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APONTAMENTOS DE DIREITO DE FAMÍLIA

Bibliogafia: Maria do Carmo Medina Iº volume

Arminda Cosme

NOÇÃO JURÍDICA DE FAMÍLIA

O Direito de Família é, de todos os ramos do direito, o mais intimamente


ligado à própria vida, uma vez que, de modo geral, as pessoas provêm de
um organismo familiar e a ele conservam-se vinculadas durante a sua
existência, mesmo que venham a constituir nova família pelo casamento
ou união estável.
Lato sensu, o vocábulo família abrange todas as pessoas ligadas por
vínculo de sangue e que procedem, portanto, de um tronco ancestral
comum, bem como as unidas pela afinidade e pela adopção. Compreendem
os cônjuges e companheiros, os parentes e os afins. Segundo
JOSSSERAND, este primeiro sentido é, em princípio, “o único
verdadeiramente jurídico, em que a família deve ser entendida: tem o
valor de um grupo étnico, intermédio entre o indivíduo e o Estado“. Para
determinados fins, especialmente sucessórios, o conceito de família
milita-se aos parentes consanguíneos em linha recta e aos colaterais até o
sexto grau.
CONCEITO E CONTEÚDO DO DIREITO DE FAMÍLIA
Constitui o direito de família o complexo de normas que regulam a
celebração do casamento, sua validade e os efeitos que dele resultam, as
relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal, a dissolução desta,
a união de facto, as relações entre pais e filhos, o vínculo do parentesco e
os institutos complementares da tutela e curatela.
É, portanto, o ramo do direito civil concernente às relações entre pessoas
unidas pelo matrimônio, pela união de facto ou pelo parentesco e aos
institutos complementares do direito protetivo ou assistencial, pois,
embora a tutela e a curatela não advenham de relações familiares, têm,
devido a sua finalidade, conexão com o direito de família.

A família em sentido jurídico, é constituída pelas pessoas que se


encontram ligadas pelo casamento, pelo parentesco, pela
afinidade e pela adopção.

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Apontamentos/compilação das doutrinas dos autores que estão na bibliografia, deve ser
estudado como material de apoio, não deve o discente se valer unicamente deste material, a
consulta à boa doutrina e as leis se faz necessário.). Bons estudos!
APONTAMENTOS DE DIREITO DE FAMÍLIA
Bibliogafia: Maria do Carmo Medina Iº volume

Arminda Cosme
1-O CONCEITO GENÉRICO DE FAMÍLIA, AS RELAÇÕES JURÍDICAS
FAMILIARES E A SUA AUTONOMIA

No âmbito do nosso estudo teremos que nos debruçar sobre o


ramo de direito que regula e disciplina as relações jurídicas
familiares.

Estas relações jurídicas têm como alicerce um fenómeno social


que é constituído pela família. A família é um em si um fenómeno
natural inerente à sociedade humana. A socialização da pessoa
humana inicia-se na família.

Dentro do Direito de Família estão englobados diversos sub-


ramos de direito: o direito matrimonial, que regula as relações
jurídicas de natureza pessoal e patrimonial que se estabelecem
entre os cônjuges; o direito de filiação que estabelece os direitos
e deveres entre pais e filhos; o direito de parentesco, que
determina os efeitos jurídicos existentes entre pessoas ligadas
por laços de sangue provenientes de uma ascendência comum; o
direito de afinidade, que regula as normas vinculativas da aliança
entre duas famílias (entre o cônjuge e os parentes do outro
cônjuge); o direito de tutela, que visa regular as formas de
substituição da autoridade paternal; o direito que regula as
relações jurídicas que provêm da adopção, a qual veremos,
estabelece um vínculo jurídico idêntico ao da filiação entre
pessoa não ligadas entre si por laços de filiação biológica.

Dentro do Direito de Família iremos ainda estudar determinadas


situações de facto que, pela sua importância, o legislador não
pode ignorar, tais como a união livre entre um homem e uma
mulher a margem do casamento, denominada união de facto. E
também a separação de facto entre cônjuges que, embora unidos
legalmente por laços do matrimónio, cessam, à margem do
divórcio, a convivência comum.

 CODIFICAÇÃO DO DIREITO DE FAMILIA

Os sistemas de direito socialista rejeitam a divisão bipartida do


direito em direito público e direito privado, adoptando uma
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concepção unitária do direito, dimanado de uma fonte única do
poder do Estado. É de realçar que nesses sistemas o Direito de
Família constituía um ramo do direito, destacado do civil.
Autonomizava-se o direito de família em razão do tipo específico
das instituições jurídicas que se regula, pelo que, nesses países,
as leis de família eram leis destacadas dos códigos civis.

A nível do continente africano também se nota a tendência de


autonomizar o direito de família com a publicação dos respectivos
códigos.

Nos sistemas de direito romano-germânico as normas de direito


de família estão integradas nos respectivos códigos civis. Já no
sistema anglo-saxónico estas normas encontram-se em leis
específicas sobre direito de família e sobre os direitos da
criança.

 FUNÇÃO PROMOTORA DO DIREITO DE FAMÍLIA

Importa reconhecer que o direito de família está profundamente


ligado com questões que se prendem com a sociologia e a
antropologia e que estudam as bases do comportamento humano
no meio social e em que se estrutura o direito costumeiro.

É certo que questões de natureza eminentemente política se vão


repercurtir no direito de família, como sejam a defesa dos
direitos fundamentais da pessoa humana à liberdade e à
igualdade, a posição da mulher na sociedade, a política de cada
país em relação ao aumento ou diminuição da população.

Acontece com frequência haver um desajuste entre o conteúdo


da norma jurídica e a prática social, porque muitas vezes o peso
das tradições leva à exploração e a opressão dentro da família e
ao desrespeito dos princípios defendidos por lei e ao uso abusivo
de direitos.

2.º BREVE NOÇÃO HISTÓRICA DA FAMÍLIA E DOS SISTEMAS


FAMILIARES

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O estudo do direito de família exige que tenhamos, antes de
mais, uma noção do que é a família. É um conceito que não pode
ser entendido de forma dogmática, porque ele está em correlação
com a própria realidade económica, cultural e social das
diferentes sociedades humanas.

A família tem a sua origem no fenómeno natural da procriação e


da propagação da espécie humana. Mas é sobretudo social, pois
através dos tempos se tem verificado que nela não intervêm tão
somente factores biológicos. Nela intervêm outros factores de
ordem social e económica. Como tal, o conceito varia de acordo
com a estrutura social e política em que se insere e interessa
recordar os diversos conceitos de família que se acompanharam
a evolução histórica das sociedades humanas. Não existe um
conceito único de família, mas diversos conceitos.

Temos a família extensa ou a grande família estabelecida com


base no parentesco. É a família parental formada por um largo
conjunto de pessoas, unidas por uma ascendência comum, ligadas
por fortes laços de solidariedade e comum uma comunidade de
interesses económicos.

A família monogâmica é estruturada no casamento único e


exclusivo dos cônjuges.

A família poligâmica ou poligínica é aquela em que o marido se


apresenta ligado por laços de casamentos válidos com mais de
uma mulher simultaneamente.

Interessa assim acompanhar os estudos sociológicos tão


decisivos feitos por Lewis Morgan e que serviram de base de
apreciação para Frederich Engels para nos apercebemos do que
foi a evolução gradual das sociedades humanas no que respeita à
família e à interdependência entre os seus membros.

Nas sociedades primitivas pré-capitalistas surgiram diversos


tipos de sociedades familiares logo após da horda humana. Na
fase mais recuada da vivência humana teria havido a sociedade
em que se praticavam, simultaneamente, a poligamia por parte
dos homens e a poliandria por parte das mulheres, vigorando o
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sistema do matrimónio por grupos. Neste tipo de sociedade
primitiva os filhos são considerados comuns e como tal criados
pelos membros do grupo.

