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10.ª CÂMARA CÍVEL – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO CÍVEL N.

º 0030853-
27.2017.8.16.0017, ORIUNDOS OS AUTOS DA 2.ª VARA CÍVEL DE MARINGÁ

EMBARGANTES: ADRIANA APARECIDA OLIVEIRA, CLAUDECIR CARDOSO DE SÁ,


EDILSON FRANCISCO DE LIMA, JOSÉ BELO DA SILVA, MÁRCIO NOVELI,
SEBASTIÃO GERÔNIMO LEOCÁDIO E VALDIR NOVELI

EMBARGADA: TRADITIO COMPANHIA DE SEGUROS

RELATORA: ELIZABETH DE FÁTIMA NOGUEIRA (EM SUBSTITUIÇÃO À EXM.ª SR.ª


DES.ª ÂNGELA KHURY)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. SEGURO HABITACIONAL. SFH.


DECISÃO EMBARGADA QUE, EM SEDE DE JUÍZO DE RETRATAÇÃO,
RECONHECEU A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL PARA
JULGAMENTO DO FEITO EM RELAÇÃO A QUATRO AUTORES, QUE
MERECE REFORMA, À LUZ DO ENTENDIMENTO FIRMADO PELO STF
NO RE 827.996/PR. MANIFESTAÇÃO DE INTERESSE PELA CEF
APÓS A PUBLICAÇÃO DA R. SENTENÇA. FEITO QUE DEVE
CONTINUAR TRAMITANDO NA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL ATÉ O
EXAURIMENTO DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. NECESSIDADE,
COM ISSO, DE ANÁLISE DOS DEMAIS PEDIDOS CONTIDOS NA
APELAÇÃO, QUE HAVIAM RESTADOS PREJUDICADOS NA
OPORTUNIDADE. LEGITIMIDADE ATIVA DOS AUTORES
RECONHECIDA. DANOS DECORRENTES DE ALEGADOS VÍCIOS DE
CONSTRUÇÃO. RESSARCIMENTO. POSSIBILIDADE. ABUSIVIDADE
DA CLÁUSULA EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE DA
SEGURADORA PELOS VÍCIOS CONSTRUTIVOS. ENTENDIMENTO
PROFLIGADO PELO E. STJ. PERÍCIA QUE CONSTATOU A
EXISTÊNCIA DE VÍCIOS NOS IMÓVEIS DOS REQUERENTES, EM
DECORRÊNCIA DA BAIXA QUALIDADE DOS MATERIAIS E/OU DA
EXECUÇÃO DA OBRA. INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA DEVIDA, DE
ACORDO COM O VALOR INDICADO PELO LAUDO PERICIAL.
SENTENÇA REFORMADA. INVERSÃO DOS ÔNUS SUCUMBENCIAIS.
PREQUESTIONAMENTO. MENÇÃO EXPRESSA A DISPOSITIVOS
LEGAIS. DESNECESSIDADE. EMBARGOS CONHECIDOS E
ACOLHIDOS, COM EFEITOS INFRINGENTES.

I - RELATÓRIO:

ADRIANA APARECIDA OLIVEIRA e OUTROS interpuseram Embargos


Declaratórios ao Acórdão que, ao mov. 1.22 dos autos de n.º 7938-
96.2008.8.16.0014, em juízo de retratação, reformou parcialmente o v.
Acórdão anterior, determinando o desmembramento e consequente remessa
à Justiça Federal em relação aos autores CLAUDECIR CARDOSO DE SÁ, JOSÉ
BELO DA SILVA, MÁRCIO NOVELI e VALDIR NOVELI, reconhecendo a
competência da Justiça Estadual para o exame da matéria em relação aos
autores ADRIANA APARECIDA OLIVEIRA, EDILSON FRANCISCO DE LIMA e
SEBASTIÃO GERÔNIMO LEOCÁDIO, mantendo, com relação a eles, os termos
da r. Sentença de improcedência. O Acórdão restou assim ementado:

APELAÇÃO. AÇÃO DE RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL


SECURITÁRIA. SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO. RECURSO
SUBMETIDO À SISTEMÁTICA DOS RECURSOS REPETITIVOS.
JUÍZO DE RETRATAÇÃO EXERCIDO. AUSÊNCIA DE INTERESSE DA
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL EM COMPOR A LIDE EM RELAÇÃO A
TRÊS AUTORES. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.
MANIFESTO INTERESSE DA EMPRESA PÚBLICA NOS CONTRATOS
DOS DEMAIS AUTORES. POSSIBILIDADE DE DESMEMBRAMENTO.
ARTIGO 1º-A, §8º, DA LEI Nº 12.409/11, COM REDAÇÃO
DADA PELA LEI Nº 13.000/14. APLICABILIDADE DA SÚMULA
150 DO STJ. AGRAVO RETIDO. AUSÊNCIA DE REITERAÇÃO.
RECURSO NÃO CONHECIDO. APELO. COBERTURA PARA VÍCIOS
CONSTRUTIVOS. CLÁUSULA RESTRITIVA NÃO REDIGIDA EM
DESTAQUE. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. RISCO DE DESMORONAMENTO NÃO COMPROVADO.
SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.
PREJUDICADA A TESE DE LEGITIMIDADE ATIVA. (10.ª Câm.
Cív., AC 7938-96.2008.8.16.0017, Rel.ª Des.ª Ângela
Khury, unânime, julg. em 11.05.17)

