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EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DO

___ JUIZADO ESPECIAL CÍVEL FEDERAL DE LONDRINA –


ESTADO DO PARANÁ

ALESSANDRA, brasileira, divorciada, advogada autônoma, inscrita


no CPF/MF e no Registro Geral , residente e domiciliada na Rua José
Manoel Ruiz, na cidade de Londrina, Estado do Paraná, CEP , vem
respeitosamente, advogando em causa própria, com endereço
profissional a Rua José de Alencar, 353, cidade de Londrina, Estado do
Paraná, CEP 86070-600, propor a presente:

AÇÃO DE COBRANÇA DE DIFERENÇA DE CORREÇÃO


MONETÁRIA DE FGTS

em face de CAIXA ECONOMICA FEDERAL, instituição financeira


sob a forma de empresa pública, dotada de personalidade de direito
privado, criada pelo Decreto-Lei 759, de 12/08/1969, inscrita no CNPJ
00.360.305/0001-04, com endereço a RUA PIO XII, 380 - CENTRO
86.020-380 - LONDRINA - PR - CEP: 86020-381, com alicerce nos
fundamentos fáticos e jurídicos a seguir transcritos:

1. PELIMINARMENTE

Por ser pessoa de parcos recursos, sem condições de arcar com


despesas processuais sem prejuízo do próprio sustento, conforme
declaração em anexo, requer os benefícios da justiça gratuita (CF art.
5º, XXXIV ‘a’ e LXXIV).

Atualmente não está empregada, tendo saído de seu último emprego em


05 de julho de 2012, conforme CTPS em anexo.

Declara como isenta do Imposto de Renda eis que seus rendimentos


como advogada autônoma estão abaixo do valor limite para declarar IR.

2. DOS FATOS

A Requerente é trabalhadora e, como tal, possui conta vinculada ao


Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS, como comprova a
documentação acostada;

O FGTS foi criado nos anos 60 do século passado com o escopo de


proteger o trabalhador, como sucessor da pretérita estabilidade decenal.
Sua composição se faz mediante depósitos de valores pelos
empregadores em nome de seus empregados, possibilitando que estes
últimos constituam um patrimônio, ainda que muitas vezes singelo;

Ademais, é sabido que as importâncias do fundo também são destinadas


ao financiamento de programas de habitação popular, saneamento
básico e infra-estrutura urbana;

A regulamentação do FGTS está estampada na Lei nº. 8.036/90, nas


normas e diretrizes fixadas por seu Conselho Curador e sua gestão está
a cargo da Caixa Econômica Federal;

Na lei que disciplina o tema, mais especificadamente nos artigos 2º e


13, se vê que há uma obrigatoriedade de correção monetária e de
remuneração por meio de juros das quantias depositadas nas contas
vinculadas ao fundo, “in verbis”:

Art. 2º O FGTS é constituído pelos saldos das contas vinculadas a que


se refere esta lei e outros recursos a ele incorporados, devendo ser
aplicados com atualização monetária e juros, de modo a assegurar a
cobertura de suas obrigações.

Art. 13. Os depósitos efetuados nas contas vinculadas serão corrigidos


monetariamente com base nos parâmetros fixados para atualização dos
saldos dos depósitos de poupança e capitalização juros de (três) por
cento ao ano.

Ressalte-se que o parâmetro fixado para a atualização dos depósitos da


poupança e consequentemente para os depósitos do FGTS é a Taxa
Referencial – TR, conforme prescrevem os artigos 12 e 17 da Lei
8.177/1991, com a redação da Lei 12.703/2012, que mencionam:

Art. 12. Em cada período de rendimento, os depósitos de poupança


serão remunerados:

I - como remuneração básica, por taxa correspondente à acumulação


das TRD, no período transcorrido entre o dia do último crédito de
rendimento, inclusive, e o dia do crédito de rendimento, exclusive;

II - como remuneração adicional, por juros de:

a) 0,5% (cinco décimos por cento) ao mês, enquanto a meta da taxa


Selic ao ano, definida pelo Banco Central do Brasil, for superior a 8,5%
(oito inteiros e cinco décimos por cento); ou
b) 70% (setenta por cento) da meta da taxa Selic ao ano, definida pelo
Banco Central do Brasil, mensalizada, vigente na data de início do
período de rendimento, nos demais casos.

Art. 17. A partir de fevereiro de 1991, os saldos das contas do Fundo de


Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) passam a ser remunerados pela
taxa aplicável à remuneração básica dos depósitos de poupança com
data de aniversário no dia 1°, observada a periodicidade mensal para
remuneração.

Parágrafo único. As taxas de juros previstas na legislação em vigor do


FGTS são mantidas e consideradas como adicionais à remuneração
prevista neste artigo.

No tocante à fórmula de cálculo da TR, diz a Lei nº 8.177/1991:

Art. 1° O Banco Central do Brasil divulgará Taxa Referencial (TR),


calculada a partir da remuneração mensal média líquida de impostos,
dos depósitos a prazo fixo captados nos bancos comerciais, bancos de
investimentos, bancos múltiplos com carteira comercial ou de
investimentos, caixas econômicas, ou dos títulos públicos federais,
estaduais e municipais, de acordo com metodologia a ser aprovada pelo
Conselho Monetário Nacional, no prazo de sessenta dias, e enviada ao
conhecimento do Senado Federal.

§ 1° (Revogado pela Lei nº 8.660, de 1993)

§ 2° As instituições que venham a ser utilizadas como bancos de


referência, dentre elas, necessariamente, as dez maiores do País,
classificadas pelo volume de depósitos a prazo fixo, estão obrigadas a
fornecer as informações de que trata este artigo, segundo normas
estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, sujeitando-se a
instituição e seus administradores, no caso de infração às referidas
normas, às penas estabelecidas no art. 44 da Lei n° 4.595, de 31 de
dezembro de 1964.

§ 3° Enquanto não aprovada a metodologia de cálculo de que trata este


artigo, o Banco Central do Brasil fixará a TR.

A metodologia do cálculo foi há muito tempo definida pelo Banco


Central – Conselho Monetário Nacional (CMN), atualmente vigente
pela Resolução nº 3.354/2006;
Ocorre que há muito tempo a TR não reflete mais a correção monetária,
tendo se distanciado completamente dos índices oficiais de inflação.
Nos meses de setembro, outubro e novembro de 2009; janeiro e
fevereiro de 2010; fevereiro e junho de 2012; e setembro de 2012 em
diante, a TR tem sido completamente anulada, como se não existisse
qualquer inflação no período passível de correção;

Aqui se encontra o cerne da questão: a necessidade de garantir aos


depósitos nas contas vinculadas ao FGTS uma efetiva e real correção
monetária, em atenção aos princípios que nortearam a sua criação como
patrimônio do trabalhador;

3. DA LEGITIMIDADE PASSIVA DA CAIXA ECONOMICA


FEDERAL

Tendo em vista o objeto da demanda – correção monetária dos


depósitos do FGTS – é inafastável a legitimidade passiva da Caixa
Econômica Federal. Matéria esta que já foi analisada pelo Superior
Tribunal de Justiça, culminando inclusive com a edição de súmula:

Súmula 249 – A Caixa Econômica Federal tem legitimidade passiva


para integrar processo em que se discute correção monetária de FGTS.

Natural, portanto, que assim seja, já que a caixa é gestora do fundo.

4. DA PRESCRIÇÃO

A pacífica posição jurisprudencial no que concerne ao lapso


prescricional para as demandas relacionadas à correção do FGTS
merece ser destacada, até mesmo como forma de evitar discussões
desnecessárias. Por isso a seguinte súmula do STJ é digna de descrição:

Súmula 210 – A ação de cobrança das contribuições para o FGTS


prescreve em 30 (trinta) anos.

O presente pleito encontra-se perfeitamente dentro do interregno


mencionado, como se verá no transcorrer da exposição.

5. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

A) CORREÇÃO MONETÁRIA E A INCONSTITUCIONALIDADE


DA TAXA REFERENCIAL
A correção monetária existe, assim como o próprio FGTS, desde os
anos 60.

