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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro 21

Quinta Câmara de Direito Público


Gabinete Des. Marco Aurélio Bezerra de Melo

Apelação Cível: 0809670-16.2022.8.19.0014

APELANTES: ESTADO DO RIO DE JANEIRO E OUTRO


APELADA: ANA MARIA GOMES GUIMARAES CABRAL

ACÓRDÃO

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE


FAZER CUMULADA COM PEDIDO DE COBRANÇA.
PISO NACIONAL DO MAGISTÉRIO. PROFESSOR
DOCENTE II 22H INATIVO DA REDE PÚBLICA
ESTADUAL. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA.
INCONFORMISMO MANIFESTADO PELOS RÉUS.
1- Desnecessidade da suspensão do recurso diante da
admissão do Incidente de Assunção de Competência nº
0059333-48.2018.8.19.0000, eis que se refere ao piso
salarial dos professores do Município de Miracema, cuja
controvérsia diverge da hipótese discutida nos autos
originários a este recurso;
2- Possibilidade do ajuizamento de ação individual pelo
titular do direito, em se tratando de direito individual
homogêneo, de natureza divisível e de titularidade
determinável, conforme previsão do artigo 104, do CDC.
Ausência de obrigatoriedade do sobrestamento e de
nulidade da sentença;
3- A Lei Federal nº 11.738/2008, ao regulamentar o artigo
60, inciso III, alínea “e”, do ADCT, instituiu o piso salarial
profissional nacional para os professores públicos da
educação básica, como forma de valorização da
Educação, garantindo o valor mínimo a ser recebido por
tais profissionais. Declaração de constitucionalidade do
dispositivo legal (ADI 4167/STF);
3- Possibilidade de incidência automática do piso
nacional em todos os níveis da carreira e reflexo imediato
sobre as demais vantagens e gratificações se houver
previsão neste sentido em lei local. Tese firmada pelo
STJ, em sede de recurso repetitivo. Tema nº 911, do
STJ.
4- Existência no Estado do Rio de Janeiro da Lei
Estadual nº 5.539/2009 prevendo o escalonamento de
12% (doze por cento) entre as referências da carreira do
Magistério Público;
5- Inadmissão do IRDR nº 0048816-13.2020.8.19.0000
arguido com o objetivo de fixação de tese que
possibilitaria a aplicação do piso nacional do magistério
público apenas aos vencimentos-base dos professores
em início de carreira, afastando-o dos demais níveis e
referências da carreira;
6- Prova nos autos de que a autora se encontra na
referência 8 de sua carreira e que, há defasagem no seu
vencimento em relação ao piso nacional de 2022, o qual,
proporcionalmente ao definido pelo MEC para o professor

MARCO AURELIO BEZERRA DE MELO:29872 Assinado em 19/09/2023 23:47:09


Local: GAB. DES MARCO AURELIO BEZERRA DE MELO
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que exerce 40 horas semanais (R$ 3.845,63),


corresponde a 45% do piso nacional, qual seja, R$
1.730,53, conforme previsto pela Lei Federal nº
11.738/2008. A título de ilustração, tais valores, para o
ano de 2023, são de R$ 4.420,55 e R$ 2.431,30,
respectivamente;
7- Destarte, deve ser reconhecido o direito da autora à
implantação em seus vencimentos do valor proporcional
(55%) do piso nacional, acrescido do percentual de 12%
de escalonamento em cada nível na carreira até a
referência 08, com reflexos em suas vantagens e
gratificações porventura existentes;
9- Majoração dos honorários, na forma do art. 85, §11, do
CPC/15, a ser observada quando do arbitramento da
condenação, em sede de liquidação;
10- Sentença mantida. Recurso desprovido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos da Apelação Cível nº


0809670-16.2022.8.19.0014, onde figuram como Apelante e Apelado as partes
preambularmente epigrafadas,

A C O R D A M os Desembargadores que integram a Quinta


Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro,
por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso interposto, nos
termos do voto do Desembargador Relator.

Cuidam os autos de Ação de Obrigação de Fazer cumulada com


pedido de cobrança ajuizada por ANA MARIA GOMES GUIMARAES CABRAL
em face do ESTADO DO RIO DE JANEIRO e do FUNDO ÚNICO DE
PREVIDÊNCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – RIOPREVIDENCIA,
pleiteando o reajuste de seu vencimento base na forma prevista na Lei Federal
11.738/08 e nas Leis Estaduais 1.522/89, 1.614/90, 5.539/09 e 6.834/14,
respeitando-se o interstício de 12% (doze por cento) entre os níveis de sua
carreira, com os devidos reajustes anuais e incidência sobre as demais
rubricas a que a autora faz jus, no total de R$ 4.675,80 para o ano de 2022.
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Pleiteia, ainda, o pagamento das verbas retroativas a outubro de


2017, no total de R$ 126.031,56 (cento e vinte e seis mil e trinta e um reais e
cinquenta e seis centavos).

