injusto da vítima

Reação de imediatidade: logo em Em qualquer momento


seguida

HOMICÍDIO ● possível, desde que as qualificadoras sejam de ordem objetiva


QUALIFICADO-PRIVILEGIADO (referentes aos MEIOS E MODO DE EXECUÇÃO – III e IV).
(HOMICÍDIO HÍBRIDO) ● O reconhecimento do homicídio privilegiado é INCOMPATÍVEL
com a admissão da qualificadora do MOTIVO FÚTIL.
● É compatível
● com uma qualificadora do meio cruel.
● Pode levar a pena abaixo do mínimo legal .
● É pacífico, na jurisprudência do STJ, o entendimento acerca da
possibilidade de homicídio privilegiado por violenta emoção ser
qualificado pelo emprego de recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido.

HOMICÍDIO SIMPLES: ART. 121, CAPUT

“Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos.”


“Matar” é o núcleo do tipo e “alguém” é um elemento objetivo.

O homicídio simples, em regra, não é crime hediondo. Só será crime hediondo


se praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que por um só
agente.
Homicídio simples e Lei dos Crimes Análise crítica: um homicídio praticado em atividade típica de grupo de
Hediondos extermínio, na prática, nunca vai ser um homicídio simples. Vai ter pelo menos
uma qualificadora, vai ter um motivo torpe ou fútil, um recurso que dificultou
a defesa do ofendido, um meio cruel, etc.

HOMICÍDIO QUALIFICADO: ART 121, § 2º

● Toda forma de homicídio qualificado – consumado ou tentado – é um crime hediondo, qualquer que seja a
qualificadora.!!
● Pluralidade de qualificadoras: Magistrado deve utilizar somente uma delas para qualificar o crime, e as demais
como agravantes genéricas (art 61, II, a, b, c e d, do CP), pois todas as qualificadoras do homicídio são previstas
como agravantes no tocante aos delitos em geral.
● Qualificadoras e dolo eventual: Em regra, as qualificadoras podem ser realizadas com dolo direto ou eventual,
com exceção do motivo torpe, fútil, da traição e da emboscada.

Inc. I: Mediante paga ou promessa de No tipo de homicídio qualificado pelo fato de o delito ter sido praticado
recompensa, ou por outro motivo mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe, HÁ
torpe.” ESPAÇO PARA A INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA.

A qualificadora do inciso I é de natureza pessoal ou subjetiva porque ela diz


respeito ao motivo do crime, à motivação do agente. Não se comunica no
concurso de pessoas

a) Paga e promessa de recompensa: chamado homicídio mercenário ou


homicídio por mandato remunerado. A motivação do agente é a chamada
cupidez. Cupidez, no Direito Penal, é a ambição desenfreada, é a busca
descontrolada por dinheiro e riqueza.
● Crime plurissubjetivo, plurilateral, BILATERAL ou de concurso
necessário. O tipo penal reclama a presença de pelo menos duas
pessoas: o mandante (que é quem paga ou quem promete a
recompensa) e o executor (que é quem mata em razão do pagamento
ou da promessa de recompensa). Esse executor também é chamado de
sicário.
● O reconhecimento da qualificadora da "paga ou promessa de
recompensa" (inciso I do § 2º do art. 121) em relação ao executor do
crime de homicídio mercenário NÃO QUALIFICA
AUTOMATICAMENTE o delito em relação ao mandante.
● Tentado ou consumado, o homicídio cometido mediante paga ou
promessa de recompensa é crime hediondo, recebendo, por
consequência, tratamento penal mais gravoso.
● Na paga, o recebimento do pagamento é prévio ao homicídio.
● Na promessa de recompensa, o pagamento é convencionado para o
futuro. Incide a qualificadora ainda que o mandante não venha a pagar
a recompensa prometida.

➢ Esse pagamento ou essa promessa de recompensa tem que ser,


necessariamente, de natureza econômica? Em dinheiro ou bem
equivalente (carro, relógio, joia, casa, etc.)? De acordo com Masson,
não. Esse pagamento ou essa recompensa prometida não precisa ser de
natureza necessariamente econômica, porque o homicídio não é Crime
Contra o Patrimônio e sim Crime Contra a Vida, então esse pagamento
ou essa recompensa podem ser de qualquer natureza. Exemplo: favores
sexuais, promessa de casamento, apoio político, etc.

b) Motivo torpe: é o motivo vil, ignóbil, repugnante, asqueroso, moralmente


reprovável, que causa nojo, que causa repugnância.

● A vingança pode ou não ser motivo torpe, depende da sua origem e do


que a ensejou.
● A jurisprudência do STJ é firmada no sentido de que tanto o ciúme
como também a vingança só vão ser decididos como torpe ou não no
caso concreto, porque a palavra final compete aos jurados.
● Considera-se homicídio qualificado por motivo torpe aquele praticado
para receber herança.
● Possível a coexistência, no crime de homicídio, da qualificadora do
motivo torpe (art. 121, §2º, I) com as atenuantes genéricas do art. 65, II,
a e c;
● NÃO CARACTERIZA BIS IN IDEM o reconhecimento das
qualificadoras de motivo torpe e de feminicídio no crime de homicídio
praticado contra mulher em situação de violência doméstica e familiar.
STJ. 6ª Turma. HC 433.898-RS (Info 625).

Inc. II “§ 2° Se o homicídio é cometido: Motivo fútil é o motivo pequeno, de pouca importância, insignificante,
(…) II - Por motivo fútil.” absolutamente desproporcional frente ao resultado produzido. O motivo fútil
causa perplexidade. Também é uma qualificadora de natureza pessoal ou
subjetiva, o que está em destaque aqui é a motivação do agente. Motivo
DESPROPORCIONAL.