Explica Bulhões Pedreira:

Por analogia com as unidades de medidas físicas podemos dizer que o


nível geral de preços é o padrão primário do valor financeiro, enquanto
que a unidade monetária serve como padrão secundário – usado, na
prática, para exprimir o valor financeiro, mas que deve ser aferido pelo
padrão primário porque sujeito a modificações; (In Correção
Monetária; Indexação Cambial Obrigação Pecuniária, in Revista de
Direito Administrativo, nº 193, p. 353 a 372 – Jul/Set 1993);

A moeda, segundo o doutrinador, seria a expressão do valor financeiro;


mas este – valor financeiro - seria apurado em sintonia com a
modificação do nível geral de preços.

Em interessante artigo de Letácio Jansen (Invalidade da Taxa


Referencial (TR) o significado da ADI 493-0 – DF. Disponível em
<http://scamargo.adv.br), o mesmo afirma que Bulhões Pedreira teria
colocado em prática sua doutrina, sobretudo por meio da Lei nº
4.357/1964, que criou a ORTN (Obrigação Reajustável do Tesouro
Nacional), índice cuja função era fazer variar, periodicamente, a moeda
nacional, em conformidade com a perda de seu respectivo poder
aquisitivo.

Desde então um sem fim de índices de correção monetária foram


criados, até a edição da Medida Provisória 294/1991, convertida na Lei
nº 8.177/1991, oportunidade em que o governo do então presidente
Collor pretendeu substituir a série de indexadores tradicionais (ORTN,
OTN e BTN), que eram vinculados à variação dos níveis gerais de
preços, pela taxa referencial, de natureza financeira.

Subsiste ainda hoje a perplexidade em relação à natureza jurídica da


TR, até por conta da própria inconsistência da lei que a criou, que ora a
trata como taxa de juros (art.39), ora como indexador (art. 18).

Taxas de juros objetivam promover a remuneração de capital. São


calculadas por quem disponibiliza o capital em benefício de outra
pessoa, física ou jurídica, para que a empregue com a finalidade de
satisfazer determinada necessidade, na expectativa de lucro. Já os
indexadores podem ser entendidos como índices calculados a partir da
variação de preço de mercado em determinado período. O seu objetivo
está na correção dos efeitos inflacionários, quando se comparam
valores monetários em diferentes épocas.

Quando o Supremo Tribunal Federal enfrentou o tema da natureza do


TR no julgamento da ADI 493-0 DF, assentou:

“A taxa referencial (TR) não é índice de correção monetária, pois,


refletindo, as variações do custo primário da captação dos depósitos a
prazo fixo, não constitui índice que reflita a variação do poder
aquisitivo da moeda”;

Em contraposição a esta conclusão incerta no voto vencedor, os


Ministros vencidos Celso de Mello, Marco Aurélio e Ilmar Galvão
entenderam que a estrutura de cálculo da taxa referencial não era
suficiente para impedir sua utilização como parâmetro de indexação
econômica.

Ao final, contudo, sacramentou a Corte Suprema o entendimento


segundo o qual a TR possuía natureza de taxa de juros e declarou
inconstitucional o artigo 18 da lei nº 8.177/1991, cujo texto original
estabelecia que os saldos devedores e as prestações integrantes do SFH
passariam a ser atualizadas pela taxa aplicável à remuneração básica
dos depósitos de poupança.

Esta é a ementa do julgado:

Ação direta de inconstitucionalidade. Se a lei alcançar os efeitos futuros


de contratos celebrados anteriormente a ela, será essa lei retroativa
(retroatividade mínima) porque vai interferir na causa, que é um ato ou
fato ocorrido no passado.- O disposto no artigo 5, XXXVI, da
Constituição Federal se aplica a toda e qualquer lei infraconstitucional,
sem qualquer distinção entre lei de direito público e lei de direito
privado, ou entre lei de ordem pública e lei dispositiva. Precedente do
S.T.F..- Ocorrência, no caso, de violação de direito adquirido. A taxa
referencial (TR) não é índice de correção monetária, pois, refletindo as
variações do custo primário da captação dos depósitos a prazo fixo, não
constitui índice que reflita a variação do poder aquisitivo da moeda. Por
isso, não há necessidade de se examinar a questão de saber se as
normas que alteram índice de correção monetária se aplicam
imediatamente, alcançando, pois, as prestações futuras de contratos
celebrados no passado, sem violarem o disposto no artigo 5, XXXVI,
da Carta Magna.- Também ofendem o ato jurídico perfeito os
dispositivos impugnados que alteram o critério de reajuste das
prestações nos contratos já celebrados pelo sistema do Plano de
Equivalência Salarial por Categoria Profissional (PES/CP). Ação direta
de inconstitucionalidade julgada procedente, para declarar a
inconstitucionalidade dos artigos 18, "caput" e parágrafos 1 e 4;
20; 21 e parágrafo único; 23 e parágrafos; e 24 e parágrafos, todos
da Lei n. 8.177, de 1 de maio de 1991. (ADI 493 – Relator: Ministro
Moreira Alves – Julgado em 25/06/1992, pp.14089)

Por algum tempo até mesmo o Superior Tribunal de Justiça rejeitou a


TR como índice de correção monetária, tanto para a poupança quanto
para o SFH, do que são exemplos: REsp 40777/GO, REsp 140839/BA,
REsp 209466/BA. Posteriormente em releitura do voto do Ministro
Moreira Alves do STF, mudou o entendimento e passou a adotar a
constitucionalidade da TR como índice de correção monetária (REsp
752879/DF).

Vale repisar que a aplicação de índice de correção monetária se presta a


recuperar o poder da compra do valor emprestado. Este poder de
compra é diretamente influenciado por um processo inflacionário. O
STJ reconhece a influência da inflação e da deflação na composição do
índice de correção monetária, senão vejamos:

PREVIDENCIÁRIO E ECONÔMICO. TÍTULO EXECUTIVO


JUDICIAL. DETERMINAÇÃO DE CORREÇÃO MONETÁRIA
PELO IGP-M. ÍNDICES DE DEFLAÇÃO. APLICABILIDADE.
OFENSA AO PRINCÍPIO DA IRREDUTIBILIDADE DOS
VENCIMENTOS. NÃO OCORRÊNCIA. PRESERVAÇÃO DO
VALOR NOMINAL DA OBRIGAÇÃO. PRECEDENTES. 1. "A
correção monetária nada mais é do que um mecanismo de
manutenção do poder aquisitivo da moeda, não devendo
representar, consequentemente, por si só, nem um plus nem um
minus em sua substância. Corrigir o valor nominal da obrigação
representa, portanto, manter, no tempo, o seu poder de compra
original, alterado pelas oscilações inflacionárias positivas e
negativas ocorridas no período. Atualizar a obrigação levando em
conta apenas oscilações positivas importaria distorcer a realidade
econômica produzindo um resultado que não representa a simples
manutenção do primitivo poder aquisitivo, mas um indevido acréscimo
no valor real. Nessa linha, estabelece o Manual de Orientação de
Procedimento de Cálculos aprovado pelo Conselho da Justiça Federal
que, não havendo decisão judicial em contrário, "os índices negativos
de correção monetária (deflação) serão considerados no cálculo de
atualização", com a ressalva de que, se, no cálculo final, 'a atualização
implicar redução do principal, deve prevalecer o valor nominal'" (Corte
Especial, REsp 1.265.580/RS, Rel. Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI,
DJe 18/4/12). 2. No precedente da Corte Especial, mencionado na
decisão agravada, ficou expressamente consignado que se, na
atualização da dívida, houver redução do principal, deve prevalecer o
valor nominal, em respeito ao princípio da irredutibilidade de
vencimentos, previsto nos arts. 7º, VI e 37, XV, da Constituição
Federal. 3. A compreensão no sentido de que não há violação ao
princípio da irredutibilidade dos vencimentos, quando preservado o
valor nominal da obrigação, encontra respaldo na jurisprudência do
STF e do STJ. 4. Agravo regimental improvido. (AgRg no
Resp1252558/RS, rel. Ministro Sergio Kukina, 1ª Seção, julgado em
13/03/2013)

Em contraste com a linha traçada pelo STJ, o STF voltou recentemente


à análise da TR como fator de correção e, uma vez mais reafirmou que
já houvera sedimentado quando da ADI 493-0/DF. No julgamento pelo
plenário do STF das quatro ações diretas de inconstitucionalidade
(ADI´s 4357, 4372, 4400, 4425) que tinham por objeto a emenda
constitucional nº 62/2009, que criou o regime especial de pagamento de
precatórios, se lê do voto do relator Ministro Ayres Britto:

“Com efeito, neste ponto de intelecção das coisas, nota-se que a


correção monetária se caracteriza, operacionalmente, pela citada
aptidão para manter um equilíbrio econômico-financeiro entre sujeitos
jurídicos. E falar de equilíbrio econômico-financeiro entre partes
jurídicas é, simplesmente, manter as respectivas pretensões ou os
respectivos interesses no estado em que primitivamente se
encontravam. Pois não se trata de favorecer ou beneficiar ninguém(...).”