Em breve começaram a ser impostas restrições às relações de


procriação entre parentes consanguíneos (pais, e filhos, irmãos e
irmãs), proibindo o incesto e mais adiante impondo ainda a
exogamia, ou seja o casamento fora do grupo familiar.

Podemos também assinalar a importância das sociedades de


economia doméstica, em as mulheres representam grande parte
da força de trabalho, produzindo os alimentos necessários à
manutenção da família, na qual o homem surge numa posição de
subordinação. É o matriarcado típico do comunismo primitivo.

Numa fase posterior, a família é caracterizada pela poligamia


praticada pelo homem, tendo com contrapartida a exigência de
uma rigorosa fidelidade por parte da mulher. No entanto, a
poligamia é em regra praticada pelos elementos masculinos que
detêm o poder: A poligamia é um privilégio dos ricos e dos
poderosos… a massa do povo é monógama.

Neste tipo de sociedade a mulher está subordinada ao marido e


nos meios rurais a família constitui uma unidade de produção em
que cabe às mulheres executar os trabalhos agrícolas e os
serviços domésticos de manutenção do agregado familiar, como o
transporte da lenha e água, a preparação dos alimentos, os
cuidados com os filhos, etc.. Nela os laços matrimoniais não são
indissolúveis.

Diferente é a sociedade familiar do tipo patriarcal que se baseia


no poder exclusivo do homem, o patriarca, e se caracteriza pela
organização de um grupo de pessoas, livres e não livres,
submetidas ao poder paterno de um chefe.

Este tipo de família aparece-nos retratado nos tempos bíblicos


do Antigo Testamento, na Roma Antiga, na China dos mandarins
e no mundo muçulmano em geral. Nela co-existiam os escravos
e os membros da família, como os filhos, netos e respectivas
mulheres e outros parentes, subordinados ao domínio paterno.
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Aparece depois a família monogâmica ainda assente no


predomínio do homem. Ela tem por fim a procriação da prole,
salvaguardando a paternidade indiscutível dos filhos por parte do
marido e tendo em vista a transmissão da propriedade e da posse
dos bens dentro da família.

A família monogâmica caracteriza-se pela maior solidez dos


laços familiares, passando a vigorar o princípio da
indissolubilidade do matrimónio, salvo em casos excepcionais, em
que se possibilita o repúdio da mulher pelo marido. A monogamia
não impede que o homem pratique o heterismo, ou seja, s
relações sexuais fora do casamento, pratica que é muitas vezes
aprovada pelo costume e pela lei. Apesar disso, a mulher atingiu
no casamento monogâmico uma posição mais elevada. O
casamento permitiu, assim, a transmissão da propriedade privada
dentro da família, consolidando o poder da burguesia.

3º A FAMÍLIA NO DIREITO ROMANO


No direito romano a família era organizada sob o princípio da autoridade.
O pater famílias exercia sobre os filhos direito de vida e de morte ( ius
vitae ac necis). Podia, desse modo, vendê-los, impor-lhes castigos e
penas corporais e até mesmo tirar-lhes a vida. A mulher era totalmente
subordinada à autoridade marital e podia ser repudiada por acto unilateral
do marido.
O pater exercia a sua autoridade sobre todos os seus descendentes não
emancipados, sobre a sua esposa e as mulheres casadas com manus com
os seus descendentes, (a mulher, ao casar, podia continuar sob a
autoridade paterna, no casamento sem manus, ou entrar na família marital,
no casamento com manus. O que não se permitia era que uma mesma
pessoa pertencesse simultaneamente a duas famílias).
A família era, então, simultaneamente, uma unidade econômica, religiosa,
política e jurisdicional. O ascendente comum vivo mais velho era, ao
mesmo tempo, chefe político, sacerdote e juiz. Comandava, oficiava o
culto dos deuses domésticos e distribuía justiça.
Com o tempo, a severidade das regras foi atenuada, conhecendo os
romanos o casamento sine manu, sendo que as necessidades militares
estimularam a criação de patrimônio independente para os filhos.
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Com o Imperador Constantino, a partir do século IV, instala-se no direito
romano a concepção cristã da família, na qual predominavam as
preocupações de ordem moral. Aos poucos foi então a família romana
evoluindo no sentido de se restringir progressivamente a autoridade do
pater, dando-se maior autonomia à mulher e aos filhos, passando estes a
administrar os pecúlios castrenses (vencimentos militares).
Em matéria de casamento, entendiam os romanos necessária a affectio não
só no momento de sua celebração, mas enquanto perdurasse. A ausência
de convivência, o desaparecimento da afeição era, assim, causa necessária
para a dissolução do casamento pelo divórcio.
Os canonistas, no entanto, opuseram-se à dissolução do vínculo, pois
consideravam o casamento um sacramento, não podendo os homens
dissolver a união realizada por Deus: quod Deus conjunxit homo non
separet.

4. A FAMÍLIA NA SOCIEDADE TRADICIONAL AFRICANA

Interessa apontar alguns dos caracteres predominantes nos


diversos tipos de organismos familiares que se encontram no
nosso continente, com especial relevo para a sua zona austral.
Os primitivos habitantes desta parte sul de África, os povos San,
indevidamente designados como bosquímanos, caracterizam-se
por uma organização colectiva do poder e pelas relações
conjugais baseadas na monogamia.

Nos povos Bantus predomina a vida sedentária apoiada na


actividade agrícola e na criação de gado.

As relações de produção estão intimamente relacionadas com as


relações familiares e estas determinam o direito dos indivíduos
sobre o solo e os seus produtos e os seus direitos e obrigações
de receber, dar e cooperar, como membros integrados no grupo
familiar. As relações de parentesco funcionam como relações de
produção.

É nesta linha de pensamento que se enquadra o casamento, que


se traduz, numa aliança de grupo para grupo e não de indivíduo a
indivíduo é uma aliança de grupos domésticos e não entre grupos

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de filiação. O poder paternal não é forçosamente exercido pelo
progenitor mas pelo chefe da família.

No direito tradicional africano hã regras próprias relativas ao


parentesco, à filiação, ao preço da noiva como integrante do
casamento e ao regime matrimonial de bens.

A responsabilidade pelo cumprimento das obrigações e pelos


demais negócios jurídicos vai recair sobre o grupo familiar e não
sobre o individuo unicamente a título pessoal. À mulher não é, em
regra, reconhecida capacidade jurídica para ser processada e
responsabilizada sem a assistência do representante legal.

A fase preliminar do casamento é constituída pela entrega de


prestações da família do noivo à família da noiva, o que
representa uma compensação económica pela saída de um
membro da família (a mulher passa a esta subordinada ao poder
do marido). Em contrapartida os valores recebidos pelos
familiares da mulher podem ser aplicados no pagamento de uma
prestação para a celebração do casamento de um membro
masculino da família e garante-se assim uma compensação da
saída de um membro feminino da família pela entrada de outra
mulher.

Pelo casamento, o marido adquire sobre a pessoa da mulher


verdadeiros direitos in rem, pois se alguém a mata, a agride, ou
com ela pratica adultério, atribui-se ao marido o direito de exigir
uma indemnização. Mas se for o marido a maltratar a mulher ou a
causar-lhe a morte, são os parentes da mulher que têm o direito
a ser indemnizados.

Reconhece-se que o direito costumeiro tem um elaborado


sistema de normas e principio que se referem às questões do
noivado, cerimónia do casamento, relações entre pais e filhos,
conflitos conjugais, direitos sucessórios, etc. O direito a
alimentos, a adopção e as relações de afinidade vigoram dentro
da família com regras próprias. O direito de família é, pois, o
mais desenvolvido nas comunidades africanas.

