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º 181
DIÁRIO DA REPÚBLICA
ÓRGÃO OFICIAL DA REPÚBLICA DE ANGOLA
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b) Crianças em conflito com a lei por serem alegadamente Os princípios estão relacionados com regras gerais, nacio-
autoras de acto tipificado como delito; c) Crianças vítimas de nais e internacionais, que deve guiar o comportamento, as
negligência e abandono (e, por conseguinte, susceptíveis de acções e as atitudes dos actores do Sistema de Protecção
cuidados alternativos, tais como as medidas de acolhimento, Integral das Crianças. Por outro lado, apresentam-se os
adopção e tutela) e d) Crianças em contacto ou sob o uso Procedimentos Operacionais Padrão, sendo estes os passos
de substâncias psicoactivas. Por fim, é de realçar que este específicos que cada Sector — Educação, Saúde, Serviços
POP destina-se, igualmente, a apoiar as crianças que enfren- Sociais, Justiça e Interior — devem respeitar conforme o
tam outros tipos de violência e situações de vulnerabilidade, mesmo objectivo de atenção integral das crianças e da sua
como é o caso do trabalho infantil, da criança migrante e da dignidade. Estes procedimentos iniciam-se no primeiro con-
criança acusada de feitiçaria, entre outras situações. tacto da criança com o Sistema de Protecção, e terminam no
Os objectivos específicos deste documento são: momento da sua reintegração social. É de referir que os pro-
1. Esclarecer os profissionais dos Sectores de Educação, cedimentos encontram-se organizados em cinco subsecções,
Saúde, Serviços Sociais, Justiça e Interior sobre
correspondendo cada uma a um sector específico, o que
os procedimentos para a identificação e registo,
facilitará a utilização deste documento. Esta segunda sec-
referenciamento e gestão de casos para todas as
ção, referente ao enquadramento específico, também aborda
crianças em situação de violência e vulnerabili-
diversas temáticas específicas, voltadas para as especifici-
dade. Mais particularmente, como já se indicou,
dades dos sectores como a luta contra a violência baseada
para as crianças vítimas de violência sexual e
no género (VBN), o direito à participação activa e as boas
maus-tratos, crianças em conflito com a lei, crian-
práticas para favorecer a reinserção social. Este POP inclui,
ças vítimas de negligência e abandono e crianças
em contacto com substâncias psicoactivas (para por fim, a CDC, bem como os 11 Compromissos em prol da
uma definição, ver o Quadro 1); Criança.
2. Dar a conhecer o funcionamento dos Sectores da Como a Figura 1 demonstra, o Sistema de Protecção
Educação, da Saúde, dos Serviços Sociais, da Integral da Criança, assim como outros sistemas de protec-
Justiça e do Interior, para que todos se conhe- ção ao redor do mundo, baseia-se e é centrado na própria
çam mutuamente em prol de uma interacção criança. Quando uma criança tem um problema, pode
sistémica e multissectorial; recorrer aos irmãos e aos amigos. Por isso, é importante dis-
3. Elucidar acerca dos procedimentos a serem respei- tingui-los como um grupo específico. A família é o ambiente
tados por todos os actores, tanto para aqueles de vida imediato. A comunidade inclui os camponeses, os
casos que necessitam de um acompanhamento comerciantes, os meios de comunicação, os sobas, os mais
dos Sectores da Justiça e do Interior, como para velhos, os vizinhos, os motoristas, as igrejas, as associa-
aqueles casos que merecem de medidas de acção ções locais, as escolas, etc. Em Angola, a comunidade pode
social; incluir Centros Sociais de Referência e Centros Sociais de
4. Capacitar os/as profissionais dos Sectores da Edu- Acolhimento da Criança Vulnerável. O Estado inclui legis-
cação, da Saúde, dos Serviços Sociais, da Justiça ladores, leis e ministérios (instituições). A comunidade
e do Interior para identificar e promover boas internacional é composta pelos actores humanitários e de
práticas institucionais no trato com a criança e desenvolvimento e doadores.
com a sua família, incluindo a reinserção social O POP é complementado por cinco manuais de formação
e a boa gestão de casos. sectorial que procuram desenvolver as oito competências
Este documento está dividido em três secções. Na identificadas a seguir. É altamente recomendável fazer esta
primeira, referente ao enquadramento comum, são apresen- formação, de uma duração variável de 9 a 12 horas, uma vez
tados os princípios básicos da Convenção sobre os Direitos
que esta prática permite compreender melhor os princípios e
das Crianças (CDC), um novo instrumento para a identifica-
procedimentos que devem ser respeitados por todos e todas.
ção de casos de violência, uma reflexão sobre a necessidade
Os manuais estão escritos de forma muito amigável e acessí-
de se evitar a revitimização e uma introdução a respeito da
vel para que qualquer pessoa interessada possa desenvolver
necessidade de activar medidas de acção social quando se
uma aprendizagem correcta e de qualidade. As actividades
verifica que a intervenção via sector judicial não é a mais
recomendável. A função geral do Sistema de Protecção da voltadas para a apropriação de conteúdos podem ser facil-
Criança é a de proteger todas as crianças vítimas de violên- mente reproduzidas e requerem pouca organização logística.
cia e em situação de vulnerabilidade. Frequentemente, folhas brancas de papel e algumas fotocó-
A segunda secção foca o Sistema Angolano de Protecção pias são suficientes para a sua realização. Cada actividade
das Crianças e está constituído por dois componentes. Por do manual de formação termina com uma mensagem-chave,
um lado, apresentam-se os princípios operacionais multis- sendo esta a ideia principal, a que devemos ter em mente
sectoriais que se deve adoptar para garantir um tratamento em todos os momentos. Essas mensagens-chave também são
protector, seguro e inclusivo para todas as crianças no País. reproduzidas no início das subsecções.
7564 DIÁRIO DA REPÚBLICA
5
Sector do
6 interior
Sector dos serviços
sociais
MINSA 7
1
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1
ENQUADRAMENTO
COMUM
Uma criança pode O bem-estar da criança A revitimização pode
mostrar diversos sinais depende não só do surgir a qualquer
que representam Estado e da comunidade momento quer por
diferentes tipos de internacional, mas acção, quer por omissão
vulnerabilidade . Os/As também da própria e pode ser, por parte
profissionais devem ser criança, dos seus pares, do/a profissional, de
capazes de detectar e pais, família e da sua forma voluntária ou
reagir convenientemente . comunidade . involuntária .
Compreender estas
A aplicação dos quatros princípios da CDC (ver Figura 2, pág 12) de modo
incondicional nas diferentes etapas de acompanhamento do caso, é a melhor
forma de garantir a efectividade dos direitos da criança . Não existe hierarquia
entre os princípios na Convenção
Participação Não-discriminação
Convenção
As opiniões da criança dos
devem ser Direitos
levadas da Criança
em conta (CDC)
A idade, género, a etnia, a religião, o idioma, o estado de
em todas as decisões que digam respeito à criança, se saúde, a deficiência ou o estatuto social, entre outros,
a sua idade e maturidade o permitirem. Isto significa
Participação não Não-discriminação
devem ser barreiras à implementação dos direitos
que a criança tem o direito de se exprimir livremente das crianças. Isto significa que os direitos da criança não
As opiniões da criança
e de devem sersobre
ser informada levadas emcaso
o seu conta A idade, género,
(artigo 12.º). a etnia,
podem a religião,
ser negados o idioma,essas
evocando o estado de (artigo 2º).
razões
em todas as decisões que digam respeito à criança, se saúde, a deficiência ou o estatuto social, entre outros,
a sua idade e maturidade o permitirem. Isto significa não devem ser barreiras à implementação dos direitos
que a criança tem o direito de se exprimir livremente das crianças. Isto significa que os direitos da criança não
e de ser informada sobre o seu caso (artigo 12.º). podem ser negados evocando essas razões (artigo 2º).
12 Resposta Imediata a Factores de Risco graves pelos quais as nossas crianças passam (ver, por exem-
Para que possamos proteger as crianças, devemos ser plo, informação sobre a questão do castigo corporal nas
capazes de identificar os sinais de vulnerabilidade que elas escolas neste POP). Por isso, é importante conhecer as for-
12 mas de violência a que as crianças podem estar submetidas
possam estar a sofrer e, em função da gravidade desses sinais,
saber como actuar. Muitas vezes, por estarmos acostumados, para que possamos protegê-las. O Quadro 2 identifica, qua-
desde o nosso nascimento, a determinadas práticas, valores tro formas de vulnerabilidade que devemos identificar para
e comportamentos, não identificamos indícios ou problemas sabermos como proteger todas as crianças.
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Uma vez adquirido um conhecimento mais geral acerca QUADRO 2 — A que situações se aplica este documento?
das quatro situações de vulnerabilidade a serem enfren- Este documento é aplicável a todos os casos de crianças em situação de vulnerabi-
tadas, devemos ser capazes de reconhecer sinais mais lidade, sobretudo para aqueles casos de:
NTO precisos que nos permitem identificar como podemos agir.
● Abuso sexual e maus-tratos: estes casos constituem um crime público punível
nos termos da lei (requerem a intervenção da polícia e dos tribunais). A
O O Quadro 4, «Como reconhecer sinais de riscos?», apre- violência sexual pode assumir várias formas: abuso sexual verbal sem
contacto físico (exemplos: assédio sexual verbal, linguagem obscena,
senta um conjunto de sinais específicos para cada situação crianças expostas a filmes e fotografias pornográficos), ou abuso
or da criança,detodas as inter- a que a criança pode estar subme-
vulnerabilidade sexual com contacto físico (exemplos: atentado ao pudor, sexo oral,
vaginal, anal, violação, instrumentalização da criança para prostituição
vem garantir o respeito
tida. Para cadae situação
a de vulnerabilidade, devemos ser e pornografia);
● Criança em contacto com o sistema de administração da justiça, que englo-
capazes de identificar a evidência e indícios, bem como a bam: (a) crianças vítimas e/ou testemunhas de violência; (b) crianças
gravidade
m que a criança desses sinais. Alguns sinais requerem observa-
se encontra em conflito com a lei e (c) crianças envolvidas em processos jurídico-
-familiares (como tutela e adopção, prestação de alimentos, estabeleci-
ção, outros preocupação, e por fim, outros demandam uma mento de filiação, regulação do poder paternal, etc);
intervenção
informada sobre imediata junto dos outros sectores do Sistema
a evolução
● Negligência: ocorre quando os funcionários (incluindo os profissionais
da saúde), pais, família ou tutores não prestam os devidos cuidados
de Protecção.
ada fase do caso (primeiro Lembre-se que um sinal de observação, ou à criança;
● Contacto com substâncias psicoactivas: situação de vulnerabilidade em que
preocupação
nsferência para os tribunais,pode-se tornar de intervenção imediata se criança é exposta à substâncias que quando introduzidas no organismo
verificado
ta, integração que a criança está a ser vítima de uma qualquer
em programa modificam uma ou mais das suas funções psicomotoras (álcool, liam-
ba, cocaína, gasolina, cola de sapateiro, etc.).
forma de violência.
Fontes: MASFAMU (2019). Fluxos e Parâmetros para o Atendimento de Crian-
e Todos os manuais de formação incluem uma actividade para desenvol- ças e Adolescentes Vítimas de Violência. Luanda: MASFAMU; MINSA (2015)
ver a capacidade de reconhecer nas crianças «sinais» no que diz respei- Manual de orientação para notificação, atendimento e encaminhamento dos casos
to a prováveis situações de vulnerabilidade, bem como a capacidade de suspeita ou confirmação de violência doméstica, sexual e/ou outras violências.
s para actuar convenientemente. Luanda, Dezembro de 2015)
Todos os manuais de
formação incluem uma
a Como Evitar a Revitimização? Aspectos Processuais (por exemplo, procedimentos
actividade para desenvolver COMO EVITAR A REVITIMIZAÇÃO?
O quepara
a capacidade é a revitimização e porque é importante evitá-la? morosos, repetição de depoimento, prazos não
e reconhecerUmaos mandatos
criança é submetida
O que à revitimização quando um fun-e porque érespeitados
é a revitimização importante e faltaevitá-la?
de protocolos de actuação
. básicos de todos os
cionário (professor/a, médico/a, enfermeiro/a, juiz/a, agente da
sectores. Nesta actividade, Uma criança é submetida à revitimização quando um claros);
funcionário (professor/a, médico/a, enfer-
r polícia,
aprende-se etc.),estes
a aplicar por meio meiro/a,
das suas juiz/a,
acçõesagente
ou omissões, consciente
da polícia, etc .), por meio das suas acções ou omissões, consciente ou
e ou inconscientemente,
princípios na prática. reforça as experiências
inconscientemente, reforça de Aspectos
vitimiza- de vitimização
as experiências Comportamentais
vividas e Relacionais
pela criança, expondo-a a (por
novas
ção vividas pela criança, violações
expondo-a dos seus
a novas direitos
violações dose seus
gerando danos adicionais . Isto as
exemplo, pode ter consequências
pessoas que estão a atender a
graves para a saúde física e mental das crianças . A revitimização é explicada por :
direitos e gerando danos adicionais. Isto pode ter consequências criança obrigam-na a passar por entrevistas, tes-
m terá um impacto sobre os n Aspectos físicos e logísticos (por exemplo, áreas de interrogatório e de exame inadequadas
graves para a saúde física e mental das crianças. A revitimização
crianças . Por exemplo, não e sem privacidade) tes, audiências muito prolongadas e repetidas ou
é explicada por:
no desrespeito do princípio n Aspectos processuais (por exemplo, procedimentos morosos, repetição de depoimento,
registam de forma incorrecta o depoimento da
Aspectos Físicosprazos
e logísticos (por exemplo,
não respeitados e falta áreas de
de protocolos de actuação claros)
re os princípios . Nenhum é n Aspectos comportamentais e relacionais (por exemplo,criança, ou não
as pessoas queconsideram a opinião
estão a atender a da criança
interrogatório e de exame inadequadas e sem
o inseparáveis, uma vez que criança obrigam-na a passar por entrevistas, testes, audiências muito prolongadas e repetidas
privacidade); e não a informam sobre o seu caso).
de que gozam as crianças . ou registam de forma incorrecta o depoimento da criança, ou não consideram a opinião da
criança e não a informam sobre o seu caso)
ensável para reforçar a pro- QUADRO 3
er anexo 1) .
QUADRO 3 n Exemplos de revitimização : o que não se deve fazer
15
DIÁRIO DA REPÚBLICA
I SÉRIE –– N.º 181 –– DE 24 DE SETEMBRO DE 2021 7569
Privacidade e Protecção de Dados criança (e da sua família), os/as profissionais devem reve-
O cuidado com a utilização das informações sobre a lar apenas a informação necessária a um grupo restrito de
criança é um passo importante para evitar a sua revitimi- pessoas intervenientes no caso e apenas a informação que
zação5. O estabelecimento de uma relação de confiança for útil para garantir a segurança da criança e o seu bom
é crucial para o encaminhamento e tratamento apropriado acompanhamento.
do caso nas fases posteriores. Dessa forma, o serviço que A Importância da Celeridade
está a atender a criança deve respeitar sempre dois princí- O artigo 80.º da Constituição da República de Angola
pios básicos: a privacidade/confidencialidade e a protecção (CRA) estabelece o princípio do superior interesse da criança,
dos dados. Estes princípios dizem respeito à criança e à sua como forma de garantir o seu pleno desenvolvimento físico,
família6. A privacidade está directamente relacionada com psíquico e cultural. Na Lei n.º 25/12, «Lei sobre a Protecção
a confidencialidade das informações prestadas e exige, por- e Desenvolvimento Integral da Criança», é de destacar o
tanto, a protecção dos dados. Por isso, qualquer informação artigo 5.º, o qual assegura à criança «prioridade absoluta na
sobre a situação privada da criança e da família deve ser efectivação dos seus direitos». Isto significa que a criança
mantida de forma confidencial e ser utilizada apenas em tem primazia e prioridade em todos os serviços e a ela é
benefício da criança7. dada a preferência na formulação, orçamentação e execução
No que diz respeito à recolha de informações, cada sec- de políticas públicas em todas as áreas que estejam relacio-
tor deve ter apenas um processo por criança, o qual deve ser nadas com a protecção da criança. Significa também que os
confidencial. Ainda que a criação de uma base intersectorial procedimentos no tratamento e gestão dos casos devem ser
de dados de crianças em risco (Observatório da Criança) — céleres, desde que respeitadas as liberdades, os direitos e
cuja confidencialidade seja assegurada e que esteja sobre a garantias fundamentais. Refira-se também a Lei n.º 25/11 —
Lei sobre Violência Doméstica, onde se afirma que o Estado
guarda do INAC ou do MASFAMU — seja o ideal, o prin-
Angolano deve assegurar o atendimento, a protecção (poli-
cípio da confidencialidade aplica-se a todos os sectores
cial e jurisdicional) e a indemnização célere das vítimas de
envolvidos e intervenientes, como magistrados, oficiais de
violência doméstica.
justiça, jornalistas, forças de segurança, etc. Enquanto isso
não sucede, o processo sectorial só pode ser partilhado com Acompanhamento dos Sectores da Justiça e Interior
outros sectores do Sistema de Protecção da Criança quando vs Medidas de Acção Social
necessário e respeitando sempre a privacidade da criança. A Tal como indicado na Figura 1, o Sistema Angolano de
recolha de informações não deve ser intrusiva; só devem ser Protecção da Criança é composto por diferentes actores.
recolhidas informações úteis e relevantes para a eficácia e o Em alguns casos, é preferível a intervenção de determi-
sucesso do acolhimento e tratamento do caso. nados actores e noutros casos, de outros. O facto de uma
criança estar em contacto com o Sistema de Administração
QUADRO 5 — Protegendo a Privacidade das Crianças da Justiça não quer dizer que cometeu um delito e que está
Privacidade/confidencialidade: em conflito com a lei. Na realidade, todas as crianças são,
O respeito pela capacidade das crianças e das suas famílias de fazerem escolhas de em primeiro lugar, vítimas de diversas situações de vulnera-
maneira autónoma, sem interferências ou formas externas de intimidação. As crian- bilidade e, por isso, requerem medidas de protecção social.
