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Direito da Família: Teóricas

Professora Margarida Silva


Email para aceder às aulas: margarida.silvapereira@hotmail.com em caso de dúvida
sobre como aceder às aulas ou problemas quanto ao ID da reunião por Zoom.
Bibliografia necessária: manual Direito da Família da Associação Académica da
professora Margarida Silva Pereira.
Vamos na próxima aula dar a noção de família e de direito de família e depois mais à
frente passar para as fontes e relações jurídicas familiares (durante algum tempo).
Dia 29 avançamos para as fontes e entraremos no casamento a 6 de outubro.

22.09.2020

O conteúdo está em grande parte no Código Civil.


O Código de 1966 atribui ao Direito da Família um livro próprio que elenca as fontes
das relações jurídicas familiares que eram políticas, ou seja, ninguém discutia se seriam
ou não todas aquelas fontes do Direito familiar.
Se o casamento ou a união de vontades por via do qual duas pessoas decidem
constituir uma plena comunhão de vida, quando estas pessoas celebram este negócio
jurídico (contratual ou não) este casamento é fonte de relação jurídica familiar, mas
como filha dos meus pais, esta relação não é uma fonte de relação familiar, ou seja,
esta qualidade de descendente determina já ela própria uma relação jurídica familiar e
não uma fonte.
Ingressamos no Código Civil e tentamos perceber o que é que ele entende por
“família”, há autores que afirmam que o Direito da Família é o mais mutante de todos
os conteúdos que integram o Código Civil, por razões sociológicas: o termo família que
identificamos à primeira vista tem mudado desde sempre e tem em estrita coerência
continuado a mudar nas últimas décadas. A família é uma realidade intrínseca
decorrente da natureza das coisas, é uma juridicidade intrínseca à família, dela decorre
um sentido normativo jurídico evidente, e a família tem transmutações e sofre
alterações e extensões que determinam esta proliferação dos seus conteúdos.
Desde a entrada em vigor do Código Civil, muita coisa aconteceu do ponto de vista
legislativo. O casamento era estritamente heterossexual, marcado pela
preponderância dum sexo em relação ao outro, dotada dum chefe (da família), que
tinha uma capacidade de determinação de aspetos importantes da realidade familiar
constituída pelo casamento (que era o poder paternal).
Depois atingiu-se a igualdade dos cônjuges que o Código depois inscreveu, e passa um
longo tempo do ponto de vista da conceção política da sociedade, passamos de um
regime autoritário para um regime democrático (com a revolução de 25 de abril), seria
desconforme à constituição haver uma preponderância dum sexo em relação ao outro.
Houve, então, mudanças no direito da família, ao nível das leis do divórcio, por
exemplo.
Depois da reforma de 1977, houve grandes alterações: o casamento passa a ser
dirigido por ambos os cônjuges na sua vigência, mas ainda em 1977 a figura da união
de facto não era mencionada nem no código nem na Constituição, era algo de exógeno
à realidade portuguesa.
Artigo 2020º tem a epígrafe de união de facto e atribui elementos àquele que viveu
com outra pessoa em condições análogas às condições dos cônjuges. A reforma de 77
atribuiu, ainda assim, importância às uniões de facto.
O divórcio era uma realidade muito mais confinada porque estiveram em vigor a
concordata entre Portugal e a República da Santa Sé, nos termos da qual o divórcio
católico não era possível; a seguir ao 25 de abril passa a ser possível.
Agora, as crianças estão todas em pé de igualdade, quer elas tenham nascido dentro
ou fora do casamento. Antes, um filho fora do casamento gerava um sofrimento.
A reforma olhou muito para os direitos e deveres dos cônjuges, igualdade das crianças
e matérias da filiação e lutaram para a sua juridificação.
A união de facto é uma realidade dotada de uma pequena perceção jurídica;
posteriormente, veio a densificar-se do ponto de vista da lei, sendo alterada pela lei 23
de 2010, aglutinando-se outros diplomas que completam esta realidade de união de
facto (o modo que a lei conceptualiza como duas pessoas que, não optando pela
celebração do casamento, ainda assim constituem um núcleo de intimidade).