● Se o fato surgiu por conta de uma bobagem, mas depois ocorreu uma
briga e, no contexto desta, houve o homicídio, tal circunstância pode
vir a descaracterizar o motivo fútil. Vale ressaltar, no entanto, que a
discussão anterior entre vítima e autor do homicídio, por si só, não
afasta a qualificadora do motivo fútil. Assim, é preciso verificar a
situação no caso concreto. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1113364- PE
(Info 525).
● O fato de o réu ter assumido o risco de produzir o resultado morte
(dolo eventual), não exclui a possibilidade de o crime ter sido praticado
por motivo fútil, uma vez que o dolo do agente, direto ou indireto, não
se confunde com o motivo que ensejou a conduta. STJ. 5ª Turma. REsp
912.904/SP. STJ. 6ª Turma. REsp 1601276/RJ.

- Ausência de motivo: sobre a possibilidade de a ausência de motivo poder ser


comparada com o motivo fútil, surgem duas posições.
1ª Posição: sim. Ideal para as provas orais dos concursos do Ministério Público.
A ausência de motivo se equipara ao motivo fútil. Se o motivo pequeno,
desproporcional, é fútil, o MP diz que, com maior razão, a falta de motivo
também é motivo fútil.
2ª Posição: não. Homicídio sem motivo é homicídio simples ou pode ter outra
qualificadora, mas não incide a qualificadora do motivo fútil. Essa é a posição
do STJ e o STJ tem razão, na opinião do professor Cleber Masson. Na verdade,
não existe homicídio sem motivo. Todo homicídio tem um motivo. O que
alguns vão chamar de ausência de motivo na verdade é um motivo
desconhecido. Existe um motivo, mas ele não foi descoberto, seja na
investigação criminal seja na fase da ação penal. O ônus de provar o motivo é
do MP. Se o MP não conseguiu provar o motivo que levou o agente a matar a
vítima, o MP não pode se aproveitar de sua própria falha e equiparar ausência
de motivo – que, na verdade, tem motivo e ele só é desconhecido – a um
motivo fútil.

Inc. III - Com emprego de veneno, O inciso III diz respeito aos meios de execução do homicídio. Essa
fogo, explosivo, asfixia, tortura ou qualificadora, portanto, tem natureza objetiva e pode se comunicar no concurso
outro meio insidioso ou cruel, ou de de pessoas, desde que ela seja do conhecimento de todos os agentes. Mais uma
que possa resultar perigo comum.” vez, o CP faz uso da interpretação analógica ou intra legem, trazendo algumas
fórmulas casuísticas e fórmulas genéricas. Nessas fórmulas genéricas, temos
meios insidiosos e meios cruéis, de que possa resultar perigo comum.

a) Meio insidioso: também é chamado de meio sub-reptício, ou seja, é a fraude,


é o meio fraudulento, é o engodo, é a perfídia, é o estratagema. O agente mata a
vítima sem ela perceber que está sendo atacada. Exemplo típico é quando um
sujeito descobre que a pessoa vai para a praia no final de semana, para um
destino cuja estrada é cheia de curvas e perigosa. Sabendo disso, o agente tira o
óleo do freio do carro dele. Ele vai sofrer o acidente e morrer e a vítima sequer
percebeu o ataque.
Veneno para ser configurado meio insidioso, a vítima NÃO PODE saber que
está ingerindo veneno.

b) Meio cruel: é aquele que causa à vítima um inútil e desnecessário sofrimento


físico ou mental. Em outras palavras, o agente poderia matar a vítima de uma
forma menos dolorosa, mas ele preferiu fazer de uma forma mais sofrida.

➢ A reiteração de golpes, por si só, é um meio cruel? A reiteração de golpes é


um indicativo de meio cruel, mas não é, necessariamente, um meio cruel. Por
exemplo, o agente matou a vítima com uma faca pequena, um estilete. Ele deu
30 golpes na vítima para matá-la. Pode não ser meio cruel. Mas, se ele tinha um
facão e, com um único golpe poderia matar a vítima, mas ele decide cortar a
orelha, cortar a língua para só depois matar a vítima. Esse meio cruel, conforme
já foi dito, é um meio de execução do homicídio. Em outras palavras, só incide
a qualificadora quando o agente se vale do meio cruel para matar a vítima. A
crueldade funciona como meio de execução do homicídio. Se o meio cruel for
utilizado após a morte da vítima, não incide essa qualificadora.

● Não há incompatibilidade entre o dolo eventual e o reconhecimento do


meio cruel, na medida em que o dolo do agente, direto ou indireto, não
exclui a possibilidade de a prática delitiva envolver o emprego de meio
mais reprovável, como veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou
outro meio insidioso ou cruel (art. 121, § 2º, III, do CP). STJ. 5ª Turma.
AgRg no REsp 1573829/SC, Rel. STJ. 6ª Turma. REsp 1829601- PR, (Info
665).

c) Meio de que possa resultar perigo comum: perigo no Direito Penal é a


probabilidade de dano. Não se exige a lesão efetiva ao bem jurídico, basta a
probabilidade de lesão, de dano. Perigo comum é aquele que se dirige a um
número indeterminado de pessoas. Não se exige a provocação efetiva desse
perigo, basta a possibilidade de resultar perigo comum.
➢ E se, no caso concreto, ficar provado que houve perigo comum? Aí, o agente
vai responder pelo homicídio qualificado e pelo crime de perigo comum,
previsto nos arts. 250 e seguintes do CP. O agente colocou fogo em um barraco
na favela para matar a pessoa que ali morava. O fogo se espalhou. Ele
responderá pelo homicídio qualificado e pelo crime de perigo comum. Não há
bis in idem, porque os bens jurídicos são diversos. Um é a vida humana e no
outro é a incolumidade pública.

d) Veneno: é o chamado venefício.