E citando a ADI 493-0 DF, que reconheceu que a TR “...não reflete a


perda do poder aquisitivo da moeda...”, finaliza o Ministro:

“O que se conclui, portanto, é que o § 12 do art. 100 da Constituição


acabou por artificializar o conceito de atualização monetária. Conceito
que está ontologicamente associado à manutenção do valor real da
moeda. Valor real que só se mantém pela aplicação de índice que reflita
a desvalorização dessa moeda em determinado período. Ora, se a
correção monetária dos valores inscritos em precatório deixa de
corresponder à perda do poder aquisitivo da moeda, o direito
reconhecido por sentença judicial transitada em julgado será satisfeito
de forma excessiva ou, de revés, deficitária. Em ambas as hipóteses,
com enriquecimento ilícito de uma das partes da relação jurídica. E não
é difícil constatar que a parte prejudicada, no caso, será, quase que
invariavelmente, o credor da Fazenda Pública. Basta ver que, nos
últimos quinze anos (1996 a 2010), enquanto a TR (taxa de
remuneração da poupança) foi de 55,77%, a inflação foi de 97,85%, de
acordo com o IPCA.”

Os fragmentos destacados permitem vislumbrar a postura da Corte


Constitucional sobre a atualização da TR como índice de correção.

Não se pode esquecer que a cultura da correção monetária está


arraigada ao nosso sistema econômico de tal forma que o Código Civil
traz diversos dispositivos garantindo-a. E este breve retrospecto da
evolução legal e jurisprudencial da aplicação da TR como índice de
correção monetária é necessário para servir de introdução ao núcleo da
argumentação delineada na presente ação.

Hoje no país existem dois tipos de índice de correção monetária.


Índices que refletem a inflação, e portanto, recuperam o poder de
compra do valor aplicado, como o IPCA e o INPC, e um índice que não
reflete a inflação e, consequentemente, não recupera o poder de compra
do valor aplicado: a taxa referencial – TR;

Historicamente é preciso lembrar que a taxa referencial nunca foi igual


à inflação. Nem em tempos de hiperinflação, nem no curto período de
deflação. Todavia, os índices da TR, INPC e IPCA sempre andaram
próximos. Em outras palavras, imperava a razoabilidade nos índices da
TR para que pudessem atingir a finalidade de correção do valor do
capital, conforme descrição a seguir:

ANO

TR

INPC

IPCA

1991

335,51%
475,11%

472,69%

1992

1.156,22%

1.149,05%

1.119,09%

1993

2.474,73%

2.489,11%

2.477,15%

1994

951,19%

929,31%

916,43%

1995

31,6201%

21,98%

22,41%

1996

9,5551%

9,125%

9,56%
O panorama começa a mudar a partir de 1999, quando a TR se distancia
expressivamente do INPC e do IPCA, ao ponto de hoje a inflação
superar 6% ano e a TR ser igual a ZERO. Logo, ela não se presta para o
fim de manter o poder aquisitivo dos depósitos do FGTS, que são
patrimônio do trabalhador;

Da maneira como atualmente está o FGTS, sem recomposição


inflacionária de seus recursos, o trabalhador não está financiando
programas de habitação popular, e sim está subsidiando.

Ao contrário de outros investimentos, o FGTS não é um fundo de livre


disposição por parte do trabalhador, que não pode decidir por si mesmo
quais as aplicações que lhe são mais convenientes ou rentáveis. O
trabalhador tem que se submeter a políticas econômicas e sociais que
lhe são altamente prejudiciais.

Não se trata aqui de elucubrações desprovidas de sustentação fática. A


própria lei do FGTS diz em seu artigo 2º que é garantida a aplicação de
atualização monetária e juros aos saldos das contas vinculadas. Quando
a TR é igual a ZERO, este dispositivo é descumprido. Quando a TR é
mínima e totalmente desproporcional em relação à inflação, este
dispositivo também é descumprido. E em ambos os casos, o patrimônio
do trabalhador é diminuído, subtraído por quem tem o dever legal de
administrá-lo.

Num cenário de TR zero e inflação pública e notória, estamos diante de


uma situação de confisco. O Governo Federal, por meio da Caixa
Econômica Federal, está confiscando os rendimentos dos trabalhadores
para subsidiar políticas públicas sem a menor possibilidade de
ingerência desses trabalhadores.

Ora, se nosso Estado Democrático de Direito veda que se utilize o


tributo com efeito de confisco, o trabalhador não pode ser punido com
o confisco do que a própria Caixa define em sua web site como “um
patrimônio seu”, do trabalhador.

Quando se fala em patrimônio imediatamente sobrevém a lição de


Maria Helena Diniz ao comentar o artigo 91 do Código Civil:

Art. 91 – Constitui universalidade de direito o complexo de relações


jurídicas de uma pessoa, dotadas de valor econômico.
Universalidade de direito. É constituída por bens corpóreos
heterogêneos ou incorpóreos (complexo de relações jurídicas), a que a
norma jurídica, com intuito de produzir certos efeitos, dá unidade, por
serem dotados de valor econômico, como por exemplo, o patrimônio
(...). O patrimônio e a herança são considerados como um conjunto, ou
seja, uma universalidade. Embora se constituam ou não de bens
materiais e de créditos, esses bens se unificam numa expressão
econômica, que é o valor. O patrimônio é complexo de relações
jurídicas de uma pessoa apreciáveis economicamente. Incluem-se no
patrimônio: a posse os direitos reais, as obrigações e as ações
correspondentes a tais direitos. O patrimônio abrange direitos e deveres
redutíveis a dinheiro. (Código Civil Anotado, Saraiva, p.100);

Levando-se em conta que a relação jurídica entre os trabalhadores e a


Caixa é de direito pessoal, o artigo 233 do Código Civil se torna
inafastável na medida em que determina que a obrigação de dar coisa
certa abrange os acessórios, ainda que não mencionados. Ora, os
acessórios de dinheiro são os juros e a correção monetária;

E então exsurge, outra vez a Taxa Referencial;

B) MANIPULAÇÃO DA TR – BACEN/CMN

Independentemente da discussão sobre sua natureza jurídica, convém


adotar como pressuposto inicial, para desconstituí-la, a tese assentada
pela jurisprudência, como destaque para as decisões do STJ, que
apontam a TR como índice de correção monetária;

Tanto o artigo 1º da Lei nº 8.177/91 quanto o artigo 5º da Lei nº


10.192/2001 (que convolou a MP1.053/1995) atribuíram ao Banco
Central a regulamentação da metodologia de cálculo da TR, conforme
crédito estabelecido na lei e a expedições das instruções necessárias ao
cumprimento do artigo que criou a TBF (Taxa Básica Financeira), “in
verbis”:

Art. 1° O Banco Central do Brasil divulgará Taxa Referencial (TR),


calculada a partir da remuneração mensal média líquida de impostos,
dos depósitos a prazo fixo captados nos bancos comerciais, bancos de
investimentos, bancos múltiplos com carteira comercial ou de
investimentos, caixas econômicas, ou dos títulos públicos federais,
estaduais e municipais, de acordo com metodologia a ser aprovada pelo
Conselho Monetário Nacional, no prazo de sessenta dias, e enviada ao
conhecimento do Senado Federal.

