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Poder Judiciário

JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária de Santa Catarina
1ª Vara Federal de Joinville
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AÇÃO PENAL Nº 5002014-62.2011.4.04.7201/SC
AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
RÉU: SERGE GOULART
ADVOGADO: CYNTHIA MARIA PINTO DA LUZ
RÉU: FRANCISCO JOAO LESSA
ADVOGADO: CYNTHIA MARIA PINTO DA LUZ
RÉU: CARLOS ROBERTO DE CASTRO
ADVOGADO: CYNTHIA MARIA PINTO DA LUZ
SENTENÇA
O Ministério Público Federal - MPF - ofertou DENÚNCIA contra Francisco
João Lessa, José Onírio Martins, Carlos Roberto de Castro e Serge Goulart,
preambularmente qualificados, imputando-lhes a prática das condutas tipificadas,
respectivamente, (i) nos artigos 288 e 329, §1º, na forma dos artigos 29 e 69, todos do Código
Penal - CP, (ii) no artigo 288 do CP, (iii) nos artigos 288 e 329, §1º, na forma dos artigos 288 e
329, §1º, na forma dos artigos 29 e 69 e (iv) nos artigos 288 e 329, §1º, este cometido por duas
vezes, na forma dos artigos 29 e 69, todos do CP, in verbis:
FATO 1 - ART. 288 do CP
A partir de outubro de 2002 até data incerta, FRANCISCO JOÃO LESSA, JOSÉ ONÍRIO
MARTINS, CARLOS ROBERTO DE CASTRO E SERGE GOULART associaram-se em quadrilha
para o fim de cometer crimes, em especial, os previstos nos arts. 286, 329, § 1º, e 347 do Código
Penal.
Entre os diversos atos criminosos praticados pela quadrilha, destacam-se os seguintes:
1. FRANCISCO JOÃO LESSA e SERGE GOULART, na data de 05/10/2004, impediram que os
Oficiais de Justiça Avaliadores Federais (OJAF's) Alexandre Lepper e Marcelo Aranha
cumprissem mandado judicial, oriundo do Juízo Federal das Execuções Fiscais de Joinville, que
determinava a remoção e entrega de uma Furadeira Radial Nardini, de propriedade da empresa
POLIASA INDÚSTRIA DE PRODUTOS DO LAR LTDA.,  arrematada em leilão judicial. Para
tanto, os denunciados instigaram os funcionários da sobredita empresa para que impedissem o
cumprimento da ordem judicial, bem como ameaçaram e amendrontaram os oficiais de justiça,
fato esse que impossibilitou os oficiais de justiça federais de executarem citada ordem.
 
2.  FRANCISCO JOÃO LESSA, JOSÉ ONÍRIO MARTINS, CARLOS ROBERTO DE
CASTRO E SERGE GOULART, durante o período em que administravam a empresa,
entregaram, em 18.12.2006, nos autos da Execução Fiscal n. 96.01.02730-0, bens diversos dos
que foram, de direito arrematados. Tal conduta teve por escopo de induzir em erro o juízo da
execução (fl. 14v.).
3. No dia 31 de maio de 2007, diante da decisão proferida nos autos da Execução Fiscal n.
98.01.06050-6, que decretou a intervenção judicial na empresa, CARLOS ROBERTO DE
CASTRO e SERGE GOULART,  de microfone em punho na frente da CIPLA incitaram os
trabalhadores a expulsar "a pontapés" o interventor RAINOLDO UESSLER da empresa. Por
conta disso, o interventor chegou a ser vítima de lesão corporal.
De ver-se, ainda que, para a realização de suas atividade ilícitas, os denunciados chegaram a
ministrar técnicas de resistência e segurança aos funcionários da empresa, bem como a fabricar,
na marcenaria localizada no interior da fábrica da CIPLA, porretes para combater eventual
investida policial.
 
2. FATO 2 - ART. 329, § 1º do CP
FRANCISCO JOÃO LESSA e SERGE GOULART, na data de 05/10/2004, impediram que os
Oficiais de Justiça Avaliadores Federais (OJAF's) Alexandre Lepper e Marcelo Aranha
cumprissem mandado judicial, oriundo do Juízo das Execuções Fiscais de Joinville, que
determinava a remoção e entrega de uma Furadeira Radial Nardini, de propriedade da empresa 
POLIASA  INDÚSTRIA DE PRODUTOS DO LAR LTDA., arrematada em leilão judicial.
  Para tanto, os denunciados instigaram os funcionários da sobredita empresa para que
impedissem o cumprimento da ordem judicial, bem como ameaçaram e amendrontaram os
oficiais de justiça, fato esse que impossibilitou os oficiais de justiça de executarem citada ordem.
Assim agindo, FRANCISCO E SERGE opuseram-se e efetivamente impediram - a execução de
ato legal, mediante grave ameaça a funcionário competente para executá-lo, estando incursos
nas penas do artigo 329, § 1º, na forma do art. 29, ambos do Código Penal.
 
3. FATO 3 - ART. 329, § 1º do CP
 
No dia 31 de maio de 2007, diante de decisão proferida nos autos da Execução Fiscal n.
98.01.06050-6, que decretou a intervenção judicial na empresa, CARLOS ROBERTO DE
CASTRO e SERGE GOULART  impediram que RAINOLDO UESLER, interventor nomeado
pelo juízo da Execução Fiscal, cumprisse a ordem judicial e assumisse o seu posto de trabalho.
 
Para tanto, os denunciados, de microfone em punho na frente da CIPLA, instigaram e
determinaram que os trabalhadores expulsassem "a pontapés" o interventor RAINOLDO
UESSLER da empresa. Por conta disso, o interventor chegou a ser vítima de lesão corporal.
 
Assim agindo, CARLOS ROBERTO e SERGE opuseram-se - e efetivamente impediram -  a
execução de ato legal, mediante violência praticada contra funcionário competente para executá-
lo, estando incursos nas penas do artigo 329, § 1º, na forma do art. 29, ambos do Código
Penal.   
