Você está na página 1de 37

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ

PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA


Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUIZA DE DIREITO DA 4ª VARA


CRIMINAL DE TERESINA/PI

Processo nº 0030358-79.2016.8.18.0140.
Ação Penal Pública
Autor – Ministério Público.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ, por seus representantes


abaixo-assinados, no uso de suas atribuições legais, conforme o que disciplina o art. 403, §
3º, do Código de Processo Penal, em atenção ao r. despacho de fls., vem apresentar

ALEGAÇÕES FINAIS, em forma de memoriais

nos autos da Ação Penal que move contra FELICIANO MENDES SOUSA FILHO,
MÁRCIO DANTAS DA SILVA, CARLOS WELLINGTON MARQUES DE JESUS,
JOSÉ AIRTON RODRIGUES, EDUARDO DA SILVA SOARES, MARCELO
RABELO RODRIGUES, CLÁUDIO FREITAS DOS SANTOS, CARLOS ACÁCIO
FREITAS DOS SANTOS, WALLACE MARQUES DA ROCHA, PAULO SÉRGIO
FRANCISCO DOS SANTOS, IZEQUIAS LANZILOTI, réus já devidamente
qualificados e representados por advogados, na forma seguinte:

1. DO RELATÓRIO

1
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

1. Denúncia foi oferecida (fls. 02/23) no dia 07/06/2017 e recebida no dia


03/07/2017.

2. Relatório do Inquérito Policial às folhas 924/946.

3. Os denunciados foram citados e apresentaram resposta à acusação:

Carlos Wellington Marques de Jesus – citado (fls. 1062/1063), e resposta à


acusação (fls.2171/2173) requereu a absolvição com base no in dubio pro réu;

Marcio Dantas da Silva – citado (fls. 1064/1065) e resposta à acusação (fls.


fls.2068/2077). Alegou rejeição da denúncia;

Eduardo da Silva Soares - citado (fls. 1066/1067) e resposta à acusação


(petição eletrônica). Requereu a absolvição com base no in dubio pro réu;

Carlos Acácio Freitas dos Santos - citado (fls. 1068/1069) e resposta à


acusação (fls. fls.1001/1008). Requereu a inépcia da denúncia;

José Airton Rodrigues – citado (fls. 2032/2033) e resposta à acusação (fls.


2004/2025);

Wallace Marques da Rocha – citado (fls. 2034/2035) e resposta à acusação


(fls. 2045/2059).

Marcelo Rabelo Rodrigues - citado (fls. 2081/2082) e resposta à acusação às


fls. 2135/2156;

Feliciano Mendes de Sousa Filho - citado (fls. 2083-verso) e resposta à


acusação às fls. 2088/2092;

Izequias Lanziloti apresentou resposta à acusação (fls. 2114/2118), alegou


improcedência da denúncia por falta de provas;

Paulo Sergio Francisco dos Santos – citado (fls.2165/2168) e resposta à


acusação( Petição Eletrônica), requereu a absolvição com base no in dubio pro réu;

Claudio Freitas dos Santos, apresentou resposta à acusação às fls.992/999,


alega inépcia da denúncia.

4. Decisão judicial às fls.2106/2108, determinando a cisão da tramitação do

2
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

processo com relação aos réus Ezequias Lanziloti, Marcelo José de Lima e Ricardo
Mesquita.

5. Em 26/09/2017, Decisão judicial às fls. 2187/2195, determinando a cisão


processual somente aos acusados Marcelo José de Lima e Ricardo Mesquita, e mantendo
nestes autos Ezequias Lanziloti. Neste despacho, este D. Juízo analisou todas as preliminares
alegadas nas respostas à acusação, e as indeferiu. Designou audiência de Instrução e
Julgamento, para o dia 27/10/2017 e 30/10/2017, às 08:30 horas oitiva das vítimas e
testemunhas de acusação; e para o dia 31/10/2017 e 01/11/2017, às 08:30 horas oitiva das
testemunhas de defesa e interrogatórios dos réus.

6. Expedidos mandados de intimação e cartas precatórias.

7. Na audiência de instrução e julgamento realizada no dia 27 de outubro de


2017 (fls. 2485/2504-V), foram ouvidas as vítimas Raimundo Nonato da Cruz, Vanilza
Laiana de Sousa Silva, Rosilene Lima Sousa, Eduardo Melo Marinho , Francisca das Chagas
Silva das Neves, Maria Celia de Sousa Cruz, Antônio Pereira Sobrinho, Ana Paula de Sousa
Cruz e as testemunhas Thiago Jeconias Sousa Chaves, Sérgio Maia Lima, Evandro Olímpio
Garcia de Menezes, Mônica Barroso de Carvalho Leite, Bento Francisco Alencar e André
Harley Ferreira Vale, oportunidade em que a audiência foi suspensa e redesignada para o dia
30 de outubro de 2017 ás 08:30hrs.

8. Realizada a audiência de instrução e julgamento dia 30 de outubro de


2017 às 08:30 hrs(fls. 2505/2508) colhida a declaração da vítima Marcio Guillermy Soares e
as testemunhas de acusação presentes, oportunidade que a audiência foi suspensa sendo
designada a continuação para o dia 31/07/2017 às 08:30hrs.

9. Na audiência de instrução e julgamento realizada no dia 31 de outubro de


2017 (fls. 2530/2544), foram ouvidas as testemunhas de defesa e em seguida o interrogatório
dos réus Marcelo Rabelo Rodrigues, Feliciano Mendes de Sousa Filho, Wallace Marques da
Rocha e Claudio Freitas dos Santos, tendo a douta magistrada designado o dia 01/11/2017
para a continuação da audiência.

10. Realizada a audiência de instrução e julgamento dia 01 de novembro de


2017 às 08:30 hrs(fls. 2563/2574), os acusados José Airton Rodrigues, Eduardo da Silva
Soares e Carlos Acácio Freitas dos Santos foram interrogados. O Ministério público

3
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

requereu em diligências requeridas a oitiva da testemunha Genival Vilela. Deferida a oitiva


pela MMª Juíza, ocorreu a oitiva da testemunha.

11. Os réus Carlos Wellington Marques de Jesus e Marcio Dantas da Silva


encontram-se foragidos do sistema prisional, desde 27/10/2017.

12. Ofício nº 19/2018 da Empresa SERVI-SAN, com cópia de processo


administrativo nº 007/2016 referente ao crime, ratificando a participação do denunciado
Feliciano Mendes Sousa Filho (fls.2635/2642).

13. Juntada carta precatória com oitiva da testemunha Sheila Dantas da


Silva e interrogatório do réu Paulo Sérgio Francisco dos Santos (fls.2788/2790).

14. Conclusos os autos para alegações finais.

2. PRELIMINARMENTE

A Promotora de Justiça responsável pelos feitos da 3ª Promotoria de Justiça


de Teresina solicitou apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado
– GAECO, do Ministério Público do Piauí, para a elaboração das presentes alegações finais.

Uma vez deferido o pedido pelo Coordenador do GAECO/PI, Exmo.


Promotor de Justiça Rômulo Paulo Cordão, passa este Grupo a tecer a presente peça
processual, em amparo ao Promotor Natural, que também a subscreve.

Tratam-se dos autos do processo criminal n. 0030358-79.2016.8.18.0140.


Constam 12 (doze) volumes, sendo 09 (nove) referentes aos autos principais, e 03 (três)
referentes a anexos (interceptação telefônica etc). Tratam-se de 13 (treze) réus. Alguns dos
denunciados estão presos preventivamente.

Os autos principais (9 volumes) foram entregues ao GAECO no dia


06/04/2018, pela servidora da 3ª Promotoria de Justiça de Teresina. Já os autos em anexos
(03 volumes) foram entregues no dia 11/04/2018, pois somente nesta data que o Juízo abriu
vistas destes autos ao Ministério Público, a fim de serem ofertadas as presentes alegações

4
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

finais. Portanto, absolutamente tempestiva a apresentação dos memoriais escritos.

O processo de encontra apto para o oferecimento dos memoriais escritos,


pois todas as questões preliminares foram devidamente analisadas por este d. Juízo.

Diga-se, ainda, que não serão ofertados memoriais escritos com relação aos
réus MARCELO JOSÉ DE LIMA e RICARDO MESQUITA, posto que este d. Juízo cindiu
o processo com relação a estes denunciados, conforme exposto no relatório acima.

Aos memoriais:

3. BREVE EXPOSIÇÃO DOS FATOS NARRADOS NA DENÚNCIA-CRIME

Consta dos autos de inquérito policial que no dia 11 de dezembro de 2016,


por volta de 09h40min, o Sr. MARCELLO DE SOUSA BARROS - Diretor Operacional e
Comercial da Empresa de Vigilância SERVI-SAN - comunicou a Polícia o sequestro das
famílias dos funcionários RAIMUNDO NONATO DA CRUZ, vulgo "CRUZ", e
FELICIANO MENDES SOUSA FILHO.

RAIMUNDO NONATO CRUZ, em seu depoimento, informou que, na


madrugada do dia 11/12/2016, por volta de 01h00min, encontrava-se no Povoado “Onça”,
município de Timon/MA. Estava acompanhado de seus irmãos WAGNER e SOCORRO, das
sobrinhas CECÍLIA e NOEMI, de sua mãe, senhora MARIA ZÉLIA, de 83 anos, além da
senhora ELIANE.

Segundo o Sr. “CRUZ”, em dado momento, teria chegado sua filha ANA
PAULA, de 29 anos, falando-lhe: “papai não faça nada, só obedeça ao que eles mandarem
fazer, porque eles já pegaram a mamãe e a MARIA ZÉLIA”. Nesta ocasião apareceram cerca
de 10 (dez) indivíduos no sítio, todos encapuzados e com coletes à prova de balas, com
exceção de apenas um, que parecia ser o mandante.

5
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

Um dos indivíduos, que aparentava ser o líder, perguntou ao Sr. CRUZ se


conhecia FELICIANO, MÔNICA, ANDRÉ e MARCUS DÊNNYS, tendo este respondido
afirmativamente, já que eram funcionários da Servi-San. Em seguida, informou a dita pessoa
que o Sr. CRUZ deveria colaborar, pois já estavam com sua família.

