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AgRg no HABEAS CORPUS Nº 777795 - SC (2022/0328340-0)

RELATOR : MINISTRO RIBEIRO DANTAS


AGRAVANTE : VILSON SCHLICHTING (PRESO)
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA

EMENTA

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. FEMINICÍDIO


QUALIFICADO TENTADO. AMEAÇA. DOSIMETRIA. PENA BASE ACIMA
DO MÍNIMO LEGAL. MAUS ANTECEDENTES. PERÍODO DEPURADOR.
IRRELEVÂNCIA. TEORIA DO DIREITO AO ESQUECIMENTO. I
NAPLICABILIDADE. CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL CONFIGURADA.
AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. A individualização da pena é submetida aos elementos de convicção judiciais
acerca das circunstâncias do crime, cabendo às Cortes Superiores apenas o
controle da legalidade e da constitucionalidade dos critérios empregados, a fim de
evitar eventuais arbitrariedades. Assim, salvo flagrante ilegalidade, o reexame das
circunstâncias judiciais e os critérios concretos de individualização da pena
mostram-se inadequados à estreita via do habeas corpus, por exigirem
revolvimento probatório.
2. Condenações anteriores ao prazo depurador de 5 anos, malgrado não possam
ser valoradas na segunda fase da dosimetria como reincidência, constituem
motivação idônea para a exasperação da pena-base a título de maus antecedentes.
3. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 593.818/SC, sob o rito da
Repercussão Geral, por maioria de votos, firmou a tese de que “Não se aplica para
o reconhecimento dos maus antecedentes o prazo quinquenal de prescrição da
reincidência, previsto no art. 64, I, do Código Penal" (RE 593.818/SC, Rel.
Ministro Roberto Barroso, Tribunal Pleno – Sessão Virtual, julgado em
18/8/2020).
4. A teoria do direito ao esquecimento foi reconhecida em alguns julgados desta
Corte para afastar a configuração dos maus antecedentes quando as condenações
utilizadas eram muito antigas, com penas extintas há mais de 10 anos.
5. A avaliação dos antecedentes deve ser feita com observância aos princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade, levando-se em consideração o lapso
temporal transcorrido entre a extinção da pena anteriormente imposta e a prática
do novo delito. Portanto, não há ilegalidade na consideração da condenação
anterior do paciente para justificar a majoração da pena base, por estarem
devidamente configurados seus maus antecedentes, devendo ser ressaltado que
entre a extinção da pena da condenação anterior e o delito atual passaram cerca de
7 anos.
6. Agravo regimental não provido.
ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam os
Ministros da QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, em sessão virtual de
11/04/2023 a 17/04/2023, por unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto do
Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Reynaldo Soares da Fonseca, Joel Ilan Paciornik, Messod Azulay
Neto e João Batista Moreira (Desembargador convocado do TRF1) votaram com o Sr. Ministro
Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Joel Ilan Paciornik.

Brasília, 17 de abril de 2023.

Ministro Ribeiro Dantas


Relator
AgRg no HABEAS CORPUS Nº 777795 - SC (2022/0328340-0)

RELATOR : MINISTRO RIBEIRO DANTAS


AGRAVANTE : VILSON SCHLICHTING (PRESO)
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA

EMENTA

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. FEMINICÍDIO


QUALIFICADO TENTADO. AMEAÇA. DOSIMETRIA. PENA BASE ACIMA
DO MÍNIMO LEGAL. MAUS ANTECEDENTES. PERÍODO DEPURADOR.
IRRELEVÂNCIA. TEORIA DO DIREITO AO ESQUECIMENTO. I
NAPLICABILIDADE. CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL CONFIGURADA.
AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. A individualização da pena é submetida aos elementos de convicção judiciais
acerca das circunstâncias do crime, cabendo às Cortes Superiores apenas o
controle da legalidade e da constitucionalidade dos critérios empregados, a fim de
evitar eventuais arbitrariedades. Assim, salvo flagrante ilegalidade, o reexame das
circunstâncias judiciais e os critérios concretos de individualização da pena
mostram-se inadequados à estreita via do habeas corpus, por exigirem
revolvimento probatório.
2. Condenações anteriores ao prazo depurador de 5 anos, malgrado não possam
ser valoradas na segunda fase da dosimetria como reincidência, constituem
motivação idônea para a exasperação da pena-base a título de maus antecedentes.
3. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 593.818/SC, sob o rito da
Repercussão Geral, por maioria de votos, firmou a tese de que “Não se aplica para
o reconhecimento dos maus antecedentes o prazo quinquenal de prescrição da
reincidência, previsto no art. 64, I, do Código Penal" (RE 593.818/SC, Rel.
Ministro Roberto Barroso, Tribunal Pleno – Sessão Virtual, julgado em
18/8/2020).
4. A teoria do direito ao esquecimento foi reconhecida em alguns julgados desta
Corte para afastar a configuração dos maus antecedentes quando as condenações
utilizadas eram muito antigas, com penas extintas há mais de 10 anos.
5. A avaliação dos antecedentes deve ser feita com observância aos princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade, levando-se em consideração o lapso
temporal transcorrido entre a extinção da pena anteriormente imposta e a prática
do novo delito. Portanto, não há ilegalidade na consideração da condenação
anterior do paciente para justificar a majoração da pena base, por estarem
devidamente configurados seus maus antecedentes, devendo ser ressaltado que
entre a extinção da pena da condenação anterior e o delito atual passaram cerca de
7 anos.
6. Agravo regimental não provido.
RELATÓRIO

Trata-se de agravo regimental contra decisão que não conheceu do habeas corpus
anteriormente impetrado em favor de VILSON SCHLICHTING (e-STJ, fls. 1546-1551).
Neste recurso, a defesa reitera os argumentos expostos na inicial, ressaltando que,
além de a extinção da pena do processo anterior ter ocorrido há mais de 7 anos, é necessário que
se apresente fundamentação idônea para a utilização de condenações antigas para valorar
negativamente a referida vetorial, sob pena de ofensa aos “princípios constitucionais da vedação
da perpetuidade da pena, direito ao esquecimento, proporcionalidade, pacificação social e
dignidade da pessoa humana” (e-STJ, fl. 1563).
Neste contexto, requer a reconsideração do decisum ou que o agravo seja
submetido à apreciação do colegiado, para que seja concedida a ordem, a fim de afastar da
dosimetria da pena do agravante os maus antecedentes.
É o relatório.

VOTO

Em que pesem os esforços do agravante, o recurso não merece ser provido.


A individualização da pena é submetida aos elementos de convicção judiciais
acerca das circunstâncias do crime, cabendo às Cortes Superiores apenas o controle da legalidade
e da constitucionalidade dos critérios empregados, a fim de evitar eventuais arbitrariedades.
Assim, salvo flagrante ilegalidade, o reexame das circunstâncias judiciais e dos parâmetros
concretos de individualização da pena mostram-se inadequados à estreita via do habeas corpus,
por exigirem revolvimento probatório.
Para permitir a análise dos critérios utilizados na dosimetria da pena, faz-se
necessário expor excertos do acórdão da apelação:

"[...] Mantem-se, pois, a condenação.


3. O apelante também alegou haver erro ou injustiça na pena (CPP, art. 593, III,
"c"), que foi fixada nos seguintes termos:

"Atento às diretrizes norteadoras do art. 59 do Código Penal, tenho


que a culpabilidade do pronunciado não se afasta da linha de
normalidade prevista à espécie.
É tecnicamente primário, mas registra antecedentes criminais
contra si, uma vez que possui condenação definitiva neste Juízo
pelo crime de tráfico de drogas, com trânsito em julgado em 24-9-
2007 e extinção da pena em 14-9-2011. Além disso, vem
respondendo a outra ação penal pelos crimes de ameaça e incêndio,
a qual, todavia, não pode ser valorada em seu desfavor, a teor da
Súmula n. 444 do STJ (fls. 601-607).
A conduta social e a personalidade, apesar do comportamento
agressivo e truculento, não restaram melhor apuradas e devem ser
consideradas normais.
Os motivos podem ser tributados ao inconformismo do acusado
com o término do relacionamento amoroso com a vítima, cuja
futilidade depõe contra si. As circunstâncias e as consequências
podem ser consideradas normais, não implicando em agravamento
ou atenuação. Não há indicativos de que o comportamento da
vítima tenha dado causa aos crimes imputados ao acusado.
Com relação ao crime de homicídio triplamente qualificado:
Considerando que as circunstâncias judiciais não lhe são de todo
favoráveis, ao menos os maus antecedentes, necessária a
exacerbação da pena-base (em 1/6, conforme entendimento
dominante), que estabeleço em quatorze (14) anos de reclusão.
Na segunda fase, como circunstâncias agravantes, verifica-se que o
Conselho de Sentença reconheceu três qualificadoras. E, de acordo
com a jurisprudência dominante, "havendo pluralidade de
qualificadoras, utiliza-se uma delas para justificar o tipo penal
qualificado, podendo as demais serem empregadas, na segunda
fase de aplicação da pena, como agravantes, ou, residualmente, na
primeira fase, como circunstâncias judiciais." (STJ, AgRg no HC
510.194/SP, Rel.
Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, julgado em 15/08/2019, DJe
30/08/2019).
Assim, desloco as qualificadoras do motivo fútil e recurso que
impossibilitou ou dificultou a defesa da vítima para esta etapa da
dosimetria, haja vista a sua aplicação específica no rol do artigo 61,
II, 'a' e 'c', do CP e, utilizando-me do critério de aumento
predominante na jurisprudência, aumento a pena em um sexto (1/6)
para cada uma das circunstâncias agravantes, totalizando-a, na
ausência de atenuantes, em dezoito (18) anos de reclusão.
Na terceira e última etapa da dosimetria, inexistem causas de
aumento a serem consideradas, mas como causa de diminuição,
verifica-se que o crime ocorreu na forma tentada, razão pela qual
reduzo a pena no patamar mínimo de um terço (1/3),
concretizando-a definitivamente em doze (12) anos de reclusão.
Para fixação do patamar de diminuição da tentativa, foi levado em
consideração o iter criminis percorrido pelo acusado, o qual
desferiu inúmeros golpes contra a vítima, totalmente de inopino,
pegando-a por trás, logrando êxito em atingí-la por quatro vezes,
nas costas e nos ombros, em região muito próxima ao pescoço,
órgão vital (vide fotografias de fl. 13). Não se olvide, ademais, que
o acusado se deslocou até a casa da vítima com vários objetos,
incluindo uma barra de ferro e duas garrafas plásticas contendo
substância líquida tíner (vide termo de exibição e apreensão de fl.
56), o que permite inferir que pretendia não só ceifar a vida da
vítima, como também ocultar o cadáver, tendo previamente se
organizado para tanto.
Diante do quantum de pena aplicado, maus antecedentes e,
considerando ainda tratar-se de crime hediondo e triplamente
qualificado, para reprovação de sua conduta e prevenção de novos
ilícitos, estabeleço o regime fechado para o início de cumprimento
da pena corporal, nos termos do art. 33, § 3º, do Código Penal.
Com relação ao crime de ameaça:
Novamente, considerando que ao menos os maus antecedentes lhe
são desfavoráveis, necessária a exacerbação da pena-base (em 1/6),
que fixo em um (1) mês e cinco (5) dias de detenção.
Na segunda fase, reconheço a circunstância agravante prevista no
artigo 61, 'f', do Código Penal, já que o acusado cometeu o crime
prevalecendo-se das relações domésticas, na forma da lei específica
(Lei n. 11.340/2006), razão pela qual elevo a pena em um sexto
(1/6), totalizando-a, na ausência de atenuantes, em um (1) mês e
dez (10) dias de detenção.
Na ausência de causas de aumento ou diminuição, concretizo a
pena em um (1) mês e dez (10) dias de detenção, cujo cumprimento
deverá iniciar em regime aberto, apesar dos maus antecedentes (art.
33, §2º, 'c', do CP).
Do concurso material (art. 69, caput, do Código Penal):
Considerando que o acusado praticou os crimes de homicídio
tentado e ameaça mediante mais de uma ação, em contextos
diversos (o primeiro no ano de 2019 e o segundo no ano de 2018) e
com desígnios autônomos, necessário o acúmulo material das
penas, nos termos do art. 69, caput, do Código Penal, as quais
totalizo em doze (12) anos de reclusão, em regime inicial fechado,
e um (1) mês e dez (10) dias de detenção, em regime inicial aberto"
(fls. 612-613, grifou-se).

