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Poder Judiciário

Conselho da Justiça Federal


Turma Nacional de Uniformização dos
Juizados Especiais Federais

PROCESSO: 0502120-91.2014.4.05.8503
ORIGEM: SE – SEÇÃO JUDICIÁRIA DE SERGIPE
RECORRENTE: VIRGILDASIO DOS SANTOS CONCEIÇÃO
PROC./ADV.: RAFAEL COSTA FORTE
RECORRIDO: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE – UFS
PROC./ADV.: PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
RELATOR: JUIZ(A) FEDERAL ITÁLIA MARIA ZIMARDI ARÊAS POPPE
BERTOZZI – SUPLENTE DA TNU – CONVOCADA EM REGIME DE MUTIRÃO
ASSUNTO: Acumulação de Cargos – Regime Estatutário – Servidor Público Civil –
Direito Administrativo e outras matérias do Direito Público

EMENTA-VOTO

PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. ADMINISTRATIVO.


ACUMULAÇÃO DE CARGOS PÚBLICOS. CARGOS DE MÉDICO DO INSTITUTO
FEDERAL DE EDUCAÇÃO DE SERGIPE – IFS E PROFESSOR AUXILIAR DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE – UFS. JORNADA SEMANAL SUPERIOR
A 60 (SESSENTA HORAS). IMPOSSIBILIDADE. POSIÇÃO PREDOMINANTE NO
ÂMBITO DA 1ª SEÇÃO DO STJ. INCIDENTE CONHECIDO E PROVIDO. PEDIDO
INICIAL REJEITADO.

Trata-se de Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei Federal (PEDILEF)


interposto pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) em face de acórdão proferido pela
Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Estado de Sergipe,
que conheceu e deu provimento ao recurso inominado (RI) aviado pela parte autora, para:

a) declarar o direito do autor de acumular os cargos de médico do


Instituto Federal de Educação de Sergipe - IFS e professor auxiliar da
Universidade Federal de Sergipe – UFS, sem que haja qualquer restrição
decorrente da carga horária de trabalho semanal;
b) nos termos do art. 4º da Lei n.º 10.2159/2001, cominar à UFS a
obrigação de implantar todos os dados do autor no Sistema Integrado de
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Administração de Recursos Humanos – SIAPE no prazo de 30 (trinta) dias,
sem qualquer restrição decorrente da carga horária de trabalho semanal ou
por conta do cargo de médico do do Instituto Federal de Educação de
Sergipe – IFS, sob pena de multa diária de R$ 300,00 (trezentos reais), que
terá como termo inicial o 31º (trigésimo primeiro) dia de sua intimação e
como termo final a efetiva comprovação do cumprimento da ordem deste
juízo, sem prejuízo de outras sanções aplicáveis em razão de eventual
descumprimento;
c) nos termos do art. 4º da Lei n.º 10.2159/2001, cominar à UFS a
obrigação de adotar todas as providências indispensáveis para regularizar
os pagamentos das remunerações mensais do autor no prazo de 30 (trinta)
dias, sem qualquer restrição decorrente da carga horária de trabalho
semanal ou por conta do cargo de médico do do Instituto Federal de
Educação de Sergipe – IFS, sob pena de multa diária de R$ 300,00
(trezentos reais), que terá como termo inicial o 31º (trigésimo primeiro) dia
de sua intimação e como termo final a efetiva comprovação do cumprimento
da ordem deste juízo, sem prejuízo de outras sanções aplicáveis em razão de
eventual descumprimento;
d) nos termos do art. 4º da Lei n.º 10.2159/2001, cominar à UFS a
obrigação de adotar todas as providências administrativas para pagamento
das remunerações acumuladas devidas ao autor desde 01/01/2015 até a
regularização dos pagamentos mensais (item anterior), inclusive o empenho
e liquidação dos respectivos valores, no prazo de 30 (trinta) dias, sem
qualquer restrição decorrente da carga horária de trabalho semanal ou por
conta do cargo de médico do do Instituto Federal de Educação de Sergipe –
IFS, sob pena de multa diária de R$ 300,00 (trezentos reais), que terá como
termo inicial o 31º (trigésimo primeiro) dia de sua intimação e como termo
final a efetiva comprovação do cumprimento da ordem deste juízo, sem
prejuízo de outras sanções aplicáveis em razão de eventual
descumprimento;
e) confirmar a antecipação de tutela acima deferida, tornando-a
definitiva;
f) condenar a UFS a pagar ao autor os valores decorrentes de suas
remunerações mensais desde 25/02/2014 até 31/12/2014, acrescidas de
correção monetária, desde o vencimento de cada uma, e juros de mora
mensais desde a citação, nos termos do art. 1º-F da Lei n.º 9.494/97, valor a
ser pago via requisitório adequado (RPV/Precatório) após o trânsito em
julgado desta decisão;
g) confirmar a multa de R$ 4.600,00 (quatro mil e seiscentos reais)
aplicada através do ato do anexo n.º 36, atualizados até 29/04/2015, sujeita
apenas a correção monetária, e que deverá ser revertida em benefício do
autor, condenando a UFS a pagá-la após o trânsito em julgado desta
decisão;
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h) determinar a expedição de ofício à Secretaria de Controle Externo do
Tribunal de Contas da União - TCU em Sergipe, noticiando a conduta do
ente público nestes autos, que culminou com a imposição de sanção
pecuniária, representando pela atuação daquele órgão de controle em
relação a ele, tendo em vista os prejuízos eventualmente causados às suas
rendas, em razão das condutas praticadas por inobservância dos prazos
fixados para cumprimento de decisões judiciais (art. 74, § 2º, da CF/88; art.
8º da Lei n.º 8.443/92), instaurando-se o procedimento adequado à
apuração de responsabilidades.

