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PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO

POP nº
PRIMEIRA INTERVENÇÃO EM OCORRÊNCIAS
200.4
DO TIPO “NOVO CANGAÇO”
Nível de padronização: Estabelecido em: Última revisão pela PM/3: Nº páginas:
Geral 22/07/2019 22/07/2019 7
Responsável: Guarnição Policial Militar

MATERIAL NECESSÁRIO
1. Fardamento orgânico operacional da OPM;
2. Armamento de porte e portátil e equipamentos para o serviço PM;
3. Equipamentos de Proteção Individual (EPI);
4. Viaturas operacionais;
5. Escudos balísticos;
6. Fitas de isolamento e cones;
7. Radiocomunicadores.

SEQUÊNCIA DAS AÇÕES


1. Ao ser acionado ou tomar conhecimento da suposta ocorrência, se dirigir ao local com extrema
segurança para confirmar o fato;
2. Evitar se aproximar demasiadamente, mantendo condições de abrigo, com o intuito de
primeiramente colher o maior número possível de informações, evitando os falsos abrigos como
certas partes das viaturas, árvores estreitas, lixeiras, paredes de madeira, dentre outros, que
não proporcionam a proteção balística contra projéteis de fuzis;
3. Não parar a viatura policial em frente ao estabelecimento bancário ou comercial, para não entrar
na “linha de tiro” dos criminosos;
4. Confirmando o fato, acionar de imediato apoio de área via rádio e/ou por meio de telefone,
para contatos previamente designados e planejados, para que se atinja o maior número possível
de equipes policiais de apoio;
5. Repassar via rádio as informações mais importantes coletadas de forma pausada, clara e
precisa, com o intuito de auxiliar na realização de um cerco na região da ocorrência;
6. Acionar, via canal técnico, o Batalhão de Operações Especiais (BOPE), bem como o
Batalhão de Polícia Militar de Operações Aéreas (BPMOA), para que suas equipes se
desloquem o mais rapidamente possível para a região a fim de prestarem apoio nas ações;
7. Caso os criminosos já tiverem empreendido fuga, preservar todos os locais envolvidos na
ocorrência para realização de levantamentos e das perícias necessárias;
8. Ainda no caso da fuga dos criminosos, solicitar ao COPOM que informe todas as equipes sobre
o possível sentido de evasão tomado, bem como as características dos indivíduos e dos veículos
utilizados;

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9. No caso dos criminosos saírem do estabelecimento usando reféns como escudos humanos, não
efetuar disparos de arma de fogo. Neste caso, tentar fazer um acompanhamento à distância,
com o objetivo de repassar informações precisas que subsidiem o cerco e a contenção dos
indivíduos;
10. Se no momento da intervenção os criminosos ficarem acuados e tomarem reféns, não atirar e
não entrar no ponto crítico, e, com segurança, iniciar a tomada dos 10 (dez) passos técnicos
da doutrina de Primeira Intervenção em Crises, conforme o estabelecido na POP nº 200.1;
11. As primeiras equipes policiais que chegarem ao local deverão organizar, de forma segura, o
bloqueio total das vias de acesso a aproximadamente 500 (quinhentos) metros do
estabelecimento alvo (ou veículo de transporte de valores) e providenciar a evacuação dos
transeuntes para além dos perímetros estabelecidos, incluindo pessoal de imprensa, curiosos,
entre outros;
12. Acionar equipes de socorro médico para o atendimento de eventuais feridos durante a
ocorrência;
13. Socorrer, de forma segura, eventuais pessoas feridas durante o atendimento, conduzindo-as
para locais adequados e proporcionando condições para que as equipes de socorro médico
atuem de forma objetiva e com segurança;
14. No caso de se perceber a utilização de explosivos na prática criminosa, os primeiros
interventores deverão acionar o Esquadrão Antibombas do BOPE para receber orientações
de como proceder, além de isolar o local de forma adequada para as perícias necessárias.