Esta união de facto é questionada pela doutrina se é ou não uma realidade familiar,
sendo que muitos argumentos apontam que a união de facto é uma fonte de relação
familiar, porque cada vez mais o legislador assume aos unidos de facto
responsabilidades que dificilmente se podem não conceber como uma realidade de
família: se, por exemplo, uma das pessoas na relação têm descendentes de uma
relação anterior e caso esteja inibido de realizar as suas funcionalidades parentais, a
pessoa a quem o legislador prefigura como destinatário natural do exercício das
responsabilidades parentais, é o unido de facto do progenitor (que, por qualquer
motivo, não consegue exercer as suas funções). Ou, por exemplo, em caso de perda de
capacidades mentais (no âmbito do maior acompanhado) a decisão de
acompanhamento (que no casamento seriam entregues ao cônjuge) é, em alternativa,
recai sobre o unido de facto.
Assim, há uma série de consequências jurídicas (como estas vistas em cima) que nos
leva a pensar que esse é, no fundo, o entendimento do legislador, ainda que não
explicitando.
Os unidos de facto têm, ainda, vários direitos dos cônjuges, como o direito à
reprodução por meios médicos (mais argumentos a favor).
Uma boa parte do regime de adoção, hoje em dia, faz parte duma legislação não
codificada (fora do Código Civil), tendo matéria familiar jus-familiar não codificada e
codificada.
Competia ao legislador ordinário codificar o casamento entre pessoas do mesmo sexo,
porque na realidade não havia nada na Constituição que proibisse essa decisão. A
adoção pensada pelo artigo 1576º do CC é hoje também por casais do mesmo sexo e
adoção por casais heterossexuais.
Há uma escassez da realidade familiar no Código Civil, que não contempla as uniões de
facto nem toda a realidade adotiva, figura do apadrinhamento civil e, mesmo a lei do
divórcio, está integrada no Código, profundamente alterada em 2008 (quando o
divórcio é reformulado), passa a permitir-se o divórcio rutura, aparecendo codificado
mas, sendo hoje uma matéria codificada, tem um sentido completamente diferente do
de 76 e mesmo em mercê da reforma de 77. A lei do divórcio de 2008 é uma reforma
grande que nos leva a dizer que há faltas de sintonia e coerência legislativa entre os
entendimentos do que é casamento e família em parte do Código, e aquilo que é o
entendimento legislativo da família a partir da lei do divórcio.
O Direito da Família é um direito parcialmente codificado, um direito questionado
quanto à inclusão de alguns dos institutos, sendo o direito codificado um direito com
incoerências sistemáticas e axiológicas que nos levam a divergir doutrinariamente.
Estudar Acórdão que aborda a questão: duas pessoas viviam em união de facto há
muito tempo e, estando um dos unidos de facto muito doente, o outro decide que se
realize o casamento, porque isso lhe conferia direitos sucessórios que não lhe eram
atribuídos pela união de facto (o cônjuge herda, o unido de facto não herda). O
casamento tenta realizar-se: um dos unidos de facto (o doente de perturbações
neurológicas, que estava para morrer) precisava dum casamento urgente. O
casamento celebra-se e o senhor morre, e o caso é colocado em tribunal e a validade
deste casamento é questionada do ponto de vista da capacidade da pessoa doente
para se decidir casar: entendia-se que não havia capacidade porque a pessoa sofria de
afetação neurológica, e o que o juiz decide é que apesar desse discernimento, e
porque o casamento é uma realidade tão evidente que qualquer pessoa (mesmo sem
faculdades mentais) entende perfeitamente, este casamento deve ser considerado
algo que resulta da autonomia da vontade da pessoa doente. Há aqui uma confusão
entre a capacidade para perceber o que é um casamento e a liberdade de
discernimento no momento em que o casamento foi celebrado.
O que terá, então, levado o juiz a decidir neste sentido? Terão sido determinantes
razões de justiça e equidade, entender-se que aquelas pessoas que sempre viveram
em união de facto quereriam ambas que a ponta final viesse a não prejudicar aquele
que sobrevivesse. Página 88 do Manual.
A professora aconselha a abordar e analisar os Acórdãos dados.