Art. 5º Fica instituída Taxa Básica Financeira - TBF, para ser utilizada
exclusivamente como base de remuneração de operações realizadas no
mercado financeiro, de prazo de duração igual ou superior a sessenta
dias.

Parágrafo único. O Conselho Monetário Nacional expedirá as


instruções necessárias ao cumprimento do disposto neste artigo,
podendo, inclusive, ampliar o prazo mínimo previsto no caput.

Com o objetivo de regulamentar a TR, o Banco Central/ CMN vem ao


longo dos anos criando e reinventando fórmulas para encontrá-la. Pelo
menos desde a Resolução nº2.075/1994 há formulas para encontrar a
TR. Todavia, é com a instituição da Taxa Básica Financeira, pela
medida provisória nº1.053/1995, que a fórmula de cálculo sofre uma
expressiva reviravolta;

Desde a Resolução nº 2.437/1997 a TR é calculada levando em conta a


Taxa Básica Financeira e um redutor;

A Resolução nº 3.354/2006, hoje vigente sobre o assunto, diz:

Art. 1º Para fins de cálculo da Taxa Básica Financeira (TBF) e da Taxa


Referencial (TR), de que tratam os arts. 1º da Lei nº 8.177, de 1º de
março de 1991, 1º da Lei nº 8.660, de 28 de maio de 1993, e 5º da Lei
nº 10.192, de 14 de fevereiro de 2001, deve ser constituída amostra das
20 maiores instituições financeiras do País, assim consideradas em
função do volume de captação efetuado por meio de certificados e
recibos de depósito bancário (CDB/RDB), com prazo de 30 a 35 dias
corridos, inclusive, e remunerados a taxas prefixadas, entre bancos
múltiplos, bancos comerciais, bancos de investimento e caixas
econômicas. (Redação dada pela Resolução nº 4.240, de 28/6/2013.)

§ 1º Para efeito da constituição da amostra referida neste artigo, devem


ser considerados:

I - como uma única instituição financeira, o conjunto de instituições de


um mesmo conglomerado financeiro, nos termos do conceito
estabelecido no Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro
Nacional (COSIF);
II - os somatórios dos valores de captação de CDB/RDB ao longo de
cada semestre civil.

§ 2º O Banco Central do Brasil deve constituir a amostra de que trata


este artigo até o décimo quinto dia útil dos meses de janeiro e julho,
para vigorar a partir dos dias 1º de fevereiro e 1º de agosto de cada ano.

Art. 2º A TBF e a TR são calculadas a partir da remuneração mensal


média dos CDB/RDB emitidos a taxas de mercado prefixadas, com
prazo de 30 a 35 dias corridos, inclusive, com base em informações
prestadas pelas instituições integrantes da amostra de que trata o art. 1º,
na forma a ser determinada pelo Banco Central do Brasil.

Art. 4º Para cada dia do mês - dia de referência -, o Banco Central do


Brasil deve calcular a TBF, para o período de um mês, com início no
próprio dia de referência e término no dia correspondente ao dia de
referência no mês seguinte, considerada a hipótese prevista no § 2º,
inciso IV.

Art. 5º Para cada TBF obtida, segundo a metodologia descrita no art.


4º, deve ser calculada a correspondente TR, pela aplicação de um
redutor "R", de acordo com a seguinte fórmula:

TR = max {0,100 {[ (1 + TBF/100) / R ] - 1}} (em %).

§ 1º O valor do redutor 'R' deve ser calculado para todos os dias,


inclusive não-úteis, de acordo com a seguinte fórmula:

R = (a + b . TBF/100), onde:

TBF = TBF relativa ao dia de referência;

a = 1,005;

b = valor determinado de acordo com a tabela abaixo, em função da


TBF obtida, segundo a metodologia descrita no art. 4º, em termos
percentuais ao ano:

TBF (% a.a.) b

TBF maior que 16 0,48

TBF menor ou igual a 16 e maior que 15 0,44


TBF menor ou igual a 15 e maior que 14 0,40

TBF menor ou igual a 14 e maior que 13 0,36

TBF menor ou igual a 13 e maior ou igual a 11 0,32

§ 2º Fica o Banco Central do Brasil autorizado a determinar o valor do


parâmetro "b" no caso de a TBF obtida ser inferior a 11% a.a. (onze por
cento ao ano).

O peculiar nesta determinação do Banco Central / CMN, que de resto


se repete desde 1997, é que a TBF e a TR são exatamente iguais em sua
gênese até o momento em que se determina a aplicação do redutor à
TBF para se chegar a TR;

Não há na lei na TR previsão de aplicação de redutor, assim como


também não há na lei que criou a TBF. Todavia, causa espécie que
adiante de um comando aberto como o do artigo 5º da MP 1.503/1995
(Lei 10192/2001), o Banco Central/ CMN, com amplos poderes para
regulamentar o assunto, não tenha instituído um redutor, mas o tenha
feito ao regulamentar o artigo 1º da Lei nº 8.177/1991, que não era
flexível;

Uma comparação entre os percentuais da TR, INPC e IPCA, desde


1997, deixa evidente a perda do poder de compra dos depósitos nas
contas vinculadas do FGTS, especialmente a partir de 1999.

ANO

TR

INPC

IPCA

1997

9,7849%

4,34%

5,22%

1998
7,7938%

2,49%

1,66%

1999

5,7295%

8,43%

8,94%

2000

2,0962%

5,27%

5,97%

2001

2,2852%

9,44%

7,67%

2002

2,8023%

14,74%

12,53%

2003

4,6485%

10,38%

9,30%
2004

1,8184%

6,13%

7,60%

2005

2,8335%

5,05%

5,69%

2006

2,0377%

2,81%

3,14%

2007

1,4452%

5,15%

4,45%

2008

1,6348%

6,48%

5,90%

2009

0,7090%

4,11%
4,31%

2010

0,6887%

6,46%

5,90%

2011

1,2079%

6,07%

6,50%

2012

0,2897%

6,19%

5,83%

2013 (até outubro)

0,0920%

3,61%

3,79%

Fonte: Portal Brasil (HTTP://www.portalbrasil.net)

O disparate é claro;

Como dito antes, o trabalhador aplica compulsoriamente seu dinheiro


no FGTS e não pode retirá-lo para outro investimento. Recebe apenas
uma remuneração de 0,247% a título de juros e nada mais. Não há
correção monetária nem taxa referencial, em grande desrespeito ao
artigo 2º da Lei 8.036/1990, que impõe a correção monetária dos
valores depositados pelo empregador.
Ainda que se argumente que a aplicação do redutor pelo Banco
Central/CMN é ilegal, sua redução à ZERO em um cenário de inflação
superior a 6% ao ano configura ataque à concepção do preceito do
artigo 2º da Lei 8.036/1990, claro ao determinar a atualização
monetária bem como ao artigo 233 do Código Civil, na medida em que
se ignoram os acessórios da obrigação de dar.

Impende, porém, revisitar o entendimento jurisprudencial sobre a TR


como índice de correção monetária, mormente a partir da instituição de
um Redutor que tem por efeito zerá-la num ambiente de inflação.