Sustenta para tanto em breve síntese ser servidora inativa, nomeada


no cargo de Professor Docente II, referência D08, tendo iniciado o exercício no
Estado do Rio de Janeiro em 10/05/1967, sob a matrícula 00-0247860-0, carga
horária de 18 horas semanais. Afirma que, de acordo com a legislação estadual
em vigor e o piso nacional do magistério, deveria receber vencimento básico
conforme decidido na ADI nº 4167 pelo STF, proporcionalmente à sua jornada
de trabalho (22h), observando-se ainda as progressões funcionais a que tem
direito, o que não tem sido observado pelo réu.

Foram acostados à inicial os documentos dos IDs 31962481 a


31963655.

Decisão no ID 33608435 deferindo a gratuidade de justiça e a


prioridade na tramitação do processo, indeferindo a tutela de urgência e
determinando a citação dos réus.

Devidamente citados, contestam os réus (ID 38679537), arguindo


em preliminar a necessidade de suspensão do feito ante a instauração de
Incidente de Assunção de Competência n. 0059333-48.2018.8.19.0000, cujo
objeto é a apreciação da forma de aplicação do disposto nos §§ 3º e §4º do art.
2º da Lei Federal n. 11.738/2008, e a existência de ação civil pública n.
0228901-59.2018.8.19.0001 sobre o mesmo tema.

Arguem, ainda em preliminar, a necessidade de inclusão da União


no polo passivo em razão do impacto financeiro previsto no art. 4° da Lei
11.738/08, com deslocamento de competência.
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No mérito, requerem a improcedência do pedido, sustentando que


as carreiras que compõem o magistério público estadual percebem, desde o
ano de 2014, vencimento inicial superior ao piso nacional salarial e que o piso
salarial nacional se refere a 40 horas semanais, aplicando-se à autora de forma
proporcional à carga de 22 horas semanais.

Aduzem que não houve pronunciamento na ADI n. 4.167/DF acerca


do reajustamento automático do piso salarial estadual e que a existência de lei
federal dispondo sobre revisão do piso salarial nacional não dispensa a edição
de lei específica de iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo que altere
a remuneração dos servidores públicos do Estado.

Relatam que a pretensão autoral esbarra nos arts. 37, XIII, e 39, §
1º, da CRFB/88, que veda a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies
remuneratórias para efeito de remuneração de pessoal do serviço público, na
medida em que a majoração automática representa franca vinculação do
vencimento, bem como que o regime de recuperação fiscal, aderido pelo
Estado, vedou a concessão de qualquer aumento remuneratório, estando
impedido legalmente de efetivar o reajuste do vencimento; que inexiste prova
mínima do alegado, porquanto não foi juntado aos autos qualquer documento
ou certidão oficial capaz de comprovar o direito da autora.

Réplica com documentos nos ID 44797800 a 44800222, em que a


autora reafirma os fundamentos da sua inicial e reitera seu pedido de
procedência.

As partes não se manifestaram em prova, conforme certificado no ID


44797800.

Sentença contida no ID 52384783 julgando procedentes os pedidos


autorais para condenar os réus à implantação de 55% do piso salarial nacional
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no vencimento-base da autora, acrescido de 12% em cada nível, até o nível 8,


com reflexos nas vantagens pecuniárias cuja base de cálculo seja o
vencimento-base, bem como à promoção das futuras atualizações quando
houver majoração do piso, bem como a observância do percentual de 12%
entre as referências e, ainda, ao pagamento das diferenças a serem apuradas
em liquidação de sentença.

Deferiu-se, ainda, a tutela de urgência para que os réus promovam o


reajuste pleiteado e concedido.

Sem despesas processuais, em razão da isenção de que os entes


sucumbentes gozam e a inexistência de adiantamento. Honorários pelos réus a
serem apurados igualmente em sede de liquidação.

Inconformados, apelam os réus (ID 54952107), requerendo, em


preliminar, a concessão de efeito suspensivo à apelação, tendo em vista a
tutela de urgência deferida em sentença. Requerem, ainda, a anulação do ato
por inobservância à instauração do IAC.

Prosseguindo, reiteram os pedidos de suspensão e fundamentos


para a improcedência do pedido já apresentados na contestação.

Contrarrazões no ID 61557971 em prestígio ao julgado.

É o relatório. Passo ao voto.

Preliminarmente, afasta-se o pleito de suspensão da presente


demanda, diante da admissão do Incidente de Assunção de Competência nº
0059333-48.2018.8.19.0000, eis que se refere ao piso salarial dos professores
do Município de Miracema, onde se discute a existência de trabalho em sala de
aula em período superior à percentagem limite de 2/3 prevista no §4º, do artigo
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2º, da Lei nº 11.738/2008, o que diverge da hipótese discutida nos autos


originários em que a autora, hoje em inatividade, afirma que sua carga horária
era de 22 horas semanais, pretendendo, assim, o reajuste do piso salarial de
forma proporcional.