A UFS houve por bem oferecer pedido de uniformização nacional, alegando


dessemelhança entre o acórdão recorrido e a jurisprudência dominante do Superior Tribunal
de Justiça (STJ), segundo a qual não seria factível a acumulação remunerada de cargos
públicos que se enquadrem no permissivo constitucional, quando ultrapassado o limite de
60 horas semanais de trabalho (citou-se: MS 19.300/DF, AgRg no AREsp 530.482/SE,
AgRg no AREsp 635.736/RJ).

O PEDILEF foi admitido na origem.

É o breve relato. Passo a decidir.

De início, é oportuno pontuar, a título de delineamento do dissídio jurisprudencial


ora perquirido, que a disceptação dos autos gravita em torno de se saber se a possibilidade
constitucional de acumulação de cargos públicos (art. 37, XVI), regulamentada, no âmbito
federal, pela Lei nº. 8.112/90, deve, ou não, suportar limitação de jornada de 60 (sessenta)
horas semanais.

Pois bem. Nada obstante os doutos argumentos lançados no acórdão combatido,


aos quais, inclusive, reputo assistir melhor razão jurídica, curvo-me, no entanto, quanto ao
thema decidendum, ao entendimento firmado pela 1ª Seção do STJ (ut, MS 19.300/DF, Rel.
Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
10/12/2014, DJe 18/12/2014), o qual vem sendo seguido iterativamente pela 1ª e 2ª Turmas
daquele tribunal (ut, AgRg no AREsp 530.482/SE, Rel. Ministro OLINDO MENEZES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), PRIMEIRA TURMA,
julgado em 16/06/2015, DJe 25/06/2015 e AgRg no AREsp 635.736/RJ, Rel. Ministro
MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/05/2015, DJe
13/05/2015, respectivamente), no sentido de considerar legítima a imposição de limite de
60 (sessenta) horas semanais, em homenagem ao princípio da eficiência, para os casos de
acumulação de cargos privativos de profissionais de saúde.

Considero que em casos como o dos autos, havendo identidade fática e jurídica,
deve prevalecer, tanto quanto possível, a jurisprudência consolidada do STJ, ante a sua
atuação como corte de precedentes, perspectivada sua função de última voz na
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interpretação da legislação federal. Tal forma de decidir, a meu sentir, favorece a
confiabilidade e a previsibilidade do Direito, além de colocar em evidência a atuação da
jurisprudência como parâmetro para definição da conduta dos jurisdicionados.

Noutro flanco, importa referenciar que o fato de a decisão da 1ª Seção do STJ ter
sido tomada por maioria apertada, consoante destacado no acórdão recorrido, não desnatura
o conceito de jurisprudência dominante, plasmado no art. 14, § 2º, da Lei nº. 10.259/01,
haja vista que a noção de jurisprudência dominante não se confunde com a da
jurisprudência pacífica. A predominante, por certo, não exige unanimidade. O que interessa
é a evidenciação de que determinada linha pretoriana prepondera, é prevalecente, como se
deflui do caso em testilha.

Por efeito, voto no sentido de CONHECER e DAR provimento ao presente


incidente de uniformização, para reformar o acórdão recorrido e rejeitar o pedido plasmado
na petição inicial, no termos da fundamentação supra.

Publique-se. Registre-se. Intime-se.

Brasília, 16 de junho de 2016.

ITÁLIA MARIA ZIMARDI ARÊAS POPPE BERTOZZI


Juíza Federal Relatora Suplente da TNU
Convocada em regime de mutirão

ACÓRDÃO

A Turma Nacional de Uniformização, por unanimidade, decidiu CONHECER E


DAR PROVIMENTO ao presente Incidente de Uniformização, nos termos da ementa-
voto da Juíza Federal relatora.

Publique-se. Registre-se. Intime-se.

Brasília, 16 de junho de 2016.


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ITÁLIA MARIA ZIMARDI ARÊAS POPPE BERTOZZI


Juíza Federal Relatora Suplente da TNU
Convocada em regime de mutirão

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