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Introdução aos Meios Alternativos

de Resolução de Conflito

Negociação, Mediação e Arbitragem


Professor: Antonio Gilberto de Moura
Conceito de Conflito
• Uma possível definição para conflito é de
entrechoque de ideias ou interesses em razão do
qual se instala uma divergência entre fatos, coisas
ou pessoas.

• Possíveis “sinônimos” para conflito: disputa,


controvérsia, choque, enfrentamento, querela,
embate, oposição, pendência, pleito, litígio, lide,
etc.

• Todas essas palavras são realmente sinônimos?


A judicialização do conflito
• O processualista italiano Francesco Carnelutti
definiu lide como sendo um conflito de
interesses qualificado por uma pretensão
resistida. A definição de lide acaba então se
identificando com o termo litígio sendo
comumente usada para se referir a um
conflito que foi levado à juízo para apreciação
pelo Estado-juiz.
Conflito x Controvérsia
• A Lei de Mediação (Lei 13.140/2015) coloca as palavras “conflito” e
“controvérsia” praticamente como sinônimos, já que o art. 1º da lei
apresenta: “Esta Lei dispõe sobre a mediação como meio de solução
de controvérsias entre particulares e sobre a autocomposição de
conflitos no âmbito da administração pública.”
• O CPC/2015 também coloca que “O Estado promoverá, sempre que
possível, a solução consensual dos conflitos” (art. 3º, §2º) e que
“Nas ações de família, todos os esforços serão empreendidos para a
solução consensual da controvérsia, devendo o juiz dispor do auxílio
de profissionais de outras áreas de conhecimento para a mediação
e conciliação”.
• Mas também com fundamento no CPC/2015 é possível colocar que
conflito é um termo mais genérico, enquanto que controvérsia
(ponto controvertido) leva a um ponto específico que deve ser
tratado no processo judicial (art. 66, III; art. 464, § 3.º; art. 545, §
1.º; 966, § 2.º; art. 976, I).
Apaziguamento do conflito
• Existe uma certa tensão envolvida no conflito, de
forma que a perspectiva jurídica busca enfrentar
o conflito para tentar o seu apaziguamento,
buscando regular as relações intersubjetivas de
forma a possibilitar a vida em sociedade.
• Possíveis “sinônimos” para a “saída” do conflito:
extinção, solução, resolução, conclusão,
apaziguamento, decifração, gestão, integração,
composição, etc.
• Todas essas palavras são realmente sinônimos?
Conflito como possibilidade de
melhoria
• Embora o conflito seja carregado de uma conotação
negativa, ele também é fonte de oportunidades de
melhoria e desenvolvimento. A existência do conflito
abre caminho para mudanças e transformações de
perspectiva pessoais e sociais.
• Portanto, um termo melhor para a “saída” do conflito
seja a “composição”, que dá a ideia de se constituir um
todo (encaminhamento e tratamento). É nesse sentido
que se fala em meios de composição do conflito:
autocomposição e heterocomposição.
Meios consensuais
• A Resolução nº 125/2010 do CNJ vem
desempenhando importante papel desde que
instituiu a “Política Judiciária Nacional de
tratamento adequado de conflitos”, criando bases
mais firmes para o desenvolvimento da
conciliação e da mediação no âmbito judiciário.
• A Lei de Mediação (Lei nº 13.140/2015) e o
CPC/2015 colocaram destaque nos meios
consensuais para a gestão de conflitos: a
negociação, a mediação e a conciliação.
MEIOS DE COMPOSIÇÃO DE CONFLITOS

Autotutela
Desistência

Autocomposição
Renúncia
unilateral

Reconhecimento
do pedido

Composição Autocomposição
de conflitos
Pura Negociação

Autocomposição
bilateral Mediação
Assistida
(facilitada)
Conciliação

Particular Arbitragem
Heterocomposição
Solução
Pública
Judicial
MEIOS DE COMPOSIÇÃO DE CONFLITOS – OUTRA PERSPECTIVA