ADRIANA APARECIDA OLIVEIRA e OUTROS interpuseram Aclaratórios


sustentando a presença de omissão no Acórdão eis quê: i)todos os
autores estão vinculados à Apólice Pública do Ramo 66; ii)deve ser
considerado o Contrato originário dos embargantes, firmado em período
anterior a 1998, quando não se falava em outra Apólice além da
vinculada ao ramo público, 66, independentemente de atualmente
pertencerem a outro ramo; iii)"para se ter certeza a que ramo está
vinculado o contrato dos Autores é observado o contrato primitivo do
imóvel, o qual deve ser localizado não pelo nome ou CPF do
proprietário, mas através da quadra e lote do imóvel haja vista a
possibilidade de ter sido refinanciado por dezenas de vezes, podendo
migrar de ramo dezena de vezes"; iv)o interesse da CEF se limita aos
contratos celebrados entre 02.12.88 e 29.12.09, com a comprovação da
existência de Apólice pública (ramo 66), vinculada ao FCVS, e o
comprometimento do FCVS, com risco efetivo de exaurimento da reserva
do FESA, o que não ocorre; v) o Seguro Habitacional é um contrato de
adesão, imposto ao mutuário do SFH sem qualquer discussão sobre suas
cláusulas e condições, devendo-se aplicar interpretação mais favorável
à parte que adere ao contrato; vi)devida a cobertura para vícios
construtivos; vii)do laudo pericial é possível extrair que os vícios
construtivos são progressivos e podem levar os imóveis a
desmoronamento, mesmo que parcial.

Determinado o sobrestamento dos Embargos Declaratórios em epígrafe


pela Exm.ª Sr.ª Des.ª Ângela Khury, a fim de se aguardar o julgamento
do IRDR de n.º 5052192-11.2016.4.04.0000 (mov. 1.3 - TJ).

Redistribuídos os autos a esta Relatora, designada para atuar no feito


através da Portaria de n.º 16262/2022 (mov. 7.1 - TJ).

Levantando o sobrestamento e intimada a parte embargada (mov. 9.1 - TJ


), esta se manifestou ao mov. 12.1, pugnando pelo reconhecimento da
competência da Justiça Federal para processamento e julgamento do
feito.

Vieram os autos assim conclusos.

II – FUNDAMENTAÇÃO:

Presentes os pressupostos extrínsecos e intrínsecos de


admissibilidade, conhece-se dos Embargos de Declaração.

Inicialmente, cumpre relembrar que nos termos do artigo 1.022 do


Código de Processo Civil de 2015, os Embargos Declaratórios têm
cabimento quando a decisão embargada registra erro material,
obscuridade, omissão ou contradição, pois em não ocorrendo tais vícios
a consequência será a rejeição do recurso.

Nesse contexto, por obscuridade, entenda-se ausência de clareza com


prejuízos para a certeza jurídica. De sua vez, há omissão quando
deixam de ser apreciadas questões relevantes ao julgamento ou trazidas
à deliberação judicial. Já a contradição se manifesta quando, na
Sentença ou no Acórdão, são inseridas proposições inconciliáveis. Por
fim, o erro material tem a ver com a incorreção no modo de expressão
do conteúdo.

Pois bem.

O julgamento do IRDR n.º 5052192-11.2016.4.04.0000.0 restou


prejudicado, em razão do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal do
Tema de n.º 1.011, estabelecendo-se então parâmetros para a
delimitação da competência em demandas envolvendo o Sistema Financeiro
de Habitação, tendo sido fixadas na ocasião as seguintes teses:

1) "Considerando que, a partir da MP 513/2010 (que


originou a Lei 12.409/2011 e suas alterações
posteriores, MP633/2013 e Lei 13.000/2014), a CEF
passou a ser administradora do FCVS, é aplicável o
art. 1º da MP 513/2010 aos processos em trâmite na
data de sua entrada em vigor (26.11.2010):

1.1.) sem sentença de mérito (na fase de


conhecimento), devendo os autos ser remetidos à
Justiça Federal para análise do preenchimento dos
requisitos legais acerca do interesse da CEF ou da
União, caso haja provocação nesse sentido de quaisquer
das partes ou intervenientes e respeitado o § 4º do
art. 1º-A da Lei 12.409/2011; e

1.2) com sentença de mérito (na fase de conhecimento),


podendo a União e/ou a CEF intervir na causa na defesa
do FCVS, de forma espontânea ou provocada, no estágio
em que se encontre, em qualquer tempo e grau de
jurisdição, nos termos do parágrafo único do art. 5º
da Lei 9.469/1997, devendo o feito continuar
tramitando na Justiça Comum Estadual até o exaurimento
do cumprimento de sentença"; e

2) "Após 26.11.2010, é da Justiça Federal a


competência para o processamento e julgamento das
causas em que se discute contrato de seguro vinculado
à apólice pública, na qual a CEF atue em defesa do
FCVS, devendo haver o deslocamento do feito para
aquele ramo judiciário a partir do momento em que a
referida empresa pública federal ou a União, de forma
espontânea ou provocada, indique o interesse em
intervir na causa, observado o § 4º do art. 64 do CPC e
/ou o § 4º do art.1º-A da Lei 12.409/2011".

