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Elivelton Inacio Rocha da Silva / Guilherme Alcantara Bento Vieira

Retificação de registro civil em favor de transexual e transgênero sem cirurgia de


transgenitalização: STF, ADI 4275, Relator: Min. Marco Aurélio Mello,
Julgamento: 01/03/2018. Órgão Julgador: Tribunal Pleno meio eletrônico.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA


DE REGISTROS PÚBLICOS DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA
DE XXXXXXXXX DO FORO REGIONAL DE XXXXXXXX – ESTADO DO
XXXXXX.

Analisando pela ótica do Direito Civil, personalidade jurídica, o ato da mudança de


nome, a legislação vigente permite que exista a alteração de nome, mesmo sendo a
regra a inalterabilidade do nome, a exceção é clara nos casos de nome vexatório, que
vem causando constrangimento excessivo ao portador.

O parágrafo único do artigo 55, da Lei 6.015/1973, esclarece: “Os oficiais do registro


civil não registrarão prenomes suscetíveis de expor ao ridículo os seus portadores
(...)”.  No caso em análise, entendo que o nome de registro não representa mais o
gênero da pessoa em questão, desta maneira causando certos desconfortos emocionais
entre outros. As conotações podem ser pejorativas ao nome do Autor, sendo
nitidamente um caso que merece ser analisado de tal forma, vez que tem reais
inconvenientes com relação ao seu nome, e que resultam em uma diversidade de
problemas, profissionais e até mesmo emocionais. O art. 57, da Lei 6.015/1973,
permite a alteração do nome como exceção, devendo esta ser motivada, o que se extrai
do caso em apresso, levando em consideração a situação de vida em que o Autor passa
diariamente, relacionando o seu nome.

Ainda, vale lembrar o descrito no artigo 58, da Lei 6.015/1973, que descreve situação


de possibilidade de alteração, vejamos:
Art. 58. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por
apelidos públicos notórios. (Redação dada pela Lei nº 9.708, de 1998). Parágrafo
único. A substituição do prenome será ainda admitida em razão de fundada coação ou
ameaça decorrente da colaboração com a apuração de crime,  por determinação, em
sentença, de juiz competente, ouvido o Ministério Público.  (Redação dada pela Lei nº
9.807, de 1999). A tese sustentada “é a de que há um direito fundamental à identidade
de gênero, inferido dos princípios da dignidade da pessoa humana (art. 1º, inciso III), da
igualdade (art. 5º, caput), da vedação de discriminações odiosas (art. 3º, IV), da
liberdade (art. 5º, caput), e da privacidade (art. 5º, X)”.

A principal característica do nome é a imutabilidade. Porém, a regra geral da


inalterabilidade do nome é relativa, segundo se colhe da leitura do  caput do art. 58, da
Lei nº. 6.015/73 e das hipóteses de alteração do nome.
Dessa forma, poderia se entender, em princípio, pelo artigo 58, da Lei de Registros
Públicos, que o prenome era imutável, por ser norma de ordem pública. Porém, se a
finalidade do registro público é espelhar a veracidade dos fatos da vida e entendendo-
se que o nome civil é a real individualização da pessoa humana no seio familiar e na
sociedade, é possível, nas hipóteses previstas em lei, além das hipóteses trazidas pela
doutrina e pela jurisprudência, modificar o prenome.

A origem doutrinária deste tema parte do princípio constitucional da dignidade da