Renúncia

Inviáveis na via Confissão, desistência,


consensual reconhecimento do
pedido
Jurisdicionalização

Sentença
CONFLITOS

Unilateral

Autocomposição - Negociação
Bilateral - Mediação
- Conciliação
Transacionáveis

Estatal Sentença

Heterocomposição

Extrajudicial Arbitragem
Autotutela
• Através da autotutela o indivíduo resolve o conflito por sua
própria força, fazendo “justiça” pelas “próprias mãos”.
• A autotutela costuma estar ligada à ideia de violência, uma
forma arcaica de composição de conflitos (levando à vitória
do mais forte, esperto ou ousado) e, portanto, deve ser
eliminada nos tempos modernos (pois não garante a
justiça). A autotutela (ou autodefesa) surge quando o
Estado não se faz presente, sendo que quanto mais se
expande a atuação estatal mais se restringe o campo da
autotutela. Mas ainda existem alguns resquícios do uso da
autotutela no direito privado: legítima defesa, estado de
necessidade ou exercício regular de direito (art. 188 do CC).
• Fora dos casos tolerados pelo Estado, a autotutela
configura crime de exercício arbitrário das próprias razões
(art. 345 do Código Penal).
Legítima Defesa no Cível
• Pressupostos (os mesmos do âmbito penal): injustiça da agressão,
reação imediata e proporcionalidade no uso dos meios de defesa.
• Exemplos:
– Autodefesa possessória: na manutenção da posse para o caso de
turbação e na reintegração da posse no caso de esbulho (art. 1.210,
§1º, do CC);
– Autodefesa nas obrigações de fazer e não fazer: nos casos de urgência
o credor pode executar ou mandar executar (P.U. do art. 249 do CC )
ou mandar desfazer o ato praticado (P.U. do art. 251 do CC);
– Autodefesa no direito de vizinhança: como o direito de cortar raízes e
ramos de árvores limítrofes que ultrapassam a estrema do prédio (art.
1.283 do CC);
– Direito de retenção (ius retentionis): na locação (art. 578 do CC), no
depósito (art. 644 do CC), no mandato (art. 681 do CC), no transporte
(art. 742 do CC) e na posse de boa-fé (art. 1.219 do CC).
Autocomposição
• Na autocomposição as próprias partes resolvem o conflito, não
existe a participação de um terceiro com poder decisório para
definir o impasse.
• Podem ser objeto de autocomposição os direitos disponíveis, ou
seja, aqueles que podem ou não serem exercidos pelos seus
titulares. Mesmo quando o interesse é indisponível (como o direito
a alimentos), o efeito pecuniário da tutela condenatória ou
aspectos práticos (como quem ficará com a guarda dos filhos)
podem ser objeto de transação entre as partes. Assim, a Lei de
Mediação coloca que “o consenso das partes envolvendo direitos
indisponíveis, mas transigíveis, deve ser homologado em juízo,
exigida a oitiva do Ministério Público” (art. 3º, caput, e §2º).
• A Lei de Mediação permite também, de forma expressa, que os
órgãos da Administração Pública adotem a mediação como meio de
solução de conflito.
Autocomposição Unilateral
• Desistência: proposta a demanda o autor, com base no
princípio da disponibilidade processual, pode desistir do
processo e abdicar da posição processual assumida após o
ajuizamento da ação. A desistência da ação (art. 485, VIII,
do CPC) leva à extinção do processo sem resolução do
mérito, situação que permite ao autor propor novamente a
demanda (formação de coisa julgada formal e não
material).
• Renúncia: ato unilateral em que a parte abdica do direito
material a que pode (ou poderia) fazer jus. No aspecto
processual a renúncia é prevista como hipótese de extinção
do processo com resolução de mérito (art. 487, III, c, do
CPC – formação de coisa julgada material).
• Reconhecimento jurídico do pedido: ato pelo qual o réu
admite a procedência da pretensão deduzida pelo autor.
Autocomposição Bilateral
• Negociação: as partes encaminham a composição por si mesmas,
