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PARTE 3

OPERAÇÕES POLICIAIS ESPECIAIS


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TEXTO 1
SURGIMENTO DO BOPE-RJ
Cap. Edson Raimundo dos Santos (BOPE).

Com o aumento da criminalidade violenta nos idos da década de


70, surgiu a necessidade de se ter no aparelho policial uma Unidade que
possuísse recursos materiais e humanos adequadamente preparados para
situações diversas e específicas.
Nessa conjuntura, o então Capitão da PMERJ, Paulo Amêndola,
percebendo esse déficit técnico na Polícia Militar e após algumas experiências
infelizes em ocorrências nas quais a falta de preparo da tropa ficava evidente,
propôs a criação de um grupo que, a partir de um treinamento específico e
contínuo, estaria apto a atuar nas situações mais singulares.
Em 1974 ocorreu uma rebelião no Galpão da Quinta de São Cristóvão
– Instituto Evaristo de Moraes, que culminou com a morte do Diretor
do Presídio – Major Darcy Bittencourt.1 A rebelião foi comandada pelos
marginais conhecidos como Paulão, Marta Rocha, e Horroroso entre outros
que, ao tentarem fugir, foram impedidos pelos policiais de serviço, fazendo
com que retornassem para as celas e tomassem o Diretor do presídio como
refém.
Após a fuga frustrada, os marginais se homiziaram na cela 18, do
corredor B, com o seu refém, levando as autoridades do sistema de segurança
a uma tentativa de negociação, embora não houvesse ninguém qualificado
na época.
Durante a ocorrência, o Secretário de Segurança determinou que o
Capitão Amêndola fosse ao local, uma vez que o referido oficial era o chefe de
um grupo de intervenções da Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro.

1  Dados extraídos da entrevista do autor com o Coronel Paulo Amêndola.

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Lá chegando, o Capitão constatou a impossibilidade de uma
intervenção tática sem que com isso resultasse na morte do Major. Diante
de tais circunstâncias, o Capitão Amêndola sugeriu aos seus superiores que
atendessem às solicitações dos presos deixando que partissem e que fosse
montado um cerco amplo para recaptura.
No entanto, a opinião das autoridades ligadas aos órgãos de segurança
era a de que os aparelhos Estatais não “poderiam recuar ante ao inimigo”.
Na época a influência militar era forte em todos os atos da vida pública,
principalmente no que dizia respeito à segurança pública e então, com o aval
do Governador do Estado, a ordem era para invadir o presídio.
Perguntado ao Capitão Amêndola quais seriam as perspectivas da
operação, ele deixou bem claro que não seriam as melhores, pois não existiam
no Brasil equipes com treinamento em áreas não convencionais, como
resgate de reféns. Em outros países, como Inglaterra e Israel já havia unidades
treinadas para atuar em situações não convencionais, mas, no Brasil, o mais
próximo que se tinha de tais unidades era o Destacamento de Forças Especiais
do Exército Brasileiro.
A intenção do Capitão Amêndola era negociar até cansar os revoltosos.
Cortar água, luz e, em última análise, após várias horas, entrar no local da crise.
Então, chegou ao local o Oficial Comandante do BPAE – Batalhão
de Polícia de Atividades Especiais, os chamados “caçadores de bandidos”,
indivíduos com muita disposição, porém sem a técnica adequada.
O Comandante do BPAE desejava fazer a operação em conjunto com
o grupo comandado pelo Capitão Amêndola, que de imediato recusou a
proposta, pois, ou assumiria integralmente a missão e a responsabilidade dos
seus atos, ou não participaria da operação. Assim, optou o Capitão por solicitar
autorização para entrar com a equipe do BPAE e observar a ação do grupo de
dentro do presídio.
A equipe de “caçadores de bandidos” entrou no recinto e o primeiro a
morrer com um tiro de escopeta no peito, disparado por um dos policiais, foi o
Diretor do presídio. Tal fato não impediu que o grupo continuasse disparando
dentro do local até não sobrar ninguém vivo.
Naquele momento o Capitão Amêndola jurou que não descansaria
enquanto não criasse um grupo capaz de evitar situações como a vivida pela
família do Major sacrificado naquela rebelião, em 1974. Esse grupo deveria ser

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criado com seriedade e técnica, formando um lastro e plantando uma pequena
semente que com o tempo ficasse entranhada na corporação de tal modo que
fosse uma referência nacional. Não poderia agir jamais na base do “achismo”,
da precipitação, do improviso.
Em 1976 já havia elaborado o esboço do Núcleo da Companhia de
Operações Especiais (NuCOE) e do Curso de Operações Especiais. Em 1977 o
Capitão Amêndola foi apresentado no Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais
e continuou se dedicando aos estudos em atividades de operações policiais
especiais.
Já com todo o material pronto para a criação do NuCOE, sabia que se
enviasse a proposta por um expediente escrito correria o risco de ter todo o seu
trabalho esquecido em uma gaveta. Assim sendo, aproveitou-se do coquetel de
encerramento do curso de aperfeiçoamento, esperou um momento propício,
longe de outras autoridades e foi até o Coronel do Exército Brasileiro Mario
José Sotero de Meneses, Comandante Geral, apresentar sua ideia e agendar
uma reunião.
No dia 12 de janeiro de 1978, às 19:00 horas, o Capitão Amêndola iniciou
a sua apresentação para a criação do NuCOE, tão somente na presença do
Comandante Geral que durante toda a exposição nada falou, e ao final, quando
o Capitão encerrou a exibição, disse que se ele respondesse algumas perguntas
a criação do Núcleo estaria aprovada. Como havia se preparado durante anos,
o Capitão respondeu de pronto a todas elas.
Uma pergunta que merece destaque é sobre a possibilidade de um
elemento desses, que seria treinado e altamente qualificado, trocar de lado. O
que faria para impedir que isso ocorresse? Respondeu que criaria, para prevenir
o problema, uma mística em torno da imagem do combatente de Operações
Especiais. Acredita-se que quando se cria uma mística, ou seja, uma crença
ou sentimento arraigado de devotamento a uma ideia, a uma causa, você
evita uma série de desajustamentos, já que fica muito visado, patrulhado, e o
próprio companheiro não permite que se macule a imagem que a coletividade
tem daquele grupo. Com o tempo, essa crença se tornou uma doutrina de vida,
passando o grupo a ser referência na Polícia Militar, no Governo do Estado e
no Brasil.
O Comandante Geral ficou satisfeito com as respostas e, em 19 de janeiro
de 1978, nasce o NuCOE e também o curso que daria origem ao Curso de
Operações Especiais.

Atividade Policial 5
A estrutura inicial do NuCOE era de três barracas de dez praças, montadas
na parte de trás da antiga Escola de Formação de Oficiais, passando, logo
após, para a antiga casa do Comandante do CFAP (Centro de Formação e
Aperfeiçoamento de Praças).
Depois de alguns anos, o NuCOE foi para as instalações do Batalhão
de Choque. Em junho de 1984 passa a se chamar de CIOE – Companhia de
Operações Especiais e, em março de 1991, BOPE – Batalhão de Operações
Policiais Especiais.
O Boletim PM no 086, de 10 de maio de 1978, publicou que: “o NuCOE
terá emprego em operações policiais militares não convencionais, em missões
contra guerrilha urbana ou rural, e, na condução de missões que venham a
exigir, além de pessoal altamente especializado e com grande preparo técnico,
tático e psicológico, o emprego de armamentos especiais; não devendo
ser empregado em quaisquer modalidades de policiamento preventivo e
em missões de rotina policial-militar. Inicialmente, até que fiquem melhor
estudadas suas atribuições específicas, terá como missão a instrução de
Operações Especiais para a EsFO e para os diversos Cursos em funcionamento
no CFAP, bem como para equipes selecionadas das UOp, podendo atuar em
operações especiais em qualquer parte do Estado”.
O boletim estabelecia, ainda, que as equipes só seriam acionadas por
determinação do Comandante Geral ou do Chefe do Estado Maior da PMERJ
para execução das missões enumeradas acima e outras exclusivamente por
eles determinadas.
A própria natureza das missões atribuídas às equipes de operações
especiais, a partir daí, obrigam os seus componentes a se manterem atualizados
nas mais modernas táticas de ação, constituindo-se tais policiais em veículos
valiosos para a difusão dessas técnicas e conhecimentos no âmbito da Polícia
Militar. As missões podem ser resumidas em: resgate de reféns, reforço a
policiais confrontados com resistência armada e cumprimento de mandados
de alto risco.
Atualmente o BOPE possui o efetivo aproximado de 400 homens que
estão diuturnamente prontos para defenderem o Estado Democrático de
Direito, todos combatendo o bom combate e guardando a fé de ver um dia os
cidadãos de bem livres da tirania do tráfico.

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TEXTO 2
COMANDO DE OPERAÇÕES TÁTICAS DA POLÍCIA FEDERAL
Eduardo Maia Betini2

O lema
“A qualquer hora, em qualquer lugar, para qualquer missão.”

Este é o lema do Comando de Operações Táticas, Grupo de Operações


Especiais da Polícia Federal que está em atividade desde dezembro de 1987.
Esta Unidade possui como símbolo uma águia carregando um fuzil. Segundo
a heráldica, a águia significa coragem, audácia, versatilidade, astúcia e
sagacidade, enquanto o fuzil representa o seu poder de fogo, formando um
conjunto arrojado, poderoso e harmônico.
Poucas pessoas sabem, mas foi o COT que atuou no caso do Boeing
737 da Vasp, apoderado por um sequestrador com distúrbios psicológicos,
que tomou a cabine de comando do avião e matou o copiloto. A situação
somente foi resolvida por meio da intervenção dos Atiradores de Precisão do
Comando, em uma ação discreta e precisa, durante o pouso da aeronave para
reabastecimento. Os demais integrantes da tripulação e todos os passageiros
foram libertados com êxito. O COT também atuou no caso do avião Bandeirantes
tomado no Pará em 1989. Em uma tentativa de fuga, após cometer um assalto
a banco, um grupo de fanáticos religiosos apoderou-se da aeronave, fazendo
cinco reféns. Quatro deles foram libertados através de negociação, o quinto foi
resgatado pelo grupo tático. O líder do bando foi preso e quatro sequestradores
cometeram suicídio.

2  Eduardo Maia Betini é Agente de Polícia Federal desde 2001, atualmente lotado no Comando de
Operações Táticas, autor do livro Charlie Oscar Tango – Por dentro do Grupo de Operações Especiais
da Polícia Federal.

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A quantidade de missões cumpridas pela Unidade de Elite durante
estes vinte e dois anos é impressionante. Mais ainda se considerarmos que
são missões de alto risco, desenvolvidas em todo o território nacional e
com objetivos variados. Por conta destes fatores, a principal característica
do Grupo é a versatilidade. Em uma mesma semana um operador do COT
pode atuar em uma missão de reconhecimento em um bairro nobre de uma
capital do País ou pode realizar uma patrulha rural em missão de repressão
a assalto a banco no sertão nordestino, atividade criminosa conhecida como
“novo cangaço”. Associações criminosas com até vinte integrantes fortemente
armados com fuzis calibre 7.62, munição abundante e até metralhadoras
antiaéreas calibre.50 invadem pequenas cidades isoladas (principalmente nas
regiões Norte e Nordeste), onde existem poucos policiais e instauram nestas
comunidades o caos. Para atuar em missões deste tipo o Comando conta com
o apoio do Setor de Inteligência do Departamento de Polícia Federal, composto
por policiais com capacidade e competência largamente reconhecida. A ação
da Inteligência é fundamental na obtenção de informações que propiciem aos
policiais do COT anteciparem-se aos criminosos. Isto proporciona a tão desejada
superioridade relativa em detrimento da superioridade numérica, além de
favorecer a adoção de ações pontuais, cirúrgicas e com risco mínimo para a
sociedade. Mas o policial do COT pode ainda executar os dois tipos de missão
em uma mesma semana, por isso a preocupação constante do Grupo com
o treinamento e com a doutrina. No COT, erros não são admitidos, treina-se
muito para obter-se o máximo em resultados com o mínimo de desgaste.

Competência do COT

A competência da Polícia Federal é definida pelo art. 144 da Constituição


Federal. A competência do COT, em particular, é definida pelo art. 19 da
Instrução Normativa número 013, de junho de 2005, do Departamento de
Polícia Federal:
Art. 19. À Coordenação do Comando de Operações Táticas compete:
I – propor à Direção-Geral do DPF diretrizes de política de operações
policiais referentes a ações táticas e de gerenciamento de crises;
II – planejar, promover, coordenar e avaliar, no âmbito do DPF, a
execução das ações táticas, nas situações de sequestro, de apoderamento
ilícito de aeronaves, ressalvada a competência militar, e de emprego de
ações terroristas;

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III – apoiar as unidades centrais e descentralizadas no desempenho de
ações táticas, cujas características exijam policiais com treinamentos
específicos em armas e táticas especiais, concorrendo com os meios
necessários, e informando o Diretor da DIREX sobre seus resultados;
IV – propor diretrizes específicas de planejamento, controle e
desenvolvimento de ações táticas, bem como estabelecer prioridades
para a otimização do uso de armamentos, munições e equipamentos
táticos;
V – planejar, promover e coordenar treinamentos e cursos técnicos e
táticos especializados em sua área de atuação;
VI – supervisionar testes e verificações em armamentos, munições e
equipamentos para emprego policial federal;
VII – promover o intercâmbio de informações com outros órgãos
governamentais e autoridades policiais constituídas no País, além de
entidades congêneres estrangeiras;
VIII – promover o processo seletivo interno, o treinamento e a
especialização de policiais federais destinados a integrar sua equipe;
IX – organizar, manter e controlar o acervo de Leis, Tratados,
Acordos, Convênios, Normas e demais informações correlatas às suas
atribuições;
X – colaborar com a ANP/DGP na orientação do planejamento e da
execução do ensino da matéria de sua atribuição;
XI – promover o controle estatístico dos indicadores referentes às
atividades e aos resultados das operações policiais relacionadas à sua
atribuição, tendo em vista subsidiar a gestão do Diretor da DIREX.

Histórico e estrutura

Para conhecer a história do COT devemos remeter-nos ao ano de


1983, quando uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, responsável
por apurar atos de terrorismo no país, e preocupada com a evolução destas
ações, recomendou ao Ministério da Justiça a especialização de um grupo
de policiais no âmbito federal para o combate aos crimes dessa natureza.
A maior preocupação era com incidentes envolvendo sequestro de aeronaves
e atentados a bomba. No ano seguinte, a direção da Polícia Federal realizou
estudos visando à implementação desse grupo especial, levada a termo
finalmente em 1987. Somente no ano de 1989 sua sede foi construída no Setor

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Policial Sul, em Brasília, Distrito Federal, junto à Superintendência de Polícia
Federal.
A sede do COT ocupa uma área de aproximadamente 40.000 m2 (quatro
hectares). O grupo, ao longo de sua história, vem sofrendo constantes melhorias
em sua infraestrutura. A Unidade dispõe de: estande de tiro iluminado
com extensão de cem metros, estande de tiro coberto, pista de cooper com
900 metros e múltiplas estações de atividade física, muro especial para
treinamento com explosivos, pista de cordas, pista de obstáculos, heliponto,
caixa de areia, casa de tiro, torre para treinamento de técnicas em ambiente
vertical, sala de recarga, auditório, setor de operações táticas (SOT), setor de
estratégias táticas (SET), setor de inteligência, sala do grupo de assalto, sala
de atiradores de precisão, academia de musculação, tatame, alojamentos e
setor administrativo. Existe, ainda, uma série de edificações em construção,
como a cidade cenográfica com 1200 m2 e o tanque tático para treinamento de
mergulho e operações anfíbias. A construção do novo edifício sede (4o prédio)
já foi aprovada e está em fase de licitação.
Quando forem concluídas todas as obras, o COT se tornará um dos maiores
centros de treinamento em Operações Especiais do mundo com infraestrutura
de ponta, além de equipamentos de última geração e profissionais com
qualidade reconhecida nacional e internacionalmente.

Equipamentos

Logo no primeiro dia do Curso o aluno, candidato a se tornar um


“cotiano”, aprende a importância que o grupo dá ao equipamento. “Mantenha
seu corpo, armamento e equipamento em boas condições.” É o que nos ensina
uma das Leis da Guerra na Selva, seguida à risca pelos integrantes da Unidade.
Já no primeiro dia de trabalho cada operador recebe sua pistola Glock G17
calibre 9mm, uma submetralhadora HK MP5 SD (supressor de ruídos) calibre
9mm ou uma submetralhadora HK MP5 A5, um fuzil de assalto Colt M16 A2
ou um HK-G36, ambos calibre 5,56mm. Este é o armamento básico que cada
policial utilizará nos cursos, treinamentos e missões que desempenhará pelo
Comando. Na verdade, ele recebe todo este equipamento antes mesmo de
estar oficialmente lotado no COT. Por ocasião do início do Curso de Operações
Táticas, o policial aluno passa a utilizar todos os equipamentos disponíveis.
Dependendo da missão o operador pode ainda utilizar outros armamentos,

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como as espingardas Franchi SPAS 15 calibre 12, espingardas CBC calibre 12,
espingardas Benelli calibre 12, lançadores de munição 37/38 mm, lançadores
de munição 40 mm, metralhadora Colt M16 A2 LMG (Light Machine Gun)
calibre 5,56mm, fuzis de precisão Remington 700, HK PSG1 e HK MSG90 todos
calibre 7,62mm ou ainda fuzis de precisão Sig Sauer Blazer Tactical SR92 nos
calibres.338 ou.308. Dispõe ainda de armamentos diversos para testes ou
missões especiais. O Operador deve reconhecer, saber identificar e manusear
diferentes tipos de armamentos e equipamentos.
Quanto a outros tipos de equipamentos, existe uma gama disponível
para serem utilizados de acordo com o propósito de cada missão: binóculos
termais com gravador de vídeo e GPS embutido, visores noturnos, binóculos,
lunetas, material para arrombamento, material de alpinismo, explosivos
e materiais afins, canhão disruptor, coletes balísticos resistentes a tiros de
fuzil, equipamentos de proteção individual e coletivo (EPI e EPC), munição
de impacto controlado, artefatos de condutividade elétrica (Taser), granadas
fumígenas e lacrimogêneas, bastões retráteis, capacetes balísticos, escudos
balísticos, equipamentos de controle de distúrbio civil, barcos infláveis de
assalto com motores de popa, paraquedas, equipamentos de mergulho
autônomo, equipamento hidráulico de abertura, entre outros.
O COT conta, para seu deslocamento, com os aviões e helicópteros da
CAOP (Coordenação de Aviação Operacional do DPF), inclusive um jato
Embraer 145. Ademais, esta Unidade proporciona apoio aerotático nas
missões desencadeadas pelo COT, atuando ambas em estreita sintonia. Para os
deslocamentos terrestres, o Comando possui ônibus adaptado para funcionar
como gabinete móvel de gerenciamento de crises, caminhão para transporte
de equipamentos (Caminhão Tático), microônibus, vans, viaturas off-road,
viaturas blindadas, motos 400 cilindradas preparadas para motocross, motos
trail 600 cilindradas e motos superesportivas de 1000 cilindradas.

A rotina

É importante que o operador tenha grande adaptabilidade geográfica e


que conheça a fundo as peculiaridades culturais das várias regiões no Brasil.
Nosso País é continental e conhecido pela riqueza e diversidade quanto a
estes aspectos. O policial deve então saber escolher as vestimentas adequadas
para cada região, assim como evitar sotaques acentuados e regionalismos que
denunciem se tratar de pessoa de outra parte do País. Pequenos detalhes como

Atividade Policial 11
esses, se negligenciados, podem colocar em risco uma missão. Como o Grupo
tem como principal objetivo o cumprimento de missões de alto risco, não
pode descuidar do Princípio da Segurança.
Na tabela abaixo são apresentadas informações acerca do número de
componentes e a quantidade de missões executadas pelo COT, em média,
comparativamente com dados de alguns dos principais grupos similares em
outros países. Grupos estes com os quais o Comando mantém intercâmbio
doutrinário e de treinamento constantes.
Quantidade de missões cumpridas por diversos Grupos de Operações
Especiais em vários
País Grupo Área do País * Comparativo População Membros Missões/ano
EUA HRT 9.363.520 km2 Possui uma área pouco 308.798.281 100 Cerca de 4
maior que a do Estado do MT milhões
FBI a mais que a área do Brasil.
França RAID 551.500 km2 Menor que o Estado de MG 61.945.598 120 20 em média
milhões de
habitantes
Alemanha GSG-9 356.733 km2 Menor que o Estado do MS 82.534.211 220 Inferior a 20
milhões de
habitantes
Portugal GOE 93.389 km2 Menor que o Estado de PE 10.661.632 120 Inferior a 15
milhões
Espanha GEO 504.782 km2 Menor que o Estado de MG 44.592.770 120 Cerca de 25
milhões
Brasil COT 8.514.876 km2 194.227.984 43 Cerca de 103
milhões
*Fonte: site http://www.ibge.gov.br/paisesat/main.php

Uma análise superficial da tabela acima evidencia realidade que por si


só explica a grande experiência operacional que um Policial Federal do COT
adquire. Ele treina muito, opera muito e quando atinge maturidade suficiente,
passa, via de regra, a atuar como instrutor. Operar, treinar e dar instrução é
a rotina profissional de um “cotiano”. Procuramos manter uma relação que
chamamos 70/30. Significa que o ideal para um integrante de um Grupo de
Operações Especiais é treinar 70% do tempo e operar 30%. Caso contrário,
poderá ocorrer perecimento de um dos fundamentos mais importantes deste
tipo de grupo, qual seja, a Fidelidade aos Princípios Doutrinários.

O curso

O curso do COT prepara o futuro operador para atuar nos mais diversos
ecossistemas brasileiros, de acordo com as peculiaridades e regionalismos de

12 Atividade Policial
cada um deles. Durante um período que pode variar de quatro a cinco meses,
o futuro “cotiano” terá instruções das seguintes matérias: primeiros socorros;
resgate de feridos; armamento e tiro; uso progressivo da força; combate corpo a
corpo; Estágio de Combatente de Montanha do Exército Brasileiro em São João
Del Rey, Minas Gerais; orientação e navegação terrestre; técnicas de abertura;
técnicas em ambiente vertical; Curso Expedito de Operações Ribeirinhas
da Marinha do Brasil em Manaus, Amazonas; direção ofensiva; controle de
distúrbios civis; técnicas e tecnologias menos letais; gerenciamento de crises;
negociação; noções de tiro de precisão; retomada de edificações; retomada
de ônibus; retomada de trem e metrô; retomada de navio (Rio de Janeiro);
retomada de aeronaves (São Paulo); Estágio de Adaptação à Caatinga na
CIOSAC, Polícia Militar de Pernambuco; abordagem e condução de cidadãos
infratores; operações aéreas; paraquedismo; combate e sobrevivência na selva;
salvamento aquático; sobrevivência na água; Estágio de Aplicações Táticas no
BOPE, Polícia Militar do Rio de Janeiro; radiocomunicação; antiterrorismo
e contraterrorismo; patrulha rural; patrulha urbana; noções de chefia e
liderança; planejamento operacional e explosivos.
O Curso de Operações Táticas tem duração média aproximada de
800 horas aula, perfazendo um total de cerca de 18 semanas. É dividido em
duas fases. A primeira é chamada de fase de rusticidade, onde o objetivo é
justamente o de romper a zona de conforto do policial, chamada também de
“balança roseira” ou “peneiramento”, o qual tem como objetivo manter no curso
somente os policiais mais motivados e preparados física e psicologicamente
para situações adversas. Esta é uma forma de garantir que permaneçam
apenas aqueles que apresentem, como características inatas, atitude positiva
e proatividade. A segunda é a fase técnica, cujo objetivo é proporcionar
ao instruendo conhecimentos e habilidades necessários à proficiência em
Operações Especiais.

Treinamento

Para manter a qualidade na atuação do Grupo, os integrantes seguem


uma rotina pesada de treinamento, visando manter elevado nível técnico.
Não basta formar o operador, o treinamento deve ser constante e a formação
continuada. O QTS (Quadro de Trabalho Semanal), dirigido aos integrantes do
COT, subdivide-se nas mesmas disciplinas constantes do Curso, o que muda

Atividade Policial 13
é a periodicidade. Além disso, de acordo com determinada missão, pode-se
alterar o Quadro de Trabalho para que a preparação seja específica, dentro de
uma estratégia de objetivos limitados e ações pontuais.
Os policiais lotados no COT recebem treinamento em alguns dos
melhores grupos internacionais de Operações Especiais, como o GSG-9 da
Alemanha, o RAID da França, o GOE de Portugal, o GEO da Espanha e o HRT
– FBI, dos Estados Unidos. Entretanto, ao longo dos anos, seus integrantes
desenvolveram consistente doutrina própria. O COT é um centro de excelência
em treinamento operacional nas diversas áreas em que atua. Os cursos e
treinamentos oferecidos pela Unidade são disputados por policiais do Brasil
e do mundo. Nestes vinte e dois anos em atividade, o Comando tornou-se
referência nacional e alcançou reconhecimento em nível mundial.
O quadro de policiais do COT é propositadamente variado, integrado
por profissionais das mais diversas áreas, o que reforça a sua vocação
multidisciplinar. Há bacharéis em Direito, Psicólogos, Agrônomos,
Odontólogos, Contadores, entre outros, muitos deles com especialização
e mestrado. Muitos inclusive, possuem dois ou mais cursos superiores e a
maioria é fluente em pelo menos um idioma estrangeiro.
Sem dúvida, a maior riqueza do COT são seus recursos humanos. Na
Unidade não se discute a importância do trinômio homem, equipamento
e treinamento. Contudo, todos sabem que dos três, o ser humano é
indubitavelmente o mais importante, sobretudo em razão da sua capacidade
em A.I.S. (Adaptar, Improvisar, Superar). “Seres humanos são mais importantes
do que equipamentos” é um dos paradigmas que compõe as Quatro Verdades
das Operações Especiais.