ças e os seus familiares devem ter a sua privacidade respeitada no processo de deci-
são sobre o que estão dispostas ou não a revelar sobre a sua situação. A privacidade Se ela está a obter o registo de nascimento, se é vítima e/
oferece protecção contra intromissões nas casas, comunicações, opiniões, crenças e ou testemunha de um crime (maus tratos, trabalho infan-
identidade das pessoas. Significa que as crianças e as suas famílias devem ter con-
trolo sobre as informações que são recolhidas a seu respeito e sobre as decisões que
til, abuso sexual, entre outros) ou se o poder parental está
serão tomadas com base nessas informações. Nesse contexto, a confidencialidade a ser regulado (tutela, adopção, etc.), ela não está em con-
significa o respeito pelo sigilo. Significa que os/as profissionais devem proteger as flito com a lei. Mas quando uma criança alegadamente
informações que recolhem e registá-las de forma confidencial.
Protecção de dados
pratica acto tipificado como delito (exemplo: furto ou dis-
Significa aplicar os princípios da privacidade e confidencialidade na recolha,
tribuição de substâncias psicoactivas), estamos perante um
armazenamento e partilha de informações sobre a criança. Podem ter acesso aos caso de conflito com a lei (ver Figura 3 para uma definição
dados apenas aqueles profissionais que trabalham directamente no caso e aqueles
legal). Os casos devem ser objecto de uma análise cuidadosa
que possam vir a ser indispensáveis para garantir o superior interesse da criança.
Para garantir este direito, devem-se procurar formas de registo e armazenamento tendo em vista a aplicação de medidas de protecção social
de informações que não causem danos à reputação da criança e não contribuam de ou o accionamento de outras formas de resolução de con-
modo algum para a sua revitimização.
flito (por exemplo, mediação) ou de outros sectores (como
Por último, todos os/as profissionais devem estar vigilan- a educação, a saúde e os serviços sociais) para uma inter-
tes quanto à divulgação de informações. Salvo as excepções venção de cariz social ou de prevenção criminal. O Julgado
previstas na lei, as informações recolhidas sobre a criança de Menores pode aplicar Medidas de Protecção Social e
não podem ser transmitidas a ninguém sem o consentimento de Prevenção Criminal Cumulativa ou simultaneamente.
prévio da criança, ou seja, sem a sua permissão e a dos seus A título de exemplo: a criança cometeu um facto tipificado
pais. Se a criança não estiver em condições de fornecer um como delito (Medida de Prevenção Criminal), mas é simul-
consentimento válido8 ou for menor de 10 anos, devem ser taneamente vítima de maus tractos e de violência física
os pais a consentir. Uma vez obtido o consentimento da (Medida de Protecção Social).
está em conflito com a lei . Mas quando uma criança alegadamente pratica acto tipificado como
delito (exemplo : furto ou distribuição de substâncias psicoactivas), estamos perante um caso
de conflito com a lei (ver Figura 3 para uma definição legal) . Os casos devem ser objecto de
Julgado de Menores
NTO
O Crianças em situação de vulnerabilidade que Conflito com a lei :
necessitam de medidas de protecção social : As crianças necessitam de medidas de prevenção
or da criança, todas as inter- criminal aplicadas exclusivamente a crianças que
As crianças necessitam de medidas de protecção
evem garantir o respeito e a tenham cometido delitos tipificados pela lei (artigo 16º,
por serem vítimas de violência sexual, maus-
tratos, negligência, abandono, exploração laboral Lei de Julgado de Menores).
m que a criança sedegradante,
encontra mendicidade, prostituição ou uso As medidas de prevenção criminal visam reintegrar
de substâncias psicoactivas (artigo 14º da Lei de socialmente a criança, evitando novas situações de
informada sobre a Julgado
evoluçãode Menores). conflito com a lei.
ada fase do caso Sanções
(primeiro
devem ser aplicadas apenas àqueles/as
nsferência para os que
tribunais,
cometeram violência contra as crianças.
uta, integração em programa
e Todos os manuais incluem uma actividade para desenvolver a capacidade de diferenciar situações de contacto com o Sistema de Administração de Justiça, tendo
por objectivo saber quando é que é conveniente que uma criança seja acompanhada pelo Sector da Justiça, e quando deve ser coberta por medidas alternativas de
protecção.
s
Todos os manuais de 17
a
A violência
formação incluem uma sexual, os maus-tratos e o abandono volun- criança. Precisando ou não de uma intervenção do Sector
actividade para desenvolver
tário da criança
a capacidade para
constituem crimes graves e, por isso, são de Justiça, o Sector dos Serviços Sociais deve acompanhar
e casos
reconhecer os que necessitam de acompanhamento pelos Sectores da
mandatos todos os casos que envolvem crianças desde o princípio até
básicos de todos os
o . Justiça e Interior9. Os casos de negligência podem englobar o fim (encerramento do caso).
sectores. Nesta actividade,
r casos
aprende-se que requerem
a aplicar estes medidas de acção social (a falta de cui-
e princípios na prática. QUADRO 6 — Principais Fontes de Informação sobre
dados é motivada por situações de vulnerabilidade social)
Delitos
e casos que também requerem um acompanhamento do Código Penal Angolano;
m terá um impacto sobre
Sector da os e do Sector do Interior (a negligência é
Justiça Lei de Violência Doméstica;
s crianças . Por exemplo, não Lei do Combate ao Branqueamento de Capitais e de Financiamento ao
grosseira e constitui violação do dever de protecção social
no desrespeito do princípio Terrorismo;
da criança).
tre os princípios . Nenhum Quem
é deve ser judicialmente responsabili- Lei sobre o Tráfico e Consumo de Estupefacientes, Substâncias Psicotrópicas
e Precursores.
zadouma
o inseparáveis, por vez
estasque
situações são os pais ou os responsáveis pela
s de que gozam as crianças .
pensável para reforçar a pro-
ver anexo 1) .
O PROTECTORA
cia e desenvolvimento
em direito à vida, à protecção
negligência, maus-tratos,
e exploração (art. 6º).
DC)
-discriminação
ia, a religião, o idioma, o estado de
ou o estatuto social, entre outros,
iras à implementação dos direitos
ifica que os direitos da criança não
evocando essas razões (artigo 2º).
I SÉRIE –– N.º 181 –– DE 24 DE SETEMBRO DE 2021 7571
7572 DIÁRIO DA REPÚBLICA
Condenado Inocente 11
Observação :
• A legenda dos números está na página seguinte.
10 Sentença
• As línhas pontilhadas são passos intermédios
14
Decisão do caso
6
Caso que necessita Caso de criança 16
de acompanhamento vítima que necessita
Exame psicossomático da justiça e do de medidas de
interior acção social 15 Serviços Provinciais
do INAC ou Gabinete
5 Municipal de Acção
Conservatória Social ou CASI
e/ou Posto de (quando existente no
Registo município)
Sala do Julgado de Menores do
Tribunal Provincial ou de Comarca ou
Procurador de Menores
Sim
Verificar se tem registo Convocar
de nascimento a família
Não 17
4 3
Apoio a familia para Direcção da escola e/ou Brigada de Segurança Escolar Comunidade
obter o registo
2
Gabinete de Apoio Psicopedagógico
da Escola ou Comissão Disciplinar
1
Professores, directores de escola, inspectores da
PORTA DE
ENTRADA educação e pessoal auxiliar e administrativo das escolas
10. Se a criança for condenada à pena de privação de Reabilitação e reinserção social (Educação, Saúde,
liberdade, ela é remetida para os Serviços Penitenciários, Interior).
havendo a preocupação de assegurar, desde o primeiro ATENÇÃO: Para prevenir e combater a violência contra a criança,
momento, a sua reinserção social. O processo de acolhi- o Compromisso n.º 8 do Governo Angolano demanda a adopção
mento e de reintegração da criança são momentos cruciais de medidas pertinentes de carácter político, legislativo e educativo,
estabelecendo mecanismos de coordenação entre os sectores e os seus
de atenção ao adolescente. O adolescente está privado de sua
parceiros para prevenir e combater todas as formas de violência contra
liberdade (total ou parcialmente), mas todos os seus outros as crianças. Uma das estratégias mais relevantes é o reforço do acesso à
direitos devem ser assegurados, como o direito à saúde, à serviços essenciais, particularmente às famílias vulneráveis, reforçando
as competências parentais da família..
educação, ao contacto familiar, à protecção da sua dignidade
e integridade física, entre outros. 17. Toda a criança, independentemente do caso, deve
11. Se a criança for considerada inocente, devem ser ter acompanhamento contínuo por parte da comunidade.
contactados os Serviços Sociais, como os serviços provin- O papel de acompanhamento da criança por parte da famí-
ciais do INAC, a Direcção Municipal de Acção Social ou o lia, comunidade, CTM e da sociedade civil, como é o caso
Centro de Acção Social Integrado (CASI) (quando existente das igrejas, dos centros sociais de referência e dos centros
no município) e os parceiros da sociedade civil. de acolhimento e outros parceiros, é fundamental durante
12. Se a criança for condenada à pena de priva- todo o processo e muito importante para favorecer o direito à
ção de liberdade, ela é encaminhada para os Serviços sobrevivência e desenvolvimento da criança. Especialmente,
Penitenciários, que de imediato devem iniciar o processo a família deve acompanhar sempre o caso da criança e
de reinserção social. Nos Serviços Penitenciários, existem apoiar a sua reintegração social, a não ser que seja contra
serviços relevantes para o acompanhamento e elaboração o seu interesse superior. O Sector da Educação é um dos
do plano de reinserção social da criança, como a Direcção actores mais importantes. O Objectivo de Desenvolvimento
de Assistência e Reabilitação Penitenciária e a Direcção de Sustentável n.º 4 tem como meta assegurar uma educação
Penas Alternativas e Reinserção Social. O papel do Sector inclusiva e equitativa para todos e o Compromisso n.º 10 do
Educativo é fundamental para aumentar a escolarização, Governo de Angola em prol da criança salienta as seguintes
diminuindo a vulnerabilidade destas crianças e fomentando necessidades:
a sua reinserção social. Oferta de espaços, programas e planos para a
13. Depois de cumprir a sentença, a criança é libertada e difusão de temas específicos e de assuntos
o seu processo de reintegração social, já iniciado, deverá ser ligados à educação, cultura e aos direitos da
continuado no seio da comunidade. Neste âmbito, a integra- criança e da família;
ção escolar é crucial para garantir à criança o direito ao seu Promoção de acções condizentes com a forma-
próprio desenvolvimento. ção específica de adultos e crianças, para
14. Se se trata de uma criança vítima entre os 0 e os 18 anos profissionais de informação, sobre questões
ou uma criança alegadamente autora de acto de delito entre ligadas aos direitos e interesses da criança;
os 12 e os 15 anos, o caso fica sob competência da SJM Contribuição para a socialização, através da
que aplica Medidas de Protecção Social e/ou Medidas de cultura, mediante o desenvolvimento de pro-
Prevenção Criminal. gramas de generalização cultural;
15. Se o caso requer Medidas de Acção Social, a SJM Iniciação da criança às actividades de artes,
deve notificar os Serviços Provinciais do INAC, à Direcção literatura oral e escrita, línguas nacionais
Municipal de Acção Social ou o CASI (quando existente maternas e o acesso a locais históricos, como
no município) ou, ainda, os parceiros da sociedade civil monumentos e sítios;
(ex: igrejas, parceiros das redes de protecção). A escola deve Iniciação da criança ao conhecimento da histó-
continuar a desempenhar o seu papel de facilitador da inte- ria de Angola e ao conhecimento dos heróis e
gração social da criança e, por isso, trabalhar com a família dos símbolos nacionais.11
e os Serviços Sociais. Dizer Não ao Castigo Corporal: Melhores Práticas
16. Os Serviços Sociais devem estar no centro da arti- para Proteger a Criança no Contexto Escolar
culação da intervenção dos vários sectores: O Governo de Angola tem realizado vários esforços para
Apoio clínico e psicológico (Saúde); garantir a protecção das crianças. Apesar dos esforços do
Apoiar a família para obtenção de registo de nasci- governo, a utilização dos castigos corporais nas escolas é
mento se necessário (Justiça/Conservatórias e ainda uma prática comum e é considerada uma forma legí-
Postos de Registo); tima de disciplina12.
graves pelos quais as nossas crianças passam
imediata junto dos outros sectores do sistema de protecção . Lembre-se que um sin
do castigo corporal nas escolas na pág 28
vação, ou preocupação pode-se tornar de intervenção imediata se verificado que a
formas de violência a que as crianças podem
a 7576
ser vítima de uma qualquer forma de violência DIÁRIO DA REPÚBLICA
los/as . O Quadro 2 identifica, quatro formas
A quinta actividade do manual de educação pretende
sabermos como
adaptar ao modelo proteger
escolar. todas
Isso pode ocorrer as crianças .
em função de
Todos os manuais de formação incluem alguns
umaexemplos
desenvolver a capacidade de compreensão do funcio- como:para
actividade (a) a desenvolver
idade da criançaa (a criança
capacidade de rec
Umaainda évez adquirido
namento multissectorial do Sistema de Protecção Integral
pequena, uma sua
não desenvolveu conhecimento
habilidade de con- mais
crianças “sinais” no que diz respeitocentração
a prováveis
da Criança de modo a preparar o profissional da educação situações de vulnerabilidade, bem como a
e, por isso, tem dificuldades para se manter imóvel
para actuar convenientemente.
para uma interacção eficaz. dade a serem enfrentadas, devemos ser cap
e em silêncio por grandes períodos de tempo); (b) dificul-
QUADRO 7 — O Castigo Corporal no Sistema
permitem identificar
dades de aprendizagem como
(pode ocorrer podemos
em função de várias agir . O
causas como fome e/ou desnutrição; problemas de desenvol-
Educativo Angolano (pág 15), apresenta um conjunto de sinais es
vimento, não receber do seu ambiente familiar e de vizinhos
Numa pesquisa realizada, em 2015, em 15 escolas de ensino público
primário situadas em cinco províncias (Bié, Cunene, Huíla, Luanda e que a criança
incentivos pode
para estudar); (c) a estar
criança é submetida .
exposta a violência ePara cad
QUADRO 2 n A que situaçõeszes
Moxico), 242 crianças foram entrevistadas. Deste total, 76,4% declarou se de
mausaplica
tratos em este documento?
diversos
identificar
ambientes que ela frequenta fora da
ter sofrido, pelo menos, uma das seguintes agressões do professor: pu- escola e isso faz com que elaareproduza
evidência e indícios, bem
esse comportamento.
xões de orelha, tabefes na cabeça ou nas mãos e golpes com mangueira
castigo requerem observação, outros preocupação,
Em todos esses casos, a criança actua de forma indiscipli-
Este
ou pedaçodocumento
de pau. Além disso, 37,7%é aplicável a
relataram já ter ficado todos
de
na escola. Estas práticas baseiam-se na ideia de que a maneira correcta de
os casos
nada, porque de
não crianças
compreende as em
razões situação
para de vulner
estar na escola.
sobretudo para
disciplinar crianças envolve algumaqueles
tipo de castigo casos de : Na maioria das vezes, ela tenta chamar a atenção dos adul- sistem
corporal ou agressão imediata junto dos outros sectores do
tos de queou
vação, ela também precisa de atenção
preocupação e reconhecimento.
pode-secrimetornar de inte
verbal (Sacco et. al 2016, 15).
n Abuso sexual e maus-tratos : estes casos
A chave constituem
da conduta da escola deve serum o estabelecimentopúblico
de pu
Pese embora as boas intenções, a ideia de que implemen-
termos da lei (requerem a intervenção a ser
uma da vítima
relação de uma
de confiança
polícia e dos qualquer
entretribunais) . forma
os professores, asAcrianças de violê
violência se
tar castigos corporais ou agressões verbais irão combater as
e as suas famílias. O castigo corporal além de revitimizar a
causas da indisciplina,
assumir várias é umformas
mito13. Essas atitudes tendem
: abuso sexualcriança,
verbal sem contacto
dificulta a colaboração entrefísico (exemplos : asséd
ela e o professor.
a piorar a vulnerabilidade da criança. Por isso, é necessário
verbal,
pensar linguagem
em formas obscena
alternativas e positivas ; crianças expostas
de estabelecer A última a
Todos filmes
os manuais
actividade e para
do manual fotografias
deo Sector de Educaçãopornográ
formação incluem uma
a disciplina. procura prevenir e resolver situações de desrespeito
abusoDe forma geral,
sexual comas contacto
crianças indisciplinadas
físico (exemplospelos : crianças
atentado ao
“sinais” pudor ;
no escolar. sexo
que diz respeito oral,avag
prov
são aquelas que, por FIGURA 4 ntêmFORMAS
algum motivo, dificuldade de ALTERNATIVAS
se PARA FOMENTAR
direitos da criança no contexto
SECTOR DA SAÚDE
O sucesso do acompanhamento de uma criança vítima de violência e/ou
em situação de vulnerabilidade depende de uma colaboração eficaz entre os
diversos sectores do sistema de protecção da criança . Uma boa colaboração
favorece um maior respeito pelos direitos da criança .
