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RECURSO ESPECIAL Nº 1839233 - SP (2019/0281350-6)

RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI


RECORRENTE : SUL AMERICA COMPANHIA NACIONAL DE SEGUROS
ADVOGADOS : SAMIRA REBECA FERRARI - SP279477
LOYANNA DE ANDRADE MIRANDA - SP398091
RECORRIDO : OCIMAR MARTINS
ADVOGADO : JOSÉ ZOCARATO FILHO - SP074892

EMENTA

RECURSO ESPECIAL AÇÃO DE RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL


SECURITÁRIA. SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO. INTERVENÇÃO DA CEF.
DEMANDA AJUIZADA ANTES A ENTRADA EM VIGOR DA MP 513/2010
(26/11/2010). DESLOCAMENTO PARA A JUSTIÇA FEDERAL. RE 827.996.
INCIDÊNCIA.
1. Consoante o entendimento adotado pelo Supremo Tribunal Federal, no RE
827.996, deve haver o deslocamento para a Justiça Federal das demandas
ajuizadas antes da entrada em vigor da MP 513/2010 (26/11/2010), se não
tiver sido proferida sentença até 26/11/2010, desde que haja pedido
espontâneo ou provocado de participação da CEF, no último caso, após
manifestação de seu interesse.
2. Recurso especial conhecido e provido.

DECISÃO

Cuida-se de recurso especial interposto por SUL AMÉRICA COMPANHIA


NACIONAL DE SEGUROS S/A com fundamento na alínea “a” do permissivo
constitucional, contra acórdão do TJ/SP.
Ação: de responsabilidade obrigacional securitária ajuizada por
OCIMAR MARTINS em desfavor da recorrente, na qual alegam que adquiriram
imóveis junto à CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, por meio do Sistema Financeiro de
Habitação, bem como seguro, os quais apresentaram defeitos estruturais.
Sentença: julgou improcedentes os pedidos, com fundamento na
ausência de cobertura para vícios construtivos.

Edição nº 0 - Brasília, Publicação: segunda-feira, 21 de novembro de 2022


Documento eletrônico VDA34598358 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
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Publicação no DJe/STJ nº 3519 de 21/11/2022. Código de Controle do Documento: 2659aa79-959c-46b4-9a5e-33195e292819
Acórdão: deu provimento à apelação interposta pelo recorrido, nos
termos da seguinte ementa:

APELAÇÃO CÍVEL. Ação de indenização securitária. Sentença de improcedência.


Inconformismo. Acolhimento. Embora o laudo pericial tenha concluído pela ausência
de vícios construtivos no bem, indicou a presença de utilização de materiais de baixa
qualidade, os quais ocasionaram as avarias no imóvel. Dever de indenizar. Multa
cabível e bem arbitrada. Sentença de primeiro grau reformada. RECURSO PROVIDO,
para se julgar a ação de indenização securitária procedente e condenar a empresa ré
ao pagamento de importe referente ao reparo dos danos ocasionados na residência
do autor, valores a serem apurados em liquidação de sentença por arbitramento,
conforme avarias demonstradas na perícia de fls. 14/21, com correção monetária a
contar da elaboração do laudo e juros moratórios de 1% ao mês a partir desta
decisão, bem como ao pagamento de multa de 2% (dois por cento) sobre o
montante da indenização devida, para cada decêndio ou fração de atraso, a contar
da citação, com limite imposto pela importância da obrigação devida. Condena-se,
ainda, a empresa requerida ao pagamento das custas e despesas processuais fixadas
em 15% do valor da condenação.

Embargos de declaração: opostos pela recorrente, foram rejeitados


pelo Tribunal de origem.
Recurso especial: aponta violação do art. 1º-A da Lei 12.409/11, dos
arts. 206, § 2º, II e 189 do CC/02 e do art. 784 do CC/02. Defende que a Justiça
Federal é competente para apreciar e julgar a presente demanda, existindo
evidente interesse da Caixa Econômica Federal de ingressar no feito. Aduz ter
ocorrido a prescrição da pretensão, ante a incidência do prazo prescricional ânuo.
Defende, por fim, que o seguro em questão não prevê cobertura para vício
construtivos.
Decisão de admissibilidade: o TJ/SP admitiu o recurso especial.
É o relatório. Decido.

No julgamento dos embargos de declaração, o Tribunal de origem


afastou a alegação de competência da Justiça Federal. A tanto, consignou que:

A interveniência da Caixa Econômica Federal somente se justifica em ações que


envolvam contratos de seguro habitacional relativos ao Sistema Financeiro da
Habitação, mediante comprovação da vinculação do Contrato à apólice pública,
como também a demonstração do comprometimento do Fundo de Compensação
das Variações Salariais - FCVS, com risco efetivo de exaurimento da reserva técnica
do Fundo de Equalização de Sinistralidade da Apólice - FESA; o que não se verifica

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nos Autos. (e-STJ, fl. 1145)