29.09.2020

A próxima aula prática é uma pré-preparação dos casos do livro apresentados no


primeiro capítulo do livro.
Este conceito de casamento está conotado de uma evolução histórica e dogmática: de
uma primeira formulação (primitiva do Código Civil) que impunha uma ideia de família
dotada de um chefe, passa para um princípio de igualdade dos cônjuges, dirigem a
sociedade conjugal, que corta a ideia de predomínio e chefia de apenas um dos
membros da família.
A Reforma vem impor isto acima referido.
Em 2010 entra a lei (que atualmente determina a alteração neste conceito de
casamento) lei 9 de 2010 de 31 de maio, que vem pôr em vigor o casamento entre
pessoas do mesmo sexo. Foi uma lei que gerou alguma turbulência, mas que é agora
pacífica.
Casamento- artigo 1577º.
A partir da página 321 temos um acórdão sobre esta matéria, analisado em 2010.
O casamento das pessoas do mesmo sexo determina que este seja definido como um
contrato celebrado entre duas pessoas.
Ao estudar os deveres conjugais, verificamos que eles aparecem elencados pelo código
mas não existem codificadas sanções, no livro da família, para o incumprimento dos
deveres conjugais e, ao nível do divórcio, no qual as pessoas podem obter o divorcio
sem o consentimento do cônjuge, divórcio rotura, o legislador tendeu a incrustar este
principio em nome da liberdade da obtenção do divórcio, e também em nome do
princípio de que as pessoas tem direito a reserva da sua intimidade quando decidem
dissolver a sociedade conjugal.
A lei 61 de 2008, lei do divórcio, fala-se em responsabilidades parentais, exercidas
igualmente pelos dois pais, o que assume a igualdade dos sexos no que diz conta ao
casamento e filiação e responsabilidades parentais. Isto é importante, pois deixa claro
que as responsabilidades alteram todas as normas que existem no Código Civil sobre
“o chefe de família”, sendo que a lei do divórcio tem o princípio de evitar este
conceito, pois o legislador assim entendeu que se devia evitar a violência, e que os
cônjuges ou ex-cônjuges (ou agregado familiar) sejam vítimas desta violência
doméstica. A família é um projeto de uma sede de afetos, mas é também uma fonte de
muita violência que efetivamente se exerce, devidamente pelas sociedades patriarcais.
Este conceito de casamento é atualmente, como codificada no Código determinante a
que o casamento seja uma realidade precária e datada porque o divórcio pode ser
obtido como muito mais facilidade.
Quando um dos cônjuges não quer o divórcio, será difícil obter um consenso como
modalidade de divórcio, o que acontece é cometer ao juiz ver se há uma rotura
definitiva do casamento e, se existe, o juiz decreta o divórcio, e estamos perante o
divórcio rotura (litigioso).
O legislador fala em divórcio sem o consentimento de um dos cônjuges, pois a
violência dentro das vidas conjugais continua a existir, e ainda há graus elevados de
violência que determinam uma situação atentatória, muitas vezes, da integridade dos
cônjuges e agregado familiar ou pessoas muito próximas (filhos fora do casamento
talvez).
Os deveres conjugais não são passíveis de sanção, não há sanção para os deveres
conjugais, e existe uma possibilidade mais acessível do divórcio.
Em contraponto, há um estatuto patrimonial dos cônjuges extraordinariamente
apertado, como os regimes de bens e dívidas, e verificaremos se, se assumimos o
estado de casados, os direitos conjugais não encontram um regime apertado,
enquanto que o estatuto patrimonial dos cônjuges é apertado e carece de alguma
leitura crítica que não deixaremos de fazer (isto no Código Civil).
União de facto: hoje configura uma relação jurídica familiar não codificada. Esta
relação de duas pessoas que vivem em condições análogas às dos cônjuges, e para que
seja juridicamente relevante, esta relação tenha uma duração mínima de 2 anos. Na
ordem jurídica portuguesa, a união de facto deveria ter um sistema comprovativo
diferente, porque de acordo com a nossa ordem, comprova-se desde que eu me dirija
à justa de freguesia. A união de facto pode comprovar-se testemunhalmente. O regime
matrimonial e o de união de facto são diferentes, logo, a união de facto nunca poderá
ser equiparada ao casamento. A união de facto não tem um estatuto patrimonial, não
vigora um regime de bens ou de responsabilidade por dívidas, não encontramos
sequer um elenco de deveres pessoais a serem cumpridos pelos cônjuges.
Por outro lado, a pensão de sobrevivência é a mesma nos dois regimes.
As responsabilidades parentais norteiam-se pela convenção dos direitos das crianças,
portanto prevalece no processo sempre o critério jurídico de aplicação da convenção
dos direitos da criança (prevalece sempre). O legislador assim o fez que seja que
criança for (num dos dois regimes ou numa família monoparental), que se
responsabiliza os progenitores ou quem as realiza.
Regime de comunhão de adquiridos: o salário dos cônjuges é um bem comum, muitos
bens trazidos para o casamento são bens comuns, mas os bens por herança ou doação
não são.
Temos, no regime do casamento, um estatuto pessoal, sem mecanismos
sancionatórios, e um estatuto patrimonial altamente densificado e injuntivo (poucas
possibilidades de o alterar).
São da responsabilidade dos cônjuges as regras do artigo 1676º/2.
Não é por uma figura estar fora do Código Civil que deixa de ser importante (união de
facto, em que são definidas responsabilidades em alguns casos).
O casamento tem um estatuto sucessório, que a união de facto não tem.
Aproximação no gozo conjunto de férias e pensão de sobrevivência são conceitos
comuns tanto no casamento como na união de facto.
Acórdãos para a próxima aula: Relação de Guimarães e caso de Yilmaz contra o
tribunal Alemão.