No que tange à existência de ação ajuizada por Sindicato com a


mesma causa de pedir e pedido, trata-se de demanda referente a direito
individual homogêneo, de natureza divisível e de titularidade determinável, que
pode ser pleiteado mediante ação coletiva a ser proposta por substituto
processual legitimado ou por ação individual a ser ajuizada pelo próprio titular
do direito, o que ocorreu no caso concreto, valendo ainda destacar que
eventual suspensão do feito individual em razão do ajuizamento de ação
coletiva deve ser requerida pelo próprio autor individual, conforme previsão do
artigo 104, do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, sendo, portanto,
uma faculdade e não uma obrigatoriedade.

Da mesma forma, não se vislumbra a nulidade arguida pelos


apelantes.

Afasta-se, ainda, a alegação de nulidade da sentença por


incompetência da Justiça Estadual, tendo em vista que o Superior Tribunal de
Justiça, no julgamento do REsp 1.559.965, em regime de recurso repetitivo,
afastou a legitimidade passiva da União em demandas que buscam a
implementação do piso nacional do magistério. Confira-se:

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. ALEGAÇÃO DE


VIOLAÇÃO DOS DISPOSITIVOS DOS ARTS. 458, I, E 535, I E
II, DO CPC/1973. FUNDAMENTAÇÃO GENÉRICA E
DEFICIENTE. SÚMULA 284/STF. INCIDÊNCIA. SUPOSTA
AFRONTA AOS ARTS. 28, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI N.
9.868/99; 267 E 295 DO CPC/1973. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ.
APLICABILIDADE. MÉRITO. PISO SALARIAL DOS
PROFESSORES NO ÂMBITO DO ESTADO DO RIO GRANDE
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DO SUL. DISCUSSÃO ACERCA DA LEGITIMIDADE PASSIVA


DA UNIÃO. ALEGADA CONTRARIEDADE AO DISPOSITIVO
DO ART. 4º, CAPUT, E §§ 1º E 2º, DA LEI N. 11.738/2008.
NÃO OCORRÊNCIA. RECURSO CONHECIDO, EM PARTE, E,
NESSA EXTENSÃO, IMPROVIDO. RECURSO JULGADO SOB
A SISTEMÁTICA DO ART. 1.036 E SEGUINTES DO
CPC/2015, C/C O ART. 256-N E SEGUINTES DO
REGIMENTO INTERNO DO STJ.
1. A alegação genérica de violação dos dispositivos dos arts.
458, I, e 535, I e II, do CPC/1973, sem explicitar os pontos em
que teria sido omisso o acórdão recorrido, atrai a aplicação do
disposto na Súmula 284/STF.
2. O Tribunal de origem não analisou, nem sequer
implicitamente, os arts. 28, parágrafo único, da Lei 9.868/1999
e 267 e 295 do CPC. Logo, não foi cumprido o necessário e
indispensável exame da questão pela decisão atacada, apto a
viabilizar a pretensão recursal da recorrente, a despeito da
oposição dos embargos de declaração.
Incidência da Súmula 211/STJ.
3. Nos termos do aresto recorrido, o dispositivo do art. 4º,
caput, e §§ 1º e 2º, da Lei n. 11.738/2008, em questão, "é
norma de direito financeiro, que apenas atribui à União o dever
de complementar a integralização do piso na hipótese de o
ente estadual não apresentar disponibilidade orçamentária para
cumprir o valor fixado. Assim, pela sua natureza, somente
vincula os entes federados entre si, não chegando a
determinar, nem de longe, a responsabilidade da União pela
implementação do piso. E isso não poderia ser diferente, já que
a majoração da remuneração de qualquer servidor público
estadual - como o são os profissionais de magistério que atuam
na rede pública estadual - não pode ser determinada por um
ente federal, estranho ao vínculo de trabalho estabelecido".
4. Assim, se alguma responsabilidade pode ser extraída desse
dispositivo legal, tal se refere, exclusivamente, à relação entre
a União e o ente federativo que não conseguir assegurar o
pagamento do piso, na exata dicção do texto legal.
5. Como visto, as regras ora analisadas são típicas de um
federalismo cooperativo, o qual se estabelece entre os entes
componentes da Federação brasileira, não assegurando
direitos de um particular diretamente em face da União, no
sentido de pleitear a percepção de verba salarial.
6. Nem se alegue a pertinência do julgamento da ADI 4.167,
Rel. Min. Joaquim Barbosa, para com o caso em exame,
porque, nessa ação direta de inconstitucionalidade, a
discussão girou em torno, justamente, das responsabilidades
federativas. Dito de outro modo: sobre a possibilidade de a
União editar norma geral federal, com aplicabilidade para os
demais entes da Federação, e poder arcar, em uma visão de
federalismo cooperativo, em relação aos estados-membros e
municípios, com o custeio da educação. Isso nada tem a ver
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com a possibilidade de um particular buscar perante o Poder