O apelante pleiteou o afastamento dos maus antecedentes, ao argumento de que


é ilegal e inconstitucional considerar condenações cuja extinção de punibilidade
ocorreu mais de cinco anos antes da prática do novo crime.
Ocorre que o entendimento atual e dominante no STJ é de que o período
depurador de cinco anos serve para a configuração da reincidência, mas não dos
antecedentes criminais:
(...)
Portanto, mantém-se a pena-base dos dois crimes, isto é, 14 anos de reclusão e 1
mês e 10 dias de detenção, respectivamente ao homicídio e à ameaça." (e-STJ
fls. 1074-1077).

De acordo com a jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, condenações


anteriores ao prazo depurador de 5 anos, malgrado não possam ser valoradas na segunda fase da
dosimetria como reincidência, constituem motivação idônea para a exasperação da pena-base a
título de maus antecedentes.
Quanto ao tema, os seguintes precedentes:

"PENAL. PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NOS


EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. TRÁFICO DE DROGAS. ILICITUDE
DA BUSCA E APREENSÃO. ENTRADA EM DOMICÍLIO. INEXISTÊNCIA
DE NULIDADE. FUNDADAS RAZÕES. PLEITO DE ABSOLVIÇÃO OU
DESCLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA. IMPOSSIBILIDADE. REEXAME
DE PROVAS. INCIDÊNCIA DO VERBETE N. 7 DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA STJ. DOSIMETRIA. PENA-BASE. MAUS
ANTECEDENTES. PERÍODO DEPURADOR DE 5 ANOS (ART. 64, I, DO
CÓDIGO PENAL CP). IRRELEVÂNCIA. RECURSO EXCLUSIVO DA
DEFESA. POSSIBILIDADE DE REVISÃO DA PENA BASILAR. EFEITO
DEVOLUTIVO DA APELAÇÃO. NOVA PONDERAÇÃO DAS
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS. REFORMATIO IN PEJUS. NÃO
OCORRÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. O entendimento deste Superior Tribunal de Justiça STJ consolidou-se no
sentido de que o crime de tráfico de entorpecentes na modalidade "ter em
depósito" é do tipo permanente, cuja consumação se protrai no tempo, o qual
não se exige a apresentação de mandado de busca e apreensão para o ingresso
na residência do acusado, quando se tem por objetivo fazer cessar a atividade
criminosa, dada a situação de flagrância (ut, HC 407.689/SP, Rel. Ministro
RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, DJe 27/9/2017), inclusive no período
noturno, independente de mandado judicial, e desde que haja fundada razão da
existência do crime.
2. No caso dos autos, não há que se falar em ilicitude da prova colhida na
residência do réu, confirmada pela fundada razão da necessidade de realização
de busca e apreensão, para averiguar denúncias de mercancia ilícita de
entorpecentes praticada naquele local. No caso, os policiais realizaram
diligências e constataram a movimentação de pessoas no local/casa onde ocorria
comércio de droga.
3. O Tribunal a quo considerou que a prática do crime de tráfico restou
comprovada, de modo que entender de forma diversa e desclassificar a conduta
ou absolver o réu, como pretendido, demandaria o revolvimento das provas
carreadas aos autos, procedimento sabidamente inviável na instância especial, a
teor do óbice da Súmula n. 7 desta Corte.
4. O Plenário da Corte Suprema, no julgamento do RE n. 593.818/SC
(Repercussão Geral), decidiu por maioria, que "Não se aplica para o
reconhecimento dos maus antecedentes o prazo quinquenal de prescrição
da reincidência, previsto no art. 64, I, do Código Penal" (RE 593.818/SC,
Rel. Ministro ROBERTO BARROSO, TRIBUNAL PLENO - SESSÃO
VIRTUAL, julgado em 18/8/2020, Ata de julgamento publicada no DJe de
1º/9/2020). Firme nesta Corte o entendimento de que as condenações
alcançadas pelo período depurador de cinco anos (art. 64, I, do Código
Penal - CP) não configuram reincidência, mas são aptas a configurar os
maus antecedentes do réu. Inafastável, portanto, a incidência do verbete n.
83 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça - STJ.
5. A Corte de origem redimensionou a pena-base ao patamar de 5 (cinco) anos e
7 (sete) meses de reclusão e 560 dias-multa, em razão do decote de 3 vetores
desfavoráveis e da negativação das circunstâncias do crime e a configuração dos
maus antecedentes, sem piorar a situação do sentenciado. Assim, não acarreta
reformatio in pejus a fundamentação emanada pelo Tribunal de origem em
julgamento de recurso exclusivo da defesa, porquanto a reprimenda do réu não
foi agravada, mas reduzida, mediante nova ponderação das circunstâncias
judiciais.
6. Agravo regimental desprovido.” (AgRg nos EDcl no AgRg no AREsp
1580188/MS, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA,
julgado em 13/10/2020, DJe 20/10/2020, grifou-se);

"AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. MAUS


ANTECEDENTES. DECURSO DO PERÍODO DEPURADOR.
EXASPERAÇÃO DA PENA-BASE. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.
REINCIDÊNCIA CARACTERIZADA. REGIME MANTIDO.
SUBSTITUIÇÃO DA REPRIMENDA. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO
REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme ao assinalar que
as condenações alcançadas pelo período depurador de cinco anos, previsto
no art. 64, I, do Código Penal, afastam os efeitos da reincidência, mas não
impedem a configuração de maus antecedentes, permitindo, assim, o
aumento da pena-base.
Não há mácula no aumento da segunda fase em razão da reincidência, visto que
o período depurador de cinco anos não foi ultrapassado.
Apesar de a pena aplicada ser inferior a 4 anos, a reincidência e o registro de
maus antecedentes justificariam, em consonância com o art. 33, § 2º, "c", e § 3º
do CP, a aplicação do regime inicial fechado. Todavia, diante da ausência de
irresignação do Ministério Público, permanece o semiaberto.
Incabível a substituição da pena privativa de liberdade ante a ausência do
requisito disposto no art. 44, III, do CP.
Agravo regimental não provido.” (AgRg no HC 593.502/SP, Rel. Ministro
ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 13/10/2020, DJe
21/10/2020, grifou-se).

Tal entendimento, inclusive, foi pacificado no Supremo Tribunal Federal, no


julgamento do RE 593.818/SC, sob o rito da Repercussão Geral, no qual, por maioria de votos,
se firmou a tese de que “Não se aplica para o reconhecimento dos maus antecedentes o prazo
quinquenal de prescrição da reincidência, previsto no art. 64, I, do Código Penal" (RE
593.818/SC, Rel. Ministro Roberto Barroso, Tribunal Pleno – Sessão Virtual, julgado em
18/8/2020, Ata de julgamento publicada no DJe de 1º/9/2020).
Contudo, a teoria do direito ao esquecimento foi reconhecida em alguns julgados
desta Corte para afastar a configuração dos maus antecedentes quando as condenações utilizadas
eram muito antigas, com penas extintas há mais de 10 anos.
A corroborar esse entendimento:

"AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PENAL. DOSIMETRIA.