Fundamentos éticos e mandamentos

Os fundamentos éticos, comuns aos Grupos de Operações Especiais,


são: responsabilidade coletiva; fidelidade aos princípios doutrinários;
voluntariado; dever de silêncio (o operador deve ser discreto em sua vida
profissional e particular) e comprometimento. Esses fundamentos precisam
ser absorvidos integralmente para a manutenção dos pressupostos éticos e
morais do indivíduo e do grupo como um todo.
Além dos fundamentos éticos, os mandamentos dos Operações
Especiais ajudam a manter o moral elevado. São eles: 1o – Agressividade

14 Atividade Policial
controlada; 2o – Controle emocional; 3o – Disciplina consciente; 4o – Espírito
de corpo; 5o – Flexibilidade; 6o – Honestidade; 7o – Iniciativa; 8o – Lealdade;
9o – Liderança; 10o – Perseverança e 11o – Versatilidade.
Seja no Curso, seja no treinamento diário ou em uma missão qualquer,
é importante que o grupo mantenha o foco nos fundamentos éticos e nos
mandamentos. São fatores importantes, que servem como balizamento da
conduta exigida de um homem de Operações Especiais. Apresentam reflexos
também na união, unidade e uniformidade do Grupo, conhecidos como os
três “U´s”, responsáveis pela formação de uma espécie de cimento invisível
que mantém unidos seus integrantes, sobretudo após passarem por grandes
dificuldades lado a lado.

Princípios

Os Sete Princípios das Operações Especiais servem, juntamente com


todo o envelope doutrinário constante das práticas adotadas no COT, para
nortear as ações desenvolvidas pelo Comando. O primeiro Princípio é o da
Segurança. Toda ação deve estar fundamentada na adoção de técnicas que
minimizem o risco. Por isso a atenção é redobrada e os detalhes são observados
à risca, pois são neles que pecam muitos operadores, principalmente quando
submetidos a uma rotina repetitiva de trabalho. O segundo Princípio é o da
Simplicidade, que prega a economia de forças, que evita o “desperdício de
energia.” Como subprincípio deste há o que chamamos de disciplina de
rádio, ou seja, a permissão para a utilização do radiocomunicador apenas
quando absolutamente necessário. Se existem duas maneiras de executar
uma tarefa com os mesmos resultados, escolha a mais simples, pois a
chance de erro é menor. No COT, costuma-se chama-lo de “Princípio do
Queijo Suíço”. A lógica é engraçada e bem ilustrativa. O raciocínio, uma
brincadeira, é mais ou menos este: “quanto mais queijo mais buraco, quanto
mais buraco menos queijo, portanto, quanto mais queijo, menos queijo.”
O terceiro Princípio, depois de Segurança e Simplicidade, é o da Surpresa.
Com a surpresa busca-se a superioridade relativa, tipo de vantagem tática
que um grupo “x” pode apresentar sobre um outro grupo “y”, mais numeroso
(superioridade numérica) por valer-se de elementos de estratégia de ação
indireta. O quarto Princípio é o da Rapidez. Conceito forjado e fortalecido
com as técnicas da francé carrer e da blitzerkrieg, ensina que o tempo é

Atividade Policial 15
fator crucial nas atividades de alto risco. Enquanto a velocidade reflete um
conceito de deslocamento no espaço pelo tempo, a rapidez traz consigo
o conceito de velocidade ponderado pelos outros Princípios como, por
exemplo, Segurança e Surpresa. No COT, costuma-se dizer de forma jocosa:
“Quanto mais rápido, mais rápido”. Tempo é um luxo do qual raramente se
dispõe nas operações. O quinto Princípio é o da Repetição, caracterizado
pela importância do treinamento constante. É comum se ouvir durante os
treinos no COT, quando algum policial já está exausto, o companheiro dizer:
“Vamos lá, repetição consciente, com correção, até a exaustão leva à perfeição”.
Por fim, como Princípio que fundamenta os demais, está o do Propósito, ou
seja, o objetivo final da missão. É ele que norteia toda a conduta operacional,
é a própria razão de ser do Grupo. Está presente no lema do COT e funciona
como argumento de autoridade quanto à própria existência do Comando.
O operador deve focar no objetivo final. Costuma-se dizer que aquele que
não sabe aonde quer chegar corre o risco de não chegar a lugar algum. Ocorre
que, não raro, por simples ignorância ou ausência de princípios doutrinários,
muitos Grupos de Operações Especiais são utilizados, ou subutilizados em
missões de caráter amplo e genérico. Este é um erro por inobservância da
regra básica que enuncia que tais grupos não devem ser empregados em
missões indefinidas ou com objetivos indeterminados. Ao contrário, sua
atuação deve ser pontual, limitada e definida.

Visão de Futuro

O Comando de Operações Táticas representa, dentro do contexto da


Segurança Pública brasileira, modelo de Operações Especiais. Por vocação, a
Unidade tornou-se centro de produção e irradiação de doutrinas referentes
ao tema. Atuando na amplitude do nosso País, acumula experiência
em praticamente todos os cenários geográficos e sociais nele inseridos.
Operando em ações de alto risco, consegue aplicar os conceitos relativos à
Segurança Cidadã que orientam a Direção da Polícia Federal. Ainda neste
viés, atua de acordo com rígidos critérios de gestão do uso da força e em
conformidade com os Direitos Humanos e outros tratados e convenções de
Direito Internacional, dos quais o Brasil é signatário como, por exemplo, os
Princípios Básicos do Uso da Força e Armas de Fogo (ONU, 1990). O COT
mantém intercâmbio com vários grupos afins no Brasil e no exterior, tanto no

16 Atividade Policial
que diz respeito à doutrina e treinamento quanto a ações coordenadas entre
eles; disponibiliza aos operadores equipamentos, armamentos e estrutura
de alta qualidade, colocados à prova constantemente, nas inúmeras missões
reais e nos cursos e treinamentos efetuados; recebe e processa, antes de
suas missões, informações e dados provenientes de outros setores da Polícia
Federal, em uma estreita relação mutualística entre Inteligência Policial
e Operações Especiais. Dispõe, na composição de seu quadro, de policiais
altamente motivados pela vocação em atuar em operações especiais e
pelas condições favoráveis de trabalho como, por exemplo, a possibilidade
constante de capacitação profissional. Finalmente, a convergência de
todos estes fatores resulta no trinômio ideal: estrutura, valores e recursos.
A otimização do trinômio resulta, por sua vez, na otimização dos resultados
obtidos, formando um círculo virtuoso, ou seja, um sistema autossustentável
e positivo, fundamental para o aperfeiçoamento do tema Operações Especiais
dentro da estrutura da Segurança Pública brasileira.

Atividade Policial 17
18
TEXTO 3
A IMPORTÂNCIA DOS GRUPOS TÁTICOS NO
ÂMBITO DAS POLÍCIAS CIVIS
Marcelo Fernandes3

INTRODUÇÃO

Conceito e origem dos Grupos Táticos

No Brasil, quando nos referimos a Grupos Táticos no âmbito


policial, obrigatoriamente vem à tona a sigla SWAT – Special Weapons
and Tatics, que traduzida para o português, significa “armas e táticas
especiais”. Conforme narram THOMÉ e SALIGNAC (2001) – dois policiais
pertencentes a instituições de Polícia Judiciária no país – o conceito
policial de SWAT foi utilizado primeiramente pelo Departamento de Polícia
de Los Angeles – EUA, tendo se originado a partir da formação de um
grupo anti-sniper, criado em 1965, denominado inicialmente de WATTS,
para atuação em situações críticas, levantes, motins, revoltas (em inglês,
riots), o que ensejava a expressão WATTS riots que, combinada e analisada
conjuntamente, significa uma pessoa que está em comportamento violento
em lugar público contra a qual deva ser utilizada uma força – a unidade de
medição da força elétrica (watt), acrescido do “s” (special), que significa
“especial” em português. Por uma questão eminentemente política, e já
que o mencionado grupo especial deveria enfrentar situações específicas
de confronto entre a Polícia e os criminosos, devendo tal ação ser explicada
para a sociedade, a denominação de tal grupo especializado da Polícia

3  Delegado de Polícia de carreira, Polícia Civil do Distrito Federal.


E-mail: marcelofernandes@pcdf.df.gov.br.

19
evoluiu para SWAT, significando “armas e táticas especiais”, para o público
externo, porém sem perder a ideia de poder nem a mística inicial de “força
elétrica” ou qualquer coisa nesta acepção.

Criação dos Grupos Táticos

Segundo os autores supracitados, os denominados Grupos Táticos


devem ser criados no âmbito das Polícias por intermédio de mandamento
governamental, sendo de extrema importância a participação do Chefe
do Poder Executivo, uma vez que, quando utilizados, deverão ter todo
um respaldo e apoio da Administração. A atuação dos grupos táticos,
necessariamente, acarreta três níveis de decisão, que envolve a habilidade do
grupo, a oportunidade do momento e o perigo real que existe para os reféns,
policiais e criminosos, sendo certo que a Polícia responde pelos três itens,
notadamente a habilidade do grupo, e, os políticos, apenas pelos dois últimos,
sendo necessário que o grupo especial seja criado, reconhecido e mantido
pelo Governo, através dos órgãos policiais.
Ressaltam ainda que a organização e a montagem de um Grupo Tático
exige de seu criador grande responsabilidade, em razão das dificuldades
pelos aspectos e peculiaridades que envolvem a dinâmica necessária ao
fato novo, uma vez que o mencionado grupo será considerado uma força
de elite, com atribuições diferenciadas, o que por si só poderá acarretar
sentimentos aversivos por parte das demais unidades policiais, o que deve
ser continuamente superado por todos, sob pena de faltar o elemento
essencial em qualquer operação policial: a cooperação. Definida a criação e
atribuições do Grupo Tático, isto é, onde e quando irá atuar, deve-se atentar
para a seleção de seus componentes, levando-se em conta alguns pontos
doutrinários que devem preponderar sobre quaisquer outras circunstâncias,
principalmente de ordem política e/ou administrativa, devendo o policial
candidato ser voluntário, possuir um excelente preparo físico e técnico,
ser dotado de inteligência, de estabilidade emocional, de iniciativa e de
tirocínio, qualidades que o tornam, pelo menos em tese, apto a compor a
equipe especial.

20 Atividade Policial
Necessidade

Ante a violência que vem assolando o Brasil nos últimos tempos, a


sociedade clama por uma resposta imediata e eficaz por parte do Estado,
mediante a implementação de ações proficientes no combate à criminalidade
– cada vez mais organizada e bem armada, sustentando constantemente as
mais diversas práticas ilícitas e uma avassaladora expansão da violência em
todo o país. O Estado por sua vez conta sempre com seu aparato policial para
fazer frente a tais situações – na maioria das vezes sem propiciar meios para
tanto – exigindo da Polícia Civil, instituição responsável constitucionalmente
pelas funções de polícia judiciária e apuração das infrações penais, uma
solução eficiente e, acima de tudo, legal e moralmente aceitável; daí a extrema
necessidade da criação de grupos de policiais criteriosamente selecionados,
capacitados no emprego de técnicas, táticas, equipamentos e armamentos
especiais, visando uma atuação imediata e eficaz, em especial nas denominadas
situações policiais críticas, onde haja uma possível tomada de reféns ou a
restrição de liberdade de pessoas por parte dos perpetradores, além da real
possibilidade de confronto armado, fatores que tornam a ação da Polícia muito
mais complexa e delicada, em razão da presença de pessoas inocentes no
cenário da crise, exigindo dos operadores habilidades específicas adquiridas
por intermédio de treinamento constante, sempre norteando a ação policial
pelo escalonamento do uso deliberado da força legal e legítima, se necessário
for, priorizando-se a solução negociada, que tem como principal objetivo a
preservação da vida, seja ela do policial, da vítima/refém, do criminoso ou de
quaisquer outros presentes à cena.

DESENVOLVIMENTO

Objetivos dos Grupos Táticos

Há alguns anos, Polícias Civis em todo o país, vem procurando


implementar em suas estruturas organizacionais grupos de policiais em
constante treinamento, capacitados para o pronto emprego de técnicas, táticas,
equipamentos e armamentos especiais, em condições de prestar apoio tático-
-operacional às demais unidades policiais convencionais. Tal objetivo consiste
em atuação e intervenção nas situações consideradas de alto risco atribuídas

Atividade Policial 21
legalmente à polícia repressiva, tais como o cumprimento de mandados
de prisão de criminosos de alta periculosidade, de mandados de busca e
apreensão em locais de alto risco, a realização de operações de repressão à
criminalidade em locais onde a incidência de crimes esteja exorbitante, bem
como em todas as demais situações policiais que, devido à complexidade
dos acontecimentos e da ação delituosa perpetrada, sejam consideradas
críticas, exigindo uma resposta especial por parte do órgão responsável
pelas, ressalvada a competência da União, funções de polícia judiciária e a
apuração de infrações penais, exceto as militares, conforme reza o art. 144
§ 4o da Constituição Federal, que descreve as atribuições legais de cunho
repressivo pertinentes às Polícias Civis do Distrito Federal e dos Estados.

Importância dos Grupos Táticos

A criação dos mencionados grupos e a consequente seleção de policiais


para compô-los, vem corroborando significativamente o trabalho de
investigação, atuando aqueles como órgãos executores das medidas de cunho
repressivo pertinentes à atividade investigativa.

Atuação dos Grupos Táticos

A atuação dos Grupos Táticos nas denominadas situações policiais críticas,


em especial naquelas em que haja a tomada de reféns ou a restrição de liberdade,
é pautada em fundamentação doutrinária que estabelece o escalonamento do
uso da força, priorizando-se o emprego da tática da negociação, por intermédio
de um negociador policial habilitado, o qual se utiliza de técnicas de persuasão
visando dissuadir o(s) perpetrador(es); caso a negociação se mostre ineficiente
para a situação, seguindo o escalonamento de uso da força, será priorizado em
seguida o emprego de agentes químicos não letais, e, em último caso o tiro de
incapacitação (sniper policial) em concomitância com a atuação da equipe de
intervenção.
Na visão de THOMÉ e SALIGNAC (2001), os “Grupos Táticos” ou “Grupos
de Elite” no âmbito das Polícias, tem a atribuição específica de assalto ou invasão
ao ponto crítico, posicionamento não compactuado por este autor, uma vez que
entendo possuir a denominação Grupo Tático uma abrangência muito além do
que um grupo com a função única de assalto ou invasão, a entrada deliberada ou
de emergência trata-se apenas de uma tática que pode ou não ser utilizada, sendo
a negociação e a utilização de observadores/snipers outras táticas disponíveis.

22 Atividade Policial
Neste diapasão considero como Grupo Tático todo um conjunto que envolva
as atividades inerentes às situações policiais críticas, devendo subdividir-se
em equipe de intervenção (destinada à invasão do ponto crítico se necessária),
de negociação (responsável pela implementação da tática da negociação,
ainda que utilizada para ganhar tempo ou como elemento de distração do
perpetrador), de observadores/snipers (responsável pela observação do local,
coleta de informações, segurança do negociador e da equipe de intervenção,
bem como pela incapacitação do perpetrador se assim deliberado) e equipe de
apoio (responsável pelo suporte logístico), as quais devem atuar em sintonia e
de forma coordenada, norteando-se a ação policial pelo escalonamento do uso
da força, primando sempre pela preservação da vida, consoante a doutrina de
Gerenciamento de Crises.

A Divisão de Operações Especiais da PCDF

A Divisão de Operações Especiais é considerada “Grupo Tático” ou de


“Elite” da Polícia Civil do Distrito Federal e tem sua estrutura subdividida
em seções com atribuições específicas, onde as equipes de negociação,
intervenção, observadores/snipers e de apoio, atuam em conjunto, de forma
sincronizada, possibilitando ao gerente de uma situação policial crítica, a
disponibilidade imediata de todos, ou pelo menos quase todos os recursos
necessários a sua resolução.
A Polícia Civil do Distrito Federal criou no ano de 1988, a Divisão de
Operações Especiais – DOE4, subordinada ao Departamento de Atividades
Especiais e destinada ao apoio tático-operacional às demais unidades policiais
da PCDF, bem como a outros órgãos, dentro de suas atribuições legais. A Divisão
de Operações Especiais subdivide-se em 04 (quatro) Seções de Operações
Especiais (SOE I / SOE II / SOE III / SOE IV), as quais funcionam em regime
de plantão e destinam-se ao pronto atendimento e apoio tático-operacional
às unidades policiais da PCDF, bem como a outros órgãos que necessitem de
apoio no âmbito da polícia repressiva; 01 (uma) Seção de Operações e Resgate
(SOR), destinada à atuação e intervenção em situações específicas em que haja
a tomada de refém (ns) ou restrição de liberdade, contando a referida seção
com 01 (uma) equipe de intervenção (resgate) composta por 12 (doze) policiais
e 04 (quatro) observadores/atiradores de precisão (snipers); 01 (uma) Seção
4 http://www.pcdf.df.gov.br

Atividade Policial 23
de Gerenciamento de Crises (SGC), destinada ao gerenciamento das situações
policiais críticas de responsabilidade da Divisão, tendo em sua estrutura uma
equipe de negociadores em escala de sobreaviso 24 (vinte e quatro) horas por
dia; 01 (uma) Seção de Proteção à Pessoa (SPP), responsável pela proteção
de pessoas que por algum motivo estejam sofrendo ameaça, em atual ou
iminente risco de vida; 01 (uma) Seção de Cinofilia (SC), a qual encontra-se
em fase de implantação; 01(uma) Seção de Apoio Administrativo, Estatística e
Informática (SAAEI), responsável por toda a parte administrativa, bem como
elaboração das estatísticas e informática; e finalmente, o Gabinete da Direção
(GAB/DOE); sendo inerentes à Divisão, além das atribuições anteriormente
mencionadas, outras atribuições específicas previstas nas Normas Gerais de
Atuação da PCDF

Grupos Táticos de outras Polícias Civis dos Estados

Ressalta-se a existência de vários outros grupos especiais criados no


âmbito das polícias civis, como a Coordenadoria de Recursos Especiais – CORE
da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro;5 o Grupo de Operações Especiais –
GOE, Grupo Especial de Resgate – GER, Grupo Armado de Repressão a Roubo
e Assalto – GARRA e o Setor de Operações Especiais do Departamento de
Narcóticos – SOE/DENARC, todos da Polícia Civil do Estado de São Paulo;6 o
Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial – T.I.G.R.E. e o Centro de
Operações Policiais Especiais – COPE da Polícia Civil do Estado do Paraná;7 o
Grupo Tático 3 – GT 3 da Polícia Civil do Estado de Goiás;8 o Centro de Operações
Especiais – COE da Polícia Civil da Bahia;9 a Gerência de Operações Especiais –
GOE da Polícia Civil do Mato Grosso;10 a Divisão de Operações Especiais – DOE
e o Grupo Armado de Repressão a Roubos, Assaltos e Sequestros – GARRAS da
Polícia Civil do Mato Grosso do Sul;11 o Departamento de Operações Especiais
– DOE da Polícia Civil de Roraima;12 a Divisão de Investigações e Operações

5 http://www.policiacivil.rj.gov.br
6 http://www.policia-civ.sp.gov.br
7 http://www.pr.gov.br/policiacivil e www.pr.gov.br/policiacivil/dg.cope.shtml
8 http://www.policiacivil.goias.gov.com.br e gt3@policiacivil.go.gov.br
9 http://www.bahia.bagov.br/ssp
10 http://www.policiacivil.mt.gov.br/estrutura.php
11 http://www.pc.ms.gov.br
12 http://www.policiacivil.rr.gov.br

24 Atividade Policial
Especiais – DIOE da Polícia Civil do Pará;13 o Departamento Estadual de
Operações Especiais – DEOESP, a Divisão de Operações Especiais – DOE e o
Grupo de Resposta Especial – GRE, todos da Polícia Civil de Minas Gerais;14 o
Grupo de Operações Especiais – GOE da Polícia Civil do Estado do Amapá;15
a Divisão de Operações Especiais – DIVOPE da Polícia Civil do Rio Grande do
Norte;16 o Grupo de Resposta Tática – GRT da Polícia Civil do Maranhão;17 o
Tático Integrado de Grupos de Resgate Especial – T.I.G.R.E. da Polícia Civil do
Estado de Alagoas;18 o Grupo de Operações Especiais – GOE da Polícia Civil
de Pernambuco;19 a Unidade Tática Operacional – UTO da Polícia Civil do
Ceará;20 o Centro de Operações Especiais – COE da Polícia Civil de Sergipe;21
e a Coordenadoria de Operações Policiais Especiais – COPE da Polícia Civil de
Santa Catarina.22

CONCLUSÃO

São inúmeras as opiniões divergentes, inclusive dentro das próprias


instituições de Polícia Civil, onde vários policiais acreditam ser desnecessária a
existência de um segmento uniformizado em uma instituição policial de cunho
investigativo/repressivo. Baseados neste pensamento, desprezam os grupos
especiais existentes, corroborados ainda pelo posicionamento desprovido da
devida coerência e fundamento, de pouca credibilidade, por parte de policiais
de instituições diversas, os quais insistem em afirmar, de forma descabida,
que a criação de tais grupos no âmbito das Polícias Civis caracterizaria
usurpação de função das Polícias Militares, sob a alegação de que destinam-se
ao policiamento ostensivo, uma vez que seus integrantes utilizam “fardas”, à
semelhança das unidades policiais militares.

13 http://www.policiacivil.pa.gov.br e www.policiacivil.pa.gov.br/divisoes/dioe.cfm
14  http://www.sesp.mg.gov.br
15  http://www.prodap.org.br/seg-publica.htm
16  http://www.defesasocial.rn.gov.br
17  http://www.ssp.ma.gov.br
18  http://www.ssp.al.gov.br
19  http://www.policiacivil.pe.gov.br
20  http://www.policiacivil.ce.gov.br
21  http://www.ssp.se.gov.br
22  http://www.policiacivil.sc.gov.br

Atividade Policial 25
Talvez por carecer da formação adequada, muitos compactuam com
opiniões distorcidas, apregoadas por policiais desprovidos de qualquer
conhecimento e embasamento técnico para opinar quanto aos aspectos que
norteiam a criação e atuação dos denominados Grupos Táticos no âmbito de
qualquer instituição policial. É ainda conveniente ressaltar que, como já foi
dito anteriormente, os grupos especiais criados no universo concernente às
Polícias Civis destinam-se ao apoio tático-operacional às demais unidades
policiais da instituição e atuação nas situações policiais críticas de sua
competência legal. Importa salientar que seus componentes não utilizam
“fardas”, e sim uniformes operacionais, que funcionam como equipamentos, e
não como mero meio identificador do policial ou da unidade a que pertença,
sendo utilizados com o fim específico de dar mobilidade, proteção, segurança
e propiciar baixa luminosidade/visibilidade do operador, motivo pelo qual a
maioria dos uniformes utilizados por grupos especiais tem a predominância
da cor preta ou outros tons escuros ou rajados/camuflados, dependendo do
terreno onde são designados para atuar.
A Divisão de Operações Especiais – DOE, destinada ao apoio tático-
-operacional e à atuação nas situações policiais críticas e de alto risco de
competência legal da Polícia Civil do Distrito Federal, diante de sua atuação
ao longo dos anos, vem demonstrando a real importância dos denominados
Grupos Táticos no âmbito das Polícias Civis, com a participação efetiva no
gerenciamento e resolução de diversas situações policiais críticas ocorridas
no Distrito Federal, prestando incontinenti apoio tático-operacional a todas as
Delegacias e Divisões pertencentes aos Departamentos da PCDF, bem como
levando a efeito diligências eminentemente de cunho repressivo. A título
ilustrativo, aponta-se a prisão de criminosos em flagrante delito. A propósito, vale
lembrar que, iniciada a fase de execução no iter criminis, independentemente
de exaurido, por muitas vezes já se encontra consumado o crime, fato que, por si
só, já legitima e clama uma atuação e resposta premente dos órgãos repressivos,
a contrário entendimento de minoritária e inexpressiva corrente de segmentos
da segurança pública que entende cabíveis as atribuições de polícia repressiva
somente na fase investigativa que precede ao inquérito policial ou dele decorre.
Seguindo na mesma esteira do rol exemplificativo, está o cumprimento de
mandados de prisão, a apreensão de menores infratores em flagrante de ato
infracional e o cumprimento de mandados de busca e apreensão de menor,
bem como a prisão de pessoas e apreensão de objetos oriundos ou destinados

26 Atividade Policial
ao crime, mediante o cumprimento de mandados de busca e apreensão em
residências e outras edificações. Estas ações vem propiciando uma estatística
extremamente positiva no que diz respeito à repressão à criminalidade,
despertando na sociedade do Distrito Federal, a certeza de que encontrarão
sempre na DOE/PCDF, policiais imbuídos dos mais nobres sentimentos
ideológicos, dispostos a arriscarem suas próprias vidas no cumprimento
do dever, os quais são merecedores dos mais efusivos encômios e dignos de
ostentarem o lema de nossa Divisão: “ORGULHO DE SER POLICIAL”.

Atividade Policial 27
28
TEXTO 4
A ESTRUTURAÇÃO DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA DA POLÍCIA
FEDERAL NO SEGMENTO DE REPRESSÃO AO
TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES
Lorenzo Martins Pompílio da Hora23

A operação policial, em qualquer oportunidade, emergencial ou


circunstancial, desencadeada a curto, médio ou a longo prazo, deve ser
sempre precedida de planejamento que contenha todo um ciclo de eventos
abrangendo a seleção cuidadosa e adequada dos recursos humanos, materiais
e tecnológicos a serem processados (absorvidos, utilizados) numa diligência,
de modo a dar visibilidade coerente (transparência) e autenticidade às
matrizes externas da instituição, ou melhor, a satisfação da sociedade a
esperar um sacrifício razoável da vítima ou vítimas e uma consciência social
pautada na responsabilidade do atuar dos homens da segurança do Estado,
comprometidos com a legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade,
eficiência; sobretudo, razoabilidade em suas ações.
O improviso, a batida forte no coração que vibra no vislumbrar
antecedente à conclusão de um momento flagrancial, são vírus que podem
contaminar todo o sistema, fragilizando, de forma substancial, o resultado da
ação policial e expondo todos os integrantes do efetivo a situações de desgaste
que, na melhor das justificativas de um fracasso, dificilmente trarão um resgate
ético, moral ou material dos policiais que acreditavam estar cumprindo o seu
mister com coragem e determinação.
A estratégia de uma diligência policial deve considerar, dentre as
inúmeras variáveis que a cercam; a existência de um momento judicial em

23  Delegado de Polícia Federal – Classe Especial, Titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da
Polícia Federal no Rio de Janeiro e Professor Adjunto da Faculdade de Direito da Universidade Federal
do Rio de Janeiro.

