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Curso Pós Graduação Direito de Família e Sucessões

Indicação de Leitura

Professor: Rodrigo da Cunha

Tema: Divórcio. Aspectos Pessoais e Patrimoniais. Cláusulas Regulatórias do Divórcio.


Partilha Conjugal

Leitura prévia:

1) Rodrigo da Cunha Pereira: A Emenda Constitucional nº 66/2010: Semelhanças,


Diferenças e Inutilidades entre Separação e Divórcio e o Direito Intertemporal
Disponível: https://ibdfam.org.br/artigos/647/novosite
2) Paulo Lôbo: Divórcio: Alteração constitucional e suas consequências: Disponível:
https://ibdfam.org.br/artigos/629/novosite
3) Rolf Madaleno: A Fraude Material na União Estável e Conjugal . Disponível:
https://ibdfam.org.br/artigos/343/A+Fraude+Material+na+Uni%C3%A3o+Est%C3%A1vel
+e+Conjugal
4) Jones Figueirêdo: Divórcio "post-mortem", um direito potestativo. Disponível:
https://ibdfam.org.br/artigos/1743/Div%C3%B3rcio+%22post-
mortem%22%2C+um+direito+potestativo
5) Fernanda Tartuce. Divórcio liminar como tutela provisória de evidência: avanços e
resistências. Disponível: http://www.fernandatartuce.com.br/wp-
content/uploads/2020/06/Divorcio-liminar-como-tutela-de-evidencia-Fernanda-Tartuce.pdf
Curso Pós-graduação Direito de Família e Sucessões
Material Complementar
Professor: Rodrigo da Cunha
Tema: Divórcio. Aspectos Pessoais e Patrimoniais. Cláusulas Regulatórias do Divórcio.
Partilha Conjugal

Divórcio. Aspectos pessoais e econômicos. Divórcio Unilateral. Divórcio “post mortem"

JURISPRUDÊNCIA

1) Divórcio por liminar: EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE DIVÓRCIO -


DECRETAÇÃO LIMINAR DE DIVÓRCIO - NOVA REDAÇÃO DO ART. 226, § 6º DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL - EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 66/2010 - DIREITO
POTESTATIVO DO CÔNJUGE - DECISÃO REFORMADA - RECURSO PROVIDO. 1 - A Emenda
Constitucional nº 66/2010 deu nova redação ao parágrafo 6º do artigo 226 da
Constituição Federal, de forma a contemplar o divórcio como direito potestativo,
bastando para a sua decretação, mesmo que liminar, a manifestação da vontade de um
dos cônjuges. 2 - Constatando a vontade da agravante de divorciar-se, fundada na
necessidade de regularização do seu estado civil, para que, assim, possa contrair nova
união, deve ser decretado, de imediato, o divórcio das partes. 3 - Recurso provido. (TJ-
MG - AI: 10000206041543001 MG, Relator: Maria Inês Souza, Data de Julgamento:
15/06/2021, Câmaras Cíveis / 2ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 16/06/2021)

2) Divórcio post mortem: “(...) É potestativo o direito do cônjuge ao divórcio. 2. A morte


do cônjuge no curso na ação não acarreta a perda do objeto da ação se já manifesta a
vontade dos cônjuges de se divorciarem, pendente apenas a homologação, em omissão
do juízo”. (...) Por certo, tanto a morte quanto o divórcio são causas de dissolução do
casamento válido (art. 1.571, §1º, do Código Civil – CC), de modo que, ocorrendo uma
delas, não haveria interesse processual na extinção da sociedade conjugal por outra
causa. No caso, porém, a controvérsia reside justamente em dizer qual desses motivos
ocorreu primeiro, se prevalece ou não a manifestação de vontade das partes de se
divorciarem, ainda sem a chancela judicial. E tal importa porque a dissolução do
casamento por uma ou outra causa surte efeitos jurídicos próprios e distintos, sendo a
morte do cônjuge, por exemplo, fato gerador de direitos sucessórios e previdenciários,
e o divórcio, de direitos à partilha de bens e pensão alimentícia. (TJMG, Apel. Cível
1.0000.17.071266-5/001, Rel. Des. Oliveira Firmo, 7ª Câmara Cível, j. 29/05/2018).

2.1: EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE DIVÓRCIO - EXTINÇÃO DA


SOCIEDADE CONJUGAL - POSSIBILIDADE DE ATRIBUIÇÃO DE EFEITOS RETROATIVOS À
DECISÃO JUDICIAL QUE DECRETA O DIVÓRCIO DO CASAL - "DIVÓRCIO POST MORTEM"
- POSSIBILIDADE JURÍDICA - RESPEITO À AUTONOMIA DA VONTADE DAS PARTES -
PRODUÇÃO IMEDIATA DE EFEITOS (ARTIGO 200 DO CPC/15)- RECONHECIMENTO DA
PROCEDÊNCIA DO PEDIDO (ALÍNEA A DO INCISO III DO ARTIGO 487 DO CPC/15)-
JULGAMENTO ANTECIPADO PARCIAL DO MÉRITO (INCISO I DO ARTIGO 356 DO CPC/15).
- Quando o término da sociedade conjugal se dá por meio do divórcio, deve ser
observada a manifestação de vontade autonomamente manifestada pelos cônjuges no
processo - Com a apresentação da petição inicial e da contestação, aperfeiçoou-se a
manifestação de ambas as partes acerca da expressa concordância quanto à finalização
da sociedade conjugal, por meio do divórcio (inciso IV do artigo 1.571 do CC/02 c/c inciso
IV do artigo 2º da Lei 6.515/1977)- Nos casos em que já exista manifestação de vontade
de ambos os cônjuges de se divorciarem, a superveniência da morte de um dos cônjuges
no curso do processo ação não acarreta a perda de seu objeto - A superveniência da
morte de um dos cônjuges, não é suficiente para superar ou suplantar o acordo de
vontades anteriormente manifestado, o qual possui valor jurídico e deve ser respeitado,
mediante a atribuição de efeitos retroativos à decisão judicial que decreta o divórcio do
casal. v.v.: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE DIVÓRCIO - AUSÊNCIA PEDIDO
LIMINAR DA SUA DECRETAÇÃO - FALECIMENTO DO RÉU NO CURSO DA AÇÃO-
HOMOLOGAÇÃO DIVÓRCIO POST MORTEM- IMPOSSIBILIDADE- EXTINÇÃO DA
SOCIEDADE CONJUGAL-ARTIGO 1.571 CC- DECISÃO MANTIDA Havendo o falecimento
de um dos cônjuges no decorrer da ação de divórcio, rompido se encontra o vínculo
conjugal, na forma do artigo 1.571 do CC, não havendo, pois, falar em homologação do
pedido de divórcio post mortem. (TJ-MG - AI: 10000200777423004 MG, Relator: Dárcio
Lopardi Mendes, Data de Julgamento: 05/08/2021, Câmaras Cíveis / 4ª CÂMARA CÍVEL,
Data de Publicação: 06/08/2021)

2.2- APELAÇÃO. Divórcio litigioso. Falecimento de cônjuge após o ajuizamento da ação


(Divórcio post mortem). Decretação do divórcio com eficácia retroativa a data do
requerimento da petição inicial. Cabimento. Iniciativa de dissolução matrimonial adveio
da parte recorrida. Existência de separação de corpos pelo prazo de três anos. A morte
de um dos cônjuges no curso da ação não acarreta a perda de seu objeto se já manifesta
a vontade dos cônjuges de se divorciarem. Divórcio é direito potestativo (Emenda
Constitucional 66/2010). Ilegitimidade de parte. Afastada. Exercício matrimonial já
exaurido pelos cônjuges. Parte recorrente é o espólio do de cujus. Falta de interesse de
agir. Afastada. Existência de consequências sucessórias no inventário dos bens da
falecida. Impossibilidade jurídica do pedido. Afastada. Divórcio é aperfeiçoado desde o
ajuizamento da ação com a manifestação de vontade. Sentença reformada. RECURSO
PROVIDO. (TJ-SP - AC: 10245041020198260577 SP 1024504-10.2019.8.26.0577, Relator:
Jair de Souza, Data de Julgamento: 27/07/2020, 10ª Câmara de Direito Privado, Data de
Publicação: 28/07/2020).

3) Mudança nome após casamento: RECURSO ESPECIAL. CIVIL. REGISTRO PÚBLICO.


DIREITO DE FAMÍLIA. CASAMENTO. ALTERAÇÃO DO NOME. SOBRENOME. RETIFICAÇÃO
DE REGISTRO CIVIL. ACRÉSCIMO. DATA DE CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO. ESCOLHA
POSTERIOR. POSSIBILIDADE. IDENTIDADE FAMILIAR. JUSTO MOTIVO. SEGURANÇA
JURÍDICA. PRESERVAÇÃO. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na
vigência do Código de Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).
2. O art. 1.565, § 1º, do Código Civil de 2002 não impõe limitação temporal para a
retificação do registro civil e o acréscimo de patronímico do outro cônjuge por retratar
manifesto direito de personalidade. 3. A inclusão do sobrenome do outro cônjuge pode
decorrer da dinâmica familiar e do vínculo conjugal construído posteriormente à fase de
habilitação dos nubentes. 4. Incumbe ao Poder Judiciário apreciar, no caso concreto, a
conveniência da alteração do patronímico à luz do princípio da segurança jurídica. 5.
Recurso especial provido. (STJ - REsp: 1648858 SP 2017/0011893-3, Relator: Ministro
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Data de Julgamento: 20/08/2019, T3 - TERCEIRA TURMA,
Data de Publicação: DJe 28/08/2019 RSDF vol. 116 p. 129)

4) Partilha plano de previdência privada: CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE


RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL CUMULADA COM PARTILHA DE
BENS E ALIMENTOS. PLANOS DE PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA. REGIME MARCADO
PELA LIBERDADE DO INVESTIDOR. CONTRIBUIÇÃO, DEPÓSITOS, APORTES E RESGATES
FLEXÍVEIS. NATUREZA JURÍDICA MULTIFACETADA. SEGURO PREVIDENCIÁRIO.
INVESTIMENTO OU APLICAÇÃO FINANCEIRA. DESSEMELHANÇAS ENTRE OS PLANOS DE
PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA E FECHADA, ESTE ÚLTIMO INSUSCETÍVEL DE PARTILHA.
NATUREZA SECURITÁRIA E PREVIDENCIÁRIA DOS PLANOS PRIVADOS ABERTOS
VERIFICADA APÓS O RECEBIMENTO DOS VALORES ACUMULADOS, FUTURAMENTE E EM
PRESTAÇÕES, COMO COMPLEMENTAÇÃO DE RENDA. NATUREZA JURÍDICA DE
INVESTIMENTO E APLICAÇÃO FINANCEIRA ANTES DA CONVERSÃO EM RENDA E
PENSIONAMENTO AO TITULAR. PARTILHA POR OCASIÃO DO VÍNCULO CONJUGAL.
NECESSIDADE. ART. 1.659, VII, DO CC/2002 INAPLICÁVEL À HIPÓTESE. PARTILHA DE
PARTE DO BEM ADQUIRIDO NA CONSTÂNCIA DA UNIÃO ESTÁVEL COM RECURSOS
ADVINDOS DO LEVANTAMENTO DE SALDO DO FGTS. POSSIBILIDADES. PRECEDENTES.
DESNECESSIDADE DOS ALIMENTOS À EX-CÔNJUGE. DEFICIÊNCIA DA FUNDAMENTAÇÃO
RECURSAL. SÚMULA 284/STF. IMPRESCINDIBILIDADE DO REEXAME DE FATOS E
PROVAS. SÚMULA 7/STJ. 1- Ação ajuizada em 01/03/2018. Recurso especial interposto
em 20/01/2020 e atribuído à Relatora em 17/07/2020. 2- Os propósitos recursais
consistem em definir: (i) se o valor existente em previdência complementar privada
aberta possui natureza personalíssima e não pode ser objeto de partilha por ocasião da
dissolução da união estável; (ii) se o bem alegadamente adquirido por sub-rogação e
mediante uso de saldo de FGTS deveria igualmente ser excluído da partilha; (iii) se, na
hipótese, é devida a pensão alimentícia à ex-cônjuge. 3- Os planos de previdência
privada aberta, operados por seguradoras autorizadas pela SUSEP, podem ser objeto de
contratação por qualquer pessoa física e jurídica, tratando-se de regime de capitalização
no qual cabe ao investidor, com amplíssima liberdade e flexibilidade, deliberar sobre os
valores de contribuição, depósitos adicionais, resgates antecipados ou parceladamente
até o fim da vida, razão pela qual a sua natureza jurídica ora se assemelha a um seguro
previdenciário adicional, ora se assemelha a um investimento ou aplicação financeira.
4- Considerando que os planos de previdência privada aberta, de que são exemplos o
VGBL e o PGBL, não apresentam os mesmos entraves de natureza financeira e atuarial
que são verificados nos planos de previdência fechada, a eles não se aplicam os óbices
à partilha por ocasião da dissolução do vínculo conjugal apontados em precedente da
3ª Turma desta Corte (REsp 1.477.937/MG). 5- Embora, de acordo com a SUSEP, o PGBL
seja um plano de previdência complementar aberta com cobertura por sobrevivência e
o VGBL seja um plano de seguro de pessoa com cobertura por e sobrevivência, a
natureza securitária e previdenciária complementar desses contratos é marcante no
momento em que o investidor passa a receber, a partir de determinada data futura e
em prestações periódicas, os valores que acumulou ao longo da vida, como forma de
complementação do valor recebido da previdência pública e com o propósito de manter
um determinado padrão de vida. 6- Todavia, no período que antecede a percepção dos
valores, ou seja, durante as contribuições e formação do patrimônio, com múltiplas
possibilidades de depósitos, de aportes diferenciados e de retiradas, inclusive
antecipadas, a natureza preponderante do contrato de previdência complementar
aberta é de investimento, razão pela qual o valor existente em plano de previdência
complementar aberta, antes de sua conversão em renda e pensionamento ao titular,
possui natureza de aplicação e investimento, devendo ser objeto de partilha por ocasião
da dissolução do vínculo conjugal por não estar abrangido pela regra do art. 1.659, VII,
do CC/2002. 7- Dado que a partilha recaiu somente sobre a parte que foi adquirida com
os recursos advindos do levantamento de saldo do FGTS, ressalvando a parte que havia
sido adquirida pela arte com recursos advindos de sub-rogação de bem exclusivo, deve
ser aplicada a jurisprudência desta Corte no sentido de que os valores de FGTS
levantados durante o interregno da união estável e utilizados para aquisição de imóvel
devem ser objeto de partilha. Precedentes. 8- A ausência de indicação do dispositivo
legal supostamente violado e a necessidade de reexame de fatos e provas impedem o
conhecimento do recurso especial no que tange aos alimentos, aplicando-se,
respectivamente, a Súmula 284/STF e a Súmula 7/STJ. 9- Recurso especial parcialmente
conhecido e, nessa extensão, desprovido, com majoração de honorários. (STJ - REsp:
1880056 SE 2020/0147797-8, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento:
16/03/2021, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 22/03/2021)

PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

MÓDULO: DIREITO DE FAMÍLIA I

TEMA: DIVÓRCIO: ASPECTOS PESSOAIS E PATRIMONIAIS. CLÁUSULAS


REGULATÓRIAS DO DIVÓRCIO. PARTILHA CONJUGAL

Introdução
Anteriormente a legislação brasileira estabelecia a obrigatoriedade do
ajuizamento de ação de separação judicial ou da lavratura antecedente
de uma escritura de separação extrajudicial, como pressuposto
necessário para a posterior concessão da dissolução do vínculo
conjugal pela conversão da separação judicial em divórcio.

A Emenda Constitucional 66/2010 veio permitir o divórcio a qualquer


tempo, sem necessidade de prévia separação de fato ou de corpos e
de um tempo mínimo de casamento, com o provimento direto do
divórcio e sem prévia postulação de uma antecedente separação
judicial ou extrajudicial.

A ação direta de divórcio pode ser ajuizada para a discussão de outros


pontos fundamentais acerca da dissolução de um casamento, como a
guarda dos filhos, convivência e alimentos da prole e dos cônjuges.

Desta forma, o divórcio tem sido a tendência nos mais modernos


sistemas jurídicos como no Brasil , sendo uma marca muito presente
na Europa, onde basta que os cônjuges não mais desejem a
continuidade do matrimônio.

Definição
Conforme Rolf Madaleno:
“O divórcio enseja o término da sociedade conjugal e
dissolve o casamento válido (CC, art. 1.571, IV e §1º) e não
modifica os deveres dos pais com relação aos filhos (CC,
art. 1.579), e tampouco o novo casamento de qualquer dos
pais, ou de ambos poderá importar em restrições aos
direitos e deveres (CC, art. 1579 , parágrafo único) como no
tocante aos alimentos devidos pelos pais à sua prole, não
sendo causa de redução da pensão alimentícia, salvo
provenha de descendência da nova união, como não deve
alterar os alimentos ao ex-cônjuge” 1.
Segundo Rodrigo da Cunha Pereira: “É uma das formas de
dissolução do casamento, assim como a morte e a
anulação” 2·.
Continua ainda Rodrigo da Cunha Pereira:
“O divórcio foi introduzido no Brasil em 1977 pela emenda
Constitucional nº 09 e regulamentada pela Lei nº 6.515/77
precedida de uma longa batalha política legislativa, liderada
pelo então Senador Nelson Carneiro. A Constituição da
República de 1988, art. 226, parágrafo 6º reproduziu o

1
MADALENO, Rolf. Direito de Família.11º ed.Forense, 2021.
2
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Sucessões. São Paulo, Ed.
Saraiva. 2018.

sistema dual de dissolução do casamento, repetindo a velha


fórmula. Apenas reduziu os prazos para dois anos para a
concessão do divórcio direto e de um ano para a conversão
da separação judicial em divórcio” 3.

Os aspectos pessoais

Mudança de nome
Após a sentença de divórcio caberá aos ex-cônjuges a escolha acerca
da retirada ou manutenção do sobrenome de casado.

Para Rodrigo da Cunha Pereira: “o acréscimo do


sobrenome era tido como um ato simbólico da “fusão de
almas” decorrente do casamento. Contudo, o autor
considera isso um equívoco, pois “misturar os nomes pode
significar mesclar e confundir as identidades. O nome é um
dos principais identificadores do sujeito e constitui, por isso
mesmo, um dos direitos essenciais da personalidade.
Misturá-los significa não preservar a singularidade” 4.
Para Rolf Madaleno:
“O uso do nome depois de divorciada é uma faculdade, e
não uma obrigação, podendo renunciar ao patronímico
esponsal a qualquer tempo, mediante demanda de alteração
de cláusula de divórcio , muito embora se mostre muito mais
sensato e econômico a mulher requerer no próprio processo
de divórcio a averbação do retorno ao seu nome de solteira,
valendo o mesmo para o homem, na hipótese de ele haver

3
Ibidem.
4
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Divórcio. Teoria e prática. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

acrescentado ao seu nome de solteira , valendo o mesmo


para o homem” 5.

A nossa CF não estabeleceu, de forma direta, a proteção ao nome da


pessoa natural, muito embora o faça de maneira indireta, ao tutelar o
direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização
cabível (artigo 5º, V); bem como ao proteger a inviolabilidade da
intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas (5º, X,
CF).

Segundo Mário Luiz Delgado: “O parágrafo 2º do


artigo 1.571 do CC permitiu, expressamente, a manutenção
do nome de casado, pelo cônjuge divorciado, em tutela do
seu direito ao nome (direito da personalidade), seja pelo
divórcio direto, seja pelo divórcio-conversão, em inexistindo
renúncia a esse direito, salvo no caso da perda determinada
por sentença judicial em face dessa última espécie de
divórcio, regulada na forma do artigo 1.578. Esse dispositivo
estabeleceu a perda condicionada do direito de uso do
sobrenome pelo cônjuge declarado culpado mediante
critérios objetivamente considerados a contrario sensu, a
partir do elemento volitivo do cônjuge inocente que haveria
de, expressamente, requerer a não conservação, pelo ex-
consorte, daquele direito”.6

5
MADALENO, Rolf. Direito de Família.11ª ed.Forense, 2021.
6
DELGADO, Mário Luiz. https://www.conjur.com.br/2018-fev-04/processo-familiar-prerrogativa-
conjuge-mudar-ou-manter-nome-casado.

Por essas razões, é inconstitucional (artigo 5º, X, CF) a perda ao direito


do uso do nome de casado, estabelecida pelo artigo 1.578 do CC,
quaisquer que sejam as razões.

Com a dissolução do casamento, deixaram de existir os motivos


identificadores da relação conjugal, e, pelo contrário, com a atual
sistemática de decreto objetivo do divórcio, deixando os cônjuges de
viver em comunhão plena de vida e de serem reconhecidos como uma
unidade familiar, não há sentido para a mantença do nome de casado.

Assim sendo, temos que a utilização do nome após o divórcio é uma


faculdade, e não uma obrigação, podendo ocorrer a renúncia ao
patronímico a qualquer tempo, seja diretamente no divórcio, ou
mediante posterior demanda de alteração de cláusula de divórcio

Cláusulas Regulatórias do Divórcio


Nos termos do Art. 731 do CPC a homologação do divórcio,
observados os requisitos legais, poderá ser requerida em petição
assinada por ambos os cônjuges, da qual constarão:
I – as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns;
II – as disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges;
III – o acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de
visitas;
IV – o valor da contribuição para criar e educar os filhos.
Se os cônjuges não acordarem sobre a partilha dos bens, far-se-á esta
depois de homologado o divórcio.
A contestação deve ficar restrita ao foco do divórcio e respeitante aos
aspectos complementares do casamento, como discussão sobre
alimentos, guarda de filhos e partilha de bens.

Guilherme Nogueira da Gama e Cláudia Stein comungam da


opinião de que a realização da partilha dos bens comuns e a
mudança de sobrenome do casado, não são essenciais para
o divórcio, podendo ser acomodados em outro momento
processual, não sendo adequado postergar a obtenção do
divórcio por questões relacionadas a divisão do patrimônio.7

Havendo necessidade e dependência alimentar, a pensão alimentícia


pode ser discutida no divórcio, exceto que já tenha sido discutida em
ação alimentar própria e específica. Assim, o juiz decretará o divórcio
e igualmente regulará as demais questões vinculadas ao casamento
por ele dissolvido, fixando alimentos quando necessário e devido e
regulamentando a guarda e visitas da prole, assim como promovendo a
partilha de bens.

Os aspectos patrimoniais

Partilha de bens
Conforme o Prof. Rodrigo da Cunha Pereira:
“É a divisão ou repartição de bens ou patrimônio segundo a
relação jurídica que se formou, em tantas porções quanto
forem os beneficiários, Até que se concretize a partilha, ou
seja, até a individualização das quotas, aplica-se ao todo as
regras inerentes ao condomínio”8.

A partilha pode se dar em decorrência da dissolução do vínculo


conjugal, da liquidação de uma sociedade, em razão da morte em um

7
GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Direito Civil, família. São Paulo: Atlas, 2008, p. 299.
8
Ibidem, p. 510.

processo de inventário ou mesmo numa partilha em vida. A partilha


pode ser feita de forma judicial ou extrajudicial, realizada em Juízo ou
por escritura pública em cartório de notas, desde que se consensual e
sem menores ou incapazes. Roberto Senise Lisboa ensina:

“Partilha é a divisão dos bens comuns ou conjugais, por


força da dissolução do casamento. A partilha pode ser
amigável ou litigiosa.Partilha amigável ou consensual é
aquela fixada pelas partes, somente cabendo ao julgador a
recusa de sua homologação se não houver a preservação
dos interesses de um dos cônjuges ou de sua prole. Partilha
litigiosa ou contenciosa é aquela deliberada pelo juiz”9.

No momento do divórcio várias questões devem ser discutidas, entre


elas a divisão dos bens, a guarda dos filhos, pensão alimentícia, o
sobrenome dentre outras. Sendo assim, não há necessidade de se
discutir em ações apartadas. O artigo 1.581 do CC elucida que o
divórcio pode ser permitido independente da partilha do patrimônio.
Havendo partilha de forma consensual, não há necessidade de
ajuizamento no judiciário, podendo realizar-se no cartório de notas.
Se o bem for indivisível, ou existindo disputa em relação à parte ou ao
todo do patrimônio, poderá ser determinada a venda judicial dos bens,
dividindo-se entre as partes. Conforme Rolf Madaleno:
“Procedida a partilha a escritura pública do divórcio
consensual constituirá título hábil para o registro imobiliário
e para o registro civil, bem como para o levantamento e
transferência de valores existentes em contas-correntes, de

9
LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil - Vol.5.(livro eletrônico).

investimento e de poupança, depósitos a prazo e


aplicações em instituições financeiras, formalização de
transferência de propriedade de bens e direitos junto a
órgãos públicos” 10 .

Segundo Ana Beatriz Saraiva Oliveira: “Aquele que estiver


na posse deve pagar ao outro um montante relativo ao
usufruto, sob pena de caracterizar enriquecimento ilícito.
Contudo se o cônjuge e os filhos estiverem recebendo
alimentos, o usufruto configura “alimentos in natura”, não
11
existindo a obrigação de prestação” .

Até a efetiva partilha dos bens estes ficarão em estado de


mancomunhão. A mancomunhão se caracteriza como a situação
jurídica da propriedade dos bens em relação ao casal. Estes os
pertencem de forma igual, sem qualquer distinção ou divisão ou
preferência.
No momento da dissolução da sociedade conjugal, os bens ficam na
posse de um dos cônjuges, usufruindo de bens que possui titularidade
dúplice.

Alimentos
Definição
Segundo o Prof. Rodrigo da Cunha Pereira:
“É o pagamento periódico sem qualquer contraprestação de
serviço ou trabalho à pessoa para a sua mantença. É

10
MADALENO, Rolf. Direito de Família.11ª Ed.Forense, 2021.
11
- OLIVEIRA, Ana Beatriz Saraiva.Partilha de bens no divórcio.
https://anabeatrizsaraiva.jusbrasil.com.br/artigos/208352286/partilha-de-bens-na-acao-de-divorcio

denominada também de alimentos e pode ser transitória ou


permanente. É uma contribuição de assistência que decorre
do vínculo de parentesco, da conjugalidade (casamento ou
união estável) ou deixada em cláusula testamentária, ato
ilícito ou de uma relação contratual” 12.

Para Yussef Said Cahali:


“A pensão alimentícia compreende “as prestações devidas,
feitas para que aquele que as recebe possa subsistir, isto é,
manter sua existência, realizar o direito à vida, tanto física
(sustento do corpo) como intelectual e moral (cultivo e
educação do espírito, do ser racional)” 13.

Decorre do vínculo de parentesco, da declaração de vontade ou da


prática de ato ilícito, que é devida por aquele denominado alimentante,
que dispõe de recursos, à outra parte, denominada alimentado, que
está impossibilitada de prover-se às próprias expensas.
Sintetiza San Tiago Dantas que “a característica
fundamental da obrigação alimentar está na íntima relação
entre o direito aos alimentos e o direito à vida, sendo pois
justo que o grupo social ao qual o indivíduo pertença lhe
forneça subsídios para sobreviver se ele de outra forma não
puder obtê-los” 14.

12
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Sucessões Ilustrado. São Paulo.
Ed. Saraiva. 2018.
13
CAHALI, Yussef Said Cahali – Dos Alimentos. 6ª edição – São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2009. p. 16
14
SANTIAGO DANTAS, Francisco Clementino de. Direito de Familia e das Sucessões, Rio de
Janeiro, Forense, 1991.

A obrigação alimentar funda-se no princípio da dignidade humana


previsto no art. 1º, III da CF e no princípio da solidariedade, previsto no
art. 3º, que se impõem à organização da sociedade brasileira. A família
como base da sociedade, regulada no art. 226 da referida CF, faz
tornar os efeitos jurídicos da prestação alimentar fundados no
direito/dever de solidariedade. A legislação infraconstitucional
estabelece os contornos para a sua prestação, destacando-se a
importância dos artigos 1.694 e o art 1.710 do CC, além do art. 22 do
ECA e os artigos 11 a 14 do Estatuto do Idoso, além da Lei de
Alimentos (Lei 5.478/68).

Pensão Alimentícia para os Filhos


Conforme Rolf Madaleno: “O dever alimentar tem origem
distinta da obrigação de sustento, pois se vincula ao poder
familiar, ao parentesco das pessoas menores e incapazes”
15
.
Conforme Denise Damo Comel: "a obrigação de alimentos
resultante do parentesco terá como pressuposto o estado de
necessidade do alimentário e a correlata possibilidade do
alimentante de ministrá-lo, sem com isso desatender-lhe as
próprias necessidades e da família, sendo recíproca e
vitalícia entre os parentes” 16.

A prestação alimentar, na prática, abrange não somente a prestação


pecuniária atinente à alimentação, mas também necessidades outras
ligadas a habitação, vestuário, lazer, tratamento médico e odontológico,
além de despesas com transporte e educação.

15
MADALENO, Rolf. Direito de Família.11ª Ed.Forense, 2021.
16
COMEL, Denise Damo. Do poder familiar, RT: São Paulo, 2003, p.101.

Acerca da prestação alimentícia convencional nos ensina


Denise Damo Comel: "(...) o dever dos pais é prestar os
alimentos in natura, quer dizer, é prover em espécie os
alimentos ao filho, ao passo que a obrigação alimentar se
cumpre, de regra, mediante prestações periódicas
geralmente em dinheiro” 17.

Na relação entre pais e filhos menores de dezoito anos e, portanto,


ainda sob o poder familiar, há um dever alimentar ilimitado, que vai ao
extremo até de exigir a venda de bens pessoais dos pais para
assegurar por todas as formas o constitucional direito à vida, onde
todos os esforços devem ser envidados pelos genitores para atender
toda a sorte de necessidades dos filhos ainda menores e incapazes.
A maioridade civil não impede que os filhos continuem sendo credores
de alimentos, agora não mais por vínculo do poder familiar, e da
presunção absoluta de necessidade, mas com base na relação de
parentesco. O CPC/2015 abandonou a previsão de medida cautelar de
alimentos provisionais; além disso, reconheceu que a demanda de
alimentos deve observar o regramento da lei especifica, sendo a
aplicação do Código processual apenas subsidiária.

Os alimentos provisórios estão previstos na Lei de Alimentos; pela


leitura do art. 2.º, caput, depreende-se que o rito desta lei se aplica
apenas nos casos em que há prova pré-constituída da obrigação
alimentar. Os alimentos provisórios estão previstos no art. 4.º, caput, da
Lei: o juiz apenas poderá fixar alimentos provisórios se o autor trouxer,

17
Ibidem.

em seu pedido, prova pré-constituída do parentesco ou da obrigação


alimentar.

Pensão entre ex-cônjuges e ex-companheiros.


Também pela relação conjugal e pela união estável existe a obrigação
alimentar decorrente da mútua assistência preconizada pelo artigo
1.566, inciso III, do Código Civil. Ostenta por seu turno o parágrafo
único do artigo 1.704, com as ressalvas adiante apontadas, que o
consorte responsável pela separação deve ao outro, se deles
necessitar, alimentos necessários para a sua subsistência.

Em uma ação de divórcio quem pode pedir pensão alimentícia ao


outro cônjuge é aquele que dela necessitar, independente de ser o
homem ou a mulher. Entretanto, quem mais necessita da pensão é a
mulher, muitas vezes por ter saído do mercado de trabalho para
assistir aos filhos e a casa. Assim, o cônjuge que não trabalha tem
direito a pleitear pensão alimentícia no processo de divórcio, desde
que justifique sua necessidade.

Como pressupostos da obrigação alimentar, temos que nos termos do


art 1.695 do CC são devidos alimentos quando quem os pretende não
tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria
mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem
prejuízo de seu sustento.
Conforme Carlos Alberto Dabus Maluf:
“Vê-se dessa forma que está presente o binômio
necessidade de um versus possibilidade do outro,
reforçando o fato de que a ideia do instituto não é a
exploração do próximo, em decorrência da falta de trabalho

volitivo ou esforço pessoal de uma das partes, mas sim a


proteção da vida daquele que se encontra impossibilitado de
prover o sustento pessoal por motivo de doença,
incapacidade para o trabalho ou idade avançada. Logo, é
necessário que o alimentante disponha de recursos
econômicos para fazer jus à prestação alimentar, sem que
haja prejuízo ao seu próprio sustento” 18.

Assim, quando o alimentante possuir apenas os recursos


indispensáveis à própria subsistência não há falar em prestação
alimentar.
De outra parte, nos termos do art. 1.694, parágrafo 1º do CC, os
alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades de quem
pede e dos recursos da pessoa obrigada, devendo ser indispensáveis à
subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de
quem os pleiteia.
Com a ruptura do matrimônio, ao cônjuge em situação de
vulnerabilidade econômica sobrevém o direito de receber verba
alimentar suficiente à mantença de seu padrão de vida e condição
social, no mesmo padrão em que vivia durante o casamento.
E sobre os critérios de fixação do valor dos alimentos provisórios,
Rodrigo da Cunha Pereira leciona que “seja qual for sua origem o
quantum deve ser estabelecido em atendimento ao binômio
necessidade /disponibilidade, mas se compatibilizando com o padrão
de vida e condição social das partes envolvidas (art. 1.694, CC/2002)”
19
.

18
MALUF, Carlos Alberto Dabus. Curso de Direito de família. Ed. Saraiva. 2º ed.2018.
19
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Divórcio: Teoria e Prática, 5º ed, São Paulo, Saraiva, 2016.

A jurisprudência é pacífica no sentido de que “os alimentos devidos


entre cônjuges destinam-se à manutenção da qualidade de vida do
credor, preservando, o tanto quanto possível, a mesma condição social
desfrutada na constância da união” 20.

O cônjuge ou o companheiro deve contribuir, no limite de suas


possibilidades, para as despesas familiares.
Assim, estando o cônjuge desprovido de recursos para a sua mantença
pessoal, deve o juiz fixar o quantum, conforme a regra dos arts. 1.694 e
1.702 do CC. Para Mário Delgado:
“Com a evolução da obrigação alimentar entre cônjuges, ao
longo dos últimos anos no Brasil, notadamente no que tange
à substituição do binômio tradicional
necessidade/possibilidade pelo trinômio contemporâneo da
necessidade/possibilidade/razoabilidade e que trouxe aos
alimentos devidos entre ex-cônjuges o conceito de
excepcionalidade, que repudia a anacrônica presunção de
que aquele que recebe os alimentos possa permanecer
inerte (quando tenha capacidade laboral), deixando ao outro
a perene obrigação de sustentá-lo. Em outras palavras, não
basta que o devedor tenha possibilidade de pagar e que o
credor tenha necessidade de receber os alimentos. É
preciso investigar se o pagamento de um cônjuge a outro,
por longo tempo, é também razoável” 21.

20
STJ, 3ª Turma, rel. min. Paulo de Tarso Sanseverino, REsp 1.726.229/RJ, DJe 29/5/2018.
21
DELGADO, Mário Luiz. Pensão Alimentícia entre cônjuges é categoria em extinção.
https://www.conjur.com.br/2017-jul-26/mario-delgado-pensao-alimenticia-entre-conjuges-extincao
.