O quadro comparativo mostra que a TR não se presta como atualizador


monetário do FGTS pelo menos desde janeiro de 1999. No momento
em que o Banco Central/CMN estabeleceu um redutor para a TR, ela
deixou de ser um índice confiável para atualizar monetariamente as
contas do fundo porque se afasta dos índices de inflação, com sensível
redução ano a ano;

Corrigir monetariamente o capital é mantê-lo com poder de compra,


finalidade distante de ser alcançada pela TR. Há nítida expropriação do
patrimônio do trabalhador no instante em que lhe é negada uma hígida
atualização monetária. Cabe, pois, ao judiciário pátrio a nobre tarefa de
fazer cessar este esbulho iniciado em 1999 e materializando nas
constantes reduções da TR em relação aos índices de inflação,
culminando na sua completa nulidade desde setembro de 2012;

O STF no julgamento da ADI 493-0/DF, asseverou que a TR não


constituía índice que refletia a variação do poder aquisitivo da moeda,
característica que o transcorrer dos anos só fez confirmar. A sua
aplicação – ou não aplicação quando chega a ZERO – diminui e destrói
o patrimônio do trabalhador, de modo que há anos ele não tem ganho
real em sua aplicação no fundo, senão todo o contrário: faz tempo que
aufere rendimentos inferiores à inflação, mesmo levando em conta a
insípida remuneração dos juros de 3% ao ano.

O que torna a TR um índice inidôneo é a intensa ingerência do Banco


Central/CMN na sua formulação. Vale lembrar como é feito o cálculo:

§ 1º O valor do redutor 'R' deve ser calculado para todos os dias,


inclusive não-úteis, de acordo com a seguinte fórmula:

R = (a + b . TBF/100), onde:
TBF = TBF relativa ao dia de referência;

a = 1,005;

b = valor determinado de acordo com a tabela abaixo, em função da


TBF obtida, segundo a metodologia descrita no art. 4º, em termos
percentuais ao ano:

TBF (% a.a.) b

TBF maior que 16 0,48

TBF menor ou igual a 16 e maior que 15 0,44

TBF menor ou igual a 15 e maior que 14 0,40

TBF menor ou igual a 14 e maior que 13 0,36

TBF menor ou igual a 13 e maior ou igual a 11 0,32

§ 2º Fica o Banco Central do Brasil autorizado a determinar o valor do


parâmetro "b" no caso de a TBF obtida ser inferior a 11% a.a. (onze por
cento ao ano).

Como se vê, quando a TBF (taxa básica financeira – SELIC for inferior
a 11%), a variável “b” será determinada pelo Banco Central/ CMN, sem
critério técnico conhecido. Aí está o cerne da questão, posto que é esta
discricionariedade estipulada desde a Resolução 2.809/2000 e
reproduzida nas posteriores, que afetou o cálculo do redutor da TR e,
consequentemente, a conduziu de modo paulatino a ZERO.

Pugnar pelo recálculo da TR tampouco se mostraria uma solução, vez


que uma nova fórmula estaria igualmente sob a discricionariedade do
BACEN. Basta avaliar a sucessão de resoluções do órgão sobre o
assunto, que sempre mantiveram em suas mãos o poder de interferir na
aferição da TR.

Não há duvida de que a TR não tem o condão de suprir as perdas


monetárias dos depósitos do FGTS, ainda mais depois do que foi
narrado até aqui. Outro caminho não existe se não o de adotar um novo
índice que de fato corrija e mantenha o poder de compra desses
depósitos.

C) ÍNDICES REAIS DE CORREÇÃO MONETÁRIA


A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro estabelece em seu
artigo 5º que na aplicação da Lei o juiz atenderá aos fins sociais a que
ela se destina e às exigências do bem comum.

Pois bem. A Lei do FGTS tem um fim social indiscutível: proteger o


trabalhador e constituir um patrimônio que lhe sirva de arrimo em
várias situações da vida. Assim, reconhecer a necessidade de efetiva
correção monetária, com reposição dos índices inflacionários de forma
a garantir o poder de compra daquele dinheiro, implica em atender o
social descrito na lei do fundo. Cabe à Caixa tal proceder.

Visto que a TR não reflete a corrosão do poder de compra dos


depositários e não repõe as perdas monetárias havidas, urge substituí-
las por um índice que o faça. Mas por qual?

A resposta, até por uma questão de equidade está na adoção do mesmo


índice utilizado para a correção do salário dos trabalhadores e
benefícios previdenciários, previsto na Lei nº 12.382/2011:

Art. 1º O salário mínimo passa a corresponder ao valor de R$ 545,00


(quinhentos e quarenta e cinco reais).

Parágrafo único. Em virtude do disposto no caput, o valor diário do


salário mínimo corresponderá a R$ 18,17 (dezoito reais e dezessete
centavos) e o valor horário, a R$ 2,48 (dois reais e quarenta e oito
centavos).

Art. 2º Ficam estabelecidas as diretrizes para a política de valorização


do salário mínimo a vigorar entre 2012 e 2015, inclusive, a serem
aplicadas em 1o de janeiro do respectivo ano.

§ 1º Os reajustes para a preservação do poder aquisitivo do salário


mínimo corresponderão à variação do Índice Nacional de Preços ao
Consumidor - INPC, calculado e divulgado pela Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, acumulada nos doze
meses anteriores ao mês do reajuste.

§ 2º Na hipótese de não divulgação do INPC referente a um ou mais


meses compreendidos no período do cálculo até o último dia útil
imediatamente anterior à vigência do reajuste, o Poder Executivo
estimará os índices dos meses não disponíveis.
§ 3º Verificada a hipótese de que trata o § 2o, os índices estimados
permanecerão válidos para os fins desta Lei, sem qualquer revisão,
sendo os eventuais resíduos compensados no reajuste subsequente, sem
retroatividade.

§ 4o A título de aumento real, serão aplicados os seguintes percentuais:

I - em 2012, será aplicado o percentual equivalente à taxa de


crescimento real do Produto Interno Bruto - PIB, apurada pelo IBGE,
para o ano de 2010;

II - em 2013, será aplicado o percentual equivalente à taxa de


crescimento real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2011;

III - em 2014, será aplicado o percentual equivalente à taxa de


crescimento real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2012; e

IV - em 2015, será aplicado o percentual equivalente à taxa de


crescimento real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2013.

Ora, se o salário mínimo é corrigido pelo INPC, porque o FGTS, que é


um salário indireto do trabalhador, não o é?

A correção do salário mínimo pelo INPC objetiva preservar o seu poder


aquisitivo. A necessidade de preservar o poder aquisitivo é uma
constante em todas as transações financeiras e só se aperfeiçoa quando
repõe efetivamente as perdas inflacionárias.

Outro índice que se mostra viável para a manutenção do poder


aquisitivo dos depósitos do FGTS é o IPCA/IBGE, índice oficial do
Governo Federal instituído inicialmente com a finalidade de corrigir as
demonstrações financeiras das companhias abertas e que, a partir de
julho de 1999, passou a ser utilizado para medição de metas de
inflação, contratadas com o FMI (sobre o IPCA:
<HTTP://www.portalbrasil.net/ipca.html>).

Qualquer desses dois índices (INPC ou IPCA) se mostra mais adequado


para a manutenção do poder aquisitivo dos valores ingressados nas
contas vinculadas ao FGTS, ao que se requer desde já.

D) OUTRAS PONDERAÇÕES
O alvitramento dos recursos do patrimônio do trabalhador traz
conseqüências para todos, individual e coletivamente.

O Sistema Financeiro de Habitação – SFH dispõe dos recursos do


FGTS para financiar a aquisição de casa própria pelos trabalhadores. É
a Caixa Econômica Federal a Instituição que mais utiliza esses
recursos, emprestando dinheiro para aquisição do imóvel.

Em principio parece não haver correlação entre o trabalhador que tem


depósitos no FGTS e aquele que se vale do empréstimo do SFH para
comprar sua casa. Contudo, em algum momento trabalhador e mutuário
se tornam a mesma pessoa. É neste ponto de convergência que o debate
ganha ares preocupantes.

Já seria reprovável o fato de a Caixa pegar um dinheiro a juros baixo e


sem nenhuma correção e emprestá-lo a juros muito mais altos, mesmo
sem correção (uma vez que a TR também corrige as prestações do
SFH), o que evidencia que a instituição já leva vantagem nessa
negociação. Mas a situação piora ainda mais quando a Caixa pega
dinheiro a juros baixo, sem nenhuma correção para o trabalhador, e
empresta a ele mesmo.

