Você está na página 1de 10

EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR JUIZ FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE

CASTANHAL/PA.

ANTONIO FRANCISCO DA SILVA E SILVA, inscrito no CPF nº 176.624.942-68 e RG nº


5840402, residente e domiciliado no km 21, s/n, Zona Rural de Castanhal/PA vem, por sua
procuradora infra-assinada, com endereço no rodapé desta, onde recebe as intimações,
vem à presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 39 da Lei n. 8.213/91,
propor:

AÇÃO DE CONCESSÃO DE APOSENTADORIA POR IDADE RURAL

Em face de INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS, com endereço na rua


Tv. Cônego Luís Leitão, nº 1817, bairro: Centro, Castanhal/PA, CEP: 687403-020, pelos
fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos:

Castanhal –Pa
AL. Liberdade, nº 3073
Estrela, 68743-200
I. DA JUSTIÇA GRATUITA

O Requerente não tem condições de arcar com os ônus processuais sem comprometer
o próprio sustento, bem como o de sua família, razão pela qual necessita e requer os
benefícios da Justiça Gratuita, nos termos do artigo 98 do Código de Processo Civil.

II. DA AUTENTICIDADE DOS DOCUMENTOS COLACIONADOS À PEÇA


PREFACIAL
A Advogada que esta subscreve, declara serem autênticas as cópias reprográficas dos
documentos anexados à peça prefacial, nos moldes do artigo 425, inciso IV, do código
de processo civil.
Com isso, requer que seja acolhida a declaração de autenticidade dos documentos
colacionados à inicial.

III- DOS FATOS

O autor, nascido em 18/01/1963 (60 anos), requereu junto ao INSTITUTO NACIONAL


DO SEGURO SOCIAL-INSS, benefício de aposentadoria por idade rural (NB
210.730.457-7, com data de requerimento administrativo em 30/01/2023), no qual foi
negado, sob a alegação de que não foi comprovado o exercício da atividade rural, bem
como a carência mínima exigida por lei.
No entanto, conforme será demonstrado, o autor implementou todos os requisitos
necessários para a concessão do benefício em questão, tanto no requisito da idade
quanto a comprovação dos 180 meses de atividade rural imediatamente anteriores a
DER ou ao fato gerador.
O autor por toda sua vida trabalhou e trabalha como agricultor, em regime de economia
familiar, juntamente com seu tio PAULO GOMES DA SILVA,
(Contrato de parceria em anexo), ocasião em que cultiva milho, banana e mandioca,
abóbora, maxixe, entre outros.

Castanhal –Pa
AL. Liberdade, nº 3073
Estrela, 68743-200
Conforme autodeclararão do segurado especial, em anexo, o requerente exerceu por
anos tanto atividade rural para fins de subsistência desde o ano de 1994, o autor sempre
trabalhou em vários terrenos após o falecimento do seu tio dono do terreno e finalmente
no ano de 2022conseguiu comprar um lote e atualmente está trabalhando no seu próprio
terreno.
É importante ressaltar que o requerente nunca exerceu nenhum outro tipo de vínculo
empregatício urbano, fato esse que pode ser comprovado pela sua CTPS que nunca fora
assinada, assim como seu CNIS. Além disso, já recebeu auxílio doença na qualidade de
segurado especial, de 2013 a 2017, benefício esse que reforça ainda mais a sua
qualidade como segurado especial rural.
Cumpre destacar ainda que o artigo 258 da IN nº128/2022 assevera que para concessão
da Aposentadoria por Idade rural o segurado deve estar exercendo a atividade rural ou
em período de graça na DER ou na data em que implementou todas as condições
exigidas para o benefício. Assim sendo, como demonstrado pela gama de provas juntas
aos autos, o Requerente estava/está exercendo atividade rural tanto na DER como na
data do implemento das condições exigidas para o benefício.
No entanto, o servidor do INSS indeferiu o pedido de aposentadoria rural por entender
que não havia documentos suficientes que comprovassem a carência mínima exigida
por lei. Vejamos:

Conforme o item 6.1 do ofício circular 46 DIRBEN-INSS de 2019, cada Instrumento


Ratificador - IR (informação governamental ou documento rural) contemporâneo
equivale a 7,5 anos (90 meses) de atividade rural, de modo que se faz necessário a

Castanhal –Pa
AL. Liberdade, nº 3073
Estrela, 68743-200
apresentação de apenas dois deles para o alcance da carência desejada (180 meses).
Vejamos:

Sendo assim, para melhor análise do caso, a carência será demonstrada através de uma
linha do tempo do exercício de atividade rural da parte autora, onde foram dispostos os
documentos rurais coletados pelo segurado, nos termos do ofício-circular 46/2019.
Vejamos:

7,5 anos
7,5 anos Ofício Circular 46/19
Ofício Circular 46/19

Contrato de Comodato Contrato


Ficha do sindicato Declaração Justiça eleitoral Contrato de compra
Declaração justiça eleitoral
Notas fiscais Prontuário médico

1989 1994 2007 2008 2012 2013 2017 2022 2023


2006 2010

1989 2004 2023

180 meses de atividade rural

Castanhal –Pa
AL. Liberdade, nº 3073
Estrela, 68743-200
Rol dos documentos ratificadores em ordem cronológica

1. Ficha do sindicato (1989)


2. Notas fiscais (2006)
3. Contrato de comodato (2008)
4. Contrato de comodato e declaração da justiça eleitoral (2012)
5. Prontuário médico (2017)
6. Contrato de compra de terreno (2022)

Deste modo, é perceptível que o requerente possui muito mais de 180 meses de atividade rural
suprindo todos os requisitos para o deferimento do benefício pleiteado.

IV- DO DIREITO
Inicialmente, registra-se que a pretensão da Autora está fundamentada nos artigos 195,
§ 8º, e 201, §7º, II, da Constituição Federal, in verbis:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de


forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes
dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, e das seguintes contribuições sociais:

§8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador


artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas
atividades em regime de economia familiar, sem empregados
permanentes, contribuirão para a seguridade social mediante a aplicação
de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da produção e farão
jus aos benefícios nos termos da lei.

A aposentadoria por idade é devida ao segurado da Previdência Social que atingir a


idade considerada risco social, sendo que esta poderá ser reduzida em caso de
trabalhador rural. Assim preceitua o art. 48 da lei 8.213/91:
Art. 48 – A Aposentadoria por idade será devida ao segurado que, cumprida
a carência exigida nessa lei, completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade,
se homem, ou 60 (sessenta) anos, se mulher.
§ 1º - Os limites fixados no caput são reduzidos para 60 (sessenta)
anos e 55 (cinqüenta e cinco) anos no caso dos que exercem
atividades rurais, exceto se empresário, respectivamente homens e

Castanhal –Pa
AL. Liberdade, nº 3073
Estrela, 68743-200
mulheres, referidos na alínea a dos incisos I e IV e nos incisos VI e VII do
art. 11 desta lei.
§ 2º - Para efeitos do disposto no parágrafo anterior, o trabalhador rural
deve comprovar o efetivo exercício de atividade rural, ainda que de
forma descontínua, no período imediatamente anterior ao
requerimento de benefício por tempo igual ao número de
contribuições correspondente a carência do benefício pretendido.
(Parágrafo acrescentado pela lei n° 9.032, de 24/04/95).