6.10.2020
Duas pessoas vivem com um compromisso típico da vida conjugal, mas a certa altura
um deles resolve ir fazer Erasmus ou ir trabalhar para o estrangeiro, e temos que
reconhecer que estas duas pessoas deixaram de viver em regime de coabitação stricto
senso, o problema está em saber se esta circunstância determina a interrupção da
união de facto.
A lei diz-nos que a vida em união de facto é a vida em condições análogas aos
cônjuges, artigo 1673º do CC, especialmente o número 2, admite que na constância do
casamento, se houver motivos ponderosos em contrário, os cônjuges não coabitam,
pode acontecer que um dos cônjuges tenha um motivo ponderoso para interromper a
coabitação, e esta interrupção está prevista para o próprio casamento. É o legislador
que configura estes motivos ponderosos, e não há razão de lei nem fundamento legal
para que não apliquemos quando se verifica uma interrupção do perfil da vida do
unido de facto, pela circunstância de as pessoas pontualmente não estarem a viver
naquele momento coabitando.
Esta vida em não coabitação não configura o inverso da vida em condições análogas às
dos cônjuges.
A prova da união de facto é redutora de efeitos da construção jurídica, temos união de
facto constituída apenas com comprovação emitida junto da Junta de Freguesia, ou
também temos provas na ordem jurídica portuguesa.
Um regime de bens não existe na união de facto, um efeito de tipo pessoal suscetível
de sanção não existe nem na união de facto nem no casamento, efeitos patrimoniais
(regime de bens) não existe na união de facto. Efeitos sucessórios não existem na
união de facto.
Cessada a união de facto, uni ou bilateralmente, formal ou informalmente, existe o
direito à casa de morada de família ou a pensão de sobrevivência.
A lei prevê um casamento heterossexual e homossexual, e caracteriza este casamento
juridicamente contemplado, uma solenidade, ao contrário da união de facto, o
casamento tem de ter uma constituição solene (civilmente ou catolicamente) e
tenho de me casar de acordo com fixações contempladas na lei.
O casamento urgente tem de sofrer um processo próprio de formalização mais
instante.
Vamos concentrar-nos nas regras fundamentais do regime de estatuto patrimonial dos
cônjuges.
Por regra, as pessoas que casam no regime de comunhão de adquiridos (regime legal
supletivo), mas podemos estabelecer outro regime de bens. Como?
1698º do CC diz-nos que posso casar-me e fazer vigorar um regime de bens que não o
regime de comunhão de adquiridos, mas, diferentemente do que acontece na maior
parte dos países da Europa, esta regra tem de ser fixada para aquele casamento e para
toda a constância daquele casamento (imutável na convenção antenupcial). Noutros
países já é possível mudar de regime, desde que dê conhecimento a terceiros, porque
se trata de algo com reflexos patrimoniais na esfera de todos aqueles que lidam
patrimonial e têm interesse em saber se o imóvel x ou y me pertence a mim ou se é
um bem comum. É uma questão de apertada segurança jurídica quanto a terceiros.
Aos 60 anos de idade, as pessoas estão no pleno uso das suas faculdades, e o
casamento contraído nesta idade não é com alguém debilitado (e, mesmo que fosse,
estávamos perante um regime de maior acompanhado).
Artigo 1698º: um dos limites é o de haver casamentos que têm de ser celebrados
naquele regime específico. Quem já tenha filhos anteriores ao casamento que vai
contrair, não pode casar num regime mais amplo do que o regime de comunhão de
adquiridos.
Eu posso decidir que vigoram as regras típicas da comunhão de adquiridos, mas os
bens que eu herdar das minhas tias são bens comuns em vez de bens próprios. Aqui,
estou a introduzir no regime regras que são típicas de um regime congregado, num
regime de comunhão de adquiridos. Isto é perfeitamente possível, são os
denominados regimes atípicos.
Há outras regras que são particularmente importantes na matéria das convenções
antenupciais: artigo 1710º, 1711º, 1712º.
A convenção é imutável, não há dúvidas quanto a isto.
estas regras são perfeitamente discutíveis, feitas para uma tipologia de um casamento
com probabilidade de ser muito duradouro (“para a vida”).
Temos aquela estratégia dos cônjuges se divorciarem e contraírem novo casamento só
para mudar o regime.
Artigo 1714º: não posso alterar o regime de bens.
Exceções ao princípio da imutabilidade: artigo 1715º: em conflito, pode desaparecer o
regime, para não ser prejudicada financeiramente, mas continuar casada com ele/ela,
o regime é alterado judicialmente, e acaba o regime da convenção antenupcial ou o
regime supletivo.
Eu posso ter celebrado um casamento inválido: a convenção antenupcial caduca,
aquando da anulação do casamento. Posso ter casado sem estar em mim, ou casar
com um familiar meu.
A convenção antenupcial tem como acontecimento posterior o casamento, logo, se o
casamento é anulado, acaba-se o regime acordado ou celebrado na convenção
antenupcial.
Há uma lei muito importante, regra recente que nos aparece no Código Civil, nos
termos da qual, e só na convenção nupcial, os cônjuges podem reciprocamente
renunciar ao estatuto de herdeiro legitimário, caso o regime seja geral ou imperativo
de separação de bens.
Esta configuração da renúncia é objetável: porque é que não pode apenas um dos
cônjuges. Não faz sentido que o legislador tenha sido tão restritivo.
Desta renúncia resulta em, quem se casou, pode optar pelo regime de separação de
bens e pela renúncia ao estatuto de herdeiro. Quem já estava casado, porque as
convenções são imutáveis, não pode vir renunciar o estatuto, porque já estava casado
e o regime de bens supletivo é imutável porque a convenção é imutável e não há
possibilidade de alteração.
13.10.2020