 
A autoria e a materialidade estão comprovadas pelas decisões proferidas nos autos da Execução
Fiscal n. 98.01.06050-6 (fls. 5-16 e fl. 17); representação de fls. 24-26; depoimentos de fls. 34-
35, 125-127, 128-130, 212-214, 217-219, 221-223; interrogatório de fls. 249-250 e relatório da
autoridade policial (fls. 265-272), que demonstraram que os denunciados associaram-se em
quadrilha, de forma permanente e estável, com o escopo de se manterem na administração da
empresa CIPLA. Para tal desiderato, incitaram a prática de crimes pelos demais funcionários,
ameaçaram trabalhadores, inovaram de forma fraudulenta nos autos da Execução Fiscal n.
98.01.06050-6 e desobedeceram ordens judiciais.   
(evento 1)
Por outro lado, o procurador da República requereu a declaração de extinção de
punibilidade dos acusados por conta da prescrição da pretensão punitiva, em relação aos crimes
dos artigos 287 e 346 do CP (eventos 1-3).
Ainda na peça incoativa, arrolou testemunhas, e, em anexos, juntou documentos
(eventos 1-3).
Em petição igualmente lançada no evento 1, o MPF postulou o reconhecimento da
prescrição da pretensão penal relativamente aos crimes dos artigos 286 e 347, ambos do CP.  
No juízo de delibação sobre o recebimento da denúncia, determinei a emenda à
inicial, in verbis:
Nos presentes autos o Ministério Público Federal ofereceu denúncia de face de FRANCISCO
JOÃO LESSA, CARLOS ROBERTO DE CASTRO e SERGE GOULART, por infração, em tese aos
artigos 288 e 329, § 1.º, ambos do Código Penal e em face de JOSÉ ONÍRIO MARTINS, por
infração, em tese ao disposto no art. 288 do Código Penal (evento 1, INIC1).
Na página 3 da mencionada peça acusatória, o Ministério Público Federal, narra as seguintes
condutas dos acusados FRANCISCO JOÃO LESSA e SERGE GOULART:
'Na data de 05/10/2004, impediram que os Oficiais de Justiça Avaliadores Federais (OJAF's)
Alexandre Lepper e Marcelo Aranha cumprissem mandado judicial, oriundo do Juízo Federal
das Execuções Fiscais de Joinville, que determinava a remoção e entrega de uma Furadeira
Radial Nardini, de propriedade da empresa POLIASA INDÚSTRIA DE PRODUTOS DO LAR
LTDA., arrematada em leilão judicial. Para tanto, os denunciados instigaram os funcionários da
sobredita empresa para que impedissem o cumprimento da ordem judicial, bem como ameaçaram
e amedrontaram os oficiais de justiça, fato esse que impossibilitou os oficiais de justiça federais
de executarem citada ordem.'
Observa-se, contudo, que, ao menos relativamente à conduta acima descrita, já houve a
instauração do devido processo criminal, autuado sob o n.º 2005.72.01.002643-9, em trâmite
perante este Juízo, e ora em fase de apreciação, pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região,
do recurso de apelação interposto.
Consta da sentença proferida nos referidos autos que:
'SERGE GOULART e FRANCISCO JOÃO LESSA opuseram-se à execução de ato legal,
mediante ameaça a funcionário competente para executá-lo, tendo o ato não se realizado em
razão da resistência imposta por ambos, desobedecendo, ainda, a ordem legal de funcionário
público, incorrendo ambos, dessa forma, nos delitos tipificados nos artigos 329, § 1º, e 330 c.c
artigo 29 e 70, todos do Código Penal.
No dia 05 de outubro de 2004, por volta das 14:35 horas, os Analistas Judiciários/Executantes
de Mandados, ALEXANDRE LEPPER e MARCELO ARANHA, compareceram na sede da
empresa POLIASA IND/ DE PRODUTOS DO LAR LTDA., para cumpri mandado judicial,
oriundo do Juízo Execuções Fiscais de Joinville, de remoção e entrega de uma Furadeira
Radial NARDINI, modelo M-FRN 60/2000, n. NB8HGRN45, de propriedade da referida
empresa, arrematada pelo Sr. NELSON PEDRO WENZUITA em leilão judicial.
Os Oficiais de Justiça, acompanhados de 2 policiais federais e outros 6 policiais militares, foram
recepcionados pelos denunciados, os quais tentaram convencê-los a não cumprir o mandado, sob
a justificativa de que o maquinário seria indispensável para a continuidade das funções da
empresa.
Em não obtendo êxito na tentativa de persuadir os Oficiais de Justiça a deixar de cumprir o
mandado, os denunciados passaram a instigar os funcionários da empresa para que impedissem
o cumprimento da ordem judicial.
Assim, os funcionários da empresa passaram a trancar todas as portas de acesso do
estabelecimento, posicionaram prateleiras e veículos nos corredores que dão acesso ao pavilhão
onde estava localizada a máquina, tendo, inclusive, formado um cordão de isolamento com
aproximadamente 350 pessoas, em uma das alas próxima ao maquinário objeto do mandado, o
que inviabilizou o prosseguimento da diligência.
Dessa forma, em virtude do agravamento da situação, requisitou-se reforço policial, tendo
comparecido, além de outros agentes, o Tenente Zelindro e o Coronel Gaudino, da Polícia
Militar, e os Delegados Federais Mikalowski e Mesquita.
Apesar disso, o número de policiais continuou insuficiente para dar prosseguimento à diligência
e, em virtude de as autoridades policiais, tanto Militar, quanto Federal, não possuírem efetivo
disponível para garantir o cumprimento do mandado, chegou-se à conclusão de que não havia
condições de concretizar o ato processual.