A respeito, frise-se a fundamentação exarada no voto do i. Ministro


Relator no RE 827.996/PR:

“(...) Portanto, desde a vigência da MP 513/2010,


restando alegada pela empresa pública federal,
espontânea ou provocadamente, em qualquer tempo e grau
de jurisdição, a necessidade de sua intervenção, o
feito deveria ser remetido à Justiça Federal, desde
que não tenha ocorrido a prolação de sentença de
mérito.

Sendo assim, nos termos da jurisprudência desta Corte,


a possibilidade de participação da CEF, apesar de não
ser cogente (que somente passou a sê-lo a partir da MP
633/2013), deveria ser objeto de análise pela Justiça
Federal, após manifestação, espontânea ou provocada,
daquela empresa pública no sentido de que possuiria
interesse de intervir no feito.

A MP 633/2013 (e a conversão com alterações realizadas


pela Lei 13.000/2014) apenas normatizou o procedimento
judicial que deveria ser seguido, em caso de pedido de
intervenção da CEF (ou da União), de forma espontânea
ou provocada, no exato sentido do entendimento desta
Corte (posterior e igualmente normatizado no art. 45
do CPC/15).

Dito de outro modo: se fosse seguida a jurisprudência


de décadas do STF, a simples alegação pela seguradora
de que haveria interesse do FCVS (durante a vigência
da MP 513/2010), após resposta positiva da CEF, já
seria motivo suficiente para se encaminhar o feito à
Justiça Federal, independentemente do grau de
jurisdição em que se encontrasse, por se tratar de
nulidade absoluta (Juízo competente).

Sendo assim, considero que o marco jurígeno que


interessa é a data da entrada em vigor da MP 513/2010
(DOU 26.11.2010) e da alegação de interesse da União e
/ou da CEF (de forma espontânea ou provocada por
quaisquer das partes), desde que ambas as situações
tenham ocorrido antes da sentença de mérito na fase de
conhecimento.

Caso o pedido de intervenção da União e/ou da CEF


(atuando na condição de representante do FCVS) venha a
ocorrer depois da prolação de sentença de mérito,
aplica-se o disposto no parágrafo único do art. 5º da
Lei 9.469/1997, devendo o feito continuar tramitando
na Justiça Comum Estadual até o exaurimento do
cumprimento de sentença.”

Desse modo, é o caso de se levantar o sobrestamento anteriormente


determinado, procedendo-se à análise do recurso.

O que se extrai da tese firmada e da fundamentação do voto, é que,


para os casos em trâmite no momento da entrada em vigor da MP 513
/2010, em que manifestado o interesse da CEF anteriormente à prolação
da Sentença, devem ser os autos remetidos à Justiça Federal.
No presente caso, a demanda foi ajuizada em 31.01.08 (mov. 1.1, dos
autos originários) e prolatada a Sentença em 14.03.11 (mov. 1.85, dos
autos originários). Todavia, a CEF somente veio a se manifestar no
feito indicando seu interesse em intervir na lide em 26.08.16 (mov.
1.11, dos autos n.º 0035319-40.2012.8.16.0017 ED).

Na ocasião a CEF informou possuir interesse em relação a CLAUDECIR


CARDOSO DE SÁ, JOSÉ BELO DA SILVA, MÁRCIO NOVELI e VALDIR NOVELI,
cujas Apólices estariam vinculadas ao ramo 66, mas não com relação aos
autores ADRIANA APARECIDA OLIVEIRA, EDILSON FRANCISCO DE LIMA e
SEBASTIÃO GERÔNIMO LEOCÁDIO.

Portanto, embora a CEF tenha se manifestado nos autos no sentido de


que esta possuiria interesse em intervir no feito com relação a alguns
dos autores, isso só ocorreu ulteriormente à publicação da r. Sentença
, de modo que, não obstante o interesse, deve o feito continuar a
tramitar na Justiça Comum até o exaurimento do Cumprimento de
Sentença, com relação a todos os autores, nos termos do entendimento
firmado no RE 827.996/PR.

Com a manutenção do feito na Justiça Estadual também com relação aos


autores CLAUDECIR CARDOSO DE SÁ, JOSÉ BELO DA SILVA, MÁRCIO NOVELI e
VALDIR NOVELI, impõe-se analisar os demais pontos tratados nos
recursos de Apelação interpostos pelas partes com relação a estes
autores, que haviam restado prejudicados com o reconhecimento da
competência da Justiça Federal, tendo em vista que o feito está
encontra maduro para julgamento.

Pois bem.

A r. Sentença havia julgado extinto o processo sem resolução de mérito


com relação a JOSÉ BELO DA SILVA, MÁRCIO NOVELI e VALDIR NOVELI, tendo
em vista sua ilegitimidade ativa, e improcedentes os pedidos dos
demais autores, por entender que “a deterioração do edifício que tenha
tido origem em defeitos na execução das obras de construção ou na
inadequação dos materiais empregados não se trata de sinistro e
envolve tão somente responsabilidade civil do construtor” (mov. 1.85).