ATIVIDADES CRÍTICAS
1. Rendição ou submissão da guarnição PM na base policial da cidade;
2. Aproximação e cerco ao local do crime em andamento;
3. Localização e identificação dos criminosos;
4. Identificação dos veículos e armamento dos criminosos;
5. Momento da verificação da presença de eventuais reféns;
6. Abordagem a veículos suspeitos nas imediações do local da ocorrência;
7. Acompanhamento, cerco e busca em áreas de mata;
8. Possibilidade do comprometimento das informações repassadas via rádio;
9. Os momentos iniciais do roubo e de tentativa de fuga são os mais críticos, considerando que os
criminosos comumente estão com armamento de alto poder ofensivo e preparados para ação
ou reação.

RESULTADOS ESPERADOS
1. Constatação se o crime está de fato ou não ocorrendo;
2. Atendimento da ocorrência por policiais militares devidamente preparados e cientificados das
suas atribuições e dos riscos inerentes a esse tipo de evento criminoso;

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3. Acionamento de apoio das equipes de área e das equipes do BOPE;
4. Acionamento de equipes de socorro médico para atendimento dos feridos que estiverem em
área segura;
5. Contenção e isolamento dos causadores do evento e afastamento das pessoas que estiverem
nas proximidades do local do crime;
6. Realização de cerco, bloqueio e evacuação o mais rápido possível visando garantir a segurança
e a integridade física de todos os envolvidos;
7. Agilidade no repasse de informações para possibilitar o apoio de forma rápida e eficiente;
8. Atuações em segurança, por parte de todos os policiais militares empenhados no atendimento
da ocorrência;
9. Preservação dos locais em que a ocorrência foi finalizada para as perícias necessárias ou
rastreamento por equipes do BOPE;
10. Atuação sem precipitações e sem atitudes isoladas por parte dos policiais militares envolvidos;
11. Manutenção do cerco e dos bloqueios até que os criminosos sejam encontrados e capturados
ou que haja evidências incontestáveis de que já não se encontram mais na região;
12. Preservação da integridade física de todos os envolvidos;
13. Captura e prisão dos criminosos envolvidos;
14. Atuação proativa da Unidade Operacional da área no sentido de evitar ou dificultar ações
criminosas do tipo “novo cangaço”;
15. Realização de planejamentos preventivos e planos de contingência no sentido de executar
ações coordenadas e abrangentes, por meio de uma malha protetora que envolva outras
unidades da PMPR, outras forças de segurança e até mesmo a comunidade local;
16. Manter-se devidamente armado e equipado, principalmente com proteção balística, quando em
patrulhamento ou deslocamento;
17. Manter o armamento e a proteção balística sempre em condições de pronto emprego na base
policial, de forma a não ser tomado de surpresa;
18. Confecção do Boletim de Ocorrência Unificado (BOU) pela equipe titular da área de forma mais
detalhada possível, considerando a inclusão das informações num banco de dados para
estudos, elaboração de planejamentos e investigações. São exemplos de palavras e expressões
a serem usadas na elaboração do BOU, quando for o caso: “refém”, “explosão”, “fuzis”,
“contenção do destacamento ou base policial”, “fuga para região de mata”, “características de
novo cangaço”, “veículos blindados ou com blindagens”, “encontrados estojos de calibre ___
(indicar o calibre)”, “uso de vestimentas camufladas”, “lançamento de objetos perfurantes ou
‘miguelitos’”, “veículos incendiados” e outras julgadas necessários;
19. Encaminhamento de cópias de BOU dessa natureza ao BOPE, especificamente ao COE –
Comandos e Operações Especiais, pelos meios oficiais de comunicação da PMPR, para os
devidos registros.

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AÇÕES CORRETIVAS
1. Nos casos de constatação de reféns localizados, agir com as técnicas de primeira intervenção
em crises com reféns (vide POP nº 200.1);
2. Caso haja reféns, buscar diferenciá-los adequadamente dos causadores da crise;
3. Não tentar se aproximar sem que haja meios humanos, materiais e treinamentos específicos
para tal, principalmente, pela exposição do próprio policial e de terceiros inocentes aos riscos;
4. Não adentrar em regiões de mata no período noturno; durante o dia, esta regra também deve
ser observada, a menos que esteja no encalço dos criminosos e que haja meios humanos e
materiais para tal, lembrando que o ambiente de mata torna-se um ambiente hostil ao policial
que não esteja devidamente treinado para atuar nesse contexto;
5. Se durante as ações de isolamento perceber pessoas tentando entrar na área de risco, afaste-
as imediatamente;
6. Caso ocorra confronto armado durante a aproximação e havendo vítimas, socorrê-las assim que
possível;
7. Sempre atentar para todo o ambiente envolvido na ocorrência e não somente ao local específico
da ocorrência, informando às equipes de apoio que estiverem a caminho sobre as
movimentações ocorridas na região;
8. Corrigir ações policiais precipitadas de forma imediata;
9. Atentar para a possibilidade da presença de seguranças, civilmente trajados, a fim de que não
sejam confundidos com criminosos;
10. Caso haja algum veículo parado de forma suspeita nas imediações do local, verificar as placas
e as características do veículo;
11. Cuidado com “fogo amigo”, principalmente em confrontações em região de mata;
12. Caso tenha que se deslocar a pé para conseguir melhores condições para confirmar a
ocorrência, deslocar com cuidado e de forma a evitar que seja surpreendido em seu
deslocamento ou posicionamento.