Começando na página 223 do Manual da regente.


Primeira questão: Temos, na ordem jurídica portuguesa, o sexto grau como aquele
“último” que faz parte ou é relevante para se fazerem as análises como, por exemplo,
quanto á herança.
Segunda questão: O quarto grau é compósito porque engloba o grau dos primos
direitos (nossos colaterais no quarto grau) e engloba uma outra categoria: a relação tia
e avó ou tio e avô.
Quando morre alguém, há uma casa que fica esvaziada, e pretende-se saber como
resolver essa perturbação suscitada a terceiros e é muito mais ágil que estas
perturbações sejam resolvidas por quem tenha uma relação familiar mais dialogante
com quem morreu ou quem está em melhores condições para resolver esta
perturbação. Isto tem consequências quando se trata do quarto grau, porque ele
engoba mais do que uma relação, é compósito, e esta dogmática suscita muitas
questões de ordem prática. pessoas com a mesma tipologia ou modalidade do
parentesco. Hoje em dia, perante este problema do quarto grau, o legislador tende
mais para que sucedam pessoas de idade mais nova, porque se tende mais para o
futuro.
Promessa de casamento: artigo 1591º: ineficácia da promessa.
O legislador entendia que estes compromissos, porque não configuravam realidades
jurídicas e contratuais, não nos podíamos comprometer a casar com ninguém, isto
antes do Código de Seabra.
Não é pelo facto de qualquer um de nós se comprometer a casar com alguém que
incorre a cumprir o contrato promessa, em nome da nossa liberdade. O casamento é
uma realidade pessoal, e não faz sentido aplicar uma regra que nos obrigue injuntiva
mente a casar, eu posso querer casar-me hoje e depois haver outras barreiras e posso
ter essa liberdade de não me querer casar.
Artigo 1694º: se eu incumpro uma promessa, tenho aqui obrigação de indemnizar a
outra parte, mas, a chave hermenêutica da especificidade da promessa de casamento
está no número 3: é o tribunal que vai dizer em que medida é que o incumprimento dá
origem a uma obrigação de indemnizar, segundo um critério de razoabilidade.
Exemplo deste critério: António e Beatriz resolvem casar e, muito entusiasmada,
Beatriz começou a tratar dos preparativos do casamento, nomeadamente contratou a
ocupação duma discoteca onde se realizaria a festa- um local grande, pensando fora
da pandemia- fez um contrato de ocupação, adiantando 3000€ de pagamento.
Comprou, também, um caríssimo vestido de casamento. A sua tia resolve transferir-lhe
dinheiro pra pagar as despesas iniciais.
António resolve apaixonar-se por outra pessoa, Carlos, mas não tendo coragem de
admitir, resolve atar uma perna com uma ligadura e compra uma bengala e diz que é
impossível cumprir o processo preliminar de casamento porque não tem como se
deslocar. No 1594º podemos configurar esta situação: qualquer motivo que
seriamente me leve a mudar de ideias, hoje em dia, deverá ser considerado um bom
motivo para que isso me aconteça. O legislador entende que, em determinados casos,