29
que as responsabilidades estarão delimitadas e construídas nas provas,
nos depoimentos prestados, na conclusão dos laudos periciais que deverão
estar em sintonia com o ocorrido, pois a suave percepção de um arranhado
na sinfonia pode pôr abaixo toda a estrutura da persecução criminal, pilar
fundamental do papel repressivo do Estado.
O folclórico e referenciado “pé na porta” (no outro lado teremos sempre
uma surpresa), as piruetas dos emocionantes Mel Gibson e Danny Glover da
série Máquina Mortífera; as peripécias da dupla consagrada na apresentação
cinematográfica dos “Bad Boys”; a saudável e honesta conduta do policial
mexicano Javier Rodrigues (Benício Del Toro) que trabalhava com métodos
não científicos na fronteira de seu País com os E.U.A., no combate ao tráfico
sufocado pela corrupção e resistindo heroicamente às tentações de dinheiro
e poder do memorável filme “Traffic”; o estilo audacioso, independente e
autônomo firmado nas habilidades de Matt Damon no personagem de Jason
Bourne da “Jornada Bourne”; o perfil truculento, solitário e autossuficiente
de John Rambo protegido pelo pai funcional Coronel Trauttman da premiada
sequência de filmes; o cruzar da fronteira do invocado e carismático detetive
Harris (Denzel Washington) do emblemático e festejado trailler “Dia de
Treinamento” são desnecessários e não sobreviveriam no cenário atual do
contexto policial. A uma, porque as instituições policiais estão cada vez mais
conscientes de que investir em capacitação e tecnologia amenizam perdas;
a duas, porque a parafernália tecnológica disponibilizada às investigações
tornam essas práticas inoportunas, inadequadas e inviáveis; a três, porque,
as organizações criminosas estão muito mais sofisticadas, disciplinadas
e eficazes do que a saudosa e romântica estrutura da família da sempre
lembrada produção de Francis Ford Coppola “The Godfather”, Poderoso
Chefão.
A sensibilidade, serenidade, tranquilidade, capacidade para reunir
esses atributos, selecionando dados e transformando-os em informações,24
ruminando com coerência e convicção na busca de uma solução razoável e
fundamentada em referências legais e processuais são posturas inerentes
ao perfil de um profissional de operações. Não adianta andar na rua, se não
sabemos o endereço, as pessoas populares e carismáticas de um determinado

24  Segundo Alves, RUBENS. Entre a Ciência e a Sapiência. O dilema da educação: Edições Loyola, São
Paulo, SP. 1999, p.88 – A mente e um processador de informações. Informações são objetos interiores,
estranhos à mente.

30 Atividade Policial
bairro, a padaria que produz o pão quentinho, o nome do lavador de carros da
esquina, os horários de maior frequência na praça; enfim, qual é o perfil dos
investigados.
A solução de uma operação pode estar no jornaleiro da rua ao lado ou
até nos sapatos vistosos de uma jovem grávida que está na sala de espera de
embarque do aeroporto internacional do Rio de Janeiro com destino a um
País alienígena, levando consigo, numa cinta sutilmente preparada sob suas
vestes pomposas e exteriorizadas por um casaco de veludo preto também
chamativo e impróprio para uma tarde ensolarada de um sábado, a quantidade
aproximada de um quilo e duzentos de cocaína colombiana denominada
capa preta, ou ainda, nas fotos apreendidas de um casal de alienígenas que
retornava de uma viagem de turismo do Rio de Janeiro para a Suécia levando
consigo a quantidade de três quilos e meio de cocaína da mesma qualidade e
referencial de origem.
É certo que o cenário atual de técnicas de investigações e operações
especiais na Polícia Federal está em constante evolução e com uma programação
de treinamento administrada pela Academia Nacional de Polícia Federal
sediada em Brasília/DF, contando com a colaboração de aproximadamente
400 (quatrocentos) policiais federais com formação acadêmica de mestrado e
doutorado, após uma prévia seleção, consolidando o seu banco de pesquisas
com profissionais neste perfil, objetivando aprimorar cada vez mais a qualidade
da prova, de modo a prover com cientificidade os procedimentos inquisitoriais
que instruirão futuras ações penais.
O Departamento de Polícia Federal está investindo intensamente
em gestão de segurança pública, através de uma política de treinamento
alavancada pela Academia Nacional de Polícia Federal em Sobradinho/DF
em consonância com o INC – Instituto Nacional de Criminalística estruturado
por nossos peritos, que em sua grande maioria são mestres e doutores. Isto
possibilita uma segmentação que muito tem colaborado para a cristalização
de uma prova que absorva, cada vez mais, o princípio do contraditório em
nossas etapas pré-processuais como o Inquérito policial.
A partir de 2007, foi instrumentalizado com base em levantamentos
setorizados e disponibilização de dados de nossas regionais, o Planejamento
Estratégico da Instituição, lastreado em cenários, prospectivos do
Departamento de Polícia Federal – DPF para uma perspectiva 2007- 2022.

Atividade Policial 31
Afirma Dias (2008, p. 119)25 que a instituição busca o desenvolvimento
de habilidades que apoiem escolhas racionais e que forneçam confiança
e conhecimento dos fatos relevantes para o cumprimento da missão
institucional.
Cita o exemplo (idem, 125) de que os cenários prospectivos pontuaram
medidas na intenção de possibilitar ao Departamento de Polícia Federal firmar
suas decisões no presente, com o objetivo de se optar por um cenário mais
favorável ou antecipar-se para os momentos difíceis. Logo, se a perspectiva
mais fundamentada aponta para um aumento significativo dos crimes
cibernéticos, providências serão adotadas atualmente, visando à retração do
perfil dessas ocorrências. No entanto, se tal estratégia for inviável, a Polícia
Federal deve ser preparada para enfrentar a questão.
Atualmente, as metas do Departamento de Polícia Federal foram
consolidadas em um plano estratégico, cuja minuta foi entregue, no ano
passado, ao Senhor Ministro de Estado da Justiça, durante a comemoração do
64o aniversário da Instituição.
Na repressão ao tráfico de entorpecentes, observamos todo um processo
saudável e fundamentado de reestruturação na atuação das unidades de
inteligência alocadas em nosso território, sejam elas destinadas à atividade
própria de nossas responsabilidades constitucionais, sejam elas constituídas
com o fito de mediar diligências que objetivem atender os acordos
internacionais de cooperação com países estrangeiros.
Experiências anteriores (das unidades de inteligência na área de repressão
ao tráfico ilícito de drogas) proporcionadas através de uma anamnese
organizacional pontuaram aspectos positivos e negativos nesta linha de
atuação sob o ponto de vista funcional e administrativo. Quais sejam:

ASPECTOS POSITIVOS

Maior eficiência no resultado das operações, posto que os policiais


designados para a missão eram desobrigados de outras rotinas e desenvolviam
apenas as atividades voltadas para a investigação para a qual foram
encarregados;

25 Fonte: “Segurança Pública & Cidadania” – Revista Brasileira de Segurança Pública e Cidadania/
Academia Nacional de Polícia – v.1 no 2 (jul./dez. 2008). Brasília: Academia Nacional de Polícia.2008.

32 Atividade Policial
Maior autonomia administrativa – financeira da unidade que possuía
fonte própria de recursos provenientes dos acordos celebrados;
Apoio e suprimento das deficiências de recursos humanos e materiais à
estrutura formal da instituição.

ASPECTOS NEGATIVOS

Distância interativa entre os policiais dessas unidades autônomas e os


policiais das Delegacias de Repressão a entorpecentes das Superintendências
Regionais do Departamento de Polícia Federal;
Como consequência do aspecto anterior, constatamos possíveis faltas de
coordenação entre essas unidades autônomas e as Delegacias de Repressão a
entorpecentes das Superintendências Regionais.
A partir dessas avaliações realizadas pela Diretoria de Combate ao
Crime Organizado e pela Coordenação Geral de Prevenção e Repressão a
entorpecentes em conjunto com os responsáveis regionais pelos segmentos
de repressão ao tráfico ilícito de drogas do Departamento de Polícia Federal,
começam a ser adotadas diretrizes que estão em fase de normatização com as
seguintes orientações:
•  Os segmentos de inteligência concentrarão seus esforços na
produção de conhecimento objetivando desencadeamento de
futuras operações;

•  A ampliação de unidades de inteligência (mais unidades e efetivo)


de modo a fazer frente ao crescimento e expansão das organizações
criminosas que atuam no tráfico ilícito de drogas;

•  A definição de operações prioritárias partirá de um processo


decisório construído entre a CGPRE (Coordenação Geral de
Prevenção e Repressão a Entorpecentes) e a DRE (Delegacia de
Repressão a Entorpecentes da Superintendência Regional);

•  As delegacias Regionais de Repressão a Entorpecentes presidirão e


processarão, através de inquéritos policiais, todas as investigações
efetuadas nas unidades de inteligência de sua respectiva
circunscrição;

•  As delegacias Regionais de Repressão a Entorpecentes disponibili-


zarão Delegados Federais e equipe necessários à instrução de cada
inquérito policial executado nas unidades de inteligência;

Atividade Policial 33
•  As delegacias descentralizadas das Superintendências Regionais
solicitarão apoio à Coordenação Geral de Repressão a entorpecentes
através das Delegacias de Repressão a entorpecentes da sua
circunscrição;

•  A Coordenação Geral de Prevenção e Repressão a Entorpecentes


suprirá as deficiências de pessoal que, eventualmente, ocorram
nas unidades de inteligência regionais;

•  A Coordenação Geral de Prevenção e Repressão a Entorpecentes


será responsável pelo custeio das despesas de manutenção das
unidades de inteligência e de recrutamento de policiais;

•  As Delegacias Regionais de Repressão a Entorpecentes indicarão


supervisores para as unidades de inteligência locais com a anuência
da coordenação Geral de Prevenção e Repressão a entorpecentes;

•  As Delegacias Regionais de Repressão a Entorpecentes deverão


conhecer todas as investigações desenvolvidas pelas unidades de
inteligência locais;

•  O acesso às unidades de inteligência local deverá ser restrito a


policiais indicados para a Coordenação Geral de Prevenção e
Repressão a Entorpecentes e para as Delegacias Regionais de
Repressão a Entorpecentes;

•  As unidades de inteligência locais na área de repressão ao tráfico


ilícito de drogas deverão ser módulos do Centro Integrado de
Inteligência e Combate ao Crime Organizado com suas respectivas
operações credenciadas no CINTEPOL (Centro Integrado de
Inteligência Policial).
A metodologia objetiva a otimização do processamento do conhecimento,
sua velocidade de resposta, razoabilidade na conclusão da diligência e
valoração da prova que instrui o inquisitório. A coordenação de toda a atividade
possibilita a integração e união das unidades de inteligência que atuam na
repressão ao tráfico ilícito de drogas.

34 Atividade Policial
TEXTO 5
Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE)
– Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro
Flávio Porto de Moura26

Introdução

Nas últimas décadas, o aumento da criminalidade nos grandes centros


exigiu dos gestores da segurança pública a criação de unidades de combate
urbano com aptidão para atuarem em situações de periculosidade extrema,
mormente em locais de alto risco e de difícil acesso.
Eventos críticos, com reféns tomados ou envolvendo explosivos,
demandavam a criação de grupos de elite, compostos por homens dotados de
excelente condicionamento físico, psicológico e técnico que lhes tornassem
aptos a enfrentar a difícil missão que lhes foi confiada.
Incrementados pelo poderio bélico e enraizados nas comunidades carentes,
atualmente alguns grupos criminosos elevam o grau de violência a patamares
inaceitáveis, exigindo ainda mais daqueles que aceitaram dedicar suas vidas ao
ofício de preservar a ordem e a lei.
Neste contexto é que uma das mais demandadas unidades operações
especiais do país, a Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) da Polícia
Civil do Estado do Rio de Janeiro (PCERJ), cuja evolução histórica e estrutura
organizacional se pretende mostrar nas linhas que se seguem, permanece
desempenhando com louvor suas atividades.
Registre-se, desde já, a importante contribuição de servidores, ativos e
inativos – os quais deixo de nominar para não incorrer em nenhuma injustiça por
eventual omissão – que ajudam a perpetuar a gloriosa história de uma unidade

26  É Delegado de Polícia desde 2001, tendo ingressado na CORE em janeiro de 2006, onde exerce o cargo
de Delegado-Assitente.

35
operacional que glorifica a Polícia Civil de nosso Estado e dignifica a sociedade
fluminense.

A origem: o “Grupo de Operações Especiais”

No final da década de 60, por iniciativa do então Detetive-Inspetor José


Paulo Boneschi, foi idealizada a formação de uma equipe que deveria ser
constituída por integrantes das forças de segurança, com especialização e
notável conhecimento nas técnicas de operações especiais, cujo objetivo seria
apoiar os diversos órgãos de segurança, civis e militares, estaduais ou federais,
em operações contraterroristas.
Desejava-se, na época, fosse concebido um grupo cujos componentes
deveriam possuir elevado espírito de equipe, com formação voltada para as
“ações de comandos”. Seus integrantes deveriam dominar as técnicas de
desativação e desmonte de engenhos explosivos; terem noções de primeiros
socorros e de operações de informações; saberem utilizar qualquer tipo de
arma portátil que lhes viesse ter às mãos e serem adestrados em combate
corpo-a-corpo, em alpinismo militar e operações aéreas.
A ideia foi acolhida pelo então Secretário de Segurança, General Antonio
Faustino da Costa, que autorizou a formação, a título experimental, da equipe
proposta.
Para integrar o grupo foram escolhidos indivíduos que possuíam alguma
experiência anterior nas missões que poderiam vir a ser a eles atribuídas. Dessa
forma, foram recrutados 3 (três) policiais civis do Serviço de Informações da
Secretaria de Segurança Pública (SSP) – Antigo DOPS –; 5 (cinco) da Polícia
Militar (sendo 2 Oficiais, 1 Sargento e 2 Soldados); 2 (dois) Militares do Corpo
de Bombeiros (ambos Oficiais e com o Curso de Salvamento e Resgate do
PARASAR) e 2 (dois) policiais da Tropa de Choque da Guarda Civil.
Formava-se, então, o embrião do posteriormente denominado o Grupo
de Operações Especiais27 (G.O.Esp.).
Já na década de 70, o Grupo de Operações Especiais foi transformado em
Serviço de Operações Especiais28 (SOE), que integrava a Divisão de Segurança
do Departamento de Controle e Segurança (DCS) da Superintendência de
Polícia de Segurança (SPS). Posteriormente, o Serviço de Operações Especiais

27  Criado através da Portaria “E” no 0947, de 04.jul.69, do Exmo. Sr. Secretário de Segurança Pública.
28  Vide Decreto “E” no 5039, de 31.ago.71.

36 Atividade Policial
foi transferido para o Departamento Geral de Investigações Especiais (DGIE) da
SSP/RJ, já com seu efetivo reforçado por policiais que concluíram dois Cursos
de Comandos realizados na Brigada Aeroterrestre (hoje Brigada Paraquedista).
Integravam o SOE, agentes das Polícias Civil e Militar, bem como
servidores do Corpo de Bombeiros e guarda-vidas do Corpo Marítimo de
Salvamento (antigo SALVAMAR), todos recém-admitidos por concurso no
Estado da Guanabara.
No âmbito da Polícia Civil, exigia-se que o candidato fosse reservista
das Forças Armadas; tivesse servido em unidades especiais; ou ser Oficial
Temporário do Exército, Marinha ou Aeronáutica.
Desde então, houve uma série de modificações na estrutura da então
Secretaria de Segurança Pública, sendo que, com a fusão do Estado da
Guanabara com o Estado do Rio de Janeiro, o órgão foi elevado ao status
de Divisão de Operações Especiais (DOE), de onde se originou a Divisão de
Apoio Operacional (DAO), posteriormente denominada Coordenadoria de
Inteligência e Apoio Policial (CINAP), até chegar, em 2002, à denominação
atualmente utilizada, Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE).

A CORE e seus Serviços

Criada em 22.jul.02,29 a CORE é a unidade da Polícia Civil destinada a


atuar nas operações especiais e ações que envolvem técnicas e recursos não
convencionais, principalmente em áreas críticas e em situações de alto risco,
em apoio às diversas Unidade de Polícia e órgãos especializados da Secretaria
de Estado de Segurança. À Coordenadoria incumbe, ainda, a promoção de
atos de instrução preliminar, especialmente em relação às operações policiais
desenvolvidas pela Unidade.
Os servidores lotados na CORE são policiais civis voluntários, que tenham
sido considerados aptos no exame físico, psicológico e médico. Necessitam,
também, serem aprovados no Curso de Operações Policial (COP) ministrado
na própria Coordenadoria, salvo quando o candidato já possui curso mais
especializado da própria unidade.
Exige-se, também, que o servidor não registre antecedente criminal e não
tenha em seu desfavor ação penal, inquérito policial, processo administrativo
disciplinar ou procedimento administrativo decorrente de imputação de
desvio de conduta de qualquer natureza.

29  Vide Resolução SSP no 551, de 22.jul.02, alterada pela Resolução SSP no 769, de 05.mai.05.

Atividade Policial 37
Por fim, espera-se que o policial que almeja integrar os quadros da
CORE tenham sua personalidade alicerçada em valores como honestidade,
prudência, companheirismo e fidelidade à Polícia e à sociedade.
Uma vez admitido no processo seletivo, o servidor é submetido a
intenso programa de treinamento, oportunidade em que são aperfeiçoadas as
habilidades que serão diuturnamente exigidas do policial.
Pela eficiência e relevância dos serviços prestados, se destacam na
estrutura organizacional da CORE, o Esquadrão Antibomba, o Serviço de
Recursos Especiais, o Serviço de Apoio Operacional, o Serviço de Planejamento
Operacional e o Serviço de Aeropolicial.
Prestes a completar 40 anos de existência, o Esquadrão Antibomba30
(EAB) da CORE é referência no país, não só pela reconhecida experiência de
seus integrantes, mas também pelo elevado grau de especialização decorrente
dos intercâmbios com agências nacionais e internacionais.
Responsável pela desativação, recolhimento e destruição de artefatos
bélicos, explosivos e incendiários, o EAB também examina locais de bomba e
explosões, confeccionando relatório técnico próprio ao fato. Vale registrar que
as peças técnicas31 produzidas pelo EAB são aceitas em Juízo como elemento
de convicção nas ações penais, e frequentemente servem de arrimo para a
prolação de decretos condenatórios.
O Esquadrão escreveu seu nome na história mundial por oportunidade
da intervenção de seus técnicos em explosivos, em 1972, no Rio de janeiro.
Na ocasião, militantes do grupo islâmico “Setembro Negro” enviaram
cartas-bomba para as Embaixadas de Israel localizadas em diversos países.
Diversamente do que ocorreu em outros países, onde alguns dispositivos
foram acionados, a carta-bomba enviada à Embaixada de Israel no Brasil foi
desativada graças à coragem e ao destemor dos servidores lotados na então
Seção de Desativação de Artefatos e Explosivos da Polícia Civil do Rio de
Janeiro, que mesmo desprovidos dos recursos tecnológicos hoje disponíveis
aos que operam no referido ramo, conseguiram preservar a vida e o patrimônio
de pessoas inocentes.

30  Criado em 31.ago.72, por ocasião do surgimento da Seção de Desativação de Artefatos Explosivos
dentro do Serviço de Operações Policiais, o EAB recebeu esta denominação com o advento da Resolução
SSP no 551, de 22.jul.02.
31  De acordo com o responsável pelo EAB, Comissário de Policia João Valdemar, cerca de 800 laudos
são produzidos pelos técnicos do EAB por ano. Registre-se, por oportuno, que em muitas ocasiões, em
um único laudo, mais de um artefato é relatado, o que permite concluir que cerca de dois mil casos
envolvendo explosivos são atendidos pelo Esquadrão todos os anos.

38 Atividade Policial
Treinamento constante e busca das melhores condições físicas e
técnicas, são imperativos inafastáveis na mentalidade dos policiais da CORE.
A constante atuação nas áreas de alto risco e as intervenções e resgates em
locais de difícil acesso e em situações adversas exigem do policial civil lotado
na CORE a procura incessante pela excelência. Desta forma, o servidor poderá
avaliar positivamente a ameaça, reduzindo a probabilidade de ocorrência de
eventos não desejados e preservando a integridade física da população de bem
e dos policiais envolvidos na ação.
Neste cenário destaca-se o Serviço de Recursos Especiais (SRE),32 em
especial a Seção de Treinamento Especializado (STE), responsável pelo
planejamento, organização e coordenação de treinamentos e cursos de
formação técnico-operacional.
Incumbe ao STE, ainda, o intercâmbio com outras instituições de
ensino e de operações especiais e a promoção de cursos de atualização
específicos de operações especiais. Muitos de nossos instrutores possuem
cursos nas melhores instituições nacionais e internacionais, fato que lhes
possibilita o acesso às melhores práticas nas técnicas operacionais que serão
posteriormente repassadas aos seus pares.
Contudo, a constante busca pela melhor condição física e técnica não
impede que a CORE se faça sempre presente nas diversas intervenções policiais
levadas a efeito pela Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro.
Nos últimos anos a PCERJ tem se destacado no combate ao crime
organizado, com a realização de incursões quase que diárias em comunidades
carentes situadas em locais de risco. Na maioria das vezes essas ações culminam
com considerável número de prisões e a apreensão de grande quantidade de
drogas e de armas de fogo.
A CORE tem prestado importante contribuição para o sucesso de tais
atividades, com destaque para a atuação da Seção de Apoio Policial (SAP)33 e

32  Vide artigo 8o, da Resolução SSP no 769, de 05.mai.05.


33 1o – São atribuições da Seção de Apoio Policial - SAP:
I – planejar, registrar, chefiar, controlar, fiscalizar, orientar e acompanhar e realizar as operações
policiais convencionais em curso no órgão;
II – apoiar as operações policiais das demais unidades policiais da Secretaria de Segurança Pública;
III – realizar operações policiais repressivas em áreas com alto índice de criminalidade;
IV – controlar motins, distúrbios e tentativas de fugas nas carceragens das Unidades de Polícia
Administrativa Judiciária, e eventualmente nas unidades carcerárias da SEAP, quando solicitadas;
V – apoiar as Unidades de Polícia Administrativa Judiciária em caso de tumulto, princípio de
invasão ou resgate de detentos, efetuados por populares ou criminosos.

Atividade Policial 39
da Seção de Operações Táticas (SOT)34 que, somente no ano passado, foram
responsáveis por mais de 250 apoios às Unidades da PCERJ e demais agências
de segurança.
Outro Serviço que muito colabora para o sucesso das referidas intervenções
policiais é o Serviço Aeropolicial (SAER).35 O emprego de helicópteros nas
operações aumenta consideravelmente a segurança das equipes que operam

34  São atribuições da Seção de Operações Táticas - SOT:


I – apoiar o GOE nas operações de resgate de reféns nos casos de roubos ou sequestros com criminosos
encurralados pela Polícia;
II – realizar as incursões em áreas críticas e de alto risco;
III – apoiar o GOE nas intervenções, buscas e resgates em locais de difícil acesso e em situações adversas;
IV – efetuar abordagem em edificações invadidas por pessoas armadas;
V – atender às propriedades policiais.
35  São Atribuições do Serviço Aeropolicial - SAER:
I – fiscalizar, planejar e controlar as atividades referentes ao emprego operacional dos meios
aéreos disponíveis em apoio à Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro e demais órgãos estaduais,
estabelecendo para essa finalidade, normas e procedimentos operacionais, segundo a legislação
aeronáutica vigente;
II – criar, conduzir e orientar implementos, objetivando sua otimização;
III – estabelecer parâmetros e normas de conduta para seus membros;
IV – fazer cumprir as normas e procedimentos determinados pelo Coordenador de Recursos Especiais.
§1o – São atribuições da Seção de Operações - SO:
I – fiscalizar, controlar e executar as atividades referentes ao emprego operacional dos meios aéreos
disponíveis;
II – controlar e manter as equipes em condições operacionais, com certificados de capacidade técnica
e de saúde atualizados;
III – reavaliar regulamente a capacidade operacional de cada piloto, mantendo uma programação de
reciclagem em consonância com a seção de treinamento;
IV – estabelecer normas de operações, regras de conduta e apresentação;
V – manter palestras regulares sobre operações, regulamentos, normas etc;
VI – manter atualizados regulamentos, cartas aeronáuticas, mapas da cidade e do Estado e regras do
Departamento de Aviação Civil - DAC
VII – elaborar escala de serviço dos pilotos;
VIII – elaborar relatório mensal das atividades do SAER, encaminhando-o ao Coordenador de
Recursos Especiais.
§2o – São atribuições da Seção de Treinamento - ST:
I – desenvolver, em conjunto com a SO, instrumentos e meios de manutenção dos níveis de Proficiência
de pilotos, tripulantes, mecânicos e outros técnicos que desenvolvam trabalhos especializados.
II – criar em conjunto com a SO em planejamento produtivo de treinamento e reciclagem para a
tripulação;
III – gerenciar os cursos de formação, qualificação e aprimoramento e manutenção operacional de
todo o pessoal empregado nas operações aéreas, nos diferentes tipos de missões;
IV – estabelecer contatos com outras organizações federais, estaduais e municipais da Administração
Direta ou Indireta bem como outras organizações de interesse, a fim de propiciar o intercâmbio
técnico necessário ao desenvolvimento do SAER;
V – realizar cursos, seminários e palestras sobre assuntos de interesse do SAER, com vistas á troca de
informações técnica e conhecimentos.
VI – controlar e manter todos os materiais e equipamentos de auxílio a instrução.
§3o – São atribuições da Seção de Segurança de voo - SSV:
I – assessorar o SAER quanto aos assuntos relativos a segurança de voo;

40 Atividade Policial
em terra, como também agrega maior eficácia na atividade de neutralização
de eventuais opositores que aproveitam as características do terreno para
atacarem as forças da lei. A ação das aeronaves possibilita a superação dos
obstáculos naturais de forma rápida e eficiente.
A recente aquisição da aeronave blindada “HUEY II”, que se juntou aos
dois helicópteros Esquilo daquele Serviço, representou grande conquista
institucional e reforçou o compromisso do Governo de nosso Estado em
melhorar a segurança de seus agentes no combate ao crime.
O equipamento tem capacidade para seis artilheiros, é blindado e pode
transportar um total de 15 pessoas. O Huey II é totalmente à prova de tiros.

