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DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

Segundo Francisco Amaral, os direitos da personalidade são “direitos


subjetivos que tem por objeto os bens e valores essências da pessoa, no seu
aspecto físico, moral e intelectual”.

Resumidamente, os direitos da personalidade, são direitos inalienáveis, fora


do comércio, que merecerem proteção jurídica; são inerentes à pessoa humana e
ela ligados de maneira perpétua e permanente. Sua existência tem sido proclamada
por meio do direito natural, podendo-se destacar o direito à vida, à liberdade, ao
nome, ao próprio corpo, à imagem e à honra. O reconhecimento dos direitos da
personalidade como categoria de direito subjetivo é considerado relativamente novo,
sendo reflexo da Declaração dos Direitos do Homem, de 1789 e de 1948, das
Nações Unidas, bem como da Convenção Europeia de 1950.

O avanço para a proteção dos direitos da personalidade foi dado com a


criação da Constituição Federal vigente, de 1988, que expressamente refere-se aos
direitos de personalidade no art.5º, X: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a
honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito a indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação”.

Afirma-se que os direitos da personalidade se formam a partir de uma


herança da Revolução Francesa, a qual pregava os famosos lemas de liberdade,
igualdade e fraternidade. Portanto, o progresso do dos direitos fundamentais
costuma ser dividido em três gerações, guardando relação com os referidos lemas.
A primeira tem relação com a liberdade; a segunda, com a igualdade, dando ênfase
aos direitos sociais; e a terceira, com a fraternidade ou solidariedade, surgindo os
direitos ligados à pacificação social (direitos do trabalhador e do consumidor).

Os direitos da personalidade podem ser divididos em duas categorias: os


inatos, como o direito à vida e à integridade física e moral, e os adquiridos, que
provem da posição individual e existem na extensão da disciplina que lhes foi
conferida pelo direito positivo.

Existe uma corrente de pensamento, defendida por Nicola Coviello, que nega
a existência dos direitos da personalidade, já que considera ser algo inconcebível
admitir-se alguém tendo direitos cujo objeto seria sua própria pessoa. A escola do
direito positivista também aparece como contraria a ideia da existência de direitos da
personalidade inatos, explicando o decorrer da personalidade baseada apenas em
sua concepção jurídico-normativa.

Essas ideias, porém, não gozam de muita aprovação por falta de adequação
ao nosso ordenamento jurídico. A escola jusnaturalista é, evidentemente, grande
defensora dos direitos inerentes à pessoa humana, prerrogativas individuais que as
legislações modernas reconhecem e a jurisprudência vem protegendo.

O art.11 do Código Civil diz que, com “exceção dos casos previstos em lei, os
direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu
exercício sofrer limitação voluntário”. Quanto a intransmissibilidade e
irrenunciabilidade compreende-se a não existência de possibilidade de os titulares
desses direitos dispor, transmitir a terceiros, renunciar seu uso ou abandoná-los, já
que os direitos da personalidade nascem e se extinguem com eles, se tornando
assim inseparáveis.
Porém, alguns desses direitos podem ser cedidos, como os direitos autorais e
o relativo à imagem, por exemplo. Pode-se autorizar também, contratualmente, a
edição de uma obra literária, a inserção, em produtos, de marcar, desenhos ou
qualquer outra criação intelectual. Admite-se, inclusive, a cessão gratuita de órgãos
do corpo humano para finalidades terapêuticas e altruístas, como diz Maria Helena
Diniz, em “Curso de Direito Civil Brasileiro”.

Os direitos da personalidade são também ilimitados, malgrado o Código Civil,


nos arts. 11 a 21, tenha apenas se referido explicitamente apenas a alguns, não é
plausível imaginar números e quantidades específicas nesse campo, já que se trata
nos artigos mencionados referem-se apenas a exemplos meramente explicativos.

Considerando os direitos da personalidade inerentes à pessoa humana,


sendo dela inseparáveis, e por esse motivo, indisponíveis, certamente não podem se
sujeitar a penhora e a desapropriação. Os direitos inatos da personalidade são
também vitalícios, adquiridos no instante da concepção e acompanhando o individuo
até a morte, mas mesmo após a morte alguns dos direitos, como à sua honra ou
memoria, por exemplo, ainda, sim, são resguardados juridicamente.
É de notável menção, a criação de um de todo um novo capítulo aos direitos
da personalidade no atual Código Civil, visando sua salvaguarda, sob múltiplos
aspectos. A Constituição de 1988 já havia redimensionado a noção de respeito à
dignidade da pessoa humana, consagrada no art, 1º, III, e proclamado que “são
invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação”. O atual Código Civil também disciplina os atos de disposição do próprio
corpo (arts.,13 e 14), o direito a não submissão a tratamento medico de risco
(art.15), o direito ao nome e ao pseudônimo (arts. 16 a 19), a proteção à palavra e à
imagem (art. 20) e a proteção à intimidade (art. 21).

Apesar do avanço que representa a disciplina dos referidos direitos em um


capítulo próprio, o Código os dispõe de maneira tímida a respeito de um assunto de
tanta relevância, já que não corre o risco de enumerá-los taxativamente e opta-se
pelo enunciado de “poucas normas dotadas de rigor e clareza, cujos objetivos
permitirão os naturais desenvolvimentos da doutrina e da jurisprudência”.