Vasculharam o imóvel. Pegaram o Sr. CRUZ e seus familiares, levando-os em


três veículos (um Duster, de cor escura, uma SW4, de cor branca, e um veículo Clio, de cor
vermelha) para um sítio localizado na BR 343, em direção a Altos-PI, após o condomínio
“Terras Alphaville”. No local já se encontravam como reféns a esposa e a outra filha de
CRUZ, bem como FELICIANO e a família, além do proprietário do sítio e familiares.

Naquela ocasião, o provável chefe da quadrilha informou que o senhor


ASSIS, dono da SERVI-SAN, os filhos dele e MÔNICA, funcionária da SERVI-SAN,
estavam sendo monitorados.

Registre-se que no período de cativeiro, os indivíduos proferiram ameaças de


morte. E, em um dado momento, um deles colocou uma faca na orelha do Sr. CRUZ,
indagando se este queria que fosse cortada a sua orelha, de sua mãe ou de suas filhas.

Por volta das 06h20min, o Sr. CRUZ e sua esposa foram retirados do
cativeiro por dois dos indivíduos (o provável chefe e outro), sendo levados no veículo
Duster, cor preta. Inicialmente, passaram na casa do Sr. Cruz para pegar mais dois
comparsas que ali estavam, seguindo em direção à sede da empresa SERVI-SAN, localizada
próximo ao Quartel do Corpo de Bombeiros Militar do Piauí.

FELICIANO, que esteve no cativeiro, abriu a porta da empresa. O Sr. CRUZ


foi forçado pelos criminosos a chamar à sua sala os funcionários MÔNICA e ANDRÉ.
MARCOS DENNYS (que trabalha no Setor Operacional da empresa SERVI-SAN) também
se encontrava no local. Foram-lhe repassadas determinações pelos criminosos, com o fim de
ter acesso ao cofre da empresa.

Em seguida, o Sr. CRUZ abriu o caixa-forte utilizando chaves, enquanto

6
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

FELICIANO forneceu a senha gerada pelo sistema.

Logo depois, quatro criminosos entraram na sede da SERVISAN com um


veículo Duster, ocasião em que colocaram o dinheiro no veículo, com ajuda dos funcionários
mencionados. O valor subtraído corresponde a aproximadamente R$ 15.000.000,00 (quinze
milhões de reais).

Os indivíduos, antes de saírem do local, alarmaram a todos que não


acionassem a polícia até receber uma ligação destes.

Após algum tempo, chegou ao local o senhor ASSIS, proprietário da empresa,


o qual telefonou para MARCELLO DE SOUSA BARROS (diretor operacional) que, por sua
vez, acionou a polícia.

Depois das 10h00min, da data acima mencionada, o Sr. CRUZ recebeu a


informação que sua família e demais pessoas haviam sido liberadas do cativeiro.

A Polícia passou a realizar serviço de inteligência, localizando em um sítio na


estrada da Cacimba Velha, em Teresina-PI, os seguintes veículos: Renault Duster, cor escura;
Chevrolet S10, cor prata; Toyota SW4, cor branca; e um Mitsubishi Pajero, cor branca. E no
Município de Timon-MA: um Fiesta, da irmã de CRUZ.

Foram encontradas nas proximidades do cativeiro das vítimas várias


braçadeiras plásticas, as quais foram utilizadas como algemas pelos criminosos.

4. DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA, SEUS COMPONENTES E DA ANÁLISE


DA AUTORIA DELITIVA

Vê-se, pelos autos e pela narração dos fatos descrita acima, tratar-se de
engendrada e bem arquitetada ação criminosa voltada a subtrair dos cofres da empresa
SERVI-SAN a quantia na monta de R$ 15.000.000,00 (Quinze milhões de reais).

7
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

O roubo ocorrido na madrugada do dia 11/12/2016, conforme narrado acima,


foi precedido de minucioso estudo e análise pelos criminosos. Os autos demonstram que os
réus – e outros ainda não identificados – valeram-se de extremo cuidado para planejar a ação
delituosa, tendo por objetivo a efetividade da subtração desejada. Mas não só! Os meliantes
se preocuparam enormemente, também, em “não deixar rastros”; em não serem identificados
pela Polícia Judiciária. Vejamos:

Veículos utilizados na trama foram descaracterizados, fruto de roubos no


estado do Ceará e com chassis adulterados; estudo preliminar da vida familiar e profissional
de servidores da SERVISAN; cooptação de servidores da SERVISAN mediante terceiros;
prévio e orquestrado monitoramento e sequestro de familiares de servidores da SERVISAN 1,
cujos criminosos, para não serem reconhecidos, utilizavam capuzes e coletes, todos iguais;
alugueres de residências em Teresina/PI em nome de pessoas residentes nesta capital, com
bastante antecedência, para servirem de apoio à quadrilha; dentre outros inúmeros artifícios.

Todos esses elementos, Excelência, são caracterizadores de bem engendrada


organização criminosa, nos exatos termos definidos pela Lei 12.850/2013 (Lei de
Organização Criminosa), pois estruturalmente ordenada e caracterizada pela nítida divisão
de tarefas entre seus membros, tendo por objetivo obter vantagem de qualquer pecuniária,
mediante a prática de inúmeros roubos a bancos, caixas eletrônicos e instituições
financeiras. Os antecedentes criminais dos réus não nos deixam mentir: a sua grande maioria
tem expertise na prática de roubos a instituições financeiras e a carros fortes, o que denota
prática reiterada destes delitos. TRATA-SE, PORTANTO, E POR FIM, DE PERIGOSA E
BEM ENGENDRADA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA!

A teia da organização criminosa, a divisão de tarefas, e as respectivas

1
Para tanto, requer que este Juízo analise detidamente os depoimentos das testemunhas MARIA CÉLIA DE
SOUSA DA CRUZ (esposa de Raimundo) e RAIMUNDO NONATO DA CRUZ (funcionário da SERVISAN),
onde se verifica que os denunciados já monitoravam, com antecedência, a rotina familiar e profissional das
testemunhas, numa demonstração clara de prévio e bem orquestrado planejamento para a execução da extorsão
mediante sequestro e, por consequência, a efetividade do roubo à SERVISAN. Prova-se que de há muito os
membros da organização criminosa, e aqueles que foram cooptados por ela, já trabalhavam em seu
planejamento.

8
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

participações, estão muito bem refletidas nos autos de investigação encetados pelo Grupo de
Repressão ao Crime Organizado – GRECO, da Polícia Civil do Piauí, sobretudo no
Relatório Complementar de fls. 924 e seguintes.

Vale lembrar, e como bem restou configurado nos autos, que alguns dos
integrantes da organização criminosa que executou o delito de roubo à SERVISAN são de
fora do estado do Piauí, sendo de São Paulo ou do Ceará.

Todos os indiciados pela Polícia Judiciária, e ora denunciados, participaram


efetivamente do roubo qualificado à SERVISAN e da extorsão mediante sequestro, seja
planejando, vigiando, participando da logística (execução indireta do delito) ou executando
diretamente o crime. A conduta de cada réu foi essencial – ou no mínimo importante – para
o sucesso da empreitada criminosa. Sem a participação, prévia ou posterior, de cada
denunciado, fatalmente não haveria tanta efetividade na subtração do dinheiro sob guarida
da empresa SERVISAN.

Vejamos exemplo do julgado abaixo, em que denunciados foram condenados


pela prática do crime de roubo qualificado por terem participado de forma prévia ou
posterior ao delito, sem que tenham diretamente executado:
___________________________________________________________________________________________________
TJMT-0093496) APELAÇÕES CRIMINAIS - FORMAÇÃO DE QUADRILHA ARMADA, ROUBO MAJORADO PELO
EMPREGO DE ARMA DE FOGO E CONCURSO DE PESSOAS E TENTATIVA DE ROUBO MAJORADO PELO
EMPREGO DE ARMA DE FOGO E CONCURSO DE PESSOAS - SENTENÇA CONDENATÓRIA. ALEGAÇÕES DO
PRIMEIRO APELANTE DE INEXISTÊNCIA DE PROVAS SUFICIENTES PARA CONDENAÇÃO E DIREITO
À REDUÇÃO DA PENA - PEDIDOS DE ABSOLVIÇÃO OU REDUÇÃO DA PENA -  AUTORIA - CONTEÚDOS
DAS INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS, RECONHECIMENTOS E DEPOIMENTOS DAS VÍTIMAS -
PRISÃO EM FLAGRANTE DO PRIMEIRO apelante ENQUANTO DIVIDIA VALORES PROVENIENTES DE
ASSALTO - ARESTOS DO TJMT - FORMAÇÃO DE QUADRILHA - APOIO LOGÍSTICO AOS EXECUTORES
DIRETOS DOS ASSALTOS - "OLHEIRO", "CUIDADOR" E VIGILÂNCIA DO ESTABELECIMENTO
COMERCIAL - PERMANÊNCIA PELO PERÍODO DAS INVESTIGAÇÕES E PELA ORGANIZAÇÃO DO
GRUPO CRIMINOSO - AÇÕES DIRECIONADAS E PLANEJADAS - ASSOCIAÇÃO COM MAIS DE 3 (TRÊS)
PESSOAS PARA A FINALIDADE DE COMETIMENTO DE CRIMES PATRIMONIAIS - JULGADOS DO STF E
DO TJMT - DOSIMETRIA - ILICITUDE DOS ATOS E EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA -
FUNDAMENTOS INIDÔNEOS PARA A NEGATIVAÇÃO DA CULPABILIDADE - CONDUTA SOCIAL E
PERSONALIDADE - ARGUMENTOS GENÉRICOS - MOTIVOS DO CRIME - PERSPECTIVA DE LUCRO FÁCIL -
ELEMENTO DO TIPO - CIRCUNSTÂNCIAS DA FORMAÇÃO DE QUADRILHA - AVALIAÇÕES COM BASE EM

