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Lá chegando, o Capitão constatou a impossibilidade de uma
intervenção tática sem que com isso resultasse na morte do Major. Diante
de tais circunstâncias, o Capitão Amêndola sugeriu aos seus superiores que
atendessem às solicitações dos presos deixando que partissem e que fosse
montado um cerco amplo para recaptura.
No entanto, a opinião das autoridades ligadas aos órgãos de segurança
era a de que os aparelhos Estatais não “poderiam recuar ante ao inimigo”.
Na época a influência militar era forte em todos os atos da vida pública,
principalmente no que dizia respeito à segurança pública e então, com o aval
do Governador do Estado, a ordem era para invadir o presídio.
Perguntado ao Capitão Amêndola quais seriam as perspectivas da
operação, ele deixou bem claro que não seriam as melhores, pois não existiam
no Brasil equipes com treinamento em áreas não convencionais, como
resgate de reféns. Em outros países, como Inglaterra e Israel já havia unidades
treinadas para atuar em situações não convencionais, mas, no Brasil, o mais
próximo que se tinha de tais unidades era o Destacamento de Forças Especiais
do Exército Brasileiro.
A intenção do Capitão Amêndola era negociar até cansar os revoltosos.
Cortar água, luz e, em última análise, após várias horas, entrar no local da crise.
Então, chegou ao local o Oficial Comandante do BPAE – Batalhão
de Polícia de Atividades Especiais, os chamados “caçadores de bandidos”,
indivíduos com muita disposição, porém sem a técnica adequada.
O Comandante do BPAE desejava fazer a operação em conjunto com
o grupo comandado pelo Capitão Amêndola, que de imediato recusou a
proposta, pois, ou assumiria integralmente a missão e a responsabilidade dos
seus atos, ou não participaria da operação. Assim, optou o Capitão por solicitar
autorização para entrar com a equipe do BPAE e observar a ação do grupo de
dentro do presídio.
A equipe de “caçadores de bandidos” entrou no recinto e o primeiro a
morrer com um tiro de escopeta no peito, disparado por um dos policiais, foi o
Diretor do presídio. Tal fato não impediu que o grupo continuasse disparando
dentro do local até não sobrar ninguém vivo.
Naquele momento o Capitão Amêndola jurou que não descansaria
enquanto não criasse um grupo capaz de evitar situações como a vivida pela
família do Major sacrificado naquela rebelião, em 1974. Esse grupo deveria ser
4 Atividade Policial
criado com seriedade e técnica, formando um lastro e plantando uma pequena
semente que com o tempo ficasse entranhada na corporação de tal modo que
fosse uma referência nacional. Não poderia agir jamais na base do “achismo”,
da precipitação, do improviso.
Em 1976 já havia elaborado o esboço do Núcleo da Companhia de
Operações Especiais (NuCOE) e do Curso de Operações Especiais. Em 1977 o
Capitão Amêndola foi apresentado no Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais
e continuou se dedicando aos estudos em atividades de operações policiais
especiais.
Já com todo o material pronto para a criação do NuCOE, sabia que se
enviasse a proposta por um expediente escrito correria o risco de ter todo o seu
trabalho esquecido em uma gaveta. Assim sendo, aproveitou-se do coquetel de
encerramento do curso de aperfeiçoamento, esperou um momento propício,
longe de outras autoridades e foi até o Coronel do Exército Brasileiro Mario
José Sotero de Meneses, Comandante Geral, apresentar sua ideia e agendar
uma reunião.
No dia 12 de janeiro de 1978, às 19:00 horas, o Capitão Amêndola iniciou
a sua apresentação para a criação do NuCOE, tão somente na presença do
Comandante Geral que durante toda a exposição nada falou, e ao final, quando
o Capitão encerrou a exibição, disse que se ele respondesse algumas perguntas
a criação do Núcleo estaria aprovada. Como havia se preparado durante anos,
o Capitão respondeu de pronto a todas elas.
Uma pergunta que merece destaque é sobre a possibilidade de um
elemento desses, que seria treinado e altamente qualificado, trocar de lado. O
que faria para impedir que isso ocorresse? Respondeu que criaria, para prevenir
o problema, uma mística em torno da imagem do combatente de Operações
Especiais. Acredita-se que quando se cria uma mística, ou seja, uma crença
ou sentimento arraigado de devotamento a uma ideia, a uma causa, você
evita uma série de desajustamentos, já que fica muito visado, patrulhado, e o
próprio companheiro não permite que se macule a imagem que a coletividade
tem daquele grupo. Com o tempo, essa crença se tornou uma doutrina de vida,
passando o grupo a ser referência na Polícia Militar, no Governo do Estado e
no Brasil.
O Comandante Geral ficou satisfeito com as respostas e, em 19 de janeiro
de 1978, nasce o NuCOE e também o curso que daria origem ao Curso de
Operações Especiais.
Atividade Policial 5
A estrutura inicial do NuCOE era de três barracas de dez praças, montadas
na parte de trás da antiga Escola de Formação de Oficiais, passando, logo
após, para a antiga casa do Comandante do CFAP (Centro de Formação e
Aperfeiçoamento de Praças).
Depois de alguns anos, o NuCOE foi para as instalações do Batalhão
de Choque. Em junho de 1984 passa a se chamar de CIOE – Companhia de
Operações Especiais e, em março de 1991, BOPE – Batalhão de Operações
Policiais Especiais.
O Boletim PM no 086, de 10 de maio de 1978, publicou que: “o NuCOE
terá emprego em operações policiais militares não convencionais, em missões
contra guerrilha urbana ou rural, e, na condução de missões que venham a
exigir, além de pessoal altamente especializado e com grande preparo técnico,
tático e psicológico, o emprego de armamentos especiais; não devendo
ser empregado em quaisquer modalidades de policiamento preventivo e
em missões de rotina policial-militar. Inicialmente, até que fiquem melhor
estudadas suas atribuições específicas, terá como missão a instrução de
Operações Especiais para a EsFO e para os diversos Cursos em funcionamento
no CFAP, bem como para equipes selecionadas das UOp, podendo atuar em
operações especiais em qualquer parte do Estado”.
O boletim estabelecia, ainda, que as equipes só seriam acionadas por
determinação do Comandante Geral ou do Chefe do Estado Maior da PMERJ
para execução das missões enumeradas acima e outras exclusivamente por
eles determinadas.
A própria natureza das missões atribuídas às equipes de operações
especiais, a partir daí, obrigam os seus componentes a se manterem atualizados
nas mais modernas táticas de ação, constituindo-se tais policiais em veículos
valiosos para a difusão dessas técnicas e conhecimentos no âmbito da Polícia
Militar. As missões podem ser resumidas em: resgate de reféns, reforço a
policiais confrontados com resistência armada e cumprimento de mandados
de alto risco.
Atualmente o BOPE possui o efetivo aproximado de 400 homens que
estão diuturnamente prontos para defenderem o Estado Democrático de
Direito, todos combatendo o bom combate e guardando a fé de ver um dia os
cidadãos de bem livres da tirania do tráfico.
6 Atividade Policial
TEXTO 2
COMANDO DE OPERAÇÕES TÁTICAS DA POLÍCIA FEDERAL
Eduardo Maia Betini2
O lema
“A qualquer hora, em qualquer lugar, para qualquer missão.”
2 Eduardo Maia Betini é Agente de Polícia Federal desde 2001, atualmente lotado no Comando de
Operações Táticas, autor do livro Charlie Oscar Tango – Por dentro do Grupo de Operações Especiais
da Polícia Federal.
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A quantidade de missões cumpridas pela Unidade de Elite durante
estes vinte e dois anos é impressionante. Mais ainda se considerarmos que
são missões de alto risco, desenvolvidas em todo o território nacional e
com objetivos variados. Por conta destes fatores, a principal característica
do Grupo é a versatilidade. Em uma mesma semana um operador do COT
pode atuar em uma missão de reconhecimento em um bairro nobre de uma
capital do País ou pode realizar uma patrulha rural em missão de repressão
a assalto a banco no sertão nordestino, atividade criminosa conhecida como
“novo cangaço”. Associações criminosas com até vinte integrantes fortemente
armados com fuzis calibre 7.62, munição abundante e até metralhadoras
antiaéreas calibre.50 invadem pequenas cidades isoladas (principalmente nas
regiões Norte e Nordeste), onde existem poucos policiais e instauram nestas
comunidades o caos. Para atuar em missões deste tipo o Comando conta com
o apoio do Setor de Inteligência do Departamento de Polícia Federal, composto
por policiais com capacidade e competência largamente reconhecida. A ação
da Inteligência é fundamental na obtenção de informações que propiciem aos
policiais do COT anteciparem-se aos criminosos. Isto proporciona a tão desejada
superioridade relativa em detrimento da superioridade numérica, além de
favorecer a adoção de ações pontuais, cirúrgicas e com risco mínimo para a
sociedade. Mas o policial do COT pode ainda executar os dois tipos de missão
em uma mesma semana, por isso a preocupação constante do Grupo com
o treinamento e com a doutrina. No COT, erros não são admitidos, treina-se
muito para obter-se o máximo em resultados com o mínimo de desgaste.
Competência do COT
8 Atividade Policial
III – apoiar as unidades centrais e descentralizadas no desempenho de
ações táticas, cujas características exijam policiais com treinamentos
específicos em armas e táticas especiais, concorrendo com os meios
necessários, e informando o Diretor da DIREX sobre seus resultados;
IV – propor diretrizes específicas de planejamento, controle e
desenvolvimento de ações táticas, bem como estabelecer prioridades
para a otimização do uso de armamentos, munições e equipamentos
táticos;
V – planejar, promover e coordenar treinamentos e cursos técnicos e
táticos especializados em sua área de atuação;
VI – supervisionar testes e verificações em armamentos, munições e
equipamentos para emprego policial federal;
VII – promover o intercâmbio de informações com outros órgãos
governamentais e autoridades policiais constituídas no País, além de
entidades congêneres estrangeiras;
VIII – promover o processo seletivo interno, o treinamento e a
especialização de policiais federais destinados a integrar sua equipe;
IX – organizar, manter e controlar o acervo de Leis, Tratados,
Acordos, Convênios, Normas e demais informações correlatas às suas
atribuições;
X – colaborar com a ANP/DGP na orientação do planejamento e da
execução do ensino da matéria de sua atribuição;
XI – promover o controle estatístico dos indicadores referentes às
atividades e aos resultados das operações policiais relacionadas à sua
atribuição, tendo em vista subsidiar a gestão do Diretor da DIREX.
Histórico e estrutura
Atividade Policial 9
Policial Sul, em Brasília, Distrito Federal, junto à Superintendência de Polícia
Federal.
A sede do COT ocupa uma área de aproximadamente 40.000 m2 (quatro
hectares). O grupo, ao longo de sua história, vem sofrendo constantes melhorias
em sua infraestrutura. A Unidade dispõe de: estande de tiro iluminado
com extensão de cem metros, estande de tiro coberto, pista de cooper com
900 metros e múltiplas estações de atividade física, muro especial para
treinamento com explosivos, pista de cordas, pista de obstáculos, heliponto,
caixa de areia, casa de tiro, torre para treinamento de técnicas em ambiente
vertical, sala de recarga, auditório, setor de operações táticas (SOT), setor de
estratégias táticas (SET), setor de inteligência, sala do grupo de assalto, sala
de atiradores de precisão, academia de musculação, tatame, alojamentos e
setor administrativo. Existe, ainda, uma série de edificações em construção,
como a cidade cenográfica com 1200 m2 e o tanque tático para treinamento de
mergulho e operações anfíbias. A construção do novo edifício sede (4o prédio)
já foi aprovada e está em fase de licitação.
Quando forem concluídas todas as obras, o COT se tornará um dos maiores
centros de treinamento em Operações Especiais do mundo com infraestrutura
de ponta, além de equipamentos de última geração e profissionais com
qualidade reconhecida nacional e internacionalmente.
Equipamentos
10 Atividade Policial
como as espingardas Franchi SPAS 15 calibre 12, espingardas CBC calibre 12,
espingardas Benelli calibre 12, lançadores de munição 37/38 mm, lançadores
de munição 40 mm, metralhadora Colt M16 A2 LMG (Light Machine Gun)
calibre 5,56mm, fuzis de precisão Remington 700, HK PSG1 e HK MSG90 todos
calibre 7,62mm ou ainda fuzis de precisão Sig Sauer Blazer Tactical SR92 nos
calibres.338 ou.308. Dispõe ainda de armamentos diversos para testes ou
missões especiais. O Operador deve reconhecer, saber identificar e manusear
diferentes tipos de armamentos e equipamentos.
Quanto a outros tipos de equipamentos, existe uma gama disponível
para serem utilizados de acordo com o propósito de cada missão: binóculos
termais com gravador de vídeo e GPS embutido, visores noturnos, binóculos,
lunetas, material para arrombamento, material de alpinismo, explosivos
e materiais afins, canhão disruptor, coletes balísticos resistentes a tiros de
fuzil, equipamentos de proteção individual e coletivo (EPI e EPC), munição
de impacto controlado, artefatos de condutividade elétrica (Taser), granadas
fumígenas e lacrimogêneas, bastões retráteis, capacetes balísticos, escudos
balísticos, equipamentos de controle de distúrbio civil, barcos infláveis de
assalto com motores de popa, paraquedas, equipamentos de mergulho
autônomo, equipamento hidráulico de abertura, entre outros.
O COT conta, para seu deslocamento, com os aviões e helicópteros da
CAOP (Coordenação de Aviação Operacional do DPF), inclusive um jato
Embraer 145. Ademais, esta Unidade proporciona apoio aerotático nas
missões desencadeadas pelo COT, atuando ambas em estreita sintonia. Para os
deslocamentos terrestres, o Comando possui ônibus adaptado para funcionar
como gabinete móvel de gerenciamento de crises, caminhão para transporte
de equipamentos (Caminhão Tático), microônibus, vans, viaturas off-road,
viaturas blindadas, motos 400 cilindradas preparadas para motocross, motos
trail 600 cilindradas e motos superesportivas de 1000 cilindradas.
A rotina
Atividade Policial 11
esses, se negligenciados, podem colocar em risco uma missão. Como o Grupo
tem como principal objetivo o cumprimento de missões de alto risco, não
pode descuidar do Princípio da Segurança.
Na tabela abaixo são apresentadas informações acerca do número de
componentes e a quantidade de missões executadas pelo COT, em média,
comparativamente com dados de alguns dos principais grupos similares em
outros países. Grupos estes com os quais o Comando mantém intercâmbio
doutrinário e de treinamento constantes.
Quantidade de missões cumpridas por diversos Grupos de Operações
Especiais em vários
País Grupo Área do País * Comparativo População Membros Missões/ano
EUA HRT 9.363.520 km2 Possui uma área pouco 308.798.281 100 Cerca de 4
maior que a do Estado do MT milhões
FBI a mais que a área do Brasil.