Princípios Operacionais Multissectorial para o Sector Uma vez identificada a situação, deve-se realizar o encami-
de Saúde nhamento multissectorial do caso (articulação com serviços
Uma gestão de casos eficaz necessita de um percurso de apoio) para outros sectores para a elaboração de um plano
ordenado e evolutivo dos casos das crianças ao longo do de intervenção. A colaboração intersectorial exige um acom-
Sistema de Protecção Integral. O momento de acolhimento panhamento sistémico (planeamento individual de apoio)
(identificação e avaliação) pode ocorrer em várias institui- para garantir que a intervenção seja constantemente avaliada
ções e sectores do sistema, incluindo com especial atenção, (para poder ser adaptada segundo a especificidade de cada
as Unidades Sanitárias e os Serviços de Urgência Hospitalar. caso e de cada criança). O acompanhamento comunitário é
7578 DIÁRIO DA REPÚBLICA
uma componente essencial para uma boa resolução do caso. Os médicos, psicólogos, enfermeiros, técnicos
Esses quatro passos estão regidos por vários princípios fun- de laboratório, técnicos administrativos e
damentais seguinte: pessoal auxiliar devem, em coordenação com
a) Identificação e Avaliação: o/a técnico/a social, escutar a criança para
Os médicos, psicólogos, enfermeiros, técnicos
determinar e acordar as necessidades que
de laboratório, técnicos administrativos e
deverão ser respondidas por todos, durante
pessoal auxiliar do Sector da Saúde devem
todo o procedimento;
saber reconhecer sinais de vulnerabili-
dade nas crianças e, a partir destes, saber O Sector da Saúde deve priorizar o acompanha-
como agir para garantir o seu bem-estar e mento psicológico e apoio psicossocial em
desenvolvimento; todos os casos de violência sexual e de maus
A saúde da criança inclui o bem-estar físico, mas tratos.
também mental e emocional; c) Acompanhamento Sistémico:
Os profissionais do Sector da Saúde devem As medidas protectoras devem ser sempre
saber partilhar correctamente as informa- aplicadas às crianças para promover o seu
ções sobre as crianças com os actores de
bem-estar e desenvolvimento. Os profissio-
outros sectores para garantir o seu bem-estar
nais de saúde estão em excelente posição
e desenvolvimento;
Os profissionais de saúde devem considerar para reforçar a saúde física, mental e emocio-
medidas de profilaxia nos casos de violên- nal das crianças;
cia sexual e de recolha de evidências (tipo Os médicos, psicólogos, enfermeiros, técnicos
de ferimento ou lesão, como foi provocado, de laboratório, técnicos administrativos e
recolha de sémen e outras evidências que pessoal auxiliar não podem permitir que as
possam ajudar a identificar o agressor, entre crianças sejam revitimizadas por acções ou
outros) e produção de laudos ou relatórios omissões, mesmo quando a intenção é fazer
médicos sobre o estado de saúde da criança;
o bem;
No entanto, a criança não deve ser sujeita a
O Sector da Saúde deve garantir o acompa-
exames médicos contra a sua vontade. A
realização de exames e outras intervenções nhamento da situação de saúde em toda e
médicas deve ser o menos invasiva possível, qualquer medida determinada pelo Sector de
e a criança deve ser informada permanente- Justiça;
mente do propósito e da necessidade dessas O Sector da Saúde deve assegurar que as neces-
intervenções; sidades da criança e da sua família são tidas
A Polícia ou Ministério Público deve ser con- em consideração pelos serviços de maneira
tactada pelo pessoal da saúde para investigar adequada. Esta etapa vai desde o início e
possíveis violências contra a criança e/ou registo do caso até ao seu encerramento.
identificar responsáveis.
d) Acompanhamento Comunitário:
b) Encaminhamento Multissectorial (articulação com
Os médicos, psicólogos, enfermeiros, técnicos
os serviços de apoio):
Os médicos, psicólogos, enfermeiros, técnicos de laboratório, técnicos administrativos e
de laboratório, técnicos administrativos e pessoal auxiliar devem colaborar para apoiar
pessoal auxiliar do Sector da Saúde devem o regresso da criança à sua comunidade;
exercer uma escuta activa: as crianças devem Os profissionais de saúde devem promover todas
ter as suas opiniões ouvidas e respeitadas; aquelas práticas que asseguram o bem-estar e
Os meninos, meninas e adolescentes devem ser o desenvolvimento das crianças;
protegidos de forma célere, respeitando a Para que as crianças possam desenvolver-se ple-
sua honra e privacidade. Os profissionais do namente, as suas necessidades específicas
Sector da Saúde desempenham um papel fun-
devem ser respeitadas pelos profissionais de
damental nesse sentido;
saúde;
Os médicos, psicólogos, enfermeiros, técni-
cos de laboratório, técnicos administrativos As crianças devem ser protegidas contra todos os
e pessoal auxiliar devem colaborar com os estereótipos que prejudicam o seu bem-estar
actores de outros sectores para promover o e desenvolvimento14 não devendo ser tole-
bem-estar e desenvolvimento das crianças; rada qualquer tipo de discriminação.
O PAPEL DOS FUNCIONÁRIOS DO SECTOR
I SÉRIE –– N.º 181 –– DE 24 DE SETEMBRO DE 2021 7579
DA SAÚDE NO SISTEMA DE PROTECÇÃO
INTEGRAL DA CRIANÇA
O Papel dos Funcionários do Sector da Saúde no Sistema de Protecção Integral da Criança
Serviços 14
Penitenciários
Culpada Inocente 15
Observação :
• A legenda dos
números está na
13 Sentença Sala de Crimes Comuns do Tribunal
página seguinte.
Provincial ou de Comarca
• As línhas
pontilhadas são
passos intermédios
12 Crianças alegadamente delituosas 16-18 anos
5
Esquadra local de 4 Serviços Provinciais
policia do INAC ou Direcção
Julgado de Menores do Tribunal Provincial ou de Municipal de Acção
Comarca ou Procurador de Menores Social ou CASI
(quando existente no
Sim município)
17
Verificar se tem registo Convocar
de nascimento a família
Não
18
3
Hospital Municipal ou Provincial
2 Comunidade
Posto Médico ou Centro de Saúde
1
Médicos, Enfermeiros, Técnicos de Laboratório,
PORTA DE
ENTRADA Técnicos Administrativos e Pessoal Auxiliar
A equipa multidisciplinar da saúde deve continuar a ATENÇÃO: No caso específico do Sector da Saúde, essa articulação
acompanhar o caso e a apoiar a aplicação das tem de assegurar em regime de permanência o acesso prioritário da
medidas decretadas judicialmente criança à assistência médica e medicamentosa e ao apoio psicossocial.
11. O Sector da Saúde deve coordenar com os Serviços 18. Toda a criança, independentemente do caso, deve
Sociais, tais como os Serviços Provinciais do Instituto ter acompanhamento contínuo por parte da comunidade.
Nacional da Criança (INAC), a Direcção Municipal de O papel de acompanhamento da criança por parte da famí-
Acção Social ou o Centro de Acção Social Integrado (CASI)
lia, comunidade, CTM e da sociedade civil, como é o caso
(quando existente no município), ou, ainda, os parceiros da
das igrejas, dos centros sociais de referência e dos centros
sociedade civil, para assegurar o acompanhamento clínico
de acolhimento e outros parceiros, é fundamental durante
da criança.
12. Se se trata de uma criança alegadamente autora de todo o processo e muito importante para favorecer o direito à
acto tipificado como delito com 16 anos ou mais, a SJM sobrevivência e desenvolvimento da criança. Especialmente,
encaminha o caso para a Sala de Crimes Comuns (SCC). a família deve acompanhar sempre o caso da criança. O
13. A SCC do Tribunal Provincial ou de Comarca rea- Sector da Saúde deve contribuir para a não revitimização da
liza o julgamento e profere a sentença. A decisão deve ser criança e colaborar ao nível do seu desenvolvimento e da sua
comunicada à SJM para aplicação de Medidas de Protecção reintegração quando necessário. As políticas de prevenção
Social. Quer quando a criança é declarada culpada, quer em matéria de saúde podem incluir:
quando a criança for considerada inocente, o Sector da
Saúde deve coordenar com os serviços sociais, tais como
RESPOSTA IMEDIATA A
Ofertas de espaços, programas e planos para a difusão
de temas específicos e de assuntos ligados ao
os Serviços Provinciais do INAC, a Direcção Municipal de
desporto e aos direitos da criança e da família;
Acção Social, ou o CASI para assegurar o acompanhamento Para que possamos proteger as crianças, d
Contribuição para a socialização, através do desporto,
clínico da criança e apoiar a prevenção de eventuais violên-
cias no futuro e a sua reintegração social.
vulnerabilidade que elas possam
mediante o desenvolvimento de programas estar de a s
generalização
14. Se a criança for condenada e lhe for aplicada uma saber como actuar . Muitas vezes, por estarm cultural e desportiva;
medida de privação de liberdade (internamento total ou Integração no Sistema Desportivo de Crianças no
parcial em Estabelecimento Prisional), ela é enviada para
determinadas âmbito da práticas,
iniciação desportivavalores
16
. e comportam
os Serviços Penitenciários. Nos Serviços Penitenciários, graves pelosa Dignidade
Respeitemos quais as nossas
Humana: Melhores crianças
Práticas passam
existem serviços para o acompanhamento e elaboração do para Proteger a Criança no Contexto do Atendimento
plano de reinserção social da criança, como a Direcção de Clínico
do castigo corporal nas escolas na pág 28
Assistência e Reabilitação Penitenciária e a Direcção de formas de violência
O Governo de Angola temarealizado que as crianças
vários esforços podem
Penas Alternativas e Reinserção Social.
los/as . O Quadro
para garantir a protecção das 2 identifica,
crianças sob suaquatro jurisdição. formas
ATENÇÃO: Durante o cumprimento da sentença, a criança tem sempre Desde a ratificação da CDC, estabeleceu uma série de leis
direito à assistência médica e medicamentosa quer dentro dos Serviços sabermos como proteger todas as crianças .
Prisionais, quer em Unidades de Saúde fora do Estabelecimento que visam combater as diversas formas de violência e de
Prisional. O Sector da Saúde deve estar em coordenação permanente maus-tratos em diferentes espaços, como abrigos, centros
com os Serviços Penitenciários para assegurar o acompanhamento Uma vez adquirido um conhecimento mais
clínico da criança, bem como o seu direito à saúde (incluindo mental) e de acolhimento, escolas, estabelecimentos penitenciários,
desenvolvimento saudável. dade
postos a de serem
saúde, centros enfrentadas,
de saúde e hospitais. devemos
A Lei sobre a ser cap
15. Após o cumprimento da pena e a emissão do mandato permitem identificar
Protecção e Desenvolvimento como
Integral podemos
da Criança estabelece agir . O
de soltura, a criança é libertada e a sua reinserção social deve que «nenhuma criança deve ser tratada de forma discrimi-
ser promovida desde o primeiro dia de privação da liberdade (pág 15), apresenta um conjunto de sinais es
natória, negligente e cruel, nem objecto de qualquer forma
e de contacto com o Estabelecimento Penitenciário. O Sector que a criança
de exploração pode(artigo
e opressão» estar 7.º). submetida .
Além disso, essa leiPara cad
da Saúde deve coordenar com os Serviços Sociais, tais como
estabelece que é dever de todos «zelar pela dignidade da
os Serviços Provinciais do INAC, a Direcção Municipal de zes de identificar a evidência e indícios, bem
criança, protegendo-a de qualquer tratamento desumano,
Acção Social ou o CASI para assegurar o acompanhamento requerem observação, outros preocupação,
cruel, violento, humilhante, constrangedor, discriminatório
clínico da criança e apoiar a prevenção de eventuais violên-
cias no futuro e a sua reintegração social. imediata
ou de qualquer junto dosqueoutros
outra forma sectores
atente a dignidade do sistem
da criança
(artigo 8.º) 17
. Especialmente
16. Se o caso não necessita de acompanhamento pelo vação, ou preocupação pode-se tornar de inte no Sector da Saúde, o Governo
Sector da Justiça e do Sector do Interior, a SJM deve noti- tem estabelecido leis e práticas que promovem o respeito
ficar imediatamente os Serviços Provinciais do INAC ou a a pela serdignidade
vítima de uma
humana qualquer
nos diferentes contactos das formacriançasde violê
Direcção Municipal de Acção Social ou o CASI (quando e dos seus familiares com os Serviços de Saúde.
existente no município) para o apoio social da criança e de A quinta actividade do manual de formação de saúde
sua família. pretende desenvolver a capacidade de compreender o
17. Os Serviços Provinciais do INAC ou a Direcção
Todos os manuais de formação incluem uma
funcionamento multissectorial do Sistema de Protecção
Municipal da Acção Social estão no centro da articulação do crianças
Integral da Criança“sinais” no que
de modo a preparar diz respeito
o profissional da a prov
Sistema de Protecção da Criança. para actuar convenientemente.
saúde para uma interacção eficaz.
A quinta actividade do manual de formação de saúde pretende desenvolver a capacidade de compreender
o funcionamento multissectorial do sistema de protecção integral da criança de modo a preparar o
profissional da saúde para uma interacção eficaz.
FIGURAFIGURA
5 n BOAS PRÁTICAS
5 — Boas Práticas em EM SAÚDE
Saúde
Dever de prestar
assistência sem
discriminação de
qualquer natureza
Dever de garantir (artigo 9º)
o direito à
privacidade e à
intimidade (artigo
40º). Informação
adequada aos
Código
Código pacientes e suas
de Ética e famílias a respeito
Dever de prestar Deontológico
Deontologia dos da assistência,
esclarecimento e de Ética
Profissionais de seus possíveis
aos pacientes Médica benefícios, riscos
sobre os Enfermagem
e consequências
diagnósticos, (artigo 9º)
prognósticos
e tratamento a
serem realizados
(artigo 28º) Dever de respeitar
a privacidade
e intimidade do
paciente (segredo
profissional)
(artigo 9º)
Os Códigos Deontológicos de Profissionais da Saúde parte dessas práticas nocivas são resultado da discriminação
estabelecem princípios que valorizam práticas positivas e em relação às crianças e suas famílias, sobretudo em função
proíbem as práticas negativas que decorrem do mau atendi- de sua pobreza, identidade de género, condição educacional
mento das crianças e seus familiares. O Código Deontológico e de preconceitos associados a práticas e hábitos culturais
38e de Ética Médica de Angola destaca o dever do médico em das populações (por exemplo: crianças albinas, crianças
atender os pacientes sem discriminação18. Por mais claras acusadas de feitiçaria, o facto de o abuso sexual não ser visto
que essas regras possam parecer, a sua aplicação é compro- como uma violência, etc). Como são muitas vezes basea-
metida quando o profissional de saúde mantém uma atitude das em estereótipos, precisamos ser capazes de identificar
de indiferença em relação às crianças atendidas. Ele pode estas práticas nocivas para que os Serviços de Saúde não
ignorar ou menosprezar as queixas das crianças e dos seus cometam abusos e intensifiquem as vulnerabilidades que as
familiares, culpabilizar os pais ou as crianças, intimidar, crianças e os seus familiares vivenciam noutros contextos.
coagir, humilhar ou recusar atendimento ou tratamento. Boa
SECTOR DE
SERVIÇOS SOCIAIS
Uma criança está melhor protegida quando os Serviços Sociais,
sendo o sector responsável pela articulação multisectorial do sistema
angolano de protecção da criança, recolhe e partilha informação de uma
maneira transparente para uma gestão de casos eficaz .
Princípios Operacionais Multissectorial para o Sector Os/as técnicos/as sociais devem, em coorde-
dos Serviços Sociais nação com outros sectores, interagir com a
Uma gestão de casos necessita de um percurso ordenado criança para determinar em conjunto as suas
e evolutivo dos casos das crianças ao longo do Sistema de necessidades que deverão ser respondidas por
Protecção Integral. O momento de acolhimento (identifica- todos, durante todo o procedimento;
ção e avaliação) pode ocorrer em várias partes e sectores do
Os/as técnicos/as sociais devem elaborar um
sistema. Uma vez identificada a situação, deve-se realizar o
plano de atendimento em parceria com a
encaminhamento multissectorial do caso (ligação com ser-
viços de apoio) para outros sectores para a elaboração de família, quando possível.
um plano de intervenção. A colaboração intersectorial exige c) Acompanhamento Sistémico:
um acompanhamento sistémico (planeamento individual Os/as técnicos/as sociais têm como prioridade
de apoio) para garantir que a intervenção é constantemente garantir que todas as crianças em situação de
avaliada (para poder ser adaptada segundo a especificidade vulnerabilidade recebam medidas de protec-
de cada caso). O acompanhamento comunitário é uma peça ção, incluindo as crianças em conflito com a
essencial para boa resolução do caso. Esses quatro passos lei;
estão regidos por vários princípios fundamentais seguintes:
Os/as técnicos/as sociais não podem permitir que
a) Identificação e Avaliação:
as crianças sob sua jurisdição sejam revitimi-
Os técnicos/as sociais devem saber reconhe-
cer indícios ou sinais de vulnerabilidade nas zadas pelas suas acções ou omissões, mesmo
crianças e, a partir destes, saber como agir para quando a intenção é fazer o bem;
garantir o seu bem-estar e desenvolvimento; Os/as técnicos/ as sociais garantem a aplicação
Os/as técnicos/as sociais devem partilhar cor- concreta de medidas de protecção social e de
rectamente as informações sobre as crianças prevenção criminal (decretadas pela SJM);
com os actores de outros sectores para garan- Os/as técnicos/as sociais devem garantir que a
tir o seu bem-estar e desenvolvimento; criança institucionalizada ou colocada em
Os/as técnicos/as sociais devem informar a
família substituta tem as mesmas oportu-
criança e a família sobre os passos que se
nidades de desenvolvimento que as outras
seguem;
crianças que não estão em situação de
Os técnicos sociais devem realizar o inqué-
rito social e apurar as condições de vida da vulnerabilidade;
criança e sua família e tomar acção com vista Os/as técnicos/as sociais devem assegurar que as
a reduzir a sua vulnerabilidade, por intermé- necessidades da criança e da sua família são
dio da assistência social e outra considerada tidas em consideração pelos serviços de forma
adequada; adequada. Esta etapa vai desde o registo ini-
Os técnicos/as sociais devem contactar a polí- cial do caso até ao seu encerramento.
cia para investigar possíveis ocorrências de
d) Acompanhamento Comunitário:
prática de violências contra a criança e/ou
Os/as técnicos/as sociais devem facilitar um
identificar responsáveis.
acompanhamento à criança pela comunidade,
b) Encaminhamento Multi-Sectorial (ligação com
serviços de apoio): sensibilizando os diferentes parceiros para as
Os/as técnicos/as sociais devem garantir em cada suas necessidades específicas;
uma de suas interacções com a criança, que Os/as técnicos/as devem assegurar que todas as
as suas opiniões são ouvidas e respeitadas nas soluções encontradas na comunidade com as
decisões que a afectem e determinantes para autoridades tradicionais respeitam o interesse
o seu futuro; superior da criança;
Os/as técnicos/as sociais devem referen- Os/as técnicos/as sociais devem promover todas
ciar rapidamente e correctamente os casos
as práticas que asseguram o bem-estar e o
das crianças, segundo as suas situações
desenvolvimento das crianças;
específicas;
Os/as técnicos/as sociais devem colaborar com As crianças devem ser protegidas contra todos os
os actores de outros sectores para promover estereótipos que prejudicam o seu bem-estar
o bem-estar e o desenvolvimento de todas as e desenvolvimento, não devendo ser tolerada
crianças; qualquer tipo de discriminação.