● O veneno exige prova pericial, pelo exame toxicológico. A incidência


dessa qualificadora depende de prova pericial.
● Veneno é a substância de origem química (aquela produzida em
laboratório) ou biológica (uma planta, por exemplo) capaz de matar
OU causar lesão quando introduzida no organismo humano. A
natureza da substância enquanto veneno tem que ser apurada no caso
concreto. Existem algumas substâncias inofensivas para as pessoas em
geral, mas que, para determinados indivíduos, podem funcionar como
veneno. Exemplo: o açúcar para o diabético ou algum medicamento,
uma anestesia, para quem tem alergia.
● O veneno pode qualificar um homicídio como meio insidioso (quando
for inoculado de forma sub-reptícia, sem o conhecimento da vítima, ou
como meio cruel (vítima amarrada em uma árvore e o agente aplica o
veneno devagar para fazê-la sofrer) ou como meio de que possa
resultar perigo comum (todo domingo de manhã, a vítima faz uma
corrida em um parque e bebe água na torneira do bebedouro que tem
ali, o agente coloca o veneno na caixa d’água).

e) Fogo: é o produto da combustão de substância inflamáveis, do qual resulta


luz e calor. O fogo, em regra, é meio de que possa resultar perigo comum, mas
o fogo também pode qualificar o homicídio enquanto meio cruel.

f) Explosivo: é o produto capaz de destruir objetos em geral, mediante


detonação e estrondo. Via de regra, é um meio de que possa resultar perigo
comum, como explodir o carro de alguém em via pública, mas explosivo
também pode qualificar o homicídio enquanto meio cruel, como amarrar a
vítima em um colete de explosivos, que podem ser detonados à distância, com
controle remoto.

g) Asfixia: mecânica ou tóxica. Asfixia é a supressão da função respiratória,


com origem mecânica ou tóxica. Asfixia, em regra, é meio cruel, mas também
pode ser um meio insidioso e o exemplo típico é o uso de gás sem cheiro
asfixiante.

Asfixia mecânica se subdivide em várias modalidades:

➢ Estrangulamento: é a constrição do pescoço da vítima pelo uso da força com


a utilização de algum objeto ou de qualquer outra fonte de força (do agente, de
um carro) que não o peso da própria vítima. Se for o peso da própria vítima, é o
enforcamento. Exemplos: A passa uma corda em volta do pescoço de B e puxa
essa corda ou se amarra essa corda em um cavalo e solta o cavalo em
disparada.

➢ Esganadura: é a constrição do pescoço da vítima pelo próprio agressor, sem


o uso de nenhum objeto. Exemplo: A com as próprias mãos aperta o pescoço de
B ou dá uma “gravata” nele.

➢ Enforcamento: é a constrição do pescoço da vítima provocada pelo seu


próprio peso, porque a vítima está envolta em uma corda ou em objeto similar.
Exemplo típico: amarrar uma corda ou uma mangueira e colocar a vítima em
pé sobre uma cadeira com a corda amarrada em um ferro acima e tira a cadeira.
O peso da vítima vai forçar ela para baixo, conforme a lei da gravidade e ela vai
morrer enforcada.

➢ Sufocação: é o uso de algum objeto que impede a entrada de ar pelo nariz ou


pela boca da vítima ou, normalmente, pelos dois. Exemplos: colocar o
travesseiro na cabeça da vítima e segurar até ela morrer sem ar ou colocar saco
plástico prendendo a cabeça da vítima.

➢ Afogamento: é a ingestão excessiva de líquidos. Não se exige que a vítima


seja afundada na água, o que poder acontecer, mas também é afogamento
colocar a vítima deitada, tampando seu nariz e forçando ela a beber uma
garrafa de cinco litros de água.

➢ Soterramento: é a submersão de uma pessoa em um meio sólido. Exemplo:


buraco na terra sem caixão.

➢ Imprensamento: é o impedimento da função respiratória pela colocação de


um peso no diafragma da vítima.

A chamada asfixia tóxica é mais enxuta e se subdivide em:

➢ Inalação/uso de gás asfixiante: exemplo típico de prender a vítima na


cozinha da casa a abrir a válvula de gás de cozinha ou enquanto a pessoa
dorme.

➢ Confinamento: é a colocação de uma pessoa em um recinto fechado, no qual


não há renovação do oxigênio. Enterrar a vítima viva é soterramento, mas ao se
colocar essa pessoa dentro de um caixão viva e enterrar em um buraco na terra,
é confinamento.

h) Tortura: A tortura é um meio cruel por excelência. A tortura é matar a vítima


mediante o emprego de um meio cruel porque causa à vítima um intenso e
desnecessário sofrimento físico e/ou mental. Era possível matar a vítima de
uma forma menos dolorosa, menos sofrida, mas o agente preferiu a tortura.

HOMICÍDIO QUALIFICADO PELA TORTURA QUALIFICADA PELA


TORTURA MORTE

- É crime hediondo; - É crime equiparado a hediondo;


- É de competência do Tribunal do - É de competência do juízo comum;
Júri; → Elemento subjetivo: é crime
→ Elemento subjetivo: é crime preterdoloso, ou seja, não há dolo de
essencialmente doloso, o sujeito quer matar. O agente tem o dolo de torturar
matar a vítima e, para matá-la, ele se a vítima e, por culpa, produz a morte.
vale da tortura
DOLO DE TORTURAR
DOLO DE MATAR
(animus necandi)

Inc. IV “§ 2° Se o homicídio é ● Aqui as qualificadoras dizem respeito aos modos de execução.


cometido: (…) IV - À traição, de ● Essas qualificadoras do inciso IV também são de natureza objetiva, se
emboscada, ou mediante dissimulação comunicando no concurso de pessoas, com exceção da traição que tem
ou outro recurso que dificulte ou torne natureza subjetiva.
impossível a defesa do ofendido.” ● O legislador faz uso da interpretação analógica ou intra legem, com
fórmula casuística seguida de fórmula genérica. A traição, a emboscada
e a dissimulação (fórmula casuística) são recursos que dificultam ou
tornam impossível a defesa do ofendido, mas não são os únicos. Na
prática, podem surgir outros modos de praticar o crime que também
dificultam ou tornam impossível a defesa da vítima.
● Apesar de não constar no tipo penal o elemento surpresa, este qualifica
o homicídio praticado desde que se assemelhe a traição, emboscada ou
dissimulação, estes, sim, previstos expressamente no tipo penal.

● a)Traição: física ou moral. A traição é caracterizada pela confiança


preexistente, verdadeira. O agente já contava com a confiança da vítima
e ele se aproveita dessa confiança para matá-la. Exemplos: o marido
que mata a mulher enquanto ela dorme.
● A traição moral é dada com palavras, com conversa. Exemplo: A e B
vão fazer uma trilha, só que B tem deficiência visual e não enxerga
bem. Está ficando escuro e A guia B com palavras, mandando ele ir
mais para a esquerda até que ele desaba precipício abaixo.

