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Ao Juízo da 1ª Vara de Execuções Penais da Comarca de Santa Luzia/ MG.

Autos nº 00732296720168301130

MARIANO DOS REIS, já qualificado, vem, por seu advogado infra-assinado,


perante esse juizo, interpor, com fulcro no art. 197 da Lei 7210/84, RECURSO DE
AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL, cujas razões seguem inclusas.

Na oportunidade, requer a Vossa Excelência que se digne, nos termos do artigo


589 do CPP, proceder à reforma da decisão constante do evento 85, para que seja
determinada a retificação do atestado de pena do agravante, nos termos das razões
anexas, ou, se não, se digne a enviar o presente recurso ao egrégio Tribunal de Justiça
de Minas Gerais.

Pede deferimento.

Belo Horizonte, 30 de junho de 2019.

JOAQUIM MÁRCIO DE CASTRO ALMEIDA


OAB/MG 102157
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Excelentíssimo Senhor Presidente do egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

Razões de Recurso

Agravo em Execução Penal.

Autos de origem: 00732296720168130301

Eminentes Desembargadores,

Ao proceder à unificação das penas impostas ao recuperando, o juízo da


Execução Penal da Comarca de Santa Luzia fixou o quantum de 16 (dezesseis) anos, 07
(sete) meses e 28 (vinte e oito) dias de reclusão. (fls. 147).

Não obstante, consta do AP que caberia ao recuperando cumprir a reprimenda de


17 (dezessete) anos de reclusão, em total descompasso com a aludida decisão de fl.147.
(documento digitalizado 1.15).

Por isso mesmo, é que a defesa requereu a retificação do atestado de pena do


agravante para que fosse ajustada a pena unificada em 16 (dezesseis) anos, 07 (sete)
meses e 28 (vinte e oito) dias de reclusão, conforme decisão exarada às fls. 147.
(documento digitalizado 1.15).

O MP insurgiu-se contra o pleito formulado, aduzindo em síntese (ev. 82.1) que


a resultante da unificação das penas em 16 (dezesseis) anos, 07 (sete) meses e 28 (vinte
e oito) dias de reclusão constituía apenas erro material, pelo que, deveria ser mantido
inalterado o atestado de pena.

À vista do parecer do MP, o juízo da execução sustentou o argumento no sentido


de que assistia razão ao MP, sem, contudo, mencionar a tese levantada pelo MP
pertinente à existência de erro material na decisão de folhas 147. (doc. 1.15).
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Daí porque a defesa interpôs embargos de declaração, requerendo ao juízo que


aclarasse a decisão no tocante ao erro material ventilado pelo Ministério Público.

O juízo acolheu os embargos (ev. 97), sem, contudo, conferir-lhe efeitos


modificativos, ao argumento de que a reprimenda resultante da unificação, consistente
em 16 (dezesseis) anos, 07 (sete) meses e 28 (vinte e oito) dias de reclusão, diria
respeito à pena remanescente, e não ao total da pena imposta.

Porém, esta ressalva não fora feita na decisão de seq. 1.15, valendo, portanto, a
hipótese de que o quantum de 16 (dezesseis) anos, 07 (sete) meses e 28 (vinte e oito)
dias de reclusão referir-se-ia à pena total imposta ao agravante, mesmo porque, não se
verifica naquela decisão nenhuma menção à detração penal, tampouco à pena dita
“remanescente”.

De mais a mais, ainda que se entenda que se cuida de erro material, como queria
o MP, a decisão de seq. 1.15 já transitara em julgado, não comportando nenhuma
modificação. Aliás, o que se pretendeu nos embargos de declaração foi o enfrentamento
da tese suscitada pelo MP no sentido de que houve erro material. Mas a decisão judicial
foi além, modificando a decisão de seq. 1.15, frise-se, já transitada em julgado,
contrariando, destarte, o entendimento sedimentado no Superior Tribunal de Justiça:

HABEAS CORPUS. LATROCÍNIO. SENTENÇA


CONDENATÓRIA COM TRÂNSITO EM JULGADO.
"ERRO MATERIAL" EM RELAÇÃO AO REGIME
PRISIONAL RECONHECIDO PELO JUÍZO DA
EXECUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. REFORMATIO IN
PEJUS. INDEVIDA REVISÃO CRIMINAL PRO
SOCIETATE. ORDEM CONCEDIDA.

1. Se é certo que a fixação do regime inicial aberto para uma


condenação por latrocínio (art. 157, § 3º, do Código Penal) com
reprimenda de 18 (dezoito) anos de reclusão, caracteriza
evidente "erro material", não menos certo que, no caso concreto,
houve o trânsito em julgado da sentença sem que o órgão
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acusador opusesse embargos de declaração ou interpusesse


recurso de apelação. Dormientibus non succurrit jus.

2. Tratando-se, com se trata, de Direito Penal adjetivo não se


pode falar em correção ex officio de "erro material" máxime
contra o réu. Tal instituto é próprio do Direito Processual Civil
(art. 463, I, do CPC).

3. Na esfera penal prevalece o princípio do non reformatio in


pejus que impede o agravamento da situação do réu sem
uma manifestação formal e tempestiva da acusação nesse
sentido. Inteligência da Súmula 160/STF.

4. 'Trata-se da cabal confirmação do entendimento de que, neste,


como noutros temas, o processo penal não é estruturado por
princípios comuns ao processo civil, senão por regras próprias,
em razão da prevalência dos interesses públicos que constituem
a substância e o objeto permanente do conflito jurídico típico
que se presta a decidir e, sobretudo, por força do valor supremo
do jus libertatis, do qual o processo é concebido e disciplinado
como instrumento de tutela'.(STF, HC 83.545/SP, Rel. Ministro
CESAR PELUSO, Primeira Turma, DJ 3.6.2006)

5. Nesse viés, seja por nulidade absoluta, seja por "erro


material", não se pode agravar (quantitativamente ou
qualitativamente) a situação do réu sem recurso próprio do
acusador, sob pena de configurar indevida revisão criminal pro
societate. Precedentes do STJ.

6. Ordem concedida para, reconhecendo o trânsito em julgado


da condenação, manter o regime inicial aberto, como fixado na
sentença." (HC 176.320/AL, Rel. Ministro NAPOLEÃO
NUNES MAIA FILHO, Rel. p/ Acórdão Ministro JORGE
MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 17/05/2011, DJe
17/09/2012). (sem negrito no original).
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Sendo assim, requer a esse ínclito Tribunal que se digne a determinar a


RETIFICAÇÃO DO ATESTADO DE PENA, no sentido de que seja aposta a pena
total em 16 (dezesseis) anos, 07 (sete) meses e 28 (vinte e oito) dias de reclusão,
conforme decisão exarada às fls. 147. (documento digitalizado 1.15).

Pede deferimento.

Belo Horizonte, 30 de junho de 2019.

JOAQUIM MÁRCIO DE CASTRO ALMEIDA


OAB/MG 102157

Seguem anexos os seguintes documentos:

1) Substabelecimento.

2) Decisão seq. 1.15

3) Requerimento de modificação do atestado de pena. Seq. 79.1

4) Parecer do MP. Seq. 82.1

5) Decisão denegatória do pedido de retificação do AP. Seq. 85

5) Embargos de declaração . Seq. 90.1

6) Decisão judicial pertinente aos embargos de declaração. Seq. 97.

7) Atestado de pena.

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