CONDUTAS QUE PODEM GERAR ERROS


1. Agir de forma isolada, desorganizada, precipitada, empírica, amadora e improvisada;
2. Demorar para acionar ou não acionar as equipes de apoio área e/ou equipes do BOPE;
3. Não coletar e não difundir informações importantes e disponíveis sobre a ocorrência;
4. Não envidar esforços para afastar todas as pessoas que estiverem nas proximidades e no raio
de ação dos criminosos;
5. Subestimar a intenção violenta e destrutiva dos criminosos;
6. Parar a viatura em frente ao local dos fatos;
7. Não cercar o local, permitindo que os infratores da lei fujam ou iniciem um confronto armado;
8. Manter-se em local inseguro e sem campo visual adequado do local da ocorrência;
9. Deixar de verificar veículos que estejam em situação suspeita na região da ocorrência;
10. Não constar dados importantes sobre os fatos no BOU;

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11. Não informar à autoridade de Polícia Judiciária dados importantes sobre a ocorrência;
12. Deixar a Unidade de elaborar e manter atualizado o Plano de Contingência para Crises e outras
Situações Policiais Emergenciais, incluindo plano de chamada atualizado de todo o efetivo,
incluindo os contatos de outras Unidades da região.

GLOSSÁRIO
Causador do Evento Crítico (CEC): todo indivíduo que dá causa a uma crise. As motivações ou os
fatores que desencadearam a crise podem variar imensamente, determinando o tipo de crise a ser
gerenciada (SILVA, 2016, p. 67).

Crise policial: é uma ocorrência diferenciada, de risco extremado e que excede a capacidade de
atendimento dos grupos policiais regulares, evocando a necessidade imperiosa de grupos
especialmente treinados para seu gerenciamento (SILVA, 2016, p. 63). O Federal Bureau of
Investigation (FBI) define crise como “um evento ou situação crucial, que exige uma resposta
especial da polícia, a fim de assegurar uma solução aceitável” (MONTEIRO et al., 2008, p. 9).

Gerenciamento de Crises (GC): é um sistema amplo, que congrega diversos atores, funções e
etapas e estabelece as diretrizes gerais para o atendimento das ocorrências qualificadas como
críticas. O foco primordial desse processo sistemático é conduzir a crise ao encerramento adequado
por meio de um trabalho conjunto e harmonioso de todos os envolvidos, com a utilização de
procedimentos técnicos e amparados pelos ditames legais vigentes (SILVA, 2016, p. 65).

“Novo cangaço”: modalidade criminosa com “modus operandi” específicos e violentos, cujos
integrantes utilizam-se de táticas de guerrilha urbana e rural para realizar roubos, com ou sem
utilização de explosivos, a agências bancárias, terminais de autoatendimento bancário ou a veículos
de transporte de valores. Geralmente atuam em grande quantidade de componentes, com
armamento de grande potencial ofensivo. Assim, Gasparoto (2013), entende o “Novo Cangaço”,
como

sendo uma nova modalidade de crime de assalto a instituições bancárias, perpetrado


por bandos compostos de vinte a trinta homens que atuam direta e indiretamente,
agem em cidades do interior do estado, possuem ligação direta com o crime
organizado que é financiador das ações e possui como características em suas
ações o uso de pessoas civis como escudo de proteção e evitam o embate com as
forças de segurança, mas quando necessário oferecem o confronto direto com a
polícia (GASPAROTO, 2013, p. 37).