Contra a decisão a parte autora apelou defendendo, em essência, i) que


com relação aos autores JOSÉ BELO DA SILVA, MÁRCIO NOVELI e VALDIR
NOVELI, há de ser reconhecida sua legitimidade ativa, eis que o seguro
é vinculado ao imóvel, tendo eles adquirido seus imóveis por meio de
Contratos de gaveta, sub-rogando-se nos direitos e obrigações dos
mutuários originários, estando, portanto, legitimados a pleitear a
indenização securitária; ii) os termos do Contrato devem ser
interpretados de acordo com os ditames do Código de Defesa do
Consumidor, devendo as cláusulas ser interpretadas de maneira mais
favorável aos consumidores, parte vulnerável da relação; iii) é devida
a cobertura securitária para os vícios de construção verificados em
seus imóveis.

Esta c. Câmara, ao exercer o ‘juízo de retratação’ (mov. 1.22),


reconheceu a competência da Justiça Federal para o julgamento em
relação aos autores CLAUDECIR CARDOSO DE SÁ, JOSÉ BELO DA SILVA,
MÁRCIO NOVELI e VALDIR NOVELI, deixando com isso de apreciar a questão
relativa à legitimidade ativa, e passando à análise das demais teses
do recurso tão somente em relação aos autores ADRIANA APARECIDA
OLIVEIRA, EDILSON FRANCISCO DE LIMA e SEBASTIÃO GERÔNIMO LEOCÁDIO.

Assim, passa-se à análise da (i)legitimidade ativa de JOSÉ BELO DA


SILVA, MÁRCIO NOVELI e VALDIR NOVELI.

Os documentos juntados pela parte autora indicam que os imóveis foram


todos alienados por meio de Contratos de Mútuo com Obrigações e
Hipoteca com financiamento originalmente perante a Caixa Econômica
Federal, a terceiros, que posteriormente revenderam os bens aos ora
recorrentes.

A matrícula do imóvel do requerente JOSÉ BELO DA SILVA e respectivo


Contrato Particular de Compra e Venda com a mutuária originária foram
juntados ao mov. 1.3, fls. 23-26; e do autor MÁRCIO NOVELI aos movs.
1.3, fl. 30 e 1.4, fls. 1-3; de VALDIR NOVELI ao mov. 1.4, fls. 16-
19). Ademais, juntaram faturas de luz datada da época do ajuizamento
da demanda (mov. 1.3, fl. 27, mov. 1.4, fls. 4 e 15), a indicar que
seguem residindo nos imóveis.

Assim, suficientemente demonstrado que detêm a posse e a propriedade


dos imóveis, ainda que por meio de documentos particulares e sem a
anuência do agente financeiro, assim sub-rogando-se nos direitos e
deveres relativos aos Contratos de mútuo firmados entre o agente
financeiro e os mutuários originários, possuindo legitimidade ativa
para demandar a cobertura securitária pelos vícios construtivos
constatados nos imóveis.

Nesse sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RESPONSABILIDADE SECURITÁRIA.


SEGURO HABITACIONAL. SFH. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA.
RECURSOS MANEJADOS PELA RÉ. I. AGRAVO RETIDO.
CUMPRIMENTO DO DISPOSTO NO ART. 523 DO CPC/1973.
COMPETÊNCIA. QUESTÃO JÁ DECIDIDA NA JUSTIÇA FEDERAL.
ILEGITIMIDADE PASSIVA. MATÉRIA NÃO ANALISADA PELA
DECISÃO AGRAVADA. RECURSO NÃO CONHECIDO NESTES PONTOS.
ILEGITIMIDADE ATIVA. CONTRATO DE GAVETA. IRRELEVÂNCIA.
INÉPCIA DA INICIAL. CUMPRIMENTO DOS REQUISITOS
PREVISTOS NOS ARTS. 282 E 283 DO CPC/1973, ENTÃO
VIGENTES. CARÊNCIA DE AÇÃO. QUITAÇÃO DO MÚTUO QUE NÃO
EXTINGUE A COBERTURA SECURITÁRIA. PRESCRIÇÃO.
INOCORRÊNCIA. DANOS DE NATUREZA CONTÍNUA. APLICAÇÃO DO
CDC. POSSIBILIDADE. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E,
NA EXTENSÃO, DESPROVIDO. II. APELAÇÃO CÍVEL.
ILEGITIMIDADE PASSIVA. APÓLICES PRIVADAS. INEXISTÊNCIA
DE “POOL” DE SEGURADORAS. INFORMAÇÃO DA COHAPAR DE QUE
A SUL AMÉRICA NÃO É A RESPONSÁVEL PELOS CONTRATOS DOS
AUTORES. ILEGITIMIDADE PASSIVA CONFIGURADA. EXTINÇÃO
DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. INVERSÃO DOS ÔNUS
SUCUMBENCIAIS. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (TJPR, 10.
ª Câm. Cív., AC 3190-41.2008.8.16.0075, Rel. Des.
Guilherme Freire de Barros Teixeira, unânime, julg. em
14.02.19 – grifou-se)

AÇÃO DE RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL SECURITÁRIA.


SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO. REITERAÇÃO. AGRAVO
RETIDO. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. CONTRATOS
FIRMADOS FORA DO SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO.
INÉPCIA DA INICIAL. INEXISTÊNCIA. ILEGITIMIDADE ATIVA
RECHAÇADA. FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL AFASTADA.
APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR AO CASO.
PRESCRIÇÃO. PRAZO ÂNUO. CONTRATOS ATIVOS QUANDO
PROPOSTA A AÇÃO. AGRAVO RETIDO CONHECIDO E
DESPROVIDO. TESES DE INCOMPETÊNCIA, INÉPCIA DA
INICIAL, APELAÇÃO. INAPLICABILIDADE DO CDC E
PRESCRIÇÃO NÃO CONHECIDAS. MATÉRIA CONSTANTE NO AGRAVO
RETIDO. FORMAÇÃO DE LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO COM O
AGENTE FINANCEIRO. INOVAÇÃO. APELO NÃO CONHECIDO NESTE
TÓPICO. MÉRITO. COBERTURA PARA VÍCIOS CONSTRUTIVOS.
RISCO DE DESMORONAMENTO NÃO COMPROVADO. AUSÊNCIA DE
COBERTURA PARA OS DANOS CONSTATADOS. SENTENÇA
REFORMADA. INVERSÃO DOS ÔNUS SUCUMBENCIAIS, OBSERVADA
A CONCESSÃO DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA AOS AUTORES.
APELO PARCIALMENTE CONHECIDO E, NA PARTE CONHECIDA,
PROVIDO. “(...) Ocorre que a jurisprudência desta c.
Décima Câmara Cível é pacífica em considerar que,
ainda que alguns dos autores não sejam eventualmente
os mutuários originais dos imóveis segurados, o que se
constata é que adquiriram a posse e a propriedade dos
bens, ainda que por documentos particulares, os quais
são suficientes para comprovar a transferência e
deveres relativos ao contrato de mútuo firmado entre o
agente financeiro e o mutuário originário. Desta
maneira, a despeito de a celebração do contrato ter
ocorrido sem a anuência do agente financeiro, o
cessionário, sub-rogado nos direitos e deveres do
cedente, possui legitimidade ativa para o ajuizamento
da ação indenizatória por obrigação securitária.”
(TJPR, 10.ª Câm. Cív., AC 4306-14.2008.8.16.0130, Rel.
ª Des.ª Ângela Khury, unânime, julg. em 07.03.19 –
grifou-se)

Assim, há de ser reconhecida a legitimidade ativa dos recorrentes.

Superada a questão relativa à legitimidade ativa, impõe-se analisar o


mérito da demanda com relação a eles, qual seja, quanto à existência
de dever de indenizar os vícios construtivos em seus imóveis.

A propósito, tem-se que os termos do Acórdão embargado, que manteve a


improcedência dos pedidos com relação aos autores ADRIANA APARECIDA
OLIVEIRA, EDILSON FRANCISCO DE LIMA e SEBASTIÃO GERONIMO LEOCADIO,
igual modo merece reforma.

A decisão restou fundamentada na ausência de responsabilidade da


seguradora, pois ausente cobertura securitária quando não verificado
desmoronamento total ou parcial ou ameaça de desmoronamento nos
imóveis dos autores.

Tal entendimento, no entanto, está em desacordo com o entendimento


consolidado pelo e. Superior Tribunal de Justiça, adotado por esta c.
Câmara, merecendo reforma o Acórdão.

Constam da Apólice de seguro habitacional para danos físicos, os


seguintes riscos cobertos e excluídos (mov. 1.4, fls. 29-30):
No entanto, o entendimento do e. Superior Tribunal de Justiça,
consagrado no REsp n.º 1.804.965/SP, de relatoria da i. Ministra Nancy
Andrighi, é no sentido de que devida a indenização securitária quando
verificados vícios construtivos, independentemente da constatação de
risco de desmoronamento iminente. Vejam-se os termos em que publicado
referido julgado:

RECURSO ESPECIAL. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚM. 211


/STJ. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. AUSÊNCIA.
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA. IMÓVEL ADQUIRIDO PELO
SFH. ADESÃO AO SEGURO HABITACIONAL OBRIGATÓRIO.
RESPONSABILIDADE DA SEGURADORA. VÍCIOS DE CONSTRUÇÃO
(VÍCIOS OCULTOS). BOA-FÉ OBJETIVA. FUNÇÃO SOCIAL DO
CONTRATO. JULGAMENTO: CPC/15.

1. Ação de indenização securitária proposta em 11/03


/2011, de que foi extraído o presente recurso
especial, interposto em 12/07/2018 e concluso ao
gabinete em 16/04/2019.

2. O propósito recursal é decidir se os prejuízos


resultantes de sinistros relacionados a vícios
estruturais de construção estão acobertados pelo
seguro habitacional obrigatório, vinculado a crédito
imobiliário concedido para aquisição de imóvel pelo
Sistema Financeiro da Habitação - SFH.

3. A ausência de decisão acerca dos dispositivos


legais indicados como violados impede o conhecimento
do recurso especial (súm. 211/STJ).

4. Devidamente analisadas e discutidas as questões de


mérito, e suficientemente fundamentado o acórdão
recorrido, de modo a esgotar a prestação
jurisdicional, não há falar em violação do art. 1.022
do CPC/15.

5. Em virtude da mutualidade ínsita ao contrato de


seguro, o risco coberto é previamente delimitado e,
por conseguinte, limitada é também a obrigação da
seguradora de indenizar; mas o exame dessa limitação
não pode perder de vista a própria causa do contrato
de seguro, que é a garantia do interesse legítimo do
segurado.