II – gerenciar as atividades relacionadas à prevenção de acidentes aeronáuticos bem como a Doutrina


de Segurança de voo ao âmbito do SAER;
III – realizar em conjunto com a ST, cursos e/ou seminários sobre a prevenção de acidentes
aeronáuticos e segurança de voo;
IV – acompanhar as condições físicas e psicológicas dos pilotos tripulantes e mecânicos das aeronaves;
V – trabalhar em conjunto com as outras seções na avaliação de risco das missões;
VI – participar de seminários, cursos, ciclos de palestras e debates com vistas ao desenvolvimento das
atividades aeronáuticas.
§4o – São atribuições da Seção de Manutenção - SMA:
I – manter os helicópteros em perfeito estado de conservação e em condição de voo, cumprindo
as rotinas a serem seguidas nas diversas revisões revisões periódicas autorizadas pelo DAC e pelo
fabricante;
II – manter atualizado o ferramental comum e especializado;
III – prover e controlar os níveis de suprimento técnico das aeronaves, encaminhando requisição do
material necessário á SADP;
IV – verificar as normas de segurança durante a realização de inspeções e serviços nas aeronaves;
V – fiscalizar e controlar as inspeções de pré e pós-voo;
VI – comunicar, diariamente, as condições das aeronaves, bem como a disponibilidade de horas, à SO;
VII – estabelecer escala de serviço dos mecânicos, remetendo-a mensalmente, à SAPD;
VIII – manter atualizadas fichas de inspeções e quadros de controle de manutenção referentes à
célula, motores e demais componentes, controlados;
IX – manter atualizadas cadernetas de cédula e motor das aeronaves;
X – atualizar boletins e modificações determinadas pelo fabricante dos equipamentos, de acordo com
manuais e ordens de serviço;
XI – controlar as próximas inspeções a serem realizadas nas aeronaves;
XII – elaborar, mensalmente, relatório de suas atividades.
§5o – São atribuições da Seção de Administração de Pessoal SADP:
I – manter atualizado o inventário de bens do SAER;
II – controlar e providenciar a emissão de empenhos para as compras e serviços a serem executados
por terceiros;
III – controlar a vigência dos seguros da frota;
IV – fiscalizar o controle de pessoal, andamento de processos e expedientes relativos do Departamento
de Aviação Civil – DAC;
V – fiscalizar a elaboração de serviço de expediente;
VI – formular as requisições de material, segundo as necessidades das seções;
VII – manter, controlar e fiscalizar o nível de suprimento administrativo do almoxarifado;
VIII – solicitar a reposição do combustível e lubrificante de aviação, quando necessário;
IX – elaborar a previsão de consumo de suprimento técnico e administrativo.

Atividade Policial 41
A tecnologia, associada à perícia e a coragem dos servidores que atuam no
referido Serviço, faz do SAER referência mundial na utilização de helicópteros
nas ações de confronto urbano, resgate, salvamento e combates a incêndios,
representando verdadeiro paradigma nas atividades de emprego operacional
de meios aéreos.

CONCLUSÃO

Motivo de orgulho para a Polícia Civil do Rio de Janeiro, a CORE representa


valioso instrumento de salvaguarda da população e de preservação da lei e da
ordem. Entretanto, o grande valor da Coordenadoria reside muito além do
armamento de ponta e dos veículos blindados de transporte de tropa que fazem
parte do acervo da Unidade, mas na coragem, abnegação e determinação dos
cerca de 350 servidores que sustentam essa invejável estrutura.
Seja zelando pelo bom andamento dos trabalhos de polícia judiciária,
seja cuidando dos bens e pessoas a cargo da Unidade, os policiais da CORE
representam a essência do que a PCERJ tem de melhor.
Eventuais deficiências ocasionadas pela (insuperável) falta de recursos
que assola as polícias de nosso país, na CORE são superadas com trabalho
árduo e entrega incondicional que, por algumas vezes, ceifou as vidas de jovens
guerreiros, os quais Deus chamou para perto de Si enquanto defendiam uma
sociedade que ainda teima em não reconhecê-los como verdadeiros heróis.
Que a luta desses bravos não seja em vão e que Deus os guarde e proteja
a todos nós.

42 Atividade Policial
TEXTO 6
Breves reflexões sobre a simbologia do crânio transpassado pelo punhal
de Comandos nas Forças Especiais de Polícia no Brasil
Francis Albert Cotta36

Considerações iniciais: Operações Especiais e Direitos Humanos37

“Vitória sobre a Morte! Nossa Glória Prometida.”


Máxima das Operações Especiais

A emergência da defesa dos direitos humanos por Forças Especiais de


maneira transnacional pode ser identificada durante a ofensiva dos Aliados
contra a dominação nazista na Europa na década de 1940. O conceito de
Comandos com o foco na defesa da Liberdade e dos Direitos Humanos surge
exatamente nesse momento da história mundial.
Os Comandos são caracterizados por serem grupos militares pequenos
altamente treinados, motivados, com capacidade para cumprir missões com
relativa autonomia de recursos e com rapidez. Eles datam de início da década
de 1940 e foram idealizados pelos britânicos para operações contra os nazistas,
inicialmente, no Norte da África. Os Comandos foram criados por Winston
Churchill, que se inspirou nos Kommandos Boers, da África do Sul.
No Brasil identifica-se a formação do Curso de Comandos em 1942, com
seis meses de treinamento, cuja turma foi composta por oficiais e sargentos da
Força Pública de Minas Gerais no Departamento de Instrução. Os Comandos
Mineiros seriam empregados na missão de entrada furtiva e tomada do
arquipélago dos Açores, que seria utilizado como ponto de apoio e entrada de
militares norte-americanos na Europa.

43
O Curso de Comandos da Força Pública de Minas Gerais iniciou-se em
1942. O turno foi composto por dez oficiais e 30 sargentos. A duração do curso
foi de julho de 1942 a janeiro de 1943.
O curso era composto por treinamentos, tais como: combates de rua;
assalto; luta corpo a corpo; marchas extenuantes, especialmente noturnas;
exercício de tiro: direto, indireto e mascarado, não só com fuzil ordinário, como
também com fuzis-metralhadores e metralhadoras leves e pesadas. Somente
no mês de novembro de 1942, o turno marchou 220 quilômetros.
O ideal que norteava os treinamentos da primeira turma de Comandos
em Minas Gerais era a liberdade dos oprimidos e a defesa do direito mais
sublime: a vida de europeus submetidos pelas ações e mentalidade nazista.
O símbolo utilizado pelos primeiros Comandos, o Special Air Service
(SAS) Britânico, era e é o punhal, ladeado por asas e a frase: Quem ousa, vence.
Aquele que concluía o treinamento recebia um punhal, símbolo máximo dos
Comandos.
Os Comandos se tornaram tão temidos pelas tropas nazistas que o próprio
Adolf Hitler ordenou em 1942:
[...] a partir desta data, todos os inimigos contatados pelas tropas
alemãs durante as expedições ditas “de comandos”, tanto na
Europa como na África, quer usem uniforme regular de soldados ou
sejam agentes sabotadores, armados ou não, serão exterminados
até ao último, seja em combate ou em perseguição. [...] Altamente
Secreto, Quartel-General do Führer, 18 de outubro de 1942 (No
003830/42 G. Kdos CKW/WSFT) A. Hitler (FLAMENT, 1972, p. 331).
(grifo nosso)

O soldado Comando esperava, acertadamente, receber instruções claras


e “saber, afinal, no que estava se metendo”. Os homens sabiam do objetivo da
operação e, se as coisas saíssem erradas, se os líderes tombassem, poderiam,
valendo-se do que aprenderam no treinamento e da esperteza inata para
improvisar, ir em frente. As táticas de batalha já não são mais “Carregar! Apontar!
Fogo!” da época de Wellington. Young (1975:159) afirma: “Feliz o comandante
que tem homens suficientemente perspicazes, letrados e motivados para
executar seus planos! E era exatamente isto o que tínhamos nos Comandos”.
O contexto de emergência dos Comandos certamente foi o enfrentamento
bélico diante das atrocidades nazistas, marcadas pela intolerância e aparente
supremacia racial. O foco dos Comandos era a preservação da liberdade e o

44 Atividade Policial
direito à vida. Como se mostrou em termos simbólicos, os Comandos tinham
como símbolo máximo o punhal. Por outro lado, um dos grupos mais cruéis
dos nazistas eram os Totenkopf da SS.

Os Totenkopf: crânios da morte

Antes de focar especificamente nos Totenkopf nazistas (literalmente


“crânio da morte”) percebe-se que o uso do crânio como distintivo militar é
anterior à sua apropriação pelos nazistas. Seu uso pode ser identificado na
Prússia pré-dominação nazista, mais especificamente no Regimento Husaren,
durante o reinado de Frederico, o Grande.
A partir da ascensão de Hitler e a utilização da “caveira” pelos nazistas
da Divisão Totenkopf, a simbologia ficou comprometida. Percebe-se que o
símbolo pode ser apropriado novamente e, de acordo com o seu emprego no
caso concreto, resignificado. A partir de Hitler, a caveira foi vista como símbolo
da intolerância, da falta de diálogo, do não respeito à diferença, da aparente
superioridade racial, fundamentalmente, pelo genocídio dos campos de
concentração. Assim, a caveira passou a carregar este estigma.
É preciso ter em mente que os símbolos não falam por si. Eles são construídos
num processo histórico social culturalmente complexo e multifacetado e
emergem em contextos específicos. Como exemplo tem-se a suástica ou cruz
gamada, vista como um símbolo místico, e presente em culturas e em tempos
distintos (índios hopi, astecas, celtas, busistas, gregos e hindus).
Os Totenkopf são retratados como violadores dos direitos humanos em
todas as suas dimensões, fato amplamente comprovado pela historiografia.
Portanto, em termos de construção, demonstrou-se que existem
dois opostos naquele momento histórico: de um lado, os Comandos, cuja
simbologia é o punhal; de outro, os Totenkopf, cunho símbolo é o crânio.
Existe a afirmação – ainda não comprovada documentalmente, mas
que faz parte de uma tradição oral – de que com a vitória das forças aliadas
sobre os nazistas, os Comandos teriam invadido o quartel-general dos
Totenkopf e sobre a mesa do seu comandante havia um crânio (símbolo
daquela divisão), para sacralizar a vitória da vida e da liberdade sobre a
morte (representada pelos campos de concentração nazistas). Um soldado
Comandos teria cravado seu punhal sobre o crânio e desse ato surgiu a
expressão “Vitória sobre a Morte”!

Atividade Policial 45
Simbologia das Forças Especiais no Brasil: homenagem aos Comandos
Britânicos e a sua vitória na Segunda Guerra Mundial

O Exército Brasileiro realizou, em 1957, o primeiro Curso de Operações


Especiais. Os Comandos no Brasil passaram a adotar a simbologia do crânio
transpassado pelo punhal em homenagem aos Comandos Britânicos e sua
vitória sobre as atrocidades praticadas durante a Segunda Guerra Mundial.
Simbologia herdada pelos policiais que realizaram seus cursos naquela
instituição. Dessa forma, a simbologia da “faca na caveira” é tributária de uma
matriz baseada na defesa dos direitos humanos e não o contrário.
Em 1979, após a conclusão do Curso de Operações Especiais (COEsp)
da Polícia Militar do Rio de Janeiro, realizado em 1978, no Nu/COE (Unidade
Policial que futuramente seria denominada Batalhão de Operações Policiais
Especiais) foi idealizado pelos concluintes do COEsp o distintivo do curso.
Nota-se que ao distintivo do curso do Exército Brasileiro foi agregado o símbolo
internacional das polícias militares e os louros da vitória. Ressalta-se que o
símbolo pertencia ao curso e não à unidade.

Minas Gerais e a Formação em Operações Especiais

Como esclarecido, a tradição de Operações Especiais da Força Pública de


Minas surgiu em 1942. Em 1967 prossegue ao fazer frente ao primeiro movimento
guerrilheiro da história do Brasil: a Guerrilha do Caparaó. Como processo de
redemocratização, em 1979 foi criado o Batalhão de Polícia de Choque. Em sua
estrutura havia três pelotões de polícia de operações especiais. A despeito de não
estarem previstos no Plano de Articulação do Batalhão, os pelotões funcionaram
até 1987. Nesse ano foi criada, formalmente, a Companhia de Operações Especiais.
O símbolo da COE, a Pantera, nasce inserido na estrutura dos codinomes das
companhias do Batalhão de Polícia de Choque, sendo que cada companhia era
designada por um animal. A designação do comandante do batalhão era Tigre, a
COE era Pantera. Nos dias atuais, a tradição foi mantida pelo Batalhão de Rondas
Táticas Metropolitanas (ROTAM), que assim como o atual Grupamento de Ações
Táticas Especiais (herdeiro do legado da COE), é oriundo do Batalhão de Polícia de
Choque (este, transformado em Batalhão de Polícia de Eventos).
Dois anos após a criação da COE dois oficiais foram enviados para
realizarem o Curso de Operações Especiais fora do estado de Minas Gerais.
Um deles deslocou-se para o Rio de Janeiro e o outro para São Paulo. Ambos
concluíram os cursos e retornaram para a unidade.

46 Atividade Policial
Após a conclusão dos cursos, em 1989, os oficiais já cursados promoveram
o Curso de Operações Especiais para integrantes da Companhia de Operações
Especiais na Polícia Militar de Minas Gerais. A formação dos policiais contou
com a colaboração do Pelotão de Operações Especiais do 12o Batalhão de
Infantaria. Assim, nesse mesmo ano, após a conclusão do treinamento, os
concluintes receberam certificados com iconografia que traz um crânio com
uma boina preta, transpassado de baixo para cima por uma espada, ladeada
por uma submetralhadora e uma asa. A iconografia reproduz, literalmente, a
frase do Special Air Service: “Who Dares Wins” (Quem Ousa Vence) agregada
pela espada dos Comandos do Exército Brasileiro.
Percebe-se uma relação direta com a origem dos Comandos e os ideais de
Liberdade e defesa dos direitos humanos herdada dos Comandos britânicos. Os
policiais formados no Curso de Operações Especiais da Polícia de Minas Gerais
honram sua formação salvando vidas em situações adversas e complexas.
Em 2006, após o retorno de militares do Grupamento de Ações Táticas
Especiais da Polícia de Minas, que estavam à disposição da Força Nacional em
Brasília e que realizaram estágio de aplicações táticas no BOPE do Rio de Janeiro,
foi idealizado o curso denominado Patrulhamento em Local de Alto Risco.
Ocorreram duas versões do curso, o primeiro realizado no período de 2 a 9 de
janeiro de 2006 e o segundo, no período de 27 de agosto a 4 de setembro de 2006.
O distintivo do curso é um triângulo dividido ao meio, do lado esquerdo
existe a simbologia do punhal cravado no crânio e do lado direito a inscrição
“GATE”. O treinamento foi inserido como disciplina nos cursos de Operações
Especiais ocorridos nos anos de 2008 e 2011.
Por fim, quando da elaboração dos certificados dos dois cursos de
Operações Especiais, ambos realizados em 2008 (o primeiro, no período de 2
de junho a 15 de setembro; e o segundo, no período de 16 de setembro a 5 de
dezembro) foram impressos o distintivo do punhal transpassando o crânio.

Interpretações das diretrizes da Polícia Militar de Minas Gerais

Em 2009, o órgão gestor da educação da Polícia Militar de Minas Gerais


expediu Diretrizes da Educação de Polícia Militar (Resolução no 4.023, de 30 de
abril de 2009). Em 23 de abril de 2012, por meio da Resolução no 4.210, de 23
de abril de 2012, novas diretrizes foram expedidas. Em ambas são observadas
as seguintes orientações:

Atividade Policial 47
Art. 4o A Educação de Polícia Militar é pautada no respeito à vida,
dignidade da pessoa humana, garantia dos direitos e liberdades
fundamentais e nos princípios ético-profissionais, sendo, portanto,
vedada no ambiente educacional qualquer demonstração, conduta
ou postura violenta ou discriminatória de qualquer natureza, ou lhe
faça apologia, ainda que de forma subliminar.
§ 1o Quaisquer emblemas, insígnias, brevês, canções, “gritos de
guerra”, versos, escritos ou discursos, camisetas promocionais,
cartazes, bandeiras, pinturas, tatuagens, bem como outros artigos que
façam alusão direta ou indiretamente a comportamentos violentos,
devem ser coibidos. Assim como aqueles que retratem indevidamente
a morte e representem conduta aética ou incompatível com a carreira
policial militar.

Uma interpretação parcial ou desvinculada dos processos histórico e


cultural das Forças Especiais de Polícia poderá gerar argumentos que advogam
ser o símbolo dos cursos de Operações Especiais (cuja iconografia central está
presente na maioria das polícias militares do Brasil, representada pelo crânio
transpassado pelo punhal de Comandos) algo que retrataria “indevidamente a
morte”. Ao se realizar uma interpretação das formas simbólicas percebe-se a
representação da vida, mais especificamente a “Vitória sobre a Morte”. Essa é a
razão de ser das Forças Especiais de Polícia.
A simbologia do Curso de Operações Especiais é coerente com as
ações praticadas pelos operadores das Forças Especiais de Polícia. Tal
assertiva pode ser verificada em diversas intervenções em defesa da vida
e dos direitos humanos de maneira ampla. Em um caso concreto ocorrido
no Norte de Minas Gerais um infrator com histórico de homicídios e abuso
sexual mantinha refém uma mulher por, aproximadamente, 24 horas. Após a
gestão do evento de defesa social de alto risco, em que estavam presentes as
diversas alternativas táticas, ocorreu a libertação do refém e a imobilização
do perpetrador do incidente crítico, ambos ilesos. No final da gestão, ao ser
questionado pela imprensa sobre o desfecho do evento, o operador tático
declarou: “Foi a vitória sobre a morte”.38 Situações semelhantes a essa ocorrem
cotidianamente Brasil afora, em que os policiais formados em Operações
Especiais realizam suas intervenções e salvam vidas, na medida do possível,
inclusive, dos perpetradores.
38  Disponível em <http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2012/02/14/interna_gerais,277889/detento-
que-manteve-refem-em-presidio-no-norte-de-minas-e-transferido.shtml>.

48 Atividade Policial
Se, por um lado, temos a visão secular da razão de ser dos integrantes dos
cursados em Operações Especiais, em ações do uso da força sempre pautada na
legalidade, legitimidade e consentimento; por outro há o aspecto transcendental
representado na oração das Forças Especiais, recitada cotidianamente em todas
as Unidades das Forças Especiais de Polícia do Brasil e que traz a essência
deontológica, ontológica e teleológica dos operadores táticos:
Oh! Poderoso Deus
Que és o autor da liberdade
E o campeão dos oprimidos,
Escutai a nossa prece
Nós os homens das Forças Especiais,
Reconhecemos a nossa dependência do Senhor
Na preservação da liberdade humana.
Estejais conosco
Quando procurarmos defender os indefesos
E libertar os escravizados.
Possamos sempre lembrar
Que nossa nação,
Cujo lema é: ordem e progresso,
Espera que cumpramos com o nosso dever,
Por nos próprios,
Com honra
E que nunca envergonhemos nossa fé,
Nossas famílias
Ou nossos camaradas.
Dai-nos a sabedoria de tua mente,
A coragem do teu coração,
A força de teus braços
E proteção de tuas mãos.
É pelo Senhor que combatemos
E a ti pertencem os louros da nossa vitória.
Pois teu é o reino,
O poder
E a glória
Para sempre,
Amém.

Atividade Policial 49
Nessa visão, que transcende a religiosidade em seu sentido clássico é o
próprio Cristo, o ente superior, o exemplo dos operadores das Forças Especiais
de Polícia, pois ele é a expressão máxima da operacionalização da “Vitória
sobre a Morte”. Não se pode negar que o operador das Forças Especiais de
Polícia se depara com a morte no seu cotidiano e sua intervenção tem por
objetivo a vitória sobre ela, resgatando reféns e salvando vidas.

50 Atividade Policial
TEXTO 7
A RESPONSABILIDADE PENAL DO COMANDANTE DE AERONAVE DE
ASAS ROTATIVAS DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS
EM FACE DAS MISSÕES DE DEFESA SOCIAL
Ledwan Salgado Cotta39
Sandro Vieira Corrêa40

RESUMO

Este artigo versa sobre a responsabilidade penal do Comandante


de Aeronave de asas rotativas da Polícia Militar de Minas Gerais, quando
responsável pelo cumprimento de missões de Defesa Social. Justifica-se
o tema, pois o policial militar que desempenha a função de comando de
helicópteros da Corporação está sujeito à normatização federal referente
à Aviação Civil, mormente o Código Brasileiro de Aeronáutica, que não
abarca as peculiaridades de uma atividade específica e diversa da aviação
desempenhada por particulares e empresas de transporte aéreo. O julgamento
do oficial, que está na condução de uma aeronave, envolvido em uma infração
penal de natureza comum ou militar, pode ser baseado em avaliações que
não levem em consideração as especificidades do voo policial, notadamente
a responsabilidade compartilhada de cada componente da Guarnição Aérea,
o que pode resultar em uma injustiça por meio da imputação penal baseada
somente em preceitos legais elencados em documentos normativos atinentes
à Aviação Civil. A fim de suprir lacunas apresentadas pela normatização
concernente ao voo policial, as instituições policial-militares recorrem ao
Direito Administrativo no intuito da criação de mecanismos jurídicos que
não sejam contrários às leis, mas que definam procedimentos padronizados,
que acolham os anseios da sociedade e salvaguardem juridicamente suas

51
ações. Conclui-se que, além da aceitação da normatização administrativa,
referente à adoção de procedimentos direcionados à atividade aeropolicial, a
consideração do princípio constitucional da razoabilidade remete o juiz, por
meio da hermenêutica, à avaliação de vários institutos normativos que não
estão elencados na legislação da Aviação Civil.

INTRODUÇÃO

Responsabilidade penal trata-se do dever de responder perante o


ordenamento jurídico vigente sobre qualquer afronta ou vilipêndio aos seus
ditames, por fato capitulado como crime ou contravenção penal.
A expressão “Defesa Social” adotada pelo Estado de Minas Gerais e outros
entes federativos refere-se a um sistema que engloba as instituições e serviços
correlatos da Polícia Militar, Corpo de Bombeiros Militar, Polícia Civil e
administração penitenciária. Todavia, em documentos relacionados e citados
neste artigo, outros termos abordados, como segurança pública e defesa civil,
guardam correlação com Defesa Social e têm o mesmo propósito designativo
e, quando citados, têm a mesma significância.
A aviação de asas rotativas (helicóptero) da Polícia Militar de Minas
Gerais, assim como em outras organizações públicas de Defesa Social, aqui
consubstanciada pelo Batalhão de Radiopatrulhamento Aéreo (Btl RpAer),
realiza serviços aéreos de polícia ostensiva, salvamento e resgate, defesa civil e
proteção ambiental.
No entanto, em face da especificidade de atuação e finalidade da função
pública desenvolvida, o Regulamento Brasileiro de Homologação Aeronáutica
(RBHA) no 91, de 20 de março de 2003, que contém as regras para a operação de
qualquer aeronave civil dentro do Brasil, em sua subparte K, item 91.961, prevê
condições especiais de operação autorizadas às atividades aéreas policiais e
de defesa civil, em especial às relacionadas ao pouso e decolagem, embarque
e desembarque de passageiros e acordos com os órgãos de controle do tráfego
aéreo da localidade de operação.
Por outro lado, de acordo com a Lei Federal no 7.565, de 19 de dezembro
de 1986, que institui o Código Brasileiro de Aeronáutica (CBA), o Comandante
da aeronave é responsável pela operação e segurança da aeronave. Os demais
membros da tripulação ficam subordinados, técnica e disciplinarmente, a ele.
Além disso, conforme o CBA, ele exerce autoridade inerente à função, desde que se
apresenta para o voo até a entrega da aeronave, concluída a viagem, ou, no caso de

52 Atividade Policial
pouso forçado, sua responsabilidade persiste até que as autoridades competentes
assumam a responsabilidade pela aeronave, pessoas e coisas transportadas. Como
é responsável pela operação e segurança da aeronave, o Comandante de Aeronave
poderá delegar a outro membro da tripulação as atribuições que lhe competem,
menos as que se relacionem com a segurança do voo.
A aviação de Defesa Social das instituições militares estaduais não foi
contemplada pela normatização exclusiva destinada às Forças Armadas.
Todavia, as Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares são considerados,
por força constitucional, como instituições militares estaduais e seus servidores
como militares estaduais. Mas, de forma incongruente, a aviação de Defesa
Social é regida pelas normas atinentes à Aviação Civil emanadas pela Agência
Nacional de Aviação Civil (Anac).
Na Aviação Civil, as atividades aéreas são desenvolvidas em consonância
com regulamentos específicos decorrentes do CBA, cuja normatização delimita,
especificamente, todas as ações a serem desencadeadas pelos atores envolvidos
no processo, sejam eles controladores de tráfego aéreo, pilotos, comissários de
bordo, mecânicos, escolas de formação, balizadores, dentre outros.
Todavia, no que concerne às atividades de aviação de Defesa Social, não
há um detalhamento, uma especificação dos procedimentos a serem adotados
no atendimento das ocorrências de urgência e emergência, o que obriga,
na maioria das vezes, o Comandante de Aeronave e demais componentes
da Guarnição Aérea (GuAer) a utilizar as condições especiais de operação
autorizadas às atividades aéreas policiais e de defesa civil.
Como não há um detalhamento normativo das responsabilidades a bordo
da aeronave de Defesa Social, e fica para a instituição estabelecer os padrões de
treinamento de sua tripulação, verifica-se um contraponto, uma antinomia em
relação à atribuição categórica de uma responsabilidade, quase que exclusiva,
ao Comandante de Aeronave, em virtude de seu dever funcional, de tudo o
que acontece em relação à aeronave, desde sua apresentação para o voo até
a entrega da aeronave, ao passo que os demais componentes da GuAer, nesse
contexto, têm atribuições específicas e de alta relevância para a consecução
dos serviços atinentes às missões de Defesa Social.
Justifica-se este artigo porque a atual legislação da Aviação Civil aplicada
às unidades aéreas dos órgãos de Defesa Social não se mostra suficiente para
sustentar o amparo no caso de um questionamento jurídico-penal ante a
ocorrência de um evento danoso de que resulte ofensa à integridade física de

Atividade Policial 53
seres humanos ou prejuízo material decorrentes de atividades relativas ao voo
em missões policiais ou de defesa civil.
Quanto à metodologia, trata-se de uma pesquisa do tipo exploratória,
em decorrência da interpelação de um assunto ainda pouco discutido no
meio acadêmico. Como técnica de pesquisa, foram utilizadas as modalidades
documental e bibliográfica, com abordagem qualitativa. Empregou-se o
método dedutivo para tratamento do assunto na literatura pesquisada.

