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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região

Ação Trabalhista - Rito Sumaríssimo


0100905-52.2022.5.01.0078

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 16/10/2022


Valor da causa: R$ 17.270,21

Partes:
RECLAMANTE: GABRIELA TRAVASSOS MARIANO DE CASTRO
ADVOGADO: MARCIA COSTA LOURENCO DA SILVA
RECLAMADO: INSTITUTO DE ENSINO TAMANDARE LTDA
ADVOGADO: IZABELLA BARBOSA GONCALVES
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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO
78ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro
ATSum 0100905-52.2022.5.01.0078
RECLAMANTE: GABRIELA TRAVASSOS MARIANO DE CASTRO
RECLAMADO: INSTITUTO DE ENSINO TAMANDARE LTDA

SENTENÇA

RELATÓRIO

Dispensado, nos termos do art. 852-I da CLT.

FUNDAMENTAÇÃO

REVELIA E CONFISSÃO FICTA

A parte ré, apesar de regularmente notificada, não compareceu


à audiência, motivo por que a declaro revel e confessa (confissão ficta) quanto aos
fatos contra ela alegados (art. 844, caput, da CLT; Súmula 74, I, do TST).

VÍNCULO DE EMPREGO

A autora alega ter sido admitida na ré em 05-08-2020, na função


de “professora de história da arte”, com salário mensal de R$ 429,00 e com dispensa,
sem justa causa, em 14-07-2022.

Menciona que, apesar de ter trabalhado nos moldes dos arts. 2º


e 3º da CLT, não houve a assinatura da CTPS, tampouco o pagamento das verbas
resilitórias.

Tendo em vista a revelia e a confissão ficta da ré, não havendo


prova em sentido contrário, presumo verdadeiras as alegações da parte autora.

Não havendo controvérsia quanto ao cabimento e ao


inadimplemento das verbas resilitórias e não tendo, a autora, dado causa à mora
(Súmula 462 do TST), devidas as multas dos arts. 477 e 467 da CLT.

Considerando-se a projeção do aviso prévio proporcional


indenizado (33 dias), fixo a data do término contratual em 16-08-2022.

Julgo procedentes os pedidos para declarar o vinculo de


emprego entre as partes e para condenar a ré ao cumprimento das seguintes
obrigações:

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De pagar:

- saldo de salário de julho/2022 (14 dias);

- aviso prévio proporcional indenizado (33 dias);

- férias simples do período 2021/2022 (considerada a projeção


do aviso prévio), com 1/3;

- gratificação natalina proporcional (08/12) de 2022;

- multa do art. 467 da CLT, a incidir sobre as verbas indicadas


acima (bem como sobre a indenização compensatória de 40% do FGTS);

- multa do art. 477, § 8º, da CLT;

- férias vencidas, em dobro (art. 137, “caput”, da CLT) do período


2020/2021, com 1/3;

- gratificação natalina proporcional (05/12) de 2020 e integral de


2021;

- repouso semanal remunerado, com reflexos em aviso prévio,


gratificação natalina e férias com 1/3.

De fazer:

- anotar a CTPS da autora, fazendo constar o vínculo de


emprego no período de 05-08-2020 a 16-08-2022, na função de “professora de história
da arte”, com salário mensal de R$ 429,00, em dia e horário a serem divulgados pela
Secretaria desta Vara, sob pena de multa de R$ 1.000,00. No caso de inércia da ré, a
Secretaria procederá à anotação, sem prejuízo da execução da multa;

-depositar o FGTS e a indenização compensatória de 40%,


referente ao período contratual, na conta vinculada da autora (art. 18, § 1º, da Lei 8.036
/90), no prazo de 05 dias após intimada para tanto, a ser comprovado nos autos, no
mesmo prazo, sob pena de multa de R$ 1.000,00 (arts. 536, § 1º e 537 do CPC c/c art.
769 da CLT). Em caso de descumprimento, proceder-se-á à imediata execução dos
valores devidos, sem prejuízo do pagamento da multa;

- no mesmo prazo, expedir a guia TRCT/conectividade social


para saque do FGTS, sob pena de multa de R$ 1.000,00. Em caso de descumprimento, a
Secretaria expedirá alvará para o respectivo saque, sem prejuízo do pagamento da
multa.