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5º A FAMILIA NA SOCIEDADE MODERNA

Períodos há em a família é profundamente afectada e até


destruída por determinados fenómenos, como a escravatura, os
períodos de guerra e instabilidade que originam a deslocação
maciça da população, as migrações, etc… Dá-se um
afrouxamento ou até a ruptura das relações familiares.

Mas, passados esses períodos de transformação ou convulsão


social, a sociedade familiar recompõe-se e reconstitui-se sob
novas formas.

A família na sociedade moderna corresponde a um dado estágio


social resultante do desenvolvimento técnico-cientifico
industrializado: nela coexistem os cônjuges e os respectivos
filhos, formando a família nuclear ou conjugal.

É, pois, um conceito de família de âmbito mais restrito, composta


por um homem e uma mulher, formando uma comunidade de vida,
unidos com estabilidade e a sua prole comum.

Dela resultam importantes direitos e deveres recíprocos de


solidariedade entre os seus membros, como o direito e o dever
de ajuda mútua e à assistência moral e material, que se traduz na
prestação de alimentos, etc…

À família é reconhecida uma função de natureza estabilizadora


cuja preservação interessa à evolução da própria sociedade. Por
isso á família conjugal a procriação da prole, a educação e a
formação dos filhos e, em suma, a satisfação dos sentimentos
afectivos de cada pessoa. Nela se efectivam de forma directa as
necessidade básicas da convivência humana.

Numa forma mais reduzida de unidade familiar deparamo-nos


hoje, em número cada vez maior, com a família monoparental,
composta tão somente por único progenitor, o pai ou a mãe, e
pelos respectivos filhos. Tal ocorre no caso das mães solteiras,
dos pais separados, divorciados ou viúvos que vivem com os
filhos.

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Embora a pequena família moderna tenha perdido o seu valor
económico, ela não deixa de ter grande relevância no aspecto
cultural, pois é nela que, de geração em geração, se vão
transmitindo, de pais para filhos, os valores culturais. Pela
criação, instrução e educação dos novos membros da família vão-
se transmitindo o ensino da língua, os conhecimentos adquiridos
pelas gerações mais velhas, os hábitos de vivência, que formam a
essência de cada povo.

Postergou-se o conceito retrógado de que a família conjugal


devia ser estabelecida sob o poder autoritário do marido sobre a
mulher, consubstanciado na tutela marital, que acarretava para a
mulher uma verdadeira capitis diminutio.

Também eixou de se acatar o princípio segundo o qual, nas


relações paternais, devia prevalecer o poder do pai sobre os
filhos, subalternizando a mãe.

É hoje aceite um novo conceito de família conjugal que não


necessita da preponderância de um chefe, antes é baseada na
liberdade e na individualidade dos dois cônjuges e na convivência
solidária dos seus membros. Substitui-se a família estruturada na
hierarquia pela família estruturada na diarquia (de marido e
mulher) e baseada no consenso de ambos. Ao marido e à mulher
são atribuídos direitos e deveres estruturados em igualdade, à luz
da verdade essencial de que a dignidade humana é a mesma para
o homem e para a mulher.

No direito moderno podemos, em síntese, expressar os seguintes


princípios fundamentais comuns aos diversos sistemas jurídicos
actuais:

a) O princípio da separação do Estado e das confissões


religiosas no direito de família, de que resulta o
reconhecimento único do casamento laico celebrado por
órgão estatal, seja ele o conservador do registo civil, como
entre nós sucede, ou o presidente da câmara, o juiz, o
notário. Igualmente todas as questões relativas à validade e
à dissolução do casamento etc., são resolvidas pelos
tribunais judiciais e não por tribunais eclesiásticos;
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b) O princípio da liberdade de escolha da forma de constituir


família e da dignidade dos seus membros religiosas segundo o
qual assiste a cada pessoa o direito fundamental de constituir
família, sendo livre para escolher a forma como quer criar a sua
própria família, pelo casamento ou pela união de facto, ou até
para a não criar, não sendo em qualquer dos casos atingido na
sua dignidade;

c) O princípio da igualdade de direitos e deveres entre o homem e


mulher em todos os aspectos da vida familiar, princípio que tem
a sua fonte no próprio direito constitucional, que proíbe toda a
discriminação baseada no sexo.
Do princípio da igualdade de direitos deriva o princípio da
monogamia, segundo o qual os laços conjugais têm natureza
exclusiva, não podendo aquele que se encontra no estado
de casado, homem ou mulher, contrair novo casamento, sob
pena de cometer o crime de bigamia.
Quando se fala em igualdade de direitos e deveres não se
quer impor forçosamente a existência de tarefas iguais do
homem e da mulher dentro da família. Elas devem ser
repartidas de forma harmónica e equilibrada dentro do
princípio da solidariedade que se deve estabelecer entre os
membros da família.

d) O princípio da estabilidade pelo qual se procura reforçar os


laços familiares, dando especial valor à manutenção da família
de forma a estabelecer relações fortes e duráveis, tornando
eficaz o direito na prestação de alimentos, restringindo o direito
ao divórcio, etc.

e) Protecção do filho nascido dentro ou fora do casamento e da


criança em geral, porque acima de tudo se procura proteger os
direitos da criança, como consequência deste princípio, são
facilitadas as acções para o estabelecimento de filiação;
institui-se a adopção baseada no interesse do menor adoptado;
nas disposições sobre a tutela o fim em vista é a melhor
protecção do menor desprotegido. Em todos estes casos o
Estado, através dos seus órgãos judiciais e de assistência

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social, fiscaliza a forma como são exercidos estes institutos
familiares

f) Princípio da protecção do Estado à Família. Pela relevância que


a célula familiar tem na sociedade, ela merece especial
protecção por parte do Estado. Essa protecção desenvolve-se
em múltiplos aspectos, tais como a prestação de habitação, de
serviços de saúde, de educação, a atribuição de subsídios de
segurança social em razão da maternidade, incapacidade física
ou velhice; a instituição de órgãos especializados para ajudar a
resolver os conflitos familiares (os tribunais de família e seus
serviços auxiliares).
Tudo isto procura preservar os vínculos familiares e a
estabilidade social. Como já vimos, a política demográfica
de um país leva a que o Estado possa incrementar o
planeamento familiar com vista ao controlo do crescimento
da população; ou incentivar o seu aumento atribuindo
abonos e prémios às famílias numerosas; ou pode contrariar
o excesso de filhos impondo sanções fiscais e
administrativas quando tal se verifique.

CAPÍTULO 2º

FONTES DO DIREITO DE FAMÍLIA ANGOLANO

6.º O DIREITO COLONIAL. A DUALIDADE DE ESTATUTOS:


O INDÍGENA E O CIDADÃO DE PLENO DIREITO
O DIREITO ESCRITO E O DIREITO COSTUMEIRO

A estrutura da sociedade colonial no campo do direito de família


estabelecia o princípio da diferença de estatutos jurídicos: de um lado, o
estatuto dos cidadãos de pleno direito (que eram os colonizadores e
escassos ”assimilados”); de outro lado, o estatuto dos denominados
“indígenas”. A lei previa, aliás, para cada colónia um estatuto
“especialmente promulgado para cada uma delas”. Os designados
“indígenas” eram definidos como “os indivíduos de raça negra ou seus
descendentes que tivessem nascido ou vivido habitualmente nelas, ou
seja, nas colonias, para o nosso caso em Angola”, na qual se encontrava
numa situação de verdadeira tutela legal.

Era assim aplicado um duplo sistema legal, pois os primeiros, os cidadãos


de pleno direito, estavam sujeitos às normas de direito escrito privado no
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que concerne ao direito de família, enquanto que os segundos, os
indígenas, regiam-se pelo direito costumeiro, limitado embora pelos
princípios fundamentais do sistema jurídico vigente. A verdade, porém, é
que no período colonial os princípios de ordem pública vigentes incidiam
principalmente sobre a protecção dos interesses políticos e económicos do
colonizador e, tanto quanto as estruturas familiares não colidissem com
aqueles interesses, foram mantidas intactas, tal como ocorreu com a
poligamia, o casamento sem o consentimento da mulher, etc.

