Este recurso especial trata de uma ação de responsabilidade obrigacional securitária movida por um cliente contra uma seguradora sobre defeitos estruturais em um imóvel adquirido no Sistema Financeiro de Habitação da Caixa Econômica Federal. O Tribunal de Justiça manteve decisão que condenou a seguradora a indenizar o cliente. A seguradora recorre ao STJ alegando incompetência da Justiça Estadual e prescrição.
Descrição original:
Título original
REsp nº1839233 - remessa para a Justiça Federal - 3 TURMA
Este recurso especial trata de uma ação de responsabilidade obrigacional securitária movida por um cliente contra uma seguradora sobre defeitos estruturais em um imóvel adquirido no Sistema Financeiro de Habitação da Caixa Econômica Federal. O Tribunal de Justiça manteve decisão que condenou a seguradora a indenizar o cliente. A seguradora recorre ao STJ alegando incompetência da Justiça Estadual e prescrição.
Este recurso especial trata de uma ação de responsabilidade obrigacional securitária movida por um cliente contra uma seguradora sobre defeitos estruturais em um imóvel adquirido no Sistema Financeiro de Habitação da Caixa Econômica Federal. O Tribunal de Justiça manteve decisão que condenou a seguradora a indenizar o cliente. A seguradora recorre ao STJ alegando incompetência da Justiça Estadual e prescrição.
RECORRENTE : SUL AMERICA COMPANHIA NACIONAL DE SEGUROS ADVOGADOS : SAMIRA REBECA FERRARI - SP279477 LOYANNA DE ANDRADE MIRANDA - SP398091 RECORRIDO : OCIMAR MARTINS ADVOGADO : JOSÉ ZOCARATO FILHO - SP074892
EMENTA
RECURSO ESPECIAL AÇÃO DE RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL
SECURITÁRIA. SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO. INTERVENÇÃO DA CEF. DEMANDA AJUIZADA ANTES A ENTRADA EM VIGOR DA MP 513/2010 (26/11/2010). DESLOCAMENTO PARA A JUSTIÇA FEDERAL. RE 827.996. INCIDÊNCIA. 1. Consoante o entendimento adotado pelo Supremo Tribunal Federal, no RE 827.996, deve haver o deslocamento para a Justiça Federal das demandas ajuizadas antes da entrada em vigor da MP 513/2010 (26/11/2010), se não tiver sido proferida sentença até 26/11/2010, desde que haja pedido espontâneo ou provocado de participação da CEF, no último caso, após manifestação de seu interesse. 2. Recurso especial conhecido e provido.
DECISÃO
Cuida-se de recurso especial interposto por SUL AMÉRICA COMPANHIA
NACIONAL DE SEGUROS S/A com fundamento na alínea “a” do permissivo constitucional, contra acórdão do TJ/SP. Ação: de responsabilidade obrigacional securitária ajuizada por OCIMAR MARTINS em desfavor da recorrente, na qual alegam que adquiriram imóveis junto à CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, por meio do Sistema Financeiro de Habitação, bem como seguro, os quais apresentaram defeitos estruturais. Sentença: julgou improcedentes os pedidos, com fundamento na ausência de cobertura para vícios construtivos.
Edição nº 0 - Brasília, Publicação: segunda-feira, 21 de novembro de 2022
Documento eletrônico VDA34598358 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006 Signatário(a): FÁTIMA NANCY ANDRIGHI Assinado em: 18/11/2022 13:43:44 Publicação no DJe/STJ nº 3519 de 21/11/2022. Código de Controle do Documento: 2659aa79-959c-46b4-9a5e-33195e292819 Acórdão: deu provimento à apelação interposta pelo recorrido, nos termos da seguinte ementa:
APELAÇÃO CÍVEL. Ação de indenização securitária. Sentença de improcedência.