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- no mesmo prazo, expedir as guias CD/SD para habilitação ao


programa do Seguro-Desemprego, sob pena de pagamento de indenização substitutiva
(Súmula 389, II, do TST).

JUSTIÇA GRATUITA

Aplico, à hipótese, as novas disposições acerca da matéria,


trazidas pela Lei 13.467/2017, uma vez que se trata de ação proposta após a vigência
da referida lei.

O art. 790, § 3º, da CLT, com a nova redação conferida pela Lei
13.467/2017, estabelece que “É facultado aos juízes, órgãos julgadores e presidentes
dos tribunais do trabalho de qualquer instância conceder, a requerimento ou de ofício,
o benefício da justiça gratuita, inclusive quanto a traslados e instrumentos, àqueles que
perceberem salário igual ou inferior a 40% (quarenta por cento) do limite máximo dos
benefícios do Regime Geral de Previdência Social”.

Considerando-se que a análise do requerimento está sendo feita


por ocasião da prolação da sentença, deve ser levada em conta a situação econômica
atual da autora.

Ressalte-se que o art. 99, § 3º, do CPC, aplicável supletivamente


ao processo do trabalho (art. 15 do CPC), estabelece que “Presume-se verdadeira a
alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural”.

Não há provas de que a parte autora esteja trabalhando,


tampouco que receba salário atual superior a R$ 3.002,99 (correspondente a 40% do
limite máximo do Regime Geral da Previdência Social – RGPS, atualmente fixado em R$
7.507,49, nos termos da Portaria Interministerial MPS/MF nº 26, de 11 de janeiro de
2023).

No mesmo sentido, inclusive, já decidiu o E.TST, por meio de


uma de suas turmas:

AÇÃO TRABALHISTA AJUIZADA NA VIGÊNCIA DA LEI


Nº 13.467/17. RECURSO DE REVISTA DO AUTOR. BENEFÍCIO DA JUSTIÇA
GRATUITA. COMPROVAÇÃO DE INSUFICIÊNCIA DE RECURSOS POR SIMPLES
DECLARAÇÃO. CUSTAS PROCESSUAIS E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
SUCUMBENCIAIS. TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA. Cinge-se a
controvérsia a definir se a simples declaração de hipossuficiência
econômica é suficiente para a comprovação do estado de pobreza do
reclamante, para fins de deferimento dos benefícios da justiça gratuita, em
ação ajuizada após a vigência da Lei n° 13.467/2017. Segundo o artigo 790,
§§ 3º e 4º, da CLT, com as alterações impostas pela Lei nº 13.467/2017, o

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benefício da gratuidade da Justiça será concedido àqueles que