Judiciário, diretamente em face da União (que não é a sua
fonte pagadora), a complementação de parcela vencimental a
que supostamente teria direito.
7. Tese jurídica firmada: Os dispositivos do art. 4º, caput, e §§
1º e 2º, da Lei n. 11.738/2008 não amparam a tese de que a
União é parte legítima, perante terceiros particulares, em
demandas que visam à sua responsabilização pela
implementação do piso nacional do magistério, afigurando-se
correta a decisão que a exclui da lide e declara a
incompetência da Justiça Federal para processar e julgar o
feito ou, em sendo a única parte na lide, que decreta a extinção
da demanda sem resolução do mérito.
8. Recurso julgado sob a sistemática do art. 1.036 e seguintes
do CPC/2015 e art. 256-N e seguintes do Regimento Interno
deste STJ.
9. Recurso especial conhecido, em parte, e, nessa extensão,
improvido.
(REsp 1559965/RS, Rel. Ministro OG FERNANDES,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 14/06/2017, DJe 21/06/2017)

Adentrando o mérito, observo que a Lei nº 11.738/2008, ao


regulamentar o artigo 60, inciso III, alínea “e”, do ADCT, instituiu o piso salarial
profissional nacional para os professores públicos da educação básica, como
forma de valorização da Educação, garantindo o valor mínimo a ser recebido
por tais profissionais, sendo que seus dispositivos foram declarados
constitucionais pelo STF, no julgamento da ADI 4167, cujos efeitos foram
modulados em 27/04/2011. Confira-se:

Ementa: CONSTITUCIONAL. FINANCEIRO. PACTO


FEDERATIVO E REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIA. PISO
NACIONAL PARA OS PROFESSORES DA EDUCAÇÃO
BÁSICA. CONCEITO DE PISO: VENCIMENTO OU
REMUNERAÇÃO GLOBAL. RISCOS FINANCEIRO E
ORÇAMENTÁRIO. JORNADA DE TRABALHO: FIXAÇÃO DO
TEMPO MÍNIMO PARA DEDICAÇÃO A ATIVIDADES
EXTRACLASSE EM 1/3 DA JORNADA. ARTS. 2º, §§ 1º E 4º,
3º, CAPUT, II E III E 8º, TODOS DA LEI 11.738/2008.
CONSTITUCIONALIDADE. PERDA PARCIAL DE OBJETO.
1. Perda parcial do objeto desta ação direta de
inconstitucionalidade, na medida em que o cronograma de
aplicação escalonada do piso de vencimento dos professores
da educação básica se exauriu (arts. 3º e 8º da Lei
11.738/2008). 2. É constitucional a norma geral federal que
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fixou o piso salarial dos professores do ensino médio com base


no vencimento, e não na remuneração global. Competência da
União para dispor sobre normas gerais relativas ao piso de
vencimento dos professores da educação básica, de modo a
utilizá-lo como mecanismo de fomento ao sistema educacional
e de valorização profissional, e não apenas como instrumento
de proteção mínima ao trabalhador.
3. É constitucional a norma geral federal que reserva o
percentual mínimo de 1/3 da carga horária dos docentes da
educação básica para dedicação às atividades extraclasse.
Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente.
Perda de objeto declarada em relação aos arts. 3º e 8º da Lei
11.738/2008.
(ADI 4167, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal
Pleno, julgado em 27/04/2011, DJe-162 DIVULG 23-08-2011
PUBLIC 24- 08-2011 EMENT VOL-02572-01 PP-00035 RTJ
VOL-00220-01 PP00158 RJTJRS v. 46, n. 282, 2011, p. 29-83)

Desta forma, é de se reafirmar a constitucionalidade da Lei nº


11.738/2008, matéria que já se encontra superada na forma do referido
julgamento pelo STF.

No que diz respeito ao fato de a apelado não se encontrar no nível


mais baixo da carreira, eis que se aposentou no nível 08 (vide contracheque de
fls. 25 – índex 000025), o Superior Tribunal de Justiça examinou tal questão no
julgamento do REsp 1.426.210, em regime de recurso repetitivo, possibilitando
a incidência automática do piso nacional em toda a carreira e reflexo imediato
sobre as demais vantagens e gratificações se houver previsão neste sentido
em lei local, conforme tese que abaixo se transcreve (Tema nº 911, do STJ):

A Lei n. 11.738/2008, em seu art. 2º, § 1º, ordena que o vencimento


inicial das carreiras do magistério público da educação básica deve
corresponder ao piso salarial profissional nacional, sendo vedada a fixação do
vencimento básico em valor inferior, não havendo determinação de incidência
automática em toda a carreira e reflexo imediato sobre as demais vantagens e
gratificações, o que somente ocorrerá se estas determinações estiverem
previstas nas legislações locais.
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No caso concreto, a autora é professora inativa da rede pública


estadual, sendo que a Lei Estadual nº 5.539/2009 prevê o escalonamento de
12% entre as referências da carreira. Observe seus termos:

Art. 3º O vencimento-base dos cargos a que se refere a Lei


nº 1614, de 24 de janeiro de 1990, guardará o interstício de
12% (doze por cento) entre referências.