Abolido o vergonhoso sistema do indigenato em 1961, fruto aliás do


deflagrar da luta armada de libertação nacional, foi no entanto mantida a
dualidade de estatutos de direito pessoal, que se passaram a designar
como Estatuto do Direito Escrito e Estatuto dos Usos e Costumes Locais.

Aos agora denominados “vizinhos de regedorias” continuavam a ser


aplicados os usos e costumes locais com as já apontadas limitações, mas
permitia-se a todo o individuo fazer declaração irrevogável perante os
serviços do registo e identificação de que se submetia à lei escrita do
direito privado.

Por sua vez, o direito escrito privado, como era designado, também foi
sendo alterado, e em 1910, com a proclamação da República, foram
introduzidas importantes reformas ao Código Civil do século XIX. A Lei do
Divórcio, de 3 de Novembro de 1910, veio permitir a dissolução do
casamento por divórcio, tanto sob a forma de divórcio litigioso como sob a
forma de divórcio por mútuo consentimento. A Lei n.º 1, de 25 de
Dezembro de 1910, ocupa-se do casamento, conferindo validade tão
somente ao casamento civil. A Lei n.º 2, de 25 de Dezembro de 1910 (Lei
de Protecção dos filhos) versa sobre o direito de filiação.

Entretanto, foi celebrada entre Portugal e a Santa Sé uma Concordata


(Maio de 1940), que trouxe importantes alterações em matéria de direito
de família, designadamente quanto á validade do casamento canónico, à
renúncia ao direito ao divórcio e à atribuição do casamento canónico, à
renúncia ao direito divórcio e á atribuição do conhecimento das causas
relativas à nulidade do casamento católico aos tribunais eclesiásticos.

A Concordata só entrou em vigor nas antigas colónias cerca de seis anos


depois, pelo Decreto n.º 35461, de 22 de Janeiro de 1946, mas com
diversas adaptações (ver artigos 1674º, 1801ºsse artigo 1881º do Código
Civil).

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O segundo Código Civil Português, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 47344,
entrou em vigor nas antigas colónias por força da Portaria n.º 22869, a
partir de 1 de Janeiro de 1968. O seu Título IV é dedicado exclusivamente
ao direito de família e nele se espelham as concepções retrógradas das
relações jurídicas familiares, quer no campo das relações matrimoniais
(em que é reconhecido o poder marital do marido sobre a mulher, o poder
exclusivo deste como administrador dos bens do casal), quer no campo
das relações de filiação, discriminando os filhos legítimos dos ilegítimos
(com importantes restrições para estes últimos no campo dos direitos
pessoais e sucessórios) e atribuindo ao pai, nas relações paterno-filais,
poderes prevalecentes, aparecendo a mãe como mera conselheira.

Toda esta matéria foi profundamente reformulada em Portugal depois do


25 de Abril, com a publicação do Decreto-Lei n.º 496/77, fruto das
transformações políticas e económicas operadas naquele país, que
afastaram os anteriores princípios discriminatórios.

7.º O DIREITO POSITIVO ANGOLANO POSTERIOR À INDEPENDÊNCIA


NACIONAL

Com a proclamação da Independência Nacional e a aprovação da primeira


Lei Constitucional, foi instituído um novo sistema jurídico e as normas de
carácter discriminatória contidos no Código Civil passaram a ser
consideradas derrogadas por inconstitucionais. Aliás, por via do
preceituado no artigo 84º dessa Lei, que norteava quanto à legislação
vigente vinda do sistema jurídico colonial, tinha que se entender com
revogada toda a legislação que contrariasse o processo revolucionário
angolano.

No entanto, no campo do direito de família foram publicadas uma série de


leis de relevante importância que, em questões fundamentais, vieram
alterar a legislação colonial naquilo que se mostrava mais antagónico à
nova realidade angolana.

Foram sendo aprovadas, sucessivamente, as seguintes leis:

a) Lei nº 10/77, de 9 de Abril, que equipara os direitos e deveres de todos os


filhos em relação a seus pais, qualquer que seja o estado civil destes,
proíbe qualquer referência à qualidade de filho legítimo ou ilegítimo e
decreta a abolição do termo “incógnito” relativamente *a situação de
paternidade ou de maternidade. Contém ainda normas quanto à composição
do nome e do registo civil dos cidadãos.
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Apontamentos/compilação das doutrinas dos autores que estão na bibliografia, deve ser
estudado como material de apoio, não deve o discente se valer unicamente deste material, a
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Bibliogafia: Maria do Carmo Medina Iº volume

Arminda Cosme

b) Lei n.º 9/78, de 26 de Maio, com as respectivas rectificações publicadas


em 29 de Julho de 1978, que versa sobre o divórcio por mútuo
consentimento e revoga os artigos 1786º a 1788 do Código Civil e os
artigos 1419º a 1424º do Código do Processo Civil.

c) Lei nº 7/80, de 27 de Agosto (Lei da Adopção e Colocação de Menores),


que revoga todo o Título IV do Livro do Código Civil (artigos 1973º a
2003º), respeitante a matéria da adopção.

d) Lei n.º 10/85, de 28 de Outubro, que aprova a Lei do Acto do Casamento e


que concede unicamente validade aos casamentos celebrado perante os
órgãos do registo civil. No rigor da lei, os casamentos canónicos só
deixaram de ter validade a partir da publicação desta lei, mas vinha sendo
prática de há anos não serem celebrados casamentos canónicos sem a
prévia celebração do casamento civil. Contém ainda normas sobre o
processo de casamento, simplificando-as, e revoga diversos artigos do
Código Civil.

e) Decreto nº 14/86, de 2 de Agosto (Diário da República nº 61), que veio


regulamentar a Lei nº 10/85 e que aprova o Regulamento do Acto do
Casamento, revogando diversas disposições do Código do Registo Civil.
Este Decreto continua em ainda em vigor, mesmo após a publicação do
Código de Família, que trouxe algumas alterações à Lei n.º 11/85, pelo que
carece de ser devidamente adaptado.

8º PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE FAMÍLIA E OS SEUS


CONCEITOS GENÉRICOS.

O Titulo I, “Dos princípios fundamentais”, contém normas que, pelo seu


alcance e importância normativa, se podem equipar a verdadeiras normas
de natureza constitucional.

Os princípios básicos enunciados neste Titulo I vão servir de estrutura e


nortear todas as demais normas contidas no Código.

1. Protecção da família
Pela sua importância como núcleo
fundamental da organização da sociedade,
promovendo o direito à instrução, ao trabalho,
ao repouso e a seguros sociais.
2. Princípio da Com esse princípio desaparece o poder
Igualdade do homem e marital, e a autocracia do chefe de família é
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da mulher substituída por um sistema em que as
decisões devem ser tomadas de comum
acordo entre marido e mulher ou
conviventes, pois os tempos actuais
requerem que a mulher seja a colaboradora
do homem e não sua subordinada e que haja
paridade de direitos e deveres entre cônjuges
e companheiros.
3. Princípio da Com base nesse princípio, as crianças
protecção e igualdade merecem especial atenção no seio da família,
das crianças à qual cabe, em colaboração com o Estado,
assegurar-lhe a mais ampla protecção e
igualdade para qua elas atinjam o seu integral
desenvolvimento físico e psíquico e, no
esforço da sua educação, se reforcem os
laços entre a família e a sociedade.
4. Princípio da A família deve promover a educação cultural
harmonia e e moral de todos os seus membros dentro
responsabilidade no dos princípios do amor ao trabalho e de
seio familiar fidelidade à pátria e em especial a dos jovens,
em ordem à sua integração na sociedade.
5. Princípio da À família, com especial colaboração do
educação da juventude Estado e organizações de massas e sociais,
compete promover de forma integral e
equilibrada a educação dos jovens em ordem
à sua realização e integridade na sociedade.
6. Princípio da nova A estruturação na igualdade de direitos, no
moral social respeito da personalidade dos seus membros
e no princípio da solidariedade recíproca.

