Você está na página 1de 3

À 5ª CÂMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS

GERAIS

Autos n.: 1340160-43.2009.8.13.0480.

Renato Silva, qualificado nos autos em epígrafe, por meio de seu advogado
infra assinado, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, opor
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO acordão proferido, nos ditames do art. 382, do Código
de Processo Penal.
Em que pese o notório conhecimento jurídico das Vossas Excelências, o
acordão de fls…, deve ser reformado pelas razões de fato e de direito a seguir, porquanto
há contradição.

I- DOS FATOS

O embargante foi condenado pelo juízo da 2ª Vara Criminal de Patos de


Minas/MG, em meados do ano de 2019, pelo cometimento do delito previsto no art. 158,
§3º, do Código Penal, c/c art. 14 da Lei n.º 10.826, a uma pena definitiva de 8 anos de
reclusão e 60 (sessenta) dias multa, sendo fixado o regime inicial fechado.
Em sede de apelação proferida do bojo dos autos nº 1340160-
43.2009.8.13.0480, que, de forma unânime, resolveu dar parcial provimento ao recurso
reconhecendo a absorção do crime de porte de arma de fogo pelo crime de extorsão, uma
vez que aquele teve por fim exclusivo de garantir o sucesso desse, encontrado-se dentro
da mesma linha de ação do crime visado pelo recorrente.
No entanto, o pedido aviado pela defesa foi parcialmente reconhecido, uma
vez que o pedido de modificação do regime prisional não foi acolhido, eis que o crime
previsto no artigo 213 do Código Penal, é hediondo, impondo-se, pois o regime fechado.
Assim, reconheceu-se a absorção do delito do art. 14 da Lei nº 10.826/03
pelo artigo 158, § 3º, do CP, fixando-se a pena definitiva em 06 anos de reclusão e 50
dias-multa.

II – DO DIREITO

No caso em apreço, o embargante praticou o crime do art. 158, §3º, do


Código Penal, conforme ficou reconhecido no acórdão. Diante disso, o Egrégio Tribunal
fixou a pena em 6 anos de reclusão e 50 dias multa. No entanto, ao enfrentar o pedido de
modificação do regime prisional, o Tribunal se contradisse, uma vez que afirmou no
acordão que o embargante praticou o crime de estupro e não o crime de extorsão
qualificado:
“Prosseguindo, o pedido de modificação do regime prisional não merece ser
acolhido, eis que o crime previsto no artigo 213 do Código Penal, pelo qual o
apelante restou condenado, é hediondo, impondo-se, pois o regime fechado.”

Outrossim, levando em consideração a pena aplicada à espécie, qual seja,


seis anos, conforme disposto no art. 33, do Código Penal, o regime inicial para
cumprimento de pena seria o regime semi aberto, uma vez que ao embargante foi
aplicado pena de até oito anos.
Nada obstante a Lei de Crimes Hediondo determinar o regime inicial de
cumprimento de pena fechado para crimes hediondos, o Superior Tribunal de Justiça
entende que não regime inicial deverá ser o estabelecido em razão da sanção imposta,
observando a Súmula 440, do STJ, 718 do STF e 719 do STF.
Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça:
AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL.
CRIME DE TORTURA. PENA ESTABELECIDA INFERIOR A 4 (QUATRO) ANOS
DE RECLUSÃO. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS FAVORÁVEIS. PRIMARIEDADE.
IMPOSIÇÃO DO REGIME MAIS GRAVOSO. POSSIBILIDADE. EXISTÊNCIA DE
CIRCUNSTÂNCIAS CONCRETAS QUE DENOTAM GRAVIDADE DO CRIME.
FIXAÇÃO DO REGIME INICIAL SEMIABERTO. RECURSO DESPROVIDO. 1. O
Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao julgar o HC n.111.840/ES, afastou a
obrigatoriedade do regime inicial fechado para os condenados por crimes
hediondos e equiparados, devendo-se observar, também nesses crimes, o
disposto no art. 33, c.c. o art. 59, ambos do Código Penal, e as Súmulas n.
440/STJ, 718/STF e 719/STF. 2. Na hipótese, apesar de fixada a pena-base no
mínimo legal, a Corte de origem manteve o regime inicial fechado com base em
circunstâncias concretas do crime. Contudo, tratando-se de Réus primários, com
pena definitiva inferior a 4 (quatro) anos, revela-se adequada a fixação do regime
inicial semiaberto. 3. Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC 664.171/SP, Rel.
Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 14/09/2021, DJe 27/09/2021).

Diante do exposto, o acórdão proferido pela 5ª Câmara do Tribunal de


Justiça foi contraditório. Primeiro, porque aplicou o regime de cumprimento de pena com
base no delito do art. 213, do CP, em vez do crime de extorsão qualificado. Segundo,
porque determinou o regime de cumprimento de pena fechado com base apenas na Lei
de Crimes Hediondos.
Assim, deve ser aplicado o regime inicial de cumprimento de pena semi
aberto, tendo em vista a sanção de seis anos de reclusão imposta pela prática do crime
de extorsão qualificado, que, apesar de ser hediondo, não implica na fixação de regime
fechado para início do cumprimento da pena.

III – DOS PEDIDOS


Portanto, requer:
a) O conhecimento destes embargos de declaração, uma vez que
preenchem os requisitos do art. 382, do CPP;
b) O provimento destes embargos, tendo em vista a contradição constante
no acórdão condenatório;
c) A intimação do Parquet;
d) Fixação do regime inicial de cumprimento de pena regime semi aberto,
tendo em vista a pena aplicada pela cometimento do crime de extorsão qualificado e o
disposto no art. 33, § 2º, “b”, do CP.

Ficam, desde esta fase, prequestionadas as matérias aqui trazidas para


permissibilidade de interposição de recurso se necessário.

Neste termos, pede deferimento.

Local..., data…
Juliê Edrielly Nunes Fonseca
OAB/MG 19000376

Você também pode gostar