Cabe ainda destacar que a Lei Estadual nº 1.614/90, referida no


artigo supramencionado, dispõe sobre o Plano de Carreira do Magistério
Público do Estado do Rio de Janeiro.

Dessa forma, vislumbra-se a possibilidade da fixação dos


vencimentos dos níveis superiores da carreira da autora (nível 8) com base no
piso nacional do magistério, sendo indiferente a edição da lei estadual
prevendo o escalonamento ser anterior ou posterior ao julgamento do REsp
1.426.210, pelo STJ (Tema 911).

No caso concreto, o cargo ocupado pela autora


é Professor Docente II – 22 horas, nível 8, e seu vencimento-base no ano de
2022 é de R$ 2.349,62 (dois mil trezentos e quarenta e nove reais e sessenta e
dois centavos), conforme contracheques contidos no ID 31963362.

Assim, sendo de R$ 3.845,63 (três mil oitocentos e quarenta e cinco


reais e sessenta e três reais) o piso nacional de 2022, ano de referência da
autora em sua inicial (valor previsto no artigo 2º, da Lei nº 11.738/2008,
devidamente atualizado, conforme consulta eletrônica ao Portal MEC –
Governo Federal), o valor do piso nacional proporcional à carga horária de 22h
semanais é de R$ 2.115,09 (55% da carga de 40h semanais).
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Destarte, acrescentando-se 12% da Lei Estadual nº 5.539/2009 ao


piso proporcional acima e, subsequentemente, ao vencimento de cada nível da
carreira, até chegar à referência 8 em que se encontra a autora, chegaremos
ao valor de R$ 4.675,79 para o ano de 2022, indiscutivelmente superior ao
vencimento que atualmente recebe a autora (R$ 2.349,62).

Tais valores para o ano de 2023, com o piso nacional integral fixado
em R$ 4.420,55 e proporcional de R$ 2.431,30, seriam de R$ 5.374,83.

Note-se que o STJ, ao firmar a Tese nº 911, possibilitou a incidência


automática do piso nacional em toda a carreira, o que evita a ineficácia da lei
estadual que garante a progressão do servidor em sua carreira e a violação ao
princípio da isonomia.

Desta forma, repita-se, considerando que a apelada se encontra na


referência 08 de sua carreira, justifica-se a implantação do reajuste nos
proventos-base da autora, aplicando-se o piso salarial nacional, proporcional a
22h, no nível 1, e acrescendo o percentual de 12% de escalonamento em cada
nível na carreira até a referência 08, com reflexos em suas vantagens e
gratificações porventura existentes, com o pagamento das diferenças devidas,
observa a prescrição quinquenal da data do ajuizamento da ação, além das
vencidas no curso do processo, até a efetiva implementação do reajuste.

A propósito, destacam-se os seguintes precedentes deste Tribunal


de Justiça, inclusive de minha relatoria:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PISO SALARIAL NACIONAL


DO MAGISTÉRIO PÚBLICO. SERVIDOR PÚBLICO DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO. PROFESSOR DOCENTE I -
16 HORAS. DECISÃO AGRAVADA QUE INDEFERE A
TUTELA DE EVIDÊNCIA REQUERIDA PARA ADEQUAÇÃO
DO VENCIMENTO-BASE DA AUTORA AO PISO NACIONAL
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DA EDUCAÇÃO INSTITUÍDO PELA LEI Nº 11.738/2008.