Nada obstante, conforme referido na própria petição inicial, “com a


extinção do Banco Nacional de Habitação (BNH), o Suplte. passou
automaticamente para o Sistema Financeiro de Habitação, mantendo a cobertura
do Seguro Habitacional" (e-STJ, fl. 04).
Nesse contexto, ao analisar o RE 827.996 (DJe de 21/8/2020), o Tribunal
Pleno do STF fixou as balizas para a intervenção da CEF, na defesa do FCVS, nas
ações envolvendo seguro habitacional no âmbito do Sistema Financeiro de
Habitação, e definiu que, a partir da MP 513/2010, a CEF passou a ser
administradora do FCVS, o que impõe a aplicação do respectivo art. 1º aos
processos em trâmite na data de sua entrada em vigor (26/11/2010). As teses
propostas, portanto, foram as seguintes:
(i) sem sentença de mérito (na fase de conhecimento), devem os autos
serem remetidos à Justiça Federal para análise do preenchimento dos requisitos
legais acerca do interesse da CEF ou da União, caso haja provocação nesse sentido
de quaisquer das partes ou intervenientes e respeitado o § 4º do art. 1º-A da Lei
12.409/2011.
(ii) com sentença de mérito (na fase de conhecimento), pode a União
e/ou a CEF intervir na causa na defesa do FCVS, de forma espontânea ou
provocada, no estágio em que se encontre, em qualquer tempo e grau de
jurisdição, nos termos do parágrafo único do art. 5º da Lei 9.469/1997, devendo o
feito continuar tramitando na Justiça Comum Estadual até o exaurimento do
cumprimento de sentença.
(iii) após 26/11/2010, é da Justiça Federal a competência para o
processamento e julgamento das causas em que se discute contrato de seguro
vinculado à apólice pública, na qual a CEF atue em defesa do FCVS, devendo haver
o deslocamento do feito para aquele ramo judiciário a partir do momento em que
a referida empresa pública federal ou a União, de forma espontânea ou provocada,
indique o interesse em intervir na causa.

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Eis a ementa do julgado:

Recurso extraordinário. Repercussão geral. 2. Sistema Financeiro da Habitação


(SFH). Contratos celebrados em que o instrumento estiver vinculado ao Fundo
de Compensação de Variação Salarial (FCVS) – Apólices públicas, ramo 66. 3.
Interesse jurídico da Caixa Econômica Federal (CEF) na condição de
administradora do FCVS. 4. Competência para processar e julgar demandas
desse jaez após a MP 513/2010: em caso de solicitação de participação da CEF
(ou da União), por quaisquer das partes ou intervenientes, após oitiva daquela
indicando seu interesse, o feito deve ser remetido para análise do foro
competente: Justiça Federal (art. 45 c/c art. 64 do CPC), observado o § 4º do
art. 1º-A da Lei 12.409/2011. Jurisprudência pacífica. 5. Questão intertemporal
relativa aos processos em curso na entrada em vigor da MP 513/2010. Marco
jurígeno. Sentença de mérito. Precedente. 6. Deslocamento para a Justiça
Federal das demandas que não possuíam sentença de mérito prolatada na
entrada em vigor da MP 513/2010 e desde que houvesse pedido espontâneo
ou provocado de intervenção da CEF, nesta última situação após manifestação
de seu interesse. 7. Manutenção da competência da Justiça Estadual para as
demandas que possuam sentença de mérito proferida até a entrada em vigor
da MP 513/2010. 8. Intervenção da União e/ou da CEF (na defesa do FCVS)
solicitada nessa última hipótese. Possibilidade, em qualquer tempo e grau de
jurisdição, acolhendo o feito no estágio em que se encontra, na forma do
parágrafo único do art. 5º da Lei 9.469/1997. [g.n.]

Em outras palavras, havendo a manifestação de interesse pela CEF na


ação em curso, e não tendo sido prolatada a respectiva sentença (na fase de
conhecimento) até 26/11/2010, deve haver o deslocamento do processamento do
feito para a Justiça Federal. Na hipótese de já existir sentença proferida até
26/11/2010, entretanto, os autos devem permanecer na Justiça Comum, mesmo
que haja a intervenção da CEF. Já as causas ajuizadas após 26/11/2010 devem
sempre ser deslocadas para a Justiça Federal, a partir do momento em que a CEF
intervir na causa em defesa do FCVS.
Na espécie, a ação foi proposta em 30/09/2009, antes, portanto, da
entrada em vigor da MP 513/2010. Todavia, a sentença somente foi prolatada em
19/04/2016 e, antes disso, em 09/05/2012, a CEF se manifestou nos autos,
postulando a sua intervenção (e-STJ, fls. 661-679).
Portanto, impõe-se o deferimento do ingresso da CEF nos autos, a
desconstituição da sentença e do acórdão, com o deslocamento da competência
para a Justiça Federal.

Edição nº 0 - Brasília, Publicação: segunda-feira, 21 de novembro de 2022


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Acolhida a preliminar de incompetência da Justiça Estadual, ficam
prejudicadas as demais teses suscitadas no recurso especial.
Forte nessas razões, com fundamento na Súmula 568/STJ, CONHEÇO do
recurso especial e DOU-LHE PROVIMENTO, para determinar a remessa dos autos à
Justiça Federal.
Previno as partes que a interposição de recurso contra esta decisão, se
declarado manifestamente inadmissível, protelatório ou improcedente, poderá
acarretar a condenação às penalidades fixadas nos arts. 1.021, § 4º, e 1.026, § 2º,
do CPC/15.
Publique-se. Intimem-se.

Brasília, 18 de novembro de 2022.

MINISTRA NANCY ANDRIGHI


Relatora

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Publicação no DJe/STJ nº 3519 de 21/11/2022. Código de Controle do Documento: 2659aa79-959c-46b4-9a5e-33195e292819

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