A materialidade e a autoria do delito encontram-se demonstradas nos documentos acostados aos
autos, a saber: certidão dos Analistas Judiciários/Executantes de Mandados ALEXANDRE
LEPPER e MARCELO ARANHA (fls. 05/06), Ofício enviado pelo delegado MESQUITA, da
Polícia Federal (fls. 07/08), cópia do mandado de entrega de bens (fl. 20), cópia do auto de
penhora e depósito (fl. 21), cópia do auto de arrematação (fl. 22) e a oitiva de ALEXANDRE
LEPPER (fls. 25/26), MARCELO ROGER ARANHA ALVES (fls. 27/28), ALEXANDRE
COMPARSI BRONAUT (fl. 62), RODRIGO MARKOWSKI DEL RIO (fl. 63), JOÃO GALDINO
DE COMPOS FILHOS (fls. 91/92), ZELINDRO ISMAEL FARIAS (fls. 100/100) e FRANCISCO
JOÃO LESSA (fls. 186/187). (...)' - fls. 205-207.' (grifei)
 Desse modo, ante a aparente ocorrência de dupla imputação, a caracterizar bis in idem, dê-se
vista ao Ministério Público Federal para requer o que de direito à regularização da inicial
acusatória, no prazo de 15 (quinze)dias.
 Após, voltem-me conclusos.
Joinville, 14 de julho de 2011.
(evento 4)
À luz dessa deliberação, o procurador da República emendou a inicial, nos
seguintes termos:
Considerando que SERGE GOULART e FRANCISCO JOÃO LESSA foram denunciados e
condenados por esse juízo (autos n. 2005.72.01.002643-9) pela prática descrita no fato 2 da
denúncia (INIC 1, evento 1), utiliza-se a narrativa da conduta apenas para descrever um dos
crimes de fato praticados pela quadrilha.
Assim, substitui-se o capítulo CONCLUSÃO E PEDIDOS da denúncia nos seguintes termos:  
 
Em face do exposto, em sendo objetiva e subjetivamente típica a conduta dos denunciados e não
havendo nenhuma discriminante a justificá-la, o MINISTÉRIO PÚBLICO
FEDERAL denuncia:
- FRANCISCO JOÃO LESSA pela prática do crime descrito no artigo 288 do Código Penal;
- JOSÉ ONÍRIO MARTINS pela prática do crime descrito no artigo 288 do Código Penal;
- CARLOS ROBERTO DE CASTRO pela prática dos crimes descritos no art. 288 e 329, §1º, na
forma dos artigos 29 e 69, todos do Código Penal;
- SERGE GOULART pela prática dos crimes descritos no art. 288 e 329, §1º, na forma dos
artigos 29 e 69, todos do Código Penal.
(evento 7).
Em decisão fundamentada, publicada em 22 de fevereiro de 2012, recebi o
aditamento da denúncia e  determinei a citação dos acusados e a certificação dos antecedentes
criminais dos mesmos (evento 9).
A seguir, declarei extinta a punibilidade, em relação aos crimes previstos nos
artigos 286 e 347, ambos do CP, na forma dos artigos 107, IV, e 109, caput, e incisos V e VI, e
114, II, todos também do CP (evento 10).
As certidões vieram aos autos (evento 12).
Citados, os réus ofertaram, em peças apartadas, por meio da mesma defensora
constituída, respostas à acusação.
Quanto ao réu Francisco João Lessa, a defensora sustentou, no que chamou de
preliminar, a causa excludente de ilicitude consistente na "falta de justa causa para a ação penal
ante a atipicidade da conduta". É que como o réu agiu enquanto advogado, na defesa, portanto,
dos interesses de seus constituintes, esteve amparado pela cláusua constitucional da
inviobilidade do advogado pelos seus atos e manifestações, na forma do artigo 133 da
Constituição Federal e do artigo 2º da lei n. 8.906, de 1994. Igualmente, esta ação penal se
ressentia de justa causa, porque o réu ainda que tivesse contribuído com o processo de
organização política constituído pelos trabalhadores da empresa CIPLA, atuara com o único
desiderato de preservar os empregados daquela empresa, jamais, portanto, com o fim de
promover formação de quadrilha, o que configurara a causa excludente de ilicitude de estado de
necessidade. Alegou, ainda, sempre segundo seus termos, outras preliminares, como a causa
excludente de culpabilidade, consistente esta no fato de todas as manifestações do réu ocorrerem
de forma pública e notória pelas vias da legalidade, alicerçadas em decisões autorizadoras
emanadas do Judiciário Trabalhista, Federal e Estadual e nas mais variadas instâncias de
negociação, reconhecidas pelos entes federativos. Sustentou, ainda que os fatos narrados não
constituíam crime, porque diziam respeito à luta pela defesa dos empregos, travada pelos
operários da CIPLA. Portanto, não há de se falar em quadrilha. Também, alegou ser inepta a
denúncia. É que o fundamento de que serviu o MPF para imputar o crime de quadrilha ao réu
Francisco foi o fato n. 2 narrado no aditamento à denúncia, mas que já servia de imputação ao
mesmo réu, em outra ação penal, ainda em trâmite na Justiça Federal. Ora, ninguém pode ser
acusado duplamente em razão dos mesmos fatos. Ademais, o fato n. 2 narrado no aditamento da
denúncia diz respeito a apenas duas pessoas, o que é insuficiente para configuar o tipo penal de
quadrilha, o qual, à época dos fatos, exigia, pelo menos, quatro pessoas. Depois, tratava-se de
um crime prescrito, porque o fato ocorrera em 2004. Apelou, alfim, no âmbito das preliminares, 
para o disposto no artigo 41 para sustentar a inepcia da denúncia. Quanto ao que chamou de
mérito propriamente dito, realizou um escorço histórico dos fatos, desde que a CIPLA quebrou,
por conta da má gestão dos seus antigos proprietários, passando pela assunção da administração
daquela empresa, por meio da Comissão de Fábrica, amplamente reconhecida pelos poderes
constituídos, como narrado. Em suma, o que se verifica é a atuação de um grupo de
trabalhadores em defesa dos seus direitos trabalhistas, o que, por óbvio, não se confunde com o
tipo penal de quadrilha. Discorreu, depois, sobre os elementos subjetivo e objetivo do tipo penal
em exame, para afirmar que o réu não o praticou. Juntou documentos. Requereu como
diligências (i) que fosse solicitado ao BNDES cópia da análise realizada sobre a viabilidade
financeira das empresas do Grupo CIPLA, no período de gestão da Comissão de Fábrica, no
período de 2002 a 2007 e (ii) que fosse solicitado às empresas CIPLA e INTERFIBRA, por
meio de seu interventor, cópia da Certificação ISO 9001. Postulou a produção de todas as
provas admitidas em direito. Arrolou testemunhas. Requereu, desde logo, a absolvição sumária
do réu Francisco (evento 22).            