➢ E se essa relação de confiança era falsa? O agente se passou por


amigo da vítima, jogou uma conversa na vítima, ganhou a confiança
dela e a matou? Aí a qualificadora vai ser outra, vai ser a dissimulação
porque a traição pressupõe a confiança preexistente e verdadeira.

● Homicídio qualificado pela traição é chamado de homicídio


proditorium.
● O homicídio é um crime comum ou geral, que pode ser praticado por
qualquer pessoa. No homicídio qualificado pela traição, temos um
crime próprio ou especial porque somente pode ser praticado pela
pessoa em que a vítima efetivamente depositava uma especial
confiança

● b) Emboscada: é aquilo que se chama, na linguagem popular, de


“tocaia”. A emboscada é aguardar escondido a passagem da vítima
para atacá-la sem que ela perceba o ataque. Também é chamado de
homicídio ex insidiis (Latim), agguato (Direito Italiano) ou, ainda de
guet-apens (Direito Francês).
● Emboscada exige premeditação.
● Premeditação não é qualificadora do homicídio.
● Emboscada qualifica o crime.
● Somente premeditação não qualifica o crime. A premeditação, apesar
de não ser considerada qualificadora do delito de homicídio, pode ser
levada em consideração para agravar a pena, funcionando como
circunstância judicial.

● c) Dissimulação: é a chamada atuação disfarçada, fraudulenta,


marcada pela hipocrisia que oculta a verdadeira intenção do agente.
Quando dissemos que alguém está com um papo dissimulado ou que
alguém é dissimulado, queremos dizer que aquela pessoa veio para
enganar, para ganhar confiança de uma forma hipócrita, fraudulenta.
● Material ou moral: dissimulação material é a utilização de algum
instrumento, objeto, aparato para enganar a vítima e então matá-la com
chance menor de defesa. Exemplo: naquela época de surtos de casos de
dengue, imagine que o agente se passe por funcionário da vigilância
sanitária, com o uniforme e crachá (artefato) e pede para a vítima
deixá-lo entrar porque ele precisa ver se ali existe algum ponto de água
parada. Quando a vítima abaixa para ver um vaso, o agente dá uma
facada em sua nuca.
● Já a dissimulação moral é a chamada conversa enganosa para se
aproximar da vítima, para criar uma falsa relação de amizade, de
confiança. Exemplo: A quer matar B e levanta informações para se
aproximar dele, já chega confirmando o nome da vítima, dizendo o
nome dos pais da vítima e alegando que eles estudaram juntos na
segunda série. Com a guarda desprevenida, o agente acaba por matá-lo

TRAIÇÃO DISSIMULAÇÃO

A nota característica é a chamada Essa confiança da vítima no agente é


confiança preexistente e verdadeira forjada pelo agente, é uma falsa
da vítima no agente. confiança.

d) Recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima: fórmula


genérica.
Exemplo: um grande exemplo é a surpresa no ataque, a ser avaliada no caso
concreto. Não estamos falando de traição e nem de dissimulação, mas sim da
surpresa por si só. Aquele típico caso do trabalhador brasileiro que acorda 4h
da manhã para trabalhar e dá um cochilo no ônibus, trem ou metrô. Uma
pessoa totalmente desconhecida, que não puxou papo antes, do nada vem e dá
uma facada e mata essa vítima. É um recurso que dificulta a defesa da vítima.
● Superioridade de armas ou superioridade de agentes: a doutrina e a
jurisprudência dizem que esses fatores, por si só, não caracterizam essa
qualificadora. Exige-se a análise do caso concreto, a chamada surpresa
no ataque.

“§ 2° Se o homicídio é cometido: (…) Aqui, temos o chamado homicídio qualificado pela conexão. A prática do
V - Para assegurar a execução, a homicídio está de qualquer modo ligado a um outro crime. Pegadinha: o inciso
ocultação, a impunidade ou vantagem fala expressamente “de outro crime”, NÃO incidindo essa qualificadora
de outro crime. quando o homicídio é praticado para assegurar a execução, ocultação,
impunidade ou vantagem de uma contravenção penal. Princípio da Reserva
Legal.

a) Conexão teleológica: o homicídio é cometido para assegurar a execução de


outro crime. Primeiro, o agente pratica o homicídio, para depois praticar outro
crime. Exemplos: o agente primeiro mata o marido, para depois estuprar a
mulher. O agente primeiro mata o segurança, para depois sequestrar o
empresário rico. Ele vai responder pelos dois crimes, em concurso material.

➢ O agente praticou o homicídio visando a prática de um estupro. Depois,


em relação ao estupro, opera-se a chamada desistência voluntária do estupro.
Como fica? Pelo estupro, ele não vai responder, mas a desistência voluntária no
tocante ao estupro não afasta a qualificadora da conexão quanto ao homicídio.
O fundamento disso está no art. 4º do CP, é a Teoria da Atividade, que foi
adotada no tocante ao tempo do crime. No momento em que ele praticou o
homicídio, ele o fez para estuprar a mulher. Considera-se praticado o crime no
momento da ação ou da omissão, ainda que seja outro o momento do resultado.
Naquele momento, ele matou para assegurar a execução do estupro, então ele
responde pelo homicídio qualificado por essa qualificadora, ainda que não
venha a estuprar a mulher.

Essa conexão teleológica é a regra geral do Direito Penal. Sempre que o


homicídio é praticado para assegurar a execução de outro crime, a regra geral é
essa: o agente responde pelo homicídio qualificado pela conexão. Entretanto, se
a lei de um lado cria a regra geral, nada a impede de também criar exceções. A
grande exceção perguntada pelas provas é roubo seguido de morteo latrocínio.

