Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FACULDADE DE DIREITO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO AGRÁRIO
MESTRADO EM DIREITO AGRÁRIO
PROF.ª. DRª. ANNE GERALDI PIMENTEL
GOIÂNIA
2022
GILVAN DE BARROS PINANGÉ NETO
GOIÂNIA
2022
3
5ª SESSÃO: 26/04
TÍTULO: Propriedade e Posse No Direito
TEXTOS: CHIAVARI, J.; LOPES, C.L. Panorama dos direitos de Propriedade no Brasil
Rural. Rio de Janeiro: Núcleo de avaliação de políticas climáticas PUC- Rio, 2016.
Conforme Rocha et al. (2015, p. 63) apud Chiavari e Lopes (2016, p. 13) “A evolução
da legislação fundiária pode ser subdividida em quatro períodos: (i) regime de sesmarias (1500
a 1822); (ii) regime de posse (1822 a 1850); (iii) regime da Lei de Terras de 1850; e (iv) regime
republicano (1889 aos dias atuais)”.
Neste contexto, elencam-se marcos importantes nesta linha do tempo, compreendendo
os períodos do Brasil Colônia, Império e República. Igualmente importantes são os momentos
históricos vivenciados (Independência do Brasil, Proclamação da República, Regime Militar e
promulgação da Constituição Cidadã). Ou seja, os quatro grandes períodos descritos durante a
evolução da legislação fundiária brasileira não são desconexos, mas contínuos e interligados
entre si.
Chiavari e Lopes (2016, p. 15) aduzem que a Constituição Imperial de 1824 limitou-
se à declaração da plena garantia do direito de propriedade. Outrossim, tal período corresponde
ao que os autores denominaram “vácuo legislativo”, isto é, predomínio do regime de posse. A
fiscalização precária incentivou ainda mais a formação do “espírito latifundiário”. Apenas com
a edição da Lei de Terras em 1850 houve o fim deste período de vácuo legal.
Para Silva (1996, p. 75) apud Chiavari e Lopes (2016, p. 15) a Declaração da
Independência do Brasil em 1822 estabeleceu um novo momento sociopolítico econômico
(perspectiva da abolição da escravatura e da imigração estrangeira como mão de obra
abundante), o qual deveria se refletir na legislação e nas instituições. Destarte, sob a égide dos
interesses da classe dominante (especialmente fazendeiros latifundiários), foi editada a Lei de
Terras de 1850.
De acordo com Chiavari e Lopes (2016, p. 15) “A Lei de Terras rompeu com o sistema
sesmarial de doação gratuita de terras públicas e instituiu a compra como único meio de
5
O Registro Paroquial não conferia título de domínio aos declarantes, de modo que era
necessário que a posse fosse legitimada e titulada através de um longo e burocrático
processo administrativo. O processo de legitimação incluía a medição e demarcação
da posse, além do pagamento de direitos de chancelaria, para então ser expedido o
respectivo título de domínio. Devido aos altos custos para o procedimento
administrativo de legitimação, muitas possessões não foram regularizadas e
continuaram sua vida extralegal, sendo apenas registradas nos livros paroquiais.
(ZENHA, 1952, p. 444 apud CHIAVARI e LOPES, 2016, p. 16).
Fonseca (2005, p. 109) apud Chiavari e Lopes (2016, p. 16, grifos do autor) aduz que
“Um dos objetivos da Lei de Terras era a separação de terras públicas das particulares através
da medição e demarcação de terras devolutas [...].”. Nesta esteira, foi criada a Repartição Geral
de Terras Públicas, órgão registral cujo objetivo consistia na medição, demarcação e venda das
terras devolutas. Entretanto, o autor observa que tal objetivo jamais foi efetivado pois, além da
fiscalização ineficiente e da cartografia e inventários inexistentes, a própria Lei de Terras previa
a exigência prévia da regularização de posses e registro de terras particulares (interpretada pelos
posseiros como facultativa e não obrigatória), a fim de proceder com a demarcação das terras
devolutas.