O PAPEL DOS PROFISSIONAIS DOS SERVIÇOS
I SÉRIE –– N.º 181 –– DE 24 DE SETEMBRO DE 2021 7585
SOCIAIS NO SISTEMA DE PROTECÇÃO
INTEGRAL DASdosCRIANÇAS
O Papel dos Profissionais Serviços Sociais no Sistema de Protecção Integral das Crianças
4
SECTOR SAÚDE
Direcção Municipal
Hospital municipal
de Acção Social
ou provincial
2 ou 3 Verificar se tem registo 6
de nascimento ou
Instituto Nacional
Centro de saúde
da Criança (INAC)
5
Contacto inicial 1
PORTA DE
ENTRADA Técnico social
municipal ou
provincial
Crianças vítimas de violência
sexual e maus-tratos SECTOR ACÇÃO
Adolescentes a quem se atribui SOCIAL
SECTOR EDUCAÇÃO
a autoria de acto tificicado
como delito (crianças em 14
conflito com a lei)
Crianças vítimas de negligência Observação :
e abandono (passíveis de • A legenda dos
acolhimento, adopção e tutela) números está na
página seguinte.
Crianças e adolescentes em
sob o uso ou em contacto com • As línhas
substâncias psicoactivas pontilhadas
são passos
intermédios
8
7 Procurador de Menores
ou
Sala do Julgado de Menores do
Comunidade Tribunal Provincial ou de Comarca
Comissão Tutelar
de Menores
Caso de criança Caso que necessita
vítima que necessita de acompanhamento
de medidas de acção da justiça e do
13 social interior
Direcção de 9 –16
Reabilitação
Penitenciária
12 Sala de crimes 10 +16 Conservatória
ou comuns e/ou Posto de
Direcção de Registo
Reinserção e 11
Penas Alternativas
FIGURA 6 n MISSÕES
Ministério da
Instituto
Acção Social,
Nacional
Família e Protecção
da Criança
da Mulher
(INAC)
(MASFAMU)
Promover a articulação das acções Promover a articulação institucional Estabelecer parcerias, nos
institucionais, visando garantir para a criação de mecanismo mais variados domínios
as respostas sociais adequadas, de monitoria periódica de todos com instituições públicas
com vista ao desenvolvimento da os programas de assistência privadas e sociedade civil,
criança no geral e em particular das e protecção social da criança, com vista a prestar resposta
que se encontram em situação de visando o desenvolvimento de adequada e maximizar a
vulnerabilidade (em risco, vítimas de padrões de qualidade, tendo em qualidade dos serviços
violencia ou em conflito com a lei). atenção o seu superior interesse. destinados à criança25.
49
I SÉRIE –– N.º 181 –– DE 24 DE SETEMBRO DE 2021 7589
Para que o sistema funcione sob a coordenação da Acção passo a passo, desde a identificação de casos de vulnera-
Social, deve-se realizar o referenciamento e a coordenação bilidade e violência até a intervenção, monitoramento e
adequada dos casos entre os sectores. O referenciamento avaliação da intervenção e, finalmente, o encerramento do
consiste em identificar correctamente os serviços que devem caso, mantendo sempre uma perspectiva de género.
actuar num caso específico e garantir a activação em tempo Em cada fase, os profissionais do Sistema de Protecção
útil de cada um desses serviços, a fim de assegurar a protec- da Criança, sob a coordenação da Acção Social, trabalham
ção e a satisfação das diferentes necessidades da criança. A em conjunto para tentar obter respostas e informações sobre
coordenação é o trabalho realizado em conjunto (profissio- questões-chave de protecção da criança.26 Para acompanhar
nais e comunidade), de forma organizada e complementar (em adequadamente uma criança, não basta determinar a situa-
acções), para tomar colectivamente decisões que melhor respei- ção de violência ou as suas vulnerabilidades. É, igualmente,
tem o interesse superior da criança (ver Figura 6). Isto inclui a necessário desenvolver um plano de acompanhamento desde
divulgação das informações necessárias, a identificação dos a entrevista inicial até ao encerramento do caso (reintegração).
desafios a enfrentar, a definição de objectivos e planos de Como ferramenta de trabalho, o acompanhamento deve defi-
acompanhamento, a distribuição adequada dos papéis e res- nir as necessidades da criança (e da sua família), os objectivos
ponsabilidades de cada serviço, a mobilização de recursos a atingir a curto, médio e longo prazos através das medidas
necessários, a coerência das actividades, a avaliação das tare- postas em prática pelos diferentes sectores. Este plano deve
fas realizadas e dos resultados alcançados, etc. ser o resultado da participação activa da criança (e dos seus
Para que esse processo funcione de forma eficiente, a pais)27. O plano de acompanhamento necessita de ferramentas
Acção Social deve adoptar uma perspectiva de acompanha- de registo e de comunicação das acções, bem como reuniões
mento de casos. Esta perspectiva promove uma abordagem presenciais para a coordenação e ajuste das intervenções.
Respeito por parte dos membros em colaboração, independentemente dos seus poderes e dimensões;
Igualdade Respeito dos mandatos, obrigações, independência e identidade;
O respeito não deve impedir os diferentes actores do sistema de protecção de expressarem as suas discordâncias de forma construtiva.
É alcançada através do diálogo (em pé de igualdade), com ênfase na consulta e na partilha de informações desde o início do processo,
Transparência garantindo a privacidade e confidencialidade;
A comunicação e a transparência aumentam o nível de confiança entre os diferentes actores do sistema de protecção.
Abordagem Orientada para A acção de protecção deve basear-se na realidade e centrar-se na acção (centrar a coordenação nos resultados, com base em competências
Resultados eficazes e capacidades operacionais concretas).
Obrigação ética de desempenhar as suas tarefas de forma responsável, íntegra e de forma relevante e adequada;
Os parceiros só se devem comprometer a executar as actividades quando dispõem dos meios, das competências, dos conhecimentos e das
Responsabilidades capacidades necessárias;
A prestação de contas é um elemento crucial para criar relações transparentes e de confiança entre os parceiros e responsabilizar os mesmos
pelas suas acções.
É um trunfo (cada sector desenvolve os seus aspectos fortes para complementar os dos outros);
Complementaridade
Aumenta as capacidades locais para melhorar as intervenções sobre as situações de vulnerabilidade.
SECTOR DA JUSTIÇA
O seguimento dos casos até ao momento da reintegração social constitui
uma boa estratégia de prevenção de ocorrência de novas formas de
violência ou de revitimização, evitando que os mesmos casos retornem
aos sectores da justiça e do interior .
Todas as crianças devem ter as suas opiniões com um/a técnico/a social e com a criança,
ouvidas e respeitadas; para determinar as necessidades que deve-
Os profissionais da justiça devem evitar a repe- rão ser respondidas por todos, durante todo o
tição de depoimentos e comunicar na língua procedimento;
da criança; Os profissionais de justiça devem priorizar o
Os profissionais de justiça devem informar a acompanhamento psicológico nos casos de
criança e a sua família sobre os passos que se violência sexual e maus tratos.
seguem (e opções disponíveis e consequên- c) Acompanhamento Sistémico:
cias da tomada de decisão); Os advogados, procuradores, juízes, técnicos
Os profissionais de justiça devem proibir qual- administrativos e pessoal auxiliar não podem
quer tipo de contacto (e opções disponíveis e permitir que as crianças sejam revitimizadas
consequências da tomada de decisão), com o por formalismos e procedimentos burocráti-
agressor e garantir apenas a presença de pes- cos excessivos, mesmo quando a intenção é
soas de confiança da criança durante qualquer fazer o bem;
procedimento;
Os profissionais de justiça devem garantir que o
Os profissionais de justiça devem garantir o res-
primeiro objectivo das medidas é assegurar a
peito dos direitos, liberdades e garantias quer
devida protecção das crianças vítimas e das
de crianças vítimas, quer daquelas que se
crianças que alegadamente se encontram em
encontram em conflito com a lei;
conflito com a lei. Neste último caso, a prio-
Os profissionais de justiça devem articular-se
ridade é sempre assegurar a sua protecção e
com seus homólogos de outros sectores para
não a punição;
trabalhar em conjunto para a protecção da
Os profissionais de justiça devem assegurar
criança.
que os outros sectores cumprem o seu traba-
b) Encaminhamento Multissectorial (ligação com
lho, respeitando a dignidade da criança e em
serviços de apoio):
tempo útil, contribuindo para o sucesso das
Os advogados, procuradores, juízes, técnicos
medidas decretadas, quer de protecção social,
administrativos e pessoal auxiliar devem
colaborar com os seus homólogos de outros quer de prevenção criminal.
sectores, para promover o bem-estar e o d) Acompanhamento Comunitário:
desenvolvimento das crianças; Os advogados, procuradores, juízes, técnicos
Os profissionais da justiça devem garantir a exe- administrativos e pessoal auxiliar devem cola-
cução de medidas de protecção social; borar e encetar todos os esforços para apoiar
Os profissionais de justiça devem garantir a exe- o regresso da criança à sua comunidade;
cução das medidas de prevenção criminal, Os profissionais de justiça devem assegurar-se
priorizando as medidas em meio aberto; de que as crianças em processo de reinserção
Os profissionais de justiça devem garantir a social não são discriminadas;
excepcionalidade e brevidade das medidas de Os profissionais da justiça devem levar em conta
restrição de liberdade; as necessidades concretas da criança no
Os advogados, procuradores, juízes, técnicos momento de definir o seu plano de reinserção
administrativos e pessoal auxiliar do Sector social, quer enquanto vítimas, quer como ale-
da Justiça, devem trabalhar, em conjunto gadamente infractoras.
7592 O PAPEL DOS PROFISSIONAIS DA JUSTIÇA DIÁRIO DA REPÚBLICA
Inocente 14
Sentença
Observação :
Medidas de protecção social • A legenda
Sala de Crimes dos números
11 Medidas de prevenção criminal
Comuns está na página
seguinte
• As línhas
Julgamento e definição de
pontilhadas
medidas definitivas
são passos
intermédios
10 9
Procurador do Julgado de
+16 Menores (instrução do caso)
7 8
Caso de criança
Caso que necessita vítima que necessita
de acompanhamento de medidas de acção
Diligências 5 da justiça e do interior social 15
Comissão Tutelar de Menores
Exame 4
psicossomático Criança não
está presente
Criança está
Inquérito social presente
3
por técnico social Familia
Registo de
nascimento
Sala do Julgado de Menores
do Tribunal Provincial ou de Comarca ou
6 Procurador de Menores 16
Serviços Provinciais
Conservatória do INAC ou Direcção
e/ou Posto de PORTA DE Municipal de Acção Social
Registo ENTRADA ou CASI (quando existente
no município)
17
Crianças vítimas de violência sexual
e maus-tratos
Adolescentes a quem se atribui a Esquadra de policia
autoria de acto tificicado como delito Hospital, Centro de
Comunidade
(crianças em conflito com a lei) Saúde, Posto Médico
2
Crianças vítimas de negligência e 1 Escolas
abandono (passíveis de acolhimento,
adopção e tutela) Serviços sociais
Crianças e adolescentes em sob o Sociedade civil
uso ou em contacto com substâncias
psicoactivas
54
I SÉRIE –– N.º 181 –– DE 24 DE SETEMBRO DE 2021 7593
mento e profere a sentença, devendo comunicar a sua decisão Contribuir para assegurar a consolidação do SJM
à SJM para aplicação de medidas de protecção social. como órgão jurisdicional Para a efectivação
12. Se a criança é condenada pela SCC à medida efec- de um Sistema Especializado de Justiça para
tiva de privação da liberdade, ela é encaminhada para
os Serviços Penitenciários Provinciais. Nos Serviços
RESPOSTA IMEDIATA A
Crianças que ofereça a devida protecção às
crianças vítimas e estabeleça um modelo de
Penitenciários, existem serviços relevantes para o acom- responsabilidade penal juvenil para o adoles-
Para quecentepossamos
em conflito com proteger
a lei; as crianças, d
panhamento e elaboração do plano de reinserção social
da criança desde o primeiro dia de institucionalização e vulnerabilidade que elas possam estar a s
Garantir a consolidação dos avanços conquistados
na legislação e rede de serviços de atendi-
acolhimento. Estes serviços são a Direcção de Assistência e saber como actuar . Muitas vezes, por estarm
mento na reintegração social dos menores de
Reabilitação Penitenciária e a Direcção de Penas Alternativas determinadas idade em práticas, valores e comportam
conflito com a lei;
e Reinserção Social. Adoptar medidas pertinentes, estabelecendo meca-
13. Após o cumprimento da pena e a emissão do man-
graves pelos quais as nossas crianças passam
nismos de coordenação multissectorial para
dato de soltura, a criança é libertada e a sua reinserção social do castigo corporal
prevenir e combater nas
todas asescolas na pág 28
formas de violên-
promovida anteriormente deve ser acompanhada. cia contra crianças;
formas de violência a que as crianças podem
14. Se a criança é considerada inocente, ela e a sua Adequar o Plano Nacional de Acção adoptado pelo
família devem ser igualmente apoiadas no processo de rein-
los/as . Quadro
O Governo, 2 identifica,
em 1997, para o combatequatrodo abuso formas
tegração social. sabermossexualcomo proteger
e comercial de menores todas asesta-
de idade, crianças .
belecendo mecanismos claros de denúncia,
15. Se o caso não requer o acompanhamento pelos
Sectores da Justiça e Interior, a SJM deve notificar ime- Uma vez adquirido um conhecimento mais
protecção e apoio à reintegração das vítimas;
Implementar a Estratégia Nacional de Prevenção
diatamente o Serviço Provincial do INAC ou a Direcção dade a serem enfrentadas, devemos ser cap
e Combate à Violência Contra a Criança, de
Municipal de Acção Social ou o Centro de Acção Social permitemacordo identificar como
com as cinco áreas podemos
propostas: (a) Negli- agir . O
Integrado (CASI) quando existente no município para assis-
tência social.
(pág 15), gência,
apresentaabuso, violência física, psicológica e
um conjunto de sinais es
discriminação; (b) Tráfico; (c) Instrumentali-
16. Os Serviços Sociais devem estar no centro da arti- que a criança pode
zação; (d) estar
Trabalho submetida .
infantil; e (e) ExploraçãoPara cad
culação da intervenção dos vários sectores: sexual de menores
zes de identificar de idade;
a evidência e indícios, bem
Apoio ou reintegração escolar (Educação); Implementar o Protocolo de Palermo relativo ao
requeremtráfico
observação,
de seres humanos, outros preocupação,
particularmente de
Apoio clínico (médico, medicamentoso e psicoló-
gico) (Saúde); imediata junto dos outros sectores do sistem
mulheres e de crianças;
Reforçar os mecanismos de monitoria, supervisão
Apoiar a família para obtenção de registo de nasci- vação, ou preocupação pode-se tornar de inte
e avaliação da implementação dos 11 Com-
mento se necessário (Justiça/Conservatórias e a ser vítima de uma
promissos qualquer
do Governo de Angola em forma
prol da de violê
postos de registo); Criança. .
28
comunidade (artigos 19.º e 40.º da CDC)29. O processo de Porque é que a Participação Activa da Criança é Fun-
reintegração sociocomunitária é específico para cada criança damental?
e tem três dimensões: (a) organizacional (oferecer condições A CDC estabelece dois princípios para o direito de participa-
de habitação, alimentação, vestuário, etc.); (b) ocupacional ção das crianças: (a) a criança com capacidade de discernimento,
(oferecer formação académica e profissional, prática despor- e de acordo com a sua idade, tem direito de exprimir livremente
tiva, cultural, artística e ambiental); (c) relacional (promover a sua opinião sobre as questões que lhe respeitem e a mesma
relações de qualidade com a família, outras crianças e a deve ser tida em consideração; (b) para este fim, a criança tem
comunidade). que ter a oportunidade de ser ouvida nos processos judiciais e
administrativos que lhe dizem respeito, seja directamente, seja
QUADRO 11 — Obstáculos Associados aos Estereótipos
através de representante ou de organismo adequado, segundo as
Encontrar um emprego
Possuir poucos recursos financeiros modalidades previstas pela legislação nacional38.
Ter baixo nível educacional Tendo em vista estes princípios, a participação infantil
Ter dificuldades de relacionamento (com famílias, amigos, vizinhos)
Estar inserida em relações que valorizam práticas criminais (gangues ou refere-se a processos contínuos fundados no respeito mútuo e
familiares envolvidos em tais práticas) no direito à informação clara e relevante e caracterizados pelo
Rejeição da família em recebê-las e reintegrá-las; problemas de saúde (físicos ou
mentais) desenvolvidos durante a detenção em condições precárias diálogo entre crianças, mas também entre crianças e adultos39.
Isolamento social em função dos laços rompidos durante o período de É possível pensar num modelo de «participação infantil, do acto
encarceramento.
simbólico à cidadania», o qual opera num sistema de escala40.