Suponhamos que um trabalhador queira adquirir uma casa própria


utilizando os recursos do seu FGTS. Ele encontra um imóvel, mas
verifica que seus recursos não são suficientes para adquiri-lo. Dirige-se,
então, a um banco para financiar a diferença, comprometendo sua renda
por longos anos.

A maioria dos brasileiros, quando quer adquirir um imóvel, dirige-se à


Caixa Econômica Federal. É uma questão histórica. Mas se seus
depósitos do FGTS tivessem sido devidamente corrigidos, com a
manutenção do seu poder de compra, ou o empréstimo seria menor ou
sequer haveria a necessidade de contratá-lo, contratação esta que
implica no comprometimento de sua renda e anos de trabalho para
adquirir aquilo que é básico: uma moradia;

A caixa empresta para o trabalhador aquilo que ela deixou de lhe pagar
a título de correção monetária na sua conta do FGTS, lhe vendo o
sonho da casa própria e às suas custas aufere lucros.

E) ULTERIORES APONTAMENTOS
A taxa referencial, enquanto índice de correção monetária – ao menos
segundo posição atual do STJ – não pode ser reduzida a ZERO, como
tem sido nos últimos meses. É uma afronta ao artigo 2º da Lei nº
8.036/1990, que garante a atualização monetária aos depósitos do
FGTS.

Como índice de correção monetária que supõe ser (e que para o STF
não o é), a TR deveria garantir o poder aquisitivo dos depósitos do
FGTS, o que seria possível levando em conta os índices da inflação. Só
que desde janeiro de 1999 a TR se distanciou sensivelmente dos
indicadores oficiais da inflação, com profundas perdas aos depósitos no
FGTS, transmudando-se em parâmetro inidôneo para garantir a
reposição das perdas monetárias.

A pouca ou nula utilidade da TR como índice de correção monetária é


fruto das transformações introduzidas em sua metodologia de cálculo
pelo Banco Central/ CMN, que através da criação de um redutor vem
manipulando o índice para que ele se desprenda da inflação, até anulá-
lo completamente, a despeito de um quadro de inflação persistente no
país.

A Caixa Econômica Federal assume o papel de esbulhador do FGTS,


dispondo do patrimônio do trabalhador sem a correspondente
contraprestação. A correção monetária aplicada ao FGTS tem sido há
muito tempo menor que a inflação registrada pelo próprio Governo
(INPC/IPCA), de forma que se descumpre não apenas o artigo 2º da Lei
8.036/1990, mas também toda a lógica e princípios do mercado
econômico.

Quem empresta tem direito a ser remunerado com juros e a totalidade


da correção monetária. O trabalhador não pode ser obrigado a subsidiar
ainda mais os projetos do Governo Federal. O “ainda mais” decorre de
o fato dos juros de 3% do FGTS serem os menores do mercado, o que
ele já está fazendo sua parte sob a perspectiva social.

Obstar o direito a uma efetiva e real correção monetária dos valores


existentes nas contas vinculadas ao FGTS – contas que não são
livremente gesticuladas pelo trabalhador, que delas não pode sacar
dinheiro ou aplicá-lo em outros fundos de investimento – configura ato
incompatível com o Estado Democrático de Direito.
Remunerasse o Governo os investidores internacionais com a TR mais
3% a.a., como faz com os trabalhadores, a fuga em massa dos
investimentos seria uma constante.

Constatado que a TR não é capaz de restabelecer e manter o poder


aquisitivo dos depósitos do FGTS, sua substituição por outro índice que
melhor recomponha as perdas monetárias se torna imperioso, inclusive
como forma de atender ao comando dos artigos 2º da Lei nº 8.036/1990
e 233 do Código Civil.

Visto que desde janeiro de 1999 o redutor criado pelo BACEN/CMN


promoveu o afastamento do TR dos outros índices oficiais de inflação,
tem-se que desde então ela perdeu sua condição de repor as perdas
inflacionárias dos depósitos do FGTS. Sua substituição pelo INPC ou,
alternativamente, pelo IPCA/IBGE, é medida de justiça social.

Inconcebível conferir à TR natureza diversa da que tem.


Tremendamente pertinentes às palavras do advogado Marcos Eduardo
Ruiz Coelho Gomes em estudo sobre o tema:

Entretanto, ainda que devamos respeitar os posicionamentos de todos


aqueles que afirmam que a taxa referencial possa ser utilizada como
indexador, s.m.j., entendemos que não é possível atribuir a determinado
mecanismo financeiro, estruturalmente criado de forma a refletir o
custo primário da captação dos depósitos bancários a prazo fixo
(CDB/RDB), função diversa daquela que lhe é intrínseca, qual seja,
remunerar determinado capital.

A simples comparação da variação da taxa referencial acumulada ao


longo dos últimos anos com a variação da acumulada do Índice
Nacional de Preços ao Consumidor – INPC, publicado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, demonstra imensa
distorção na comparação de valores monetários corrigidos por um e
pelo outro índice.

Assim, em razão da estrutura de intrínseca da TR, a sua aplicação como


indexador econômico produz o que se pode denomina de distorção
funcional.

E os efeitos deste uso equivocado provocam circunstâncias práticas


como a possível redução patrimonial de quem se vale da taxa
referencial para correção de seus ativos.
Assim, entendemos que a taxa referencial (TR) criada pela Lei Federal
n.° 8.177, de 01 de março de 1991, e regulamentada pela Resolução e
Circular n.° 2.437, de 30 de outubro de 1997, e 3.056, de 20 de agosto
de 2001, editadas respectivamente pelo Banco Central do Brasil e pelo
Conselho Monetário Nacional possui natureza jurídica de taxa de juros
e que seu uso como indexador provoca relevantes distorções
monetárias, e que devem ser objeto de constante questionamentos
perante os tribunais brasileiros. (disponível em
http://jus.com.br/artigos/23394/tr-taxa-de-juros-ou-indexador - acesso
23 de outubro de 2013).

Por fim, destacar que recente nota técnica divulgada pelo DIEESE
(nota técnica nº125, de junho de 2013) constata:

Quando se compara a evolução da TR, da TR acrescida de 3% e do


INPC, entre 1995 e 2012, constata-se que a remuneração das contas do
FGTS só não fica abaixo da inflação por conta do acréscimo do
percentual de 3% a título de capitalização. Entretanto, após 1999,
quando o INPC passa a superar a TR, a diferença cumulativa entre as
taxas cresceu tanto que, mesmo considerando o acréscimo dos juros
capitalizados, a correção acumulada das contas vinculadas torna-se
inferior à inflação acumulada em igual período. grifo nosso. (disponível
em
http://www.dieese.org.br/notatecnica/2013/notaTec125FGTSeTR.pdf -
acesso 23 de outubro de 2013)

Imperativo, nesse diapasão, que as contas vinculadas ao FGTS, em


obediência à própria lei instituidora, recebam efetiva e real correção
monetária – o que não existe, como analisado, com a manutenção da
TR;

6. SENTENÇA FAVORÁVEL – processo - 50095333520134047002

O Douto Juiz Federal Substituto de Foz do Iguaçu-PR Diego Viegas


Véras proferiu decisão favorável sopesando exatamente as situações
acima descritas e demonstrando o viés teratológico da situação:

“Vemos, portanto, a hipótese absurda de que o trabalhador, tendo o


saldo da sua conta de FGTS corroído pela inflação, não dispor do
suficiente para adquirir a casa própria, de forma a necessitar firmar
contrato pelo SFH (o qual foi financiado às suas expensas), para pagar
juros muito superiores àqueles com os quais foi remunerado. O
dinheiro que lhe foi subtraído pela má remuneração de sua conta,
então, deverá ser tomado emprestado daquele que o subtraiu,
mediante pagamento de juros.” (grifei)

E também:

“Veja-se: com a TR ostentando seus índices praticamente zerados


desde o ano de 2009, os saldos das contas do FGTS acabaram sendo
remunerados tão somente pelos juros anuais de 3% previstos na Lei
8.036/90. Ou seja, os juros que deveriam, supostamente, remunerar o
capital, não são sequer suficientes para repor o poder de compra
perdido pela inflação acumulada.” (grifado e sublinhado no original)