França RAID 551.500 km2 Menor que o Estado de MG 61.945.598 120 20 em média
milhões de
habitantes
Alemanha GSG-9 356.733 km2 Menor que o Estado do MS 82.534.211 220 Inferior a 20
milhões de
habitantes
Portugal GOE 93.389 km2 Menor que o Estado de PE 10.661.632 120 Inferior a 15
milhões
Espanha GEO 504.782 km2 Menor que o Estado de MG 44.592.770 120 Cerca de 25
milhões
Brasil COT 8.514.876 km2 194.227.984 43 Cerca de 103
milhões
*Fonte: site http://www.ibge.gov.br/paisesat/main.php
O curso
O curso do COT prepara o futuro operador para atuar nos mais diversos
ecossistemas brasileiros, de acordo com as peculiaridades e regionalismos de
12 Atividade Policial
cada um deles. Durante um período que pode variar de quatro a cinco meses,
o futuro “cotiano” terá instruções das seguintes matérias: primeiros socorros;
resgate de feridos; armamento e tiro; uso progressivo da força; combate corpo a
corpo; Estágio de Combatente de Montanha do Exército Brasileiro em São João
Del Rey, Minas Gerais; orientação e navegação terrestre; técnicas de abertura;
técnicas em ambiente vertical; Curso Expedito de Operações Ribeirinhas
da Marinha do Brasil em Manaus, Amazonas; direção ofensiva; controle de
distúrbios civis; técnicas e tecnologias menos letais; gerenciamento de crises;
negociação; noções de tiro de precisão; retomada de edificações; retomada
de ônibus; retomada de trem e metrô; retomada de navio (Rio de Janeiro);
retomada de aeronaves (São Paulo); Estágio de Adaptação à Caatinga na
CIOSAC, Polícia Militar de Pernambuco; abordagem e condução de cidadãos
infratores; operações aéreas; paraquedismo; combate e sobrevivência na selva;
salvamento aquático; sobrevivência na água; Estágio de Aplicações Táticas no
BOPE, Polícia Militar do Rio de Janeiro; radiocomunicação; antiterrorismo
e contraterrorismo; patrulha rural; patrulha urbana; noções de chefia e
liderança; planejamento operacional e explosivos.
O Curso de Operações Táticas tem duração média aproximada de
800 horas aula, perfazendo um total de cerca de 18 semanas. É dividido em
duas fases. A primeira é chamada de fase de rusticidade, onde o objetivo é
justamente o de romper a zona de conforto do policial, chamada também de
“balança roseira” ou “peneiramento”, o qual tem como objetivo manter no curso
somente os policiais mais motivados e preparados física e psicologicamente
para situações adversas. Esta é uma forma de garantir que permaneçam
apenas aqueles que apresentem, como características inatas, atitude positiva
e proatividade. A segunda é a fase técnica, cujo objetivo é proporcionar
ao instruendo conhecimentos e habilidades necessários à proficiência em
Operações Especiais.
Treinamento
Atividade Policial 13
é a periodicidade. Além disso, de acordo com determinada missão, pode-se
alterar o Quadro de Trabalho para que a preparação seja específica, dentro de
uma estratégia de objetivos limitados e ações pontuais.
Os policiais lotados no COT recebem treinamento em alguns dos
melhores grupos internacionais de Operações Especiais, como o GSG-9 da
Alemanha, o RAID da França, o GOE de Portugal, o GEO da Espanha e o HRT
– FBI, dos Estados Unidos. Entretanto, ao longo dos anos, seus integrantes
desenvolveram consistente doutrina própria. O COT é um centro de excelência
em treinamento operacional nas diversas áreas em que atua. Os cursos e
treinamentos oferecidos pela Unidade são disputados por policiais do Brasil
e do mundo. Nestes vinte e dois anos em atividade, o Comando tornou-se
referência nacional e alcançou reconhecimento em nível mundial.
O quadro de policiais do COT é propositadamente variado, integrado
por profissionais das mais diversas áreas, o que reforça a sua vocação
multidisciplinar. Há bacharéis em Direito, Psicólogos, Agrônomos,
Odontólogos, Contadores, entre outros, muitos deles com especialização
e mestrado. Muitos inclusive, possuem dois ou mais cursos superiores e a
maioria é fluente em pelo menos um idioma estrangeiro.
Sem dúvida, a maior riqueza do COT são seus recursos humanos. Na
Unidade não se discute a importância do trinômio homem, equipamento
e treinamento. Contudo, todos sabem que dos três, o ser humano é
indubitavelmente o mais importante, sobretudo em razão da sua capacidade
em A.I.S. (Adaptar, Improvisar, Superar). “Seres humanos são mais importantes
do que equipamentos” é um dos paradigmas que compõe as Quatro Verdades
das Operações Especiais.
14 Atividade Policial
controlada; 2o – Controle emocional; 3o – Disciplina consciente; 4o – Espírito
de corpo; 5o – Flexibilidade; 6o – Honestidade; 7o – Iniciativa; 8o – Lealdade;
9o – Liderança; 10o – Perseverança e 11o – Versatilidade.
Seja no Curso, seja no treinamento diário ou em uma missão qualquer,
é importante que o grupo mantenha o foco nos fundamentos éticos e nos
mandamentos. São fatores importantes, que servem como balizamento da
conduta exigida de um homem de Operações Especiais. Apresentam reflexos
também na união, unidade e uniformidade do Grupo, conhecidos como os
três “U´s”, responsáveis pela formação de uma espécie de cimento invisível
que mantém unidos seus integrantes, sobretudo após passarem por grandes
dificuldades lado a lado.
Princípios
Atividade Policial 15
fator crucial nas atividades de alto risco. Enquanto a velocidade reflete um
conceito de deslocamento no espaço pelo tempo, a rapidez traz consigo
o conceito de velocidade ponderado pelos outros Princípios como, por
exemplo, Segurança e Surpresa. No COT, costuma-se dizer de forma jocosa:
“Quanto mais rápido, mais rápido”. Tempo é um luxo do qual raramente se
dispõe nas operações. O quinto Princípio é o da Repetição, caracterizado
pela importância do treinamento constante. É comum se ouvir durante os
treinos no COT, quando algum policial já está exausto, o companheiro dizer:
“Vamos lá, repetição consciente, com correção, até a exaustão leva à perfeição”.
Por fim, como Princípio que fundamenta os demais, está o do Propósito, ou
seja, o objetivo final da missão. É ele que norteia toda a conduta operacional,
é a própria razão de ser do Grupo. Está presente no lema do COT e funciona
como argumento de autoridade quanto à própria existência do Comando.
O operador deve focar no objetivo final. Costuma-se dizer que aquele que
não sabe aonde quer chegar corre o risco de não chegar a lugar algum. Ocorre
que, não raro, por simples ignorância ou ausência de princípios doutrinários,
muitos Grupos de Operações Especiais são utilizados, ou subutilizados em
missões de caráter amplo e genérico. Este é um erro por inobservância da
regra básica que enuncia que tais grupos não devem ser empregados em
missões indefinidas ou com objetivos indeterminados. Ao contrário, sua
atuação deve ser pontual, limitada e definida.
Visão de Futuro
16 Atividade Policial
que diz respeito à doutrina e treinamento quanto a ações coordenadas entre
eles; disponibiliza aos operadores equipamentos, armamentos e estrutura
de alta qualidade, colocados à prova constantemente, nas inúmeras missões
reais e nos cursos e treinamentos efetuados; recebe e processa, antes de
suas missões, informações e dados provenientes de outros setores da Polícia
Federal, em uma estreita relação mutualística entre Inteligência Policial
e Operações Especiais. Dispõe, na composição de seu quadro, de policiais
altamente motivados pela vocação em atuar em operações especiais e
pelas condições favoráveis de trabalho como, por exemplo, a possibilidade
constante de capacitação profissional. Finalmente, a convergência de
todos estes fatores resulta no trinômio ideal: estrutura, valores e recursos.
A otimização do trinômio resulta, por sua vez, na otimização dos resultados
obtidos, formando um círculo virtuoso, ou seja, um sistema autossustentável
e positivo, fundamental para o aperfeiçoamento do tema Operações Especiais
dentro da estrutura da Segurança Pública brasileira.
Atividade Policial 17
18
TEXTO 3
A IMPORTÂNCIA DOS GRUPOS TÁTICOS NO
ÂMBITO DAS POLÍCIAS CIVIS
Marcelo Fernandes3
INTRODUÇÃO
19
evoluiu para SWAT, significando “armas e táticas especiais”, para o público
externo, porém sem perder a ideia de poder nem a mística inicial de “força
elétrica” ou qualquer coisa nesta acepção.
20 Atividade Policial
Necessidade
DESENVOLVIMENTO
Atividade Policial 21
legalmente à polícia repressiva, tais como o cumprimento de mandados
de prisão de criminosos de alta periculosidade, de mandados de busca e
apreensão em locais de alto risco, a realização de operações de repressão à
criminalidade em locais onde a incidência de crimes esteja exorbitante, bem
como em todas as demais situações policiais que, devido à complexidade
dos acontecimentos e da ação delituosa perpetrada, sejam consideradas
críticas, exigindo uma resposta especial por parte do órgão responsável
pelas, ressalvada a competência da União, funções de polícia judiciária e a
apuração de infrações penais, exceto as militares, conforme reza o art. 144
§ 4o da Constituição Federal, que descreve as atribuições legais de cunho
repressivo pertinentes às Polícias Civis do Distrito Federal e dos Estados.
22 Atividade Policial
Neste diapasão considero como Grupo Tático todo um conjunto que envolva
as atividades inerentes às situações policiais críticas, devendo subdividir-se
em equipe de intervenção (destinada à invasão do ponto crítico se necessária),
de negociação (responsável pela implementação da tática da negociação,
ainda que utilizada para ganhar tempo ou como elemento de distração do
perpetrador), de observadores/snipers (responsável pela observação do local,
coleta de informações, segurança do negociador e da equipe de intervenção,
bem como pela incapacitação do perpetrador se assim deliberado) e equipe de
apoio (responsável pelo suporte logístico), as quais devem atuar em sintonia e
de forma coordenada, norteando-se a ação policial pelo escalonamento do uso
da força, primando sempre pela preservação da vida, consoante a doutrina de
Gerenciamento de Crises.
Atividade Policial 23
de Gerenciamento de Crises (SGC), destinada ao gerenciamento das situações
policiais críticas de responsabilidade da Divisão, tendo em sua estrutura uma
equipe de negociadores em escala de sobreaviso 24 (vinte e quatro) horas por
dia; 01 (uma) Seção de Proteção à Pessoa (SPP), responsável pela proteção
de pessoas que por algum motivo estejam sofrendo ameaça, em atual ou
iminente risco de vida; 01 (uma) Seção de Cinofilia (SC), a qual encontra-se
em fase de implantação; 01(uma) Seção de Apoio Administrativo, Estatística e
Informática (SAAEI), responsável por toda a parte administrativa, bem como
elaboração das estatísticas e informática; e finalmente, o Gabinete da Direção
(GAB/DOE); sendo inerentes à Divisão, além das atribuições anteriormente
mencionadas, outras atribuições específicas previstas nas Normas Gerais de
Atuação da PCDF
5 http://www.policiacivil.rj.gov.br
6 http://www.policia-civ.sp.gov.br
7 http://www.pr.gov.br/policiacivil e www.pr.gov.br/policiacivil/dg.cope.shtml
8 http://www.policiacivil.goias.gov.com.br e gt3@policiacivil.go.gov.br
9 http://www.bahia.bagov.br/ssp
10 http://www.policiacivil.mt.gov.br/estrutura.php
11 http://www.pc.ms.gov.br
12 http://www.policiacivil.rr.gov.br
24 Atividade Policial
Especiais – DIOE da Polícia Civil do Pará;13 o Departamento Estadual de
Operações Especiais – DEOESP, a Divisão de Operações Especiais – DOE e o
Grupo de Resposta Especial – GRE, todos da Polícia Civil de Minas Gerais;14 o
Grupo de Operações Especiais – GOE da Polícia Civil do Estado do Amapá;15
a Divisão de Operações Especiais – DIVOPE da Polícia Civil do Rio Grande do
Norte;16 o Grupo de Resposta Tática – GRT da Polícia Civil do Maranhão;17 o
Tático Integrado de Grupos de Resgate Especial – T.I.G.R.E. da Polícia Civil do
Estado de Alagoas;18 o Grupo de Operações Especiais – GOE da Polícia Civil
de Pernambuco;19 a Unidade Tática Operacional – UTO da Polícia Civil do
Ceará;20 o Centro de Operações Especiais – COE da Polícia Civil de Sergipe;21
e a Coordenadoria de Operações Policiais Especiais – COPE da Polícia Civil de
Santa Catarina.22
CONCLUSÃO
13 http://www.policiacivil.pa.gov.br e www.policiacivil.pa.gov.br/divisoes/dioe.cfm
14 http://www.sesp.mg.gov.br
15 http://www.prodap.org.br/seg-publica.htm
16 http://www.defesasocial.rn.gov.br
17 http://www.ssp.ma.gov.br
18 http://www.ssp.al.gov.br
19 http://www.policiacivil.pe.gov.br
20 http://www.policiacivil.ce.gov.br
21 http://www.ssp.se.gov.br
22 http://www.policiacivil.sc.gov.br
Atividade Policial 25
Talvez por carecer da formação adequada, muitos compactuam com
opiniões distorcidas, apregoadas por policiais desprovidos de qualquer
conhecimento e embasamento técnico para opinar quanto aos aspectos que
norteiam a criação e atuação dos denominados Grupos Táticos no âmbito de
qualquer instituição policial. É ainda conveniente ressaltar que, como já foi
dito anteriormente, os grupos especiais criados no universo concernente às
Polícias Civis destinam-se ao apoio tático-operacional às demais unidades
policiais da instituição e atuação nas situações policiais críticas de sua
competência legal. Importa salientar que seus componentes não utilizam
“fardas”, e sim uniformes operacionais, que funcionam como equipamentos, e
não como mero meio identificador do policial ou da unidade a que pertença,
sendo utilizados com o fim específico de dar mobilidade, proteção, segurança
e propiciar baixa luminosidade/visibilidade do operador, motivo pelo qual a
maioria dos uniformes utilizados por grupos especiais tem a predominância
da cor preta ou outros tons escuros ou rajados/camuflados, dependendo do
terreno onde são designados para atuar.