No presente caso, o autor cumpriu todas as condições necessárias à obtenção do


benefício no ano de 2023, período que comprova mais de 180 meses de carência.
Em janeiro de 2019, com a Medida Provisória 871, posteriormente convertida na Lei nº
13.846/2019, mudou-se a forma de comprovar-se a prática da atividade rural, até então
efetivada pelas Declarações de Atividade Rural oriundas dos Sindicatos Rurais.
A partir de então a citada condição se demonstrará através da utilização da
Autodeclaração do Segurado Especial Rural (Ofício-Circular nº 46, DIRBEN/INSS), nos
termos do art. 38-B, da Lei 8.213/91, que será ratificada pelo INSS através dos dados
constantes em órgãos oficiais, de modo que os documentos elencados no artigo 106 da
Lei nº 8.213/91 (início de prova material) terão, ao menos teoricamente, um caráter mais
subsidiário. Senão, vejamos:
Art. 106. A comprovação do exercício de atividade rural será
feita, complementarmente à autodeclaração de que trata o § 2º
e ao cadastro de que trata o § 1º, ambos do art. 38-B desta Lei,
por meio de, entre outros: (Redação dada pela Lei nº 13.846, de
2019)
(...)
Art. 38-B. O INSS utilizará as informações constantes do
cadastro de que trata o art. 38-A para fins de comprovação do
exercício da atividade e da condição do segurado especial e do
respectivo grupo familiar.

Castanhal –Pa
AL. Liberdade, nº 3073
Estrela, 68743-200
§ 1º A partir de 1º de janeiro de 2023, a comprovação da condição e
do exercício da atividade rural do segurado especial ocorrerá,
exclusivamente, pelas informações constantes do cadastro a que se
refere o art. 38-A desta Lei. (Incluído pela Lei nº 13.846, de 2019)
§ 2º Para o período anterior a 1º de janeiro de 2023, o segurado
especial comprovará o tempo de exercício da atividade rural por
meio de autodeclaração ratificada por entidades públicas
credenciadas, nos termos do art. 13 da Lei nº 12.188, de 11 de
janeiro de 2010, e por outros órgãos públicos, na forma prevista
no regulamento. (Incluído pela Lei nº 13.846, de 2019)

No entanto, muito embora o art. 106 da Lei nº 8.213/91 estabeleça um rol de documentos
específicos, já existe ensinamento jurisprudencial firme e pacífico, tendente a atribuir ao
julgador da causa a prerrogativa de conferir validade e força probantes a documentos
que não se inserem naquele rol meramente exemplificativo, em prol da preservação do
princípio do livre convencimento do juiz e em respeito ao cânon do artigo 5° da Lei de
Introdução ao Código Civil.
O uso da flexibilização interpretativa procura levar em conta unicidade da vida no campo
definida pelas dificuldades encontradas pelo trabalhador para comprovar seu labor rural
são marcadas pela informalidade e falta de instrução, uma vez que o homem do
campo pouco se preocupa com a formalização de seus atos, o que acarreta problemas
futuros para a comprovação do período de contribuição junto ao INSS.
É necessário abordar que algumas provas documentais de atividade rural são vinculadas
a um certo regionalismo, justamente por conta das diferentes realidades agropecuárias
de um país tão grande como o Brasil. Isso significa que, por mais que a legislação
pertinente, especialmente o art. 106, da Lei 8.213 e o art. 116, da Instrução Normativa
128 de 2022 do INSS, tenham elencado um rol de documentos rurais, na prática alguns
deles podem ter um valor probante diferenciado de acordo com a localidade.