perceberem salário igual ou inferior a 40% do limite máximo dos
benefícios do Regime Geral de Previdência Social, ou àqueles que
comprovarem insuficiência de recursos. Já o artigo 5º, LXXIV, da
Constituição Federal consagra o dever do Estado de prestar assistência
jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos
e o artigo 99, §3º, do CPC, de aplicação supletiva ao processo do trabalho,
consoante autorização expressa no artigo 15 do mesmo Diploma, dispõe
presumir-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida por pessoa
natural. A partir da interpretação sistemática desses preceitos, não é
possível exigir dos trabalhadores que buscam seus direitos na Justiça do
Trabalho - na sua maioria, desempregados - a comprovação de estarem
sem recursos para o pagamento das custas do processo. Deve-se
presumir verdadeira a declaração de pobreza firmada pelo autor, na
petição inicial, ou feita por seu advogado, com poderes específicos para
tanto. No tocante aos honorários advocatícios, além dessa compreensão, é
certo que artigo 98, caput e § 1º, do CPC os inclui entre as despesas
abarcadas pelo beneficiário da gratuidade da justiça. Ainda que o § 2º do
mencionado preceito disponha que a concessão da gratuidade não afasta
a responsabilidade do beneficiário pelos honorários advocatícios
decorrentes de sua sucumbência, o § 3º determina que tal obrigação fique
sob condição suspensiva, pelo prazo de 5 anos, e somente poderá ser
exigida se o credor demonstrar que deixou de existir a situação de
insuficiência de recursos justificadora da concessão da gratuidade de
justiça, extinguindo-se, após o decurso do prazo mencionado. Essa regra
foi incorporada na sua quase totalidade à CLT por meio da introdução do
artigo 791-A, especificamente no seu § 4º, muito embora o prazo da
condição suspensiva seja fixado em dois anos e contenha esdrúxula
previsão de possibilidade de cobrança, se o devedor obtiver créditos em
outro processo aptos a suportar as despesas. Diz-se esdrúxula pelo
conteúdo genérico da autorização e por não especificar a natureza do
crédito obtido, que, em regra, no processo do trabalho, resulta do
descumprimento de obrigações comezinhas do contrato de trabalho,
primordialmente de natureza alimentar, circunstância que o torna
impenhorável, na forma prevista no artigo 833, IV, do CPC, com a ressalva
contida no seu § 2º. Nesse contexto, o beneficiário da justiça gratuita
somente suportará as despesas decorrentes dos honorários advocatícios
caso o credor demonstre a existência de créditos cujo montante promova
indiscutível e substancial alteração de sua condição socioeconômica e,
para tanto, não se pode considerar de modo genérico o percebimento de
quaisquer créditos em outros processos, pois, neste caso, em última
análise se autorizaria a constrição de verba de natureza alimentar.

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Precedentes. Por fim, deve ser reduzido o percentual arbitrado, para o


mínimo previsto em lei, considerando-se que o autor desistiu da ação
antes mesmo da habilitação dos advogados das rés e da realização da
denominada audiência inaugural, de modo a evitar o deslocamento das
partes e consequente incremento das despesas processuais, pleito
homologado pelo juiz. Em tal caso, não houve maiores gastos pelas
demandadas e o julgador não pode deixar de observar tais elementos
fáticos ao definir o percentual a incidir, a teor da regra contida no § 2º do
artigo 791-A da CLT. Recurso de revista conhecido e provido. ( RR - 10520-
91.2018.5.03.0062 - 7ª Turma - Relator: Ministro Cláudio Mascarenhas
Brandão - Acórdão publicado em 30-06-2020)

Em razão disso, não infirmada a presunção legal estabelecida no


art. 790, § 3º, da CLT, concedo à parte autora os benefícios da justiça gratuita,
isentando-a do pagamento das custas do processo.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Tendo em vista a data da propositura da ação, o tema dos


honorários advocatícios deve ser analisado sob a ótica da chamada “reforma
trabalhista”.

Nesse sentido, o art. 791-A da CLT, com redação conferida pela


Lei 13.467/2017, estabelece que:

“Art. 791-A. Ao advogado, ainda que atue em causa


própria, serão devidos honorários de sucumbência, fixados entre o
mínimo de 5% (cinco por cento) e o máximo de 15% (quinze por cento)
sobre o valor que resultar da liquidação da sentença, do proveito
econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor
atualizado da causa.

§ 1o Os honorários são devidos também nas ações


contra a Fazenda Pública e nas ações em que a parte estiver assistida ou
substituída pelo sindicato de sua categoria.

§ 2o Ao fixar os honorários, o juízo


observará:

I - o grau de zelo do profissional;

II - o lugar de prestação do serviço;

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III - a natureza e a importância da


causa;

IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo


exigido para o seu serviço.

(...)

Relacionados tais parâmetros ao caso sob análise, condeno a ré


ao pagamento de honorários de sucumbência no percentual de 5% sobre o valor dos
pedidos julgados procedentes, a partir do que resultar da liquidação da sentença.