9. Natureza jurídica do direito de família


É direito extrapatrimonial ou pessoal (irrenunciável, intransmissível, não
admitindo condição ou termo ou exercício por meio de procurador);
• As suas normas são de ordem pública;
• As suas instituições jurídicas são direitos-deveres;
É ramo do direito privado, apesar de sofrer intervenção estatal, devido à
importância social a família.
Interessa apontar alguns aspectos de carácter geral que percorrem o
direito de família e que evidenciam a existência do próprio interesse
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familiar, ligado não só à célula familiar, mas também a cada um dos
membros que a compõem.

9.1. NATUREZA DE GRUPO E INTERCORRENTE

O direito de família define as relações jurídicas familiares que se


desenvolvem dentro de um determinado grupo, o grupo familiar. O grupo
familiar é composto por membros ligados entre si por diversos vínculos
familiares: a filiação e parentesco (por laços de sangue ou por adopção), o
casamento e a união de facto, a afinidade e a tutela.

O grupo familiar, porém, não tem a natureza de pessoa jurídica, não sendo,
portanto, titular de direitos e deveres de forma autónoma. E isto porque o
interesse juridicamente tutelado é o interesse de cada membro da família
e não o do grupo familiar em si.

Diz-se que o direito de família é um direito de grupo porque, tal como o


direito do trabalho se desenvolve dentro de um grupo restrito e porque,
em primeiro plano, regula as relações dos membros desse grupo social.

Diz-se que é um direito intercorrente porque circula de membro para


membro em reciprocidade. Ou seja, aos direitos do marido em relação à
mulher correspondem os direitos da mulher em relação ao marido, e o
mesmo ocorre nas demais relações, entre pais e filhos, entre parentes,
etc.

9.2. NATUREZA FUNCIONAL

Os direitos familiares são, na sua maior parte, verdadeiros poderes


funcionais, porque devem ser exercidos de acordo com a função de social
que a lei lhes assinala. Diga-se, aliás, que esta concepção do exercício do
direito de acordo com a sua função legal é, por alguns juristas, tornada
extensiva ao próprio direito civil, não sendo, assim, considerada como
específica do direito de família.

O fim em vista do qual o direito é exercido tem que ser aquele que é
permitido por lei, sob pena de abuso do direito.

Assim, os direitos que regulam as relações familiares são,


simultaneamente um direito e um dever, pois se, por exemplo, a lei
reconhece aos pais o direito de guardar, vigiar e educar os filhos, imputa-
lhes, por outro lado, o dever de assim proceder. No exercício do seu
direito, o titular não pode agir como quiser nem para fins não consentidos
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por lei, mas só com vista ao fim legal para o qual esse direito foi atribuído.
Não devem, pois, ser entendidos como direitos estritamente subjectivos,
porque não devem ser exercidos tendo em vista o interesse do seu titular,
mas mas tão só o interesse social, e o exercício do direito desviado do fim
legal conduz ao abuso de direito.

O direito-dever de uma cooperação permanente torna-se mais evidente


no direito de família a forma como ele deve ser exercido.

9.3. NATUREZA IMPERATIVA E INDISPONIBILIDADE

Prova de que o direito de família não deve ser considerado como


pertencendo ao direito civil é a forma como o Estado intervém na defesa
dos interesses desse importante organismo social.

Com efeito, os institutos de direito de família são regulados na sua


generalidade por normas inderrogáveis, de natureza imperativa.

As normas relativas ao instituto do casamento, à sua dissolução por


divórcio, à filiação, às relações de parentesco, à adopção, à tutela etc., não
podem ser derrogadas ou substituídas por outras estabelecidas por acordo
entre as partes.

Esta característica do direito de família evidencia o predomínio do


carácter público deste direito e mostra também a inconsistência da divisão
bipartida do direito em direito público e direito privado.

Existe, é certo, uma importante intervenção de autonomia de vontade em


diversos institutos de direito de família.

Podem citar-se o casamento e a adopção, que dependem, para a sua


constituição, de uma declaração de vontade inicial, seja do nubente ou do
adoptante.

A voluntariedade na constituição de vínculos familiares é comum ainda à


união de facto, à instituição de tutela, etc..

A vontade dos nubentes é, por exemplo, revelante na adopção do apelido


do outro, ou na opção entre os dois regimes matrimoniais de bens que a
lei prevê.

Na constituição do vínculo da filiação, a vontade do progenitor não


intervém, pois ele deriva do facto natural de progenitor não intervém, pois
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ele deriva do facto natural de procriação. Há diversas vias legais que
levam ao estabelecimento desse vínculo, independentemente da via da
declaração de vontade pelo próprio progenitor.

Também o consentimento é um elemento essencial em diversos institutos


familiares.

Mas os efeitos do casamento, da adopção, da tutela, etc., são os que a lei


estatui, o mesmo acontecendo com a escolha do regime matrimonial de
bens que, a partir da celebração do casamento, já não pode ser substituído
por outro. O mesmo acontece com o consentimento para o reconhecimento
da união de facto, ou do divórcio por consentimento mútuo, cujos efeitos
vêm definidos na lei, não podendo ser objecto de disposição por vontade
das partes.

Diz-se ainda que os direitos familiares são de oponibilidade absoluta


porque o respectivo titular pode opô-los erga omnes, isto é, os seus
direitos podem ser invocados, quer em relação à pessoa, membro de
família, com a qual se estabelece o vínculo intercorrente, quer em relação
a qualquer terceiro, fora do grupo familiar. São direitos estatuídos por lei
e como tal oponíveis a todos.

9.4. NATUREZA PESSOAL: TITULARIDADE EXCLUSIVA

Uma das características essenciais é precisamente o facto de ser um


direito eminentemente pessoal. É atribuído a alguém na sua qualidade
concreta e no seu próprio interesse, tanto moral como material. Os
direitos familiares são, no fundo, direitos essenciais da pessoa. Têm que
ser exercidos pelo seu titular de forma estritamente pessoal e exclusiva.

Mesmo quando, em certos casos, a lei permite que uma das partes seja
representada num negócio jurídico, a vontade expressa no negócio jurídico
é a do mandante e não a do mandatário. No casamento, por exemplo, é
sempre a vontade expressa pelo representado que é juridicamente
relevante, e não a do mandatário: como veremos, este actua como um
simples “núncio”, pois o mandante tem que identificar a pessoa do outro
nubente. A lei não admite um mandato genérico para a celebração de
qualquer negócio jurídico familiar.

No caso de incapacidade, esta pode ser suprida pelo representante, mas


quando a lei exige o consentimento, este é dado pelo incapaz, embora
autorizado pelo representante.
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O direito de família não é susceptível de uma valorização e compensação


económica. Não obstante, existem relações de natureza patrimonial dentro
do direito de família, tais como as que regulam o regime de bens, as
dívidas dos cônjuges, a administração dos bens dos filhos menores pelos
seus representantes legais.

Mas para cada um deste tipo de relações patrimoniais há no direito de


família normas específicas que arredam as normas gerais do direito das
obrigações e dos direitos reais.

O direito de alimentos, como também veremos, embora possa ter como


objecto uma prestação de valor pecuniário, não é uma relação de conteúdo
patrimonial, pois tem como objecto imediato a sobrevivência da pessoa
beneficiada por eles.