O dever de assistência material entre os cônjuges, previsto no Código


Civil e que se converte em obrigação alimentar quando da dissolução
do vínculo, não se presta como supedâneo de “aposentadoria” ao
cônjuge que se mantém omisso e que não procura, por seu próprio
esforço, obter os meios necessários à sobrevivência.

Alimentos gravídicos
Em 2008 foi editada a Lei n. 11.804 para disciplinar o direito da
gestante de receber alimentos e a forma de seu exercício.
Antes do advento da lei, já se reconhecia a possibilidade de o nascituro
atuar em juízo em prol de seus interesses; a jurisprudência há tempos
vinha admitindo, em seu favor, formas de proteção não expressamente
previstas na lei. Para Enio Zuliani, com a lei:
“[...] a família se fortalece contra o abandono precoce e,
ainda que não seja alentador, vale a pena apostar que o
futuro cidadão protegido pela nova lei, sentindo que o
Direito, ao contrário do pai biológico que resistiu ao dever de
voluntariamente prestar alimentos, prestou-lhe solidariedade
em fase difícil, certamente terá razões para aprimorar sua
civilidade”.22

Sob a perspectiva do jurisdicionado, a inserção legislativa pode ter


caráter educacional e estimular maior número de pedidos a título de
alimentos gravídicos em razão do ampliado conhecimento sobre a
possibilidade de tal pleito.
Obviamente as hipóteses e os requisitos para a concessão liminar de
alimentos gravídicos não foram alteradas pela superveniência do

22
ZULIANI, Enio Santarelli. Alimentos. Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil, n. 29,
mar.-abr. 2009.

CPC/2015. Assim, é mantida a possibilidade de concessão liminar de


alimentos quando verificada a existência de indícios de paternidade
(art. 6.º, Lei n. 11.804/2008), devendo a tutela provisória ser concedida
independentemente dos requisitos exigidos no CPC.

Guarda e Convivência Familiar


Carlos Alberto Dabus Maluf nos ensina:
“A guarda é um direito e ao mesmo tempo um dever dos
genitores de terem seus filhos sob seus cuidados e
responsabilidade, zelando pela sua educação, alimentação,
moradia, e, representa ainda um elemento constitutivo do
poder familiar, exercido por ambos os genitores, para a
proteção dos filhos menores de 18 anos, na constância do
casamento ou da união estável, ou ainda sob a forma de
guarda compartilhada ou por um deles, em face da
dissolução da sociedade conjugal ou da união estável” 23.

Os artigos 1.583 e seguintes do Código Civil e, em especial nos


artigos 33 e seguintes do Estatuto da Criança e do Adolescente
estaleceram previsão sobre a guarda. O nosso CC dispõe que não há
mudança no relacionamento entre pais e filhos em caso de divórcio.
Cabe aos pais o direito de estar com os seus filhos, para cuidá-los e
vigiá-los, e, em contrapartida, têm os filhos a obrigação de viver em
casa com seus progenitores, sendo dever dos pais dirigir a formação
da sua prole, encaminhando-a para a futura vida adulta e social; e, uma
vez sobrevindo a separação dos progenitores, a guarda dos filhos pode

23
MALUF, Carlos Alberto Dabus.Curso de Direito de Família. 2º ed. Saraiva.2018.

ser conferida a qualquer um dos genitores, podendo ser confiada


também a terceiro.

Durante o casamento , o poder familiar e a guarda são exercidos pelos


pais, mas com ruptura do convívio entre os genitores, ou a sua
inexistência, é necessário a definição da guarda legal da criança,
respeitando o melhor interesse do menor, podendo ser unilateral,
alternada ou compartilhada. Ao genitor que não ficou com a guarda,
atribui-se o direito de convivência, além da obrigação de supervisionar
os interesses do filho, conforme dispõe o artigo 1.589 do CC.Conforme
Paulo Lobo:
“A separação dos cônjuges ou companheiros não deve
significar automaticamente a separação de pais e filhos. O
princípio do melhor interesse da criança trouxe-a ao centro
da tutela jurídica, prevalecendo os seus interesses sobre o
dos pais em conflito” 24.

O fato é que, a guarda deve ser estabelecida de acordo com o melhor


interesse da criança, garantindo-lhe o desenvolvimento pleno e
saudável dentro da convivência familiar com ambos os genitores e a
decisão deverá ser tomada de acordo com cada caso.

Divórcio extrajudicial
A Lei nº 11.441, de 4.01.2007, incluiu no ordenamento jurídico o divór-
cio indireto e o direto extrajudicial. Com efeito, dentre outras modifica-
ções, acrescentou ao Código de Processo Civil de 1973 o art. 1.124-A,
que tratava desta modalidade de realização do divórcio.

24
LOBO, Paulo Luiz Netto . Famílias. 11 º ed.São Paulo. Saraiva, 2021.

O CPC/2015 contempla o divórcio consensual, juntamente com a sepa-


ração consensual e a extinção consensual da união estável em seu art.
733: “O divórcio consensual, a separação consensual e a extinção con-
sensual de união estável, não havendo nascituro ou filhos incapazes e
observados os requisitos legais, poderão ser realizados por escritura
pública, da qual constarão as disposições de que trata o art. 731”.
Embora a lei diga que não pode ser efetuado o divórcio extrajudicial
com filhos menores há a possibilidade , desde que as ações judiciais
sejam previamente realizadas, dirimindo as questões sobre a guarda,
pensão, alimentos e convivência.
Imprescindíveis a presença e a assinatura de advogado comum ou in-
dividual das partes, cuja qualificação ficará inserida na escritura públi-
ca.Explicam, sobre o art. 733, Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz
Arenhart e Daniel Mitidiero:
“São condições para que seja possível a separação e o di-
vórcio consensuais extrajudiciais a ausência de nascituros
ou filhos incapazes do casal; o acordo entre os cônjuges a
respeito das questões dos incisos I a IV, do art. 731, CPC
(embora, quanto à partilha dos bens, essa possa ocorrer
posteriormente, judicial ou extrajudicialmente, conforme os
arts. 1.581, CC, e 731, parágrafo único, CPC); e a assistên-
cia por advogado ou defensor público”.25

Não se requer a interferência do juiz no ato, providenciando-se de ime-


diato a averbação junto ao registro civil do casamento. A respeito, reza
o § 1º do art. 733 do CPC/2015: “A escritura não depende de homolo-
gação judicial e constitui título hábil para qualquer ato de registro, bem

25
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; e MITIDIERO, Daniel. Novo Código de
Processo Civil Comentado. São Paulo: Thomson Reuters – Revista dos Tribunais, 2015.

como para levantamento de importância depositada em instituições fi-


nanceiras”.
Para Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel
Mitidiero “ No tocante ao advogado, não se faz necessária a
apresentação de procuração. Não comparecendo a parte
com advogado, o tabelião aconselhará a sua procura peran-
te a defensoria pública, ou, não havendo, a Seccional da Or-
dem dos Advogados do Brasil, nos estritos termos dos arts.
8º e 9º da Res. nº 35 do CNJ. Sobre a necessidade de ad-
vogado, é expresso o § 2º do art. 733: “O tabelião somente
lavrará a escritura se os interessados estiverem assistidos
por advogado ou por defensor público, cuja qualificação e
assinatura constarão do ato notarial”.26

Se presente o advogado ao ato, não se exigirá a exibição do instru-


mento procuratório. No entanto, se outorgada procuração com poderes
específicos, não se exige a presença dos consortes. Como em qual-
quer ato elaborado por escritura pública, é admitida a representação.
Conveniente a prévia apresentação de minuta, para o exame do tabe-
lião, seguindo-se a lavratura do ato.

Divórcio unilateral
Podemos conceituar o divórcio unilateral ou impositivo como um ato de
ruptura conjugal efetuado por uma das partes sem o consentimento da
outra, no qual o solicitante pode efetuar o pedido a qualquer momento.

26
Ibidem.

Dessa forma, é possível que seja realizado o divórcio unilateral com a


manifestação de vontade de apenas um dos cônjuges em se divorciar,
diretamente perante o Ofício de Registro Civil.
Maria Berenice Dias, ao comentar sobre o assunto,
esclarece que, por se tratar de um direito potestativo, “não é
necessária a concordância do par para a sua decretação.
Basta haver o desejo de somente um dos cônjuges, que não
precisa justificar o pedido, para buscar o divórcio via ação
judicial”27.
Para Flávio Tartuce, reconhecido o divórcio como um direito
potestativo, “não há como haver resistência da outra parte,
que se encontra em estado de sujeição”. A única opção do
outro cônjuge é aceitar e sujeitar-se ao direito daquele que
deseja o divórcio”.28

Conforme vêm reconhecendo doutrina e jurisprudência, desde a


alteração constitucional, o divórcio passou a consubstanciar verdadeiro
direito potestativo de quaisquer dos cônjuges, passível de exercício de
maneira incondicionada, dependente, tão só, do querer íntimo dos
consortes, ou de atribuição do culpado pelo fim do relacionamento”.29
Segue decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo – S.P de
2020:
DIVÓRCIO – Decretação antecipada por decisão parcial de
mérito, prosseguindo-se o feito em relação à controvertida
partilha de bens – Insurgência de um dos cônjuges, sob
alegação de risco de prejuízo patrimonial – Não acolhimento

27
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 12. ed. Salvador: JusPodvim, 2021.
28
TARTUCE, Flávio. Direito civil. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. v. 5: Direito de família.
29
REsp. 1.782.820-MG. Relatora Ministra Nancy Andrighi. DJ de 07.05.2019.

– término da sociedade conjugal incontroverso nos autos,


sendo o divórcio um direito potestativo do cônjuge –
Aplicação do art. 356, I do CPC – Possibilidade – Existência
de meios próprios, que não a manutenção do casamento,
para garantir proteção patrimonial do cônjuge em relação
aos bens a serem partilhados – Decisão mantida, nos
termos do art. 252 do RITJSP – Recurso improvido30.

Dessa forma, tanto a nossa doutrina quanto a jurisprudência já


reconhecem o direito potestativo ao divórcio. Em uma relação em que
não há mais afeto e felicidade, é necessário que se permita o divórcio
de uma forma mais célere e menos burocrática.31

Divórcio Unilateral Extrajudicial


Considerando o movimento contemporâneo de desjudicialização, o
Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco, por meio de sua
Corregedoria-Geral de Justiça, editou o Provimento nº 6, de 26 de abril
de 2019, de autoria do Desembargador Jones Figueirêdo Alves,
trazendo a possibilidade do divórcio unilateral pela via extrajudicial.
Com tal provimento, os cônjuges poderiam comparecer ao Cartório de
Registro Civil para que fosse efetuado o divórcio extrajudicial.
Após a entrada em vigor do provimento pernambucano, o Corregedor
Nacional de Justiça, Ministro Humberto Martins instaurou Pedido de
Providências 0003491-78.2019.2.00.0000 em desfavor da

30
Agravo de Instrumento nº 2190994-53.2020.8.26.000. Relator: Álvaro Passos, 2ª Câmara de
Direito Privado. Data da publicação: 23.09.2020.
31

ibdfam.org.br/artigos/1759/Divórcio+unilateral+extrajudicial#:~:text=Com%20o%20reconhecimento
%20do%20divórcio,devendo%20aceitar%20e%20respeitá-lo. Acesso em 22/04/2022.

Corregedoria-Geral de Justiça do Estado de Pernambuco, entendendo


que haveria empecilhos ao mesmo.
Foi reconhecido que o divórcio unilateral não é um direito
potestativo e que não haveria consenso entre os cônjuges,
mas sim um litígio, e por isso deveria remetido ao Poder
Judiciário e que a competência para legislar sobre direito
civil e direito processual civil é exclusiva da União, por meio
de lei federal. Logo, não poderia tal matéria ser tratada por
meio de um provimento estadual.32

Ademais, a decisão não observou o princípio da isonomia, pois teria


sido criada uma forma de divórcio existente apenas no estado de
Pernambuco. Diante do exposto, foi determinado à Corregedoria-Geral
de Justiça do Estado de Pernambuco que revogasse o Provimento nº
6/2019, e o próprio Conselho Nacional de Justiça editou a
Recomendação nº 36, de 30.05.2019.

Projeto de lei no senado nº 3.457/2019


Após a decisão do Corregedor Nacional de Justiça proibindo o divórcio
unilateral nos Ofícios da Cidadania, um grupo de juristas, formado
pelos professores Flávio Tartuce, Mário Luiz Delgado, José Fernando
Simão, além do próprio Desembargador Jones Figueirêdo Alves,
resolveu propor ao Senador Rodrigo Pacheco, atual Presidente do
Senado Federal, um projeto de lei tratando do divórcio unilateral.
O projeto visa acrescentar o art. 733-A ao Código de
Processo Civil, buscando assim afastar aqueles

32
Ibidem.

impedimentos apontados na decisão do Corregedor


Nacional de Justiça.33
A valorosa lição de José Fernando Simão e Mário Luiz
Delgado esclarece que: “o pedido de divórcio direto por
averbação fica restrito, exclusivamente, à dissolução do
vínculo, sem possibilidade de cumulação de qualquer outra
providência. Outras questões, como alimentos, partilha de
bens, medidas protetivas etc., devem ser judicializadas e
tratadas no juízo competente, porém com a situação jurídica
das partes já estabilizada e reconhecida como de pessoas
divorciadas. Ou seja, a averbação do divórcio não repercute
em nenhum outro direito patrimonial ou existencial. Só evita
que a pessoa se veja compelida a postular uma providência
judicial que não tem qualquer outra função senão a de
dissolver o vínculo”. 34

Assim, a questão dos alimentos, guarda dos filhos e partilha dos bens
serão discutidos em momento posterior e não influenciarão o pedido.

CF – arts 1º, 3º e art 5º.


Emenda Constitucional 66/2010.
Lei 6.515/1977.
Lei 11.441/2011.
Artigo 733 do Novo Código de Processo Civil

33
Senado Federal : https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/137242
34
DELGADO, Mário Luiz. SIMÃO, José Fernando. https://www.conjur.com.br/2019-mai-
19/processo-familiar-barrar-declaracao-unilateral-divorcio-negar-natureza-coisas Acesso em
22/04/2022.

Código Civil - artigos 50, arts 206, 1.031, 1,523, art. 1.566, inciso III,
1571 a 1.582, , art. 1.591, art. 1.592, 1.641, 1.694 1.639 e art. 1.694,
art. 1.695, artigo 1.702, artigo 1.704 e art. 1.710.
CPC – art. 531, arts 731 e 733 e art. 911 à 913.
ECA – art 22.
Lei de Alimentos – Lei 5.478/68.

002196-40.2022.8.26.0000
Classe/Assunto: Agravo de Instrumento / Dissolução
Relator(a): Clara Maria Araújo Xavier
Comarca: São Paulo
Órgão julgador: 8ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 13/04/2022
Data de publicação: 13/04/2022
Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIVÓRCIO CUMULADO
COM PEDIDO DE ALIMENTOS. insurgência contra decisão que fixou
alimentos provisórios no patamar de R$ 25.000,00, sem prejuízo da
manutenção do plano de saúde em favor da requerente, bem como de-
terminou o bloqueio de metade dos ativos e do valor mantido a título de
previdência privada, além do bloqueio para transferência dos veículos
descritos nos autos. Cabimento em parte. Alimentos entre ex-cônjuges
que tem caráter excepcional. Ausência de prova cabal da impossibili-
dade da agravada prover o próprio sustento. Não demonstrada a ne-
cessidade do recebimento do montante indicado. Redução dos alimen-
tos provisórios para o patamar de 12 salários-mínimos, que são devi-
dos durante o curso do processo ou até que seja proferida nova deci-
são judicial em sentido diverso. Bloqueio de bens. Inexistência de pedi-

do. Decisão "extra petita". Configuração. Decisão reformada. RECUR-


SO PARCIALMENTE PROVIDO.

1045296-11.2018.8.26.0224
Classe/Assunto: Apelação Cível / Dissolução
Relator(a): José Rubens Queiroz Gomes
Comarca: Guarulhos
Órgão julgador: 7ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 13/04/2022
Data de publicação: 13/04/2022
Ementa: APELAÇÃO. Ação de DIVÓRCIO c.c guarda e alimentos.
Sentença de parcial procedência. Inconformismo da parte autora. Pre-
tensão de majoração da obrigação ao filho menor. Obrigação alimentar
para o caso de emprego formal fixada com equilíbrio e em atenção ao
binômio necessidade/possibilidade. Elementos constantes dos autos
que permitem a majoração para o caso de desemprego ou trabalho in-
formal. Recurso a que se dá parcial provimento.

2272683-85.2021.8.26.0000
Classe/Assunto: Agravo de Instrumento / Dissolução
Relator(a): Alexandre Coelho
Comarca: Francisco Morato
Órgão julgador: 8ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 13/04/2022
Data de publicação: 13/04/2022
Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE divórcio – TUTE-
LA DE EVIDÊNCIA E DE URGÊNCIA – DESCABIMENTO DE LIMINAR
– Inaplicabilidade do artigo 311 do CPC – Inexistência de tese definida

em recurso repetitivo ou súmula vinculante a autorizar a concessão da


liminar - Inaplicabilidade do artigo 300, do CPC – Ausência de perigo
de dano ou risco ao resultado útil do processo – Em ação de divórcio, a
tutela de evidência e de urgência não dispensam a presença dos requi-
sitos processuais para sua concessão, independentemente de
o divórcio, se tratar de direito potestativo – Natureza potestativa do di-
reito que não significa, necessariamente, cabimento de sua tutela antes
do contraditório – Irreversibilidade do divórcio, - Decisão mantida –
NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO

1008639-71.2020.8.26.0007
Classe/Assunto: Embargos de Declaração Cível / Dissolução
Relator(a): Carlos Alberto de Salles
Comarca: São Paulo
Órgão julgador: 3ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 13/04/2022
Data de publicação: 13/04/2022
Ementa: Divórcio. ARBITRAMENTO DE ALUGUÉIS PELO USO EX-
CLUSIVO DE BEM COMUM. Insurgência em face de acórdão em ape-
lação. ERRO MATERIAL. Não verificação. Pretensão manifestamente
infringente. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS.

1008272-78.2020.8.26.0223
Classe/Assunto: Apelação Cível / Partilha
Relator(a): Rui Cascaldi
Comarca: Guarujá
Órgão julgador: 1ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 11/04/2022
Data de publicação: 11/04/2022

Ementa: PARTILHA DE BENS – Ação julgada procedente pelo juízo


originário – Inconformismo manifestado pela autora – Juízo originário
que entendeu por bem determinar que o débi-
to do financiamento do imóvel fica partilhado igualmente, cabendo a
cada parte o pagamento de metade das parcelas com vencimento em
data posterior ao divórcio – Alegação recursal no sentido de que não se
pode conceber uma dívida em comum por tantos anos em uma socie-
dade conjugal desfeita - Cabimento – Partilha que deve abranger ape-
nas os direitos derivados do contrato de compra e venda, consubstan-
ciados nas parcelas que foram amortizadas durante o perío-
do do casamento – Réu que se propõe a ficar com o imóvel, ser por ele
responsável e manter adimplida todas as despesas dele advindas –
Partes, contudo, que são corresponsáveis no período entre o divórcio e
a citação - Sentença reformada – Recurso parcialmente provido.

1041786-54.2017.8.26.0602
Classe/Assunto: Embargos de Declaração Cível / Dissolução
Relator(a): Edson Luiz de Queiróz
Comarca: Sorocaba
Órgão julgador: 9ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 08/04/2022
Data de publicação: 08/04/2022
Ementa: Embargos de declaração em apelação cível. Ação de divór-
cio c.c. partilha de bens. Sentença de parcial procedência com decre-
to do divórcio do casal, retorno da autora ao uso do nome de solteira e
para determinar a partilha de bens. Irresignação de ambas as partes.
Recurso da autora não provido, com determinação, e recurso do réu
parcialmente provido. Oposição de aclaratórios sob alegação de omis-
são, pois não enfrentados expressamente os precedentes do STJ

e do TJSP apontados. Não ocorrência de vícios. Configuração de pre-


tensão de reanálise do julgado. Ausentes as hipóteses capituladas no
artigo 1.022 do CPC/2015. Prequestionamento. Não há violação direta
e frontal a dispositivos legais e constitucionais. Matéria discutida consi-
derada prequestionada. Embargos rejeitados.

2198328-07.2021.8.26.0000
Classe/Assunto: Agravo de Instrumento / Dissolução
Relator(a): José Aparício Coelho Prado Neto
Comarca: São José do Rio Preto
Órgão julgador: 9ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 24/03/2022
Data de publicação: 24/03/2022
Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO – Ação de Divórcio Litigioso -
Decisão que indeferiu a tutela antecipada para decretação do
divórcio do casal - Inconformismo do autor, alegando que o divórcio é
um direito potestativo e incondicional, ou seja, depende da vontade de
uma das partes – Cabimento - Divórcio que é direito potestativo, sendo
que a partir da Emenda Constitucional nº 66/2010, não é mais
necessária a discussão acerca da culpa -Possibilidade, portanto, da
concessão da tutela pleiteada para decretação do divorcio, diante da
desnecessidade de concordância da outra parte - Recurso provido.

2293413-20.2021.8.26.0000
Classe/Assunto: Agravo de Instrumento / Casamento
Relator(a): Alexandre Marcondes
Comarca: São Paulo
Órgão julgador: 1ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 22/02/2022

Data de publicação: 22/02/2022


Ementa: Agravo de instrumento. Ação de Divórcio c.c. partilha de
bens, regulamentação de guarda, alimentos e visitas. Decretação
liminar do divórcio. Possibilidade (E.C. nº 66/2010). Direito potestativo
da parte. Agravada que expressamente concordou com o pedido de
divórcio. Decisão reformada. Recurso provido.

- DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 14ª ed. – São
Paulo: Ed. Juspodivm, 2020.

- DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Volume 5, 38º


ed. São Paulo, Saraiva, 2021.

- GONCALVES, Carlos Roberto. Direito Civil brasileiro, volume 6:


direito de família, 19. ed. – São Paulo: Saraiva, 2021.

- LOBO, Paulo Luiz Netto . Famílias. 11º ed. São Paulo. Saraiva, 2021

- MALUF, Carlos Alberto Dabus. Curso de Direito de Família.


Saraiva.2018.

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e


Sucessões. São Paulo, Ed. Saraiva. 2018.

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Divórcio. São Paulo, 5º Ed. Saraiva.


2016.

- TARTUCE, Fernanda. Processo Civil no Direito de Família. Teoria e


Prática. 5º ed. Método. 2021.

ANGELO, Tiago. Manifestação de uma parte é suficiente para a


decretação do divorcio. https://www.conjur.com.br/2021-fev-
16/manifestacao-parte-suficiente-decretacao-divorcio. Acesso em
14/04/2022.

BENEVIDES, Marcelo. Guia prático de divórcio judicial, guarda e


pensão alimentícia. https://jus.com.br/artigos/54935/guia-pratico-
divorcio-guarda-e-pensao. Acesso em 14/04/2022.

CHAVES, Alexandre. A pensão alimentícia no novo CPC.


https://alexandrechavesadv.jusbrasil.com.br/artigos/314027651/a-
pensao-alimenticia-no-novo-cpc. Acesso em 14/04/2022.

CHAVES, Wiliam Fernandes. Divórcio e partilha de bens. Quem fica


com o que no regime de comunhão parcial de bens.
https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI303321,101048-
Divorcio+x+partilha+de+bens+quem+fica+com+o+que+no+regime+de+
comunhao. Acesso em 14/04/2022.

DELGADO, Mário Luiz. Pensão Alimentícia entre cônjuges é categoria


em extinção. https://www.conjur.com.br/2017-jul-26/mario-delgado-
pensao-alimenticia-entre-conjuges-extincao. Acesso em 14/04/2022.

DELGADO, Mário Luiz. Pensão Alimentícia entre cônjuges é categoria


em extinção. https://www.conjur.com.br/2017-jul-26/mario-delgado-
pensao-alimenticia-entre-conjuges-extincao. Acesso em 14/04/2022.

Pensão alimentícia para ex-cônjuge tem caráter temporário reafirma


STJ. https://www.conjur.com.br/2017-nov-24/pensao-alimenticia-ex-
conjuge-carater-temporario-reafirma-stj. Acesso em 14/04/2022.

PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Juíza vai na casa de vítima de AVC para


realizar audiência de divórcio. http://www.rodrigodacunha.adv.br/juiza-
vai-a-casa-de-vitima-de-avc-para-realizar-audiencia-de-divorcio/.
Acesso em 14/04/2022.

PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Projeto de Lei que facilita divórcio de


vítima de violência doméstica segue para sanção.
http://www.rodrigodacunha.adv.br/divorcio-2/. Acesso em 14/04/2022.

TARTUCE, Flavio. Divórcio Unilateral e Impositivo.


https://www.migalhas.com.br/coluna/familia-e-sucessoes/305087/o-
divorcio-unilateral-ou-impositivo. Acesso em 14/04/2022.

VILLAS BOAS, Renata Malta. O divórcio pode ser concedido sem que
haja prévia partilha de bens. http://estadodedireito.com.br/o-divorcio-
pode-ser-concedido-sem-que-haja-previa-partilha-de-bens/. Acesso em
14/04/2022.

Após a leitura deste material e o acompanhamento das videoaulas


ministradas pelo(s) professor(es), finalize o seu aprendizado efetuando
a atividade autoinstrucional, disponível na área do aluno, no menu
plataforma de atividades no link “provas e atividades”. O gabarito será
visualizado, conforme a programação do cronograma da disciplina.

PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

MÓDULO: DIREITO DE FAMÍLIA I

TEMA:CURATELA. REGIME DAS INCAPACIDADES. PROCEDIMENTO.


TOMADA DE DECISÃO APOIADA.

Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu


Protocolo Facultativo foram assinados em Nova York, em 30 de março
de 2007.

O Congresso Nacional aprovou o Decreto Legislativo 186, de 9 de julho


de 2008, sendo que os atos internacionais entraram em vigor para o
Brasil, no plano jurídico externo, em 31 de agosto de 2008.

O propósito da Convenção é “promover, proteger e assegurar o


exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades
fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o
respeito pela sua dignidade inerente” (art. 1, primeira parte).

Em 06 de julho de 2015 foi sancionada a Lei 13.146, que instituiu a Lei


Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, também denominada

Estatuto da Pessoa com Deficiência, tendo como base a Convenção


Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.

A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência é destinada “a


assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos
direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência,
visando à sua inclusão social e cidadania” (art. 1º).

O Estatuto da Pessoa com Deficiência


A Lei nº 13.146/2015 seguiu as diretrizes elencadas no art. 3º da
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, as quais se
sustentam nos seguintes princípios: o respeito pela dignidade inerente,
pela independência da pessoa, inclusive a liberdade de fazer as
próprias escolhas, e autonomia individual; a não discriminação; a plena
e efetiva participação e inclusão na sociedade; o respeito pela
diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência como parte da
diversidade humana e da humanidade; a igualdade de oportunidades; a
acessibilidade; a igualdade entre o homem e a mulher e o respeito
pelas capacidades em desenvolvimento de crianças com deficiência e
respeito pelo seu direito de preservar sua identidade.
Neste tema Rosa e Nelson Nery ensinam:
“Embora a lei preconize a proibição de a pessoa com deficiência ser
submetida a tratamento ou institucionalização forçada, se estiver sob
curatela poderá ter seu consentimento suprido (EPD art. 11), após,
entretanto, lhe ter sido assegurada sua participação, no maior grau
possível, para a obtenção de seu consentimento. A lei instiga a todos o
cumprimento de deveres para com os deficientes, especificando atos e
atividades relacionadas com o tratamento de deficientes, como, por
exemplo, exorta a família, médicos e serviços públicos e privados a

empregar cuidado extra para a obtenção de eventual autorização para


a submissão do deficiente a pesquisa científica, mormente se em
situação de tutela ou curatela (EPD art, 12 e § 2.º), ressalvadas
evidentemente as hipóteses de estado de necessidade (risco de morte
e emergência de saúde), quando então o tratamento pode ser
ministrado, sem o consentimento do paciente, em estado emergencial,
mas, então, segundo protocolos médicos. A lei fala no “direito ao
exercício da capacidade legal em igualdade de condições com as
demais pessoas” (EPD art. 84), dispondo especificamente sobre a
pessoa submetida à curatela, ressalvando que tal situação não implica
exposição pública da situação pessoal do curatelado (EPD art.86).1

A referida lei consolidou as premissas trazidas pela Convenção das


Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência –
CDPC, representando notável avanço para a proteção da dignidade
da pessoa portadora de ausência ou disfunção de uma estrutura
psíquica, fisiológica ou anatômica. As inovações buscam e retratam a
evolução pela inclusão social e ao direito à cidadania plena e afetiva.

Conforme Cristiano Chaves de Farias : “ Para atingir os fins a que se


propõe, nos termos de seu art. 1º, a nova Lei brasileira tem como
principais missões assegurar e promover, “em condições de igualdade,
o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com
deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania”. 2

1
NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria de Andrade. Leis Civis e Processuais Civis
Comentadas. 4ª ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2015.
2
FARIAS, Cristiano Chaves de; CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Estatuto da
Pessoa com Deficiência: comentado artigo por artigo. Salvador: Juspodivm, 2018. p. 25.

Rodrigo da Cunha Pereira ao comentá-la, assevera que ela representa


a “consolidação e reconhecimento do valor e princípio da dignidade da
pessoa humana” e que ao alterar e revogar diferentes artigos do
Código Civil relativos à capacidade da pessoa traduziu “em seu texto
toda a evolução e noção de inclusão social” 3.

A fim de possibilitar a inclusão da pessoa com deficiência, considerada


como aquela “que tem impedimento de longo prazo de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais
barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade
em igualdade de condições com as demais pessoas” (art. 2º, caput, da
Lei nº 13.146/2015), foi necessária, por um lado, a revisão do conceito
de deficiência.

No que diz respeito à avaliação biopsicossocial, determinada pela nova


lei, Cristiano Chaves de Farias, Rogério Sanches Cunha e Ronaldo
Batista Pinto comentam: “É aquela que considera aspectos sociais que
circundam o deficiente, além, por óbvio, de dados médicos capazes de
demonstrar sua incapacidade. Na avaliação psicossocial há, portanto, a
junção desses dois aspectos na abordagem do deficiente, superando-
se nessa linha de raciocínio, o simples modelo biológico, para se
considerar, em acréscimo, fatores sociais outros como nível de
escolaridade, profissão, composição familiar, etc” .4

Um dos temas profundamente alterados pela Lei n. 13.146/2015 é o


referente à capacidade civil. Houve, aí, uma verdadeira revolução.

3
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito das Famílias, 2ª ed. Forense, 2020.
4
FARIAS, Cristiano Chaves de; CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Estatuto da
Pessoa com Deficiência: comentado artigo por artigo. Salvador: Juspodivm, 2018.

Deu-se nova redação aos arts. 3º e 4º do Código Civil, que tratam,


respectivamente, dos absolutamente e dos relativamente incapazes.

Conforme Flavio Tartuce:


“A Lei n. 13.146/2015 veio quebrar um antiquíssimo entendimento: o
que relacionava e vinculava deficiência mental com incapacidade
jurídica. A partir dessa lei, a pessoa com deficiência - seja física,
mental, intelectual ou sensorial - tem de ser considerada plenamente
capaz, não pode sofrer qualquer restrição, preconceito ou
discriminação por isso. A não ser que não possa exprimir a sua
vontade, e, então, é enquadrada não mais como absolutamente
incapaz, mas como relativamente incapaz, sendo-lhe nomeado um
curador num processo judicial, e esta medida é considerada
excepcional. Note-se: a incapacidade relativa não decorre,
inexoravelmente, da deficiência, em si e por si só, mas pela
circunstância de o portador de deficiência estar impossibilitado de
manifestar a sua vontade. Mais: o ato praticado pelo curatelado sem a
assistência do curador não é nulo, mas anulável (CC, art. 171, I)”5.

As pessoas antes sujeitas à interdição em razão de enfermidade ou


deficiência passam, por força da nova lei, a serem consideradas
plenamente capazes. Essa garantia reconhece uma presunção geral
de plena capacidade a favor das pessoas com deficiência, o que
somente por meio de relevante inversão probatória sucederia à
incapacidade, excepcional e amplamente justificada. Inexistindo para
estes, ressaltasse a incapacidade absoluta.

5
TARTUCE, Flavio. Estatuto da pessoa com deficiência. Uma nota
crítica.https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/338456458/estatuto-da-pessoa-com-deficiencia-
uma-nota-critica.Acesso em 24/04/2022.

Nesse passo, o Estatuto inova no Instituto da Curatela, que


reconhece o direito da pessoa com deficiência ao exercício de sua
capacidade legal em igualdade de condições com as demais
pessoas, passando a ter o caráter de medida excepcional,
extraordinária, devendo ser adotada somente quando e na medida
em que for necessária.

O deficiente, o enfermo ou o excepcional, sendo pessoa plenamente


capaz, poderá celebrar negócios jurídicos sem qualquer restrição,
pois não mais se aplicam as invalidades previstas nos artigos 166, I e
171, I do Código Civil.

Tomando-se por base tais alterações, não há mais que se falar em


impedimentos para os deficientes em constituir união estável ou
celebrar casamento, permitindo a expectativa de inclusão social, uma
vez que a incapacidade antes prevista, não mais possui
aplicabilidade.

A partir da edição da lei 13.146/15, somente os menores impúberes é


que estariam contemplados com a regra protetiva do art. 198, I, do
aludido Código, já que os demais deixaram de compor o rol de seu
art. 3º.

O Prof. Paulo Lôbo, sustenta que, a partir da entrada em vigor do


Estatuto," não há que se falar mais de 'interdição', que, em nosso
direito, sempre teve por finalidade vedar o exercício, pela pessoa com
deficiência mental ou intelectual, de todos os atos da vida civil,

impondo-se a mediação de seu curador. Cuidar-se-á, apenas, de


curatela específica, para determinados atos" 6.

Na medida em que o Estatuto é expresso ao afirmar que a curatela é


extraordinária e restrita a atos de conteúdo patrimonial ou econômico,
desaparece a figura da "interdição completa" e do" curador todo-
poderoso e com poderes indefinidos, gerais e ilimitados".
Mas, por óbvio, o procedimento de interdição (ou de curatela)
continuará existindo, ainda que em uma nova perspectiva, limitada
aos atos de conteúdo econômico ou patrimonial, conforme o
entendimento do Prof Rodrigo da Cunha Pereira. 7

Da igualdade e da não discriminação


Consoante menciona o Estatuto: “Toda pessoa com deficiência tem
direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não
sofrerá nenhuma espécie de discriminação” (art. 4º).

Conforme Cristiano Chaves de Farias: “Com efeito, considera-se


discriminação em razão da deficiência “toda forma de distinção,
restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o
efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício
dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência,
incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de
tecnologias assistivas” (art. 4º, § 1º).8

6
LÔBO. Paulo. Direito Civil, Famílias. 7º ed, Saraiva, 2017.
7
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito das Famílias, 2ª ed. Forense, 2020.
8
FARIAS, Cristiano Chaves de; CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Estatuto da
Pessoa com Deficiência: comentado artigo por artigo. Salvador: Juspodivm, 2018.