e só neles, haverá uma obrigação de indemnização. Qualquer mudança de
sentimentos, em bom rigor, devia ser considerada para a sua dissolução. Esta
facilitação do casamento e da sua dissolução deveria ter uma facilitação, também, na
dissolução do contrato de promessa de casamento.
O legislador aceita a introdução de um critério ético (mais ou menos sério) e introduz
um critério ético na maneira como devemos agir de acordo com a contra-parte.
A professora acredita que em todos os casos deveria haver obrigação de
indemnização, ainda que apreciada pelo juiz.
Regime da convenção antenupcial: se não houve atos reiterados, a promessa caduca
ao fim de 1 ano.
Próxima aula teórica: o que é romper uma promessa com culpa ou sem justo motivo;
artigos 1592º e 1593º.

27.10.2020

Artigo 1639º/1: Ação de anulação: se duas pessoas casam e o casamento está ferido
de invalidade por existência de um impedimento absoluto ou relativo, há pessoas que
têm legitimidade para intentar a ação: as pessoas que casaram, os colaterais até ao
quarto grau (em linha reta todos herdam e não há grau) e, além destes, os herdeiros e
adotantes dos cônjuges (pessoas privadas) e junta uma entidade pública: o Ministério
Público.
Artigo 1639º/2: seguramente que aqueles que têm responsabilidades diretas (tutor ou
acompanhante com poderes judicialmente conferidos) e no caso da bigamia, o
primeiro cônjuge.
Artigo 1643ª/1: o próprio tem um prazo mais curto: sendo eu menor e casando-me,
atinjo a maioridade, posso invalidar o meu casamento? Até 6 meses depois de atingir
a maioridade, sim.
A própria pessoa tem um prazo para intentar a ação, mas há casos em que a lei prevê
um prazo de 3 anos: para uma das pessoas privadas que vimos no artigo 1639º e que
têm interesse nesta matéria, que têm um prazo que é de 3 anos, não assim tão grande.
Existe um tipo de gravidade tal em inquinar aquele casamento, que permite que até 6
meses depois da dissolução do casamento, possa a ação ser intentada por pessoas
privadas, pelo interesse ao nível da herança (patrimonial).
Artigo 1643º/2: Qualquer casamento que esteja ferido por invalidade por existência de
impedimento dirimente, pode sempre, até ao momento da sua dissolução, por
divórcio ou morte, ser invalidado. Enquanto as pessoas privadas têm, em relação a
muitos casamentos, um prazo relativamente curto, o Ministério Público tem sempre
até à dissolução do casamento, e tem tendencialmente um prazo maior do que o das
pessoas privadas, mas não tem um prazo alargado de 6 meses após a dissolução após
o casamento, coisa que existe em relação às pessoas privadas.
Artigo 1647º/1: Casamento putativo: um casamento, mesmo declarado inválido,
produz alguns efeitos, desde que seja contraído de boa-fé pelos cônjuges ou produz
efeitos apenas para o cônjuge que o contraiu de boa-fé.
Artigo 1604º: se a autorização tiver sido exercida, eu não sofrerei de nenhuma sanção,
nem o meu cônjuge. Se porventura, nos tivermos casado sem a autorização, não é um
casamento inválido, mas estaremos num regime de sanção.