Da sua natureza eminentemente pessoal deriva, como consequência, o


facto de serem direitos indisponíveis, que não podem ser cedidos ou
transmitidos a outrem por vontade das partes.

Os direitos de família são intransmissíveis quer inter vivos ou mortis


causa, pois extinguem-se com a morte do respectivo titular.
Excepcionalmente, a lei permite que alguns “direitos de acção” se
transmitam post mortem a certos herdeiros.

Mas há manifestamente diferença entre o efectivo exercício de um direito


familiar e a mera transmissão de um direito de acionar para obter a
produção d certos efeitos de natureza pessoal ou patrimonial.

Isso sucede designadamente com a acção de anulação de casamento por


falta ou vício da vontade (artigo 68º, n.º 1), que tem que ser intentada pelo
cônjuge. Mas, caso o autor venha a falecer na pendência da causa, pode
esta ser prosseguida pelos parentes em linha recta ou pelos seus
herdeiros. No caso de impugnação da declaração de filiação feita por
outrem que não o próprio progenitor, se ocorrer o falecimento deste
podem os herdeiros impugnar a declaração por via judicial – artigo 189º.
Também nas acções de reconhecimento da união de facto, em caso da
morte, o direito transmite-se aos herdeiros - 123º, alínea b).

Acresce ainda que não são direitos que possam estar sujeitos a condição
ou a termo, o que impede que a aceitação dos efeitos legais esteja
dependente da verificação de determinado facto ou que esses efeitos

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perdurem apenas durante determinado prazo fixado por uma ou ambas
partes.

Ninguém pode pôr condições, como por exemplo fazer depender o


estabelecimento da paternidade da circunstância de o filho ser deste ou
daquele sexo, ou de ter determinados atributos físicos ou intelectuais.
Ninguém pode casar a prazo, declarando que, findo determinado período
de tempo, o casamento se considera findo.

Pela sua própria essência, são ainda, em regra, direitos irrenunciáveis,


pois a lei não consente que os seus titulares a eles renunciem, dado que,
ao atribuí-los, a lei teve em vista um interesse mais amplo do que o
próprio interesse individual.

Isto vai ter relevância em relação às denominadas “acções de estado”, que


são acções cujas decisões se vão repercutir no estado civil das pessoas e
que produzem efeitos em relação a terceiros – artigo 674º do C.P.Civil,
podemos indicar como acções de estado as acções de divórcio, de
anulação de casamento, de reconhecimento da união facto, as de
estabelecimento judicial de filiação, as de impugnação de filiação, de
adopção, que são acções constitutivas de direito.

Como elas versam sobre direitos pessoais e indisponíveis, estão sujeitas a


um regime processual específico.

O artigo 299º do C.P.Civil não permite a confissão, desistência ou


transacção, quando a acção respeite a direitos de natureza indisponível.
No seu n.º 2 permite a livre desistência nas acções de divórcio e
separação de pessoas e bens, pois, como veremos, estamos no campo de
uma faculdade legal.

A confissão dos factos invocados pelas partes não é permitida quando a


vontade das partes for ineficaz para produzir o efeito jurídico que pela
acção se pretende obter – artigo 485º, alínea c) do C.P.Civil.

São por natureza indivisíveis, pois não podem ser usados parcialmente: o
seu titular não pode usufruir de uma parte desses direitos e dispensar
outra.

Há, no entanto, certos direitos no âmbito do direito de família, como o


direito ao divórcio, o direito a alimentos, que a lei consente que seja o
titular a decidir, em concreto, exercê-los ou não. O titular é quem pode

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pedir ou não que seja decretado o divórcio ou que o obrigado seja ou não
condenado a satisfazer a prestação alimentícia.

Mas o direito em si não é afectado, dado que o que a lei proíbe é que
alguém possa renunciar ao direito que em concreto lhe é conferido por lei.
Esta regra conhece uma excepção, que respeita ao instituto da adopção,
por via da qual o progenitor natural, ao dar o seu consentimento à
constituição do vínculo da filiação natural.

Da característica de direito de natureza pessoal resulta, por fim, o facto


de os direitos de família serem de natureza imprescritível, pois o direito
não se extingue pelo facto do decurso do tempo. Mas existe a caducidade
relativamente ao direito de intentar determinadas acções familiares, como
a acção de divórcio, a acção de anulação de casamento, a acção de
reconhecimento de união de facto, etc..

9.5. NATUREZA FORMAL, TIPICIDADE E SUSCEPTIBILIDADE DE POSSE

É um direito que se caracteriza pela natureza formal e por vezes solene.


Para a sua constituição e alteração e alteração é muitas vezes necessária a
intervenção de determinados órgãos do Estado, como os tribunais, as
conservatórias do registo civil ou o notário para a celebração e
autenticação de documentos e até, excepcionalmente, a intervenção do
Ministro da Justiça. No entanto, é preciso não perder de vista que alguns
direitos familiares nascem ou extinguem-se por simples ocorrência de
factos naturais, como é o caso do nascimento e da morte, que são em si
factos jurídicos.

O Código de Família aceita o princípio da natureza formal deste ramo do


direito. Podemos citar como exemplificativos deste princípio os que se
referem à obrigatoriedade da intervenção do tribunal nas ações de divórcio
litigioso nos termos dos artigos 97º e segs, nas acções de anulação de
casamento (artº 66 e ss), n constituição do vínculo da adoção (artº 212 e
ss), na acção de tutela nos termos do artigo 224º.

Os órgãos do registo civil são chamados a intervir, entre outros actos, na


celebração do acto de casamento nos termos do artigo 33º, na declaração
de filiação, que pode também ser feita perante o notário ou tribunal nos
termos do artigo 175º.

A característica da tipicidade deriva da natureza imperativa do direito de


família. Os institutos do direito de família são limitados por numerus

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clausus o que quer significar que só são permitidos previstos na lei, não
estando dentro da disponibilidade das partes criar outros por qualquer via.

A enumeração legal dos institutos é assim de natureza taxativa e só os que


estão previstos na lei de família podem como tal ser reconhecidos. É o que
acontece com o casamento, o divórcio, a filiação, adopção. A lei não
consente que as partes criem institutos familiares por via contratual ou
outra.

Alguns direitos de família são susceptiveis de posse, o que se traduz na


detenção em concreto e no exercício dos correspondentes direitos e
deveres próprios de certa situação familiar. Com especial relevância surge
a posse de estado de filho, que consiste, como veremos, em alguém
aparecer como sendo tratado e considerado como filho de certa pessoa. E
também a posse de estado de casado, quando, por exemplo, homem e
mulher vivam como se casados fossem e como tal sejam reputados nas
suas relações sociais, embora não haja registo de casamento.

Fala-se em posse de estado quando se verifica que alguém está no


exercício das prerrogativas de uma determinada situação familiar. A posse
de direito de família constitui, no entanto, mera legal da titularidade do
direito respectivo.

9.6. ESTABILIDADE: o estado jurídico familiar

As relações de família são, poe sua natureza, de carácter duradouro, delas


resultando situações jurídicas estáveis e permanentes a que se chama
estados.

O estado civil é, pois, uma situação jurídica complexa e duradora, e é


formado por conjunto de direitos, deveres, relativos a uma determinada
pessoa enquanto membro da comunidade familiar.

Os estados de família que se reportam ao casamento são o estado de


solteiro, o estado de casado, o estado de divorciado ou de viúvo.

Em relação à filiação, temos o estado de filho; quanto ao parentesco e à


afinidade, temos o estado de parente, o estado de afim, etc. As falsas de
declarações sobre o estado civil constituem um ilícito penal no
Anteprojecto do Código Penal.

Os direitos pessoais familiares persistem enquanto dura a situação


objectiva que lhes serve de suporte. Assim, eles só se extinguem ou
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alteram por causas previstas na lei. Por exemplo: a morte do cônjuge ou o
divórcio dissolvem o casamento.