Quanto ao corréu Carlos Roberto de Castro,  a defensora constituída deduziu,
em linhas gerais, quanto aos itens I, II, III, as mesmas alegações que deduziu em relação ao
corréu Francisco.  Quanto ao item IV, que capitulou de "INÉPCIA DA DENÚNCIA", e à luz da
imputação que o procurador da República formulou em relação ao corréu Carlos, no fato 3 da
denúncia, tipificado no artigo 329, §1º, do CP, sustentou que, sendo este o fundamento da
acusação, restava insubsistente a imputação de quadrilha. E, igualmente,  a imputação de
resistência qualificada. É que, lançando mão de fatos não individualizáveis para acusar o corréu
Carlos, interditanto, por consequência, a defesa e o contraditório, escrevera uma peça incoativa
inepta. Quanto ao mérito, repetiu em favor do corréu Carlos as teses lançadas em favor do
corréu Francisco. Quanto ao alegado crime de resistência qualificada imputado ao corréu Carlos,
destacou que este não poderia ter impedido o ingresso do interventor judicial na sede da CIPLA,
porque estava do lado de fora dos portões daquela empresa. E, muito menos, se valeu de
violência ou grave ameaça. Juntou documentos. Postulou a produção de todas as provas
admitidas em nosso direito. Arrolou testemunhas. Alfim, requereu a absolvição sumária deste
réu.         
Já com relação ao corréu Serge Goulart, mais uma vez foram lançadas as mesmas
alegações e teses defensivas sustentadas nas respostas anteriores (evento 26).
E, finalmente, no que diz respeito ao corréu José Onírio Martins,  a defensora
constituída deduziu, em linhas gerais, as mesmas alegações e teses desenvolvidas, em relação
aos demais corréus. Juntou documentos. Postulou as provas de praxe. Arrolou testemunhas.
Pediu a absolvisão sumária (evento 28).
A defesa constituída do corréu Franscisco, ainda, ofertou exceção de
litispendência, a qual foi rejeitada, e cuja decisão foi trasladada para estes autos (evento 32 -
DEC2 e CERT1). A defesa constituída interpôs recurso de apelação criminal, que tomou o n.
5005819-86.2012.404.7201/SC. Contudo, a 7ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª
Região negou provimento ao apelo, vindo o acórdão a transitar em julgado.  
Em saneador, o juízo (i) rejeitou os pedidos de absolvição sumária, no que respeita
ao fato 1 da denúncia, que era relativo à imputação da prática do crime de quadrilha previsto no
artigo 288 do CP, (ii) absolveu sumariamente os acusados Carlos Roberto de Castro e Serge
Goulart da imputação relativa ao crime previsto no artigo 329, §1º, do CP, descrito no fato 3 da
denúncia, com fundamento no artigo 397, III, do CPP, (iii) indeferiu o pedido de expedição de
ofícios; (iv) determinou a certificação dos antecedentes, para os fins do artigo 89, § 5º, da lei n.
9.605, de 1998 e (v) a intimação das partes para que promovessem a adequação do rol de
testemunhas para o número legal de 5 testemunhas para cada acusado (evento 33).    
As certidões vieram aos autos (evento 33).
A defesa constituída atendeu à determinação judicial (evento 45).
Ante os antecedentes, o MPF opinou que apenas o réu José Onírio Martins fazia
jus ao benefício da suspensão condicional do processo, requerendo, desse modo, a designação
de audiência, para esse fim, e já arrolando as condições a serem propostas ao acusado. Também
ajustou o rol de testemunhas ao disposto no artigo 532 do CPP (evento 46).
Determinou-se a designação da audiência de suspensão condicional do processo
em relação ao corréu José e acolheu-se a não designação dela para os demais acusados (evento
48).
Os três réus não contemplados pelo benefício apelaram (evento 62).
O juízo recebeu os recursos de apelação como recurso em sentido estrito, sem
efeito suspensivo, e determinando a formação de autos apartados  (evento 65). Na Corte
Regional, a 7ª Turma negou provimento à insurgência, vindo o acórdão a transitar em julgado.
Realizada a audiência de suspensão condicional do processo, em relação ao
acusado José, este aceitou as condições propostas pelo MPF, o acordo foi homologado, e o feito,
quanto a este réu, desmembrado, adquirindo o n. 5005549-28.2013.404.7201.  (evento 82).  
Em relação aos demais acusados, o feito teve determinado o seu prosseguimento
(evento 87).
Em 5 de dezembro de 2013, realizou-se audiência de inquirição das testemunhas
arroladas pela acusação, Valmir Bittencourt, Camilo Piazzera Neto, Maria Carolina de Almeida
Nóbrega e Rainoldo Uessler, este contraditado pela defesa, mas sendo a contradita rejeitada em
audiência. A testemunha Ada, embora intimada, não compareceu. O procurador da República
insistiu em seu depoimento, o que foi deferido. A secretaria ficou incumbida de designar
audiência para que ela fosse ouvida, assim como as testemunhas arroladas pela defensora. Ainda
determinou-se a expedição de carta precatória para a inquirição das testemunhas residentes em
Brasília/DF. E, em relação à testemunha Luiz Inácio Lula da Silva, a secretaria ficou incumbida
de ajustar audiência de videoconferência com a Subseção Judiciária de São Paulo, para este
juízo ouvi-la (evento 123).