6. Assim como tem o segurado o dever de veracidade nas


declarações prestadas, a fim de possibilitar a correta
avaliação do risco pelo segurador, a boa-fé objetiva
impõe ao segurador, na fase pré-contratual, o dever,
dentre outros, de dar informações claras e objetivas
sobre o contrato, para permitir que o segurado
compreenda, com exatidão, o verdadeiro alcance da
garantia contratada, e, nas fases de execução e pós-
contratual, o dever de evitar subterfúgios para tentar
se eximir de sua responsabilidade com relação aos
riscos previamente determinados.
7. Esse dever de informação do segurador ganha maior
importância quando se trata de um contrato de adesão -
como, em regra, são os contratos de seguro -, pois se
trata de circunstância que, por si só, torna
vulnerável a posição do segurado.

8. A necessidade de se assegurar, na interpretação do


contrato, um padrão mínimo de qualidade do
consentimento do segurado, implica o reconhecimento da
abusividade formal das cláusulas que desrespeitem ou
comprometam a sua livre manifestação de vontade,
enquanto parte vulnerável.

9. No âmbito do SFH, o seguro habitacional ganha


conformação diferenciada, uma vez que integra a
política nacional de habitação, destinada a facilitar
a aquisição da casa própria, especialmente pelas
classes de menor renda da população, tratando-se,
pois, de contrato obrigatório que visa à proteção da
família e à salvaguarda do imóvel que garante o
respectivo financiamento imobiliário, resguardando,
assim, os recursos públicos direcionados à manutenção
do sistema.

10. A interpretação fundada na boa-fé objetiva,


contextualizada pela função socioeconômica que
desempenha o contrato de seguro habitacional
obrigatório vinculado ao SFH, leva a concluir que a
restrição de cobertura, no tocante aos riscos
indicados, deve ser compreendida como a exclusão da
responsabilidade da seguradora com relação aos riscos
que resultem de atos praticados pelo próprio segurado
ou do uso e desgaste natural e esperado do bem, tendo
como baliza a expectativa de vida útil do imóvel,
porque configuram a atuação de forças normais sobre o
prédio.

11. Os vícios estruturais de construção provocam, por


si mesmos, a atuação de forças anormais sobre a
edificação, na medida em que, se é fragilizado o seu
alicerce, qualquer esforço sobre ele - que seria
naturalmente suportado acaso a estrutura estivesse
íntegra - é potencializado, do ponto de vista das suas
consequências, porque apto a ocasionar danos não
esperados na situação de normalidade de fruição do bem.

12. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa


extensão, provido.

(REsp 1.804.965/SP, Rel.ª Min.ª Nancy Andrighi,


Segunda Seção, julg. em 27.05.2020, DJe 01.06.2020 –
grifou-se)

Em havendo discussão sobre a interpretação dos termos contratuais, as


cláusulas devem ser interpretadas de maneira mais favorável ao(à)(s)
consumidor(a)(es), consoante preconizam os artigos 46 e 47 do Diploma
Consumerista, in verbis:

“Art. 46. Os contratos que regulam as relações de


consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for
dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de
seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem
redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu
sentido e alcance.

Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas


de maneira mais favorável ao consumidor.”

Considerando-se a boa-fé objetiva e a função do Contrato de Seguro


Habitacional no âmbito do SFH, a interpretação contratual que melhor
observa os princípios protetivos albergados pelo Código de Defesa do
Consumidor, é a de que, diante da constatação de vícios construtivos,
a indenização é devida pela seguradora.

Convém consignar que, ao aderir ao Seguro Habitacional para aquisição


de casa própria pelo SFH, vinculado a empreendimentos de natureza
popular destinados a mutuários de baixa renda, o segurado espera
receber bem imóvel próprio e adequado ao uso a que se destina.

Nesse contexto, devem os segurados ser indenizados pelos prejuízos


suportados em decorrência de danos originados na vigência do Contrato,
que gerem os riscos cobertos pela seguradora, sendo este o caso dos
vícios construtivos.

Como se viu dos riscos excluídos de cobertura securitária, a Apólice


não cobre prejuízos que decorram do uso e desgaste natural do bem, ou
seja, que decorram exclusivamente do decurso do tempo e da utilização
normal da coisa.

A ocorrência de vícios construtivos, por outro lado, fragiliza a


estrutura do imóvel, provocando a atuação de forças anormais sobre o
bem, aptos a ocasionar danos não esperados na situação de normalidade
de fruição.

Nesse contexto, admitindo-se a existência de cláusula a afastar a


responsabilidade da seguradora em casos de vícios de construção, deve
esta ser reputada abusiva por colocar o(s) consumidor(es) em
desvantagem exagerada (art. 51, IV, CDC).

Sob tal perspectiva, o que se objetiva é investigar se o imóvel tem


vícios construtivos, devidamente comprovados.
No presente caso, o Laudo Pericial levado a efeito ao mov. 1.64,
constatou a existência de vícios de construção nos imóveis,
decorrentes da utilização de técnicas construtivas inadequadas e/ou
utilização de materiais de construção e acabamentos de má qualidade.
Veja-se:
Ao final, o Sr. Perito especificou o valor necessário à recuperação de
cada unidade habitacional, como também dos reparos já realizados pelos
mutuários (mov. 1.68, fl. 8):

Assim, deve a seguradora indenizar os segurados com base no orçamento


contido no Laudo Pericial, quantia que deverá ser corrigida
monetariamente pela média entre o INPC e o IGP-DI desde a data do
Laudo e acrescida de juros moratórios de 1% ao mês a partir da
citação, nos termos do artigo 405 do Código Civil[1].