A Divisão de Operações Especiais – DOE, destinada ao apoio tático-
-operacional e à atuação nas situações policiais críticas e de alto risco de
competência legal da Polícia Civil do Distrito Federal, diante de sua atuação
ao longo dos anos, vem demonstrando a real importância dos denominados
Grupos Táticos no âmbito das Polícias Civis, com a participação efetiva no
gerenciamento e resolução de diversas situações policiais críticas ocorridas
no Distrito Federal, prestando incontinenti apoio tático-operacional a todas as
Delegacias e Divisões pertencentes aos Departamentos da PCDF, bem como
levando a efeito diligências eminentemente de cunho repressivo. A título
ilustrativo, aponta-se a prisão de criminosos em flagrante delito. A propósito, vale
lembrar que, iniciada a fase de execução no iter criminis, independentemente
de exaurido, por muitas vezes já se encontra consumado o crime, fato que, por si
só, já legitima e clama uma atuação e resposta premente dos órgãos repressivos,
a contrário entendimento de minoritária e inexpressiva corrente de segmentos
da segurança pública que entende cabíveis as atribuições de polícia repressiva
somente na fase investigativa que precede ao inquérito policial ou dele decorre.
Seguindo na mesma esteira do rol exemplificativo, está o cumprimento de
mandados de prisão, a apreensão de menores infratores em flagrante de ato
infracional e o cumprimento de mandados de busca e apreensão de menor,
bem como a prisão de pessoas e apreensão de objetos oriundos ou destinados
26 Atividade Policial
ao crime, mediante o cumprimento de mandados de busca e apreensão em
residências e outras edificações. Estas ações vem propiciando uma estatística
extremamente positiva no que diz respeito à repressão à criminalidade,
despertando na sociedade do Distrito Federal, a certeza de que encontrarão
sempre na DOE/PCDF, policiais imbuídos dos mais nobres sentimentos
ideológicos, dispostos a arriscarem suas próprias vidas no cumprimento
do dever, os quais são merecedores dos mais efusivos encômios e dignos de
ostentarem o lema de nossa Divisão: “ORGULHO DE SER POLICIAL”.
Atividade Policial 27
28
TEXTO 4
A ESTRUTURAÇÃO DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA DA POLÍCIA
FEDERAL NO SEGMENTO DE REPRESSÃO AO
TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES
Lorenzo Martins Pompílio da Hora23
23 Delegado de Polícia Federal – Classe Especial, Titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da
Polícia Federal no Rio de Janeiro e Professor Adjunto da Faculdade de Direito da Universidade Federal
do Rio de Janeiro.
29
que as responsabilidades estarão delimitadas e construídas nas provas,
nos depoimentos prestados, na conclusão dos laudos periciais que deverão
estar em sintonia com o ocorrido, pois a suave percepção de um arranhado
na sinfonia pode pôr abaixo toda a estrutura da persecução criminal, pilar
fundamental do papel repressivo do Estado.
O folclórico e referenciado “pé na porta” (no outro lado teremos sempre
uma surpresa), as piruetas dos emocionantes Mel Gibson e Danny Glover da
série Máquina Mortífera; as peripécias da dupla consagrada na apresentação
cinematográfica dos “Bad Boys”; a saudável e honesta conduta do policial
mexicano Javier Rodrigues (Benício Del Toro) que trabalhava com métodos
não científicos na fronteira de seu País com os E.U.A., no combate ao tráfico
sufocado pela corrupção e resistindo heroicamente às tentações de dinheiro
e poder do memorável filme “Traffic”; o estilo audacioso, independente e
autônomo firmado nas habilidades de Matt Damon no personagem de Jason
Bourne da “Jornada Bourne”; o perfil truculento, solitário e autossuficiente
de John Rambo protegido pelo pai funcional Coronel Trauttman da premiada
sequência de filmes; o cruzar da fronteira do invocado e carismático detetive
Harris (Denzel Washington) do emblemático e festejado trailler “Dia de
Treinamento” são desnecessários e não sobreviveriam no cenário atual do
contexto policial. A uma, porque as instituições policiais estão cada vez mais
conscientes de que investir em capacitação e tecnologia amenizam perdas;
a duas, porque a parafernália tecnológica disponibilizada às investigações
tornam essas práticas inoportunas, inadequadas e inviáveis; a três, porque,
as organizações criminosas estão muito mais sofisticadas, disciplinadas
e eficazes do que a saudosa e romântica estrutura da família da sempre
lembrada produção de Francis Ford Coppola “The Godfather”, Poderoso
Chefão.
A sensibilidade, serenidade, tranquilidade, capacidade para reunir
esses atributos, selecionando dados e transformando-os em informações,24
ruminando com coerência e convicção na busca de uma solução razoável e
fundamentada em referências legais e processuais são posturas inerentes
ao perfil de um profissional de operações. Não adianta andar na rua, se não
sabemos o endereço, as pessoas populares e carismáticas de um determinado
24 Segundo Alves, RUBENS. Entre a Ciência e a Sapiência. O dilema da educação: Edições Loyola, São
Paulo, SP. 1999, p.88 – A mente e um processador de informações. Informações são objetos interiores,
estranhos à mente.
30 Atividade Policial
bairro, a padaria que produz o pão quentinho, o nome do lavador de carros da
esquina, os horários de maior frequência na praça; enfim, qual é o perfil dos
investigados.
A solução de uma operação pode estar no jornaleiro da rua ao lado ou
até nos sapatos vistosos de uma jovem grávida que está na sala de espera de
embarque do aeroporto internacional do Rio de Janeiro com destino a um
País alienígena, levando consigo, numa cinta sutilmente preparada sob suas
vestes pomposas e exteriorizadas por um casaco de veludo preto também
chamativo e impróprio para uma tarde ensolarada de um sábado, a quantidade
aproximada de um quilo e duzentos de cocaína colombiana denominada
capa preta, ou ainda, nas fotos apreendidas de um casal de alienígenas que
retornava de uma viagem de turismo do Rio de Janeiro para a Suécia levando
consigo a quantidade de três quilos e meio de cocaína da mesma qualidade e
referencial de origem.
É certo que o cenário atual de técnicas de investigações e operações
especiais na Polícia Federal está em constante evolução e com uma programação
de treinamento administrada pela Academia Nacional de Polícia Federal
sediada em Brasília/DF, contando com a colaboração de aproximadamente
400 (quatrocentos) policiais federais com formação acadêmica de mestrado e
doutorado, após uma prévia seleção, consolidando o seu banco de pesquisas
com profissionais neste perfil, objetivando aprimorar cada vez mais a qualidade
da prova, de modo a prover com cientificidade os procedimentos inquisitoriais
que instruirão futuras ações penais.
O Departamento de Polícia Federal está investindo intensamente
em gestão de segurança pública, através de uma política de treinamento
alavancada pela Academia Nacional de Polícia Federal em Sobradinho/DF
em consonância com o INC – Instituto Nacional de Criminalística estruturado
por nossos peritos, que em sua grande maioria são mestres e doutores. Isto
possibilita uma segmentação que muito tem colaborado para a cristalização
de uma prova que absorva, cada vez mais, o princípio do contraditório em
nossas etapas pré-processuais como o Inquérito policial.
A partir de 2007, foi instrumentalizado com base em levantamentos
setorizados e disponibilização de dados de nossas regionais, o Planejamento
Estratégico da Instituição, lastreado em cenários, prospectivos do
Departamento de Polícia Federal – DPF para uma perspectiva 2007- 2022.
Atividade Policial 31
Afirma Dias (2008, p. 119)25 que a instituição busca o desenvolvimento
de habilidades que apoiem escolhas racionais e que forneçam confiança
e conhecimento dos fatos relevantes para o cumprimento da missão
institucional.
Cita o exemplo (idem, 125) de que os cenários prospectivos pontuaram
medidas na intenção de possibilitar ao Departamento de Polícia Federal firmar
suas decisões no presente, com o objetivo de se optar por um cenário mais
favorável ou antecipar-se para os momentos difíceis. Logo, se a perspectiva
mais fundamentada aponta para um aumento significativo dos crimes
cibernéticos, providências serão adotadas atualmente, visando à retração do
perfil dessas ocorrências. No entanto, se tal estratégia for inviável, a Polícia
Federal deve ser preparada para enfrentar a questão.
Atualmente, as metas do Departamento de Polícia Federal foram
consolidadas em um plano estratégico, cuja minuta foi entregue, no ano
passado, ao Senhor Ministro de Estado da Justiça, durante a comemoração do
64o aniversário da Instituição.
Na repressão ao tráfico de entorpecentes, observamos todo um processo
saudável e fundamentado de reestruturação na atuação das unidades de
inteligência alocadas em nosso território, sejam elas destinadas à atividade
própria de nossas responsabilidades constitucionais, sejam elas constituídas
com o fito de mediar diligências que objetivem atender os acordos
internacionais de cooperação com países estrangeiros.
Experiências anteriores (das unidades de inteligência na área de repressão
ao tráfico ilícito de drogas) proporcionadas através de uma anamnese
organizacional pontuaram aspectos positivos e negativos nesta linha de
atuação sob o ponto de vista funcional e administrativo. Quais sejam:
ASPECTOS POSITIVOS
25 Fonte: “Segurança Pública & Cidadania” – Revista Brasileira de Segurança Pública e Cidadania/
Academia Nacional de Polícia – v.1 no 2 (jul./dez. 2008). Brasília: Academia Nacional de Polícia.2008.
32 Atividade Policial
Maior autonomia administrativa – financeira da unidade que possuía
fonte própria de recursos provenientes dos acordos celebrados;
Apoio e suprimento das deficiências de recursos humanos e materiais à
estrutura formal da instituição.
ASPECTOS NEGATIVOS
Atividade Policial 33
• As delegacias descentralizadas das Superintendências Regionais
solicitarão apoio à Coordenação Geral de Repressão a entorpecentes
através das Delegacias de Repressão a entorpecentes da sua
circunscrição;
34 Atividade Policial
TEXTO 5
Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE)
– Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro
Flávio Porto de Moura26
Introdução
26 É Delegado de Polícia desde 2001, tendo ingressado na CORE em janeiro de 2006, onde exerce o cargo
de Delegado-Assitente.
35
operacional que glorifica a Polícia Civil de nosso Estado e dignifica a sociedade
fluminense.
27 Criado através da Portaria “E” no 0947, de 04.jul.69, do Exmo. Sr. Secretário de Segurança Pública.
28 Vide Decreto “E” no 5039, de 31.ago.71.
36 Atividade Policial
foi transferido para o Departamento Geral de Investigações Especiais (DGIE) da
SSP/RJ, já com seu efetivo reforçado por policiais que concluíram dois Cursos
de Comandos realizados na Brigada Aeroterrestre (hoje Brigada Paraquedista).
Integravam o SOE, agentes das Polícias Civil e Militar, bem como
servidores do Corpo de Bombeiros e guarda-vidas do Corpo Marítimo de
Salvamento (antigo SALVAMAR), todos recém-admitidos por concurso no
Estado da Guanabara.
No âmbito da Polícia Civil, exigia-se que o candidato fosse reservista
das Forças Armadas; tivesse servido em unidades especiais; ou ser Oficial
Temporário do Exército, Marinha ou Aeronáutica.
Desde então, houve uma série de modificações na estrutura da então
Secretaria de Segurança Pública, sendo que, com a fusão do Estado da
Guanabara com o Estado do Rio de Janeiro, o órgão foi elevado ao status
de Divisão de Operações Especiais (DOE), de onde se originou a Divisão de
Apoio Operacional (DAO), posteriormente denominada Coordenadoria de
Inteligência e Apoio Policial (CINAP), até chegar, em 2002, à denominação
atualmente utilizada, Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE).
29 Vide Resolução SSP no 551, de 22.jul.02, alterada pela Resolução SSP no 769, de 05.mai.05.
Atividade Policial 37
Por fim, espera-se que o policial que almeja integrar os quadros da
CORE tenham sua personalidade alicerçada em valores como honestidade,
prudência, companheirismo e fidelidade à Polícia e à sociedade.
Uma vez admitido no processo seletivo, o servidor é submetido a
intenso programa de treinamento, oportunidade em que são aperfeiçoadas as
habilidades que serão diuturnamente exigidas do policial.
Pela eficiência e relevância dos serviços prestados, se destacam na
estrutura organizacional da CORE, o Esquadrão Antibomba, o Serviço de
Recursos Especiais, o Serviço de Apoio Operacional, o Serviço de Planejamento
Operacional e o Serviço de Aeropolicial.
Prestes a completar 40 anos de existência, o Esquadrão Antibomba30
(EAB) da CORE é referência no país, não só pela reconhecida experiência de
seus integrantes, mas também pelo elevado grau de especialização decorrente
dos intercâmbios com agências nacionais e internacionais.
Responsável pela desativação, recolhimento e destruição de artefatos
bélicos, explosivos e incendiários, o EAB também examina locais de bomba e
explosões, confeccionando relatório técnico próprio ao fato. Vale registrar que
as peças técnicas31 produzidas pelo EAB são aceitas em Juízo como elemento
de convicção nas ações penais, e frequentemente servem de arrimo para a
prolação de decretos condenatórios.
O Esquadrão escreveu seu nome na história mundial por oportunidade
da intervenção de seus técnicos em explosivos, em 1972, no Rio de janeiro.
Na ocasião, militantes do grupo islâmico “Setembro Negro” enviaram
cartas-bomba para as Embaixadas de Israel localizadas em diversos países.
Diversamente do que ocorreu em outros países, onde alguns dispositivos
foram acionados, a carta-bomba enviada à Embaixada de Israel no Brasil foi
desativada graças à coragem e ao destemor dos servidores lotados na então
Seção de Desativação de Artefatos e Explosivos da Polícia Civil do Rio de
Janeiro, que mesmo desprovidos dos recursos tecnológicos hoje disponíveis
aos que operam no referido ramo, conseguiram preservar a vida e o patrimônio
de pessoas inocentes.
30 Criado em 31.ago.72, por ocasião do surgimento da Seção de Desativação de Artefatos Explosivos
dentro do Serviço de Operações Policiais, o EAB recebeu esta denominação com o advento da Resolução
SSP no 551, de 22.jul.02.
31 De acordo com o responsável pelo EAB, Comissário de Policia João Valdemar, cerca de 800 laudos
são produzidos pelos técnicos do EAB por ano. Registre-se, por oportuno, que em muitas ocasiões, em
um único laudo, mais de um artefato é relatado, o que permite concluir que cerca de dois mil casos
envolvendo explosivos são atendidos pelo Esquadrão todos os anos.
38 Atividade Policial
Treinamento constante e busca das melhores condições físicas e
técnicas, são imperativos inafastáveis na mentalidade dos policiais da CORE.
A constante atuação nas áreas de alto risco e as intervenções e resgates em
locais de difícil acesso e em situações adversas exigem do policial civil lotado
na CORE a procura incessante pela excelência. Desta forma, o servidor poderá
avaliar positivamente a ameaça, reduzindo a probabilidade de ocorrência de
eventos não desejados e preservando a integridade física da população de bem
e dos policiais envolvidos na ação.