● Distinção entre homicídio qualificado e latrocínio

Latrocínio (art. 157, § 3º, II), o roubo seguido de morte, nada mais é do que um
homicídio praticado para assegurar a execução do roubo. Latrocínio é um crime
especial, uma situação específica criada pelo legislador. Se não existisse o
latrocínio, nesse exemplo, o crime seria de competência do Tribunal do Júri,
porque o latrocínio não é de competência do Júri, porque é Crime Contra o
Patrimônio.

b) Conexão consequencial: o homicídio é praticado para assegurar a ocultação,


a impunidade ou vantagem de outro crime previamente cometido. Na conexão
teleológica, primeiro o agente praticou o homicídio para depois praticar o outro
crime. Aqui inverteu, o agente primeiro pratica o outro crime e depois pratica o
homicídio.

c) Conexão ocasional: é aquela em que o homicídio é praticado em razão da


ocasião, da facilidade proporcionada por outro crime. Essa conexão ocasional
produz efeitos no processo penal, notadamente para fins de competência. O
homicídio é de competência do Tribunal do Júri e o furto vai junto, por ser
crime conexo.
➢ Exemplo: A entra em uma casa para praticar um furto durante a madrugada,
não fazendo ideia de quem mora ali, apenas viu uma janela fácil de ser
arrombada. Então, começa a pegar os bens que consegue ver. Ao ver as fotos
que ali estão, percebe ser a casa de seu desafeto. Aproveitando a ocasião, o
mata. O agente praticou um homicídio em razão da ocasião, da facilidade
proporcionada pela prática do furto. Contudo, essa conexão ocasional pode
existir, mas ela NÃO qualifica o homicídio por falta de previsão legal e não se
pode criar essa qualificadora por analogia.
A qualificadora somente incide para conexão teleológica e para conexão
consequencial.

Inc. VI – “contra a mulher por razões A)Conceito: feminicídio é o homicídio sempre doloso cometido contra a mulher
da condição de sexo feminino.” por razões da condição do sexo feminino. Se é uma figura qualificada do
Feminicídio homicídio, o feminicídio é crime hediondo e a palavra final do mérito quem vai
julgar é o Tribunal do Júri.

B) O que são “razões de condição do sexo feminino”? “§ 2º-A Considera-se que


há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: I - Violência
doméstica e familiar; II - Menosprezo ou discriminação à condição de mulher.”

Inc. I – Violência doméstica e familiar: Deveria ser violência doméstica OU


familiar. Uma ou outra já é suficiente, tanto para fazer incidir a Lei da Maria da
Penha como também para o feminicídio, porque existe violência doméstica sem
violência e relação familiar. Exemplo: imagine que A chega em casa e espanca a
funcionária que trabalha lá. Não existe nenhum vínculo familiar, juridicamente
falando, e sim violência doméstica.

Da mesma forma, existe violência familiar sem violência doméstica. Exemplo:


imagine o pai que a filha mora fora de casa há 20 anos e nunca se deu bem com
o pai. Um dia, eles resolvem sentar juntos para tentar conversar em um bar e
tentarem aproximação, começa uma discussão e o pai espanca a filha. É
violência familiar, sem violência doméstica. Incide Lei Maria da Penha e pode
incidir o feminicídio.

➢ O homicídio de mulher com violência doméstica ou familiar


necessariamente caracteriza feminicídio? Não, não basta essa violência
doméstica ou familiar, essa violência doméstica ou familiar tem que ser
interpretada em conjunto com as “razões de condição do sexo feminino”.

Inc. II – Menosprezo ou discriminação à condição de mulher: essa situação é


muito clara.

➢ Exemplo: em uma empresa, estão disputando uma vaga para virar o gerente
dessa empresa um homem e uma mulher. A mulher é a escolhida para ser
promovida no cargo, ter melhor salário e mais poder e o homem vem a matá-la,
porque, na cabeça dele, ele não aceita perder uma disputa para uma mulher.
Aqui está o menosprezo e a discriminação à condição de mulher. Isso é
feminicídio claro.

● Morte de mulheres sem razões de condições de sexo feminino é


FEMICÍDIO. Portanto, nem sempre que se mata uma vítima mulher,
tem-se um caso de Feminicídio.

C) natureza da qualificadora: aqui entra uma discussão, se essa qualificadora é


de natureza objetiva ou subjetiva. Para Masson, é subjetiva porque o homicídio
é praticado contra a mulher por razões de condição do sexo feminino. Essa é a
motivação do agente. Diferente da posição adotada pelo STJ, que deve ser a
acolhida para fins de prova. Para o STJ, essa qualificadora tem natureza
objetiva. STJ: HC 433.898, informativo 625. O STJ encampou essa ideia de que a
qualificadora é objetiva porque, politicamente e ideologicamente falando, é
mais bonito e mais fácil, agradando mais falar que essa qualificadora é objetiva.

● NÃO É INCOMPATÍVEL com a presença da qualificadora da


motivação torpe. Há a possibilidade de existir um homicídio
duplamente qualificado, pelo feminicídio e pelo motivo torpe.

d) Sujeitos do delito:

- Ativo: quanto ao sujeito ativo, o feminicídio é crime comum ou geral. Pode ser
praticado por qualquer pessoa, não só por homem.
- Passivo: quanto ao sujeito passivo, é obrigatoriamente e necessariamente a
mulher.

● E os transexuais? Podem ser sujeitos passivos de feminicídio? O tema é


super polêmico, não existe posição dominante e temos argumentos
para todos os lados. Para Masson, depende. O chamado transexual
homem, que é aquele que nasce biologicamente como mulher e se
identifica como homem, pode ser vítima de feminicídio porque,
biologicamente falando, é mulher. A transexual mulher, que nasceu
homem, mas se identifica e apresenta como mulher não pode ser vítima
do feminicídio porque não se trata de mulher, biologicamente é
homem. Seria mais inclusivo responder que sim nessa hipótese, mas,
para o Direito Penal, isso representaria uma analogia in malam partem

e) Causas de aumento da pena: art. 121, § 7º: se são causas de aumento da


pena, incidem na terceira fase da dosimetria da pena e, como se trata de
homicídio doloso, de competência do Tribunal do Júri, essas majorantes têm
que ser levadas à apreciação pelos jurados, que dirão se estão presentes ou não.
A pena, aqui, pode ser aumentada de 1/3 até 1/2.