DESCONTOS FISCAIS E PREVIDENCIÁRIOS

Liquidação por cálculos.

Natureza jurídica das parcelas (art. 832, § 3º, da CLT) conforme o


art. 28, § 9º, da Lei 8.212/91, cabendo à parte ré efetuar e comprovar o recolhimento
das contribuições previdenciárias, autorizada a retenção da quota-parte do autor (OJ
363 da SBDI-I do TST).

Descontos fiscais, pela autora, nos termos do art. 12-A da Lei


7.713/88 e da Súmula 368 do TST, cabendo à parte ré efetuar e comprovar o respectivo
recolhimento. Observe-se o disposto na OJ 400 da SBDI-I do TST.

JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA

Por força do caráter vinculante da decisão (art. 102, § 2º, da


CRFB e art. 927, I, do CPC c/c art. 769 da CLT), aplicável o decidido no voto conjunto, de
relatoria do Excelentíssimo Ministro Gilmar Mendes, proferido nos autos das ADCs 58 e
59 e ADIs 5.867 e 6.021:

“Ante o exposto, julgo parcialmente procedentes as


ações diretas de inconstitucionalidade e as ações declaratórias de
constitucionalidade, para conferir interpretação conforme à Constituição
ao art. 879, §7º, e a o art. 899, §4º, da CLT, na redação dada pela Lei 13.467,
de 2017. Nesse sentido, há de se considerar que à atualização dos créditos
decorrentes de condenação judicial e à correção dos depósitos recursais
em contas judiciais na Justiça do Trabalho deverão ser aplicados, até que
sobrevenha solução legislativa, os mesmos índices de correção monetária
e de juros vigentes para as hipóteses de condenações cíveis em geral,
quais sejam a incidência do IPCA-E na fase pré-judicial e, a partir da
citação, a incidência da taxa SELIC (art. 406 do Código Civil)”.

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Quanto ao termo inicial de aplicação da SELIC, estabeleceu-se,


pelo decidido nas ADCs 58 e 59 e ADIs 5.867 e 6.021, a “incidência do IPCA-E na fase
pré-judicial e, a partir da citação, a incidência da taxa SELIC (art. 406 do Código Civil)”.
Parece haver um consenso semântico no sentido de que, a partir da propositura da
ação perante o Poder Judiciário, dá-se início à chamada fase “judicial”. Raciocínio
diverso daria margem à insólita hipótese em que o trabalhador, além de obrigado a
propor ação judicial para fins de ver cumprido um direito seu e de, com isso, sofrer
uma desvalorização do seu crédito por conta do desnível entre o IPCA-E na fase pré-
judicial e a SELIC na fase judicial, também amargar o interregno entre a data da
propositura da ação e a citação do réu sem qualquer correção monetária e juros de
mora sobre o valor judicialmente reconhecido, malferindo-se, inevitavelmente, o direito
de propriedade e a devida proteção da coisa julgada. Assim, com amparo também no
art. 883 da CLT, no art. 39, § 1º, da Lei 8.177/1991 e na interpretação analógica do art.
240, § 1º, do CPC c/c art. 769 da CLT, é de se concluir que a incidência da SELIC retroage
à data da propositura da ação. Nesse sentido, inclusive, a decisão em sede de
embargos de declaração na ADC 58, no sentido de “estabelecer a incidência do IPCA-E
na fase pré-judicial e, a partir do ajuizamento da ação, a incidência da taxa SELIC (art.
406 do Código Civil).

Diante de todo o exposto, concluo e determino que a


atualização monetária e os juros de mora serão aplicados da seguinte forma:

- até o dia anterior ao da propositura da ação (fase “pré-


judicial”), incidência do IPCA-E;

- a partir da data da propositura da ação (inclusive), incidência


da SELIC.

Quanto à atualização monetária, observem-se, ainda, os arts.


459, § 1º e 477, § 6º, da CLT, bem como a Súmula 381 do TST.