Inconformismo. Acolhimento. Embora o laudo pericial tenha concluído pela ausência de vícios construtivos no bem, indicou a presença de utilização de materiais de baixa qualidade, os quais ocasionaram as avarias no imóvel. Dever de indenizar. Multa cabível e bem arbitrada. Sentença de primeiro grau reformada. RECURSO PROVIDO, para se julgar a ação de indenização securitária procedente e condenar a empresa ré ao pagamento de importe referente ao reparo dos danos ocasionados na residência do autor, valores a serem apurados em liquidação de sentença por arbitramento, conforme avarias demonstradas na perícia de fls. 14/21, com correção monetária a contar da elaboração do laudo e juros moratórios de 1% ao mês a partir desta decisão, bem como ao pagamento de multa de 2% (dois por cento) sobre o montante da indenização devida, para cada decêndio ou fração de atraso, a contar da citação, com limite imposto pela importância da obrigação devida. Condena-se, ainda, a empresa requerida ao pagamento das custas e despesas processuais fixadas em 15% do valor da condenação.
Embargos de declaração: opostos pela recorrente, foram rejeitados
pelo Tribunal de origem. Recurso especial: aponta violação do art. 1º-A da Lei 12.409/11, dos arts. 206, § 2º, II e 189 do CC/02 e do art. 784 do CC/02. Defende que a Justiça Federal é competente para apreciar e julgar a presente demanda, existindo evidente interesse da Caixa Econômica Federal de ingressar no feito. Aduz ter ocorrido a prescrição da pretensão, ante a incidência do prazo prescricional ânuo. Defende, por fim, que o seguro em questão não prevê cobertura para vício construtivos. Decisão de admissibilidade: o TJ/SP admitiu o recurso especial. É o relatório. Decido.
No julgamento dos embargos de declaração, o Tribunal de origem
afastou a alegação de competência da Justiça Federal. A tanto, consignou que:
A interveniência da Caixa Econômica Federal somente se justifica em ações que
envolvam contratos de seguro habitacional relativos ao Sistema Financeiro da Habitação, mediante comprovação da vinculação do Contrato à apólice pública, como também a demonstração do comprometimento do Fundo de Compensação das Variações Salariais - FCVS, com risco efetivo de exaurimento da reserva técnica do Fundo de Equalização de Sinistralidade da Apólice - FESA; o que não se verifica
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Documento eletrônico VDA34598358 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006 Signatário(a): FÁTIMA NANCY ANDRIGHI Assinado em: 18/11/2022 13:43:44 Publicação no DJe/STJ nº 3519 de 21/11/2022. Código de Controle do Documento: 2659aa79-959c-46b4-9a5e-33195e292819 nos Autos. (e-STJ, fl. 1145)
Nada obstante, conforme referido na própria petição inicial, “com a
extinção do Banco Nacional de Habitação (BNH), o Suplte. passou automaticamente para o Sistema Financeiro de Habitação, mantendo a cobertura do Seguro Habitacional" (e-STJ, fl. 04). Nesse contexto, ao analisar o RE 827.996 (DJe de 21/8/2020), o Tribunal Pleno do STF fixou as balizas para a intervenção da CEF, na defesa do FCVS, nas ações envolvendo seguro habitacional no âmbito do Sistema Financeiro de Habitação, e definiu que, a partir da MP 513/2010, a CEF passou a ser administradora do FCVS, o que impõe a aplicação do respectivo art. 1º aos processos em trâmite na data de sua entrada em vigor (26/11/2010). As teses propostas, portanto, foram as seguintes: (i) sem sentença de mérito (na fase de conhecimento), devem os autos serem remetidos à Justiça Federal para análise do preenchimento dos requisitos legais acerca do interesse da CEF ou da União, caso haja provocação nesse sentido de quaisquer das partes ou intervenientes e respeitado o § 4º do art. 1º-A da Lei 12.409/2011. (ii) com sentença de mérito (na fase de conhecimento), pode a União e/ou a CEF intervir na causa na defesa do FCVS, de forma espontânea ou provocada, no estágio em que se encontre, em qualquer tempo e grau de jurisdição, nos termos do parágrafo único do art. 5º da Lei 9.469/1997, devendo o feito continuar tramitando na Justiça Comum Estadual até o exaurimento do cumprimento de sentença. (iii) após 26/11/2010, é da Justiça Federal a competência para o processamento e julgamento das causas em que se discute contrato de seguro vinculado à apólice pública, na qual a CEF atue em defesa do FCVS, devendo haver o deslocamento do feito para aquele ramo judiciário a partir do momento em que a referida empresa pública federal ou a União, de forma espontânea ou provocada, indique o interesse em intervir na causa.