É a jurisprudência do e. STJ:

AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO


ESPECIAL. SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO. COBERTURA
DE DANOS CAUSADOS POR VÍCIOS DE CONSTRUÇÃO. CLÁUSULA
QUE EXCLUI A RESPONSABILIDADE DA SEGURADORA POR VÍCIO
INTERNO. ABUSIVIDADE. DISPOSITIVOS LEGAIS
PREQUESTIONADOS. INAPLICABILIDADE DAS SÚMULAS 5 E 7
/STJ. NÃO INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 283 E 284/STF.
INEXISTÊNCIA DE DIREITO ADQUIRIDO À APLICAÇÃO DE
JURISPRUDÊNCIA VIGENTE À ÉPOCA DOS FATOS. NÃO
CABIMENTO. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. 1. A Segunda
Seção deste Tribunal Superior assentou que "a
interpretação fundada na boa-fé objetiva,
contextualizada pela função socioeconômica que
desempenha o contrato de seguro habitacional
obrigatório vinculado ao SFH, leva a concluir que a
restrição de cobertura, no tocante aos riscos
indicados, deve ser compreendida como a exclusão da
responsabilidade da seguradora com relação aos riscos
que resultem de atos praticados pelo próprio segurado
ou do uso e desgaste natural e esperado do bem, tendo
como baliza a expectativa de vida útil do imóvel,
porque configuram a atuação de forças normais sobre o
prédio" (REsp 1.804.965/SP, Rel. Ministra Nancy
Andrighi, Segunda Seção, julgado em 27/5/2020, DJe 1º/6
/2020). 2. Desse modo, mostra-se indevida a exclusão
da cobertura securitária pelos vícios construtivos do
imóvel. 3. Inexiste direito subjetivo à aplicação da
jurisprudência vigente à época da interposição do
recurso, estando o julgador vinculado apenas aos
precedentes existentes no momento da efetiva prestação
jurisdicional. Precedente. 4. Agravo interno
desprovido. (3.ª Turma, AgInt nos EDcl no REsp
1.898.785/SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julg.
em 08.06.21, DJe 10.06.21 – grifou-se)

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO


ESPECIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. SEGURO HABITACIONAL.
JULGAMENTO MONOCRÁTICO. CONFIRMAÇÃO PELO COLEGIADO.
VÍCIOS CONSTRUTIVOS. RESPONSABILIDADE DA SEGURADORA.
PRECEDENTES. DECISÃO MANTIDA. 1. A decisão monocrática
que dá provimento a recurso especial, com base em
jurisprudência consolidada desta Corte, encontra
previsão nos arts. 932, V, do CPC/2015 e 255, § 4º,
III, do RISTJ, não havendo falar, pois, em nulidade
por ofensa à nova sistemática do Código de Processo
Civil. Ademais, a interposição do agravo interno, e
seu consequente julgamento pelo órgão colegiado, sana
eventual nulidade. 2. A Segunda Seção do Superior
Tribunal de Justiça firmou o entendimento de que "a
interpretação fundada na boa-fé objetiva,
contextualizada pela função socioeconômica que
desempenha o contrato de seguro habitacional
obrigatório vinculado ao SFH, leva a concluir que a
restrição de cobertura, no tocante aos riscos
indicados, deve ser compreendida como a exclusão da
responsabilidade da seguradora com relação aos riscos
que resultem de atos praticados pelo próprio segurado
ou do uso e desgaste natural e esperado do bem, tendo
como baliza a expectativa de vida útil do imóvel,
porque configuram a atuação de forças normais sobre o
prédio" (REsp 1.804.965/SP, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/05/2020, DJe de
1º/06/2020). 3. Agravo interno a que se nega
provimento. (4.ª Turma, AgInt no REsp 1.862.698/SP,
Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julg. em 29.03.21,
DJe 06.04.21 – grifou-se)

E nesse sentido julgados desta c. Câmara:

SEGURO HABITACIONAL. DETERMINAÇÃO DO SUPERIOR TRIBUNAL


DE JUSTIÇA PARA NOVO JULGAMENTO. COBERTURA PARA VÍCIOS
CONSTRUTIVOS. ABUSIVIDADE DA CLÁUSULA QUE EXCLUI ESSE
RISCO. INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA DEVIDA COM BASE NO
ORÇAMENTO APURADO EM PERÍCIA. DEMANDA PROCEDENTE.
SENTENÇA REFORMADA. APELAÇÃO PROVIDA. (AC 0000326-
89.2008.8.16.0120, Rel. Des. Albino Jacomel Guérios,
unânime, julg. em 24.05.21 – grifou-se)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RESPONSABILIDADE SECURITÁRIA.