3.11.2020

Os fundamentos para a invalidade dos casamentos: quando há falta de vontade


(situação de coação física ou moral, por exemplo, física é quando alguém literalmente
agarra na nossa mão e nos obriga a assinar, moral quando nos apontam uma arma à
cabeça e não nos dá outra opção senão assinar casamento), artigo 1635º e 1638º,
dizem-nos em que casos o casamento é anulável por falta de vontade. Outra coisa é,
tendo vontade de casar, eu estou a casar com a minha vontade viciada por alguma
razão, o que pode perfeitamente acontecer (eu caso com outra pessoa e julgo que ela
é rica, vindo a descobrir que ele/ela é pobre) artigo 1636º.
Processo preliminar: artigo 1610º, quando as pessoas pretendem contrair casamento,
deverão começar por intentar início a este processo preliminar que visa perceber se a
pessoa com quem nos vamos casar é uma pessoa no uso das suas faculdades mentais
ou outros aspetos importantes. Com impedimentos impedientes, o objetivo do
legislador é que todos os impedimentos sejam conhecidos com este processo, sendo
que hoje é relativamente fácil reconhecer estes impedimentos, com o grande acesso à
informação.
Sanções dos casamentos com impedimentos impedientes: 1649º e seguintes.

24.11.2020

Convenções antenupciais: há ou não no casamento convenção antenupcial, se há,


temos de saber se os cônjuges celebraram um regime alternativo ao regime legal
supletivo; se sim, o regime pode ou não valer.
Eles podem ter filhos de casamentos anteriores, e não podem dizer que os bens
herdados ou doados a um deles, sem clausula de comunicabilidade, são considerados
como bens comuns, porque não resulta do regime de comunhão de adquiridos.
Podemos restringir, podem casar num regime de separação de bens com filhos de
casamentos anteriores.
Há matérias do estatuto patrimonial que não podem ser alteradas na convenção
antenupcial, as matérias reguladas no artigo 1699º.
Saber se o bem é meu ou comum; saber quem administra os bens (posso administrar
os meus e às vezes não, se forem utilizados como instrumento de trabalho pelo meu
cônjuge, é ele que administra o bem, exemplo do táxi).
Quem tem a responsabilidade pelas dívidas: é da responsabilidade comum e contraída
pelos dois; contraídas só por um mas responsabiliza ambos; dívidas que
responsabilizam só um, regime duro que em principio responsabiliza os bens do
cônjuge administrador, e vêm responder bens próprios, responderão os salários, desde
que estes sejam bens comuns, o que acontece na maioria dos casamentos, pela
comunhão de bens, regime legal supletivo; fora do regime de separação de bens, em
que eu decida que o salário passa a ser um bem próprio, o salário é um bem comum
em todo o resto dos regimes.
Estatuto patrimonial dos cônjuges: estabelece um estatuto pessoal dos cônjuges
muito laço, cujo incumprimento não determina uma sanção, mas temos, em
contrapartida, um regime patrimonial de bens extraordinariamente injuntivo.
Divórcio: Morte de um dos cônjuges ou dissolução do casamento: questões da
dissolução pela vontade de um ou ambos os cônjuges que nos vamos focar: podemos
divorciar-nos porque estamos os dois de acordo: mutuo consentimento (artigo 1775º),
esse procedimento é próprio, artigo 1773º, a lei resolve não falar em divórcio litigioso,
porque o legislador, para tentar evitar tudo aquilo que indicie conflitualidade, não quis
falar em litigio, o divorcio existe por existirem situações de violência, mas o casamento
também se pode dissolver por litígio sem que haja situações de violência.
Primeiros artigos: Existe recurso à mediação familiar, em que se tenta informar as