9
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

ELEMENTOS EXTRAÍDOS DO ROUBO MAJORADO - FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA SOBRE O


ATO CRIMINOSO - CONSEQUÊNCIAS DO CRIME - NEGATIVADAS POR MERA PRESUNÇÃO -
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS AFASTADAS - ORIENTAÇÕES DO STJ - REITERAÇÃO DA
MESMA CONDUTA - CONCURSO MATERIAL - BIS IN IDEM - PENA-BASE REDUZIDA AO MÍNIMO LEGAL -
MAJORANTE DA QUADRILHA ARMADA - ADVENTO DA LEI Nº 12.850/2013 - PENA AUMENTADA NA
METADE - LEI MAIS BENÉFICA AO RÉU - AUMENTO NA TERCEIRA FASE DE APLICAÇÃO DA PENA -
FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA - SÚMULA 443 DO STJ - PENAS-BASES REDUZIDAS - ALEGAÇÕES DO
SEGUNDO APELANTE DE VALORAÇÕES INIDÔNEAS DOS ANTECEDENTES, DA CONDUTA SOCIAL E DA
PERSONALIDADE; APLICAÇÃO OBRIGATÓRIA DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA; PENA EXCESSIVA - PEDIDO
DE REDUÇÃO DA PENA - DEPRECIAÇÕES DOS ANTECEDENTES, CONDUTA SOCIAL, PERSONALIDADE,
MOTIVOS, CIRCUNSTÂNCIAS E CONSEQUÊNCIAS DO CRIME AFASTADAS - PENAS-BASES REDUZIDAS AO
MÍNIMO LEGAL - AGRAVANTE DO ART. 62, I, DO CP APLICADA NA FORMAÇÃO DE QUADRILHA SEM
FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA - PRESERVAÇÃO DA AGRAVANTE EM RELAÇÃO AOS ROUBOS -
COMPENSAÇÃO COM A CONFISSÃO ESPONTÂNEA NA DOSIMETRIA DO 14º FATO - PENAS
REDIMENSIONADAS - ALEGAÇÕES DO TERCEIRO E QUARTO APELANTES DE VALORAÇÃO DOS MAUS
ANTECEDENTES COM BASE EM INQUÉRITOS E PROCESSOS CRIMINAIS EM ANDAMENTO - PEDIDO DE
REDUÇÃO DAS PENAS - APENAMENTOS REDUZIDOS AO MÍNIMO LEGAL - CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS
VALORADAS SEM MOTIVAÇÃO IDÔNEA - ALEGAÇÕES DO QUINTO APELANTE DE FALTA DE LAUDO
PSICOLÓGICO APTO A EMBASAR A NEGATIVAÇÃO DA CONDUTA SOCIAL E PERSONALIDADE; PENA
EXCESSIVA PARA QUEM PARTICIPOU DE ALGUMAS AÇÕES - PEDIDO DE REDUÇÃO DA PENA - PENA
BASILAR REDUZIDA - DEPRECIAÇÕES DAS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS SEM MOTIVAÇÃO CONCRETA -
ALEGAÇÕES DO GAECO DE HABITUALIDADE CRIMINOSA DOS INTEGRANTES - PEDIDO DE
AFASTAMENTO DA CONTINUIDADE DELITIVA E RECONHECIMENTO DO CONCURSO MATERIAL -
COMETIMENTO DE ROUBOS EM PERÍODO SUPERIOR A 30 (TRINTA) DIAS - QUANTIDADE DE CRIMES -
ENVOLVIMENTO DE AGENTES DIVERSOS - ORGANIZAÇÃO DO GRUPO CRIMINOSO - HABITUALIDADE
CRIMINOSA EVIDENCIADA - JULGADOS DO STF, STJ E TJMT - CONTINUIDADE DELITIVA AFASTADA EM
RELAÇÃO AOS PRIMEIRO, SEGUNDO E QUARTO APELANTES - APLICAÇÃO DA REGRA DO CONCURSO
MATERIAL - RECONHECIMENTO DA CONTINUIDADE DELITIVA PRESERVADO EM RELAÇÃO AO TERCEIRO
E QUINTO APELANTES - RECURSOS DO PRIMEIRO E DO SEGUNDO APELANTE PROVIDOS PARCIALMENTE
PARA REDUZIR AS PENAS-BASES AO MÍNIMO LEGAL - RECURSOS DO TERCEIRO E QUINTO APELANTES
PROVIDOS PARA READEQUAR A PENA - RECURSO DO QUARTO APELANTE PROVIDO PARA REDUZIR AS
PENAS-BASES AO MÍNIMO LEGAL - RECURSO DO GAECO PROVIDO PARCIALMENTE PARA,
AFASTADA A CONTINUIDADE DELITIVA, READEQUAR AS PENAS DEFINITIVAS DO PRIMEIRO, SEGUNDO E
QUARTO APELANTES. "É incabível o acolhimento dos pleitos de absolvições dos recorrentes, porquanto a materialidade
e as autorias delitivas estão comprovadas nos autos, mormente por força dos reconhecimentos realizados pelas testemunhas
em ambas as fases processuais, devidamente concatenados com o restante do acervo probatório, inclusive, interceptação
telefônica." (TJMT, Ap nº 44189/2015) "Inexistindo dúvidas de que os acusados se associaram de forma permanente e
estável para a prática de crimes popularmente conhecidos como "saidinha de banco", deve ser mantida a condenação pelo
crime de quadrilha armada". (TJMT, Ap nº 37308/2014) O conhecimento sobre a ilicitude de seus atos e a exigibilidade de
conduta diversa são fundamentos inidôneos para a negativação da culpabilidade (STJ, HC nº 322.860/GO). "Quanto ao
crime descrito no artigo 288, parágrafo único, do Código Penal, o qual previa que a pena deveria ser aumentada em dobro
quando se tratasse de quadrilha ou bando armado, há de ser observado que com a edição da Lei nº 12.850/2013, a pena para

10
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

esta hipótese passou a sofrer o aumento "até a metade" e não mais no dobro, razão pela qual, tratando-se de novatio legis in
melius, torna-se imperiosa a readequação das reprimendas neste tocante, ainda que de ofício." (TJMT, Ap nº 37114/2013)
Mostra-se "vedada à utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar  a pena-base", à luz da Súmula
444 do c. STJ. Para a caracterização da agravante do art. 62, I, do CP, mostra "necessário que o réu tenha ascendência sobre
os demais envolvidos, fazendo com que cumpram as determinações relativas à divisão de tarefas do plano criminoso que
arquitetou." (TJMG, Apelação Criminal nº 2.0000.00.411634-1/000) O cometimento de roubos em período superior a 30
(trinta) dias, a quantidade de crimes [mais de 6], o envolvimento de agentes diversos e a logística das ações criminosas
[divisão de tarefas; planejamento das ações e monitoramento prévios; rateio dos valores] evidenciam ahabitualidade
criminosa. O benefício do crime continuado não alcança quem faz do crime a sua profissão. (STF, HC nº 74.066/SP) O c.
STJ assentou diretriz jurisprudencial de que se "as condutas imputadas foram praticadas nas mesmas condições de tempo,
local e maneira de execução, estão adimplidas as condições para o reconhecimento da continuidade delitiva, previstas no
Código Penal". (HC nº 314.091/SP). (Apelação nº 0020921-85.2011.8.11.0042, 1ª Câmara Criminal do TJMT, Rel. Marcos
Machado. j. 13.12.2016, DJe 19.12.2016).
___________________________________________________________________________________________________

Portanto, Excelência, a análise dos presentes autos, sobretudo sob a ótica da


autoria do delito, não pode ser simplória, a condenar tão somente aqueles que participaram
diretamente da execução do roubo ou da extorsão mediante sequestro, ainda mais quando os
agentes se valeram de toda espécie de técnicas e expertises para camuflar a autoria
criminosa, utilizando-se dos mais variados recursos, todos à margem da lei, para dificultar a
aplicação da lei penal.

É dizer: aqueles que vigiaram, participaram da logística e/ou planejaram os


crimes, também os cometeram, mediante uma execução indireta dos delitos de extorsão
mediante sequestro e de roubo qualificado.

Ao participarem do planejamento e da logística dos crimes de roubo


qualificado e de extorsão mediante sequestro, devem os denunciados ser condenados pela
respectiva ações delituosas, e em concurso material com o crime de organização criminosa,
pois o crime de organização criminosa se consuma com a associação estável e permanente
do grupo, com o escopo de práticas futuras infrações penais, ainda que não as cometa.
Trata-se de crime formal (do ponto de vista naturalístico), se consumando com a
associação estável (não com a prática das infrações planejadas).

No presente caso, como será visto em seguida, há pelo menos 06 (seis) meses
antes dos crimes aqui apurados todos os denunciados se associaram para iniciar o

11
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

planejamento e a logística dos delitos que efetivamente praticaram. Naquele momento


consumaram o delito de organização criminosa, enquanto as ações seguintes (planejamento e
logística) representaram a efetiva participação nos crimes de roubo qualificado e de extorsão
mediante sequestro.

Vejamos:

5. DA PARTICIPAÇÃO INDIVIDUALIZADA DE CADA DENUNCIADO

I. FELICIANO MENDES SOUSA FILHO

Funcionário da SERVISAN à época dos fatos, exercendo sua atividade, há 11


(onze) anos, como operador da central de monitoramento da empresa.
Trabalhava também como vigilante na Unidade Escolar Maria Dina Soares,
nesta capital.

As imagens das câmeras da citada Unidade Escolar flagraram FELICIANO,


às 21h51min, do dia 10/12/2016 – portanto poucas horas antes do roubo à empresa -
entrando voluntariamente no veículo Duster.2 Este veículo, não custa lembrar Excelência, foi
um dos veículos utilizados pela organização criminosa, e posteriormente abandonado pelos
criminosos.3 Este veículo era de propriedade do também denunciado JOSÉ AIRTON, como
se verá adiante.

Após apresentação das imagens, FELICIANO mudou sua versão, admitindo


já conhecer uma suposta mulher a quem chamou de ÂNGELA, que estaria conduzindo o
veículo. Negou envolvimento no crime, afirmando não saber dos planos dela nem do
restante da quadrilha. Admitiu, entretanto, que lhe fora oferecido a quantia de R$ 200.000,00
para não acionar o “botão do pânico” durante a ação criminosa.