9.7. FALTA OU FRAGILIDADE DA GARANTIA

Alguma doutrina aponta o facto de os direitos pessoais de família serem


direitos de garantia frágil ou resultarem de normas de juridicização de
preceitos morais fracamente coercíveis. A violação dos direitos impostos
por lei fica muitas vezes sem sanção.

Sendo normas de natureza pessoal, os comportamentos ou prestações que


elas determinam podem ou não ser realizados, sem que possa exercer-se
coação directa sobre a pessoa que, por lei, está obrigado a cumpri-los.

Já outros sistemas jurídicos aceitam o pedido de indemnização por danos


morais no caso de faltas familiares graves, devendo o pedido der
formulado em simultâneo com o pedido de divórcio.

O Anteprojecto do Código Penal relativamente ao crime contra a liberdade


sexual pune como agressão sexual todo o acto sexual realizado por meio
de violência, coação ou colocação da vítima em situação de inconsciência
ou de impossibilidade de poder resistir – artigo 168º e169º.

Quando não constitua um ilícito penal, a violação dos deveres familiares


pode conferir ao titular do direito ofendido a faculdade do exercício de
direitos. É o caso do direito a pedir divórcio por violação dos deveres
conjugais por parte do outro cônjuge. No caso de violação dos deveres
paternais, o Ministério Público ou outro representante legal do menor
podem vir pedir a inibição da autoridade paternal relativamente a quem a
esteja a exercer.

10. Importância do direito de família

Grande é a importância do direito de família pela influência que exerce


sobre todos os ramos do direito público e privado.

No âmbito do direito civil, p. ex.:


a) O direito das obrigações contém normas que se fundam em princípios
do direito de família, como as que prescrevem a necessidade de outorga
do cônjuge para alienar bens imóveis ou direitos reais sobre coisas alheias
b) O direito das sucessões, que na sua maior parte, relativa à sucessão
legítima, é aspecto patrimonial post mortem do direito de família.

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10.1. Direito público:

a) O direito constitucional banha-se no direito de família sobre normas


que regem a família, a educação e a cultura;

b) O direito tributário mostra a sua influência desse ramo do direito


civil nas isenções tributárias a cônjuges ou companheiros, filhos e
dependentes, pois na arrecadação do imposto de renda há deduções
atinentes aos encargos de família;

c) O direito penal mostra-nos a preocupação do elaborador da norma


penal em proteger a família, ao reprimir os crimes contra o
casamento, estado de filiação, assistência familiar, poder familiar,
tutela e curatela.

III. RELAÇÕES DE PARENTESCO


11. NOÇÃO

O parentesco é o vínculo que une duas pessoas, em consequência de uma


delas descender da outra – LINHA RECTA OU DIRECTA ou ambas
procederem de ascendente comum – LINHA TRANSVERSAL OU
COLATERAL.

Para Pontes de Miranda, parentesco é a relação que vincula entre si


pessoas que descendem uma das outras, ou de autor comum
(consanguinidade), que aproxima cada um dos cônjuges dos parentes do
outro (afinidade), ou que estabelece, por fictio iuris, entre adoptado e o
adoptante.
Esse conceito engloba as três possíveis espécies de parentesco: por
consanguinidade, por afinidade e por adopção.

O parentesco é considerado a principal fonte das relações familiares no


direito de família angolano, onde ainda predomina a estrutura da família
extensa, abrangendo parentes afastados e afins, ligados por fortes laços
de solidariedade.

O parentesco pode estabelecer-se por laços de sangue nos termos do


artigo 9º a 13º CF, ou por adopção nos termos do artigo 197º do CF.

1. Espécies de parentesco

O parentesco pode ser:


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a) Natural ou consanguíneo – É o vínculo estabelecido entre pessoas que


descendem de um mesmo tronco (tronco comum) e, dessa forma, estão
ligadas pelo mesmo sangue.

b) Por afinidade (afim) – é o que liga uma pessoas aos parentes de seu
cônjuge ou companheiro, isto é, aquele que decorre do casamento ou da
união de facto, conforme previsto em lei, (art.º 14 CF);

c) Civil – É o parentesco decorrente da adopção, estabelecido entre o


adoptante e o adoptado, estendido a seus parentes.

O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou


outra origem. Pode-se entender “outra origem” como, por exemplo, a
inseminação artificial com doador.

11.1. LINHAS DE PARENTESCO

Não é dado primazia à linha paterna ou materna do parentesco. No direito


costumeiro as etnias predominantes em Angola, é o parentesco por via
matrilinear o mais importante, assumindo o tio materno, em regra as
funções de chefe de família.

Os efeitos do parentesco reflectem-se em diversas áreas do direito – vide


artigos 17º, 26º, 68º 123º b), 189º, 229º, 233º, 235º n.º 2, e 249º do C.F,
artigos 2131 e ss do CC, artigos 104º, 105º, 122º, 125º, 127º, 216º, 217º
e 618º do CPC, artigos 355º e 39º n.º 13 co CP.

O grau de parentesco costuma ser classificado consoante as suas linhas e


pelos seus graus.

As linhas e os graus de parentesco servem para determinar a proximidade


e a natureza do vínculo, como define o artigo 10º do Código de Família.

As linhas de parentesco são classificadas no artigo 11º n.º do Código de


Família, da seguinte forma:

a) Linha recta ou estripe, que liga as pessoas que descendem uma da outra;
b) Linha colateral ou transversal, que liga as pessoas que têm um ascendente
comum.

a) PARENTESCO NA LINHA RECTA

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Arminda Cosme
A linha recta liga, pois, entre si, as pessoas que descendem uma da outra
ou seja a estirpe. A estirpe é um tronco comum de pessoas que têm um
ascendente comum.

Quando se considere a linha recta do ascendente para o descendente, ou


seja, do avô para o pai e para o filho, temos a linha a recta descendente;
se caminharmos em sentido universo, a partir do descendente, ou seja
filho, pai e avô, temos a linha recta ascendente – artigo11º, nº 2 do Código
de Família.

AVÔ

2 grau

PAI
Ascendente
1 grau

JOSSY

Mário

1 grau

Filho Descendente

2 grau

Neto

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estudado como material de apoio, não deve o discente se valer unicamente deste material, a
consulta à boa doutrina e as leis se faz necessário.). Bons estudos!
APONTAMENTOS DE DIREITO DE FAMÍLIA
Bibliogafia: Maria do Carmo Medina Iº volume

Arminda Cosme
Parentesco na linha materna e paterna – parentesco bilateral (parentesco
no 2º grau da linha colateral – irmãos germanos)

 Parentes no 1º grau da linha recta (pais/filhos)


 Parentes no 2º grau da linha recta (avós/netos)

b) PARENTESCO NA LINHA COLATERAL

Parentesco unilateral no 2º grau da linha colateral:


- na linha paterna – irmãos consanguíneos
- na linha materna – irmãos uterinos

 Parentes no 2º grau da linha colateral (irmãos)


 Parentes no 3º grau da linha colateral (tios/sobrinhos)
 Parentes no 4º grau da linha colateral (primos direitos)
 Parentes no 6º grau da linha colateral (filhos de primos)
 Parentes no 2º grau da linha colateral materna e paterna (irmãos
germanos ou bilaterais)
 Parentes no 2º grau da linha colateral materna (irmãos uterinos)
 Parentes no 2º grau da linha colateral paterna (irmãos consanguíneos)

2 grau linha colateral


JESSICA JANDIRA

3 grau

DJEY 4 grau MINDA

5 grau

6 grau JUNIOR
JOSSY

11.2. GRAUS DE PARENTESCO


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APONTAMENTOS DE DIREITO DE FAMÍLIA
Bibliogafia: Maria do Carmo Medina Iº volume

Arminda Cosme

A lei define a forma do cômputo dos graus de parentesco, partindo aliás de


uma base natural de contagem das diversas gerações.