§ 7° A PENA DO FEMINICÍDIO é aumentada de 1/3 até 1/2 se o crime for


praticado:

Inc. I: Crime praticado durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao


parto:

- Relação entre feminicídio e aborto: o agente conhece a gravidez, ele sabe que
a mulher está grávida ou ele pelo menos poderia saber, pelo aspecto físico da
mulher. Ele vai responder pelo feminicídio majorado com a causa de aumento
de pena e pelo aborto do art. 125 (feito por terceiro e sem consentimento da
gestante), em concurso formal impróprio ou imperfeito, pelos desígnios
autônomos. O sujeito que mata uma mulher grávida ele está, pelo menos,
assumindo o risco de praticar o aborto.

➢ E se a gravidez era uma gravidez múltipla, em que a mulher estava grávida


de gêmeos ou trigêmeos? O agente sabia da gravidez múltipla, sabia que a
mulher estava grávida de gêmeos? Se sabia, responde pelo feminicídio
majorado e por dois abortos, tudo em concurso formal impróprio ou
imperfeito. Se o agente não sabia e nem podia saber que essa gravidez era
múltipla, ele vai responder só por um aborto, porque a regra é a gravidez de
um feto só e para se evitar a responsabilidade penal objetiva, ele vai responder
por um aborto.

➢ E no caso em que o agente não conhece da gravidez e não tinha como


conhecê-la? Se ele não conhecia da gravidez, não incide essa causa de aumento
de pena e ele responde pelo feminicídio, mas sem a causa de aumento e sem o
crime autônomo de aborto, porque não se admite a responsabilidade penal
objetiva.

- Crime praticado nos 3 meses posteriores ao parto: outra majorante que só é


caracterizada quando o agente sabe, tem conhecimento de que pratica o
feminicídio nos 3 meses posteriores ao parto, senão não incide essa majorante.
A razão disso, o fundamento dessa majorante é a extrema dependência do
bebê, do recém-nascido em relação à mãe principalmente nesses 3 meses
posteriores ao parto.

Inc. II – Crime praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60


(sessenta) anos, com deficiência ou portadora de doenças degenerativas que
acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental

● O agente deve conhecer essa situação especial da vítima para evitar a


responsabilidade penal objetiva.
● A deficiência aqui tem que ser interpretada em sintonia com o Estatuto
da Pessoa com Deficiência, podendo ser de qualquer espécie: física,
mental, motora, sensorial, etc.
● Não incide aqui a agravante do art 61, II, h, pois configura bis in idem.

Inc. III – Crime praticado na presença física ou virtual de descendente ou de


ascendente da vítima;

➢ Exige-se a presença física? Não, pode ser também uma presença virtual de
descendente ou ascendente da vítima.

Inc. IV – Crime praticado em descumprimento das medidas protetivas de


urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7
de agosto de 2006.

“§ 2° Se o homicídio é cometido: ABRANGE:


(…) •Forças Armadas (Marinha, Exército ou Aeronáutica);
VII – Contra autoridade ou agente • Polícia Federal;
descrito nos arts. 142 e 144 da • Polícia Rodoviária Federal;
Constituição Federal, integrantes do • Polícia Ferroviária Federal;
sistema prisional e da Força Nacional • Polícias Civis;
de Segurança Pública, no exercício da • Polícias Militares;
função ou em decorrência dela, ou • Corpos de Bombeiros Militares;
contra seu cônjuge, companheiro ou • Guardas Municipais;
parente consanguíneo até terceiro • Agentes de segurança viária;
grau, em razão dessa condição.” • Sistema Prisional (agentes, diretores de presídio, carcereiros etc.);
• Força Nacional de Segurança Pública.

● Qualificadora subjetiva
● Hediondo
● Competência do Tribunal do Júri
● consumado ou tentado

➢ Incide essa qualificadora quando o crime é praticado contra um membro da


guarda municipal? Sim. Porque a guarda municipal é tratada pelo art. 144 da
CF, em seu § 8º. Mais do que isso, as guardas municipais são dotadas do direito
de porte de arma de fogo, uma vez que as guardas municipais assumiram um
papel auxiliar de proteção da segurança pública e isso é inquestionável.

- Agentes de polícia da Câmara dos Deputados e do Senado Federal: nesse


caso, não, porque eles não estão no art. 144 da CF e sim nos arts. 51 e 52 da CF.
Princípio da Reserva Legal.

- Crime deve ser cometido no exercício da função ou em razão dela: não basta
que o crime seja praticado contra tais pessoas, o crime deve ser praticado no
exercício da função ou em razão dela.

➢ E se a vítima não mais ostenta a função pública, mas o crime foi cometido
em razão dela? Não incide a qualificadora, porque o tipo penal fala em agente
ou autoridade descrita nos arts. 142 e 144 da CF. Se não é mais agente, não é
mais autoridade, não ocupa mais cargo público. O que a lei se preocupa é com
o cargo ocupado pela vítima na data do crime.

Cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão


dessa condição
● Tem que ser parente consanguíneo”: essa foi uma falha terrível do
legislador.
● Mas, não daria para superar isso com o art. 227, § 6º da CF? Não,
porque teríamos uma analogia in malam partem e estaríamos
desrespeitando o Princípio da Reserva Legal.
● Parentesco por afinidade: não incide a qualificadora para o chamado
parentesco por afinidade
inc VIII - com emprego de arma de ● Pena - reclusão, de 12 a 30 anos;
fogo de uso restrito ou proibido ● Qualificadora Objetiva;
● “A qualificadora é uma norma penal em branco, pois os conceitos
relativos às armas de uso restrito e às armas de uso proibido devem ser
obtidos no art. 3º, parágrafo único, do Anexo I do Decreto 10.030/19”

CAUSAS DE AUMENTO DE PENA - HOMICÍDIO DOLOSO

se o crime é praticado contra pessoa 1/3 ● Fragilidade da vítima;


menor de 14 (quatorze) ou maior de ● Lembre-se que no feminicídio, nós já temos causas
60 (sessenta) anos.” de aumento de pena quando a vítima é menor de
14 anos ou maior de 60 anos. Não caia no erro de
aplicar essa causa de aumento de pena duas vezes.

milícia privada sob o pretexto de 1/3 até 1/2 ● esse aumento incide na terceira fase da aplicação
prestação de serviço de segurança, ou da pena e, como se trata de uma causa de aumento
por grupo de extermínio. inerente ao homicídio doloso, o reconhecimento
dessa majorante é de incumbência dos jurados;
● O homicídio com essa majorante, por si só, não é
crime hediondo. Porém, devemos ter um juízo
puramente crítico, de que um homicídio praticado
por milícia privada ou por grupo de extermínio
vai ser, necessariamente, qualificado e, como
homicídio qualificado, ele vai ser hediondo.

