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Lucas Lima Batista

S EGU RA N ÇA FÍSI CA: S egur ança n a so ci ed ad e

Janaúba
2018
INTRODUÇÃO
O crescimento da criminalidade vem se manifestado no mundo inteiro. O Brasil está
entre os países mais violentos do mundo, dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade
(SIM) mostram que houve crescimento de 32% na taxa de homicídio do país em 15 anos, de
1992 a 2007. O comportamento das pessoas é diretamente influenciado pela educação que elas
recebem, em geral, o comportamento padrão aceito pela sociedade, ou seja, a família, a escola,
os grupos com os quais nos relacionamos podem estar ligados aos comportamentos quando
absorvemos as regras sociais. Sem respaldo direto do governo, com a sociedade abandonada,
com péssima educação, saúde, segurança e transporte os jovens cada vez mais veem o mundo
do crime como oportunidade para mudar de vida.
O controle social formal é feito pelo Estado, através das suas sanções cíveis,
administrativas ou penais, podendo estar representado pelos seguintes órgãos, Poder Judiciário,
Ministério Público, polícias e penitenciárias. O controle social informal não exige uma atuação
direta do estado, ocorre com a fiscalização da própria família, da escola e das relações pessoais
que o indivíduo tem ao longo da sua vida. Essas são as duas formas de controle social, logo,
quando estas instituições enfraquecem, o controle social também é atingido. O crime é
aprendido como qualquer outra atividade, pelo mesmo processo e mecanismo. É a partir da
comunicação e das relações pessoais, com a família, amigos e pela comunidade que o
comportamento do indivíduo deve se moldar.
Para alguns pesquisadores a desigualdade de renda está diretamente relacionada com
crimes violentos como os homicídios, mas não apresenta o mesmo efeito para outros tipos de
crime. Na hora de escolher sua vítima, o fator desigualdade tende a interferir, não sendo apenas
os bens materiais que são levados em conta na hora de escolher a vítima, a segurança pessoal
dessas pessoas também é levada em conta pelos criminosos. Quanto mais segurança elas
estiverem, mais arriscado é fazê-las vítimas. Nesse ponto que surge o CPTED, que será melhor
tratada a frente, teoria na qual defende todas as possibilidades para prevenção de crimes de
forma natural.
As políticas públicas de controle a criminalidade devem ter em conta que indicadores
socioeconômicos bons tendem a aumentar o custo do crime, como a diminuição da
desigualdade, diminuição do desemprego ou uma renda mais alta. Da mesma forma, os valores
e crenças da sociedade e da família que o indivíduo adquire, funcionam como instrumentos de
autocontrole, podendo servir como desincentivo ao crime diminuindo os custos do Estado com
esse indivíduo em termos de punição. Então, quando as alternativas anteriores não forem
suficientes para desestimular o indivíduo a entrar para o crime, a punição funciona como última
instancia, no sentido de punir criminosos e servir como desestímulo ao delito. Logo, se houver
outros fatores servindo como incentivo somente aumentar os recursos em segurança pode não
ser a melhor medida para resolver o problema da criminalidade.
DESENVOLVIMENTO
Sutherland, Luckenbill e Cressey em Principles of Criminology, de 1934, afirmam que
há três métodos para prevenir o crime. O primeiro se dá por providencias punitivas, que por
aplicações coercitivas sobre o criminoso atinge indiretamente o comportamento de outros
eventuais delituosos devido ao medo gerado pela possível punição. O segundo se dá por
métodos defensáveis, que condenam a obstinação do criminoso, por exemplo, por insulamento
ou recolhimento. O terceiro modelo, chamado de intervencionista, é baseado na concepção de
que a criminalidade pode ser reduzida de maneira significante pela modificação do contexto e
das condições em que o criminoso está presente, podendo ser este contexto econômico, político
ou social. Tendo em vista essa linha de raciocínio surge umas das teorias mais empregadas no
mundo da segurança, a CPTED.
CPTED é um paradigma que representa a ideia de que uma estruturação adequada e uma
utilização adequada do espaço podem acompanhar a uma redução da ocorrência criminal,
desenvolvendo consequentemente a qualidade de vida. Suas estratégias manifestam soluções
harmonizáveis com uma concepção do espaço respondendo as necessidades físicas, sociais e
psicológicas dos usufruidores deste, bem como às atividades que nele irão desenvolver e, ainda,