Como se não bastasse, no dia 11/12/2018, na manhã seguinte ao roubo,

2
Vide imagens em CD à fl. 54.
3
Vide fl. 535

12
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

imagens da câmera da Unidade Escolar flagraram a S10, de cor prata, também utilizada no
roubo da SERVISAN, parando em frente à escola. Na oportunidade desceram dois homens,
nitidamente verificando os locais onde haviam câmeras na escola. Um desses indivíduos é
PAULO SERGIO FRANCISCO DOS SANTOS, conhecido assaltante a instituições
financeiras, e preso em São Luis/MA em uma tentativa de roubo a transportadora de valores
na cidade de Bacabal/MA.4 Foi um dos executores do roubo da SERVISAN. Isso demonstra,
Excelência, que os membros da quadrilha, na manhã seguinte ao roubo, foram verificar na
Unidade Escolar se possivelmente uma das câmeras ali instaladas teriam flagrado a busca do
FELICIANO pelo veículo Renault Duster.

Vale lembrar, também, que o veículo S10, cor prata, é o mesmo veículo em
que o denunciado MÁRCIO DANTAS foi visto em frente a Caixa Econômica Federal, como
será visto adiante. Este veículo, reforça-se, foi utilizado no roubo à SERVISAN.

FELICIANO possuía informações privilegiadas da empresa, e colaborou de


forma decisiva para empreitada criminosa, seja repassando informações para a execução do
roubo, seja repassando informações sobre a vida particular e familiar do servidor da
SERVISAN “CRUZ”, possibilitando, assim, que os criminosos pudessem extorquir e
sequestrar os familiares deste.

Registre-se que MARCELO RABELO RODRIGUES, outro denunciado, em


seu interrogatório policial, do dia 31 de março de 2017, afirmou que FELICIANO teve
participação decisiva nos delitos, já que este possuía a “senha do cofre”.

Demais disso, a testemunha Francisco Carlos Pereira dos Santos corroborou


em Juízo que foi encontrado no bolso da calça de FELICIANO, no dia do roubo, um pedaço
de papel5, no qual continha explicações sobre como usar senhas do cofre da SERVISAN,
numa clara demonstração da participação do réu na trama criminosa.

Resta absolutamente demonstrada, Excelência, a participação de FELICIANO

4
Vide fls. 538/542
5
Vide fl. 31/32

13
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

no planejamento dos delitos apurados, possibilitando, de maneira importante, a execução do


roubo e da extorsão mediante sequestro pelos integrantes da organização criminosa do
Estado de São Paulo.

Não há dúvidas de que todas as informações sobre a SERVISAN, bem como


sobre a rotina e os familiares dos demais servidores da SERVISAN, que foram sequestrados,
foram repassadas pelo FELICIANO ao “núcleo forte” da organização criminosa
interestadual.

Em Juízo, a testemunha RAIMUNDO NONATO DA CRUZ (“CRUZ”)


demonstra que FELICIANO era próximo ao CRUZ; o sistema de abertura do cofre
necessitava do auxílio do FELICIANO; FELICIANO era encarregado de fazer a abertura
dos cofres para os carros fortes, e a caixa forte da empresa; FELICIANO teria que estar
trabalhando no dia do roubo (11/12/2018) na SERVISAN, porém trocou o seu plantão com
outro funcionário sem avisar ao responsável, no caso, à testemunha CRUZ. Vejamos alguns
trechos:

“Que sábado pela manhã, dirigiu-se para um sitio no povoado onça, na cidade de Timon-
MA, que por volta de 1 hora da manhã quando de sobressalto sua filha apareceu com as
mãos levantadas falando para não fazer nada, Que chegou vários homens armados com
fuzis e encapuzados, Que um dos homens que parecia o chefe perguntou se ele era o seu
Cruz e se conhecia Monica, Feliciano, André, Marcos Denis, tendo falado que conhecia
(02:25min- 2:41min), Que perguntaram se ele sabia quanto tinha no cofre da Servi-San se
ele estava sabendo que tinha mais de 160 milhões no cofre da Servi-San, que era para ele
colaborar pois a sua família estava com eles, pois eles iam fazer uma parada na SERVI-
SAN, Que eram uns 10 homens encapuzados com armas longas na mão e curtas de lado,
pegaram a minha mãe, Que lhe colocaram um capo e na traseira do Duster nas pernas de
um deles e levaram para um sitio que só foi saber onde era depois quando já foi liberado,
Que ao chegar no cativeiro já estavam Feliciano, mulher e filha do Feliciano, sua esposa e
suas filhas, e partir dali começaram a dar as coordenadas de como ele ia fazer, Que pela
manhã vai pegar a Monica, o Marcos Denis, o André, chamar todos para sua sala e dizer
que vai ter uma reunião e dizer que tem liberar todas as guaritas, Que perguntou pelo Sr.

14
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

Assis todo domingo vai trabalhar, o Chefe falou que ele não chegava lá tinha alguém
monitorando-o, Que pela manhã passaram na sua casa para pegar mais dois indivíduos que
estavam esperando seus dois filhos chegarem, sendo que um dos homens estava com a
camisa da Heineken o único que reconheceu, Que deixaram ele na frente da empresa e
seguiram com sua esposa, Que ao chegar na Servi-san prosseguiu com o plano chamou a
Monica, o André(tirou a arma) e o Marcos Denis e falou o que estava acontecendo.

O sistema de caixa forte precisa do sistema de monitoramento tem que ter auxilio do
monitorador, no caso o Feliciano no dia que estava envolvido na ação.

Que trabalha na servi-san há 34 anos, chefe de segurança, tem poder de abrir o cofre em
conjunto com o pessoal do sistema de monitoramento.

Que o líder tinha um sotaque nordestino, Que Chegaram uns 10 homens, em 3 carros e
usaram o carro da filha dele, Que Há um ano eles tinham informações da sua vida.

(19:50min)“Ficou conversando a noite toda com o Feliciano”, o grupo disse para eles
conversarem para resolver como abrir o caixa forte (20:05 min)

Que permaneceu no cativeiro entre 2 horas a 6 horas da manhã, Que viu cerca de 20 a 30
homens todos armados, Que no carro tinham dois do grupo com ele e sua esposa,
(24:52min)Que Feliciano saiu meia hora antes dele, (25:14min)Ele trabalhava com escala
de 12 por 36 horas, (25:31min)”... era Operador de CFTV encarregado de fazer a
abertura dos cofres para os carros forte e a caixa forte da empresa”, Que não tem como
abrir sozinho o caixa forte, pois sempre é gerado uma senha nova no sistema de
monitoramento.

(27:20-29:21min) “... inclusive ele(Feliciano) tinha até feito uma troca com colega sem
minha autorização, por que não podia, mais ele participa de um futebol com pessoas
deficientes, não sei se faz parte do plano, ele foi trabalha normalmente; Que qualquer
pessoa que quiser fazer troca de plantão tem que lhe comunicar; o funcionário Bento
faltou e não lhe comunicou, tendo falado com Feliciano e este tinha trocado o plantão do
domingo.”

De acordo com a testemunha GUSTAVO CARDOSO JUNIOR DA SILVA,


Delegado do GRECO, ouvido em Juízo, afirmou que verificando as imagens internas da
SERVISAN constatou que FELICIANO foi o único empregado rendido sem qualquer

15
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

vigilância ou monitoramento pelos criminosos durante o assalto, tendo inclusive a


disposição dele (FELICIANO) telefone celular próprio, o da empresa e o botão do pânico6.

Por fim, e como não bastasse, a SERVISAN, através do Ofício nº 19/2018,


encaminhou cópia do processo administrativo interno nº 007/2016 referente ao crime,
ratificando a participação do denunciado FELICIANO MENDES SOUSA FILHO7.

II. MÁRCIO DANTAS DA SILVA

Dentre as minuciosas diligências realizadas pelo setor de inteligência da


Polícia, verificou-se que o veículo S10, cor prata, placa OSH-5395, foi multado por
estacionar em local proibido no dia 01/12/2016, às 10h47min (multa aplicada pelo órgão de
trânsito do município de Teresina-PI), ocorrida em frente à Caixa Econômica Federal da av.
Kennedy, em Teresina – PI.8

Nas imagens da câmara, capturou a imagem do condutor do veículo,


correspondendo a pessoa de MÁRCIO DANTAS DA SILVA, ora denunciado. Registre-se
que, naquela ocasião, MÁRCIO DANTAS realizou uma operação bancária naquela agência
da CEF, conforme apontou a quebra do sigilo bancário autorizada judicialmente.

Preso temporariamente, MÁRCIO DANTAS foi interrogado pela Autoridade


Policial, em São Paulo-SP, momento em que confessou a participação nos delitos, afirmando
que tinha a função de motorista e que recebera a quantia de R$ 115.000,00 (cento e quinze
mil reais) pela sua participação na empreitada criminosa9.

Após receber os valores, MÁRCIO dilapidou na compra de roupas, despesas


domésticas e aquisição de um veículo marca Chevrolet, modelo Cruze, cor branca, placa
GIE-2064, por R$ 87.000,00 (oitenta e sete mil reais) – apreendido, e que hoje se encontra
ainda no Estado de São Paulo, confirmando, desta forma, os termos do interrogatório do

6
Vide 7’46’’ e 13’10’’ do depoimento.
7
Vide fls.2635/2642.
8
V. fls. 214 e 215
9
Vide fl. 932

16
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

MÁRCIO DANTAS na Polícia Judiciária.10

Ressalte-se que EDUARDO GERVÁSIO e WALLACE MARQUES DA


ROCHA, em seus interrogatórios, quando presos temporariamente, informaram que
MÁRCIO DANTAS solicitou a estes uma arma de fogo, para ser usada em uma empreitada
criminosa no Piauí. GERVÁSIO informou, ainda, que MÁRCIO DANTAS teria dito ganhar
“quinhentão” por sua participação nos delitos.11

MÁRCIO DANTAS responde a 06 processos criminais no Estado de São


Paulo pelos crimes de ROUBO, FURTO e TRÁFICO DE DROGAS.

Vale lembrar, Excelência, que o veículo S10 aqui referido foi utilizado no
roubo à SERVISAN12, e posteriormente abandonado pelos executores do delito. Este mesmo
veículo refere-se também àquele que chegou à Unidade Escolar Maria Dina Soares, no dia
11/12/2016, local onde trabalhava como vigia o Sr. FELICIANO.

A testemunha FRANCISCO CARLOS PEREIRA DOS SANTOS trouxe para


este Juízo novos elementos que consubstanciam a efetiva participação do denunciado
MÁRCIO DANTAS, e sua estreita ligação com os denunciados JOSÉ AIRTON e DUDA.13

Não há dúvidas sobre a participação do denunciado MÁRCIO DANTAS no


planejamento e logística dos delitos praticados pela organização criminosa.

