Este documento discute as relações entre direitos humanos e arte. Primeiro, aborda como romances do século XVIII ajudaram a desenvolver o conceito de direitos humanos na Europa. Em seguida, analisa se a arte é um direito humano com base na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Por fim, examina possíveis conflitos entre a liberdade de expressão artística e outros direitos como honra e liberdade religiosa.
Este documento discute as relações entre direitos humanos e arte. Primeiro, aborda como romances do século XVIII ajudaram a desenvolver o conceito de direitos humanos na Europa. Em seguida, analisa se a arte é um direito humano com base na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Por fim, examina possíveis conflitos entre a liberdade de expressão artística e outros direitos como honra e liberdade religiosa.
Este documento discute as relações entre direitos humanos e arte. Primeiro, aborda como romances do século XVIII ajudaram a desenvolver o conceito de direitos humanos na Europa. Em seguida, analisa se a arte é um direito humano com base na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Por fim, examina possíveis conflitos entre a liberdade de expressão artística e outros direitos como honra e liberdade religiosa.
Humanos e Arte Disciplina: Introdução aos Direitos Humanos Professora: Ana Paula Barbosa-Fohrmann Monitor: Gustavo Cardoso Estagiária: Luana Adriano
Descrição do Plano de Fundo: Pintura “Operários”, de Tarsila do
Amaral, na qual as faces desenhadas de pessoas de diferentes raças e etnias estão posicionadas de maneira triangular. No fundo, ao lado direito, pode-se visualizar torres industriais e fábricas. Há uma relação entre direitos humanos e arte? • De acordo com Hunt (2009, 2005), os romances desempenharam um papel fundamental no surgimento do conceito de direitos humanos na Europa do século XVIII; • A autora sugere um motivo psicocultural para que a noção de direitos humanos tenha emergido após a publicação de novelas epistolares – destacando três: Pâmela, de Richardson (1740); Clarissa (1748) e Júlia (1761), de Rousseau. Esses romances ; • “Ler romances criou uma nova experiência individual (empatia), que tornou possível o aparecimento de novos conceitos políticos e sociais (direitos humanos)”. (HUNT, 2005, on-line) “Os direitos humanos só puderam florescer quando as pessoas aprenderam a pensar nos outros como seus iguais, como seus semelhantes em algum modo fundamental.” (HUNT, 2009, p. 58) A arte é um direito humano? • A defesa de que existe um direito à arte se pauta especialmente no art. 27 da DUDH. • Artigo 27 da Declaração de Direitos Humanos de 1948 1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios. 2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor. • Implicações: que “acesso” a “que” arte garante o direito a arte?; que critérios utilizar para definir a arte que será promovida por meio de políticas públicas? (cf. também art. 19, 2, do PIDCP; art. 15, 1, c, do PIDESC, art. 13, 1, do Pacto de San José da Costa Rica; art. 14, 1, a, do Protocolo Adicional ao Pacto de San José da Costa Rica) Há um direito da arte? • O direito da arte diz respeito à regulamentação jurídica da atividade artística. Para Mascaro (2015), os campos relevantes são a produção da arte, a propriedade da arte, a circulação da arte e a regulação da arte. • O Estado é elemento ativo na intermediação das redes de relações que envolve a arte. Além dos direitos subjetivos, há uma série de garantias, poderes e deveres relacionados ao tema. É possível pensar, assim, em estipulações que envolvem a garantia da criação artística, sua liberdade em relação aos poderes públicos, à religião e outras ideologias constituídas (Mascaro, 2015, p.23). Há um direito da arte? • Existem também instrumentos da UNESCO relevantes para pensar sobre os direitos dos artistas, particularmente a Recomendação da UNESCO sobre o Estatuto do Artista em 1980 e a Convenção da UNESCO sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais de 2005. Ataques a locais de importância cultural, ou itens culturais, são reconhecidos como crimes de guerra em algumas