PRAZO E CONDIÇÕES DE CUMPRIMENTO DA SENTENÇA

Nos termos do art. 832, § 1º, da CLT, “Quando a decisão concluir


pela procedência do pedido, determinará o prazo e as condições para o seu
cumprimento”.

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O art. 765 da CLT, por sua vez, menciona que “Os Juízos e
Tribunais do Trabalho terão ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo
andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência necessária ao
esclarecimento delas”.

Tais dispositivos da CLT, além de consentâneos com o caráter


alimentar e, por isso, privilegiado, do crédito trabalhista (art. 100, § 1º, da CRFB e art.
83, I, da Lei 11.101/2005), também se harmonizam integralmente com o direito
fundamental à duração razoável do processo (art. 5º, LXXVIII, da CRFB), assegurados “os
meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.

Com base nos arts. 4º e 6º do CPC c/c art. 769 da CLT, “As partes
têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a
atividade satisfativa”. Nesse sentido, “Todos os sujeitos do processo devem cooperar
entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva”.

Percebe-se, portanto, que a duração razoável do processo e a


efetividade da jurisdição estão diretamente relacionadas à capacidade de o Poder
Judiciário entregar, no plano fático, o bem da vida judicialmente reconhecido ao credor.

Para tanto, de modo a se desestimular o uso do processo com


fins meramente procrastinatórios e com vistas a se assegurar, finalmente, o efetivo
cumprimento de obrigações que já deveriam ter sido espontaneamente observadas
quando da vigência do contrato de emprego, torna-se imperativa a incidência do art.
139, IV, do CPC c/c art. 769 da CLT e art. 3º, III, da Instrução Normativa 39/2016 do TST,
que assim dispõe:

“O juiz dirigirá o processo conforme as disposições


deste Código, incumbindo-lhe: (...) IV - determinar todas as medidas
indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para
assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que
tenham por objeto prestação pecuniária”.

Nessa direção, inclusive, já decidiu o TST:

“RECURSO DE REVISTA DA 3ª RECLAMADA.


EXECUÇÃO DE SENTENÇA. IMPOSIÇÃO DE MULTA COMINATÓRIA PELO
DESCUMPRIMENTO DE PRAZO Assinado eletronicamente por: GERMANO
SILVEIRA DE SIQUEIRA - Juntado em: 08/01/2021 01:07:08 - 2934369 PARA
PAGAMENTO DO DÉBITO RECONHECIDO EM JUÍZO. OBRIGAÇÃO DE
PAGAR. FUNDAMENTO NO ART. 832, §1º, DA CLT. APLICABILIDADE COM
FUNDAMENTO NO ART. 139, IV, DO CPC/15. No caso concreto, o eg. TRT
manteve a condenação da reclamada ao pagamento da multa de 10% em

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caso de não pagamento no prazo estabelecido em sentença, com base no


art. 832, § lº, da CLT. A norma celetista sob referência, apesar de não tratar
de forma explícita da possibilidade de imposição de multa cominatória,
mas apenas determinar que "Quando a decisão concluir pela procedência
do pedido, determinará o prazo e as condições para o seu cumprimento",
pode ser interpretada como autorizadora da imposição da referida
penalidade, pois, com o advento do novo Código de Processo Civil, a partir
de 16/03/2016, especificamente do seu art. 139, IV, passou a ser
expressamente admitida a incidência de "medidas indutivas, coercitivas,
mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o
cumprimento de ordem judicial", também nas ações que tenham por
objeto prestação pecuniária. Dentre tais medidas, certamente se encontra
a multa cominatória. Há julgado. Recurso de revista não conhecido. (ARR -
1186-54.2014.5.08.0120 , Relator Ministro: Aloysio Corrêa da Veiga, Data
de Julgamento: 21/06/2017, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 23/06
/2017)”

Ante o exposto, determino que a parte ré deverá pagar o valor


devido (acrescido de juros de mora e de atualização monetária) no prazo legal do art.
880 da CLT, sob pena de, nos termos do art. 139, IV, do CPC c/c art. 769 da CLT, pagar
multa equivalente a 20% (vinte por cento) do respectivo valor.