CONSTITUIÇÃO, HERMENÊUTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Com o fim do Regime Militar no Brasil, que perdurou de 1964 a 1985, e a


posse de José Sarney na Presidência da República, em consequência da morte
do Presidente eleito Tancredo Neves, foi cumprida a promessa da instauração
de uma nova Assembleia Constituinte no País.
Os trabalhos tiveram início em fevereiro de 1987 e finalização em 5 de
outubro de 1988, quando foi promulgada a nova Constituição da República
Federativa do Brasil. Uma de suas principais características foi a adoção
dos princípios fundamentais que, a partir de então, proporcionam uma
harmonização e conferem consistência e coerência ao seu complexo normativo
(CARVALHO FILHO, 2010).
Outras características no texto da CRFB de 1988 são: abertura, pluralidade,
consagração no texto do Estado Democrático de Direito; apresentação de
um sistema de direitos e garantias fundamentais; preservação da separação
dos poderes constituídos, Legislativo, Executivo e Judiciário; manutenção
da República como forma de governo e do federalismo como forma de
Estado (FERNANDES, 2013). Segundo Moraes (2004, p. 42), a classificação da
atual CRFB é a seguinte: “[...] formal, escrita, legal, dogmática, promulgada
(democrática, popular), rígida e analítica”.
Diferentemente de Constituições anteriores, que tinham um caráter
essencialmente político de atuação dos poderes públicos, a Constituição
de 1988 detém força normativa, vinculativa e de obrigatoriedade de suas
disposições. Ressalta-se a Constituição vigente no contexto da revolução
profunda ocorrida no direito contemporâneo, que não mais se consubstancia
em modelo de regramento e subsunção, nem da tentativa de ocultar o papel
criativo de juízes e tribunais (BARROSO, 2013).
O desenvolvimento de uma nova dogmática de expansão constitucional
proporcionou uma gama de possibilidades jurídicas que proporcionaram ao

54 Atividade Policial
juiz a alternativa de sopesar elementos para a fundamentação da decisão. Isso
não quer dizer que um ponto foi preterido em relação ao outro, no entanto,
denota que, para aquela situação ou caso concreto, um determinado princípio,
por exemplo, apresenta-se mais adequado, mas sem afastar ou retirar a
legalidade e relevância de outro. Seria a harmonia na interpretação agregadora
dos princípios constitucionais.

Hermenêutica dos princípios constitucionais

Princípio é a estrutura primária e fundamental de uma ciência, a partir da


qual decorrerão todos os desdobramentos e consequências. Etimologicamente,
a palavra princípio é oriunda do latim principium, tendo o significado de
começo, início, partida. Com o tempo, o termo tomou uma conotação de
base, alicerce, aquilo que estrutura um determinado sistema (CARVALHO
FILHO, 2010). Nesse sentido, Alexandrino e Paulo (2011, p. 183) assinalam que
princípios são:
[...] as ideias centrais de um sistema, estabelecendo suas diretrizes
e conferindo a ele um sentido lógico, harmonioso e racional, o
que possibilita uma adequada compreensão de sua estrutura. Os
princípios determinam o alcance e o sentido das regras de um dado
subsistema do ordenamento jurídico, balizando a interpretação e a
própria produção normativa.

O termo “Hermenêutica” é oriundo do verbo grego hermeneueins,


relacionado à prática de decifrar, interpretar, explicar escritos e textos.
A hermenêutica é afeta, de forma intrínseca, ao campo da religião,
notadamente ao estudo de interpretação da Bíblia. Existe uma grande
tendência de associar-se o conceito de hermenêutica ao de interpretação, mas
não são sinônimos, haja vista que o primeiro termo se desenvolveu e alçou
uma nova perspectiva, a de uma ou um conjunto de teorias voltadas para a
interpretação de algo, e não apenas de um texto escrito, mas de tudo ao qual se
possa atribuir sentido e significado (FERNANDES, 2013). No entendimento de
Fernandes (2013, p. 626-627), “A função hermenêutica dos princípios permite
aos juízes extraírem a essência de uma determinada disposição legal, servindo
ainda de limite protetivo contra a arbitrariedade”.
Os Princípios da razoabilidade e da proporcionalidade são tratados, de
forma equivalente, em vários textos, o que enseja o entendimento de que

Atividade Policial 55
seriam sinônimos e aplicados da mesma maneira em face de um caso concreto.
Todavia, mesmo com uma inter-relação, são detentores de características
diferentes. São princípios que não estão expressos no texto constitucional,
porque são princípios gerais do Direito, adequados e aplicáveis à quase
totalidade dos ramos da ciência jurídica. Da mesma forma, quanto à diferença
entre os princípios da razoabilidade e proporcionalidade, Bitencourt (2008,
p. 27) elenca o seguinte:
Pois é exatamente o princípio da razoabilidade que afasta a invocação
do exemplo concreto mais antigo do princípio da proporcionalidade,
qual seja, a “Lei de Talião”, que, inegavelmente, sem qualquer
razoabilidade, também adotava o princípio da proporcionalidade.
Assim, a razoabilidade exerce função controladora na aplicação do
princípio da proporcionalidade.

O princípio da razoabilidade pode ser chamado de princípio da proibição


de excesso, porquanto objetiva aferir a compatibilidade dos meios em relação
aos fins para evitar restrições desnecessárias ou abusivas por parte do Direito
como um todo (MEIRELLES, 2012). No entanto, não existe um regramento
para invocação desse princípio à medida que sua adequação dependerá dos
critérios de oportunidade, conveniência, finalidade e compatibilidade ao caso
concreto (DI PIETRO, 2005).

Segurança jurídica

Entende-se por segurança jurídica a garantia conferida às pessoas para o


desenvolvimento de suas relações sociais, cuja convicção dos atos praticados
encontra supedâneo no Direito. Quanto ao princípio da segurança jurídica,
constata-se que este se relaciona com a estabilidade das relações jurídicas, por
meio da proteção ao ato jurídico perfeito, ao direito adquirido e à coisa julgada,
preceitos constitucionais elencados no art. 5o, inciso XXXVI, da CRFB de 1988.
Na atual conjuntura, o princípio da segurança jurídica apresenta-se como
uma das vigas mestras da ordem jurídica, entendido como princípio da boa-
-fé dos administrados ou da proteção da confiança, proporcionador de maior
estabilidade das situações jurídicas (MEIRELLES, 2012).
Uma normatização que apresenta lacunas, como é o caso das regras
atinentes à aviação de segurança pública, não pode ser adotada com
exclusividade diante da necessidade de uma tomada de decisão pelo juiz. Além

56 Atividade Policial
disso, uma decisão judicial em sede de infração penal, em tese, cometida pelo
Comandante de Aeronave de Defesa Social, que esteja lastreada nos ditames
legais atualmente existentes, pode resultar em injustiça que repercutirá em
toda uma classe de profissionais. Então, a hermenêutica jurídica e princípios
como o da razoabilidade devem ser utilizados como forma de balizamento
para uma coerência jurídica para a decisão ante um caso concreto.

Competência administrativa para normatização e padronização de


procedimentos para a atividade aérea de Defesa Social

A falta de posicionamento do Código Brasileiro de Aeronáutica e


normatização federal decorrente obrigou as instituições de Defesa Social, no
contexto de suas atividades aéreas, a desenvolverem, de forma conjunta ou
isolada, mecanismos que se apresentam em um viés normativo que padroniza
procedimentos de atuação, notadamente na seara de desempenho das
guarnições aéreas empregadas no cenário da Defesa Social.

a) Direito Administrativo
No conceito de Carvalho Filho (2010, p. 9), Direito Administrativo é “[...]
o conjunto de normas e princípios que, visando sempre ao interesse público,
regem as relações jurídicas entre pessoas e órgãos do Estado e entre este e as
coletividades a que devem servir”.

b) Administração Pública
Com o aumento do tamanho do Estado e a complexidade de suas
atividades, especificamente com o escopo de organizar e gerir a coletividade,
surgiu a necessidade do estabelecimento de órgãos e instituições para levarem
a efeito tal objetivo e proporcionar o devido funcionamento daquilo que, em
tese, pertence a todos. Conforme Moraes (2004, p. 313), Administração Pública
pode ser definida:
[...] objetivamente como a atividade concreta e imediata que o
Estado desenvolve para a consecução dos interesses coletivos e
subjetivamente como o conjunto de órgãos e de pessoas jurídicas
aos quais a lei atribui o exercício da função administrativa do Estado.

A Administração Pública tem como objetivo primaz o interesse público,


como sua guardiã por intermédio da adoção de agentes promotores desse
interesse e a criação e aplicação de procedimentos que visem a salvaguardá-lo.

Atividade Policial 57
c) Poder de Polícia
O poder de polícia é utilizado como poder de contenção, é a legítima
capacidade que tem o Estado de limitar os direitos individuais pela perspectiva
de assegurar o bem da coletividade. No ponto de vista de Gasparini (2007), poder
de polícia é utilizado no sentido da atribuição de que dispõe a Administração
Pública para condicionar o uso, o gozo e a disposição da propriedade e
restringir o exercício dos administrados no interesse público ou social.
Nessa abordagem de poder de polícia verifica-se a possibilidade de
uma tendência da identificação da expressão “de polícia” como corporação.
O termo “polícia”, como função, é referente à atividade administrativa exercida
por vários órgãos atinentes à Administração Pública e não somente pelas
conhecidas polícias militares. Estas são órgãos públicos administrativos
pertencentes aos sistemas de segurança pública.

d) Órgão Público
O Estado é um ente personalizado no qual vigora o pluripersonalismo:
além da pessoa jurídica central, existem outras internas que compõem o
sistema político. Essas outras repartições internas, cada qual responsável por
um segmento do serviço público, constituem os chamados órgãos públicos
(CARVALHO FILHO, 2010).
A Polícia Militar, no contexto do Estado de Minas Gerais, é um centro
de competência subordinado ao ente estatal com atribuições definidas
com base na Constituição do Estado e em leis específicas definidas para seu
funcionamento e prestação de serviços à comunidade, motivo por que é
definida como órgão público.

e) Agente Público
A Administração Pública se faz presente na sociedade por meio de seus
órgãos e, consequentemente, por intermédio das pessoas que estão inseridas
no contexto desses órgãos públicos, ou seja, aqueles agentes que, de uma
forma ou outra, se vinculam ao Estado de maneira permanente ou transitória,
com ou sem remuneração, por designação, eleição, nomeação, contratação ou
qualquer forma de investidura ou vínculo, cargo, emprego, mandato ou função
pública (ALEXANDRINO; PAULO, 2011).
No que concerne à força pública mineira, os policiais militares fardados,
armados e equipados, presentes em todos os oitocentos e cinquenta e três
municípios, além de inúmeros distritos, materializam a presença do poder

58 Atividade Policial
estatal perante a sociedade e representam a principal ferramenta de apoio ao
cidadão das alterosas para o enfrentamento de qualquer tipo de alteração da
harmonia social.

f) Atos administrativos
Os atos administrativos são categoria ou espécie dos atos jurídicos.
Trata-se de manifestações ou declarações unilaterais da Administração
Pública, que não podem ser bilaterais porque seriam consideradas contratos
administrativos que impõem obrigações aos administrados e a si próprios.
Os atos administrativos devem estar revestidos de requisitos que vão lhes
proporcionar validade e eficácia. Não há unanimidade acerca do número e
da identificação desses requisitos (também chamados de elementos), mas,
de uma forma geral e abrangente, apresentam-se nesse trabalho os seguintes:
competência, finalidade, forma, motivo, conteúdo, objeto e causa.
Dos atos administrativos emanados pela Administração Pública, destaca-
-se para este artigo o ato administrativo normativo, haja vista a possibilidade
do estabelecimento de normatividade, ou seja, a criação de regras destinadas e
que deverão ser cumpridas pelos seus agentes.Verifica-se que a Administração
Pública e, de forma específica, a Polícia Militar, pode e deve emitir atos
administrativos normativos para definir ações, atividades e procedimentos que
serão executados pelos seus servidores, desde que não sejam contrários às leis
em vigor. Então, ressalta-se que, naquilo que a legislação aeronáutica se mostra
omissa ou insipiente, a Polícia Militar, por intermédio de sua unidade aérea,
que é o Batalhão de Radiopatrulhamento Aéreo, pode definir procedimentos
operacionais padronizados que irão nortear a atuação da Guarnição de
Radiopatrulha Aérea41. Essas regras ou normas definidoras de procedimentos
de atuação podem ser estabelecidas por intermédio de memorandos, ordens
de serviços, instruções ou outro tipo de ato normativo administrativo, haja
vista não existir uma padronização quanto ao mais adequado veículo, e sim
um direcionamento dos que se enquadram em determinados casos.

g) Doutrina
A etimologia da palavra “doutrina” vem do latim doctrina, que significa
ensinamento ou conjunto de ensinamentos. Também é referente àquele
indivíduo que ensina – doctor. Segundo lição de Bobbio (1998), ao mencionar

41  Guarnição de Radiopatrulha Aérea constitui a fração policial militar mínima que atua embarcada em
helicópteros da PMMG com vistas a prestar o apoio aéreo às frações terrestres (MINAS GERAIS, 2013).

Atividade Policial 59
a mesma base etimológica latina, assinala que doctrina vem de doceo, que
significa ensino.
Ao longo do tempo, o vocábulo “doutrina”, que era restrito ao ensinamento,
diversificou-se de acordo com os vários ramos que surgiram, ou que resolveram
utilizá-lo, e fizeram uma adequação de seu significado ao objetivo proposto.
No entanto, prevalece uma raiz conceitual referente ao conjunto de princípios
que constitui o fundamento de uma ciência. Na atualidade, o conceito de
doutrina refere-se aos campos da Religião, da Filosofia, da Administração, da
Educação e do Direito.
A doutrina no Direito consiste nas atividades de estudo, pesquisa e
interpretação praticadas pelos especialistas e que propiciam aos operadores
uma compreensão mais adequada do conteúdo das normas jurídicas (CAPEZ,
2010). Ao aliar o vocábulo “doutrina” ao conceito de aprendizagem, Souza
(2003, p. 134) assinala que:
Doutrina estaria ainda ligada implicitamente ao processo de
aprendizagem organizacional, pelo fato de esta constituir, na prática,
o repositório de experiências e ideais de uma organização, que
subsidiam a adequação dos rumos de seu planejamento estratégico.
Essa relação se deduz a partir do conceito de aprendizagem
propriamente dito, somado ao de aprendizagem organizacional.

Dessa forma, doutrina institucional é o conjunto de ações, processos e


procedimentos reiterados em uma determinada organização, que não agridem
ou se oponham ao ordenamento jurídico vigente e encontrem legitimidade
em seus executores e sejam necessários à sua dinâmica operacional.
Quanto à Polícia Militar de Minas Gerais, como não existe em nível
federal um código de atuação policial, a instituição emite atos normativos
que relacionam os procedimentos policiais a serem adotados nas situações
sob sua competência e responsabilidade. Tais regras, na atual conjuntura,
foram consubstanciadas em cadernos doutrinários, os quais são revisados
periodicamente em decorrência da dinâmica social.

DIREITO PENAL BRASILEIRO

A função precípua do Direito é a estabilização das relações humanas por


meio do delineamento de medidas de caráter geral e personalístico, positivadas
ou consuetudinárias que, especificamente, visam à harmonia da sociedade.

60 Atividade Policial
O conceito de Direito Penal é, conforme Bitencourt (2008, p. 2):
[...] um conjunto de normas jurídicas que tem por objeto a
determinação de infrações de natureza penal e suas sanções
correspondentes – penas e medidas de segurança. Esse conjunto de
normas e princípios, devidamente sistematizados, tem a finalidade
de tornar possível a convivência humana, ganhando aplicação prática
nos casos concretos, observando rigorosos princípios de justiça.

Quanto ao Direito Penal Militar, trata-se de um Direito Penal especial,


pois a maioria de suas normas, diversamente das do Comum, que são
destinadas a todos os cidadãos indistintamente (inclusive aos próprios
militares), se aplicam, quase que exclusivamente aos militares, que são uma
categoria de profissionais com deveres e obrigações especiais em relação ao
Estado. Tais normas do Direito Penal Castrense se mostram indispensáveis à
defesa do Estado e à própria existência de suas corporações militares, em face
da necessidade da organização e manutenção da disciplina em instituições
detentoras de um poderio bélico de grande potencial ofensivo aos direitos e
garantias individuais.
Tanto a Constituição da República Federativa do Brasil quanto a
Constituição do Estado de Minas Gerais denominam os integrantes da Polícia
Militar e do Corpo de Bombeiros Militar como militares estaduais e enfatizam
que a hierarquia e a disciplina são os pilares básicos das duas instituições.

Responsabilidade penal e teorias do crime

Responsabilidade penal é o dever de responder perante o ordenamento


jurídico vigente sobre qualquer afronta ou vilipêndio aos seus ditames, por
fato capitulado como crime ou contravenção penal.
Quanto ao crime, é necessária a distinção entre crime, delito e
contravenção penal. Para uma referência geral entre as citadas figuras,
utiliza-se a expressão infração penal. A normatização penal brasileira utiliza
o critério bipartido, em que crime e delito são considerados sinônimos, com a
contravenção penal abordada como conceito distinto.
O Decreto-Lei Federal no 3.914, de 9 de dezembro de 1941 (Lei de
Introdução ao Código Penal), estabelece a seguinte definição de crime: “[...]
considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou
detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com

Atividade Policial 61
a pena de multa [...].”, elenca também o conceito de contravenção: “[...] a
infração a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa,
ou ambas, alternativa ou cumulativamente.” (BRASIL, 1941b).
O conceito que predomina na doutrina brasileira é no sentido de que o
crime é um fato típico, antijurídico e culpável.
Quanto ao conceito de crime militar, o Brasil adotou, para definir como
tal, o aspecto formal, ou seja, o legislador enumera, taxativamente, por meio
de lei, as condutas tidas como crime militar.
Por conseguinte, o Código Penal Militar apresenta condutas tipificadas
como crime militar que podem ser praticadas pelos militares das Forças
Armadas e pelos militares estaduais, por fazerem parte de instituições que têm
como pilares básicos a hierarquia e a disciplina. Dessa forma, segundo Assis
(2009, p. 42), é considerado crime militar “[...] toda violação acentuada ao dever
militar e aos valores das instituições militares. Ele distingue-se da transgressão
disciplinar porque esta é a mesma violação, entretanto na sua caracterização
de manifestação elementar e simples”.
É necessária a abordagem sobre a diferença entre crimes militares próprios
e impróprios, pois os primeiros, conforme posição doutrinária majoritária,
são considerados delitos autenticamente militares, porque têm previsão
única e exclusivamente no Código Penal Militar, e não existe correspondência
em nenhuma outra lei, mesmo em se tratando de Código Penal, destinado à
sociedade como um todo. Quanto aos crimes militares impróprios, têm dupla
previsão tanto no Código Penal Militar quanto no Código Penal comum, ou
legislação similar, com ou sem divergência de definição.
Do desencadeamento de um delito de natureza comum ou militar, o
responsável pela ação ou omissão é denominado autor, e podem existir outros
atores nesse contexto que serão tratados também como coautores ou partícipes.

A culpa no sentido lato e estrito

Por meio de uma análise sintética, verifica-se que o conceito de culpa é


gênero, o qual engloba o termo em sentido amplo, dividido em dolo, que pode
ser direto ou eventual.
Dolo é o caráter volitivo livre e consciente dirigido em função da realização
de uma conduta prevista no tipo penal incriminador, do qual o elemento
consciência é o momento intelectual do dolo e diz respeito à situação fática
em que se encontra o agente, ou seja, ele deve saber exatamente aquilo que

62 Atividade Policial
faz para produzir o resultado lesivo. Em relação ao elemento volitivo, verifica-
-se que o agente quer a produção do resultado que compõe o tipo objetivo
(GRECO, 2003).
De uma forma genérica, a culpa é considerada a partir do pressuposto
de que o agente não desejou a produção do resultado que avilta o tipo
penal considerado. Porém, ressalta-se a inobservância do dever objetivo de
cuidado, consubstanciada pela realização de um resultado não querido, mas
objetivamente previsível.
O inciso II do art. 18 do Código Penal estabelece ser culposo o crime
“[...] quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, imperícia ou
negligência” (BRASIL, 1940).

Excludentes de ilicitude

Também denominadas causas de exclusão da antijuridicidade ou


justificativas de antijuridicidade, são situações de afastamento daquilo que é
contrário ao tipo penal. O fato permanece típico, isto é, ainda tem previsão
na norma penal como proibido, mas o delito deixa de existir em razão de
as circunstâncias em que a conduta aconteceu tornarem-na desprovida de
ilicitude ou, em linguagem mais simples, lícita.
O estado de necessidade caracteriza-se pela necessidade de sacrifício de
um interesse jurídico protegido em prol da manutenção de outro, imposta a
existência do interesse social. Dessa forma, há a permissão do ultraje do bem
de menor valor para a salvaguarda do mais valorado, próprio ou de outrem, em
virtude do perigo a que está sujeito, cuja perda não era razoável exigir.
O instituto da legítima defesa acompanha a história do homem,
principalmente porque essa espécie tem na relação de seus iguais uma forma
de mobilização contra o perigo e na multiplicação de forças para realização
de seus objetivos. No entanto, esse relacionamento tem suas divergências
e, não raras vezes, uma pessoa atravessa o limite, principalmente físico do
semelhante, o que causa repúdio e pode ensejar uma reação de proteção
própria e individual.
Estrito cumprimento do dever legal: trata-se de um instituto relativo às
excludentes de ilicitude que não recebeu uma pormenorização da lei como
ocorreu com o estado de necessidade e a legítima defesa. Não há, na primeira
parte do inciso III do art. 23 do Código Penal, critérios que possam servir
de modelo para uma interpretação autêntica da conduta autorizada, o que

Atividade Policial 63
enseja uma constatação de sua caracterização de forma direta à sua própria
expressão, conforme Greco (2003, p. 410) ao assinalar que:
Primeiramente, é preciso que haja um dever legal imposto ao agente,
dever este que, em geral, é dirigido àqueles que fazem parte da
Administração Pública, tais como os policiais e os oficiais de justiça.
[...].
Em segundo lugar, é necessário que o cumprimento a esse dever
se dê nos exatos termos impostos pela lei, não podendo em nada
ultrapassá-los.

Greco (2003), Capez (2010) e Bitencourt (2008), unanimemente, destacam


que o cumprimento do dever que é previsto em lei, mesmo com a ofensa a um
bem juridicamente tutelado, mas sem o cometimento de excesso, caracteriza
a respectiva excludente. Nessa perspectiva, constata-se que a ação policial-
-militar constitui um dever legal à medida que está consubstanciada na lei em
todas as suas acepções (decretos, regulamentos, atos normativos, entre outros)
e seu cumprimento deve ser pautado no limiar de sua abrangência, tendo em
vista que, na constatação de excesso, a cobrança jurídica será realizada.
O exercício regular de direito está elencado na segunda parte do inciso III
do art. 23 do Código Penal, porém, como no caso do estrito cumprimento do
dever legal, não recebeu tratativa conceitual pelo legislador e sua definição foi
incumbida aos tribunais e à doutrina.
Segundo Jesus (2005, p. 400), “A expressão direito é empregada em sentido
amplo e abrange todas as espécies de direito subjetivo. Desde que a conduta
se enquadre no exercício de um direito, embora típica, não apresenta o caráter
de antijurídica”. Quanto ao requisito regularidade, existe a necessidade de sua
satisfação para o devido reconhecimento da licitude do ato, ou seja, há que
se proceder à observância das formalidades atinentes ao exercício do direito.
Como exemplo verificam-se as intervenções médicas e cirúrgicas, a correção
dos filhos, salvo os casos de violência infantil, a violência esportiva existente
nos esportes de contato, a prisão em flagrante efetuada pelo particular e o
desforço imediato no caso do esbulho possessório.
Causas supralegais de exclusão de ilicitude: na concepção de Galvão
(2011), penalistas nacionais reconhecem que as causas de justificação não se
limitam àquelas descritas em lei, pois se admite a existência das chamadas
causas supralegais de exclusão de ilicitude. Porém, assevera que as fórmulas

64 Atividade Policial
abrangentes concernentes ao estrito cumprimento do dever legal e do exercício
regular do direito podem resolver a quase totalidade das questões nas quais
não se materialize o desvalor da conduta.