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Documento eletrônico VDA34598358 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006 Signatário(a): FÁTIMA NANCY ANDRIGHI Assinado em: 18/11/2022 13:43:44 Publicação no DJe/STJ nº 3519 de 21/11/2022. Código de Controle do Documento: 2659aa79-959c-46b4-9a5e-33195e292819 Eis a ementa do julgado:
Recurso extraordinário. Repercussão geral. 2. Sistema Financeiro da Habitação
(SFH). Contratos celebrados em que o instrumento estiver vinculado ao Fundo de Compensação de Variação Salarial (FCVS) – Apólices públicas, ramo 66. 3. Interesse jurídico da Caixa Econômica Federal (CEF) na condição de administradora do FCVS. 4. Competência para processar e julgar demandas desse jaez após a MP 513/2010: em caso de solicitação de participação da CEF (ou da União), por quaisquer das partes ou intervenientes, após oitiva daquela indicando seu interesse, o feito deve ser remetido para análise do foro competente: Justiça Federal (art. 45 c/c art. 64 do CPC), observado o § 4º do art. 1º-A da Lei 12.409/2011. Jurisprudência pacífica. 5. Questão intertemporal relativa aos processos em curso na entrada em vigor da MP 513/2010. Marco jurígeno. Sentença de mérito. Precedente. 6. Deslocamento para a Justiça Federal das demandas que não possuíam sentença de mérito prolatada na entrada em vigor da MP 513/2010 e desde que houvesse pedido espontâneo ou provocado de intervenção da CEF, nesta última situação após manifestação de seu interesse. 7. Manutenção da competência da Justiça Estadual para as demandas que possuam sentença de mérito proferida até a entrada em vigor da MP 513/2010. 8. Intervenção da União e/ou da CEF (na defesa do FCVS) solicitada nessa última hipótese. Possibilidade, em qualquer tempo e grau de jurisdição, acolhendo o feito no estágio em que se encontra, na forma do parágrafo único do art. 5º da Lei 9.469/1997. [g.n.]
Em outras palavras, havendo a manifestação de interesse pela CEF na
ação em curso, e não tendo sido prolatada a respectiva sentença (na fase de conhecimento) até 26/11/2010, deve haver o deslocamento do processamento do feito para a Justiça Federal. Na hipótese de já existir sentença proferida até 26/11/2010, entretanto, os autos devem permanecer na Justiça Comum, mesmo que haja a intervenção da CEF. Já as causas ajuizadas após 26/11/2010 devem sempre ser deslocadas para a Justiça Federal, a partir do momento em que a CEF intervir na causa em defesa do FCVS. Na espécie, a ação foi proposta em 30/09/2009, antes, portanto, da entrada em vigor da MP 513/2010. Todavia, a sentença somente foi prolatada em 19/04/2016 e, antes disso, em 09/05/2012, a CEF se manifestou nos autos, postulando a sua intervenção (e-STJ, fls. 661-679). Portanto, impõe-se o deferimento do ingresso da CEF nos autos, a desconstituição da sentença e do acórdão, com o deslocamento da competência para a Justiça Federal.
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Documento eletrônico VDA34598358 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006 Signatário(a): FÁTIMA NANCY ANDRIGHI Assinado em: 18/11/2022 13:43:44 Publicação no DJe/STJ nº 3519 de 21/11/2022. Código de Controle do Documento: 2659aa79-959c-46b4-9a5e-33195e292819 Acolhida a preliminar de incompetência da Justiça Estadual, ficam prejudicadas as demais teses suscitadas no recurso especial. Forte nessas razões, com fundamento na Súmula 568/STJ, CONHEÇO do recurso especial e DOU-LHE PROVIMENTO, para determinar a remessa dos autos à Justiça Federal. Previno as partes que a interposição de recurso contra esta decisão, se declarado manifestamente inadmissível, protelatório ou improcedente, poderá acarretar a condenação às penalidades fixadas nos arts. 1.021, § 4º, e 1.026, § 2º, do CPC/15. Publique-se. Intimem-se.
Brasília, 18 de novembro de 2022.
MINISTRA NANCY ANDRIGHI
Relatora
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