Neste cenário destaca-se o Serviço de Recursos Especiais (SRE),32 em
especial a Seção de Treinamento Especializado (STE), responsável pelo
planejamento, organização e coordenação de treinamentos e cursos de
formação técnico-operacional.
Incumbe ao STE, ainda, o intercâmbio com outras instituições de
ensino e de operações especiais e a promoção de cursos de atualização
específicos de operações especiais. Muitos de nossos instrutores possuem
cursos nas melhores instituições nacionais e internacionais, fato que lhes
possibilita o acesso às melhores práticas nas técnicas operacionais que serão
posteriormente repassadas aos seus pares.
Contudo, a constante busca pela melhor condição física e técnica não
impede que a CORE se faça sempre presente nas diversas intervenções policiais
levadas a efeito pela Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro.
Nos últimos anos a PCERJ tem se destacado no combate ao crime
organizado, com a realização de incursões quase que diárias em comunidades
carentes situadas em locais de risco. Na maioria das vezes essas ações culminam
com considerável número de prisões e a apreensão de grande quantidade de
drogas e de armas de fogo.
A CORE tem prestado importante contribuição para o sucesso de tais
atividades, com destaque para a atuação da Seção de Apoio Policial (SAP)33 e
Atividade Policial 39
da Seção de Operações Táticas (SOT)34 que, somente no ano passado, foram
responsáveis por mais de 250 apoios às Unidades da PCERJ e demais agências
de segurança.
Outro Serviço que muito colabora para o sucesso das referidas intervenções
policiais é o Serviço Aeropolicial (SAER).35 O emprego de helicópteros nas
operações aumenta consideravelmente a segurança das equipes que operam
40 Atividade Policial
em terra, como também agrega maior eficácia na atividade de neutralização
de eventuais opositores que aproveitam as características do terreno para
atacarem as forças da lei. A ação das aeronaves possibilita a superação dos
obstáculos naturais de forma rápida e eficiente.
A recente aquisição da aeronave blindada “HUEY II”, que se juntou aos
dois helicópteros Esquilo daquele Serviço, representou grande conquista
institucional e reforçou o compromisso do Governo de nosso Estado em
melhorar a segurança de seus agentes no combate ao crime.
O equipamento tem capacidade para seis artilheiros, é blindado e pode
transportar um total de 15 pessoas. O Huey II é totalmente à prova de tiros.
Atividade Policial 41
A tecnologia, associada à perícia e a coragem dos servidores que atuam no
referido Serviço, faz do SAER referência mundial na utilização de helicópteros
nas ações de confronto urbano, resgate, salvamento e combates a incêndios,
representando verdadeiro paradigma nas atividades de emprego operacional
de meios aéreos.
CONCLUSÃO
42 Atividade Policial
TEXTO 6
Breves reflexões sobre a simbologia do crânio transpassado pelo punhal
de Comandos nas Forças Especiais de Polícia no Brasil
Francis Albert Cotta36
43
O Curso de Comandos da Força Pública de Minas Gerais iniciou-se em
1942. O turno foi composto por dez oficiais e 30 sargentos. A duração do curso
foi de julho de 1942 a janeiro de 1943.
O curso era composto por treinamentos, tais como: combates de rua;
assalto; luta corpo a corpo; marchas extenuantes, especialmente noturnas;
exercício de tiro: direto, indireto e mascarado, não só com fuzil ordinário, como
também com fuzis-metralhadores e metralhadoras leves e pesadas. Somente
no mês de novembro de 1942, o turno marchou 220 quilômetros.
O ideal que norteava os treinamentos da primeira turma de Comandos
em Minas Gerais era a liberdade dos oprimidos e a defesa do direito mais
sublime: a vida de europeus submetidos pelas ações e mentalidade nazista.
O símbolo utilizado pelos primeiros Comandos, o Special Air Service
(SAS) Britânico, era e é o punhal, ladeado por asas e a frase: Quem ousa, vence.
Aquele que concluía o treinamento recebia um punhal, símbolo máximo dos
Comandos.
Os Comandos se tornaram tão temidos pelas tropas nazistas que o próprio
Adolf Hitler ordenou em 1942:
[...] a partir desta data, todos os inimigos contatados pelas tropas
alemãs durante as expedições ditas “de comandos”, tanto na
Europa como na África, quer usem uniforme regular de soldados ou
sejam agentes sabotadores, armados ou não, serão exterminados
até ao último, seja em combate ou em perseguição. [...] Altamente
Secreto, Quartel-General do Führer, 18 de outubro de 1942 (No
003830/42 G. Kdos CKW/WSFT) A. Hitler (FLAMENT, 1972, p. 331).
(grifo nosso)
44 Atividade Policial
direito à vida. Como se mostrou em termos simbólicos, os Comandos tinham
como símbolo máximo o punhal. Por outro lado, um dos grupos mais cruéis
dos nazistas eram os Totenkopf da SS.
Atividade Policial 45
Simbologia das Forças Especiais no Brasil: homenagem aos Comandos
Britânicos e a sua vitória na Segunda Guerra Mundial
46 Atividade Policial
Após a conclusão dos cursos, em 1989, os oficiais já cursados promoveram
o Curso de Operações Especiais para integrantes da Companhia de Operações
Especiais na Polícia Militar de Minas Gerais. A formação dos policiais contou
com a colaboração do Pelotão de Operações Especiais do 12o Batalhão de
Infantaria. Assim, nesse mesmo ano, após a conclusão do treinamento, os
concluintes receberam certificados com iconografia que traz um crânio com
uma boina preta, transpassado de baixo para cima por uma espada, ladeada
por uma submetralhadora e uma asa. A iconografia reproduz, literalmente, a
frase do Special Air Service: “Who Dares Wins” (Quem Ousa Vence) agregada
pela espada dos Comandos do Exército Brasileiro.
Percebe-se uma relação direta com a origem dos Comandos e os ideais de
Liberdade e defesa dos direitos humanos herdada dos Comandos britânicos. Os
policiais formados no Curso de Operações Especiais da Polícia de Minas Gerais
honram sua formação salvando vidas em situações adversas e complexas.
Em 2006, após o retorno de militares do Grupamento de Ações Táticas
Especiais da Polícia de Minas, que estavam à disposição da Força Nacional em
Brasília e que realizaram estágio de aplicações táticas no BOPE do Rio de Janeiro,
foi idealizado o curso denominado Patrulhamento em Local de Alto Risco.
Ocorreram duas versões do curso, o primeiro realizado no período de 2 a 9 de
janeiro de 2006 e o segundo, no período de 27 de agosto a 4 de setembro de 2006.
O distintivo do curso é um triângulo dividido ao meio, do lado esquerdo
existe a simbologia do punhal cravado no crânio e do lado direito a inscrição
“GATE”. O treinamento foi inserido como disciplina nos cursos de Operações
Especiais ocorridos nos anos de 2008 e 2011.
Por fim, quando da elaboração dos certificados dos dois cursos de
Operações Especiais, ambos realizados em 2008 (o primeiro, no período de 2
de junho a 15 de setembro; e o segundo, no período de 16 de setembro a 5 de
dezembro) foram impressos o distintivo do punhal transpassando o crânio.
Atividade Policial 47
Art. 4o A Educação de Polícia Militar é pautada no respeito à vida,
dignidade da pessoa humana, garantia dos direitos e liberdades
fundamentais e nos princípios ético-profissionais, sendo, portanto,
vedada no ambiente educacional qualquer demonstração, conduta
ou postura violenta ou discriminatória de qualquer natureza, ou lhe
faça apologia, ainda que de forma subliminar.
§ 1o Quaisquer emblemas, insígnias, brevês, canções, “gritos de
guerra”, versos, escritos ou discursos, camisetas promocionais,
cartazes, bandeiras, pinturas, tatuagens, bem como outros artigos que
façam alusão direta ou indiretamente a comportamentos violentos,
devem ser coibidos. Assim como aqueles que retratem indevidamente
a morte e representem conduta aética ou incompatível com a carreira
policial militar.
48 Atividade Policial
Se, por um lado, temos a visão secular da razão de ser dos integrantes dos
cursados em Operações Especiais, em ações do uso da força sempre pautada na
legalidade, legitimidade e consentimento; por outro há o aspecto transcendental
representado na oração das Forças Especiais, recitada cotidianamente em todas
as Unidades das Forças Especiais de Polícia do Brasil e que traz a essência
deontológica, ontológica e teleológica dos operadores táticos:
Oh! Poderoso Deus
Que és o autor da liberdade
E o campeão dos oprimidos,
Escutai a nossa prece
Nós os homens das Forças Especiais,
Reconhecemos a nossa dependência do Senhor
Na preservação da liberdade humana.
Estejais conosco
Quando procurarmos defender os indefesos
E libertar os escravizados.
Possamos sempre lembrar
Que nossa nação,
Cujo lema é: ordem e progresso,
Espera que cumpramos com o nosso dever,
Por nos próprios,
Com honra
E que nunca envergonhemos nossa fé,
Nossas famílias
Ou nossos camaradas.
Dai-nos a sabedoria de tua mente,
A coragem do teu coração,
A força de teus braços
E proteção de tuas mãos.
É pelo Senhor que combatemos
E a ti pertencem os louros da nossa vitória.
Pois teu é o reino,
O poder
E a glória
Para sempre,
Amém.
Atividade Policial 49
Nessa visão, que transcende a religiosidade em seu sentido clássico é o
próprio Cristo, o ente superior, o exemplo dos operadores das Forças Especiais
de Polícia, pois ele é a expressão máxima da operacionalização da “Vitória
sobre a Morte”. Não se pode negar que o operador das Forças Especiais de
Polícia se depara com a morte no seu cotidiano e sua intervenção tem por
objetivo a vitória sobre ela, resgatando reféns e salvando vidas.
50 Atividade Policial
TEXTO 7
A RESPONSABILIDADE PENAL DO COMANDANTE DE AERONAVE DE
ASAS ROTATIVAS DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS
EM FACE DAS MISSÕES DE DEFESA SOCIAL
Ledwan Salgado Cotta39
Sandro Vieira Corrêa40
RESUMO
51
ações. Conclui-se que, além da aceitação da normatização administrativa,
referente à adoção de procedimentos direcionados à atividade aeropolicial, a
consideração do princípio constitucional da razoabilidade remete o juiz, por
meio da hermenêutica, à avaliação de vários institutos normativos que não
estão elencados na legislação da Aviação Civil.
INTRODUÇÃO
52 Atividade Policial
pouso forçado, sua responsabilidade persiste até que as autoridades competentes
assumam a responsabilidade pela aeronave, pessoas e coisas transportadas. Como
é responsável pela operação e segurança da aeronave, o Comandante de Aeronave
poderá delegar a outro membro da tripulação as atribuições que lhe competem,
menos as que se relacionem com a segurança do voo.
A aviação de Defesa Social das instituições militares estaduais não foi
contemplada pela normatização exclusiva destinada às Forças Armadas.
Todavia, as Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares são considerados,
por força constitucional, como instituições militares estaduais e seus servidores
como militares estaduais. Mas, de forma incongruente, a aviação de Defesa
Social é regida pelas normas atinentes à Aviação Civil emanadas pela Agência
Nacional de Aviação Civil (Anac).
Na Aviação Civil, as atividades aéreas são desenvolvidas em consonância
com regulamentos específicos decorrentes do CBA, cuja normatização delimita,
especificamente, todas as ações a serem desencadeadas pelos atores envolvidos
no processo, sejam eles controladores de tráfego aéreo, pilotos, comissários de
bordo, mecânicos, escolas de formação, balizadores, dentre outros.
Todavia, no que concerne às atividades de aviação de Defesa Social, não
há um detalhamento, uma especificação dos procedimentos a serem adotados
no atendimento das ocorrências de urgência e emergência, o que obriga,
na maioria das vezes, o Comandante de Aeronave e demais componentes
da Guarnição Aérea (GuAer) a utilizar as condições especiais de operação
autorizadas às atividades aéreas policiais e de defesa civil.
Como não há um detalhamento normativo das responsabilidades a bordo
da aeronave de Defesa Social, e fica para a instituição estabelecer os padrões de
treinamento de sua tripulação, verifica-se um contraponto, uma antinomia em
relação à atribuição categórica de uma responsabilidade, quase que exclusiva,
ao Comandante de Aeronave, em virtude de seu dever funcional, de tudo o
que acontece em relação à aeronave, desde sua apresentação para o voo até
a entrega da aeronave, ao passo que os demais componentes da GuAer, nesse
contexto, têm atribuições específicas e de alta relevância para a consecução
dos serviços atinentes às missões de Defesa Social.
Justifica-se este artigo porque a atual legislação da Aviação Civil aplicada
às unidades aéreas dos órgãos de Defesa Social não se mostra suficiente para
sustentar o amparo no caso de um questionamento jurídico-penal ante a
ocorrência de um evento danoso de que resulte ofensa à integridade física de
Atividade Policial 53
seres humanos ou prejuízo material decorrentes de atividades relativas ao voo
em missões policiais ou de defesa civil.
Quanto à metodologia, trata-se de uma pesquisa do tipo exploratória,
em decorrência da interpelação de um assunto ainda pouco discutido no
meio acadêmico. Como técnica de pesquisa, foram utilizadas as modalidades
documental e bibliográfica, com abordagem qualitativa. Empregou-se o
método dedutivo para tratamento do assunto na literatura pesquisada.
54 Atividade Policial
juiz a alternativa de sopesar elementos para a fundamentação da decisão. Isso
não quer dizer que um ponto foi preterido em relação ao outro, no entanto,
denota que, para aquela situação ou caso concreto, um determinado princípio,
por exemplo, apresenta-se mais adequado, mas sem afastar ou retirar a
legalidade e relevância de outro. Seria a harmonia na interpretação agregadora
dos princípios constitucionais.
Atividade Policial 55
seriam sinônimos e aplicados da mesma maneira em face de um caso concreto.
Todavia, mesmo com uma inter-relação, são detentores de características
diferentes. São princípios que não estão expressos no texto constitucional,
porque são princípios gerais do Direito, adequados e aplicáveis à quase
totalidade dos ramos da ciência jurídica. Da mesma forma, quanto à diferença
entre os princípios da razoabilidade e proporcionalidade, Bitencourt (2008,
p. 27) elenca o seguinte:
Pois é exatamente o princípio da razoabilidade que afasta a invocação
do exemplo concreto mais antigo do princípio da proporcionalidade,
qual seja, a “Lei de Talião”, que, inegavelmente, sem qualquer
razoabilidade, também adotava o princípio da proporcionalidade.
Assim, a razoabilidade exerce função controladora na aplicação do
princípio da proporcionalidade.
