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AO JUÍZO DA ___ VARA DE FAMÍLIA E SUCESSÕES DA COMARCA DE

XANXERÊ – SC

RENATO FRANÇA, nacionalidade, estado civil, engenheiro químico,


portador do RG nº ... e CPF nº ..., residente e domiciliado na Rua ... em Joinville/SC,
devidamente representado por seu advogado legalmente constituído com procuração
nos autos do processo e com escritório profissional localizado na Rua ..., onde
receberá as intimações, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência ajuizar
a presente:

AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE CUMULADA COM PETIÇÃO DE


HERANÇA E ANULAÇÃO DE PARTILHA EXTRAJUDICIAL

em face de: MARIA EDUARDA MELLO ALBUQUERQUE, 30 anos, nacionalidade,


estado civil, profissão, residente em Seara/SC; JOSÉ AUGUSTO MELLO
ALBUQUERQUE, 27 anos, nacionalidade, estado civil, profissão, residente em
Chapecó/SC; e LUIZ EDUARDO MELLO ALBUQUERQUE, 24 anos, nacionalidade,
estado civil, profissão, residente em Catanduvas – SC; pelos motivos fáticos e
fundamentos jurídicos que passa a expor:
I – DO FORO COMPETENTE

Apesar de a regra geral estabelecer que o foro competente é o do


domicílio do réu, os bens do de cujus encontravam-se em sua maioria em Xanxerê/SC,
bem como a partilha judicial ocorreu neste local, haja vista ser seu local de domicílio,
sendo, portanto, conforme preconiza o art. 48 do CPC o foro de Xanxerê/SC o
competente para o ajuizamento da presente ação.

II - DOS FATOS

O autor, Renato França, nasceu em 14/10/1990 e há algum tempo, vem


buscando informações sobre seu pai, visto que sua mãe Adalgina França, optou por
não revelar a identidade dele. Somente recentemente, Adalgina França revelou ao
autor que seu pai biológico é Rosinaldo Albuquerque, empresário falecido em janeiro
do corrente ano, conforme certidão de óbito anexa.
Rosinaldo Albuquerque residia na cidade de Xanxerê – SC, onde
mantinha seus negócios empresariais, conforme comprovado por documentos
anexos. O falecido era casado com Gisele Mello Albuquerque, que também é falecida,
comprovado por certidão de óbito anexa. Com ela, Rosinaldo teve três filhos, a saber:
Maria Eduarda Mello Albuquerque, José Augusto Mello Albuquerque e Luiz Eduardo
Mello Albuquerque, com 30, 27 e 24 anos respectivamente.
Em maio deste ano, os bens deixados por Rosinaldo foram partilhados
entre seus filhos por meio de inventário extrajudicial, conforme ata do inventário que
acompanha esta petição.
Sendo assim, faz-se necessária a presente ação, afim de que seja
declarada a paternidade, bem como seja garantido ao autor o direito do recebimento
de seu quinhão hereditário sobre o patrimônio, pelos fundamentos jurídicos que passa
a expor:
III - DO DIREITO

A) DA INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE

A investigação de paternidade é um instituto jurídico que se encontra


amparado pelos princípios e normas constitucionais, os quais conferem especial
proteção ao direito à identidade familiar e à dignidade da pessoa humana. A
Constituição Federal de 1988, em seu texto, reconhece a relevância da busca pela
verdade biológica e assegura a proteção dos direitos inerentes à filiação.
O artigo 227 da Constituição, inserido no Capítulo VII que trata da
Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso, estabelece que é dever
da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
com absoluta prioridade, o direito à convivência familiar. Nesse contexto, o
reconhecimento da paternidade é fundamental para a formação da identidade e dos
vínculos afetivos, bem como para a garantia dos direitos da criança, do adolescente e
do jovem.
Ademais, o princípio da igualdade (artigo 5º, caput) também é um pilar
constitucional que se reflete na questão da investigação de paternidade. Todos os
filhos, independentemente de sua origem, têm direito à igualdade de tratamento e ao
reconhecimento de sua filiação. Portanto, o direito à busca da verdade biológica
encontra respaldo na garantia de tratamento igualitário e de não discriminação
prevista na Constituição.
A Carta Magna também destaca a proteção à dignidade da pessoa
humana (artigo 1º, III), princípio basilar de todo o ordenamento jurídico. Nesse
contexto, a investigação de paternidade se reveste de relevância ao permitir que a
pessoa tenha acesso a informações sobre sua origem, o que contribui para sua
autoestima, segurança emocional e construção de sua identidade.
Ainda, o direito perseguido pelo autor está previsto na Lei 8560/92, que
dispõe sobre a investigação de paternidade dos filhos havidos fora do casamento e
dá outras providências.
Neste sentido, necessário se faz colacionar o artigo 1º da referida lei,
que segue:
Art. 1° O reconhecimento dos filhos havidos fora do
casamento é irrevogável e será feito: IV - por manifestação
expressa e direta perante o juiz, ainda que o
reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do
ato que o contém.