Castanhal –Pa
AL. Liberdade, nº 3073
Estrela, 68743-200
Quanto à exigência do número mínimo de meses de efetivo exercício da atividade rural
(período de carência), trata-se de mero parâmetro que é atenuado, da mesma forma,
Pelas imposições dos artigos 39 e 143, que lecionam em “exercício de atividade rural,
ainda que de forma descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do
benefício.”
Tal descontinuidade de tempo não encontra na legislação maiores definições e limites,
situação que remete ao julgador, mais uma vez, à tarefa de analisar cuidadosamente os
casos postos em apreciação, tendo sempre em mira o tratamento protetivo que a
legislação constitucional e infraconstitucional dispensou à classe dos trabalhadores
rurais, em virtude das limitações e dificuldades já apontadas no trecho antecedente.
Nesse sentido já se posicionou a Turma Nacional de Uniformização da Jurisprudência
dos Juizados Especiais Federais, ao estabelecer, na Súmula 14, in verbis:
Para a concessão de aposentadoria rural por idade, não se exige que o início de prova
material corresponda a todo o período equivalente à carência do benefício.
Tanto que a jurisprudência já assentou que a prova material pode ser complementada
pela testemunhal. Nesse sentido:
“Ementa: PREVIDENCIÁRIO - PROCESSUAL CIVIL -
CONCESSÃO DE BENEFÍCIO - AUXILIO-DOENÇA -
TRABALHADOR RURAL - ART. 59, DA LEI Nº 8.213/91 – PROVA
TESTEMUNHAL CORROBORADA POR INÍCIO DE PROVA
MATERIAL - QUALIDADE DE SEGURADO COMPROVADA -
REQUISITOS LEGAIS - POSSIBILIDADE.
1. (...)
2. (...)
3. A prova testemunhal harmônica e segura, produzida em juízo,
conforme entendimento desta eg. Turma, é idônea a comprovar o
exercício de atividade rural, ainda mais se corroborada por início de
prova documental, tendo em vista a dificuldade encontrada pelo
rurícola para comprovar sua condição, por meio de prova

Castanhal –Pa
AL. Liberdade, nº 3073
Estrela, 68743-200
material, seja pela precariedade do acesso aos documentos
exigidos, seja pelo grau de instrução ou mesmo pela própria
natureza do trabalho exercido no campo que, na maioria das
vezes, não são registrados e ficam impossibilitados de
apresentarem prova escrita do período trabalhado no campo.
4. No caso dos autos, a demandante demonstrou o efetivo
exercício de atividade rurícola, atendendo a carência legal e
comprovando a idade mínima exigida para a obtenção do benefício
pleiteado, através de início de prova documental (Declaração do
Sindicato dos Trabalhares Rurais, declarando sua profissão
como agricultor, Certificado de cadastro de imóvel rural em que
reside, Carteira de recebimento de cesta de alimentos – CANAB,
Ficha da Secretaria Municipal de Saúde com qualificação de
agricultor do requerente), tendo sido a prova testemunhal, colhida
em juízo, complementada pela prova material apresentada, portanto,
presentes os requisitos legais que autorizam a concessão do
benefício pleiteado.
5. (...)
Classe: AC - Apelação Cível – 409234 – Processo:
200582020006556 UF: PB Órgão Julgador: Primeira Turma. Data
da decisão: 05/07/2007. Documento: TRF500143579. Fonte DJ -
Data:17/09/2007 - Página:1134 - Nº:179 Relator(a)
Desembargador Federal Élio Wanderley de Siqueira Filho.

É nesse sentido que a parte autora possui início de prova o suficiente para a concessão
do benefício pleiteado.

Castanhal –Pa
AL. Liberdade, nº 3073
Estrela, 68743-200
V - Dos Pedidos

Diante do exposto, requer a Vossa Excelência:

a) Que sejam deferidos ao Requerente os benefícios da justiça gratuita, conforme


item I;

b) O recebimento da inicial;

c) Condene o INSS a conceder ao requerente a aposentadoria por idade rural,


desde o requerimento administrativo em 30/01/2023, com a condenação do
pagamento;

d) A citação do INSS, na pessoa do seu representante legal, para que, querendo,


conteste os termos da presente, no prazo legal, com as advertências previstas
no artigo 285 do Código de Processo Civil;

Protesta provar o alegado por todos os meios de provas admitidos em direito,


especialmente testemunhal e documental, e outras que se fizerem necessárias, desde
já requeridas.

Dá-se à causa o valor de R$ 25.080,00 (vinte e cinco mil e oitenta reais)

Termos em que,
Pede deferimento.

Castanhal/PA, 07 de Julho de 2023.

Naysa Nafahely
OAB/PA 27.949

Castanhal –Pa
AL. Liberdade, nº 3073
Estrela, 68743-200

Você também pode gostar