Uma criança que passou por medidas de privação de O Quadro 12 foi baseado nesse modelo. Demonstra os graus
liberdade tem que lidar com os impactos negativos asso- de participação das crianças e oferece ferramentas para pensar
ciados ao encarceramento e enfrenta muitos obstáculos na quando é que as crianças estão, de facto, a participar.
sua reintegração. Muitas vezes, carrega o fardo dos erros QUADRO 12 — Exemplos de Diferentes Formas
cometidos na fase da adolescência (gravidez precoce, con- de Participação Infantil
sumo de drogas, prática de furtos, participação em rixa, etc.) As crianças iniciam o projecto e gerem-no em conjunto com os adultos:
▪ Um grupo de alunos de uma escola secundária decide criar um
para o resto da sua vida30. A essas crianças estão associa- «clube» dentro da sua escola a fim de informar e sensibilizar os
dos estereótipos negativos que frequentemente as retractam alunos sobre os seus direitos (caixa anónima para denunciar abusos
cometidos contra eles). O grupo procura o apoio de adultos para
como perigosas e, por isso, devem ser combatidas, porque Iniciativa
receber formação sobre a administração de um canal de escuta,
das Crianças
reforçam a exclusão e a discriminação. São frequentemente desenvolver uma estratégia de captação de recursos e facilitar a
aprovação da direcção;
percebidas como estando sujas e como sendo ignorantes. ▪ Um grupo de estudantes de uma escola secundária decide defen-
Como resultado, outros membros da sociedade tendem a der junto do Director medidas para eliminar as agressões sexuais
cometidas por professores contra estudantes do sexo feminino.
desprezá-las e excluí-las31. Isso torna o processo de reinte- O projecto é iniciado por adultos, mas as crianças e os adultos compar-
gração muito difícil32. tilham a direcção e gestão do projecto:
▪ Adultos e crianças colocados em centros de acolhimento e mem-
No processo de reintegração da criança, algumas medi- Parcerias bros de uma Comissão de Moradores estão mobilizando-se para im-
das podem ser fundamentais e devem ser realizadas desde o plementar uma estratégia de advocacia para melhorar as condições
de habitação das crianças acolhidas. Todas as acções e decisões são
início do processo da intervenção ou do contacto da criança tomadas numa base consensual por todos os membros.
com o sistema de justiça, tais como: (a) visitas familiares As crianças são consultadas quando são tomadas decisões, mas a
iniciativa de acção vem dos adultos:
regulares às crianças para assegurar que estão protegidas e ▪ A fim de criar espaços favoráveis às crianças nos tribunais, me-
poder encorajá-las a receber e a manter boas relações com ninas e meninos são consultados para decidir como esses espaços
serão organizados. As crianças são envolvidas na escolha e avalia-
as suas famílias e a sua comunidade33; (b) ter a supervisão Consulta ção do sistema posto em prática;
de apoio de um adulto34 (familiar, assistente social, membro ▪ As residentes de um centro de acolhimento para meninas vítimas
de casamentos forçados são informadas da criação de formação
da comunidade, professor); (c) realizar serviço comunitá- profissional no centro e depois consultadas sobre as áreas de for-
mação a serem priorizadas. Os adultos decidirão quais os cursos de
rio35 (trabalho não remunerado que beneficie a comunidade, formação a desenvolver.
demonstrando que a criança pode ser um indivíduo pro- As crianças são informadas sobre o projecto e realizam as tarefas que
dutivo); (d) evitar o seu envolvimento em gangues36; (e) lhes são atribuídas:
▪ Um grupo de adolescentes é formado para realizar uma pequena
acompanhamento e fiscalização de serviços locais (saúde e Voluntariado
pesquisa nos principais mercados da capital para registar os teste-
munhos dos meninos e meninas que ali trabalham. Os dados reco-
educação) para garantir o acesso igualitário à crianças em lhidos são depois fornecidos aos adultos para utilização.
conflito com a lei ou de crianças vítimas de violência. Exemplos de Não-Participação da Criança
Diante desses desafios, devemos sempre lembrar que os A participação das crianças é apenas simbólica:
▪ As crianças são convidadas a participar num workshop de lança-
Estados signatários da CDC devem assegurar a tomada de Simbólico mento da investigação em que participaram, mas não têm qualquer
todas as medidas necessárias (legislativas, administrativas, papel a desempenhar e não foram informadas dos resultados da
investigação ou dos possíveis resultados.
sociais e educativas) adequadas à protecção contra todas As crianças são utilizadas para dar uma boa imagem à organização:
as formas de violência e que «a apreensão, detenção ou ▪ As crianças de rua são seleccionadas aleatoriamente para apare-
Decorativo cerem na fotografia de grupo após formação em uma intervenção
prisão de uma criança ... seja utilizada apenas como medida com crianças de rua. Esta foto deve aparecer na primeira página do
de último recurso e pelo período de tempo mais curto relatório, o qual será distribuído aos parceiros.
As crianças são manipuladas:
possível» e que qualquer resposta a uma criança em conflito ▪ Uma organização cria uma parceria com uma associação de jovens
com a lei deve levar em conta a promoção da reintegração Manipulação
para incentivar o financiamento de projectos voltados para adoles-
centes. A organização exagera os papéis e responsabilidades que se-
da criança e a necessidade dela assumir um papel constru- rão atribuídos a esta associação para obter a sua adesão, por um lado,
tivo na sociedade37.» e o financiamento do doador, por outro.
7596 DIÁRIO DA REPÚBLICA
SECTOR DO INTERIOR
O género, da mesma forma que a etnia, a religião, o idioma, o estado de saúde,
a deficiência ou o estatuto social, entre outros, não é razão para discriminar a
criança (negar ou desrespeitar os seus direitos), especialmente na saúde, educação,
serviços sociais e nos sectores da justiça e do interior .
Princípios Operacionais Multissectorial venção é constantemente avaliada (para poder ser adaptada
para o Sector do Interior segundo a especificidade de cada caso). O acompanhamento
Uma gestão de casos eficaz necessita de um percurso comunitário é uma peça essencial para uma boa resolução
ordenado e evolutivo dos casos das crianças ao longo do do caso. Esses quatro passos estão regidos por vários princí-
Sistema de Protecção Integral. O momento de acolhimento pios fundamentais seguintes:
(identificação e avaliação) pode ocorrer em várias institui-
a) Identificação e Avaliação:
ções e sectores do sistema. Uma vez identificada a situação,
Os agentes da polícia, do Serviço de Investigação
deve-se realizar o encaminhamento multissectorial do caso
(articulação com serviços de apoio) para outros sectores Criminal e agentes penitenciários, técnicos
para a elaboração de um plano de intervenção. A colabo- administrativos e pessoal auxiliar devem
ração intersectorial exige um acompanhamento sistémico observar atentamente os sinais ou indícios de
(planeamento individual de apoio) para garantir que a inter- vulnerabilidade nas nossas crianças e, a partir
I SÉRIE –– N.º 181 –– DE 24 DE SETEMBRO DE 2021 7597
destes, zelar para garantir o seu bem-estar e des da criança que deverão ser respondidas por
desenvolvimento; todos durante todo o procedimento.
Os/as agentes de polícia não podem deter numa c) Acompanhamento Sistémico:
cela uma criança; Os agentes da polícia, do Serviço de Investigação
Os/as agentes de polícia devem escutar respei- Criminal, os agentes penitenciários, técnicos
tosamente a opinião da criança e tomá-la em administrativos e pessoal auxiliar não podem
consideração, quando a criança quiser prestar permitir que as crianças sejam revitimizadas
declarações; por acções ou omissões, como por exemplo
Os agentes da polícia não devem fazer entrevis- formalismos excessivos e morosos, mesmo
tas (conhecidos por «interrogatórios») se a quando a intenção é fazer o bem;
criança não quiser prestar declarações; Os profissionais do interior devem garantir que
Os profissionais do interior devem evitar a repe- o cumprimento das medidas de privação
tição de depoimentos e comunicar na língua de liberdade não comprometem os outros
da criança; direitos da criança (saúde, educação, con-
Os profissionais do interior devem informar a
tacto com a família, etc), promovendo a sua
criança e a família sobre os passos que se
reabilitação;
seguem;
Os profissionais do interior devem assegurar que
Os profissionais do interior devem proibir qual-
as necessidades da criança e da sua família
quer tipo de contacto, mesmo que visual,
são levadas em consideração pelos servi-
com o agressor e garantir a presença de pes-
ços de maneira adequada. Esta etapa vai do
soas de confiança da criança durante qualquer
registo do caso até ao seu encerramento.
procedimento.
d) Acompanhamento Comunitário:
b) Encaminhamento Multissectorial (articulação com
Os agentes da polícia, do Serviço de Investigação
serviços de apoio):
Criminal, os agentes penitenciários, técni-
Os agentes da polícia, do Serviço de Investigação
Criminal e os agentes penitenciários, técnicos cos administrativos e pessoal auxiliar devem
administrativos e o pessoal auxiliar devem colaborar para apoiar o regresso da criança à
colaborar com os actores de outros sectores sua comunidade;
para promover o bem-estar e desenvolvi- Os agentes da polícia são, em primeiro lugar,
mento de todas as crianças; agentes de protecção das crianças e das
Os profissionais do interior devem fazer a reco- comunidades. São, por isso, parceiros de uma
lha de provas e evidências de delito; reinserção social bem-sucedida;
Os profissionais do interior devem solicitar pare- Os agentes de polícia devem proteger as crianças
cer psicológico ou avaliação psicossocial se contra todos os estereótipos, sobretudo os que
necessário: afectam aquelas crianças que já tiveram con-
Os agentes da polícia, do Serviço de Investigação tacto ou passaram pelo Sistema de Justiça;
Criminal e os agentes penitenciários, técnicos Os profissionais do interior devem promo-
administrativos e o pessoal auxiliar, em coor- ver todas aquelas práticas que asseguram o
denação como o/a técnico/a social e a criança, bem-estar e o desenvolvimento de todas as
devem reunir-se para determinar as necessida- crianças.
O PAPEL DOS PROFISSIONAIS DO SECTOR
7598 DIÁRIO DA REPÚBLICA
DO INTERIOR NO SISTEMA DE PROTECÇÃO
INTEGRAL DA CRIANÇA
O Papel dos Profissionais do Sector do Interior no Sistema de Protecção Integral da Criança
6 Sentença
Observação:
• A legenda dos números está na página seguinte.
Sala de Crimes Comuns Serviço de • As línhas pontilhadas são passos intermédios
do Tribunal Provincial 5 investigação
ou de Comarca criminal
Conservatória e/ou
Posto de Registo 1 Comunidade
Esquadras da policia e Serviços
Verificar se tem 2 de Investigação Criminal
registo de nascimento
PORTA DE
ENTRADA Esquadras, Polícias e Serviços de Investigação
5. A nível internacional, o Governo de Angola ratificou envolve a utilização imprópria de palavras e gestos que
tratados internacionais que garantem às crianças e ado- humilham a vítima (Ministério da Saúde e União Europeia,
lescentes, o respeito a esses princípios. A CDC afirma a Manual de orientação para notificação atendimento e enca-
necessidade de garantir o respeito à privacidade da criança minhamento dos casos de suspeita ou confirmação de
de forma a não a sujeitar a intromissões ilegais na sua vida violência doméstica, sexual e/ou outras violências (Angola,
privada ou de sua família e a garantir a sua honra e reputação 2018) e Ministério da Saúde e União Europeia, Estratégias
(artigo 16.º) e reafirma que esses direitos também devem ser de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens 2016-
aplicados a crianças em conflito com a lei (artigo 40.º). Por 2020 (Luanda, Dezembro de 2015)).
sua vez, o artigo 10.º da CADBEC destaca o direito à priva- 10. República de Angola, 11 Compromissos com a
cidade da criança, reafirmando os princípios listados acima. Criança (Conselho Nacional da Criança, Junho de 2011).
6. As definições do conceitos de «privacidade» e «pro- 11. Ibid.
tecção de dados» provêm de United Nations Children’s Fund 12. International Bureau for Children Rights, report
(UNICEF), Privacy, Protection of Personal Information and on the justice for children system in Angola (Luanda, Bié,
Reputation: Discussion Paper Series: Children’s Rights and Huíla, Moxico, 2016), Sacco et. al 2016,17.
Business in a Digital World (March 2017). A definição de 13. Governo de Angola, «Lei sobre a Protecção e
«confidencialidade» provém de UK Foreign Commonwealth Desenvolvimento Integral da Criança», de 22 de Agosto
Office, International Protocol on the Documentation and 2012, artigo 7.º que «a criança não deve ser tratada de
Investigation of Sexual Violence in Conflict (2014). forma negligente, discriminatória, violenta ou cruel, nem ser
7. Lei n.º 9/96, de 19 de Abril, artigo 25.º afirma que «1. objecto de qualquer forma de exploração ou opressão, sendo
Os processos da competência do Julgado de Menores são punidos todos os comportamentos que se traduzam em vio-
de natureza confidencial e não podem ser usados em desfa-
lação a estas proibições». Além disso, em seu artigo 8.º, a
vor da pessoa do menor. 2. A sua consulta por terceiros pode
lei estabelece que é dever de todos «zelar pela dignidade
ser autorizada pelo juiz quando o fim, de natureza científica,
da criança, protegendo-a de qualquer tratamento desumano,
estatística ou outro, o justifique. 3. A violação da confiden-
cruel, violento, exploratório, humilhante, constrangedor,
cialidade dos processos e a utilização para fins diversos dos
discriminatório ou de qualquer outra forma atente a digni-
constantes no número anterior, constituem crime de desobe-
dade e integridade da criança». Por sua vez, a Lei contra
diência». É de salientar também que o artigo 18.º, alínea c),
a Violência Doméstica destaca que as violências cometidas
estabelece a proibição da identificação pelos meios de comu-
no interior de espaços como infantários e escolas são consi-
nicação social do menor a quem seja atribuída a prática de
deradas violência doméstica, e por isso, as crianças devem
facto tipificado na Lei Penal como crime ou que seja ofen-
ser protegidas no interior desses estabelecimentos. Estes são
dido em crime de natureza sexual. Além disso, o artigo 5.º
passíveis de punição caso cometem tais formas de violência
da Lei n.º 25/11, de 14 de Julho, também garante o princípio
(artigo 3.º).
da confidencialidade ao afirmar a necessidade de «manter
14. Os estereótipos podem ser considerados como repre-
em sigilo os dados obtidos no âmbito do processo de violên-
cia doméstica». sentações ou imagens rígidas e redutoras, muitas vezes
8. De acordo com as capacidades de desenvolvimento negativas, associadas a determinados grupos em função
da criança, o profissional deve obter a permissão da criança de características como idade, género, cor da pele, orien-
para transmitir a informação contida no seu arquivo, desde tação sexual, etnia, religião, entre outros. Os estereótipos
o início do processo de acompanhamento. O profissional são compartilhados pela maioria da população e são uma
informa a criança (e a sua família), desde o início, da exis- simplificação, muitas vezes infundada, do comportamento
tência do arquivo da criança e do que ele irá conter. Também e características das pessoas. Os estereótipos têm como
deve informar a criança (e sua família) sobre o uso que será função estabelecer uma diferença para regular as condu-
feito das informações contidas no seu arquivo e sobre a tas de indivíduos ou grupos. Portanto, quando dizemos que
necessidade de compartilhar certas informações com outros meninos são sempre racionais ou que meninas são sempre
actores do Sistema de Protecção da Criança que poderão ser emotivas, estamos ao mesmo tempo, criando uma imagem
envolvidos no processo de acompanhamento. rígida e simplificadora do que podem fazer as meninas ou
9. A violência sexual é qualquer conduta que obrigue a meninos, como também impedindo-os de se expressarem
ver, manter ou participar de relação sexual por meio da vio- livremente. No caso das situações de vulnerabilidade, os
lência, coacção, ameaça ou colocação da pessoa em estado estereótipos podem dificultar a percepção de situações que
inconsciente. A violência sexual é acompanhada por violên- podem ser vividas tanto por meninas como por meninos.
cia psicológica, porque causa danos emocionais, diminui a Miranda, Joana. «Estereótipos sociais: Definição e abor-
auto-estima e prejudica o desenvolvimento psíquico e social, dagens.» Psicologia 11.2/3(1996): 101-120; Estereótipo
por violência física, porque ofende a integridade e a saúde in Dicionário infopédia da Língua Portuguesa [em linha].
da criança e, frequentemente, por violência verbal, porque Porto: Porto Editora, 2003-2019. [consult. 2019-12-02
I SÉRIE –– N.º 181 –– DE 24 DE SETEMBRO DE 2021 7603
19:34:30], Disponível na Internet: https://www.infopedia.pt/ 27. Para aumentar a capacidade do sistema de protecção
dicionarios/língua-portuguesa/estereótipo para funcionar adequadamente ao longo do tempo, é neces-
15. República de Angola, 11 Compromissos com a sário saber como fazer recomendações no início, durante ou
Criança (Conselho Nacional da Criança, Junho de 2011). no final de um plano de acompanhamento de cada criança
16. Ibid. e depois avaliar como essas recomendações foram aplica-
17. Por sua vez, a Lei contra a Violência Doméstica das. Em suma, é necessário saber, por um lado, acompanhar
destaca que as violências cometidas no interior de institui- os casos das crianças e, por outro, avaliar a implementação
ções como centros de saúde, postos de saúde e hospitais dos planos de acompanhamento. Nunca devemos hesitar em
são considerados como violência doméstica, e por isso, chamar a atenção para as fragilidades do sistema de protec-
estes espaços estão submetidos às sanções previstas na lei ção da criança, pois isso permite identificar aspectos que
(Governo de Angola, «Lei de Protecção e Desenvolvimento precisam de ser melhorados.
Integral da Criança», Diário da República (22 de Agosto de 28. 11 Compromissos com a Criança, Conselho Nacional
2012), artigo 3.º da Lei n.º 25/12). da Criança, Junho de 2011.