Insere-se como discriminação a recusa de adaptações razoáveis e de


fornecimento de tecnologias assistivas.

O Estatuto relaciona que a pessoa com deficiência não está obrigada à


fruição de benefícios decorrentes de ação afirmativa (art. 4º, § 2º).

Cristiano Chaves de Farias pondera: “O Estatuto contempla ainda que


“a pessoa com deficiência será protegida de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, tortura, crueldade, opressão e
tratamento desumano ou degradante” (art. 5º), considerando os
especialmente vulneráveis: a criança, o adolescente, a mulher, o idoso
e a pessoa com deficiência (art. 5º, parágrafo único). Ademais, “é dever
de todos comunicar à autoridade competente qualquer forma de
ameaça ou de violação aos direitos da pessoa com deficiência” (art.
7º); e “se, no exercício de suas funções, os juízes e os tribunais tiverem
conhecimento de fatos que caracterizem as violações previstas nesta
Lei, devem remeter peças ao Ministério Público para as providências
cabíveis” (art. 7º, parágrafo único)”.9

Cristiano Chaves ainda nos ensina: “Ao deixar de ser confundida com
atributos pessoais, abandona-se a naturalização” da deficiência, que
passa a ser reconhecida enquanto opressão social, na medida em que
se compreende que a inacessibilidade aos direitos fundamentais, na
verdade, resulta dos obstáculos físicos, atitudinais, linguís-ticos,
culturais, econômicos etc., erigidos pela própria sociedade”.10

9
Ibidem.
10
Ibidem.

Assim, finalmente a pessoa com deficiência passou a ser visualizada


enquanto sujeito de direitos. Afastadas as barreiras sociais existentes
no meio, o indivíduo se torna capaz de levar uma vida independente.

A resposta adequada à exclusão social, econômica e cultural da


pessoa
com deficiência deixa de ser a implementação das medidas de
caridade e passa pela sua proteção como uma questão de direitos
humanos.

Capacidade civil
O art. 6o, caput, da Lei n. 13.146/2015 institui que “a deficiência não
afeta a plena capacidade civil da pessoa”, enquanto o art. 84, caput,
da mesma lei, estabelece que “a pessoa com deficiência tem
assegurado o direito ao exercício de sua capacidade legal em
igualdade de condições com as demais pessoas”.

O argumento que as pessoas com deficiência não teriam autonomia


necessária para decidirem a respeito de si mesmas, condizente com o
ultrapassado modelo médico, revela-se falso quando submetido a uma
análise criteriosa.

Para Flávia Piva de Almeida Leite: “Ao considerar autonomia a


possibilidade de decidir por si mesmo, de tomar as próprias decisões, é
forçoso concluir que a pessoa com deficiência ostenta essa qualidade.
É necessário não confundir a possibilidade de fazer escolhas com a

aptidão para, pessoalmente e sem auxílio, colocar em prática certos


atos ou executar determinadas ações”.11

Nesse sentido, o Estatuto estabelece que, em regra geral, toda pessoa


com deficiência tem capacidade para exercer os seus direitos. Vale
observar que a lei não faz distinção quanto ao tipo de deficiência, de
modo que estão incluídas nesse preceito as pessoas com deficiência
mental e intelectual.

Para Augustina Palacios: “Significa dizer que não cabem eventuais


restrições à capacidade civil com base em critério médico, ou seja, a
existência de um diagnóstico não é fundamento bastante para justificar
restrições ao exercício de direitos, uma vez que tal diagnóstico não
significa necessariamente risco de produzir danos em si mesmo ou ao
patrimônio”.12

Além disso, de forma expressa, a Convenção da ONU determinou no


art. 12 que “os Estados-Partes reconhecerão que as pessoas com
deficiência gozam de capacidade legal em igualdade de condições com
as demais pessoas em todos os aspectos da vida”, ou seja, fixou
presunção geral de capacidade de exercício em favor de todas as
pessoas com deficiência.

Conforme Flávia Piva de Almeida Leite: Assim, a plena capacidade de


exercício dos atos e negócios jurídicos passa a ser o novo paradigma

11
LEITE, Flávia Piva de Almeida Coord. Comentários ao Estatuto da Pessoa com Deficiência - Lei
n. 13.146/2015 / 2. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2019.
12
Cf. PALACIOS, Agustina; KRAUT, Alfredo Jorge. Artículos 31 a 50. In: LORENZO, Miguel
Federico de; LORENZETTI, Pablo (Coords.). Código Civil y Comercial de la Nación comentado.
Buenos Aires: Rubinzal – Culzoni Editores, 2014, p. 126-128

acerca da autonomia moral da pessoa com deficiência. Por esse


motivo, as situações descritas nos incisos do do art. 6º da Lei n.
13.146/2015 têm caráter meramente enunciativo, uma vez que as
hipóteses em que ela poderá agir pessoalmente e sem a necessidade
de representação atualmente são a regra, e não a exceção.13

Da Curatela
O instituto da curatela destina-se a suprir a incapacidade das pessoas
para a prática de atos da vida civil, protegendo os incapazes maiores
ou emancipados, que são representados por um curador.

Assim, a curatela é um encargo conferido a alguém, para ter sob a sua


responsabilidade uma pessoa maior de idade, que não pode reger sua
vida sozinha e, em especial, administrar os seus bens.

É uma medida protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e


às circunstâncias de cada caso, sendo restrita a interdição aos atos de
natureza negocial e patrimonial.

Definição
Para Rodrigo da Cunha Pereira: “ Do Direito Romano curare, cuidar,
olhar, velar. É um dos institutos de proteção aos incapazes , compondo
uma trilogia assistencial, ao lado da tutela e do poder familiar, guarda.
É o encargo conferido judicialmente a alguém para que zele pelos
interesses de outrem, que não pode administrar seus bens e direitos
em razão de sua incapacidade ou uma insanidade permanente ou

13
LEITE, Flávia Piva de Almeida Coord. Comentários ao Estatuto da Pessoa com Deficiência - Lei
n. 13.146/2015 / 2. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2019.

temporária, que inviabiliza o discernimento, entendimento e


compromete o elemento volitivo do sujeito”14.
O sujeito passivo é indivíduo maior de 18 (dezoito) anos, incapaz para
os atos da vida civil, elencados no rol do art. 1.767, do CC, ou seja,
aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem
exprimir sua vontade, os ébrios habituais, os viciados em tóxicos e os
pródigos.
Para Rolf Madaleno: “ São características da curatela: caráter
publicista, ou seja, o Estado dever zelar pelos interesses dos
incapazes; é medida assistencial; objetiva suprir a capacidade do
curatelado, ou melhor, quando a incapacidade não pode ser suprida
pelos pais ou pela tutela; não é definitiva, mas sim temporária, uma vez
que só pode perdurar enquanto houver a necessidade; certeza da
incapacidade, quer dizer, somente pode ser decretada por meio de
procedimento judicial “. 15
Podem ser curadores as pessoas que tenham relação direta com o
curatelado, tal como seus pais, irmãos, cônjuge e filhos. Na ausência
deles, o Ministério Público poderá suprir a ausência.
Os sujeitos ativos da curatela são denominados, por sua vez,
curadores.

Nesse sentido, o legislador dispôs sobre a ordem preferencial de


escolha do curador em seu art. 1.775, do CC, no entanto o rol, como
na tutela, não é vinculativo, porquanto deve-se verificar o melhor para
o curatelado.

14
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Família e Sucessões Ilustrado.2º ed, Ed. Saraiva
2017.
15
MADALENO, Rolf. Direito de família – 12. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2022.

A curatela da pessoa com incapacidade para os atos da vida civil


passou a se restringir aos atos negociais e patrimoniais.

A curatela, em sua atual configuração jurídica, visa prestar assistência


ao incapaz, zelar por suas rendas e seus bens e tomar as decisões de
seu interesse, devendo prestar contas, em juízo, dos rendimentos,
despesas e bens do interditado.

Ademais, como com refere Maria Berenice Dias, “o atual escopo da


curatela é ser uma medida protetiva extraordinária, proporcional às
necessidades e às circunstâncias de cada caso, com a menor duração
possível (EPD, art. 84, § 3º), restringindo-se aos aspectos de natureza
negocial e patrimonial. Assim, a curatela não mais atinge os direitos
pessoais, ou seja, não mais impede o casamento nem o exercício do
poder familiar, e assegura à pessoa com deficiência o direito de
trabalhar, de votar, de ser testemunha e de obter documentos oficiais
que sejam do seu interesse”.16

O juiz concederá a curatela e indicará os atos para os quais a mesma


será necessária. Assim, nos termos do artigo 755, I do Código de
Processo Civil, o juiz nomeará curador e fixará expressamente os
limites da curatela.

Cabe ao curador, independentemente de autorização judicial,


representar o curatelado nos atos da vida civil, receber as rendas e
pensões, fazer-lhe as despesas de subsistência, bem como as de
administração, conservação e melhoramentos de seus bens.

16
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias, 14ª ed. Juspodivum, 2020..

Nos termos do art 1.774 do CC aplicam-se à curatela as disposições


concernentes à tutela.

Segundo Rolf Madaleno: “Assim, os curadores não podem conservar


em seu poder dinheiro dos curatelados além do necessário para as
despesas ordinárias com seu sustento e administração de seus bens
(artigo 1.753 do CC), devendo eventuais valores decorrentes de
objetos e móveis serem convertidos em títulos ou obrigações e
recolhidos ao estabelecimento bancário oficial ou aplicado na aquisição
de imóveis, conforme for determinado. O mesmo destino deverá ter o
dinheiro proveniente de qualquer outra procedência (parágrafo 2º do
referido artigo 1.753)”.17

Isso significa que o curador não terá a livre movimentação de contas


bancárias e ativos financeiros do curatelado, tendo acesso somente às
rendas existentes, provenientes de benefícios previdenciários ou
salários, que deverão ser utilizados para as despesas ordinárias. Em
havendo sobras, estas deverão ser depositadas em conta bancária.
Esse é o entendimento que se faz da análise sistemática dos artigos
1.747 e 1.753 do Código Civil, c.c. artigos 1.774 e 1781 do mesmo
código.

Conforme Maria Berenice Dias: “Por último, o curador deverá


apresentar balanços anuais e prestar contas a cada dois. Esta
obrigação tem previsão legal (artigos 1.755, 1.756 e 1.757, c.c. artigo
1.774, todos do Código Civil e artigo 84, parágrafo 4º, da Lei
13.146/15), sendo inerente ao próprio exercício da administração de

17
MADALENO, Rolf. Direito de família – 12. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2022

coisas alheias, não podendo ser dispensada sob o fundamento de


idoneidade dos curadores, principalmente em razão da existência de
bens, com patrimônio cuja gestão deve ser fiscalizada em benefício do
incapaz”.18

Os valores que existirem em banco oficial, ou seja, depositados em


conta judicial, somente poderão ser levantados por ordem judicial para
as despesas com o sustento do incapaz, desde que devidamente
comprovadas, ou para administração de seus bens, dentre outros, nos
termos do artigo 1.754 do CC.

Curatela Especial
O Código Civil de 2002, inovou ao trazer o que chamamos de curatela
especial, tendo como sujeito passivo: primeiramente, o nascituro até o
nascimento na hipótese do pai ser falecido e a mãe não deter o poder
familiar, se não houver poder familiar com o nascimento passará a ser
tutelado, pelo art. 1.779 do CC.

Além da curatela do nascituro, prevê o CC (arts 22 à 25) nomeação


de curador ao ausente que desapareceu de seu domicílio sem deixar
notícia ou representante para administrar os seus bens, até o ausente
retornar ou a seus herdeiros. Esta curadoria objetiva a administração
dos bens do ausente.

Autocuratela e curatela mandato


Sobre a autocuratela e curatela mandato Maria Berenice Dias ensina:

18
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias, 14ª ed. Juspodivum, 2020.

“É admissível a eleição antecipada do curador, pelo próprio curatelado,


enquanto plenamente capaz. É o que se chama de autocuratela.
Possível, inclusive, a curatela compartilhada, quando a pessoa com
deficiência pode escolher mais de uma pessoa como curador. Também
o juiz pode nomear mais de um curador. É uma forma de suavizar o
árduo trabalho com o exercício da curatela e dividir responsabilidades.
A tomada de decisão apoiada pode ser determinada judicialmente,
para a prática de determinado negócio jurídico, o que não se pode
chamar de curatela” 19.

O mandato cessa com a curatela ou do mandante ou do mandatário


(CC 682 II). No entanto, apesar do silêncio legal, vem sendo
sustentada a possibilidade da outorga de mandato permanente ou
procuração preventiva, que recebe o nome de autotutela: uma pessoa
capaz firma uma declaração de vontade para quem, diante de uma
situação de incapacidade, previsível ou não, organize sua futura
curatela.

A autocuratela permite que a pessoa designe quem gostaria que a


protegesse e cuidasse.

Segundo Thaís Câmara Maia Fernandes Coelho:


“A autocuratela é o instrumento que possibilita uma pessoa capaz,
mediante um documento apropriado, deixar de forma preestabelecida
questões patrimoniais e existenciais de forma personalizada, para
serem implementadas em uma eventual incapacidade como, por
exemplo, um coma. Segundo ela, a autocuratela é uma forma de evitar

19
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias, 14ª ed. Juspodivum, 2020.

conflitos, pois impediria as discussões judiciais entre familiares sobre


quem seria o melhor curador para aquele incapaz” 20.

Já para Nelson Rosenvald: “Ademais, o raio da autocuratela como


negócio jurídico atípico, amplia o seu perímetro em dois pontos:
primeiro, as diretivas antecipadas são apropriadas para a manifestação
de orientações futuras quanto aos cuidados quanto à saúde do
paciente, porém, pode não ser interpretado como o espaço adequado
para que alguém exteriorize as suas preocupações quanto a questões
afetivas e existenciais, que envolvam a sua intimidade ou o espaço
familiar de privacidade; segundo, a autocuratela na versão mais ampla
da CDPD permite a pessoa não apenas a programação futura de sua
esfera existencial, como também lhe faculta a organização e
administração de sua dimensão patrimonial, mesmo que esse enfoque
econômico seja acessório, no sentido de que a escolha de um curador
que eficazmente zele pela manutenção de um certo padrão de vida
será a garantia de que o curatelado preservará o seu padrão financeiro
e, consequentemente, terá acesso a um tratamento condigno” 21.

Continua Nelson Rosenvald : Evidentemente, ao tempo que as


condições psíquicas da pessoa demonstrem a necessidade da
curatela, o projeto pessoal será submetido a um controle de
legitimidade em dois níveis: primeiro, abstratamente será aferido se o
conteúdo do ato de autodeterminação não ofende o ordenamento
jurídico; segundo, concretamente será avaliado se as condições de

20
Autocuratela evita discussões entre familiares.
http://ibdfam.org.br/noticias/6078/Autocuratela+evita+discuss%C3%B5es+judiciais+entre+familiare
s. Acesso em 24/04/2022.
21
ROSENVALD, Nelson. https://www.nelsonrosenvald.info/single-post/2017/05/16/Os-confins-da-
autocuratela. Acesso em 24/04/2022.

saúde da pessoa demandam uma correção qualitativa ou quantitativa


dos limites por ela previamente apresentados à atuação do curador.22
Esta possibilidade pode beneficiar pessoas idosas, que não disponham
de condições físicas, senão com muito sacrifício, de se locomover, a
fim de gerir os seus bens. A vantagem em relação à procuração
consiste no fato de esta perder sua eficácia caso o outorgante incida
em alguma das causas de curatela.

Curatela e Interdição
Estabelecendo relação com a curatela apontamos que esta ocorre
após a interdição, que é o processo judicial, onde se visa apurar a
incapacidade de uma pessoa.
Assim, após a declaração de interdição, a pessoa será submetida à
curatela, lhe sendo nomeado um curador.
No documento de curatela está descrito o nome do curado e os atos
que poderá realizar pelo interditado.
O procedimento para se decretar ou declarar a interdição está
disciplinado a partir do art. 747 e vai até o art. 756 do Código de
Processo Civil de 2015, com a aplicação de vários dispositivos para a
curatela, que se estendem do art. 759 ao art. 763, § 2º, do mesmo
diploma.

Arnaldo Rizzardo nos ensina: Relativamente à petição inicial, encerra o


art. 749: “Incumbe ao autor, na petição inicial, especificar os fatos que
demonstram a incapacidade do interditando para administrar seus bens
e, se for o caso, para praticar atos da vida civil, bem como o momento
em que a incapacidade se revelou.” Havendo urgência, o parágrafo

22
Ibidem

único aponta para a possibilidade da curatela provisória: “Justificada a


urgência, o juiz pode nomear curador provisório ao interditando para a
prática de determinados atos”.23

Continua Arnaldo Rizzardo : “É de capital importância instruir a inicial


com alguma prova da incapacidade, como atestado médico, ou laudo
circunstanciado, com a descrição minuciosa do estado clínico e a
conclusão sobre o tipo de doença mental. Se induvidosa esta prova, e
mais a inspeção judicial do juiz, é possível dispensar a perícia, pois
seria uma redundância a confecção de novo laudo. Sobre essa prova
inicial, há exigência do art. 750 da lei processual de 2015: “O
requerente deverá juntar laudo médico para fazer prova de suas
alegações ou informar a impossibilidade de fazê-lo”. Se não
conseguida a prova, por dificuldades como econômicas, comunica-se o
fato ao juiz, viabilizando a obtenção através de recursos do Poder
Público. Cabe a anexação, também, de documentos pessoais do
interditando e da pessoa que promove a curatela, como os
concernentes à filiação, à identidade, ao cadastro na Receita Federal, à
residência e domicílio, e outros pertinentes à idoneidade e ao
patrimônio”.24

O juiz designará audiência, quando entrevistará o interditando,


conforme o art. 751: “O interditando será citado para, em dia
designado, comparecer perante o juiz, que o inquirirá minuciosamente
acerca de sua vida, negócios, bens, vontades, preferências e laços
familiares e afetivos e sobre o que mais lhe parecer necessário para

23
RIZZARDO, Arnaldo. Direitos de Família , 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2019.
24
Ibidem.

convencimento quanto à sua capacidade para praticar atos da vida


civil, devendo ser reduzidas a termo as perguntas e respostas”.
Conforme Arnaldo Rizzardo: “Reputa-se de grande importância a
audiência de entrevista. Será este o momento em que o juiz aferirá, de
perto, o estado e as condições do interditando. Explicava Eduardo
Sócrates Castanheira Sarmento a técnica que deveria empregar o juiz:
“As perguntas e respostas são reduzidas a auto que passará a ser
peça indispensável do processo. Além das perguntas formalmente
exigidas, recomenda-se que as indagações não sejam genéricas nem
desconexas, devendo obedecer ao plano de desenvolvimento lógico,
contido nos fundamentos de pedido vestibular”.25

Uma boa entrevista deve registrar as observações relativas à atitude do


interrogando, seus gestos e expressões, suas reações, seu
relacionamento com os parentes, sua afetividade, sobre seu
patrimônio, para que se possa aferir, efetivamente, se é capaz de se
governar.

O juiz deve formar uma ideia da realidade do interditando, lançando-a a


termo nos autos. Cabe-lhe também examinar fisionomicamente a
pessoa que está à sua frente, descrevendo o aspecto externo, as
reações, a postura e outras circunstâncias dignas de nota.

Tomada de Decisão Apoiada


A tomada de decisão apoiada é um procedimento judicial, de
iniciativa da própria pessoa com deficiência, que dele se valerá

25
Ibidem.

quando pretender a obtenção de auxílio de terceiros para realizar


certos atos de sua vida.

Comentando o Direito brasileiro, refere Nelson Rosenvald que, “na


tomada de decisão apoiada, o beneficiário conservará a capacidade
de fato, não sofrendo restrição alguma acerca de sua plena
capacidade. Ele será apenas privado de legitimidade para praticar
episódicos atos da vida civil. Prossegue o autor: “assim, esse modelo
poderá beneficiar pessoas deficientes com capacidade psíquica
plena, porém com impossibilidade física ou sensorial”,89 sendo este
instituto responsável pela eliminação da função antes exercida pelo
artigo 1.780 do Código Civil, que restou totalmente revogado”.26

Pelo artigo 1.783-A do Código Civil, para formular pedido de tomada


de decisão apoiada, a pessoa com deficiência e os apoiadores
devem apresentar termo em que constem os limites do apoio a ser
oferecido e os compromissos dos apoiadores, inclusive o prazo de
vigência do acordo e o respeito à vontade, aos direitos e aos
interesses da pessoa que devem apoiar (§ 1º).

O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido pela pessoa


a ser apoiada, com indicação expressa das pessoas aptas a
prestarem o apoio previsto no caput do artigo 1.783-A (§ 2º).

Para Rolf Madaleno: “Antes de se pronunciar sobre o pedido de


tomada de decisão apoiada, o juiz, assistido por equipe

26
ROSENVALD, Nelson. A tomada de decisão apoiada. Primeiras linhas sobre o novo modelo
jurídico promocional da pessoa com deficiência. Famílias nossas de cada dia. Anais do Congresso
Brasileiro de Direito de Família. Belo Horizonte: IBDFAM, 2016. p. 506.

multidisciplinar, após a oitiva do Ministério Público, ouvirá


pessoalmente o requerente e as pessoas que lhe prestarão apoio. A
decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre
terceiros, sem restrições, desde que esteja inserido nos limites do
apoio acordado (§ 4º)”.27

Terceiro com que a pessoa apoiada mantenha relação negocial pode


solicitar que os apoiadores contra-assinem o contrato ou acordo,
especificando, por escrito, sua função em relação ao apoiado (§ 5º).
Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão indevida ou não
adimplir as obrigações assumidas, poderá a pessoa apoiada ou
qualquer pessoa apresentar denúncia ao Ministério Público ou ao
juiz.

Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador e nomeará,


ouvida a pessoa apoiada e se for de seu interesse, outra pessoa para
prestação do apoio (§ 8º).

A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o término de


acordo firmado em processo de tomada de decisão apoiada.
Segundo Carvalho:
“Neste novo sistema da tomada de decisão apoiada, por iniciativa da
pessoa com deficiência são nomeadas pelo menos duas pessoas
idôneas "com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua
confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da
vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessários

27
MADALENO, Rolf. Direito de família – 12. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2022

para que possa exercer sua capacidade." Note-se que a tomada de


decisão apoiada não se relaciona, necessariamente, com o portador de
transtorno mental, podendo ser requerida por qualquer sujeito
classificável como deficiente nos termos do Estatuto” 28.

Assim, o portador de transtorno mental pode constituir em torno de si


uma rede de sujeitos baseada na confiança que neles tem, para lhe
auxiliar nos atos da vida. Justamente o oposto do que podia antes
acontecer, em algumas situações de curatela fixadas à revelia e contra
os interesses do portador de transtornos mentais.
Destaque-se, portanto, que a tomada de decisão apoiada poderá ser
diferente para cada sujeito, já que o termo que for apresentado é que
especificará os limites do apoio. Um questionamento que pode surgir
no que toca ao “prazo de vigência do acordo” é se pode ele ser
indeterminado.

Paula Távora Vítor, analisando na legislação europeia medidas que


seguem a mesma lógica da tomada de decisão apoiada, “ afirma que a
determinação mais comum nelas é pelos prazos determinados,
embora, na prática, haja tendência em perpetuá-las”29.

Dúvida que pode surgir também é se o sujeito, ao requerer a tomada


de decisão apoiada, tem a sua capacidade afetada de alguma forma.

28
CARVALHO, Newton Teixeira. O procedimento de tomada de decisão apoiada.
https://domtotal.com/artigo/7049/07/11/o-procedimento-da-tomada-de-decisao-apoiada/ Acesso
em 24/04/2022.
29
VÍTOR, Paula Távora. A administração do património das pessoas com capacidade diminuída.
Coimbra: Coimbra, 2008, p.175-176.

No caso brasileiro a tomada de decisão apoiada parece não implicar


em perda da capacidade do sujeito que a requer, mas sim em caminho
que oferece reforço à validade de negócios por ele realizados.

Conforme Armaldo Rizzardo: “A tomada de decisão apoiada’ não se


restringe apenas aos vulneráveis portadores de deficiências ou
problemas mentais, mas estende-se aos deficientes em geral, nos
campos da saúde física, intelectual; e nos sentidos, constando a
abrangência no art. 2º do mencionado diploma: Considera-se pessoa
com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação
com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e
efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais
pessoas. Não é considerada a pessoa plenamente incapaz, pois
mantém algum entendimento e poder de decisão, expressando
manifestações da vontade”.30

É que, em se tratando de negócio realizado com base e nos limites do


acordo da tomada de decisão apoiada, não haverá brecha para
invalidação do mesmo por questões relativas à capacidade do sujeito
apoiado (artigo 1783-A, §4°). Em busca de maior segurança pode,
inclusive, o terceiro com quem se negocia solicitar que os apoiadores
contra assinem o contrato ou acordo, especificando a sua função em
relação ao apoiado (artigo 1783-A, §5°).31
Assim sendo, o papel do apoiador deve ser positivo ao sujeito que ele
apoia, sendo aquele destituído a partir de denúncia fundada feita por

30
Direitos de Família / Arnaldo Rizzardo. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2019.
31
REQUIÃO, Maurício. https://www.conjur.com.br/2015-set-14/direito-civil-atual-conheca-tomada-
decisao-apoiada-regime-alternativo-curatela Acesso em 24/04/2022.

qualquer pessoa ao Ministério Público ou ao juiz, caso haja o apoiador


com negligência ou exerça pressão indevida sobre o sujeito que apoia
(artigo 1783-A, §7°).

Código Civil - artigos 1.767 a 1.783


Lei 13.146/2015.
Lei 10.216, de 06 de abril de 2001.
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Decreto
6.949/2009)

PROCESSO
AgInt no AREsp 1809508 / GO
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2020/0337075-0
RELATOR(A)
Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI (1145)
ÓRGÃO JULGADOR
T4 - QUARTA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
22/11/2021
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 25/11/2021
EMENTA
AGRAVO INTERNO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE
PRESTAÇÃO DE CONTAS. VIOLAÇÃO DO ART. 1.022 DO CÓDIGO

DE PROCESSO CIVIL. NÃO OCORRÊNCIA. ART. 84, § 4°, DO ES-


TATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA. FUNDAMENTAÇÃO DIS-
SOCIADA DO ACÓRDÃO RECORRIDO. SÚMULA N. 284 DO STF.
ALEGAÇÃO DE COISA JULGADA. REEXAME FÁTICO DOS AUTOS.
SÚMULA N. 7 DO STJ. CURADOR. DEVER DE PRESTAR CONTAS.
1. O acórdão recorrido analisou todas as questões necessárias ao des-
linde da controvérsia, não se configurando omissão, contradição ou
negativa de prestação jurisdicional.
2. A deficiência na fundamentação do recurso especial no tocante ao
art. 84, § 4°, do Estatuto da Pessoa com Deficiência atrai a incidência
da Súmula n. 284/STF.
3. Não cabe, em recurso especial, reexaminar matéria fático-probatória
(Súmula n. 7/STJ).
4. "Escolhido o curador ('a curatela deve ser atribuída a quem melhor
possa atender aos interesses do curatelado' - CPC/15, art. 755, § 1°),
assim como na tutela, deverá haver a prestação de contas de sua ad-
ministração, haja vista estar ele na posse de bens do incapaz (CC, arts.
1.755, 1.774 e 1.781)" (REsp 1.515.701/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 2.10.2018, DJe de
31.10.2018) 5. Agravo interno a que se nega provimento.

PROCESSO
REsp 1795395 / MT
RECURSO ESPECIAL
2019/0029747-0
RELATOR(A)
Ministra NANCY ANDRIGHI (1118)
ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA

DATA DO JULGAMENTO
04/05/2021
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 06/05/2021
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. ESTATUTO DA
PESSOA COM DEFICIÊNCIA. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMEN-
TO. SÚMULA 7/STJ. AÇÃO DE INTERDIÇÃO. AUDIÊNCIA DE IN-
TERROGATÓRIO OU ENTREVISTA. INTERVENÇÃO DO MINISTÉ-
RIO PÚBLICO. DESNECESSIDADE. CURADOR ESPECIAL. INTIMA-
ÇÃO PESSOAL. NECESSIDADE. NULIDADE. DEVER DE DEMONS-
TRAÇÃO DE PREJUÍZO. AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO. COMPARE-
CIMENTO DO INTERDITANDO. DESNECESSIDADE. TOMADA DE
DECISÃO APOIADA. FIXAÇÃO DE OFÍCIO PELO JUIZ. IMPOSSIBI-
LIDADE. NECESSIDADE DE REQUERIMENTO. PESSOA COM DE-
FICIÊNCIA. LEGITIMIDADE EXCLUSI-
VA. CURATELA COMPARTILHADA. FIXAÇÃO DE OFÍCIO PELO JU-
IZ. IMPOSSIBILIDADE. OBRIGATORIEDADE. AUSÊNCIA.
1- Recurso especial interposto em 17/8/2018 e concluso ao gabinete
em 14/3/2019.
2- O propósito recursal consiste em dizer se: a) é nula a convalidação
de atos processuais sem o deferimento de nova vista ao curador espe-
cial; b) foi indevida a nomeação de curadora ao interditado em virtude
da existência de conflito de interesses; c) é obrigatória a redução a
termo das perguntas e respostas efetivadas em audiência de instrução;
d) o acórdão considerou mero atestado médico como laudo pericial; e)
há nulidade por ter o Tribunal estadual negado a realização de perícia
pleiteada pelo curador especial; f) o curador especial, em ação de in-
terdição, deve ser prévia e pessoalmente intimado da designação da

audiência de instrução, sob pena de nulidade; g) é obrigatória a pre-


sença do interditando na audiência de instrução; h) na ação de interdi-
ção, é obrigatória a participação do Ministério Público, de defensor e de
curador especial na audiência de interrogatório ou entrevista; e i) é
obrigatória a fixação pelo juiz, de ofício, das medidas de tomada de de-
cisão apoiada e de curatela compartilhada.
3- No que diz respeito às teses relativas (a) à existência de conflito de
interesses entre curador e curatelado, (b) à nulidade em virtude da não
redução a termo das perguntas e respostas efetivadas em audiência,
(c) à impossibilidade de convalidação de atos processuais sem o defe-
rimento de nova vista ao curador especial, (d) à nulidade em virtude da
ausência de participação de defensor na audiência de interrogatório,
(e) à negativa de realização de perícia pleiteada pelo curador especial
e (f) à necessidade de nomeação de curador especial para o interroga-
tório do interditando, tem-se, no ponto, inviável o debate, porquanto
não se observa o indispensável prequestionamento.
4- Derruir a conclusão a que chegou o Tribunal a quo, verificando se foi
ou não realizada perícia judicial, demandaria o revolvimento de fatos e
provas, o que é vedado pelo enunciado da Súmula 7 do STJ.
5- Não há que se falar em nulidade do processo por ausência de inter-
venção do Ministério Público na audiência de interrogatório, seja por-
que o Parquet foi devidamente intimado, dando-se por ciente, seja por-
que não houve demonstração de efetivo prejuízo.
6- Na ação de interdição, é imprescindível a constituição de advogado
ou nomeação de curador especial ao interditando, porquanto não se
admite processo de interdição sem defesa.
7- Nomeado curador especial, é necessária a sua intimação pessoal
para a prática dos atos processuais.
8- Esta Corte Superior perfilha o entendimento de que "mesmo nas hi-

póteses em que se configuram os vícios mais graves, como é a nulida-


de por falta de intimação pessoal do curador especial, eles serão reco-
nhecidos somente quando devidamente demonstrado o prejuízo supor-
tado pela parte, em homenagem ao princípio da pas de nullité sans
grief" (AgInt no REsp 1720264/MG, TERCEIRA TURMA, julgado em
11/09/2018, DJe 21/09/2018).
9- O exame sobre a ocorrência de prejuízo deve se circunscrever ape-
nas ao ato de intimação e à sua validade, devendo-se perquirir somen-
te se a intimação efetivada por meio oficial distinto daquele previsto em
lei impediu a ciência inequívoca da decisão pela parte.
10- Não restando demonstrado o prejuízo suportado em virtude da ale-
gada ausência de intimação pessoal, não há como se reconhecer a
apontada nulidade.
11- Na ação de interdição, muito embora seja possível a convocação
do interditando, não é obrigatório o seu comparecimento na audiência
de instrução, máxime tendo em vista que este já foi interrogado anteri-
ormente em audiência.
12- Conforme se extrai da interpretação sistemática dos parágrafos §
1º, § 2º e § 3º do Art. 1.783-A, a tomada de decisão apoiada exige re-
querimento da pessoa com deficiência, que detém a legitimidade ex-
clusiva para pleitear a implementação da medida, não sendo possível a
sua instituição de ofício pelo juiz.
13- A curatela compartilhada é instituto desenvolvido pela jurisprudên-
cia que visa facilitar o desempenho da curatela ao atribuir o munus a
mais de um curador simultaneamente.
14- Muito embora as normas jurídicas e os entendimentos fixados
acerca da guarda compartilhada devam servir de norte interpretativo
para a exata compreensão e aplicação da curatela compartilhada, de-
ve-se respeitar não só as peculiaridades de cada instituto, mas também

as disposições legislativas próprias que regulam cada uma das maté-


rias.
15- Ao contrário do que ocorre com a guarda compartilhada, o disposi-
tivo legal que consagra, no âmbito do direito positivo, o instituto
da curatela compartilhada não impõe, obrigatória e expressamente, a
sua adoção. A redação do novel art. 1.775-A do CC/2002 é hialina ao
estatuir que, na nomeação de curador, o juiz "poderá" estabele-
cer curatela compartilhada, não havendo, portanto, peremptoriedade,
mas sim facultatividade.
16- Não há obrigatoriedade na fixação da curatela compartilhada, o
que só deve ocorrer quando (a) ambos os genitores apresentarem inte-
resse no exercício da curatela, (b) revelarem-se aptos ao exercício do
munus e (c) o juiz, a partir das circunstâncias fáticas da demanda, con-
siderar que a medida é a que melhor resguarda os interesses do cura-
telado.
17- Em virtude do caráter rebus sic stantibus da decisão relativa
à curatela, não há óbice a que se pleiteie, nas vias ordinárias, a fixa-
ção da curatela compartilhada ou que, futuramente, comprovada a
inaptidão superveniente da curadora para o exercício do munus, o de-
cisum proferido neste feito venha a ser modificado.
18- Recurso especial conhecido em parte e, nesta extensão, não provi-
do.

