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LEGISLAÇÃO

(LEI Nº 9.455/97)
DEFINIÇÃO DOS CRIMES DE
TORTURA
DEFINE OS CRIMES DE TORTURA E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
LEI Nº 9.455, DE 07 DE ABRIL DE 1997.

TRATAMENTO CONSTITUCIONAL DA TORTURA

A prática de tortura é crime contra o Direito Internacional e interno, tendo em vista a Convenção
contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes e a Lei
9.455/97, que define e pune crime de tortura, por ele respondendo os mandantes, os executores e
os que, podendo evitá-lo, se omitirem.
Desse modo, atento ao mandamento constitucional de criminalização, o legislador criou a Lei
9.455/97, que define os crimes de tortura e dá outras providências.

Ademais, o Brasil internalizou a Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas


Cruéis, Desumanos ou Degradantes, por meio do decreto nº 45/1991.

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu, em seu art. 5º, III, que “ninguém será submetido a
tortura nem a tratamento desumano e degradante”.
O texto constitucional é cópia do que foi determinado na Declaração dos Direitos Humanos, de 10
dezembro de 1948, conhecido como pacto de São José da Costa Rica.

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

III - Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

XLIII - A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da


tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes
hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se
omitirem;

Esse instituto constitucional primeiramente foi regulado pela Lei dos Crimes Hediondos – Lei
8.072/90, que equiparou a tortura a crimes hediondos, tratando-a com cunho processual penal mais
grave.
A lacuna legal inicialmente foi suprimida pelo art. 233 do Estatuto da Criança e do Adolescente –
que previa a tortura a adolescentes, mas que hoje se encontra revogado.
Para sanar a falha, foi aprovada e promulgada a Lei 9.455/97, que regulamentou o crime de tortura
e deu outras providências.

Conceito de tortura

É o constrangimento, com emprego de violência ou grave ameaça, que causa sofrimento físico ou
mental em alguém. Quanto à violência, diz-se do emprego da violência física, que também é uma
forma de constrangimento. O legislador também previu a violência moral, adoção da grave ameaça
como forma de constrangimento alheio. Portanto, a tortura é definida pela violência física e pela
grave ameaça.
Além disso, a tortura é caracterizada pelo emprego de violência de natureza psíquica; aquela que
causa traumas, pânico, dor na alma. Manifesta-se pelo emprego da grave ameaça ou como
consequência da prática de violência física.
Há que se identificar, ainda, na tortura, o elemento subjetivo do injusto ou dolo específico: não é só
constranger por constranger, é constranger com vistas a uma determinada finalidade. Trata-se da
vontade específica que se agrega à figura do constrangimento.

Quanto às finalidades, podemos citar:

a) Obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;


b) Provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) Em razão de discriminação racial ou religiosa.

Atenção: A discriminação de cunho sexual, a exemplo da homofobia, não é considerada tortura,


porque falta previsão legal.

Os métodos de tortura podem ser aqueles que geram danos físicos ou psicológicos. É também a
submissão de alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave
ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida
de caráter preventivo.

Bem jurídico tutelado

O bem jurídico protegido é a dignidade da pessoa humana.

Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos: (...)
III - A dignidade da pessoa humana;

Dignidade da pessoa humana: A qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz
merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, e implica
num complexo de direitos e deveres fundamentais que asseguram a pessoa contra todo e qualquer
ato de cunho degradante e desumano.

Sujeitos envolvidos

Sujeito ativo - A tortura é crime comum, então qualquer pessoa pode ser autor do crime (sujeito
ativo), funcionário público ou não.
Sujeito passivo - Ofendido (Vitima ou sujeito passivo) é o indivíduo contra quem se aplica a
tortura.

CLASSIFICAÇÃO

a) Tortura-Prova (Persecutória) – Art 1º, I, a;


b) Tortura-Crime - Art. 1º, I, b;
c) Tortura-Preconceito (Raça e religião) - Art. 1º, I, c;
d) Tortura-Castigo - Art. 1º, II;
e) Tortura pela tortura ou tortura sem finalidade - Art. 1º, § 1º.

TORTURA-PROVA (PERSECUTÓRIA)

Art. 1º - Constitui crime de tortura:

I - Constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico
ou mental:

a) Com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;

Na tortura prova ou persecutória, a finalidade do agente é utilizar a tortura como um meio para a
obtenção de um fim. Por exemplo, confissão de um crime, delação de coautor ou partícipe no
crime, identificação do local onde se encontra a prova da materialidade delitiva. A tortura
persecutória é a utilização de violência física ou psíquica com finalidade que vai além da vontade
de causar sofrimento físico ou mental na vítima.
Cabe ressaltar que a violência é a vis absoluta, de natureza física, ao passo que a grave ameaça é
a vis relativa, ameaça da provocação de um mal maior, cuja adequação por parte do ameaçado
importará no sofrimento das consequências prometidas.
Na alínea “a”, o agente torturador quer obter informação, declaração ou confissão, como por
exemplo, empregar violência contra um pai para obter informações do filho. Um ponto importante é
acerca do conflito aparente de normas penais. No caso de crimes mais graves, como no caso da
extorsão, teremos o princípio da consunção, ou seja, se o agente quiser cometer o crime de
extorsão e, para isso, emprega violência com sofrimento físico ou mental para obter senha do
banco e, posteriormente, sacar dinheiro, teremos apenas o crime de extorsão e não o crime de
tortura.