III. CARLOS WELLINGTON MARQUES DE JESUS

Através da obtenção de informações dos Policiais Civis do Departamento


Estadual de Investigações Criminais de São Paulo – DEIC/SP, foi que se identificou o
denunciado CARLOS WELLINGTON.

10
Vide fl. 773.
11
Vide fls. 728/729
12
Vide informação de fl. 537
13
Vide 19’13’, 19’45’’ e 19’57’’ do depoimento.

17
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

Este esteve presente na sede da empresa SERVI-SAN, na data de 11 de


dezembro de 2016, trajando uma camisa verde da cerveja "Heineken".

CARLOS WELLINGTON foi reconhecido pelos vigilantes ANDRÉ


HARLEY FERREIRA VALE e MARCUS DENNYS PEREIRA DE OLIVEIRA (que
estavam na sede da SERVI-SAN no momento em que o dinheiro foi subtraído), e também
por RAIMUNDO NONATO DA CRUZ e sua esposa MARIA CÉLIA DE SOUSA DA
CRUZ.14

CARLOS WELLINGTON responde a pelo menos dois processos criminais


em São Paulo, por ROUBO e RECEPTAÇÃO, e foi preso no CDP de Santo André-SP, em
razão de crime de receptação, fato ocorrido no dia 26 de dezembro de 2016, naquele Estado.
Isso demonstra sua especialidade na prática deste crimes, e o caráter interestadual da
organização criminosa.

Interrogado, na presença da Autoridade Policial, acompanhado de seu


Advogado, CARLOS WELLINGTON confessou a autoria delitiva, confirmando que ele
realmente era a pessoa que se encontrava com uma camisa verde da Heineken dentro da
caixa-forte da Servi-San, na data de 11 de dezembro de 2016. Mencionou que recebeu o
valor de R$ 680.000,00 (seiscentos e oitenta mil reais) pela sua participação nos delitos,
tendo sido apreendida pela diligente Polícia Paulista a quantia de R$ 467.188,50
(quatrocentos e sessenta e sete mil e cento e oitenta e oito reais e cinquenta centavos), com a
companheira do referido denunciado - IZABELA APARECIDA MACHADO DOS
SANTOS, no dia 16 de dezembro de 2016, além de munições e outros objetos.

Disto, indubitável a participação de CARLOS WELIGNTON como executor


do delito de roubo, bem como ter planejado, também, a extorsão mediante sequestro. Sua
participação em organização criminosa também é indubitável, pois detinha a tarefa de
executar o roubo à SERVISAN, o que lhe a receber vultuosa quantia pela sua participação.

Vide fls. 590/594, em especial foto de fl. 594


14

18
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

IV. JOSÉ AIRTON RODRIGUES15

Durante o sequestro, no cativeiro, as vítimas informaram à autoridade policial


que os criminosos utilizavam frequentemente os telefones celulares.
Em busca no cativeiro, a polícia encontrou um comprovante de recarga
(créditos) do celular de n. 99737-999216. O réu JOSÉ AIRTON ligou, no dia 11/12/2016 –
portanto, no dia da execução dos crimes – para este número (99737-9992). Iniciou-se, assim,
minuciosa investigação da participação do denunciado.

Durante a investigação, verificou-se que JOSÉ AIRTON possuía contatos


frequentes com EDUARDO DA SILVA SOARES, conhecido por "DUDA", também
denunciado17. EDUARDO DA SILVA SOARES responde pelo crime de tráfico de drogas na
7ª Vara Criminal de Teresina.

Em seu interrogatório à polícia18, JOSÉ AIRTON afirmou que uma pessoa


chamada CAMARÃO teria apresentado o DUDA, o Maurício, ou “Véi”, e MARCELO. Na
realidade o “Véi” se tratava do denunciado ISEQUIAS LANZILOTTI, enquanto Marcelo se
tratava de MARCELO RABELO RODRIGUES, também denunciado, conforme reconheceu
o JOSÉ AIRTON em seu interrogatório.

Já em Juízo, FRANCISCA DAS CHAGAS ALMEIDA RIBEIRO,


companheira de JOSÉ AIRTON, confirmou que a partir de julho de 2016 os denunciados
EDUARDO (DUDA) e CLAUDIO FREITAS passaram a frequentar a casa de JOSÉ
AIRTON, demonstrando que todos já planejavam o apoio logístico e a execução dos crimes
perpetrados pela organização criminosa voltada a prática de roubos a instituições
financeiras.19 Afirmou também que no período próximo à data do roubo, JOSÉ AIRTON

15
A exposições dos itens “IV – JOSÉ AIRTON RODRIGUES; V - EDUARDO DA SILVA SOARES, vulgo “DUDA”; e
VI- MARCELO RABELO RODRIGUES”, devem ser analisadas por este Juízo conjuntamente, tendo em vista que estes
denunciados, em comunhão de esforços, foram responsáveis pela logística criminosa na cidade de Teresina/PI.
16
Vide fotografia de fl. 549. Vide fl. 75.
17
Vide fl. 555 e fotografias de fl. 556 e 562.
18
Vide fls. 629/632
19
Vide 2’58’’; 7’58’’ e 8’24’’, do depoimento. Percebe-se, aqui, Excelência, que há pelo menos 06 (seis) meses
os membros da organização criminosa se associaram, para, após, planejar e executar os delitos de roubo e
extorsão mediante sequestro.

19
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

passou a viajar com mais frequência ao estado do Ceará, corroborando o interrogatório, na


Polícia, do próprio JOSE AIRTON, que confessou as idas e vindas ao Ceará a mando do
“núcleo” da organização criminosa.20

Foram DUDA, MARCELO e ISEQUIAS que convidaram JOSÉ AIRTON


para participar do apoio logístico à organização criminosa que viria de São Paulo e Ceará
para praticar os crimes de roubo e de extorsão mediante sequestro no Piauí.

Para tanto, Excelência, JOSÉ AIRTON, por indicação do DUDA, alugou em


seu nome uma casa para servir de guarida e apoio aos criminosos que executariam os
crimes21 posteriormente, com endereço na QD – A, Casa 29, Residencial Nosso Lar, Alto da
Ressureição, Teresina/PI. A casa fora alugada em outubro/2016, portanto dias antes do roubo
à SERVISAN.

Vale dizer, o endereço da referida casa alugada é no mesmo bairro onde


residem o JOSE AIRTON e o DUDA.

Entre as fls. 577 e 588 verificamos toda a movimentação do JOSÉ AIRTON e


do DUDA na referida casa alugada, antes, durante e depois do roubo à SERVISAN, com
intensa movimentação, principalmente no mês de dezembro/2016.

JOSÉ AIRTON também deu apoio logístico durante e após o assalto à


SERVISAN, como, por exemplo, esconder as armas utilizadas no roubo, e entrega-las a
terceiros na cidade de Fortaleza/CE, a pedido de ISEQUIAS LANZILOTTI. Por isso as idas
e vindas mais constantes ao estado Ceará, como assim afirmou a testemunha FRANCISCA
DAS CHAGAS ALMEIDA RIBEIRO em Juízo.

Por fim, JOSÉ AIRTON mencionou que, pela sua participação, recebeu a
quantia de R$ 44.000,00 (quarenta e quatro mil reais), depositada na conta de sua namorada
FRANCISCA DAS CHAGAS ALMEIDA RIBEIRO. Esta, por sua vez, confirmou,

Vide 9’45’’ do depoimento.


20

Vide interrogatórios do Jose Airton (fl. 629/632) e do DUDA (fls. 606/608 e 622)
21

20
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

inclusive em Juízo, que cedeu a conta a JOSÉ AIRTON e que houve grande movimentação
financeira, pois acompanhava pelo celular.

Durante a prisão de JOSÉ AIRTON foi encontrado na residência deste um


comprovante de depósito no valor de R$ 500,00, em nome de ELIZÂNGELA LANZILOTI,
assim como uma inscrição em caneta sobre uma conta em nome de ELIZANGELA
SIMONE, que se trata de ELIZANGELA LANZILOTI.22

O depósito no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais), em nome de


ELIZÂNGELA S F LANZILOTI, seria para pagamento do aluguel, água e luz da casa
alugada no bairro Alto da Ressurreição, em Teresina-PI.

ELIZÂNGELA S F LANZILOTI é ex-esposa de IZEQUIAS LANZILOTI,


ex-companheira de CARLOS ACÁCIO (também denunciado), e atual companheira de
CLÁUDIO FREITAS (irmão de CARLOS ACÁCIO).

Vale trazer à baila também, Excelência, o depoimento em Juízo da


testemunha RAIMUNDA MARIA E SILVA, ex-proprietária do veículo DUSTER, utilizado
para pegar o FELICIANO na Unidade Escolar e para carregar o dinheiro roubado da
SERVISAN. Esta afirmou, claramente, que o veículo Renault Duster, utilizado no roubo à
SERVISAN, é, na realidade, de propriedade do réu JOSÉ AIRTON.23

O veículo DUSTER, vale reforçar, foi o carro que adentrou à SERVISAN e


transportou o dinheiro produto do roubo realizado pela quadrilha especializada, conforme
depoimento da testemunha JOSÉ RORAIMA MACHADO NETO24 e MÁRCIO
GUILHERME SOARES25, que estavam no local. Este mesmo veículo foi abandonado pelos
criminosos após a prática do delito26.

A testemunha GESDINALDO SANTOS ROCHA, também ouvida em Juízo,


22
Fls. 638/640 (Auto de apreensão). Junta-se às presentes alegações cópia dos referidos documentos.
23
Vide 4’52’’; 7’15’’ do depoimento.
24
Vide 1112311 do depoimento.
25
Vide 16’50’’ do depoimento
26
Vide fotografias de fl. 535.

21
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

proprietário da casa alugada por JOSÉ AIRTON para servir de apoio aos membros da
organização criminosa, confirmou que este denunciado alugou, de fato, a residência no final
do mês de setembro/2016, portanto, pouco antes à data da prática do crime de roubo à
empresa SERVISAN27, levando-nos à certeza de que o aluguel ocorreu com a finalidade
específica de dar apoio aos integrantes do “núcleo” da organização criminosa, que viriam ao
Piauí para praticar os crimes.

