Você está na página 1de 5

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

10ª CÂMARA CÍVEL

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 0088564-31.2023.8.16.0000 AI, DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA


REGIÃO METROPOLITANA DE LONDRINA – 6ª VARA CÍVEL
AGRAVANTE: JOSEFA CORREIA DE ARAÚJO
AGRAVADA: TRADITIO COMPANHIA DE SEGUROS
INTERESSADA: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
RELATOR: DES. GUILHERME FREIRE TEIXEIRA

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL


SECURITÁRIA. SFH. DECISÃO QUE DETERMINOU O ENCAMINHAMENTO DOS
AUTOS À JUSTIÇA FEDERAL. RECURSO AVIADO PELA DEMANDANTE.
COMPETÊNCIA. MATÉRIA JÁ DECIDIDA POR ESTE COLEGIADO.
PRECLUSÃO. IMPOSSIBILIDADE DE REDISCUSSÃO. INVIABILIDADE, PORÉM,
DE FIXAÇÃO DO JUÍZO COMPETENTE PARA JULGAMENTO DA DEMANDA.
AGRAVO DE INSTRUMENTO E RECURSO ESPECIAL ANTERIORMENTE
INTERPOSTOS QUE ESTÃO PENDENTES DE JULGAMENTO. REFORMA DA
DECISÃO AGRAVADA, MAS SEM DEFINIÇÃO DA COMPETÊNCIA.
AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.

VISTOS, examinados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº 0088564-


31.2023.8.16.0000 AI, do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Londrina – 6ª Vara Cível,
em que é Agravante JOSEFA CORREIA DE ARAÚJO, é Agravada TRADITIO COMPANHIA DE SEGUROS
e é Interessada CAIXA ECONÔMICA FEDERAL.

1. RELATÓRIO.

Trata-se de agravo de instrumento interposto por Josefa Correia de Araújo contra a


decisão (mov. 260.1) proferida nos autos da ação de responsabilidade obrigacional securitária nº 0070140-
79.2012.8.16.0014 ajuizada em face da agravada – por sucessão –, a qual declinou a competência,
determinando a remessa dos autos à Justiça Federal.
Em suas razões recursais (mov. 1.1-TJ), a agravante alegou que, anteriormente,
interpôs o Recurso Especial nº 0061825-02.2015.8.16.0000, visando discutir a competência para julgamento
da demanda, o qual foi sobrestado pela 1ª Vice-Presidência deste Tribunal de Justiça, de modo que o
trâmite processual deve permanecer suspenso até o julgamento do referido recurso. Aduziu que, mesmo
que tenha ocorrido o trânsito em julgado do RExt nº 827.996/PR, houve recente publicação do Ofício
Circular nº 9374843 – NUGEP-SG, por meio do qual foi determinada a manutenção do sobrestamento dos
feitos que versem sobre o Tema nº 1.011 do STF até a resolução dos Temas nº 50 e 51 e da Controvérsia nº
02 pelo STJ. Asseverou a ausência de jurisdição do juízo a quo para determinar nova remessa do feito à
Justiça Federal, porquanto ainda resta pendente de julgamento definitivo o recurso especial mencionado.
Diante disso, requereu a concessão de efeito suspensivo ao recurso, com seu provimento ao final, a fim de
que seja determinado o sobrestamento do processo até o julgamento definitivo do recurso especial em
questão.
Foi deferido o pedido de efeito suspensivo (mov. 11.1-TJ), tendo sido apresentadas
contrarrazões pela agravada e pela interessada (mov. 19.1-TJ e 20.1-TJ).
Em síntese, é o relatório.