circunstâncias, de acordo com as leis de conflito armado e o direito penal internacional (EUROPEAN AGENCY FOR FUNDAMENTAL RIGHTS, 2017). • Art. 8, 2, ix, do Estatuto do TPI: Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "crimes de guerra": ix) Dirigir intencionalmente ataques a edifícios consagrados ao culto religioso, à educação, às artes, às ciências ou à beneficência, monumentos históricos, hospitais e lugares onde se agrupem doentes e feridos, sempre que não se trate de objetivos militares; Que direitos humanos importam para a arte? • O direito à liberdade de expressão artística está presente no art. 5º, IX, da CF: “É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”. (Cf. também art. 220, § 2º). Ameaças ao direito à liberdade artística podem surgir de leis sobre censura, blasfêmia, obscenidade, manutenção da “moral e dos bons costumes”, difamação e leis de segurança nacional; • Os direitos autorais são assegurados no art. 5º, XXVII, que diz que “aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar”; • O direito à educação gera o dever do Estado de garantir o acesso aos níveis mais elevados “da criação artística” (art. 208, V) • O direito à cultura garante a obrigação do Estado na asseguração do patrimônio histórico, artístico, cultural e ambiental (cf. Art. 216 da CF); Alguns dilemas entre dh e arte • Situação: Em 2013, artistas da cidade de Pasárgada fizeram intervenções em um Farol, datado do século XIX, localizado na periferia. Embora o bem fosse tombado, não era palco de políticas públicas de acesso à cultura, estando, ademais, em más condições de preservação. De acordo com a Lei 9.605, art. 65, pichações fazem parte dos crimes contra o ordenamento urbano, patrimônio cultural e meio ambiente. De acordo com o §2 do artigo, o grafite, embora não seja crime, deve ser previamente autorizado pelo proprietário do imóvel e, no caso de bem tombado, pelo órgão cultural responsável. • Perguntas: Há um conflito de direitos humanos nesse caso? Se sim, entre quais? Que direitos humanos importam para a arte? • O direito à honra, a imagem, a privacidade e à vida privada(art. 5º, X, da CF e art. 20, CC) podem entrar em atrito com a liberdade de expressão artística, especialmente no caso das biografias não autorizadas; • O direito à herança cultural pode entrar em conflito com o direito de propriedade artística, especialmente no caso de Museus e Coleções Pessoais cujas obras foram originalmente saqueadas de suas nações originais – caso da espoliação de obras de arte durante a 2 GM; • O direito à tolerância religiosa pode entrar em atrito com o direito à liberdade artística, especialmente em casos em que a obra refira-se especificamente à símbolos de determinada religião. Alguns dilemas entre dh e arte • Situação: Em 2016, estudante da Universidade Federal de Pasárgada realizou performance intitulada “Sangue de Crista”. Nela, o performer realizava cortes no próprio corpo, deixando que o sangue jorrasse sobre um crucifixo posicionado ao meio do palco. A performance, trabalho final de uma disciplina curricular do Curso de Artes Cênicas, foi gravada e amplamente divulgada. De acordo com a OAB de Pasárgada, o autor excedeu os limites de sua liberdade artística, ofendendo símbolos religiosos, além de cometer o crime previsto no art. 208 do CP, devido à conduta de “vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso”. • Perguntas: Há um conflito de direitos humanos nesse caso? Se sim, entre quais direitos? Que arte importa para os direitos humanos? • Toda arte é relevante para o tópico de direitos humanos? A arte pode narrar os abusos dos direitos humanos (p. ex., arte de denúncia e arte de memória), apoiar causas de direitos humanos e trazer visibilidade para questões de interesse do campo dos direitos humanos (p. ex., a arte de protesto). A mensagem relevante para os direitos humanos precisa estar explícita (p. ex., arte panfletária e arte engajada) para que a arte se qualifique como socialmente engajada? Que arte importa para os direitos humanos? • É possível pensar a arte social fora da caracterização “engajada”? a) No texto “autor como produtor”, escrito