A lição de Costa (1999, p. 172-173) apud Chiavari e Lopes (2016, p. 17) demonstra
que “A Lei de Terras de 1850 instituiu então a concepção moderna de propriedade, isto é, a
terra passou a ser uma mercadoria que poderia ser adquirida por qualquer pessoa, desde que
tivesse recursos financeiros suficientes para comprá-la.”. Portanto, a posse de terra passaria da
condição de prestígio social ao prestígio econômico.
Chiavari e Lopes (2016, p. 17) prelecionam que, tal qual a Constituição Imperial de
1822, a Carta Republicana de 1891 garantiu plenamente o direito de propriedade, com a
6
O início de um novo período político no Brasil foi marcado pela Revolução de 1930.
Neste diapasão, Chiavari e Lopes (2016, p. 19, grifos do autor) entendem que “[...] a
Constituição de 1934 dispôs que o direito de propriedade não poderia ser exercido contra o
interesse social ou coletivo. Pela primeira vez uma constituição brasileira declarava que a
propriedade não era um direito absoluto.”.
Igualmente, durante a era Vargas foram promulgadas legislações importantes que
modificavam o regime jurídico das propriedades privadas (Código Florestal e Código de Águas
de 1934 e Código de Minas de 1940). Durante o período do Estado Novo (1937-1945) também
7
foi outorgada a Constituição de 1937 (sua redação apenas garantia o direito de propriedade,
com seus limites definidos em legislação específica).
Vargas promoveu ainda a “Marcha para o Oeste”, a fim de realizar a integração
nacional e ocupar o que denominou de grandes “espaços vazios” nas regiões Norte e Centro-
Oeste do Brasil. Neste sentido, Chiavari e Lopes (2016, p. 19) traduzem essa política
expansionista como “[...] um conjunto de ações governamentais que incluíam a implantação de
colônias agrícolas em terras devolutas e a implantação de infraestrutura necessária para o
desenvolvimento econômico como estradas, aeroportos, hospitais e escolas.”. Entretanto, não
eram estranhos os conflitos e a insegurança acerca dos direitos de propriedade pois, em sua
maioria, tais ocupações ocorreram em terras já apossadas (comunidades tradicionais, agrícolas
e ribeirinhos).
Acerca da redemocratização nacional ocorrida em 1945, Silva (1997, p. 19) apud
Chiavari e Lopes (2016, p. 19) pondera que “A Constituição de 1946 dispunha que o uso da
propriedade era condicionado ao bem-estar social e que a lei poderia promover a justa
distribuição de terras.”. Desta feita, a maior inovação da nova Carta foi o estabelecimento de
duas modalidades de desapropriação, isto é, por utilidade pública ou interesse social.
Neste momento tornaram se acirrados os movimentos sociais camponeses e os debates
sobre a reforma agrária. Em 1964, após iniciar as reformas de base (sua agenda previa a
desapropriação de terras sem prévia indenização), o presidente João Goulart foi deposto pelo
golpe militar.
Alston et al. (1999, p. 40) apud Chiavari e Lopes (2016, p. 20) explicam que também
foram definidos pelo Estatuto da Terra dois instrumentos a fim de promover a reforma agrária,
ou seja, a desapropriação do latifúndio improdutivo e a tributação progressiva da terra.
Entretanto, devido a imprecisão do conceito de propriedade produtiva, tal medida beneficiou
especialmente as grandes empresas rurais. Outra inovação importante deste período foi a
8
Entretanto, Chiavari e Lopes (2016, p. 23) explicam que a disputa de grupos políticos
antagônicos durante a Assembleia Constituinte acarretou contradição e ambiguidade no texto
constitucional, ainda que disponha sobre a reforma agrária. Ainda assim, os demais ramos do
direito baseiam-se nos princípios ambientais constitucionais, por exemplo, o direito de
propriedade e sua função socioambiental (art. 187, II, CF/88).
10
REFERÊNCIAS
CHIAVARI, J.; LOPES, C.L. Panorama dos direitos de Propriedade no Brasil Rural. Rio
de Janeiro: Núcleo de avaliação de políticas climáticas PUC- Rio, 2016.