estabelecendo tratativas diretas e sem a intermediação de um terceiro.
• Mediação: um terceiro imparcial (mediador) contribui para o
restabelecimento da comunicação entre as partes, de modo que elas
gerem novas formas de relacionamento e equacionamento do conflito. A
atuação do mediador ocorre no sentido de gerar oportunidades de
reflexão e encaminhamentos de modo que os próprios indivíduos
protagonizem a elaboração de propostas. Portanto, o mediador atuará
preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as
partes (art. 165, §3º, do CPC).
• Conciliação: um terceiro imparcial (conciliador) aponta sugestões de
como a composição do conflito deve ser encaminhada (mas sem
imposição). Se necessário, o conciliador aponta vantagens e desvantagens
nas posições assumidas pelos contentores, podendo propor saídas
alternativas em relação aos pontos controvertidos. Assim, o conciliador
atuará preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anterior
entre as partes (art. 165, §2º, do CPC).
Heterocomposição
• A heterocomposição (heterotutela, adjudicação ou meio adjudicatório) é o
meio de composição de conflitos no qual um terceiro imparcial define a
resposta, de forma impositiva, em substituição aos contendores.
• Arbitragem: as partes escolhem uma terceira pessoa (particular) para
definir o destino da controvérsia. O árbitro, embora desprovido de poder
estatal, profere decisão com força vinculativa. A arbitragem se constitui
após a convenção de arbitragem (antes de surgir o conflito: cláusula
compromissória; após o surgimento do conflito: compromisso arbitral),
sendo que a convenção de arbitragem somente poderá ser afastada se
ambas as partes assim decidirem (art. 337, §6º, c/c art. 485, VII, ambos do
CPC). A arbitragem está regulada na Lei nº 9.307/1996 (Lei da
Arbitragem).
• Jurisdição estatal: não cumprido espontaneamente o preceito legal, o
Estado deve proporcionar instâncias aptas a promover a entrega do bem
da vida ao seu legítimo titular, este objetivo é alcançado através da
jurisdição, pela qual o Estado, substituindo-se às partes, diz a norma
aplicável ao caso concreto com o poder imperativo de impor o seu
comando.
Constitucionalidade da Arbitragem
• Em 2001 o STF reconheceu o poder das partes
para, no exercício de sua autonomia e nos termos
da lei, optarem validamente pela via arbitral
como meio idôneo de solução de controvérsias
(STF, SE Ag-Rg 5.206, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence, DJ 12.12.2001).
• Assim, o CPC/2015 confere à sentença arbitral a
eficácia de título executivo judicial (art. 515, VII).
Podendo a execução da sentença arbitral, em
caso de resistência da parte vencida, ser buscada
utilizando-se do aparato estatal executivo.
Sistema “Multiportas”
• Sistema multiportas é o complexo de opções que os
indivíduos têm à sua disposição para buscar a solução de
um conflito a partir de diferentes métodos, envolvendo
métodos heterocompositivos (adjudicatórios) e
autocompositivos (consensuais), com ou sem a participação
estatal. Ou seja, múltiplas “portas” (opções) de acesso à
justiça, de forma alternativa ao Poder Judiciário.
• Esse movimento de busca a “meios alternativos” de
solução de conflito (à par da jurisdição estatal) se verifica
no Brasil: pela Lei de Arbitragem, por previsões de
processos administrativos geradores de títulos executivos,
pela Resolução nº 125/2010 do CNJ, pela Lei de Mediação e
pela tônica “consensual” do CPC/2015.
Algumas Siglas

• MESC – Meios Extrajudiciais de Solução de


Conflitos
• MASC – Métodos Alternativos de Solução de
Conflitos
• RAC – Resolução Alternativa de Conflito
• ADR – Alternative Dispute Resolution
• ODR – Online Dispute Resolution

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