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A Mutação Constitucional encontra no sistema constitucional brasileiro uma

fundamentação no neoconstitucionalismo, que tendo origem democrática  influenciou


na criação da atual Constituição Brasileira ao valorizar os diretos fundamentais,
passando a ter função central no ordenamento jurídico brasileiro, além do
fortalecimento do Supremo Tribunal Federal (STF). Fazendo-se concretizador e
intérprete máximo da norma constitucional, e um verdadeiro guardião da Constituição.
Uma das características do novo governo constitucional é a constitucionalização da
ordem jurídica, que confere à Constituição o poder de influenciar outros ramos do
direito. Esse recurso foi incorporado à Constituição Federal de 1988, segundo a qual tal
carta política foi projetada nos diversos ramos do direito.
O processo informal de mudança da Constituição, chamado de Mutação Constitucional
através de um rito próprio, altera a semântica de suas normas de modo que a sua
interpretação se compatibilize e se atualize com os novos valores compartilhados pela
sociedade e pela realidade de cada geração, nos limites do texto constitucional e de seus
valores fundamentais. É conceituada como um processo que se destina a atribuir novos
sentidos ao texto constitucional, alterando-o de maneira não prevista nas normas
constitucionais, onde para tal alteração são utilizadas as interpretações e os costumes da
sociedade em que a constituição modificada possui eficácia.
No Brasil, a atual CRFB/88 já começa a experimentar desse fenômeno, o que tem sido
evidenciado em algumas decisões do STF como por exemplo o caso que diz respeito à
mudança da interpretação do art. 226, § 3º da CRFB/88 que assim expressa:
1. União Homoafetiva (art. 226, § 3º)

“Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a


mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”.

Em sua interpretação literal, o dispositivo em questão limita a possibilidade de união


estável entre um homem e uma mulher. Numa interpretação histórica, isso ficou
evidente nos debates da Assembléia Constituinte, onde a questão de gênero nas uniões
estáveis foi amplamente discutida.

Com o passar dos anos, porém, o Brasil mudou drasticamente, e a realidade tem
mostrado que as uniões estáveis do mesmo sexo são um fato natural da sociedade. Em
pouco tempo, várias questões envolvendo direitos familiares, sucessórios e
previdenciários, referentes às uniões entre pessoas do mesmo sexo, bateram à porta do
judiciário. No entanto, o conservadorismo foi incentivado por ordens antigas, e algumas
decisões judiciais retiraram dos casais do mesmo sexo o direito de conceder cônjuges e
parceiros do sexo oposto. Nesse caso, o Governador do Rio de Janeiro ajuizou a ADPF
132/RJ contestando o Decreto nº 220/1975, enquanto o Procurador-Geral da República
ajuizou a ADIN 4277/DF contestando os arts. CC/02 nº 1723. Essas ações objetivas,
julgadas conjuntamente pelo STF em 2011, geraram forte repercussão na advocacia e na
sociedade por meio da mídia.
Portanto, o Supremo Tribunal Federal tem realizado uma interpretação sistemática e
teleológica da Constituição, reconhecendo que a Constituição garante o direito às uniões
estáveis do mesmo sexo, e sua proteção legal é a mesma da união estável entre homens
e mulheres. Como resultado, foram feitas interpretações no âmbito da Constituição
Federal, excluindo qualquer significado do art. O artigo 1.723 do Código Civil proíbe o
reconhecimento de uniões do mesmo sexo como entidade familiar.
Diante do que foi apresentado, concluímos que há um conflito entre a permanência do
texto constitucional e a necessidade de alterá-lo. A importância da permanência é dar
estabilidade ao texto da Constituição, pois esta trata de questões de estrutura estatal, e
não pode ficar à mercê de determinados grupos políticos em detrimento da maioria da
sociedade. Por sua vez, a possibilidade de alteração da Constituição decorre da
necessidade de adequação do texto constitucional aos momentos vividos pela sociedade,
pois a Constituição não pode ser estática, ela deve evoluir com a sociedade para manter
as normas constitucionais vigente.

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