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Universidade Federal de Pernambuco

Curso: Direito
Disciplina: Hermenêutica Jurídica
Professor: Gustavo Just da Costa e Silva
Alunos: Anna Victoria Vanderlei das Chagas
Elias Vinicius José de Santana
Lorena Steffany Ferreira Câmara
Maria Eduarda Monteiro Pereira
Nayanna de Oliveira Santana
Regidalva Souza Ribeiro de Almeida
Stephanye Nascimento Cintra
Vinícius Gabriel da Silva Mandú

Oficina 7

1. Interpretação gramatical favorável ao reconhecimento da união


homoafetiva.

Mesmo que no texto constitucional, no Art 226, § 3º, esteja previsto que o
Estado reconhece a união estável entre o homem e a mulher como entidade
familiar, a jurisprudência entende que esse não é o único núcleo social
correspondente ao termo família .

A Constituição erigiu, como entidades familiares, as formadas pelo casamento, pela


união estável e pelos grupos monoparentais. (Pág. 2, parágrafo 7)
[...]
E, por óbvio, também as uniões homossexuais.( Pág. 3, parágrafo 3)
[...]
Assim, pode-se concluir que, mesmo sem lei que as regule, as uniões homoeróticas
são reconhecidas pela Constituição como verdadeiras entidades familiares, para
alguns como entidades distintas, em vista de sua natureza e para outros, onde
ainda me filio como verdadeiras uniões estáveis. ( Pág. 4, parágrafo 5)

2. Interpretação gramatical contrária ao reconhecimento da união homoafetiva.

Passagens do acórdão na apelação cível 70005488812 (TJ-RS) - VOTO DO DES. JOSÉ


CARLOS TEIXEIRA GIORGIS (RELATOR)

“Em contrário à tese que vai se esposar, se diz que, todavia, por mais estável
que seja a união sexual entre pessoas do mesmo sexo, que morem juntas ou não,
jamais se caracteriza como uma entidade familiar, o que resulta, não de uma
realização afetiva e psicológica dos parceiros, mas da constatação de que duas
pessoas do mesmo sexo não formam um núcleo de procriação humana e de
educação de futuros cidadãos.” (Pág 2, parágrafo 1°)

Essa discriminação se dá pelo fato de se estar sendo seguida uma concepção que
exaure questões sociais e psicológicas, como está clamaremente exposto no trecho.
A partir de uma "constatação", que não têm por base alicerces sólidos para
mantê-la, exceto uma possível escolha ou agenda política do constituinte originário
e ordinário e de certas agendas políticas do legislativo, que acabam por tirar o
status de "cidadão de direitos" de certos grupos específicos.

3. Interpretação histórica (do tipo “trabalhos preparatórios”) contrária ao


reconhecimento da união homoafetiva.

Passagens do acórdão nos embargos infringentes 70011120573 (TJ-RS) - VOTO DO


DES. SÉRGIO FERNANDO CHAVES

“Ora, a família é um fenômeno natural e que prescinde de toda e qualquer


convenção formal ou social, embora não se possa ignorar que foram as exigências
da própria natureza e da própria sociedade acatando os apelos naturais, que se
encarregou de delinear e formatar esse ente social que é a base da estrutura de
toda e qualquer sociedade organizada.
Toda e qualquer noção de família passa, necessariamente, pela idéia de uma prole,
e foi a partir dessa noção que se estruturou progressivamente esse grupamento
social, em todos os povos e em todas as épocas da história da humanidade. Aliás,
foi a busca da paternidade certa que fez com que se passasse a ter o homem como
o centro da família e passasse a ser abominado o relacionamento poliândrico.
A sociedade foi evoluindo até chegar à monogamia, como ocorre no mundo
moderno e, particularmente, no mundo ocidental. Mas a estruturação da família
focalizou sempre a noção de homem, mulher e prole e acompanham o próprio
desenvolvimento social, cultural, e econômico de cada povo. (Pág 8, parágrafo 4)

(...)

Assim, a união de dois homens ou de duas mulheres não constitui núcleo


familiar,como também não constituiu núcleo familiar uma mera união de um homem
e uma mulher, pelo só fato de existir afeto.” (Pág 9, parágrafo 5°)

4. Interpretação histórica (do tipo “histórico-comparativa”) favorável.

Voto: O senhor Ministro Ayres Britto (relator)

Nesse trecho o autor faz um resgate do processo legislativo pretérito, no sentido de


compará-lo com o atual contexto. Nesse caso, o ministro Ayres Britto invoca a
Constituição de 1967, no que diz respeito ao processo construtivo para fazer essa
comparação, mesmo que elementos antigos não estejam mais presentes, sendo
suficiente o caráter essencial do conteúdo anterior, relacionado ao Texto Magno
atual, vejamos:.