PROCESSO
REsp 1927423 / SP
RECURSO ESPECIAL
2020/0232882-9
RELATOR(A)
Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE (1150)

ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
27/04/2021
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 04/05/2021
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. FAMÍLIA. CURATELA. IDOSO. INCAPACIDA-
DE TOTAL E PERMANENTE PARA EXERCER PESSOALMENTE OS
ATOS DA VIDA CIVIL. PERÍCIA JUDICIAL CONCLUSIVA. DECRE-
TADA A INCAPACIDADE ABSOLUTA. IMPOSSIBILIDADE. REFORMA
LEGISLATIVA. ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA. INCA-
PACIDADE ABSOLUTA RESTRITA AOS MENORES DE 16 (DEZES-
SEIS) ANOS, NOS TERMOS DOS ARTS. 3° E 4° DO CÓDIGO CIVIL.
RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
1. A questão discutida no presente feito consiste em definir se, à luz
das alterações promovidas pela Lei n. 13.146/2015, quanto ao regime
das incapacidades reguladas pelos arts. 3º e 4º do Código Civil, é pos-
sível declarar como absolutamente incapaz adulto que, em razão de
enfermidade permanente, encontra-se inapto para gerir sua pessoa e
administrar seus bens de modo voluntário e consciente.
2. A Lei n. 13.146/2015, que instituiu o Estatuto da Pessoa com Defici-
ência, tem por objetivo assegurar e promover a inclusão social das
pessoas com deficiência física ou psíquica e garantir o exercício de sua
capacidade em igualdade de condições com as demais pessoas.
3. A partir da entrada em vigor da referida lei, a incapacidade absoluta
para exercer pessoalmente os atos da vida civil se restringe aos meno-
res de 16 (dezesseis) anos, ou seja, o critério passou a ser apenas etá-
rio, tendo sido eliminadas as hipóteses de deficiência mental ou intelec-

tual anteriormente previstas no Código Civil.


4. Sob essa perspectiva, o art. 84, § 3º, da Lei n. 13.146/2015 estabe-
lece que o instituto da curatela pode ser excepcionalmente aplicado às
pessoas portadoras de deficiência, ainda que agora sejam considera-
das relativamente capazes, devendo, contudo, ser proporcional às ne-
cessidades e às circunstâncias de cada caso concreto.
5. Recurso especial provido.

2262757-80.2021.8.26.0000
Classe/Assunto: Agravo de Instrumento / Curatela
Relator(a): Fernanda Gomes Camacho
Comarca: São Paulo
Órgão julgador: 5ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 25/03/2022
Data de publicação: 25/03/2022
Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO.TOMADA DE DECISÃO
APOIADA. PRESTAÇÃO DE CONTAS. Pai idoso. Obrigação
de prestação de contas devida pelo administrador de seus bens. Art.
533, caput, do CPC. Pedido de prestação de contas que não foi genéri-
co, prestação restritiva ao período de administração pelo réu dos bens
do genitor das partes. Decisão mantida. Recurso não provido.

2188040-97.2021.8.26.0000
Classe/Assunto: Agravo de Instrumento / Curatela
Relator(a): Alexandre Coelho
Comarca: Limeira
Órgão julgador: 8ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 21/03/2022
Data de publicação: 21/03/2022

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO – CURATELA – TOMADA DE


DECISÃO APOIADA – PRINCÍPIO DA ELASTICIDADE – Em pedido
de curatela, deparando-se o juiz com circunstâncias indicativas do ca-
bimento em tese da tomada de decisão apoiada e não sobrevindo ris-
co à pessoa com deficiência, mostra-se cabível primeiro cogitar em
conversão do processo antes de instituir a curatela provisória, mediante
aplicação do princípio da elasticidade, segundo o qual todo modelo le-
gal de procedimento é suscetível de alguma modificação se o caso
concreto assim recomendar - Caso em que a se trata de pessoa com
retardo mental leve aos 33 anos de idade, a qual trabalha sob víncu-
lo de emprego e convive afetivamente com outra pessoa, situação na
qual sua genitora pediu para ser sua curadora – Decisão recorrida que,
diante de tais circunstâncias, determinou prévia intimação da deficiente
para se manifestar sobre eventual interesse em tomada de decisão
apoiada , hipótese na qual o processo precisaria de algumas adapta-
ções, se convergentes os interesses das partes – Inconformismo da
autora – Rejeição – Ausência dos requisitos legais para a instituição da
curatela provisória antes do contraditório – Artigo 300, do Códi-
go de Processo Civil – Curatela que passou a ser medida extraordiná-
ria, limitada e temporária - Elasticidade procedimental plenamente justi-
ficada na espécie, à luz dos interesses tutelados na Lei Brasilei-
ra de Inclusão e na preferência legal de se preservar ao máximo a au-
tonomia da pessoa com deficiência - Decisão mantida -
Decisão mantida – NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO.

- GONCALVES, Carlos Roberto. Direito Civil brasileiro, volume 6:


direito de família, 19. ed. – São Paulo: Saraiva, 2021.

- LEITE, Flávia Piva de Almeida Coord. Comentários ao Estatuto da


Pessoa com Deficiência - Lei nº 13.146n. 13.146/2015 / 2. ed. – São
Paulo : Saraiva Educação, 2019.

- LOBO, Paulo Luiz Netto . Famílias. 11º ed. São Paulo. Saraiva, 2021
- MALUF, Carlos Alberto Dabus. Curso de Direito de Família.
Saraiva.2018.

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e


Sucessões. São Paulo, Ed. Saraiva. 2018.

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Divórcio. São Paulo, 5º Ed. Saraiva.


2016.

- TARTUCE, Fernanda. Processo Civil no Direito de Família. Teoria e


Prática. 5º ed. Método. 2021.

- BRAGA, Isadora. Os impactos do Estatuto da Pessoa com Deficiência


para o Instituto da Curatela.
https://jus.com.br/artigos/54653/os-impactos-do-estatuto-da-pessoa-
com-deficiencia-para-o-instituto-da-curatela. Acesso em 24/04/2022

- LISITA, Kelly Mora Oliveira. Direito das Famílias. Tomada de Decisão


Apoiada (TDA). Curatela e Tutela e breves Análises Jurídicas
https://jus.com.br/artigos/96554/direito-das-familias-tomada-de-decisao-
apoiada-tda-curatela-e-tutela-em-breves-analises-juridicas
Acesso em 24/04/2022

- REQUIÃO, Maurício.Conheça a Tomada de Decisão Apoiada, novo


regime alternativo à Curatela.
https://www.conjur.com.br/2015-set-14/direito-civil-atual-conheca-
tomada-decisao-apoiada-regime-alternativo-curatela
Acesso em 24/04/2022

- SANTIAGO, Patrícia. Curatela do Idoso Incapaz. Documentops


necessários para a propositura da ação.
https://advpatriciasantiago.jusbrasil.com.br/artigos/787272433/curatela-
do-idoso-incapaz-documentos-necessarios-para-propositura-da-acao
Acesso em 24/04/2022

- SILVA PINTO. Larissa. Tomada de Decisão Apoiada na Perspectiva


do Direito de Família.
https://ibdfam.org.br/index.php/artigos/1583/A+Tomada+de+Decis%C3
%A3o+Apoiada+na+Perspectiva+do+Direito+de+Fam%C3%ADlia
Acesso em 24/04/2022

Após a leitura deste material e o acompanhamento das videoaulas


ministradas pelo(s) professor(es), finalize o seu aprendizado efetuando
a atividade autoinstrucional, disponível na área do aluno, no menu
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visualizado, conforme a programação do cronograma da disciplina.

PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

MÓDULO: DIREITO DE FAMÍLIA I

TEMA:TEORIA GERAL DO REGIME DE BENS NO CASAMENTO E NA UNIÃO


ESTÁVEL. EFEITOS DA DISSOLUÇÃO. PACTO ANTENUPCIAL E
PÓSNUPCIAL. ALTERAÇÃO DO REGIME DE BENS

O CC estipula quatro diferentes regimes matrimoniais de bens: o


regime de separação de bens, o regime de comunhão universal de
bens, o regime de comunhão parcial de bens e o regime de
participação final dos aquestos.
Regime de Separação de bens
Neste regime existe total independência patrimonial entre os cônjuges
e cada um conserva a propriedade dos bens já existentes em seu
nome e daqueles adquiridos durante o casamento, inclusive sobre a
sua administração.
O regime da separação total de bens decorre da lei (CC, art. 1.641) ou
de convenção por meio do pacto antenupcial, e nele cada cônjuge
conserva, o domínio, a posse e a administração de seus bens, tanto
sobre os presentes como em relação aos futuros.
Para Rolf Madaleno: “Em favor do regime da separação de bens estão
a independência patrimonial e a liberdade de atuação de cada um dos
esposos, próprio e adequado para proclamar a perfeita igualdade de
armas e de equiparação dos cônjuges, pois usualmente os consortes

deveriam conservar e desenvolver suas próprias e preexistentes


riquezas ou acervos, isto quando não visto sob o prisma ideológico e
cultural, ou pelo viés de correntes feministas que se desvinculam dos
aspectos econômicos das uniões afetivas. Como feição negativa, o
regime de separação de bens se mostra injusto para o cônjuge que
ficou encarregado das obrigações domésticas e dos cuidados da prole
ou que ajudou no desenvolvimento das atividades profissionais do seu
parceiro e que assim carece de ingressos próprios, mostrando no fundo
que o regime de separação de bens é incompatível para casamentos
entre cônjuges que não distribuem igualitariamente as tarefas caseiras,
nem guardam uma simetria material e tampouco projetam uma
igualdade de oportunidades”.1
Existe neste regime a separação do patrimônio dos cônjuges, que
exercerão individual e exclusivamente a administração de seus bens,
podendo, inclusive, livremente aliená-los ou gravá-los (art. 1.687, CC),
sejam estes móveis ou imóveis (art. 1.647, CC).
A professora Maria Berenice Dias resume bem a situação quando
declara que “o casamento não repercute na esfera patrimonial dos
cônjuges, podendo cada um livremente alienar e gravar de ônus real os
seus bens”. Entretanto, esta “incomunicabilidade” não afasta a
obrigação mútua de assistência entre os cônjuges; afinal, o casamento
cria uma comunhão plena de vida, mesmo sob a égide do regime de
separação de bens.2
Assim, ambos os cônjuges são obrigados a contribuir para as despesas
do casal na proporção dos rendimentos de seu trabalho e de seus

1
MADALENO, Rolf. Manual de direito de família – 4. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2022.
2
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2013.

bens, salvo estipulação em contrário no pacto antenupcial (art. 1.688,


CC).

Separação obrigatória de bens


Dentro do regime de separação de bens, há hipóteses expressamente
previstas de separação, instituídas, sobretudo, com o escopo de
proteger os bens de cada cônjuge em certas situações, ou por motivos
de ordem pública, ou como forma de punição por infringência a certos
impedimentos de menor relevância.
A lei impõe o regime de separação obrigatória como penalidade por
terem os nubentes contraído o matrimônio infringindo o disposto nos
incisos I a IV do art. 1.523, e em razão do casamento de pessoa maior
de setenta anos, segundo ditame do art. 1.641, a separação diz
respeito apenas aos bens presentes, e não aos futuros, obtidos na
vigência do casamento.
Arnaldo Rizzardo nos ensina: “Insta lembrar que a Lei nº 12.344, de
9.12.2010, elevou a idade para setenta anos, sendo que, pela versão
originária do Código, ficava em sessenta anos. A alteração teve em
conta a liberdade que se deve assegurar aos que pretendem casar,
podendo dispor de seu futuro, constituindo uma opção a possibilidade
de contrair núpcias com uma pessoa mais interessada em interesses
patrimoniais. No entanto, permanece a ofensa em a pessoa dispor de
sua vida. É incontroverso que se impôs uma parcela de interdição às
pessoas com tal idade.A mudança de idade teve em conta a evolução
da medicina e da qualidade da saúde, que trouxe avanços na
integridade física e mental do ser humano, apesar de atingir setenta ou
mais anos.3

3
RIZZARDO, Arnaldo. Direitos de Família – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2019.

Assim, visa a lei prevenir situações de casamentos de pessoas com


excessiva diferença de idade, quando a mais nova nada mais procura
que servir-se do casamento para conseguir vantagem econômica.

Regime de Comunhão Universal de Bens


No regime da comunhão universal de bens ocorre uma fusão entre os
bens trazidos para o casamento pelo casal, formando uma única
massa.
O regime da comunhão universal de bens importa a comunicação de
todos os bens dos cônjuges, sejam presentes ou futuros. Em outras
palavras, tudo o que tinham ao casar e tudo o que adquirirem durante o
casamento, seja a título oneroso ou gratuito, entra para a comunhão,
formando-se um patrimônio comum.
No dizer de Pontes de Miranda, na comunhão universal de bens são
concebidos dois princípios: “I – Tudo que há e que entra para o acervo
dos bens do casal fica indistintamente, como se fora possuído ou
adquirido, ao meio, por cada um: os bens permanecem indivisos na
propriedade unificada dos cônjuges, a cada um dos quais pertence
metade imaginária que só se desligará da outra quando cessar a
sociedade conjugal; II – Tudo que cada cônjuge adquire se torna
comum no mesmo momento em que se operou a aquisição: é o casal,
e não eles, que adquire”.4
O regime vem regulamentado pelo CC nos artigos 1.667 a 1.671.
O CC, no seu art. 1.668, informa que são excluídos da comunhão: I –
os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade2 e
os sub-rogados em seu lugar; II – os bens gravados de fideicomisso3 e


4
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de Direito de Família. São Paulo: Max
Limonad, 1947. t. 2.

o direito do herdeiro fideicomissário, antes de realizada a condição


suspensiva; III – as dívidas anteriores ao casamento, salvo se
provierem de despesas com seus aprestos (preparativos), ou
reverterem em proveito comum; IV – as doações antenupciais feitas
por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de incomunicabilidade; V
– os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659 do CC.
A exclusão não se estende aos frutos dos referidos bens que venham a
ser percebidos, ou vencidos, na constância do casamento (art. 1.669,
CC).

Regime de Comunhão Parcial de Bens:


Neste regime é excluída da comunicabilidade os bens já pertencentes
a cada cônjuge ou convivente ao tempo do casamento ou da
constituição da união estável e os que lhe sobrevierem na constância
do casamento (CC, art. 1.659, inc. I).
Para Rolf Madaleno: “O regime da comunhão restrita, limitada ou
parcial de bens é o regime oficial do Código Civil para o casamento e
para a união estável (art. 1.640 e art. 1.725), quando ausente, ineficaz,
nulo ou anulado o pacto antenupcial ou o contrato de convivência, e
nesse regime formam-se três massas de bens: os bens de um
cônjuge/convivente, os bens do outro cônjuge/convivente e os bens
comuns de ambos. Com as núpcias ou a instituição da união estável
comunicam-se os bens comuns, ficando excluídos da comunhão
parcial, quando findo o casamento ou a união estável, os bens
ressalvados pelos artigos 1.659 e 1.661 do Código Civil”.5
Nesse tipo de regime são incomunicáveis os bens adquiridos antes do
casamento e qualquer bem recebido por doação ou herança.

5
MADALENO, Rolf. Manual de direito de família – 4. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2022.

Ressalte-se que antes da Lei 6.515/1977 prevalecia o regime legal da


comunhão universal de bens, estabelecendo a comunicação de todo o
conjunto patrimonial dos cônjuges.
O artigo 1.640 do vigente CC estalece que o regime legal da comunhão
parcial de bens na falta de convenção dos nubentes ou sendo ela nula
ou ineficaz.
Conforme o inciso III do artigo 1.659 do CC, igualmente não guardam
comunicabilidade no regime da comunhão parcial de bens as
obrigações anteriores ao casamento, desde que a dívida tenha sido
contraída antes do matrimônio.
Segundo o art. 1.660 do CC, entram na comunhão: I – os bens
adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que
só em nome de um dos cônjuges; II – os bens adquiridos por fato
eventual (v.g., ganhar na loteria), com ou sem o concurso de trabalho
ou despesa anterior; III – os bens adquiridos por doação, herança ou
legado, em favor de ambos os cônjuges; IV – as benfeitorias1 em bens
particulares de cada cônjuge; V – os frutos dos bens comuns, ou dos
particulares de cada cônjuge, percebidos na constância do casamento,
ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão.

Regime de Participação final dos aquestos.


Trata-se de um regime misto, pois no curso do casamento aplicam-se,
em síntese, as regras da separação.
É um regime de separação de bens, no qual cada consorte tem a livre
e administração do seu patrimônio pessoal, dele podendo dispor
quando for bem móvel e necessitando da outorga do cônjuge se
imóvel.

Apenas na hipótese de ocorrer a dissolução da sociedade conjugal


será verificado o montante dos aquestos levantados à data de
cessação da convivência (CC, art. 1.683).
Para Gediel Claudino Araújo Júnior: “Em outros termos, durante o
casamento cada cônjuge age como se tivesse sido adotado o regime
da separação de bens, mantendo administração exclusiva sobre seus
bens (adquiridos ou não durante o casamento), podendo, inclusive,
aliená-los livremente se forem móveis (art. 1.673, parágrafo único, CC),
sendo que igual direito pode ser estendido aos bens imóveis por meio
de cláusula expressa no pacto antenupcial (art. 1.656, CC). Todavia,
vindo eventualmente o casal a requerer o divórcio, deverá ser apurado
o montante dos aquestos, isto é, o valor total dos bens onerosamente
adquiridos pelos cônjuges durante o casamento (balanço contábil e
financeiro), como se esse observasse o regime da comunhão parcial,
dividindo-se os bens apurados na proporção de 50% (cinquenta por
cento) para cada um”.6
Conforme a disposição do artigo 1.672 do CC Civil só ingressam na
participação final nos aquestos os bens adquiridos a título oneroso.
“O regime patrimonial de participação final nos aquestos toma o espaço
ocupado pela letra morta do regime dotal previsto no Código Civil de
1916, e, infelizmente, o novo regime matrimonial prenuncia igual
destino do regime sucedido, fadado ao esquecimento e ao banimento
pelo total desuso, por sua difícil operacionalidade”, como bem apontou
Sérgio Gischkow Pereira.7

6
ARAÚJO JÚNIOR, Gediel Claudino. Prática no direito de família 13. ed. – São Paulo: Atlas, 2021.
7
PEREIRA, Sérgio Gischkow. Direito de Família: aspectos do casamento, sua eficácia, separação,
divórcio, parentesco, filiação, regime de bens, alimentos, bem de família, união estável, tutela e
curatela. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.

Pelos artigos 1.685 e 1.686 do Código Civil no caso de morte do


cônjuge a sua meação é transmitida aos seus herdeiros, a serem
convocados pela ordem de vocação hereditária.

União estável
Os companheiros podem estabelecer, por meio de um contrato escrito,
sobre o regime de bens.
O contrato estabelecido pelos companheiros pode ser feito por
instrumento particular ou instrumento´público, sendo que nele os
contratantes são livres para estabelecer sobre os seus bens, desde
que estas regras não contrariem disposições absolutas da lei (art.
1.655, CC).
Na falta de um pacto aplica-se às relações patrimoniais, no que couber,
o regime da comunhão parcial de bens, consoante norma expressa do
art. 1.725 do CC: “Na união estável, salvo contrato escrito entre os
companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o
regime da comunhão parcial de bens”
Segundo Gediel Claudino Araújo Júnior: “Assim, os companheiros são
coproprietários dos bens adquiridos de forma onerosa na constância do
relacionamento, contudo não há qualquer ilegalidade na escrituração
em nome de apenas um dos companheiros, fato que pode gerar
dificuldades na ocorrência de venda não autorizada. Se o terceiro tinha
conhecimento da existência da união estável, o negócio é anulável;
caso contrário, se o terceiro desconhecia que o bem foi adquirido
durante união estável, o negócio será válido, cabendo à parte
prejudicada ação de indenização contra o seu companheiro.8

8
ARAÚJO JÚNIOR, Gediel Claudino. Prática no direito de família 13. ed. – São Paulo: Atlas, 2021.

As restrições impostas aos casados, como a outorga uxória para


prática de atos que envolvam o patrimônio comum, também se
estendem aos que vivem em união estável, perdurando até ao fim do
relacionamento.

Efeitos do Regime de Bens na União Estável


A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça – STJ concluiu que a
definição de regime de bens em união estável por escritura pública não
retroage. Segundo o entendimento” é de que a escolha do regime de
comunhão de bens em uma união estável por contrato escrito produz
efeitos ex nunc, e cláusulas que estabeleçam a retroatividade desses
efeitos são inválidas”.9
Segundo o ministro Antonio Carlos Ferreira, relator do caso, “no perío-
do anterior à celebração do contrato, deve vigorar o regime legal da
comunhão parcial de bens”.
A posição do relator foi acompanhada pelos ministros Luís Felipe Sa-
lomão, Marco Buzzi e Maria Isabel Gallotti. A ministra acrescentou em
voto-vista que a alteração do regime de bens durante a união estável
depende de autorização judicial, nos moldes do que prevê o § 2º do ar-
tigo 1.639 do Código Civil.
Para o ministro Raul Araújo, que teve voto vencido, se a união estável
se iniciou e perdurou até o momento em que, pela primeira vez, o casal
decide adotar um regime de comunhão de bens, então não se trata de
alteração do mesmo. Logo, é possível conferir efeitos retroativos a es-
sa posição.10

9
AREsp 1.631.112
10
IBDFAM :
https://ibdfam.org.br/noticias/9432/STJ%3A+Defini%C3%A7%C3%A3o+de+regime+de+bens+em+
uni%C3%A3o+est%C3%A1vel+por+escritura+p%C3%BAblica+n%C3%A3o+retroage%3B+especi
alistas+comentam

Para Priscila Agapito: ” A união estável é situação de fato. A lei sempre


previu a informalidade e é assim que a maioria dos casais vive. Ao per-
ceberem que há a necessidade de formalizarem a relação por um con-
trato, por qualquer motivo que seja (uma inclusão no plano de saúde,
no clube, ou em uma previdência) são surpreendidos ao dizermos pra
eles que só podem pactuar daqui para frente, que o regime livremente
escolhido (maioria das vezes o da separação total de bens) só poderá
valer doravante”, explica a especialista.”
O STJ há muitos anos vem decidindo desta forma com a aceitação dos
efeitos “ex nunc”, mas na realidade nos dias atuais existe uma informa-
lidade muito grande e os conviventes acabam fazendo um contrato es-
crito com data retroativa.
O ideal seria que os conviventes tivessem liberdade para estipular os
efeitos , com total liberdade de escolha.

Reza o art. 1.571 do Código Civil: “A sociedade conjugal termina:I –


pela morte de um dos cônjuges;II – pela nulidade ou anulação do
casamento;III – pela separação judicial;IV – pelo divórcio.”
E o § 1º do referido artigo 1.571 do CC dispõe: “O casamento válido só
se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-
se a presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente.”
Assim, há a dissolução da sociedade conjugal (art. 1.571) e do vínculo
conjugal (§ 1º do art. 1.571).
Já a declaração da ausência, por força da regra do § 1º, também
constitui causa de dissolução do vínculo, podendo-se considerar a
ausência a partir do ato do juiz que a declara.

Para Arnaldo Rizzardo: “A sociedade conjugal pode deixar de existir,


isto é, o casamento como manifestação real ou concretização da união
entre marido e mulher pode terminar, permanecendo, todavia, o
vínculo. E, na ordem do art. 1.571, fica dissolvida a união ou sociedade
conjugal por um daqueles quatro fatores – morte de um dos cônjuges,
nulidade ou anulação do casamento, separação judicial e divórcio. Já
em face do § 1º, dissolve-se o vínculo, deixando de existir o
casamento, com a morte ou o divórcio. Apenas estas duas formas
dissolvem o vínculo, autorizando o novo casamento, o que não se dá
com a separação judicial, e tendo em conta que a nulidade ou a
anulação, segundo será visto logo abaixo, não constituem fatores de
dissolução. Correta a explicação de Maria Helena Diniz, mantendo-se
em face do novo Código: “A separação judicial dissolve a sociedade
conjugal, mas conserva íntegro o vínculo, impedindo os cônjuges de
convolar novas núpcias, pois o vínculo matrimonial, se válido, só
termina com a morte de um deles ou com o divórcio”.11
O divórcio, dissolve a sociedade conjugal e autoriza os consortes a se
casarem novamente.
A morte de um dos cônjuges traz como resultado a dissolução tanto da
sociedade conjugal como do vínculo. É a primeira causa contemplada
no art. 1.571 do CC.
Arnaldo Rizzardo explica: “ Com a sentença de anulação , firma-se a
existência de um vício originário no ato de constituição do matrimônio.
Não se dissolve, pois, na verdade, não se formou o ato matrimonial.
Aparentemente existia o vínculo, mas a sentença desvendou o
impedimento ou vício que lhe tira a validade, portando efeito retroativo,
ou indo até o momento da formação. Apenas no casamento putativo

11
RIZZARDO, Arnaldo. Direitos de Família – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2019.

ressalvam-se os efeitos, de acordo com a presença da boa-fé de um ou


de ambos os cônjuges. Mas, é uma forma de desconstituição daquilo
que se constituiu indevidamente, ou que não podia se constituir. Já na
dissolução por morte, separação ou divórcio, dissolve-se ou resolve-se
a partir de um momento determinado, sendo o fator acarretante
superveniente”.12
Assim, no caso de anulação ou nulidade, não constitui propriamente
causa de dissolução. Trata-se, do reconhecimento da existência de um
vício originário na formação do vínculo.

Pacto Antenupcial
Antes de celebrado o casamento, aqueles que pretendem casar podem
estipular por meio de um pacto antenupcial o regime que melhor
atendem os seus interesses, não podendo estipular cláusula que
contravenha disposição absoluta de lei (CC, art. 1.655)
Se não for estipulado o pacto antenupcial, vigorará entre os cônjuges o
regime da comunhão parcial (CC, art. 1.640).
Para Débora Gozzo, o pacto antenupcial “é um negócio jurídico de
direito de família”,isso porque, como observa João Andrades Carvalho,
“não se trata de uma liberdade sem limites, ou de um desmesurado
direito de agir. Há um espaço legal que não pode ser invadido nem
desrespeitado pelos nubentes”.13
Somente existe o pacto antenupcial em função do casamento, ao qual
se vincula intimamente nos termos art. 1.653 do CC.

12
Ibidem.
13
GOZZO, Débora. Pacto antenupcial. São Paulo: Saraiva, 1992.

Não há um prazo previsto na lei entre a celebração do pacto e o


casamento. Admite-se que decorra, inclusive, qualquer lapso de tempo.
Mas os efeitos dependem da realização do casamento.
De acordo com Fabiana Domingues Cardoso, para uma corrente
doutrinária não está vedada a inclusão de disposições
extrapatrimoniais no pacto antenupcial, que também se presta para
celebrar convenções de cunho interpessoal, ou vinculadas às
responsabilidades paterno-filiais, e vê com muita simpatia a
possibilidade de ampliação do conteúdo do pacto antenupcial como um
instrumento eficiente para prevenção de conflitos entre os cônjuges.14
Aos nubentes se faculta estipularem o conteúdo que desejarem, dentro
dos limites da lei, desde que não haja contrariedade à ordem pública,
ou ofensa aos bons costumes. (art. 1.655 do CC).

Pacto pós-nupcial
O pacto pós nupcial é realizado posteriormente ao casamento como
no caso da mudança do regime de bens vigente, mediante autorização
judicial.
Além da utilização nos casos de alteração no regime de bens,
importante ressaltar a possibilidade de utilização dos pactos pós-
nupciais para casos de retificação de registro civil, em que houve erro
material no registro específico.
O nosso CC aponta o pacto pós-nupcial se encontra nso art. 1.639,§2º
do CC/02 e no art. 734 do CPC.
Considerando a falta de previsão legislativa, o pacto pós-nupcial
poderá ser lavrado após autorização judicial específica. É o que
determinou o Superior Tribunal de Justiça no julgamento do Recuso

14
CARDOSO, Fabiana Domingues. Regime de bens e pacto antenupcial. São Paulo: Método,
2011.

Especial – RESP15 1300205: “o pacto pós-nupcial […] em nossa


legislação, depende de aprovação do Poder Judiciário para que seja
válido.” 16

O nosso CC prevê a possibilidade de ser alterado o regime de bens no


curso da relação conjugal, como prescreve o artigo 1.639, § 2º, em
pedido judicial motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência
das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros, não sendo
necessário promover a relação discriminada dos bens dos cônjuges.
De acordo com o CC a alteração do regime matrimonial será sempre
judicial, devendo a sentença que acolheu a modificação do regime ser
averbada no Cartório de Registro de Imóveis.

Código Civil – artigos 1571 a 1582, 1.639 a 1.688

PROCESSO
REsp 1922347 / PR
RECURSO ESPECIAL
2021/0040322-7

15
SUPERIOR Tribunal de Justiça. REsp 1300205. Relator Ministro JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA. Data da Publicação20/04/2015. Disponível em: stj.jus.br. Acesso em: 01/05/2022.
16
https://recivil.com.br/artigo-o-pacto-pos-nupcial-para-apos-autorizacao-judicial-estabelecer-o-
regime-de-bens-que-constara-na-transcricao-de-casamento-celebrado-na-inglaterra/

RELATOR(A)
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO (1140)
ÓRGÃO JULGADOR
T4 - QUARTA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
07/12/2021
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 01/02/2022
REVJUR vol. 533 p. 143
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. UNIÃO ESTÁVEL SOB O REGIME DA SEPA-
RAÇÃO OBRIGATÓRIA DE BENS. COMPANHEIRO MAIOR DE 70
ANOS NA OCASIÃO EM QUE FIRMOU ESCRITURA PÚBLI-
CA. PACTO ANTENUPCIAL AFASTANDO A INCIDÊNCIA DA SÚMU-
LA N. 377 DO STF, IMPEDINDO A COMUNHÃO DOS AQUESTOS
ADQUIRIDOS ONEROSAMENTE NA CONSTÂNCIA DA CONVIVÊN-
CIA. POSSIBILIDADE. MEAÇÃO DE BENS DA COMPANHEIRA. INO-
CORRÊNCIA. SUCESSÃO DE BENS. COMPANHEIRA NA CONDI-
ÇÃO DE HERDEIRA. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE RE-
MOÇÃO DELA DA INVENTARIANÇA.
1. O pacto antenupcial e o contrato de convivência definem as regras
econômicas que irão reger o patrimônio daquela unidade familiar, for-
mando o estatuto patrimonial - regime de bens - do casamento ou da
união estável, cuja regência se iniciará, sucessivamente, na data da ce-
lebração do matrimônio ou no momento da demonstração empírica do
preenchimento dos requisitos da união estável (CC, art. 1.723).
2. O Código Civil, em exceção à autonomia privada, também restringe
a liberdade de escolha do regime patrimonial aos nubentes em certas
circunstâncias, reputadas pelo legislador como essenciais à proteção

de determinadas pessoas ou situações e que foram dispostas no art.


1.641 do Código Civil, como sói ser o regime da separação obrigatória
da pessoa maior de setenta antos (inciso II).
3. "A ratio legis foi a de proteger o idoso e seus herdeiros necessários
dos casamentos realizados por interesse estritamente econômico, evi-
tando que este seja o principal fator a mover o consorte para o enlace"
(REsp 1689152/SC, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma,
julgado em 24/10/2017, DJe 22/11/2017).
4. Firmou o STJ o entendimento de que, "por força do art. 258, § único,
inciso II, do Código Civil de 1916 (equivalente, em parte, ao art. 1.641,
inciso II, do Código Civil de 2002), ao casamento de sexagenário, se
homem, ou cinquentenária, se mulher, é imposto o regime de separa-
ção obrigatória de bens. Por esse motivo, às uniões estáveis é aplicá-
vel a mesma regra, impondo-se seja observado o regime de separação
obrigatória, sendo o homem maior de sessenta anos ou mulher maior
de cinquenta" (REsp 646.259/RS, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão,
Quarta Turma, julgado em 22/06/2010, DJe 24/08/2010).
5. A Segunda Seção do STJ, em releitura da antiga Súmula n.
377/STF, decidiu que, "no regime de separação legal de bens, comuni-
cam-se os adquiridos na constância do casamento, desde que compro-
vado o esforço comum para sua aquisição" EREsp 1.623.858/MG, Rel.
Ministro Lázaro Guimarães (Desembargador convocado do TRF 5ª re-
gião), Segunda Seção, julgado em 23/05/2018, DJe 30/05/2018), ratifi-
cando anterior entendimento da Seção com relação à união estável
(EREsp 1171820/PR, Rel. Ministro Raul Araújo, Segunda Seção, julga-
do em 26/08/2015, DJe 21/09/2015).
6. No casamento ou na união estável regidos pelo regime da separa-
ção obrigatória de bens, é possível que os nubentes/companheiros, em
exercício da autonomia privada, estipulando o que melhor lhes aprou-

ver em relação aos bens futuros, pactuem cláusula mais protetiva ao


regime legal, com o afastamento da Súmula n. 377 do STF, impedindo
a comunhão dos aquestos.
7. A mens legis do art. 1.641, II, do Código Civil é justamente conferir
proteção ao patrimônio do idoso que está casando-se e aos interesses
de sua prole, impedindo a comunicação dos aquestos. Por uma inter-
pretação teleológica da norma, é possível que o pacto antenupci-
al venha a estabelecer cláusula ainda mais protetiva aos bens do nu-
bente septuagenário, preservando o espírito do Código Civil de impedir
a comunhão dos bens do ancião. O que não se mostra possível é a
vulneração dos ditames do regime restritivo e protetivo, seja afastando
a incidência do regime da separação obrigatória, seja adotan-
do pacto que o torne regime mais ampliativo e comunitário em relação
aos bens.
8. Na hipótese, o de cujus e a sua companheira celebraram escritura
pública de união estável quando o primeiro contava com 77 anos de
idade - com observância, portanto, do regime da separação obrigatória
de bens -, oportunidade em que as partes, de livre e espontânea von-
tade, realizaram pacto antenupcial estipulando termos ainda mais pro-
tetivos ao enlace, demonstrando o claro intento de não terem os seus
bens comunicados, com o afastamento da incidência da Súmula n. 377
do STF. Portanto, não há falar em meação de bens nem em sucessão
da companheira (CC, art. 1.829, I).
9. Recurso especial da filha do de cujus a que se dá provimento.
Recurso da ex-companheira desprovido.