São, resumidamente, as principais características dessa modalidade criminosa:


a) Elementos treinados e capacitados;
b) Planejamento das ações;
c) Utilização de armamento de grande poder de fogo;

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d) Utilização de veículos potentes;
e) Vestimenta adequada;
f) Tomada de bases policiais locais;
g) Utilização de pessoas como escudos (reféns);
h) Fechamento de acessos à cidade, usualmente com a utilização de veículos grandes;
i) Utilização de “miguelitos” (pregos retorcidos) para evitar acompanhamentos por parte das
equipes policiais;
j) Fuga por ambientes rurais;
k) Estratégias de fuga: fuga na contramão, retração continuada, base avançada ou
acampamento.

Perímetros de segurança: são barreiras de contenção contra os terceiros que têm a intenção de
se aproximar do ponto crítico. A ideia é manter todos os terceiros afastados e em local seguro, além
de possibilitar o trabalho técnico das equipes policiais especializadas sem quaisquer interferências
(SILVA, 2016, p. 171).

Primeira Intervenção em Crises (PIC): conjunto de ações técnicas a ser aplicado pelo policial
militar ou pela equipe de policiais militares que primeiro se deparam com ocorrências críticas em
andamento (SILVA, 2016, p. 57).

Ponto crítico: local em que se instalou a crise, onde se encontra o causador do evento crítico, com
ou sem reféns ou vítimas. Em outras palavras, é todo o espaço físico controlado pelo CEC, ao qual
ele tem acesso e cuja estrutura ele pode modificar (SILVA, 2016, p. 66).

Refém: é a pessoa mantida sob ameaça pelo CEC, em local aberto ou confinado, para garantir
sua vida e sua integridade física ou forçar o cumprimento de suas exigências (SILVA, 2016, p. 68).

FUNDAMENTAÇÃO LEGAL E DOUTRINÁRIA


CRUZ, Frederico W. NOVO CANGAÇO: Uma modalidade criminosa cada vez mais organizada.
Disponível em: https://fredericowillian.jusbrasil.com.br/artigos/628577980/novo-cangaco-uma-
modalidade-criminosa-cada-vez-mais-organizada. Acesso em 3 de maio de 2019.

DA COSTA. Carlos A. V. Novo cangaço no Pará: a regionalização dos assaltos e seus fatores
de incidência. 81 f. Monografia (Mestrado em Segurança Pública) – Universidade Federal do Pará,
Belém, 2016.

GASPAROTO, Késsia A. F. A influência da atividade de inteligência para as ações do BOPE da


PMMT em ocorrências de roubo as instituições financeiras. 126 f. Monografia (Bacharelado em
Ciências Militares com ênfase em Segurança Pública) – Academia Policial Militar Costa Verde, Mato
Grosso, Várzea Grande, 2013.

PARANÁ. Decreto Estadual nº 8627, de 27 de outubro de 2010. Cria o Batalhão de Operações


Especiais – BOPE. Paraná, 2010.

PMPR-EM-PM/3 – PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS PADRÃO (POP) – SÉRIE 200 6


POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ. Diretriz do Comando-Geral nº 005, de 21 de novembro de 2011.
Gerenciamento de crises na PMPR. Curitiba: PMPR, 2011.

_____. Diretriz do Comando-Geral nº 006, de 21 de novembro de 2011. Estruturação e doutrina


de emprego do COE/BOPE. Curitiba: PMPR, 2011.

MONTEIRO, Roberto C. et al. Gerenciamento de crises. 7ª ed. Brasília: Departamento de Polícia


Federal, 2008. Apostila.

MONTEIRO, Vitor M. L. DOS SANTOS, Wallace H. P. Novo cangaço: aspectos jurídicos do


banditismo moderno. 47 f. Monografia (Bacharelado em Direito) – Faculdade de Minas Gerais.
Belo Horizonte, 2017.

SILVA, Marco, A. Primeira intervenção em crises policiais – teoria e prática. 2ª ed. Curitiba: AVM,
2016.

_____. Gerenciamento de crises policiais. Curitiba: Intersaberes, 2016.

PMPR-EM-PM/3 – PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS PADRÃO (POP) – SÉRIE 200 7

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