18. Lei sobre a Protecção e Desenvolvimento Integral da 29. Marie-Ève Dubois, La réinsertion sociale: les défis
Criança, de 22 de Agosto 2012), artigo 6.º rencontrés à la suite d’une détention fédérale ou provinciale,
19. Lei sobre a Protecção e Desenvolvimento Integral Avril 2018, p. 10
da Criança, de 22 de Agosto de 2012), artigo 5.º e Estatuto 30. Association des services de réhabilitation sociale du
Orgânico INAC. Québec, impacts du casier judiciaire dossier thématique,
20. Em certos casos de regulação do exercício do poder (juin 2015), p.3 consulté à partir de https:// asrsq.ca/assets/
parental (por exemplo, prestação de alimentos), o caso pode files/casier-judiciaire.pdf
ser encaminhado para a Sala de Família, com conhecimento 31. Amanda Hilary Breen, The Effects of Labeling
da Sala de Julgado de Menores. É importante realçar que os and Stereotype Threat on Offender Reintegration, (2011),
casos das crianças em conflito com a lei são também casos p.4, consulté a partir de https://ir.library.dc-uoit.ca/ bits-
de vulnerabilidade. Por isso, a acção social deve estar sem- tream/10155/168/1/Breen_Amanda.pdf
pre presente. 32. Ibid, pp.6-7
21. 11 Compromissos com a Criança, Conselho Nacional 33. Association des services de réhabilitation sociale du
da Criança, Junho de 2011. Québec, la sphère familiale des délinquants dossier thémati-
22. Assembleia Geral das Nações Unidas, Declaração que, (décembre 2013), p.9, consulté à partir de https://asrsq.
sobre a Eliminação da Violência contra as Mulheres ca/assets/files/sphere-familiale-des-delinquants.pdf
(Resolução n.º 48/103, Nova York, 20 de Dezembro de 34. United Nations Office On Drugs and Crime,
1993), artigo 2.º: a violência contra as mulheres inclui, Introductory Handbook on the Prevention of Recidivism
entre outros, violência física, sexual e psicológica dentro da and the Social Reintegration of Offenders, (Vienna, 2018),
família, na comunidade ou tolerada pelo Estado, incluindo 2018, pp.91-93, consulté a partir de https://www. unodc.org/
espancamentos, abuso sexual de crianças do sexo feminino documents/justice-and-prison-re- form/18-02303_ebook.pdf
em casa, violência relacionada ao dote, estupro conjugal, 35. Ibid.
mutilação genital feminina, exploração do trabalho e outras 36. Ibid.
práticas tradicionais prejudiciais; intimidação no trabalho, 37. De acordo com as Regras Mínimas das Nações
em instituições educacionais e em outros lugares, prostitui- Unidas para a Administração da Justiça Juvenil (Regras de
ção forçada, entre outras. Pequim), o objectivo da formação e do tratamento ofereci-
23. David Easton, Analyse Du Système Politique (Paris: dos às crianças privadas de liberdade deve ser a prestação de
A. Collin, 1974). 23. cuidados, protecção, educação e competências profissionais,
24. Decreto Presidencial n.º 226/20, de 4 de Setembro. com vista a ajudá-las a assumir papéis socialmente constru-
25. Decreto Presidencial n.º 169/14, de 23 de Julho de tivos e produtivos na sociedade. Ver: Assembleia Geral das
2014. Nações Unidas, Convenção sobre os Direitos da Criança,
26. O apoio da criança em situação de vulnerabilidade ou (Treaty Series, vol. 1577, No. 27531, 20 de Novembro de
vítima de violência pode ser visualizado como uma cadeia 1989), artigo 37.º, parágrafo (b), e artigo 40.º, parágrafo 1;
ou um roteiro de etapas. É sempre necessário permanecer Assembleia Geral das Nações Unidas, «United Nations
vigilante para garantir que todos os integrantes do sistema Standard Minimum Rules for the Administration of Juvenile
possam desempenhar o seu papel de forma profissional, ou Justice (the Beijing Rules)», Resolução n.º 40/33, de 29 de
seja, no estrito cumprimento das respectivas regras éticas. O Novembro 1985, regras 24.1 e 26.1.
apoio da criança é um processo longo e deve ser assegurado 38. Assembleia Geral das Nações Unidas, Convenção
que o seu interesse superior seja respeitado durante todas as sobre os Direitos da Criança, (Treaty Series, vol. 1577, No.
fases do apoio. 27531, 20 de Novembro de 1989), artigo 12.º
7604 DIÁRIO DA REPÚBLICA
39. Esta definição é coerente com o princípio de que no nome, o direito a adquirir uma nacionalidade e o direito de
Sistema de Protecção, a criança deve estar no centro e pode conhecer os seus pais e de ser educada por eles. Estes direi-
ser envolvida em iniciativas destinadas ao seu pleno desen- tos também estão consagrados no artigo 32.º da CRA e no
volvimento e autonomia. Esta definição também destaca a artigo 21.º da Lei sobre a Protecção e Desenvolvimento
influência significativa que as crianças têm umas sobre as Integral da Criança. O direito de acesso ao registo de nas-
outras, integrando, para além do diálogo adulto-criança, o cimento está reflectido no ODS 16.9: até 2030, fornecer
diálogo criança-criança. identidade legal para todos, incluindo o registo de nas-
40. A ideia baseia-se nos modelos linear e circular de cimento. O acesso ao registo civil constitui o n.º 3 dos 11
Hardt (Centro de Pesquisas Innocenti Unicef, Florance). Compromissos com a Criança do Governo de Angola.
41. 11 Compromissos com a Criança, Conselho Nacional
ANEXO I
da Criança, Junho de 2011.
Como Fazer o Registo de Nascimento?
42. Marie-Ève Dubois, opt. cit., (Avril 2018), p. 10
O Compromisso n.º 3 do Governo Angolano com a
43. Association des services de réhabilitation sociale
criança enfatiza a necessidade de incrementar as medidas
du Québec, impacts du casierjudiciaire dossier thémaique,
favoráveis ao registo de nascimento, incluindo o registo
(juin 2015), p.3 consultar a partir de https:// asrsq.ca/assets/
gratuito para crianças abaixo dos cinco anos de idade,
files/casier-judiciaire.pdf
e expandir os serviços até à base, de forma a assegurar à
44. Amanda Hilary Breen, The Effects of Labeling and
criança o acesso facilitado e incondicional à cidadania, logo
Stereotype Threat on Offender Reintegration, (2011), p.
após o seu nascimento, através das seguintes acções:
4, consultar a partir de https://ir.library.dc-uoit.ca/ bits-
1. Continuar a institucionalização do registo civil, nas
tream/10155/168/1/Breen_Amanda.pdf
maternidades e nas Administrações Municipais e
45. Ibid, pp.6-7 Comunais;
46. Association des services de réhabilitation sociale du 2. Reforçar a capacidade dos técnicos envolvidos no
Québec, la sphère familiale des délinquants dossier thémati- processo de registo de nascimento, sejam brigadis-
que, (décembre 2013), p.9, consultar a partir de https://asrsq. tas ou funcionários fixos;
ca/assets/files/sphere-familiale-des-delinquants.pdf 3. Incrementar e reforçar as campanhas permanentes de
47. United Nations Office On Drugs And Crime, sensibilização e mobilização social para a massifi-
Introductory Handbook on the Prevention of Recidivism cação da prática do registo civil após o nascimento,
and the Social Reintegration of Offenders, (Vienna, 2018), identificando, para o efeito, parcerias sustentáveis,
como com a saúde e educação;
2018, pp.91-93, consultar a partir de https://www. unodc.org/
4. Definir um sistema de supervisão e de monitoria das
documents/justice-and-prison-re- form/18-02303_ebook.pdf
acções de massificação do registo do nascimento;
48. Ibid. 5. Definir uma estratégia de comunicação social para a
49. Ibid. informação da população sobre o registo de nas-
50. De acordo com as Regras Mínimas das Nações cimento
Unidas para a Administração da Justiça Juvenil (Regras de 6. Implementar o sistema de base de dados de registos
Pequim), o objectivo da formação e de tratamento ofereci- de nascimento a nível nacional.
dos às crianças privadas de liberdade deve ser a prestação de O Registo de Nascimento é um passo vital para proteger as crianças51
cuidados, protecção, educação e competências profissionais, O primeiro registo de nascimento de uma criança
1
é gratuito.
com vista a ajudá-las a assumir papéis socialmente constru- DOCUMENTOS
O registo pode ser efectuado nas maternidades, NECESSÁRIOS
tivos e produtivos na sociedade. Ver: Assembleia Geral das Conservatórias do Registo Civil, nos postos de Bilhete de Identidade
dos pais
Nações Unidas, Convenção sobre os Direitos da Criança, 2
registos das Administrações Municipais, na Loja
Cartão de vacinas, se
de Registo, Serviços Integrados de Atendimento
(Treaty Series, vol. 1577, No. 27531, 20 de Novembro de ao Cidadão (SIAC) da área de residência dos pais houver
e nas brigadas móveis de registo.
1989), artigo 37, parágrafo (b) e artigo 40, parágrafo 1);
Assembleia Geral das Nações Unidas, «United Nations 3
Os pais devem apresentar os respectivos Bilhetes de Identidade. Se não
tiverem têm que obter.
Standard Minimum Rules for the Administration of Juvenile
Se os pais não estiverem registados, devem fazer primeiro o seu registo e
Justice (the Beijing Rules)», Resolução 40/33, de 29 de 4
posteriormente realizar o registo da criança. É gratuito.
Novembro 1985, regras 24.1 e 26.1.
Se os pais são casados, basta a presença de um deles com o documento do
51. O Censo de 2014 revelou que apenas 53% das pes- 5
outro (BI) para registar a criança.
soas foram registadas e que somente 25% das crianças com Se os pais não são casados, a presença dos dois é obrigatória para se fazer o
6
menos de 5 anos de idade possuem registo de nascimento registo da criança.
ANEXO II
Lista de Verificação
LISTA A
Sectores : educação, saúde, serviços sociais, justiça e interior
LISTA B
Sector : justiça
M Nome M Naturalidade
M Idade M Existência de registo
de nascimento
M Sexo
M Tipo de ocorrência
M Filiação
(breve descrição)
M Encarregados de educação
M Medidas de protecção social
M Contacto telefónico
M Residência (comuna ou
ponto de referência, caso
não seja conhecida morada)
f) Assegurar, a pelo menos 90%, a distribuição atempada 2. Adequar o Plano Nacional de Acção adoptado pelo
dos kits escolares das crianças do ensino primário; Governo, em 1997, para o combate ao abuso
g) Expandir os cursos de formação profissional para sexual e comercial de menores, estabelecendo
atender 20% de jovens inscritos, nos programas mecanismos claros de denúncia, protecção e
de alfabetização e de aceleração escolar; apoio à reintegração das vítimas;
h) Implantar um sistema fiável de produção e de 3. Adoptar e implementar a Estratégia Nacional
difusão de informação relativa à educação, de de Prevenção e Combate à Violência Contra a
forma a melhorar a gestão e a monitorização do Criança, de acordo com as cinco áreas propostas:
sistema educativo. a) Negligência, abuso, violência física e psicoló-
Compromisso n.º 6 — Justiça Juvenil gica e discriminação;
1. Assegurar a consolidação do Julgado de Menores b) Tráfico;
como órgão jurisdicional para a efectivação de um c) Instrumentalização;
modelo de responsabilidade penal juvenil, face ao d) Trabalho infantil;
adolescente em conflito com a lei; e) Exploração sexual de menores.
2. Garantir a consolidação dos avanços conquistados, 4. Implementar o Protocolo de Palermo relativo ao trá-
na legislação e na rede de serviços de atendimento fico de seres humanos, particularmente mulheres
e na reintegração social dos menores em conflito e crianças;
com a lei; 5. Expandir e fortalecer o papel das redes de protecção e
3. Divulgação e sensibilização da Lei do Julgado de promoção dos direitos da criança como mecanismo
Menores. de articulação, de conciliação e de mediação;
C) TODAS AS CRIANÇA (DOS 0 AOS 18 ANOS 6. Aprovar, em diploma legal, a Estratégia Nacional
DE IDADE) de Prevenção e Combate à violência contra a
Compromisso n.º 7 — Prevenção, Tratamento, Apoio criança.
e Redução do Impacto do VIH/Sida nas Famílias e Crianças Compromisso n.º 9 — Protecção Social e Competências
1. Implementar políticas e acções destinadas à redução Familiares
da transmissão do vírus do VIH e SIDA da mãe para o filho, Adoptar um amplo programa para reforçar a protec-
durante a gravidez, o parto e a amamentação, incrementando: ção social e as competências familiares relacionadas com a
a) Acções de mobilização social para aumentar o criança, através da:
conhecimento das mulheres sobre os riscos da a) Regulamentação da Lei de Base de Protecção
transmissão vertical e sobre a disponibilização Social (Lei n.º 7/04), na vertente da protecção
social de base;
dos centros de saúde com programas de preven-
b) Implementação de medidas multi-sectoriais para
ção da transmissão da mãe para o filho;
aumentar a oferta e o acesso aos serviços essen-
b) Estruturas e serviços sanitários que disponibilizem ciais, particularmente às famílias vulneráveis;
os serviços de prevenção da transmissão vertical c) Capacitação de, pelo menos, 50% das lideranças
do VIH e SIDA nas crianças; das comunidades, lideranças tradicionais e
c) Acompanhamento das mães seropositivas, na dos parceiros sociais (organizações não gover-
continuidade do tratamento medicamentoso, no namentais, igrejas, sindicatos e organizações
cuidado dos filhos, sobretudo entre os 0-18 meses. comunitárias de base) com medidas vitais para
2. Apoiar a implementação do Plano Nacional de os cuidados apropriados da primeira infância,
Prevenção, Tratamento, Apoio e Redução do Impacto do incluindo a componente emocional;
VIH/SIDA nas Famílias e Crianças de forma a: d) Produção e disseminação gratuita de material
Promover políticas e acções para a protecção da criança educativo relacionado com a sobrevivência e o
desenvolvimento da primeira infância, através
infectada e afectada pelo VIH-SIDA, defendendo os
dos órgãos de comunicação social, bibliotecas,
seus direitos, apoiando as suas famílias, criando um
salas de leitura, canais de comunicação interpes-
ambiente de não discriminação da criança, garan-
soais e dos parceiros sociais, reforçando, deste
tindo o seu acesso aos serviços de cuidados básicos, modo, as competências familiares;
incluindo o apoio psicossocial. e) Criação, em cada província, de programas de rádio
Compromisso n.º 8 — Prevenção e Combate à Violência que contribuam para a divulgação de informa-
Contra a Criança ções edificantes rumo ao desenvolvimento pleno
1. Adoptar medidas pertinentes de carácter político, das competências familiares, usando as línguas
legislativo e educativo, estabelecendo mecanismos nacionais;
de coordenação multi-sectorial para prevenir e f) Promoção do acolhimento familiar da criança
combater todas as formas de violência; vulnerável, desencorajando a sua instituciona-
7608 DIÁRIO DA REPÚBLICA
Tendo presente que, na Carta, os povos das Nações de 1986), o Conjunto de Regras Mínimas das Nações Unidas
Unidas proclamaram, de novo, a sua fé nos direitos fun- relativas à Administração da Justiça para Menores («Regras
damentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa de Beijing») (8) (Resolução n.º 40/33 da Assembleia Geral,
humana e que resolveram favorecer o progresso social e de 29 de Novembro de 1985) e a Declaração sobre Protecção
instaurar melhores condições de vida numa liberdade mais de Mulheres e Crianças em Situação de Emergência ou de
ampla; Conflito Armado (Resolução n.º 3318 (XXIX) da Assembleia
Reconhecendo que as Nações Unidas, na Declaração Geral, de 14 de Dezembro de 1974) (9);
Universal dos Direitos do Homem (3) e nos pactos interna- Reconhecendo que em todos os países do mundo há
cionais Relativos aos Direitos do Homem (4), proclamaram crianças que vivem em condições particularmente difíceis e
e acordaram em que toda a pessoa humana pode invocar os que importa assegurar uma atenção especial a essas crianças;
direitos e liberdades aqui enunciados, sem distinção alguma, Tendo devidamente em conta a importância das tradi-
nomeadamente de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião ções e valores culturais de cada povo para a protecção e o
política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, desenvolvimento harmonioso da criança;
nascimento ou de qualquer outra situação; Reconhecendo a importância da cooperação internacional
Recordando que, na Declaração Universal dos Direitos para a melhoria das condições de vida das crianças em todos
do Homem, a Organização das Nações Unidas proclamou os países, em particular nos países em desenvolvimento;
que a infância tem direito a uma ajuda e assistência especiais; Acordam no seguinte:
Convictos de que a família, elemento natural e funda-
PARTE I
mental da sociedade e meio natural para o crescimento e
bem-estar de todos os seus membros, e em particular das ARTIGO 1.º
crianças, deve receber a protecção e a assistência necessárias Nos termos da presente Convenção, criança é todo o ser
para desempenhar plenamente o seu papel na comunidade; humano menor de 18 anos, salvo se, nos termos da lei que
Reconhecendo que a criança, para o desenvolvimento har- lhe for aplicável, atingir a maioridade mais cedo.
monioso da sua personalidade, deve crescer num ambiente ARTIGO 2.º
familiar, em clima de felicidade, amor e compreensão; 1. Os Estados-Partes comprometem-se a respeitar e a
Considerando que importa preparar plenamente a criança garantir os direitos previstos na presente Convenção a todas
para viver uma vida individual na sociedade e ser educada no as crianças que se encontrem sujeitas à sua jurisdição, sem
espírito dos ideais proclamados na Carta das Nações Unidas discriminação alguma, independentemente de qualquer con-
e, em particular, num espírito de paz, dignidade, tolerância, sideração de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política
liberdade e solidariedade; ou outra da criança, de seus pais ou representantes legais, ou
Tendo presente que a necessidade de garantir uma pro- da sua origem nacional, étnica ou social, fortuna, incapaci-
tecção especial à criança foi enunciada pela Declaração de dade, nascimento ou de qualquer outra situação.