DISPOSITIVO

Ante o exposto, na ação proposta por GABRIELA TRAVASSOS


MARIANO DE CASTRO em face de INSTITUTO DE ENSINO TAMANDARE LTDA, decido
julgar procedentes os pedidos para declarar o vinculo de emprego entre as partes e
para condenar a ré ao cumprimento das seguintes obrigações:

De pagar:

- saldo de salário de julho/2022 (14 dias);

- aviso prévio proporcional indenizado (33 dias);

- férias simples do período 2021/2022 (considerada a projeção


do aviso prévio), com 1/3;

- gratificação natalina proporcional (08/12) de 2022;

- multa do art. 467 da CLT, a incidir sobre as verbas indicadas


acima (bem como sobre a indenização compensatória de 40% do FGTS);

- multa do art. 477, § 8º, da CLT;

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- férias vencidas, em dobro (art. 137, “caput”, da CLT) do período


2020/2021, com 1/3;

- gratificação natalina proporcional (05/12) de 2020 e integral de


2021;

- repouso semanal remunerado, com reflexos em aviso prévio,


gratificação natalina e férias com 1/3.

De fazer:

- anotar a CTPS da autora, fazendo constar o vínculo de


emprego no período de 05-08-2020 a 16-08-2022, na função de “professora de história
da arte”, com salário mensal de R$ 429,00, em dia e horário a serem divulgados pela
Secretaria desta Vara, sob pena de multa de R$ 1.000,00. No caso de inércia da ré, a
Secretaria procederá à anotação, sem prejuízo da execução da multa;

-depositar o FGTS e a indenização compensatória de 40%,


referente ao período contratual, na conta vinculada da autora (art. 18, § 1º, da Lei 8.036
/90), no prazo de 05 dias após intimada para tanto, a ser comprovado nos autos, no
mesmo prazo, sob pena de multa de R$ 1.000,00 (arts. 536, § 1º e 537 do CPC c/c art.
769 da CLT). Em caso de descumprimento, proceder-se-á à imediata execução dos
valores devidos, sem prejuízo do pagamento da multa;

- no mesmo prazo, expedir a guia TRCT/conectividade social


para saque do FGTS, sob pena de multa de R$ 1.000,00. Em caso de descumprimento, a
Secretaria expedirá alvará para o respectivo saque, sem prejuízo do pagamento da
multa.

- no mesmo prazo, expedir as guias CD/SD para habilitação ao


programa do Seguro-Desemprego, sob pena de pagamento de indenização substitutiva
(Súmula 389, II, do TST).

Condeno a parte ré ao pagamento dos honorários de


sucumbência no percentual de 5% sobre o valor dos pedidos julgados procedentes, a
partir do que resultar da liquidação da sentença.

Tudo na forma da fundamentação.

Descontos fiscais e previdenciários conforme item específico da


fundamentação.

Juros e correção monetária nos termos do item específico da


fundamentação.

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A parte ré, no prazo legal do art. 880 da CLT, quando notificada


para tanto, deverá pagar o valor devido (acrescido de juros de mora e de atualização
monetária), sob pena de, nos termos do art.139, IV, do CPC c/c art. 769 da CLT, pagar
multa equivalente a 20% (vinte por cento) do respectivo valor.

Concedo à parte autora o benefício da justiça gratuita.

Custas, pela ré, de R$ 235,03, calculadas sobre o valor da


condenação, arbitrado em R$ 11.751,44.

Intimem-se as partes.

Nada mais.

RIO DE JANEIRO/RJ, 18 de outubro de 2023.

THIAGO MAFRA DA SILVA


Juiz do Trabalho Substituto

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https://pje.trt1.jus.br/pjekz/validacao/23101814425902000000186886928?instancia=1
Número do processo: 0100905-52.2022.5.01.0078
Número do documento: 23101814425902000000186886928

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