HOMICÍDIO HÍBRIDO

É o homicídio, ao mesmo tempo, privilegiado e qualificado. É possível isso? Sim, desde que a qualificadora tenha
natureza objetiva, como as do inciso III que trata dos meios de execução do crime.
São qualificadoras subjetivas, que não servem para caracterizar o homicídio híbrido, o motivo torpe e o motivo fútil.

Cabimento: A explicação disso está lá no CPP. Os jurados respondem a quesitos formulados


pelo juiz, sobre a autoria, a materialidade, se o jurado absolve o acusado.
Depois que os jurados condenam, eles votam primeiro as teses de defesa e
depois as teses de acusação e isso está no art. 483, § 3º, I e II do CPP.
Art. 483, § 3o do CPP: Decidindo os jurados pela condenação, o julgamento
prossegue, devendo ser formulados quesitos sobre:
I – Causa de diminuição de pena alegada pela defesa;
II – Circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena, reconhecidas na
pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.

Lei dos Crimes Hediondos: Esse homicídio híbrido é crime hediondo? Existem duas posições:
1ª Posição: é a mais aceita, inclusive na jurisprudência do STJ (HC 153.728). O
homicídio híbrido não é crime hediondo, por falta de previsão legal na Lei dos
Crimes Hediondos e porque há uma incompatibilidade lógica entre o privilégio
e a hediondez. Então, se os jurados reconheceram o privilégio, ele não pode ser
hediondo. A CEBRASPE também sempre utiliza essa posição quando pergunta
acerca do tema.
2ª Posição: cada vez mais frágil e com menos adeptos, mas boa para a prova
oral dos concursos para o Ministério Público. Existem vozes no MP que ainda
defendem que o homicídio híbrido é crime hediondo, porque o homicídio
híbrido é um homicídio qualificado e, enquanto homicídio qualificado, ele é
crime hediondo. O privilégio se limita a diminuir a pena de 1/6 a 1/3. O
homicídio híbrido nada mais é do que um homicídio qualificado, com a pena
diminuída de 1/6 a 1/3.

HOMICÍDIO CULPOSO

● Pena - detenção, de 1 a 3 anos.

AUMENTO DA PENA Aumento de 1/3


* Se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte
ou ofício, ou
* Se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima,
* Não procura diminuir as consequências do seu ato, ou
* Foge para evitar prisão em flagrante
● No homicídio culposo, a morte instantânea da vítima não afasta a
causa de aumento de pena prevista no art. 121, § 4º, do CP, a não ser
que o óbito seja evidente, isto é, perceptível por qualquer pessoa. STJ.
5ª Turma. HC 269038-RS (Info 554).
● É possível a aplicação da causa de aumento de pena prevista no art.
121, § 4º, do CP no caso de homicídio culposo cometido por médico e
decorrente do descumprimento de regra técnica no exercício da
profissão. Nessa situação, não há que se falar em bis in idem. STJ. 5ª
Turma. HC 181847-MS (Info 520).

Perdão judicial ● Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a


pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de
forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
● é causa de extinção da punibilidade;
● Será concedido na sentença declaratória de extinção da punibilidade
(Súmula 18, STJ);
● Não subsistem quaisquer efeitos condenatórios;
● É direito subjetivo do réu.
● Não precisa ser aceito para surtir efeitos.

JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA - Resumo Informativos

STF

● O dolo eventual não se compatibiliza com a qualificadora do art. 121, § 2o, IV (traição, emboscada,
dissimulação). STF. HC 111442/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/8/2012 (Info 677).

● Verifica-se a existência de dolo eventual no ato de dirigir veículo automotor sob a influência de álcool, além
de fazê-lo na contramão. Esse é, portanto, um caso específico que evidencia a diferença entre a culpa
consciente e o dolo eventual. O condutor assumiu o risco ou, no mínimo, não se preocupou com o risco de,
eventualmente, causar lesões ou mesmo a morte de outrem. STF. 1ª Turma. HC 124687/MS, rel. Min. Marco
Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, j. 29/5/2018 (Info 904).

● Entrega de veículo automotor a pessoa embriagada e inexistência de homicídio doloso – (Info 812). Se
houver incorreto enquadramento fático-jurídico na capitulação penal, que repercuta na competência do
órgão jurisdicional, admite-se, excepcionalmente, a possibilidade de o magistrado, antes da pronúncia e
submissão do réu ao júri popular, efetuar a desclassificação para outro tipo penal e encaminhar o feito ao
órgão competente. No caso, o STF considerou que não havia homicídio doloso na conduta de um homem
que entregou o seu carro a uma mulher embriagada para que esta dirigisse o veículo, tendo havido acidente
por conta do excesso de velocidade e da embriaguez, resultando na morte da mulher (condutora). STF. 2ª
Turma. HC 113598/PE, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 15/12/2015 (Info 812).

● O dolo eventual não se compatibiliza com a qualificadora do art. 121, § 2º, IV (traição, emboscada, dissimulação).
STF. 2ª Turma. HC 111.442/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 28/8/2012 (Info 677).