Tortura-Prova e a Lei n. 13.869/2019 (Abusatoriedade)


Art. 13 - Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou redução de sua
capacidade de resistência, a:
III - Produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro:
Pena - Detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena cominada à
violência.
Obs.: A tortura absorve crimes menos graves, logo o crime de tortura vai absorver o crime de
abusatoriedade.

TORTURA-CRIME

b) Para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;

Ao passo que, na tortura persecutória, nota-se um meio para se obter uma informação, na tortura-
crime, a finalidade é coagir alguém para a prática de um crime.
Por exemplo, ameaçar o gerente de um banco para que forneça acesso ao cofre, sob pena de ter
seus familiares mortos. Nesse caso, observa-se o emprego de violência psíquica. Na tortura-crime,
a participação do torturado na prática do crime é essencial. Resta analisar se há ou não
responsabilidade penal do torturado.

Na alínea “b”, temos a tortura para a prática de crimes. Nesse caso, não haverá conflito aparente
de normas penais e o agente responderá em concurso material (Soma-se as penas) pelos delitos
perpetrados.
Assim, caso o torturador empregue violência ou grave ameaça na vítima, para que ela cometa um
crime de furto, teremos a chamada autoria mediata, em que o agente criminoso responderá como
autor dos crimes de tortura e furto. A vítima ficará isenta de pena, pois estava em uma coação
moral irresistível.
Uma coisa importante é que se o agente emprega violência ou grave ameaça com sofrimento físico
e mental para a prática de contravenção penal, não teremos o crime de tortura e sim de
constrangimento ilegal (Art. 146 do CP), em concurso material com a contravenção penal
perpetrada.
Por fim, no caso da alínea “a” e “b”, o agente responde mesmo se o resultado intentado não
ocorrer, visto serem espécies de crimes formais.

- E para a prática de contravenção? Não vai ser crime de tortura, já que a tortura é para a prática
de crime.
- Concurso material - Exemplo: J. está torturando Francisca, dizendo que, se ela não matar Márcio,
J. matará o filho dela. Neste caso, J. está constrangendo mediante uma grave ameaça, causando
um sofrimento mental. É uma tortura criminosa. O sujeito vai responder pela tortura em concurso
material com o crime de homicídio.
- Coação irresistível - Baseado no exemplo acima, se houver a chamada coação moral irresistível,
que elimina a culpabilidade.
- Consumação - Acontece com a efetiva causação, quando acontece o sofrimento físico ou mental.

TORTURA-PRECONCEITO (DISCRIMINAÇÃO)

c) Em razão de discriminação racial ou religiosa;

Quando se fala em tortura praticada em razão de discriminação racial ou religiosa, refere-se a


termos de raça ou etnia e também de religião, seja ela crendice de natureza cristã, não cristã,
judaica etc. Toda e qualquer modalidade de religião ou fé que enseja justificativa da prática de
tortura deverá ser classificada como tortura-discriminação ou tortura-preconceito.

Na alínea “c”, o agente responde pela tortura se tiver como meio motivacional a discriminação.
Lembrando que, dependendo do caso concreto, poderá o agente responder pelo crime de racismo,
art. 20 da Lei 7.716/89.

Obs.: Cuidado para não confundir com a recente decisão do STF com relação ao crime de
homofobia e transfobia, que não foi decidido com base na Lei de Tortura, mas na Lei n. 7.716/1989,
aplicando-se o artigo 20, considerando que a discriminação por motivo de homossexualismo ou
transsexualismo, passa a ser crime no Brasil.

TORTURA-CASTIGO

II - Submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave
ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida
de caráter preventivo.
Pena - Reclusão, de 2 a 8 anos.

Obs.: Não é um crime comum, mas crime próprio, pois só pode ser cometido por aquela pessoa
que tem a guarda, poder ou autoridade em relação à vítima.

Temos como sujeito ativo tanto o agente público quanto o privado. O importante é ter a custodia,
guarda ou estar sob o poder ou autoridade, por isso pode ser praticado contra filho, pai, preso,
tutelado, sempre que ocorrer violência ou grave ameaça com fim de causar sofrimento físico ou
mental. As mulheres não entram nessa figura típica, pois não estão sob a guarda dos maridos.
Assim, quando se trata de violência contra elas, estaremos diante do art. 129 § 9° (Lesão corporal).