a previsão dos comportamentos dos utilizadores legítimos ou dos potenciais criminosos
(CROWE, 2000). “Para que um crime ocorra deve haver convergência de tempo e espaço em,
pelo menos, três elementos: um provável agressor, um alvo adequado, na ausência de um
guardião capaz de impedir o crime” (CLARKE e FELSON, 1998, p. 4). De fato, os níveis de
crime podem ser determinados pelas oportunidades proporcionadas para que eles ocorram,
envolvendo a organização física, social e de atitudes da sociedade. Entretanto, em que pese a
complexidade dos fatores do crime, pode-se afirmar que a sua ocorrência está alinhada à
presença de três elementos, que são denominados pelos criminologistas de triângulo do crime:
um infrator, um alvo vulnerável e um ambiente que favoreça as condições para que o crime
ocorra.
Estratégias CPTED são implementadas na construção real seguindo estes conceitos
principais:
1) Controle Natural de Acesso: Já o controle de acesso tem por objetivo reduzir a
oportunidade de cometimento de crimes nos espaços, controla o acesso de pessoas
desconhecidas e cria uma percepção de risco, o que inibe a prática de infração penal. O controle
de acesso pode ser realizado através de barreiras como cercas, muros e por meio mecânico, com
a utilização de trancas, fechaduras, correntes e portões. (SALLES, 2007).
2) Vigilância Natural: Vigilância, por sua vez, pode ser classificada em natural,
formal e mecânica. É o princípio de prevenção que transmite ao infrator a sensação de estar
sendo vigiado e observado, o que acaba por inibir a ação criminosa e a desordem, pois aumenta
a percepção de risco do infrator. A vigilância natural se caracteriza pela capacidade dos
moradores e transeuntes de supervisionar áreas públicas e semi-públicas; a formal é a vigilância
realizada por pessoas especializadas e organizadas, como policiais e vigilantes privados; e a
mecânica, utiliza da tecnologia como instrumento de segurança, como iluminação pública e
câmera de vídeo monitoramento. (TASCA, 2013) Exemplos são posicionar as janelas viradas
para a calçada e os estacionamentos, deixar as partes externas das janelas abertas, usar o
caminho de passagem do carro como um elemento de vigia, usar cercas e muros com a menor
limitação visual possível, apropriadas para o local, etc.
3) Reforço Territorial Natural: Permite o controle social por meio da evidenciação
dos espaços privados. Um ambiente desenhado para claramente delinear espaços privados faz
duas coisas. Primeiro, cria um senso de propriedade. Proprietário tem um grande interesse e são
mais tendentes a desafiar invasores ou reportá-los a polícia. Segundo, o senso de espaços
proprietários cria um ambiente onde "estrangeiros" e "invasores" contrastam e são mais
facilmente identificados. Utilizando-se construções, cercas, pavimentos, sinais, luzes e
paisagens para expressar a propriedade e definir os espaços público, semi-público e privado, o
reforço natural do território acontece.
Cumpre pontuar que a prevenção do crime através da arquitetura ambiental, de acordo
com Fundação Paz Ciudadana (2003), traz como principais aspectos a influenciar o aumento da
criminalidade: a falta de iluminação, de limpeza, manutenção, sinais de desordem social e
física, como pichações, janelas quebradas, equipamentos ou mobiliários atingidos pelo
vandalismo e a não apropriação dos espaços pela comunidade, além disso a falta de assistência
imediata ao menor abandonado, falta de uma política de educação integral para todos, inchaço
das grandes cidades, crescimento desordenado das cidades, falta de planejamento urbano e
bolsões de misérias influenciam no aumento da violência.
Para que se possa compreender a competência da Polícia Militar em participar de todo
este processo, é necessário o estudo e a análise da legislação e dos ensinamentos doutrinários.
Isto porque, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a Polícia Militar continuou
inserida no rol das instituições responsáveis pela segurança pública, mas ao mesmo tempo teve
suas atribuições alargadas, ao deixar de ser apenas uma instituição de manutenção da ordem e
de policiamento ostensivo, para figurar como uma instituição responsável pela preservação da
ordem pública e pelo exercício do poder de polícia ostensiva, conforme estabelece o artigo 144,
V e § 5º:
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de
todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: [...] V – Polícias Militares e
Corpos de Bombeiros Militares. [...]