Genebra de 1924 sobre os Direitos da Criança (5) e pela 2. Os Estados-Partes tomam todas as medidas adequa-
Declaração dos Direitos da Criança adoptada pelas Nações das para que a criança seja efectivamente protegida contra
Unidas em 1959 (2), e foi reconhecida pela Declaração todas as formas de discriminação ou de sanção decorren-
Universal dos Direitos do Homem, pelo Pacto Internacional tes da situação jurídica, de actividades, opiniões expressas
sobre os Direitos Civis e Políticos (nomeadamente nos arti- ou convicções de seus pais, representantes legais ou outros
gos 23.º e 24.º) 4, pelo Pacto Internacional sobre os Direitos membros da sua família.
Económicos, Sociais e Culturais (nomeadamente o arti- ARTIGO 3.º
go 10.º) e pelos estatutos e instrumentos pertinentes das 1. Todas as decisões relativas a crianças, adoptadas por
agências especializadas e organizações internacionais que instituições públicas ou privadas de protecção social, por
se dedicam ao bem-estar da criança; tribunais, autoridades administrativas ou órgãos legislati-
Tendo presente que, como indicado na Declaração dos vos, terão primacialmente em conta o interesse superior da
Direitos da Criança, adoptada em 20 de Novembro de 1959 criança.
pela Assembleia Geral das Nações Unidas, «a criança, por 2. Os Estados-Partes comprometem-se a garantir à criança
motivo da sua falta de maturidade física e intelectual, tem a protecção e os cuidados necessários ao seu bem-estar,
necessidade de uma protecção e cuidados especiais, nomea- tendo em conta os direitos e deveres dos pais, representan-
damente de protecção jurídica adequada, tanto antes como tes legais ou outras pessoas que a tenham legalmente a seu
depois do nascimento» (6); cargo e, para este efeito, tomam todas as medidas legislati-
Recordando as disposições da Declaração sobre os vas e administrativas adequadas.
Princípios Sociais e Jurídicos Aplicáveis à Protecção e Bem- 3. Os Estados-Partes garantem que o funcionamento de
Estar das Crianças, com Especial Referência à Adopção e instituições, serviços e estabelecimentos que têm crianças
Colocação Familiar nos Planos Nacional e Internacional (7) a seu cargo e asseguram que a sua protecção seja conforme
(Resolução n.º 41/85 da Assembleia Geral, de 3 de Dezembro às normas fixadas pelas autoridades competentes, nomeada-
7610 DIÁRIO DA REPÚBLICA
mente nos domínios da segurança e saúde, relativamente ao de, por exemplo, os pais maltratarem ou negligenciarem
número e qualificação do seu pessoal, bem como quanto à a criança ou no caso de os pais viverem separados e uma
existência de uma adequada fiscalização. decisão sobre o lugar da residência da criança tiver de ser
ARTIGO 4.º tomada.
Os Estados-Partes comprometem-se a tomar todas as 2. Em todos os casos previstos no n.º 1 todas as Partes
medidas legislativas, administrativas e outras necessá- interessadas devem ter a possibilidade de participar nas deli-
rias à realização dos direitos reconhecidos pela presente berações e de dar a conhecer os seus pontos de vista.
Convenção. No caso de direitos económicos, sociais e cul- 3. Os Estados-Partes respeitam o direito da criança sepa-
turais, tomam essas medidas no limite máximo dos seus rada de um ou de ambos os seus pais de manter regularmente
recursos disponíveis e, se necessário, no quadro da coope- relações pessoais e contactos directos com ambos, salvo se
ração internacional. tal se mostrar contrário ao interesse superior da criança.
ARTIGO 5.º 4. Quando a separação resultar de medidas tomadas
Os Estados-Partes respeitam as responsabilidades, direi- por um Estado-Parte, tais como a detenção, prisão, exílio,
tos e deveres dos pais e, sendo caso disso, dos membros da expulsão ou morte (incluindo a morte ocorrida no decurso
família alargada ou da comunidade nos termos dos costu- de detenção, independentemente da sua causa) de ambos os
mes locais, dos representantes legais ou de outras pessoas pais ou de um deles, ou da criança, o Estado-Parte, se tal lhe
que tenham a criança legalmente a seu cargo, de assegurar for solicitado, dará aos pais, à criança ou, sendo esse o caso,
à criança, de forma compatível com o desenvolvimento das a um outro membro da família informações essenciais sobre
suas capacidades, a orientação e os conselhos adequados ao o local onde se encontram o membro ou membros da famí-
exercício dos direitos que lhe são reconhecidos pela presente lia, a menos que a divulgação de tais informações se mostre
Convenção. prejudicial ao bem-estar da criança. Os Estados-Partes com-
ARTIGO 6.º prometem-se, além disso, a que a apresentação de um pedido
1. Os Estados-Partes reconhecem à criança o direito ine- de tal natureza não determine em si mesmo consequências
rente à vida. adversas para a pessoa ou pessoas interessadas.
2. Os Estados-Partes asseguram na máxima medida pos-
ARTIGO 10.º
sível a sobrevivência e o desenvolvimento da criança.
1. Nos termos da obrigação decorrente para os Estados-
ARTIGO 7.º
-Partes ao abrigo do n.º 1 do artigo 9.º, todos os pedidos
1. A criança é registada imediatamente após o nasci- formulados por uma criança ou por seus pais para entrar
mento e tem desde o nascimento o direito a um nome, o
num Estado-Parte ou para o deixar, com o fim de reunifi-
direito a adquirir uma nacionalidade e, sempre que possível,
cação familiar, são considerados pelos Estados-Partes de
o direito de conhecer os seus pais e de ser educada por eles.
forma positiva, com humanidade e diligência. Os Estados-
2. Os Estados-Partes garantem a realização destes direi-
-Partes garantem, além disso, que a apresentação de um tal
tos de harmonia com a legislação nacional e as obrigações
pedido não determinará consequências adversas para os seus
decorrentes dos instrumentos jurídicos internacionais rele-
autores ou para os membros das suas famílias.
vantes neste domínio, nomeadamente nos casos em que, de
2. Uma criança cujos pais residem em diferentes
outro modo, a criança ficasse apátrida.
Estados-Partes tem o direito de manter, salvo circunstâncias
ARTIGO 8.º
excepcionais, relações pessoais e contactos directos regula-
1. Os Estados-Partes comprometem-se a respeitar o
res com ambos. Para esse efeito, e nos termos da obrigação
direito da criança e a preservar a sua identidade, incluindo a
que decorre para os Estados-Partes ao abrigo do n.º 2 do
nacionalidade, o nome e relações familiares, nos termos da
artigo 9.º, os Estados-Partes respeitam o direito da criança
lei, sem ingerência ilegal.
2. No caso de uma criança ser ilegalmente privada de e de seus pais de deixar qualquer país, incluindo o seu, e de
todos os elementos constitutivos da sua identidade ou de regressar ao seu próprio país. O direito de deixar um país só
alguns deles, os Estados-Partes devem assegurar-lhe assis- pode ser objecto de restrições que, sendo previstas na lei,
tência e protecção adequadas, de forma que a sua identidade constituam disposições necessárias para proteger a segu-
seja restabelecida o mais rapidamente possível. rança nacional, a ordem pública, a saúde ou moral públicas,
ARTIGO 9.º
ou os direitos e liberdades de outrem, e se mostrem com-
1. Os Estados-Partes garantem que a criança não é patíveis com os outros direitos reconhecidos na presente
separada de seus pais contra a vontade destes, salvo se as Convenção.
autoridades competentes decidirem, sem prejuízo de revisão ARTIGO 11.º
judicial e de harmonia com a legislação e o processo aplicá- 1. Os Estados-Partes tomam as medidas adequadas para
veis, que essa separação é necessária no interesse superior combater a deslocação e a retenção ilícitas de crianças no
da criança. Tal decisão pode mostrar-se necessária no caso estrangeiro.
7612 DIÁRIO DA REPÚBLICA
sexual, enquanto se encontrar sob a guarda de seus pais ou e) Promovem os objectivos deste artigo pela con-
de um deles, dos representantes legais ou de qualquer outra clusão de acordos ou tratados bilaterais ou
pessoa a cuja guarda haja sido confiada. multilaterais, consoante o caso, e neste domí-
2. Tais medidas de protecção devem incluir, consoante nio procuram assegurar que as colocações de
o caso, processos eficazes para o estabelecimento de pro- crianças no estrangeiro sejam efectuadas por
gramas sociais destinados a assegurar o apoio necessário
autoridades ou organismos competentes.
à criança e aqueles a cuja guarda está confiada, bem como
outras formas de prevenção, e para identificação, elaboração ARTIGO 22.º
de relatório, transmissão, investigação, tratamento e acom- 1. Os Estados-Partes tomam as medidas necessárias para
panhamento dos casos de maus tratos infligidos à criança, que a criança que requeira o estatuto de refugiado ou que
acima descritos, compreendendo igualmente, se necessário, seja considerada refugiado, de harmonia com as normas e
processos de intervenção judicial. processos de direito internacional ou nacional aplicáveis,
quer se encontre só, quer acompanhada de seus pais ou de
ARTIGO 20.º
qualquer outra pessoa, beneficie de adequada protecção
1. A criança temporária ou definitivamente privada do
e assistência humanitária, de forma a permitir o gozo dos
seu ambiente familiar ou que, no seu interesse superior, não
direitos reconhecidos pela presente Convenção e outros ins-
possa ser deixada em tal ambiente tem direito à protecção e
trumentos internacionais relativos aos direitos do homem ou
assistência especiais do Estado.
de carácter humanitário, de que os referidos Estados sejam
2. Os Estados-Partes asseguram a tais crianças uma pro-
Partes.
tecção alternativa, nos termos da sua legislação nacional.
2. Para esse efeito, os Estados-Partes cooperam, nos
3. A protecção alternativa pode incluir, entre outras,
termos considerados adequados, nos esforços desenvol-
a forma de colocação familiar, a kafala do direito islâ-
vidos pela Organização das Nações Unidas e por outras
mico, a adopção ou, no caso de tal se mostrar necessário,
organizações intergovernamentais ou não governamentais
a colocação em estabelecimentos adequados de assistência
competentes que colaborem com a Organização das Nações
às crianças. Ao considerar tais soluções, importa atender
Unidas na protecção e assistência de crianças que se encon-
devidamente à necessidade de assegurar continuidade à edu-
trem em tal situação, e na procura dos pais ou de outros
cação da criança, bem como à sua origem étnica, religiosa,
membros da família da criança refugiada, de forma a obter
cultural e linguística.
as informações necessárias à reunificação familiar. No caso
ARTIGO 21.º de não terem sido encontrados os pais ou outros membros da
Os Estados-Partes que reconhecem e ou permitem a família, a criança deve beneficiar, à luz dos princípios enun-
adopção asseguram que o interesse superior da criança será ciados na presente Convenção, da protecção assegurada a
a consideração primordial neste domínio e: toda a criança que, por qualquer motivo, se encontre privada
a) Garantem que a adopção de uma criança é autori- temporária ou definitivamente do seu ambiente familiar.
zada unicamente pelas autoridades competentes, ARTIGO 23.º
que, nos termos da lei e do processo aplicáveis
1. Os Estados-Partes reconhecem à criança mental e fisi-
e baseando-se em todas as informações credí-
camente deficiente o direito a uma vida plena e decente em
veis relativas ao caso concreto, verificam que a
condições que garantam a sua dignidade, favoreçam a sua
adopção pode ter lugar face à situação da criança
autonomia e facilitem a sua participação activa na vida da
relativamente a seus pais, parentes e represen-
tantes legais e que, se necessário, as pessoas comunidade.
interessadas deram em consciência o seu con- 2. Os Estados-Partes reconhecem à criança deficiente
sentimento à adopção, após se terem socorrido o direito de beneficiar de cuidados especiais e encorajam e
de todos os pareceres julgados necessários; asseguram, na medida dos recursos disponíveis, a prestação
b) Reconhecem que a adopção internacional pode ser à criança que reúna as condições requeridas e aqueles que
considerada como uma forma alternativa de pro- a tenham a seu cargo de uma assistência correspondente ao
tecção da criança se esta não puder ser objecto pedido formulado e adaptada ao estado da criança e à situa-
de uma medida de colocação numa família de ção dos pais ou daqueles que a tiverem a seu cargo.
acolhimento ou adoptiva, ou se não puder ser 3. Atendendo às necessidades particulares da criança
convenientemente educada no seu país de ori- deficiente, a assistência fornecida nos termos do n.º 2 será
gem; gratuita sempre que tal seja possível, atendendo aos recursos
c) Garantem à criança sujeito de adopção internacio- financeiros dos pais ou daqueles que tiverem a criança a seu
nal o gozo das garantias e normas equivalentes cargo, e é concebida de maneira a que a criança deficiente
às aplicáveis em caso de adopção nacional; tenha efectivo acesso à educação, à formação, aos cuidados
d) Tomam todas as medidas adequadas para garan- de saúde, à reabilitação, à preparação para o emprego e a
tir que, em caso de adopção internacional, a actividades recreativas, e beneficie desses serviços de forma
colocação da criança se não traduza num bene- a assegurar uma integração social tão completa quanto pos-
fício material indevido para os que nela estejam sível e o desenvolvimento pessoal, incluindo nos domínios
envolvidos; cultural e espiritual.
I SÉRIE –– N.º 181 –– DE 24 DE SETEMBRO DE 2021 7613
4. Num espírito de cooperação internacional, os Estados- ou tratamento físico ou mental, o direito à revisão periódica
-Partes promovem a troca de informações pertinentes no do tratamento a que foi submetida e de quaisquer outras cir-
domínio dos cuidados preventivos de saúde e do tratamento cunstâncias ligadas à sua colocação.
médico, psicológico e funcional das crianças deficientes,
ARTIGO 26.º
incluindo a difusão de informações respeitantes aos méto-
1. Os Estados-Partes reconhecem à criança o direito de
dos de reabilitação e aos serviços de formação profissional,
beneficiar da segurança social e tomam todas as medidas
bem como o acesso a esses dados, com vista a permitir que
necessárias para assegurar a plena realização deste direito,
os Estados-Partes melhorem as suas capacidades e qualifica-
nos termos da sua legislação nacional.
ções e alarguem a sua experiência nesses domínios. A este
2. As prestações, se a elas houver lugar, devem ser atri-
respeito atender-se-á de forma particular às necessidades
buídas tendo em conta os recursos e a situação da criança e
dos países em desenvolvimento.
das pessoas responsáveis pela sua manutenção, assim como
ARTIGO 24.º qualquer outra consideração relativa ao pedido de prestação
1. Os Estados-Partes reconhecem à criança o direito a feito pela criança ou em seu nome.
gozar do melhor estado de saúde possível e a beneficiar de
ARTIGO 27.º
serviços médicos e de reeducação. Os Estados-Partes velam
1. Os Estados-Partes reconhecem à criança o direito a
pela garantia de que nenhuma criança seja privada do direito
um nível de vida suficiente, de forma a permitir o seu desen-
de acesso a tais Serviços de Saúde.
volvimento físico, mental, espiritual, moral e social.
2. Os Estados-Partes prosseguem a realização integral
2. Cabe primacialmente aos pais e às pessoas que têm
deste direito e, nomeadamente, tomam medidas adequadas a criança a seu cargo a responsabilidade de assegurar, den-
para: tro das suas possibilidades e disponibilidades económicas,
a) Fazer baixar a mortalidade entre as crianças de as condições de vida necessárias ao desenvolvimento da
tenra idade e a mortalidade infantil; criança.
b) Assegurar a assistência médica e os cuidados de 3. Os Estados Partes, tendo em conta as condições
saúde necessários a todas as crianças, enfati- nacionais e na medida dos seus meios, tomam as medidas
zando o desenvolvimento dos cuidados de saúde adequadas para ajudar os pais e outras pessoas que tenham
primários; a criança a seu cargo a realizar este direito e asseguram, em
c) Combater a doença e a má nutrição, no quadro dos caso de necessidade, auxílio material e programas de apoio,
cuidados de saúde primários, graças nomea- nomeadamente no que respeita à alimentação, vestuário e
damente à utilização de técnicas facilmente alojamento.
disponíveis e ao fornecimento de alimentos 4. Os Estados-Partes tomam todas as medidas adequadas
nutritivos e de água potável, tendo em considera- tendentes a assegurar a cobrança da pensão alimentar devida
ção os perigos e riscos da poluição do ambiente; à criança, de seus pais ou de outras pessoas que tenham a
d) Assegurar às mães os cuidados de saúde, antes e criança economicamente a seu cargo, tanto no seu território
depois do nascimento; quanto no estrangeiro. Nomeadamente, quando a pessoa que
e) Assegurar que todos os grupos da população, nomea- tem a criança economicamente a seu cargo vive num Estado
damente os pais e as crianças, sejam informados, diferente do da criança, os Estados-Partes devem promo-
tenham acesso e sejam apoiados na utilização de ver a adesão a acordos internacionais ou a conclusão de tais
conhecimentos básicos sobre a saúde e a nutrição acordos, assim como a adopção de quaisquer outras medidas
da criança, as vantagens do aleitamento materno, julgadas adequadas.
a higiene e a salubridade do ambiente, bem como ARTIGO 28.º
a prevenção de acidentes; 1. Os Estados-Partes reconhecem o direito da criança à
f) Desenvolver os cuidados preventivos de saúde, os educação e tendo, nomeadamente, em vista assegurar pro-
conselhos aos pais e a educação sobre planea- gressivamente o exercício desse direito na base da igualdade
mento familiar e os serviços respectivos. de oportunidades:
3. Os Estados-Partes tomam todas as medidas eficazes e
a) Tornam o ensino primário obrigatório e gratuito
adequadas com vista a abolir as práticas tradicionais preju-
para todos;
diciais à saúde das crianças.
b) Encorajam a organização de diferentes sistemas de
4. Os Estados-Partes comprometem-se a promover e a
encorajar a cooperação internacional, de forma a garantir Ensino Secundário, Geral e Profissional, tornam
progressivamente a plena realização do direito reconhecido estes públicos e acessíveis a todas as crianças e
no presente artigo. A este respeito atender-se-á de forma par- tomam medidas adequadas, tais como a intro-
ticular às necessidades dos países em desenvolvimento. dução da gratuitidade do ensino e a oferta de
ARTIGO 25.º auxílio financeiro em caso de necessidade;
Os Estados-Partes reconhecem à criança que foi objecto c) Tornam o ensino superior acessível a todos, em
de uma medida de colocação num estabelecimento pelas função das capacidades de cada um, por todos
autoridades competentes, para fins de assistência, protecção os meios adequados;
7614 DIÁRIO DA REPÚBLICA
d) Tornam a informação e a orientação escolar e tica e encorajam a organização, em seu benefício, de formas
profissional públicas e acessíveis a todas as adequadas de tempos livres e de actividades recreativas,
crianças; artísticas e culturais, em condições de igualdade.
e) Tomam medidas para encorajar a frequência escolar ARTIGO 32.º
regular e a redução das taxas de abandono escolar. 1. Os Estados-Partes reconhecem à criança o direito de
2. Os Estados-Partes tomam as medidas adequadas para ser protegida contra a exploração económica ou a sujeição a
velar por que a disciplina escolar seja assegurada de forma trabalhos perigosos ou capazes de comprometer a sua educa-
compatível com a dignidade humana da criança e nos termos ção, prejudicar a sua saúde ou o seu desenvolvimento físico,
da presente Convenção. mental, espiritual, moral ou social.