Lei penal em branco e lacuna da lei

Conforme Bitencourt (2008, p. 170), leis penais em branco “[...] são as de


conteúdo incompleto, vago, lacunoso, que necessitam ser complementadas
por outras normas jurídicas, geralmente de natureza extrapenal”.
Quanto à lacuna da lei, trata-se de uma omissão, de um vazio ou de uma
falha existente no ordenamento legislativo, observados no texto de uma lei ou
corpo de uma regulamentação o que não permite a justa adequação ao caso
concreto. Essa omissão é equacionada por meio das chamadas técnicas de
integração que se valem da analogia, dos costumes e dos princípios gerais do
direito para a resolução jurídica do caso concreto.
Tal fundamentação teórica contribui para a compreensão da intrínseca
relação do Direito Penal com a atividade do Comandante de Aeronave de
asas rotativas da Polícia Militar de Minas Gerais nas missões de Defesa
Social, especificamente quanto à sua responsabilidade e à dos demais
componentes da Guarnição Aérea nas atividades às quais estão expostos
diuturnamente, à medida que lidam com o bem maior da existência
humana: a vida.

A AVIAÇÃO DE DEFESA SOCIAL NA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

As primeiras atividades aéreas da PMMG datam das décadas de 1920


e 1930 do século XX. Em função da vasta extensão territorial e atenta às
necessidades de recursos materiais para bem cumprir sua missão institucional,
a então Força Pública de Minas Gerais desenvolveu seus primeiros projetos de
aquisição de aeronaves nos anos 1921 e 1923 (MARQUES, 2006).
Os Capitães Ciancciulli e Reynaldo Gonçalves, ambos pilotos da Força
Pública de São Paulo, foram destacados para Minas Gerais com o objetivo de,
na região do Prado Mineiro, localizada em Belo Horizonte, instruir os oficiais
de Minas Gerais na condução de aeronaves de asas fixas. A primeira aeronave
da Corporação, um modelo AVRO 504, foi transportada para Belo Horizonte,
por meio da Estrada Férrea Central do Brasil. Entretanto, os citados oficiais
permaneceram por um escasso período de tempo, o objetivo se perdeu e a

Atividade Policial 65
aeronave foi utilizada com êxito em mais de trinta voos, pela primeira aviadora
brasileira, Anésia Pinheiro Machado (MARQUES, 2006).
No ano 1951, a Polícia Militar recebeu um avião PIPER, de fabricação
americana, que foi repassado a título de doação por meio da Fundação Getulio
Vargas. A aeronave atendia ao Conselho Diretor das Escolas Caio Martins e
transportava médicos, dentistas e professores que assistiam aos menores
daqueles estabelecimentos nas cidades de Pirapora, São Romão, Januária, São
Francisco, Urucânia e Carinhanha (MARQUES, 2006).
Mesmo em um primeiro momento com uma utilização diversa
da atividade fim da Polícia Militar, em 1964, por ocasião do Movimento
Revolucionário, a aeronave serviu para fazer ligação entre o Comando-Geral
da Instituição e os diversos batalhões no interior do Estado. Contudo, pela
extinção das Escolas Caio Martins, a aeronave foi devolvida ao Departamento
de Aviação Civil (DAC), em razão de cláusula contratual.
Com o passar dos anos e por meio da análise de experiências bem-
-sucedidas de outras instituições policiais, principalmente as estrangeiras, a
Polícia Militar de Minas resolveu retomar suas atividades aéreas, agora com
cerne definido nas atividades de preservação da ordem pública.
Em 1986, o então Comandante-Geral da PMMG, Coronel PM Leonel
Archanjo Afonso determinou a realização de um estudo sobre a viabilidade
da atividade aérea na Corporação e, assim, foi criado, por meio da Resolução
no 1.665, de 27 de janeiro de 1987, o Comando de Radiopatrulhamento Aéreo
(Corpaer), cuja responsabilidade é a execução, no Estado de Minas Gerais, e
até mesmo em outros Estados da Federação, mediante convênio ou situação
emergencial, das atividades de radiopatrulhamento aéreo. Atualmente, a
denominação da Unidade Aérea da PMMG é Batalhão de Radiopatrulhamento
Aéreo (MARQUES, 2006).
O então Corpaer foi instalado em um terreno pertencente à Academia de
Polícia Militar, localizado na Rua dos Pampas, Bairro Prado de Belo Horizonte.
Posteriormente, surgiu a necessidade de uma inserção da unidade no contexto
da aviação como um todo e, então, foi celebrado um convênio com a Empresa
Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) para a construção de um
hangar no Pátio Norte do Aeroporto da Pampulha.
A primeira aeronave operada pela unidade foi um helicóptero Bell 206-III,
Jet Ranger, prefixo PP-EJF, que recebeu o designativo ou codinome Pégasus 01.

66 Atividade Policial
No ano 1992, dois helicópteros Bell 47, modelos G2, foram confiados à PMMG
a título de doação pela Força Aérea Brasileira e receberam os prefixos PP-EJD e
PP-EJE com os respectivos prefixos Pégasus 02 e 03.
Em 1994, a frota recebeu a primeira aeronave esquilo, modelo AS350B2,
prefixo PP-EPM, que recebeu o designativo de Pégasus 04, mas que foi
acidentada com perda total em 1996. Esta foi substituída por outro esquilo,
prefixo PP-EJJ, o Pégasus 07.
Foi firmado um convênio entre a PMMG e a Prefeitura Municipal de
Uberaba, em 1995, para a operação, naquela cidade, de um helicóptero modelo
Robinson 22, prefixo PP-MAF, cujo designativo foi Pégasus 06. Ao término do
convênio, não ocorreu a renovação. No ano 1996, o Governo de Minas adquiriu
mais quatro aeronaves esquilo, destinadas à Polícia Militar, as quais receberam
os seguintes prefixos e designativos: PP-EJK (Pégasus 08), PP-EJL (Pégasus 09),
PP-EJM (Pégasus 10) e PP-EJN (Pégasus 11).
A Polícia Militar utilizou também em atividades de segurança pública
um avião modelo Cessna 210, prefixo PT-DTB, com designativo de Pégasus 05,
objeto de depósito judicial junto à Corporação em decorrência de apreensão
por utilização em ações ilícitas relacionadas ao tráfico de drogas. Porém, em
2002, a aeronave foi devolvida ao seu proprietário por determinação da Justiça.
Por meio da celebração de convênio com a PMMG, a Secretaria de Estado
do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD) adquiriu um
helicóptero esquilo, prefixo PP-IEF, que recebeu o designativo de Guará 01. Essa
aeronave vem atuando na proteção e preservação do meio ambiente desde
1996. Já no ano 2006, ocorreu a aquisição pela SEMAD de outro helicóptero
esquilo de prefixo PP-IEG, cujo designativo é Guará 02.
Com o acidente que inutilizou o helicóptero Bell Jet Ranger III, PP-EJF,
Pégasus 01, foi adquirido, em 2008, pela PMMG outro helicóptero do mesmo
modelo de prefixo PT-YAP, que recebeu o designativo de Pégasus 13. No mesmo
ano, a PMMG recebeu do Estado de Minas Gerais um avião modelo King-Air
C90, prefixo PT-OSO, o qual teve o designativo de Pégasus 12.
Em 2009, a SEMAD passou a utilizar um avião modelo Embraer 711/
Corisco Turbo, de prefixo PT-RIY, também objeto de depósito judicial, que
recebeu o designativo de Guará 03.
Mediante convênio firmado com o Governo Federal, por meio da
Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), a PMMG, em 2011,

Atividade Policial 67
recebeu um helicóptero esquilo, modelo AS350B3, o qual foi designado
Pégasus 14.
Segundo dados fornecidos pela Seção de Manutenção de Aeronaves da
unidade, até a data de 06 de junho de 2013, o Btl RpAer contabiliza, em toda a
sua história, cinquenta e cinco mil oitocentos e sete horas voadas, e hoje opera
nove helicópteros e dois aviões, com a segunda maior frota de aeronaves no
contexto das unidades aéreas de segurança pública, à exceção de São Paulo. Em
decorrência da vasta extensão territorial de Minas Gerais, está em plena execução
o projeto de desconcentração de bases aéreas da Corporação no interior do
Estado. Três já foram efetivadas: 2a Companhia de Radiopatrulhamento Aéreo
(CoRpAer) em Uberlândia, 3a CoRpAer em Montes Claros e 4a CoRpAer em Juiz
de Fora. Pretende-se estruturar outras bases em sedes estratégicas do Estado,
com previsão em Varginha e Governador Valadares.

Normatização federal e estadual referente à atividade aérea policial

A Constituição de 1988 elenca, em seu Capítulo III, no art. 144, sobre a


Segurança Pública no Brasil, quanto às polícias militares, que a existência,
definição e competência, estão relacionadas no citado artigo, notadamente no
inciso V, e, a partir do parágrafo 5o:
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos
seguintes órgãos:
I – Polícia Federal:
[...];
V – Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares.
[...].
§ 5o Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da
ordem pública e aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições
definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.
§ 6o As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças
auxiliares e reservas do Exército, subordinam-se, juntamente com as
polícias civis, aos governadores dos estados, do Distrito Federal e dos
Territórios.

68 Atividade Policial
Quanto à Constituição do Estado de Minas Gerais, promulgada no ano
1989, as atribuições da Polícia Militar seguiram a premissa determinada pela
CRFB de 1988 no seguinte sentido:
Art. 142. A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar, forças
públicas estaduais, são órgãos permanentes, organizados com base na
hierarquia e na disciplina militares e comandados, preferencialmente,
por oficial da ativa do último posto, competindo:
I – à Polícia Militar, a polícia ostensiva de prevenção criminal, de
segurança, de trânsito urbano e rodoviário, de florestas e de mananciais
e as atividades relacionadas com a preservação e restauração da ordem
pública, além da garantia do exercício do poder de polícia dos órgãos
e entidades públicos, especialmente das áreas fazendária, sanitária,
de proteção ambiental, de uso e ocupação do solo e de patrimônio
cultural.

O Decreto-Lei Federal no 667, de 2 de julho de 1969, que foi modificado


pelo Decreto-Lei Federal no 1.072, de 30 de dezembro de 1969, reorganizou
as Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares e prescreve, em seu
art. 3o:
Art. 3o Instituídas para a manutenção da ordem pública e segurança
interna nos Estados, nos Territórios e no Distrito Federal, compete às
Polícias Militares, no âmbito de suas respectivas jurisdições:
a) executar com exclusividade, ressalvas as missões peculiares das
Forças Armadas, o policiamento ostensivo, fardado, planejado
pela autoridade competente, a fim de assegurar o cumprimento
da lei, a manutenção da ordem pública e o exercício dos poderes
constituídos;
b) atuar de maneira preventiva, como força de dissuasão, em locais
ou áreas específicas, onde se presuma ser possível a perturbação
da ordem;
c) atuar de maneira repressiva, em caso de perturbação da ordem,
precedendo o eventual emprego das Forças Armadas;
d) atender à convocação, inclusive mobilização, do Governo
Federal em caso de guerra externa ou para prevenir ou reprimir
grave perturbação da ordem ou ameaça de sua irrupção,
subordinando-se à Força Terrestre para emprego em suas
atribuições específicas de polícia militar e como participante
da Defesa Interna e da Defesa Territorial;
e) além dos casos previstos na letra anterior, a Polícia Militar
poderá ser convocada, em seu conjunto, a fim de assegurar à
Corporação o nível necessário de adestramento e disciplina
ou ainda para garantir o cumprimento das disposições deste

Atividade Policial 69
Decreto-Lei, na forma que dispuser o regulamento específico.

Dessa forma, verifica-se a delimitação do serviço policial, que é


submetido também ao controle e coordenação do Exército Brasileiro em face
de sua condição normativa de força auxiliar e reserva das tropas terrestres.
Ainda com o viés normativo de relacionar competências e conceitos pelo
Exército Brasileiro em relação às Polícias Militares, mas com uma inserção da
atividade aérea no cerne da segurança pública, o Decreto Federal no 88.777, de
30 de setembro de 1983, aprovou o Regulamento denominado R-200, que rege
as Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, e, em seu art. 2o, item 27,
verifica-se:
Art. 2o – Para efeito do Decreto-Lei no 667, de 2 de julho de 1969,
modificado pelo Decreto-Lei no 1.406, de 24 de junho de 1975, e pelo
Decreto-Lei no 2.010, de 12 de janeiro de 1983, e deste Regulamento,
são estabelecidos os seguintes conceitos:
[...]
27) Policiamento Ostensivo – Ação policial, exclusiva das Polícias
Militares em cujo emprego o homem ou a fração de tropa engajados
sejam identificados de relance, quer pela farda quer pelo equipamento,
ou viatura, objetivando a manutenção da ordem pública. São tipos
desse policiamento, a cargo das Polícias Militares ressalvadas as
missões peculiares das Forças Armadas, os seguintes:
- ostensivo geral, urbano e rural;
- [...];
- de radiopatrulha terrestre e aérea;
- [...] (destaque nosso).

No art. 30 verifica-se a continuação da delimitação de coordenação


e controle em relação às Polícias Militares e encontra-se o subsídio para as
Polícias Militares adquirirem aeronaves:
Art. 30. A aquisição de aeronaves, cuja existência e uso possam ser
facultados às Polícias Militares, para melhor desempenho de suas
atribuições específicas, bem como suas características, será sujeita
à aprovação pelo Ministério da Aeronáutica, mediante proposta do
Ministério do Exército (BRASIL, 1983).

A Diretriz para a Produção de Serviços de Segurança Pública no 3.01.01/2010,


intitulada Diretriz Geral para Emprego Operacional da PMMG (DGEOp), atribui

70 Atividade Policial
ao Btl RpAer a competência de gerenciar o emprego de aeronaves de asas fixas e
rotativas42 na corporação e especificamente (MINAS GERAIS, 2010, p. 72):
a) executar rotineiramente o Radiopatrulhamento Aéreo na
Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) e nas cidades
sede das frações desconcentradas do Btl RpAer;
b) executar ações e operações programadas pelo [Estado-Maior da
Polícia Militar] EMPM em todo o Estado de Minas Gerais sob a
coordenação do Comando de Policiamento Especializado;
c) apoio operacional às [Unidade de Execução Operacional]
UEOp nas ocorrências de “[...] alta complexidade, salvamento e
socorro e calamidades [...]”.

A DGEOp elenca a competência do Btl RpAer e o insere no rol das


unidades classificadas como força de reação do Comando-Geral da PMMG,
para atuação em eventos, cuja extensão ou gravidade excedam a capacidade
operacional das demais unidades de execução operacional e exijam o emprego
de recursos específicos e efetivo qualificado. Nessa situação, o acionamento
será determinado pelo Comandante-Geral ou pelo Chefe do EMPM para
atuação em qualquer localidade do território mineiro (MINAS GERAIS, 2010).

Estrutura Organizacional do Batalhão de Radiopatrulhamento Aéreo

A manutenção da atividade aérea pública ou privada é dispendiosa


e necessita de um considerável aporte de recursos financeiros geridos por
profissionais capacitados. Além disso, quanto ao Btl RpAer, a execução das
missões operacionais requer o emprego de policiais militares habilitados,
treinados e condicionados para as atividades aéreas de Defesa Social.
O Btl RpAer é estruturado em seções administrativas atinentes às atividades
de gerenciamento e em companhias de execução das atividades operacionais,
de modo análogo às demais unidades operacionais da Corporação, mas com
configurações peculiares em face das atividades específicas desenvolvidas.
Com a aquisição de mais aeronaves de asas rotativas a partir do ano 1996
e diante da grande extensão territorial do Estado de Minas Gerais, a Polícia
Militar vislumbrou a possibilidade de capilarizar o apoio aéreo realizado
pelo Btl RpAer aos vários rincões das alterosas com a desconcentração de
aeronaves, recursos humanos e logísticos para que tal ferramenta ficasse mais
próxima dos locais de potencial ou do próprio desencadeamento de irrupções
42  As aeronaves são classificadas em duas categorias: aeróstatos, cuja sustentação se baseia no principio físico
de Arquimedes, e aeródinos, cuja sustentação resulta dos princípios físicos estabelecidos na 3a Lei de Newton
(Ação e Reação). Os aeródinos são classificados em aeronaves de asa fixa e de asa rotativa (HOMA, 2009).

Atividade Policial 71
da tranquilidade do povo mineiro. Então, a atual articulação operacional do Btl
RpAer se apresenta consubstanciada por quatro subunidades denominadas
Companhias de Radiopatrulhamento Aéreo (CoRpAer), distribuídas no Estado
de Minas Gerais na seguinte perspectiva: 1a CoRpAer – instalada em Belo
Horizonte na sede do Btl RpAer, responsável por executar ações e operações
policiais na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), com abrangência
territorial que correspondente à 1a, 2a e 3a Regiões da Polícia Militar (RPM), além
da 7a, 8a e 12a RPM, além da possibilidade de reforço operacional às demais
subunidades com o surgimento de problemas de segurança pública e defesa
civil de maior gravidade; 2a CoRpAer – sediada no município de Uberlândia
e com responsabilidade de emprego operacional na 5a, 9a, 10a e 16a RPM; 3a
CoRpAer – sediada no município de Montes Claros e com responsabilidade de
emprego operacional na 11a, 14a e 15a RPM; 4a CoRpAer – sediada no município
de Juiz de Fora e com responsabilidade de emprego operacional na 4a, 6a, 13a, 17a
e 18a RPM. Tais subunidades são subordinadas administrativa e tecnicamente
ao Btl RpAer, mas com vinculação operacional para a execução das atividades
policiais de Defesa Social, nas respectivas macrorregiões (mapa 1).

MAPA 1 – Macrorregiões de radiopatrulhamento aéreo da Polícia Militar de Minas Gerais – 2012.


Fonte: Polícia Militar de Minas Gerais. Batalhão de Radiopatrulhamento Aéreo.

72 Atividade Policial
O apoio policial baseado na utilização de aeronaves é uma realidade
mundial e tende a asseverar-se com a evolução tecnológica e a globalização,
fatores que também possibilitam a otimização das ações delituosas.
Para atender à demanda operacional na qual há a necessidade do emprego
de aeronave de asas rotativas, notadamente o helicóptero, o Btl RpAer tem
profissionais (policiais militares) capacitados e treinados para o exercício de
funções específicas a bordo da aeronave e em seu apoio no solo. A composição
que será elencada a seguir recebe o nome de Guarnição de Radiopatrulha
Aérea (GuAer), formada pelos seguintes policiais militares:
a) Comandante de Aeronave: trata-se de um oficial do Quadro de Oficiais
da Polícia Militar (QOPM), membro da tripulação, devidamente designado
pelo Comandante da Unidade após aprovação em estágio de Comandante de
Aeronave e submissão a conselho de voo, para exercer o comando da aeronave.
Possui a autoridade e responsabilidade inerentes à função, notadamente sob
a égide decisória, desde que recebe a incumbência formal da missão a ele
destinada, até o momento em que entregar a aeronave após o cumprimento da
missão. Possuidor de Certificado de Habilitação Técnica (CHT) e Certificado
Médico Aeronáutico (CMA) emitidos por instituições competentes;
b) Comandante de Operações Aéreas: também oficial do QOPM, membro
da tripulação, designado pelo Comandante da Unidade após aprovação em
estágio de Comandante de Operações Aéreas e submissão a conselho de voo.
Exerce a autoridade e responsabilidade inerentes à função, desde que recebe a
incumbência formal da missão, até o momento em que encerrar o preenchimento
da documentação pertinente à missão. Possuidor de Certificado de Habilitação
Técnica e Certificado Médico Aeronáutico emitidos por instituições competentes;
c) Tripulante Operacional: função privativa da graduação de Subtenente
ou Sargento, membro da tripulação, designado pelo Comandante da Unidade
após aprovação em estágio de Tripulante Operacional e submissão a conselho de
voo. Exerce a autoridade e responsabilidade inerentes à função, desde que recebe
a incumbência formal da missão a ele destinada, até o momento em que encerrar
os trabalhos de desequipagem da aeronave. Possuidor de Certificado Médico
Aeronáutico emitido por instituição competente. Normalmente, a configuração
da GuAer é feita com dois pilotos e dois Tripulantes Operacionais (um do lado
direito da aeronave, o qual atua na parte traseira da cabine e outro do lado oposto).
Também fazem parte da GuAer, embora normalmente não trabalhem
embarcados, o Mecânico Operacional de Voo e o Técnico de Apoio de Solo.

Atividade Policial 73
Dessa composição, verifica-se que, diferentemente da aviação regular
comum, formada pelas figuras do Piloto, Copiloto e Comissários de Bordo, a
Guarnição de Radiopatrulha Aérea adotada pela PMMG e outras instituições
militares estaduais, com pequenas adequações, têm relevante singularidade no
que concerne à autoridade, competência e responsabilidades, principalmente de
cada um dos elementos formadores da chamada célula policial-militar de voo.
Constata-se que o tratamento jurídico conferido pelo Código Brasileiro
de Aeronáutica e normatizações decorrentes à aviação das instituições
estaduais de Defesa Social não é condizente com a realidade de operação de
suas guarnições aéreas.

Pressupostos básicos e vantagens para o emprego de aeronaves na Polícia


Militar de Minas Gerais43

Quanto às atividades desencadeadas pelo Btl RpAer, os pressupostos de


emprego de aeronaves são hipóteses levadas em consideração para o adequado
acionamento do recurso aéreo, quais sejam: rapidez no acionamento do
recurso aéreo; emprego lógico; segurança preventiva e repressão qualificada;
escalonamento de esforços; integração e interação ar/solo; conhecimento da
missão; gestão por resultados; Programa Polícia para a Cidadania; coordenação
e controle; A utilização do helicóptero na atividade policial apresenta as
seguintes vantagens de acordo com Minas Gerais (2012b, p.19):
a. aumenta a velocidade de ação-resposta a delitos que comprometem
seriamente a tranquilidade pública;
b. proporciona maior flexibilidade e mobilidade nas operações
aumentando assim a área de influência policial-militar e ação de
presença contínua;
c. facilita a realização de operações policial-militares destinadas a
suprir exigências não atendidas pelo policiamento ostensivo normal;
d. permite, em caráter supletivo, ações psicológicas de saturação e
concentração de ações ostensivas para fazer frente a uma inquietante
situação temporária;
e. proporciona maior aplicação no policiamento ostensivo, causando
no possível agente do delito um desestímulo para o cometimento de
atos antissociais;

43  Os tópicos elencados nessa seção são atinentes à Proposta de Diretriz para a Regulação do Emprego
de Aeronaves na PMMG, referenciada como “Minas Gerais, 2012”.

74 Atividade Policial
f. debilita o agente delituoso no campo psicológico deixando o mesmo
altamente inquieto pela presença da aeronave;
g. permite à Força Policial Militar vencer distâncias e ultrapassar
barreiras que poderiam dificultar ou impedir a ação de forças
terrestres na resposta para fazer cessar o ato antissocial ou suas
consequências;
h. possibilita a descoberta, identificação e localização de atividades ou
ações que tenham como finalidade a mudança ou perturbação da
ordem social;
i. possibilita condições de se estabelecer um ponto de observação
aérea criando assim uma completa e nova dimensão para a obtenção
de informações;
j. representa um elo adicional na coordenação e no controle de frações
empenhadas em intervenções policial-militares permitindo, ao
escalão de comando, a obtenção de um entendimento mais preciso
da situação que lhe possibilitará tomar decisões adequadas e emitir
ordens convenientes.

Pelo seu aspecto de multimissão que proporciona uma série de serviços


policial-militares, o helicóptero se apresenta, na atual conjuntura, como recurso
imprescindível para os serviços de Defesa Social e proteção ao meio ambiente.

Portfólio de serviços do Batalhão de Radiopatrulhamento Aéreo

O Btl RpAer tem serviços aeropoliciais nos campos da polícia ostensiva,


meio ambiente e defesa civil.
No campo da polícia ostensiva são serviços de radiopatrulhamento
aplicados: ao policiamento ostensivo geral; ao policiamento ostensivo em
ocorrências de alta complexidade; ao policiamento ostensivo de trânsito
urbano; ao policiamento ostensivo de trânsito rodoviário; ao policiamento
ostensivo em eventos artísticos e desportivos; ao policiamento ostensivo de
controle de distúrbios civis, movimentos sociais e cumprimentos de mandados;
ao policiamento ostensivo em rebeliões em casas de custódia de detentos; ao
policiamento ostensivo no combate ao crime organizado; ao policiamento em
operações de reintegração de posse.
Trata-se de serviços realizados em apoio às viaturas que atuam
diuturnamente no serviço de policiamento ou em ocorrências de maior
complexidade quando a intervenção da aeronave pode ser direta ou como

Atividade Policial 75
plataforma de observação e repasse de informações aos policiais militares que
atuam em solo.
No campo do meio ambiente os serviços prestados são de fiscalização
ambiental e combate a incêndio florestal.
No campo da Defesa Civil as missões aeropoliciais desencadeadas são
sobrevoos de reconhecimento e avaliação, levantamento de pontos críticos
e pontos seguros, resgates de pessoas, salvamento aquático, transporte de
equipamentos, transporte de técnicos, transporte de socorristas, transporte
de vítimas, traslado de autoridades, transporte de gêneros alimentícios e
medicamentos, monitoramento do trânsito urbano e rodoviário, evacuação de
pessoas ilhadas e radiopatrulhamento aéreo.