Segurança jurídica
56 Atividade Policial
disso, uma decisão judicial em sede de infração penal, em tese, cometida pelo
Comandante de Aeronave de Defesa Social, que esteja lastreada nos ditames
legais atualmente existentes, pode resultar em injustiça que repercutirá em
toda uma classe de profissionais. Então, a hermenêutica jurídica e princípios
como o da razoabilidade devem ser utilizados como forma de balizamento
para uma coerência jurídica para a decisão ante um caso concreto.
a) Direito Administrativo
No conceito de Carvalho Filho (2010, p. 9), Direito Administrativo é “[...]
o conjunto de normas e princípios que, visando sempre ao interesse público,
regem as relações jurídicas entre pessoas e órgãos do Estado e entre este e as
coletividades a que devem servir”.
b) Administração Pública
Com o aumento do tamanho do Estado e a complexidade de suas
atividades, especificamente com o escopo de organizar e gerir a coletividade,
surgiu a necessidade do estabelecimento de órgãos e instituições para levarem
a efeito tal objetivo e proporcionar o devido funcionamento daquilo que, em
tese, pertence a todos. Conforme Moraes (2004, p. 313), Administração Pública
pode ser definida:
[...] objetivamente como a atividade concreta e imediata que o
Estado desenvolve para a consecução dos interesses coletivos e
subjetivamente como o conjunto de órgãos e de pessoas jurídicas
aos quais a lei atribui o exercício da função administrativa do Estado.
Atividade Policial 57
c) Poder de Polícia
O poder de polícia é utilizado como poder de contenção, é a legítima
capacidade que tem o Estado de limitar os direitos individuais pela perspectiva
de assegurar o bem da coletividade. No ponto de vista de Gasparini (2007), poder
de polícia é utilizado no sentido da atribuição de que dispõe a Administração
Pública para condicionar o uso, o gozo e a disposição da propriedade e
restringir o exercício dos administrados no interesse público ou social.
Nessa abordagem de poder de polícia verifica-se a possibilidade de
uma tendência da identificação da expressão “de polícia” como corporação.
O termo “polícia”, como função, é referente à atividade administrativa exercida
por vários órgãos atinentes à Administração Pública e não somente pelas
conhecidas polícias militares. Estas são órgãos públicos administrativos
pertencentes aos sistemas de segurança pública.
d) Órgão Público
O Estado é um ente personalizado no qual vigora o pluripersonalismo:
além da pessoa jurídica central, existem outras internas que compõem o
sistema político. Essas outras repartições internas, cada qual responsável por
um segmento do serviço público, constituem os chamados órgãos públicos
(CARVALHO FILHO, 2010).
A Polícia Militar, no contexto do Estado de Minas Gerais, é um centro
de competência subordinado ao ente estatal com atribuições definidas
com base na Constituição do Estado e em leis específicas definidas para seu
funcionamento e prestação de serviços à comunidade, motivo por que é
definida como órgão público.
e) Agente Público
A Administração Pública se faz presente na sociedade por meio de seus
órgãos e, consequentemente, por intermédio das pessoas que estão inseridas
no contexto desses órgãos públicos, ou seja, aqueles agentes que, de uma
forma ou outra, se vinculam ao Estado de maneira permanente ou transitória,
com ou sem remuneração, por designação, eleição, nomeação, contratação ou
qualquer forma de investidura ou vínculo, cargo, emprego, mandato ou função
pública (ALEXANDRINO; PAULO, 2011).
No que concerne à força pública mineira, os policiais militares fardados,
armados e equipados, presentes em todos os oitocentos e cinquenta e três
municípios, além de inúmeros distritos, materializam a presença do poder
58 Atividade Policial
estatal perante a sociedade e representam a principal ferramenta de apoio ao
cidadão das alterosas para o enfrentamento de qualquer tipo de alteração da
harmonia social.
f) Atos administrativos
Os atos administrativos são categoria ou espécie dos atos jurídicos.
Trata-se de manifestações ou declarações unilaterais da Administração
Pública, que não podem ser bilaterais porque seriam consideradas contratos
administrativos que impõem obrigações aos administrados e a si próprios.
Os atos administrativos devem estar revestidos de requisitos que vão lhes
proporcionar validade e eficácia. Não há unanimidade acerca do número e
da identificação desses requisitos (também chamados de elementos), mas,
de uma forma geral e abrangente, apresentam-se nesse trabalho os seguintes:
competência, finalidade, forma, motivo, conteúdo, objeto e causa.
Dos atos administrativos emanados pela Administração Pública, destaca-
-se para este artigo o ato administrativo normativo, haja vista a possibilidade
do estabelecimento de normatividade, ou seja, a criação de regras destinadas e
que deverão ser cumpridas pelos seus agentes.Verifica-se que a Administração
Pública e, de forma específica, a Polícia Militar, pode e deve emitir atos
administrativos normativos para definir ações, atividades e procedimentos que
serão executados pelos seus servidores, desde que não sejam contrários às leis
em vigor. Então, ressalta-se que, naquilo que a legislação aeronáutica se mostra
omissa ou insipiente, a Polícia Militar, por intermédio de sua unidade aérea,
que é o Batalhão de Radiopatrulhamento Aéreo, pode definir procedimentos
operacionais padronizados que irão nortear a atuação da Guarnição de
Radiopatrulha Aérea41. Essas regras ou normas definidoras de procedimentos
de atuação podem ser estabelecidas por intermédio de memorandos, ordens
de serviços, instruções ou outro tipo de ato normativo administrativo, haja
vista não existir uma padronização quanto ao mais adequado veículo, e sim
um direcionamento dos que se enquadram em determinados casos.
g) Doutrina
A etimologia da palavra “doutrina” vem do latim doctrina, que significa
ensinamento ou conjunto de ensinamentos. Também é referente àquele
indivíduo que ensina – doctor. Segundo lição de Bobbio (1998), ao mencionar
41 Guarnição de Radiopatrulha Aérea constitui a fração policial militar mínima que atua embarcada em
helicópteros da PMMG com vistas a prestar o apoio aéreo às frações terrestres (MINAS GERAIS, 2013).
Atividade Policial 59
a mesma base etimológica latina, assinala que doctrina vem de doceo, que
significa ensino.
Ao longo do tempo, o vocábulo “doutrina”, que era restrito ao ensinamento,
diversificou-se de acordo com os vários ramos que surgiram, ou que resolveram
utilizá-lo, e fizeram uma adequação de seu significado ao objetivo proposto.
No entanto, prevalece uma raiz conceitual referente ao conjunto de princípios
que constitui o fundamento de uma ciência. Na atualidade, o conceito de
doutrina refere-se aos campos da Religião, da Filosofia, da Administração, da
Educação e do Direito.
A doutrina no Direito consiste nas atividades de estudo, pesquisa e
interpretação praticadas pelos especialistas e que propiciam aos operadores
uma compreensão mais adequada do conteúdo das normas jurídicas (CAPEZ,
2010). Ao aliar o vocábulo “doutrina” ao conceito de aprendizagem, Souza
(2003, p. 134) assinala que:
Doutrina estaria ainda ligada implicitamente ao processo de
aprendizagem organizacional, pelo fato de esta constituir, na prática,
o repositório de experiências e ideais de uma organização, que
subsidiam a adequação dos rumos de seu planejamento estratégico.
Essa relação se deduz a partir do conceito de aprendizagem
propriamente dito, somado ao de aprendizagem organizacional.
60 Atividade Policial
O conceito de Direito Penal é, conforme Bitencourt (2008, p. 2):
[...] um conjunto de normas jurídicas que tem por objeto a
determinação de infrações de natureza penal e suas sanções
correspondentes – penas e medidas de segurança. Esse conjunto de
normas e princípios, devidamente sistematizados, tem a finalidade
de tornar possível a convivência humana, ganhando aplicação prática
nos casos concretos, observando rigorosos princípios de justiça.
Atividade Policial 61
a pena de multa [...].”, elenca também o conceito de contravenção: “[...] a
infração a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa,
ou ambas, alternativa ou cumulativamente.” (BRASIL, 1941b).
O conceito que predomina na doutrina brasileira é no sentido de que o
crime é um fato típico, antijurídico e culpável.
Quanto ao conceito de crime militar, o Brasil adotou, para definir como
tal, o aspecto formal, ou seja, o legislador enumera, taxativamente, por meio
de lei, as condutas tidas como crime militar.
Por conseguinte, o Código Penal Militar apresenta condutas tipificadas
como crime militar que podem ser praticadas pelos militares das Forças
Armadas e pelos militares estaduais, por fazerem parte de instituições que têm
como pilares básicos a hierarquia e a disciplina. Dessa forma, segundo Assis
(2009, p. 42), é considerado crime militar “[...] toda violação acentuada ao dever
militar e aos valores das instituições militares. Ele distingue-se da transgressão
disciplinar porque esta é a mesma violação, entretanto na sua caracterização
de manifestação elementar e simples”.
É necessária a abordagem sobre a diferença entre crimes militares próprios
e impróprios, pois os primeiros, conforme posição doutrinária majoritária,
são considerados delitos autenticamente militares, porque têm previsão
única e exclusivamente no Código Penal Militar, e não existe correspondência
em nenhuma outra lei, mesmo em se tratando de Código Penal, destinado à
sociedade como um todo. Quanto aos crimes militares impróprios, têm dupla
previsão tanto no Código Penal Militar quanto no Código Penal comum, ou
legislação similar, com ou sem divergência de definição.
Do desencadeamento de um delito de natureza comum ou militar, o
responsável pela ação ou omissão é denominado autor, e podem existir outros
atores nesse contexto que serão tratados também como coautores ou partícipes.
62 Atividade Policial
faz para produzir o resultado lesivo. Em relação ao elemento volitivo, verifica-
-se que o agente quer a produção do resultado que compõe o tipo objetivo
(GRECO, 2003).
De uma forma genérica, a culpa é considerada a partir do pressuposto
de que o agente não desejou a produção do resultado que avilta o tipo
penal considerado. Porém, ressalta-se a inobservância do dever objetivo de
cuidado, consubstanciada pela realização de um resultado não querido, mas
objetivamente previsível.
O inciso II do art. 18 do Código Penal estabelece ser culposo o crime
“[...] quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, imperícia ou
negligência” (BRASIL, 1940).
Excludentes de ilicitude
Atividade Policial 63
enseja uma constatação de sua caracterização de forma direta à sua própria
expressão, conforme Greco (2003, p. 410) ao assinalar que:
Primeiramente, é preciso que haja um dever legal imposto ao agente,
dever este que, em geral, é dirigido àqueles que fazem parte da
Administração Pública, tais como os policiais e os oficiais de justiça.
[...].
Em segundo lugar, é necessário que o cumprimento a esse dever
se dê nos exatos termos impostos pela lei, não podendo em nada
ultrapassá-los.
64 Atividade Policial
abrangentes concernentes ao estrito cumprimento do dever legal e do exercício
regular do direito podem resolver a quase totalidade das questões nas quais
não se materialize o desvalor da conduta.
Atividade Policial 65
aeronave foi utilizada com êxito em mais de trinta voos, pela primeira aviadora
brasileira, Anésia Pinheiro Machado (MARQUES, 2006).
No ano 1951, a Polícia Militar recebeu um avião PIPER, de fabricação
americana, que foi repassado a título de doação por meio da Fundação Getulio
Vargas. A aeronave atendia ao Conselho Diretor das Escolas Caio Martins e
transportava médicos, dentistas e professores que assistiam aos menores
daqueles estabelecimentos nas cidades de Pirapora, São Romão, Januária, São
Francisco, Urucânia e Carinhanha (MARQUES, 2006).
Mesmo em um primeiro momento com uma utilização diversa
da atividade fim da Polícia Militar, em 1964, por ocasião do Movimento
Revolucionário, a aeronave serviu para fazer ligação entre o Comando-Geral
da Instituição e os diversos batalhões no interior do Estado. Contudo, pela
extinção das Escolas Caio Martins, a aeronave foi devolvida ao Departamento
de Aviação Civil (DAC), em razão de cláusula contratual.
Com o passar dos anos e por meio da análise de experiências bem-
-sucedidas de outras instituições policiais, principalmente as estrangeiras, a
Polícia Militar de Minas resolveu retomar suas atividades aéreas, agora com
cerne definido nas atividades de preservação da ordem pública.
Em 1986, o então Comandante-Geral da PMMG, Coronel PM Leonel
Archanjo Afonso determinou a realização de um estudo sobre a viabilidade
da atividade aérea na Corporação e, assim, foi criado, por meio da Resolução
no 1.665, de 27 de janeiro de 1987, o Comando de Radiopatrulhamento Aéreo
(Corpaer), cuja responsabilidade é a execução, no Estado de Minas Gerais, e
até mesmo em outros Estados da Federação, mediante convênio ou situação
emergencial, das atividades de radiopatrulhamento aéreo. Atualmente, a
denominação da Unidade Aérea da PMMG é Batalhão de Radiopatrulhamento
Aéreo (MARQUES, 2006).
O então Corpaer foi instalado em um terreno pertencente à Academia de
Polícia Militar, localizado na Rua dos Pampas, Bairro Prado de Belo Horizonte.
Posteriormente, surgiu a necessidade de uma inserção da unidade no contexto
da aviação como um todo e, então, foi celebrado um convênio com a Empresa
Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) para a construção de um
hangar no Pátio Norte do Aeroporto da Pampulha.
A primeira aeronave operada pela unidade foi um helicóptero Bell 206-III,
Jet Ranger, prefixo PP-EJF, que recebeu o designativo ou codinome Pégasus 01.
66 Atividade Policial
No ano 1992, dois helicópteros Bell 47, modelos G2, foram confiados à PMMG
a título de doação pela Força Aérea Brasileira e receberam os prefixos PP-EJD e
PP-EJE com os respectivos prefixos Pégasus 02 e 03.
Em 1994, a frota recebeu a primeira aeronave esquilo, modelo AS350B2,
prefixo PP-EPM, que recebeu o designativo de Pégasus 04, mas que foi
acidentada com perda total em 1996. Esta foi substituída por outro esquilo,
prefixo PP-EJJ, o Pégasus 07.
Foi firmado um convênio entre a PMMG e a Prefeitura Municipal de
Uberaba, em 1995, para a operação, naquela cidade, de um helicóptero modelo
Robinson 22, prefixo PP-MAF, cujo designativo foi Pégasus 06. Ao término do
convênio, não ocorreu a renovação. No ano 1996, o Governo de Minas adquiriu
mais quatro aeronaves esquilo, destinadas à Polícia Militar, as quais receberam
os seguintes prefixos e designativos: PP-EJK (Pégasus 08), PP-EJL (Pégasus 09),
PP-EJM (Pégasus 10) e PP-EJN (Pégasus 11).
