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AO DOUTO JUÍZO DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL PREVIDENCIÁRIO

DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE GOIÁS.

Processo nº

xxxxxxxxxxx, através de sua advogada devidamente constituída


(procuração em anexo), à presença de Vossa Excelência, propor:

AÇÃO DE CONCESSÃO DE PENSÃO POR MORTE

Em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS,


xxxxxxxxxx, pelas razões de fato e de direito que a seguir expõe:

1. DOS FATOS

De janeiro de 1999 a 24 de março de 2019, a Requerente viveu


como se casada fosse com o de cujus xxxxxxxxxx,

Ou seja, a Requerente manteve, por 20 anos, verdadeira, longa e


estável comunhão de vida e de interesses. O casal permaneceu unido até que
a morte o separasse.

Ao longo desses 20 anos de união estável, o casal não adquiriu casa


própria, pois viviam em residência alugada. Assim, residiram muitos anos no
imóvel localizado à xxxxxxxxxxxx, convivendo com estabilidade, compostura,
coabitação, respeito recíproco e publicidade da relação.

Em data de 24 de março de 2019, o companheiro xxxxxxxxx, veio a


falecer, às 23h00min, no Hospital xxxxxxxxxxx, vítima de acidente de trânsito,
conforme comprova a cópia da certidão de óbito em anexo.
O de cujus teve uma filha durante essa uniãoxxxxxxxxxxx, cuja
certidão de nascimento está em anexo.

Note-se, ainda, que a na certidão de óbito está assentado que “Vivia


com a companheira xxxxxxxxxxxx”; e, ainda, que “o falecido não deixou bens a
inventariar”.

Além disso, tramita perante a xxxx Vara de Família da comarca de


xxxx, sob o nº xxxxxxx, ação de reconhecimento de união estável.

Portanto, pela notoriedade, pela fidelidade, pela coabitação more


uxório e pela continuidade de relações, resta-se conhecida a união estável do
de cujos com a Requerente.

2. DO DIREITO

2.1. DO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO

Em 11/04/2019 a parte autora protocolou na Agência de Previdência


Social – APS de Goiânia, pedido de concessão de pensão por morte,
consoante se infere da cópia do processo administrativo nº xxxxxxxx que junta
à presente ação.

Destaca-se que, o INSS após analisar o processo administrativo,


indeferiu o pedido de pensão por morte, sob alegação de que a Autora não
demonstrou prova de companheirismo.

Todavia, de forma a enganar a Requerente, no processo


administrativo, consta benefício deferido, porém, na verdade, foi deferido
benefício em favor da filha xxxxxxxxxxx

O processo administrativo (em anexo) conta em 66 páginas,


inclusive, a ele foram juntadas fotos do casal, declarações de
testemunhas, comprovantes de benefícios trabalhista que Autora
recebeu; e, somente no final do processo, o INSS aduziu que a Autora não
fez provas o suficiente para receber o benefício.
A parte autora não concorda com a decisão administrativa do INSS.
Por isso, recorre ao Poder Judiciário a fim de ver satisfeita a sua pretensão de
obter o benefício de pensão por morte.

A parte autora também pretende cobrar as parcelas vencidas,


devidas desde o óbito do instituidor do benefício, posto que requerido em 90
(noventa) dias após o óbito.

2.2. DOS REQUISITOS PARA O BENEFÍCIO POSTULADO

O art. 74 da Lei nº 8.213/91, ao regulamentar a pensão por morte


estabelece que:

Art. 74. A pensão por morte será devida ao conjunto dos


dependentes do segurado que falecer, aposentado ou
não, a contar da data:
I - do óbito, quando requerida até noventa dias depois
deste;
II - do requerimento, quando requerida após o prazo
previsto no inciso anterior;
III - da decisão judicial, no caso de morte presumida. 

De acordo com o art. 74 da Lei nº 8.213/91, a prestação será


concedida a partir da data do óbito, quando requerida nos 90 (noventa) dias
subsequentes a este, e, a partir do requerimento, quando requerida após
aqueles 90 (trinta) dias ou da decisão judicial, no caso de morte presumida. E o
art. 26, também da Lei nº 8213/91, relaciona as espécies de benefícios que
independem de carência, arrolando, no inciso I, a pensão por morte.

Ademais, o segurado superou o número mínimo de 18 contribuições.


E, tendo a companheira beneficiária mais de 44 (quarenta e quatro anos), a
pensão por morte deve ser concedida de modo vitalício, a rigor do art. 77, §2º,
V, alínea c, textos inclusos pela Lei 13.135/2015.

Da leitura dos dispositivos acima, conclui-se que três são os


requisitos necessários para que o benefício se mostre devido, quais sejam:
óbito do instituidor da pensão; comprovação da condição de dependente do
beneficiário e a qualidade de segurado do falecido à época do óbito.