pessoas de mecanismos que evitem a conflitualidade, ainda por cima no final do
casamento, é um assunto que nos preocupa muito. As pessoas podem divorciar-se
por mútuo consentimento, está particularmente agilizado, instaurado a todo o tempo,
assinado pelos cônjuges ou os seus procuradores, mas têm de ter uma série de
documentos, alínea c) muito importante e alínea b) certidão da sentença judicial, tem
de haver um acordo prévio sobre o exercício das responsabilidades parentais,
prestação de alimentos de um para o outro ou sobre o destino da casa de morada de
família e animais de companhia. Em rigor, se os cônjuges não acordarem sobre estas
matérias, o divórcio não deixa de ser por mútuo consentimento, e a ação é remetida
para o Tribunal (havendo matérias de interesse público que transcendem a vontade
dos cônjuges) o juiz vai aferir toda a matéria para que ninguém fique prejudicado (são
cumulativos, ou seja, o desacordo numa matéria leva ao juiz tratar de todas).
1776º, muito importante: mesmo o acordo sobre o exercício das responsabilidades
parentais, não dispensa a verificação por uma entidade pública, que representa o
Estado, vai ter de ser visto e aferido superiormente por uma entidade que é o
Ministério Público, se o filho for menor. Se for menor.
Aplica-se o disposto no 1778º: se não acautelarem o interesse de um dos cônjuges, a
homologação deve ser rejeitada e o divórcio remetido ao Tribunal. O divórcio continua
a ser por mútuo consentimento, aquilo sobre o que elas litigam é sobre os acordos
complementares. Que quero ver-me livre do meu marido ou mulher, estou de acordo,
se não estiver de acordo com relação a cada uma das matérias, continua a ser por
mútuo consentimento, mas tem de ser tratado em tribunal. A mediação é uma
tentativa para as pessoas chegarem a um acordo.
Divórcio litigioso, uma tem que propor uma ação contra a outra, um dos cônjuges
intenta a ação: não tenho de provar, nem posso, a culpa do meu cônjuge: se for uma
situação de violência, é um caso de crime público.
A culpa do outro cônjuge não releva, eu posso só demonstrar que a sociedade
conjugar chegou ao fim, e a sua rotura é suficiente para que o juiz aceite.
Há várias razões que fundamentam a rotura do casamento: artigo 1781º.
Eu caso com uma pessoa demente, o meu casamento é inválido, nulo ou anulável. Eu
caso com uma pessoa não demente, mas perde as faculdades mentais de um
momento para o outro, há situações de uma densidade humana subjacente a isto
complexíssima; eu caso com uma pessoa que enlouquece porque teve um acidente
de viação e sofreu um traumatismo craniano. Em tribunal, esta separação por um ano
consecutivo, às vezes redunda numa probácia diabólica. Por estarem separados há um
ano, utilizam como expediente: quando foi entregar a criança para o exercício das
responsabilidades parentais, quando estavam separados, isso aconteceu durante um
verão e tiveram um relacionamento sexual e o prazo de separação foi interrompido.
Desde que o tribunal não se exima de haver mecanismos para verificar se tiveram vida
intima que quebrou o prazo, a menos que este se considere a ele próprio
incompetente para ver isto, é o ingresso através daquela norma que parece a mais
correta para se conseguir um divórcio de modo a não entrar na vida íntima.
Temos que tomar atenção aos artigos: 1790º acerto muitíssimo discutível; artigo
1791º, cada cônjuge perde todos os benefícios, quer a estipulação seja posterior ou
anterior à celebração do casamento, caducam antes do divórcio.

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