2. FUNDAMENTAÇÃO.

Admissibilidade

De início, em que pese o art. 1.015 do CPC não faça menção quanto à possibilidade
de impugnação das decisões que versem sobre competência por meio de agravo de instrumento, o Superior
Tribunal de Justiça, no julgamento dos Recursos Especiais Repetitivos nº 1.696.396/MT e nº 1.704.520/MT,
passou a adotar o entendimento de que, nas hipóteses em que haja demonstração de urgência no pedido
em decorrência da inutilidade do julgamento da questão quando da análise do recurso de apelação, a
taxatividade do rol previsto pelo art. 1.015 do CPC deve ser “mitigada”.
Especificamente quanto à competência para julgamento da causa, o STJ assim
assentou no julgamento do REsp nº 1.696.396/MT:

O exemplo mais evidente dessa circunstância nociva é, sem dúvida, a questão relacionada à
competência, pois não é crível, nem tampouco razoável, que o processo tramite perante um juízo
incompetente por um longo período e, somente por ocasião do julgamento da apelação (ou, até
mesmo, de recurso especial nesta Corte) seja reconhecida a incompetência e determinado o retorno
ao juízo competente para os fins do § 4º do art. 64 do CPC/15. (REsp 1696396/MT, Rel. Ministra
NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL, julgado em 05/12/2018, DJe 19/12/2018 – p. 43)

Desse modo, versando a competência sobre hipótese capaz de admitir a “mitigação


da taxatividade” do rol do art. 1.015 do CPC, estando o recurso regularmente instruído, conforme disposto
no art. 1.017 do mesmo Código, bem como sendo o processo eletrônico (art. 1.017, §5°, do CPC), assim
como verificada a tempestividade, conheço do agravo de instrumento.

Competência

Trata-se, na origem, de ação de responsabilidade obrigacional securitária ajuizada


por Josefa Correia de Araújo em face de Sul América Companhia Nacional de Seguros Gerais S/A (antiga
denominação de Traditio Companhia de Seguros) (mov. 1.1/1.2), objetivando o recebimento dos valores
contidos na apólice securitária para casos de vícios no imóvel segurado, além de aplicação de multa
decendial de 2% pelo atraso no cumprimento da obrigação de restaurar os imóveis.
Insurge-se a agravante contra a decisão que reconheceu a incompetência da Justiça
Estadual para julgamento da demanda, determinando o encaminhamento dos autos à Justiça Federal (mov.
260.1).
No mérito, permanecem hígidos os fundamentos invocados quando da apreciação da
liminar.
Com efeito, nojulgamento do RE 827.996/PR, em sede de repercussão geral, o STF
estabeleceu parâmetros para a delimitação da competência nas ações desta natureza, senão vejamos:

Recurso extraordinário. Repercussão geral. 2. Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Contratos


celebrados em que o instrumento estiver vinculado ao Fundo de Compensação de Variação Salarial
(FCVS) – Apólices públicas, ramo 66. 3. Interesse jurídico da Caixa Econômica Federal (CEF) na
condição de administradora do FCVS. 4. Competência para processar e julgar demandas desse jaez
após a MP 513/2010: em caso de solicitação de participação da CEF (ou da União), por quaisquer
das partes ou intervenientes, após oitiva daquela indicando seu interesse, o feito deve ser remetido
para análise do foro competente: Justiça Federal (art. 45 c/c art. 64 do CPC), observado o § 4º do
art. 1º-A da Lei 12.409/2011. Jurisprudência pacífica. 5. Questão intertemporal relativa aos
processos em curso na entrada em vigor da MP 513/2010. Marco jurígeno. Sentença de mérito.
Precedente. 6. Deslocamento para a Justiça Federal das demandas que não possuíam sentença de
mérito prolatada na entrada em vigor da MP 513/2010 e desde que houvesse pedido espontâneo ou
provocado de intervenção da CEF, nesta última situação após manifestação de seu interesse. 7.
Manutenção da competência da Justiça Estadual para as demandas que possuam sentença de
mérito proferida até a entrada em vigor da MP 513/2010. 8. Intervenção da União e/ou da CEF (na
defesa do FCVS) solicitada nessa última hipótese. Possibilidade, em qualquer tempo e grau de
jurisdição, acolhendo o feito no estágio em que se encontra, na forma do parágrafo único do art. 5º
da Lei 9.469/1997.
(RE 827996, Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 29/06/2020, PROCESSO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-208 DIVULG 20-08-2020 PUBLIC 21-08-
2020)

Ainda, constou o seguinte no referido julgamento:

Foram fixadas as seguintes teses: 1) "Considerando que, a partir da MP 513/2010 (que originou a
Lei 12.409/2011 e suas alterações posteriores, MP633/2013 e Lei 13.000/2014), a CEF passou a
ser administradora do FCVS, é aplicável o art. 1º da MP 513/2010 aos processos em trâmite na data
de sua entrada em vigor (26.11.2010): 1.1.) sem sentença de mérito (na fase de conhecimento),
devendo os autos ser remetidos à Justiça Federal para análise do preenchimento dos requisitos
legais acerca do interesse da CEF ou da União, caso haja provocação nesse sentido de quaisquer
das partes ou intervenientes e respeitado o § 4º do art. 1º-A da Lei12.409/2011; e 1.2) com sentença
de mérito (na fase de conhecimento), podendo a União e/ou a CEF intervir na causa na defesa do
FCVS, de forma espontânea ou provocada, no estágio em que se encontre, em qualquer tempo e
grau de jurisdição, nos termos do parágrafo único do art. 5º da Lei 9.469/1997, devendo o feito
continuar tramitando na Justiça Comum Estadual até o exaurimento do cumprimento de sentença";
e 2) "Após 26.11.2010, é da Justiça Federal a competência para o processamento e julgamento das
causas em que se discute contrato de seguro vinculado à apólice pública, na qual a CEF atue em
defesa do FCVS, devendo haver o deslocamento do feito para aquele ramo judiciário a partir do
momento em que a referida empresa pública federal ou a União, de forma espontânea ou
provocada, indique o interesse em intervir na causa, observado o § 4º do art. 64 do CPC e/ou o § 4º
do art.1º-A da Lei 12.409/2011".

Todavia, no caso, a questão da competência já foi objeto de discussão no agravo de


instrumento nº 0026589-86.2015.8.16.0000 AI, o qual resta pendente de análise de juízo de retratação
determinada nos autos do recurso especial interposto pela autora, em razão do julgamento dos REsp
repetitivos nº 1.091.363/SC e 1.091.393/SC pelo STJ (mov. 1.5-TJ dos autos nº 0061825-02.2015.8.16.0000
Pet).
Como se sabe, a preclusão é instituto processual que tem a finalidade precisamente
de evitar que sejam renovadas as discussões a respeito de temas que já foram objeto de decisão judicial e
que o processo se prolongue indefinidamente, em benefício da duração razoável do processo e da
prestação jurisdicional tempestiva.
Ora, ainda que se trate de matéria de ordem pública, que pode ser conhecida em
qualquer tempo e grau de jurisdição, isso não permite sua rediscussão quando a questão já foi decidida nos
autos, sob pena de comprometimento da segurança jurídica e eternização da discussão sobre a matéria, o
que não se admite.
Sobre o assunto, Fredie Didier Júnior explica:

Não se permite que o tribunal, no julgamento do recurso, reveja questão que já fora anteriormente
decidida, mesmo se de natureza processual, e em relação à qual se operou a preclusão. O que se
permite ao tribunal é conhecer, mesmo sem provocação, das questões relativas à admissibilidade
do processo, respeitada, porém, a preclusão.
Parece haver uma confusão entre a possibilidade de conhecimento ex officio de tais questões, fato
indiscutível, com a possibilidade de decidir de novo questões já decididas, mesmo as que poderiam
ter sido conhecidas de ofício. São coisas diversas: a cognoscibilidade ex officio de tais questões
significa, tão-somente, que elas podem ser examinadas pelo Judiciário sem a provocação das
partes, o que torna irrelevante o momento em que são apreciadas. Não há preclusão para o
reexame.
(...) Como bem apontou Calmon dos Passos, se as decisões interlocutórias são recorríveis (art. 522
do CPC), não se pode cogitar, no direito brasileiro, da possibilidade de reexame das questões já
decididas. Se há possibilidade de recurso, há possibilidade de preclusão, não somente para as
partes, mas também para o juiz.
(...) não se nega a existência de preclusão em torno das questões de mérito já decididas (rejeição
da alegação de prescrição, por exemplo). (...) (Curso de Direito Processual Civil: Teoria geral do
processo e processo de conhecimento. Salvador: Juspodivm, 2007. v. 1. p. 485-487)

Nesse sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RESPONSABILIDADE SECURITÁRIA. SEGURO HABITACIONAL.