RECURSO DO AUTOR.
1. Presença dos requisitos da tutela de evidência previstos no
artigo 331, II e IV, do CPC. Existência de tese firmada em
julgamento de casos repetitivos e de prova documental
suficiente dos fatos constitutivos do direito do autor.
3. Declaração de constitucionalidade, no julgamento da ADI
4167, pelo STF, dos dispositivos da Lei Federal nº
11.738/2008, que instituiu o piso salarial profissional nacional
para os professores públicos da educação básica, como forma
de valorização da Educação, garan-tindo o valor mínimo a ser
recebido por tais profissionais.
4. Tese nº 911, do STJ. Em havendo previsão de lei local,
possibilita-se a incidência automática do piso nacional em toda
a carreira e reflexo imediato sobre as demais vantagens e
gratificações do professor.
5. Lei Estadual nº 5.539/2009 que prevê em seu artigo 3º o
escalonamento de 12% entre as referências da carreira.
6. Inadmissão do IRDR nº 0048816-13.2020.8.19.0000 arguido
com o objetivo de fixação de tese que possibilitaria a aplicação
do piso nacional do magistério público apenas aos vencimentos-
base dos professores em início de carreira, afastando-o dos
demais níveis e referências da carreira.
7. Prova nos autos de que o autor se encontra na referência 4
de sua carreira e que desde o nível 1 da carreira do Professor
Docente II - 22 horas, estabelecida de forma isonômica pela Lei
Estadual nº 6834/2014, há defasagem no vencimento (R$
1.062,85 = 940,16 + 13,05% de reajuste concedido pelo
governo estadual) em relação ao piso nacional de 2022, o qual,
proporcionalmente ao definido pelo MEC para o professor que
exerce 40 horas semanais (R$ 3.845,63), corresponde a 40%
do piso nacional de 2022, qual seja, R$ 1.538,25, conforme
previsto pela Lei Federal nº 11.738/2008.
8. Direito do autor à implantação em seus vencimentos do valor
proporcional (40%) do piso nacional de 2022 (R$ 1.538,25),
acrescido do percentual de 12% de escalonamento em cada
nível na carreira até a referência 04 (R$ 2.161,63), com
reflexos em suas vantagens e gratificações porventura
existentes.
9. Precedentes jurisprudenciais.
10. Decisão reformada. Recurso provido.
(0055171-68.2022.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO.
Des(a). MARCO AURÉLIO BEZERRA DE MELO - Julgamento:
07/02/2023 - DÉCIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL)

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO ADMINISTRATIVO. PISO


SALARIAL NACIONAL DO MAGISTÉRIO FIXADO PELA LEI
FEDERAL Nº 11.738/2008. AÇÃO COLETIVA MOVIDA PELO
SINDICATO DA CATEOGRIA EM FACE DO ESTADO DO RIO
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DE JANEIRO. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA DOS


PEDIDOS. RETIFICAÇÃO PARCIAL DO DECISUM.
Recurso de Terceiro Prejudicado. Não conhecimento. Por um
lado, por se cuidar de ação civil pública, não poderia a
recorrente agir na qualidade de substituto processual,
porquanto não figurar no rol de legitimados para sua
propositura. Além disso, a admissão do recurso se condiciona
à demonstração de prejuízo jurídico da decisão judicial, e não
apenas de prejuízo econômico. Caso concreto em que a
sentença foi explícita ao determinar a implementação do piso
salarial nacional para os cargos do nível básico da carreira do
magistério, com ajuste proporcional à jornada de trabalho.
Dessarte, a recorrente, "Professor Docente I, 16 horas",
encontra-se abarcada pelos efeitos da decisão, de sorte que
não há sucumbência em tese de sua parte a lhe emprestar
legitimidade recursal.
Recurso do Estado. Tese de que o cargo "Professor Docente II"
foi extinto pela Lei Estadual nº 5.539/2009 que é falaciosa e
não afasta a necessidade de se o considerar como o nível
básico da carreira para os fins remuneratórios buscados nesta
demanda. Art. 6º, II, da referida Lei, que estabeleceu que os
cargos que estavam providos não foram extintos de plano, pois
passaram a constituir Quadro Especial Suplementar. Afirmação
que, além de tudo, colide com postura adotada pela própria
Administração. Recente publicação de Edital para Processo
Seletivo Simplificado para Contratação Temporária de
Professores para Atuação nos Anos Iniciais e Finais do Ensino
Fundamental e Ensino Médio com previsão de remuneração
dos profissionais contratados no certame justamente com base
no plano de carreira dos Professores Docentes II. Documento
não impugnado especificamente pela parte. Prova suasória nos
autos de que o cargo "Professor Docente II" segue na estrutura
remuneratória do Estado, pelo que não há falar em
impossibilidade de cumprimento da ordem judicial. Aplicação
do piso nacional, estabelecido pela Lei Federal nº 11.738/2008,
que não viola o princípio federativo. Legislação declarada
constitucional pelo e. STF ao apreciar a ADI nº 4.167.
Determinação de observância de um piso nacional mínimo, em
estrita regulamentação do art. 206, VIII, da CRFB. Piso salarial
nacional que tem como parâmetro a remuneração-base no
nível básico da carreira e é aplicável aos professores com
carga horária de 40 (quarenta) horas semanais. Em
consequência, o valor deverá ser proporcional à carga horária
diferenciada do profissional e ao nível da carreira em que ele
esteja inserido, desde que haja previsão nesse sentido nas
legislações locais. Inteligência do Tema 911/STJ. No caso do
Estado do Rio de Janeiro, é incontroverso que há legislação
local a estabelecer a existência de cargos de professor com
carga horária inferior a 40 (quarenta) horas semanais e,
também, o escalonamento no decorrer da carreira quando em
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atividade. Afirmativa de que não apenas cumpre o piso