ANTECEDENTES. IMPOSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO PARA
VALORAÇÃO NEGATIVA DA PERSONALIDADE. DIREITO AO
ESQUECIMENTO. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. AGRAVO
MINISTERIAL DESPROVIDO.
1. A Terceira Seção desta Corte, no julgamento do EAREsp n. 1.311.636/MS,
alterou sua jurisprudência, assinalando que "eventuais condenações criminais do
réu transitadas em julgado e não utilizadas para caracterizar a reincidência
somente podem ser valoradas, na primeira fase da dosimetria, a título de
antecedentes criminais, não se admitindo sua utilização também para desvalorar
a personalidade ou a conduta social do agente" (AgRg no HC n. 500.419/DF,
relator Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em
6/8/2019, DJe 15/8/2019).
2. Ainda que assim não fosse, ou seja, ainda que os registros anteriores
tivessem sido considerados na análise da vetorial antecedentes, trata-se na
hipótese de antecedentes muito antigos, não se podendo olvidar que a
recente jurisprudência desta Corte acerca do tema é no sentido de que,
"quanto à aplicação do denominado 'direito ao esquecimento', [...] a
avaliação dos antecedentes deve ser feita com observância aos princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade, levando-se em consideração o lapso
temporal transcorrido desde a prática criminosa" (AgRg no HC n.
694.623/RJ, relatora Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, julgado em
14/6/2022, DJe de 21/6/2022.)
3. Agravo regimental desprovido.” (AgRg no HC n. 742.824/SP, relator
Ministro Antonio Saldanha Palheiro, Sexta Turma, julgado em 4/10/2022, DJe
de 10/10/2022.)

“PENAL. PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL. TRÁFICO DE DROGAS. VIOLAÇÃO AO ART. 64,
I, DO CÓDIGO PENAL - CP. VALORAÇÃO NEGATIVA DOS
ANTECEDENTES. CONDENAÇÃO ANTERIOR TRANSITADA EM
JULGADO HÁ MAIS DE DEZ ANOS. IMPOSSIBILIDADE.
PRECEDENTES. VIOLAÇÃO AO ART. 33, § 4º, DA LEI N. 11.343/06.
APLICAÇÃO DO REDUTOR COM A NEUTRALIZAÇÃO DA
CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL. PLEITO DE RECONHECIMENTO. NÃO
INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7 DO SUPERIOR TRIBUNALDE JUSTIÇA -
STJ. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. As condenações anteriores transitadas em julgado há mais de dez anos
não podem ser levadas em consideração na verificação de maus
antecedentes e também não podem ser utilizadas para afastar a aplicação
do redutor previsto no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/06. Precedentes.
2. A matéria analisada diz respeito apenas à questões de direito, não sendo
necessário o reexame fático-probatório dos autos, não se fazendo incidir a
Súmula n. 7/STJ.
3. Agravo regimental desprovido.” (AgRg no AREsp n. 1.922.083/DF, relator
Ministro Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, julgado em 19/4/2022, DJe de
25/4/2022, grifou-se).

Como se vê, ambas as Turmas que compõem a Terceira Seção desta Corte
Superior posicionaram-se no sentido de que a avaliação dos antecedentes deve ser feita com
observância aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, levando-se em consideração
o lapso temporal transcorrido entre a extinção da pena anteriormente imposta e a prática do novo
delito.
Portanto, não há ilegalidade na consideração da condenação anterior do paciente
para justificar a majoração da pena-base, por estarem devidamente configurados seus maus
antecedentes, devendo ser ressaltado que entre a extinção da pena da condenação anterior e o
delito atual passaram cerca de 7 anos.
Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.
É o voto.
TERMO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA
AgRg no HC 777.795 / SC
Número Registro: 2022/0328340-0 PROCESSO ELETRÔNICO
MATÉRIA CRIMINAL
Número de Origem:
00002015220198240011 2015220198240011

Sessão Virtual de 11/04/2023 a 17/04/2023

Relator do AgRg
Exmo. Sr. Ministro RIBEIRO DANTAS

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK

Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL

AUTUAÇÃO

IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SANTA CATARINA


ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
PACIENTE : VILSON SCHLICHTING (PRESO)
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

ASSUNTO : DIREITO PENAL - CRIMES CONTRA A VIDA - FEMINICÍDIO

AGRAVO REGIMENTAL

AGRAVANTE : VILSON SCHLICHTING (PRESO)


ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA

TERMO

A QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, em sessão virtual de 11/04/2023 a 17/04


/2023, por unanimidade, decidiu negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Reynaldo Soares da Fonseca, Joel Ilan Paciornik, Messod Azulay Neto e
João Batista Moreira (Desembargador convocado do TRF1) votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Joel Ilan Paciornik.
Brasília, 18 de abril de 2023

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