Em 22 de abril de 2014, deu-se sequência à audiência de instrução para a
inquirição das testemunhas arroladas pela defesa. Embora novamente intimada, mais uma vez a
testemunha Ada não compareceu. O MPF insistiu em seu depoimento. Do mesmo modo, a
defesa procedeu em relação à testemunha Rosiane Martins. A defesa não se opôs a que Ada
fosse ouvida depois da oitiva das testemunhas que ela arrolara, e o ato, enfim, se realizou.
Igualmente, foi declarada perda da oportunidade de tomar o depoimento de Luis Inácio Lula da
Silva e Marcelo Domingues da Costa. Em relação às testemunhas faltantes, designei data para a
sequência da audiência de instrução (evento 219).
Realizou-se a audiência para a inquirição das testemunhas Ada e Rosiane (evento
243).
A carta precatória expedida para Brasília/DF retornou devidamente cumprida
(evento 245).
  Procedeu-se, então, ao interrogatório dos acusados. Indagadas as partes sobre
pedido de diligências, o MPF disse não ter pedidos a fazer, ao passo que a defesa requereu o
traslado do depoimento do então vivo senador da República Luís Henrique da Silveira, prestado
na ação penal n. 2005.72.01.002643-9 e prazo para juntar documentos pertinentes às suas teses e
vídeo relativo à história da ocupação da Fábrica. Os pedidos foram deferidos, e, desse modo,
declarei superadas as diligências referidas no item 3 do saneador deste feito. Sem prejuízo, foi
determinada vinda dos antecedentes (evento 287).
Vieram as certidões atualizadas (evento 288).
A defesa juntou os documentos (evento 290).
Abriu-se prazo para as alegações finais.
O MPF ratificou a tese esposada na denúncia e seu aditamento e pediu a
condenação dos acusados (evento 295).
A defensora constituída veio aos autos para comunicar o falecimento do acusado
Francisco Lessa, juntando a respectiva certidão de óbito, e requerendo prorrogação de prazo
para a oferta das alegações finais, até porque estava abalada com o falecimento, por ter sido
casado com o réu, por 34 anos (evento 300).
O pedido foi deferido, e foi aberto prazo para o MPF se manifestar sobre a notícia
de falecimento (evento 302). 
O MPF requereu a declaração da causa extintiva de punibilidade do acusado
Francisco, com fundamento no artigo 107, I, do CP (evento 308).
  A defesa ratificou as teses despendidas nas respostas à acusação, agora, segundo
seu entendimento, reforçadas pela instrução do feito, e requereu, quanto ao réu Francisco, em
que pese o seu falecimento, uma sentença absolutória (evento 310).
Relatei.
Decido.
II. FALECIMENTO DO CORRÉU FRANCISCO JOÃO LESSA
Prejudicialmente ao mérito, cumpre reconhecer a extinção de punibilidade do
réu Francisco José Lessa, em face do seu falecimento, comprovado na certidão de óbito do
evento  300, na forma do artigo 107, IV, do CP.
E, não obstante entender o sentimento de pesar manifestado pela defensora
constituída, que noticiou ser casada com ele, cumpre simplesmente deixar de conhecer do seu
pedido de julgá-lo, ainda que para absolvê-lo, porque, como é cediço, é impossível
juridicamente julgar falecido no direito processual penal brasileiro.   
III. MÉRITO
As questões envolvendo atipicidade, estado de necessidade e de exclusão de
culpabilidade, sustentadas exaustivamente nas respostas à acusação, se confundem com o
mérito, nesse âmbito merecendo o enfrentamento. Explico. É que de nada adianta os réus  terem
integrado e até dirigido a chamada Comissão de Fábrica para gerir os negócios e as atividades
da empresa CIPLA, em substituição aos seus antigos proprietários, para salvá-la da falência
iminente, se ficar demonstrado que os réus se associaram para a prática reiterada e
indeterminada de delitos ao longo de um determinado período.
Por essa razão, passo a enfrentar o mérito da pretensão penal deduzida em juízo,
não sem antes proceder a uma digressão sobre diversos eventos que se sucederam nesta ação
penal e que acabam por determinar a sorte do desate desta lide penal.   
Portanto, cumpre delimitar o âmbito do que restou nesta lide para resolver. 
Em primeiro lugar, quanto ao pólo subjetivo da lide, verifica-se que o MPF
denunciou Francisco João Lessa, José Onírio Martins, Carlos Roberto de Castro e Serge
Goulart. O primeiro réu veio a falecer curso da demanda, o que determinou a sentença extintiva
de punibilidade acima prolatada. Quanto ao segundo réu, ele aceitou a suspensão condicional do
processo ofertada, e o processo em relação a ele foi desmembrado.
Portanto, serão julgados nesta sentença apenas os réus Carlos Roberto de
Castro e Serge Goulart.
Quanto aos crimes, constata-se, inicialmente, que o MPF denunciou os réus pelo
cometimento do crime de quadrilha, à frente da empresa CIPLA, destacando três fatos típicos.
Os acusados Francisco e Serge teriam impedido oficiais de justiça da justiça federal de
cumprirem mandado judicial oriundo do juiz federal da vara das execuções fiscais, que
determinara a remoção e entrega de uma furadeira radial Nardini de propriedade da empresa
Poliasa Indústria de Produtos do Lar, arrematada em leilão judicial. Como segundo fato tipíco a
fundamentar a materialidade do crime de quadrilha, citou que os quatro réus durante o período
em que administravam a empresa CIPLA, entregaram em 18 de dezembro de 2006, na execução
fiscal n. 96.01.02730-0, bens diversos daqueles que foram de direito arrematados, sendo essa
conduta praticada com o escopo de induzir em erro o juízo da execução. E, como terceiro fato a
embasar a formação de quadrilha, o procurador da República afirmou que, em 31 de maio de
2007, os acusados Carlos Roberto e Serge, diante da decisão que decretara a intervenção judicial
na empresa nos autos da execução fiscal n. 98.01.06050-6, impediram que Rainoldo Uessler
interventor nomeado por aquele juiz cumprisse a ordem judicial e assumisse o seu posto de
trabalho.
