Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. Introdução.
2. Origens remotas.
Opinião diferente tem Camy Sanchez Cañete, para quem se trata de direito
que tem aparência de direito real sobre coisa alheia, mas que em seu conteúdo contem a
transformação da propriedade em propriedade horizontal. E para Soto Bisquert há a
transmissão da propriedade do espaço aéreo suscetível de aproveitamento que existe
sobre um imóvel, atribuindo a seu titular os meios necessários para sua utilização.
Também se debate se a construção base (ou seja, aquela sobre a qual será
construido o novo pavimento) necessita já estar construída, prevalecendo a opinião de
que a instituição do direito depende de esta estar ao menos em construção (mas há quem
entenda ser possível se, embora não haja ainda construção, já exista ao menos um
projeto).
Outra questão diz respeito ao prazo para que se realice a construção do novo
pavimento. Em principio, podem as partes fixá-lo, e, em caso de este vir a ser
ultrapassado, há a decadencia do direito. Em não fixando, por outro lado, entendem
alguns que o prazo máximo será aquele fixado para prescrição dos direitos reais.
Assim como ocorre na Espanha, desde seu advento a doutrina tem debatido
qual é sua natureza jurídica. Para Francisco Eduardo Loureiro, se trata de uma nova
modalidade de propriedade. Para Vitor Kümpel, de novo direito real sobre coisa prórpia,
limitado externamente por uma série de deveres. Já para Frederico Henrique Viegas de
Lima, de direito real de superficie, na modalidade de sobre-elevação.
Apesar disso, haverá no direito real de laje uma união indissolúvel entre
direitos sobre a construção-base e a propriedade do espaço aéreo, ou, conforme o caso,
do subsolo, e construções neles realizadas. Essa união indissolúvel é análoga do que
ocorre no condomínio edilício entre partes comuns e partes privativas; mas não há no
caso do direito de laje propriamente partes comuns. O que existe são restrições para o
titular da construção base, que, de modo reflexo, se convertem em direitos para o titular
da laje. Nesse sentido, a lei fala em “partes que servem a todo o edifício” (artigo 1.510-
C do Código Civil), como alicerces, colunas, telhado, instalações de água e esgoto,
dentre outras. Caberá ao titular da construção-base participar nas despesas necessárias à
conservação destas partes e demais serviços de interesse comum, bem como observar
direito de preferência em favor do titular da laje no caso de alienação.
Por outro lado, o titular da laje terá a propriedade exclusiva destes elementos,
conforme o caso, que se autonomizam em relação à propriedade do solo. Por isso, terá
as faculdades de usar, fruir, dispor e reaver do espaço aéreo ou subsolo, e das
construções que neles forem realizadas.
Quanto à forma, aplica-se a regra geral contida no artigo 108 do Código Civil
Brasileiro, segundo o qual “Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é
essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência,
modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes
o maior salário mínimo vigente no País”. Admite-se, também, a constituição mediante
testamento, caso em que o título levado ao registro será o formal de partilha. A
instituição do direito pode restringir o seu alcance (por exemplo, estipulando o número
de pavimentos que poderão ser construídos), e o negócio deverá, sob pena de
invalidade, estabelecer o modo pelo qual serão partilhadas as despesas relativas às
partes que servem todo o edifício.
Por outro lado, a laje pode ser extinta pelo distrato entre proprietário da
construção-base e titular da laje; pela renúncia unilateral pelo titular; pelo implemento
de termo ou condição, se houver.
Também será extinto o direito caso o titular da laje lhe dê utilização diversa
da pactuada. Isto ocorre por analogia ao disposto no artigo 1.374 do Código Civil
Brasileiro, que, tratando do direito real de superfície, dispõe que “Antes do termo final,
resolver-se-á a concessão se o superficiário der ao terreno destinação diversa daquela
para que foi concedida”.
Também se extingue o direito de laje pela ruína da construção-base, salvo se a
laje foi instituída em relação ao subsolo, ou se a construção-base for reconstruída no
prazo de cinco anos. Neste ponto, a redação do Código Civil é defeituosa. Dispõe o
artigo 1510-E, II, que “a ruína da construção-base implica extinção do direito real de
laje, salvo: II - se a construção-base não for reconstruída no prazo de cinco anos”. Ora,
não faz sentido algum condicionar a permanência do direito à não ocorrência de
reconstrução, pelo que há no dispositivo, certamente, um erro de redação. Ao invés,
deve-se interpretá-lo que o direito permanecerá se, no prazo de cinco anos, a
construção-base for reconstruída.
6. Conclusão.
O direito real de laje surge com o objetivo de conceder autonomia jurídica e,
portanto, titulação a algo que tem valor economicamente apreciável: a possibilidade de
se construir sobre outra construção já existente. E pretende fazer isso adotando um
procedimento simples, o que é bastante relevante, já que grande parte das construções
sobrepostas se situa em regiões de moradia de populações de baixa renda.
A despeito disso notícias há de que mesmo grandes empreendedores da
indústria da construção imobiliária pretendem utilizar o instituto em empreendimentos
inovadores.
Se o instituto oferecerá a segurança jurídica almejada pelo seu titular, e se
terá uso amplo – o que depende, também, da solução dos desafios técnicos de
engenharia envolvidos neste tipo de edificação – caberá ao tempo dizer.