SFH. SENTENÇA QUE EXTINGUIU O PROCESSO, ANTE A ILEGITIMIDADE PASSIVA DA
SEGURADORA.(I) APELAÇÃO INTERPOSTA PELA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL.
RECONHECIMENTO DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL PARA JULGAR O
PROCESSO EM RELAÇÃO A UM DOS COAUTORES. MATÉRIA JÁ DECIDIDA, INCLUSIVE
COM REMESSA À JUSTIÇA FEDERAL, QUE RECONHECEU SUA INCOMPETÊNCIA NO
TOCANTE AO REFERIDO AUTOR. APLICAÇÃO DOS ARTS. 505 E 507 DO CPC. PRECLUSÃO.
IMPOSSIBILIDADE DE REDISCUSSÃO. (...)
(TJPR - 10ª Câmara Cível - 0032692-82.2006.8.16.0014 - Londrina - Rel.: SUBSTITUTO
ALEXANDRE KOZECHEN - J. 21.08.2023) (grifei)

SEGURO HABITACIONAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. DELIBERAÇÃO EM


AGRAVO DE INSTRUMENTO ANTERIOR PASSADO EM JULGADO. PRECLUSÃO. VÍCIOS
CONSTRUTIVOS. JULGAMENTO ANTECIPADO DO MÉRITO SEM A PRODUÇÃO DA PROVA
PERICIAL REQUERIDA POR AMBAS AS PARTES E NECESSÁRIA PARA A SOLUÇÃO DA
CONTROVÉRSIA. CERCEAMENTO DE DEFESA CARACTERIZADO. SENTENÇA ANULADA.
APELAÇÃO PROVIDA.
(TJPR - 10ª Câmara Cível - 0001101-77.2013.8.16.0137 - Porecatu - Rel.: DESEMBARGADOR
ALBINO JACOMEL GUERIOS - J. 05.06.2023) (grifei)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. “AÇÃO DE RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL


SECURITÁRIA”. SISTEMA FINANCEIRO HABITACIONAL. SFH. DECISÃO AGRAVADA QUE
DETERMINOU A REMESSA DOS AUTOS À JUSTIÇA FEDERAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
ESTADUAL FIRMADA ANTERIORMENTE POR ESTE TRIBUNAL DE JUSTIÇA, EM DECISÃO
TRANSITADA EM JULGADO. OCORRÊNCIA DE PRECLUSÃO, AINDA QUE SE TRATE DE
MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. REFORMA DA DECISÃO PARA DETERMINAR-SE O
PROSSEGUIMENTO DO FEITO. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO E PROVIDO.
(TJPR - 10ª Câmara Cível - 0056540-18.2021.8.16.0000 - Apucarana - Rel.: SUBSTITUTA
ELIZABETH DE FATIMA NOGUEIRA CALMON DE PASSOS - J. 22.05.2023) (grifei)

Assim, deve ser reformada a r. decisão agravada, mantendo-se os autos na Justiça


Estadual até o novo julgamento do agravo de instrumento nº 0026589-86.2015.8.16.0000 AI e do recurso
especial nº 0061825-02.2015.8.16.0000 Pet.

3. CONCLUSÃO.

Ante o exposto, voto no sentido de conhecer e dar parcial provimento ao Agravo de


Instrumento aviado pela autora para reformar a r. decisão agravada, devendo-se aguardar o novo
julgamento do agravo de instrumento nº 0026589-86.2015.8.16.0000 AI e do recurso especial nº 0061825-
02.2015.8.16.0000 Pet, os quais também versam sobre a competência, nos termos da fundamentação.

4. DISPOSITIVO.

ACORDAM os integrantes da Décima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado


do Paraná, por unanimidade de votos, em conhecer e dar parcial provimento ao Agravo de Instrumento, nos
termos da fundamentação.
Participaram da sessão e acompanharam o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor
Desembargador Marco Antonio Antoniassi (Presidente) e a Excelentíssima Senhora Desembargadora
Elizabeth Maria de Franca Rocha.

Curitiba, 11 de dezembro de 2023.

GUILHERME FREIRE TEIXEIRA


Desembargador Relator

Você também pode gostar