Na sequência da denúncia, ainda, o MPF qualificou o segundo e o terceiro fatos
que teriam materializado o crime de quadrilha, como o tipo de resistência qualificada,
imputando-os, respectivamente, aos réus Francisco e Serge, e aos réus Serge Goulart e Carlos
Roberto Castro.
Então, constatam-se as imputações do fato 1 de quadrilha, fato 2 de resistência
qualificada e fato 3 de resistência qualificada. 
No juízo de delibação do recebimento de denúncia, o juízo, verificando a
existência de litispendência entre o fato 2 da denúncia e o fato pelo qual os réus Francisco e
Serge nesta ação penal também foram denunciados na ação penal n. 2005.72.01.002643-9,
determinou a intimação do MPF para que promovesse a emenda da inicial, excluindo dela a
imputação relativa ao fato 2.
Assim o MPF procedeu em sua peça de aditamento, portanto, reduzindo as
imputações deduzidas na denúncia aos fatos 1 (crime de quadrilha) e 3 (crime de resistência
qualificada), e requerendo que o fato 2 fosse utilizado apenas como fundamento de
materialidade do crime de quadrilha.
Recebida a denúncia, e citados, os réus ofertaram suas respostas.
No juízo de ratificação da denúncia (evento 33), o juízo absolveu sumariamente os
acusados Carlos Roberto e Serge da imputação relativa ao fato  3, nos seguintes termos: 
Neste fato, imputa-se aos acusados CARLOS ROBERTO DE CASTRO e SERGE GOULART a
prática do crime tipificado no artigo 329, § 1º, do CP, pelos seguintes fatos e fundamentos:
'No dia 31 de maio de 2007, diante de decisão proferida nos autos da Execução Fiscal n.
98.01.06050-6, que decretou a intervenção judicial na empresa, CARLOS ROBERTO DE
CASTRO e SERGE GOULART, impediram que RAINOLDO UESLER, interventor nomeado
pelo juízo da Execução Fiscal, cumprisse a ordem judicial e assumisse seu posto de trabalho.
Para tanto, os denunciados de microfone em punho na frente da CIPLA, instigaram e
determinaram que os trabalhadores expulsassem 'a pontapés' o interventor RAINOLDO
UESSLER da empresa. Por conta disso, o interventor chegou a ser vítima de lesão corporal.
Assim agindo, CARLOS ROBERTO e SERGE opuseram-se - e efetivamente impediram - a
execução de ato legal, mediante violência praticada contra funcionário competente para executá-
lo, estando incursos nas penas do artigo 329, § 1º, na forma do art. 29, ambos do Código
Penal.'(evento 1 - INIC1).
Ocorre que, após detida análise dos documentos carreados aos autos, é possível constatar que,
diversamente do que constou na exordial acusatória, o interventor nomeado pelo Juízo das
Execuções Fiscais para administrar as empresas do Grupo da CIPLA foi, sim, integrado na
administração da empresa no dia 31.05.2007, conforme consta das certidões subscritas
conjuntamente subscritas pelos Oficiais de Justiça e Avaliadores Federais Marcelo Aranha,
Ricardo Reimer, Mauro Reimer e Jorge Luiz Fluck (cf. evento 1 - docs. CERT5 e CERT8). Vê-se
também que, nesse mesmo dia, os Oficiais de Justiça e Avaliadores Federais Alexandre Lepper e
Júlio César Hornburg procederam ao afastamento dos administradores e representantes do
Grupo CIPLA/INTERFIBRA (cf. evento 1 - docs. CERT6 e CERT7).
Note-se que embora conste nas referidas certidões a menção de que o interventor foi integrado
na sua função com auxílio de 65 agentes e 02 Delegados de Polícia Federal, que garantiram a
ordem durante o ato interventivo, em nenhuma parte dessas certidões é feita menção de que
houve algum tipo de resistência por parte da administração e dos trabalhadores daquela
empresa; ou que o ato de integração não tenha sido finalizado, em razão de oposição, violência,
ou qualquer outro ato emanado dos acusados.
Também é possível extrair da cópia da petição protocolada pelo interventor judicial em 1º de
junho de 2007, nos autos da Execução Fiscal n. 98.01.06050-6, que ele conseguiu iniciar suas
atividades nas empresas do grupo CIPLA em 31.05.2007, embora os integrantes da comissão que
administrava a empresa tivessem se posicionado no dia anterior em frente da empresa, criando
tumulto, mas sem que houvesse maiores conseqüências (evento 1 - doc. OUT13).
Diante desse contexto, cumpre reconhecer que a prova documental carreada aos autos está em
descompasso com os fatos narrados pela denúncia, pois, de acordo com os elementos acima
descritos, vê-se que, em 31.05.2007, o interventor nomeado pelo Juízo das Execuções Fiscais foi
efetivamente integrado em suas funções de administrador do grupo CIPLA. Nesse passo, em não
subsistindo elementos aptos a amparar a imputação da prática do crime de resistência
qualificada descrita na denúncia, impende absolver sumariamente os acusados CARLOS
ROBERTO DE CASTRO e SERGE GOULART desta acusação, com fundamento no artigo 397,
III, do CPP.
Por derradeiro, impende registrar que, ainda que fosse o caso de apenas se desclassificar o fato
criminoso descrito na denúncia para o crime de resistência tipificado no caput do artigo 329 do
CP, o que, destaque-se, não é a hipótese dos autos, esse fato estaria fulminado pela prescrição da
pretensão punitiva em abstrato. É que a pena máxima cominada ao tipo é de 2 anos de detenção
e, entre a data do fato (2007) e a do recebimento da denúncia (2012), já se passaram
aproximadamente 5 anos, tempo esse que supera o lapso prescricional previsto no artigo 109, V,
do CP.