Procedimento Operacional Padrão (POP)

Também denominado instrução de trabalho ou norma operacional


padrão, é a formalização, por documento, do planejamento de trabalho
repetitivo que deve ser executado de acordo com a circunstância para que se
atinja um determinado objetivo. A expressão vem da técnica administrativa
conhecida como Standard Operating Producere, com tradução fiel ao título.
Sua padronização permite a obtenção de resultados esperados na execução de
cada tarefa prevista.
Com a aceitação do ato administrativo normativo como norma definidora
de procedimentos de uma instituição pública, constata-se, então, que a Polícia
Militar, como órgão pertencente à Administração Pública estadual, tem a
competência de emitir normas de atuação de seus comandados, desde que
tais procedimentos não vilipendiem o ordenamento jurídico vigente.
Diante da necessidade da definição de condutas reiteradas que mantivessem
ações de similitude praticadas por todos os militares da unidade, a partir de 2008,
o Btl RpAer passou a formular e editar procedimentos operacionais padrão que
atualmente permeiam as atividades aéreas desencadeadas.
Atualmente, o Btl RpAer tem em vigor sessenta e três procedimentos
operacionais padrão que tratam das atividades concernentes à
operacionalidade e à segurança de voo, o que demonstra uma preocupação
com o treinamento, coordenação, controle e notadamente com a prestação
de um serviço uniforme a todos os usuários das atividades desencadeadas
pela aviação levada a efeito pela PMMG. No entanto, a formulação e a edição
de determinado POP não significa que o assunto ali abordado esteja pronto e

76 Atividade Policial
acabado, porquanto pode ser submetido a revisões periódicas na verificação
de sua obsolescência, pela evolução tecnológica ou pela constatação de ações
que se mostram mais eficientes ou econômicas para o serviço aeropolicial.

COMANDANTE DE AERONAVE DE DEFESA SOCIAL: NORMATIZAÇÃO


REGULATÓRIA

As primeiras experiências bem-sucedidas quanto ao advento de máquinas


mais pesadas que o ar, as quais se sustentavam no meio aéreo, remontam ao
final do século XIX, entretanto o início do século XX e todo seu acontecimento
é que marcam a evolução tecnológica e industrial de utilização e produção do
avião. Dessa forma, no ano 1910, na cidade de Paris, foi realizada a primeira
conferência sobre aviação, denominada Convenção de Paris, representada por
dezoito países europeus, e resultou na primeira norma da aviação de caráter
internacional.
Com o desencadeamento da Primeira Guerra Mundial, o desenvolvimento
da aviação tomou proporções ainda maiores, pois se verificou no avião uma
ferramenta de ataque de grande potencial e um instrumento de apoio para
transporte de tropa e logística sem precedentes. Assim, com o pós-guerra,
empresas civis vislumbraram no transporte aéreo uma possibilidade de lucro,
e foram criadas companhias de aviação em muitos países europeus e na
América do Norte, então, foram iniciadas operações de transporte doméstico
e até internacionais.
Entretanto, com o tempo, ocorreu a necessidade de disciplinar aspectos
referentes à aviação no mundo, e procedeu-se à Convenção Internacional do
Ar, realizada na cidade de Paris, em 1919, assinada por vinte e seis países dos
trinta e dois participantes. Ao final, foi ratificada por trinta e oito Estados. A
convenção consistiu em quarenta e três artigos que trataram dos aspectos
técnicos, operacionais e organizacionais da Aviação Civil e previram também
a criação da Comissão Internacional para a Navegação do Ar (ICAN).
No período entre guerras, o desenvolvimento da aviação, tanto militar
quanto comercial, tomou dimensões ainda maiores. Em 1943, os Estados
Unidos da América tomaram a iniciativa de reunir países para a realização da
Convenção sobre Aviação Civil Internacional, procedida em 1944, na cidade
de Chicago, com cinquenta e cinco países participantes. Então, foi criada
a Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), ligada à Organização

Atividade Policial 77
das Nações Unidas, cujo principal objetivo é tratar dos assuntos atinentes à
Aviação Civil no mundo.
O Brasil tornou-se signatário da Convenção na data de 29 de maio de 1945,
na cidade de Washington, nos Estados Unidos da América. No entanto, em 1946
é que houve a criação de uma norma para adoção dos preceitos constantes na
convenção, por meio do Decreto-Lei Federal no 7.952, de 11 de setembro de
1945, ratificado pelo Decreto Federal no 21.713, de 26 de março de 1946.
A primeira Constituição brasileira a mencionar o assunto aviação foi a
Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1934, a qual conferiu à União
competência privativa para legislar sobre Direito Aéreo, além de permitir
a concessão da navegação aérea e dar competência aos juízes federais de
processar e julgar, em primeira instância, questões de navegação aérea.
Em 8 de junho de 1938, foi promulgado o primeiro Código Brasileiro do
Ar, assim denominado pelo Decreto-Lei Federal no 483.
Em 20 de janeiro de 1941, por meio do Decreto-Lei Federal no 2.961,
foi criado o Ministério da Aeronáutica, o qual recebeu as competências do
Conselho Nacional de Aeronáutica, formado por membros da Aeronáutica, do
Exército, da Marinha e do Departamento de Aeronáutica Civil.
O Decreto-Lei Federal no 32, de 18 de novembro de 1966, instituiu um
novo Código Brasileiro do Ar que teve como principal alteração a classificação
de aeronaves em civis e militares e considerava militares somente as aeronaves
integrantes das Forças Armadas e aeronaves civis as aeronaves públicas e as
aeronaves privadas.
Quanto à aviação, a Constituição da República de 1988 não trouxe
mudanças significativas e manteve regras contempladas nas Constituições
anteriores, como a previsão constitucional do art. 22, inciso I, o qual determina
competência à União para legislar sobre Direito Aeronáutico (BENI, 2009).
Em 19 de dezembro de 1986, por meio da Lei Federal no 7.565, foi instituído,
no Brasil, o CBA, que, basicamente, elenca assuntos, dá providências e institui
sanções em relação a situações tipicamente referentes à Aviação Civil, ainda
porque foi elaborado com base nos preceitos adotados pela Organização da
Aviação Civil Internacional.
Cita-se o Decreto Federal no 21.713, de 26 de março de 1946, que ratificou
o Decreto-Lei Federal no 7.952, de 11 de setembro de 1945, cujo preâmbulo
traz: “Promulga a Convenção sobre Aviação Civil Internacional, concluída em
Chicago a 7 de dezembro de 1944 e firmada pelo Brasil, em Washington, a 29

78 Atividade Policial
de maio de 1945”. Notadamente, em seu art. 3o, cujo título é “Aeronaves Civis e
do Estado”, o mesmo decreto estabelece:
a) Esta Convenção será aplicável unicamente a aeronaves civis, e
não a aeronaves de propriedade do Governo.
b) São consideradas aeronaves de propriedade do Governo aquelas
usadas para serviços militares, alfandegários ou policiais.
c) Nenhuma aeronave governamental pertencente a um estado
contratante poderá voar sobre o território de outro Estado, ou
aterrissar no mesmo sem autorização outorgada por acordo
especial ou de outro modo e de conformidade com as condições
nele estipuladas.
d) Os Estados contratantes, quando estabelecerem regulamentos
para aeronaves governamentais se comprometem a tomar em
devida consideração a segurança da navegação das aeronaves
civis (destaques nossos).

Portanto, constata-se que o Brasil está em desacordo com a norma da


qual é signatário quando trata da aviação policial na mesma legislação que
elenca a Aviação Civil, ou seja, o atual Código Brasileiro de Aeronáutica e
normas decorrentes.
Salienta-se que, à época da promulgação pelo Brasil da Convenção
de Chicago em 1946, por meio do decreto já elencado, o termo “aeronave
policial” já era utilizado. Em contrapartida, é fato que o serviço policial com
a utilização de aeronaves no Brasil, mormente helicópteros, teve sua adoção
e estabelecimentos nos moldes que existe na atualidade, a partir da década
de 1980. No entanto, o legislador não demonstrou interesse no que concerne
à essa modalidade de policiamento e com a proporção que tomaria nos anos
seguintes e deixou de mencioná-la no Código Brasileiro de Aeronáutica, nem
sequer fez alusão de abordagem em legislação específica ao tratá-la como
categoria à parte como fez em relação à aviação das Forças Armadas.
Outra oportunidade deixada de lado, no sentido de uma tratativa no
que concerne à aviação de segurança pública, foi na criação do Ministério da
Defesa em 1999, quanto à edição da Lei Complementar Federal no 97, na qual,
conforme seu art. 21, houve a determinação legal para a criação da Agência
Nacional de Aviação Civil, que foi levada a efeito em 2005, e extinto o antigo
Departamento de Aviação Civil.
Por fim, no ano 2011, por meio da conversão da Medida Provisória no
527/2011 na Lei Federal no 12.462, de 5 de agosto de 2011, foi criada a Secretaria
de Aviação Civil da Presidência da República, cuja estrutura regimental foi
definida em 10 de maio de 2011 pelo Decreto Federal no 7.476. Nesse regimento,

Atividade Policial 79
constata-se que o tema aviação de segurança pública ou de Defesa Social
não foi abordado e o único momento do decreto que menciona as Polícias
Militares e os Corpos de Bombeiros Militares é quanto ao pedido de cessão
de seus servidores estaduais à Secretaria de Aviação Civil, por meio do art. 22.

A criação da Agência Nacional de Aviação Civil

Ela teve sua criação pela Lei Federal no 11.182, de 27 de setembro de 2005,
e foi regulamentada pelo Decreto Federal no 5.731, de 20 de março de 2006,
como de uma entidade integrante da Administração Pública Federal indireta,
submetida a regime autárquico especial, vinculada ao Ministério da Defesa,
cuja atribuição principal é regular e fiscalizar as atividades de Aviação Civil e
de infraestrutura aeronáutica e aeroportuária.
Essa agência reguladora segue os tratados internacionais dos quais o Brasil
é signatário, cumpre o estabelecido por sua lei de criação e seu regulamento e
tem como instrumentos jurídicos principais o CBA, a Lei do Aeronauta e a do
Aeroviário.
Quanto à criação das agências reguladoras, Carvalho Filho (2010, p. 529-
530), assinala:
No processo de modernização do Estado, uma das medidas
preconizadas pelo Governo foi a da criação de um grupo especial
de autarquias a que se convencionou denominar de agências, cujo
objetivo institucional consiste na função de controle de pessoas
privadas incumbidas da prestação de serviços públicos, em regra sob
a forma de concessão ou permissão, e também na de intervenção
estatal no domínio econômico, quando necessário para evitar
abusos nesse campo, perpetrados por pessoas da iniciativa privada.

Verifica-se que a criação da Anac teve como escopo a regulação e a


fiscalização da Aviação Civil no Brasil, especificamente em relação à política
de desestatização implementada no País a partir da Lei Federal no 9.491, de 9
de setembro de 1997, que instituiu o Plano Nacional de Desestatização (PND).
Assim, a administração dos serviços públicos e privados relativos ao voo no
Brasil saiu da responsabilidade do extinto Departamento de Aviação Civil,
que era um órgão pertencente ao Comando da Aeronáutica44 e foi repassada

44  Criado pela Lei Complementar no 97, de 09 de julho de 1999, que dispõe sobre as normas gerais para a
organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas, pertencentes ao Ministério de Estado da Defesa.

80 Atividade Policial
à ANAC – uma incongruência, porquanto o referido plano tem como cerne a
redução do deficit público de saneamento das finanças governamentais, por
meio da transferência para a iniciativa privada das atividades exercidas pelo
Estado de forma dispendiosa e indevida.
No entanto, a medida não se mostra adequada em relação à atividade
aérea de Defesa Social, uma vez que essa atividade não tem como escopo a
auferição de lucro, mas sim a proteção e o socorro públicos.
Outra anomalia verificada foi a substituição de um órgão diretivo como
o Departamento de Aviação Civil, por uma agência reguladora, que, além de
suas funções de regulação e fiscalização, ou seja, típica função de controle da
prestação de serviços públicos concedidos ou permissionados pelo Estado,
passou a emitir normatização técnica, o que encontra questionamentos na
visão de juristas e doutrinadores.
A criação da Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República
sanou parte do questionamento à medida que se constitui em órgão diretivo
que foi concebido com status de Ministério. Contudo, sua estrutura regimental
não contemplou o tema aviação de segurança pública ou de Defesa Social,
ou qualquer outro tipo de expressão que pudesse ensejar ou remeter a um
entendimento ou referência à aviação pública levada a efeito pelas organizações
de segurança pública, no âmbito federal ou estadual e até mesmo municipal,
civis ou militares.

Legislação sobre Aviação Civil no Brasil para a Aviação de Defesa Social

A primeira instituição a utilizar helicópteros na atividade de Defesa


Social foi a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, a partir de 1970. As
demais unidades federativas adotaram o policiamento com aeronaves de asas
rotativas notadamente a partir da década de 1980, e sua consolidação, nas
práticas atuais, amoldou-se na década de 1990 com a definição da doutrina
de emprego.
Os aspectos históricos da aviação de segurança pública e as barreiras
legais para implantação dessa modalidade de policiamento, segundo Beni
(2009), foram muitas, pois havia, por parte do Ministério da Aeronáutica,
por meio da Força Aérea Brasileira, exclusividade sobre a aviação de Estado
(Pública), o que influenciou, inclusive, ao longo da história, o desenvolvimento
da aviação da Marinha e a do Exército.

Atividade Policial 81
Tal situação se tornou ainda mais evidente a partir da adoção por quase
todas as unidades da Federação, além do Distrito Federal, da aeronave de asas
rotativas como instrumento primaz para o serviço de Defesa Social. Além disso,
os Estados passaram a utilizar helicópteros para traslado das autoridades de
seu alto escalão de governo, principalmente os governadores.
Com o passar dos anos, o serviço aéreo de Defesa Social mostra-se
diversificado e complexo, sobretudo porque a atividade aérea compreende
um intrínseco risco aos militares que a exercem e também à sociedade quanto
aos procedimentos próprios realizados pela GuAer, quais sejam, voos à baixa
altura e sobre áreas habitadas.
Todavia, a legislação referente às atividades de aviação policial e
defesa civil, sobretudo as normas da ANAC, não acompanhou a evolução
da complexidade e diversidade do serviço prestado, do desenvolvimento
tecnológico, da exigência das instituições de fiscalização dos órgãos públicos
como o Ministério Público e o Judiciário, da imprensa, que se mostra presente
em todos os aspectos da vida cotidiana, e da própria sociedade, que se encontra
atenta a todos os acontecimentos conjunturais.
Ressalta-se que, com relação aos demais órgãos das outras unidades
federativas do Brasil, existem serviços correlatos, mas não há uma padronização
nacional dos procedimentos operacionais a serem desencadeados pelas
unidades aéreas policiais e de defesa civil.
Nos atendimentos de ocorrências referentes a tais naturezas, em que há
a necessidade de acionamento do apoio aéreo, não raras vezes, em virtude
da exigência do bem comum e das querências da coletividade, são realizados
voos e pairados45 abaixo da altura mínima estabelecida, pousos em locais
não homologados e restritos, embarque e desembarque de policiais e/ou
passageiros com os rotores girando, ou seja, uma série de procedimentos
incompatíveis com aqueles procedidos pelos outros segmentos da Aviação
Civil que estão vinculados a cumprir o regulamento de tráfego aéreo de uma
forma geral.
Todavia, tais procedimentos excepcionais mostram-se necessários
em decorrência de um objetivo maior, que é a proteção da sociedade, aqui
entendida como o conjunto de cidadãos cumpridores de seus deveres civis e
detentores de direitos e garantias fundamentais.

45  Voo pairado ou hoverado é aquele no qual o helicóptero se mantém fora e paralelo ao solo, sem que
haja deslocamento.

82 Atividade Policial
O CBA não pormenorizou a questão do voo policial, e ficou o Comandante
de Aeronave das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares submetido
aos ditames gerais concernentes basicamente aos profissionais dos demais
seguimentos da Aviação Civil, os quais não executam as rotinas especiais de
voo à baixa altura e pouso em locais não homologados e restritos.
Dessa forma, a normatização concernente à aviação de Defesa Social se
mostra insipiente quanto à definição de responsabilidades dos componentes
da guarnição aérea policial e de defesa civil. O mesmo documento atribui
condições especiais de operação para os órgãos em questão, mas não se mostra
suficiente para sustentar o amparo no caso de um questionamento jurídico
ante a ocorrência de um acidente ou incidente aeronáutico ou mesmo outro
fato que fuja à literatura jurídica constantes nas regras em vigor.
A partir do momento em que a lei deixou de definir as atividades
executadas diretamente pelo Estado, muito menos os serviços realizados pelo
poder público, o regulamento não poderia defini-los, pois ensejaria desrespeito
ao princípio da legalidade e da reserva legal, ou seja, não deixou lastro jurídico
para regulamentação da aviação de Defesa Social.
Verifica-se uma contradição no que tange à atuação de uma guarnição
formada por militares estaduais sujeitos ao Código Penal Militar que tripulam
uma aeronave classificada como civil pública. Trata-se de uma incongruência
jurídica pelo fato de constarem no referido Código infrações penais castrenses
cujos tipos penais elencam situações relativas a embarque, desembarque, de
bordo e dano. Nessa mesma linha de inadequação da aviação de segurança
pública aos ditames da legislação concernente à Aviação Civil, Honorato (2012,
p. 254) salienta que:
O atual Código Brasileiro de Aeronáutica não trouxe, expressamente,
tal caracterização civil às aeronaves policiais. Na verdade, o
código aviatório não estabeleceu qualquer regra específica para
as aeronaves das forças policiais militares e bombeiros militares.
Diante do silêncio da norma, interpretações e integrações procuram
preencher o vazio e assim nasceu o entendimento que tais aeronaves
devem ser classificadas como aeronaves civis, interpretação essa
incompatível com a Carta Magna de 1967 e também a Constituição
Cidadã de 1988, [...].

Outro ponto que merece destaque quanto à incompatibilidade do CBA


em relação às atividades aéreas de segurança pública é o constante em seu

Atividade Policial 83
CAPÍTULO III, cujo título é “Serviços Aéreos Públicos”. Esse termo “público”,
no entanto, descrito nos arts. 180 a 221 da lei, não diz respeito a qualquer
atividade que não seja as de transporte aéreo de pessoas e coisas, desporto,
turismo, recreio e serviços especializados, ou seja, não condizente com a
aviação executada diretamente pelo Estado, como a militar, de polícia ou
de socorro público.

Abordagem do Código Brasileiro de Aeronáutica quanto ao Comandante


de Aeronave

O CBA define como tripulantes as pessoas devidamente habilitadas que


exercem função a bordo da aeronave, denominadas aeronautas. No Título V,
arts. 156 a 173 da lei, há o tratamento dos assuntos atinentes à tripulação, sua
composição, licenças e certificados e sobre o Comandante de Aeronave.
Na elaboração da lei, a intenção do legislador foi a de privilegiar a
função de Comandante de Aeronave como um todo, defini-lo como principal
tripulante a bordo e atribuir-lhe responsabilidades que lhe proporcionem a
autoridade suficiente para a realização de um voo eficiente e seguro.
Em momento algum, o legislador teve a intenção de equiparar as
atribuições de um Comandante de Aeronave da aviação comercial, por exemplo,
em relação a um Comandante de Aeronave de Defesa Social, mesmo porque,
à época da edição da lei, a aviação de segurança pública estava iniciando seus
trabalhos. O que ocorre é a não abordagem em legislação própria ou mesmo em
um título ou capítulo do CBA, mesmo que de forma equivocada, de qualquer
normatização sobre a aviação de Defesa Social. Portanto, existe uma omissão
na tratativa do assunto, o que poderia ter sido sanada nos anos subsequentes.
Todavia, na atual conjuntura, tanto a Anac, quanto a recém-criada
Secretaria de Aviação Civil, insistem na manutenção da aviação de segurança
pública ou de Defesa Social dentro dos ditames da Aviação Civil como um
todo. Continuam a contrariar o art. 3o da Convenção sobre Aviação Civil
Internacional (Convenção de Chicago), que, taxativamente, refere-se à sua
aplicação unicamente a aeronaves civis e não a aeronaves do governo, assim
consideradas aquelas de propriedade do governo e usadas para serviços
militares, alfandegários ou policiais. Desde 1945, o termo “policial”, no contexto
de atividades aéreas, permeia documentação internacional, que, apesar de
subscrita pelo Estado brasileiro, não é respeitada.

84 Atividade Policial
Uma ressalva deve ser feita quanto à formação de tripulantes da aviação
de segurança pública, que é prevista no item 91.957 da RBHA 91, mas que
dá ao público um caráter privado, à medida que é utilizada a nomenclatura
“privado” e “comercial”:
O item 91.961, da subparte K da RBHA 91, prevê condições especiais
de operação autorizadas às atividades aéreas de segurança pública e de
defesa civil, em especial às relacionadas ao pouso e decolagem em locais
não homologados ou registrados, em áreas de pouso eventual, embarque e
desembarque de passageiros com os motores em funcionamento e acordos
com os órgãos de controle do tráfego aéreo da localidade de operação.
No entanto, as atividades aéreas de segurança pública e de defesa civil
não se restringem a esses procedimentos, em face da existência de uma
diversidade de procedimentos que são realizados por uma guarnição aérea de
Defesa Social, como a necessidade da realização de disparos de arma de fogo
a bordo da aeronave no intuito de cessar ação delituosa de infrator que põe
em risco uma guarnição terrestre ou mesmo a aérea ou para repelir injusta
agressão a terceiros.

Segurança de Voo

Com a criação da Anac, muitos conceitos foram retrabalhados, inclusive


com mudanças e adequações posteriores a essas alterações. Um deles é o
de segurança de voo, que estava sedimentado e foi alterado por segurança
operacional. No entanto, as críticas surgiram no sentido de que o novo termo
seria abrangente a todas as áreas que desempenham ações operacionais e não
à atividade aérea especificamente. Diante disso, por meio da Portaria Federal
no 747, de 06 de maio de 2013, foi editada a Norma de Sistema do Comando
da Aeronáutica (NSCA) no 3-13, que equacionou o questionamento definindo
segurança de voo e segurança operacional, como:
1.5.31 SEGURANÇA DE VOO
É a Segurança Operacional aplicada especificamente à atividade
aérea e tem por objetivo prevenir a ocorrência de acidentes, incidentes
graves e incidentes aeronáuticos.
1.5.32 SEGURANÇA OPERACIONAL
Estado no qual o risco de lesões às pessoas ou danos aos bens se reduz
e se mantém em um nível aceitável, ou abaixo deste, por meio de

Atividade Policial 85
um processo contínuo de identificação de perigos e gestão de riscos
(BRASIL, 2013).

No meio aeronáutico, a prevenção de eventos danosos, de ordem material


ou humana, é pautada por meio dos elementos da motivação, educação e
supervisão, haja vista seu aspecto de investigação do problema desencadeado
e não do estabelecimento de culpados. Esse trabalho é das Polícias, do
Ministério Público e da Justiça, ou seja, das autoridades competentes para
investigar, denunciar e julgar. A investigação de acidente aeronáutico, em todo
o mundo, é um procedimento paralelo e independente, realizado por órgão
especializado e voltado unicamente para a prevenção de novas ocorrências
e melhoria da segurança de voo. Tem como objetivo o estímulo à atividade
aérea, e não sua retração (DE SOUZA, 2008).

A Guarnição de Radiopatrulha Aérea e o Comandante de Aeronave de


Defesa Social

Uma GuAer da PMMG, em uma configuração policial, é composta por


quatro policiais militares: um primeiro Piloto/Comandante de Aeronave,
um segundo Piloto/Comandante de Operações Aéreas e dois Tripulantes
Operacionais. Cada um deles possui funções específicas delineadas em
normatização institucional da PMMG e responsabilidades quanto ao
desempenho dos serviços que lhes são afetos.
A necessidade da execução da atividade aérea policial e de defesa civil em
condições diferenciadas da aviação de transporte de passageiros, por exemplo,
é uma constante no cotidiano das GuAer, o que exige uma maior intensificação
de treinamento dos tripulantes e uma elevada proficiência na condução dos
helicópteros pelos Comandantes de Aeronave.
Dessa forma, insere-se a necessidade de adequada interação entre os
componentes da aludida guarnição em termos de treinamento, o que leva
a um condicionamento e relacionamento interpessoal satisfatórios, para
o estabelecimento do Crew Resource Management (CRM), que se trata da
coordenação e do gerenciamento dos recursos da tripulação, ou seja, da
utilização efetiva de todos os recursos como equipamentos, procedimentos e
pessoas, para alcançar a eficiência da segurança de voo.
Ainda quanto ao exercício da atividade aérea policial e de defesa civil,
constata-se que sua execução submete a tripulação policial e de defesa civil

86 Atividade Policial
a uma gama de riscos recorrentes e rotineiros e enseja a possibilidade da
ocorrência de situações que possam resultar no cometimento de infrações
penais comuns ou militares, além da possível responsabilidade civil que se
evidencia de forma objetiva para o Estado e subjetiva para o servidor público
militar, que pode ser submetido a uma ação de regresso. Nessa perspectiva,
Beni (2009, p. 60) assinala que:
As atividades executadas, bem como as funções exercidas pelos
aeronavegantes da Polícia e Corpos de Bombeiros Militares,
assemelham-se, quase em sua totalidade, à Aviação Militar, não
restando qualquer semelhança com o aeronauta, denominação
específica aos pilotos, comissários, etc. da Aviação Civil.

Então, a partir das constatações evidenciadas, verifica-se que o


Comandante de Aeronave de Defesa Social está sujeito aos ditames extremistas
de responsabilidade e competência constantes no CBA que podem levar o juiz
a uma interpretação jurídica equivocada e a uma consequente imputação
penal injusta, no caso do desencadeamento de uma infração penal por algum
membro da GuAer.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Verificou-se que a atual legislação aeronáutica que permeia o


serviço de aviação de segurança pública se mostra equivocada e eivada
de questionamentos constitucionais à medida que destoa do art. 3o da
Convenção de Chicago de 1944, ao se omitir em tratar a aviação policial de
forma apartada, como é feito com a aviação das Forças Armadas. Todos os
assuntos e procedimentos normatizados para a Aviação Civil no Brasil são
extensivos à aviação de segurança pública, em uma tratativa incongruente às
suas peculiaridades, mas principalmente às suas necessidades de um amparo
jurídico que lhe proporcione a devida resposta operacional à sociedade.
Constatou-se que a atual legislação da Aviação Civil aplicada às unidades
aéreas dos órgãos de Defesa Social não se mostra suficiente para sustentar o
amparo no caso de um questionamento jurídico-penal perante a ocorrência
de um evento danoso que resulte ofensa à integridade física de seres humanos
ou prejuízo material decorrentes de atividades relativas ao voo em missões
policiais ou de defesa civil.