Nos autos, às fls. 2514/2516, consta cópia do contrato de locação residencial


realizado entre JOSÉ AIRTON e a esposa do Sr. GESDINALDO SANTOS ROCHA,
confirmado o que fora apurado pela Polícia Judiciária.

Pelo exposto, Excelência, vê-se que JOSÉ AIRTON funcionou dando suporte
logístico aos membros da quadrilha na cidade de Teresina/PI, já que todos eles residiam em
outros estados. Teve, assim, importante participação para o desfecho criminoso, devendo,
portanto, ser condenado pelos crimes que deu causa.

Sua participação é, sobremaneira, evidente, tanto no crimes de extorsão


mediante sequestro, quanto nos delitos de roubo qualificado e de organização criminosa.

V. EDUARDO DA SILVA SOARES, vulgo “DUDA”

JOSÉ AIRTON e EDUARDO (DUDA) eram pessoa próximas, tendo o


primeiro afirmado em seu interrogatório que este foi quem indicou a casa, no Alto da
Ressurreição, para o aluguel, além do fato de EDUARDO (DUDA) ser o responsável por
guardar três armas de fogo utilizadas nos delitos. JOSÉ AIRTON também afirmou, em seu
interrogatório, que EDUARDO (DUDA) recebeu, por sua participação, a quantia de R$
20.000,00 (vinte mil reais).

Em interceptação telefônica, JOSÉ AIRTON realiza vários diálogos com o


EDUARDO (DUDA), e em um deles este faz uma espécie de cobrança, o que indica que
seria a cobrança dos valores para EDUARDO levar as armas utilizadas na empreitada

Vide 1’00’’ e 2’18’’ do depoimento.


27

22
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

criminosa.28

MARCELO RABELO RODRIGUES, também denunciado, em seu


interrogatório perante a Autoridade Policial, afirmou que indicou e apresentou EDUARDO
(DUDA) aos demais criminosos para dar apoio logístico. E que EDUARDO (DUDA)
indicou a casa do Alto da Ressurreição para ser alugada, o sítio para ser usado como
cativeiro, além de veículos e rotas de fuga.

Segundo MARCELO RABELO, EDUARDO (DUDA) receberia o valor


correspondente a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), porém somente recebeu a quantia
de R$ 20.000,00 (vinte mil reais). MARCELO RABELO também informou que EDUARDO
(DUDA) ficou responsável por esconder as armas.

Registre-se que EDUARDO (DUDA) foi reconhecido por FRANCISCA DAS


CHAGAS ALMEIDA RIBEIRO como sendo uma das pessoas que frequentavam a casa de
JOSÉ AIRTON (namorado dela).

Em Juízo, FRANCISCA DAS CHAGAS ALMEIDA RIBEIRO, companheira


de JOSÉ AIRTON, confirmou que a partir de julho de 2016 os denunciados EDUARDO
(DUDA) e CLAUDIO FREITAS passaram a frequentar a casa de JOSÉ AIRTON,
demonstrando que todos já planejavam o apoio logístico e a execução dos crimes
perpetrados pela organização criminosa voltada a prática de roubos a instituições
financeiras.29 Afirmou também que no período próximo à data do roubo, JOSÉ AIRTON
passou a viajar com mais frequência ao estado do Ceará, corroborando o interrogatório, na
Polícia, do próprio JOSE AIRTON.30

Em seu interrogatório31, EDUARDO (DUDA) afirmou que recebeu o convite


de MARCELO RABELO para participar da empreitada criminosa que seria realizada contra
a SERVI-SAN32. Admitiu ter indicado uma casa próxima à "Pousada Gurupi" para ser
28
Vide fl. 264, dos autos da interceptação telefônica; chamada Guardião 6707592.WAV.
29
Vide 2’58’’; 7’58’’ e 8’24’’, do depoimento.
30
Vide 9’45’’ do depoimento.
31
Vide fls. 606/608 e 622
32
Este fato foi confirmado pelo MARCELO RABELO em seu interrogatório;

23
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

utilizada pelos criminosos, bem como ter levado IZEQUIAS LANZILOTI, também
denunciado, para a cidade de Fortaleza-CE, além de ter feito o levantamento do trajeto da
fuga de Teresina a Campo Maior. Confessou ter recebido duas pistolas e um fuzil de JOSÉ
AIRTON, após a ação delituosa para serem guardadas e entregues posteriormente.
Confirmou que recebera apenas R$ 20.000,00 (vinte mil reais), depositados na conta de sua
cunhada - LIDIANE GOMES.

Assim, também resta caracterizada a associação do DUDA à organização


criminosa, bem como sua participação efetiva aos crimes de roubo e extorsão mediante
sequestro.

VI. MARCELO RABELO RODRIGUES

MARCELO RABELO RODRIGUES já tinha trabalhado na empresa SERVI-


SAN, repassando informações privilegiadas obtidas quando ali passou para o demais
criminosos.

Durante a investigação, MARCELO RABELO foi flagrado na companhia de


CARLOS ACÁCIO FREITAS DOS SANTOS, indivíduo já preso várias vezes por
envolvimento em arrombamentos de bancos.

Segundo a testemunha FRANCISCO CARLOS PEREIRA DOS SANTOS,


MARCELO RABELO é compadre de CARLOS ACÁSSIO. Além disso, referida
testemunha presenciou, em diligência policial, encontro entre MARCELO e CARLOS
ACÁSSIO.33

De acordo com a testemunha ANTONIO FRANCISCO FERREIRA, ouvida


em Juízo, sobre MARCELO, afirmou que conhece o MARCELO há uns 04 ou 05 anos.
Disse que estava na Expoapi e que viu o acusado por volta do dia 10 ou 11 de dezembro.
Afirmou que estava lá a trabalho e permaneceu do evento durante os quatro dias. Disse que
MACELO chegou 15 horas da tarde até 03 horas da manhã. Afirmou que o acusado fazia

Vide 25’47 e 33’00’’ do depoimento.


33

24
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

negócios, quais sejam: compra e venda de animais, de terrenos. Disse que foi com o acusado
e um amigo do mesmo comprar um terreno, no interior de Altos, pois ganhariam uma
comissão de R$ 1000,00 (mil reais) a ser dividida entre os três. Reconheceu CARLOS
ACACIO em audiência, como sendo a pessoa que também foi olhar o referido terreno,
afirmando que este se encontrava em um carro strada branco, inclusive, acompanhado de sua
esposa.

Também foi confirmado seu envolvimento com EDUARDO (DUDA), tendo


este afirmado em seu interrogatório que, em meados de agosto, foi convidado por
MARCELO RABELO a fazer uma "parada grande" na SERVI-SAN, pois pensavam que
este ainda trabalhava naquela empresa. Segundo EDUARDO (DUDA) foi prometido a
MARCELO RABELO valor equivalente a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), além de
R$ 100.000,00 (cem mil reais) para quem auxiliasse na empreitada.34

Extrai-se, portanto, que a função de MARCELO RABELO, JOSÉ AIRTON e


EDUARDO (DUDA), era de dar apoio logístico aos criminosos que participariam da “linha
de frente” da ação.

Em seu interrogatório, perante a Autoridade Policial, MARCELO RABELO


disse que, no mês de março de 2016, foi abordado por dois indivíduos, que se identificaram
como ALFREDO e ALDEMIR, sendo-lhe perguntado se trabalhava na SERVI-SAN, ao que
respondeu negativamente, alegando ter indicado a pessoa conhecida por MÁRCIO para
execução de um plano. Declarou, ainda, ter indicado EDUARDO (DUDA) para auxiliar no
plano, tendo este último ficado responsável por alugar veículos, imóveis e toda a logística
necessária.

Por sua participação no plano, MARCELO RABELO mencionou ter sido


prometido perceber a quantia de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), no entanto alegou que,
de fato, não teria recebido nada.

Vale dizer, Excelência, que MARCELO RABELO já foi investigado pela

Interrogatório de MARCELO RABELO RODRIGUES – fls. 664/669


34

25
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

GRECO por estar, possivelmente, repassando informações sigilosas da SERVISAN.35

MARCELO RABELO, DUDA e CLAUDIO FREITAS DOS ANJOS, todos


réus, pouco antes do roubo a SERVISAN, durante o ano de 2016, por diversas vezes
frequentaram a casa do denunciado JOSÉ AIRTON, conforme depoimento de FRANCISCA
DAS CHAGAS ALMEIDA RIBEIRO, companheira de JOSE AIRTON há 04 (quatro)
anos.36

FRANCISCA DAS CHAGAS reconheceu, através de fotografias, as pessoas


de MARCELO RABELO, DUDA e CLAUDIO FREITAS DOS ANJOS como sendo as
pessoas que passaram a frequentar, com constância, a casa do JOSÉ AIRTON no ano de
2016.37

Segundo a testemunha FRANCISCO CARLOS PEREIRA DOS SANTOS,


ouvida em Juízo, confirmou os fatos, afirmando que o denunciado MARCELO foi
contactado pelo “núcleo” da organização criminosa, de São Paulo, por ser ex empregado da
SERVISAN. MARCELO, por sua vez, teria procurado DUDA e JOSE AIRNTON para
ajudar no planejamento e logística dos crimes praticados. MARCELO, segundo a
testemunha, teria dito ao “núcleo” de criminosos que não mais trabalhava na SERVISAN,
porém indicou o nome do FELICIANO para servir como informante e efetivo colaborador
ao grupo criminoso de São Paulo, a fim de que este pudesse praticar os delitos aqui
apurados.38

VII. CLÁUDIO FREITAS DOS SANTOS

CLÁUDIO FREITAS DOS SANTOS é irmão de CARLOS ACÁCIO e


companheiro de ELIZANGELA LANZILOTI (ex-esposa de IZEQUIAS LANZILOTI e ex-
companheira de CARLOS ACÁCIO).39

35
Vide fl. 560;
36
Vide fls. 634/635; 654/655
37
Vide fls. 656/661.
38
Vide 13’13’’, 14’45’’, e 27’25’’ do depoimento.
39
Interrogatório de fls. 709/711.