nacional, como paga além dele, escorada em falsa premissa.
Isso porque o ente federado considerou indevidamente o cargo
de Professor Docente I, Nível 3, como o nível básico.
Entretanto, como exaustivamente discorrido acima, tal base é o
cargo de Professor Docente II, Nível 1. Assim, o valor
remuneratório referente àquele deve ser consignado a este e, a
partir daí, serem feitos os ajustes conforme carga horária e
progressão funcional. Alie-se que o art. 3º da Lei Estadual nº
5.539/2009 estipulou que deve haver uma diferença de 12%
(doze por cento) entre as referências remuneratórias existentes
a contar do piso básico. Prova dos autos inequívoca no sentido
de que o Estado não promoveu à adequação das
remunerações dos servidores tal como determinado nas
legislações anteriormente mencionadas - quer pelo
estabelecimento de um piso remuneratório inferior ao
parâmetro nacional, quer pela inobservância do percentual de
interstício entre os níveis da carreira. Verba objeto da lide
possui natureza alimentar e tem por fundamento piso nacional
que deveria ter sido implementado bem antes da crise
financeira ventilada pelo Estado. Instabilidade dos cofres
públicos que não pode servir de escusa genérica e absoluta
para a Administração se esquivar do cumprimento de suas
obrigações. Correção da sentença ao condenar o réu originário
a implementar o piso salarial nacional na carreira do magistério
estadual, tendo por base o cargo de "Professor Docente II -
Nível 1 - 40 horas", com as pertinentes adequações à carga
horária e ao nivelamento funcional.
Recurso do Sindicato. Alegação de que já existe legislação
local a regulamentar a carreira do magistério estadual, com
suas vantagens e gratificações, razão pela deve ser integrada
a sentença para que haja a incidência automática em toda a
carreira, com reflexo imediato sobre as demais vantagens e
gratificações, decorrente da implementação do piso salarial
inicial para os cargos do magistério de nível básico. Entretanto,
não há falar em modificação do conteúdo do julgado por conta
do alegado. Juízo a quo que foi categórico ao prever a
incidência do piso nacional em toda a carreira, com reflexo
sobre as demais vantagens e gratificações, dês que essas
determinações estiverem previstas na legislação local. Ora, se
já há legislação em tal sentido, a aplicação será imediata e
automática; caso contrário, ela será postergada até o advento
da competente lei. Ou seja, a condenação está clara na parte
dispositiva da sentença. Sua incidência imediata por força de
lei vigente deverá ser objeto de exame em sede de eventual
cumprimento de sentença.
Remessa necessária. A sentença, ao condenar o Estado ao
pagamento de atrasados, limitou-se a empregar a fórmula
genérica de que tudo deveria ser "atualizado com juros e
correção monetária". Não foram fixados os índices e marcos
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temporais desses consectários legais da mora. Logo, deve o


aludido capítulo da sentença ser integrado. Juros de mora
desde a citação com o índice da remuneração oficial da
caderneta de poupança e correção monetária de cada
pagamento não realizado com o índice do IPCA-E. Arts. 397 e
405 do Código Civil. Tema nº 905/STJ.
DESPROVIMENTO DOS 1º E 2º RECURSOS. NÃO
CONHECIMENTO DO 3º RECURSO. RETIFICAÇÃO PARCIAL
DA SENTENÇA EM REEXAME NECESSÁRIO.
(0228901-59.2018.8.19.0001 - APELACAO / REMESSA
NECESSARIA. Des(a). ALCIDES DA FONSECA NETO -
Julgamento: 01/11/2022 - DÉCIMA SEGUNDA CÂMARA
CÍVEL)

Observe-se, ainda neste ponto, decisão da Seção Cível deste


Tribunal de Justiça que, nos autos do processo nº 0048816-13.2020.8.19.0000,
inadmitiu o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas arguido com o
objetivo de fixação de tese que possibilitaria a aplicação do piso nacional do
magistério público apenas aos vencimentos-base dos professores em início de
carreira, afastando-o dos demais níveis e referências da carreira. Confira-se
sua ementa:

IRDR - AUSÊNCIA DE DISSENSO JURISPRUDENCIAL -


INTERPRETAÇÃO DA LEI 11738/2008 - LEI ESTADUAL
5539/2009 - Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas.
Ação de Cobrança de reajuste de piso salarial de magistério.
Inteligência das Leis 11738/2008 e da Lei Estadual 5539/2009.
Pretensão de fixação de tese contrária à jurisprudência
consolidada. O IRDR não se presta a correção de
jurisprudência. Não restou demonstrada a existência de
controvérsia entre as Câmaras Cíveis. Causas que vem
recebendo julgamento uniforme. Incabível a instauração de
Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, em razão da
inexistência de entendimento diversos sobre a mesma questão
jurídica, não havendo risco à isonomia e à segurança jurídica
(art.976, do CPC). Incidente não admitido. (0048816-
13.2020.8.19.0000 - INCIDENTE DE RESOLUCAO DE
DEMANDAS REPETITIVAS, Des(a). NATACHA NASCIMENTO
GOMES TOSTES GONÇALVES DE OLIVEIRA - Julgamento:
18/03/2021 - SEÇÃO CÍVEL)

Registre-se que devem ser rechaçadas as alegações de limites


orçamentários, considerando a existência de repasses da União aos entes
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federados, através do FUNDEB, para garantia do pagamento do piso nacional


aos professores, nos termos do artigo 4º e parágrafos da Lei nº 11.738/2008.