Cabe destacar também que, além de previsto na legislação especial, o


Código Civil determina a possibilidade do reconhecimento da paternidade, vejamos:
Art. 1.607. O filho havido fora do casamento pode ser reconhecido pelos pais, conjunta
ou separadamente.
Assim sendo, existente a possibilidade do reconhecimento tardio da
paternidade, cabendo ao Autor da demanda apresentar as provas necessárias para
que seus requerimentos sejam alcançados, situação essa também prevista na
legislação comum e na legislação especial, senão vejamos:

Art. 1.606. A ação de prova de filiação compete ao filho,


enquanto viver, passando aos herdeiros, se ele morrer
menor ou incapaz. Parágrafo único. Se iniciada a ação pelo
filho, os herdeiros poderão continuá-la, salvo se julgado
extinto o processo.

Ocorre que, no caso em concreto, o pai do autor faleceu ainda no mês


de janeiro do corrente ano, situação essa que impede a produção de qualquer outro
meio comprobatório, que não o exame de DNA, neste ponto, o art. 2º da Lei 8560/92
legisla no seguinte sentido:
Art. 2º-A. Na ação de investigação de paternidade, todos os
meios legais, bem como os moralmente legítimos, serão
hábeis para provar a verdade dos fatos. § 2º Se o suposto
pai houver falecido ou não existir notícia de seu paradeiro,
o juiz determinará, a expensas do autor da ação, a realização
do exame de pareamento do código genético (DNA) em
parentes consanguíneos, preferindo-se os de grau mais
próximo aos mais distantes, importando a recusa em
presunção da paternidade, a ser apreciada em conjunto com
o contexto probatório.
Importa destacar também que a pretensão do reconhecimento da
paternidade é imprescritível, bem como leciona Ana Carolina Borges:

A ação de investigação de paternidade tem natureza


declaratória e imprescritível, isto é, não prescreve; pode ser
proposta a qualquer momento. Os efeitos da sentença que
declara a paternidade são os mesmos do reconhecimento
voluntário e também “ex tunc”.

Assim, sendo tempestivo o direito do Autor, requer-se desde já que seja


determinada a produção de provas por meio do exame de pareamento do código
genético para que seja determinada a relação consanguínea entre o Autor e o Sr.
Rosinaldo Albuquerque.
Comprovada a paternidade, o autor adquire todos os direitos
decorrentes, inclusive o direito à herança, conforme o art. 1.829 do Código Civil.

B) DA PETIÇÃO DE HERANÇA

Reconhecida a paternidade a partir da realização do exame de DNA,


nos termos acima expostos, recairá sobre o Autor também o direito do recebimento
de seu quinhão hereditário, uma vez que se tornará herdeiro do Sr. Rosinaldo
Albuquerque.
Neste sentido, destaca-se que o Código Civil prevê a possibilidade da
realização da Petição de Herança, nas situações em que o autor busca reconhecer o
seu direito sucessório e, consequentemente, obter a restituição da herança, vejamos:

Art. 1.824. O herdeiro pode, em ação de petição de herança,


demandar o reconhecimento de seu direito sucessório, para
obter a restituição da herança, ou de parte dela, contra
quem, na qualidade de herdeiro, ou mesmo sem título, a
possua.