26
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

Durante a prisão de JOSÉ AIRTON, foi encontrado na residência deste um


comprovante de depósito no valor de R$ 500,00, em nome de ELIZÂNGELA LANZILOTI,
assim como uma inscrição em caneta sobre uma conta em nome de ELIZANGELA
SIMONE.40

CLÁUDIO FREITAS tentou disfarçar, informando que a referida quantia


teria sido emprestada por JOSÉ AIRTON para compra de passagens. No entanto, vê-se a
falácia de suas afirmações, uma vez ter dito que comprou as passagens por meio de cartão de
crédito, não sacando, portanto, o dinheiro, conforme interrogatório.

CLÁUDIO FREITAS foi reconhecido por FRANCISCA DAS CHAGAS


ALMEIDA RIBEIRO, como sendo uma das pessoas que mais frequentou a casa de JOSÉ
AIRTON no ano de 2016, bem como em 2017, inclusive dormindo no local. 41 A testemunha
FRANCISCO CARLOS PEREIRA DOS SANTOS também reforçou esta ligação entre os
dois denunciados.42

Em Juízo, FRANCISCA DAS CHAGAS ALMEIDA RIBEIRO, companheira


de JOSÉ AIRTON, confirmou que a partir de julho de 2016 os denunciados EDUARDO
(DUDA) e CLAUDIO FREITAS passaram a frequentar a casa de JOSÉ AIRTON,
demonstrando que todos já planejavam o apoio logístico e a execução dos crimes
perpetrados pela organização criminosa voltada a prática de roubos a instituições
financeiras.43 Afirmou também que no período próximo à data do roubo, JOSÉ AIRTON
passou a viajar com mais frequência ao estado do Ceará, corroborando o interrogatório, na
Polícia, do próprio JOSE AIRTON.44

Registre-se que CLÁUDIO FREITAS responde a 04 processos criminais no


Estado de São Paulo pelos crimes de roubo, furto e associação criminosa.

Assim, CLÁUDIO FREITAS, juntamente com CARLOS ACÁCIO,


40
Fls. 638/640.
41
Fl. 658/659.
42
Vide 9’30’’ do depoimento.
43
Vide 2’58’’; 7’58’’ e 8’24’’, do depoimento.
44
Vide 9’45’’ do depoimento.

27
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

representava o elo entre o “núcleo” da organização criminosa de São Paulo e os denunciados


cooptados residentes no Piauí, a exemplo de JOSÉ AIRTON, DUDA, FELICIANO e
MARCELO RABELO.

Assim, demonstrada a efetiva participação nos crimes de roubo qualificado e


extorsão mediante sequestro, pois responsável por cooptar pessoas em Teresina/PI para
agilizarem logística para os criminosos praticarem o roubo e a extorsão mediante sequestro.

VIII. CARLOS ACÁCIO FREITAS DOS SANTOS


Após investigações, verificou-se que CARLOS ACÁCIO FREITAS DOS
SANTOS mantinha conversações com MARCELO RABELO em Teresina-PI. 45 Ele é
bastante conhecido no meio policial por envolvimento em arrombamentos de agências
bancárias, respondendo a 08 (oito) processos criminais no Estado de São Paulo. Foi preso no
Piauí, no dia 27/08/11, por tentar arrombar o banco Bradesco da av. João XXIII, bairro São
Cristóvão, em Teresina-PI.

MARCELO RABELO reconheceu CARLOS ACÁCIO como um dos


participantes do roubo a SERVISAN.46

Durante a investigação, MARCELO RABELO foi flagrado na companhia de


CARLOS ACÁCIO FREITAS DOS SANTOS, indivíduo já preso várias vezes por
envolvimento em arrombamentos de bancos.

Cumpriu prisão preventiva decretada nos autos do processo judicial atrelado a


inquérito policial que investigou um roubo na Procuradoria Geral do Estado do Piauí,
ocorrido em 17/06/16.

Conversas interceptadas entre CARLOS ACÁCIO e MARCELO RABELO


mostram que eles dissimulavam a conversa, usando muito linguagem própria para não ser
identificados

Vide fl. 668.


45

Fl. 681/682
46

28
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

Durante as investigações, mais precisamente no dia da prisão de JOSÉ


AIRTON, foi encontrado comprovante de depósito no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais),
em nome de ELIZÂNGELA S F LANZILOTI (ex-esposa de IZEQUIAS LANZILOTI, ex-
companheira de CARLOS ACÁCIO, atual companheira de CLÁUDIO FREITAS). Tal verba
seria para pagamento do aluguel, água e luz da casa alugada no bairro Alto da Ressurreição,
em Teresina-PI, alugada por JOSÉ AIRTON para servir de base para os componentes da
quadrilha.
CLÁUDIO FREITAS DOS SANTOS é irmão de CARLOS ACÁCIO e
companheiro de ELIZANGELA LANZILOTI (ex-esposa de IZEQUIAS LANZILOTI e ex-
companheira de CARLOS ACÁCIO).47

Assim, CLÁUDIO FREITAS, juntamente com CARLOS ACÁCIO,


representava o elo entre o “núcleo” da organização criminosa de São Paulo e os denunciados
cooptados residentes no Piauí, a exemplo de JOSÉ AIRTON, DUDA, FELICIANO e
MARCELO RABELO.

Assim, demonstrada a efetiva participação nos crimes de roubo qualificado e


extorsão mediante sequestro, pois responsável por cooptar pessoas em Teresina/PI para
agilizarem logística para os criminosos praticarem o roubo e a extorsão mediante sequestro.

IX. WALLACE MARQUES DA ROCHA

Após comprovada ligação com MÁRCIO DANTAS, passou a ser


investigado, tendo obtido informações que este responde a 19 processos criminais em São
Paulo pelos crimes de roubo, porte ilegal de arma, entre outros.

Forneceu arma de fogo para MÁRCIO DANTAS participar da ação


criminosa, inclusive WALACE chegou a mencionar durante conversa telefônica com
GERVÁSIO que “arrumou o brinquedo, arrumou tudo e ele (MÁRCIO) só pagou os R$

Interrogatório de fls. 709/711.


47

29
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

4.500,00 do agiota”.48

As investigações apontam, também, que WALLACE estava planejando outras


ações criminosas, mas no próprio Estado de São Paulo.

Em seu interrogatório, perante a Autoridade Policial, WALLACE afirmou ter


sido sondado por MÁRCIO DANTAS se possuía armas, negando tê-las fornecido.

X. PAULO SÉRGIO FRANCISCO DOS SANTOS, vulgo PAULO


BAHIA

Pelas imagens colhidas no Colégio Dina Maria Soares, conseguiu-se


identificar o denunciado PAULO SÉRGIO FRANCISCO DOS SANTOS (com o auxílio da
Polícia do Estado do Maranhão), possivelmente procurando por câmeras, o que denota de
forma concisa e precisa a sua participação na empreitada criminosa.49

Lembre-se que o denunciado FELICIANO trabalhava, como vigia, na


Unidade Escolar Dina Maria Soares. Em 11/12/2016, um domingo, na manhã seguinte ao
roubo da SERVISAN, as câmeras da Unidade captaram imagens do PAULO SÉRGIO no
local, à procura de câmeras que pudessem ter identificado o veículo Duster50 ter pego
FELICIANO na noite anterior. O sequestro fraudulento de FELICIANO teria ocorrido
justamente na Unidade Escolar Dina Maria Soares, próximo ao horário que ocorreu o roubo
a empresa. Contudo, verificou-se acima que FELICIANO entrou no veículo dos pseudos
sequestradores de forma voluntaria.

Lembre-se, ainda, que o veículo utilizado pelo denunciado PAULO SÉRGIO


– S10, de cor prata – foi um dos veículos utilizados, e posteriormente abandonado, no
roubou da SERVISAN.51

48
Vide fl. 619, dos autos da interceptação telefônica. Chamada do Guardião 6746786.WAV
49
Vide fls. 537/543.
50
Comprovadamente de propriedade do denunciado JOSÉ AIRTON
51
Vide fl. 543.

30
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

PAULO SÉRGIO responde por 11 processos criminais no Estado de São


Paulo, relativo a crimes de ROUBO, DANO, EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO,
entre outros. Atualmente se encontra preso em Pedrinhas/MA por participação em roubo de
uma transportadora de valores em Bacabal/MA, fato ocorrido no dia 06/01/17.52

XII. IZEQUIAS LANZILOTI

Após perceber sua ligação com MARCELO RABELO foi que se concluiu a
participação de IZEQUIAS na empreitada criminosa.

Durante interrogatório, EDUARDO (DUDA) reconheceu IZEQUIAS


LANZILOTI como sendo a pessoa que se identificou como “Maurício” e que havia
procurado JOSÉ AIRTON e MARCELO RABELO para a execução do plano criminoso.
Afirmou EDUARDO (DUDA) ter levado IZEQUIAS LANZILOTI de Teresina a Fortaleza
para que o mesmo viajasse a São Paulo, bem como que chegou a fazer o percurso de
reconhecimento com este, juntamente com JOSÉ AIRTON, de Teresina a Campo Maior,
para formatar o plano de fuga após o roubo à SERVISAN.

IZEQUIAS LANZILOTI é ex-esposo de ELIZÂNGELA LANZILOTI, a qual


é ex-companheira de CARLOS ACÁCIO e atual companheira de CLÁUDIO FREITAS, o
que demonstra estreita ligação entre os indivíduos.

Existiram transações bancárias entre o JOSÉ AIRTON e ELIZÂNGELA


LANZILOTI, conforme demonstrado acima. Seriam depósitos bancários em favor de JOSÉ
AIRTON para que este pagasse as contas de manutenção da casa (água, luz etc) que alugou
para servir de apoio logístico aos membros da organização criminosa.

A testemunha FRANCISCO CARLOS PEREIRA DOS SANTOS, ouvida em


Juízo, informou que esteve no Hotel Arrey, localizado na Av. João XXIII, nesta capital, e
constatou que cerca de um ano antes ao assalto, o denunciado IZEQUIAS LANZILOTI
esteve hospedado naquele estabelecimento, denotando que o “núcleo” do grupo criminoso,

Vide fls. 541 e 542.