Quanto ao primeiro requisito – óbito do instituidor da pensão - de


plano verifica-se a sua existência. A certidão de óbito em anexo comprova a
pretensão.

Quanto ao segundo requisito - comprovação da condição de


dependente do beneficiário - basta a comprovação da união estável e da
paternidade para se presumir a dependência econômica, uma vez que a
companheira e a filha são beneficiárias do Regime Geral da Previdência Social
- RGPS na condição de dependentes do segurado, sendo certo que a
dependência econômica daquela em relação a este é presumida, nos termos
do art. 16, inciso I, § 4º, da Lei nº 8.213/91:

Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de


Previdência Social, na condição de dependentes do
segurado:
I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho
não emancipado, de qualquer condição, menor de 21
(vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência
intelectual ou mental ou deficiência grave;
§ 4º A dependência econômica das pessoas indicadas no
inciso I é presumida e a das demais deve ser
comprovada.

Quanto ao terceiro requisito - qualidade de segurado do falecido à


época do óbito – os documentos em anexo comprovam essa condição.

Diante do quadro que se apresenta, é de se reconhecer que estão


presentes os requisitos que autorizam a concessão do benefício – pensão por
morte - na qualidade de dependente do falecido, tendo por comprovado a
qualidade de segurado, comprovado o falecimento do instituidor da pensão por
morte e comprovada a convivência em união estável e a dependência anterior
ao óbito.
Nesse contexto, na esteira da sólida jurisprudência é possível a
concessão da pensão por morte para a parte autora, senão vejamos:

CONCESSÃO DE PENSÃO POR MORTE. UNIÃO ESTÁVEL.


COMPANHEIRO. HABILITAÇÃO. REQUISITOS LEGAIS.
SATISFAÇÃO. PROVA DA DEPENDÊNCIA ECONÓMICA.
EXISTÊNCIA. CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. POSSIBILIDADE.
EMBARGOS INFRINGENTES ACOLHIDOS. (Embargos
Infringentes N° 70053500823, Primeiro Grupo de Câmaras
Cíveis, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Amo Werlang,
Julgado em 26/04/2013).

PENSÃO POR MORTE. UNIÂO ESTÁVEL COMPROVADA. 1. A


concessão do benefício de pensão por morte depende da
ocorrência do evento morte, da demonstração da qualidade
de segurado do de cujus e da condição de dependente de
quem objetiva a pensão. 2. No que penine à qualidade de
companheiro, a Constituição de 1988 estendeu a proteção
dada pelo Estado à família para as entidades familiares
constituídas a partir da união estável entre homem e mulher,
nos termos do disposto no art. 226, § 3°. 3. Restando
demonstrada pelo conjunto probatório a união estável entre
o instituidor e a parte demandante, e uma vez satisfeitos os
demais requisitos legis, impõe-se a concessão do benefício
postulado. (APELAÇÃO CIVEL AC 50070253920194049999
5007025-39.2019.4.04.9999 (TRF-4), Data de publicação:
31/07/2019).

3. DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer:

1. Conhecer do presente feito determinando as diligências


necessárias;

2. A citação do INSS, na pessoa de seu representante legal), para,


querendo, contestar a presente ação, sob pena de revelia e confissão;
3. Julgar procedente a presente ação de concessão de pensão por
morte para:

I – DECLARAR, suficientemente comprovado a qualidade de


segurado pelo instituidor do benefício (falecido), assim como a condição de
dependente da parte autora;

II – CONDENAR, por consequência, o INSS a conceder a parte


autora o benefício de pensão por morte e com início na data do óbito, posto
que foi postulado em até 30 dias depois, em relação à sua cota parte e desde o
óbito em relação a cota parte da filha;

4. Determinar ao INSS para que implante administrativamente o


benefício devido a parte autora e proceda os necessários registros de
concessão e manutenção do benefício que a decisão lhe assegurar;

5. Condenar o INSS a pagar a parte autora as prestações vencidas e


as vincendas, relativas ao benefício que lhe for deferido, corrigidos
monetariamente, desde o vencimento de cada parcela até a data de sua efetiva
liquidação;

6. Pagar à parte autora os valores atrasados via RPV, respeitada a


prescrição quinquenal, com a correção monetária pelo IPCA desde o
vencimento de cada parcela, acrescida do índice integral da poupança (TR e
juros), a contar da citação, conforme decidido pela Primeira Seção do STJ, em
julgamento submetido ao rito dos recursos repetitivos (Resp n. 1.270.439 - DJE
01-08-2013);

7. A concessão do benefício JUSTIÇA GRATUITA, por não ter a


autora como arcar com as custas processuais e honorários advocatícios sem
prejuízo de seu sustento, conforme documentos em anexo;

Dá-se à causa o valor de R$ 12.000,00 (doze mil reais).

Nesses termos,
Pede deferimento.
Goiânia/GO, 12 de novembro de 2019.

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