Art. 1.825. A ação de petição de herança, ainda que exercida


por um só dos herdeiros, poderá compreender todos os
bens hereditários.
Ocorre que, como já narrado anteriormente, sobreveio ao autor a
informação de que o inventário dos bens pertencentes ao de cujus já foi partilhado
entre os demais herdeiros, porém, sem que fosse resguardado o seu quinhão.
Neste sentido, destaca-se a possibilidade de se resguardar o montante
da herança devido ao Autor, ainda que os bens já estejam na posse dos demais
herdeiros, situação essa prevista pelo Art. 1.826 e seguintes do Código Civil, que
assim dispõe:

Art. 1.826. O possuidor da herança está obrigado à


restituição dos bens do acervo, fixando-se-lhe a
responsabilidade segundo a sua posse, observado o
disposto nos arts. 1.214 a 1.222. Parágrafo único. A partir da
citação, a responsabilidade do possuidor se há de aferir
pelas regras concernentes à posse de má-fé e à mora.

Art. 1.827. O herdeiro pode demandar os bens da herança,


mesmo em poder de terceiros, sem prejuízo da
responsabilidade do possuidor originário pelo valor dos
bens alienados. Parágrafo único. São eficazes as alienações
feitas, a título oneroso, pelo herdeiro aparente a terceiro de
boa-fé.

A fim de corroborar com o entendimento da parte Autora, destaca-se


que a corte catarinense julga no seguinte sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE


PATERNIDADE POST MORTEM C/C PETIÇÃO DE
HERANÇA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. APELO DOS
HERDEIROS DO DE CUJUS. EXAME DE DNA POSITIVO.
HIGIDEZ DA PROVA PERICIAL. PATERNIDADE
DEMONSTRADA. DIREITO À HERANÇA POR
CONSEQUÊNCIA DA FILIAÇÃO. [...]. PRINCÍPIO DA
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. ALTERAÇÃO DO
ASSENTAMENTO CIVIL MANTIDO. RECURSO CONHECIDO
E DESPROVIDO. (TJSC, Apelação Cível n. 0003455-
45.2012.8.24.0054, de Rio do Sul, rel. Stanley da Silva Braga,
Sexta Câmara de Direito Civil, j. 01-08-2017). [grifo nosso].
Dessa forma, a legitimidade do Autor para receber sua parcela dos
bens hereditários também se encontra evidenciada. Diante disso, torna-se
imprescindível proceder à anulação da Partilha Extrajudicial, com a subsequente
apreensão dos bens que foram previamente repartidos. A etapa final consistirá na
realização de uma nova partilha entre os herdeiros, assegurando a distribuição
equitativa das quotas entre todos os envolvidos.

III - DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer:


a) O recebimento da presente Ação De Reconhecimento De Paternidade C/C
Petição De Herança, juntamente com os documentos que a instruem;
b) Que seja determinada a citação dos Requeridos no endereço indicado no
preâmbulo da peça, para que respondam no prazo legal;
c) Que seja admitida em Juízo a produção de todos os tipos de prova, em especial
a realização do exame de DNA;
d) A dispensa da realização da audiência de conciliação;
e) Ao final, que sejam julgados procedentes os pedidos desta ação para o fim de:
1. Declarar o Sr. Rosinaldo Albuquerque pai do Autor, oficiando o
registro civil com a finalidade de retificar a certidão de nascimento;
2. Desconstituir a partilha de bens realizada por meio de inventário
extrajudicial.
3. Declarar o Autor herdeiro necessário;
4. Determinar a arrecadação de todo o patrimônio deixado pelo
falecido;
5. Proceder nova partilha dos bens respeitando o quinhão
hereditário cabível a cada herdeiro;
6. Determinar a imissão do autor na posse dos imóveis que lhe
couberem, bem como a apreensão dos bens móveis que lhe
couberem;
7. Condenar os requeridos aos pagamentos dos ônus processuais.
Dá-se à causa o valor de R$ 1.320,00, para fins de alçada fiscal.

Termos em que
pede deferimento.

ADVOGADO
OAB

Acadêmicos: Leandro Gromoski e Marcos Antonio Johann

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