Na mesma linha do que foi decidido na ADI 4357, o Ilustre Magistrado


também consignou a agressão ao direito de propriedade como sendo o
preceito constitucional violado:

“Pois bem. Verificada a desigualdade/desproporção entre a TR e de


outra banda, o IPCA-E e o INPC, passa-se a analisar a real função da
correção monetária em cotejo com o princípio constitucional do
direito à propriedade (art. 5º, XXII, da Carta Magna).” (grifei)

Em suma, o índice adotado em substituição foi o IPCA, em


consonância com o que vem decidindo o STJ no caso dos precatórios.
conforme se pode notar da parte dispositiva da sentença:

“Ante o exposto, JULGO PROCEDENTES os pedidos, condenando a


CEF a pagar à parte autora os valores correspondentes à diferença de
FGTS em razão da aplicação da correção monetária pelo IPCA-E
desde janeiro de 1999 em diante até seu efetivo saque, cujo valor
deverá ser apurado em sede de cumprimento de sentença. Caso não
tenha havido saque, tal diferença deverá ser depositada diretamente na
conta vinculada do autor.”

7. O ÍNDICE IPCA-E

Nos autos do processo – 50095333520134047002, extra-se texto


elaborado na decisão do Douto Juiz Federal Substituto de Foz do
Iguaçu-PR Diego Viegas Véras: “Os índices que atualmente têm
refletido a variação inflacionária brasileira são o INPC e o IPCA-E.
Assim, resta analisar qual índice deverá ser adotado para fins de
correção dos saldos do FGTS.
Tendo em conta que a Corte Constitucional ainda não decidiu sobre a
modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade do uso da
TR na correção dos precatórios e dívidas da Fazenda Pública, bem
como em razão de ser vedado o non liquet (art. 126 do CPC), tem-se
que o índice aplicável à atualização monetária, em substituição à Taxa
Referencial, deve ser o IPCA-E ao invés do INPC, calhando transcrever
as suas formas de cálculos e abrangências, consoante previsto no sítio
eletrônico (http://www.portalbrasil.net/ipca_e.htm,
http://www.portalbrasil.net/inpc.htm, acessos em 15/01/2014), a saber,
respectivamente:

O que compõe o IPCA-E:

Por determinação legal (Medida Provisória número 812, de 30 de


dezembro de 1994), o IPCA - Série Especial está sendo divulgado
trimestralmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,
baseado nos índices do IPCA-15. O Portal Brasil apresenta na tabela
também avariação mensal - apenas para efeito de estatística e
estimativa futura doíndice . A sua validade e aplicabilidade,
entretanto, é trimestral. Este índice é aqui informado apenas para
subsidiar expectativas de acúmulos trimestrais ou entre períodos.

O IPCA/IBGE verifica as variações dos custos com os gastos das


pessoas que ganham de um a quarenta salários mínimos nas regiões
metropolitanas de Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza,
Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e município
de Goiânia. O Sistema Nacional de Preços ao Consumidor - SNIPC
efetua a produção contínua e sistemática de índices de preços ao
consumidor, tendo como unidade de coleta estabelecimentos
comerciais e de prestação de serviços, concessionária de serviços
públicos e domicílios (para levantamento de aluguel e condomínio).

O IPCA/E utiliza, para sua composição de cálculo, os seguintes


setores:alimentação e bebidas, habitação, artigos de residência,
vestuário,transportes, saúde e cuidados pessoais, despesas pessoais,
educação e comunicação.

O que compõe o INPC/IBGE:

O INPC/IBGE foi criado inicialmente com o objetivo de orientar os


reajustes de salários dos trabalhadores.
O Sistema Nacional de Preços ao Consumidor - SNIPC efetua a
produção contínua e sistemática de índices de preços ao consumidor
tendo como unidade de coleta estabelecimentos comerciais e de
prestação de serviços, concessionária de serviços públicos e domicílios
(para levantamento de aluguel e condomínio). A população-objetivo do
INPC abrange as famílias com rendimentos mensais compreendidos
entre 1 (hum) e 5 (cinco) salários-mínimos (aproximadamente 50% das
famílias brasileiras), cujo chefe é assalariado em sua ocupação
principal e residente nas áreas urbanas das regiões, qualquer que seja
a fonte de rendimentos, e demais residentes nas áreas urbanas das
regiões metropolitanas abrangidas.

Abrangência geográfica: Regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza,


Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e
Porto Alegre, Brasília e município de Goiânia.

Calculado pelo IBGE entre os dias 1º e 30 de cada mês, compõe-se do


cruzamento de dois parâmetros: a pesquisa de preços nas onze
regiões de maior produção econômica, cruzada com a Pesquisa de
Orçamento Familiar (POF).

Janeiro/2012 - Alterações Significativas: A partir de janeiro/2012 o


INPC passou a ser calculado com base nos valores de despesa obtidos
na Pesquisa de Orçamentos Familiares - POF 2008-2009. A POF é
realizada a cada cinco anos pelo IBGE em todo o território brasileiro
o que permite atualizar os pesos (participação relativa do valor da
despesa de um item consumido em relação à despesa total) dos
produtos e serviços nos orçamentos das famílias. De julho de 2006 à
dezembro de 2011 a base dos índices de preços ao consumidor era a
POF de 2002-2003.

Outra mudança importante: Até 31.12.2011 eram consideradas no


cálculo as famílias com rendimento de 1 à 6 salários mínimos. A partir
de 01.01.2012 isso diminuiu (de 1 à 5 salários mínimos) em função da
elevação real da renda do brasileiro evitando, assim, desvirtuação da
faixa salarial.

Vê-se, pois que, enquanto o INPC abrange as famílias com rendimentos


mensais entre 1 a 5 salários mínimos e é calculado pelo IBGE com base
em pesquisa de preços nas 11 regiões de maior produção econômica
cruzada com a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) - encontro de 2
parâmetros, o IPCA-E, por sua vez, alcança o patamar familiar de 1 a
40 salários mínimos é calculado também IBGE de forma direta,
abrangendo os seguintes setores: alimentação e bebidas, habitação,
artigos de residência, vestuário,transportes, saúde e cuidados pessoais,
despesas pessoais, educação e comunicação, sendo este último (IPCA-
E) mais abrangente e refletindo a real inflação nos principais
setores econômicos que influenciam os gastos familiares de forma
real (sem interferência da POF a qual pode ficar congelada por 5
anos, diversamente do que ocorre na fórmula de cálculo do INPC
que deve ser cruzada com aquela pesquisa).

Não bastasse a eleição de tal índice pelos Tribunais Pátrios, a Lei de


Diretrizes Orçamentárias de 2014 (Lei 12.919/2013), previu no seu
artigo 27 que os precatórios no ano de 2014 serão corrigidos pelo
IPCA-E do IBGE:

Art. 27. A atualização monetária dos precatórios, determinada no § 12


do art. 100 da Constituição Federal, inclusive em relação às causas
trabalhistas, previdenciárias e de acidente do trabalho, observará, no
exercício de 2014, a variação do Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo - Especial - IPCA-E do IBGE. grifou-se.

Corroborando, ainda, a eleição de tal índice, importa consignar que em


sessão ordinária do Conselho da Justiça Federal - CNJ, ocorrida em
25/11/2011, foi aprovado o novo 'Manual de Cálculos da Justiça
Federal' onde passa a incidir o IPCA-e como indexador de Correção
Monetária para as sentenças condenatórias em geral, conforme se pode
verificar no sítio do cjf na internet (www.cjf.jus.br).

Assim sendo, requer seja aplicado, para fins de dar cumprimento à


atualização monetária dos saldos das contas do FGTS prevista no art. 2º
da Lei 8.036/90, o IPCA-E do IBGE, em substituição à TR, desde
janeiro do ano de 1999, a partir de quando tal índice deixou de refletir a
variação inflacionária da moeda. Além disso, tais valores deverão ser
acrescidos de juros de mora de 1% a.m. (um por cento ao mês), a contar
da citação, até o efetivo pagamento.