O elemento subjetivo, aqui, exige o chamado animus corrigendi, que compreende a intenção de
expor a vítima a grave sofrimento como forma de aplicação de castigo ou medida de caráter
preventivo.

Por fim, os tipos penais descritos são normalmente crimes comissivos, mas podem ser omissivos
impróprios (Comissivo por omissão) também. Comissivo nos exemplos mais comuns, como socos,
pontapés e choques elétricos. Comissivo por omissão, quando o sujeito ativo tem o dever de
“garante” (Art. 13, parágrafo 2º, CP), como no caso do policial que tem a vítima sob custódia, que
sabe ser portadora de determinada moléstia, e que precisa fazer uso de determinado
medicamento, e deixa de fornecer a medicação, provocando-lhe sofrimento, com o fim de obter
confissão, informação ou declaração.
Vale lembrar que a tortura castigo se diferencia das torturas do inciso I por necessitar do “intenso”
sofrimento físico ou mental, o que não ocorre no inciso I que pede apenas sofrimento físico ou
mental, ou seja, não prevê o “intenso”.

TORTURA CASTIGO OU PUNITIVA (MODALIDADE EQUIPARADA)

§ 1º - Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a
sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante
de medida legal. Tortura do preso

Temos, aqui, a proteção do art. 5º, inciso XLIX, da CF/88 que garante aos presos a integridade
física e corporal. Por esse motivo, estão proibidos os castigos físicos, celas escuras e solitárias.
Só temos que nos atentar ao RDD (Regime Disciplinar Diferenciado). Nesse caso, temos uma
espécie de solitária, mas regulada pela lei. Assim, quem o faz está amparado por uma excludente
de ilicitude de exercício regular de um direito e quem faz sem as disposições legais comete o crime
de tortura.

Tortura Imprópria (Omissão Perante a Tortura)


§ 2º - Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-
las, incorre na pena de detenção de 1 a 4 anos.

Considere a seguinte situação hipotética. No momento de seu interrogatório policial, João, acusado
por tráfico de entorpecentes, foi submetido pelos policiais responsáveis pelo procedimento a
choques elétricos e asfixia parcial, visando à obtenção de informações sobre o endereço utilizado
pelo suposto traficante como depósito da droga. João, após as agressões, comunicou o fato à
autoridade policial de plantão, a qual, apesar de não ter participado da prática delituosa, não
adotou nenhuma providência no sentido de apurar a notícia de tortura. Nessa situação, a
autoridade policial responderá por sua omissão, conforme previsão expressa na Lei de Tortura.

Temos, aqui, a chamada tortura imprópria, ou seja, o agente garantidor que se omite em face à
tortura deverá responder por esse dispositivo legal. Nesse caso, o agente tinha o dever de evitar ou
apurar a ocorrência. Podemos notar que o agente que incorrer em tal fato típico não pratica
efetivamente a tortura, mas de forma omissiva, permite que outro a realize.

A tortura imprópria é crime próprio, pois só poderá ser praticada por aquele que estiver na posição
de garante, o que tinha o dever de evitar o crime, grande parte das vezes será um funcionário
público. Vale lembrar que de maneira diversa o crime de tortura é crime comum, ou seja, pode ser
praticado por qualquer pessoa. A tortura imprópria admite a prática apenas na modalidade dolosa,
não sendo possível tortura imprópria culposa.
A pena prevista é de detenção, ao contrário das demais formas de tortura que preveem a
possibilidade de cumprimento da pena em regime fechado. Cabe salientar que a tortura imprópria
não é equiparada ao crime hediondo, o que caracteriza exceção às demais espécies de tortura.
Temos, como exemplo, o delegado de polícia que sabe da existência da tortura e nada faz para
apurá-la.

Ex.: Cinco guardas municipais em serviço foram desacatados por dois menores. Após breve
perseguição, um dos menores evadiu-se, mas o outro foi apreendido. Dois dos guardas conduziram
o menor apreendido para um local isolado, imobilizaram-no, espancaram-no e ameaçaram-no,
além de submetê-lo a choques elétricos. Os outros três guardas deram cobertura. Nessa situação,
os cinco guardas municipais responderão pelo crime de tortura, incorrendo todos nas mesmas
penas.

Resultado Agravador (Preterdolo - Dolo no antecedente e culpa no consequente)

§ 3º - Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de 4 a 10


anos; se resulta morte, a reclusão é de 8 a 16 anos.

As lesões graves e gravíssimas estão assim previstas no art. 129 do CP:


Lesão corporal de natureza grave:
§ 1º - Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - Perigo de vida;
III - Debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - Aceleração de parto.
Pena - Reclusão, de 1 a 5 anos.