STJ

● A materialidade do crime de homicídio pode ser demonstrada por meio de outras provas, além do exame de
corpo de delito, como a confissão do acusado e o depoimento de testemunhas. Assim, nos termos do art. 167
do CPP, a prova testemunhal pode suprir a falta do exame de corpo de delito, caso desaparecidos os
vestígios. STJ. 6ª Turma. HC 170.507-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 16/2/2012

● É possível a aplicação da causa de aumento de pena prevista no art. 121, § 4o, do CP no caso de homicídio
culposo cometido por médico e decorrente do descumprimento de regra técnica no exercício da profissão.
Nessa situação, não há que se falar em bis in idem. STJ. 5a Turma. HC 181847-MS, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, Rel. para acórdão Min. Campos Marques (Desembargador convocado do TJ/PR), julgado em
4/4/2013 (Info 520).
● Se o fato surgiu por conta de uma bobagem, mas depois ocorreu uma briga e, no contexto desta, houve o
homicídio, tal circunstância pode vir a descaracterizar o motivo fútil. Vale ressaltar, no entanto, que a
discussão anterior entre vítima e autor do homicídio, por si só, não afasta a qualificadora do motivo fútil.
Assim, é preciso verificar a situação no caso concreto. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1113364-PE, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 06/08/2013 (Info 525).

● O perdão judicial não pode ser concedido ao agente de homicídio culposo na direção de veículo automotor
(art. 302 do CTB) que, embora atingido moralmente de forma grave pelas consequências do acidente, não
tinha vínculo afetivo com a vítima nem sofreu sequelas físicas gravíssimas e permanentes. STJ. 6ª Turma.
REsp 1.455.178-DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 5/6/2014 (Info 542).

● No homicídio culposo, a morte instantânea da vítima não afasta a causa de aumento de pena prevista no art.
121, § 4o, do CP, a não ser que o óbito seja evidente, isto é, perceptível por qualquer pessoa. STJ. 5a Turma.
HC 269038-RS, Rel. Min.Felix Fischer, julgado em 2/12/2014 (Info 554).

● O fato de o réu ter assumido o risco de produzir o resultado morte (dolo eventual), não exclui a possibilidade
de o crime ter sido praticado por motivo fútil, uma vez que o dolo do agente, direto ou indireto, não se
confunde com o motivo que ensejou a conduta. STJ. 5ª Turma. REsp 912.904/SP, Rel. Min. Laurita Vaz,
julgado em 06/03/2012. STJ. 6ª Turma. REsp 1601276/RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
13/06/2017.

● O reconhecimento da qualificadora da "paga ou promessa de recompensa" (inc. I do § 2º do art. 121) em


relação ao executor do crime de homicídio mercenário não qualifica automaticamente o delito em relação ao
mandante, nada obstante este possa incidir no referido dispositivo caso o motivo que o tenha levado a
empreitar o óbito alheio seja torpe. STJ. 6ª T. REsp 1.209.852-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j.
15/12/2015(Info 575).

● Não se aplica o instituto do arrependimento posterior (art. 16 do CP) para o homicídio culposo na direção de
veículo automotor (art. 302 do CTB) mesmo que tenha sido realizada composição civil entre o autor do crime
a família da vítima. Para que seja possível aplicar a causa de diminuição de pena prevista no art. 16 do CP é
indispensável que o crime praticado seja patrimonial ou possua efeitos patrimoniais. O arrependimento
posterior exige a reparação do dano e isso é impossível no caso do homicídio. STJ. 6ª Turma. REsp
1.561.276-BA, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 28/6/16 (Info 590).

● É possível que o agente seja condenado pelas qualificadoras do motivo torpe e também pelo feminicídio? É
possível a incidência das duas qualificadoras em um caso concreto? SIM. Não caracteriza bis in idem o
reconhecimento das qualificadoras de motivo torpe e de feminicídio no crime de homicídio praticado contra
mulher em situação de violência doméstica e familiar. STJ. 6ª Turma. HC 433.898-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro,
julgado em 24/04/2018 (Info 625).

● O simples fato do condutor do veículo estar embriagado não gera a presunção de que tenha havido dolo
eventual. A embriaguez do agente condutor do automóvel, por si só, não pode servir de premissa bastante
para a afirmação do dolo eventual em acidente de trânsito com resultado morte. A embriaguez do agente
condutor do automóvel, sem o acréscimo de outras peculiaridades, não pode servir como presunção de que
houve dolo eventual. STJ. 6ª Turma. REsp 1689173-SC, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, j. 21/11/17 (Info 623).

● Na primeira fase do Tribunal do Júri, ao juiz togado cabe apreciar a existência de dolo eventual ou culpa
consciente do condutor do veículo que, após a ingestão de bebida alcoólica, ocasiona acidente de trânsito
com resultado morte. STJ. 6ª Turma. REsp 1689173-SC, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, j. 21/11/17 (Info 623).

● A qualificadora do motivo fútil (art. 121, § 2º, II, do CP) é compatível com o homicídio praticado com dolo
eventual? A pessoa que cometeu homicídio com dolo eventual pode responder pela qualificadora de motivo
fútil?
1ª corrente: SIM. O fato de o réu ter assumido o risco de produzir o resultado morte, aspecto caracterizador
do dolo eventual, não exclui a possibilidade de o crime ter sido praticado por motivo fútil, uma vez que o
dolo do agente, direto ou indireto, não se confunde com o motivo que ensejou a conduta, mostrando-se, em
princípio, compatíveis entre si. STJ. 5ª Turma. REsp 912.904/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 06/03/2012.
2ª corrente: NÃO. A qualificadora de motivo fútil é incompatível com o dolo, tendo em vista a ausência do
elemento volitivo. STJ. 6ª Turma. HC 307.617-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis
Júnior, j. 19/4/16 (Info 583).
● Não incide a qualificadora de motivo fútil (art. 121, § 2º, II, do CP), na hipótese de homicídio supostamente
praticado por agente que disputava "racha", quando o veículo por ele conduzido - em razão de choque com
outro automóvel também participante do "racha" - tenha atingido o veículo da vítima, terceiro estranho à
disputa automobilística. Motivo fútil corresponde a uma reação desproporcional do agente a uma ação ou
omissão da vítima. No caso de "racha", tendo em conta que a vítima (acidente automobilístico) era um
terceiro, estranho à disputa, não é possível considerar a presença da qualificadora de motivo fútil, tendo em
vista que não houve uma reação do agente a uma ação ou omissão da vítima. STJ. 6ª Turma. HC 307.617-SP,
Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, j. 19/4/16 (Info 583)

Você também pode gostar