entre 1934 e 1938, Benjamin (1994, p. 120 ss) sugere que toda obra de arte é relevante para que se analise o contexto em que ela é produzida, independentemente de ser proveniente de um autor progressista ou autônomo: “Em vez de perguntar: como se vincula uma obra com as relações de produção da época? É compatível com elas, e portanto reacionária, ou visa sua transformação, e portanto é revolucionária? (...) Antes, pois, de perguntar como uma obra literária se situa no tocante às relações de produção da época, gostaria de perguntar: como ela se situa dentro dessas relações? Essa pergunta visa imediatamente a função exercida pela obra no interior das relações literárias de uma época” (1994, p. 122) Que arte importa para os direitos humanos? • A arte deve ser socialmente engajada e política? b) No Prefácio de “Sula”, Toni Morrison declara que a crítica de sua arte insistia em separar “político” e “estético”, sendo frequentemente julgada apenas pelo primeiro. “A crença comum é de que ficção política não é arte; que é menor provável que uma obra assim tenha valor estético porque a política – a política como um todo – é plano de ação e, portanto, sua presença macula a criação estética. (...) Se o romance era bom, era por ser fiel a certo tipo de política; se era ruim, era por não ser fiel. A crítica era baseada em ‘os negros são – ou não são – desse jeito’. (...)”. Em “Ancestral como Fundação”, aponta: “(…) If anything I do, in the way of writing novels (or whatever I write) isn't about the village or the community or about you, then it is not about anything (…) which is to say, yes, the work must be political. (…) It seems to me that the best art is political and you ought to be able to make it unquestionably political and irrevocably beautiful at the same time." A arte tem um papel na formação jurídica? • Para Antônio Cândido (2002), a literatura pode cumprir uma função social pedagógica – desde que não seja aquela vinculada à pedagogia “oficial”. Para o autor, “(...) podemos abordar o problema da função da literatura como representação de uma dada realidade social e humana, que faculta maior inteligibilidade com relação a esta realidade. Para isso, vejamos um único exemplo de relação das obras literárias com a realidade concreta: o regionalismo brasileiro, que por definição é cheio de realidade documentária” (2002, p. 85-86). • No ensaio “Os Poetas como Juízes” (1995), Nussbaum defende que o contato com a literatura promove identificação e reações emocionais importantes para o desenvolvimento do exame equânime. Direitos humanos e arte na pandemia • Counter storytelling da Teoria Crítica Racial (DELGADO, STEFANFIC, 2017): criação de narrativas contra-hegemônicas para desfazer mitos raciais. • Obras de arte distópicas, que ajudam a refletir sobre experiências humanas em cenários epidêmicos (“A Peste”, Camus; “Amor nos tempos do cólera”, GGM; “Um diário do ano da peste”, Daniel Dafoe); • Acesso à arte durante a pandemia: restrições de circulação vs. promoção de eventos culturais; REFERÊNCIAS • BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas I - Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994. • CANDIDO, Antônio. A Literatura e a Formação do Homem. Disponível em: <http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/118273/1/ppec_8635992-5655-1-PB.pdf>. Último Acesso em: 15 mar. 2021. • EUROPEAN AGENCY FOR FUNDAMENTAL RIGHTS. Exploring the connections between art and human rights. Disponível em: <https://fra.europa.eu/sites/default/files/fra_uploads/fra- 2017_arts-and-human-rights-report_may-2017_vienna.pdf> Acesso em: 15 mar. 2020. • HUNT, Lynn. A invenção dos direitos humanos: uma história. Editora Companhia das Letras, 2009. • MASCARO, Alysson Leandro. Sobre direito e arte. In: Direito da Arte. São Paulo: Atlas, p. 17-25, 2015. • MORRISON, Toni. Sula. Trad. de Débora Landsberg. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. • NUSSBAUM, Martha C. Poets as Judges: Judicial Rhetoric and the Literary Imagination. The University of Chicago Law Review, v. 62, n. 4, p. 1477-1519, 1995.
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