O respeito à dignidade humana, entre os fundamentos constitucionais pelos


quais se orienta o ordenamento jurídico brasileiro na defesa dos direitos da
personalidade, encontra-se em primeiro plano, acompanhado, em segundo plano,
pela intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas. Seguindo esse
raciocínio, dispõe o art. 12 e parágrafo único do Código Civil: “Pode-se exigir que
cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos,
sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. Em se tratando de morto, terá
legitimação para requerer a medida prevista nesse artigo o cônjuge sobrevivente, ou
qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau”.

Como é de observar, destinam-se os direitos da personalidade a resguardar,


principalmente, a dignidade humana, por meio de medidas judiciais adequadas, que
devem ser ajuizadas pelo ofendido ou pelo lesado indireto (se tratando de morto).
Podendo ser de natureza preventiva, cautelar, visando suspender os atos que
ofendam a integridade física, intelectual e moral ou podendo ser de natureza
repressiva.

A vida humana preexiste ao direito, sendo considerada o bem supremo,


portanto, deve ser respeitada. Sua extinção põe fim à condição de ser humano e a
todas as manifestações jurídicas que se apoiam nessa condição. Seguindo essa
linha, o direito à integridade física compreende a proteção jurídica à vida, ao próprio
corpo vivo ou morto, quer na sua totalidade, quer em relação a tecidos, órgãos e
partes suscetíveis de separação e individualização, quer ainda ao direito de alguém
submeter-se ou não a exame e tratamento médico.

O corpo humano sem vida é cadáver, elemento fora do comércio, insuscetível


de apropriação, mas passível de disposição na forma da lei. Os elementos
destacados do corpo deixam de ser objetos-alvos dos direitos da personalidade, por
conseguinte, passam a integrá-lo os elementos ou produtos, orgânicos ou
inorgânicos, que nele se incorporam, como enxertos e próteses.

Segundo o art. 15 do Código Civil, ninguém pode ser constrangido a


submeter-se, com risco de vida, a tratamento médica ou a intervenção cirúrgica.
Para proteger a inviolabilidade do corpo humano, nenhum médico deve atuar, nos
casos mais graves, sem autorização do paciente que possui a prerrogativa de
recusar a se submeter a um tratamento de risco.

Vale mencionar a necessidade e a importância do fornecimento de


informação detalha ao paciente sobre o seu estado de saúde e o tratamento a ser
observado, o “dever de informar”, previsto no art. 6º, III, do referido diploma, obriga o
fornecedor a prestar todas as informações acerca do produto e do serviço, de
maneira clara e precisa, não se admitindo falhas ou omissões. Caso o doente
apresente impossibilidade de manifestar sua vontade, deve-se obter a autorização
escrita, para o tratamento médico ou intervenção cirúrgica de risco, de qualquer
parente maior, da linha reta ou colateral até o segundo grau, ou do cônjuge, por
analogia com o disposto no art. 4º da Lei n. 9.434/97.

O direito e a proteção ao nome e ao pseudônimo são assegurados nos arts.


16 a 19 do Código Civil. Ademais, o direito ao nome é espécie dos direitos da
personalidade, pertencente ao gênero do direito à integridade moral, pois todo
individuo tem o direito à identidade pessoa, de ser reconhecido em sociedade por
denominação própria.

A Lei n.9.610, de 19 de fevereiro de 1998, disciplina toda a matéria relativa a


direitos autorais, incluindo à transmissão da palavra e a divulgação de escritos. A
proteção à transmissão da palavra abrange a tutela da voz, que é a emanação
natural de som da pessoa, também protegida como direito da personalidade, como
disposto no inciso XXVIII, a, do art.5º da Constituição Federal.

Este mesmo tratamento é direcionado ao que se refere à exposição ou à


utilização da imagem de uma pessoa, considerado pela Constituição como um
direito inviolável, sendo assim, a reprodução da imagem é proveniente do próprio
individuo, cabendo somente a ele sua autorização.

Último, mas não menos importante, a proteção à intimidade é, também, um


direito da personalidade. Dispõe o art.21 do vigente Código Civil: “Art.21. A vida
privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado,
adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar o ato contrário a
esta norma”.

A proteção à vida privada visa resguardar o direito das pessoas de


intromissões indevidas em seu lar, em sua família, em sua correspondência, em sua
economia, etc. No entanto, o direito de se resguardar em sua própria companhia, o
direito de estar só se vê atualmente, muitas vezes, ameaçado tendo em vista o
avanço tecnológico, pelas minicâmeras, “hackeamentos”, vazamentos de dados na
web e por outros expedientes que se prestam a esse fim.

Ainda mais, a proteção dos dados foi regulamentada em 14 de agosto de


2018, pela Lei n.13.709, contendo 65 artigos e entrou em vigor em agosto de 2020,
dispõe “sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive nos meios digitais, por
pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito público, ou privado, com o objetivo
de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre
desenvolvimento da personalidade da pessoa natural”.

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