pessoa humana, sendo, pois, constitutivos da dignidade humana, “o reconhecimento da
identidade de gênero pelo Estado é de vital importância para garantir o gozo pleno dos
direitos humanos das pessoas trans, incluindo a proteção contra a violência, a tortura e
maus tratos, o direito à saúde, à educação, ao emprego, à vivência, ao acesso a
seguridade social, assim como o direito à liberdade de expressão e de associação”, como
também registrou a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Por isso, “o Estado deve
assegurar que os indivíduos de todas as orientações sexuais e identidades de gênero
possam viver com a mesma dignidade e o mesmo respeito que têm todas as pessoas”.
Tal reconhecimento traz implicações diretas para o caso dos autos. Se o Estado deve
assegurar que os indivíduos possam viver com a mesma dignidade, deve também
assegurar-lhes o direito ao nome, ao reconhecimento de sua personalidade jurídica, à
liberdade e à vida privada. Esses direitos têm a seguinte previsão no Pacto de São José
da Costa Rica.
No que tange à noção de identidade de gênero, extremamente elucidativa a Introdução
aos Princípios de Yogyakarta, documento apresentado no Conselho de Direitos
Humanos da ONU que versa justamente sobre a aplicação da legislação internacional
sobre direitos humanos em relação à orientação sexual e identidade de gênero. Nele se
consigna logo de partida em seu preâmbulo que identidade de gênero:
"(...) como estando referida à experiência interna, individual e profundamente sentida
que cada pessoa tem em relação ao gênero, que pode, ou não, corresponder ao sexo
atribuído no nascimento, incluindo-se aí o sentimento pessoal do corpo (que pode
envolver, por livre escolha, modificação da aparência ou função corporal por meios
médicos, cirúrgicos ou outros) e outras expressões de gênero, inclusive o modo de
vestir-se, o modo de falar e maneirismo".
A Corte Interamericana, por sua vez, assentou que a identidade de gênero: “também se
encontra ligada ao conceito de liberdade e da possibilidade de todo ser humano
autodeterminar-se e escolher livremente suas opções e circunstâncias que dão sentido à
sua existência, conforme às suas próprias convicções, assim como ao direito à proteção
de sua vida privada (…).
Ressalta que esta matéria já vem sendo consolidada por entendimentos jurisprudenciais,
os quais devem prosperar, vejamos:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Origem: RS - RIO GRANDE DO SUL
Relator: MIN. DIAS TOFFOLI
Redator do acórdão:
RECTE.(S)
S T C 
ADV.(A/S)
MARIA BERENICE DIAS (74024/RS, 74024/RS) 
RECDO.(A/S)
OITAVA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO
RIO GRANDE DO SUL 
AM. CURIAE.
INSTITUTO BRASILEIRO DE DIREITO DE FAMILIA - IBDFAM 
Julgado mérito de tema com repercussão geral
TRIBUNAL PLENO

Decisão: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, apreciando o tema
761 da repercussão geral, deu provimento ao recurso extraordinário. Vencidos
parcialmente os Ministros Marco Aurélio e Alexandre de Moraes. Nessa assentada, o
Ministro Dias Toffoli (Relator), reajustou seu voto para adequá-lo ao que o Plenário
decidiu na ADI 4.275. Em seguida, o Tribunal fixou a seguinte tese: "i) O transgênero
tem direito fundamental subjetivo à alteração de seu prenome e de sua classificação de
gênero no registro civil, não se exigindo, para tanto, nada além da manifestação de
vontade do indivíduo, o qual poderá exercer tal faculdade tanto pela via judicial como
diretamente pela via administrativa; ii) Essa alteração deve ser averbada à margem do
assento de nascimento, vedada a inclusão do termo 'transgênero'; iii) Nas certidões do
registro não constará nenhuma observação sobre a origem do ato, vedada a expedição de
certidão de inteiro teor, salvo a requerimento do próprio interessado ou por
determinação judicial; iv) Efetuando-se o procedimento pela via judicial, caberá ao
magistrado determinar de ofício ou a requerimento do interessado a expedição de
mandados específicos para a alteração dos demais registros nos órgãos públicos ou
privados pertinentes, os quais deverão preservar o sigilo sobre a origem dos atos".
Vencido o Ministro Marco Aurélio na fixação da tese. Ausentes, neste julgamento, o
Ministro Gilmar Mendes, e, justificadamente, a Ministra Cármen Lúcia (Presidente).
Presidiu o julgamento o Ministro Dias Toffoli (Vice-Presidente). Plenário, 15.8.2018.
DOS PEDIDOS
Ante a todo o exposto, requer-se:
1) a procedência do pedido, alterando o prenome do Autor (xxxxxxx), para o seu novo
prenome xxxxxxxx, com a devida averbação no Cartório de Registro Civil; e
2) a produção de todas as provas admitidas em direito, em especial a produção de prova
testemunhal.
Nesses temos, Pede deferimento.
São Paulo, 22/10/2019.
Advogado:
Elivelton Inacio Rocha da Silva - RA: 1273862
Guilherme Alcantara Bento Vieira - RA: 793113

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