SEGURO HABITACIONAL. SFH. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA.
RECURSO INTERPOSTO PELOS AUTORES. JULGAMENTO ANTERIOR
DESTE COLEGIADO REFORMADO PELO STJ, QUE DETERMINOU A
READEQUAÇÃO À ORIENTAÇÃO ATUAL DAQUELA CORTE NO QUE
TANGE AO DEVER DE COBERTURA. COBERTURA SECURITÁRIA.
VÍCIOS CONSTRUTIVOS. DEVER DE REPARAR. IMPOSSIBILIDADE
DE RESTRIÇÃO DO RISCO COBERTO, CONFORME ENTENDIMENTO
DO STJ. INDENIZAÇÃO COM BASE NOS VALORES APURADOS NO
LAUDO PERICIAL. MULTA DECENDIAL. PEDIDO NÃO FORMULADO
EM SEDE RECURSAL. AUSÊNCIA, DE QUALQUER MODO, DE
PREVISÃO NA APÓLICE. REFORMA PARCIAL DA SENTENÇA.
REDISTRIBUIÇÃO DOS ÔNUS SUCUMBENCIAIS. FIXAÇÃO DE
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS, INCLUSIVE RECURSAIS. APELAÇÃO
CÍVEL CONHECIDA E PROVIDA. (AC 0000503-
97.2008.8.16.0073, Rel. Des. Guilherme Freire de
Barros Teixeira, unânime, julg. em 24.05.21 – grifou-
se)

Embora a parte autora tenha na Inicial requerido a condenação da


seguradora ao pagamento de multa decendial (mov. 1.1), não reiterou o
pedido em seu Apelo ou em seus Aclaratórios, tecendo considerações
apenas quanto à indenização securitária pelos vícios construtivos,
obstando a apreciação do pedido neste momento.

Assim, impõe-se a reforma da Sentença e do Acórdão quanto ao ponto,


julgando-se parcialmente procedentes os pedidos iniciais com relação a
todos os autores.

A parcial procedência dos pedidos iniciais configura sucumbência


recíproca, ensejando a distribuição dos ônus sucumbenciais, nos termos
do art. 86 do CPC, na proporção de 80% à requerida, cabendo os 20%
restantes à parte autora, ora fixando-se os honorários advocatícios em
12% (doze por cento) sobre o valor da condenação, observada a
proporção supra, considerado o trabalho realizado perante a Instância
recursal, inclusive, e ressalvada a gratuidade judiciária deferida aos
autores, aos fins do art. 98, § 3.º do CPC.

Demais disso, o novo Código de Processo Civil consolidou a


possibilidade e a suficiência do prequestionamento implícito/ficto,
para acesso às Instâncias Superiores, no artigo 1.025 citado no
precedente supra, in verbis: “Consideram-se incluídos no acórdão os
elementos que o embargante suscitou, para fins de pré-questionamento,
ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados,
caso o tribunal superior considere existentes erro, omissão,
contradição ou obscuridade”.

Segundo o escólio de Daniel A. A. Neves[2]:

“Há divergência nos tribunais superiores à


configuração do prequestionamento para a admissão do
recurso especial e extraordinário. (...)

O entendimento consagrado no Superior Tribunal de


Justiça foi rejeitado pelo Novo Código de Processo,
que preferiu a solução mais pragmática adotada pelo
entendimento sumulado do Supremo Tribunal Federal
sobre o tema. No art. 1.025 está previsto que a mera
interposição de embargos de declaração é o suficiente
para prequestionar a matéria.”

Assim sendo, eventual ausência, na decisão embargada, de menção


expressa a dispositivo legal relacionado pelos embargantes, não deverá
implicar a rejeição de recurso dirigido ao Tribunal Superior.

Ante o exposto, o voto é no sentido de se conhecer e dar provimento


aos Aclaratórios, com efeitos infringentes, reformando-se o Acórdão
para a determinar o prosseguimento do feito, com relação a todos os
autores, na Justiça Estadual, e, no mérito, para reconhecer a
legitimidade ativa dos autores JOSÉ BELO DA SILVA, MÁRCIO NOVELI e
VALDIR NOVELI, e para se reconhecer o direito de todos os autores ao
recebimento de indenização securitária pelos vícios construtivos
constatados nos imóveis, nos termos da fundamentação supra.

III - DISPOSITIVO:

Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 10.ª Câmara Cível do


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em julgar
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS o recurso de CLAUDECIR CARDOSO DE SÁ,
por unanimidade de votos, em julgar EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS o
recurso de ADRIANA APARECIDA OLIVEIRA, por unanimidade de votos, em
julgar EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS o recurso de VALDIR NOVELI,
por unanimidade de votos, em julgar EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS o
recurso de JOSÉ BELO DA SILVA, por unanimidade de votos, em julgar
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS o recurso de MÁRCIO NOVELI, por
unanimidade de votos, em julgar EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS o
recurso de SEBASTIÃO GERÔNIMO LEOCÁDIO, por unanimidade de votos, em
julgar EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS o recurso de EDILSON FRANCISCO
DE LIMA.

O julgamento foi presidido pelo Desembargador Marco Antonio


Antoniassi, sem voto, e dele participaram Desembargadora Substituta
Elizabeth De Fátima Nogueira (relatora), Desembargador Substituto
Alexandre Kozechen e Desembargador Guilherme Freire De Barros Teixeira.

Curitiba, 11 de dezembro de 2023.

Elizabeth de Fátima Nogueira

Desembargadora Substituta

[1] Art. 405. Contam-se os juros de mora desde a citação inicial.

[2]NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil - Lei 13.105
/2015. São Paulo: Método, 2016, p. 648.

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