A Polícia Militar utilizou também em atividades de segurança pública
um avião modelo Cessna 210, prefixo PT-DTB, com designativo de Pégasus 05,
objeto de depósito judicial junto à Corporação em decorrência de apreensão
por utilização em ações ilícitas relacionadas ao tráfico de drogas. Porém, em
2002, a aeronave foi devolvida ao seu proprietário por determinação da Justiça.
Por meio da celebração de convênio com a PMMG, a Secretaria de Estado
do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD) adquiriu um
helicóptero esquilo, prefixo PP-IEF, que recebeu o designativo de Guará 01. Essa
aeronave vem atuando na proteção e preservação do meio ambiente desde
1996. Já no ano 2006, ocorreu a aquisição pela SEMAD de outro helicóptero
esquilo de prefixo PP-IEG, cujo designativo é Guará 02.
Com o acidente que inutilizou o helicóptero Bell Jet Ranger III, PP-EJF,
Pégasus 01, foi adquirido, em 2008, pela PMMG outro helicóptero do mesmo
modelo de prefixo PT-YAP, que recebeu o designativo de Pégasus 13. No mesmo
ano, a PMMG recebeu do Estado de Minas Gerais um avião modelo King-Air
C90, prefixo PT-OSO, o qual teve o designativo de Pégasus 12.
Em 2009, a SEMAD passou a utilizar um avião modelo Embraer 711/
Corisco Turbo, de prefixo PT-RIY, também objeto de depósito judicial, que
recebeu o designativo de Guará 03.
Mediante convênio firmado com o Governo Federal, por meio da
Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), a PMMG, em 2011,
Atividade Policial 67
recebeu um helicóptero esquilo, modelo AS350B3, o qual foi designado
Pégasus 14.
Segundo dados fornecidos pela Seção de Manutenção de Aeronaves da
unidade, até a data de 06 de junho de 2013, o Btl RpAer contabiliza, em toda a
sua história, cinquenta e cinco mil oitocentos e sete horas voadas, e hoje opera
nove helicópteros e dois aviões, com a segunda maior frota de aeronaves no
contexto das unidades aéreas de segurança pública, à exceção de São Paulo. Em
decorrência da vasta extensão territorial de Minas Gerais, está em plena execução
o projeto de desconcentração de bases aéreas da Corporação no interior do
Estado. Três já foram efetivadas: 2a Companhia de Radiopatrulhamento Aéreo
(CoRpAer) em Uberlândia, 3a CoRpAer em Montes Claros e 4a CoRpAer em Juiz
de Fora. Pretende-se estruturar outras bases em sedes estratégicas do Estado,
com previsão em Varginha e Governador Valadares.
68 Atividade Policial
Quanto à Constituição do Estado de Minas Gerais, promulgada no ano
1989, as atribuições da Polícia Militar seguiram a premissa determinada pela
CRFB de 1988 no seguinte sentido:
Art. 142. A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar, forças
públicas estaduais, são órgãos permanentes, organizados com base na
hierarquia e na disciplina militares e comandados, preferencialmente,
por oficial da ativa do último posto, competindo:
I – à Polícia Militar, a polícia ostensiva de prevenção criminal, de
segurança, de trânsito urbano e rodoviário, de florestas e de mananciais
e as atividades relacionadas com a preservação e restauração da ordem
pública, além da garantia do exercício do poder de polícia dos órgãos
e entidades públicos, especialmente das áreas fazendária, sanitária,
de proteção ambiental, de uso e ocupação do solo e de patrimônio
cultural.
Atividade Policial 69
Decreto-Lei, na forma que dispuser o regulamento específico.
70 Atividade Policial
ao Btl RpAer a competência de gerenciar o emprego de aeronaves de asas fixas e
rotativas42 na corporação e especificamente (MINAS GERAIS, 2010, p. 72):
a) executar rotineiramente o Radiopatrulhamento Aéreo na
Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) e nas cidades
sede das frações desconcentradas do Btl RpAer;
b) executar ações e operações programadas pelo [Estado-Maior da
Polícia Militar] EMPM em todo o Estado de Minas Gerais sob a
coordenação do Comando de Policiamento Especializado;
c) apoio operacional às [Unidade de Execução Operacional]
UEOp nas ocorrências de “[...] alta complexidade, salvamento e
socorro e calamidades [...]”.
Atividade Policial 71
da tranquilidade do povo mineiro. Então, a atual articulação operacional do Btl
RpAer se apresenta consubstanciada por quatro subunidades denominadas
Companhias de Radiopatrulhamento Aéreo (CoRpAer), distribuídas no Estado
de Minas Gerais na seguinte perspectiva: 1a CoRpAer – instalada em Belo
Horizonte na sede do Btl RpAer, responsável por executar ações e operações
policiais na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), com abrangência
territorial que correspondente à 1a, 2a e 3a Regiões da Polícia Militar (RPM), além
da 7a, 8a e 12a RPM, além da possibilidade de reforço operacional às demais
subunidades com o surgimento de problemas de segurança pública e defesa
civil de maior gravidade; 2a CoRpAer – sediada no município de Uberlândia
e com responsabilidade de emprego operacional na 5a, 9a, 10a e 16a RPM; 3a
CoRpAer – sediada no município de Montes Claros e com responsabilidade de
emprego operacional na 11a, 14a e 15a RPM; 4a CoRpAer – sediada no município
de Juiz de Fora e com responsabilidade de emprego operacional na 4a, 6a, 13a, 17a
e 18a RPM. Tais subunidades são subordinadas administrativa e tecnicamente
ao Btl RpAer, mas com vinculação operacional para a execução das atividades
policiais de Defesa Social, nas respectivas macrorregiões (mapa 1).
72 Atividade Policial
O apoio policial baseado na utilização de aeronaves é uma realidade
mundial e tende a asseverar-se com a evolução tecnológica e a globalização,
fatores que também possibilitam a otimização das ações delituosas.
Para atender à demanda operacional na qual há a necessidade do emprego
de aeronave de asas rotativas, notadamente o helicóptero, o Btl RpAer tem
profissionais (policiais militares) capacitados e treinados para o exercício de
funções específicas a bordo da aeronave e em seu apoio no solo. A composição
que será elencada a seguir recebe o nome de Guarnição de Radiopatrulha
Aérea (GuAer), formada pelos seguintes policiais militares:
a) Comandante de Aeronave: trata-se de um oficial do Quadro de Oficiais
da Polícia Militar (QOPM), membro da tripulação, devidamente designado
pelo Comandante da Unidade após aprovação em estágio de Comandante de
Aeronave e submissão a conselho de voo, para exercer o comando da aeronave.
Possui a autoridade e responsabilidade inerentes à função, notadamente sob
a égide decisória, desde que recebe a incumbência formal da missão a ele
destinada, até o momento em que entregar a aeronave após o cumprimento da
missão. Possuidor de Certificado de Habilitação Técnica (CHT) e Certificado
Médico Aeronáutico (CMA) emitidos por instituições competentes;
b) Comandante de Operações Aéreas: também oficial do QOPM, membro
da tripulação, designado pelo Comandante da Unidade após aprovação em
estágio de Comandante de Operações Aéreas e submissão a conselho de voo.
Exerce a autoridade e responsabilidade inerentes à função, desde que recebe a
incumbência formal da missão, até o momento em que encerrar o preenchimento
da documentação pertinente à missão. Possuidor de Certificado de Habilitação
Técnica e Certificado Médico Aeronáutico emitidos por instituições competentes;
c) Tripulante Operacional: função privativa da graduação de Subtenente
ou Sargento, membro da tripulação, designado pelo Comandante da Unidade
após aprovação em estágio de Tripulante Operacional e submissão a conselho de
voo. Exerce a autoridade e responsabilidade inerentes à função, desde que recebe
a incumbência formal da missão a ele destinada, até o momento em que encerrar
os trabalhos de desequipagem da aeronave. Possuidor de Certificado Médico
Aeronáutico emitido por instituição competente. Normalmente, a configuração
da GuAer é feita com dois pilotos e dois Tripulantes Operacionais (um do lado
direito da aeronave, o qual atua na parte traseira da cabine e outro do lado oposto).
Também fazem parte da GuAer, embora normalmente não trabalhem
embarcados, o Mecânico Operacional de Voo e o Técnico de Apoio de Solo.
Atividade Policial 73
Dessa composição, verifica-se que, diferentemente da aviação regular
comum, formada pelas figuras do Piloto, Copiloto e Comissários de Bordo, a
Guarnição de Radiopatrulha Aérea adotada pela PMMG e outras instituições
militares estaduais, com pequenas adequações, têm relevante singularidade no
que concerne à autoridade, competência e responsabilidades, principalmente de
cada um dos elementos formadores da chamada célula policial-militar de voo.
Constata-se que o tratamento jurídico conferido pelo Código Brasileiro
de Aeronáutica e normatizações decorrentes à aviação das instituições
estaduais de Defesa Social não é condizente com a realidade de operação de
suas guarnições aéreas.
43 Os tópicos elencados nessa seção são atinentes à Proposta de Diretriz para a Regulação do Emprego
de Aeronaves na PMMG, referenciada como “Minas Gerais, 2012”.
74 Atividade Policial
f. debilita o agente delituoso no campo psicológico deixando o mesmo
altamente inquieto pela presença da aeronave;
g. permite à Força Policial Militar vencer distâncias e ultrapassar
barreiras que poderiam dificultar ou impedir a ação de forças
terrestres na resposta para fazer cessar o ato antissocial ou suas
consequências;
h. possibilita a descoberta, identificação e localização de atividades ou
ações que tenham como finalidade a mudança ou perturbação da
ordem social;
i. possibilita condições de se estabelecer um ponto de observação
aérea criando assim uma completa e nova dimensão para a obtenção
de informações;
j. representa um elo adicional na coordenação e no controle de frações
empenhadas em intervenções policial-militares permitindo, ao
escalão de comando, a obtenção de um entendimento mais preciso
da situação que lhe possibilitará tomar decisões adequadas e emitir
ordens convenientes.
Atividade Policial 75
plataforma de observação e repasse de informações aos policiais militares que
atuam em solo.
No campo do meio ambiente os serviços prestados são de fiscalização
ambiental e combate a incêndio florestal.
No campo da Defesa Civil as missões aeropoliciais desencadeadas são
sobrevoos de reconhecimento e avaliação, levantamento de pontos críticos
e pontos seguros, resgates de pessoas, salvamento aquático, transporte de
equipamentos, transporte de técnicos, transporte de socorristas, transporte
de vítimas, traslado de autoridades, transporte de gêneros alimentícios e
medicamentos, monitoramento do trânsito urbano e rodoviário, evacuação de
pessoas ilhadas e radiopatrulhamento aéreo.
76 Atividade Policial
acabado, porquanto pode ser submetido a revisões periódicas na verificação
de sua obsolescência, pela evolução tecnológica ou pela constatação de ações
que se mostram mais eficientes ou econômicas para o serviço aeropolicial.
Atividade Policial 77
das Nações Unidas, cujo principal objetivo é tratar dos assuntos atinentes à
Aviação Civil no mundo.
O Brasil tornou-se signatário da Convenção na data de 29 de maio de 1945,
na cidade de Washington, nos Estados Unidos da América. No entanto, em 1946
é que houve a criação de uma norma para adoção dos preceitos constantes na
convenção, por meio do Decreto-Lei Federal no 7.952, de 11 de setembro de
1945, ratificado pelo Decreto Federal no 21.713, de 26 de março de 1946.
A primeira Constituição brasileira a mencionar o assunto aviação foi a
Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1934, a qual conferiu à União
competência privativa para legislar sobre Direito Aéreo, além de permitir
a concessão da navegação aérea e dar competência aos juízes federais de
processar e julgar, em primeira instância, questões de navegação aérea.
Em 8 de junho de 1938, foi promulgado o primeiro Código Brasileiro do
Ar, assim denominado pelo Decreto-Lei Federal no 483.
Em 20 de janeiro de 1941, por meio do Decreto-Lei Federal no 2.961,
foi criado o Ministério da Aeronáutica, o qual recebeu as competências do
Conselho Nacional de Aeronáutica, formado por membros da Aeronáutica, do
Exército, da Marinha e do Departamento de Aeronáutica Civil.
O Decreto-Lei Federal no 32, de 18 de novembro de 1966, instituiu um
novo Código Brasileiro do Ar que teve como principal alteração a classificação
de aeronaves em civis e militares e considerava militares somente as aeronaves
integrantes das Forças Armadas e aeronaves civis as aeronaves públicas e as
aeronaves privadas.
Quanto à aviação, a Constituição da República de 1988 não trouxe
mudanças significativas e manteve regras contempladas nas Constituições
anteriores, como a previsão constitucional do art. 22, inciso I, o qual determina
competência à União para legislar sobre Direito Aeronáutico (BENI, 2009).
Em 19 de dezembro de 1986, por meio da Lei Federal no 7.565, foi instituído,
no Brasil, o CBA, que, basicamente, elenca assuntos, dá providências e institui
sanções em relação a situações tipicamente referentes à Aviação Civil, ainda
porque foi elaborado com base nos preceitos adotados pela Organização da
Aviação Civil Internacional.
Cita-se o Decreto Federal no 21.713, de 26 de março de 1946, que ratificou
o Decreto-Lei Federal no 7.952, de 11 de setembro de 1945, cujo preâmbulo
traz: “Promulga a Convenção sobre Aviação Civil Internacional, concluída em
Chicago a 7 de dezembro de 1944 e firmada pelo Brasil, em Washington, a 29
78 Atividade Policial
de maio de 1945”. Notadamente, em seu art. 3o, cujo título é “Aeronaves Civis e
do Estado”, o mesmo decreto estabelece:
a) Esta Convenção será aplicável unicamente a aeronaves civis, e
não a aeronaves de propriedade do Governo.
b) São consideradas aeronaves de propriedade do Governo aquelas
usadas para serviços militares, alfandegários ou policiais.
c) Nenhuma aeronave governamental pertencente a um estado
contratante poderá voar sobre o território de outro Estado, ou
aterrissar no mesmo sem autorização outorgada por acordo
especial ou de outro modo e de conformidade com as condições
nele estipuladas.
d) Os Estados contratantes, quando estabelecerem regulamentos
para aeronaves governamentais se comprometem a tomar em
devida consideração a segurança da navegação das aeronaves
civis (destaques nossos).
Atividade Policial 79
constata-se que o tema aviação de segurança pública ou de Defesa Social
não foi abordado e o único momento do decreto que menciona as Polícias
Militares e os Corpos de Bombeiros Militares é quanto ao pedido de cessão
de seus servidores estaduais à Secretaria de Aviação Civil, por meio do art. 22.
Ela teve sua criação pela Lei Federal no 11.182, de 27 de setembro de 2005,
e foi regulamentada pelo Decreto Federal no 5.731, de 20 de março de 2006,
como de uma entidade integrante da Administração Pública Federal indireta,
submetida a regime autárquico especial, vinculada ao Ministério da Defesa,
cuja atribuição principal é regular e fiscalizar as atividades de Aviação Civil e
de infraestrutura aeronáutica e aeroportuária.