52

31
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

já àquela época, estava planejando o assalto à SERVISAN. Disse também que IZEQUIAS
seria o líder da organização criminosa; que teria sido reconhecido por vítimas no local do
roubo da SERVISAN; que tem o apelido de VÉI, o que se corroborou através de escuta
telefônica, pois um dos interlocutores era o VÉI, e o outro interlocutor teria-o chamado de
IZEQUIAS; que IZEQUIAS conversava com MARCELO RABELO cobrando valores da
participação do roubo.53

IZEQUIAS responde a 17 processos criminais no Estado de São Paulo e no


Maranhão pelos crimes de roubo, furto, receptação, uso de documento falso, etc.

Em seu interrogatório à polícia54, JOSÉ AIRTON afirmou que uma pessoa


chamada CAMARÃO teria apresentado o DUDA, o Maurício, ou “Véi”, e MARCELO. Na
realidade o “Véi” se tratava do denunciado ISEQUIAS LANZILOTTI, enquanto Marcelo se
tratava de MARCELO RABELO RODRIGUES, também denunciado, conforme reconheceu
o JOSÉ AIRTON em seu interrogatório.

JOSÉ AIRTON também deu apoio logístico durante e após o assalto à


SERVISAN, como, por exemplo, esconder as armas utilizadas no roubo, e entrega-las a
terceiros na cidade de Fortaleza/CE, a pedido de ISEQUIAS LANZILOTTI. Por isso as idas
e vindas mais constantes ao estado Ceará, como assim afirmou a testemunha FRANCISCA
DAS CHAGAS ALMEIDA RIBEIRO em Juízo.

6. DOS CRIMES PRATICADOS

Resta claro, à vista dos fatos antes narrados, que os denunciados praticaram
os crimes previstos nos arts. 157, § 2º, I, II, III e V, e 159, § 1º, do Código Penal, e art. 2º, §
2º, da Lei 12.850/13, todos c/c art. 29 do Código Penal (Roubo majorado, extorsão mediante
sequestro e organização criminosa em concurso de pessoas). Vejamos:

Todos esses elementos expostos nesta peça, Excelência, são caracterizadores

9’12’’; 23’37’’, 30’11’’, 60’21’’, 62’20’’, do depoimento.


53

Vide fls. 629/632


54

32
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

de bem engendrada organização criminosa, nos exatos termos definidos pela Lei
12.850/2013 (Lei de Organização Criminosa), pois estruturalmente ordenada e caracterizada
pela nítida divisão de tarefas entre seus membros, tendo por objetivo obter vantagem de
qualquer natureza, mediante a prática de inúmeros roubos a bancos, caixas eletrônicos e
instituições financeiras.55
Os antecedentes criminais dos réus não nos deixam mentir: a sua grande
maioria tem expertise na prática de roubos a instituições financeiras e a carros fortes, o que
denota tratar-se, portanto, que vários dos denunciados são membros de organização
criminosa interestadual voltada a praticar diversos delitos desse jaez, pelo País afora; não se
tratou de mera reunião ocasional de pessoas com o fim de cometer somete o crime de roubo
da SERVISAN.

No caso em espécie, como dito, existem denunciados que fazem parte do


“núcleo” da dita organização criminosa interestadual, pois facilmente se percebe sua atuação
articulada, seja no planejamento (execução indireta) ou propriamente na execução direta dos
delitos de roubo, e de extorsão mediante sequestro e associação criminosa. E estes crimes
são do mesmo jaez daqueles que compõem os antecedentes criminais de cada um deles,
quais sejam, crimes contra instituições financeiras (roubo a banco, carros fortes etc),
demonstrando, assim, que todos estão permanentemente e estruturalmente coordenados e
unidos com o fim de cometer delitos de roubos a instituições financeiras pelo País a fora, e
alguns destes até no exterior. São eles:

MÁRCIO DANTAS DA SILVA

CARLOS WELLINGTON MARQUES DE JESUS

CLÁUDIO FREITAS DOS SANTOS

CARLOS ACÁCIO FREITAS DOS SANTOS

55
Art. 1º, § 1º, da Lei 12.850/2013: “§ 1o  Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou
indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam
superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.”

33
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

WALLACE MARQUES DA ROCHA

PAULO SÉRGIO FRANCISCO DOS SANTOS

IZEQUIAS LANZILOTI

Os demais, da mesma forma, também participaram ativamente dos delitos


aqui apurados, seja vigiando e/ou planejando (execução indireta) ou executando diretamente
os crimes.

Contudo, é preciso dizer que, de acordo com as investigações, estes não


fazem parte do “núcleo” da organização criminal interestadual, o que não significa afirmar
que não compõem a organização criminosa, pois associaram-se à mesma há, pelo menos, 06
meses antes dos crimes56.

Os denunciados citados abaixo aderiram, voluntariamente, ao “núcleo” da


organização criminosa, aceitando tarefas repassadas pelo “núcleo”, para a efetividade da
prática de infrações penais com penas máxima superiores a 04 (quatro) anos, no caso, os
delitos de roubo majorado e extorsão mediante sequestro, com o fim de obter vantagens em
dinheiro, qual seja, a divisão do dinheiro roubado dos cofres da SERVISAN.

Como visto acima, a participação destes denunciados foi crucial para o êxito
dos delitos, sem as quais fatalmente os crimes de roubo e extorsão mediante sequestro não
teriam existido.

São eles:

FELICIANO MENDES SOUSA FILHO

JOSÉ AIRTON RODRIGUES

Trata-se crime formal, portanto consuma-se com a mera associação.


56

34
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

EDUARDO DA SILVA SOARES

MARCELO RABELO RODRIGUES

Os 04 (quatro) denunciados acima, portanto, cometeram o crime de


organização criminosa, assim como aqueles denunciados do “núcleo” da organização.
Vejamos:

A Lei que a define tem-se que a organização criminosa exige a reunião de,
pelo menos, quatro pessoas, estruturalmente ordenado e caracterizado pela divisão de
tarefas, ainda que informalmente, sob um comando individual ou coletivo, com o fim de
cometimento de infrações penais que tenham penas máximas superiores a quatro anos.

Neste sentido, Marcelo Batlouni Mendroni 57, ao diferenciar organização


criminosa de associação criminosa, elucida:

“Quatro pessoas se reúnem e combinam assaltar bancos. Acertam dia,


local e horário, em que se encontrarão para o assalto. Decidem funções de vigilância e
execução entre eles e partem. Executam o crime em agência bancária eleita às vésperas.
Repetem a operação em dias quaisquer subsequentes. Formaram “associação
criminosa”. Se, ao contrário, as pessoas reunidas planejam – de forma organizada – os
assaltos, buscando informações privilegiadas preliminares – como por exemplo estudar
dias e horários em que determinada agência bancária contará com mais dinheiro em
caixa, a sua localização na agência, a estrutura da vigilância e dos alarmes, planejar
rotas de fuga, infiltrar agentes de segurança, neutralizar as câmeras filmadoras
internas etc.-, esse grupo poderá ser caracterizado como uma organização criminosa
voltada para a prática de roubo a bancos. Enquanto a primeira inexiste prévia
organização para a prática, os integrantes executam as suas ações de forma
improvisada ou desorganizada, na segunda sempre haverá mínima atividade
organizacional prévia de forma a tornar os resultados mais seguros.” (grifo nosso).
57
MENDRONI, Marcelo Batlouni. Comentários à Lei de Combate ao Crime Organizado. São Paulo: Atlas. 2013, pag. 6.

35
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

Excelência, o que se encontra em destaque (negrito) na passagem acima foi


justamente o que TODOS os denunciados fizeram no presente caso, sejam os integrantes que
compuseram o “núcleo” da organização criminosa, sejam os denunciados que aderiram a
atividade deste “núcleo”.

Dessa feita, todos devem ser condenados, em concurso de crimes, aos delitos
esposados na denúncia-crime, isto é, aos delitos dos arts. 157, § 2º, I, II, III e V (Roubo
Qualificado) e 159, § 1º (Extorsão Mediante Sequestro), do Código Penal; e art. 2º, § 2º, da
Lei 12.850/13 (Organização Criminosa), todos c/c art. 29 do Código Penal.

7. DOS PEDIDOS

DIANTE DO EXPOSTO, o Ministério Público do Estado do Piauí requer à


V.Exa.:

1) seja a presente ação JULGADA PROCEDENTE, com a consequente


CONDENAÇÃO DOS RÉUS FELICIANO MENDES SOUSA FILHO, MÁRCIO
DANTAS DA SILVA, CARLOS WELLINGTON MARQUES DE JESUS, JOSÉ
AIRTON RODRIGUES, EDUARDO DA SILVA SOARES, MARCELO RABELO
RODRIGUES, CLÁUDIO FREITAS DOS SANTOS, CARLOS ACÁCIO FREITAS
DOS SANTOS, WALLACE MARQUES DA ROCHA, PAULO SÉRGIO FRANCISCO
DOS SANTOS, IZEQUIAS LANZILOTI, MARCELO JOSÉ DE LIMA , pela prática
dos crimes tipificados nos artigos dos arts. 157, § 2º, I, II, III e V (Roubo Qualificado) e 159,
§ 1º (Extorsão Mediante Sequestro), do Código Penal; e art. 2º, § 2º, da Lei 12.850/13
(Organização Criminosa), todos c/c art. 29 do Código Penal;

2) Pela demonstração cabal da autoria e da materialidade dos delitos, bem como


para a garantia da ordem pública – pois os denunciados presos preventivamente representam
grave risco à ordem pública, pois comprovadamente são pessoas integrantes de articulada
organização criminosa interestadual voltada a cometer crimes contra o patrimônio
utilizando-se da violência e grave ameaça -, REQUER A MANUTENÇÃO DA PRISÃO
PREVENTIVA DAQUELES QUE SE ENCONTRAM PRESOS PROVISORIAMENTE
POR ESTE PROCESSO CRIMINAL.

Nestes termos.
Espera deferimento.
Teresina/PI, 12 de abril de 2018.

Rômulo Paulo Cordão

36
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA
Rua Cícero Carvalho, 2850, CEP: 64050-155, Planalto Ininga – Teresina/PI.
e-mail: gaeco@mppi.mp.br

Promotor de Justiça
Coordenador do GAECO/PI

Luana Azerêdo Alves


Promotora de Justiça
Membro do GAECO/MPPI

Sinobilino Pinheiro da Silva Junior


Promotor de Justiça
Membro do GAECO/MPPI

Juliana Martins Carneiro Nolêto


Promotora de Justiça
3ª Promotoria de Teresina

37

Você também pode gostar