3. Os Estados-Partes promovem e encorajam a coopera- 2. Os Estados-Partes tomam medidas legislativas, admi-
ção internacional no domínio da educação, nomeadamente nistrativas, sociais e educativas para assegurar a aplicação
de forma a contribuir para a eliminação da ignorância e do deste artigo. Para esse efeito, e tendo em conta as disposições
analfabetismo no mundo e a facilitar o acesso aos conheci- relevantes de outros instrumentos jurídicos internacionais,
mentos científicos e técnicos e aos modernos métodos de os Estados-Partes devem, nomeadamente:
ensino. A este respeito atender-se-á de forma particular às a) Fixar uma idade mínima ou idades mínimas para a
necessidades dos países em desenvolvimento. admissão a um emprego;
ARTIGO 29.º b) Adoptar regulamentos próprios relativos à duração
1. Os Estados-Partes acordam em que a educação da e às condições de trabalho;
criança deve destinar-se a: c) Prever penas ou outras sanções adequadas para
a) Promover o desenvolvimento da personalidade assegurar uma efectiva aplicação deste artigo.
da criança, dos seus dons e aptidões mentais e ARTIGO 33.º
físicos na medida das suas potencialidades; Os Estados-Partes adoptam todas as medidas adequa-
b) Inculcar na criança o respeito pelos direitos do das, incluindo medidas legislativas, administrativas, sociais
homem e liberdades fundamentais e pelos prin- e educativas para proteger as crianças contra o consumo ilí-
cípios consagrados na Carta das Nações Unidas; cito de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas, tais
c) Inculcar na criança o respeito pelos pais, pela sua como definidos nas convenções internacionais aplicáveis, e
identidade cultural, língua e valores, pelos valo- para prevenir a utilização de crianças na produção e no trá-
res nacionais do país em que vive, do país de fico ilícitos de tais substâncias.
origem e pelas civilizações diferentes da sua;
ARTIGO 34.º
d) Preparar a criança para assumir as responsabili-
Os Estados-Partes comprometem-se a proteger a criança
dades da vida numa sociedade livre, num espírito
contra todas as formas de exploração e de violência sexuais.
de compreensão, paz, tolerância, igualdade entre
Para esse efeito, os Estados-Partes devem, nomeadamente,
os sexos e de amizade entre todos os povos, gru-
tomar todas as medidas adequadas, nos planos nacional,
pos étnicos, nacionais e religiosos e com pessoas
bilateral e multilateral para impedir:
de origem indígena;
a) Que a criança seja incitada ou coagida a dedicar-se
e) Promover o respeito da criança pelo meio ambiente.
a uma actividade sexual ilícita;
2. Nenhuma disposição deste artigo ou do artigo 28.º
b) Que a criança seja explorada para fins de prostitui-
pode ser interpretada de forma a ofender a liberdade dos
ção ou de outras práticas sexuais ilícitas;
indivíduos ou das pessoas colectivas de criar e dirigir esta-
c) Que a criança seja explorada na produção de espec-
belecimentos de ensino, desde que sejam respeitados os
táculos ou de material de natureza pornográfica.
princípios enunciados no n.º 1 do presente artigo e que a
educação ministrada nesses estabelecimentos seja conforme ARTIGO 35.º
às regras mínimas prescritas pelo Estado. Os Estados-Partes tomam todas as medidas adequadas,
nos planos nacional, bilateral e multilateral, para impedir o
ARTIGO 30.º
rapto, a venda ou o tráfico de crianças, independentemente
Nos Estados em que existam minorias étnicas, religio-
do seu fim ou forma.
sas ou linguísticas ou pessoas de origem indígena, nenhuma
ARTIGO 36.º
criança indígena ou que pertença a uma dessas minorias
Os Estados-Partes protegem a criança contra todas as
poderá ser privada do direito de, conjuntamente com mem-
formas de exploração prejudiciais a qualquer aspecto do seu
bros do seu grupo, ter a sua própria vida cultural, professar e bem-estar.
praticar a sua própria religião ou utilizar a sua própria língua.
ARTIGO 37.º
ARTIGO 31.º Os Estados-Partes garantem que:
1. Os Estados-Partes reconhecem à criança o direito ao a) Nenhuma criança será submetida à tortura ou a
repouso e aos tempos livres, o direito de participar em jogos penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou
e actividades recreativas próprias da sua idade e de partici- degradantes. A pena de morte e a prisão perpé-
par livremente na vida cultural e artística. tua sem possibilidade de libertação não serão
2. Os Estados-Partes respeitam e promovem o direito impostas por infracções cometidas por pessoas
da criança de participar plenamente na vida cultural e artís- com menos de 18 anos;
I SÉRIE –– N.º 181 –– DE 24 DE SETEMBRO DE 2021 7611
b) Nenhuma criança será privada de liberdade de forma reintegração social e o assumir de um papel construtivo no
ilegal ou arbitrária: a captura, detenção ou prisão seio da sociedade.
de uma criança devem ser conformes à lei, serão 2. Para esse feito, e atendendo às disposições pertinentes
utilizadas unicamente como medida de último dos instrumentos jurídicos internacionais, os Estados-Partes
recurso e terão a duração mais breve possível; garantem, nomeadamente, que:
c) A criança privada de liberdade deve ser tratada a) Nenhuma criança seja suspeita, acusada ou reco-
com a humanidade e o respeito devidos à digni- nhecida como tendo infringido a lei penal por
dade da pessoa humana e de forma consentânea acções ou omissões que, no momento da sua
com as necessidades das pessoas da sua idade. prática, não eram proibidas pelo direito nacional
Nomeadamente, a criança privada de liberdade ou internacional;
deve ser separada dos adultos, a menos que, b) A criança suspeita ou acusada de ter infringido a
no superior interesse da criança, tal não pareça lei penal tenha, no mínimo, direito às garantias
aconselhável, e tem o direito de manter contacto seguintes:
com a sua família através de correspondência e i. Presumir-se inocente até que a sua culpabili-
visitas, salvo em circunstâncias excepcionais; dade tenha sido legalmente estabelecida;
d) A criança privada de liberdade tem o direito de ace- ii. A ser informada pronta e directamente das
der rapidamente à assistência jurídica ou a outra acusações formuladas contra si ou, se neces-
assistência adequada e o direito de impugnar a sário, através de seus pais ou representantes
legalidade da sua privação de liberdade perante legais, e beneficiar de assistência jurídica ou
de outra assistência adequada para a prepara-
um tribunal ou outra autoridade competente,
ção e apresentação da sua defesa;
independente e imparcial, bem como o direito a
iii. A sua causa ser examinada sem demora por
uma rápida decisão sobre tal matéria.
uma autoridade competente, independente e
ARTIGO 38.º imparcial ou por um tribunal, de forma equi-
1. Os Estados-Partes comprometem-se a respeitar e a tativa nos termos da lei, na presença do seu
fazer respeitar as normas de direito humanitário internacio- defensor ou de outrem, assegurando assis-
nal que lhes sejam aplicáveis em caso de conflito armado e tência adequada e, a menos que tal se mostre
que se mostrem relevantes para a criança. contrário ao interesse superior da criança,
2. Os Estados-Partes devem tomar todas as medidas pos- nomeadamente atendendo à sua idade ou
síveis na prática para garantir que nenhuma criança com situação, na presença de seus pais ou repre-
menos de 15 anos participe directamente nas hostilidades. sentantes legais;
3. Os Estados-Partes devem abster-se de incorporar iv. A não ser obrigada a testemunhar ou a confes-
nas forças armadas as pessoas que não tenham a idade de sar-se culpada, a interrogar ou fazer interrogar
15 anos. No caso de incorporação de pessoas de idade supe- as testemunhas de acusação e a obter a com-
rior a 15 anos e inferior a 18 anos, os Estados-Partes devem parência e o interrogatório das testemunhas
incorporar prioritariamente os mais velhos. de defesa em condições de igualdade;
4. Nos termos das obrigações contraídas à luz do direito v. No caso de se considerar que infringiu a lei
internacional humanitário para a protecção da população penal, a recorrer dessa decisão e das medidas
civil em caso de conflito armado, os Estados-Partes na pre- impostas em sequência desta para uma auto-
sente Convenção devem tomar todas as medidas possíveis ridade superior, competente, independente e
na prática para assegurar protecção e assistência às crianças imparcial, ou uma autoridade judicial, nos
afectadas por um conflito armado. termos da lei;
vi. A fazer-se assistir gratuitamente por um intér-
ARTIGO 39.º
prete, se não compreender ou falar a língua
Os Estados-Partes tomam todas as medidas adequa-
utilizada;
das para promover a recuperação física e psicológica e a
reinserção social da criança vítima de qualquer forma de vii. A ver plenamente respeitada a sua vida pri-
negligência, exploração ou sevícias, de tortura ou qualquer vada em todos os momentos do processo.
outra pena ou tratamento cruéis, desumanos ou degradan- 3. Os Estados-Partes procuram promover o estabelecimento
tes ou de conflito armado. Essas recuperação e reinserção de leis, processos, autoridades e instituições especificamente
devem ter lugar num ambiente que favoreça a saúde, o res- adequadas a crianças suspeitas, acusadas ou reconhecidas
peito por si própria e a dignidade da criança. como tendo infringido a Lei Penal, e, nomeadamente:
a) O estabelecimento de uma idade mínima abaixo da
ARTIGO 40.º
qual se presume que as crianças não têm capaci-
1. Os Estados-Partes reconhecem à criança suspeita,
dade para infringir a Lei Penal;
acusada ou que se reconheceu ter infringido a Lei Penal o b) Quando tal se mostre possível e desejável, a adop-
direito a um tratamento capaz de favorecer o seu sentido ção de medidas relativas a essas crianças sem
de dignidade e valor, reforçar o seu respeito pelos direitos recurso ao processo judicial, assegurando-se
do homem e as liberdades fundamentais de terceiros e que o pleno respeito dos direitos do homem e das
tenha em conta a sua idade e a necessidade de facilitar a sua garantias previstas pela lei.
7616 DIÁRIO DA REPÚBLICA
4. Um conjunto de disposições relativas, nomeadamente sorte, imediatamente após a primeira eleição, os nomes des-
à assistência, orientação e controlo, conselhos, regime de tes cinco elementos.
prova, colocação familiar, programas de educação geral e 7. Em caso de morte ou de demissão de um membro do
profissional, bem como outras soluções alternativas às ins- Comité ou se, por qualquer outra razão, um membro decla-
titucionais, serão previstas de forma a assegurar às crianças rar que não pode continuar a exercer funções no seio do
um tratamento adequado ao seu bem-estar e proporcionado Comité, o Estado-Parte que havia proposto a sua candida-
à sua situação e à infracção. tura designa um outro perito, de entre os seus nacionais, para
ARTIGO 41.º preencher a vaga até ao termo do mandato, sujeito a aprova-
Nenhuma disposição da presente Convenção afecta as ção do Comité.
disposições mais favoráveis à realização dos direitos da 8. O Comité adopta o seu regulamento interno.
criança que possam figurar: 9. O Comité elege o seu Secretariado por um período de
a) Na legislação de um Estado-Parte; dois anos.
b) No direito internacional em vigor para esse Estado. 10. As reuniões do Comité têm habitualmente lugar na
sede da Organização das Nações Unidas ou em qualquer
PARTE II outro lugar julgado conveniente e determinado pelo Comité.
ARTIGO 42.º O Comité reúne em regra anualmente. A duração das sessões
Os Estados-Partes comprometem-se a tornar amplamente do Comité é determinada, e se necessário revista, por uma
conhecidos, por meios activos e adequados, os princípios e reunião dos Estados-Partes na presente Convenção, sujeita à
as disposições da presente Convenção, tanto pelos adultos aprovação da Assembleia Geral.
como pelas crianças. 11. O Secretário Geral da Organização das Nações
ARTIGO 43.º Unidas põe à disposição do Comité o pessoal e as instala-
1. Com o fim de examinar os progressos realizados pelos ções necessárias para o desempenho eficaz das funções que
Estados-Partes no cumprimento das obrigações que lhes lhe são confiadas ao abrigo da presente Convenção.
cabem nos termos da presente Convenção, é instituído um 12. Os membros do Comité instituído pela presente
Comité dos Direitos da Criança, que desempenha as funções Convenção recebem, com a aprovação da Assembleia Geral,
seguidamente definidas. emolumentos provenientes dos recursos financeiros das
2. O Comité é composto de 10 peritos de alta autoridade Nações Unidas, segundo as condições e modalidades fixa-
moral e de reconhecida competência no domínio abran- das pela Assembleia Geral.
gido pela presente Convenção. Os membros do Comité são ARTIGO 44.º
eleitos pelos Estados-Partes de entre os seus nacionais e 1. Os Estados-Partes comprometem-se a apresentar ao
exercem as suas funções a título pessoal, tendo em conside- Comité, através do Secretário Geral da Organização das
ração a necessidade de assegurar uma repartição geográfica Nações Unidas, relatórios sobre as medidas que hajam
equitativa e atendendo aos principais sistemas jurídicos. adoptado para dar aplicação aos direitos reconhecidos pela
3. Os membros do Comité são eleitos por escrutínio Convenção e sobre os progressos realizados no gozo desses
secreto de entre uma lista de candidatos designados pelos direitos:
Estados Partes. Cada Estado-Parte pode designar um perito 2. a) Nos dois anos subsequentes à data da entrada em
de entre os seus nacionais. vigor da presente Convenção para os Estados-Partes;
4. A primeira eleição tem lugar nos seis meses seguintes
3. b) Em seguida, de cinco em cinco anos.
à data da entrada em vigor da presente Convenção e, depois
4. Os relatórios apresentados em aplicação do presente
disso, todos os dois anos. Pelo menos quatro meses antes
artigo devem indicar os factores e as dificuldades, se a eles
da data de cada eleição, o Secretário Geral da Organização
houver lugar, que impeçam o cumprimento, pelos Estados-
das Nações Unidas convida, por escrito, os Estados-Partes
-Partes, das obrigações decorrentes da presente Convenção.
a proporem os seus candidatos num prazo de dois meses. O
Devem igualmente conter informações suficientes para dar
Secretário Geral elabora, em seguida, a lista alfabética dos
ao Comité uma ideia precisa da aplicação da Convenção no
candidatos assim apresentados, indicando por que Estado
referido país.
foram designados, e comunica-a aos Estados-Partes na pre-
sente Convenção. 5. Os Estados-Partes que tenham apresentado ao Comité
5. As eleições realizam-se aquando das reuniões dos um relatório inicial completo não necessitam de repetir, nos
Estados-Partes convocadas pelo Secretário Geral para a relatórios subsequentes, submetidos nos termos da alínea b)
sede da Organização das Nações Unidas. Nestas reuniões, do n.º 1, as informações de base anteriormente comunicadas.
em que o quórum é constituído por dois terços dos Estados 6. O Comité pode solicitar aos Estados-Partes infor-
Partes, são eleitos para o Comité os candidatos que obtive- mações complementares relevantes para a aplicação da
rem o maior número de votos e a maioria absoluta dos votos Convenção.
dos representantes dos Estados-Partes presentes e votantes. 7. O Comité submete de dois em dois anos à Assembleia
6. Os membros do Comité são eleitos por um período Geral, através do Conselho Económico e Social, um relató-
de quatro anos. São reelegíveis no caso de recandidatura. O rio das suas actividades.
mandato de cinco dos membros eleitos na primeira eleição 8. Os Estados-Partes asseguram aos seus relatórios uma
termina ao fim de dois anos. O Presidente da Reunião tira à larga difusão nos seus próprios países.
I SÉRIE –– N.º 181 –– DE 24 DE SETEMBRO DE 2021 7617
Subdirector Pedagógico 1
-ya-Henda, sita no Município de Menongue, Província do
Cuando Cubango, com 25 salas de aulas, 75 turmas, 3 turnos, Subdirector Administrativo 1
com 36 alunos por sala, e capacidade para 2.700 alunos em
Coordenador de Turno 1
regime de externato.
2. É aprovado o quadro de pessoal da Escola ora Coordenador de Curso 3
A Ministra, Luísa Maria Alves Grilo. Professor do Ensino Primário e Secundário do 3.º Grau
Professor do Ensino Primário e Secundário