Essa agência reguladora segue os tratados internacionais dos quais o Brasil
é signatário, cumpre o estabelecido por sua lei de criação e seu regulamento e
tem como instrumentos jurídicos principais o CBA, a Lei do Aeronauta e a do
Aeroviário.
Quanto à criação das agências reguladoras, Carvalho Filho (2010, p. 529-
530), assinala:
No processo de modernização do Estado, uma das medidas
preconizadas pelo Governo foi a da criação de um grupo especial
de autarquias a que se convencionou denominar de agências, cujo
objetivo institucional consiste na função de controle de pessoas
privadas incumbidas da prestação de serviços públicos, em regra sob
a forma de concessão ou permissão, e também na de intervenção
estatal no domínio econômico, quando necessário para evitar
abusos nesse campo, perpetrados por pessoas da iniciativa privada.
44 Criado pela Lei Complementar no 97, de 09 de julho de 1999, que dispõe sobre as normas gerais para a
organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas, pertencentes ao Ministério de Estado da Defesa.
80 Atividade Policial
à ANAC – uma incongruência, porquanto o referido plano tem como cerne a
redução do deficit público de saneamento das finanças governamentais, por
meio da transferência para a iniciativa privada das atividades exercidas pelo
Estado de forma dispendiosa e indevida.
No entanto, a medida não se mostra adequada em relação à atividade
aérea de Defesa Social, uma vez que essa atividade não tem como escopo a
auferição de lucro, mas sim a proteção e o socorro públicos.
Outra anomalia verificada foi a substituição de um órgão diretivo como
o Departamento de Aviação Civil, por uma agência reguladora, que, além de
suas funções de regulação e fiscalização, ou seja, típica função de controle da
prestação de serviços públicos concedidos ou permissionados pelo Estado,
passou a emitir normatização técnica, o que encontra questionamentos na
visão de juristas e doutrinadores.
A criação da Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República
sanou parte do questionamento à medida que se constitui em órgão diretivo
que foi concebido com status de Ministério. Contudo, sua estrutura regimental
não contemplou o tema aviação de segurança pública ou de Defesa Social,
ou qualquer outro tipo de expressão que pudesse ensejar ou remeter a um
entendimento ou referência à aviação pública levada a efeito pelas organizações
de segurança pública, no âmbito federal ou estadual e até mesmo municipal,
civis ou militares.
Atividade Policial 81
Tal situação se tornou ainda mais evidente a partir da adoção por quase
todas as unidades da Federação, além do Distrito Federal, da aeronave de asas
rotativas como instrumento primaz para o serviço de Defesa Social. Além disso,
os Estados passaram a utilizar helicópteros para traslado das autoridades de
seu alto escalão de governo, principalmente os governadores.
Com o passar dos anos, o serviço aéreo de Defesa Social mostra-se
diversificado e complexo, sobretudo porque a atividade aérea compreende
um intrínseco risco aos militares que a exercem e também à sociedade quanto
aos procedimentos próprios realizados pela GuAer, quais sejam, voos à baixa
altura e sobre áreas habitadas.
Todavia, a legislação referente às atividades de aviação policial e
defesa civil, sobretudo as normas da ANAC, não acompanhou a evolução
da complexidade e diversidade do serviço prestado, do desenvolvimento
tecnológico, da exigência das instituições de fiscalização dos órgãos públicos
como o Ministério Público e o Judiciário, da imprensa, que se mostra presente
em todos os aspectos da vida cotidiana, e da própria sociedade, que se encontra
atenta a todos os acontecimentos conjunturais.
Ressalta-se que, com relação aos demais órgãos das outras unidades
federativas do Brasil, existem serviços correlatos, mas não há uma padronização
nacional dos procedimentos operacionais a serem desencadeados pelas
unidades aéreas policiais e de defesa civil.
Nos atendimentos de ocorrências referentes a tais naturezas, em que há
a necessidade de acionamento do apoio aéreo, não raras vezes, em virtude
da exigência do bem comum e das querências da coletividade, são realizados
voos e pairados45 abaixo da altura mínima estabelecida, pousos em locais
não homologados e restritos, embarque e desembarque de policiais e/ou
passageiros com os rotores girando, ou seja, uma série de procedimentos
incompatíveis com aqueles procedidos pelos outros segmentos da Aviação
Civil que estão vinculados a cumprir o regulamento de tráfego aéreo de uma
forma geral.
Todavia, tais procedimentos excepcionais mostram-se necessários
em decorrência de um objetivo maior, que é a proteção da sociedade, aqui
entendida como o conjunto de cidadãos cumpridores de seus deveres civis e
detentores de direitos e garantias fundamentais.
45 Voo pairado ou hoverado é aquele no qual o helicóptero se mantém fora e paralelo ao solo, sem que
haja deslocamento.
82 Atividade Policial
O CBA não pormenorizou a questão do voo policial, e ficou o Comandante
de Aeronave das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares submetido
aos ditames gerais concernentes basicamente aos profissionais dos demais
seguimentos da Aviação Civil, os quais não executam as rotinas especiais de
voo à baixa altura e pouso em locais não homologados e restritos.
Dessa forma, a normatização concernente à aviação de Defesa Social se
mostra insipiente quanto à definição de responsabilidades dos componentes
da guarnição aérea policial e de defesa civil. O mesmo documento atribui
condições especiais de operação para os órgãos em questão, mas não se mostra
suficiente para sustentar o amparo no caso de um questionamento jurídico
ante a ocorrência de um acidente ou incidente aeronáutico ou mesmo outro
fato que fuja à literatura jurídica constantes nas regras em vigor.
A partir do momento em que a lei deixou de definir as atividades
executadas diretamente pelo Estado, muito menos os serviços realizados pelo
poder público, o regulamento não poderia defini-los, pois ensejaria desrespeito
ao princípio da legalidade e da reserva legal, ou seja, não deixou lastro jurídico
para regulamentação da aviação de Defesa Social.
Verifica-se uma contradição no que tange à atuação de uma guarnição
formada por militares estaduais sujeitos ao Código Penal Militar que tripulam
uma aeronave classificada como civil pública. Trata-se de uma incongruência
jurídica pelo fato de constarem no referido Código infrações penais castrenses
cujos tipos penais elencam situações relativas a embarque, desembarque, de
bordo e dano. Nessa mesma linha de inadequação da aviação de segurança
pública aos ditames da legislação concernente à Aviação Civil, Honorato (2012,
p. 254) salienta que:
O atual Código Brasileiro de Aeronáutica não trouxe, expressamente,
tal caracterização civil às aeronaves policiais. Na verdade, o
código aviatório não estabeleceu qualquer regra específica para
as aeronaves das forças policiais militares e bombeiros militares.
Diante do silêncio da norma, interpretações e integrações procuram
preencher o vazio e assim nasceu o entendimento que tais aeronaves
devem ser classificadas como aeronaves civis, interpretação essa
incompatível com a Carta Magna de 1967 e também a Constituição
Cidadã de 1988, [...].
Atividade Policial 83
CAPÍTULO III, cujo título é “Serviços Aéreos Públicos”. Esse termo “público”,
no entanto, descrito nos arts. 180 a 221 da lei, não diz respeito a qualquer
atividade que não seja as de transporte aéreo de pessoas e coisas, desporto,
turismo, recreio e serviços especializados, ou seja, não condizente com a
aviação executada diretamente pelo Estado, como a militar, de polícia ou
de socorro público.
84 Atividade Policial
Uma ressalva deve ser feita quanto à formação de tripulantes da aviação
de segurança pública, que é prevista no item 91.957 da RBHA 91, mas que
dá ao público um caráter privado, à medida que é utilizada a nomenclatura
“privado” e “comercial”:
O item 91.961, da subparte K da RBHA 91, prevê condições especiais
de operação autorizadas às atividades aéreas de segurança pública e de
defesa civil, em especial às relacionadas ao pouso e decolagem em locais
não homologados ou registrados, em áreas de pouso eventual, embarque e
desembarque de passageiros com os motores em funcionamento e acordos
com os órgãos de controle do tráfego aéreo da localidade de operação.
No entanto, as atividades aéreas de segurança pública e de defesa civil
não se restringem a esses procedimentos, em face da existência de uma
diversidade de procedimentos que são realizados por uma guarnição aérea de
Defesa Social, como a necessidade da realização de disparos de arma de fogo
a bordo da aeronave no intuito de cessar ação delituosa de infrator que põe
em risco uma guarnição terrestre ou mesmo a aérea ou para repelir injusta
agressão a terceiros.
Segurança de Voo
Atividade Policial 85
um processo contínuo de identificação de perigos e gestão de riscos
(BRASIL, 2013).
86 Atividade Policial
a uma gama de riscos recorrentes e rotineiros e enseja a possibilidade da
ocorrência de situações que possam resultar no cometimento de infrações
penais comuns ou militares, além da possível responsabilidade civil que se
evidencia de forma objetiva para o Estado e subjetiva para o servidor público
militar, que pode ser submetido a uma ação de regresso. Nessa perspectiva,
Beni (2009, p. 60) assinala que:
As atividades executadas, bem como as funções exercidas pelos
aeronavegantes da Polícia e Corpos de Bombeiros Militares,
assemelham-se, quase em sua totalidade, à Aviação Militar, não
restando qualquer semelhança com o aeronauta, denominação
específica aos pilotos, comissários, etc. da Aviação Civil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atividade Policial 87
Diferentemente em relação ao que ocorre em um voo civil, particular ou
atinente à uma empresa aérea, em grande medida, o voo de segurança pública
não conta com o aparato estrutural de um aeroporto com procedimentos
de controle de aproximação, pouso, taxiamento e balizamento para
estacionamento. Muitos de seus procedimentos são realizados em locais
de procedimentos e pousos eventuais que passam a ser gerenciados, por
igualdade de responsabilidades, pelos componentes da guarnição aérea.
A não observância de um obstáculo pelo Tripulante Operacional que atua
do lado direito traseiro da aeronave pode resultar em um pouso equivocado
com consequências à fuselagem da aeronave e à integridade física de seus
ocupantes.
De igual forma, pode ocorrer um descuido desse Tripulante Operacional,
por imprudência, imperícia ou negligência, no que concerne à vigilância dos
rotores da aeronave que giram em altas velocidades e se tornam invisíveis, e
uma aproximação em relação à aeronave de pessoas, adultos ou crianças, que
possam colidir com os rotores e haver prejuízo à integridade física e até a morte.
Vários são os objetos manuseados dentro de uma guarnição aérea,
como armamentos e equipamentos policiais. Tais objetos estão sujeitos à
queda da aeronave em decorrência da maioria de os procedimentos policiais
serem realizados com as portas traseiras abertas. O objeto caído pode atingir
pessoas em terra e resultar em lesões físicas graves e, em uma perspectiva mais
pessimista, em óbito. Isso sem fazer menção às implicações penais militares
pela perda de um material pertencente à Fazenda Pública.
Em uma situação de ordem extrema, como a necessidade de um disparo
de arma de fogo para repelir injusta agressão à guarnição aérea ou proteção
de policiais que atuam por terra, a ordem do disparo regularmente parte do
Comandante da Aeronave, todavia, pela necessidade de uma pronta e rápida
resposta, a interlocução entre Comandante e Tripulante Operacional pode
ficar prejudicada e, baseado nas situações de excludente de ilicitude, o último
pode agir de iniciativa e efetuar o disparo para salvar a tripulação.
Uma infinidade de hipóteses e casos já constatados pode ser citada,
porquanto o que insta elencar é a não responsabilidade exclusiva do
Comandante de Aeronave em relação a todos os procedimentos realizados nas
missões aéreas de Defesa Social, o que pode ser interpretado juridicamente
como autoria única ou concurso de pessoas. Diferentemente do que preconiza
o CBA, que atribui ao Comandante de Aeronave autoridade e responsabilidade
88 Atividade Policial
exclusivas no que concerne ao voo e ainda não autoriza uma delegação da
segurança de voo, a aviação de segurança pública apresenta peculiaridades
procedimentais semelhantes àquelas desencadeadas pelas Forças Armadas,
com exceção do foco que se pauta pela proteção à vida.
Em contrapartida à inércia do legislador federal, cada Estado possuidor de
serviços aeropoliciais desenvolve de forma estanque ou aproveita a doutrina de
organizações mais experientes para atuar em defesa e socorrimento públicos.
Para tanto, define procedimentos operacionais que não sejam conflitantes
à legislação em vigor e que permitam uma padronização de treinamento
e atuação que, em caso de questionamentos judiciais, possam promover o
amparo jurídico aos seus servidores.
Tal iniciativa se mostra pertinente e legal à medida que supre, de forma
velada, a lacuna da lei, ou seja, utiliza-se o Direito Administrativo, por meio da
elaboração e edição de atos administrativos normativos para consubstanciar
toda uma dinâmica operacional da aviação de Defesa Social direcionada ao
interesse público.
A sujeição às medidas sancionadoras nas esferas penal (comum e militar),
administrativa e civil denota a necessidade e a importância de estabelecer
regramento jurídico para a realização de um voo policial, pois, conhecidos
os limites regulamentares e legais, as adaptações são evitadas. Isso promove
a garantia do trabalho realizado, pois a autoridade e a responsabilidade dos
componentes da guarnição aérea ficam consubstanciadas na medida de suas
responsabilidades profissionais.
Um julgamento equivocado e injusto, com a condenação de um
Comandante de Aeronave de guarnição aérea, pode acarretar a perda de
motivação aos demais profissionais do mesmo segmento e uma retração
no exercício da atividade com prejuízos severos à prestação da proteção e
socorrimento públicos.
Na atual conjuntura normativa, infrações penais ocorridas em missões aéreas
de Defesa Social serão interpretadas de forma literal, em relação ao CBA e normas
decorrentes, no entanto, a construção do entendimento jurídico e prolação da
sentença devem ser pautadas pela observância da hermenêutica jurídica, pelos
princípios constitucionais, como a razoabilidade, pelos costumes e pela doutrina
institucional da Corporação e serem utilizados como fatores de balizamento para
a adoção de uma coerência jurídica para a decisão ante um caso concreto.
Atividade Policial 89
Por fim, para uma solução do abandono legislativo detectado em
relação à aviação de segurança pública, sugere-se uma reedição do Código
Brasileiro de Aeronáutica com estabelecimento de um Título específico que
trate da aviação de segurança pública e preveja normas decorrentes que serão
definidas por secretaria específica e que a tratativa em relação ao Comandante
de Aeronave de segurança pública, ou qualquer nomenclatura que possa
imperar, seja de autoridade e responsabilidade na medida de sua atuação, pois,
como já elencado, procedimentos isolados e de relevante importância podem
ser realizados pelos demais componentes da guarnição aérea. Ademais, a
segurança de voo deve ser responsabilidade de todos, inclusive com delegação,
pela relevância dos procedimentos citados.