§5º - às Polícias Militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem


pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei,
incumbe a execução de atividades de defesa civil. (BRASIL, 1998).
Deste modo, pode-se afirmar que a ordem pública estabelecida no texto Constitucional
de 1988, está relacionada ao seu conceito mais amplo, abrangendo a segurança pública,
tranquilidade pública e a salubridade pública. Aliás, importante frisar que a ordem pública
transcende o conceito legal previsto no R-200, uma vez que o conjunto de regras formais é
apenas ordem jurídica e, por sua vez, a ordem pública é o conjunto de regras formais mais
regras informais. Assim, sendo a Polícia Militar a força pública responsável pela preservação
da ordem pública, tem o poder/dever de atuar na proteção de cada um destes direitos
constitucionais de saúde, de tranquilidade e de segurança públicas.
A ordem de polícia se contém num preceito, que, necessariamente, nasce
da lei, pois se trata de uma reserva legal (art. 5º, II), e pode ser enriquecido
discricionariamente, consoante as circunstâncias, pela Administração. ... O
consentimento de polícia, quando couber, será a anuência, vinculada ou
discricionária, do Estado com a atividade submetida ao preceito vedativo relativo,
sempre que satisfeitos os condicionamentos exigidos. ... A fiscalização de polícia é
uma forma ordinária e inafastável de atuação administrativa, através da qual se
verifica o cumprimento da ordem de polícia ou a regularidade da atividade já
consentida por uma licença ou uma autorização. A fiscalização pode ser ex officio
ou provocada. No caso específico da atuação da polícia de preservação da ordem
pública, é que toma o nome de policiamento. Finalmente, a sanção de polícia é a
atuação administrativa auto executória que se destina à repressão da infração. No
caso da infração à ordem pública, a atividade administrativa, auto executória, no
exercício do poder de polícia, se esgota no constrangimento pessoal, direto e
imediato, na justa medida para restabelecê-la. Como se observa, o policiamento
corresponde apenas à atividade de fiscalização; por esse motivo, a expressão
utilizada, polícia ostensiva, expande a atuação das Polícias Militares à
integralidade das fases do exercício do poder de polícia. (BRASIL, 2001, p. 5, grifo
do autor)

A CPTED envolve a concepção do meio físico no contexto da expectável utilização


do espaço pelos frequentadores, bem como dos respetivos comportamentos. Enfatiza a relação
entre os objetivos funcionais da utilização do espaço e a gestão de comportamentos.
Conceptualmente, os quatro princípios são implementados através da abordagem dos 3-D’s, a
saber, Designação, Definição e Design10. Esta abordagem é um modelo simples de aferição
das condições de uso do espaço, orientando utilizadores relativamente à concepção e utilização
do espaço, i.e., ao objetivo daquele espaço e forma de utilização. Baseia-se em três funções ou
dimensões do espaço humano:
 Todo o espaço humanizado tem um objetivo (ou vários objetivos) bem
designados11.
 Todo o espaço humano tem uma definição social, cultural, legal e física que
indica os comportamentos desejados e aceitáveis.
 Todo o espaço humano deve ser desenhado para apoiar e enquadrar
comportamentos desejados.
A consideração destas questões pode identificar algumas áreas que necessitam de
alterações ou requalificações. Por exemplo, um espaço podem necessitar ter um objetivo mais
claro, uma definição melhorada, ou ser melhor concebido no sentido de apoiar as funções que
lhe estão associadas. Uma vez refletidas estas questões, a informação obtida pode ser utilizada
de forma a orientar decisões sobre o design/projeto ou alteração do espaço, para que os objetivos
da sua utilização, bem como a vigilância natural, controlo natural de acessos, reforço territorial
e manutenção e gestão, possam ser conseguidos.
REFERÊNCIAS
 Blog Cubic. Introdução à CPTED, o que é CPTED? Disponível em:
< http://www.cubic-brasil.com/notica/2015/5/7/introduo-cpted-o-que-cpted >
Visitado em: 20/04/2018.
 JARDI, Fernando; MARQUES, Marinéia Mascarenhas Bittencourt; ALVES,
Pollyanny Moreira. O modelo do CPTED como ferramenta aplicada para
vistorias de edificações e captações de recursos na PMGO. Disponível em:
< http://www.imb.go.gov.br/pub/conj/conj27/artigo_17.pdf > Visitado em:
20/04/2018.
 TAKEDA, Mayu. Prevenção de Crimes Através do Design Ambiental
(CPTED) nas Favelas do Rio: Uma Introdução. Disponível em:
< https://racismoambiental.net.br/2017/10/06/prevencao-de-crimes-atraves-do-
design-ambiental-cpted-nas-favelas-do-rio-uma-introducao/ > Visitado em:
20/04/2018
 ROCHA, Camilo. Como o design urbano pode ajudar na prevenção de crime.
Disponível em:
< https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/02/06/Como-o-design-urbano-
pode-ajudar-na-preven%C3%A7%C3%A3o-do-crime > Visitado em: 20/04/2018.
 MOSSMANN, Bruno. Prevenção de crimes, o que é CPTED? Disponível em:
< https://brunel.eng.br/blog/cpted/ > Visitado em: 20/04/2018.
 SIQUEIRA, Marcos Tadeu Boldrin. ARQUITETURA E PREVENÇÃO DO
CRIME: ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE CRIME E EDIFICAÇÕES NA
CIDADE DE MARÍLIA/SP. Disponível em:
< http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/levs/article/viewFile/3021/2299
> Visitado em: 20/04/2018.

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