O Código de Família faz por igual forma a contagem dos graus de


parentesco, embora no artigo 10º se fale de gerações e não em pessoas
que compõem a linha de parentesco.

Assim, entre o pai e um filho há um grau de parentesco; entre avô e neto,


dois graus; entre bisavô e bisneto, três graus.

Na linha colateral, temos os irmãos como parentes em 2º grau; tio e


sobrinho, parentes em 3º grau; os primos filhos dos irmãos, parentes em
4º grau e os filhos de primos são entre si parentes no 6º grau.

Nesta linha somam-se os graus e exclui-se o ascendente comum.

A lei civil impõe limites ao parentesco na linha colateral, já que, na linha


recta, o parentesco não impõe qualquer limite.

No mesmo sentido dispõe o artigo 13º do Código de Família.

Na linha recta não há limites de parentesco, pois eles resultam do facto


natural do termo da longevidade humana, que não permite que coexistam
vivas mais de três e raramente quatro gerações.

Já na linha colateral o parentesco podia produzir-se indefinidamente, e daí


o limite previsto na lei, ou seja ate o 6 º grau.

11.3. EFEITOS DO PARENTESCO: DIREITOS, OBRIGAÇÕES E


INCAPACIDADES

O parentesco produz importantes efeitos de diversa natureza: dele


derivam direitos, obrigações e impedimentos.

a) EFEITO SUCESSÓRIO

O principal efeito do parentesco é o efeito sucessório. No caso de o autor


de herança falecer sem testamento, são chamados os sucessores legítimos
– artigo 2131º CC.

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Bibliogafia: Maria do Carmo Medina Iº volume

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Nos termos do artigo 2132º do CC, são sucessores legítimos os parentes
e o cônjuge. A ordem da sucessão legítima vem especificada no artigo
2133º e tem como limite os colaterais do 6º grau.

A classe dos sucessíveis vem ordenada de forma escalonada, de acordo


com a ordem e a proximidade do grau de parentesco.

O artigo 2157º CC define como herdeiros legitimários os descendentes e


os ascendentes, que são especialmente protegidos.

b) OBRIGAÇÃO E DIREITOS A ALIMENTOS

Outro importante feito que decorre do parentesco é a obrigação e o direito


de alimentos, que, como já temos dito, provêm do direito e dever de
assistência que deve existir entre os membros da família.

O direito e a obrigação de alimentos vêm regulados no Titulo VIII do


Código de Família e estabelecem-se entre pessoas ligadas por diferentes
vínculos familiares, como o parentesco, o casamento, a união de facto, a
afinidade e a tutela, por vezes.

O n.º 1 do artigo 249º do Código de Família dispõe quem está obrigado a


prestar alimentos ao menor, mencionando em primeiro os pais e
adoptantes e depois os ascendentes, irmãos maiores, e tios e o padrasto
ou madrasta, o que significa que a obrigação onde alimentos a um menor
se estende até ao 3º grau da linha colateral e a um afim.

Entre maiores, a obrigação vem regulada no n.º do artigo 249º e


estabelece-se entre cônjuge ou ex-conjuge, descendentes ou adoptados e
irmãos, ou seja, na linha colateral a obrigação só até aos parentes do 2º
grau.

c) IMPEDIMENTO MATRIMONIAL (vide artigos 25º e 26º CF, 1604º CC)

11.4. Parentesco por afinidade


Como visto, o parentesco por afinidade é aquele que se estabelece com o
casamento ou
com a união estável. Está limitado aos ascendentes, descendentes e
irmãos do cônjuge ou companheiro, ressaltando-se que, na linha reta, a
afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união
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estável. Sogro e sogra, por exemplo, são para sempre. Mesmo que a
pessoa se case novamente, terá acumulado sogros, isto é, duas sogras e
dois sogros.

Essa espécie de parentesco tem correlação com o parentesco natural, pois


a contagem da distância dos graus será sempre a mesma, bastando que o
cônjuge se transporte, isto é, se imagine no lugar daquele com se casou ou
se uniu, para que se possa fazer a contagem dos graus.

IV - AFINIDADE

12. NOÇÃO
É o vínculo que une cada um dos cônjuges aos parentes do outro cônjuge.
A afinidade determina-se pelas mesmas linhas e graus que definem o
parentesco por laços de sangue.
A afinidade não cessa pela dissolução do casamento.
Ela deriva do vínculo de casamento e da união de facto e é a partir dele
que começa a produzir efeitos, e é definida como vínculo da natureza
pessoal que liga uma só pessoa, o cônjuge, aos parentes do outro cônjuge.
O vínculo perdura para além da dissolução do casamento mas só em
relação aos parentes do outro cônjuge existente nessa data.

12.1. EFEITOS DA AFINIDADAE


O principal efeito da afinidade (afinidade em linha recta) é o de constituir
impedimento matrimonial nos termos do artigo 26º, alínea a).
Vide artigos 17º n.1, 229º n.º 2 a), 249º n.º 1 d) do CF e os artigos 104º,
105º, 122º, 125º, 127º, 216º, 217º e 618º do CPC

13. CONSELHO DE FAMÍLIA


a) NATUREZA CONSULTIVA

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Arminda Cosme
Órgão jurisdicional que vai coadjuvar as funções judiciais e pode intervir
em qualquer acção de natureza familiar. Tem a sua origem no direito
costumeiro que usa as “reuniões de família” para mediar os conflitos que
surgem entre os membros da família.
As deliberações do Conselho de Família não têm, assim, carácter
executivo mas meramente opinativo, pois como a sua designação de
conselho indica, trata-se de um corpo pluripessoal que dá o seu parecer
sobre a causa em apreciação, mas que não pode decidir a questão.

b) CONSTITUIÇÃO E INDICAÇÃO DOS MEMBROS


O Conselho de Família é constituído por quatro membros. Dispõe o Código
de Família nos termos do artigo 17º nº 1.
A escolha deve ser feita seguindo esta ordem de prioridade: em primeiro
lugar as parentes, preferindo os de grau mais próximo, depois o cônjuge e
os afins.
Artigo 17º n.º 2 – nas acções em que sejam parte marido e mulher ou
companheiros de união de facto (ex. divórcio, anulação de casamento ou
reconhecimento de união de facto) devem ser escolhidos dois membro da
família de cada um deles.
Deste modo, se se tratar de acções em que sejam partes marido e mulher
ou companheiros de de união de facto, o Conselho de Família será
constituído:
- por dois membros da família do marido ou do companheiro da união de
facto e dois membros da família da mulher, como se sucede
designadamente nas acções de divórcio, anulação de casamento, filiação,
de exercício de autoridade paternal, adopção ou tutela ou de
reconhecimento de união de facto, declaração de presunção de morte e
alimentos entre os mesmos.

c) FUNCIONAMENTO
Os membros do Conselho de Família devem residir na área de jurisdição
do Tribunal e no início das suas funções prestar juramento perante o
Tribunal nos termos dos artigos 593º, 559º e 635 n.º 1 do C.P.C.,
aplicáveis a todos os que intervêm no julgamento da causa.

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Arminda Cosme
Intervenção obrigatória do Conselho de Família – vide artigos 24º n.º 3,
125º, 133º nº 2, 232º, 235 nº1 e 241 do C.F.
Intervenção facultativa do Conselho de Família – vide artigos 105º nº 3,
159º a), 195º, 215 e a regra geral nos termos do artigo 16º nº2.
O Conselho de Família intervém nas audiências que são presididas pelo
Juiz.
Não pode ser membro do Conselho de Família quem for condenado em
pena maior – artigo 76º nº 3 do Código Penal.

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