Atividade Policial 87
Diferentemente em relação ao que ocorre em um voo civil, particular ou
atinente à uma empresa aérea, em grande medida, o voo de segurança pública
não conta com o aparato estrutural de um aeroporto com procedimentos
de controle de aproximação, pouso, taxiamento e balizamento para
estacionamento. Muitos de seus procedimentos são realizados em locais
de procedimentos e pousos eventuais que passam a ser gerenciados, por
igualdade de responsabilidades, pelos componentes da guarnição aérea.
A não observância de um obstáculo pelo Tripulante Operacional que atua
do lado direito traseiro da aeronave pode resultar em um pouso equivocado
com consequências à fuselagem da aeronave e à integridade física de seus
ocupantes.
De igual forma, pode ocorrer um descuido desse Tripulante Operacional,
por imprudência, imperícia ou negligência, no que concerne à vigilância dos
rotores da aeronave que giram em altas velocidades e se tornam invisíveis, e
uma aproximação em relação à aeronave de pessoas, adultos ou crianças, que
possam colidir com os rotores e haver prejuízo à integridade física e até a morte.
Vários são os objetos manuseados dentro de uma guarnição aérea,
como armamentos e equipamentos policiais. Tais objetos estão sujeitos à
queda da aeronave em decorrência da maioria de os procedimentos policiais
serem realizados com as portas traseiras abertas. O objeto caído pode atingir
pessoas em terra e resultar em lesões físicas graves e, em uma perspectiva mais
pessimista, em óbito. Isso sem fazer menção às implicações penais militares
pela perda de um material pertencente à Fazenda Pública.
Em uma situação de ordem extrema, como a necessidade de um disparo
de arma de fogo para repelir injusta agressão à guarnição aérea ou proteção
de policiais que atuam por terra, a ordem do disparo regularmente parte do
Comandante da Aeronave, todavia, pela necessidade de uma pronta e rápida
resposta, a interlocução entre Comandante e Tripulante Operacional pode
ficar prejudicada e, baseado nas situações de excludente de ilicitude, o último
pode agir de iniciativa e efetuar o disparo para salvar a tripulação.
Uma infinidade de hipóteses e casos já constatados pode ser citada,
porquanto o que insta elencar é a não responsabilidade exclusiva do
Comandante de Aeronave em relação a todos os procedimentos realizados nas
missões aéreas de Defesa Social, o que pode ser interpretado juridicamente
como autoria única ou concurso de pessoas. Diferentemente do que preconiza
o CBA, que atribui ao Comandante de Aeronave autoridade e responsabilidade

88 Atividade Policial
exclusivas no que concerne ao voo e ainda não autoriza uma delegação da
segurança de voo, a aviação de segurança pública apresenta peculiaridades
procedimentais semelhantes àquelas desencadeadas pelas Forças Armadas,
com exceção do foco que se pauta pela proteção à vida.
Em contrapartida à inércia do legislador federal, cada Estado possuidor de
serviços aeropoliciais desenvolve de forma estanque ou aproveita a doutrina de
organizações mais experientes para atuar em defesa e socorrimento públicos.
Para tanto, define procedimentos operacionais que não sejam conflitantes
à legislação em vigor e que permitam uma padronização de treinamento
e atuação que, em caso de questionamentos judiciais, possam promover o
amparo jurídico aos seus servidores.
Tal iniciativa se mostra pertinente e legal à medida que supre, de forma
velada, a lacuna da lei, ou seja, utiliza-se o Direito Administrativo, por meio da
elaboração e edição de atos administrativos normativos para consubstanciar
toda uma dinâmica operacional da aviação de Defesa Social direcionada ao
interesse público.
A sujeição às medidas sancionadoras nas esferas penal (comum e militar),
administrativa e civil denota a necessidade e a importância de estabelecer
regramento jurídico para a realização de um voo policial, pois, conhecidos
os limites regulamentares e legais, as adaptações são evitadas. Isso promove
a garantia do trabalho realizado, pois a autoridade e a responsabilidade dos
componentes da guarnição aérea ficam consubstanciadas na medida de suas
responsabilidades profissionais.
Um julgamento equivocado e injusto, com a condenação de um
Comandante de Aeronave de guarnição aérea, pode acarretar a perda de
motivação aos demais profissionais do mesmo segmento e uma retração
no exercício da atividade com prejuízos severos à prestação da proteção e
socorrimento públicos.
Na atual conjuntura normativa, infrações penais ocorridas em missões aéreas
de Defesa Social serão interpretadas de forma literal, em relação ao CBA e normas
decorrentes, no entanto, a construção do entendimento jurídico e prolação da
sentença devem ser pautadas pela observância da hermenêutica jurídica, pelos
princípios constitucionais, como a razoabilidade, pelos costumes e pela doutrina
institucional da Corporação e serem utilizados como fatores de balizamento para
a adoção de uma coerência jurídica para a decisão ante um caso concreto.

Atividade Policial 89
Por fim, para uma solução do abandono legislativo detectado em
relação à aviação de segurança pública, sugere-se uma reedição do Código
Brasileiro de Aeronáutica com estabelecimento de um Título específico que
trate da aviação de segurança pública e preveja normas decorrentes que serão
definidas por secretaria específica e que a tratativa em relação ao Comandante
de Aeronave de segurança pública, ou qualquer nomenclatura que possa
imperar, seja de autoridade e responsabilidade na medida de sua atuação, pois,
como já elencado, procedimentos isolados e de relevante importância podem
ser realizados pelos demais componentes da guarnição aérea. Ademais, a
segurança de voo deve ser responsabilidade de todos, inclusive com delegação,
pela relevância dos procedimentos citados.
A segurança jurídica é certificada pelos preceitos da irretroatividade da lei
penal, coisa julgada, respeito aos direitos adquiridos e ao ato jurídico perfeito,
outorga de ampla defesa e contraditório aos acusados em geral, conhecimento
obrigatório da lei, prévia lei para a configuração de crimes e transgressões,
declarações de direitos e garantias individuais, justiça social, devido processo
legal (responsável pelo justo processo), independência do Poder Judiciário,
vedação de tribunais de exceção e de julgamentos parciais. Dessa forma,
verifica-se que a atual legislação atinente à aviação de segurança pública não
oferece vários desses preceitos no que concerne à atuação de seus executores,
o que denota a necessidade urgente de mudança.
A segurança jurídica para os Comandantes de Aeronave e toda tripulação
que atua em missões de segurança pública e de defesa civil é a garantia para
que se continue a realizar com excelência as atividades de quem leva a efeito
“a ajuda que vem do céu”.

90 Atividade Policial
TEXTO 8
PERSPECTIVAS DA COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS:
DIREITO DE IMAGEM DO PRESO E A DÚPLICE NECESSIDADE DE
ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA E MANUTENÇÃO DA ORDEM PÚBLICA
Jeferson Botelho Pereira46

“O fim do Direito é a paz; o meio de atingi-lo, a luta. O Direito não é


uma simples ideia, é força viva. Por isso a justiça sustenta, em uma das
mãos, a balança, com que pesa o Direito, enquanto na outra segura
a espada, por meio da qual se defende. A espada sem a balança é a
força bruta, a balança sem a espada é a impotência do Direito. Uma
completa a outra. O verdadeiro Estado de Direito só pode existir
quando a justiça bradir a espada com a mesma habilidade com que
manipula a balança”.
Rudolf Von Ihering

É comum, nos dias atuais, assistir nas reportagens veiculadas pelos


diversos meios de comunicação a apresentação de presos que são autuados
em flagrante delito, suspeitos do cometimento de crimes diversos, o que torna
relevante, jurídica e socialmente, a presente abordagem, a fim de fornecer ao
mundo jurídico informações acerca do tema, como forma de proteger direitos
humanos, em especial salvaguardar os interesses da Administração Pública e
da ordem pública.
Certamente, encontraremos no mesmo arcabouço jurídico, proteções
da imagem do preso, exercício do direito de informação, interesses sociais da

91
notícia, repúdio ao sensacionalismo, proteção da intimidade, manutenção
da ordem pública, administração da Justiça, e outros aspectos essenciais do
direito da personalidade.
A imagem das pessoas faz parte do rol dos direitos atinentes à
personalidade que são definidos como sendo irrenunciáveis e intransmissíveis
e inerentes a todo indivíduo que possui o controle sobre seu corpo, nome,
aparência e outros aspectos constitutivos de sua identidade. É de sabença
geral que os direitos de personalidade são vinculados ao direito da dignidade
da pessoa humana, previsto no artigo 1o, III, da Constituição da República, o
que se torna necessário para o desenvolvimento das potencialidades morais,
físicas e psíquicas de todas as pessoas.
A doutrina costuma identificar três condições essenciais presentes no
direito de personalidade, como sendo a autonomia de vontade, a alteridade e
a dignidade.
A autonomia da vontade configura-se no respeito à autonomia moral de
que deve gozar toda pessoa humana.
A alteridade representa o reconhecimento do ser humano como entidade
única e diferenciada de seus pares, que só ganha forma com a existência do
outro.
A dignidade é uma qualidade derivada, ou seja, pode existir somente se o
ser humano for autônomo em suas vontades e se lhe for reconhecida alteridade
perante a comunidade em que vive.
A salvaguarda dessas três condições essenciais toma forma no direito
positivo sob o título de direitos da personalidade, que exigem o respeito à
incolumidade física (corpo físico) e psíquica (mente e consciência), ao nome,
à imagem, à honra e à privacidade, além de outros.
Ainda sobre o direito de personalidade, torna-se imperioso destacar que
o Código Civil Brasileiro, Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, prevê logo em
seu artigo 2o que a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com
vida, mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
O Código Civil reservou o Capítulo III, a partir do artigo 11, à proteção dos
direitos de personalidade, anunciando que com exceção dos casos previstos
em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não
podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
E mais, o artigo 12 determina que o interessado pode exigir que cesse a
ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem
prejuízo de outras sanções previstas em lei.

92 Atividade Policial
Especificamente, em torno do direito à imagem, importante o comando
normativo previsto no artigo 20 do NCC, que praticamente propõe um direito
relativo, podendo a imagem ser divulgada se devidamente autorizada, ou
quando necessária à administração da justiça ou à manutenção da ordem
pública. Senão vejamos:
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da
justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a
transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização
da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento
e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a
boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.

Em matéria constitucional, torna-se necessário citar os princípios


fundamentais previstos nos artigos 1o a 4o, destacando a dignidade da pessoa
humana, a promoção do bem de todos, sem preconceito de sexo, raça, cor,
origem, idade e quaisquer outras formas de discriminações, a construção de
uma sociedade livre, justa e fraterna, além da prevalência dos direitos humanos
nas relações internacionais.
O artigo 5o da Constituição da República enumera os direitos e garantias
individuais, notadamente no inciso X, voltado para a proteção da imagem das
pessoas, conforme se verifica abaixo:
Art. 5o Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
X − são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação;

No que se concerne ao preso, o mesmo artigo 5o da Lei Fundamental


assegura a punição a qualquer forma de discriminação às liberdades
fundamentais, protege os direitos como presunção de inocência e respeito à
sua integridade física e moral.
XLI − a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e
liberdades fundamentais;
[...]
XLIX − é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral.

Atividade Policial 93
[...]
LVII − ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória.

A Lei de Execução Penal, 7.210/1984, em seu artigo 40, Seção, II, elenca os
direitos dos presos, impondo a todas as autoridades o respeito à integridade física
e moral dos condenados e dos presos provisórios. O artigo 41 enumera os direitos,
e em seu inciso VIII, os protege contra qualquer forma de sensacionalismo.
Estão positivadas também as Regras Mínimas para Tratamento dos
Reclusos, de 1955, adotadas pelo Primeiro Congresso das Nações Unidas sobre
a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes, realizado em Genebra
em 1955, e aprovadas pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas
através das suas Resoluções 663 C (XXIV), de 31 de julho de 1957, do Conselho
Econômico e Social, e 2.076 (LXII), de 13 de maio de 1977.
O artigo 61 das referidas Regras Mínimas para o Tratamento do Preso no
Brasil prevê:
61. O tratamento não deve acentuar a exclusão dos reclusos da
sociedade, mas sim fazê-los compreender que eles continuam fazendo
parte dela. Para este fim, há que recorrer, na medida do possível, à
cooperação de organismos da comunidade destinados a auxiliar o
pessoal do estabelecimento na sua função de reabilitação das pessoas.
Assistentes sociais colaborando com cada estabelecimento devem ter
por missão a manutenção e a melhoria das relações do recluso com
a sua família e com os organismos sociais que podem ser-lhe úteis.
Devem adotar-se medidas tendo em vista a salvaguarda, de acordo
com a lei e a pena imposta, dos direitos civis, dos direitos em matéria
de segurança social e de outros benefícios sociais dos reclusos.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 10 de dezembro de


1948, também tratou da matéria de proteção dos direitos da humanidade, com
o respectivo reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da
família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis, sendo o fundamento
da liberdade, da justiça e da paz no mundo.
Considerou que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos
resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade
e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de
palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade
foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum.

94 Atividade Policial
Consignou essencialmente que os direitos humanos sejam protegidos
pelo Estado de Direito, para que o homem não seja compelido, como último
recurso, à rebelião contra tirania e a opressão. Não descuidou também que uma
compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância
para o pleno cumprimento desse compromisso. Especificamente, em seu
Artigo XI, estabeleceu o princípio do estado de inocência.
Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser
presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada
de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido
asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.

O Brasil é signatário da Convenção Americana de Direitos Humanos,


de 1969, o Pacto de San José da Costa Rica. O artigo 11 protege a honra e a
dignidade das pessoas:
Artigo 11. Proteção da honra e da dignidade
1. Toda pessoa tem direito ao respeito da sua honra e ao
reconhecimento de sua dignidade.

De outro lado, embora o direito à proteção de imagem do preso esteja


amplamente assegurado, eis que tal proteção não é absoluta.
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 5o, IX assim prediz:
IX − é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e
de comunicação, independentemente de censura ou licença;

Desse modo, verifica-se que de igual forma, o direito de expressão


possui proteção constitucional, sendo que abrange a liberdade de imprensa,
já que esta, no assunto sub examine, utiliza os meios de comunicação para
se expressar. Ainda no texto constitucional, mais precisamente no art. 220,
novamente encontra-se resguardado tal direito.
Sem prejuízo das demonstrações anteriores, o Código Civil, em seu artigo
20, assim preconiza:
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da
justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a
transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização
da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento
e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a
boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.

Atividade Policial 95
Verifica-se que parte da norma autoriza a divulgação da imagem sem
o consentimento da pessoa envolvida, desde que a divulgação seja útil à
administração da justiça ou à manutenção da ordem pública.
Assim, facilmente se comprova a existência de uma rota de colisão entre
direitos fundamentais. De um lado, temos o direito de proteção da imagem
do preso, a sua presunção de inocência, proteção a qualquer forma de
sensacionalismo. De outro, a liberdade de imprensa, a premente necessidade
da manutenção da ordem pública e a administração da Justiça.
Resolve-se o impasse da posição antagônica dos direitos fundamentais
pelo princípio da proporcionalidade, o qual permite, com a utilização de
juízos comparativos de ponderação dos interesses em conflito, a necessária
harmonização e consequente redução de aplicação de ambos ou de apenas
um deles, surgindo aquilo que se chama na doutrina jurídica de colisão com
redução bilateral ou colisão com redução unilateral.
Outra técnica importante é a da colisão excludente, cujo gozo de um
direito fundamental é praticamente excludente do outro.
Como se sabe não há direitos fundamentais absolutos. Entra em cena
aqui o princípio da proporcionalidade, que indicará o direito que, na situação
fática, deverá prevalecer, com exclusão do outro, surgindo a técnica da colisão
excludente.
Nesse sentido, torna-se imperioso reconhecer a legal e legítima atuação
do Poder Público, realizada através de seus agentes, para fazer valer na sua
plenitude a técnica da colisão excludente.
Isto porque, na situação concreta em que o agente público se depara com
o conflito dos princípios, caberá a ele ponderar qual deles deverá prevalecer.
Repisa-se que nos casos de veiculação de imagem de pessoas presas, em que
a divulgação foi viabilizada por representantes do poder estatal, estes têm o dever
de atuar sempre a favor da supremacia do interesse público, num viés coletivo,
portanto de caráter dúplice, no sentido de assegurar com efetividade o direito da
Administração da Justiça e a necessidade de manutenção da ordem pública.
Entrementes, esses mesmos representantes devem zelar pelos direitos
daqueles que estão sob a custódia estatal, no caso as pessoas que se encontram
presas ou detidas. Assim, os direitos atinentes à personalidade do preso,
entre eles a proteção ao direito de divulgação de sua imagem, não podem
ser deliberadamente infringidos, já que, conforme explanado, é garantia
constitucional.

96 Atividade Policial
Desse modo, somente no caso concreto será possível determinar qual
direito irá prevalecer. A exemplo, justifica-se, plenamente, a apresentação de
um preso autuado em flagrante à imprensa quando a imagem do suspeito
possa servir para identificar outras vítimas de um maníaco sexual, de um
assaltante contumaz ou de acusado de ter praticado inúmeras saidinhas de
banco.
Repisa-se que a interpretação da expressão “administração da justiça
ou à manutenção da ordem pública” trazida pelo art. 20 do Código Civil,
principal autorizador da exposição de imagem dos presos na mídia, devido
à sua generalidade e imprecisão, tem sido feita caso a caso pelos tribunais
superiores, e no enfrentamento dos princípios conflitantes aqui abordados
tem se procedido de igual forma.
Recentemente, na Comarca de Lagoa Santa, em Minas Gerais, Processo
n 0025377-89.2014, a Justiça determinou que a Autoridade Policial não
o

apresentasse os investigados à imprensa, em função do desfrute de presunção


constitucional de inocência, artigo 5o, LVII, da Constituiçao da República e
ainda com fulcro no artigo 41, inciso VIII, da LEP.
A Secretaria de Estado da Segurança e da Defesa Social da Paraíba (SEDS)
publicou portaria dirigida aos órgãos policiais do Estado contendo do art. 1o ao
3o, comando normativo. Nestes termos:
PORTARIA NO 129/2009/SEDS, EM 5 DE OUTUBRO DE 2009
Art. 1o Seja criado um link dentro do site da Secretaria de Estado da
Segurança e da Defesa Social e da Polícia Militar da Paraíba, contendo
o teor desta Portaria, bem como as recomendações acima descritas,
para fins de ciência de todos integrantes das corporações da Polícia
Civil e da Polícia Militar.
Art. 2o Fica proibida qualquer forma de exposição pública de preso ou
pessoa sob sua guarda, devendo a autoridade policial adotar ainda
as providências a seu alcance para impedir a exposição indevida do
preso.
Art. 3o Fica proibida a entrevista com qualquer preso, exceto quando
houver a autorização deste.

Durante os debates sobre a Súmula no 11, o Ministro Gilmar Mendes,


dentre outros, ventilou que aquela Corte Suprema trataria dessa questão
futuramente, ao demonstrar clara evidência de que a exposição de presos fere
a dignidade da pessoa humana. 

Atividade Policial 97
Por meio desse debate em plenário, o Ministro Carlos Ayres Brito seguiu
a mesma ideia do Ministro Gilmar Mendes ao proferir comentários sobre o
inciso III do art. 5o da CF/88, o qual preceitua que “ninguém será submetido
à tortura nem a tratamento desumano ou degradante”, afirmando que “esse
tratamento degradante significa infamante, humilhante, como se dá quando o
ser humano, ainda que preso em flagrante de delito, é exibido ao público como
se fosse um troféu, uma caça, numa atmosfera de exibicionismo policial”.
No julgamento de um Habeas Corpus, a Ministra Cármem Lúcia, que em
muito enobrece o Norte das Minas Gerais, expôs em seu voto:
“Vivemos, nos tempos atuais, o Estado espetáculo. Porque muito
velozes e passáveis, as imagens têm de ser fortes. A prisão tornou-se,
nesta nossa sociedade doente, de mídias e formas sem conteúdo, um
ato de grande teatro que se põe como se fosse bastante a apresentação
de criminosos e não a apuração e a punição dos crimes na forma da
lei. Mata-se e esquece-se. Extinguiu-se a pena de morte física. Mas
instituiu-se a pena de morte social.”

Seguindo o mesmo raciocínio, no Habeas Corpus no 91.952/SP, a Ministra


declara que “O ser humano não é troféu para ser apresentado por outro,
inclusive com alguns adereços que podem projetar ainda mais uma situação
vexaminosa e de difamação social”.
Lado outro há quem afirme que a mídia e a sociedade em geral podem
influenciar no etiquetamento do preso. Ou seja, a imprensa e a sociedade
rotulam o autuado, causando-lhe a morte social, surgindo aquilo que a
doutrina conhece por labelling approach.
O labelling approach é designado na literatura por enfoque do
interacionismo simbólico, etiquetamento, rotulação ou ainda por paradigma
da “reação social”, do “controle” ou da “definição”.
Ele surge nos Estados Unidos da América no final da década de 50
e início da década de 60 com os trabalhos de autores como H. Garfinkel,
E. Gofmann, K. Ericson, A. Cicourel, H. Becker E, Schur, T. Scheff, Lemert,
Kitsuse, entre outros, pertencentes à “Nova Escola de Chicago”, como o
questionamento do paradigma funcional até o momento dominante dentro
da Sociologia norte-americana. (ANDRADE, 2003, p. 39).
 A teoria do labelling approach parte da premissa de que a criminalidade
não existe na natureza, não é um dado, mas uma construção da sociedade,
uma realidade que decorre de processos de definição e de interação social.

98 Atividade Policial
O crime passa a ser compreendido não como uma qualidade intrínseca,
determinada, e sim como uma decorrência de critérios seletivos e
discriminatórios que o definem como tal, conforme ensinam Coelho e
Mendonça (2009, p. 13)
Na definição de Hassemer (2005, p. 101-102), o labelling approach
significa enfoque do etiquetamento, e tem como tese central a ideia de que
a criminalidade é resultado de um processo de imputação, a criminalidade
é uma etiqueta, a qual é aplicada pela polícia, pelo Ministério Público e
pelo tribunal penal, pelas instâncias formais de controle social. O labeling
approach remete especialmente a dois resultados da reflexão sobre a
realização concreta do Direito: o papel do juiz como criador do Direito e o
caráter invisível do lado interior do ato.
Por outro lado, são encontradas decisões em que a divulgação da
imagem do preso não caracteriza afronta ao princípio que protege sua
imagem. O Desembargador Pedro Bernardes, do Tribunal de Justiça de
Minas Gerais, assim discorre em julgamento de uma apelação interposta
por um preso que teve sua imagem divulgada nos meios de comunicação:
Se em reportagem veiculada foi noticiada a prisão e reproduzida a
informação prestada pelo Delegado responsável pelo ato acerca
do perfil daquele que foi preso, não há que se falar em dever de
indenizar. Nesta hipótese o princípio da liberdade de imprensa e
do direito da população de ser informada se sobrepõe ao direito de
inviolabilidade da honra e da imagem.

Por fim, é preciso entender que a Polícia deve existir como instrumento
de efetivação de direitos, respeitando e sendo respeitada, vital para o Estado
de Direito como oxigênio para a vida, mas sempre como via de mão de dupla,
sendo necessária e imprescindível para estabelecer um humanismo secular
que, segundo o pensador francês Luc Ferry, trata-se de uma filosofia baseada
na razão, na ética e na justiça.
Reafirma-se que a Polícia não é instrumento de rotulação de criminosos,
não é fábrica de fogos de artifícios para promoção de espetáculos, não é
produtora de eventos midiáticos, não é agente FIFA para ostentar o preso
como precioso troféu de Campeão do Mundo, nem mesmo concessionária de
marcas registradas. Pelo contrário, deve ser a primeira promotora de justiça e
o primeiro juiz natural das causas sociais.

Atividade Policial 99
É preciso entender que a Declaração do Homem e do Cidadão de 1789,
na França já fomentava a ideia de uma força pública com fruição de todos,
escrevendo e deixando como legado para a história mundial que “a garantia
dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública. Esta
força é, pois, instituída para fruição por todos, e não para utilidade particular
daqueles a quem é confiada”.
Sábias as palavras de Cesare Beccaria quando afirma que “É melhor
prevenir os crimes do que ter de puni-los. O meio mais seguro, mas ao mesmo
tempo mais difícil de tornar os homens menos inclinados a praticar o mal, é
aperfeiçoar a educação”.
Não custa lembrar que a Polícia é, antes de tudo, representante do poder
estatal, e por este motivo responde objetivamente pelos atos praticados pelos
seus agentes no exercício de suas funções, conforme estabelece o art. 37, § 6o,
da Constituição de 1988.
Assim, alguns atos, mesmo que usuais, podem estar sendo praticados à
margem da legalidade, e por esse motivo, dar azo à instauração de procedimento
judicial de cunho indenizatório, contra o Estado, por parte daqueles que se
sentirem prejudicados.
Por esse motivo, toda e qualquer atuação da máquina pública deve
sempre pautar-se nos princípios que a esta norteia, sob o risco de incidir na
ilegalidade e abuso de poder, o que, por conseguinte pode trazer prejuízos ao
Estado, e, ainda, ao agente que praticou o ato, tendo em vista a possibilidade
de ação regressiva por parte do Estado.
Conclui-se, afirmando que a Lei pátria protege a divulgação de escritos, a
transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem
de uma pessoa, e especificamente em relação aos presos, pune o responsável
pelo sensacionalismo gratuito e pirotécnico.
Mas é verdade que esse direito é relativizado justamente pelo artigo 20
do Código Civil, no instante em que a exposição da imagem é devidamente
autorizada, quando a divulgação da imagem atender o interesse da
Administração da Justiça ou ainda se a exposição for importante para questões
de ordem pública, surgindo, neste contexto, o conflito de direitos fundamentais,
a ser dirimido pela prevalência da supremacia do interesse público, adotando-
-se aqui a técnica da colisão excludente, com afastamento do direito à imagem
e sobrepujança do direito à administração da justiça e ordem pública.

100 Atividade Policial

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