PROCESSO

REsp 1888242 / PR
RECURSO ESPECIAL
2020/0197101-1
RELATOR(A)
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA (1147)
ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
29/03/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 31/03/2022
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
AÇÃO DE DIVÓRCIO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO.
NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA.
DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. EMENTA. TRANSCRIÇÃO. CO-
TEJO ANALÍTICO. FALTA. BEM IMÓVEL. ACESSÃO. BENFEITORIA.
PRESUNÇÃO LEGAL JURIS TANTUM. CONJUGE VARÃO. CAUSA.
PECULIARIDADE. COPROPRIETÁRIO.
TERCEIRO. UNIÃO CONJUGAL. COMUNHÃO PARCIAL DE
BENS. INTERRUPÇÃO. ÔNUS DA PROVA. DESLOCAMENTO. TEO-
RIA DA CARGA DINÂMICA. APLICAÇÃO. POSSIBILIDADE.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do
Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e
3/STJ).
2. Cinge-se a controvérsia a definir se a atribuição dinâmica do ônus
probatório acerca da realização de acessões/benfeitorias em imó-
vel de propriedade do cônjuge varão, objeto de eventual partilha em
ação de divórcio, pode afastar a presunção do art. 1.253 do Código Ci-

vil de 2002 ("Toda construção ou plantação existente em um terreno


presume-se feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o
contrário.").
3. Não há falar em negativa de prestação jurisdicional se o tribu-
nal de origem motiva adequadamente sua decisão, solucionando a
controvérsia com a aplicação do direito que entende cabível à hipótese,
apenas não no sentido pretendido pela parte.
4. A divergência jurisprudencial com fundamento na alínea "c" do per-
missivo constitucional requisita comprovação e demonstração, esta, em
qualquer caso, com a transcrição dos trechos dos acórdãos que confi-
gurem o dissídio, mencionando-se as circunstâncias que identifiquem
ou assemelhem os casos confrontados, não se oferecendo como bas-
tante a simples transcrição de ementas, sem realizar o necessário co-
tejo analítico a evidenciar a similitude fática entre os casos apontados e
a divergência de interpretações (arts. 1.029, § 1º, do CPC/2015 e 255,
§ 1º, do RISTJ).
5. Para dar concretude ao princípio da persuasão racional do juiz, ins-
culpido no art. 371 do CPC/2015, aliado aos postulados de boa-
fé, de cooperação, de lealdade e de paridade de armas previstos no
novo diploma processual civil (arts. 5º, 6º, 7º, 77, I e II, e 378 do
CPC/2015), com vistas a proporcionar uma decisão de mérito justa e
efetiva, foi introduzida a faculdade de o juiz, no exercício dos poderes
instrutórios que lhe competem (art. 370 do CPC/2015), atribuir o ônus
da prova de modo diverso entre os sujeitos do processo quando dian-
te de situações peculiares (art. 371, § 1º, do CPC/2015). A instrumenta-
lização dessa faculdade foi denominada pela doutrina processual teoria
da distribuição dinâmica do ônus da prova ou teoria da carga dinâmica
do ônus da prova.
6. No caso dos autos, a participação do cônjuge varão como coproprie-

tário do imóvel em cujas acessões/benfeitorias foram realizadas faz


presumir também o esforço comum do cônjuge virago na sua realiza-
ção (art. 1.660, I e IV, do CC/2002), além de que ocorreram interrup-
ções no vínculo matrimonial, são peculiaridades que autorizam a dina-
mização do ônus probatório para o recorrente (art. 371, § 1º, do
CPC/2015).
7. Recurso especial não provido.

PROCESSO
EDcl no AgInt no AREsp 640912 / DF
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO INTERNO NO AGRA-
VO EM RECURSO ESPECIAL
2014/0345360-8
RELATOR(A)
Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI (1145)
ÓRGÃO JULGADOR
T4 - QUARTA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
22/11/2021
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 25/11/2021
EMENTA
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ACOLHIMENTO. SUCESSÃO. RE-
GIME DE BENS.
CÔNJUGE. CONDIÇÃO DE HERDEIRO. RECONHECIMENTO.
1. Nos termos da jurisprudência desta Corte Superior, o cônjuge, qual-
quer que seja o regime de bens adotado pelo casal, é herdeiro neces-
sário.
2. A exceção prevista no artigo 1.641 do Código Civil refere-se ao re-

gime de separação legal de bens, nos casos em que há concorrência


com descendentes.
3. Embargos de declaração acolhidos.
PROCESSO
AgInt nos EDcl no AREsp 1875691 / PR
AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2021/0110277-9
RELATOR(A)
Ministro RAUL ARAÚJO (1143)
ÓRGÃO JULGADOR
T4 - QUARTA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
14/03/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 25/03/2022
EMENTA
DIREITO CIVIL. AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLA-
RAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE RECO-
NHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL POST MOR-
TEM. REQUISITOS PARA UNIÃO ESTÁVEL NÃO EVIDENCIADOS.
MODIFICAÇÃO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. QUALIFICAÇÃO
COMO UNIÃO ESTÁVEL/FAMÍLIA PARALELA. IMPOSSIBILIDADE.
DECISÃO DE ACORDO COM A JURISPRUDÊNCIA DO STJ. AGRA-
VO INTERNO DESPROVIDO.
1. "A jurisprudência do STJ e do STF é sólida em não reconhecer co-
mo união estável a relação concubinária não eventual, simultânea
ao casamento, quando não estiver provada a separação de fato ou de
direito do parceiro casado" (AgRg no AREsp 748.452, Relator Ministro

RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 23/2/2016, DJe de


7/3/2016).
2. Na hipótese, o Tribunal de origem concluiu que "não se pode afirmar
que a convivência entre o falecido e a demandante era socialmente re-
conhecida e tinha o objetivo de constituição de uma família, quando a
própria autora sabia que ele possuía uma família constituída, embora
aqui o negue, o que torna ausente o requisito da fidelidade, igualmente
importante para caracterizar a união estável, ainda mais quando a infi-
delidade era de conhecimento da apelante".
3. A pretensão de modificar o entendimento firmado, acerca da ausên-
cia dos requisitos para a configuração da união estável, demandaria o
revolvimento do acervo fático-probatório, o que é inviável em sede de
recurso especial, nos termos da Súmula 7/STJ.
4. Agravo interno a que se nega provimento.

- COPPETTI, Libera. Org. Alienação Parental, Ed. Juruá, 2020.

- LOBO, Paulo Luiz Netto . Famílias. 11º ed. São Paulo. Saraiva, 2021
MADALENO, Rolf. Manual de direito de família – 4. ed. – Rio de
Janeiro: Forense, 2022.

- MALUF, Carlos Alberto Dabus. Curso de Direito de Família.


Saraiva.2018.

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e


Sucessões. São Paulo, Ed. Saraiva. 2018.

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Divórcio. São Paulo, 5º Ed. Saraiva.


2016.

- RIZZARDO, Arnaldo. Direitos de Família – 10. ed. – Rio de Janeiro:


Forense, 2019.

- TICIANELLI, Maria Figueira Rossi . BARBIERO, Priscila Cristiane.


Direito de Família em Cases.O Conflito pelas lentes de seus
advogados, Ed. Juruá, 2020.

ROMANO, Rogério Tadeu. A dissolução da sociedade conjugal e a


dissolução do vínculo matrimonial. Consequências.
https://jus.com.br/artigos/51293/a-dissolucao-da-sociedade-conjugal-e-
a-dissolucao-do-vinculo-matrimonial-consequencias
Acesso em 01/05/2022

- SANTOS, Carolina Edith Mosmann. O pacto antenupcial e a


separação total de bens e o desejo das partes de não serem herdeiros
um do outro. https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-notariais-e-
registrais/348860/o-pacto-antenupcial-a-separacao-total-de-bens
Acesso em 01/05/2022

- SANTOS, Wallace Costa dos. O casamento civil e os regimes de


bens matrimoniais.
https://ibdfam.org.br/artigos/1483/O+casamento+civil+e+os+regimes+d
e+bens+matrimoniais. Acesso em 01/05/2022

- VASCONCELOS, Antonio José Telles de. Mudança do regime de


bens do casamento não precisa ter alterações profundas.
https://www.conjur.com.br/2020-ago-05/vasconcellos-alteracao-regime-
bens-casamento. Acesso em 01/05/2022

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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

MÓDULO: DIREITO DE FAMÍLIA I

TEMA: UNIÃO ESTÁVEL. CARACTERIZAÇÃO. CONTRATO DE UNIÃO


ESTÁVEL. EFEITOS . FAMÍLIAS SIMULTÂNEAS.

Introdução
A união estável sempre foi reconhecida como um fato jurídico e no
mundo contemporâneo assume um papel relevante como entidade
familiar na sociedade brasileira.
A primeira norma a tratar do assunto foi o Decreto-lei 7.036/1944, que
reconheceu a companheira como beneficiária da indenização no caso
de acidente de trabalho de que foi vítima o companheiro.
A Constituição Federal de 1988 veio efetivamente reconhecer, no seu
art. 226, § 3.º, a união estável, nos seguintes termos: “para efeito de
proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a
mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar a sua conversão
em casamento”.
Definição
O Prof. Rodrigo da Cunha Pereira nos dá um conceito de união estável,
como sendo, “a relação afetivo-amorosa entre um homem e uma
mulher, não adulterina e não incestuosa, com estabilidade e

durabilidade, vivendo sob o mesmo teto ou não, constituindo família


sem vínculo do casamento civil”1.
Já para Álvaro Villaça de Azevedo, a união estável é: “A convivência
não adulterina nem incestuosa, duradoura, pública e contínua, de um
homem e de uma mulher, sem vínculo matrimonial, convivendo como
se casados fossem, sob o mesmo teto ou não, constituindo, assim,
sua família de fato”. 2
Complementada pela posição de Francisco Eduardo Orciole Pires e
Albuquerque Pizzolante, que dizem ser “meio legítimo
de constituição de entidade familiar, havida, nos termos estudados,
por aqueles que não tenham impedimentos referentes à sua união,
com efeito de constituição de família”.3

União estável. Caracterização


O Código Civil, em seu artigo 1.723 estabeleceu “É reconhecida como
entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher,
configurada na convivência pública, contínua e duradoura e
estabelecida com o objetivo de constituição de família”.
Assim sendo, entre os elementos fundamentais para o
reconhecimento da união estável são: estabilidade, continuidade da
relação, publicidade, objetivo de constituição de família.
Cumpre ressaltar que o artigo não menciona prazo mínimo de
convivência como critério para caracterização desta entidade familiar,
abandonando de vez o que dispunha a Lei nº 8.791/94.

1
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito das Famílias, 2ª ed. Ed. Forense, 2020.
2
Azevedo, Álvaro Villaça. União Estável, artigo publicado na revista advogado nº 58, AASP, São
Paulo, Março/2000.
3
Pizzolante, Francisco Eduardo Orciole Pires e Albuquerque. União Estável no sistema jurídio
brasileiro. São Paulo: Atlas, 1999.

A união estável é, também, a convivência pública, contínua e


duradoura.
Para Rolf Madaleno: “Dentre os pressupostos de configuração da
união estável está a convivência pública, no sentido de,
preferencialmente morarem juntos, mantendo vida em comum, em
comunhão plena, como para o casamento registra igual exigência o
artigo 1.511 do Código Civil, sob o mesmo teto, à semelhança do
matrimônio, onde a coabitação é dever expresso do casamento,
conforme artigo 1.566, inciso II, do Código Civil, salvo justificadas
exceções”.4
A continuidade da convivência também reflete a sua estabilidade e
seriedade.
A união estável é aquela moldada à semelhança do casamento, na
qual os conviventes têm a indubitável intenção de constituir família.
Por conta disso, devem ser descartadas da configuração de união
estável as hipóteses de simples namoro.
Em seu artigo 1.724, o novo Código Civil estabelece que as relações
entre os companheiros devem se pautar pelos deveres de lealdade,
respeito, assistência, de guarda, sustento e educação dos filhos.
A regulamentação sobre os deveres das relações pessoais entre
companheiros vem tipificada no art. 1.724 do Código Civil, e prevê os
deveres de lealdade, respeito e assistência, guarda, sustento e
educação dos filhos.
De acordo com Euclides de Oliveira se “comparado ao texto do
art. 2º da Lei 9.278/96, nota-se que o CC acrescenta o dever de

4
MADALENO, Rolf. Manual de direito de família / Rolf Madaleno. – 4. ed. – Rio de Janeiro:
Forense, 2022.

“lealdade” entre os companheiros, mantidos os demais deveres


constantes dessa lei” 5.
A lealdade vai além do compromisso de fidelidade afetiva, abrange
um amplo dever de respeito e de consideração devida mutuamente
entre os companheiros, no propósito de perpetuarem a sua relação
afetiva.

Por contrato de convivência na união estável a doutrina de Francisco


José Cahali entende como sendo “o instrumento pelo qual os sujeitos
de uma união estável promovem regulamentações quanto aos
reflexos da relação, que serão tratadas adiante quando analisado o
conteúdo das disposições contratuais entre os conviventes” 6.

Sua finalidade se resume em tratar os assuntos pertinentes às


relações patrimoniais entre as partes que vivem em união estável.
A previsão para realização deste contrato, estipulada no § 2º, do
art. 5º da Lei nº 9.278/96, foi mantida pelo Código Civil de 2002, em
seu artigo 1.725.

Sobre esta matéria, esclarece Rodrigo da Cunha Pereira: “Indagava-


se, com o advento da Lei n. 8.971/94, se era possível estabelecer tais
pactos. Devemos pensar que se as pessoas são livres para
estabelecer pacto antenupcial, da mesma forma, e por analogia,
poderão também preestabelecer os rumos da economia e patrimônio

5
OLIVEIRA, Euclides Benedito de. União estável: do concubinato ao casamento: antes e depois
do novo código civil. São Paulo: Método, 2003.
6
Cahali, Francisco José. Contrato de convivência na união estável. São Paulo: Saraiva, 2002.

dessas relações, sem com isso afrontar a referida Lei. Se há essa


liberdade para fazê-lo no casamento, da mesma forma poderá haver
também para as relações estáveis. Ademais, a Lei n. 9.278, de 16 de
maio de 1996, respondeu de vez essa questão. Mesmo tendo sido
vetados os arts. 3º e 4º, que tratava especificamente de registro de
contratos entre os sujeitos de uma união estável, não há nenhuma
proibição de fazê-lo” 7.

Ao contrário, o art. 5º dessa Lei, em seu caput e § 2º, previu a


estipulação de contratos escritos, até mesmo para estabelecer
disposições contrárias a ela.

Entretanto, cumpre ressaltar que a simples celebração de um contrato


de convivência, não é suficiente para caracterização da união estável.
Para explicitar melhor o tema, ensina Francisco José Cahali:
“Que o contrato de convivência não possui, porém, força para criar a
união estável, e, assim, tem a sua eficácia condicionada a
caracterização, pelas circunstâncias fáticas, da entidade familiar em
razão do comportamento das partes. Vale dizer, a união estável
apresenta-se como condicio juris ao pacto, de tal sorte que, se nela
inexistir, a convenção não produz os efeitos nela projetados” 8.

A eleição de um regime patrimonial, através do contrato de


convivência, define as regras entre o casal, reduzindo as possibilidades
de conflitos e aumentando o seu nível de resolução.

7
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Concubinato e União estável. 9º ed. Saraiva, 2016.
8
CAHALI, Francisco José. Contrato de convivência na união estável. São Paulo: Saraiva, 2002.

É válido relatar que esta modalidade de contrato não exige muitas


formalidades quanto à sua celebração. A única exigência legal é de
que o contrato seja escrito.
No contrato de convivência os companheiros podem dispor de tudo,
desde que não contrariando as normas legais.
Sobretudo, em se tratando de um contrato, como tal deverá observar
as regras e princípios gerais dos contratos para que gere os seus
legais e jurídicos efeitos.
Para o prof. Francisco José Cahali, "além das regras gerais de validade
dos atos jurídicos, por ser uma contratação específica com fim
determinado (regulamentação contratual dos efeitos decorrentes da
união estável), o contrato de convivência submete-se a elementos
essenciais próprios, especialmente considerados que a caracterização
da relação representada requisito essencial de eficácia do pacto" 9.

Nesse sentido o entendimento de Maria Berenice Dias:


“O contrato obrigatoriamente terá efeito retroativo, em relação à exis-
tência da união estável, o que não retroage é o regime de bens quan-
do é eleito outro regime que não seja o da comunhão parcial de bens.
Não há possibilidade de ser atribuído efeito retroativo a regime de
bens mais restritivo, por afrontar direitos já adquiridos. Ou seja, sem
contrato, o regime é da comunhão parcial. Descabido eleger o regime
de separação, desde o início da união".10
É aplicável a união estável as regras da comunhão parcial de bens,
sendo que a jurisprudência reconhece a impossibilidade dos efeitos
retroativos .

9
Ibidem.
10
DIAS, Maria Berenice, Manual de Direito das Famílias. 2021

Para Newton Carvalho: “Famílias paralelas ou simultâneas são as


constituídas por dois ou mais núcleos familiares, com um de seus
membros comuns a ambas, podendo existir tanto no casamento como
na união estável. Portanto, encampando foi nesta família o
concubinato, antigo concubinato impuro” 11.
As famílias simultâneas podem ser conceituadas como composições
familiares, onde o indivíduo demonstra o seu afeto para uma ou mais
pessoas.
Portanto, nas famílias paralelas há dois ou mais núcleos familiares,
com um membro comum. Por isso mesmo rotulada também de
entidades familiares simultâneas. No poliamorismo há ocorrência de
relação afetiva entre todos os seus membros, formando tão somente
uma única célula familiar.
No Brasil vige e sempre vigeu o princípio da monogamia para a as
entidades familiares formadas pelos laços do casamento.
Para Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka: “Os núcleos
concorrentes das famílias simultâneas podem ser representados
através de duas uniões estáveis ou de um casamento e uma união
estável, mas nunca com dois casamentos, o que é tipificado como
crime de bigamia pelo art. 235 do Código Penal”.12

Note-se que os filhos das uniões paralelas não poderão ser


prejudicados, posto a Constituição já ter, no ano de 1988,

11
CARVALHO, Newton Teixeira. https://domtotal.com/artigo/7462/2018/05/sucessao-nas-familias-
simultaneas-paralelas-e-nas-unioes-poliafetivas/
12
HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes; TARTUCE, Flávio. FAMÍLIAS PARALELAS.
VISÃO ATUALIZADA. Revista Pensamento Jurídico, São Paulo, vol. 13, n. 2, jul./dez. 2019.

estabelecido a total igualdade entre eles, tenham eles nascido durante


a constância do matrimônio ou não.

Especialmente na pensão por morte, boa parte dos tribunais tem o


entendimento de que, onde existe o casamento e não houve separação
de fato ou de direito, tem se atribuído o benefício previdenciário apenas
para a relação formal, alegando que o outro relacionamento não possui
intenção de constituir família.13

Renata Miranda Goecks e Vitor Hugo Oltramari defendem o


reconhecimento oficial das uniões paralelas desenvolvidas dentro do
princípio da boa-fé e afirmam que descabe ao Estado negar a realidade
e pretender que a concomitância de relações seja algo distante do
Direito de Família. Ana Carolina Brochardo Teixeira e Renata de Lima
Rodrigues admitem por igual as relações paralelas, conquanto elas
cumpram, reciprocamente, funções familiares na vida uma das outras,
porque o princípio da monogamia, historicamente, está atrelado aos
mandamentos da segurança jurídica e tutela prioritária do patrimônio,
fatores que ficaram em segundo plano no ordenamento brasileiro, que,
na atualidade, prioriza a realização direta da dignidade humana.14

Ressalte-se que na união estável paralela ao casamento sempre


faltarão ao conjunto afetivo os requisitos da fidelidade e da
exclusividade na coabitação.

13
TRF-3 – ApCiv: 00087679520114039999 SP, Relator: DESEMBARGADORA FEDERAL INÊS
VIRGÍNIA, Data de Julgamento: 24/06/2019, SÉTIMA TURMA, Data de Publicação: e-DJF3
Judicial 1 DATA:04/07/2019
14
TEIXEIRA, Ana Carolina Brochardo; RODRIGUES, Renata de Lima. O direito das famílias entre
a norma e a realidade. São Paulo: Atlas, 2010. p. 137.

Além disso, o Supremo Tribunal Federal, na Repercussão Geral 529,


decidiu por maioria, nos termos do voto do relator Ministro Alexandre
de Moraes, vencidos os Ministros Edson Fachin, Roberto Barroso,
Rosa Weber, Cármen Lúcia e Marco Aurélio, negar provimento ao
recurso extraordinário e fixar a seguinte tese: “A preexistência de
casamento ou de união estável de um dos conviventes, ressalvada a
exceção do artigo 1.723, § 1°, do Código Civil, impede o
reconhecimento de novo vínculo referente ao mesmo período, inclusive
para fins previdenciários, em virtude da consagração do dever de
fidelidade e da monogamia pelo ordenamento jurídico brasileiro”.

Constituição Federal – principal artigo: 226, §3º.


Código Civil –arts. 1.511,1. 521 inciso VI, 1.639, 1.723 a 1.727, 1.790
inciso III, 1829, inciso III e 1838.
Resolução 175 CNJ

PROCESSO
REsp 1916031 / MG
RECURSO ESPECIAL
2021/0009736-8
RELATOR(A)
Ministra NANCY ANDRIGHI (1118)
ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO

03/05/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 05/05/2022
EMENTA
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO DE RE-
CONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁ-
VEL CUMULADA COM PARTILHA. OMISSÃO E ERRO DE FATO.
INOCORRÊNCIA. ERRO DE FATO QUE, AINDA QUE EXISTENTE,
NÃO FOI DECISIVO AO RESULTADO DO JULGAMENTO. ACÓRDÃO
SUSTENTADO EM OUTROS FATOS E PROVAS. ALEGADA UNIÃO
ESTÁVEL PARALELA AO CASAMENTO. PARTILHA NO FORMATO
DE TRIAÇÃO. INADMISSIBILIDADE. RECONHECIMENTO DA UNIÃO
ESTÁVEL QUE PRESSUPÕE AUSÊNCIA DE IMPEDIMENTO AO
CASAMENTO OU SEPARAÇÃO DE FATO. PARTICULARIDADE DA
HIPÓTESE. RELAÇÃO INICIADA ANTES DO CASAMENTO DO PRE-
TENSO CONVIVENTE COM TERCEIRA PESSOA E QUE PROSSE-
GUIU NA CONSTÂNCIA DO MATRIMÔNIO. PERÍODO ANTERIOR
AO CASAMENTO. UNIÃO ESTÁVEL RECONHECIDA. PARTILHA
NOS MOLDES DA SÚMULA 380/STF, EXIGINDO-SE PROVA DO ES-
FORÇO COMUM. PERÍODO POSTERIOR AO CASAMENTO.
TRANSMUDAÇÃO JURÍDICA EM CONCUBINATO IMPURO. SOCIE-
DADE DE FATO CONFIGURADA. REPERCUSSÃO PATRIMONIAL
RESOLVIDA SOB A ÓTICA DO DIREITO OBRIGACIONAL. PARTILHA
NOS MOLDES DA SÚMULA 380/STF, TAMBÉM EXIGIDA A PROVA
DO ESFORÇO COMUM. CIRCUNSTÂNCIAS NÃO APURADAS PE-
LAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. REMESSA DAS PARTES À FASE
DE LIQUIDAÇÃO. POSSIBILIDADE.
1- Ação proposta em 16/05/2016. Recurso especial interposto em
03/02/2020 e atribuído à Relatora em 03/02/2021.

2- Os propósitos do recurso especial consistem em definir se: (i) houve


erro de fato ou omissão relevante no acórdão recorrido; (ii) se, na hipó-
tese de união estável em que um dos conviventes é casado com ter-
ceiro (união estável concomitante ao casamento), é admissível a parti-
lha no formato de triação.
3- Conquanto o acórdão recorrido realmente não tenha examinado o
alegado erro de fato, não há que se falar em omissão na hipótese em
que o erro de fato, ainda que reconhecido como existente, não é deci-
sivo para o resultado do julgamento, uma vez que o acórdão recorrido
está assentado também em outros fatos e provas e o fato erroneamen-
te considerado não foi determinante para a conclusão obtida. Prece-
dentes.
4- É inadmissível o reconhecimento de união estável concomitante ao
casamento, na medida em que àquela pressupõe a ausência de impe-
dimentos para o casamento ou, ao menos, a existência de separação
de fato, de modo que à simultaneidade de relações, nessa hipótese,
dá-se o nome de concubinato. Precedentes.
5- Na hipótese em exame, há a particularidade de que a relação que se
pretende seja reconhecida como união estável teve início anteriormen-
te ao casamento do pretenso convivente com terceira pessoa e pros-
seguiu por 25 anos, já na constância desse matrimônio.
6- No período compreendido entre o início da relação e a celebração
do matrimônio entre o convivente e terceira pessoa, não há óbice para
que seja reconhecida a existência da união estável, cuja partilha, por
se tratar de união iniciada e dissolvida antes da Lei nº 9.278/96, deverá
observar a existência de prova do esforço direto e indireto na aquisição
do patrimônio amealhado, nos termos da Súmula 380/STF e de prece-
dente desta Corte.
7- No que se refere ao período posterior à celebração do matrimônio,

aquela união estável se transmudou juridicamente em um concubinato


impuro, mantido entre as partes por 25 anos, na constância da qual ad-
veio prole e que era de ciência inequívoca de todos os envolvidos, de
modo que há a equiparação à sociedade de fato e a repercussão pa-
trimonial dessa sociedade deve ser solvida pelo direito obrigacional, de
modo que também nesse período haverá a possibilidade de partilha
desde que haja a prova do esforço comum na construção patrimonial,
nos termos da Súmula 380/STF.
8- Ausente menção, pelas instâncias ordinárias, acerca da existência
de provas da participação direta ou indireta da recorrente na constru-
ção do patrimônio, sobre quais bens existiriam provas da participação e
sobre quais bens comporão a meação da recorrida, impõe-se a remes-
sa das partes à fase de liquidação, ocasião em que essas questões de
fato poderão ser adequadamente apuradas.
9- Recurso especial conhecido e parcialmente provido, a fim de julgar
parcialmente procedente o pedido para: (i) reconhecer a existência
de união estável entre 1986 e 26/05/1989; (ii) reconhecer a existência
de relação concubinária impura e sociedade de fato entre 26/05/1989 e
2014, devendo a partilha, em ambos os períodos e a ser realizada em
liquidação de sentença, observar a necessidade de prova do esforço
comum para a aquisição do patrimônio e respeitar a meação da recor-
rida, invertendo-se a sucumbência.

PROCESSO
REsp 1963885 / MG
RECURSO ESPECIAL
2021/0243045-2
RELATOR(A)
Ministra NANCY ANDRIGHI (1118)

ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
03/05/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 05/05/2022
EMENTA
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO PRINCI-
PAL DE ALIMENTOS, RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO
DE UNIÃO ESTÁVEL E PARTILHA DE BENS. AÇÃO DE OPOSIÇÃO.
PRETENSÃO DE RECONHECIMENTO DA PROPRIEDADE SOBRE
IMÓVEL QUE SE PRETENDE SEJA PARTILHADO ENTRE OS CON-
VIVENTES. PEDIDO DE IMISSÃO NA POSSE. POSSIBILIDADE. DE-
CORRÊNCIA LÓGICA DO ACOLHIMENTO DO PEDIDO FORMULA-
DO NA OPOSIÇÃO. INEXISTÊNCIA DE DISCUSSÃO SOBRE DIREI-
TO POSSESSÓRIO, A SER TRATADA EM AÇÃO AUTÔNOMA. IN-
TERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. INTERESSE DE INCAPAZ.
INOCORRÊNCIA. MERO INTERESSE INDIRETO OU MEDIATO DO
INCAPAZ QUE NÃO É LEGITIMADO A FIGURAR COMO PARTE OU
INTERVENIENTE NO PROCESSO. DISCUSSÃO RESTRITA À PAR-
TILHA DE BENS ENTRE OS GENITORES. AUSÊNCIA DE DIREITO
PRÓPRIO DO INCAPAZ. SENTENCIAMENTO DA OPOSIÇÃO PRE-
VIAMENTE E EM SEPARADO DA AÇÃO PRINCIPAL. POSSIBILIDA-
DE. AUSÊNCIA DE RISCO DE DECISÕES CONFLIANTES. DESNE-
CESSIDADE DA PRÁTICA DE ATOS PROCESSUAIS CONJUNTOS.
INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO DA FAMÍLIA. NECESSIDADE DE EXA-
ME DE DIREITO LOCAL. SÚMULA 280/STF. DIREITO DE RETEN-
ÇÃO DA COISA POR BENFEITORIAS. MATÉRIA NÃO SUSCITA NA
CONTESTAÇÃO À OPOSIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE EXAME.

PRECLUSÃO. QUESTÃO A SER EXAMINADA EM AÇÃO PRÓPRIA.


GRATUIDADE JUDICIÁRIA. DEFERIMENTO À LUZ DOS FATOS E
PROVAS DA CAUSA. IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME.
1- Ação proposta em 10/04/2018. Recurso especial interposto em
15/04/2021 e atribuído à Relatora em 31/08/2021.
2- Os propósitos recursais consistem em definir: (i) se haveria impedi-
mento à oposição na hipótese em que o opoente pleiteia a imissão na
posse no imóvel que é objeto da controvérsia; (ii) se seria necessária a
intervenção do Ministério Público na hipótese em que reside incapaz no
imóvel em disputa na oposição; (iii) se seria admissível o julgamento da
oposição antecipadamente e em sentença distinta da que seria proferi-
da na ação principal; (iv) se o juízo da vara de família seria competente
para apreciar a oposição proposta incidentalmente à ação principal de
alimentos, reconhecimento e extinção de união estável e partilha de
bens; (v) se seria admissível, na hipótese, o exercício do direito de re-
tenção pela oposta; (vi) se estão presentes os requisitos para a con-
cessão do benefício da gratuidade judiciária à opoente.
3- Se o pedido formulação na oposição é de reconhecimento da propri-
edade de bem imóvel sobre o qual controvertem as partes na ação de
partilha originária, não há óbice procedimental ao acolhimento do pedi-
do de imissão na posse, também formulado na oposição, que está
compreendido no pedido principal, atende à regra do art. 682 do
CPC/15 e é uma decorrência lógica da procedência do pedido de reco-
nhecimento da propriedade sobre o bem imóvel, de modo que eventual
debate sobre direitos possessórios sobre o bem deverá ocorrer em
ação própria.
4- Para que haja a necessária intervenção do Ministério Público, nos
termos do art. 178, II, do CPC/15, não basta que apenas interesses in-
diretos ou mediatos do incapaz sejam potencialmente atingidos, na

medida em que deve o incapaz, além de ser parte ou interveniente do


processo, ser também potencialmente interessado em razão de direito
próprio, mas não em virtude de direito alegadamente existente de seus
genitores.
5- Conquanto seja desejável pelo sistema processual que a oposição e
a ação originária sejam sentenciadas conjuntamente, a teor do art. 685
do CPC/15, não há óbice para que a oposição, que é prejudicial à ação
principal, seja julgada em primeiro lugar, em sentença autônoma, es-
pecialmente na hipótese em que não exista risco de prolação de deci-
sões conflitantes ou na qual não haja a necessidade de prática de atos
processuais conjuntos.
6- É inviável o recurso especial que versa sobre competência quando,
para o exame da transgressão da lei federal, for necessário o prévio
exame das regras existentes em lei de organização judiciária do res-
pectivo Estado, que se consubstanciam em direito local apto a atrair a
incidência da Súmula 280/STF. Precedentes.
7- Não arguido o direito de retenção da coisa por benfeitorias no mo-
mento da contestação, descabe o exame da matéria em momento pos-
terior em virtude da ocorrência de preclusão, sem prejuízo de a matéria
vir a ser objeto de ação própria. Precedente.
8- Estabelecido pelo acórdão recorrido, a partir de determinadas pre-
missas fáticas fixadas diante da prova produzida, que a parte preenche
os requisitos para concessão do benefício da gratuidade judiciária,
descabe o reexame da matéria em recurso especial diante do óbice da
Súmula 7/STJ.
9- Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, não
provido, com majoração de honorários.

PROCESSO
EDcl no AgInt no REsp 1951698 / RS
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO INTERNO NO RE-
CURSO ESPECIAL
2021/0238653-9
RELATOR(A)
Ministro FRANCISCO FALCÃO (1116)
ÓRGÃO JULGADOR
T2 - SEGUNDA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
11/04/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 18/04/2022
EMENTA
PROCESSO CIVIL. DIREITO PREVIDENCIÁRIO. AÇÃO DECLARA-
TÓRIA E CONDENATÓRIA. RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁ-
VEL E INCLUSÃO DA AUTORA COMO BENEFICIÁRIA DE PENSÃO
POR ÓBITO. RECURSO ESPECIAL. DIVERGÊNCIA NÃO COMPRO-
VADA. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO PRECISA DO DISPOSITIVO DE
LEI OBJETO DE DIVERGÊNCIA. SÚMULA N. 284 DO STF. AGRAVO
INTERNO. DECISÃO MANTIDA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO.
I - Na origem, trata-se de ação declaratória e condenatória, ajuizada
contra o Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul -
IPERGS, objetivando a declaração de existência de união estável e a
inclusão da autora como beneficiária de pensão por óbito do ex-
companheiro. A sentença julgou o feito extinto por ilegitimidade passiva
em relação ao pedido declaratório e, por prescrição, em relação à pre-
tensão condenatória. No Tribunal a quo, foi negado provimento ao re-

curso. O recurso especial foi inadmitido no STJ, e o agravo interno in-


terposto dessa decisão, improvido.
II - Segundo o art. 1.022 do Código de Processo Civil de 2015, os em-
bargos de declaração são cabíveis para esclarecer obscuridade;
eliminar contradição; suprir omissão de ponto ou questão sobre as
quais o juiz devia pronunciar-se de ofício ou a requerimento; e/ou corri-
gir erro material.
III - Conforme entendimento pacífico desta Corte: "O julgador não está
obrigado a responder a todas as questões suscitadas pelas partes,
quando já tenha encontrado motivo suficiente para proferir a decisão. A
prescrição trazida pelo art. 489 do CPC/2015 veio confirmar a jurispru-
dência já sedimentada pelo Colendo Superior Tribunal de Justiça, sen-
do dever do julgador apenas enfrentar as questões capazes de infirmar
a conclusão adotada na decisão recorrida." (EDcl no MS n. 21.315/DF,
relatora Ministra Diva Malerbi (Desembargadora convocada TRF 3ª
Região), Primeira Seção, julgado em 8/6/2016, DJe 15/6/2016).
IV - Não há que se falar em deficiência de fundamentação da decisão
que, a partir da análise dos argumentos da peça recursal de agravo in-
terno - identificados e detalhados no relatório - conclui, de maneira fun-
damentada, que "as alegações apresentadas não são suficientes para
infirmar a conclusão alcançada, que deve ser mantida por seus pró-
prios fundamentos" (fl. 1.350).
V - Quanto às alegações de suficiência da demonstração do dissídio, o
acórdão afirmou ainda que (fl. 1.351): "Da análise do recurso especial,
observa-se que o recorrente não aponta qual o dispositivo infraconsti-
tucional objeto de interpretação divergente pelos julgados em confron-
to, desbordando da previsão contida no art. 105, III, c, da CRFB, o que
impede a apreciação dessa parcela recursal pelo Superior Tribunal de
Justiça."