Subsidiariamente, requer seja aplicado o INPC-IBGE.

8. DA DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DA
APLICAÇÃO DA TR E REDUTOR PARA CORREÇÃO DAS
CONTAS DO FGTS
Pelo todo exposto, caso não seja acolhida de pronto a pretensão
principal de condenar a Ré Caixa Econômica Federal das
diferenças provenientes da aplicação indevida de índices de
correção das contas do FGTS, requer seja declarado judicialmente
a inconstitucionalidade do artigo de lei que prevê a aplicação da
TR para correção monetária do FGTS e requerer a substituição
por outro índice mais apropriado, INPC ou o IPCA, com a
condenação, ainda, da Caixa Econômica Federal a pagar a
diferença existente até atualidade.

Para tanto, requer adesão às ações coletivas ou individualmente.

9. DAS PLANILHAS JUNTADAS:

Junta a autora planilhas contendo o cálculo da diferença a receber


fazendo comparativo da TR com INPC, quais sejam:

Empresa

Valor a ser ressarcido (out. 2013)

R$ 2.263,79

R$ 4,47

R$ 334,60

Assim, o valor a ser ressarcido é R$ 2.602,86, atualizado até outubro de


2013, mais juros e correção monetária a ser feito na fase de liquidação
de sentença.

8. DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS

A requerente teve que recorrer judicialmente para ver seu direito


aplicado e para isso advogou nesta demanda, subtraindo mais perdas e
danos ainda, com petições, audiências, e demais diligências
postulatórias, e tais despesas devem ser ressarcida mediante
condenação da Reclamada a honorários advocatícios sucumbenciais.
O Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil é absolutamente claro
ao dispor que os honorários sucumbenciais[1] são pagos pela parte
vencida ao advogado da parte vencedora.

Não é demais lembrar, ainda, que os honorários, por força do que


expressamente dispõe o caput do art. 24 da Lei n. 8.906/1994, são
tratados como crédito privilegiado, no mesmo nível dos créditos
trabalhistas, em virtude de resultarem da mesma natureza, ou
seja, trabalho humano, privilégio este que deve ser entendido
independentemente da origem dos honorários advocatícios, é dizer,
independentemente de serem honorários contratuais ou sucumbenciais.

Ademais, a ADIN 2736 DF já julgou a correta condenação de


honorários advocatícios nos processos sobre restituição de diferenças
do FGTS, conforme se anexa juntamente com uma decisão. Neste
sentido:

PROCESSUAL CIVIL. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS.


CONDENAÇÃO EM AÇÕES RELATIVAS AO
FGTS. CABIMENTO. INFORMATIVO N. 599 DO STF. ADI N.
2736-DF. INCONSTITUCIONALIDADE DA MP 2164-41/2001. 1.
Diz o Informativo n. 599 do STF, que faz referência ao julgamento da
ADI n. 2736-DF: "O Tribunal julgou procedente pedido formulado em
ação direta proposta pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados
do Brasil para declarar, com efeito ex tunc, a inconstitucionalidade do
art. 9º da Medida Provisória 2.164-41/2001, que acrescentou o art. 29-C
à Lei 8.036/90, o qual suprime a condenação em honorários
advocatícios nas ações entre o Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço - FGTS e os titulares de contas vinculadas, bem como naquelas
em que figurem os respectivos representantes ou substitutos processuais
("Art. 9º A Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990, passa a vigorar com as
seguintes alterações: ... Art. 29-C. Nas ações entre o FGTS e os
titulares de contas vinculadas, bem como naquelas em que figurem os
respectivos representantes ou substitutos processuais, não haverá
condenação em honorários advocatícios."). 2. Apelação provida para
condenar os Autores ao pagamento de honorários advocatícios de R$
2.000,00 (dois mil reais), pro rata. (TRF-1 - AC: 20932 DF 0020932-
58.2002.4.01.3400, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO
BATISTA MOREIRA, Data de Julgamento: 10/11/2010, QUINTA
TURMA, Data de Publicação: e-DJF1 p.65 de 26/11/2010)
Pelo pedido, requer seja condenada a Reclamada a pagamento de
honorários advocatícios sucumbenciais em 20% ante a
INCONSTITUCIONALIDADE DA MP 2164-41/2001 e Informativo
599, do STF.

9. DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer:

Preliminarmente, seja declarada a inconstitucionalidade da taxa TR e a


falta de razoabilidade do redutor da mesma;

a) O recebimento e o processamento da presente demanda, com a


citação da requerida para, querendo, apresentar contestação;

b) Requer a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros


encargos processuais, por ser a Requerente pobre na acepção jurídica
do tema;

c) A procedência da ação para declarar o direito da requerente em ter


seus depósitos vinculados ao FGTS corrigidos monetariamente por
índice que reflita sem perdas a inflação apurada, garantindo, assim, a
recuperação de seu poder aquisitivo, além da condenação da Caixa
Econômica Federal a:

I.a) Pagar, a seu favor, o valor correspondente às diferenças de FGTS


em razão da aplicação da correção monetária pelo INPC nos meses em
que a TR foi desproporcional ou ZERO, nas parcelas vencidas e
vincendas, e;

II.b) Pagar, a seu favor, o valor correspondente às diferenças de FGTS


em razão da aplicação da correção monetária pelo INPC, desde janeiro
de 1999, nos meses em que a TR não foi a zero, mas foi menor que a
inflação do período;

Diferença total estimada na correção pelo INPC na conta da


demandante, como segue na planilha em anexo: R$ 2.602,86 (dois mil
seiscentos e dois reais e oitenta e seis centavos);

III.a) Pagar, a seu favor, o valor correspondente às diferenças de FGTS


em razão da aplicação da correção monetária pelo IPCA nos meses em
que a TR foi desproporcional ou ZERO, nas parcelas vencidas e
vincendas, e;

OU AINDA

III) Pagar a seu favor o valor correspondente às diferenças de FGTS em


razão da aplicação da correção monetária por qualquer outro índice que
reponha as perdas inflacionárias do trabalhador nas contas do FGTS, no
entender deste Douto Juízo, desde janeiro de 1999, inclusive nos meses
em que a TR foi ZERO;

d) Condenar a requerida a pagar, sobre os valores apurados em


conformidade com os itens acima, correção monetária desde a
inadimplência, bem como juros legais;

e) Condenar a suplicada a suportar o pagamento das custas e despesas


processuais, inclusive honorários advocatícios sucumbenciais;

f) Subsidiariamente, requer seja declarada a inconstitucionalidade do


artigo de Lei que aplica a TR como índice de correção das contas do
FGTS com a adesão coletiva ou individual desta ação.

f) A prova do quanto alegado pelos meios em direito admitidos, sem


exceção de quaisquer;

Dá-se a causa o valor de R$ 2.602,86 (dois mil seiscentos e dois reais e


oitenta e seis centavos).

Termos em que,

pede deferimento.

Londrina, 20 de janeiro de 2014.

(assinado digitalmente)

Alessandra Matiko Matsumura

OAB/PR 64.819

[1] Os de sucumbência são os fixados pelo juiz, na sentença,


condenando o vencido, nos termos do art. 20 do Código de Processo
Civil. "Art. 20 - A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor
as despesas que antecipou e os honorários advocatícios. Essa verba
honorária será devida, também, nos casos em que o advogado
funcionar em causa própria. § 3º Os honorários serão fixados entre o
mínimo de 10% (dez por cento) e o máximo de 20% (vinte por cento)
sobre o valor da condenação, atendidos: a) o grau de zelo do
profissional; b) o lugar de prestação do serviço; c) a natureza e
importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo
exigido para o seu serviço. § 4º Nas causas de pequeno valor, nas de
valor inestimável, naquelas em que não houver condenação ou for
vencida a Fazenda Pública, e nas execuções embargadas ou não, os
honorários serão fixados consoante apreciação equitativa do juiz,
atendidas as normas das alíneas a, b e c do parágrafo anterior."

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