Lesão corporal de natureza gravíssima:


§ 2° - Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - Enfermidade incurável;
III - Perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - Deformidade permanente;
V - Aborto.
Pena - Reclusão, de 2 a 8 anos.
No caso da qualificadora por morte, temos a diferenciação entre a tortura qualificada e o homicídio
qualificado pela tortura. Aqui, o que vai diferenciar é a intenção do agente.
Se o agente tortura e causa a morte por culpa, teremos a tortura qualificada
Se a tortura é utilizada como meio para o homicídio, teremos o homicídio qualificado pela tortura.

§ 4º - Aumenta-se a pena de 1/6 até 1/3:

I - Se o crime for cometido POR agente público;


II - Se o crime for cometido CONTRA criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou
maior de 60 anos;
III - Se o crime for cometido mediante sequestro.

Mnemônico para memorizar - A agente grávida sequestrou o idoso de 60 anos deficiente no ACRI
(Adolescente/criança).
I - Se o crime for cometido por agente público;
II - Se o crime for cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou
maior de 60 anos;
III - Se o crime for cometido mediante sequestro.

O inciso I traz como causa de aumento de pena a qualidade de funcionário público. Porém, temos
que nos atentar para o no bis in idem, ou seja, não podemos aplicar esse aumento de pena quando
a própria elementar do crime necessite dela. Isso vale para o caso da tortura do § 2º “omissão em
face da tortura”, já que, para se omitir, tem que ter o dever de apurar, e quem tem o dever de
apurar é funcionário público.
Os incisos II e III trazem, em seu bojo, aplicações objetivas no caso da tortura.

ATENÇÃO: Só existem 04 penas previstas na Lei de Tortura:


1) RECLUSÃO de 2 a 8 anos - REGRA GERAL.
2) DETENÇÃO de 1 a 4 anos - TORTURA OMISSÃO.
3) RECLUSÃO 6 a 10 anos - Tortura QUALIFICADA por lesão grave ou gravíssima.
4) RECLUSÃO 8 a 16 anos - Tortura QUALIFICADA PELA MORTE.

Efeitos da Condenação (CAI MUITO EM PROVA!)

§ 5º - A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para


seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.

A condenação por delito, previsto na Lei de Tortura, acarreta, como efeito extrapenal automático da
sentença condenatória, a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu
exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada – Precedentes do STJ e do STF. Em resumo, a
perda do cargo é automática, segundo os Tribunais.
Ex.1: Na hipótese de um servidor público ser condenado pelo crime de tortura qualificada pelo
resultado morte a uma pena de doze anos de reclusão, referida condenação acarretará a perda do
cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício por 24 anos.
Ex.2: Um agente de polícia civil foi condenado a 6 anos de reclusão pela prática de tortura contra
preso que estava sob sua autoridade. Nessa situação, o policial condenado deve perder seu cargo
público e, durante 12 anos, se-lhe-á vedado exercer cargos, funções ou empregos públicos.

§ 6º - O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.

Esse dispositivo legal repete o que é determinado no texto constitucional, em seu art. 5º, inciso
XLIII. O STF entende que a palavra graça é gênero que comporta a espécie indulto, assim, o
indulto também está proibido.

Cumprimento da Pena

§ 7º - O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento
da pena em regime fechado.
A qualquer que seja a pena, mesmo que o agente seja primário, deve-se aplicar a regra do regime
inicialmente fechado. A pessoa condenada pelo crime de tortura poderá progredir de regime,
depois de cumpridos os seguintes prazos:
Primário: Após cumprir dois quintos da pena.
Reincidente: Cumprido três quintos da pena.

Contudo, devemos nos atentar à figura da tortura imprópria, prevista no art. 1º § 2º da lei. Nesse
caso, é possível o início em regime aberto, bem como concessão do sursis ou a substituição da
pena pela restritiva de direito.
Tortura Imprópria (Omissão Perante a Tortura)
§ 2º - Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-
las, incorre na pena de detenção de 1 a 4 anos.

Progressão de Regime - Pacote Anticrime

Art. 2º - O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em território
nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira.

Aqui, há duas condições, de modo que deve ocorrer uma das duas, para que a lei se aplique:
- Que vítima seja brasileira.
- Que o agente torturador esteja em local que a lei brasileira seja aplicável.

Da revogação do art. 233 do Estatuto da Criança e do Adolescente: Os institutos relativos à


tortura passaram a ser regulamentados pela Lei 9.455/97, revogando, assim, expressamente o art.
233 do ECA.

Art. 3º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 4º - Revoga-se o art. 233 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do
Adolescente.

Brasília, 07 de abril de 1997; 176º da Independência e 109º da República.

BONS ESTUDOS!

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