VI - Note-se que, se o recurso é inapto ao conhecimento, a falta de


exame da matéria de fundo - mérito do dissídio - impossibilita a própria
existência de omissão quanto a esta matéria. Nesse sentido:
EDcl nos EDcl no AgInt no RE nos EDcl no AgInt no REsp n.
1.337.262/RJ, relator Ministro Humberto Martins, Corte Especial, julga-
do em 21/3/2018, DJe 5/4/2018; EDcl no AgRg no AREsp n.
174.304/PR, relator Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira
Turma, julgado em 10/4/2018, DJe 23/4/2018; EDcl no AgInt no REsp
n. 1.487.963/RS, relator Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, jul-
gado em 24/10/2017, DJe 7/11/2017.
VII - A pretensão de reformar o julgado não se coaduna com as hipóte-
ses de omissão, contradição, obscuridade ou erro material contidas no
art. 1.022 do CPC/2015, razão pela qual inviável o seu exame em em-
bargos de declaração. Nesse sentido: EDcl nos EAREsp n.
166.402/PE, relator Ministro Luis Felipe Salomão, Corte Especial, jul-
gado em 15/3/2017, DJe 29/3/2017; EDcl na Rcl n. 8.826/RJ, relator
Ministro João Otávio De Noronha, Corte Especial, julgado em
15/2/2017, DJe 15/3/2017.
VIII - Cumpre ressaltar que os aclaratórios não se prestam ao reexame
de questões já analisadas com o nítido intuito de promover efeitos mo-
dificativos ao recurso. No caso dos autos, não há omissão de ponto ou
questão sobre as quais o juiz, de ofício ou a requerimento, devia pro-
nunciar-se, considerando que a decisão apreciou as teses relevantes
para o deslinde do caso e fundamentou sua conclusão.
IX - Embargos de declaração rejeitados.

- LOBO, Paulo Luiz Netto . Famílias. 11ª ed. São Paulo. Saraiva, 2021
MADALENO, Rolf. Manual de direito de família – 4. ed. – Rio de Janei-
ro: Forense, 2022.

- MALUF, Carlos Alberto Dabus. Curso de Direito de Família. Sarai-


va.2018.

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Su-


cessões. São Paulo, Ed. Saraiva. 2018.

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Divórcio. São Paulo, 5º Ed. Saraiva.


2016.

.
- CORREIA, Flavia Cristina Jerônimo. A união estável e seus reflexos
na partilha de bens.
https://ibdfam.org.br/artigos/1167/+Uni%C3%A3o+est%C3%A1vel+e+s
eus+reflexos+na+partilha+de+bens. Acesso em 09/05/2022

- GOMES, Eva Lucia Braga Fontes. Da conversão da união estável em


casamento e suas circunstâncias: https://silveiradias.adv.br/da-
conversao-de-uniao-estavel-em-casamento-e-suas-circunstancias/.
Acesso em 09/05/2022

- SANTOS, Daniele Fabiane Lucas dos. Quais são os direitos na união


estável? https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/11885/Quais-sao-
os-direitos-na-uniao-estavel. Acesso em 09/05/2022

- SANTOS, Laisa. É namoro ou União Estável?


https://schiefler.adv.br/e-namoro-ou-uniao-estavel/. Acesso em
09/05/2022

Após a leitura deste material e o acompanhamento das videoaulas


ministradas pelo(s) professor(es), finalize o seu aprendizado efetuando
a atividade autoinstrucional, disponível na área do aluno, no menu
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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

MÓDULO: DIREITO DE FAMÍLIA I

TEMA: GUARDA DE FILHOS. ESPÉCIES ( UNILATERAL, COMPARTILHADA,


ALTERNADA E NIDAL). REGIME DE CONVIVÊNCIA. ALIENAÇÃO PARENTAL.
GUARDA DE SERES SENCIENTES.

A guarda é um direito e um dever dos genitores de terem seus filhos


sob seus cuidados, zelando pela sua educação, alimentação e
moradia.
Ainda, pode-se referir o que preceitua a ilustre Maria Berenice Dias:“O
critério norteador na definição da guarda é a vontade dos genitores. No
entanto, não fica exclusivamente na esfera familiar a definição ele
quem permanecerá com os filhos em sua companhia. Pode a guarda
ser deferida a outra pessoa, havendo preferência por membro da
família extensa que revele compatibilidade com a natureza da medida e
com quem tenham afinidade e afetividade (CC 1.584 § 5º). No que diz
com a convivência dos filhos com o genitor que não detém a guarda,
prevalece o que for acordado entre os pais (CC 1.589)” 1.
Tanto o Código Civil Brasileiro quanto o Estatuto da Criança e do
Adolescente atendem ao princípio constitucional da proteção integral
da criança e do adolescente.

1
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 14ª ed. Ed. Juspodivm, 2020.

São basicamente três as espécies de guarda previstas no ordenamento


civil pátrio: a guarda unilateral ou exclusiva, a guarda compartilhada e a
guarda alternada prevista no art. 1.586 do CC.
GUARDA UNILATERAL
Esta modalidade atribui a apenas um dos genitores a guarda do
menor, com o estabelecimento de regime de convivência com o
genitor não guardião.

Para Carlos Alberto Dabus Maluf: “ Consoante o previsto no art. 1.583


do CC, “a guarda será unilateral ou compartilhada. § 1o Compreende-
se por guarda unilateral a atribuída a um só dos genitores ou a alguém
que o substitua (art. 1.584, § 5o) e, por guarda compartilhada a
responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e
da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder
familiar do filho comum”. 2
A guarda unilateral será atribuída ao genitor que revele melhores
condições para exercê-la.

Para Dimas Messias de Carvalho:


“A guarda unilateral, exclusiva ou não dividida é a tradicional no
direito brasileiro, atribuída a um só dos genitores ou terceiros e
regulada no parágrafo 5º do art. 1.583 do CC e especialmente no art.
33 parágrafo 1º do ECA ao dispor que a guarda destina-se a
regularizar a posse de fato e ainda que obriga a prestação de
assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente,

2
MALUF, Carlos Alberto Dabus. MALUF, Adriana do Rego Freitas Dabus Maluf. Curso de direito
de família.– 4. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2021.

conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive


3
aos pais”.

O Código Civil de 2002 prevê em seu artigo 1.583 a possibilidade de


adoção da guarda unilateral como modalidade secundária, sendo a
regra a adoção da guarda compartilhada.

O genitor escolhido também deve ser aquele que demonstre maior


aptidão para propiciar à prole afeto nas relações parentais e com o
grupo familiar; saúde e segurança, e por fim, educação, nos termos
dos incisos do parágrafo 2º do artigo 1.584 do CC/02.

Conforme Dimas Messias de Carvalho: ”A concessão da guarda


unilateral poderá ser requerida, por consenso entre os genitores, ou
por qualquer um deles, em ação autônoma de separação, de divórcio,
de dissolução de união estável ou em medida cautelar, bem como
pode ser decretada pelo juiz, em atenção às necessidades
específicas do menor e seu interesse, tentando o magistrado sempre
conciliar a distribuição do tempo da criança ou adolescente com seus
genitores, nos termos dos incisos do artigo 1.584 do CC”.4

A adoção deste regime deve ser sempre complementada pelo direito


de convivência do genitor não guardião do menor, visando à
continuidade destaa entre estes, ainda que mínima e insuficiente aos
olhos da doutrina atual.

3
CARVALHO, Dimas Messias de .Direito das Famílias, Saraiva, 2017.
4
Ibidem.

Tal direito é respaldado em nossa legislação, de modo que, por ser


direito da criança e dever dos pais, não pode encontrar qualquer tipo
de impedimento levantado pelo guardião que, caso assim proceda,
corre o risco de perder a guarda através de meios processuais
pertinentes ao caso.

Segundo Wald “Conforme a visão da doutrina, o regime ideal de


visitas seria aquele em que se preserve tanto quanto o possível as
relações afetivas existentes entre pais e filhos”. 5

Para Welter: “É necessário repisar ainda na afirmação de que a


atribuição da guarda a apenas um dos genitores não acarreta a perda
do poder familiar por aquele que não a detiver, assim como “obriga o
genitor não guardião a supervisionar os interesses do filho (CC 1.583
§ 3º). Também lhe é concedido o direito de fiscalizar sua manutenção
6
e educação (CC 1.589)”.

É possível então concluir que a circunstância de não deter a guarda


do menor não pode excluir o outro genitor do exercício do poder
familiar.

Diante de todo o exposto, vale ressaltar que o direito à convivência


com a criança por ambos os pais não é um direito subjetivo do menor
e de seus pais, mas sim direito fundamental dos envolvidos, constante
nos princípios estatuídos no artigo 227 da Carta Magna.

5
WALD, Arnold. O Novo Direito de Família. 14ª edição revista e atualizada. São Paulo: Saraiva,
2002, pg. 173.
6
WELTER, Pedro Belmiro. Guarda Compartilhada: um jeito de conviver e ser-em-família.
Guarda Compartilhada. Coordenadores: COLTRO, Antônio Carlos Mathias e DELGADO, Mário
Luiz. São Paulo: Método; 2009; pg. 62.

GUARDA COMPARTILHADA
Sobre a guarda Maria Berenice Dias nos ensina:
“A expressão guarda, por veicular um significante muito mais de objeto
do que de sujeito, tende a desaparecer. Atualmente, de modo muito
mais adequado, fala-se em convivência familiar” 7.

Maria Helena Diniz salienta que a guarda “é um conjunto de relações


jurídicas existentes entre o genitor e o filho menor, decorrentes do fato
de estar sob o seu poder e companhia, assumindo a responsabilidade
de sua criação, educação e vigilância, cabendo-lhe decidir sobre a
educação do menor, sua formação religiosa, competindo ao outro
genitor, que não a possui, o direito de visita e o de fiscalizar a criação
do filho, não tendo poder decisório” 8.

A lei define guarda unilateral (CC 1.583 § 1.º): é a atribuída a um só


dos genitores ou a alguém que o substitua. A guarda exclusiva a um
dos genitores decorre: do consenso de ambos (CC 1.584, I) ou quando
um dos genitores declarar ao juiz que não deseja a guarda
compartilhada (CC 1.584 § 2.º).

Claramente a preferência é pela guarda compartilhada. E,


encontrando-se ambos os genitores aptos a exercer o poder familiar, é
aplicada a guarda compartilhada (CC 1.584 § 2.º).

7
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 14ª ed. Ed. Juspodivm, 2020.
8
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro. Direito de Família. 38 ed. Ed. Saraiva,
2021.

Segundo Grisard Filho: O instituto da guarda compartilhada, como já


se disse, visa a “atenuar o impacto negativo que a ruptura conjugal
tem sobre o relacionamento entre pais e filhos” 9 .

Da mesma forma que a guarda unilateral, a modalidade


compartilhada de guarda deverá ser fixada nos termos dos incisos
do artigo 1.584 do Código Civil de 2002, podendo ser aplicada
inclusive nos casos em que não há acordo entre os genitores.

Não só a doutrina como também a jurisprudência entendem que esta


é a melhor forma de proteger os interesses do menor, de modo a
tornar a separação de seus genitores um evento menos gravoso para
o menor envolvido.
Conforme Baptista:
“A preferência do legislador por esta modalidade de guarda também
pode ser atribuída, portanto, à maior garantia do efetivo exercício do
poder parental pelos genitores. Como bem definido pela doutrina, os
fundamentos da guarda compartilhada são de ordem constitucional e
psicológica, visando basicamente garantir o interesse do menor” 10.
Com a aplicação desta forma de guarda, o genitor que não vive sob o
mesmo teto de seu descendente tem assegurado o livre exercício do
poder parental a ele atribuído - ainda que nunca o perca de fato -
participando, assim, de maneira muito mais efetiva na vida de seu
filho.
Segundo Rosa Maria de Andrade Nery:

9
Waldyr Grisard Filho. Guarda compartilhada. 5. ed. São Paulo: Ed. RT, 2010. p. 132.
10
BAPTISTA, Silvio Neves. Guarda Compartilhada. Editora Edições Bagaço; 2011; pg. 35.

”É necessário indagar-se as peculiaridades do estatuto de cada


casal: (a) se há pacto antenupcial, quais são os termos nele fixados
pelo casal, quanto ao sustento da prole durante a constância da
sociedade conjugal e depois de seu término; (b) se há contrato de
convivência, igualmente, devem ser obedecidas as regras nele
estatuídas; (c) se os cônjuges têm recursos distintos, podendo um
oferecer para os filhos condições muito melhores do que o outro, a
fixação de pensão deve levar em conta a pauta das necessidades
dos filhos e das possibilidades dos pais, cada qual de acordo com o
patrimônio de que são titulares e dos salários e rendas que auferem.
Tudo isso, evidentemente, levando-se em conta, sempre,
imprescindivelmente, o princípio do melhor interesse dos filhos” 11.

A sua verdadeira finalidade é possibilitar, aos pais que não mais


convivem com os seus filhos, a manutenção dos vínculos afetivos,
mesmo após a ruptura da relação conjugal.

GUARDA ALTERNADA
Tal modalidade de guarda não foi positivada em nossa legislação civil,
considerando-se a adoção do sistema dual pelo legislador, conforme
possível se extrair do artigo 1.583 do Código Civil de 2002.

Apesar de não encontrar respaldo na legislação brasileira, devemos


citá-la haja vista que é moderadamente adotada apenas em casos
pontuais e, mais importante, comumente confundida com a guarda
compartilhada no Brasil:

11
NERY, Rosa Maria de Andrade. Manual de Direito Civil. Ed. RT, 2014.

Para entender a guarda alternada, podemos citar a definição trazida


por Waldyr Grisard Filho, que a entende da seguinte forma:

“A guarda alternada caracteriza-se pela possibilidade de cada um dos


pais de ter a guarda do filho alternadamente, segundo um ritmo de
tempo que pode ser um ano escolher, um mês, uma semana, uma
parte da semana, ou uma repartição organizada dia a dia e,
consequentemente, durante esse período de deter, de forma
exclusiva, a totalidade dos poderes-deveres que integram o poder
paternal. No termo do período os papéis invertem-se”12 .

Consequentemente, esta modalidade propõe que o tempo da criança


seja igualmente dividido entre seus genitores, alternando-se entre a
residência paterna e a materna, em espaços de tempo pré-
determinados, que poderiam ser eleitos pelos genitores de acordo
com sua vontade (quinzenal, mensal, semestral ou anual).

Segundo Waldyr Grisard Filho : Desta maneira, apesar de a guarda


não ser de apenas um o tempo todo, também não é compartilhada
entre os genitores, detendo apenas um deles, em determinado tempo,
a guarda total e unilateral do filho que se encontra sob seu
poder.Portanto, o genitor que detenha a guarda alternada é no espaço
de tempo em que a exerce titular integral do poder familiar e dos
direitos e deveres que o compõem. Existe assim, uma alternância na
titularidade da guarda.13

12
Waldyr Grisard Filho. Guarda compartilhada. 5. ed. São Paulo: Ed. RT, 2010. p. 140.
13
Ibidem.

Esta modalidade ainda contempla uma forma diferente para sua


adoção, que, visando amenizar a ansiedade da criança com a
constante mudança entre as residências de seus genitores, possibilita
que as crianças continuem morando sempre na mesma casa,
mantendo assim a rotina com a qual estão acostumadas.

GUARDA NIDAL
Na guarda nidal, a criança permanece no mesmo local onde era criada
antes do divórcio dos pais, devendo estes alternarem o lugar em que
moram.
Uma das vantagens do estabelecimento dessa modalidade é que a
criança não precisará alterar entre as residências paterna e materna.
Segundo Alvarenga:
“É uma modalidade segundo a qual os filhos permanecem em casa fixa
e quem se muda para ela em determinados períodos são os pais. É um
tipo raro, devido a uma serie de inconvenientes, entre eles a
necessidade de três residências, ou seja, uma para os filhos que
permanecem em residência fixa e uma para cada um dos pais” 14.
.
Este modelo de guarda não possui previsão expressa na legislação
civil brasileira, mas é reconhecida pela doutrina.
De qualquer forma, a sua raridade de concessão é baseada nos
rearranjos familiares distintos que ela necessita, além de uma evolução
no comportamento humano dos pais, que necessitam colocar os
interesses dos filhos acima de qualquer outro.

14
ALVARENGA, Altair Resende de; CLARISMAR, Juliano.Sistemas de Guarda no Direito
Brasileiro. Revista do Curso de Direito do UFMG.

O direito à convivência familiar é reconhecido constitucionalmente (art.


227), e assegurado, no plano infraconstitucional, pelo art. 19 do ECA.
Todos os filhos devem ser tratados de forma igual, sendo havidos no
casamento ou fora dele, ou adotados. A igualdade, aqui, é um princípio
da proteção da criança e do adolescente.
A igualdade de tratamento está prevista no art. 20 do ECA e tem por
finalidade evitar o que ocorria em épocas passadas ainda que
recentes, em que o filho havido fora do casamento era enjeitado, e
comumente chamado de bastardo.
Como afirmam Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, “ser
filho de alguém independe de vínculo conjugal válido, união estável,
concubinato ou mesmo relacionamento amoroso adulterino, devendo
todos os filhos ser tratados da mesma forma” 15.
A positivação desse princípio é importante para lhe dar destaque. À luz
de uma Constituição que traz a isonomia como garantia fundamental
(art. 5º, caput) e a dignidade da pessoa humana como fundamento (art.
1º, III).
O Código Civil também trata da questão do poder familiar nos arts.
1630 e 1631.
Para Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho: “Do poder
familiar atribuído aos pais decorre deveres. Assim, na forma do
disposto no art. 22 do ECA, “aos pais incumbe o dever de sustento,
guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no

15
GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil, 2ª ed, Saraiva,
2018.

interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as


determinações judiciais”.16
Em razão do poder familiar, cabe os pais cuidarem de seus filhos
menores dando-lhes sustento para que possam se desenvolver de uma
maneira sadia.
Tendo vista que o poder familiar não desaparece com o divórcio ou a
dissolução da união estável (Código Civil, art. 1632), os pais continuam
responsáveis pelo sustento e educação mesmo após o desfazimento
do laço matrimonial. Isso vale para qualquer dos pais que contrair
novas núpcias ou união estável (Código Civil, art. 1636).17

Trata-se de um transtorno psicológico pelo qual um genitor, modifica a


consciência de seu filho, por meio de estratégias com o objetivo de
impedir, obstaculizar ou destruir seus vínculos com o outro genitor.
Para Maria Berenice Dias, “a Síndrome de Alienação Parental pode ser
chamada de implantação de falsas memórias, pois o alienador passa a
incutir no filho falsas ideias sobre o outro genitor, implantando por
definitivo as falsas memórias”.18
O conceito legal da Síndrome de Alienação Parental é disposto no art.
2.º da Lei 12.318, de 2010, no qual é definido: “Considera-se ato de
alienação parental a interferência na formação psicológica da criança
ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos

16
Ibidem
17
Ibidem
18
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 4. ed. São Paulo: RT, 2007.

avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua


autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause
prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este”.
A Lei da Alienação Parental exemplifica alguns sintomas da
síndrome:“Art. 2.º [...] Parágrafo único. São formas exemplificativas de
alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou
constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de
terceiros: I – realizar campanha de desqualificação da conduta do
genitor no exercício da paternidade ou maternidade; II – dificultar o
exercício da autoridade parental; III – dificultar contato de criança ou
adolescente com genitor; IV – dificultar o exercício do direito
regulamentado de convivência familiar; V – omitir deliberadamente a
genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou
adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; VI
– apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou
contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança
ou adolescente; VII – mudar o domicílio para local distante, sem
justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou
adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós”
Segundo Andréia Calçada, “ o genitor alienador é tido como um
produto do sistema ilusório, onde todo seu ver se orienta para a
destruição da relação dos filhos com o outro genitor. Em sua deturpada
visão, o controle total dos seus filhos é uma questão de vida ou morte.
O genitor alienador não é capaz de individualizar, de reconhecer em
seus filhos seres humanos separados de si. Muitas vezes, é um
sociopata, sem consciência moral. É incapaz de ver a situação de outro

ângulo que não o seu, especialmente sob o ângulo dos filhos. Não
distingue a diferença entre dizer a verdade e mentir”.19
A prática da alienação parental comumente está associada a uma
modificação na familia, quer pelo casamento do genitor ou o ingresso
de ação revisional de alimentos ou o período de convivência.
A modificação da situação em que se encontra o contexto familiar
geralmente está associada ao início da prática da alienação parental.
Para Douglas Philip Freitas: “A Lei da Alienação Parental segue a linha
adotada pela recente produção jurídica familista, que é a do
reconhecimento da inabilidade dos operadores jurídicos em tratar todas
as questões correlatas ao direito de família. Logo, a presença e
atuação da equipe multidisciplinar torna-se cada vez mais salutar e
imprescindível para a formação do convencimento do juiz e a resolução
do litígio”.20
A Lei da Alienação Parental é um dos maiores avanços jurídicos
familistas recentes, porém tem sido utilizada de forma indevida, por
vezes, para prejudicar genitores que não praticam a alienação.
ALIENAÇÃO PARENTAL BILATERAL
A prática da alienação parental, não raras vezes, é promovida por
ambos os genitores, ou por aqueles que exercem a função de guarda
do menor.
Em situações dessa natureza, as soluções para resolução ou
minoração dos efeitos da alienação parental tornam-se virtualmente
impossíveis.

19
CALÇADA, Andréia. Falsas acusações de abuso sexual e a implantação de falsas memórias.
São Paulo: Equilíbrio, 2008.
20
FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010 4ª ed. rev., atual.
e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2015.

Geralmente, crianças que sofrem alienação parental bilateral


desenvolvem transtornos psicológicos severíssimos.
A doutrinadora Lenita Pacheco Lemos Duarte assevera muito bem
estas consequências “ admoesta a necessidade de terapia não só da
criança, mas também dos pais e dos demais envolvidos, como no caso
por ela indicado, havia o envolvimento e a prática alienatória, além do
pai e da mãe, da avó”.21
Nesses casos, as ferramentas apresentadas pelo direito e a simples
fixação de períodos de convivência tornam-se inócuos, pois ambos os
genitores praticam a alienação parental. É necessário tratamento dos
pais.

Projeto de Lei 7.352/2017 ( Alteração da Lei da Alienação Parental )


Entre as medidas propostas será proibido ao juiz conceder alteração da
guarda ou determinar guarda compartilhada que favoreça genitor
investigado ou com processo em andamento pela prática de crime
contra a criança ou o adolescente ou violência doméstica.22

Atualmente, a norma permite ao juiz pedir perícia psicológica ou


biopsicossocial se houver indício da prática de alienação parental e
tomar decisões para evitar essa alienação. De acordo com o
substitutivo aprovado, o acompanhamento psicológico e/ou
biopsicossocial deve ser submetido a avaliações periódicas, com laudo

21
DUARTE, Lenita Pacheco Lemos. A angústia das crianças diante dos desenlaces parentais.
Edição especial. Rio de Janeiro: Ed Lumen Juris, 2013.
22
ALMEIDA, Amanda Silveira de. Revogação da lei da alienação parental e o retrocesso para o
Direito de Família . https://www.migalhas.com.br/depeso/351562/a-revogacao-da-lei-da-alienacao-
parental.

inicial de avaliação do caso, indicando a metodologia de tratamento, e


laudo final ao término do acompanhamento.

A proposta também inclui artigo na lei para deixar claro que ela não se
aplica a favor do genitor que estiver sendo parte na tramitação de
inquéritos e processos relativos à violência física, psicológica ou sexual
contra criança e adolescente, ou mesmo de violência doméstica ou
sexual. O texto ainda acrescenta o abandono afetivo por aquele que se
omitir de suas obrigações parentais entre as situações exemplificativas
do que é alienação parental.23

Projeto de Lei 6.371/2019 ( Revogação da Lei da Alienação


Parental)
A autora da proposta, deputada Iracema Portella (PP-PI), explica que
muitos especialistas e membros das comunidades jurídica e científica
alegam que essa lei tem servido, em grande medida, como instrumento
para que pais que abusaram sexualmente dos seus filhos possam
exigir a manutenção da convivência com estas crianças, inclusive as
retirando da presença das mães.24
Portella detalha ainda que a denúncia de abuso sexual vem, muitas
vezes, desacompanhada de vestígios físicos, especialmente quando as
vítimas são crianças ou adolescentes, visto que os abusadores
costumam praticar atos libidinosos com penetração de digital,

23
Ibidem.
24
Agência Câmara de Notícias Acesso através
https://www.camara.leg.br/noticias/631131-projeto-revoga-a-lei-de-alienacao-
parental/

manipulação das partes íntimas e sexo oral, sendo estas práticas


perversas de difícil comprovação judicial.
“Nem sempre, mediante perícia e outros meios, consegue-se extrair a
prova necessária do abuso praticado. O denunciante passa a ser
considerado alienante à vista de ter apresentado denúncia não
comprovada contra o genitor abusador (tida como falsa para obstar ou
dificultar a convivência dele com a criança ou adolescente) e este
consegue a manutenção da convivência com o filho menor, passando,
por vezes, a repetir com o menor os mesmos abusos já praticados”,
lamenta a parlamentar.25

A CF, nos termos do artigo 225, § 1º, VII, dispõe sobre o direito animal
ao tratar do direito ao meio ambiente.
A Carta Magna dispõe que todos tem o direito de um meio ambiente
ecologicamente equilibrado, sendo este, um bem de uso comum do
povo e imprescindível à boa qualidade e saúde de vida.
São considerados seres sencientes os animais em geral, e em
especial, os animais de estimação.

Thomas Nosch Gonçalves destaca que “o casamento tem deixado de


ser apenas um instrumento de reprodução, a família matrimonializada
não existe mais. Então hoje existe toda uma situação progressista no
sentido de que a família feliz não é aquela que necessariamente tem

25
Ibidem.

fins biológicos. A ideia é da felicidade como um todo, o que inclui os


animais de estimação”.26
Desta maneira, ele defende a guarda de animais em lavratura por es-
critura pública na dissolução da união estável ou do divórcio. “Existem
dados afirmando que todos os anos crescem esses arranjos de famílias
multiespécie e das famílias substituindo eventuais filhos biológicos ou
adotivos.27
Em casos de divórcio o cônjuge estabelece vínculos com o animal e
um rompimento pode trazer um abalo tanto para a pessoa e para o
pet.
Então, embora não tenhamos legislação específica sobre a guarda
compartilhada de animais de estimação, os nossos Tribunais
caminham para este entendimento, resguardando o direito dos
animais e de seus donos.

Constituição Federal – arts. 225, 227.


Código Civil – arts. 1.583 à 1.590 , 1.596, 1.630 a 1638.
ECA (Lei 8069/90) – art. 19, 33
Lei 12.318/2010

PROCESSO

26
Disponível em https://cnbmg.org.br/familia-multiespecie-e-a-guarda-de-animais-sencientes-em-
divorcio-extrajudicial-e-tema-de-artigo-do-ibdfam/
27
Ibidem.

AgInt no CC 175997 / ES
AGRAVO INTERNO NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA
2020/0299395-3
RELATOR(A)
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO (1144)
ÓRGÃO JULGADOR
S2 - SEGUNDA SEÇÃO
DATA DO JULGAMENTO
27/10/2021
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 05/11/2021
EMENTA
AGRAVO INTERNO NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA. DIREITO
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DE FAMÍLIA. UNIÃO ESTÁ-
VEL, GUARDA DOS FILHOS E DIREITO DE VISITA.
1. Agravo interno interposto no curso do conflito de competência susci-
tado pelo convivente (ora agravado) para definição do juízo competente
(Comarca de Guarapari - ES - ou Manhuaçu - MG) para processar e
julgar as demandas envolvendo o casal (declaração de união está-
vel, guarda das filhas e direito de visita).
2. As duas filhas do casal, nascidas em 2013 e 2015, estão
na guarda provisória do convivente na Cidade de Guarapari, desde o
rompimento da união estável.
3. Aplicação dos princípio do melhor interesse da criança, nos termos
do art. 147, I, do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº
8.069/1990), e da Súmula 383/STJ ("A competência para processar e
julgar as ações conexas de interesse de menor é, em princípio, do foro
do domicílio do detentor de sua guarda").
4. Competência fixada no juízo da Comarca de Guarapari, onde exer-

cida a guarda provisória das filhas pelo convivente. Precedentes da


Segunda Seção.
5. Rejeição da arguição de suspeição do Subprocurador-Geral da Re-
pública formulada pela agravante.
6. Manutenção da decisão monocrática agravada, com fixação da
competência no juízo da Comarca de Guarapari.
7. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.

PROCESSO
AgInt nos EDcl no REsp 1857050 / SP
AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RE-
CURSO ESPECIAL
2020/0005882-0
RELATOR(A)
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO (1140)
ÓRGÃO JULGADOR
T4 - QUARTA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
23/08/2021
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 26/08/2021
EMENTA
AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RE-
CURSO ESPECIAL.AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA DETER-
MINAÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS EM FAVOR DO GENITOR
ALIMENTANTE. GUARDA COMPARTILHADA.
1. À luz do disposto no § 5º do artigo 1.583 do Código Civil ?
incluído pela Lei 13.058/2014 ?, "a guarda unilateral obriga o pai ou a
mãe que não a detenha a supervisionar os interesses dos filhos, e, pa-

ra possibilitar tal supervisão, qualquer dos genitores sempre será parte


legítima para solicitar informações e/ou prestação de contas, objetivas
ou subjetivas, em assuntos ou situações que direta ou indiretamente
afetem a saúde física e psicológica e a educação de seus filhos".
2. Tal norma positivou a viabilidade da propositura de ação de exigir
contas de verba alimentar, cujo propósito não reside em apurar um
saldo devedor a ensejar eventual execução (dada a irrepetibilidade dos
valores pagos a esse título), mas sim o exercício do direito-dever ? da-
quele que não detém a guarda ? de fiscalização da aplicação dos re-
cursos destinados ao menor, o que poderá dar azo, caso comprovada
a má administração da pensão alimentícia, a um pedido de alteração
da guarda ou a um futuro processo para suspensão ou extinção do
poder familiar do ascendente guardião (REsp 1.911.030/PR, Relator
Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 01.06.2021,
pendente de publicação).
3. O manejo da citada ação ? que deve seguir o rito ordinário ?
reclama a existência de guarda unilateral que inviabilize (ou dificulte) a
ciência do alimentante sobre as reais necessidades materiais e imate-
riais do alimentando e o exclusivo intento de proteção do bem estar do
menor, vedando-se "eventual acertamento de contas, perseguições ou
picuinhas com a(o) guardiã(ão)", bem como a "apuração de créditos ou
a preparação de revisional" (REsp 1.814.639/RS, Relator Ministro Pau-
lo de Tarso Sanseverino, Relator para Acórdão Ministro Moura Ribeiro,
Terceira Turma, julgado em 26.05.2020, DJe 09.06.2020).
4. Na hipótese dos autos, a guarda exercida pelos genitores é compar-
tilhada, tendo ambos, portanto, convivência cotidiana (habitual) com o
menor. Outrossim, na inicial, o autor não apontou nenhum fato indicati-
vo de danos à educação e à saúde física ou psicológica da criança ?
que conta, atualmente, com cinco anos de idade ?, mas apenas a re-

cusa da mãe em matriculá-la em escola de maior custo. Por outro lado,


mostrou-se contrariado com as boas condições da moradia da ré (que
exerce a atividade profissional de terapeuta ocupacional), a aquisi-
ção de veículo automotor, a utilização de roupas e acessórios (supos-
tamente de marcas luxuosas) e a realização de tratamentos estéti-
cos de beleza.
5. Nesse contexto, a pretensão formulada na inicial não se enquadra
na hipótese prevista no § 5º do artigo 1.583 do Código Civil, revelando-
se, portanto, manifesta a carência da ação de exigir contas, ante a ina-
dequação da via eleita.
6. Agravo interno não provido.

PROCESSO
REsp 1931097 / SP
RECURSO ESPECIAL
2021/0100550-2
RELATOR(A)
Ministra NANCY ANDRIGHI (1118)
ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
10/08/2021
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 16/08/2021
EMENTA
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO DE
GUARDA. PREVENÇÃO. HABEAS CORPUS RECEBIDO COMO TU-
TELA PROVISÓRIA ANTECEDENTE. DECISÃO PRECLUSA. INCI-
DENTE APTO A GERAR A PREVENÇÃO.INCIDENTE PREVISTO NO

ART. 71 DO RISTJ. JULGAMENTO DE APELAÇÃO PELO TRIBU-


NAL DE JUSTIÇA. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DA PARTE SOBRE A
INCLUSÃO DO PROCESSO EM PAUTA. INVIABILIZA-
ÇÃO DE SUSTENTAÇÃO ORAL. NULIDADE. JURISPRUDÊNCIA
PACÍFICA DO STJ. CONVALIDAÇÃO PELA REPUBLICAÇÃO DO
ACÓRDÃO QUE JULGOU A APELAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. NOR-
MA COGENTE. VIOLAÇÃO AO CONTRADITÓRIO, À AMPLA DEFE-
SA E AO DEVIDO PROCESSO LEGAL. FATO NOVO POTENCIAL-
MENTE RELEVANTE NOTICIADO NA PRIMEIRA OPORTUNIDADE
APÓS A REGULARIZAÇÃO DAS INTIMAÇÕES DA PARTE. IMPOS-
SIBILIDADE DE EXAME DA QUESTÃO NO RECURSO ESPECIAL.
DETERMINAÇÃO DE ATIVIDADE INSTRUTÓRIA COMPLEMENTAR
ANTES DO REJULGAMENTO DA APELAÇÃO. POSSIBILIDADE.
MEDIDA COMPATÍVEL COM A NULIFICAÇÃO DO JULGAMENTO.
SUPOSTA MANIFESTAÇÃO DE VONTADE DAS FILHAS ADOLES-
CENTES EM RESIDIR COM A GENITORA. CIRCUNSTÂNCIA FÁTICA
QUE DEVE SER CONSIDERADA NO REJULGAMENTO DA APELA-
ÇÃO. DISTANCIAMENTO TEMPORAL DOS ESTUDOS PSICOSSO-
CIAIS QUE BASEARAM AS DECISÕES DE MÉRITO. REALIZA-
ÇÃO DE NOVO ESTUDO PSICOSSOCIAL. NECESSIDADE.
1- Ação proposta em 04/12/2014. Recurso especial interposto em
19/12/2019 e atribuído à Relatora em 20/05/2021.
2- Os propósitos recursais consistem em definir: (i) se é nulo o acórdão
que julgou a apelação em virtude de o patrono de uma das partes não
ter sido intimado previamente da sessão de julgamento;
(ii) se, ausente o consenso entre os pais acerca da guarda, devem ser
levadas em consideração as manifestações de vontade externadas pe-
las filhas adolescentes.
3- Recebido o habeas corpus anteriormente impetrado pela parte como

pedido de tutela de provisória antecedente, por se vislumbrar que a


pretensão era de atribuição de efeito suspensivo a recurso especial,
em decisão acobertada pela preclusão, descabe impugnar a distribui-
ção do próprio recurso especial por prevenção, pois o art. 71 do RISTJ
dispõe que a prévia distribuição de incidente torna preventa a compe-
tência do relator para todos os feitos posteriores referentes ao mesmo
processo.
4- É nulo o julgamento de recurso perante o Tribunal na hipótese em
que uma das partes, após regularizar a sua representação processual,
não foi previamente intimada da inclusão do processo em pauta e, em
razão disso, teve suprimido o seu direito de sustentar oralmente as ra-
zões recursais. Precedentes de todas as Turmas do Superior Tribu-
nal de Justiça.
5- O vício decorrente da ausência de intimação do patrono da parte pa-
ra a sessão de julgamento e, consequentemente, da inviabiliza-
ção de sua sustentação oral em hipótese prevista em lei não é mera
formalidade dispensável e não é suscetível de convalidação pela sim-
ples republicação do acórdão com a correta intimação, mas, ao revés,
é dever dos julgadores, imposto de forma cogente a todos os Tribunais,
em observância aos princípios constitucionais do contraditório, da am-
pla defesa e do devido processo legal.
6- Se a parte, na primeira oportunidade que tiver de falar nos autos
após a regularização das suas intimações, alega a existência de fato
novo potencialmente relevante e apto a influenciar o julgamento da
apelação, consubstanciado na suposta e posterior manifesta-
ção de vontade das adolescentes em residir com a genitora, é admissí-
vel que esta Corte, além de nulificar o julgamento realizado sem a re-
gular intimação da parte, também determine a realização de atividade
instrutória suplementar, a fim de que seja apurada a existência do fato

novo noticiado e a atual aptidão dos pais para o exercício


da guarda, sobretudo na hipótese em que as decisões de mérito se
basearam em estudos psicossociais realizados em momento tempo-
ralmente distante do atual.
7- Recurso especial conhecido e provido, a fim de: (i) anular todos os
atos processuais após a juntada da procuração da recorrente; (ii) de-
terminar que seja realizada atividade instrutória complementar, reali-
zando-se novo estudo psicossocial para apurar a existência do alegado
fato novo e a atual aptidão dos pais para o exercício
da guarda unilateral.
8- Prejudicado o exame dos recursos interpostos pelo recorrido na TP
2.507/SP, mantida a tutela provisória deferida até a conclusão do estu-
do psicossocial e rejulgamento da apelação interposta.