“Não a única forma, como, agora sim, acontecia na Constituição de 1967,


literis: “A família é constituída pelo casamento e terá direito à proteção dos Poderes
Públicos” (caput do art. 175, já considerada a Emenda Constitucional no1, de 1969).
É deduzir: se, na Carta Política vencida, toda a ênfase protetiva era para o
casamento, visto que ele açambarcava a família como entidade, agora, na
Constituição vencedora, a ênfase tutelar se desloca para a instituição da família
mesma”.
(Pág. 22 - parágrafo 3)

5. Interpretação sistemática favorável ao pedido.

Passagens do acórdão da ADPF 132 (STF) -Voto do Ministro Joaquim Barbosa

“Assim, nessa ordem de idéias, eu concordo com o que foi sustentado da


tribuna pelo ilustre professor Luís Roberto Barroso, isto é, creio que o fundamento
constitucional para o reconhecimento da união homoafetiva não está no art. 226, §
3º da Constituição, que claramente se destina a regulamentar as uniões entre
homem e mulher não submetidas aos rigores formais do casamento civil. Dispositivo
que, segundo Gustavo Tepedino, representa o coroamento de um processo histórico
surgido na jurisprudência cível e que objetivava a inclusão social e a superação do
preconceito existente contra os casais heterossexuais que conviviam sem a
formalização de sua união pelo casamento.

Entendo, pois, que o reconhecimento dos direitos oriundos de uniões


homoafetivas encontra fundamento em todos os dispositivos constitucionais que
estabelecem a proteção dos direitos fundamentais, no princípio da dignidade da
pessoa humana, no princípio a igualdade e da não-discriminação. Normas, estas,
auto-aplicáveis, que incidem diretamente sobre essas relações de natureza privada,
irradiando sobre elas toda a força garantidora que emana do nosso sistema de
proteção dos direitos fundamentais. Com essas considerações, Senhor Presidente,
acompanho o relator. É como voto.” (Pág 37, parágrafo 3° e 4°)

6. Argumentação que considera insustentável interpretação favorável, mas


que acolhe o pedido com base na analogia.

Observo que a homossexualidade não constitui fato social novo, mas que vem
recebendo aceitação social progressiva, reconhecendo-se que a dignidade de uma
pessoa não está atrelada à sua orientação sexual. Admite-se que cada pessoa
exercite a própria sexualidade, externando comportamento compatível com a sua
própria maneira de ser, respeitados obviamente os limites da privacidade de cada
um.
A orientação homossexual é uma definição individual vinculada a apelos
próprios, físicos ou emocionais, sendo imperioso que a sociedade respeite o
sentimento de cada um, a busca da própria realização pessoal, pois todos devem
encontrar espaço para a integração ao grupo social a que pertencem, sem
discriminações.
As relações entretidas por homossexuais, no entanto, não se assemelham a
um casamento nem a uma união estável, pois estas são formas pelas quais se
constitui um núcleo familiar e, por essa razão, são merecedoras da especial
proteção do estado. Mas, ainda assim, merecem tutela jurídica, na medida em que o
par pode constituir uma sociedade de fato. No caso sub judice, porém, o pedido não
é de reconhecimento de sociedade de fato, mas de declaração de união estável,
que é uma entidade familiar. ( Pág 8, parágrafo 2, voto do desembargador Sérgio
Fernandes Chaves)

7. Trecho que sugere adesão à concepção de que os elementos de significado


são previamente dados pela norma (no caso, pela Constituição), e que a
atividade do intérprete não tem dimensão criadora.

“É princípio basilar de hermenêutica jurídica aquele segundo o qual a lei não


contém palavras inúteis, verba cum effectu sunt accipienda. As palavras inseridas
na norma, portanto, devem ser compreendidas como possuidoras de eficácia.
“Nessa linha, o que se pode extrair da atual sistemática normativa é que o
legislador limitou ao relacionamento heterossexual o status de união estável, não só
porque expressamente fez referência à necessária diversidade de sexos, mas
também impôs a necessidade de facilitação da conversão desta em casamento,
instituto que a lei não alberga para os relacionamentos homoafetivos.
“Entender-se de modo diverso, com todo o respeito dos que pensam
diversamente, seria ignorar a diretriz traçada pela Constituição Federal, conduzindo
à ineficácia dos preceitos pertinentes à matéria. Além disso, a excluir simplesmente
a interpretação literal da previsão da Carta Magna estar-se-ia, por exemplo,
abrindo-se a possibilidade de, igualmente, admitir-.se a existência de uniões
consensuais entre três ou mais pessoas, situação que por enquanto não é, da
mesma forma, permitida pelo ordenamento pátrio.”
(Pá 13, parágrafos 2, 3 e 4) - Passagens do acórdão na Apelação Cível
994.08.127501-0(TJ-SP)

8. Trecho que sugere que a atividade do intérprete pode ter uma dimensão
criadora do significado da norma.
“Portanto, é certo que o Supremo Tribunal Federal já está se livrando do
vetusto dogma do legislador negativo, aliando-se, assim, à mais progressiva linha
jurisprudencial das decisões interpretativas com eficácia aditiva, já adotada pelas
principais Cortes Constitucionais do mundo. A assunção de uma atuação criativa
pelo Tribunal pode ser determinante para a solução de antigos problemas
relacionados à inconstitucionalidade por omissão, que muitas vezes causa entraves
para a efetivação de direitos e garantias fundamentais assegurados pelo texto
constitucional.” ( Pág. 44,parágrafo 5. Último parágrafo das ‘Discussões’, sendo o
fim da fala do Ministro Gilmar Mendes)

O trecho destacado da fala do Ministro Gilmar Mendes aponta para um


crescimento da atuação criativa com decisões interpretativas do Tribunal, a qual,
evidentemente, tem dimensão criadora do significado da norma.

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