Da mesma forma, refuta-se a alegação de violação à Súmula


Vinculante 37-STF, uma vez que não há determinação de aumento de
vencimentos com fundamento na isonomia, mas sim o exercício de controle de
legalidade do ato administrativo, para que se obedeça ao determinado pela Lei
11.738/2008.

Transcreva-se, por oportuno, precedentes desta Corte:

0004950-37.2021.8.19.0026 – APELAÇÃO - Des(a). CEZAR


AUGUSTO RODRIGUES COSTA - Julgamento: 18/10/2022 -
DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. PROFESSOR
ESTADUAL APOSENTADO. OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA
DO PISO SALARIAL NACIONAL PARA OS PROFISSIONAIS
DO MAGISTÉRIO PÚBLICO DA EDUCAÇÃO BÁSICA,
CONFORME A LEI 11.738/2008, CUJA
CONSTITUCIONALIDADE FOI DECLARADA PELO STF.
NECESSÁRIA ADEQUAÇÃO DO VENCIMENTO-BASE AO
PISO SALARIAL NACIONAL, DESDE QUE PROPORCIONAL
À JORNADA DE TRABALHO. PAGAMENTO DOS REFLEXOS
DA ADEQUAÇÃO AO PISO SALARIAL NACIONAL APENAS
SOBRE AS VANTAGENS PECUNIÁRIAS QUE TENHAM
COMO BASE DE CÁLCULO O VENCIMENTO DO SERVIDOR.
A Lei Federal 11.738/2008, cuja constitucionalidade foi
declarada pelo STF e passou a ser aplicável a partir de
27/04/2011, data do julgamento do mérito da ADI 4.167/DF,
instituiu o piso salarial profissional nacional para os
profissionais do magistério público da educação básica e
determinou que deve ser integral para o professor que trabalha
40 (quarenta) horas semanais e proporcional para aquele que
cumpre carga horária inferior. Adequação do vencimento-base
ao piso nacional da educação que se mostra devida, conforme
reajustes estabelecidos pelo Ministério da Educação e de
forma proporcional à carga horária de 16hs, observando-se os
índices e o interstício de 12% entre referências, conforme
prevê a Lei Estadual 5539/2009, além do pagamento da
diferença das verbas, observada a prescrição quinquenal e o
termo inicial fixado na ADI 4167. Ademais, o pagamento dos
reflexos da adequação ao piso nacional da educação instituído
pela Lei Federal 11.738/2008 sobre as vantagens pecuniárias
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deve ser apenas sobre as que tenham como base de cálculo o


vencimento do servidor, de acordo com a tese repetitiva 911
fixada pelo Superior Tribunal de Justiça. Sobre os consectários
legais incidentes na condenação da Fazenda Pública deverão
considerar os seguintes encargos à luz do Tema 905 do STJ:
juros de mora, a contar da citação, pela remuneração oficial da
caderneta de poupança e correção monetária pelo IPCA-E, a
partir de quando cada pagamento deveria ter sido realizado até
08/12/2021; e, a partir de 09/12/2021, incidirá a aplicação única
da Taxa Selic, conforme artigo 3º da EC 113/2021, para juros
de mora e correção monetária, vedada a cumulação com
quaisquer outros índices. Inaplicabilidade da súmula vinculante
n. 37 do STF, pois inexiste determinação de aumento de
vencimentos com fundamento na isonomia. Ao contrário,
aplica-se as teses decorrentes do julgado na ADI 4.167/DF e
no REsp 1.426.210/RS, ambos de observância obrigatória
sobre o caso. Incidência do Art. 927, I e III do Código de
Processo Civil. Recurso CONHECIDO e PROVIDO.

Pelo mesmo fundamento, não há que se falar em violação à súmula


vinculante 42, uma vez que, como visto no v. acórdão embargado, não se trata
de atrelar o salário dos professores estaduais a índice federal de correção
monetária, mas sim de meramente dar cumprimento adequado à lei que
instituiu o piso nacional de educação, conforme remansosa jurisprudência
desta Corte.

Deve-se, por fim, determinar que o arbitramento dos honorários


deverá considerar a majoração devida na forma do art. 85, §11, do CPC/15
tendo em vista a sucumbência recursal do apelante-réu.

À conta de tais fundamentos, voto no sentido de negar provimento


ao recurso interposto.

Rio de Janeiro, na data da assinatura eletrônica.

Desembargador MARCO AURÉLIO BEZERRA DE MELO


Relator

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