- LOBO, Paulo Luiz Netto . Famílias. 11ª ed. São Paulo. Saraiva, 2021
MADALENO, Rolf. Manual de direito de família – 4. ed. – Rio de Janei-
ro: Forense, 2022.
- MALUF, Carlos Alberto Dabus. Curso de Direito de Família. Sarai-
va.2018.
- MARZAGÃO, Silvia Felipe. XAVIER, Marília Pedroso. NEVARES, Ana
Luiza Maia. Coronavírus. Impactos no Direito de Família e das Suces-
sões, Ed. Foco, 2020.
- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Su-
cessões. São Paulo, Ed. Saraiva. 2018.
- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Divórcio. São Paulo, 5º Ed. Saraiva.
2016.

.
ALBUQUERQUE, Anderson. Guarda Unilateral. Em que casos pode
ser concedida.
https://www.andersonalbuquerque.com.br/artigo&conteudo=guarda-
unilateral-em-que-casos-ela-pode-ser-
concedida?url=artigo&conteudo=guarda-unilateral-em-que-casos-ela-
pode-ser-concedida
Acesso em 15/05/2022

FIGUEIREDO, Bruno. A guarda compartilhada.


https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/11626/A-guarda-
compartilhada. Acesso em 15/05/2022.

LISITA, Kelly Moreira Oliveira. Direito das Famílias e a Guarda de


Pessoa Menor.
https://ibdfam.org.br/index.php/artigos/1637/Direito+das+Fam%C3%AD
lia+e+a+Guarda+de+Pessoa+Menor. Acesso em 15/05/2022.

PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Novas concepções para a gaurda de


filhos. https://www.conjur.com.br/2021-fev-28/processo-familiar-novas-
concepcoes-guarda-filhos. Acesso em 15/05/2022

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ministradas pelo(s) professor(es), finalize o seu aprendizado efetuando
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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

MÓDULO: DIREITO DE FAMÍLIA I

TEMA: FILIAÇÃO. FORMAS DE SEU RECONHECIMENTO. VOLUNTÁRIA E


FORÇADA. NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. TUTELAS DE PROTEÇÃO.

A filiação é o vínculo de parentesco que se estabelece entre pais e


filhos, sendo designada, do ponto de vista dos pais, como relação de
paternidade e maternidade.
O art. 227, § 6º, da nossa CF estabelece a absoluta igualdade de
direitos entre os filhos, desvinculando-os da situação conjugal dos pais,
além de vedar qualquer discriminação .
O nosso CC menciona em seu artigo 1.596, o princípio da igualdade da
filiação, ao prescrever terem todos os filhos, havidos ou não da relação
de casamento, ou por adoção, os mesmos direitos e qualificações.
Para Gustavo Tepedino e Ana Carolina Brochardo Teixeira: “A
atribuição do status de filho pode se dar de diversas maneiras: a) por
meio do estabelecimento de presunções; b) mediante reconhecimento
voluntário; c) mediante reconhecimento judicial, que ocorre por meio
das ações de estado. Nesse contexto, faz-se necessário seu estudo,
além de aprofundar em cada uma das formas de reconhecimento,

voluntário ou judicial, o que passa pela análise das filiações presumida,


biológica e socioafetiva”.1
A paternidade decorrente de relação matrimonial se prova pela simples
demonstração do estado de casado. Prevalece aqui a presunção de
paternidade do marido.
Filiação Jurídica
A filiação jurídica pode ser natural ou por outra origem, como a
adoção, reprodução assistida heteróloga ou socioafetiva, conforme o
nosso CC, no art. 1.593, ao dispor que o parentesco civil ocorre por
outra origem e não apenas pela adoção.
A filiação natural ou biológica tem origem na consanguinidade,
estabelecendo-se a filiação pelos laços de sangue entre pais e filhos.
Conforme o Prof. Vitor Frederico Kümpel:
“Em regra, portanto a mãe é aquela que gesta e dá a luz a criança, na
medida em que os fenômenos da fecundação, gestação e parto
tendem a nadar juntos. No entanto, o registrador não preside o parto,
motivo pelo qual, a priori, não sabe, de antemão, quem de fato deu a
luz à criança. É justamente por isso que a Declaração de Nascido Vivo
adquire especial importância na determinação da maternidade: sendo o
documento lavrado na ocasião do nascimento, por quem o presenciou,
tem por efeito provar o fato do nascimento, mas também atribuir
determinado nascido vivo à respectiva parturiente, presumidamente
mãe da criança. Portanto é por meio da Declaração de Nascido Vivo
que o registrador civil qualifica a maternidade do registrando” 2.

1
TEPEDINO, Gustavo. TEIXEIRA, Ana Carolina Brochardo . Fundamentos do direito civil: direito
de família. – 3. ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2022.
2
KÜMPEL, Vitor Frederico et al. Tratado Notarial e Registral Vol. II, 1ª edição. São Paulo: YK
editora, 2017, p.584.

O art. 1.597 estabelece os casos de presunção de paternidade dos


filhos concebidos na constância do casamento. Assim, o CC prevê dois
critérios: um temporal e o outro decorrente do Biodireito.
O critério temporal estabeleceu o período mínimo de gravidez de 180
dias e o período máximo de gestação de 300 dias.
O segundo critério para a determinação da presunção pater is remete
ao biodireito, tem em vista as inovações tecnológicas que permitem a
reprodução assistida.
Conforme Carlos Alberto Dabus Maluf: “Com base no art. 1.597, inciso
III, presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos
havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o
marido. Já o inciso IV prevê que os filhos havidos, a qualquer tempo,
quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de
concepção artificial homóloga e no inciso V os filhos havidos por
inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização
do marido”.3
O nosso CC tentou acompanhar a evolução da medicina genética e
regula parcialmente a reprodução assistida homóloga, que também
configura filiação biológica e a heteróloga, uma das espécies de
filiação por outra origem.
De acordo com Paulo Lôbo: “a paternidade biológica presume o estado
de filiação, dessa forma a investigação da origem biológica é essencial
para a atribuição da paternidade ou maternidade. Entretanto, nos casos
em que o estado de filiação não-biológica já está devidamente
comprovado que foi constituído na convivência familiar duradoura, a

3
MALUF, Carlos Alberto Dabus et al. Curso de Direito de Família, 4ª edição, Ed. Saraiva, São
Paulo, 2021.

origem biológica não prevalecerá, pois esta não se pode contrapor ao


estado de filiação já consolidado (art. 227, CF/88) “4.
A reprodução assistida e a filiação
O art. 1.597 do CC menciona acerca da fecundação artificial homóloga
e heteróloga e inclusive realizada após a morte do doador.

Para Conforme Carlos Alberto Dabus Maluf: “ Na fecundação homóloga


considera-se por presunção filho do marido, mesmo após a sua morte,
com o congelamento de seu sêmen. (incisos III e IV do referido artigo)
e na fecundação heteróloga, presume-se a filiação do marido, em
razão de seu consentimento prévio (inciso V do art. 1.597 do CC)”.5

Continua ainda Conforme Carlos Alberto Dabus Maluf : “O art. 1.597,


em seu art. IV do CC prevê a presunção de paternidade do filho
nascido a qualquer tempo, no caso de embriões excedentários de
inseminação artificial homóloga. Cumpre ressaltar, que há conflito
entre o artigo e a Lei 11.105/2005, eis que menciona o prazo de 03
anos para a utilização do referido embrião.6

A lei 11.105/2005 menciona no seu art. 5º sobre os destinos dos


embriões não implantados.
De outra parte, o art. 1.799 I, do CC, podem ainda ser chamados a
suceder os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo
testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão.
Para Carlos Alberto Dabus Maluf:

4
LÔBO, Paulo Luiz Neto. Direito Civil: Famílias. 11ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2021.
5
MALUF, Carlos Alberto Dabus et al. Curso de Direito de Família, 3ª edição, Ed. Saraiva, São
Paulo, 2018.
6
Ibidem

“Em face dos princípios constitucionais que regem a igualdade dos


filhos e do direito ao planejamento familiar, entendemos que fere a
Carta Magna impor ao filho gerado pela reprodução artificial post
mortem o direito único à sucessão testamentária” 7.
Outra questão muita debatida é a necessidade da declaração de
vontade do doador na utilização do material genético após a sua morte.
O consentimento das partes é fundamental, pois a reprodução é um
direito personalíssimo.
Já com relação ao estado da mulher ao se submeter a reprodução
assistida com relação ao material genético do falecido, o enunciado
106 do CJF estabeleceu: “Para que seja presumida a paternidade do
marido falecido, será obrigatório que a mulher, ao se submeter a uma
das técnicas de reprodução assistida com o material genético do
falecido, esteja na condição de viúva, sendo obrigatória, ainda, a
autorização escrita do marido para que se utilize seu material genético
após sua morte”. 8
Cumpre ressaltar, que a Resolução CFM nº 2.168/2017 garante o
anonimato do doador de gametas ou embriões, não havendo relação
parental entre o doador e o filho gerado.
Conforme Mariana Chaves: “O Brasil, entretanto, vem deixando a
regulação da matéria da procriação medicamente assistida (PMA) a
cargo da deontologia médica. Não parece ser a decisão mais acertada.
Assim é necessário que seja criada legislação adequada a regular a
reprodução assistida, visando resguardar a liberdade, a dignidade da
pessoa humana e a pluralidade familiar.
Filiação Socioafetiva

7
MALUF, Carlos Alberto Dabus et al. Curso de Direito de Família, 4ª edição, Ed. Saraiva, São
Paulo, 2021.
8
Enunciado 106 do Centro de Estudos Judiciários do Conselho de Justiça Federal.

Para Dimas Messias de Carvalho: “A socioafetividade como espécie da


filiação, caracterizada pela convivência, afetividade e pela estabilidade
nas relações familiares é cada vez mais marcante na evolução do
direito de família, considerando a doutrina que a verdade real é o fato
de o filho gozar da posse do estado de filho, que prova o vínculo
parental civil de outra origem, atribuindo um papel secundário à
verdade biológica” 9.
A nova tendência da família moderna é a formação baseada na
afetividade, esta origina-se na convivência e reciprocidade de
sentimentos.
Paulo Lôbo afirma que: “O afeto não é fruto da biologia. Os laços de
afeto e de solidariedade derivam da convivência familiar e não do
sangue. A história do direito à filiação confunde-se com o destino do
patrimônio familiar, visceralmente ligado à consanguinidade legítima.
Por isso, é a história da lenta emancipação dos filhos, da redução
progressiva das desigualdades e do quantum despótico, na medida da
redução da patrimonialização dessas relações” 10.
Atualmente não é possível pensar na família sem a presença do afeto,
que impulsiona as relações familiares desenvolvidas no cuidado,
carinho, proteção e respeito, permitindo que o ser humano se torne
mais solidário.
Conforme Paulo Lôbo: “Toda paternidade é necessariamente
socioafetiva, podendo ter origem biológica ou não; ou seja, a
paternidade socioafetiva é gênero do qual são espécies a paternidade
biológica e a não-biológica. Tradicionalmente, a situação comum é a
presunção legal de que a criança nascida biologicamente dos pais que
vivem unidos em casamento adquire o status jurídico de filho.

9
CARVALHO, Dimas Messias de .Direito das Famílias. 8º ed.Saraiva, 2020.
10
LÔBO. Paulo Luiz Neto . Direito Civil: Famílias. 11ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2021.

Paternidade biológica aí seria igual a paternidade socioafetiva. Mas há


outras hipóteses de paternidade que não derivam do fato biológico,
quando este é sobrepujado por outros valores que o Direito considera
predominantes” 11.
A paternidade socioafetiva deriva do vínculo decorrente da relação
socioafetiva verificada entre pais e filhos, ou entre o filho e somente um
deles, que dispõe como fundamento o afeto, o sentimento presente
entre eles.

Reconhecimento Voluntário e Forçado


O reconhecimento da paternidade no Direito brasileiro é voluntário ou
compulsório, operando-se o modo espontâneo pelas formas expostas
pelo artigo 1.609 do Código Civil de 2002.
Conforme Para Gustavo Tepedino e Ana Carolina Brochardo Teixeira:
“Como prescreve o artigo 1.607 do Código Civil, os filhos havidos fora
do casamento devem ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou
separadamente, mas, para que o assento de nascimento contenha a
identificação do pai e da mãe, devem promover o registro em conjunto
ou separadamente, podendo ser feito esse reconhecimento
comparecendo diretamente no registro do nascimento (CC, art. 1.609,
inc. I); por escritura pública ou escrito particular, que fica arquivado em
cartório (CC, art. 1.609, inc. II); por testamento, ainda que
incidentalmente manifestado (CC, art. 1.609, inc. III); e por
manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o

11
Ibidem.

reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o


contém (CC, art. 1.609, inc. IV)”.
Assim, o reconhecimento do filho pode ser feito a qualquer tempo,
mesmo antes do seu nascimento, durante a vida deste ou até depois
de sua morte, com as ressalvas do parágrafo único do artigo 1.609 do
Código Civil.
É condição legal para o reconhecimento de filho maior de idade o
consentimento deste para a perfilhação.
A escritura pública ou escrito particular também é forma de
reconhecimento que pode ser feita diretamente pelo pai ou por meio de
procurador, constituído por poderes especiais.
A Lei 8.560/1992 introduziu no Brasil a averiguação oficiosa da
paternidade e conferiu legitimidade processual ativa ao Ministério
Público para proposição da ação de investigação de paternidade.
Para Gustavo Tepedino e Ana Carolina Brochardo Teixeira: “A ação de
investigação de paternidade é promovida em nome da instituição do
Ministério Público, atuando no polo ativo da relação jurídico-processual,
e não como mero representante do incapaz, como substituto
processual, a tanto autorizado pelo § 4º do artigo 2º da Lei
8.560/1992,82 nada impedindo a quem tenha legítimo interesse, como
no caso da genitora do menor, de também intentar a investigação com
o objetivo de obter o reconhecimento da paternidade (art. 2º, § 5º, da
Lei 8.560/1992)”.12
O reconhecimento forçado ou judicial decorre de uma sentença que é
resultado de uma ação de investigação de paternidade, esta declara

12
TEPEDINO, Gustavo. TEIXEIRA, Ana Carolina Brochardo . Fundamentos do direito civil: direito
de família. – 3. ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2022.

que o autor é filho do investigado, estando obrigado às imposições


legais.
A legitimidade ativa é do filho enquanto viver, posto que a ação é
imprescritível, passando aos herdeiros, se morrer menor ou incapaz.
Ajuizada a ação pelo filho, os herdeiros podem continuá-la, se o
investigante falecer no curso da lide, nos termos do art. 1606 do CC.
O reconhecimento no registro de nascimento, na forma do inciso I, do
art.1.609 do Código Civil é modo mais comum.
Nas palavras de Caio Mário:
“O reconhecimento por escritura pública ou documento particular
(inciso II do art. 1.609) pode ser realizado pelo pai diretamente, ou por
procurador investido de poderes especiais e expressos. A Lei facilita a
concessão do “status” ao filho, sem a necessidade da efetivação de ato
formal, ao autorizar o reconhecimento através de escrito particular a
ser arquivado em Cartório. Este, no entanto, deve conter os mesmos
requisitos reclamados para a escritura pública, trazendo a qualificação
do declarante, do filho, ou seja, é indispensável que seja possível
aquilatar que se busca estabelecer afiliação. A perfilhação deve ser o
objeto específico do escrito, a fim de se manter a segurança e
estabilidade. Admiti-la de modo incidente ou acessório, como se dá
com a escritura pública, é ensejar manobras”13 .

Silvio Rodrigues afirma: “O testamento cerrado, escrito pelo testador,


embora rompido, continua a ser documento de sua lavra. Se nele o
testador se atribui a paternidade de filho ilegítimo, este, com base em
tal papel, pode investigar com

13
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. Volume V: Forense, 2020.

Em 14 de agosto de 2019, a Corregedoria Geral de Justiça do CNJ


editou o Provimento n. 83/2019, que altera o anterior Provimento n.
63/2017, em especial quanto ao tratamento do reconhecimento
extrajudicial da parentalidade socioafetiva.
Trata-se de uma das principais modificações, pois a regra anterior não
limitava o reconhecimento extrajudicial quanto ao critério etário,
atingindo agora apenas os adolescentes, assim definidos pelo art. 1º da
Lei n. 8.069/1990 como as pessoas com idade entre 12 e 18 anos, e
adultos.

O art. 27 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe que: “O


reconhecimento de estado de filiação é direito personalíssimo,
indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou
seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de
justiça”.
Assim, o dispositivo é informado pela Constituição Federal que, tendo
como fundamento da República a dignidade da pessoa humana (art. 1º,
III), e molda toda a disciplina da filiação ao interesse maior da criança.
A tudo isso se somam os avanços científicos em matéria de genética,
descoberta da metodologia de impressões digitais de DNA que
permitem determinar a paternidade com confiabilidade absoluta”.
Conforme Para Gustavo Tepedino e Ana Carolina Brochardo Teixeira: “
O fato é que, sob a ótica da Constituição, as ações de estado,
expressão processual dos direitos da personalidade, são
imprescritíveis. A pessoa poderá, a qualquer tempo, ajuizar ação de
impugnação da paternidade, de molde a cancelar a presunção legal e,

mediante a ação de investigação de paternidade – que poderá ser


cumulada à ação negatória – determinar o vínculo biológico de filiação.
Acrescente-se a tal construção a tendência do próprio ordenamento
pré-constitucional à ampliação da verdade real em tema de filiação.
Com efeito, já anteriormente à Constituição de 1988, a Lei 7.250/1984
admitiu o reconhecimento do filho havido fora do matrimônio pelo
cônjuge separado de fato há mais de cinco anos, contribuindo para
atenuar a presunção pater is est, processo evolutivo que se
consolidaria com a igualdade constitucional dos filhos. No que
concerne às causas justificadoras da negação de paternidade, não há
mais nenhuma limitação a seu respeito, de modo que é amplo o rol
probatório a ser utilizado”.14
O Código Civil manteve apenas uma das restrições acima referidas, a
que diz respeito à legitimidade processual que, segundo o art. 1.601,
cabe ao marido.
No que concerne ao prazo, também o art. 1.601 prevê que a
contestação da presunção de paternidade é imprescritível, o que
acompanha o entendimento já esboçado, vez que se trata de ação de
estado.
Conforme Para Gustavo Tepedino e Ana Carolina Brochardo Teixeira “
Existem algumas restrições previstas nos arts. 1.599, 1.600 e 1.602.
Somente a impotência para gerar, à época da concepção, pode afastar
a presunção de paternidade (CC, art. 1.599). Esta restrição se justifica
na medida em que a presunção atinge também aqueles que sofram de
impotência coeundi, mas que utilizem técnicas de reprodução assistida
(CC, art. 1.597, III e IV). Cabe, porém, observar que mesmo a
impotência generandi não poderá ser alegada se se tratar de

14
Ibidem.

presunção decorrente de fecundação assistida heteróloga (CC, art.


1.597, V). Além disso, nem o adultério da mulher, nem a sua confissão
podem, só por si, ilidir a presunção de paternidade (CC, arts. 1.600,
1.602). Contudo, poderão integrar o acervo probatório na contestação
da paternidade presumida”.15

Conforme o critério biológico, pai é quem contribui com o material


genético.
Nas palavras de Maria Berenice Dias, “para a Biologia, pai sempre foi
unicamente quem, por meio de uma relação sexual, fecunda uma
mulher que, levando a gestação a termo, dá à luz um filho”.16
Afirma ainda Maria Berenice Dias que “as transformações mais
recentes por que passou a família, deixando de ser unidade de caráter
econômico, social e religioso para se aprofundar fundamentalmente
como grupo de afetividade e companheirismo, imprimiram considerável
reforço ao esvaziamento biológico da paternidade”.17
A pretensão quanto ao reconhecimento da partenidade/maternidade
será deduzido por meio de um processo de conhecimento em que o
juiz, irá declarar a existência (ou inexistência) da relação jurídica.
Temos inúmeras decisões que afirmam a impossibilidade de que o pai,
sabedor da ausência de vínculo genético quando do registro,
posteriormente intente demanda declaratória negativa quanto à relação
filial.

15
DIAS. Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 15 ed. Ed. Juspodivm, 2021.
16
Ibidem.
17
Ibidem.

Ocorre, porém, que muitas vezes o pai, autor da demanda, traz em sua
causa de pedir circunstância diversa. Se não aduz hipótese que
ensejaria a revogação vedada em lei, deve ser-lhe permitido o trâmite
da ação. Como bem pondera Rolf Madaleno.18
Rolf Madaleno ainda esclarece “[a] impugnação da paternidade
precisará ser mais bem construída na evolução do Direito de Família e
ser sustentada só em fatores capazes de justificar ponderadamente a
exclusão do estado de filiação socioafetiva, usualmente porque o pai
registral acreditava se tratar de seu filho biológico e, portanto, fora
induzido a erro, e, ademais, sempre teve escasso contato pessoal com
o filho meramente registral, como nesse sentido já vêm demonstrando
os pretórios brasileiros, ao negarem a desconstituição do registro civil
apenas pela inexistência de origem biológica na filiação quando
presentes sólidos laços de convivência e afetividade”.19

Quanto ao vínculo biológico, a evolução tecnológica da medicina, com


o aperfeiçoamento do exame de DNA, facilitou sobremaneira o exame
do liame genético entre as partes.

Como bem pondera Paulo Lôbo, o objeto da tutela do direito ao


conhecimento da origem genética é assegurar o direito da
personalidade, na espécie direito à vida, pois os dados da ciência atual
apontam para a necessidade de cada indivíduo saber a história de
saúde de seus parentes biológicos próximos para prevenção da própria
vida”.20

18
MADALENO, Rolf. Manual de direito de família – 4. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2022.
19
Ibidem
20
LOBO, Paulo Luiz Netto. Saraiva, Direito Civil. Famílias. 2021.

Nos termos do art. 1.597, I a V, do Código Civil, a paternidade jurídica


é imposta por presunção.

O Código Civil de 2002, dispõe nos arts. 231 e 232, que: “a) quem se
nega a se submeter a exame médico necessário não poderá
aproveitar-se de sua recusa; b) a recusa à perícia médica ordenada
pelo juiz poderá suprir a prova que se pretendia obter com o exame”.

O STJ aprovou o Enunciado n. 301 de sua Súmula: “em ação


investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de
DNA induz presunção juris tantum de paternidade.

Assim, caso o réu se recuse a efetuar o exame , há de se aplicar o


Enunciado n. 301 da Súmula do STJ, de forma que recai para si o ônus
da prova e a presunção de veracidade dos fatos alegados na peça
exordial; “uma vez não provado o vínculo biológico e nem o afetivo, a
procedência do pedido é medida que se impõe.21

Constituição Federal – arts. 225, 227.


Código Civil – arts. 1.593 à 1629.
ECA (Lei 8069/90) – art. 19, 26, 27, 48, 50, 197.
Lei 13.509/2017
Lei 12.127/2009
Resolução 289/2019 do CNJ

21
https://www.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas-
2011_23_capSumula301.pdf

PROCESSO
AgInt no AREsp 1908062 / MS
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2021/0166517-3
RELATOR
Ministro MARCO BUZZI (1149)
ÓRGÃO JULGADOR
T4 - QUARTA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
25/04/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 29/04/2022
EMENTA
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL ?
AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE C/C FIXA-
ÇÃO DE ALIMENTOS ? DECISÃO DA PRESIDÊNCIA DESTA CORTE
QUE NÃO CONHECEU DO RECLAMO. INSURGÊNCIA RECURSAL
DO REQUERIDO.
1. A parte agravante refutou, nas razões do agravo em recurso especi-
al, a aplicação da Súmula 83/STJ, não incidindo, portanto, o óbice da
Súmula 182/STJ. Provimento do agravo interno e análise, de plano, do
agravo em recurso especial.
2. As questões postas à discussão foram dirimidas pelo órgão julga-
dor de forma suficientemente ampla, fundamentada e sem omissões,
portanto, deve ser afastada a alegada violação aos artigos 489 e 1.022
do CPC/15. Precedentes.
3. O acórdão recorrido está em harmonia com a orientação desta Corte

no sentido de que a recusa injustificada da parte de se submeter ao


exame de DNA induz presunção relativa de paternidade, nos termos
da Súmula 301/STJ.
4. Restou assentado pela Corte local a premissa de que o ora recorren-
te adotou comportamento desidioso, com reiteradas recusas em proce-
der à realização do exame de DNA, o que gerou presunção de pater-
nidade. Derruir tal constatação demandaria reexame de matéria fático-
probatória, providência vedada na presente instância recursal, nos ter-
mos da Súmula 7/STJ.
5. Agravo interno provido para reconsiderar a decisão da Presidên-
cia de fls. 372-374, e-STJ. Agravo em recurso especial desprovido.

PROCESSO
AgInt no AREsp 1792208 / BA
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2020/0306360-8
RELATOR
Ministro MOURA RIBEIRO (1156)
ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
14/03/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 18/03/2022
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECUR-
SO ESPECIAL. RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO NCPC.
AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. RECUSA IMOTIVA-
DA NA REALIZAÇÃO DO TESTE DE DNA. NEGATI-

VA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL NÃO VERIFICADA. CERCEA-


MENTO DE DEFESA PELA NÃO PRODUÇÃO DE PROVA ORAL. IN-
CIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 283 DO STF. PRETENSÃO RECURSAL
QUE ENVOLVE O REEXAME DE PROVAS. DIVERGÊNCIA JURIS-
PRUDENCIAL. AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA. AGRAVO IN-
TERNO NÃO PROVIDO.
1. Aplica-se o NCPC a este julgamento ante os termos do Enunciado
Administrativo nº 3, aprovado pelo Plenário do STJ na ses-
são de 9/3/2016: Aos recursos interpostos com fundamento no
CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a par-
tir de 18 de março de 2016)
serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do
novo CPC.
2. Não há como acolher a alegação de ofensa ao art. 1.022 do NCPC
quando o órgão julgador examina expressa e adequadamente os te-
mas em relação aos quais a parte alegou omissão de julgamento.
3. A alegação de cerceamento de defesa pela não realização de prova
oral foi refutada pelo Tribunal estadual com base em argumentos não
impugnados nas razões do recurso especial, o que atrai a incidência da
Súmula nº 283 do STF.
4. A alteração das conclusões do acórdão recorrido no tocante a apli-
cação da presunção juris tantum de paternidade exigiria reapreciação
do acervo fático-probatório da demanda, o que não admite a Súmula nº
7 do STJ.
5. Não se pode conhecer o recurso especial pela alínea c do permissi-
vo constitucional, quando ausente similitude fática entre os acórdãos
confrontados.
6. Agravo interno não provido.

PROCESSO
REsp 1867308 / MT
RECURSO ESPECIAL
2020/0065503-9
RELATOR
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA (1147)
ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
03/05/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 11/05/2022
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA. PROCESSUAL CIVIL.
AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. LEGITIMIDADE. GENITOR.
INTRANSMISSIBILIDADE. RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL.
IMPOSSIBILIDADE. VONTADE. AUSÊNCIA DE ERRO. SOCIOAFE-
TIVIDADE. ART. 1.593 DO CÓDIGO CIVIL. CONFIGURAÇÃO. EXA-
ME DE DNA POST MORTEM. FILIAÇÃO. INALTERABILIDADE. DI-
REITO INTRANSMISSÍVEL.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do
Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e
3/STJ).
2. A socioafetividade é contemplada pelo art. 1.593 do Código Civil, no
sentido de que "o parentesco é natural ou civil, conforme resulte da
consanguinidade ou outra origem".
3. A autora não se desincumbiu do ônus de afastar a inequívoca von-
tade do falecido em registrar filho como seu, bem como descaracterizar
a filiação socioafetiva, demonstrada nos autos em virtude do tratamen-

to conferido ao menor e o conhecimento público dessa condição.


4. A paternidade socioafetiva realiza a própria dignidade da pessoa
humana por permitir que um indivíduo tenha reconhecido seu históri-
co de vida e a condição social ostentada, valorizando, além dos aspec-
tos formais, como a regular adoção, a verdade real dos fatos.
5. A posse de estado de filho, que consiste no desfrute público e contí-
nuo da condição de filho, restou atestada pelo juízo primevo, cuja sen-
tença merece ser restabelecida.
6. O falecido não realizou em vida exame de DNA que pudesse contes-
tar a relação filial socioafetiva que perdurou por três anos, até o adven-
to de sua morte.
7. A legitimidade ordinária ativa da ação negatória de paternida-
de compete exclusivamente ao pai registral por ser ação de estado,
que protege direito personalíssimo e indisponível do genitor (art. 27 do
ECA), não comportando sub-rogação dos avós, porquanto direito in-
transmissível.
8. Eventual reconhecimento de paternidade biológica em nada altera a
realidade socioafetiva ex ante em virtude do instituto da multiparentali-
dade.
9. Recurso especial provido.
PROCESSO
AgInt no AgInt no AREsp 1939961 / SC
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RE-
CURSO ESPECIAL
2021/0244236-7
RELATOR
Ministro MOURA RIBEIRO (1156)
ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA

DATA DO JULGAMENTO
25/04/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 28/04/2022
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECUR-
SO ESPECIAL.
RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO NCPC.
AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE C/C ANULA-
ÇÃO DE REGISTRO CIVIL. REVISÃO. PRETENSÃO RECURSAL
QUE ENVOLVE O REEXAME DE PROVAS. INCIDÊNCIA DA SÚMU-
LA Nº 7 DO STJ.
AUSÊNCIA DE VÍCIO DE CONSENTIMENTO. PRECEDENTES. SÚ-
MULA Nº 83 DO STJ. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO.
1. Aplica-se o NCPC a este julgamento ante os termos do Enunciado
Administrativo nº 3, aprovado pelo Plenário do STJ na ses-
são de 9/3/2016: Aos recursos interpostos com fundamento no
CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a par-
tir de 18 de março de 2016)
serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do
novo CPC.
2. A alteração das conclusões do acórdão recorrido exige reapreciação
do acervo fático-probatório da demanda, o que faz incidir o óbice da
Súmula nº 7 do STJ.
3. Nos termos da jurisprudência desta Corte, não é possível a descons-
tituição do registro civil de nascimento quando o reconhecimento
da paternidade foi efetuado sem nenhum tipo de vício que comprome-
tesse a vontade do declarante. Precedentes da Terceira Turma. Prece-

dentes. Incidência da Súmula nº 83 do STJ.


4. Agravo interno não provido.

- LOBO, Paulo Luiz Netto . Famílias. 11ª ed. São Paulo. Saraiva, 2021
MADALENO, Rolf. Manual de direito de família – 4. ed. – Rio de Janei-
ro: Forense, 2022.

- MARZAGÃO, Silvia Felipe. XAVIER, Marília Pedroso. NEVARES, Ana


Luiza Maia. Coronavírus. Impactos no Direito de Família e das Suces-
sões, Ed. Foco, 2020.

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito das Famílias. Forense, 2021.

.
- DIAS, Maria Berenice. Investigação de Paternidade e a Questão da
Prova.https://ibdfam.org.br/artigos/23/Investiga%C3%A7%C3%A3o+de
+paternidade+e+a+quest%C3%A3o+da+prova. Acesso em 22/05/2022

- MOLD, Cristian Fetter. A nova lei de investigação de paternidade em


parentes consanguíneos do suposto pai e o custeio da prova pericial
https://ibdfam.org.br/artigos/1680/A+nova+lei+de+investiga%C3%A7%
C3%A3o+de+paternidade+em+parentes+consangu%C3%ADneos+do+
suposto+pai+e+o+custeio+da+prova+pericial. Acesso em 22/05/2022

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Famílias Ectogenéticas e o Contrato


de geração de filhos.

https://www.conjur.com.br/2018-ago-19/processo-familiar-familias-
ectogeneticas-contrato-geracao-filhos. Acesso em 22/05/2022

- SCAGLIONI, Verônica Betim. Filiação no ordenamento Jurídico


brasileiro.
https://www.migalhas.com.br/depeso/279517/filiacao-no-ordenamento-
juridico-brasileiro. Acesso em 22/05/2022

Após a leitura deste material e o acompanhamento das videoaulas


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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

MÓDULO: DIREITO DE FAMÍLIA I

TEMA: ASPECTOS TRIBUTÁRIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA E DAS


SUCESSÕES. TRIBUTAÇÃO NA PARTILHA. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO.

O Direito de Família e Sucessões possui vários pontos de ligação com


o Direito Tributário. Diante das situações do dia a dia do âmbito fami-
liar ocorrerão diversas possibilidades de incidências, o que justifica a
conexão entre as áreas.
De outra parte, o planejamento tributário se mostra necessário, visando
evitar riscos e de forma a preservar o patrimônio da família.
Dentro desta análise, busca-se a maior economia tributária possível,
bem como a adoção de estratégias, levando em conta o regime de
bens entre os cônjuges, a partilha do patrimônio e a quantidade de
herdeiros.

ITCD
Segundo o art. 155, I, da CF/88, compete aos Estados-membros e ao
Distrito Federal instituir imposto sobre transmissão causa mortis e
doação, de quaisquer bens ou direitos.
Embora o imposto deva ser instituído pela lei ordinária de cada ente
tributante, a Constituição estabelece que a lei complementar trace
normas gerais a serem observadas por todos eles.