A segurança jurídica é certificada pelos preceitos da irretroatividade da lei
penal, coisa julgada, respeito aos direitos adquiridos e ao ato jurídico perfeito,
outorga de ampla defesa e contraditório aos acusados em geral, conhecimento
obrigatório da lei, prévia lei para a configuração de crimes e transgressões,
declarações de direitos e garantias individuais, justiça social, devido processo
legal (responsável pelo justo processo), independência do Poder Judiciário,
vedação de tribunais de exceção e de julgamentos parciais. Dessa forma,
verifica-se que a atual legislação atinente à aviação de segurança pública não
oferece vários desses preceitos no que concerne à atuação de seus executores,
o que denota a necessidade urgente de mudança.
A segurança jurídica para os Comandantes de Aeronave e toda tripulação
que atua em missões de segurança pública e de defesa civil é a garantia para
que se continue a realizar com excelência as atividades de quem leva a efeito
“a ajuda que vem do céu”.
90 Atividade Policial
TEXTO 8
PERSPECTIVAS DA COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS:
DIREITO DE IMAGEM DO PRESO E A DÚPLICE NECESSIDADE DE
ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA E MANUTENÇÃO DA ORDEM PÚBLICA
Jeferson Botelho Pereira46
91
notícia, repúdio ao sensacionalismo, proteção da intimidade, manutenção
da ordem pública, administração da Justiça, e outros aspectos essenciais do
direito da personalidade.
A imagem das pessoas faz parte do rol dos direitos atinentes à
personalidade que são definidos como sendo irrenunciáveis e intransmissíveis
e inerentes a todo indivíduo que possui o controle sobre seu corpo, nome,
aparência e outros aspectos constitutivos de sua identidade. É de sabença
geral que os direitos de personalidade são vinculados ao direito da dignidade
da pessoa humana, previsto no artigo 1o, III, da Constituição da República, o
que se torna necessário para o desenvolvimento das potencialidades morais,
físicas e psíquicas de todas as pessoas.
A doutrina costuma identificar três condições essenciais presentes no
direito de personalidade, como sendo a autonomia de vontade, a alteridade e
a dignidade.
A autonomia da vontade configura-se no respeito à autonomia moral de
que deve gozar toda pessoa humana.
A alteridade representa o reconhecimento do ser humano como entidade
única e diferenciada de seus pares, que só ganha forma com a existência do
outro.
A dignidade é uma qualidade derivada, ou seja, pode existir somente se o
ser humano for autônomo em suas vontades e se lhe for reconhecida alteridade
perante a comunidade em que vive.
A salvaguarda dessas três condições essenciais toma forma no direito
positivo sob o título de direitos da personalidade, que exigem o respeito à
incolumidade física (corpo físico) e psíquica (mente e consciência), ao nome,
à imagem, à honra e à privacidade, além de outros.
Ainda sobre o direito de personalidade, torna-se imperioso destacar que
o Código Civil Brasileiro, Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, prevê logo em
seu artigo 2o que a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com
vida, mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
O Código Civil reservou o Capítulo III, a partir do artigo 11, à proteção dos
direitos de personalidade, anunciando que com exceção dos casos previstos
em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não
podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
E mais, o artigo 12 determina que o interessado pode exigir que cesse a
ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem
prejuízo de outras sanções previstas em lei.
92 Atividade Policial
Especificamente, em torno do direito à imagem, importante o comando
normativo previsto no artigo 20 do NCC, que praticamente propõe um direito
relativo, podendo a imagem ser divulgada se devidamente autorizada, ou
quando necessária à administração da justiça ou à manutenção da ordem
pública. Senão vejamos:
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da
justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a
transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização
da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento
e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a
boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.
Atividade Policial 93
[...]
LVII − ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória.
A Lei de Execução Penal, 7.210/1984, em seu artigo 40, Seção, II, elenca os
direitos dos presos, impondo a todas as autoridades o respeito à integridade física
e moral dos condenados e dos presos provisórios. O artigo 41 enumera os direitos,
e em seu inciso VIII, os protege contra qualquer forma de sensacionalismo.
Estão positivadas também as Regras Mínimas para Tratamento dos
Reclusos, de 1955, adotadas pelo Primeiro Congresso das Nações Unidas sobre
a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes, realizado em Genebra
em 1955, e aprovadas pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas
através das suas Resoluções 663 C (XXIV), de 31 de julho de 1957, do Conselho
Econômico e Social, e 2.076 (LXII), de 13 de maio de 1977.
O artigo 61 das referidas Regras Mínimas para o Tratamento do Preso no
Brasil prevê:
61. O tratamento não deve acentuar a exclusão dos reclusos da
sociedade, mas sim fazê-los compreender que eles continuam fazendo
parte dela. Para este fim, há que recorrer, na medida do possível, à
cooperação de organismos da comunidade destinados a auxiliar o
pessoal do estabelecimento na sua função de reabilitação das pessoas.
Assistentes sociais colaborando com cada estabelecimento devem ter
por missão a manutenção e a melhoria das relações do recluso com
a sua família e com os organismos sociais que podem ser-lhe úteis.
Devem adotar-se medidas tendo em vista a salvaguarda, de acordo
com a lei e a pena imposta, dos direitos civis, dos direitos em matéria
de segurança social e de outros benefícios sociais dos reclusos.
94 Atividade Policial
Consignou essencialmente que os direitos humanos sejam protegidos
pelo Estado de Direito, para que o homem não seja compelido, como último
recurso, à rebelião contra tirania e a opressão. Não descuidou também que uma
compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância
para o pleno cumprimento desse compromisso. Especificamente, em seu
Artigo XI, estabeleceu o princípio do estado de inocência.
Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser
presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada
de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido
asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.
Atividade Policial 95
Verifica-se que parte da norma autoriza a divulgação da imagem sem
o consentimento da pessoa envolvida, desde que a divulgação seja útil à
administração da justiça ou à manutenção da ordem pública.
Assim, facilmente se comprova a existência de uma rota de colisão entre
direitos fundamentais. De um lado, temos o direito de proteção da imagem
do preso, a sua presunção de inocência, proteção a qualquer forma de
sensacionalismo. De outro, a liberdade de imprensa, a premente necessidade
da manutenção da ordem pública e a administração da Justiça.
Resolve-se o impasse da posição antagônica dos direitos fundamentais
pelo princípio da proporcionalidade, o qual permite, com a utilização de
juízos comparativos de ponderação dos interesses em conflito, a necessária
harmonização e consequente redução de aplicação de ambos ou de apenas
um deles, surgindo aquilo que se chama na doutrina jurídica de colisão com
redução bilateral ou colisão com redução unilateral.
Outra técnica importante é a da colisão excludente, cujo gozo de um
direito fundamental é praticamente excludente do outro.
Como se sabe não há direitos fundamentais absolutos. Entra em cena
aqui o princípio da proporcionalidade, que indicará o direito que, na situação
fática, deverá prevalecer, com exclusão do outro, surgindo a técnica da colisão
excludente.
Nesse sentido, torna-se imperioso reconhecer a legal e legítima atuação
do Poder Público, realizada através de seus agentes, para fazer valer na sua
plenitude a técnica da colisão excludente.
Isto porque, na situação concreta em que o agente público se depara com
o conflito dos princípios, caberá a ele ponderar qual deles deverá prevalecer.
Repisa-se que nos casos de veiculação de imagem de pessoas presas, em que
a divulgação foi viabilizada por representantes do poder estatal, estes têm o dever
de atuar sempre a favor da supremacia do interesse público, num viés coletivo,
portanto de caráter dúplice, no sentido de assegurar com efetividade o direito da
Administração da Justiça e a necessidade de manutenção da ordem pública.
Entrementes, esses mesmos representantes devem zelar pelos direitos
daqueles que estão sob a custódia estatal, no caso as pessoas que se encontram
presas ou detidas. Assim, os direitos atinentes à personalidade do preso,
entre eles a proteção ao direito de divulgação de sua imagem, não podem
ser deliberadamente infringidos, já que, conforme explanado, é garantia
constitucional.
96 Atividade Policial
Desse modo, somente no caso concreto será possível determinar qual
direito irá prevalecer. A exemplo, justifica-se, plenamente, a apresentação de
um preso autuado em flagrante à imprensa quando a imagem do suspeito
possa servir para identificar outras vítimas de um maníaco sexual, de um
assaltante contumaz ou de acusado de ter praticado inúmeras saidinhas de
banco.
Repisa-se que a interpretação da expressão “administração da justiça
ou à manutenção da ordem pública” trazida pelo art. 20 do Código Civil,
principal autorizador da exposição de imagem dos presos na mídia, devido
à sua generalidade e imprecisão, tem sido feita caso a caso pelos tribunais
superiores, e no enfrentamento dos princípios conflitantes aqui abordados
tem se procedido de igual forma.
Recentemente, na Comarca de Lagoa Santa, em Minas Gerais, Processo
n 0025377-89.2014, a Justiça determinou que a Autoridade Policial não
o
Atividade Policial 97
Por meio desse debate em plenário, o Ministro Carlos Ayres Brito seguiu
a mesma ideia do Ministro Gilmar Mendes ao proferir comentários sobre o
inciso III do art. 5o da CF/88, o qual preceitua que “ninguém será submetido
à tortura nem a tratamento desumano ou degradante”, afirmando que “esse
tratamento degradante significa infamante, humilhante, como se dá quando o
ser humano, ainda que preso em flagrante de delito, é exibido ao público como
se fosse um troféu, uma caça, numa atmosfera de exibicionismo policial”.
No julgamento de um Habeas Corpus, a Ministra Cármem Lúcia, que em
muito enobrece o Norte das Minas Gerais, expôs em seu voto:
“Vivemos, nos tempos atuais, o Estado espetáculo. Porque muito
velozes e passáveis, as imagens têm de ser fortes. A prisão tornou-se,
nesta nossa sociedade doente, de mídias e formas sem conteúdo, um
ato de grande teatro que se põe como se fosse bastante a apresentação
de criminosos e não a apuração e a punição dos crimes na forma da
lei. Mata-se e esquece-se. Extinguiu-se a pena de morte física. Mas
instituiu-se a pena de morte social.”
98 Atividade Policial
O crime passa a ser compreendido não como uma qualidade intrínseca,
determinada, e sim como uma decorrência de critérios seletivos e
discriminatórios que o definem como tal, conforme ensinam Coelho e
Mendonça (2009, p. 13)
Na definição de Hassemer (2005, p. 101-102), o labelling approach
significa enfoque do etiquetamento, e tem como tese central a ideia de que
a criminalidade é resultado de um processo de imputação, a criminalidade
é uma etiqueta, a qual é aplicada pela polícia, pelo Ministério Público e
pelo tribunal penal, pelas instâncias formais de controle social. O labeling
approach remete especialmente a dois resultados da reflexão sobre a
realização concreta do Direito: o papel do juiz como criador do Direito e o
caráter invisível do lado interior do ato.
Por outro lado, são encontradas decisões em que a divulgação da
imagem do preso não caracteriza afronta ao princípio que protege sua
imagem. O Desembargador Pedro Bernardes, do Tribunal de Justiça de
Minas Gerais, assim discorre em julgamento de uma apelação interposta
por um preso que teve sua imagem divulgada nos meios de comunicação:
Se em reportagem veiculada foi noticiada a prisão e reproduzida a
informação prestada pelo Delegado responsável pelo ato acerca
do perfil daquele que foi preso, não há que se falar em dever de
indenizar. Nesta hipótese o princípio da liberdade de imprensa e
do direito da população de ser informada se sobrepõe ao direito de
inviolabilidade da honra e da imagem.
Por fim, é preciso entender que a Polícia deve existir como instrumento
de efetivação de direitos, respeitando e sendo respeitada, vital para o Estado
de Direito como oxigênio para a vida, mas sempre como via de mão de dupla,
sendo necessária e imprescindível para estabelecer um humanismo secular
que, segundo o pensador francês Luc Ferry, trata-se de uma filosofia baseada
na razão, na ética e na justiça.
Reafirma-se que a Polícia não é instrumento de rotulação de criminosos,
não é fábrica de fogos de artifícios para promoção de espetáculos, não é
produtora de eventos midiáticos, não é agente FIFA para ostentar o preso
como precioso troféu de Campeão do Mundo, nem mesmo concessionária de
marcas registradas. Pelo contrário, deve ser a primeira promotora de justiça e
o primeiro juiz natural das causas sociais.
Atividade Policial 99
É preciso entender que a Declaração do Homem e do Cidadão de 1789,
na França já fomentava a ideia de uma força pública com fruição de todos,
escrevendo e deixando como legado para a história mundial que “a garantia
dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública. Esta
força é, pois, instituída para fruição por todos, e não para utilidade particular
daqueles a quem é confiada”.
Sábias as palavras de Cesare Beccaria quando afirma que “É melhor
prevenir os crimes do que ter de puni-los. O meio mais seguro, mas ao mesmo
tempo mais difícil de tornar os homens menos inclinados a praticar o mal, é
aperfeiçoar a educação”.
Não custa lembrar que a Polícia é, antes de tudo, representante do poder
estatal, e por este motivo responde objetivamente pelos atos praticados pelos
seus agentes no exercício de suas funções, conforme estabelece o art. 37, § 6o,
da Constituição de 1988.
Assim, alguns atos, mesmo que usuais, podem estar sendo praticados à
margem da legalidade, e por esse motivo, dar azo à instauração de procedimento
judicial de cunho indenizatório, contra o Estado, por parte daqueles que se
sentirem prejudicados.
Por esse motivo, toda e qualquer atuação da máquina pública deve
sempre pautar-se nos princípios que a esta norteia, sob o risco de incidir na
ilegalidade e abuso de poder, o que, por conseguinte pode trazer prejuízos ao
Estado, e, ainda, ao agente que praticou o ato, tendo em vista a possibilidade
de ação regressiva por parte do Estado.
Conclui-se, afirmando que a Lei pátria protege a divulgação de escritos, a
transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem
de uma pessoa, e especificamente em relação aos presos, pune o responsável
pelo sensacionalismo gratuito e pirotécnico.
Mas é verdade que esse direito é relativizado justamente pelo artigo 20
do Código Civil, no instante em que a exposição da imagem é devidamente
autorizada, quando a divulgação da imagem atender o interesse da
Administração da Justiça ou ainda se a exposição for importante para questões
de ordem pública, surgindo, neste contexto, o conflito de direitos fundamentais,
a ser dirimido pela prevalência da supremacia do interesse público, adotando-
-se aqui a técnica da colisão excludente, com afastamento do direito à imagem
e sobrepujança do direito à administração da justiça e ordem pública.