Desse modo, a denúncia ficou circunscrita ao fato 1 da sua narrativa. Vale dizer,
ao crime de quadrilha. É certo que as circunstâncias de (i) o corréu Francisco João Lessa ter
falecido e de (ii) o corréu José Onírio Martins não responder mais a esta ação penal não
serviriam para inviabilizar o número mínimo legal de associados exigidos pelo tipo penal de
quadrilha à época dos fatos. Em tese, e havendo a comprovação de ter existido a associação
estável de quatro ou mais pessoas para a prática de crimes ao longo de um período, poder-se-ia
se cogitar de condenar os dois corréus remanescentes.
Contudo, e à luz da verdadeira desidratação pela qual passou a denúncia, acima
descrita, verifica-se ter restado a imputação de um crime de quadrilha, desamparada de outras
imputações penais. É que, não custa reiterar, as duas outras imputações penais, ambas
qualificadas pelo tipo penal de resistência qualificada, fatos 2 e 3 da denúncia, foram afastadas
por decisões fundamentadas e preclusas deste juízo.
Com efeito, a primeira resistência qualificada, que consistiu na recusa de entrega
de equipamento a oficiais da justiça da justiça federal, que compareceram à  sede da empresa
CIPLA para cumprirem um mandado judicial determinado pelo juiz federal da vara das
execuções fiscais desta Subseção, já é objeto da ação penal n. 2005.72.01.002643-9, de modo
que não pode servir de nova imputação penal, sob pena de configurar bis in idem. E tampouco
se pode extrair efeitos penais daquele fato, desta feita para fundamentar a materialidade do
crime de quadrilha, agora imputado nesta ação penal, pois aí igualmente se estaria incorrendo
em bis in idem, ainda que obliquamente. De fato, houvesse que se falar em crime de quadrilha,
outros fatos típicos, que não o fato típico já imputado e julgado em ação penal anterior, é que
deveriam ser trazidos à baila neste processo penal como imputáveis aos réus. Desse modo, o
fato 2 da denúncia referente à imputação penal de crime de resistência qualificada não pode
servir de materialidade para o crime de quadrilha nesta ação penal.
Nesse sentido, igualmente a segunda imputação penal de resistência qualificada,
que teria consistido no impedimento de o interventor judicial nomeado pelo juiz federal da vara
das execuções fiscais desta Subseção Judiciária de ingressar na sede da empresa CIPLA e
assumir as suas funções diretivas e administrativas, não resistiu ao confronto estabelecido pelas
alegações defensivas concentradas nas respostas à acusação, de modo que este juízo, já no
saneador deste feito, deliberou pela absolvição sumária dos réus dessa acusação, fundamentando
essa decisão no artigo 397, III, do CPP. Vale dizer, afirmando que os réus Carlos Roberto e
Serge, que foram acusados dessa imputação, não praticaram o crime. Portanto, e à míngua de
qualquer impugnação, se tem uma absolvição definitiva e imutável daqueles acusados.   
Ainda remanesceria como fato suscetível de integrar a materialidade do crime de
quadrilha a narrativa de que os réus teriam pretendido induzir em erro o juízo da execução fiscal
n. 96.01.02730-0. Contudo, não há na peça incoativa elementos mínimos aptos a pemitir a
defesa dos acusados e sequer  uma tipíficação daqueles fatos. Veja, não se sabe quais são os
bens que teriam sido entregues em lugar dos bens arrematados naqueles autos, e tampouco qual
teria sido a participação dos acusados na prática dessa conduta. Em suma, uma acusação que
beira a inépcia no ponto, e que, portanto, é imprestável para lastrear a materialidade da
imputação de quadrilha. De qualquer maneira, e é importante fazer esse registro, que sequer
houve a imputação desse fato aos acusados, como houve em relação aos demais fatos de
resistência qualificados. Em suma, é um fato que o MPF nomeia de fato criminoso na abertura
da inicial, no capítulo destinado à imputação de quadrilha, mas que não é imputado
especificamente, apartadamente da imputação de quadrilha, revelando que já se cuidou de uma
imputação que se perdeu em meio à própria narrativa da denúncia, e que, também, sequer teve
uma fagulha de prova durante a instrução deste feito.
Em suma, retoma-se o que se afirmou na abertura. De todas as imputações
deduzidas na denúncia, remanesceu apenas a imputação da quadrilha. E em relação a essa
imputação, cumpre afirmar que resta ausente a sua materialidade. Com efeito, não há
demonstração mínima de que crimes tenham sido praticados por uma suposta associação
formada pelos acusados.    
   Embora o crime de quadrilha seja formal e perigo, cumpre não olvidar que  os
termos da denúncia balizam os o contraditório e a ampla defesa, e, mais importante do que isso,
os próprios limites da cognição judicial, e, nesta ação penal, verifica-se que a imputação de
quadrilha está apoiada pela ocorrência de três crimes, sendo estes já consumados, segundo a tese
acusatória, de modo que é indispensável a  demonstração da prática daqueles crimes. Nesse
sentido, cumpre observar a melhor doutrina penal brasileira, como, por exemplo, José Paulo
Baltazar Junior, in verbis:
O mesmo vale para a estabilidade ou permanência da qudrilha. Embora o crime seja
considerado formal e de perigo, consumando-se no momento do concerto dos agentes para
cometer uma série indeterminada de crimes, como será detalhado adiante, fato é que dificilmente
existirá a prova de tal momento, vindo esse dado a ser demonstrado objetivamente pelo fato de
que a quadrilha, vem cometendo delitos de forma reiterada, sendo comum, na jurisprudência a
referência à estabilidade...
Essa constatação fática contradiz a justificativa de que o crime de associação teria a função de
baixar o nível de exigência para incriminação, uma vez que, em regra, a acusação por
associação recai sobre grupos que já tenham praticado vários crimes, valendo-se de um grupo
estável e plural de agentes. Na mesma linha, a conspiracy do direito anglo-saxão teria a função
de incrementar a apenamento quando o crime for cometido por um grupo organizado, além de
estimular os membros dos escalões mais baixos da organização a delatar o grupo..