Para Hugo de Brito Machado Segundo: “Realmente, após a CF/88, as


transmissões onerosas e entre vivos de bens imóveis passaram à
competência dos Municípios, que as tributam com o ITBI. Aos Estados
foram reservadas apenas as transmissões decorrentes da morte (p.
ex., decorrentes de herança) e as doações. Os arts. 35 e seguintes do
CTN, portanto, devem ser vistos com esse cuidado, e aplicam-se,
dentro do possível, tanto ao ITBI como ao ITCD”.1
Os fatos que podem ser colhidos como “geradores” do dever de pagar
o ITCD, pelas leis estaduais,que são as transmissões de quaisquer
bens e direitos (móveis ou imóveis), desde que decorrentes de doação
ou morte.
Assim, caso a transmissão decorra da morte (causa mortis), incidirá o
ITCD, independentemente de serem os bens móveis ou imóveis.
Hugo de Brito Machado Segundo explica: “As transmissões inter vivos
e onerosas de bens e direitos não estão abrangidas no âmbito de
incidência do ITCD. Submetem-se ao ITBI, caso digam respeito a bens
imóveis (CF/88, art. 156, II), ou ao ICMS, caso se trate de coisa móvel
destinada ao comércio (CF/88, art. 155, II). Na hipótese de transmissão
de coisa móvel não destinada ao comércio (p. ex., venda eventual de
um relógio entre dois “particulares” não comerciantes), não há
incidência de nenhum desses impostos”.2
O fato gerador do ITCD é a transmissão, vale dizer, a mudança na
propriedade do bem ou do direito.
Para Eduardo Sabbag: “No caso da herança, ou do legado, essa
transmissão ocorre no momento da morte do de cujus. Não importa se
o imposto só vem a ser formalizado e exigido algum tempo depois. Isso

1
MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Manual de direito tributário 12. ed. – Barueri [SP]: Atlas,
2022.
2
Ibidem.

é relevante para determinar a legislação aplicável, pois pode ocorrer de


o sujeito morrer e a alíquota do imposto ser alterada posteriormente.
Nesse caso, o imposto será devido pela alíquota vigente na ocasião da
morte, e não pela alíquota posteriormente alterada”.3
Relativamente à transmissão de imóveis e dos direitos a eles relativos,
o ITCD é devido ao ente tributante (Estado ou Distrito Federal) onde
estiver localizado o bem.
A base de cálculo será o valor venal dos bens transferidos. Isso
significa que o imposto será calculado mediante a aplicação de um
percentual sobre o valor dos bens transferidos.
Eduardo Sabbag ainda explica: “As alíquotas, mesmo naqueles
Estados em que as adotam de forma progressiva, são baixas (média
de 4%), se comparadas às de outros países do mundo (média de
20%), e, pior que isso, começam a incidir a partir de bases também
muito baixas, muitas vezes considerando, para o efeito de aplicação de
cada faixa, o valor total do espólio, e não o montante”.4
As alíquotas do ITCD, assim como os demais elementos formadores da
obrigação tributária correspondente, devem ser estabelecidas na lei do
ente tributante.
Imposto sobre transmissão de bens imóveis (ITBI)
Os Municípios têm competência para instituir imposto sobre
transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens
imóveis (CF/88, art. 156, II).
O Distrito Federal também pode instituir esse imposto, com base na
competência que lhe confere o art. 147 da CF/88.

3
SABBAG, Eduardo. Direito Tributário Essencial. 8. ed. – Rio de Janeiro: Forense; MÉTODO,
2021.
4
Ibidem.

Conforme Eduardo Sabbag: “A exigência de que a transmissão seja


por ato oneroso e inter vivos é feita para diferenciar o âmbito de
incidência do ITBI em relação ao âmbito do imposto estadual incidente
sobre transmissões causa mortis e sobre doações (CF/88, art. 155, I).
Se o imóvel for transferido em virtude da morte (p. ex., como herança),
ou por doação, é devido o ITCD ao Estado-membro. Se, diversamente,
o imóvel for objeto de transmissão entre pessoas vivas, e essa
transmissão for onerosa, incide o ITBI, devido ao Município”.5
A base de cálculo do ITBI é o valor venal dos bens ou direitos
transmitidos, ou seja, o valor pelo qual os mesmos poderiam ser
negociados em condições normais de mercado.
Hugo de Brito Machado Segundo menciona:“O lançamento do ITBI, em
regra, é feito por declaração. O contribuinte leva ao conhecimento da
autoridade os elementos de fato indispensáveis à feitura do
lançamento, e esta então calcula o imposto devido, notificando o
contribuinte para pagá-lo ou impugná-lo, nos termos dos arts. 145 e
148 do CTN”.6
O imposto é devido ao Município no qual o bem está localizado e tem
como contribuinte qualquer das partes na operação tributada.

Na exordial do divórcio, o autor deve descrever e valorar todos os bens


do casal, assim como mencionar expressamente o passivo, indicando
sua origem e saldo devedor.

5
SABBAG, Eduardo. Direito Tributário Essencial. 8. ed. – Rio de Janeiro: Forense; MÉTODO,
2021.
6
MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Manual de direito tributário 12. ed. – Barueri [SP]: Atlas,
2022.

O bens particulares adquiridos durante o casamento, qualquer que seja


a sua origem, também devem ser mencionados, com escopo de
possibilitar a regularização do registro.
“O autor deve, ainda, apresentar proposta de divisão dos bens e/ou dos
encargos, respeitando o regime de bens pactuado quando do
casamento. Não obstante a literalidade das normas previstas nos arts.
1.575 e 1.576 do CC, no sentido de que o regime de bens termina
apenas com a sentença que decreta o divórcio, doutrina e
jurisprudência têm se firmado no sentido de que é a “separação de
fato” do casal que põe fim ao regime de bens; ou seja, bens adquiridos
após a separação fática do casal não entram na partilha, embora
devam ser mencionados na petição inicial a fim de se evitarem futuros
problemas na sua regularização”.7
A falta de acordo quanto à partilha dos bens e das obrigações em
aberto levam algumas ações de divórcio a se arrastarem na justiça por
anos.
“Tal fato costuma trazer prejuízos não só aos cônjuges, mas também
para terceiros e eventual prole, razão pela qual o legislador permite que
o juiz decrete o divórcio judicial, até mesmo em antecipação de tutela
(como já se argumentou), sem decidir sobre a divisão dos bens do
casal, relegando a discussão sobre a partilha dos bens para ação
própria. Nesse sentido, o art. 1.581 do CC, aplicável ao caso: “O
divórcio pode ser concedido sem que haja prévia partilha de bens”.8
No momento da partilha poderá incidir o ITCMD, de competência
estadual ou o ITBI , que deve ser recolhido no Município onde se
localiza o imóvel.

7
MADALENO, Rolf. Manual de direito de família / Rolf Madaleno. – 4. ed. – Rio de Janeiro:
Forense, 2022.
8
Ibidem.

Caso a divisão dos bens seja igualitária não haverá o recolhimentos de


tributos, sendo o recolhimento devido, caso a divisão do patrimônio
seja desigual.

A conduta adotada pelo contribuinte ao planejar a herança em vida ou


dos herdeiros no momento da partilha dos bens poderá gerar a
cobrança de diferentes impostos.
Assim, é indispensável conhecer detalhadamente a realidade
(patrimônio) da pessoa, antes de realizar o planejamento tributário.
De acordo com o artigo 155 da Constituição da República, compete
aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre transmissão
causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos.
A morte, tomada como o instante de abertura da sucessão, seja
legítima, seja testamentária, é o momento da ocorrência do fato
gerador do ITCMD.

Conforme Gladston Mamede: “Portanto, por se tratar de tributo


estadual ou distrital, estará submetido à legislação do respectivo
Estado ou do Distrito Federal, nos moldes acima, podendo haver
diferenças que beneficiem ou agravem os impactos tributários da
sucessão. Noutras palavras, é possível que a sucessão tenha um custo
menor neste Estado do que naquel’outro, o que se descobre
debruçando-se sobre as respectivas legislações e regulamentos,
tomando por conta a natureza dos bens e demais elementos
envolvidos na transmissão em razão da morte. Detalhe: não é uma
mera questão de alíquotas, mas envolve questões outras, como
definição de hipóteses de incidência tributária, isenções fiscais,

regimes definidos, obrigações acessórias e muito mais. Tudo isso deve


ser con- siderado pelo consultor fiscal na hora de avaliar os méritos ou
deméritos das opções jurídicas para a sucessão”.
9

É preciso considerar que mesmo a situação tributária de base (ou


elementar) da sucessão causa mortis pode conhecer variações e,
assim, pode haver cenários melhores e piores, considerando as
variações entre Estados.
“A implementação das propostas formuladas pelo planejamento
sucessório cria um impacto que poderá ser maior ou menor, conforme
as condições dadas em cada caso. Há alternativas que conduzem a
uma carga tributária maior, mas igualmente a operações mais
complexas e burocráticas, trazendo custos indiretos. Em oposição, há
alternativas que são mais interessantes por seu menor ou por seu
melhor reflexo fiscal, por serem mais simples e fáceis de serem
implementadas, entre outros fatores. O planejamento sucessório deve
ser a manifestação da vontade soberana do cliente, ainda que nos
limites do Direito”. 10
Assim é fundamental que seja efetuado o planejamento tributário,
visando a economia para a família, analisando analiando o melhor
momento para o recolhimento do imposto.

Constituição Federal – art. 155, 156 , 147


CTN – 35, 145, 148

9
MAMEDE, Gladston. Holding Familiar e suas vantagens./ 14º ed,São Paulo: Atlas, 2021.
10
Ibidem.

CC – 1575, 1576, 1581

2281643-30.2021.8.26.0000
Classe/Assunto: Agravo de Instrumento / ITBI - Imposto de
Transmissão Intervivos de Bens Móveis e Imóveis
Relator(a): Silva Russo
Comarca: São Paulo
Órgão julgador: 15ª Câmara de Direito Público
Data do julgamento: 20/05/2022
Data de publicação: 20/05/2022
Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO - MANDADO SE
SEGURANÇA COM PEDIDO LIMINAR - ITBI - Município de São Paulo
- Pedido de isenção quanto ao recolhimento de ITBI - Alegação de que
houve partilha igualitária de bens e impossibilidade de cobrança do
aludido imposto antes da ocorrência do fato gerador - Indeferimento da
liminar - Não cabimento - Probabilidade do direito alegado
caracterizado pela documentação carreada aos autos, que aparentam
demonstrar a divisão igualitária dos bens do casal - Precedente desta
C. Corte - Risco de dano caracterizado na cobrança de imposto, em
tese, indevido - Preenchimento dos requisitos para a concessão da
tutela de urgência - Suspensão da exigibilidade do crédito como
medida de rigor, a teor do art. 151, IV, do CTN - Decisão reformada -
Agravo provido.

1061021-63.2021.8.26.0053
Classe/Assunto: Apelação / Remessa Necessária / ITBI - Imposto de
Transmissão Intervivos de Bens Móveis e Imóveis
Relator(a): Raul De Felice
Comarca: São Paulo
Órgão julgador: 15ª Câmara de Direito Público
Data do julgamento: 18/05/2022
Data de publicação: 18/05/2022
Ementa: APELAÇÃO CÍVEL e REEXAME NECESSÁRIO - Mandado
de Segurança – ITBI – Município de São Paulo – Sentença que
concedeu a segurança para afastar a tributação do ITBI sobre a
partilha do bem, transferido em separação consensual – Inexistência
de ato oneroso (venda ou transmissão) – Não ocorrência da hipótese
prevista no art. 156, II da Constituição Federal - Divisão amigável do
patrimônio do casal através de consenso que não caracteriza
onerosidade, tampouco, transmissão, mas mera divisão patrimonial –
Precedentes deste Tribunal de Justiça - Sentença mantida – Recursos
oficial e voluntário do município não providos.

PROCESSO
AgInt no AREsp 1676655 / RS
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2020/0056270-6
RELATOR
Ministro OG FERNANDES (1139)
ÓRGÃO JULGADOR
T2 - SEGUNDA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
15/02/2022

DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 25/02/2022
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECUR-
SO ESPECIAL.TRIBUTÁRIO. ITCMD. VGBL. NATUREZA DE SEGU-
RO. INTERPRETAÇÃO DO ART. 794 DO CÓDIGO CIVIL. RECURSO
DESPROVIDO.
1. O Tribunal de origem negou provimento ao recurso interposto pela
parte ora agravante por entender que as aplicações em VGBL se ca-
racterizariam como seguro de pessoas, segundo a Superintendência
de Seguros Privados - Susep, não se enquadrando nas hipóteses de
incidência do tributo previstas no art. 2º da Lei estadual n. 8.821/1989,
que trata das hipóteses de incidência do imposto - ITCD.
2. Há recentes decisões monocráticas, em ambas as Turmas da Pri-
meira Seção, que negaram provimento ao recurso especial do Estado
do Rio Grande do Sul, em casos análogos, reconhecendo que o "de-
nominado plano VGBL, nos termos do art. 794 do Código Civil, tem na-
tureza de contrato de seguro de vida, não integrando o acervo hereditá-
rio do de cujus, para todos os fins de direito, o que afasta, por conse-
quência, a incidência do ITCMD" (AREsp 756.611/RS, Rel. Min. Sérgio
Kukina, DJe 22/2/2021). A propósito: AREsp 1.766.626/RS, Rel. Min.
Mauro Campbell Marques, DJe 6/5/2021; REsp 1.904.243/RS, Rel.
Min. Herman Benjamin, DJe 23/2/2021; e AREsp 1.755.009/RS, Rel.
Ministro Herman Benjamin, DJe 17/12/20.
3. Precedente recente da Segunda Turma do Superior Tribunal de Jus-
tiça de que com a morte do segurado, sobreleva o caráter securitário
do plano VGBL, sobretudo com a prevalência da estipulação em favor
do terceiro beneficiário, como deixa expresso o art. 79 da Lei
11.196/2005. (REsp n. 1.961.488/RS, relatora Ministra ASSUSETE

MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/11/2021, DJe de


1711/2021).
4. Agravo interno a que se nega provimento.

PROCESSO
AgInt no REsp 1941030 / RS
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL
2021/0074351-6
RELATOR
Ministro BENEDITO GONÇALVES (1142)
ÓRGÃO JULGADOR
T1 - PRIMEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
14/03/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 18/03/2022
EMENTA
TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. EXE-
CUÇÃO FISCAL. ITCD. DIFERENÇA DE ALÍQUOTA. LANÇAMENTO
COMPLEMENTAR. DISCUSSÃO JUDICIAL. DECADÊNCIA AFASTA-
DA.
1. A Primeira Turma do STJ entende que a contagem do prazo deca-
dencial para o Fisco lançar o crédito tributário somente se inicia com a
consolidação da relação jurídica do ITCD, que, no caso, se dá com o
trânsito em julgado da decisão proferida nos autos do Inventário, visto
que, durante a pendência da discussão judicial acerca da alíquota apli-
cável, não poderia o Estado lavrar o auto de lançamento para constituir
o crédito tributário. Precedentes: AgInt no AREsp 1.488.490/RS, Rel.
Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em

25/10/2021, DJe 24/11/2021; AgInt no REsp 1.926.495/RS, Rel. Minis-


tra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, julgado em
14/06/2021, DJe 16/06/2021; AgInt no AREsp 1.627.416/RS, Rel. Mi-
nistro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 26/04/2021,
DJe 29/04/2021.
2. Agravo interno não provido.

- LOBO, Paulo Luiz Netto . Famílias. 11ª ed. São Paulo. Saraiva, 2021
MADALENO, Rolf. Manual de direito de família – 4. ed. – Rio de Janei-
ro: Forense, 2022.

- MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Manual de direito tributário


12. ed. – Barueri Atlas, 2022.

- MAMEDE, Gladston. Holding Familiar e suas vantagens./ 14º ed,São


Paulo: Atlas, 2021.

- SABBAG, Eduardo. Direito Tributário Essencial. 8. ed. – Rio de


Janeiro: Forense; MÉTODO, 2021.

.
- BATISTA, Juliana Marchiote. Quais impostos devo pagar na partilha
de bens? https://jmarchiote.jusbrasil.com.br/artigos/840874370/quais-
impostos-tenho-que-pagar-na-partilha-de-bens. Acesso em 30/05/2022.

- MANSANI, Danielle. Tributação incidente sobre partilha em divórcio.


ITCMD ou ITBI. https://mansanimartins.adv.br/2021/04/07/tributacao-
incidente-sobre-partilha-em-divorcio-itcmd-ou-itbi/. Acesso em
30/05/2022.

- TARBINE, Maruan. Tribuitação na holding familiar.


https://maruantarbine.com.br/a-tributacao-na-holding-familiar/. Acesso
em 30/05/2022.

Após a leitura deste material e o acompanhamento das videoaulas


ministradas pelo(s) professor(es), finalize o seu aprendizado efetuando
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06/06/2022 19:21 ConJur - Bucar e Nascimento: Testamento e negócio jurídico processual

OPINIÃO

Testamento e negócio jurídico processual


26 de novembro de 2020, 9h11

Por Daniel Bucar e Yves Lima Nascimento

O sistema brasileiro das sucessões é composto por três disciplinas: 1) o Direito Civil, que se
dedica ao estudo do Direito material, notadamente quanto aos aspectos subjetivo (herdeiros
e/ou legatários) e objetivo (a herança) da sucessão; 2) o Direito Processual Civil e o Direito
Notarial, que cuidam dos procedimentos do inventário (obrigatório em nosso país [1]), da
partilha e de outras ações inerentes à sucessão; e 3) o Direito Tributário, o qual estrutura a
incidência de impostos (não apenas o ITCMD) na sucessão.

Desse modo, o estudo das sucessões a partir da


compreensão sistemática dessas disciplinas,
apreendidas segundo o pressuposto de que o
ordenamento jurídico é único, proporciona o
rompimento de certos dogmas em torno da
matéria. O primeiro — e mais evidente — diz
respeito ao droit de saisine, o qual não se encontra
acolhido no sistema brasileiro de sucessões.

Com efeito, apesar de o Código Civil apresentar a fórmula da saisine em seu artigo 1.784 e
prescrever que "a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e
testamentários", a imperatividade do inventário (Direito Processual Civil ou Notarial) e a
necessidade de pagamento de tributos (Direito Tributário) para ultimar a transferência dos
bens fazem cair por terra a denominada transmissão "desde logo". 

Sob tal perspectiva, a simples investidura dos beneficiários em direitos hereditários, com
efeito, não representa a saisine, destinada a uma efetiva e rápida transmissão dos bens a
herdeiros, contrariamente ao que ocorre no Brasil [2]. A constatação fática do que aqui se
evidencia é simples: basta pensar se, no Brasil, um herdeiro, universal que seja, pode ter
acesso a valores mantidos pelo autor da herança em conta bancária, sem que antes se
submeta a inventário, adjudicação e pagamento de tributos.

https://www.conjur.com.br/2020-nov-26/bucar-nascimento-testamento-negocio-juridico-processual?imprimir=1 1/5
06/06/2022 19:21 ConJur - Bucar e Nascimento: Testamento e negócio jurídico processual

Portanto, a consciência de que a sucessão no Brasil deve ser considerada para além do
Direito Civil demanda uma compreensão dos elementos estruturantes do sistema e a
adequação de suas ferramentas à realidade que se está diante. E o testamento, com efeito, é
um desses instrumentos que necessitam expandir suas potencialidades para além do Direito
Civil, respeitada, evidentemente, a limitação que o ordenamento impõe ao testador por meio
da denominada legítima. 

Sabe-se que o testamento é "o negócio jurídico pelo qual uma pessoa dispõe sobre a
própria sucessão" [3]. Assim, partindo do entendimento de que a decisão a respeito da
própria sucessão deve seguir os princípios e regras do sistema sucessório brasileiro, torna-se
lícito afirmar que o aumento da negociabilidade processual, fomentada pelo Código de
Processo Civil de 2015, estende-se ao ramo das sucessões. Logo, entre as escolhas que o
testador poderá fazer e manifestar através de cláusulas testamentárias, inserem-se, além da
destinação dos bens em si, aquelas relativas ao procedimento de inventário e partilha.

O ânimo legislativo na adaptabilidade do procedimento é visto, inclusive, de forma


expressa no artigo 610, §1º, do CPC, que admite que o inventário e a partilha sejam feitos
por escritura pública, desde que os herdeiros sejam capazes e concordes, excluindo-se a
necessidade de processo judicial, bem como na possibilidade de acordo entre os litigantes
sobre a conversão do processo de inventário para arrolamento sumário, a teor do que dispõe
o artigo 659 do CPC.

Por outro lado, sabe-se que a mudança legislativa não é suficiente para transformar, por si
só (e da noite para o dia), a adaptabilidade do procedimento. No entanto, é a partir da
novidade trazida pelo artigo 190, caput, do CPC/2015 que a atipicidade dos negócios
jurídicos processuais ganha força, sem se limitar, portanto, aos casos expressos em lei [4].

Com efeito, se a celebração de negócio jurídico processual pode ocorrer antes ou depois da
instauração do processo [5], significa dizer que é possível dispor sobre os procedimentos
que serão adotados no inventário, partilha e demais ações sucessórias, por meio de cláusulas
testamentárias, as quais, aceitas pelos beneficiários, poderão criar mecanismos mais céleres
e efetivos para a transmissão sucessória.

Percebe-se, desse modo, que a cláusula geral do artigo 190 do CPC autoriza o testador a
elaborar cláusulas testamentárias sobre o processo e procedimento [6], sendo possível, neste
espaço, exemplificar três potencialidades para ilustrar. São elas: 1) escolha do foro em que
se processará o inventário judicial ou o cartório, se for extrajudicial; 2) indicação de um
avaliador para os bens do monte; e, ainda, 3) prefixação de honorários advocatícios em
ações derivadas da sucessão.

https://www.conjur.com.br/2020-nov-26/bucar-nascimento-testamento-negocio-juridico-processual?imprimir=1 2/5
06/06/2022 19:21 ConJur - Bucar e Nascimento: Testamento e negócio jurídico processual

Como se sabe, a competência para abertura do inventário judicial é relativa, por se tratar de
competência territorial [7]. Portanto, nada impede que o interessado na elaboração do seu
testamento indique o foro onde deverá ser processado o inventário e a partilha. Da mesma
forma, pode o testado indicar, desde já, o cartório de notas em que o inventário de seus bens
e respectiva partilha devam ser escriturados [8].

Vale notar que as disposições acerca do local do inventário não apenas contemplam o
exercício de uma autonomia privada pelo testador no campo processual ou notarial, mas
também na seara tributária, haja vista que os bens móveis serão ofertados à tributação no
Estado em que se localiza o juízo ou o cartório de notas escolhido para se processar o
inventário ou arrolamento (artigo 155, §1º, II, CR).

De outro lado, um dos pontos de conflito em um inventário é a avaliação dos bens. Aqui,
também, é possível pensar no exercício de uma autonomia pelo testador. Se é possível às
partes convencionarem sobre a escolha do perito (artigo 471, CPC), a indicação, em
testamento, de um avaliador dos bens que compõe a herança é plenamente cabível.

E, na hipótese de judicialização de algum ponto oriundo da sucessão testamentária, pode o


testador, tal como em negócios jurídicos em geral, fixar o percentual máximo de honorários
advocatícios devidos pelo sucumbente (20% — artigo 85, §2º, CPC), de forma que as partes
levem em consideração os custos e os riscos para a tomada de decisão em torno do
ajuizamento.

Não há, por fim, necessidade de homologação judicial para que que o negócio jurídico
processual aposto em testamento produza seus efeitos, visto que o artigo 200 do CPC afirma
que as declarações unilaterais (ou bilaterais) produzem imediatamente a constituição,
modificação ou extinção de direitos processuais, salvo quando houver regra expressa [9].
Os efeitos pretendidos, na realidade, serão produzidos a partir da simples aceitação da
sucessão disposta em testamento.

Essas ideias iniciais permitem que todo o sistema brasileiro de sucessões seja contemplado
por um movimento de ampliação das potencialidades do testamento, para além das
conhecidas funções que lhe foram emprestadas pelo Direito Civil.

Se o Direito Processual contemporâneo tem autorizado um espaço maior de exercício da


autonomia privada pelos jurisdicionados [10], o sistema sucessório não poderá deixar de
enxergar essa tendência. Resta aos operadores do Direito, cuja matéria enfrentam no
cotidiano, atuar de forma criativa, embora sem perder o norte da dogmática, de modo a
incorporar as enunciadas mudanças à rotina.

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06/06/2022 19:21 ConJur - Bucar e Nascimento: Testamento e negócio jurídico processual

[1] Reconhecendo a obrigatoriedade do inventário: TEPEDINO, Gustavo; NEVARES, Ana


Luiza Maia; MEIRELES, Rose Melo Vencelau. Direito das Sucessões. In: TEPEDINO,
Gustavo (org). Fundamentos de Direito Civil, volume 7. Rio de Janeiro: Forense, 2020. p.
253.

[2] Para constatação de que o sistema brasileiro de sucessões não adotou o modelo francês
de saisine, remete-se a ZOPPINI, Andrea. Le Sucessioni in Diritto Comparato. Milão:
UTET, 2002. p. 25-47. 

[3] GOMES, Orlando. Sucessões. Atualizado por Mario Roberto Carvalho de Faria. 17ª ed.
Rio de Janeiro: Editora Forense. p. 80. 

[4] NOGUEIRA, Pedro Henrique. Negócios Jurídicos Processuais. 3ª ed. Salvador: Ed.


Juspodivm, 2018. p. 263  

[5] CABRAL, Antonio do Passo. Convenções Processuais. 2ª ed. Salvador: Ed. Juspodivm,


2018. p. 326/327 

[6] Enunciado 257 do FPPC: "O artigo 190 autoriza que as partes tanto estipulem
mudanças do procedimento quanto convencionem sobre os seus ônus, poderes, faculdades e
deveres processuais" (grupo: negócios processuais).

[7] ROSA, Conrado Paulino da., RODRIGUES, Marco Antonio, Inventário e Partilha.


Teoria e Prática. 1ª ed. Salvador: Ed. Juspodivm, 2019. p. 334. 

[8] A despeito do disposto no artigo 610, CPC, corregedorias dos Estados têm permitido a
realização de inventário extrajudicial ainda que haja testamento, cujo entendimento já foi
acolhido pela 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça: REsp 1808767/RJ, relator ministro
LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 15/10/2019, DJe 03/12/2019/. 

[9] Enunciado 133 do FPPC: (artigo 190; artigo 200, parágrafo único) "Salvo nos casos
expressamente previstos em lei, os negócios processuais do artigo 190 não dependem de
homologação judicial" (grupo: negócios processuais). Enunciado 261 do FPPC: (artigos
190 e 200) "O artigo 200 aplica-se tanto aos negócios unilaterais quanto aos bilaterais,
incluindo as convenções processuais do artigo 190" (grupo: negócios processuais).

[10] DIDIER JR., Fredie. Princípio do respeito ao autorregramento da vontade no processo


civil. In: CABRAL, Antonio; NOGUEIRA, Pedro Henrique (org.). Negócios Processuais.
Salvador: Juspodivm, 2015, p.33.  

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06/06/2022 19:21 ConJur - Bucar e Nascimento: Testamento e negócio jurídico processual

Daniel Bucar é advogado do escritório Bucar Marano Advogados, professor de Direito


Civil da Uerj e do IBMEC-RJ, doutor e mestre em Direito Civil pela Uerj e especialista em
Direito Civil pela Universitá degli Studi di Camerino.

Yves Lima Nascimento é advogado do escritório Bucar Marano Advogados e mestrando em


Direito Processual pela Uerj.

Revista Consultor Jurídico, 26 de novembro de 2020, 9h11

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06/06/2022 19:22 ConJur - Bucar e Teixeira: As armadilhas do planejamento sucessório

OPINIÃO

As armadilhas do planejamento sucessório


17 de julho de 2020, 16h11

Por Daniel Bucar e Daniele Chaves Teixeira

Introdução

Acúmulo de patrimônio, variadas configurações familiares, custos da sucessão e a busca


para se evitar um inventário com ostensiva intervenção estatal são fatores que, entre outros,
vêm estimulando a doutrina a expandir a outrora limitada fronteira do direito das sucessões.
Esses novos ares, direcionados à ideia de conceder: a) maior autonomia na sucessão; e b)
rápida mobilidade de bens, trouxe à disciplina o que hoje vem sendo denominado de
planejamento sucessório [1].

Para tanto, são diversos os instrumentos que vêm


sendo utilizados para a estruturação do programa
pessoal de sucessão, os quais, além do conhecido
testamento, podem tocar constituição de
sociedades, provisão de seguros, instituição de
direitos reais, entre outros. A construção deste
delicado xadrez requer uma forte interação entre os
envolvidos e o profissional, de forma que o
planejamento não se transforme em algo
dissociado das intenções de quem o procura e apartado da realidade jurídica patrimonial do
interessado. Sob esta perspectiva, é importante a enumeração de certos aspectos, divididos
entre subjetivos e objetivos, que devem ser observados na construção de um planejamento.

Aspectos subjetivos

O planejamento patrimonial para após a morte é a única forma de o autor da herança (e não
a lei) decidir sobre o destino dos próprios bens. Entretanto, a despeito da autonomia que é
conferida ao titular do patrimônio, uma lembrança é necessária. As normas do ramo não
estão centradas unicamente na proteção de interesses do falecido, mas também de seus
herdeiros. É nesse contexto que surgem os dois principais obstáculos para o planejamento
sucessório.

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06/06/2022 19:22 ConJur - Bucar e Teixeira: As armadilhas do planejamento sucessório

O primeiro deles é a proibição de o autor da herança dispor da metade de seus bens (a


legítima) caso tenha herdeiros necessários (descendente, cônjuge/companheiro ou
ascendente), prevista nos artigos 1845 e 1846, CC [2]. O segundo obstáculo refere-se ao
consenso entre os herdeiros e o titular do patrimônio, muitas vezes imprescindível, tanto
para os atos de planejamentos inter vivos, quanto causa mortis. Em relação aos primeiros, a
doação exige aceitação do donatário (artigo 539, CC). A formação de sociedades
empresárias para concentração do patrimônio, com eleição de um ou alguns dos herdeiros
para administração, exige união e organização de pessoas, de modo que a manifestação de
vontade sentido permanece como requisito essencial [3]. Tampouco a disciplina do
adiantamento da partilha em vida (2018, CC) permite entendimento em sentido diverso.

Enquanto isso, certas vontades externadas no planejamento causa mortis, através da deixa


testamentária, também só se concretizam com a anuência dos herdeiros que o executarão.

Assim, para criar consensos, os profissionais que auxiliam em sua formatação devem, antes
de tudo, ir além das barreiras e dos permissivos legais. E esse é um dos maiores desafios da
área. Conforme os diversos (e até conflitantes) interesses do autor da herança e de seus
herdeiros será preciso: I) buscar que todos aceitem o programa; ou II) garantir a
previsibilidade da futura aceitação. Dessa forma, o planejamento envolve não só uma
consulta ao titular do patrimônio a se transmitir, mas um diálogo honesto relativo aos
anseios e à situação de todos os integrantes de sua família. Só assim serão identificadas
aptidões, conflitos intrafamiliares (que precisam, em alguma medida, ser neutralizados) e
preocupações com vulnerabilidades específicas de certos parentes.

Resume-se este conjunto de procedimentos como a necessidade de customização do


planejamento sucessório para obter um resultado efetivo no caso concreto.

Aspectos objetivos

Por outro lado, concomitantemente à efetiva adequação subjetiva do plano, não podem ser
afastados, para o seu delineamento, seus aspectos objetivos, compreendidos na própria
qualidade dos bens que compõem o patrimônio e os custos incidentes sobre o respectivo
planejamento. Não se está a dizer que existe uma fórmula imperiosa, como uma receita de
bolo. Porém, o aproveitamento financeiro e a economia fiscal na transmissão de bens entre
o autor da herança e seus herdeiros são objetivos que encontram algumas possibilidades de
sucesso no ordenamento jurídico brasileiro. Chegar a ambas pretensões demanda uma fina
sintonia, do advogado, com a disciplina de bens e, de igual modo, com a tributação
incidente nesta operação.

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06/06/2022 19:22 ConJur - Bucar e Teixeira: As armadilhas do planejamento sucessório

No que toca à simples transmissão causa mortis do patrimônio mediante a adesão de seu


titular à disciplina já disposta na legislação, sabe-se que aos herdeiros é facultada, em certas
hipóteses, a escolha de uma complexa rede tributária. Nela, encontram-se 27 leis estaduais
próprias que disciplinam a incidência de tributo direto (ITCMD), sem contar com o
complemento de legislações municipal e federal para a eventual tributação do ITBI e do
Imposto de Renda sobre acréscimos patrimoniais a que um acervo imobiliário venha a ser
contemplado [4].

Ademais, a mutação do ativo para aproveitamento de outras potencialidades, seja por


ato inter vivos ou mesmo por testamento, é outra importante estratégia a se considerar.
Contudo, é indispensável a plena ciência acerca das alterações da disciplina incidente sobre
cada espécie de bens. Pense-se, neste propósito, na constituição da denominada holding
patrimonial, para cuja sociedade são destinados bens imóveis de determinada família. Para
além da possível perda de garantias e incentivos fiscais sobre os bens (impenhorabilidade
do bem de família e isenção tributária de imposto de renda sobre ganho de capital), as
quotas passam a ser submetidas a uma normativa empresarial, que não foi esquadrinhada
para um ambiente de solidariedade familiar.

Conclusão

Dentro do limite que aqui é proposto, é de se chamar atenção para linhas gerais de
imprescindível consideração no estudo e prática do planejamento sucessório, as quais
permitem conhecer os efeitos das opções feitas para o seu desenvolvimento. Tal
conhecimento deve garantir que a alternativa eleita (entre várias outras) não se torne, ela
mesma, a própria armadilha do planejamento sucessório.

[1] Ao que toca o assunto seja permitido remeter a: TEIXEIRA, Daniele


Chaves. Planejamento sucessório: pressupostos e limites. p. 56-61.

[2] Chamando o respeito à legítima de primeira regra de ouro a se considerar no


planejamento sucessório: TARTUCE, Flávio; HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes.
Planejamento sucessório: conceito, mecanismos. In: TEIXEIRA, Daniele
Chaves. Arquitetura do Planejamento Sucessório (coord). 2ª ed. Belo Horizonte: Fórum, p.
385-401, 2019. .p. 435/439

[3] TEPEDINO, Gustavo; OLIVA, Milena Donato. Teoria Geral do Direito Civil. In:
TEPEDINO, Gustavo (org.). Fundamentos de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2020. p.
127-128.

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06/06/2022 19:22 ConJur - Bucar e Teixeira: As armadilhas do planejamento sucessório

[4] Tratando detalhadamente do assunto, PAULA, Fernanda. A tributação de herança sob


um enfoque de justiça: considerações e propostas para um correto aproveitamento das
heranças nos sistemas de ITCMD e do IRPF. Rio de Janeiro: Lumen Iuris, 2019. p.
123/165.

Daniel Bucar é professor de Direito Civil do IBMEC, doutor e mestre em Direito Civil
(Uerj) e sócio do escritório Bucar Marano.

Daniele Chaves Teixeira é advogada, parecerista, doutora e mestre em Direito Civil (Uerj).

Revista Consultor Jurídico, 17 de julho de 2020, 16h11

https://www.conjur.com.br/2020-jul-17/bucar-teixeira-armadilhas-planejamento-sucessorio?imprimir=1 4/4

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