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FACULDADE DE DIREITO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO AGRÁRIO
MESTRADO EM DIREITO AGRÁRIO
PROF.ª. DRª. ANNE GERALDI PIMENTEL
GOIÂNIA
2022
GILVAN DE BARROS PINANGÉ NETO
GOIÂNIA
2022
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6ª SESSÃO: 10/05
TÍTULO: Usucapião. Propriedade do estrangeiro. Limites mínimo e máximo da propriedade.
TEXTOS: NASCIMENTO, M.L.; LEITE, A.C.C. Acaparamiento e Controle de terras: a
presença chinesa em terras brasileiras e argentinas. Revista NERA, v. 24, n. 56. Presidente
Prudente-SP: Jan.-Abr./2021, pp. 162-186.
Considerações Iniciais
Neste cenário de controle de terras latinas, a China destaca-se como um dos principais
países interessados nas terras brasileiras e argentinas, sendo também um dos
principais destinos das commodities latino-americanas. Parte dessa relação é fruto do
crescimento chinês e sua preocupação com a insegurança alimentar, outra parte é fruto
da política Going Out centrada na internacionalização da economia chinesa e no
movimento massivo de investimento estrangeiro direto da China na América Latina.
(BRAUTIGAM, 2011, 2015 apud NASCIMENTO e LEITE, 2021, p. 165).
Sousa e Leite (2017) apud Nascimento e Leite (2021, p. 165) discorrem que “O
incremento no consumo chinês lança a preocupação com a segurança alimentar do país e
aumenta a demanda por bens primários, entre os principais: milho e soja.”. Portanto, na visão
de Mora (2019) apud Nascimento e Leite (2021, p. 166), o movimento Going Out representaria
“[...] uma estratégia oficial da China de investir ao redor do mundo como forma de garantir seu
abastecimento.”.
Nascimento e Leite (2021, p. 166) explicam que “Os contratos de apropriação de terras
são maiores com a Argentina e com o Brasil seguindo o mesmo fluxo dos investimentos: os
setores de agropecuária, mineração e energia.”. Outrossim, a fim de entender a natureza destes
contratos de apropriação transnacional de terras sino-brasileiras e sino-argentinas, os autores
recorreram metodologicamente aos dados da plataforma Land Matrix (2019).
De acordo com Leite e Lima (2017) apud Nascimento e Leite (2021, p. 167) “Brasil e
Argentina compartilham semelhanças na trajetória do acaparamiento e controle de terras, tanto
em números quanto em características.”. Todavia, também se ressalva a posição destes na
estrangeirização em escala internacional. Dados do Land Matrix (2019) corroboram que o
Brasil ocupa simultaneamente a 8ª posição no ranking mundial de países apropriadores de terras
(especialmente em países africanos, como Angola e Moçambique) e a 4ª posição no ranking de
terras apropriadas por capital estrangeiro.
Pereira (2018) apud Nascimento e Leite (2021, p. 167) nota que “Na Argentina a
peculiaridade está na sua multiplicidade de formas e fins do acaparamiento, que podem ser
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desde o cultivo de soja e através da expansão do agronegócio, até por meio da mineração,
principalmente metais.”. Constantino (2016) apud Nascimento e Leite (2021, p. 167) denomina
este processo de “pampeanización”, ou seja, a produção setentrional de culturas outrora
encontradas apenas nos Pampas (soja, milho e trigo, por exemplo), impulsionados pela alta da
demanda e do preço da terra.
Neste diapasão, Castro et al. (2017) apud Nascimento e Leite (2021, p. 167-168)
observam no Brasil um incentivo à estrangeirização oriundo de investimentos no agronegócio
brasileiro, “Decorrente deste incentivo nas apropriações transnacionais e da expansão do setor
agropecuário por novos territórios, o controle e a estrangeirização de terras tem avançado com
intensidade na região do MATOPIBA [...] e também na região da Amazônia.”.
Cepal (2016, 2018) apud Nascimento e Leite (2021, p. 168) esclarece que o processo
de ingresso chinês na América Latina inicia-se mediante investimentos em empresas de setores
estratégicos (energia, transporte e mineração), até alcançar a própria compra das terras
agricultáveis. Grain (2019) apud Nascimento e Leite (2021, p. 168) demonstra ainda que
“Apesar de ser uma das grandes produtoras mundiais do grão, a China importou pelo menos
53% da soja mundial, 28% do óleo de soja e 23% do algodão estrangeiro.”. Não obstante, “Só
o Brasil é responsável por pelo menos 68% das exportações agrícolas latino-americanas para a
China [...]” (CEPAL, 2016 apud NASCIMENTO e LEITE, 2021, p. 168).
Para Celso Furtado (1961) apud Nascimento e Leite (2021, p. 169) o “Brasil é um país
marcado pela abundância de terras e, contraditoriamente, pelo difícil acesso à propriedade
destas.”. Por sua vez, Delgado (2013) apud Nascimento e Leite (2021, p. 169) entende que
“Com a entrada do século XXI e após a crise econômica na primeira década, a acumulação de
capital na esfera do agronegócio retorna enquanto estratégia, configurando-se como pacto.”.
Um dos marcos deste pacto é traduzido pela MP 458/2008, a qual permitiu que
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O caso do Rio Gurupi chama atenção para as apropriações de recursos naturais que
não somente a terra, mas também cursos d’agua e rios. A apropriação para fins de
mineração faz parte do Projeto Gurupi, da empresa Jaguar Mining Inc. através de sua
subsidiária brasileira MCT, e está localizado no Estado do Maranhão. A Jaguar é uma
empresa mineradora que explora principalmente o ouro e opera no Quadrilátero
Ferrífero em Minas Gerais. (NASCIMENTO e LEITE, 2021, p. 172).
Neste diapasão, Nascimento e Leite (2021, p. 172) justificam que, apesar do início do
relacionamento sino-brasileiro datar da década de 1980, só foi consolidado em 2003 e
intensificado em 2009 com a criação dos BRICS. Apesar da importância das commodities para
o negócio, o foco central da relação seriam as estratégias comuns de desenvolvimento entre os
gigantes orientais e os emergentes latinos.
Giarraca e Teubal (2008) apud Nascimento e Leite (2021, p. 175) prelecionam que “A
região com maior atividade econômica é a região pampeana constituída de províncias como
Buenos Aires, sul da província de Santa Fe, parte da província de La Pampa, a província de
Entre Ríos e Córdoba.”.
A partir das reformas econômicas dos anos 1990, teve início o processo de desmonte
das empresas públicas, órgãos de controle de regulação, produção e comercialização
de produtos, dando lugar às corporações agroindustriais tanto nacionais quanto
internacionais (SOUMOULOU e SEGHEZZO, 2015 apud NASCIMENTO e LEITE,
2021, p. 175).
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Este apoio à China foi concedido em troca de investimentos nos sistemas de irrigação
da terra na província de Río Negro. Como resposta, o governo da província isentou a
empresa chinesa de impostos provinciais e isto inclui a receita bruta, selos, patentes e
outros; também assegurou garantias de “melhor política de investimento”, através de
leis; espaços para o escritório da empresa, transporte, equipamentos, cobertura de
despesas das viagens dos chineses especialistas responsáveis pela análise do
investimento e ainda a concessão de área portuária de San Antônio, por 50 anos
(COSTANTINO, 2016, p. 144 apud NASCIMENTO e LEITE, 2021, p. 178).
REFERÊNCIAS