Tal assertiva é demonstrada por decisão na qual afirmou-se que: "Conquanto o crime de
quadrilha seja autônomo em relação aos delitos eventualmente perpetrados pelos seus
integrantes, é imprescindível que os fatos narrados na denúncia dêem pela sua ocorrência.
Optando o julgador pela absolvição do acusado, em virtude da não comprovação dos fatos
criminosos ali descritos (roubo, sequestro e contrabando de armas), não pode subsistir a
condenação por quadrilha, cuja base real consistiria unicamente nos mesmos fatos" (TRF1,
AC 19980100024439-7/TO, Olindo Menezes, 3ª T., u., 9.3.99).  
(CRIMES FEDERAIS, grifo nosso, p. 114-115, Oitava Edição, Livraria do
advogado Editora).   
Em um sentido ainda mais rigoroso, mas necessário para não se confundir
quadrilha com coautoria, há precedente da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal,
consubstanciado no julgado do HC n. 103.412/SP, no sentido de que estando a imputação de
quadrilha apoiada na prática de crimes já perpetrados, é indispensável que haja a prova da
existência deles, e que, mais importante que isso, pelo menos dois deles tenham sido praticados
pelo grupo de pessoas que tenham se associado para a prática de série indeterminada de crimes
ao longo do tempo. A esse propósito, é de transcrever passagem do voto proferido pela relatora
Ministra Rosa Weber, in verbis:
...       
Em outras palavras, um dos propósitos da tipificação autônoma do crime de quadrilha é permitir
a atuação preventiva do Estado contra associações criminosas antes mesmo da prática de crimes
para os quais foram constituídas.
Talvez isso explique a dificuldade ou controvérsia na abordagem do crime de quadrilha, quando
as infrações criminais para a qual tenha sido constituída já tenham ocorrido.
Afinal, no caso, há risco de confusão entre o crime de quadrilha e a mera coautoria delitiva. A
esse respeito, transcrevo a seguinte advertência do ilustre José Lafaiete Barbosa Tourinho:
" Embora o delito de quadrilha ou bando seja autônomo, e, portanto, a sua configuração baste a
associação de mais de três pessoas, de forma permanente e estável, para a prática de crimes,
independentemente da concreção desses, é forçoso reconhecer a necessidade de cautela na
aferição de atos que materializem a reunião de um grupo e evidenciem o especial fim de agir
exgido pelo tipo." (TOURINHO, José Lafaieti Barbosa, Crime de quadrilha ou bando e
associações criminosas, Curitiba: Juruá, 2003, p. 45).
Não se deve, é certo, adotar postura extrema de exigir que, para configuração do crime de
quadrilha, haja uma estrutura complexa, com divisão de tarefas e uma espécie de estatuto
fundador de uma associação criminosa. Quadrilha não se confunde com grupo criminoso
organizado e não se resume a associações como Cosa Nostra siciliana ou a Yakuza japonesa.
De todo modo, quer complexa ou não a estrutura, exige-se para a configuração do delito, nos
termos do art. 288 do Código Penal brasileiro, a associação de mais de três pessoas "para a
prática de crimes"  e não de um único crime.... (Data de julgamento, 19 de junho de 2002).
Igualmente no sentido de se exigir para a configuração do crime de quadrilha,
quando a imputação se apoia em crimes já perpetrados, a demonstração da ocorrência deles, se
firmou a jurisprudência do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (cf. Apelação Criminal n.
5001136-42.2013.404.7016/PR, Desembargador Relator José Pedro Gebran Neto, 8ª
Turma, u., data de julgamento, 11 de março de 2015; Apelação Criminal n. 5007995-
92.2013.404.7204/SC, Desembargador Relator Márcio Antônio da Rocha, 7ª Turma, u.,
data de julgamento, 26 de fevereiro de 2015 e Recurso Criminal em Sentido Estrito n.
5000211-11.2015.404.7005/PR, Desembargador Relator Victor dos Santos Laus, 8ª Turma,
u., data de julgamento, 20 de maio de 2015). 
  As audiências de instrução realizadas não alteram o cenário acima traçado
(eventos 123, 219, 245 e 287). Com efeito, ora as testemunhas arroladas pela acusação fizeram
referência aos dois fatos de resistência qualificada narrrados na inicial, os quais, contudo, não se
sustentaram, em fases processuais anteriores, por decisões preclusas prolatadas por este juízo, o
primeiro, configurando litispendência, por já ser objeto de outra ação penal, ao passo que o
segundo, por ter ensejado decisão preclusa de absolvisão sumária, pelo fundamento de se ter
provado a sua inexistência. Quanto às testemunhas arroladas pela defesa, a sua imprestabilidade
probatória ficou ancorada na circunstância de os réus não estarem sendo acusados de ter dirigido
uma empresa, mas por terem praticado, de forma associada e estável, uma série de crimes ao
longo do tempo. Pelo mesmo fundamento, os documentos acostados aos autos pela defesa de
nada valem para o deslinde do feito.
Em arremate, por ter restado hígida apenas a acusação de quadrilha, sem a
demonstração da ocorrência dos crimes, os quais, segundo a acusação, já haviam sido
perpetrados e que a ancoravam e constituíam sua própria materialidade, cumpre absolver os réus
Serge Goulart e Carlos Roberto de Castro, com fundamento no artigo 386, II, do CPP.
IV. DISPOSITIVO 
Ante o exposto, declaro extinta a punibilidade do réu Francisco José Lessa,
em face do seu falecimento, comprovado na certidão de óbito do evento  300, na forma do
artigo 107, IV, do CP, e, quanto ao mérito, absolvo os réus Serge Goulart e Carlos Roberto
Castro da única imputação preservada e hígida das três imputadas na denúncia, a de
quadrilha, com fundamento no artigo 386, II, do CPP.
Publique-se.
Registre-se.
Intimem-se.
 

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