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1.RELATÓRIO
O feito foi incluído em pauta para sessão virtual (vide seq. 79-TJ), mas,
diante do interesse na realização de sustentação oral e das limitações impostas pela
pandemia da COVID-19, determinou-se a permanência dos autos em Secretaria até
a realização de oportuna sessão presencial (vide seq. 101.1-TJ).
2.FUNDAMENTAÇÃO
É por essa razão — e não por suposta omissão — que o juízo de origem,
na sentença de seq. 282, sequer se debruçou sobre a questão, pois lhe era vedado
decidir a lide fora dos limites propostos. Trata-se da regra da congruência
(CPC/1973, arts. 128 e 460, caput, e CPC/2015, arts. 141 e 492, caput): se a parte
autora não alegou a nulidade do testamento por violação ao art. 1.630 do Código
Civil de 1916, não poderia o magistrado monocrático analisar eventual violação e,
muito menos, assim se posicionar (nulidade por violação a tal dispositivo).
Dessa forma, mesmo que se admita, por hipótese, que a falta de citação
do testamenteiro implica a nulidade do processo, tem-se que a ausência de sua
citação ou chamamento ao feito decorre, majoritariamente, de omissão da própria
parte autora, que não pode, após dar causa à (admitida por hipótese) nulidade do
processo, requerer declaração nesse sentido — vale, aqui, o brocardo latino nemo
auditur propriam turpitudinem allegans (ninguém pode se beneficiar da própria
torpeza).
Significa dizer, portanto, que competia à parte autora, nos termos do art.
373, inc. I, do CPC (então art. 333, inc. I, do CPC/1973) fazer prova cabal de que,
além de os falecidos não estarem gozando de plena faculdade mental para testar, a
lavratura do testamento não observou as formalidades exigidas em lei.
Ao depor em juízo (vide seq. 136.14), o réu Neri Hoffmann afirmou que
seus moravam sozinhos; que o pai sofreu um derrame e que a mãe era idosa, razão
pela qual havia uma mulher para ajudar a cuidar deles; que a ajuda não era nada de
anormal, ela fazia almoço, dava banho; que seu pai, após o derrame, ficou muito
fisicamente lesado; que trabalhou toda a vida com seu pai; que o pai sempre
falava que para “garantir” a parte dele, um pouco mais, iria fazer aquilo
(testamento); que o pai, ainda em vida, destinou coisas para os irmãos, mas que o
depoente nunca pegou nada (tirando pouca coisa de uma firma em 1969); que os
irmãos gastaram tudo e agora “vêm em cima”, que já estava combinado ele ficar com
um pouco mais; que a ideia dos testamentos partiu dos pais; que perguntou para
o Sr. Mário (advogado) se poderia ser o testamenteiro; que resolveram tudo num dia
no cartório; que não estava junto no cartório, mas que pai não tinha nada de
anormal; que nunca soube de qualquer questionamento pelos pais sobre o teor
anormal; que nunca soube de qualquer questionamento pelos pais sobre o teor
dos testamentos; que o pai tinha pressão alta; que conhece os médicos que
tratavam dele; que o derrame ocorreu 15, 16 anos antes de falecer; que o depoente
continuou fazendo as coisas na fazenda como sempre fez, trocando ideais com seu
pai mesmo apôs o derrame; que acha que o pai sofreu só um AVC; que o derrame
não afetou o raciocínio do pai, só havia alguns esquecimentos de fala; que
sempre trabalharam juntos; que depois que adoeceu, o pai foi pouco à fazenda; que
não lembra se foi quem entregou a minuta para o cartório, nem se recebeu a minuta
do advogado; que a assinatura de seu pai, no testamento, estava diferente
porque foi depois do derrame, tinha dificuldade em escrever; que levou os pais
até o cartório; que foi ele e o pai quem escolheram as testemunhas, mas que não
lembra se foi quem convidou todas; que as testemunhas do seu pai eram vizinhos,
conhecidos da família; que os irmãos moravam em outros locais, apenas ele morava
perto do pai; que trabalhavam juntos desde 1969; que a Sra. Leonida morava do
lado, mas dormia lá nos últimos tempos; que o Sr. Ademar também ajudava; que, no
dia anterior à lavratura do testamento, esteve com os pais; que foi opção dos pais
em fazer os dois testamentos no mesmo momento; e que as testemunhas eram
conhecidos por todos.
O réu Neri Hoffmann (seq. 136.14), o tabelião Darcy Ioris (seq. 136.16)
e o informante Ademar Luiz Zequello (seq. 136.15) afirmam que todas as cinco
testemunhas estavam presentes, mas as demais (Alfredo Schulz, Elemar Stibbe,
Altair João Pandini Otimar Alberto Kurtz) não conseguiram afirmar em juízo que se
recordavam da presença de todas as pessoas convidadas para testemunhar o ato (
vide seqs. 136.17, 136.19 e 136.20). Assim, bem afirma o juízo a quo que “não
restou cabalmente esclarecido o número de testemunhas que se encontravam no
ato, mesmo que conste a assinatura de todas no documento público”.
*****
Explica-se.
Este patrimônio que lhe foi deixado, ainda ilíquido, deverá ser apurado
em sede de liquidação de sentença (art. 85, § 4º, inc. II, por analogia), devendo 15%
do quantum encontrado equivaler aos honorários advocatícios de sucumbência
devidos ao patrono do réu.[4]
2.4 CONCLUSÃO
07 de outubro de 2020
RELATOR
[1] Prolatada por Sérgio Laurindo Filho e mantida em sede de Embargos de Declaração (vide
seq. 306).
[2] Contra este acórdão de seq. 37-TJ dos Embargos de Declaração 1, a terceira apelante (Neri
Hoffmann) opôs Embargos de Declaração (2), os quais foram rejeitados, e os segundos
apelantes (Celso Hoffmann e Valter Hoffmann) também opuseram aclaratórios (3), os quais
foram acolhidos para saneamento de pequeno vício.